sexta-feira, maio 14, 2010

Fora das previsões

O que a Eva não previu foi a notícia de que a vida do meu pai está a prazo. Como a de todos nós, afinal, mas a dele mais do que a nossa.
Também não previu que se me abalassem os alicerces a este ponto; de não conseguir chorar, mas estar desfeita por dentro. De fazer continuamente cenários de como vai ser o futuro sem ele, de como vai reagir a minha filha sem o seu avô especial.
E esta revolta que sinto pelo azar de toda a situação, pela injustiça de sujeitar alguém que já venceu um tumor maligno, a ter de lutar contra outro, igualmente mauzinho; mas lutar poucochinho, como se a idade já não valesse a pena, como se já lhe estivessem a faltar as forças, como se tivesse atingido os seus limites...
Não seria tudo isto "against all odds"?
E a sensação de impotência por não poder fazer nada a não ser aguardar pelas sessões de radioterapia, porque ele se recusa (??) a fazer cirurgia.
E a raivazinha interior porque alguém lhe deu tamanho desgosto há três anos, sem ter esse direito.
E sei lá mais o quê.

terça-feira, maio 04, 2010

As conclusões da Eva

Que tive uma perda emocional grave recentemente.
Que tenho o dom da medionidade.
Que bloqueio as minhas emoções.
Que devo contemporizar na relação com a minha mãe, que também não teve uma vida fácil.
Que vou ser promovida, sujeitando-me a invejas.
Que me arrisco a tornar-me arrogante por ter razão e não ser humilde.
Que o meu filho é especial: uma criança Indigo, condição muitas vezes confundida com hiperactividade, mas que é uma hipersensibilidade destinada a cumprir uma missão.
Que um dos meus filhos vai mudar de escola mas tudo vai correr bem.
Que receberei a visita inesperada de alguém de um passado distante.
Que o meu marido se está a ir embora, mas o casamento vai-se manter; ou seja, há uma ausência emocional da parte dele.
Que a minha "pedra no sapato" ainda ronda.
Quando o discurso acabou, senti-me dividida entre o que esperava e o que não queria ouvir.