Conheci-a apenas com alguns dias de vida, quando veio para casa da maternidade. Diziam que era igualzinha a mim, em bebé, e mostravam-me fotografias a comprovar. Era verdade, parecia um clone: loira, olhos azuis, muito branca, sempre a rir (eu, entretanto, mudei muito; ela não). Vi-a crescer, aprender a andar, aprender a falar, sobreviver ao divórcio dos pais e a tantas outras dificuldades que a marcaram para sempre e lhe foram roubando o sorriso, pouco a pouco. Excepto quando estava comigo ou com os meus pais. Passava dias inteiros na minha companhia, era praticamente a minha irmã mais nova, eu que nunca tive irmãos. De tal forma que me lembro de, certo dia na fase em que começava a falar, a mãe vir com ela pela mão perguntar-me o que ela queria porque não a entendia. Tratou-me (trata-me) sempre por Prima, nunca pelo meu nome próprio. Tem mais primos, naturalmente, mas esta forma de tratamento está reservada para mim. Ninguém tem dúvidas de quem ela fala quando fala da prima.
Naturalmente, com a idade afastou-se um pouco mais, depois a minha vida deu uma volta radical e deixámos de estar juntas tantas vezes. Na verdade, quase nem falamos durante o ano todo. Mas quando nos vemos... Aquele sorriso é sincero, não deixa margem para dúvidas, e as lágrimas que lhe/me surgem nos olhos também não. Há uns anos, surpreendemo-la no dia de aniversário e aparecemos na festa sem que ela soubesse. Chorou mais do que se lhe tivesse morrido alguém. Aparentemente, tem um ar duro, frio e infeliz. Mas na verdade é um coração mole que chora por tudo e por nada (talvez até nisto seja parecida comigo...).
A minha prima preferida nasceu há 25 anos.