Olhos de outono
Ninfa Parreiras
O outono me fascina. Gosto
da luz clara, ao mesmo tempo, esfumaçada. Nítida, com realce das cores. Como a
luz do Barroco. A cena banhada em ouro, em camadas que se superpõem, em volumes.
A paisagem esculpida. E toda a beleza cabe nela.
Dias curtos, temperatura
suave, brisa pouca. Folhas caem. Ora preguiçosas. Ora envelhecidas. Desprendem-se
e bailam. Autônomas, solteiras. Aos pares, em grupos, aos pedaços. Viram lixo,
viram adubo. Viram outras coisas. Folhas novas virão.
No hemisfério norte, o
outono traz um espetáculo para os olhos. As árvores revestem-se de cores
amareladas, queimadas. Ficam floridas de folhas. Enferrujadas e avermelhadas. Os
caminhos nos parques e nas ruas são tapetes de folhas. Tudo é folha. Fotografo
o outono lá como quem acaba de nascer e descobrir: a natureza é generosa.
Olhar nos olhos das pessoas
faz bem. Uma conversa de silêncios, de suspiros. De dúvidas. Há olhos que são
de outono. Parecem desprender folhas que caem levemente e contam coisas.
Histórias que desfolham os olhos. Histórias para quem lê os olhos.
Trincados, os olhos de
outono variam: ora cor de mel, ora castanhos, ora verdes, ora negros. São olhos
banhados de amor. Os olhos de outono se renovam de sonhos e plantam mais
dúvidas nos olhos de quem os lê. Serão folhas que caem para chegar outras?
Foto: arquivo pessoal, outono em Tiradentes,
MG, 2008