domingo, abril 29, 2007

....E A VIDA CONTINUA...

No post anterior deste blog falo de perdas e de como penso que seja conviver com elas. As pessoas talvez pensem que por ter minha filha em coma por tantos anos, eu viva apenas em função de Flavia. Não é bem assim.

Uma das coisas que aprendi, ao longo desses nove anos, é que para cuidar de Flavia ou administrar os cuidados com ela, eu preciso primeiro cuidar de mim, tanto física quanto emocionalmente.Li num artigo sobre medicina, que as pessoas que cuidam de parentes doentes por períodos prolongados, essas pessoas, se não se cuidarem podem entrar em depressão acabando elas também doentes.

Passado o tempo em que realmente se fica em luto profundo, o bom senso nos diz que temos que continuar vivendo. É preciso desanuviar, buscar um pouco que seja de prazer, de leveza. É preciso sair um pouco do ambiente da dor, sem nos sentirmos culpados e sem interpretar isso como falta de amor. Cada um tem seu jeito de espairecer, há tantas coisas para se fazer....

Embora eu goste muito de ler e escrever, para recuperar minhas energias e desanuviar, preciso sair de casa, e como em São Paulo há muitas opções de lazer, fica fácil. Além disso, nos cuidados com Flavia há quase quatro anos, conto com a ajuda de uma técnica de enfermagem, a Maria José, a quem chamo carinhosamente de Masé, que cuida de minha filha com tanta competência e carinho que me deixa tranqüila para aproveitar meus passeios, tão necessários à preservação de minha sanidade mental. Então, de vez em quando deixo Flavia sob os cuidados de Masé e vou pra rua.

Para me distrair vale até uma caminhada pelo bairro com Michele, nossa poodle de cinco anos. Pode ser também uma boa peça de teatro onde assisto a todos os gêneros, se bem que ultimamente ando apaixonada por musicais. Vi três vezes o Fantasma da Ópera que ficou dois anos em cartaz no Teatro Abril e encerrou temporada neste final de semana. My Fair Lady, apesar de ter estreado recentemente – 8 de março – também já vi três vezes. Os amigos brincam, dizendo que meu interesse por My Fair Lady é porque meu filho Fernando está no elenco. Isto conta claro, mas assisto à peça não só para ver Fernando no palco, mas porque My Fair Lady é mesmo uma deliciosa comédia musical.

Passear com o cachorro, ir ao parque, à feira de antiguidades, ao cinema, ao teatro, ao concerto, à exposição de fotos... Vale tudo, desde que o que fizermos nos dê prazer. O que uma pessoa não pode é conviver diariamente com uma situação dolorosa, e afastar-se do mundo, isolar-se de todos e recolher-se a si mesma. E mesmo que essa situação de dor tenha sido causada pela morte de uma pessoa querida, passado o tempo de luto, é preciso entender, que apesar de tudo, a vida continua.

Boa semana para todos vocês e fiquem com o meu carinho.
Odele

domingo, abril 22, 2007

CONVIVENDO COM PERDAS.

"Ausência", é de autoria de Margusta do blog Pinturas de Margusta

Na Revista da Folha – Jornal Folha de São Paulo de hoje, há um artigo que me tocou. O texto foi escrito por Francisco Daudt e fala da dor de uma mãe que perdeu seu filho de 20 anos em um acidente de carro. A mãe questiona se um dia sua dor pela perda do filho vai passar, ao que Francisco Daudt responde: NÃO. NÃO VAI PASSAR.

O artigo não é longo, mas o autor toca fundo. Me tocou. E não só pela sensibilidade que Francisco demonstra ao tratar deste tema, como também pelas verdades contidas no que ele escreve. Gostaria apenas de acrescentar aqui, que a perda de um ente querido não é causada apenas por sua morte. Essa perda também é real no caso de acidentes graves como o que ocorreu com minha filha Flavia, em coma há mais de nove anos, quando aos dez, ela teve seus cabelos sugados pelo ralo da piscina onde nadava.

