IMPACTO
SOCIAL DO USO
DA BICICLETA NO
RIO DE JANEIRO
MENSAGEM
DO PATROCINADOR
O Itaú Unibanco está comprometido com o
desenvolvimento das comunidades em que atua
para gerar valor compartilhado. Por sermos um
banco essencialmente urbano e reconhecermos
a importância da valorização do transporte
ativo para o desenvolvimento sustentável das
cidades, definimos mobilidade urbana como
um pilar de investimento dentro de nossa
plataforma de sustentabilidade e fomentamos o
amadurecimento da cultura de integração das
bicicletas ao modelo de transporte das cidades
de forma conjunta com o poder público e com
a sociedade, buscando influenciar políticas
públicas que promovam o uso da bicicleta no
dia a dia das pessoas.
Itaú Unibanco.
CEBRAP
Presidência
Angela Alonso
Diretoria Científica
Carlos Torres Freire
Diretoria Administrativa
Graziela Castello
Equipe da pesquisa “Impacto social do uso
da bicicleta no Rio de Janeiro”
Carlos Torres Freire (coordenação), Graziela Castello,
Monise F. Picanço, Paula Santana Santos, Victor Callil
Agradecimentos
Equipe Itaú: Cícero Araújo, Luciana Nicola, Simone Gallo
Azevedo, Helen Faquinetti Costa, Natália Cerri Oliveira,
Guilherme Monacelli Cipullo
Revisão
Otacílio Nunes
Projeto Gráfico
Eduardo Asta
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Torres-Freire, Carlos
Impacto social do uso da bicicleta no Rio de
Janeiro [livro eletrônico] / Carlos Torres Freire,
Victor Callil, Monise Fernandes Picanço ;
[coordenação Carlos Torres Freire]. -- São Paulo :
CEBRAP, 2019.
1,5 MB ; eBook
"Apoio Itaú, realização e edição CEBRAP".
Bibliografia
ISBN 978-85-62676-29-1
1. Bicicletas 2. Bicicletas - Aspectos sociais
3. Ciclovias - Rio de Janeiro (RJ) 4. Ciências
sociais 5. Mobilidade urbana 6. Transporte urbano Política - Rio de Janeiro (RJ) 7. Projeto Desafio
Mobilidade Itaú-Cebrap 2018 I. Callil, Victor.
II. Picanço, Monise Fernandes. III. Freire, Carlos
Torres. IV. Título.
19-27877
CDD-388.453
Índices para catálogo sistemático:
1. Transporte por bicicleta em cidade do Rio de
Janeiro : Mobilidade urbana 388.453
Maria Alice Ferreira - Bibliotecária - CRB-8/7964
ÍNDICE
1. Introdução p.7
2. Desenho e metodologia da pesquisa p.8
2.1.
Impacto do uso da bicicleta no meio ambiente p.9
2.2.
Impacto do uso da bicicleta na saúde p.10
2.3.
Impacto do uso da bicicleta na economia p.11
3. Perfil: população e viagens p.12
3.1.
Perfil da população e dos ciclistas p.13
3.2.
Perfil de viagens p.14
3.2.1.
Tipos de viagens p.16
4. Projeções de impacto do uso da bicicleta: meio ambiente, saúde e economia p.18
4.1.
Meio ambiente p.18
4.1.1.
Bem-estar: experiências de conforto e desconforto nos deslocamentos pela cidade p.19
4.1.2.
Bem-estar: interação com espaço público, percepção de segurança
no cotidiano e percepções de problemas da cidade p.22
4.1.3.
Emissão de CO2 por modo de transporte p.24
4.2.
Saúde p.27
4.2.1.
Perfil de atividade física de ciclistas e da população do Rio de Janeiro p.28
4.2.2.
Economia no SUS com doenças cardíacas e diabetes p.29
4.3.
Economia p.31
4.3.1.
Impacto individual do uso da bicicleta como meio de transporte
e aumento da renda disponível p.31
4.3.2.
Impacto social do uso da bicicleta como meio de transporte e aumento do PIB p.32
5. Percepções sobre o uso da bicicleta p.36
5.1
Disposição e motivação para adoção da bicicleta entre
a população do Rio de Janeiro que não usa bicicleta p.36
5.2.
Motivos para o uso da bicicleta entre ciclistas e satisfação em relação a ciclovias p.38
6. Considerações finais p.40
7. Referências bibliográficas p.41
APRESENTAÇÃO
Este trabalho apresenta a Pesquisa de Impacto
do Uso da Bicicleta na Cidade do Rio de Janeiro, conduzida em 2018 pelo Centro Brasileiro
de Análise e Planejamento (Cebrap), com
patrocínio do Banco Itaú Unibanco.
São Paulo foi a primeira cidade em que o estudo foi realizado, em 2017. Agora foi a vez do
Rio de Janeiro. A pesquisa foi elaborada a partir de entrevistas domiciliares, com indivíduos
de 16 anos ou mais, e amostragem com dois
grupos distintos: população do município do
RJ e ciclistas. Ela permite verificar as condições
de deslocamento dos cariocas e medir os impactos individuais e sociais do uso da bicicleta
no meio ambiente, na saúde e na economia.
A pesquisa mostra que a bicicleta está presente
em 3% das viagens realizadas cotidianamente
no Rio de Janeiro e que, ao longo da semana,
3,4% da população utiliza a bicicleta como
meio de transporte.
APRESENTAÇÃO
Os ciclistas cariocas têm ainda uma relação
mais positiva com a cidade: fazem mais atividades ao ar livre e apresentam sensações de
estresse e desconforto em menor frequência
que a população carioca. O uso da bicicleta
não impacta apenas a sensação de bem-estar
nos deslocamentos, mas também traz ganhos
ao meio ambiente. Se a parcela da população
carioca que mais utiliza veículos motorizados
individuais (automóvel como passageiro ou
motorista, táxi/app ou moto) e ônibus utilizasse a bicicleta em todos os trajetos de até 8 km,
a cidade teria uma redução de 18% na emissão
de CO2.
6
Já no tema economia, calculamos os ganhos no
orçamento pessoal dos indivíduos caso passassem a realizar as viagens pedaláveis de seu
cotidiano por meio da bicicleta. Nesse caso, a
troca favoreceria principalmente os cariocas
das classes C/D (Critério Brasil), que reduziriam seus gastos com transporte de 18% para
4% da renda pessoal, uma economia em média
de R$ 151 mensais. Além disso, caso a população que utiliza veículos motorizados passasse a
realizar suas viagens pedaláveis de bicicleta, o
tempo economizado nos trajetos tem potencial
produtivo de R$ 525 milhões, o que poderia
promover um aumento de 0,16% do PIB da
cidade do Rio de Janeiro.
As projeções realizadas na pesquisa não esgotam as possibilidades de estudo de impacto
do uso da bicicleta no Rio de Janeiro. Novas
pesquisas podem ajudar a mensurá-lo e outros
modelos de cálculo permitiriam compreender
o impacto da bicicleta em gastos com outras
doenças que não envolvam o aparelho circulatório e diabetes, ou mesmo o impacto da
bicicleta por setor de atividade econômica (indústria, comércio e serviços). Há, assim, uma
ampla agenda de pesquisa para dimensionar
os impactos do uso da bicicleta na cidade e na
vida de seus cidadãos.
No que diz respeito à saúde, verificamos que
os ciclistas são mais ativos fisicamente do que
a população carioca. Caso toda a população
passasse a ter o mesmo padrão de atividade
física que o dos ciclistas, haveria uma economia
de até 19% dos custos do SUS municipal com
internações ocasionadas por doenças do aparelho circulatório e diabetes. Isso equivale a uma
economia de R$ 7,7 milhões por ano.
IMPACTO SOCIAL DO USO DA BICICLETA NO RIO DE JANEIRO - CEBRAP
Em 2017, o Centro Brasileiro de Análise e
Planejamento (Cebrap) desenvolveu, com o
patrocínio do Itaú, uma metodologia para
aferir os possíveis impactos do uso da bicicleta
como meio de transporte na vida das cidades.
Partindo de uma série de estudos, verificamos
as maneiras pelas quais o aumento da prática
do ciclismo como meio de transporte contribuiria positivamente em três áreas de interesse:
meio ambiente, saúde e economia. Em cada
uma dessas áreas, analisamos os impactos
individuais do uso da bicicleta, ou seja, aqueles que dizem respeito à vida das pessoas, e os
impactos sociais, isto é, os ganhos obtidos pela
sociedade como um todo caso a bicicleta fosse
utilizada de maneira mais frequente como meio
de transporte pela população.
São Paulo foi a primeira cidade em que foi
aplicado esse estudo, publicado em 2018
(Torres-Freire et al., 2018). Na capital paulista,
aferimos que a bicicleta poderia reduzir em até
18% o volume de CO2 oriundo dos transportes
de passageiros na cidade. Além disso, poderia
reduzir em mais de R$ 34 milhões os gastos
municipais com doenças do aparelho circulatório e diabetes. Um uso mais intenso da bicicleta para mobilidade urbana poderia impactar
positivamente o PIB paulistano em aproximadamente R$ 870 milhões.
Agora foi a vez do Rio de Janeiro de ser a base
do estudo sobre o impacto da bicicleta. Utilizando a mesma metodologia, com alguns aperfeiçoamentos, a equipe do Cebrap aplicou a
pesquisa na cidade do Rio de Janeiro em 2018.
Averiguamos que a bicicleta aparece em 3% das
viagens realizadas cotidianamente na cidade
e que 3,4% da população utiliza a bicicleta
como meio de transporte ao longo da semana.
Embora a cidade possua mais de 400 km de
infraestrutura cicloviária e sistemas de bicicleta
compartilhada, ainda carece de políticas voltadas para o incentivo ao ciclismo urbano. Um
dos principais objetivos deste trabalho é justamente mensurar quanto a bicicleta impactaria
a cidade caso seu uso como meio de transporte
fosse maior.
Ao abordarmos a temática meio ambiente, consideramos como impactos individuais as sensações que os indivíduos têm ao transitar pela
cidade. Ou seja, verificamos com que frequência os indivíduos têm sensações positivas ou
negativas em seus deslocamentos. Já no campo
dos impactos sociais, medimos a redução potencial da emissão de CO2 caso a bicicleta fosse
adotada como meio de transporte em viagens
pedaláveis, critério definido por Amigo (2018)
a partir de adaptação de estudos da Transport
for London (2016).
No tema saúde, verificamos o impacto individual da bicicleta a partir da comparação do
nível de atividade física entre os ciclistas com
aquele da população carioca como um todo.
Vale lembrar que nosso conceito de ciclista
contempla o indivíduo que fez pelo menos uma
viagem de bicicleta para qualquer propósito no
dia anterior à aplicação da pesquisa de campo. Logo, os ciclistas que responderam a essa
pesquisa não necessariamente são pessoas que
andam de bicicleta todos os dias. Em relação
aos impactos sociais na saúde, verificamos a
economia que seria obtida pelo SUS municipal se a população utilizasse mais a bicicleta
como meio de transporte. Essa economia seria
possível porque o aumento do nível de atividade física reduz as probabilidades de doenças do
aparelho circulatório e diabetes, diminuindo
assim os gastos públicos com tais doenças.
Já na economia, ao tratar da dimensão individual, calculamos os ganhos no orçamento pessoal dos indivíduos caso passassem a realizar
as viagens pedaláveis de seu cotidiano usando a
bicicleta. Na dimensão social, por meio da metodologia da “produção sacrificada”, de Vianna
e Carusi (2017) e Firjan (2014), estimamos a
contribuição da bicicleta para o aumento do
PIB municipal caso fosse adotada pela população que viaja com outros meios de transporte,
mas que teria uma viagem mais rápida caso o
fizesse pedalando.
1. INTRODUÇÃO
1. INTRODUÇÃO
7
IMPACTO SOCIAL DO USO DA BICICLETA NO RIO DE JANEIRO - CEBRAP
Ressaltamos que as projeções apresentadas na
pesquisa não esgotam as possibilidades de análise de impacto do uso da bicicleta na cidade
do Rio de Janeiro. Outras medidas poderiam
ser calculadas. Um exemplo disso é o estudo
da ONG Transporte Ativo sobre ciclologística e
entrega por bicicletas no bairro de Copacabana
em 2011. Na ocasião, descobriu-se que mais de
11 mil entregas são realizadas por bicicleta na
região, o que mostra a importância que o uso
da bicicleta como instrumento de trabalho tem
para economia local.
2. DESENHO E METODOLOGIA DA PESQUISA
Vale destacar, mais uma vez, que este é o segundo estudo de impacto do uso da bicicleta
em uma cidade brasileira. Realizar estudos com
o mesmo instrumento de pesquisa, em diferentes cidades, permite a comparação do impacto
do uso da bicicleta a partir de contextos de
mobilidade distintos. Esse empreendimento é
raro entre estudos de mobilidade e traz ganhos
analíticos para a compreensão do impacto do
uso da bicicleta não só para a população carioca como para a de outras cidades.
8
Além desta introdução, o presente documento
se divide em mais seis partes. Na segunda, tratamos do desenho e da metodologia da pesquisa. Na terceira, abordamos o perfil da população investigada e das viagens observadas. Já
na quarta parte, apresentamos as projeções de
impacto do uso da bicicleta nas três áreas: meio
ambiente, saúde e economia, com suas respectivas metodologias de cálculo. Em seguida, desenvolvemos uma análise a respeito da percepção da população sobre o uso da bicicleta, além
da disposição e da motivação para sua adoção
entre não ciclistas, assim como das motivações
para o uso da bicicleta entre ciclistas. Por fim,
encerramos o trabalho com um balanço dos
principais achados nas considerações finais.
