Quem é Roger Mello?
Ilustrador
vencedor do Prêmio Hans Christian Andersen do IBBY, a mais alta premiação
internacional de literatura infantil!
Ninfa Parreiras
Roger Mello é um artista completo (da imagem, da
palavra, do projeto visual) que concebe e cria obras literárias para a
infância, a juventude e os adultos de todas as idades. Completo no sentido de
saber lidar com uma sintonia dessas três linguagens, que, no Brasil, ainda está
em processo de construção.
Seus livros reúnem a beleza e o cuidado de quem sabe
criar um objeto de arte, um brinquedo. Isso porque a literatura para as
crianças tem, em seu íntimo, a brincadeira, que desloca nosso olhar e nos comove.
Roger, ao escrever e ilustrar para a infância, convoca a criança que habita
dentro de si. Seus livros são brinquedos que os adultos também manuseiam e se
deleitam, como Zubair, Zoo e João por um
fio.
Dos temas folclóricos (brasileiros e de outras nações)
presentes em obras como Maria Teresa,
Cavalhadas de Pirenópolis, Nau Catarineta, aos contemporâneos (solidão, nomadismo),
como Selvagem e Contradança, a pesquisa de Roger ultrapassa as fronteiras culturais
e sociais do Brasil. Ultrapassa os regionalismos. Sua produção artística é
universal e atemporal.
O cuidado com a infância está imortalizado nas obras
dedicadas ao trabalho infantil, como Meninos
do Mangue e Carvoeirinhos. Uma denúncia
sutil, sem apelos, sem moralismos, sem didatismos; em narrativas carregadas de
lirismo. Trazem a voz da infância, nas palavras e ilustrações. Aliás, a
ilustração, para o Roger, é um texto e vice-versa.
O sonho é outro tema presente em sua obra, como em João por um fio, Jardins e Zubair. Seja o sonho de um menino (brasileiro ou
estrangeiro), seja o sonho de uma nação, seja o sonho da humanidade em manter
um mundo de paz e de tolerância. Certamente, o sonho da própria literatura!
A falta, tão presente na vida de todos nós e
necessária para lidarmos com a solidão, o vazio, o envelhecimento, a crise, marca
presença em Contradança e Selvagem. Seus
livros abrem espaços para o leitor, ao se deparar com algo incompleto,
perguntas, sem lições de moral. O último ponto de cada texto, a última imagem
de cada ilustração cabe ao leitor. Até porque na sua arte não há linearidade
nem ponto final.
A oralidade, forte marca da nossa cultura, aparece em Nau Catarineta, Maria Teresa.
Reproduzida nos textos e nas imagens, a tradição oral atualiza o gosto do popular
e do antigo. Roger não despreza o velho, o decadente: ele os recria.
Abordagens históricas e sociais atravessam sua obra de
maneira intensa, como notamos em Zubair
e outros livros. Roger é um artista conectado com o seu tempo. E também com o
passado, a história da arte, a literatura para crianças, o meio ambiente. Ele
aborda em sua produção uma visão histórica. Lida com a intertextualidade como uma
ferramenta que enriquece seu trabalho. Pinta animais e os personifica.
A fragmentação e o deslocamento, características da
contemporaneidade, estão em Contradança
e Todo cuidado é pouco. A exploração
temática e linguística, na escrita e na criação de imagens, vem por meio da metalinguagem
bem trabalhada. Ao abordar o
deslocamento de uma personagem, notamos o deslocamento atento e curioso de
Roger. E, claro, do leitor.
fotos: arquivo pessoal, Bonito, inverno, 2014