Production
doi: XX.XXXX/XXXXX-XXXXXXXXXXXXXXXXX
Avaliação cruzada das distribuidoras
de energia elétrica
Sônia Maria de Rezendea, José Francisco Moreira Pessanhab*, Roberta Montello Amaralc
[email protected], UERJ, Brasil
*
[email protected], UERJ, Brasil
c
[email protected], UCAM, Brasil
b
Resumo
No terceiro ciclo de revisão tarifária, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) adotou uma metodologia baseada
na Análise Envoltória de Dados (DEA) para a definição dos níveis eficientes dos custos operacionais das distribuidoras.
Neste trabalho são apresentadas propostas que aprimoram a metodologia da Aneel. Em particular, propõe-se a
segmentação do conjunto de distribuidoras por técnicas de análise de agrupamentos, com a finalidade de estabelecer
comparações justas entre as empresas. Adicionalmente, visando obter índices de eficiência que levem em conta as
avaliações realizadas pelos pares de cada empresa, propõe-se o uso da avaliação cruzada na definição dos níveis
eficientes dos custos operacionais.
Palavras-chave
Energia elétrica. Análise Envoltória de Dados. Avaliação cruzada. Análise de agrupamentos.
1. Introdução
No Brasil, as tarifas de energia elétrica são revisadas
periodicamente e reajustadas anualmente de acordo
com o regime price cap (Siciliano, 2005), no qual o
agente regulador fixa um valor máximo (teto) para a
tarifa, válido por quatro ou cinco anos, dependendo do
contrato de concessão. Ao longo desse período, o valor
teto é reajustado anualmente por um índice de preços
(IGP-M), descontado de um fator X predefinido na
data da revisão tarifária, cuja finalidade é compartilhar
os ganhos de produtividade com os consumidores.
Ao final do período, outra revisão tarifária é realizada
para reposicionar o preço teto e o fator X para os
próximos quatro ou cinco anos, e assim as revisões
periódicas são realizadas sucessivamente.
Na distribuição de energia elétrica, os ganhos de
produtividade decorrem principalmente do aumento do
consumo das unidades consumidoras existentes e da
ligação de novas unidades consumidoras. Em função
da economia de escala, o crescimento do mercado
é atendido com custos incrementais decrescentes,
resultando em ganhos de produtividade para a
distribuidora que não são decorrentes de uma gestão
mais eficiente, logo esses ganhos de produtividade
podem ser repassados aos consumidores a fim de
promover a modicidade tarifária. Se o fator X é nulo,
as empresas eficientes apropriam-se integralmente dos
ganhos de produtividade, em caso contrário uma parte
dos ganhos é compartilhada com os consumidores ao
longo do ciclo de revisão tarifária. O cálculo do fator
X depende dos níveis eficientes de custos operacionais
definidos no benchmark regulatório (Agência Nacional
de Energia Elétrica, 2011).
No primeiro e segundo ciclos de revisão tarifária,
iniciados em 2003 e 2007, respectivamente, os
benchmarks regulatórios foram definidos por meio de
uma empresa de referência, uma distribuidora virtual
na qual se simula a prestação do serviço de distribuição
de energia elétrica nas mesmas condições em que
uma distribuidora real opera. A empresa de referência
utiliza os recursos de forma eficiente e estabelece
um benchmark para os custos, a ser perseguido pela
empresa real, conforme um mecanismo de yardstick
competition (Shleifer, 1985).
A metodologia da empresa de referência (Agência
Nacional de Energia Elétrica, 2008) segue uma
abordagem tipo bottom-up que se inicia com a
*UERJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
Recebido 22/12/2012; Aceito 31/05/2013
Rezende, S. M. et al.
Avaliação cruzada das distribuidoras de energia elétrica. Production, v. xx, n. x, p. xx-xx, xxx/xxx, xxxx
identificação das atividades e processos executados
nas distribuidoras, passa pela quantificação dos custos
médios de cada atividade e processo e se encerra com
uma estimativa do custo operacional global, que é
reconhecido pela agência reguladora.
A definição da empresa de referência segue uma
metodologia complexa e com potencial de envolver o
regulador na microgestão da distribuidora. Por essa
razão, no terceiro ciclo de revisão tarifária periódica
(3CRTP), iniciado em 2011 e com término previsto para
2014, o agente regulador adotou uma metodologia
top-down, cujo foco reside no nível global dos custos
operacionais a ser reconhecido. Na nova metodologia,
o benchmark regulatório é definido por uma fronteira
de eficiência identificada por Análise Envoltória de
Dados (DEA – Data Envelopment Analysis), uma
técnica não paramétrica, baseada em programação
linear (Coelli et al., 2005; Cooper et al., 2000).
Destaca-se que a DEA é um dos principais métodos
utilizados por agências reguladoras em todo o mundo
(Coelli et al., 2003; Haney & Pollitt, 2009; Jasmab
& Pollitt, 2000; Plagnet, 2006).
Apesar de algumas limitações e críticas apontadas
por Stone (2002), Smith & Street (2005), Shuttleworth
(2005) e Biesebroeck (2007), deve-se entender que a
DEA é um método de apoio à decisão, logo ela não
tem a pretensão de substituir o agente regulador e
nem de decidir por ele. Contudo, a DEA é um método
capaz de agregar conhecimento ao agente regulador,
cuja atividade consiste em tomar decisões em um
ambiente complexo e com remarcada assimetria de
informação. Adicionalmente, conforme mostram
Bogetoft & Nielsen (2003), a DEA fornece uma
estrutura ideal para realizar a yardstick competition.
Na metodologia adotada no 3CRTP, inicialmente
as empresas são classificadas em apenas dois grupos,
definidos em função do tamanho do mercado atendido
(TWh). Na sequência, com o propósito de obter
medidas dos níveis eficientes de custos operacionais das
distribuidoras, cada grupo é analisado separadamente,
por meio de um modelo DEA orientado ao insumo
e com rendimentos não decrescentes de escala.
Embora a nova metodologia represente um avanço
para a atividade regulatória, alguns pontos devem
ser aprimorados. Assim, o objetivo deste trabalho
é propor contribuições para o aprimoramento da
metodologia adotada pela Aneel na definição dos
custos operacionais eficientes.