2. DESENHO
E METODOLOGIA
DA PESQUISA
Para a coleta de dados, realizamos uma pesquisa amostral domiciliar com 1.1001 entrevistas
de indivíduos com 16 anos ou mais entre os
dias 2 de setembro e 11 de outubro de 2018.
Destas, uma parte foi direcionada à população
geral da cidade do Rio de Janeiro (amostra regular) e outra ao grupo de usuários de bicicleta
(amostra ciclistas), que serviu como grupo de
comparação para nossas análises. A pesquisa
considerou como usuários de bicicleta (os ciclistas) aquelas pessoas que realizaram viagem
com bicicleta para deslocamento no dia útil
anterior ao da entrevista.
A amostra representativa da população da
cidade do Rio de Janeiro (amostra regular) foi
desenhada com 1.000 entrevistados. Para isso,
realizou-se o sorteio de 100 setores censitários
na cidade e foram aplicados 10 questionários
em cada um deles. Para o grupo de 100 ciclistas
(amostra ciclistas), as entrevistas foram realizadas no setor censitário vizinho ao sorteado.
Essa estratégia permitiu, por um lado, captar a
incidência do número de ciclistas na cidade por
meio da amostra regular e, por outro, compreender as características desse grupo de modo
a considerar ciclistas de todas as regiões da
cidade (amostra ciclistas).
1) A margem de erro é de 3 p.p, com 95% de confiança.
IMPACTO SOCIAL DO USO DA BICICLETA NO RIO DE JANEIRO - CEBRAP
1. Geral: perguntas sobre o perfil demográfico da população da amostra;
2. Problemas da cidade: perguntas sobre
a percepção dos entrevistados em relação aos principais problemas existentes
na cidade do Rio de Janeiro e aos problemas que mais os afetam pessoalmente;
3. Economia: perguntas sobre orçamento
pessoal e familiar do entrevistado;
4. Mobilidade: perguntas sobre: a) os
trajetos e modais utilizados pelos entrevistados em todos os deslocamentos
realizados por eles no último dia útil
anterior ao da aplicação do questionário;
b) sensações no deslocamento; c) custos
com transporte; d) frequência semanal
de uso dos modais;
5. Saúde: perguntas do Questionário
Internacional de Atividade Física (IPAQ)
reduzido, desenvolvido para identificar o
nível de atividade física da população;
6. Bem-estar: perguntas sobre o tempo de
exposição dos entrevistados em espaços
públicos;
7. Violência: perguntas sobre a sensação
de segurança dos entrevistados na cidade;
8. Ciclistas: perguntas direcionadas,
especificamente, àqueles que utilizaram
bicicleta como meio de transporte no dia
útil anterior ao da aplicação do questioIMPACTO SOCIAL DO USO DA BICICLETA NO RIO DE JANEIRO - CEBRAP
nário. Os entrevistados foram indagados
sobre: a) tempo que utilizam bicicleta
como meio de transporte; b) motivações
que os fazem usar a bicicleta; c) frequência com que pedalam; d) percepções
sobre a infraestrutura para o pedal na
cidade.
A partir da pesquisa com os dois grupos
(população do município do Rio de Janeiro x
ciclistas), foi possível comparar diferentes indicadores de condições e qualidade de vida para
aferir os impactos individuais do uso de bicicleta e, simultaneamente, projetar o impacto
nas dinâmicas sociais mais gerais, combinando
estimativas populacionais, econômicas e gastos
públicos.
2.1 Impacto do uso da
bicicleta no Meio Ambiente
Os possíveis impactos do uso da bicicleta no
meio ambiente foram calculados a partir de
duas frentes:
1. A percepção da experiência de vida e
bem-estar na cidade, considerando a
dimensão individual de análise;
2. A redução da emissão de CO2 oriundo
dos meios de transporte na cidade para a
dimensão social de análise.
Os indicadores definidos para a comparação
entre ciclistas e população carioca sobre suas
experiências com a cidade e sensação de bem-estar foram: tempo de exposição ao ar livre
(outdoor) declarado pelos entrevistados de
cada um dos grupos e sensação de bem-estar
apresentada em seus deslocamentos.
2. DESENHO E METODOLOGIA DA PESQUISA
Para garantir a representatividade da população e a comparabilidade entre os grupos, definimos as amostras probabilísticas com cotas no
setor censitário (sexo, idade e escolaridade). As
amostras da população geral do Rio de Janeiro
e do grupo de ciclistas foram ponderadas a partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios (PNAD) de 2015. A coleta de
dados foi efetuada por meio da aplicação de
questionário estruturado organizado em oito
blocos:
9
Figura 1 – Dimensões e indicadores em Meio Ambiente
Dimensões
Individual
Social
Indicadores
Análise de Impacto
Bem-estar no deslocamento
Percepções de conforto e desconforto nos deslocamentos cotidianos pela cidade
Bem-estar pelo tempo de exposição
ao ar livre (outdoor)
Interação com espaço público aberto
Percepção de segurança no cotidiano
Percepção de problemas da cidade
Total de CO2 emitido por modal
Redução na emissão de CO2 a partir da troca para
bicicleta nos deslocamentos
A análise foi encaminhada nessa direção de
modo a trabalhar com a hipótese de que há diferenças entre as populações estudadas no que
se refere a: fruição em espaços públicos abertos, sensação de segurança, percepção sobre
problemas da cidade e percepção sobre conforto nos deslocamentos cotidianos (Barros, 2014;
St. Louis et al., 2014).
2. DESENHO E METODOLOGIA DA PESQUISA
Em relação à dimensão social, buscamos identificar qual seria a redução na emissão de CO2
caso se consolidasse a substituição do uso de
automóveis e ônibus por bicicletas em viagens
para deslocamento pela cidade com características de potencial ciclável.
10
2.2 Impacto do uso da
bicicleta na Saúde
Os possíveis impactos do uso da bicicleta na
saúde foram calculados adotando-se como dimensão de análise o contraponto entre sedentarismo e vida ativa. Estudos na área da saúde
apontam melhores indicadores para pessoas
com maiores níveis de atividade física (Arem et
al., 2015; Ekelund et al., 2015). Buscamos trabalhos acadêmicos que identificavam possíveis
impactos da atividade física para aqueles que
realizam deslocamentos por bicicleta. A partir
disso, utilizamos o indicador de distribuição
da população entre inativos, irregularmente
ativos e ativos para medir o impacto do uso da
bicicleta na saúde em sua dimensão individual.
A análise dos impactos da atividade física pelo
uso da bicicleta foi, então, realizada por meio
da comparação entre o perfil de atividade dos
ciclistas e o da população geral.
Para medir os impactos na saúde em sua dimensão social, levantamos os gastos do Sistema
Único de Saúde (SUS) do município do Rio de
Janeiro com Autorização de Internação Hospitalar (AIH) referentes às “doenças do aparelho
circulatório” (capítulo IX, códigos 100 a 199 no
Datasus) e às “doenças endócrinas, nutricionais
e metabólicas e lista de morbidades referente a
todos os tipos de diabetes” (capítulo IV no Datasus). A partir desses dados e do nível de atividade física da população geral e do grupo de
ciclistas, estimamos as probabilidades de ocorrência dessas doenças nos grupos. Em seguida,
calculamos o potencial de economia no sistema
público de saúde caso a população geral tivesse
o perfil de atividade física dos ciclistas.
IMPACTO SOCIAL DO USO DA BICICLETA NO RIO DE JANEIRO - CEBRAP
Figura 2 – Dimensões e indicadores em Saúde
Dimensões
Indicadores
Análise de Impacto
Individual
Distribuição da população em: sedentário,
moderadamente ativo, ativo
Comparação entre a população do RJ e grupo de
ciclistas
Social
Inatividade física como fator de risco
associado a doenças
Projeção da potencial economia de recursos no
sistema de saúde
2.3 Impacto do uso da
bicicleta na Economia
Na dimensão individual, verificamos como o
uso da bicicleta poderia impactar a renda disponível2 do indivíduo. Considerando que deslocamentos por bicicleta podem ser realizados
a custo zero, já que não há gastos com combustíveis ou tarifas – a despeito de um baixo custo
de manutenção esporádico –, verificamos que
há um potencial de economia da renda pessoal
tanto de usuários de transporte público como
daqueles de transporte motorizado privado.
Isso significa um aumento da renda disponível
do indivíduo para consumo com outros bens
que não transporte.
então, em nossa amostra, indivíduos que
teriam um tempo de deslocamento menor caso
tivessem realizado a sua viagem por bicicleta e
verificamos quanto esse decréscimo de tempo
de deslocamento representaria em termos de
possibilidade de aumento do PIB municipal do
Rio de Janeiro.3
Na próxima seção, apresentamos os perfis dos
grupos analisados e de suas respectivas viagens.
Figura 3 – Dimensões e indicadores em Economia
Dimensões
Indicadores
Análise de Impacto
Individual
Gasto individual com transporte
Aumento da renda disponível
Social
“Produção sacrificada” associada ao desperdício
no tempo de deslocamento individual
Projeção de potencial aumento do PIB
2) Renda disponível é a renda pessoal do indivíduo menos os impostos.
3) Até o momento da elaboração dos cálculos para esta pesquisa, o dado mais recente disponível publicado do PIB municipal do município do Rio de Janeiro era
o de 2016. Os dados foram deflacionados pelo IPCA.
IMPACTO SOCIAL DO USO DA BICICLETA NO RIO DE JANEIRO - CEBRAP
2. DESENHO E METODOLOGIA DA PESQUISA
No que se refere à dimensão social, utilizamos
o modelo de “produção sacrificada”, assumindo que o tempo parado no trânsito poderia
ser gasto trabalhando caso o indivíduo não
estivesse ali. Essa “produção sacrificada” pode
ser monetizada a partir do salário-hora dos
trabalhadores (Vianna e Carusi, 2017; Firjan,
2014). Dessa forma, indivíduos que se deslocassem mais rápido para o trabalho poderiam
contribuir para o aumento do nível de produtividade da economia (PIB). Identificamos,
11
3. PERFIL:
POPULAÇÃO
E VIAGENS
Figura 4 – Conceito de viagem e trecho (exemplo)
Casa
Nesta seção, descrevemos o perfil socioeconômico e o perfil de viagens da população do Rio
de Janeiro e do grupo de ciclistas.
A coleta dos dados teve como base o questionário da pesquisa Origem-Destino, realizada pelo
Metrô a cada 10 anos na região metropolitana
de São Paulo. Esse instrumento captura todos
os deslocamentos do indivíduo no dia útil anterior à pesquisa, fornecendo assim uma fotografia dos deslocamentos no cotidiano da cidade.
Trecho 1
Ônibus
Consideramos como viagens os trajetos realizados entre um ponto A e um ponto B com uma
motivação específica. Dessa maneira, se o indivíduo saiu de casa e foi direto para o trabalho,
conformou-se uma viagem. Caso o indivíduo
tenha, por exemplo, deixado filho na escola e
de lá seguido para o trabalho, duas viagens são
contabilizadas.
3. PERFIL: POPULAÇÃO E VIAGENS
Outro conceito importante para as análises
realizadas neste trabalho (em especial na seção
de meio ambiente) é o de trecho. Ele se refere a
frações do caminho entre o ponto A e o ponto B onde houve troca de modal. Por exemplo: para ir ao trabalho, uma pessoa pega um
ônibus na origem, troca para um metrô e anda
mais de 500 metros até o destino. Essa viagem
possui três trechos. O primeiro, de ônibus, o
segundo, de metrô, e o terceiro, a pé.
Para compormos o grupo de comparação
(amostra ciclista), consideramos ciclistas aqueles indivíduos que necessariamente realizaram
ao menos um deslocamento com a bicicleta no
dia anterior à pesquisa. Além disso, captamos
a existência de ciclistas no município do Rio
de Janeiro para além da amostra de ciclistas,
ou seja, também coletamos informações sobre
viagens de bicicleta no dia anterior à pesquisa
de pessoas que não faziam parte do grupo previamente selecionado de ciclistas.
Trecho 2
Viagem
Metrô
Trecho 3
A pé
Trabalho
12
IMPACTO SOCIAL DO USO DA BICICLETA NO RIO DE JANEIRO - CEBRAP
A população do Rio de Janeiro e o grupo de ciclistas apresentam grandes semelhanças no que
diz respeito a composição por classe (Critério
Brasil) e escolaridade. Essa semelhança permite
comparações entre os dois grupos, uma vez que
os aspectos socioeconômicos não trarão vieses
às análises realizadas.
Gráfico 1 – População do Rio de Janeiro e ciclistas por
classe e escolaridade
Classe
AB
População 13%
MRJ
C
Ciclistas 9%
56%
Gráfico 2 – Uso dos transportes na semana anterior à
pesquisa
População MRJ
Ciclistas
31%
35%
VLT
Fundamental Fundamental Médio
incompleto
completo
completo
Superior
completo
22%
6%
9%
BRT
Trem
Escolaridade
41%
Ônibus
público
Metrô
DE
56%
transporte em relação ao total de viagens da
cidade, esse dado é importante porque permite
vislumbrar a incidência do uso de cada modal
pela população.
