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O mar calmo na Praia Grande - Sintra |
O MAR
...Eu vi, Senhor, o mar sombrio e furioso, investir contra os
rochedos.
De longe as vagas tomavam o impulso, orgulhosas, de pé,
saltavam, atropelavam-se umas ás outras, para toma-
rem a frente e serem as primeiras a bater.
Quando se desmanchava a espuma branca, deixando intac-
ta a rocha, tinham partido as vagas, correndo para de
novo se lançarem.
Vi, outro dia, o mar calmo e sereno.
Vinham de muito longe as ondas de bruços rastejando,
para não chamar a atenção.
Dando-se as mãos, ajuizadas, deslizavam sem ruído e
espraiavam-se á vontade na areia, para tocar a orla,
com a ponta dos seus bonitos dedos de espuma.
Faze, Senhor, que eu evite as pancadas sem rumo que
cansam e magoam, e não atigem o inimigo.
Afasta de mim as cóleras espectaculares, que chamam
a atenção mas deixam inútilmente enfraquecido.
Não permitas que orgulhosamente eu queira sempre pre-
terir os outros, esmagando, ao passar, os que vão à
frente.
Apaga do meu rosto o ar sombrio das tempestades ven-
cedoras.
Ao contrário, Senhor, faze que calmamente eu preencha
os meus dias, tal como o mar lentamente recobre toda
a praia.
Faze-me humilde como o mar, quando silencioso e ameno
avança sem se fazer notar.
Dá-me a graça de esperar os meus irmãos, medir os meus
passos pelos deles, para com eles subir.
Concede-me a perseverança triunfante das ondas.
Faze que cada um dos meus recuos seja ocasião de subida.
Dá a meu rosto a claridade das águas límpidas, à minha
alma a brancura da espuma;
Ilumina a minha vida como os raios do Teu Sol fazem
cantar o espelho das águas.
Mas sobretudo, Senhor, faze que eu não guarde para mim
esta Luz, e que todos os que de mim se aproximem
voltem a casa ávidos de se banharem na Tua Graça
Eterna.
( Michel Quoist - no livro - Poemas para Orar)