Observa-se que a segmentação baseada apenas
no tamanho do mercado atendido (TWh) não é
suficiente para formar grupos de distribuidoras
com características similares, um requisito para a
regulação por comparação. Para contornar essa
deficiência propõe-se a adoção do método de Ward
ou qualquer outro método multivariado de análise
de agrupamentos (Johnson & Wichern, 1998) na
segmentação das distribuidoras. A classificação das
empresas por técnicas multivariadas visa à obtenção
de agrupamentos mais consistentes, favorecendo
a realização de comparações mais justas entre as
distribuidoras.
Adicionalmente, nos resultados gerados pelo
modelo DEA especificado pela Aneel observam-se
esquemas de pesos com ponderações nulas em alguns
produtos. A presença de pesos nulos pode sugerir
que os índices de eficiência apresentados pelo agente
regulador são decorrentes de ponderações irrealistas
e que, em alguns casos, eles estão superestimados.
Contudo, nenhuma afirmação pode ser feita nesse
sentido, em função da multiplicidade dos pesos ótimos.
Para contornar essa situação sem a necessidade de
incluir restrições adicionais aos pesos, obter índices de
eficiência que considerem avaliações realizadas pelos
pares (peer evaluation) e melhorem a discriminação
entre as distribuidoras, propõe-se a utilização do
modelo DEA de avaliação cruzada (Estellita Lins &
Angulo-Meza, 2002; Lim, 2010; Ruiz & Sirvent, 2012).
O artigo está organizado em cinco seções. Na
seção 2 são apresentados os modelos DEA clássicos
e de avaliação cruzada. Na seção 3 é descrito o
modelo DEA especificado pela Aneel. As propostas
de aprimoramentos, acompanhadas dos resultados
obtidos, são descritas na seção 4. Por fim, na seção 5
são apresentadas as principais conclusões do trabalho.
2. Análise Envoltória de Dados
A eficiência de uma organização (Decisiom Making
Unit – DMU) que transforma uma quantidade X de
um tipo de insumo em uma quantidade Y de um
tipo de produto pode ser avaliada pelo quociente
de produtividade total, definido pela razão Y/X. A
extensão para uma DMU que utilize s tipos de insumos
X = (x1, ..., xs) na produção de m tipos de produtos
Y = (y1, ..., ym) requer a ponderação dos elementos
de ambos os vetores, de tal modo que a eficiência da
DMU seja definida pelo seguinte quociente:
u1 y1 + u2 y2 + ... + um ym U ⋅ Y
=
v1 x1 + v2 x2 + ... + vs xs V ⋅ X
(1)
onde os vetores V = (v1, ..., vs) e U = (u1, ..., um)
correspondem ao peso dos inputs e dos outputs,
respectivamente.
Para obter os vetores U e V e determinar a
eficiência θ de uma DMU j0 em um conjunto de N
DMUs, Charnes et al. (1978) formularam o problema
de programação linear (PPL) em (2) na Tabela 1,
conhecido como modelo DEA CRS/M/I (retornos
Rezende, S. M. et al.
Avaliação cruzada das distribuidoras de energia elétrica. Production, v. xx, n. x, p. xx-xx, xxx/xxx, xxxx
Tabela 1. Modelos DEA clássicos orientados ao insumo.
Modelo DEA CRS/M/I
Modelo DEA VRS/M/I
m
m
θ = Max ∑ ui yi, j 0
θ = Max ∑ ui yi, j 0 + u0
s.a.
s.a.
u, v
u, v
i =1
s
s
∑ vi xi, j 0 = 1
(2)
i =1
m
s
i =1
i =1
∑ ui yij − ∑ vi xij ≤ 0
i =1
∑ vi xi, j 0 = 1
m
∀j = 1,..., j 0,..., N
s
∑ ui yij − ∑ vi xij + u0 ≤ 0
i =1
ui ≥ 0 ∀i = 1,m
vi ≥ 0 ∀i = 1,s
vi ≥ 0 ∀i = 1,s
2.1. Avaliação cruzada
Os modelos DEA clássicos atribuem peso aos
insumos e produtos com objetivo de maximizar o
índice de eficiência da DMU avaliada, sem violar
determinadas restrições. Assim, o modelo atribui
ponderações maiores aos pontos fortes da DMU
avaliada, ou seja, aos outputs com maiores níveis
de produção e aos inputs com menores níveis de
consumo, enquanto aos inputs com elevados níveis
de consumo e outputs com reduzidos níveis de
produção são atribuídos pesos menores ou nulos.
Consequentemente, o peso de cada variável insumo
ou produto varia amplamente entre as DMUs avaliadas
(Angulo-Meza & Cunha, 2006). Tal desequilíbrio
pode conduzir a esquemas de pesos inconsistentes
com o conhecimento a priori acerca da importância
relativa das variáveis insumos e produtos (Alcantara
& Sant’Anna, 2002; Ramón et al., 2010; Ruiz &
Sirvent, 2012).
Uma forma de evitar pesos nulos e esquemas de
pesos irrealistas consiste em incluir restrições aos pesos
no modelo DEA. Cooper et al. (2000), Estellita Lins
& Angulo-Meza (2002) e Ferreira & Gomes (2009)
apresentam diferentes abordagens para a introdução
de restrições aos pesos. Entretanto, a inclusão de
∀j = 1,..., j 0,..., N
i =1
ui ≥ 0 ∀i = 1,m
constante de escala, na versão dos multiplicadores e
orientado ao insumo).
Seja (θ*, u*, v*) a solução ótima de (2), a DMU j0 é
considerada eficiente se e somente se θ* = 1 e todos
os elementos de u* e v* são positivos. Caso contrário,
quando a θ* < 1 ou quando θ* = 1 e há elementos
nulos em u* e v*, a DMU é considerada ineficiente.
A versão tipo multiplicador para o caso com
rendimentos variáveis de escala (VRS) (Banker et al.
1984) é indicada no PPL (3) na Tabela 1, na qual a
variável u0 é irrestrita e indica diferentes regimes de
rendimento de escala: decrescente (u0 < 0), constante
(u0 = 0) ou crescente (u0 > 0).
