TEIAS
Atiro palavras de fogo
ao mar espelhado da indiferença.
De resvés, como criança que brinca
As palavras quentes, no seu voo rasante,
tocam as águas calmas por três vezes,
lançando aflitivos gritos de socorro,
mas acabam por se afogar e afundar
no imenso oceano da surdez seletiva.
O mar fecha-se sobre elas e continua chão.
Ontem, ao visitar o sótão do esquecimento
levantou-se, de forma impiedosa, um vento forte
que fez voar, em torvelinho, estratos de poeira antiga.
Assobiou pelas frestas da minha confiança, como se me vaiasse,
e bamboleou sobre mim velhos paranhos, na vã tentativa de me aprisionar
para ser devorado pelas aranhas do tempo.
Desci apressadamente as escadas da angústia,
procurei verde, sol e ar puro, e encontrei paz.