sexta-feira, maio 25, 2007

VIDA CURTA DEMAIS? - Cora Coralina. (*)


Não sei...
se a vida é curta ou longa demais pra nós,
mas sei que nada do que vivemos tem sentido,
se não tocamos o coração das pessoas.

Muitas vezes basta ser:
Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Lágrima que corre,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.

E isso não é coisa de outro mundo,
É o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela não
Seja nem curta, nem longa demais,
Mas que seja intensa, verdadeira, pura...
Enquanto durar...

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Cora Coralina- pseudônimo de Ana Lins de Guimarães Peixoto Bretas - poetisa brasileira nascida em 20/08/1889 e falecida em 10/04/1985. Nasceu e viveu em Goiás até que se casou e mudou-se para Jaboticabal, cidade do interior de São Paulo, onde viveu por 45 anos. Após ficar viuva, morou nas cidades de Penápolis e Andradina, até que em 1956 retornou à Goiás. Tinha apenas instrução primária e era doceira de profissão. Publicou seu primeiro livro aos 75 anos de idade e foi quando já estava com quase 90 anos, após sua obra ter chegado às mãos de Carlos Drummond de Andrade, que Cora passou a ser conhecida em todo o Brasil. Para ela, Drummond escreveu: (...) admiro e amo você como alguém que vive em estado de graça com a poesia. Seu livro é um encanto e seu lirismo tem a força e a delicadeza das coisas naturais (...)


domingo, maio 20, 2007

SOLIDÃO.

Um atropelamento. O corpo estava lá, estendido no chão, solitário, tão solitário quanto é possível ser. Cobriram-lhe com um lençol mas por estar na rua, o vento lhe descobriu os pés. Um dos pés estava sem o sapato, o que conferiu ao corpo, um jeito de abandono extremo.

As pessoas passavam ao lado do corpo sem se abalarem, passavam sem olhar, como se o homem morto fosse invisível. Passavam apressadas, cada uma ocupada com os próprios pensamentos, com o tempo que tão pouco têm. E o homem ali, morto, frio, mal coberto. Abandonado.

A fila de carros andou e perdi o morto de vista, mas a cena ficou em minha lembrança por dias a fio. Fiquei imaginando quem seria aquele homem, se deixou mulher e filhos, quem sabe uma noiva ou namorada. E sua mãe? Coitada.

É surpreendente como em cidades grandes as pessoas se acostumam com a violência, com as tragédias, com a morte. Como é possível que as pessoas passem conversando ao lado de uma pessoa morta e fiquem indiferentes? Achem isso normal? Banal? Como é possível que não se abalem, que não se comovam, que não se incomodem? Como?!

Aquele homem ali, sem vida, no meio da multidão e no entanto, na mais definitiva solidão.

Que cena.

domingo, maio 13, 2007

CARTA À MINHA MÃE JULIA.

Aqui no Brasil, comemora-se o Dia das Mães sempre no segundo domingo do mês de Maio. Por isso escrevi um texto que dedico à minha Mãe Julia, falecida há seis anos.

Mãe,

Sei que aí no céu onde você está, algo lhe ocupa o tempo, pois aqui embaixo você não conseguia ficar sem nada fazer, e mesmo depois de um dia de muito trabalho, enquanto você descansava, fazia suas maravilhosas toalhas de crochê. Mas, neste momento Mãe, por favor, pare um pouco seus afazeres junto a Deus e aos anjos, e leia esta carta que agora lhe escrevo, já que a última que lhe enviei não chegou a tempo de ser lida por você. Quando minha carta chegou, você já havia partido. Você foi bem cedinho, quando o sol ainda se mostrava tímido, e a manhã ainda era feita de frescor.

Como imagino você veja aí de cima, Fernando e Flavia cresceram. Ele se transformou num rapaz bonito, - parece que toda mãe diz o mesmo de seus filhos, era o que eu sempre ouvia de você. Fernando está cursando a Faculdade de Publicidade, trabalha como ator, e se relaciona com as pessoas com muita facilidade. O trabalho no teatro lhe fez perder aquela timidez de quando era menino.Gosto de vê-lo no palco, encarnando tipos diferentes dele mesmo e dando vida aos personagens que interpreta com emoção, com entrega e paixão. Fernando tem paixão pelo teatro Mãe, e fico contente por ele, já que ter paixão pelo trabalho que se faz é uma benção para qualquer pessoa. Ah! Mãe, Fernando também gosta muito de ler e escrever. Escreveu um texto tão bonito para Flavia, mas foi no final de 2005 e não foi possível lhe mostrar. Você partiu em Novembro de 2001, lembra?

Flavia infelizmente segue igual, ausente, inconsciente, em coma. Mas ainda assim tão linda, Mãe. Lembra de quando íamos lhe visitar e ela levava seus livrinhos e os lia para você? A leitura era a toda hora interrompida pelo chamado de uma amiguinha dela para brincar. E ela lhe dizia com aquele timbre de voz mimoso e delicado que toda criança tem:

Vovó, vou brincar um pouco, volto já.