9%
2%
5%
7%
0%
1%
Ônibus 1%
fretado 0%
Automóvel
(motorista)
13%
11%
6%
Automóvel
(passageiro)
11%
11%
A distribuição dos grupos em relação à classe
é bastante similar, havendo apenas uma leve
distinção na proporção das classes AB e DE. Já
as diferenças observadas nos estratos de escolaridade são mais nítidas, sendo maior a proporção de ciclistas com ensino médio completo
e pequena a proporção de ciclistas com ensino
superior completo, quando comparados os
dados do grupo de controle e os da população
geral.
Taxi, app
(uber, 99, etc.)
10%
6%
População 20%
MRJ
Ciclistas 15%
21%
26%
43%
53%
15%
A leitura do Gráfico 1 leva a crer que a população carioca apresenta uma proporção maior
de pessoas mais escolarizadas em relação aos
ciclistas. Além disso, os ciclistas apresentam
uma proporção ligeiramente menor de pessoas
no estrato socioeconômico mais rico (AB).
Sobre o perfil de mobilidade do público pesquisado, coletamos primeiramente informações
sobre os meios de transporte utilizados pelos
respondentes na semana anterior à pesquisa. Ainda que essa informação não permita
mensurar a proporção de uso de cada meio de
IMPACTO SOCIAL DO USO DA BICICLETA NO RIO DE JANEIRO - CEBRAP
Moto
3%
3%
35%
A pé
(mais de 500 metros)
Bicicleta própria
23%
3%
94%
Bike Rio
1,4%
6%
Outros
(barca, balsa, etc.)
4%
5%
Nenhum
13%
0%
3. PERFIL: POPULAÇÃO E VIAGENS
3.1 Perfil da população
e dos ciclistas
13
A primeira informação que chama atenção é a
proporção expressiva de indivíduos que usam
transportes coletivos para seus deslocamentos: 68% da população se deslocou por meio
de ônibus público, BRT, metrô, trem, VLT ou
barcas.4
Entre os tipos de transporte coletivo mais
utilizados está o ônibus público, modal usado
por 41% da população na semana anterior.
Uma explicação possível para a relevância do
ônibus público entre os transportes coletivos é
a densidade demográfica da região metropolitana do Rio de Janeiro. São 58 km de sistema
de metrô (MetrôRio, 2018) e aproximadamente
270 km de trens metropolitanos (SuperVia,
2018), uma densidade de 1,8 mil habitantes por
km². A título de comparação, a região metropolitana de São Paulo abriga 273 km de trilhos
metropolitanos (CPTM, 2018), 96 km de metrô
(Metrô, 2018; Via Quatro, 2019; Via Mobilidade, 2019) e apresenta uma densidade de 2,7 mil
habitantes por km².
3. PERFIL: POPULAÇÃO E VIAGENS
Quando observamos aqueles que recorreram
ao transporte motorizado individual, verificamos que 33% da população usou automóvel
(como passageiro ou motorista), táxi/Uber
ou moto. Já aqueles que se locomoveram por
meios de transporte ativo (a pé e de bicicleta)
são cerca de 40% da população carioca, sendo
a maioria formada por aqueles que realizaram
viagens a pé (35%).
14
A incidência de uso de bicicleta na semana
anterior, por sua vez, foi de 3,4% – 0,4 ponto
percentual a mais do que a observada entre os
paulistanos em 2017. Assim, embora as avaliações sobre infraestrutura cicloviária sejam
piores e a sensação de insegurança seja maior
do que em São Paulo (dados discutidos adiante
neste relatório), existe uma proporção maior de
ciclistas no Rio de Janeiro.
A comparação do perfil de mobilidade do
grupo de ciclistas com o da população carioca
apresenta diferenças importantes. Além do esperado maior uso de bicicleta entre os ciclistas
(94% a usaram na semana anterior), eles utilizaram transportes coletivos em uma proporção
menor que a da população: considerando todos
os modais coletivos, 46% dos ciclistas utilizaram transporte coletivo, em contraposição a
68% de uso da população carioca. Ainda que a
proporção de viagens a pé entre os ciclistas seja
menor que a da população, esse tipo de viagem
constitui parte importante da mobilidade do
grupo: quase um quarto dele realizou deslocamento desse modo na semana anterior à
pesquisa. Por fim, vale dizer que o uso de transporte motorizado individual dos ciclistas (29%)
é bastante semelhante ao da população (33%).
Os dados apresentados são bastante coerentes
com a realidade de uma grande cidade, onde
a população tende a usar mais os transportes
coletivos, com prevalência do sistema composto de ônibus, micro-ônibus e vans públicos em
função de sua capilaridade.
3.2 Perfil de viagens
Os cariocas realizam, em média, 2,2 viagens
por dia, percorrendo uma distância média de
7 km em viagens que duram em torno de 36
minutos – em São Paulo, a distância média das
viagens é de 7,4 km, com duração de 41 minutos. O tempo médio em São Paulo provavelmente é maior pelo fato de as viagens de ônibus
na capital paulista terem duração muito maior
(62 minutos, contra 45 minutos no Rio) com
incidência semelhante de viagens (38% contra
37% no Rio).
A coleta de informações sobre todas as viagens
realizadas pelos respondentes no último dia
útil anterior à aplicação do questionário, assim
como dos deslocamentos e do uso dos diferentes modais de transporte na cidade, permite
uma análise detalhada do cotidiano da mobilidade no Rio de Janeiro.
Podemos destacar três evidências principais
sobre a mobilidade na capital carioca.
4) Vale lembrar que esta resposta é múltipla, ou seja, o respondente pode escolher mais de um tipo de transporte. Logo, a somatória das percentagens no
Gráfico 2 ultrapassa 68%.
IMPACTO SOCIAL DO USO DA BICICLETA NO RIO DE JANEIRO - CEBRAP
Tabela 1 – Incidência dos modais utilizados e perfil da mobilidade na cidade*
Modais
MRJ (incidência
na população)
Duração da
viagem em
minutos
Distância
média em
metros
19%
MRJ (% de viagens em que os
modais aparecem)
32%
A pé
24
1.294
Bicicleta
1,5%
3%
25
2.319
Ônibus
23%
37%
45
8.718
Metrô/Trem/VLT
7%
11%
45
12.243
BRT
2,6%
4%
42
9.849
17%
33
6.918
Automóvel (motorista ou passageiro, próprio ou app) 11%
Moto
2%
4%
28
8.426
Ciclistas (controle)
-
-
22
2.737
População MRJ
-
-
36
7.053
*Os dados das duas primeiras colunas não somam 100% porque uma pessoa pode usar mais de um modal de transporte por dia.
O segundo achado se refere à alta proporção
no uso do ônibus: é o modal mais utilizado em
viagens pela população carioca, aquele com
maior número de viagens e com a maior duração média das viagens, junto com metrô/trem/
VLT (Tabela 1). Essa informação permite uma
comparação interessante: ônibus e metrô/trem/
VLT apresentam as maiores médias de duração
de viagem: 45 minutos. Mas salta aos olhos o
fato de as viagens nos trilhos apresentarem distância média 40% maior que a percorrida por
ônibus. Ou seja, o ônibus leva o mesmo tempo
que o sistema de trilhos para percorrer uma
distância menor, o que acarreta uma jornada
mais cansativa para seus passageiros.
A terceira evidência que chama atenção é a baixa proporção do uso cotidiano do automóvel
na população carioca, com uma incidência de
11% (Tabela 1), metade da proporção encontrada em São Paulo (22%). Além disso, as viagens
de automóvel têm distância média pequena (7
km), menor inclusive que a das motos e maior
apenas do que aquelas que envolvem mobilidade ativa (a pé e de bicicleta).
Essa comparação entre uso de modos ativos
(bicicleta e a pé), transporte público (ônibus,
metrô/trem/VLT, BRT) e motorizado individual (automóvel como passageiro ou motorista,
táxi/app, moto) merece uma atenção especial.
Para tanto, fizemos uma análise específica organizando as preferências em grupos para entender a intensidade de uso dos diferentes tipos de
transporte pela população carioca.5
5) Nos casos em que havia a mesma frequência de uso em dois ou três grupos da análise, demos prioridade para o transporte ativo, seguido pelo uso de transporte público e, por último, o uso de transporte motorizado individual. Isso significa que, se o indivíduo usou modos ativos em cinco dias da semana anterior e
transporte motorizado individual também por cinco dias, entrou no grupo que usa mais mobilidade ativa.
IMPACTO SOCIAL DO USO DA BICICLETA NO RIO DE JANEIRO - CEBRAP
3. PERFIL: POPULAÇÃO E VIAGENS
Primeiramente, os deslocamentos por modos
ativos (a pé e de bicicleta) estão bastante presentes no cotidiano do carioca – em 35% das
viagens. A bicicleta aparece em 3% das viagens
e foi utilizada no dia anterior à pesquisa por
1,5% da população do Rio. Na capital paulista,
em 2017, a incidência de uso da bicicleta era
de 2% nas viagens e 1,2% na população. Uma
tradição de uso interno em bairros, a proximidade com a orla do mar e a existência de uma
rede cicloviária que favorece a mobilidade em
alguns pontos importantes da cidade podem
ser fatores que ajudem a explicar esse uso mais
intenso da bicicleta no Rio (Tabela 1).
15
Tabela 2 – Perfil de deslocamento por média de viagens realizadas e renda
Perfil de mobilidade
% da população MRJ Média de viagens
Usa mais modos ativos
33%
2,12
Renda Familiar per
capita mensal
1.079
Usa mais transporte público
45%
2,29
1.271
Usa mais motorizado individual
22%
2,26
1.741
População MRJ
-
2,19
1.242
A informação sobre renda é a que mais se destaca quando analisamos a população carioca a
partir de seu perfil de mobilidade. A renda de
quem usa mais modos ativos é 38% menor do
que a renda daqueles que usam mais motorizados individuais e 15% menor do que aquela dos
que usam mais transporte público. A Tabela 2
ilustra a ideia de que, de modo geral, os mais
pobres utilizam mais modos ativos por falta de
recursos para a tarifa dos transportes coletivos,
os intermediários andam mais de transporte
público por falta de recursos para adquirir um
veículo próprio e os de maior renda adquirem
o próprio veículo.
3. PERFIL: POPULAÇÃO E VIAGENS
Vale dizer que, embora sejam utilizados com
mais frequência por somente 22% da população, os motorizados individuais ocupam a
maior parte do espaço das vias. Não há dados
sobre isso na capital carioca, mas em São Paulo,
por exemplo, apenas 24% da população usa
mais motorizados individuais, enquanto 88%
do espaço das vias é ocupado por automóveis
(IEMA, 2017).
3.2.1. Tipos de viagem
Assim como foi feito no estudo sobre a capital
paulista, aplicamos o conceito de viagens pedaláveis aos deslocamentos coletados na cidade
do Rio de Janeiro. Usando como referência
a tipologia criada por Amigo (2018) a partir
de estudos da Transport for London (2016),
adaptamos uma classificação dividida em três
grupos: facilmente pedaláveis, pedaláveis e não
pedaláveis:
1. Viagens facilmente pedaláveis: de até 5
km, realizados entre 6 h e 20 h, por pessoas com até 50 anos;
2. Viagens pedaláveis: de até 8 km, realizados entre 6 h e 20 h, por pessoas com até
50 anos;
3. Viagens não pedaláveis: trechos que não
se adéquam a nenhuma das classificações anteriores.
Tomando-se por base essa tipologia, metade
das viagens realizadas na cidade poderia ser
feita por bicicleta, sendo que 41% das viagens
são facilmente pedaláveis. O Rio de Janeiro tem
um potencial pedalável expressivo, superior ao
da capital paulista, que apresenta 42% de viagens passíveis de ser realizadas de bicicleta, das
quais 35% são viagens facilmente pedaláveis.
16
IMPACTO SOCIAL DO USO DA BICICLETA NO RIO DE JANEIRO - CEBRAP
Gráfico 3 – Potencial pedalável das viagens realizadas
na cidade do Rio de Janeiro
Facilmente
pedalável
Pedalável
Não
pedalável
41,3%
8,2%
50,4%
Como vimos anteriormente, o Rio de Janeiro é
uma cidade onde as pessoas utilizam frequentemente o ônibus para se locomover. Dessas
viagens, 27% têm até 5 km e 9% têm entre 5 km
e 8 km. Isso significa que 36% dos deslocamentos feitos com ônibus têm potencial pedalável.6
Considerando apenas os modos motorizados
individuais, verificamos um potencial pedalável
ainda maior. Entre as viagens realizadas com
automóvel7 ou moto, 40% seriam facilmente
pedaláveis e 11% seriam pedaláveis. Esses dados evidenciam um contexto muito importante
para as estimativas de impacto que faremos
mais adiante em relação ao meio ambiente.
3. PERFIL: POPULAÇÃO E VIAGENS
A cidade do Rio de Janeiro apresenta, portanto,
um potencial pedalável significativo, inclusive
nos trajetos realizados em transportes motorizados, importantes na matriz de deslocamentos
do município. Conhecer o potencial da bicicleta como meio de transporte na capital fluminense dá a dimensão da ampla oportunidade
de investir e promover o ciclismo urbano na
cidade.
6) Esse percentual considera idade e horário das viagens.
