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terça-feira, 22 de novembro de 2016

De Xambioá

Gente que o Brasil não conhece
                                                                        Ninfa Parreiras
Conheci Xambioá pelas palavras e imagens que brotaram dos relatos deles. Mãe e filho atravessaram o norte escaldante das terras tocantinenses para participarem da oficina de criação literária promovida pelo SESC Palmas. Como me garantiu a Ana Isabel logo que cheguei, em Tocantins, há um sol pra cada pessoa. Tem luz e calor derramados pra todas!
Com o correr dos dias, aquele sol banhava os papeis de textos que nasceram, generosos, compartilhados entre os integrantes do grupo. Contos, mini contos, poemas, haicais, aldravias, cordéis salpicavam vôos das tantas aves que sobrevoam a capital.
Alcancei os mais de 500 km de Palmas até esta pitoresca cidade na fronteira do Tocantins com o Pará, conduzida pelos olhares molhados das águas do Araguaia. Lá, onde aconteceu, com toda a efervescência, a Guerrilha do Araguaia nas décadas de 60/70.
Xambioá é pássaro veloz. É cidade que resiste. Dizem que as armas da guerrilha foram atiradas de um helicóptero sobre o rio e hoje dormem banhadas de lama. Estariam sendo carregadas para a revolução dos peixes?
Nos idos da exploração dos minerais, quando as terras pertenciam a Goiás, um matuto encontrou uma pedra de cristal do tamanho de uma geladeira dupla. Foi guardada em casa e o temporal não cedeu por muitos dias. Com o passar da chuvarada, o cristal desapareceu. Teria derretido?
Quem me contou essas e outras histórias foi João Emanuel, rapaz de 13 anos, acompanhado de Madalena, sua mãe. Quando moça, ela pescava com tal habilidade que até os peixes punham as mãos na cabeça! Balaios de pescados era fartura na família!
Ele escreve com inventividade e aposta no fazer do escriba. Leitor de literatura, sabe observar e escutar, o que o torna um grande contador de causos. Cria histórias em cordel, contos, poemas... isso vai crescendo do papel para a fala mansa, que baila com aquele vocabulário regional.
O que me chamou a atenção foi o envolvimento do jovem com a palavra. Como ele fica mobilizado com o que vive e transforma os sentimentos em escrita livre. Brinca com as pessoas e as sonoridades. Ao final, Madalena desabrochou seus textos e a dupla encantou a todos. Ela continua a pescar, só que agora, textos.
Xambioá se transformou em um sonho para os que não a conhecem e João Emanuel é uma aposta jovem para um país sem rumo. Ele sabe aonde quer ir e o que precisa fazer. Sua voz vai ecoar veloz como o pássaro da sua cidade e inundar o Brasil de poéticas palavras - as armas mais revolucionárias que conheço.
 
(participaram da oficina no SESC Palmas: Ana Isabel, Andrea, Cecília, João, João Emanuel, Laura, Mariany, Madalena. E a Geovana. Primavera de 2016)
Fotos: pesquisadas na internet.
http://www.portalnabocadopovo.com.br/2012/08/28/governo-do-estado-reinicia-obra-de-asfaltamento-em-xambioa/ acesso em 22nov, 10h15
http://www.cidade-brasil.com.br/municipio-xambioa.html acesso em 22nov, 10h18