Os Trabalhadores são honrados na sua labuta, lutam até exaustão, vão ao limite das suas forças, são perseverantes, conquistam com suor e lágrimas, nunca estão vencidos que eles são vencedores por herança genética.
São humildes por serem Grandes, exaltam suas virtudes apenas na labuta!
São solidários, lutam todos por um, o sentimento é do grupo e não do individual!
Estes são os Trabalhadores do Benfica que sentem tanto o peso da camisola que envergam quanto se esforçam por dignificá-la na sua enorme Grandeza, a Grandeza de um Símbolo, a Grandeza que torna pesada a missão do Trabalhador, conquanto o Trabalhador “à Benfica” nunca se sinta esmagado mas mais e mais incentivado a defendê-la.
Houve três campeonatos que o Benfica perdeu este ano e que me deixaram um sentimento enorme de frustração e amargura.
Nunca nenhum campeonato da 1ª Liga me custou tanto perder como o deste ano, em quase 60 campeonatos que acompanhei desde que me conheço.
É verdade que fomos roubados escandalosamente pelo apito que este ano refinou, a certa altura tanto que pareceu bem ter deixado de ser dourado para se tornar de ouro maciço ao serviço da corrupção desportiva nacional.
Roubados nos jogos que disputámos, roubados no favorecimento aprimorado concedido ao rival.
Mas também houve muitas culpas próprias porque estamos fartos de saber que temos de jogar muitíssimo mais do que os nossos adversários. Sabemos que não jogamos 11 contra 11 e tínhamos de estar prevenidos para isso, quanto mais não fosse com o suporte moral do avanço pontual que alcançámos. Tínhamos de sofrer mais, de correr mais, de lutar mais, enfim, de trabalhar muito mais. Tínhamos, como temos, de labutar sempre, sempre, “à Benfica”.
E não só trabalhar muito mais mas também muito melhor!
Sou dos tempos em que o futebol era um espectáculo maravilhoso, um espectáculo digno de assistência! E o maior espectáculo deles todos era dado pelos jogadores do Benfica. Um espectáculo feito de arte, de engenho, mas ainda e sempre acompanhado de muito sangue, suor, lágrimas e querer.
Mas os tempos mudaram muito e nunca como agora valeu tanto a máxima:
“os ataques ganham jogos, as defesas ganham campeonatos”.
Por isso, era com enorme tristeza que no fim de um jogo ganho por 3 ou 4 a 1 ouvia muitos Benfiquistas a lamentarem a exibição da equipa e a exigirem, muito inchados da sua importância e sapiência, o que chamavam de espectáculo, de exibição “à Benfica”!
E a pressionarem, pressionarem, tantas vezes com o assobio, um assobio tão “dourado” nos efeitos quanto o da corrupção desportiva.
Um Benfiquista quer sempre mais e mais para o seu Benfica mas não pode querer o exagero. E, primeiro que tudo, bem lá no cimo das preferências, o que quer é ganhar.
Só um exemplo que diz muito mas não diz tudo, naturalmente. Estávamos a ganhar 2-1, no 2º tempo, ao FCP. Por que não assentámos e segurámos o jogo e a vantagem, com substituições defensivas, não com substituições atacantes, trocas de bola seguras, fazer o que se designa por “jogar com o relógio”?
Mas não!
Era o espectáculo “à Benfica”, a goleada que se exigia, mais do que os 3 pontos.
Mas a tolice de querer ir em busca de 2 pássaros a voar, deixando fugir o que tínhamos na mão!...
No golo do FCP que fez o 2-2 não tínhamos ninguém a defender, foi um passeio para o adversário chegar da sua à nossa baliza e marcar.
Estávamos a ganhar mas muitos Benfiquistas, os conhecidos do assobio muito em especial, queriam mais e mais!
E ajudaram a ter menos e menos.
Outro campeonato que custou muito perder foi o de voleibol. Fazemos uma fase regular com supremacia enorme e ficamos com larga vantagem sobre o classificado no 2º segundo lugar.
Acabámos por perder em nossa casa, de uma maneira triste, triste com esse mesmo 2º classificado!
Faltou traquejo, em particular traquejo psicológico?