7) Como motorista, passageiro, ou através de serviços de transporte como táxi e Uber.
IMPACTO SOCIAL DO USO DA BICICLETA NO RIO DE JANEIRO - CEBRAP
17
4. PROJEÇÕES DE
IMPACTO DO USO
DA BICICLETA: MEIO
AMBIENTE, SAÚDE E
ECONOMIA
4. PROJEÇÕES DE IMPACTO DO USO DA BICICLETA: MEIO AMBIENTE, SAÚDE E ECONOMIA
Esta parte do trabalho avalia o potencial impacto da bicicleta na cidade do Rio de Janeiro
no meio ambiente, na saúde e na economia. As
análises descritivas aqui apresentadas identificam o contexto atual do uso da bicicleta para
cada uma das temáticas. Já as projeções têm, a
cada tópico, as seguintes perguntas como norte
para seu cálculo: se a população utilizasse mais
a bicicleta, qual seria o ganho para os indivíduos? E o impacto social desse uso?
18
Em cada parte, detalharemos o processo de
coleta de dados e sua organização para gerar
os resultados aqui apresentados. As análises
e projeções de impacto individual e social do
uso de bicicleta no meio ambiente, na saúde e
na economia para o Rio de Janeiro partiram
de uma série de dados coletados ao longo do
questionário que subsidia esta pesquisa. Os
deslocamentos realizados no dia anterior à pesquisa estão na base das estimativas de potencial
redução de CO2 e foram fundamentais para os
cálculos do impacto na economia. Os dados
referentes à saúde foram captados por meio de
uma seção específica do questionário, em que
foi reproduzida a versão reduzida do IPAQ
(International Physical Activity Questionnaire),
reconhecido internacionalmente. Os elementos
que possibilitaram as comparações sobre vivência da cidade e experiência nos espaços públicos foram captados com perguntas fechadas,
elaboradas estrategicamente para essa análise.
É importante salientar que os caminhos metodológicos adotados nesta pesquisa foram fruto
de um longo processo de estudo por parte dos
pesquisadores e de busca por referências nacionais e internacionais consistentes e passíveis
de adaptação para o caso da bicicleta no Rio de
Janeiro. Esses estudos tornaram possível a primeira pesquisa de impacto do uso da bicicleta,
realizada em São Paulo, e agora as escolhas
foram aperfeiçoadas para a análise sobre o Rio
de Janeiro.
4.1 Meio ambiente
Em relação ao impacto individual no tema
meio ambiente, analisamos as percepções de
ciclistas e da população carioca em relação ao
seu dia a dia na cidade e, de maneira mais específica, sobre as sensações de bem-estar durante
deslocamentos cotidianos dos dois grupos.
Já no que diz respeito ao impacto social, buscamos estimar a redução na emissão de gás
carbônico já obtida pela presença dos ciclistas
e qual seria o nível de redução desse poluente
caso a população carioca adotasse um perfil de
mobilidade por bicicleta em viagens pedaláveis.
A dimensão individual do impacto do uso da
bicicleta foi avaliada a partir dos aspectos positivos e negativos relacionados a experiências
dos respondentes durante as viagens realizadas
na cidade e de como a população geral carioca
e os ciclistas se sentem ao trafegar pelo espaço
público.
Para construir essa análise, partimos de duas
hipóteses centrais. A primeira trata da experiência do indivíduo no seu ambiente urbano
como elemento constitutivo da sua qualidade
de vida (Adams, 2013; Pacione, 2003). A segunda aponta a tendência de ciclistas estarem mais
presentes em espaços públicos externos devido
ao seu perfil de mobilidade, o que teria implicações em sua relação com o espaço urbano,
que seria qualitativamente diferente daquela da
população como um todo.
Os resultados da pesquisa apontam essa diferença na relação com a cidade entre ciclistas
e população em geral. Na comparação com a
população do Rio de Janeiro, o grupo de ciclistas apresenta sensações negativas em menor
frequência ao transitar pela cidade. As proporções dos ciclistas que sentem insegurança,
desconforto, estresse ou irritação sempre ou
quase sempre em seus deslocamentos são cerca
de 10 pontos porcentuais menores que aquelas
da população geral. Isso corrobora a segunda
hipótese, ao mostrar que a maior exposição aos
espaços públicos no deslocamento implica mais
bem-estar para os ciclistas cariocas em relação
à população em geral, que tem sensações negativas mais frequentes em seu trânsito na cidade
(Gráfico 4a).
Uma exceção é o medo de acidente, que está
um pouco mais presente entre os ciclistas. Esse
dado pode estar associado a um problema de
insegurança pertinente à gestão do trânsito na
cidade, que esteve na quarta posição em número de acidentes no país em 2017 (DPVAT,
2018).
Gráfico 4a – Sensações negativas no deslocamento
entre a população do MRJ e os ciclistas
Raramente ou nunca
Às vezes
Sempre ou quase sempre
Estresse ou irritação
28%
39%
28%
50%
32%
População
MRJ
22%
Ciclistas
Medo de atrasar
42%
30%
42%
36%
29%
População
MRJ
22%
Ciclistas
Desconforto
31%
42%
27%
População
MRJ
36%
47%
16%
Ciclistas
Insegurança (assalto, roubo, violência)
14% 24%
62%
População
MRJ
13% 34%
53%
Ciclistas
Medo de acidente
25%
39%
36%
População
MRJ
21%
43%
36%
4. PROJEÇÕES DE IMPACTO DO USO DA BICICLETA: MEIO AMBIENTE, SAÚDE E ECONOMIA
4.1.1. Bem-estar: experiências de conforto e desconforto nos deslocamentos pela
cidade
Ciclistas
19
IMPACTO SOCIAL DO USO DA BICICLETA NO RIO DE JANEIRO - CEBRAP
4. PROJEÇÕES DE IMPACTO DO USO DA BICICLETA: MEIO AMBIENTE, SAÚDE E ECONOMIA
Quando observamos as experiências no deslocamento da população carioca agrupando os
indivíduos por perfil de mobilidade (usa mais
modos ativos, usa mais transporte coletivo,
usa mais transporte motorizado individual),
verificamos as menores proporções de sensações negativas no grupo que usa mais modos
ativos em seu deslocamento (Gráfico 4b). Por
exemplo, 23% sempre ou quase sempre sentem
estresse ou irritação, contra 39% de quem usa
transporte coletivo e 38% de quem usa motorizado individual. Outra diferença que chama
atenção é o medo de atrasar: entre usuários
de modos ativos, 16% têm essa sensação sempre ou quase sempre, bem abaixo dos 42% no
transporte coletivo ou dos 28% no motorizado
individual. Proporções similares podem ser
vistas na sensação de desconforto.
20
A menor proporção de indivíduos com sensação de insegurança e de medo de acidente é, no
entanto, contraintuitiva, na medida em que o
usuário de transporte ativo fica mais exposto
à cidade que os demais (Gráfico 4b). A baixa
insegurança vai também de encontro ao que
se verifica nos dados de roubo na cidade do
Rio de Janeiro (Instituto de Segurança Pública,
2018)8, onde, proporcionalmente, as pessoas
que andam a pé são vítimas de roubo com uma
frequência 82% maior do que a daqueles que
estão dentro de veículos. Isso evidencia que a
sensação de vulnerabilidade não está necessariamente associada à exposição a eventos de
roubo no espaço público em si.
Gráfico 4b – Sensações negativas no deslocamento por
perfil de mobilidade da população
Raramente ou nunca
Às vezes
Sempre ou quase sempre
Estresse ou irritação
Modos 33%
ativos
45%
Transporte 22%
coletivo
23%
40%
Motorizado 26%
individual
39%
39%
38%
Medo de atrasar
Modos 49%
ativos
35%
Transporte 29%
coletivo
29%
Motorizado 44%
individual
16%
42%
27%
28%
Desconforto
Modos 33%
ativos
51%
Transporte 24%
coletivo
17%
39%
Motorizado 33%
individual
38%
42%
25%
Insegurança (assalto, roubo, violência)
Modos 17%
ativos
31%
Transporte 11% 21%
coletivo
Motorizado 11% 18%
individual
53%
68%
71%
Medo de acidente
Modos 25%
ativos
8) INSTITUTO DE SEGURANÇA PÚBLICA. ISP Dados Abertos: Estatísticas de Segurança. Disponível em: <http://www.ispdados.rj.gov.br/estatistica.html> Acesso
em: 15 fev. 2019.
44%
31%
Transporte 23%
coletivo
39%
38%
Motorizado 22%
individual
39%
39%
IMPACTO SOCIAL DO USO DA BICICLETA NO RIO DE JANEIRO - CEBRAP
A pesquisa também comparou a população do
Rio de Janeiro e os ciclistas cariocas quanto às
sensações positivas no deslocamento urbano.
Aqui os resultados mostram semelhanças: em
geral, os dois grupos apresentam baixos níveis
de sensações positivas, ou seja, os deslocamentos no Rio parecem ser agradáveis para poucos.
As diferenças entre os dois grupos aparecem
apenas em sensações positivas ocasionais. Os
ciclistas apresentam uma proporção de 10 pontos percentuais maior dos que, às vezes, têm
sensações positivas em seus deslocamentos.
Além disso, a proporção de ciclistas que raramente ou nunca sentem prazer, relaxamento
ou satisfação ao se deslocar pela cidade é de,
em geral, 15 pontos percentuais a menos que a
da população carioca. Isso mostra que, mesmo
que a sensação positiva no deslocamento seja
pouco frequente, ela é mais presente entre os
ciclistas do que na população em geral.
Gráfico 5 – Sensações positivas no deslocamento
Raramente ou nunca
Às vezes
Sempre ou quase sempre
Prazer em transitar pela cidade
40%
46%
14%
População
MRJ
26%
57%
17%
Ciclistas
Relaxamento
44%
45%
11%
População
MRJ
31%
54%
15%
Ciclistas
Satisfação
39%
49%
12%
25%
Ciclistas
62%
13%
4. PROJEÇÕES DE IMPACTO DO USO DA BICICLETA: MEIO AMBIENTE, SAÚDE E ECONOMIA
População
MRJ
21
IMPACTO SOCIAL DO USO DA BICICLETA NO RIO DE JANEIRO - CEBRAP
4.1.2. Bem-estar: interação com espaço público, percepção de segurança no cotidiano
e percepções de problemas da cidade
Como vimos anteriormente, a presença frequente de sensações positivas no deslocamento
da população carioca, mesmo entre os ciclistas,
é rara. Isso, no entanto, não parece impedir o
grupo de ciclistas de estar mais presente nos
espaços públicos. Nas três situações analisadas,
o grupo de ciclistas tem maior frequência em
espaços públicos: parques, praças, feiras, praia,
calçadão; ruas; bares ou restaurantes com cadeiras na calçada (Gráfico 6).
A proporção de ciclistas que frequentam espaços públicos pelo menos uma vez por semana
é, no mínimo, 1,4 vez a proporção da população carioca. Existe, portanto, maior disposição
dos ciclistas para ocupar os espaços públicos
da cidade, de modo que o incentivo ao uso da
bicicleta pode, indiretamente, resultar em um
incentivo ao uso do espaço público de modo
mais amplo.
4. PROJEÇÕES DE IMPACTO DO USO DA BICICLETA: MEIO AMBIENTE, SAÚDE E ECONOMIA
Gráfico 6 – Frequência com que realizam atividades ao
ar livre (passear, praticar atividades físicas)
22
Pelo menos uma vez por semana
Pelo menos uma vez por mês
Menos de uma vez por mês
Quase nunca/ nunca
Parques, praças, feiras, praia, calçadão etc.
População 29%
MRJ
25%
Ciclistas 48%
19%
21%
28%
15%
15%
Bairros ou ruas
População 22%
MRJ
32%
19%
Ciclistas 45%
29%
26%
10% 16%
Bares ou restaurantes com cadeiras na calçada
População 24%
MRJ
Ciclistas 34%
24%
18%
31%
34%
16%
19%
Por outro lado, embora os ciclistas apresentem
um perfil mais propenso ao uso de espaços
abertos da cidade em relação ao da população geral, o mesmo não pode ser dito sobre a
percepção de segurança na cidade. Ao serem
questionados sobre quão seguro é o local onde
moram e quão seguro é transitar pela cidade, os
ciclistas apresentam as mesmas tendências da
população carioca (Gráfico 7).
Gráfico 7 – Sensação de segurança na cidade
Bastante seguro
Seguro o suficiente
Não é muito seguro
Não é nada seguro
Pensando no seu dia a dia, no seu
bairro ou comunidade, você acha
que o local em que mora é:
População 8% 16%
MRJ
35%
41%
Ciclistas 9% 16%
34%
41%
Pensando no seu dia a dia, na vida na cidade
do Rio de Janeiro, quão seguro você se sente
ao transitar pela cidade:
2% 6%
População
27%
MRJ
Ciclistas
24%
66%
67%
5% 4%
Os dois grupos também são muito parecidos
em sua percepção dos problemas da cidade como um todo. A segurança pública foi
apontada como um problema para mais de
80% da população geral e dos ciclistas – uma
proporção 10 pontos percentuais maior que a
encontrada entre os paulistanos, em 2017. Mais
da metade de ambos os grupos citou ainda a
questão da saúde pública como um problema
relevante.
