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segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Até quando?

Na última revista que trabalhei, costumávamos brincar que, quando não nos ocorria um título de forma alguma para a matéria, poderíamos sempre usar a manchete "Até quando?". Por não se referir a nada e abranger tudo, o título caberia em qualquer matéria. Pode fazer o exercício. Serve para tudo e nada ao mesmo tempo.




Brincadeiras à parte, para este post o título é completamente adequado e é uma interrogação que faço da forma mais ampla. Mas dirijo a pergunta, sobretudo, às autoridades. A sociedade não ouso questionar porque, ao que parece, qualquer questão que envolva violência e que não seja diretamente ligada a si ou aos seus, não importa, banalizou-se a ponto de vermos os atos acontecerem na nossa frente e desviarmo-nos prontos para deixar para trás os outros que, hipoteticamente, são estranhos.


Até quando teremos a sensação de insegurança? De impunidade? De medo? Aconteceu de novo, na mesma avenida Paulista que já louvei algumas vezes neste blog. Que palmilhei com meus próprios pés como nenhuma outra rua nesta cidade. Que, se diz, é a avenida mais rica da América Latina. Que é uma das principais marcas desta cidade. Aconteceu de novo, este final de semana, quase no mesmo ponto, de novo na estação Brigadeiro do metrô: um casal de gays foi atacado por uma outra gangue de cinco.


Repare: foram cinco pessoas novamente. Não aqueles cinco - dos quais quatro menores de 18 anos estão recolhidos à Fundação Casa e o maior continua feio, leve e solto por aí e, ao que parece, foragido - de antes, mas outros cinco que se deram, também, o direito de atacar pessoas por serem homossexuais.


Atacaram praticamente da mesma forma. O conteúdo também é o mesmo: homofobia. Até agora, enquanto escrevo, imagino que a poucas quadras daqui de casa, cada gay que passar pelo local terá vivo na mente que pode ser atacado ali, naquele exato lugar que fica, assim, estigmatizado pela gratuidade do preconceito.


Ao que parece, os cinco rapazes da nova gangue houveram por bem substituir a outra desmantelada gangue. E, até aqui, foram bem-sucedidos. Não tiveram receio nem um pouco de uma câmera a lhes filmar o ato: cometeram a violência certos da ausência total de punição.


Dá para acreditar que, depois do primeiro episódio, dissipados os vapores daqueles golpes, um bando de moleques covardes teve a audácia de atacar gratuitamente? Até quando, eu me pergunto, até quando teremos episódios deste tipo, sucessivamente, sem que a polícia interfira? Sem que a avenida mais rica seja capaz de se manter como um local seguro?


E observe que, se policiamento não existe, há câmeras em toda a extensão da avenida, há segurança privada, há pedestres que jamais a deixam deserta. E ninguém foi capaz de fazer nada, uma vez mais. Um dos rapazes correu para pedir ajuda para a polícia e quando voltou o outro estava inconsciente no chão, de novo. Até quando? São Paulo, é a tua avenida que se vestiu de natal, que tem uma praça de natal, que celebrou a própria abertura de natal ontem mesmo, domingo. Domingo que, 15 horas antes, para os dois não foi o natal, e sim a morte. A pequena morte da violência cotidiana que se apresenta sob as mais variadas formas e cujo único fato que a liga a todos os demais fatos semelhantes é a dor dos que, vitimados, sentem-se desprotegidos, pequenos diante de tão grande omissão.


Até quando?

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Filhos da paz

No dia 14 de novembro, um domingo, por volta de 6:30 horas da manhã, a cerca de quatro quadras de onde moro, na estação Brigadeiro do Metrô, avenida Paulista, cinco jovens - um maior, de 19 anos, e os demais menores, entre 16 e 17 anos -, agrediram covardemente pelo menos cinco outros jovens (quatro na região da Paulista e um em Moema). O grupo dos cinco agressores, como você pode ver pelo vídeo abaixo, ataca, com uma lâmpada fluorescente, de forma totalmente gratuita, um dos passantes. Depois, na parte que não aparece no vídeo, os demais chutam e espancam um deles.





A polícia agiu rapidamente e conseguiu identificar os agressores, que ficaram retidos. Mas, por conta de juízes talvez, eles mesmos, eivados de preconceito, os cinco foram soltos. Depois, o vídeo acima e testemunhas confirmaram a gratuidade do ataque e a Justiça determinou que os quatro menores fossem recolhidos à Fundação Casa, que abriga menores infratores no Estado de São Paulo. O quinto agressor deve ser detido porque a polícia pediu sua prisão preventiva.