A diferença – é assim que penso - entre a perda causada pela morte e aquela causada por um acidente que deixa a pessoa viva, mas com limitações severas e às vezes em sofrimento, é que no primeiro caso, a partir do momento em que nosso ente querido morre, no instante seguinte nós já começamos a trabalhar essa perda. No segundo caso não, isto não é possível, porque a pessoa continua conosco, diariamente. Não partiu e nem ficou por completo. E ver nosso ente querido em condição de sofrimento constante e diário é muito doloroso e também uma perda constante e diária. No entanto, se nada houver que possamos fazer a respeito para melhorar esta situação, só nos cabe cuidar da pessoa com muito amor e da melhor forma que nos for possível, para que enquanto nossos entes queridos, sejam avós, pai, mãe ou filhos, estiverem entre nós, mesmo na sua tênue maneira de viver, que passem seus dias com o que for possível de qualidade de vida e com dignidade. E que essa dignidade esteja também presente em nossas atitudes para com eles.

quarta-feira, abril 18, 2007

SEM MEDO DE AMAR.

Rachel havia se divorciado há pouco tempo e trabalhava como secretária de um empresário, presidente de uma empresa do ramo de construção civil. Oswaldo, o primo desse empresário também acabara de se separar da esposa pela qual era muito apaixonado e por isso, enfrentava naquele momento, forte depressão. Com Rachel era diferente, ela que já não amava o homem com o qual fora casada, sentia-se era aliviada por estar novamente solteira.

Oswaldo era gentil e delicado com Rachel e embora não fossem exatamente amigos, de vez em quando almoçavam juntos e conversavam sobre o assunto para eles mais importante no momento – seus ex cônjuges. E dessa convivência quase diária, nasceu uma simpatia mútua, fazendo com que ambos desejassem cada vez mais passar mais tempo juntos. Mas Oswaldo era homem rico e Rachel, vinha de família muito pobre, e mesmo já estando cursando Faculdade e ser muito inteligente, sentia-se inferior a ele e imaginava que Oswaldo queria apenas divertir-se com ela. Além disso, tinha medo de sofrer caso se apaixonasse por ele e depois ele a abandonasse. Por tudo isso, quando ele se aproximava ela recuava, e assim o tempo foi passando, até que um dia ela resolveu aceitar o convite dele, para acompanhá-lo a uma festa que aconteceria num lugar fino e requintado.

Rachel começou então a se preparar para a festa. Saiu à procura de uma roupa para usar nessa noite tão especial e depois de passar muito tempo olhando vitrines e perambulando por lojas, escolheu um vestido que lhe pareceu ser de bom gosto. Foi também ao cabeleireiro, mas preferiu ela mesma fazer a maquiagem, pois já estava acostumada e sempre se saia muito bem nessa tarefa. Esse cuidado e vontade de estar bonita em companhia de Oswaldo, já demonstrava que o coração de Rachel balançava por ele.

Chegou a noite da festa.

O vestido comprado por Rachel lhe caiu muito bem. Todo branco, de um tecido mole que modelava seu corpo, valorizando ainda mais suas formas perfeitas. Uma sandália prateada enfeitava seus pés e uma delicada echarpe com detalhes também prateados, completava o traje. O cabelo, preso por um coque no alto da cabeça lhe deixava á mostra o rosto onde se destacavam seus lindos olhos verdes. Rachel se olhou no espelho e se achou bonita. E estava.

Naquela noite Oswaldo e Rachel dançaram e se divertiram muito, e ao final, ela resolveu que aceitaria o seu pedido de namoro. No dia seguinte, um domingo ensolarado, continuaram juntos. Queriam desfrutar da companhia um do outro o máximo que pudessem, pois na segunda-feira Oswaldo teria que viajar a negócios, devendo ficar ausente por duas semanas.