Essa percepção pode estar relacionada aos problemas de segurança pública da capital carioca,
que acumula territórios em conflito, dominados por milícias, e mesmo por organizações
de tráfico de drogas; além da delicada situação
financeira na qual se encontra o estado fluminense, que reverberou na capital carioca em
falta de investimento e manutenção de serviços
públicos, forçando a população a conviver com
um sistema de saúde precário e ineficiente. A
crise no estado, bem como no município, pode
IMPACTO SOCIAL DO USO DA BICICLETA NO RIO DE JANEIRO - CEBRAP
Gráfico 8 – Percepções sobre principais problemas da
cidade
Gráfico 9 – Percepções sobre principais problemas da
cidade que o afetam pessoalmente
População MRJ
Ciclistas
Segurança/
violência/
criminalidade
79%
79%
57%
59%
Serviços de saúde
deficientes
População MRJ
Ciclistas
34%
33%
Falta de emprego
Segurança/
violência/
criminalidade
82%
82%
57%
54%
Serviços de saúde
deficientes
41%
42%
Falta de emprego
25%
32%
Corrupção
Serviços de
educação
deficientes
18%
17%
22%
22%
Corrupção
Sistema de
transporte público
deficiente
Má administração
pública
Serviços de
educação
deficientes
Venda/ consumo
de drogas
18%
20%
14%
8%
13%
20%
13%
13%
Venda/ consumo
de drogas
15%
10%
A pobreza
9%
6%
Má administração
pública
15%
14%
8%
6%
Sistema de
transporte
público deficiente
Preço alto
da energia /
Aumenta todo mês
13%
13%
A pobreza
Preço alto da
energia / Aumenta
todo mês
11%
7%
4%
5%
Os ciclistas e a população carioca também
estão de acordo sobre os problemas que mais
os afetam pessoalmente (Gráfico 9). Os dados
obtidos aqui apresentam proporções semelhantes às dos problemas que mais afetam a cidade,
com exceção dos transportes públicos, que
aparecem em 5º lugar entre aqueles que mais
afetam pessoalmente a população e os ciclistas cariocas – identificados como problema
por cerca de um quinto da população carioca.
Essa percepção de precariedade no sistema de
transporte público, somada à proporção significativa de viagens pedaláveis na cidade carioca,
permite apontar o uso da bicicleta como uma
oportunidade para políticas públicas do Rio de
Janeiro.
Como vimos, a população do Rio de Janeiro e
o grupo de ciclistas se assemelham no modo de
compreender os problemas da cidade. Os ciclistas, no entanto, passam mais tempo expostos
ao ar livre, têm menor frequência de sensações negativas nos seus deslocamentos e mais
sensações positivas ao transitar pela cidade.
A mobilidade por bicicleta, portanto, tem um
impacto positivo no bem-estar individual no
trânsito na cidade.
4. PROJEÇÕES DE IMPACTO DO USO DA BICICLETA: MEIO AMBIENTE, SAÚDE E ECONOMIA
também estar relacionada à identificação da
falta de empregos como um dos principais problemas na cidade – apontada por mais de 40%
tanto da população como dos ciclistas
(Gráfico 8).
23
IMPACTO SOCIAL DO USO DA BICICLETA NO RIO DE JANEIRO - CEBRAP
4.1.3. Emissão de CO2 por modo de transporte
pelo menos um dos trechos do trajeto para o
modal bicicleta.
O impacto social do uso da bicicleta no meio
ambiente foi estudado a partir do potencial de
redução da emissão de CO2. Duas medidas de
impacto foram calculadas: uma considerando
um cenário em que mais pessoas utilizassem
bicicleta em seus deslocamentos cotidianos; e
outra a partir da utilização atual da bicicleta
para deslocamentos na cidade.
Atualmente, serviços como bicicletários
públicos e bicicletas compartilhadas permitem inserir a bicicleta como um modal de
transporte de maneira flexível no cotidiano.
Com esses equipamentos, as pessoas podem
cumprir o chamado “first/last mile”10 de sua
viagem pedalando. Ou seja, a viagem pode
ser feita combinando modais, e não necessariamente precisa ser feita toda de bicicleta
para gerar impactos sociais positivos.
a) Potencial de redução na emissão de CO2
4. PROJEÇÕES DE IMPACTO DO USO DA BICICLETA: MEIO AMBIENTE, SAÚDE E ECONOMIA
Os deslocamentos realizados por motorizados individuais e ônibus/BRT, passíveis de
ser trocados por bicicleta, representam 18%
de todo o dióxido de carbono emitido pelo
transporte de passageiros da cidade do Rio
de Janeiro.
24
Para realizar essa projeção, utilizamos os
dados relativos aos deslocamentos dos
entrevistados, os quais captamos de forma
semelhante à do instrumento de pesquisa
utilizado pelo Metrô de São Paulo em sua
pesquisa de Origem-Destino. Trata-se de
um questionário completo e validado, que
vem sendo usado nas pesquisas do Metrô
de São Paulo desde 1967, ou seja, conta com
mais de 50 anos de testes e adequações.
Utilizamos aqui a versão do questionário da
Pesquisa de Origem-Destino de 2007 (Metrô, 2008).
A estimativa foi calculada a partir dos
trechos de viagem. Como explicado no
início deste trabalho, trecho de viagem é o
nome que se dá a cada etapa da viagem. Por
exemplo, uma pessoa que sai de casa, pega
um ônibus até o metrô e, depois, caminha
1 km até o trabalho faz uma viagem com
3 trechos: 1º) ônibus, 2º) metrô e 3º) a pé.
Observar o potencial de redução de emissão
de CO2 a partir de trechos pedaláveis de
viagem permite identificar de forma mais
precisa9 o impacto possível da mudança de
No Rio de Janeiro, cerca de 30% dos trechos
de viagens são realizados de modo ativo. Já
aqueles realizados por veículos motorizados
individuais (automóvel ou moto) representam um quinto de todos os trechos, e quase
40% de todos os trechos de viagens são
realizados de ônibus ou BRT. Dessa forma,
59% dos trechos percorridos pelos cariocas
são feitos por meio de veículos motorizados,
o que gera emissões de gases poluentes.
As distâncias percorridas nos trechos foram
calculadas a partir do georreferenciamento
de cada um dos pontos de origem e destino
de cada trecho percorrido pelos respondentes. Trata-se de um trabalho bastante
detalhado e muito importante, pois permite
chegar o mais próximo possível da distância
exata percorrida pelos indivíduos da amostra, o que, por sua vez, dá segurança para
nossas estimativas de impacto.
Já o cálculo da emissão de CO2 foi efetuado
levando em consideração a média mundial
de emissão de CO2 para automóveis e a
emissão de ônibus municipais de São Paulo de 2012 a 2014, pois não existem dados
de emissão de CO2 para a frota carioca.
Os valores de emissão de CO2 para motos
foram apurados por meio da calculadora da
Eccaplan11 e os dados de emissão dos VLTs
e BRTs foram calculados a partir do estudo
da Anptrilhos (2017). Os valores de emissão
9) O estudo de impacto realizado na cidade de São Paulo (Torres-Freire et. al., 2018) considerava apenas as viagens completas passíveis de ser realizadas de
bicicleta.
10) Trajeto pequeno (em geral realizado de ônibus ou mesmo a pé), entre a casa ou o trabalho da pessoa e o transporte estrutural (BRT, metrô, trem).
11) Disponível em <https://calculadora.eccaplan.com.br/>. Acesso em: 10 dez. 2018.
IMPACTO SOCIAL DO USO DA BICICLETA NO RIO DE JANEIRO - CEBRAP
Gráfico 10 – Referência de emissões por modal por
quilômetro por passageiro
130
Moto
88
Ônibus
BRT
22%
Motorizados
individuais
Metrô/Trem/VLT
37%
19%
2%
110
Automóvel
VLT
Participação na distância total percorrida pela população
Paticipação nas emissões de CO2
Ônibus/BRT
Emissão em cCO2e/pkm
Metrô/Trem
Gráfico 11 – Participação dos modais na distância
percorrida pela população e nas emissões de CO2
6
4,5
15
A pé 0
Bicicleta 0
Fonte: Custos de energia, fontes renováveis e emissões de CO2 (apud Metrô,
2011; Metrô, 2018); ANPTrilhos (2017); calculadora Eccaplan (2018).
Para entendermos o contexto de emissão de
CO2 da capital fluminense, analisamos a distância percorrida pela população e o volume
de emissão em cada modal.
Essa análise é muito importante e permitiu
identificar que os motorizados individuais
são os mais ineficientes. Eles cobrem uma
proporção pequena de distância (22%), ao
mesmo tempo em que são responsáveis por
uma parcela elevada da emissão de dióxido
de carbono (37%). Já os ônibus são responsáveis por mais da metade da distância
percorrida pela população (53%) e por 61%
das emissões de CO2. O sistema de trilhos
carioca é o mais eficiente entre os motorizados no quesito ambiental, com uma proporção de distâncias alta (19%) em relação
a uma emissão de CO2 bastante baixa (2%).
Por fim, os modos ativos representam 7%
da distância percorrida e 0% das emissões
(Gráfico 11).
53%
61%
Bicicleta 1%
0%
A pé (mais de
6%
500 metros) 0%
Para calcular o impacto social do uso da
bicicleta no meio ambiente, levamos em
consideração a emissão de CO2 liberada
por motorizados individuais, ônibus e BRTs
somente em percursos que poderiam ser
substituídos por bicicletas, cuja emissão do
poluente é zero.12 Utilizamos como referência a classificação de viagens apresentada
anteriormente (Transport for London, 2016;
Amigo, 2018), adaptada para nosso estudo:
1. Trechos facilmente pedaláveis: de até 5
km, realizados entre 6 h e 20 h, por pessoas com até 50 anos;
2. Trechos pedaláveis: de até 8 km, realizados entre 6 h e 20 h, por pessoas com até
50 anos;
3. Trechos não pedaláveis: trechos que não
se adéquam a nenhuma das classificações anteriores.
12) Optamos por não incluir o transporte sobre trilhos na análise dada a sua evidente eficiência em permitir o transporte da população em grandes distâncias
respondendo por uma fração bastante pequena da emissão de CO2. Dado o volume trafegado, qualquer redução do número de passageiros nas linhas seria
marginal na redução da emissão de CO2.
IMPACTO SOCIAL DO USO DA BICICLETA NO RIO DE JANEIRO - CEBRAP
4. PROJEÇÕES DE IMPACTO DO USO DA BICICLETA: MEIO AMBIENTE, SAÚDE E ECONOMIA
média de CO2 aqui utilizados são de conhecimento público na literatura sobre o tema
(Neun e Haubold, 2016; Vasconcellos, 2008)
e foram calculados pela metodologia do
GHG Protocol Brasil. Esse cálculo permitiu
verificar a média de emissão por modal por
passageiro por quilômetro rodado.
25
Verificamos que os modos motorizados
individuais são responsáveis por 20% e os
ônibus/BRT por 35% de todos os trechos de
viagem. O restante dos trechos de viagem
(45%) é realizado por outros modais. Ao
separarmos os dados por modo de transporte, observamos que 51% dos trechos dos
motorizados individuais e 37% dos trechos
de ônibus/BRT poderiam ser trocados por
bicicleta (Gráfico 12).
Gráfico 12 – Proporção de trechos de viagens por
modo de transporte da população do Rio de Janeiro
e possibilidade de serem pedaláveis/facilmente
pedaláveis
35%
Ônibus/
BRT
Ônibus/BRT
27%
Facilmente
pedalável
10% Pedalável
Assim, constatamos que os 51% de trechos
de viagens pedaláveis cumpridos por motorizados individuais levariam à redução
de 9% de toda a emissão dos transportes
de passageiros da cidade do Rio de Janeiro
(Gráfico 13). Somamos então a este valor os
9% de emissão de CO2 oriundos dos ônibus/
BRT – que se referem aos 37% de trechos
de viagens desse modal que poderiam ser
realizadas por bicicleta. Logo, caso o potencial pedalável fosse atingido, haveria uma
redução da emissão de CO2 de 18%.
Gráfico 13 – Percentual de CO2 emitido por tipo de
viagem e de modal (ônibus/BRT e automóvel) na cidade
do Rio de Janeiro
Facilmente Pedalável
Pedalável
Não Pedalável
Motorizados
individuais
Ônibus/ BRT
5%
4%
28%
5%
4%
52%
4. PROJEÇÕES DE IMPACTO DO USO DA BICICLETA: MEIO AMBIENTE, SAÚDE E ECONOMIA
63% Não pedalável
20%
Motorizados
individuais
45%
Outros
modais
Motorizados
individuais
40% Facilmente
pedalável
11% Pedalável
O potencial de redução de emissão de CO2
por meio do uso mais intenso da bicicleta, como vimos, é notável (18%) na capital
fluminense. Ainda assim, vale lembrar que,
por se basearem na categorização de trechos pedaláveis, os cálculos possuem cortes
de idade (50 anos) e horário de início das
viagens (entre 6 h e 20 h). Isso significa que,
se levássemos em consideração pessoas com
mais de 50 anos e viagens 24 horas por dia,
esse potencial poderia ser ainda maior.
49% Não pedalável
26
IMPACTO SOCIAL DO USO DA BICICLETA NO RIO DE JANEIRO - CEBRAP
Os dados coletados permitem também estimar quanto os ciclistas da capital carioca já
economizam de CO2. Para fazer esse exercício, seguimos o seguinte procedimento:
1. Calculamos a distância D1 pedalada
pelos ciclistas na população geral;
2. Aferimos como a população da cidade
fez suas viagens;
3. Assumimos que a distância D1 seria realizada com o mesmo padrão de deslocamento da população da cidade;
4. Calculamos a emissão economizada
tendo em vista o multiplicador do GHG
Protocol Brasil.