Finalmente, o campeonato nacional de juniores. Estávamos à frente e o campeonato a acabar. Era preciso ganhar ao Braga e estivemos a ganhar por 2-0! Quando devíamos ter a cabeça bem assente, moralizada, empenhada, concentrada, perdemo-la sem razão. E acabamos por perder o jogo por 3-2!
Como pode isto acontecer em momentos decisivos?
Falta de discernimento, falta de traquejo, falta de querer “à Benfica”?
Ele há cada coincidência!
Há 2 anos perdemos o campeonato de juniores porque fomos corridos à pedrada e se beneficiaram os pedreiros infractores! Ganhou a pedrada contra o jogo da bola.
Este ano perdemos o campeonato na pedreira!
Será que foi pelo facto de o campo ser na pedreira que alterou os esquemas mentais dos nossos jogadores e os derrotou depois de estarem a ganhar?
Associaram a pedreira à pedrada e concluíram que os ganhadores seriam sempre os pedreiros?
Tenho dificuldades em integrar tais esquemas num carácter, num modo de ser e de estar “à Benfica”.
Diz o Santos, “não precisamos do Benfica”!
Ao ler tal arenga logo me lembrei do conto que aprendi na primária: “estão verdes, ninguém as pode tragar”!...
O Benfica não precisa do “Santos”, isso o demonstrou não lhe dedicando nem com ele perdendo um mínimo de tempo e nem dele precisando para colocar o seu jogador.
Mas o “Santos” demonstrou indiscutivelmente, com o seu ressabiamento das “uvas verdes”, precisar do Benfica! Tanta insistência, tanto querer manifestado no seu jogador!
Foi o “Santos” que demonstrou, inequivocamente, necessitar do Benfica, não o contrário! Estendeu a boina, rezou “padre-nossos” e “ave-marias”, rezou a todos os “santinhos”!
E, sendo embora “Santos”, ficou de boina vazia!
Para que haveria agora de vir dizer que precisava do Benfica se a esmola, tão devota e insistentemente solicitada que se tornou bem enjoativa mais do que negada foi pura e simplesmente ignorada?
Noticiou-se que ninguém do clube de “sangue azul”, fato surrado e bolso cheio de cotão e poeira, compareceu para falar aos microfones da televisão “estrangeira” que deu o jogo do título de futsal em directo! E estranhou-se tal atitude!
Sem razão para tão exagerado quanto tão pequeno pormenor!
Analisada bem a questão de fundo, não é fácil de concluir pela normalidade de tal desfecho?!
De que iriam, afinal, falar tais luminárias da “superioridade do sangue azul”?!
De que haviam perdido?!
Ora, isso é coisa tão banal, tão do conhecimento geral e reincidente, que era uma perda de tempo absoluta e um cáustico torpor para ouvidos decentes, conquanto não tão “nobres” de berço!
Pode querer-se relembrar a máxima, “quem não sabe ganhar, não sabe perder”!
Mas se falha logo a premissa inicial?!
Quem nada ganha, sabe lá o que é saber ganhar?
Damos, “merecidamente”, o devido desconto às suas tão apregoadas modalidades da bisca lambida e outras de tanta magnitude quanto essa!
Mas como isso não vem publicitado em mais lado nenhum!...
Vem o jogo do incendiário, que esse jogo sabem ganhá-lo como ninguém!
Não por glória nem esforço, mas apenas alguma devoção e outra tanta dedicação!
É o cumprir da sua divisa com as únicas armas que podem e que sabem usar.
Também não são estranhos os “parabéns” endereçados por mais um “nobre” de pés descalços!
Quem não pode nem sabe ganhar, pede ajuda, vai de novo para a porta da capelinha ou da igreja da paróquia, boina estendida, dvd como rebuçado!
E continua de fato surrado e bolso vazio de haveres mas “sangue azul” de “superioridade” tão inferior!
Porque a esmola não chega e o ganho de secretária nem sempre é atendido!
É assim o retrato do Trabalhador Benfiquista e do “nobre” ocioso, sempre em busca de quem trabalhe por ele. Busca bastas vezes infrutífera mesmo em tempo de calamitoso desemprego.
E agora, nem a migalha do “papa” lhes vale!