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segunda-feira, 26 de abril de 2021

Mês de Abril e as datas do Livro

 

Capa do Livro, um encontro, de Lygia Bojunga, Casa Lygia Bojunga

O mês de abril é abençoado com tantas datas significativas sobre o livro.

A começar com o Dia Internacional do Livro Infantil (02), em homenagem ao dinamarquês Hans Christian Andersen (02/04/1805 – 04/08/1875), patrono da literatura infantil e juvenil no mundo. Conhecido por suas centenas de histórias, recolheu contos maravilhosos e criou narrativas e enredos. A seguir, tivemos o Dia do centenário da Patrona do Teatro Infantil Brasileiro (04), Maria Clara Machado (03/04/1921 – 30/04/2001). Em 2021, 100 anos do nascimento da teatróloga, atriz e escritora mineira que fundou o Tablado, no Rio de Janeiro.

Logo em seguida, o Dia do Jornalismo (07). Em 1931, neste dia, foi criada a Associação Brasileira de Imprensa – ABI, com sede no Rio de Janeiro, RJ.

O Dia Nacional do Livro Infantil (18), em homenagem ao brasileiro Monteiro Lobato (18/04/1882 – 04/07/1948). A partir das suas obras, a literatura para a infância brasileira passou a ter uma identidade marcada por traços nacionais (prosa coloquial, uso da fantasia, ponto de vista da criança).

O Dia Internacional do Livro e dos Direitos dos Autores (23), é uma homenagem a Miguel de Cervantes (29/09/1547 – 22 ou 23/04/1616).

A partir de 1995, a UNESCO estipulou o 23 de abril para a reflexão sobre a leitura, a indústria de livros e a propriedade intelectual. Vamos discutir o valor do livro e da leitura? O dia também homenageia: William Shakespeare (abril de 1564 – 23/04/1616) e Maurice Druon (23/04/1918 – 14/04/2009).

E para finalizar, temos o Dia da Educação (28), comemorado anualmente em abril. No Brasil, a educação também é motivo de destaque no dia 25 de agosto, quando se comemora o Dia Nacional da Educação Infantil, a partir da Lei nº Lei 12.602/12.

Por coincidência, nos últimos dias e semanas, recebi, em grupos diferentes, arquivos em PDFs de Biblioteca Virtual de livros. Arquivos totalmente “copiados” e “roubados”, desrespeitando a lei de direitos autorais.

A Escola Estadual Madre Serafina de Jesus (de Itambacuri, MG) criou e divulgou um arquivo com PDFs de diversas obras literárias. O fato de ser uma escola pública parece dar credibilidade a um gesto tão repugnante. As pessoas compartilham e repassam com muita naturalidade.

Até jornais e blogs disponibilizaram o link da Biblioteca Virtual criada.

Por sua vez, o site: https://lelivros.love disponibiliza PDFs de livros. E ainda traz a frase "Propriedade intelectual é burrice, viva a revolução do conhecimento!" Isso está escrito lá! Criado e mantido por um grupo de estudantes residentes em Portugal, é uma pirataria de livros!

Capas antigas do Livro, um encontro, de Lygia Bojunga

Uma notícia pavorosa das últimas semanas é a decisão do governo federal de taxar em 12% cada livro vendido, o que aumentaria o preço de capa para aproximadamente 20% a mais do valor aplicado.

O que fazer diante de tanto desrespeito com o livro e o leitor? Vamos fortalecer movimentos a favor dos direitos de propriedade intelectual. Vamos divulgar iniciativas com leituras de livros.

Para que compartilhar cartazes com frases de autores que, na maioria das vezes, são equívocos? O pinterest e o google estão lotados de cartazes piratas com frases de Cora Coralina, Fernando Pessoa, Clarice Lispector e outras autorias mentirosas. Bom é divulgar uma capa de um livro, com a referência de autores e editora. Escolher, você mesmo, um trecho de um livro que leu ou está lendo e compartilhar. Isso, sim, é criação de si. É singularidade.

Homenagem a Lygia Bojunga, autora que valoriza e respeita o livro como materialidade da cultura, como um companheiro. Vale a pena conferir seu Livro, um encontro.