A bicicleta está presente em 3% das viagens
realizadas na cidade do Rio de Janeiro e é
utilizada no deslocamento de 1,5% da população da cidade. Seguindo a lógica de análise apresentada, estimamos que os ciclistas
cariocas são responsáveis pela redução de
1% de todo o CO2 emitido pelo transporte
de passageiros na cidade.
Os exercícios aqui apresentados mostraram
que a bicicleta pode ser uma importante
ferramenta de política pública para o meio
ambiente. A redução na emissão de gases
do efeito estufa é uma agenda global. Como
mostramos, o uso mais intenso da bicicleta
para os trajetos cotidianos poderia proporcionar uma redução de até 18% do CO2
emitido pelo transporte de passageiros da
cidade. Além disso, a bicicleta pode ajudar a
promover uma relação mais positiva com o
deslocamento na cidade.
4.2 Saúde
A bicicleta pode ser um modal de transporte
bastante eficiente quando está inserida em um
arcabouço de políticas públicas que promovam
seu uso. Do ponto de vista da qualidade de
vida, a bicicleta propicia ao ciclista a possibilidade de se exercitar ao longo de deslocamentos
que teriam de ser realizados de qualquer modo,
sem a necessidade de incluir uma atividade física específica no seu cotidiano, como ir a uma
academia, por exemplo.
Para analisar o impacto do uso da bicicleta
na saúde, estruturamos a pesquisa a partir da
oposição entre sedentarismo e atividade física.
Na perspectiva de impacto individual, comparamos os perfis de atividade física da população
do Rio de Janeiro em geral e de ciclistas, com
a hipótese de que o segundo grupo seria mais
ativo.
Já no que diz respeito à dimensão social, partimos da ideia de inatividade física como fator
de risco associado a doenças e projetamos a
potencial economia de recursos no sistema de
saúde caso a população do Rio de Janeiro adotasse um perfil de atividade física semelhante
ao dos ciclistas da cidade.
Para medir o nível de atividade física, esta
pesquisa utilizou um instrumento já validado
pelos estudos em saúde: o Questionário Internacional de Atividade Física, em inglês International Physical Activity Questionnaire – IPAQ.
Assim, por meio do IPAQ, pudemos mensurar
o nível de atividade física dos ciclistas e também o da população carioca de modo geral.
O questionário do IPAQ capta a quantidade
de tempo que a pessoa gasta em dois tipos de
atividade (Celafiscs, 200-?):
1. Moderadas: são aquelas que exigem
algum esforço físico e fazem a pessoa
respirar um pouco mais fortemente que
o normal. Exemplos: pedalar leve na
bicicleta, dançar, nadar, jogar vôlei recreativo, executar serviços domésticos em
IMPACTO SOCIAL DO USO DA BICICLETA NO RIO DE JANEIRO - CEBRAP
4. PROJEÇÕES DE IMPACTO DO USO DA BICICLETA: MEIO AMBIENTE, SAÚDE E ECONOMIA
b) Redução de emissão de CO2 atual
27
casa ou no quintal que façam aumentar
um pouco o ritmo da respiração ou os
batimentos cardíacos;
2. Vigorosas: são aquelas que precisam
de um grande esforço físico e que fazem
respirar muito mais fortemente do que o
normal. Exemplos: correr, fazer ginástica
aeróbica, jogar futebol, pedalar rápido
na bicicleta, jogar basquete, executar
serviços domésticos pesados em casa, no
quintal ou cavoucar no jardim, carregar
pesos ou qualquer atividade que faça
aumentar muito o ritmo da respiração
ou os batimentos do coração.
A partir dos dados coletados, o IPAQ permite
classificar os entrevistados em função do volume (tempo) e da intensidade (força exercida)
das atividades físicas realizadas. Para as análises
aqui apresentadas, utilizamos uma classificação
que segmenta o grupo pesquisado da seguinte
maneira (Bielemann et al., 2010; Garret et al.,
2004):
4. PROJEÇÕES DE IMPACTO DO USO DA BICICLETA: MEIO AMBIENTE, SAÚDE E ECONOMIA
1. Regularmente ativos são aqueles que
se encaixam em uma das condições a
seguir:
a. realizaram atividades vigorosas em
pelo menos 3 dias na semana por pelo
menos 20 minutos por dia;
b. ou atividades moderadas em pelo menos 5 dias na semana por pelo menos
30 minutos por dia;
c. ou realizaram qualquer nível de atividade em pelo menos 5 dias na semana
por pelo menos 30 minutos por dia;
2. Irregularmente ativos: apresentam
atividade física, mas menos do que o mínimo suficiente para serem considerados
regularmente ativos;
4.2.1. Perfil de atividade física de ciclistas e
da população do Rio de Janeiro
Os ciclistas apresentam uma proporção muito
maior de pessoas regularmente ativas em relação à da população carioca. Esse grupo é o que
corre menos risco de contrair doenças relacionadas ao sedentarismo. É importante lembrar
que consideramos ciclista qualquer pessoa que
tenha feito qualquer viagem de bicicleta, ainda
que curta, no dia anterior ao da pesquisa. Ou
seja, não era necessário que a pessoa realizasse todos os seus deslocamentos por bicicleta,
nem mesmo que usasse a bicicleta como meio
de transporte todos os dias da semana. Ainda
assim, entre os ciclistas, não há pessoas inativas
e a proporção regularmente ativa é o dobro da
observada na população do Rio (82% contra
41%) (Gráfico 14).
Além disso, 61% do tempo de atividades físicas
dos ciclistas provêm de seus deslocamentos de
bicicleta. Ou seja, mais da metade do tempo
que faz com que esses ciclistas sejam considerados regularmente ativos está associada diretamente ao fato de eles usarem a bicicleta como
meio de transporte.
Gráfico 14 – Perfil de atividade física da população
Inativos
Irregularmente ativos
Regularmente ativos
16%
43%
41%
Rio de Janeiro
Ciclistas do
Rio de Janeiro
18%
25%
82%
27%
48%
São Paulo
3. Inativos: nenhuma atividade física na
semana.
28
IMPACTO SOCIAL DO USO DA BICICLETA NO RIO DE JANEIRO - CEBRAP
Quando comparamos o perfil de atividade da
população geral com o do grupo de ciclistas a
partir do corte de renda, os achados são bastante interessantes. A comparação entre as proporções de regularmente ativos na população
geral e no grupo de ciclistas mostra que, caso
a população do Rio de Janeiro tivesse o mesmo nível de atividade dos ciclistas, os estratos
de classes A/B e C/D teriam um aumento de
cerca de 40 pontos percentuais na proporção
de regularmente ativos (Gráfico 15). Ou seja,
a bicicleta pode contribuir para o aumento da
atividade física em geral, tanto entre os mais
ricos como entre os mais pobres.
Gráfico 15 – Proporção de regularmente ativos por
classe social
População
Ciclistas
C/D
A partir de informações sobre o nível de atividade física da população coletadas na pesquisa,
identificamos a proporção de inativos e de irregularmente ativos na população. Em seguida,
aplicamos os fatores de risco para as doenças
cardíacas e diabetes (Tabela 3). Para o cálculo
de inatividade física, também consideramos
as variáveis de gravidez e impossibilidade de
prática de atividade. Por fim, elaboramos a projeção de gastos do SUS para o tratamento das
doenças (a partir de gastos com Autorização de
Internação Hospitalar – AIH), considerando a
redução da população inativa e irregularmente
ativa pelo aumento do uso de bicicleta para
deslocamentos.
43%
86%
39%
Tabela 3 – Fator de risco associado ao perfil de
atividade física
Perfil de atividade física
80%
A bicicleta parece, portanto, influir fortemente no nível de atividade física dos indivíduos.
Outra forma de avaliar o impacto da bicicleta
na cidade do Rio de Janeiro é analisar quanto
poderia ser economizado no Sistema Único
de Saúde (SUS) no município se a população
carioca reproduzisse o mesmo padrão de atividade física dos ciclistas, o que apresentamos a
seguir.
4.2.2. Economia no SUS com doenças cardíacas e diabetes
Grupos
Doenças cardíacas 2,0
1,4
1,0
Hipertensão
1,5
1,2
1,0
Infarto
2,0
1,4
1,0
Depressão
e Ansiedade
1,3
1,1
1,0
Diabetes
1,5
1,2
1,0
Câncer de Mama
1,5
1,2
1,0
Osteoporose
2,0
1,4
1,0
Câncer de Cólon
2,0
1,4
1,0
Fonte: Garrett et al. (2004)
Estudos na área da saúde já constataram que
uma pessoa regularmente ativa tem menos
probabilidade de apresentar determinadas doenças (Bueno et al., 2016; Carlson et al., 2015;
Codogno et al., 2015; Bielemann et al., 2010;
Garrett et al., 2004). Entre essas doenças, estão
as cardíacas e diabetes, focos de nossa estimativa de economia dos gastos no SUS.
A estimativa do impacto de economia no sistema de saúde foi feita por meio da aplicação do
fator de risco (relative risk), apresentado nos
IMPACTO SOCIAL DO USO DA BICICLETA NO RIO DE JANEIRO - CEBRAP
Inativo Irregularmente Regularmente
ativo
ativo
4. PROJEÇÕES DE IMPACTO DO USO DA BICICLETA: MEIO AMBIENTE, SAÚDE E ECONOMIA
A/B
estudos de Bielemann et al. (2010) e Garrett et
al. (2004), que calcula o risco de uma série de
doenças crônicas para os diferentes níveis de
atividade física captados a partir do IPAQ.
29
Tabela 4 – Projeção de economia no SUS com doenças do aparelho circulatório e diabetes
Doenças cardíacas
Gastos SUS - Município do Rio de Janeiro (2016)
Economia com redução de inativos
Economia com redução de irregularmente ativos
R$ 38.829.069
Cálculo (%Econ.)
(Inativos SP% - Inativos Ciclistas%)*0,5
%Econ.
8%
Valor Economia
R$ 3.125.740
Cálculo (%Econ.)
(Irr Ativos SP% - Irr Ativos Ciclistas%)*0,28
%Econ.
7%
Valor Economia
R$ 2.641.929
Total economizado
R$ 5.767.669
Diabetes
Gastos SUS - Município de São Paulo (2016)
Economia com redução de inativos
4. PROJEÇÕES DE IMPACTO DO USO DA BICICLETA: MEIO AMBIENTE, SAÚDE E ECONOMIA
Economia com redução de irregularmente ativos
30
R$ 1.848.967
Cálculo (%Econ.)
(Inativos SP% - Inativos Ciclistas%)*0,33
%Econ.
5%
Valor Economia
R$ 98.235
Cálculo (%Econ.)
(Irr Ativos SP% - Irr Ativos Ciclistas%)*0,16
%Econ.
4%
Valor Economia
R$ 71.887
Total economizado
R$ 1.920.855
Os cálculos permitem estimar que, caso a
população carioca tivesse o mesmo padrão de
atividade física dos ciclistas, poderia haver uma
economia de até 19% dos custos do SUS municipal com internações ocasionadas por doenças
do aparelho circulatório e diabetes. Isso equivale a uma economia de R$ 7,7 milhões13 (Tabela
4). Essa estimativa não leva em consideração
custos com medicamentos nem os gastos com
outras doenças. Isso quer dizer que o impacto
na saúde com o aumento do uso da bicicleta
pela população poderia ser ainda maior.
Gastos no SUS com Doenças
do aparelho circulatório
e Diabetes no Município
do Rio de Janeiro (2018)
Total economizado
R$ 40.678.036,70
R$ 7.688.525,43
18,9%
de economia
Portanto, o uso da bicicleta para os deslocamentos oferece aos indivíduos a oportunidade
de incluir a atividade física no seu dia a dia,
promovendo uma vida ativa com mais qualidade e menores riscos de adquirir doenças
crônicas.
13) Houve uma mudança na metodologia de cálculo em relação ao estudo sobre São Paulo (Torres-Freire et al., 2018). Aplicando-se a mesma metodologia de
cálculo, a economia observada na capital paulista seria similar, de 18%.
IMPACTO SOCIAL DO USO DA BICICLETA NO RIO DE JANEIRO - CEBRAP
No caso da economia, o impacto individual
do uso da bicicleta foi estimado a partir do
aumento da renda disponível se os cariocas
usassem a bicicleta em seus deslocamentos
cotidianos. Para isso, utilizamos os dados obtidos das perguntas sobre orçamento familiar
da pesquisa. Como veremos, os cariocas teriam
um potencial aumento da renda disponível se
adotassem a bicicleta como meio de transporte
nas viagens passíveis de ser pedaladas.
Para analisar o impacto social do uso da bicicleta na economia, utilizamos como referencial
os trabalhos de Vianna e Carusi (2017) e Firjan
(2014). Esses autores trabalham com o método
denominado “produção sacrificada”14, que calcula o prejuízo resultante dos engarrafamentos,
considerando que o tempo gasto no trânsito
poderia ter sido utilizado para a produção. Esse
tempo ocioso é monetizado atribuindo-se a ele
um valor com base no valor da hora de trabalho da população estudada. Dessa maneira, a
partir do tempo perdido nos deslocamentos, é
possível estimar quanto deixou de ser produzido em relação ao PIB da região analisada.
