Foulcault, a filosofia e a literatura
Roberto Machado
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005
187 p.
Foucault, em sua obra, tem sido foco de diferentes estudos nas áreas das humanidades: filosofia, psicanálise, literatura, lingüística, psicologia, pedagogia... E olha que ele nos deixou escritos em forma de livros, entrevistas, debates, depoimentos, palestras, aulas. O fato de ser muito estudado e pesquisado não simplifica a complexidade da produção deste pensador francês que se debruçou sobre a loucura, o sistema de prisões, o nascimento da medicina moderna, das ciências humanas, o sujeito na Grécia Antiga... Interessava-lhe, acima de tudo, o sujeito, a sua verdade e suas relações com o saber e o poder e, finalmente, com as práticas de si.
Para Foucault, os saberes têm sua origem nas relações de poder. Não haveria, assim, um saber sem o poder. E a psicanálise estaria aí incluída. Se a literatura é um produto das relações subjetivas, entendemos que também está associada a uma relação de poder e de saber. A literatura é um meio para o sujeito ser no mundo, estilizar-se como escritor/criador, como leitor/decifrador. Afinal de contas, o leitor se cria como sujeito ao ler uma história.
Foucault, a filosofia e a literatura, obra lançada em 2000, já está em sua 3ª edição, o que enaltece o valor do livro para diferentes áreas do saber. Uma obra contemporânea sobre filosofia e literatura atingir mais de uma edição no nosso país é sinal de sucesso do autor e da editora. O professor, estudioso e filósofo Roberto Machado é autor de reconhecidos trabalhos sobre Deleuze, Foucault e Nietzsche. Aqui, ele se debruça sobre a aproximação entre a filosofia e a literatura na obra de Foucault, com destaque para a forma filosófica de crítica literária praticada por ele. Esta permitiu, por sua vez, elaborar a noção de literatura da transgressão depois de Nietzsche, Bataille e Blanchot. Nota-se o quanto a análise foucaultiana, dos saberes modernos como antropológicos, é inspirada na crítica de Nietzsche do niilismo da Modernidade.
Não é fácil sistematizar o estudo da obra de Foucault, se considerarmos suas contradições, suas rupturas. Comumente, estuda-se sua obra dividida em partes temporais e datada: textos arqueológicos da década de sessenta, voltados ao tema do saber; textos genealógicos da década de setenta, voltados ao tema do poder; e, por fim, os textos dos últimos anos da sua vida são os arqueo-genealógicos, voltados mais às questões das tecnologias de si do sujeito.
É ótimo, portanto, podermos contar com obras como a de Roberto Machado, que inaugura um caminho diferente para lermos Foucault. Aqui, vamos perceber que o trabalho de Foucault com a literatura seguiu os deslocamentos temáticos de suas pesquisas. O filósofo manteve a prática de relacionar a literatura à loucura, à morte, à problemática geral do homem na modernidade... A literatura seria, assim, um tipo específico de saber moderno, tendo na linguagem o âmago da criação literária. Vale dizer que o interesse de Foucault pela literatura pode ser visto como um ir além das análises arqueológicas – e genealógicas - e seus textos sobre literatura consideram as práticas de si como criação de estilo e, assim, não ficam presos a uma temática literária propriamente dita.