(3)
i =1
restrições aos pesos envolve alguma arbitrariedade e
depende de informação a priori da importância relativa
de cada variável (Angulo-Meza & Cunha, 2006), uma
informação nem sempre disponível.
Uma alternativa aos esquemas de restrições aos
pesos consiste em determinar a eficiência por meio
da avaliação cruzada ou cross evaluation (Estellita
Lins & Angulo-Meza, 2002; Lim, 2010; Ramón et al.
2010) proposta por Sexton et al. (1986). Na avaliação
cruzada a eficiência de cada DMU é avaliada segundo
os esquemas de pesos ótimos das demais DMUs,
ou seja, a eficiência de uma DMU é avaliada sob
o ponto de vista das outras DMUs (Estellita Lins &
Angulo-Meza, 2002). Portanto, a avaliação cruzada
baseia-se no princípio da avaliação pelos pares
(peer appraisal). Por outro lado, o modelo DEA CRS
em (2) tem natureza autoavaliativa (self-appraisal),
pois o esquema de pesos é determinado de forma
a maximizar a eficiência da própria DMU avaliada.
A eficiência cruzada de uma DMU s calculada com
base no esquema de pesos ótimos de uma DMU k é
definida pelo seguinte quociente:
outputs
Eks =
∑
i
inputs
uik yis
∑
v jk x js
(4)
j
onde ujk e vjk são os pesos ótimos da DMU k que
ponderam, respectivamente, os produtos yjs e os
insumos xjs da DMU s.
Em um conjunto formado por N DMUs, as
eficiências calculadas pelo modelo CRS e as eficiências
cruzadas podem ser organizadas na Matriz de
Eficiências Cruzadas (Tabela 2).
Na Tabela 2, os elementos da diagonal principal
correspondem às eficiências calculadas pelo modelo
CRS (self-appraisal efficiency), na linha k são dispostas
as eficiências cruzadas obtidas com base nos pesos
ótimos da DMU k e na coluna k são dispostas as
eficiências cruzadas da DMU k, determinadas pelos
esquemas de pesos ótimos das demais DMUs.
Rezende, S. M. et al.
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Tabela 2. Matriz de eficiências cruzadas.
DMU
1
2
3
...
K
...
N
1
E11
E21
...
Ek1
...
EN1
E12
E22
...
Ek2
...
EN2
E13
E23
...
Ek3
...
EN3
...
...
...
...
...
...
E1k
E2k
...
Ekk
...
ENk
...
...
...
...
...
...
E1N
E2N
...
EkN
...
ENN
2
...
k
...
N
No modelo DEA CRS podem existir múltiplas
soluções ótimas para os esquemas de pesos associados
com o mesmo nível de eficiência (Cooper et al., 2000),
logo as eficiências cruzadas calculadas com pesos
obtidos pelo DEA CRS seriam geradas arbitrariamente
(Liang et al., 2008). Para contornar esse inconveniente,
alguns critérios secundários adicionais têm sido
propostos para a seleção do conjunto de pesos entre
as múltiplas soluções ótimas (Ramón et al., 2010;
Wang & Chin, 2010), dentre os quais destacam-se as
formulações agressivas e benevolentes propostas por
Doyle & Green (1994). Na formulação benevolente
busca-se um esquema de pesos que mantenha a
eficiência resultante da autoavaliação da DMU avaliada
e maximize a eficiência cruzada das demais DMUs.
Já na formulação agressiva busca-se um esquema
de pesos que também mantenha a self-efficiency
da DMU avaliada, mas que minimize a eficiência
das outras DMUs.
Para acentuar a discriminação entre a eficiência das
DMUs recomenda-se adotar a formulação agressiva,
conforme Alcantara & Sant’Anna (2002). A mesma
formulação foi utilizada por Chen (2002) na avaliação
da eficiência do setor de distribuição de Taiwan. Na
formulação agressiva, o índice de eficiência cruzada
da DMU s, segundo o ponto de vista da DMU k (Eks),
é calculado pela Equação 4 com base nos pesos u e
v determinados pelo seguinte PPL (Estellita Lins &
Angulo-Meza, 2002):
outputs
∑
Min
u, v
uik ∑ yis −
s≠k
i
inputs
∑
j
v jk ∑ x js
s≠k
(5)
s.a.
inputs
∑
v jk x jk = 1
(5.1)
j
outputs
∑
inputs
uik yik − E kk
i
v jk x jk = 0
(5.2)
v jk x js ≤ 0 , ∀s ≠ k
(5.3)
j
outputs
∑
∑
inputs
uik yis −
i
uik , v jk ≥ 0
∑
j
(5.4)
No PPL (5) é considerado o índice de eficiência
da DMU k (Ekk) calculado pelo modelo DEA CRS. A
restrição (5.1) faz parte da linearização do modelo
CRS, a restrição (5.2) é a linearização da Equação 4
com s igual a k, as restrições em (5.3) garantem que
todas as eficiências são menores ou iguais a 1 e as
restrições em (5.4) garantem pesos não negativos
(Angulo-Meza & Cunha, 2006).
Na avaliação cruzada, a eficiência de uma DMU k
pode ser calculada como a média de todos os valores
na coluna k da matriz de eficiências cruzadas, mas
sem levar em conta a self-efficiency Ekk, ou seja, a
eficiência é a média das eficiências cruzadas, conforme
indicado em (6). Tal fato contribui para incrementar
a discriminação entre as DMUs eficientes.
Adicionalmente, Doyle & Green (1994) propõem
o uso de um índice Mk (7) para identificar DMUs com
esquemas de peso irrealistas determinados por um
modelo DEA clássico. O índice Mk é calculado para
cada DMU avaliada e mede o desvio relativo entre a
eficiência segundo a autoavaliação (Ekk) e a eficiência
segundo o ponto de vista das outras DMUs (ek).
ek =
1
∑E
N − 1 i ≠ k ik
(6)
Ekk − ek
ek
(7)
Mk =
Um valor elevado para Mk indica um desvio
acentuado entre as duas medidas de eficiência e sugere
que esquemas de peso resultantes da autoavaliação
são irreais. As DMUs com elevados valores no índice
Mk são denominadas Mavericks. Uma DMU com
eficiência igual a 1 na autoavaliação e com elevado
índice Mk é um falso positivo.