Fotos: autora Lygia Bojunga



quinta-feira, 15 de abril de 2021

O Quarto dos Horrores

                          O Quarto dos Horrores

Ninfa Parreiras

Ei, você, já reparou uma criança brincando? Criança saudável dorme, se alimenta. Ela interage com as pessoas e com os brinquedos. Sorri, arquiteta coisas, cria fantasias. Inventa modas!

Uma mãe, um pai ou a pessoa que cuida da criança pode perceber quando há sofrimento emocional. Quando ela não consegue dormir ao longo de noites. Fica agitada, com insônia, não está tranquila. Quando se alimenta em excesso e passa mal em repetidas situações. Quando não quer comer e faz recusa mais de uma vez. Faz birra. Quando está triste, não sorri, não se comunica. Ou fica agitada demais por muitas vezes.

Uma criança com medo, assustada, precisa ser observada e acolhida. Ela pode dar sinais. Alguns verbais: falas, balbucios, choros, gritos. Ela literalmente diz que não gosta de uma pessoa, não quer ir a algum lugar que a traz desconforto. Alguns sinais não verbais: olhos secos, olheiras, mutismo, alergias, dores, tristeza, tremores, sonolência ou insônia, dificuldade para se divertir, mudança na rotina alimentar, fadiga, queixas físicas, irritabilidade, lentidão de movimentos, voz monótona e monocórdica, gagueira, agitação psicomotora, hiperatividade e descontrole dos sentimentos. Atenção, adultos, a lista é grande e longa!

Quando a criança fala dos incômodos e do mal-estar, está conseguindo verbalizar suas insatisfações. Henry Borel falava de incômodos: pedia para não ficar com o namorado da mãe; pedia para não permanecer naquele espaço assustador - o “quarto dos horrores”.

Uma mãe (um pai) precisa ter olhos de ouvir, precisa ter ouvidos de ver. Sua mão deve reconhecer feridas, marcas, hematomas. Deve sentir as recusas. Farejar e lamber sua cria de forma zelosa.

Se a criança não consegue falar e tem sofrimento psíquico, o olhar sobre ela deve ser redobrado. Precisamos estar atentos ao que ela produz de brincadeiras, sonhos e sintomas.

Quando recebo crianças para atendimento no consultório, a gente brinca, com bonecos (de pano). Eles permitem livres associações para as brincadeiras. A gente lida com pequenos objetos, desenhos, traçados, jogos (como dama, dominó). A gente inventa e dramatiza cenas e histórias curtas, com palavras, com desenhos, com brinquedos. Assim, a criança deixa escapar indícios de sofrimentos e suas dificuldades em nomear o que a perturba. Ao brincar, a criança mostra suas fragilidades e angústias. O trabalho de elaboração se dá para que ela consiga falar, nomear o estranho, vencer o medo. Enfrentar os fantasmas, que podem ser fantasias (coisas imaginadas), mas podem ser reais (pessoas cruéis). A gente faz modelagem com argila. A criança molda coisas que nem ela sabia que existiam: criaturas absolutamente horrorosas. Pinta os objetos modelados, depois eles vão ganhar vida em cenas montadas, de acordo à invenção dela. 

Atenção, famílias, ao Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA:

Art. 4º: É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm acesso em abril de 2021

            A criança é um ser do presente, não do futuro. Não é um vir a ser. Ela vive uma infância única, somente dela, porque há muitas infâncias em muitas partes. Ela carece de cuidados e de respeito, hoje.

Na literatura infantil, temos exemplos de inúmeros livros que abordam a relação do/a filho/a com a mãe; e com o pai. Tomei emprestados 2 livros da infância dos meus filhos que me ocorrem agora comentar. Não paro de pensar em Henry Borel!

O livro Mamãe Zangada, da alemã Jutta Bauer (texto e ilustração), tradução de Irene Fehrmann, publicado no Brasil pela CosacNaify, em 2008. Mostra o grito de uma mãe-pinguim. E o despedaçamento que acontece com o filhote, pelos quatro cantos do mundo:

“Minha cabeça voou para o universo. Meu corpo afundou no mar. (...) Minhas patas ficaram paradas, mas de repente se puseram a correr e correr. (...) Era a mamãe zangada, que tinha recolhido e costurado todos os meus pedaços.”

