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segunda-feira, 14 de março de 2011

Algumas palavras, alguns livros 9


Foulcault, a filosofia e a literatura 
Roberto Machado 
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005 
187 p. 


      
      Foucault, em sua obra, tem sido foco de diferentes estudos nas áreas das humanidades: filosofia, psicanálise, literatura, lingüística, psicologia, pedagogia... E olha que ele nos deixou escritos em forma de livros, entrevistas, debates, depoimentos, palestras, aulas. O fato de ser muito estudado e pesquisado não simplifica a complexidade da produção deste pensador francês que se debruçou sobre a loucura, o sistema de prisões, o nascimento da medicina moderna, das ciências humanas, o sujeito na Grécia Antiga... Interessava-lhe, acima de tudo, o sujeito, a sua verdade e suas relações com o saber e o poder e, finalmente, com as práticas de si.

Para Foucault, os saberes têm sua origem nas relações de poder. Não haveria, assim, um saber sem o poder. E a psicanálise estaria aí incluída. Se a literatura é um produto das relações subjetivas, entendemos que também está associada a uma relação de poder e de saber. A literatura é um meio para o sujeito ser no mundo, estilizar-se como escritor/criador, como leitor/decifrador. Afinal de contas, o leitor se cria como sujeito ao ler uma história.
Foucault, a filosofia e a literatura, obra lançada em 2000, já está em sua 3ª edição, o que enaltece o valor do livro para diferentes áreas do saber. Uma obra contemporânea sobre filosofia e literatura atingir mais de uma edição no nosso país é sinal de sucesso do autor e da editora. O professor, estudioso e filósofo Roberto Machado é autor de reconhecidos trabalhos sobre Deleuze, Foucault e Nietzsche. Aqui, ele se debruça sobre a aproximação entre a filosofia e a literatura na obra de Foucault, com destaque para a forma filosófica de crítica literária praticada por ele. Esta permitiu, por sua vez, elaborar a noção de literatura da transgressão depois de Nietzsche, Bataille e Blanchot. Nota-se o quanto a análise foucaultiana, dos saberes modernos como antropológicos, é inspirada na crítica de Nietzsche do niilismo da Modernidade.
Não é fácil sistematizar o estudo da obra de Foucault, se considerarmos suas contradições, suas rupturas. Comumente, estuda-se sua obra dividida em partes temporais e datada: textos arqueológicos da década de sessenta, voltados ao tema do saber; textos genealógicos da década de setenta, voltados ao tema do poder; e, por fim, os textos dos últimos anos da sua vida são os arqueo-genealógicos, voltados mais às questões das tecnologias de si do sujeito.
É ótimo, portanto, podermos contar com obras como a de Roberto Machado, que inaugura um caminho diferente para lermos Foucault. Aqui, vamos perceber que o trabalho de Foucault com a literatura seguiu os deslocamentos temáticos de suas pesquisas. O filósofo manteve a prática de relacionar a literatura à loucura, à morte, à problemática geral do homem na modernidade... A literatura seria, assim, um tipo específico de saber moderno, tendo na linguagem o âmago da criação literária. Vale dizer que o interesse de Foucault pela literatura pode ser visto como um ir além das análises arqueológicas – e genealógicas - e seus textos sobre literatura consideram as práticas de si como criação de estilo e, assim, não ficam presos a uma temática literária propriamente dita. 
                        Ninfa Parreiras




quinta-feira, 3 de março de 2011

Confusão de línguas na literatura: o que o adulto escreve, a criança lê


CONFUSÃO DE LÍNGUAS NA LITERATURA:
O QUE O ADULTO ESCREVE, A CRIANÇA
Editora RHJ

Ninfa Parreiras
As produções literárias do mercado editorial criadas para a infância têm o adulto como o autor, o produtor. Nessa expressão de arte produzida, escrita, ilustrada, editada por um adulto, dirigida às crianças, há mais de uma língua envolvida: a de quem escreve e a de quem lê. Daí, surge uma confusão de línguas: um discurso de um universo do adulto (o escritor, o ilustrador, o editor, o livreiro, o mediador de leitura) x um discurso de um universo da criança (a leitora, a que escuta ou lê o texto). Isso quer dizer que muitas das obras da literatura infantil privilegiam o foco do adulto nas narrativas, colocam em evidência a memória, o desejo, a subjetividade adulta. O que fazer com esta confusão de línguas? Que literatura é esta oferecida às crianças e aos jovens? Seus sonhos, suas fantasias estão presentes?
Como distinguir os livros que se aproximam do universo infantil? Com seus textos e imagens que propiciam variadas formas de interpretação, as obras literárias despertam o prazer das crianças pela leitura. É com a proposta de oferecer alternativas ao educador no trabalho com a literatura infantil e juvenil que se apresenta esta obra.
Ao analisar a utilização de livros na educação de bebês e crianças, retomar a história da literatura infantil e juvenil brasileira e indicar caminhos para o professor lidar em sala de aula com as ilustrações e o projeto gráfico dos livros, oferecemos subsídios para a reflexão do papel fundamental da literatura infantil e juvenil.
            Há a leitura e a análise de obras de ficção e de Poesia, bem como de referência, para a sua formação, professor. Preparamos um capítulo especialmente sobre a Poesia para crianças.
            Há reflexões sobre temas que têm sido abordados em cursos, em seminários, em feiras de livros, em encontros nas escolas. Alguns temas foram apropriados para o estudo pela educação escolar recentemente, como a literatura de autoria indígena; a diversidade na literatura; a presença da África na literatura e na história. Outros temas são explorados pelas escolas, como as obras clássicas, a Poesia e os contos de fadas. Trouxemos a memória como um tema a ser valorizado, tão fundamental no processo de identidade da criança. Ainda discutimos o exílio e o abandono, valores universais da literatura infantil, retomados nas produções literárias contemporâneas.
            Há um capítulo especial para o professor de Educação Infantil, que lida com crianças ainda não alfabetizadas e precisa tomar contato com o universo literário a elas dirigido. Muitas vezes, ele não sabe que tipo de obra levar aos seus alunos que ainda não lêem as palavras.    
No último capítulo, há considerações sobre as dificuldades do professor em avaliar o desenvolvimento de cada aluno e do grupo de alunos.
            Ao final, há uma bibliografia de obras comentadas e citadas e uma bibliografia sugerida para leituras futuras, assim como sites e blogs sobre leitura e literatura infantil e de alguns escritores e ilustradores. Há também uma lista de sites de publicações eletrônicas e de instituições que lidam com a leitura e a literatura.
            E, agora, aproprie-se desta obra que poderá contribuir para a sua formação e atualização em seu trabalho. A literatura abre múltiplos caminhos para que você mesmo os descubra.

- Obra selecionada pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil - FNLIJ, para o Catálogo da Feira de Bolonha 2010
- Obra selecionada pelo MEC para o Programa Nacional Biblioteca da Escola - PNBE do Professor 2010
- Obra selecionada pelo Programa Mais Cultura do Ministério da Cultura - MinC 2010