3. Modelo DEA especificado pela Aneel
O modelo DEA especificado pela Aneel (Agência
Nacional de Energia Elétrica, 2011) para a definição
dos custos operacionais eficientes segue a modelagem
denominada DEA em dois estágios, proposta por Simar
& Wilson (2007). Dado um conjunto de concessionárias
de distribuição, o primeiro estágio consiste em
aplicar um modelo DEA para realizar uma análise
comparativa do nível de custos operacionais das
empresas. O resultado do primeiro estágio é um índice
de eficiência θ (0 < θ ≤ 1) para cada empresa. Se θ
assume um valor unitário (θ = 1), então a empresa
correspondente está localizada na fronteira de custos
eficientes, caso contrário, tem-se que 0 < θ < 1 e
a distribuidora opera com custos acima dos valores
definidos pela fronteira, portanto, é ineficiente e o
potencial de redução de custos corresponde a uma
parcela da ordem de (1 - θ) × 100% dos custos
operacionais.
Rezende, S. M. et al.
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Em sua versão inicial, o modelo DEA proposto
pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica,
2010) para o primeiro estágio considerava retornos
não decrescentes de escala, com orientação ao
insumo, e continha apenas três variáveis: um insumo
(custo operacional) e dois drivers de custos tomados
como produtos (o número de consumidores e a
extensão da rede de distribuição).
No segundo estágio é estimado um modelo de
regressão Tobit (Pindyck & Rubinfeld, 1991) com
o objetivo de “corrigir” os índices de eficiência (θ)
estimados no primeiro estágio, de forma que esses
passem a considerar também os efeitos de variáveis
ambientais, ou seja, variáveis não gerenciáveis pelas
distribuidoras, mas com potencial para afetar os
custos (Coelli et al., 2003). O modelo Tobit é um
modelo de regressão utilizado em situações em que a
variável dependente é truncada. Nesse caso a variável
dependente é o índice de eficiência (0 < θ ≤ 1) e
as variáveis explicativas são as variáveis ambientais
tais como o salário mediano de ocupações típicas
de uma distribuidora de energia elétrica, o índice
de complexidade (um indicador da dificuldade de
combater as perdas não técnicas na área de concessão
da distribuidora), o índice de precipitação, o tamanho
da área de concessão, o número de consumidores
por transformador e o número de consumidores por
área de concessão.
Apesar de a modelagem adotada pela Aneel ser
sofisticada e representar um avanço em relação ao
modelo da empresa de referência, a especificação dos
modelos foi alvo de várias críticas desde que eles foram
apresentados em 2010. Entre as críticas apresentadas
pelas distribuidoras e demais agentes interessados no
tema destacam-se o reduzido número de produtos
no modelo DEA de primeiro estágio – apenas dois.
Posteriormente, a Aneel passou a considerar três
produtos no modelo DEA: o número de consumidores,
a extensão da rede de distribuição e o volume (MWh)
de energia distribuída (Agência Nacional de Energia
Elétrica, 2011). Adicionalmente, a correção do índice
de eficiência no segundo estágio foi descartada,
em função dos resultados obtidos para algumas
distribuidoras, nos quais as variáveis ambientais
passaram a ser mais importantes que os drivers de
custo (Agência Nacional de Energia Elétrica, 2011).
4. Contribuições para a metodologia
adotada pela Aneel
A seguir são apresentadas duas contribuições
que visam o aprimoramento da metodologia adotada
pela Aneel na definição dos níveis eficientes dos
custos operacionais das distribuidoras de energia
elétrica.
4.1. Classificação das concessionárias de
distribuição
No sistema elétrico brasileiro há cerca de 60
concessionárias de distribuição. Embora todas operem
o mesmo tipo de negócio e, portanto, estejam
sujeitas às mesmas regras, as distribuidoras são
bastante heterogêneas em muitos aspectos. Em
função da extensão do território brasileiro, as áreas
de concessão das distribuidoras apresentam grande
diversidade nas características geográficas, sociais e
econômicas. A título de exemplo, na Região Norte, as
distribuidoras abrangem extensas áreas de concessão,
atendem mercados geograficamente esparsos, com
uma significativa presença de localidades atendidas
por sistemas isolados, onde uma pequena parte deles
concentra grande parte da demanda, como é o caso
da cidade de Manaus. Por outro lado, no estado de
São Paulo as áreas de concessão são menores, sendo
que em algumas são transacionados grandes volumes
de energia elétrica.
A heterogeneidade entre as distribuidoras não se
restringe ao tamanho da área de concessão mas também
é percebida, por exemplo, no volume de energia
transacionado, na quantidade e na concentração
espacial das unidades consumidoras, na estratificação
dos consumidores por classe de consumo (residencial,
comercial, industrial, rural) ou por nível de tensão
(alta, média e baixa) e no consumo por consumidor.
Destaca-se que a diversidade nas características dos
mercados atendidos pode ser observada nas tarifas e
nos aspectos tributários, como as alíquotas de ICMS
definidas pelos governos estaduais.
As considerações acima mostram o desafio
enfrentado pelo regulador quando define o benchmark
regulatório com base na análise comparativa dos custos
operacionais, pois, além da assimetria de informação,
ele ainda se defronta com a heterogeneidade das
empresas.
Para estabelecer comparações e benchmarks mais
realistas, o regulador classifica as distribuidoras em
grupos, de tal forma que as distribuidoras em um
mesmo grupo apresentem certo grau de similaridade
e, portanto, sejam minimamente comparáveis. Essa
ideia também está presente na metodologia para
definição dos níveis eficientes dos custos operacionais
(Agência Nacional de Energia Elétrica, 2011), na qual
o regulador classifica as empresas em dois grupos,
com base no tamanho do mercado atendido: grupo A
(mercado maior que 1 TWh) e grupo B (mercado menor
que 1 TWh). Contudo, o problema com essa forma
de classificar é que apenas o tamanho do mercado
atendido é considerado, enquanto outros aspectos
relevantes como dispersão das unidades consumidoras,
a estratificação por classe de consumo e a intensidade
Rezende, S. M. et al.
