Antero de Quental
(Antero Tarquínio de Quental)
(1842 – 1891)
“ Nasceu em 18 de Abril de 1842, tendo-lhe servido Ponta
Delgada de berço. A família, de que descendia, era da boa e antiga nobreza
local. Depois de estudos nos Açores, vem para Lisboa, donde passa para Coimbra,
onde se matriculou na Faculdade de Direito.
Em 1865 é o ano do seu famoso e discutidíssimo livro ODES
MODERNAS, livro perfeitamente revolucionário no contexto da poesia do tempo.
Com ele torna-se Antero no líder incontestado da poesia mais avançada, a
verdadeira vanguarda da época. Esse papel de Mestre de geração confirma-o na
questão que vai ter com António Feliciano de Castilho. A carta que lhe dirige,
sob o título de BOM SENSO e BOM GOSTO, iniciará a polémica mais célebre de toda
a Literatura de Portugal. Raros foram aqueles que nela não se envolveram.Passou
à história sob o nome de “Questão Coimbrã”. O movimento de ideias desencadeado
pela polémica abre caminho para as não menos celebradas CONFERÊNCIAS
DEMOCRÁTICAS DO CASINO, a partir das quais se pode considerar como
definitivamente estabelecidas, quer a Geração de 1870 quer a Escola Coimbrã.
Antero, sob a influência predominante do romantismo alemão,
relacionando poesia com filosofia, pode dizer-se que ele sintetiza em Portugal,
desde os anos de 60 do século XIX, todos os principais romantismos europeus.
A poesia de Antero mantém uma constante tendência para a
expressão de ideias antes de mais filosóficas, mas também históricas e sócio –
políticas.
Assim, em suma, trata-se de um poeta que nunca se separa
totalmente do pensador, assimilando modelos diversos de um romantismo europeu
até então quase desconhecido em Portugal e transfigurando-os em hipóteses de
uma escrita voltada para o futuro, simultaneamente tradicional e renovadora, nacional
e universal”
Honremo-lo com 3 sonetos,
respeitando o pensamento do Poeta e a estrutura das suas principais composições
poéticas.
A mão direita de Deus
Sou amontoação mais de
aparências;
procurei certo dia a
mão a Deus
e nela arrecadei
cuidados meus,
ilusões e do peito
minhas ardências.
Recordei múltiplas e
infantis essências,
espólio imperfeito dos
vários eus;
as quimeras e os
amores, todos sandeus,
disformes e até
escapados às ciências.
Sonhei que certa noite
a querida ama,
apertando-me ao colo
seu, da cama
me tirou e alegres já
no céu
vimos as maravilhas
naturais
que permanecem apenas
outras iguais
na dextra mão divina
toda ao léu.
Túmulo Romantizado
Procurando a primeira causa, humano
coração precipita-se no mar
da vida, produzindo ondas sem- par
de ventos já rebeldes e com seu dano.
Exausto , o coração já mui arcano,
pelo estival braseiro a suportar
p´ra em rigoroso inverno aguentar
o gélido rigor do desengano.
Mas, paulatinamente dissolvendo,
sendo o pó o seu último remendo
que o vento, em remoinho, tudo espanta.
E o coração cansado e já ferido
por desvairado fruto de Cupido
desaparece e já ninguém encanta.
Onde mora a felicidade?
Como um aventureiro
andante vou
procurando onde mora a
boa sorte;
desertos e matagais
neles estou,
indo de dia ou noite,
mas sem norte.
Já sem forças, o Amor
me estimulou
a não interromper e lá
recorte
vi ao longe:um palácio.
Parou
meu ser. Mas escapei de
triste morte.
Era lindo e com luzes a
cintilar:
devia ali viver quem
cria amar.
Violento gritei:
felicidade
procuro. Abri a porta.
Mas só dor
havia mais silêncio e o
terror
que ensanguenta toda a
Humanidade.
Agostinho Alves Fardilha (o meu pai)
Coimbra