Um dia antes de Oswaldo retornar de viagem, chegou a notícia: Ele havia passado mal. Um problema no coração o levou à morte imediata. Rachel chorou muito pela morte de Oswaldo e porque percebeu que o medo de amar a impediu de viver intensamente o amor que há tempos ele lhe oferecia e que ela relutava em aceitar. E enquanto não se recupera dessa perda, ela chora. Talvez tenha aprendido que não se deve evitar um amor por medo de sofrer. Melhor isso do que este amor não viver.

quinta-feira, abril 12, 2007

EU E A NOITE


Estou sentada aqui há tanto tempo,
Que nem notei que a noite já chegou
e se instalou...

Ela vem casa adentro, faz-se íntima...
Faz-se companheira,
mas não me faz triste.
Faz-se amiga, aliada,
faz-se confidente.

Uma calma maior me invade,
me faz companhia

E em paz espero...
por um novo dia.

Odele Souza
Julho de 2005

sábado, abril 07, 2007

NOSSA CASA, NOSSO CASTELO

Marcos, um conhecido meu, é casado com uma mulher que tem mania de limpeza. O filho Pedro, de sete anos, não pode comer bolachas ou biscoitos dentro de casa, para não sujar o chão com os farelos. Marcos trabalha no ramo de transportes e por causa da correria, muitas vezes se alimenta na rua, comendo fast food ou qualquer salgadinho. Chega em casa doido por uma refeição caseira, tipo feijão com arroz e um bife acebolado. Vai até a cozinha, e o fogão está imaculadamente limpo. Clara, a esposa de Marcos, não fez almoço para não sujar a cozinha. Chateado, Marcos prepara algo rápido para comer, quase sempre um miojo, e sob os protestos da mulher.

- Não acredito que você vai fazer comida! Mas você acabou de chegar da rua, por que não comeu por lá?!

E aí, invariavelmente tem início uma discussão entre o casal.

Sempre que encontro Marcos, ele comenta da obsessão da mulher por limpeza. Diz que por causa disso, ela se tornou uma pessoa muito chata, e a convivência com ela ficou difícil. Dá para entender.

O oposto também existe.

Tempos atrás, quando cogitei trocar o apto.onde moro com meus filhos, por uma casa térrea, acompanhada de um corretor, visitei um imóvel nas imediações da Vila Mariana, onde certamente Clara, a esposa de Marcos, enlouqueceria se tivesse que permanecer ali por pelo menos um dia. Ao chegarmos à casa, o corretor tocou a campainha e aguardamos. Apareceu para nos receber, uma senhora usando um roupão desbotado, e trazendo entre os dedos, um cigarro que fumava sem parar. A mulher, aparentando algo em torno de 50 anos, com ar de enfado nos conduziu por um corredor estreito, que levava ao quintal da casa. Foi por aí que começou a visita ao imóvel, - pelo quintal. Não havia plantas ou flores no chão de piso frio. Ao fundo, uma pequena piscina desativada, mas com água coberta de lodo, dava um ar de abandono ao local. Quatro cadeiras empilhadas numa mesa que já fora branca, sugeriam que viva alma não se sentava nelas há tempos. Por todos os lados que eu olhasse, via fezes de gatos. De cara, avistei logo três dos bichanos. A mulher me levou a um salão ao lado da piscina, sem móveis e com vasilhas espalhadas com água e comida para os gatos. Havia ali mais cinco dos bichos. Enquanto eu caminhava preocupada em desviar das fezes dos gatos, a moradora percebeu minha expressão de nojo e me falou ríspida:

- Estou percebendo que a senhora não gosta de gatos. Eu adoooro meus gatos e quem não gostar deles não é bem vindo aqui.

Ai, que desconforto senti.

- Entendo, respondi. - A casa é sua e a senhora não precisa se preocupar se os visitantes gostam ou não de seus gatos. Eles são lindos. Quantos gatos a senhora tem em casa?