Avaliação cruzada das distribuidoras de energia elétrica. Production, v. xx, n. x, p. xx-xx, xxx/xxx, xxxx
energética são ignorados. O resultado é que os grupos
de empresas não apresentam necessariamente um
grau de homogeneidade interna e, portanto, as
comparações entre as empresas de um mesmo grupo
podem não ser realistas.
Então, uma proposta de aprimoramento da
metodologia consiste na classificação das distribuidoras
por meio de técnicas estatísticas multivariadas para
análise de agrupamentos (Johnson & Wichern,
1998), nas quais as empresas sejam representadas por
um conjunto de atributos que caracterizam vários
aspectos dos mercados atendidos. Neste trabalho, as
distribuidoras foram caracterizadas por oito atributos
referentes ao tamanho, concentração e composição
do mercado, conforme apresentado na Tabela 3.
As variáveis na Tabela 3 têm escalas e unidades
distintas. Para evitar que a análise de agrupamentos
seja guiada exclusivamente pelo tamanho do
mercado e pela extensão da rede de distribuição, a
análise de agrupamentos foi precedida pela seguinte
transformação de variáveis, aplicada ao conjunto de
dados referente ao ano de 2009:
zij =
( )
( ( ))
( ( ))
( ( ))
log x − mínimo log x
ij
.j
máximo log x − mínimo log x
.j
.j
(8)
onde xij denota o valor da j-ésima variável na i-ésima
distribuidora e zij denota o valor transformado
corrrespondente (zij ∈ [0, 1]).
A classificação das distribuidoras foi realizada pelo
método de Ward (Johnson & Wichern, 1998) e contou
com o auxílio do software R (R Development Core
Team, 2011). A sequência de agregações ilustrada na
Tabela 3. Variáveis consideradas na análise de agrupamentos.
Dimensões
Variáveis
Composição do mercado
Participação do consumo na alta tensão no mercado total (%)
Participação do consumo na média tensão no mercado total (%)
Participação do consumo na baixa tensão no mercado total (%)
Concentração do mercado
Extensão da rede de distribuição (km)
Número de unidades consumidoras por quilômetro de rede de distribuição
Consumo por unidade consumidora (kWh/consumidor)
Tamanho do mercado
Número de unidades consumidoras
Montante de energia distribuída (MWh)
Figura 1. Dendrograma gerado pelo método de classificação hierárquica de Ward.
Rezende, S. M. et al.
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Tabela 4. Clusters de distribuidoras.
Cluster
Empresas
1
15 empresas
AES-Sul; Ampla; Bandeirante; Ceb; CEEE; Celesc; Cemig; Copel; CPFL-Paulista; CPFL Piratininga; Elektro;
Eletropaulo; Escelsa; Light; RGE
2
24 empresas
AmE; Caiuá; Ceal; Celg; Celpa; Celpe; Celtins; Cemar; Cemat; Cepisa; CLFSC; CNEE; Coelba; Coelce; Cosern; CSPE;
EBO; EDEVP ; EEB; EMG; Enersul; EPB; ESE; Sulgipe
3
20 empresas
Boa Vista; Cflo; Chesp; CJE; CLFM; Cocel; Cooperaliança; CPEE; Demei; DME-PC; EFLJC; EFLUL; Eletroacre;
Eletrocar; ELFSM; ENF; Hidropan; IEnergia; Mux-Energia; UHENPAL
Figura 1 sugere a formação dos três agrupamentos
indicados na Tabela 4.
No cluster 1 predominam as distribuidoras que
atendem as maiores economias industriais do Brasil,
localizadas nos estados das regiões Sul e Sudeste.
Em oposição ao cluster 1, o cluster 3 abrange as
concessionárias de menor porte, nas quais a alta
tensão corresponde a uma pequena parcela do mercado
total. Em geral, essas empresas atuam em pequenas
áreas de concessão e por essa razão operam redes
de distribuição de pequena extensão que atendem
mercados de tamanho reduzido mas espacialmente
concentrados. O cluster 2 abriga as principais empresas
nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste.
4.2. Modelo para definição do benchmark
regulatório
Os custos operacionais de uma distribuidora de
energia elétrica (OPEX – operational expenditures)
referem-se exclusivamente às despesas com pessoal,
material e serviços de terceiros. O benchmark
regulatório deve orientar cada distribuidora no
sentido de explorar o seu potencial de redução de
custos operacionais (PROPEX), definido como sendo a
diferença entre os seus custos operacionais correntes
e os níveis eficientes das despesas operacionais
(EFFOPEX) determinados pelo benchmark regulatório
(Thanassoulis, 2000):
PROPEX = OPEX – EFFOPEX ≥ 0
(9)
Rearranjando a Equação 9, obtém-se o seguinte
índice de eficiência:
θ=
EFFOPEX
PROPEX
= 1−
⇒ PROPEX = OPEX (1 − θ )
OPEX
OPEX
(10)
Se θ é igual a 1, a distribuidora é eficiente e o
potencial de redução de custos é nulo. Caso contrário
(θ < 1), o potencial de redução de custos é dado por
OPEX(1-θ).
O índice de eficiência θ pode ser calculado por
meio de um modelo DEA com orientação ao insumo
em que os custos operacionais constituem o único
input (Thanassoulis, 2000). O contrato de concessão
obriga as distribuidoras a prestarem o fornecimento
de energia elétrica a todos os consumidores em
sua área de concessão, observando a qualidade e
a confiabilidade do serviço. Esses requisitos são os
drivers das despesas das distribuidoras e as variáveis
relacionadas com esses requisitos são os outputs do
modelo DEA.
As despesas operacionais também são influenciadas
por fatores não gerenciáveis pela distribuidora, por
exemplo, a dispersão dos consumidores e características
geográficas da área de concessão. Para contemplar
esses aspectos, o tamanho da rede de distribuição
também pode ser incluído como mais uma variável
output (Zanini, 2004).
Os modelos DEA admitem que o conjunto de
produção seja convexo e a tecnologia seja monotônica,
i.e., um aumento na quantidade de algum input
não deve reduzir a quantidade dos outputs. Uma
correlação positiva entre inputs e outputs indica que a
propriedade de tecnologia monotônica está presente.