4.3.1. Impacto individual do uso da bicicleta como meio de transporte e aumento da
renda disponível
A população teria um potencial de economia significativo caso deixasse seus meios de
transporte habituais e passasse a se deslocar
de bicicleta nos trechos pedaláveis. As pessoas
que utilizam mais transporte público economizariam mais que os usuários de modos
motorizados individuais, pois realizam mais
viagens pedaláveis. A população que usa mais
transporte público reduziria em 10 pontos
percentuais a proporção de seus gastos mensais
com transporte ao passar a usar a bicicleta nos
trajetos cicláveis. Isso significa uma economia
média mensal de R$ 150. Já para os usuários
frequentes de veículos motorizados individuais,
essa queda é de 5 pontos percentuais, com uma
economia média de R$ 124 (Gráfico 16).
Gráfico 16 – Potencial redução da renda pessoal gasta
com transporte por perfil de deslocamento
% médio da renda pessoal gasta com transporte
% médio da renda pessoal gasta com transporte se as
viagens pedaláveis fossem realizadas de bicicleta
Usa mais
motorizado
Individual
15%
R$ 124
Economia
média
mensal
Usa mais
transporte
público
R$ 150
Economia
média
mensal
17%
10%
7%
Para analisar o impacto da bicicleta no orçamento do carioca, estimamos quanto a população do Rio de Janeiro poderia economizar se
realizasse de bicicleta as viagens consideradas
pedaláveis. Para tanto, calculamos o gasto
diário da população com transporte e o substituímos por uma viagem (ou trecho de viagem) com bicicleta. A coleta dos dados sobre
orçamento dos entrevistados foi fundamental
para elaborarmos essa projeção. Nesse cálculo,
consideramos gastos com transporte público,
combustível e estacionamento.
4. PROJEÇÕES DE IMPACTO DO USO DA BICICLETA: MEIO AMBIENTE, SAÚDE E ECONOMIA
4.3 Economia
31
14) Houve uma mudança na metodologia de cálculo do impacto social na economia em relação ao estudo sobre São Paulo (Torres-Freire et al., 2018).
IMPACTO SOCIAL DO USO DA BICICLETA NO RIO DE JANEIRO - CEBRAP
Gráfico 17 – Potencial redução da renda pessoal gasta
com transporte por classe do Critério Brasil
% médio da renda pessoal gasta com transporte
% médio da renda pessoal gasta com transporte
se as viagens pedaláveis fossem realizadas de bicicleta
Classe C/D
Classe A/B
R$ 147
Economia
média
mensal
14%
R$ 151
Economia
média
mensal
18%
9%
4. PROJEÇÕES DE IMPACTO DO USO DA BICICLETA: MEIO AMBIENTE, SAÚDE E ECONOMIA
4%
32
E se as pessoas utilizassem a bicicleta dois dias
por semana para realizar seus trajetos pedaláveis, qual seria a economia? Entre as classes
C/D, haveria uma redução de cerca de 6 pontos
percentuais em seus gastos mensais, com uma
economia média de R$ 61 na renda mensal.
Assim, verificamos que a bicicleta pode ser um
instrumento importante para o incremento de
renda, em especial, para pessoas de classes mais
baixas. Esse grupo, mesmo pedalando apenas
duas vezes por semana, teria um impacto considerável em sua renda pessoal. Vale dizer que
mais de 20% das pessoas da classe C/D declararam que, caso gastassem menos com transporte, usariam o dinheiro para poupar. Existe,
portanto, um anseio por parte dessa população
de guardar e investir seu dinheiro. A diminuição dos custos com transporte permitiria
concretizar essa ambição, beneficiando, assim,
a saúde financeira da população.
4.3.2. Impacto social do uso da bicicleta
como meio de transporte e aumento do PIB
Uma forma de analisar o impacto da bicicleta
na sociedade do Rio de Janeiro é verificar a
influência no PIB do maior uso desse modal
por sua população. Para isso, utilizamos a metodologia da “produção sacrificada”, que mede
o prejuízo resultante dos congestionamentos
nas cidades, considerando que o tempo desperdiçado no trânsito poderia ser utilizado para
a produção econômica. Esse tempo ocioso é
monetizado atribuindo-se a ele um valor com
base no valor da hora de trabalho da população
estudada. Dessa maneira, a partir do tempo
perdido nos deslocamentos, é possível estimar
quanto deixou de ser produzido em proporção
do PIB da região analisada.
Nesse sentido, existe um potencial econômico
importante para o maior uso da bicicleta como
meio de transporte. O Gráfico 18 mostra a
proporção de viagens que seriam mais rápidas
caso esses deslocamentos fossem realizados
de bicicleta. Verificamos que 71% das viagens
pedaláveis (com até 8 km) seriam mais rápidas
se realizadas de bicicleta, com uma redução
média de 13 minutos por viagem.15
Gráfico 18 – Duração das viagens de até 8 km em
minutos caso elas fossem realizadas de bicicleta
6
Saldo tempo em minutios ao trocar por bicicleta
O impacto de economia é ainda mais relevante
quando observamos os resultados por classe
social da população (Critério Brasil). Caso a
classe C/D utilizasse a bicicleta em suas viagens
pedaláveis, seu gasto mensal com transporte
passaria de 18% para até 4%, uma diferença de
14 pontos percentuais em suas rendas pessoais,
resultando, em média, em uma economia de
R$ 151 – diferença maior que aquela observada
entre indivíduos das classes A/B (Gráfico 17).
4
2
Este é o grupo que economizaria tempo
0
-2
-4
-6
-8
-10
15) Nesse cálculo estão incluídas todas as viagens de até 8 km, inclusive aquelas realizadas a pé.
IMPACTO SOCIAL DO USO DA BICICLETA NO RIO DE JANEIRO - CEBRAP
1. 19% das viagens de automóvel de até
8 km de ida ou volta para o trabalho
seriam mais rápidas caso fossem realizadas por bicicleta. O tempo de produção renunciado com esse deslocamento
significa um potencial produtivo de R$
117 milhões, ou um aumento de 0,04%
no PIB da cidade;
2. 26% das viagens de ônibus pedaláveis
têm como motivação o trabalho e seriam
mais rápidas de bicicleta. O tempo de
produção renunciado com esse deslocamento tem um potencial produtivo de
R$ 325 milhões, o que significaria um
aumento de 0,10% no PIB municipal do
Rio de Janeiro;
3. Considerando todos os meios de transporte motorizados (automóvel, moto,
ônibus, BRT, metrô, trem e VLT), 23%
das viagens motivadas por trabalho são
pedaláveis e ficariam mais breves se fossem realizadas de bicicleta. Esse tempo
de produção renunciado tem potencial
produtivo de R$ 525 milhões, e promoveria um aumento de 0,16% do PIB da
cidade.
Figura 5 – Processo de cálculo para projeção econômica
na troca dos motorizados individuais para bicicleta
Modal a se trocar por bicicleta
Motorizado individual
VIAGENS
% do total dos trechos de viagens com até 8 km
que são de ida ou volta ao trabalho e seriam
mais rápidas se realizadas de bicicleta
19%
% do total de trecho de viagens
do modal na cidade
13%
% do total de trechos de viagens da cidade
2%
PIB SACRIFICADO
118milhões
R$
% do PIB municipal
0,04%
4. PROJEÇÕES DE IMPACTO DO USO DA BICICLETA: MEIO AMBIENTE, SAÚDE E ECONOMIA
Para o cálculo do “PIB desperdiçado” por meio
da “produção sacrificada”, consideramos apenas
as viagens de ida ou volta para o trabalho. Chegamos aos seguintes resultados:
33
IMPACTO SOCIAL DO USO DA BICICLETA NO RIO DE JANEIRO - CEBRAP
Figura 6 – Processo de cálculo para projeção econômica
na troca de ônibus para bicicleta
Modal a se trocar por bicicleta
Ônibus
Modal a se trocar por bicicleta
Todos os motorizados
(públicos e individuais)
VIAGENS
VIAGENS
% do total dos trechos de viagens com até 8 km
que são de ida ou volta ao trabalho e seriam
mais rápidas se realizadas de bicicleta
% do total dos trechos de viagens com até 8 km
que são de ida ou volta ao trabalho e seriam
mais rápidas se realizadas de bicicleta
% do total de trecho de viagens
do modal na cidade
% do total de trecho de viagens
do modal na cidade
26%
4. PROJEÇÕES DE IMPACTO DO USO DA BICICLETA: MEIO AMBIENTE, SAÚDE E ECONOMIA
Figura 7 – Processo de cálculo para projeção econômica
na troca de todos os motorizados para bicicleta
15%
23%
13%
% do total de trechos de viagens da cidade
% do total de trechos de viagens da cidade
PIB SACRIFICADO
PIB SACRIFICADO
R$
R$
% do PIB municipal
% do PIB municipal
0,10%
0,16%
5%
325milhões
7,7%
525milhões
34
IMPACTO SOCIAL DO USO DA BICICLETA NO RIO DE JANEIRO - CEBRAP
Essas comparações dão dimensão do potencial
do uso da bicicleta como meio de transporte, tanto como fator de economia de recursos
quanto como fator de geração de riqueza. O
Rio de Janeiro tem um grande potencial cicloviário. Embora a cidade tenha avançado
bastante nos últimos 6 anos em implantação de
infraestrutura cicloviária (Torres, 2019), ainda
é bastante carente de conexões que permitam
que as pessoas consolidem o uso da bicicleta no
seu cotidiano.
16) Estimativa obtida a partir do valor gasto em construção de infraestrutura cicloviária da cidade de São Paulo dividido pela quilometragem implantada no
período de expansão da malha (2014-2016).
17) A base de cálculo é o valor atualizado para 2016 (via IPCA) pela WTorre JK: <http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2014/08/ciclopassarela-que-liga-parque-ciclovia-e-inaugurada-em-sp.html>. Acesso em: 15 jan. 2019.
18) Considerando o preço médio de uma bicicleta elétrica de R$ 4.500.
IMPACTO SOCIAL DO USO DA BICICLETA NO RIO DE JANEIRO - CEBRAP
4. PROJEÇÕES DE IMPACTO DO USO DA BICICLETA: MEIO AMBIENTE, SAÚDE E ECONOMIA
A bicicleta como meio de transporte tem,
portanto, um potencial econômico expressivo
para a cidade do Rio de Janeiro. Se 2% das viagens realizadas com automóveis fossem feitas
por bicicleta, o PIB municipal teria um ganho
potencial de até R$ 118 milhões. Esse recurso
equivale, por exemplo, à construção de cerca
de 470 km de ciclofaixas e ciclovias.16 O tempo
produtivo ganho com aqueles que poderiam
trocar o ônibus pela bicicleta geraria R$ 325
milhões ao PIB municipal, o suficiente para
construir, aproximadamente, 47 ciclopassarelas.17 Outro exemplo seria considerar a troca de
todas as viagens motorizadas que seriam mais
rápidas se feitas pedalando. Nesse caso, o ganho no PIB seria de R$ 525 milhões, montante
suficiente para comprar uma frota de mais de
116 mil bicicletas elétricas.18
35
5. PERCEPÇÕES SOBRE
O USO DA BICICLETA
Mostramos até agora como o uso mais frequente da bicicleta como transporte teria impactos
relevantes na melhoria de diversos aspectos da
vida dos cariocas e na cidade do Rio de Janeiro.
Existem outras questões, entretanto, que
tendem a dificultar a ampliação do uso da
bicicleta. Esta seção, dividida em duas partes,
dedica-se a analisar as percepções que levam ao
uso do modal e também o que dificulta a maior
utilização da bicicleta.
A primeira parte trata da disposição e da motivação para a adoção de bicicleta como meio
de transporte entre aqueles que não pedalam
atualmente. A segunda parte busca entender o
que levou os ciclistas a adotar a bicicleta como
meio de transporte e o que os faz persistir no
uso desse modal.
5. PERCEPÇÕES SOBRE O USO DA BICICLETA
5.1 Disposição e motivação
para adoção da bicicleta entre
a população do Rio de Janeiro
que não usa bicicleta
A despeito do potencial impacto da utilização
da bicicleta, o processo de promoção do uso
desse modal pela população será um grande
desafio para o poder público e para movimentos sociais na cidade. Ainda que mais de 30%
da população tenha se mostrado disposta ou
muito disposta a abrir mão de outros modais e
adotar a bicicleta em seus deslocamentos cotidianos, metade da população carioca não está
disposta a fazer essa troca.
Gráfico 19 – Disponibilidade para utilizar a bicicleta
como meio de transporte entre não ciclistas
Muito disposto
Disposto
Nem disposto, nem indisposto
Com pouca disposição
Sem nenhuma disposição
Total 11% 21%
Masc 14%
24%
Fem 8% 16%
De 16 a 34 15%
28%
De 35 ou + 8% 17%
Classe A/B 10% 22%
Classe C/D 11% 19%
9% 11% 49%
10% 12% 41%
9% 10% 58%
10% 14%
33%
7% 10% 57%
7% 10% 51%
11% 15%
44%
Há uma maior disposição para a adoção da bicicleta por homens de até 34 anos19, e os maiores níveis de rejeição estão entre as mulheres
mais velhas. Esses dados vão ao encontro do
que se sabe por meio das contagens realizadas
no Rio de Janeiro ao longo dos últimos 10 anos
(TA, 2009, 2011, 2012, 2013, 2016, 2017): a
bicicleta é utilizada sobretudo por homens. Isso
significa que as políticas cicloinclusivas precisam ser pensadas não apenas para promover o
uso da bicicleta na população de forma geral,
mas também considerando políticas específicas
que promovam a diversidade de gênero e idade
entre os ciclistas.