E voltava mesmo, você lembra disso, Mãe? Deve se lembrar sim eu imagino, pois você sempre se apegou às suas lembranças. Gostava de voltar no tempo, montava e me mostrava um cenário às vezes montado e mostrado repetidas vezes, até que, embora com receio de lhe magoar, eu lhe dizia que você já me havia contado aquela história. Então, não demorava muito e novamente você buscava em sua memória outra história para me contar. E assim, era como se você me tomasse pela mão e me conduzisse de volta à minha infância, me possibilitando juntar as peças de minha própria história. Mas hoje Mãe, as pessoas estão sempre muito ocupadas e não têm tempo para nos ouvir. Estão sempre com pressa e por isso pouco se conversa. Tempo para voltar no tempo? Ninguém tem. Eu já não ouço histórias e se alguma me vem à lembrança, contá-las...Pra quem?

Mãe, obrigada por todas as histórias que você me contou e por todas as coisas que você me ensinou.

Um beijo de sua filha que te ama muito. Receba também um beijo de seus netos Fernando e Flavia.

Feliz Dia das Mães.

quarta-feira, maio 09, 2007

CRIANÇA DESAPARECIDA!!

Madeleine, 4 anos, desaparecida em Portugal.

Alguns amigos de Portugal publicaram em seus blogs fotos desta criança de nome Madeleine, 4 anos e que desapareceu na Praia da Luz, em Lagos, Portugal em 03/05/2007 à noite.

Como sabemos que a maldade humana desconhece fronteiras, é possível que Maddie possa ter sido levada para outro país.

Por favor, não deixe esta foto parada em seu computador. Passe-a adiante. Olhe para o rostinho de Madeleine e fique atento. Envolva-se, participe, divulgue, denuncie, colabore.

Se você souber do paradeiro de Madeleine, ligue para: 289 884 500
282 405 400 ou 218 641 000 (Portugal)

Obrigada.

terça-feira, maio 08, 2007

DEFICIÊNCIAS. - Renata Vilela.

Recebi, em maio de 2007, por e-mail, o texto abaixo que anda circulando na Internet como sendo de autoria de Mario Quintana, mas hoje, 24 de Maio de 2008, aqui nos comentários deste blog, me foi dito que este lindo texto na verdade é de autoria de uma mulher de nome Renata Vilela. Fui até o link abaixo mencionado no comentário e faço agora a correção, com meu pedido de desculpas à Renata. Direitos autorais é coisa séria e há que se respeitar. Sempre.
"Anônimo disse...
O texto é lindo, mas lamento informar que não é de Mario Quintana, como a maioria das pessoas atribuem. E sim de Renata Villela, conforme poderão verificar no link http://www.floramarela.com.br/pag.asp?id=4&sub=8"
"Deficiente" é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência de que é dono do seu destino.

"Louco" é quem não procura ser feliz com o que possui.

"Cego" é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria, e só tem olhos para seus míseros problemas e pequenas dores.

"Surdo" é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão. Pois está sempre apressado para o trabalho e quer garantir seus tostões no fim do mês.

"Mudo" é aquele que não consegue falar o que sente e se esconde por trás da máscara da hipocrisia.

"Paralítico" é quem não consegue andar na direção daqueles que precisam de sua ajuda.

"Diabético" é quem não consegue ser doce .

"Anão" é quem não sabe deixar o amor crescer.

E "Miserável" somos todos que não conseguimos falar com Deus.
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sexta-feira, maio 04, 2007

EU, FERNANDO E CLARICE.

Hoje em São Paulo tivemos um dia com temperatura das mais agradáveis. Masé ficou cuidando de Flavia e pude sair de casa sossegada. Já havia até assumido um compromisso para a parte da tarde, quando meu filho Fernando me convidou para ver com ele a exposição de Clarice Lispector, no Museu da Língua Portuguesa. Além de gostar muito desta escritora, penso que na medida do possível, não se deve recusar o convite de um filho para sair, tratei então de desmarcar o compromisso marcado e saí com Fernando. Fomos ver Clarice.

O Museu da Língua Portuguesa, inaugurado há pouco mais de um ano, está instalado no prédio da Estação da Luz, no centro de São Paulo. O prédio, de arquitetura deslumbrante, é um cartão postal da cidade. Lindo. Majestoso. Imponente.

A cenografia da exposição de Clarice vê-se logo, foi feita por profissionais dos mais competentes. Rostos da escritora são mostrados em telas de filó, através das quais se podem ler frases de seus livros. E me encantei com um paredão com cerca de 2000 gavetas. Somente 65 delas têm chaves e podem ser abertas pelo público. Ao abrirmos as gavetas podemos ver através de um vidro iluminado, fotos, cartas recebidas e enviadas para amigos e documentos originais da escritora. Há também um telão mostrando Clarice numa entrevista que ela deu à TV Cultura, no ano de sua morte. Adorei ter passado esta tarde com Fernando e Clarice.

Clarice Lispector, nasceu em Tchetchelnik, pequena cidade da Ucrânia em 1920 e chegou ao Brasil aos dois meses de idade, naturalizando-se brasileira posteriormente. Criou-se em Maceió e Recife, transferindo-se aos doze anos para o Rio de Janeiro, onde se formou em Direito, trabalhou como jornalista e iniciou sua carreira literária. Viveu muitos anos no exterior, em função do casamento com um diplomata brasileiro, teve dois filhos e faleceu em Dezembro de 1977 no Rio de Janeiro. (*)

(*) Fonte: Contra capa do livro de Clarice Lispector A HORA DA ESTRELA,
Editora Rocco.