O que a Eva não previu foi a notícia de que a vida do meu pai está a prazo. Como a de todos nós, afinal, mas a dele mais do que a nossa.
Também não previu que se me abalassem os alicerces a este ponto; de não conseguir chorar, mas estar desfeita por dentro. De fazer continuamente cenários de como vai ser o futuro sem ele, de como vai reagir a minha filha sem o seu avô especial.
E esta revolta que sinto pelo azar de toda a situação, pela injustiça de sujeitar alguém que já venceu um tumor maligno, a ter de lutar contra outro, igualmente mauzinho; mas lutar poucochinho, como se a idade já não valesse a pena, como se já lhe estivessem a faltar as forças, como se tivesse atingido os seus limites...
Não seria tudo isto "against all odds"?
E a sensação de impotência por não poder fazer nada a não ser aguardar pelas sessões de radioterapia, porque ele se recusa (??) a fazer cirurgia.
E a raivazinha interior porque alguém lhe deu tamanho desgosto há três anos, sem ter esse direito.
E sei lá mais o quê.