Examinamos também quais fatores levariam
as pessoas a utilizar a bicicleta como meio de
transporte (Gráfico 20). Para os cariocas, a
infraestrutura cicloviária apareceu como um
ponto-chave para essa decisão, mesmo entre
aqueles que mostraram pouca ou nenhuma disposição para pedalar. Em segundo lugar, aparecem a praticidade na locomoção e a exposição
a menor violência na cidade. Isso sugere que a
percepção sobre a violência na cidade afeta as
escolhas de determinados modais na cidade.
36
19) Esse também foi o resultado em São Paulo.
IMPACTO SOCIAL DO USO DA BICICLETA NO RIO DE JANEIRO - CEBRAP
Gráfico 20 – O que levaria a utilizar a bicicleta como meio de transporte
Muito dispostos e dispostos
Infraestrutura viária p/ bikes (mais ciclovias, ciclovias melhores)
37%
Menos violência na cidade (roubos)
21%
Praticidade, conforto e rapidez
21%
Se não tivesse restrições de acesso (financeiro, posse)
18%
Comportamento no trânsito
18%
Para economizar (gastar menos com transporte, combustivel)
9%
Trajeto favorável geograf. (relevo, distan. curtas)
8%
Motivação Pessoal (aprender a andar, coragem)
2%
Lazer
2%
Utilizaria apenas se não tivesse outra alternativa
1%
Não sabe
1%
Pouco ou nada dispostos
Nada, não gosta, tem medo
61%
Infraestrutura viária p/ bikes (mais ciclovias, ciclovias melhores)
13%
Menos violência na cidade (roubos)
9%
Comportamento no trânsito
9%
4%
Utilizaria apenas se não tivesse outra alterantiva
3%
Se não tivesse restrições físicas (saúde, idade)
3%
Motivação Pessoal (aprender a andar, coragem)
2%
Praticidade, conforto e rapidez
2%
Se não tivesse restrições de acesso (financeiro, posse)
2%
Não sabe
3%
Quase um quinto dos cariocas apontou também o comportamento no trânsito e as limitações financeiras como razões para não utilizarem a bicicleta como transporte. Lembramos,
mais uma vez, que o Rio de Janeiro figura entre
as cidades com maior número de acidentes do
Brasil, e os dados parecem refletir a percepção
da população sobre a violência no trânsito
carioca.
A promoção da bicicleta como meio de transporte na cidade do Rio de Janeiro deve ocorrer, portanto, pela ampliação e pela melhoria
da malha cicloviária existente, mas também
precisa incluir outras ações que enfrentem
problemas que inquietam a população, como a
segurança pública e a violência no trânsito.
5. PERCEPÇÕES SOBRE O USO DA BICICLETA
Trajeto favorável geograf. (relevo, distan. curtas)
37
IMPACTO SOCIAL DO USO DA BICICLETA NO RIO DE JANEIRO - CEBRAP
5.2 Motivos para o uso
da bicicleta entre ciclistas
e satisfação em relação a
ciclovias
Mais de 80% dos ciclistas utilizam a bicicleta
ao menos 5 vezes por semana (Gráfico 23). Isso
indica que, a partir do momento em que as
pessoas começam a usar a bicicleta, elas tendem a adotá-la cotidianamente. Existe, portanto, um real potencial de atração da bicicleta
como modal alternativo.
A maioria dos ciclistas (64%) utiliza a bicicleta como meio de transporte há mais de 4
anos (Gráfico 21). Como já apontavam nossas
projeções, a bicicleta é percebida pelos ciclistas como um modal alternativo que permite
a economia de tempo nos deslocamentos e de
recursos financeiros, diminuindo os gastos com
tarifas, combustíveis ou estacionamento (Gráfico 22). A preferência pela bicicleta em função
da economia de tempo vai ao encontro do que
já havíamos demonstrado sobre as sensações
durante o deslocamento dos ciclistas na capital
fluminense, que declararam ter medo de atrasar e desconforto com menos frequência que a
população carioca como um todo.
Gráfico 23 – Dias de uso da bicicleta (lazer ou
transporte)
Quantos dias por semana você utiliza
bicicleta (lazer ou transporte)?
2 Dias 1%
3 Dias
42%
Menos de 4 anos
De 4 a 10 anos
10%
21%
5 Dias
6 Dias
12%
7 Dias
50%
Você costuma usar a bicicleta:
Gráfico 21 – Tempo de uso da bicicleta
36%
7%
4 Dias
2%
Mais aos
finais de
semana
73%
Tanto em
finais de
semana
quanto em
dias úteis
22%
25%
Mais em
dias úteis
Mais de 10 anos
Gráfico 22 – Motivação para uso da bicicleta como meio de transporte
Motivo principal
48%
Por economia: é mais barato, não gasto ou economizo
29%
Por tempo: é mais rápido, não fico no trânsito
12%
Por saúde: é mais saudável, faço exercício
6%
Por falta de opção: não tenho outras alternativas de transporte
5. PERCEPÇÕES SOBRE O USO DA BICICLETA
Por prazer: gosto de andar de bicicleta
Por conforto: evito ônibus e metrô cheios
4%
1%
Total de motivos
Por economia: é mais barato, não gasto ou economizo
80%
Por tempo: é mais rápido, não fico no trânsito
74%
Por saúde: é mais saudável, faço exercício
67%
Por prazer: gosto de andar de bicicleta
36%
Por conforto: evito ônibus e metrô cheios
Por falta de opção: não tenho outras alternativas de transporte
Pelo meio ambiente: é menos poluente, é bom pra cidade
17%
10%
8%
38
IMPACTO SOCIAL DO USO DA BICICLETA NO RIO DE JANEIRO - CEBRAP
Pouco mais da metade dos ciclistas utiliza as
ciclovias da cidade. No entanto, são justamente
os ciclistas mais pobres (da classe C/D) que
menos usam as ciclovias (Gráfico 24). Esse
cenário parece estar relacionado com a falta de
acesso, uma vez que existe uma concentração
geográfica das ciclovias em regiões mais ricas
da cidade e 100% dos ciclistas indicaram que
as ciclovias são importantes ou indispensáveis
para o uso da bicicleta para transporte no Rio
de Janeiro (Gráfico 25).
conservação da infraestrutura existente. Ainda
assim, apenas um terço dos ciclistas consideram esse item satisfatório.
Gráfico 24 – Uso das ciclovias, para o grupo de ciclistas
e por classe
Conservação (manutenção, limpeza,
iluminação, pavimentação)
Você utiliza as ciclovias da
cidade do Rio de Janeiro?
53%
Sim
% de ciclistas de cada
classe que utilizam as
ciclovias do Rio
47%
Não
Gráfico 26 – Avaliação das ciclovias
Insatisfeito
Indiferente
Satisfeito
Integração ao sistema de transporte público (ônibus, etc.)
56%
61%
22%
22%
8% 31%
Conexão entre as ciclovias
65%
15%
20%
63%
48%
Qualidade da ciclovia (largura, obstáculos, desvios)
64%
Classe A/B
8% 28%
Classe C/D
Informação e sinalização sobre os caminhos das ciclovias
Gráfico 25 – Importância da ciclovia para o uso da
bicicleta como meio de transporte
68%
8% 24%
Respeito dos motoristas e pedestres às ciclovias
Indispensável
Importante
59%
41%
Pouco ou nada importante: 0%
Ainda que em seus deslocamentos cotidianos
sintam desconforto ou estresse menos frequentemente que a população em geral, os ciclistas
avaliam a experiência de pedalar nas ciclovias
do Rio como negativa (Gráfico 26). Há insatisfação em relação à distribuição das ciclovias
pela cidade (68%), o que pode estar associado ao fato de quase metade dos ciclistas não
utilizar a infraestrutura disponível. Além disso,
69% dos ciclistas estão insatisfeitos com o respeito de motoristas e pedestres às ciclovias. Se
antes verificamos que a população carioca teme
a adoção da bicicleta em função da violência no
trânsito, os ciclistas parecem sentir na pele essa
situação. O aspecto mais bem avaliado foi a
IMPACTO SOCIAL DO USO DA BICICLETA NO RIO DE JANEIRO - CEBRAP
69%
13%
18%
Existência e distribuição das
ciclovias nos caminhos que eu faço
68%
10% 22%
Os ciclistas usam a bicicleta de modo intenso
com o intuito de economizar tempo e dinheiro.
Entretanto, como mostra sua avaliação negativa
da infraestrutura cicloviária, eles encontram
uma estrutura bastante deficiente para pedalar.
A menor proporção de ciclistas que utilizam
ciclovias entre as classes C/D denota ainda uma
concentração da infraestrutura em locais da
cidade de maior renda. Pensar a malha cicloviária tomando como referência os terminais de
alta e média capacidade pode ser um instrumento de promoção do uso da bicicleta entre
aqueles que moram longe das áreas que con-
5. PERCEPÇÕES SOBRE O USO DA BICICLETA
Quão importante você diria que é a ciclovia para
você usar a bicicleta como meio de transporte?
39
centram o maior volume de empregos (Centro
e Zona Sul).
6. CONSIDERAÇÕES
FINAIS
A mobilidade é um dos temas mais importantes na agenda de pesquisa sobre as metrópoles
e na pauta de políticas públicas das grandes
cidades brasileiras. A centralidade do automóvel no território urbano produziu cidades que,
muitas vezes, são inóspitas para seus próprios
habitantes. A promoção da mobilidade ativa
é essencial para a retomada do espaço urbano
pela população, permitindo a apropriação da
cidade pelos seus habitantes.
Este trabalho foi elaborado com o objetivo
de demonstrar como o uso da bicicleta pode
ser benéfico para a cidade do Rio de Janeiro.
Verificamos que as sensações nos deslocamentos pela cidade são melhores entre os ciclistas.
Além disso, os ciclistas estão mais presentes no
espaço público e têm uma sensação de segurança maior. Pedalar cotidianamente parece,
portanto, influenciar positivamente a relação
do cidadão com a cidade.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Além disso, observamos que a adoção da
bicicleta nos trechos pedaláveis que hoje são
realizados pela população em veículos motorizados (ônibus, BRT e motorizados individuais)
poderia reduzir em até 18% a emissão CO2 pelo
transporte de passageiros da cidade do Rio de
Janeiro.
40
Estimamos também o impacto da bicicleta na
saúde das pessoas, mostrando que a adoção
pela população do padrão de atividade física
dos ciclistas implicaria uma economia de até
19% nos custos do SUS municipal com internações por doenças do aparelho circulatório e
diabetes. Isso equivale a uma economia de R$
7,7 milhões.
Na economia, as evidências mostram que a
adoção da bicicleta nos deslocamentos promove uma economia importante para o orçamento
pessoal da população, favorecendo principalmente os cariocas das classes C/D, que reduziriam seus gastos com transporte de 18% para
4% da renda pessoal, uma economia média de
R$ 151 mensais. Além disso, caso a população
que utiliza veículos motorizados passasse a
realizar suas viagens pedaláveis de bicicleta, o
tempo economizado nos trajetos teria potencial
produtivo correspondente a um acréscimo de
R$ 525 milhões no PIB da cidade do Rio de
Janeiro.
A análise do impacto do uso da bicicleta leva à
conclusão de que vale a pena investir em políticas e projetos de ampliação do uso da bicicleta
na cidade do Rio de Janeiro. Mais do que isso,
esse investimento é necessário, especialmente
se levarmos em consideração a insegurança e o
medo de violência que acometem a cidade. A
bicicleta, embora não possa combater a crise na
segurança pública, pode ser um instrumento
estratégico para trazer as pessoas novamente
ao espaço público e aumentar a sensação de
segurança nas ruas.
Este estudo não esgota as possibilidades de
mensuração do impacto da bicicleta na cidade
do Rio de Janeiro. Há outros campos possíveis
a se explorar, como, por exemplo, o impacto
econômico na cadeia produtiva da bicicleta na
cidade. Ou: quantas pessoas são empregadas
pela indústria e venda de bicicleta no território
carioca? Qual o tamanho do mercado, formal e
informal, de vendas de bicicleta? Qual a economia de recursos a ser alcança no sistema de
saúde com a prevenção de outras doenças (que
não as do aparelho circulatório e diabetes)? Ou,
ainda: qual a dimensão da atividade de bike
courier na economia e na logística das entregas na cidade? Portanto, há uma ampla agenda
de pesquisa para dimensionar os impactos do
uso da bicicleta nas cidades e na vida de seus
cidadãos.
Este trabalho buscou trazer dados e insumos
relevantes para os gestores locais em suas tomadas de decisão e para os interessados no uso da
bicicleta como um meio de transporte. Esperamos ter contribuído para o avanço da discussão
sobre mobilidade ativa na cidade, evidenciando
IMPACTO SOCIAL DO USO DA BICICLETA NO RIO DE JANEIRO - CEBRAP
o potencial da bicicleta na vida urbana carioca
e também na de outros centros urbanos.
7. REFERÊNCIAS
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