Na Tabela 5 são apresentadas matrizes de
correlações entre as variáveis: custo operacional (OPEX),
total de energia elétrica distribuída (Mercado MWh),
número de consumidores atendidos, extensão da rede
de distribuição em km (Rede), duração equivalente
das interrupções no fornecimento (DEC) e frequência
equivalente das interrupções no fornecimento (FEC)
para o conjunto de distribuidoras analisadas no
período 2003/2009. Os indicadores DEC e FEC
expressam a continuidade do fornecimento, um
aspecto da qualidade do serviço de distribuição de
energia elétrica. As matrizes de correlações foram
obtidas para diferentes conjuntos de empresas: o
grupo formado por todas as empresas no período
2003-2009 e grupos contendo apenas as empresas
classificadas em um mesmo cluster.
Em todas as situações ilustradas, as variáveis rede,
mercado e número de consumidores apresentaram
correlações positivas com os custos operacionais (OPEX)
e, portanto, essas variáveis satisfazem a propriedade
de tecnologia monotônica, qualificando-as como
outputs do modelo DEA. Apesar da forte correlação
positiva entre o número de consumidores e o mercado
(MWh), as duas variáveis são mantidas no modelo,
pois estão associadas com outputs de naturezas
distintas: o número de consumidores é uma proxy
Rezende, S. M. et al.
Avaliação cruzada das distribuidoras de energia elétrica. Production, v. xx, n. x, p. xx-xx, xxx/xxx, xxxx
da quantidade de serviço, enquanto o total de
energia fornecida é uma proxy do produto (Lo et al.,
2001). Por outro lado, os indicadores DEC e FEC são
fracamente correlacionados com o OPEX e os sinais
dessas correlações não são coerentes ao longo das
situações analisadas.
Ressalta-se que o DEC mensura a duração média
das interrupções e o FEC, a frequência de ocorrência
das interrupções, logo maiores níveis desses indicadores
refletem reduzidos níveis de qualidade do fornecimento
de energia elétrica. Esses dois indicadores são exemplos
de outputs indesejáveis, produtos que devem ser
minimizados. A consideração de outputs indesejáveis
requer algum tipo de transformação de variáveis por
uma função monótona decrescente, por exemplo,
a inversão ou translação (Tschaffon, 2011). Assim,
preferiu-se não incluir os indicadores DEC e FEC e
manter apenas três produtos: a extensão da rede
de distribuição, o mercado e o número de unidades
consumidoras. Nesse sentido, o modelo proposto é
semelhante ao utilizado pela Aneel no 3CRTP, pois
ambos possuem as mesmas variáveis input e output.
Apesar de a qualidade não estar presente no modelo
DEA, o fator X tem uma componente de qualidade,
cujo valor é determinado ex post na data da revisão
tarifária (Agência Nacional de Energia Elétrica, 2011).
No modelo especificado pela Aneel são
considerados retornos não decrescentes de escala,
contudo, em função da premissa de homogeneidade
dos agrupamentos de empresas, no modelo proposto
são admitidos retornos constantes de escala. Assim, a
eficiência será avaliada por um modelo DEA CRS/M/I.
Essa escolha também atende aos requisitos da avaliação
cruzada (Soares de Mello et al., 2013).
Da mesma forma que a Aneel, considerou-se
que cada distribuidora, em um determinado ano,
Tabela 5. Matrizes de correlações.
Todos
OPEX
Rede
Mercado
Nº
Consumidores
FEC
DEC
1,000
OPEX
OPEX
Rede
0,845
1,000
0,937
0,717
Rede
Mercado
Nº
Consumidores
FEC
DEC
1,000
OPEX
Mercado
Rede
0,769
1,000
1,000
Mercado
0,905
0,584
Nº
Consumidores
0,949
0,665
0,969
1,000
FEC
-0,272
-0,081
-0,515
-0,397
1,000
DEC
-0,168
0,037
-0,393
-0,268
0,866
1,000
OPEX
Rede
Mercado
Nº
Consumidores
FEC
DEC
Nº
Consumidores
0,942
0,810
0,946
1,000
FEC
-0,106
-0,052
-0,233
-0,166
1,000
DEC
0,038
0,107
-0,086
0,014
0,810
1,000
OPEX
Rede
Mercado
Nº
Consumidores
FEC
DEC
Cluster 2
Cluster 1
OPEX
1,000
Rede
0,921
1,000
Mercado
0,882
0,912
1,000
Nº
Consumidores
0,822
0,900
0,965
1,000
FEC
0,248
0,100
0,015
0,011
1,000
DEC
0,261
0,164
0,093
0,110
0,929
1,000
Cluster 3
1,000
OPEX
1,000
Rede
0,593
1,000
Mercado
0,764
0,561
1,000
Nº
Consumidores
0,794
0,791
0,782
FEC
0,359
0,259
0,002
0,206
1,000
DEC
0,070
0,218
-0,130
0,129
0,668
1,000
1,000
Tabela 6. Eficiência das concessionárias classificadas no cluster 1 (DEA CRS).
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
AES-Sul
Empresas
0,961
0,973
0,920
0,923
0,901
0,869
0,834
Média
0,911
Ampla
0,836
0,780
0,720
0,660
0,662
0,751
0,769
0,740
Bandeirante
0,697
0,653
0,675
0,611
0,675
0,691
0,737
0,677
Ceb
0,323
0,338
0,435
0,415
0,448
0,550
0,528
0,434
Ceee
0,604
0,605
0,602
0,627
0,607
0,628
0,539
0,602
Celesc
0,499
0,475
0,503
0,450
0,456
0,485
0,519
0,484
Cemig
0,638
0,616
0,587
0,551
0,533
0,579
0,597
0,586
Copel
0,698
0,648
0,609
0,598
0,588
0,588
0,521
0,607
CPFL Paulista
0,908
0,964
0,926
0,978
0,946
1,000
0,999
0,960
CPFL Piratininga
0,811
0,914
0,964
0,984
0,876
1,000
1,000
0,936
Elektro
0,725
0,752
0,695
0,658
0,684
0,729
0,742
0,712
Eletropaulo
0,547
0,692
0,691
0,664
0,704
0,792
0,680
0,681
Escelsa
0,803
0,815
0,765
0,642
0,631
0,736
0,710
0,729
Light
0,721
0,782
0,816
0,753
0,702
0,826
0,927
0,790
RGE
1,000
0,814
0,914
0,892
0,969
0,988
0,994
0,939
Média
0,718
0,721
0,721
0,694
0,692
0,747
0,740
0,719
Rezende, S. M. et al.