Ilustrações e texto narram os danos das indelicadezas e das brutalidades do mundo adulto na relação vertical com as crianças. As fragmentações na linguagem das palavras e das imagens. Trazem a “reparação” afetiva da mãe e o pedido de desculpas ao filhote. Por meio de metáforas e de metonímias, a autora fala de violência na infância e de cuidados. Premiada com a Medalha Hans Christian Andersen do International Board on Books for Young People (IBBY), em 2010, é uma das mais respeitadas artistas do mundo.

Outro livro é Adivinha quanto eu te amo, do irlandês Sam McBratney, ilustração Anita Jeram, tradução de Fernando Nuno, publicado no Brasil pela Martins Fontes, em 1996. Aqui, há uma declaração de amor entre filhote e pai. O pequeno tenta traduzir o amor que sente pelo paizão. E o pai segue uma série de brincadeiras verbais na tentativa de “medirem” o quanto cada um ama o outro. Originalmente publicado como Guess how I love you, já vendeu mais de 30 milhões de cópias e está traduzido em mais de 50 países. A obra foi adaptada para desenho animado e é lida no mundo todo por infâncias de todas as idades. Há em edição pop up (livro brinquedo) para bebês. Reparem um trecho:

“Ele queria ter certeza de que o Coelho Pai estava ouvindo.

- Adivinha quanto eu te amo – disse ele.

- Ah, acho que isso eu não consigo adivinhar – respondeu o Coelho Pai.”

            Nos diálogos e no jogo lúdico de palavras, de troca de olhares, os personagens lidam com o amor, a afetividade e o respeito. A narrativa, de texto e de ilustrações, faz com que os leitores se sintam amados e queridos. Como as crianças precisam se sentir amadas!

Quando faltam palavras ou explicação, como esse “quarto de horrores”, costumo me refugiar na literatura ou em outras artes. Queria ter lido essas duas histórias para o Henry e para as crianças desamparadas. Fica aqui a dica para as infâncias.

No artigo Uma criança é espancada - uma contribuição ao estudo da origem das perversões sexuais” (1919), Freud trabalhou com as fantasias infantis em relação ao espancamento feito pelos pais nelas ou em irmãos. Nos seus estudos, mostrou que as fantasias de espancamento não eram realidade. Nosso tempo não pode ficar na “fantasia do espancamento” de 1919!

Em 2021, Henry foi fisicamente violentado pelo Sr Jairinho, com a cumplicidade de Monique, mãe do menino. E quantas crianças seguem machucadas, abusadas e caladas! Vamos dar voz e acolher as dores dessas crianças! Vamos nos refugiar na literatura!

   (Imagens: capas dos livros mencionados e comentados, podem ser adquiridos em livrarias físicas e vistuais)


sábado, 3 de abril de 2021

Plaft, Pluft: 100 anos de Maria Clara Machado (03/04/1921 - 30/04/2011)


Plaft, Pluft: 100 anos de Maria Clara Machado 

(03/04/1921 - 30/04/2011)

O mês de abril é profícuo em trazer ao mundo grandes artistas da literatura para a infância e a adolescência.

Para lembrar e homenagear quem já partiu: dia 02 de abril é nascimento do Patrono Mundial da Literatura Infantil: o dinamarquês Hans Christian Andersen.

Dia 03 de abril de 1921, veio ao mundo a Patrona Nacional do Teatro Infantil: Maria Clara Machado, nascida em Minas Gerais. 

Criou e montou mais de 30 peças infantis. E ainda livros para crianças e peças para adultos. O Tablado, escola de teatro no Rio de Janeiro, fundado em 1951, por Maria Clara, ficou como legado para a formação de atores.

Em 1955, veio o maior sucesso do Tablado e do teatro para a infância no Brasil: o inesquecível “Pluft, o Fantasminha”. 

E aguardem! Abril continua a abrir berços literários: dia 18 (Monteiro Lobato); dia 19 (Manuel Bandeira); e dia 24 (Daniel Defoe). Isso só para ficar na literatura infantil e juvenil.

 

E por falar em Maria Clara Machado, dia 08 de abril, 18h, teremos o projeto Recordar Infâncias sobre a obra desta autora genial, com a participação especial de Volnei Canonica, pelo Instituto Estação das Letras - IEL.

Inscrições:

E-mail: [email protected]

Todos os livros de Maria Clara estão publicados pela editora Nova Fronteira.