- Doze, respondeu a mulher.

- Aaah!, me expressei: - Eu contei oito. Três ao lado da piscina, cinco aqui no salão.
- Onde estão seus outros gatos?
perguntei, tentando parecer simpática.

- Por aí, dentro de casa, ela disse. - Eles ficam nos quartos, na sala ou na cozinha.

Desejei acabar logo com a visita. Entramos na casa, e foi difícil circular pela sala sem esbarrar em móveis entulhados de enfeites empoeirados. O ambiente era escuro e cheirava a mofo. Vimos os quartos, nos quais via-se também mais vasilhas espalhadas com água e comida para os gatos. Que casa mais sombria, que ambiente mais sujo, feio e hostil.

De volta ao meu apto., tomei um demorado banho de chuveiro, como se quisesse me livrar do cheiro do cigarro da mulher e das fezes de seus gatos. Depois, mais relaxada, ouvi CDs de Enya, Yanni e Aurio Corra, e fiquei um bom tempo em minha cadeira de balanço, olhando minhas plantas na sacada, onde tenho Fícus, Flamboyant, Alamandas, Primaveras e outras flores. Lembrei daquela casa suja e mal cheirosa que acabara de visitar, e adorei estar de novo em meu espaço, que me pareceu ser o melhor lugar do mundo.

Fiquei pensando quão opostas são, a mulher de Marcos e sua preocupação excessiva com limpeza, e a mulher dona da casa que eu acabara de conhecer, esta, sem preocupação alguma com limpeza, e demonstrando absoluta falta de higiene, ao viver num ambiente sujo e mal cheiroso, e imaginei como deve ser difícil conviver com essas duas pessoas. Dois opostos, dois ambientes onde não há como alguém se sentir confortável.

Felizmente existe o meio termo. Algumas pessoas, sem precisar chegar a extremos, conseguem manter a casa em ordem, e suas moradias transmitem sensação de bem estar a quem chega. A moradia de uma pessoa pode ser simples, mas é preciso que exista um mínimo de organização e limpeza, para que o ambiente seja agradável, tanto para o morador, quanto para quem o visita. Exageros, tanto para a limpeza quanto para a bagunça, devem ser evitados.

Considero importante morar bem. Não necessariamente com luxo e requinte, mas certamente com descontração, aconchego e conforto. É para nossa casa que vamos, após um dia de trabalho cansativo e estressante. É em nossa casa que relaxamos, após dirigir num trânsito cada dia mais complicado, como o das grandes cidades, e muito por conta disso, as pessoas vão se tornando cada vez mais agressivas ao volante. É para nossa casa que vamos, depois de fugirmos da hostilidade desse trânsito e da violência das ruas. Por tudo isso, nossa casa deve ser, nosso canto de paz, nosso ninho de amor, nosso recanto mais belo. Nosso castelo.

sexta-feira, abril 06, 2007

DESCUBRA O AMOR

Atrasei um pouco para escrever aqui no Oficina de Palavras, neste mês de Abril. Fiquei muito ocupada com o BLOG de Flavia. Para visitá-lo, basta você clicar em meu perfil e lá está o endereço.

Enquanto preparo um texto para o Oficina, quero mostrar para vocês algo para reflexão. É de Mahatma Gandhi.


Pegue um sorriso
e doe-o a quem jamais o teve...

Pegue um raio de sol
e faça-o voar lá onde reina a noite...

Pegue uma lágrima
e ponha no rosto de quem jamais chorou...

Pegue a coragem
e ponha no ânimo de quem não sabe lutar...

Descubra a vida
e narre-a a quem não sabe entendê-la...

Pegue a esperança
e viva na sua luz...

Pegue a bondade
e doe a quem não sabe doar...

Descubra o amor
e faça-o conhecer o mundo...

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BOA PASCOA!!!