Avaliação cruzada das distribuidoras de energia elétrica. Production, v. xx, n. x, p. xx-xx, xxx/xxx, xxxx
Tabela 7. Eficiência das concessionárias do cluster 1 (avaliação cruzada).
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
Média
AES-Sul
Empresas
0,912
0,916
0,881
0,883
0,861
0,821
0,800
0,868
Ampla
0,717
0,670
0,621
0,574
0,574
0,647
0,664
0,638
Bandeirante
0,667
0,638
0,659
0,598
0,661
0,677
0,709
0,658
Ceb
0,291
0,304
0,393
0,376
0,408
0,504
0,485
0,394
Ceee
0,545
0,547
0,548
0,573
0,558
0,580
0,498
0,550
Celesc
0,485
0,462
0,488
0,422
0,415
0,435
0,459
0,452
Cemig
0,617
0,592
0,562
0,528
0,512
0,556
0,567
0,562
Copel
0,666
0,624
0,588
0,576
0,569
0,571
0,505
0,585
CPFL Paulista
0,846
0,906
0,874
0,926
0,902
0,954
0,949
0,908
CPFL Piratininga
0,790
0,850
0,898
0,918
0,851
0,971
0,980
0,894
0,679
Elektro
0,685
0,718
0,662
0,628
0,656
0,699
0,707
Eletropaulo
0,493
0,628
0,626
0,602
0,639
0,720
0,614
0,618
Escelsa
0,766
0,790
0,742
0,624
0,613
0,716
0,681
0,705
Light
0,639
0,721
0,762
0,691
0,646
0,761
0,843
0,723
RGE
0,969
0,779
0,875
0,851
0,909
0,922
0,946
0,893
Média
0,673
0,676
0,679
0,651
0,652
0,702
0,694
0,675
corresponde a uma DMU. Assim, por exemplo, o
desempenho de uma concessionária em 2009 é
comparado com o desempenho de suas congêneres
ao longo dos sete anos do painel de dados e também
com o seu próprio desempenho no período 2003-2009.
Essa abordagem possibilita a análise da evolução
temporal de cada companhia, considerando-se que
não houve mudança tecnológica significativa ao
longo do período analisado, uma hipótese plausível
para a distribuição de energia elétrica. A mesma
abordagem foi utilizada pela Aneel na avaliação
dos custos operacionais eficientes das transmissoras
(Pessanha et al., 2010).
Todos os resultados apresentados a seguir foram
obtidos por meio de um programa desenvolvido em
ambiente R. Na Tabela 6 são apresentados os índices
de eficiência (DEA CRS) das distribuidoras classificadas
no cluster 1. Tabelas semelhantes foram obtidas para
os agrupamentos 2 e 3, porém não são apresentadas
em função da disponibilidade de espaço.
Na Tabela 6, as empresas CPFL Piratininga,
em 2008 e 2009, CPFL Paulista, em 2008, e RGE,
em 2003, apresentam eficiência de 100% (índices
iguais a 1). A análise dos resultados do modelo DEA
CRS revela que os diferentes esquemas de pesos
ótimos atribuem ponderações nulas a um ou mais
outputs. Problema semelhante ocorre no modelo
adotado pela Aneel. Tal fato indica que os elevados
índices de eficiência em algumas DMUs podem ter
sido alcançados por meio de esquemas de peso
irrealistas. Para contornar essa situação propõe-se a
avaliação cruzada, cujos resultados para o cluster 1
são apresentados na Tabela 7.
Os boxplots na Figura 2 ilustram as distribuições
dos índices de eficiência em cada cluster, segundo
cada modelo.
Figura 2. Boxplots dos índices de eficiência.
Vale lembrar que os índices de eficiência calculados
são relativos ao conjunto de empresas classificadas em
cada agrupamento, portanto não permitem estabelecer
comparações entre a eficiência de clusters distintos.
No cluster 1, os índices de eficiência calculados
pela avaliação cruzada são ligeiramente inferiores aos
obtidos pelo modelo DEA CRS, conforme ilustrado
nas Tabelas 6 e 7 e pelos boxplots na Figura 2. As
maiores discrepâncias entre as medidas de eficiência
(índice Mk) ocorrem no cluster 2 (Figura 3), em especial
nas distribuidoras AmE, Caiua, Celg, Celtins, Cemar,
Cemat, Cepisa, CNEE, CSPE, EBO, EEB, EMG, Enersul,
EPB, ESE e Sulgipe.
A investigação dos Mavericks envolve uma análise
dos esquemas de peso, por essa razão, na Figura 4
são apresentadas as médias dos pesos padronizados
nas distribuidoras no cluster 2.
Ressalte-se que os pesos resultantes do modelo
DEA CRS e da avaliação cruzada não apresentam
diferenças significativas. Na Figura 4, as empresas
Rezende, S. M. et al.
Avaliação cruzada das distribuidoras de energia elétrica. Production, v. xx, n. x, p. xx-xx, xxx/xxx, xxxx
estão dispostas na ordem crescente do índice Mk
médio no período analisado, iniciando em 5,9%, com
a Coelba, e finalizando em 70%, com a Celtins. Assim,
os Mavericks situam-se no lado direito da Figura 4, a
partir da CSPE. Adicionalmente, os valores negativos
correspondem aos pesos abaixo da média em cada
variável, sendo que os menores valores correspondem
aos pesos nulos.
No caso da Celtins, a variável km de rede recebe
um peso relativamente maior que os pesos atribuídos
aos demais outputs, contudo a variável km de rede
recebe peso relativamente menor nos esquemas de peso
de outras DMUs. Situações semelhantes acontecem
Figura 3. Índices Mk.
na Cemar, Cepisa, EMG, Enersul, EPB e Sulgipe. Em
outro exemplo, a EEB é um dos poucos casos em
que o mercado (MWh) recebe um peso acima da
média, enquanto os demais outputs recebem pesos
menores ou nulos. Na EBO e CNEE são atribuídos
pesos acima da média às variáveis mercado e número
de unidades consumidoras, porém essas variáveis, em
geral, recebem pesos abaixo da média nos outros
esquemas de peso. A mesma situação acontece na
CSPE e na Caiua, cujos índices Mk são da ordem de
18% e 19%, respectivamente.
