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terça-feira, 5 de agosto de 2014

Quem é Roger Mello?

 Quem é Roger Mello?
Ilustrador vencedor do Prêmio Hans Christian Andersen do IBBY, a mais alta premiação internacional de literatura infantil!
                                                                         Ninfa Parreiras
            Roger Mello é um artista completo (da imagem, da palavra, do projeto visual) que concebe e cria obras literárias para a infância, a juventude e os adultos de todas as idades. Completo no sentido de saber lidar com uma sintonia dessas três linguagens, que, no Brasil, ainda está em processo de construção.
Seus livros reúnem a beleza e o cuidado de quem sabe criar um objeto de arte, um brinquedo. Isso porque a literatura para as crianças tem, em seu íntimo, a brincadeira, que desloca nosso olhar e nos comove. Roger, ao escrever e ilustrar para a infância, convoca a criança que habita dentro de si. Seus livros são brinquedos que os adultos também manuseiam e se deleitam, como Zubair, Zoo e João por um fio.
Dos temas folclóricos (brasileiros e de outras nações) presentes em obras como Maria Teresa, Cavalhadas de Pirenópolis, Nau Catarineta, aos contemporâneos (solidão, nomadismo), como Selvagem e Contradança, a pesquisa de Roger ultrapassa as fronteiras culturais e sociais do Brasil. Ultrapassa os regionalismos. Sua produção artística é universal e atemporal.
O cuidado com a infância está imortalizado nas obras dedicadas ao trabalho infantil, como Meninos do Mangue e Carvoeirinhos. Uma denúncia sutil, sem apelos, sem moralismos, sem didatismos; em narrativas carregadas de lirismo. Trazem a voz da infância, nas palavras e ilustrações. Aliás, a ilustração, para o Roger, é um texto e vice-versa.
O sonho é outro tema presente em sua obra, como em João por um fio, Jardins e Zubair.  Seja o sonho de um menino (brasileiro ou estrangeiro), seja o sonho de uma nação, seja o sonho da humanidade em manter um mundo de paz e de tolerância. Certamente, o sonho da própria literatura!
A falta, tão presente na vida de todos nós e necessária para lidarmos com a solidão, o vazio, o envelhecimento, a crise, marca presença em Contradança e Selvagem. Seus livros abrem espaços para o leitor, ao se deparar com algo incompleto, perguntas, sem lições de moral. O último ponto de cada texto, a última imagem de cada ilustração cabe ao leitor. Até porque na sua arte não há linearidade nem ponto final.
A oralidade, forte marca da nossa cultura, aparece em Nau Catarineta, Maria Teresa. Reproduzida nos textos e nas imagens, a tradição oral atualiza o gosto do popular e do antigo. Roger não despreza o velho, o decadente: ele os recria.
Abordagens históricas e sociais atravessam sua obra de maneira intensa, como notamos em Zubair e outros livros. Roger é um artista conectado com o seu tempo. E também com o passado, a história da arte, a literatura para crianças, o meio ambiente. Ele aborda em sua produção uma visão histórica. Lida com a intertextualidade como uma ferramenta que enriquece seu trabalho. Pinta animais e os personifica.
A fragmentação e o deslocamento, características da contemporaneidade, estão em Contradança e Todo cuidado é pouco. A exploração temática e linguística, na escrita e na criação de imagens, vem por meio da metalinguagem bem trabalhada.  Ao abordar o deslocamento de uma personagem, notamos o deslocamento atento e curioso de Roger. E, claro, do leitor.
fotos: arquivo pessoal, Bonito, inverno, 2014