As distribuidoras AmE e Celg mostram que
pequenas diferenças nos pesos podem provocar
significativas diferenças nos índices de eficiência.
Por outro lado, os índices de eficiência são mais
robustos em algumas distribuidoras, como na CLFSC
e na EEDVP, cujos índices Mk são da ordem de 12%
e 13%, respectivamente, apesar dos esquemas de
peso diferenciados. Situações semelhantes ocorrem
em algumas distribuidoras classificadas no cluster 1
(Figura 5), onde o maior Mk médio (16%) é o da Ampla.
Na sequência, na Figura 6 são apresentados os
índices de eficiência para as distribuidoras classificadas
no cluster 1, segundo o modelo de avaliação cruzada,
e os índices correspondentes, na Tabela 7 da Nota
Técnica n. 294/2011-SRE/Aneel, de 26 de outubro
de 2011. Em virtude das diferenças no conjunto
de DMUs avaliadas e no regime de rendimentos de
escala, os resultados dos modelos não são diretamente
comparáveis. Contudo, a avaliação cruzada é um bom
instrumento para avaliar a robustez dos índices de
eficiência determinados pela Aneel.
Figura 4. Esquemas de pesos resultantes da avaliação cruzada para as empresas no cluster 2.
Rezende, S. M. et al.
Avaliação cruzada das distribuidoras de energia elétrica. Production, v. xx, n. x, p. xx-xx, xxx/xxx, xxxx
Figura 5. Esquemas de pesos resultantes da avaliação cruzada para as empresas no cluster 1.
Figura 6. Médias anuais dos índices de eficiência das distribuidoras classificadas no cluster 1.
5. Conclusões
O terceiro ciclo de revisões tarifárias, iniciado em
2011, é caracterizado pela introdução de inovações
metodológicas, sendo que uma das mais relevantes
foi a substituição do modelo de empresa de referência
pela Análise Envoltória de Dados (DEA) na definição do
benchmark regulatório para os custos operacionais. A
Aneel abriu mão de um modelo testado e aprimorado
nos ciclos anteriores e passou a seguir uma metodologia
bastante difundida entre os reguladores do setor
elétrico em diversos países. A DEA significa um
avanço, pois confere ao regulador a capacidade de
avaliar a eficiência dos custos operacionais em termos
globais, sem a necessidade de definir padrões de
custos para cada atividade desempenhada por uma
distribuidora. Contudo, como é comum em qualquer
inovação regulatória, a metodologia adotada pela
Rezende, S. M. et al.
Avaliação cruzada das distribuidoras de energia elétrica. Production, v. xx, n. x, p. xx-xx, xxx/xxx, xxxx
Aneel apresenta pontos que merecem ser investigados,
visando o seu aprimoramento. Neste trabalho foram
propostas duas contribuições nesse sentido.
Ciente da diversidade entre as distribuidoras, a
Aneel dividiu o conjunto de empresas em dois grupos,
em função do tamanho do mercado atendido. A
estratégia de segmentar o conjunto de empresas está
de acordo com os princípios da yardstick competition,
mas a identificação de agrupamentos com base apenas
no tamanho do mercado (TWh) não produz grupos
de empresas suficientemente similares, um requisito
da yardstick competition. Por outro lado, a proposta
de caracterização de cada distribuidora por meio de
oito atributos selecionados e que captam diferentes
aspectos das áreas de concessão, seguida pelo emprego
do método de Ward, uma técnica multivariada
de cluster analysis, produz uma segmentação do
conjunto de distribuidoras em três grupos bem
definidos e internamente mais homogêneos do que
os considerados pelo agente regulador. Portanto,
visando o estabelecimento de análises comparativas
mais justas, recomenda-se que a segmentação das
distribuidoras seja efetuada por meio de alguma
técnica multivariada para análise de agrupamentos.
Nos resultados do modelo DEA especificado pela
Aneel são observados pesos nulos em alguns outputs,
sugerindo que os índices de eficiência resultantes podem
ter sido derivados de esquemas de peso irrealistas.
Embora os resultados apresentados no artigo não sejam
diretamente comparáveis aos apresentados pela Aneel,
a comparação entre os índices de eficiência calculados
pelo modelo DEA CRS e pela avaliação cruzada sugere
que alguns índices calculados pelo agente regulador
estão superstimados, sobretudo nas distribuidoras que
operam nas regiões Norte e Nordeste, onde foram
identificados diversos mavericks.
A identificação de mavericks no conjunto de
distribuidoras, a possibilidade de analisar a robustez
dos resultados dos modelos DEA clássicos sem a
necessidade de admitir suposições explícitas acerca
da importância relativa das variáveis, bem como o
fato de ela permitir que a eficiência de uma DMU leve
em conta as avaliações realizadas pelos seus pares
constituem importantes contribuições da avaliação
cruzada para a definição do benchmark regulatório
dos custos operacionais. Por fim, destaca-se que as
contribuições propostas neste trabalho são de fácil
implementação computacional e podem aprimorar
substancialmente os modelos empregados pelo
agente regulador.
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Concessionárias de Distribuição de Energia Elétrica,
Nota Técnica nº 265/2010-SRE/ANEEL. Metodologia de
cálculo dos custos operacionais. Brasília: ANEEl.
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Cross evaluation of electric distribution utilities
Abstract
In its third round of tariff review, the Brazilian Electricity Regulatory Agency (Aneel) adopted a methodology based
on data envelopment analysis (DEA) to define efficient levels of operational expenditure. This work presents proposals
to improve Aneel’s methodology. In particular, we propose the segmentation of the set of distribution utilities using
cluster analysis techniques to establish fair comparisons between utilities. Additionally, we propose a cross evaluation
model using the definition of efficient operational expenditure levels to achieve an efficiency index that accounts
for peer evaluations.
Keywords
Electric power. Data Envelopment Analysis. Cross evaluation. Cluster analysis.