Por ora, os quatro menores estão detidos. O maior, único que permanece em liberdade, aguarda julgamento do pedido de prisão preventiva. Ontem, domingo, li a entrevista que um dos pais de um dos menores deu a um jornal. E me saltou aos olhos uma das frases: "Meu filho é da paz". Dois outros pais disseram o mesmo de seus filhos, em outras palavras.


Em resumo, são todos da paz, pacíficos, verdadeiras unidades pacificadoras civis, que andam como vândalos pelas ruas e atacam todos os que lhe parecerem "viados", "bichas", "frutinhas" e que ousarem lhes olhar na rua. Foi o que alegaram, aliás: que haviam sido paquerados pelos agredidos.


Fiquei tão indignado ao ler a entrevista desse pai (que tem 43 anos) e é identificado como ator e diretor que me recusei a escrever sobre o tema no meu Rugido. Me calei. A indignação foi tamanha que não coube na expressão das palavras. Achei por bem destilar o ódio noite adentro e deixar de instilar, com isso, mais ódio ao caso.


Não importa o motivo alegado pelos agressores. O que importa é o que um caso desses representa: a mais completa intolerância contra quem age diferente. Fala-se muito no termo "tolerância". Tolerar significa aceitar com indulgência. Percebe a sutileza do "com indulgência"? Indulgência é indulto, perdão e vem do arcabouço teológico católico. Portanto, é um códex cristão, baseado na moral da igreja romana. Sou contrário ao termo tolerância. Sou contrário ao seu verdadeiro significado. Prefiro aceitação. Por favor, não me tolere. Não sou ovelha de rebanho cristão para ser tolerado ou não e muito menos me submeto aos cânones da igreja para ser por ela avaliado e perdoado ou não.


É como se, numa transliteração, me falassem: "perdoai-os (aos agressores), eles não sabem o que fazem". De forma alguma. Sabem e foram cultivados dentro do seio familiar com esse ódio, esse rancor. De algum lugar veio essa completa aversão ao diferente. Se não foi exatamente dos pais, foi da escola, dos amigos, dos pais dos amigos e, por consequência, com a aprovação latente dos pais.


O termo correto é aceitação. Me aceitem ou não. Não me tolerem. E não me agridam com palavras que soam deslocadas nesse contexto. Como uma pessoa que acaba de quebrar lâmpadas na cabeça alheia pode ser da paz? Como um chute em um corpo caído pode vir de um ser da paz? Que incongruência!
Me aceitem ou não. Se não querem me aceitar, danem-se. Tampouco preciso da aceitação alheia. Mas, se eu passar a não aceitar você, você e você, isso não me dá o direito de agredi-los. Não! Olho para você na rua, um(a) estranho(a) e te agrido porque, eventualmente, vi no seu olhar um brilho de cobiça? Que ridículo!


Esse mesmo pai que chama da "paz" a criatura que legou ao mundo afirma que o filho "homenzarrão" (por certo, o pai não sabe o sentido nato dessa palavra), não para de chorar e tem sofrido. Oras! Duas das vítimas ficaram bastante machucadas. Com o rosto e o corpo cheios de hematomas. Desconheço iniciativa de quaisquer um desses pais "da paz" de procurar as vítimas e lhes pedir desculpas. E de reconhecer que quem tem sofrido, no corpo, literalmente, são as vítimas. Não os agressores.


O episódio, por enquanto, criou alguns manifestos e fez com que o Senado Federal, pressionado por entidades ligadas à Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transexuais (ABGLT), liberasse verba de R$ 300 milhões para ações de combate à homofobia.


Em um momento que o Rio de Janeiro combate a violência de forma avassaladora, o episódio da avenida mais famosa da América Latina tem que ser avaliado pelo que significa: é dessas demonstrações de ódio dos "filhos da paz" que se fomentam a grande violência que, de uma forma ou de outra, compõe todo o quadro violento deste País. A tal "tolerância" não existe, estou certo disso. Existe condescendência, numa tentativa velada de esconder o preconceito que, ao primeiro movimento, se expõe da forma mais crua possível.


Os "filhos da paz" são uma alegoria. Gays não têm paz. E por mais que me afirmem o contrário, insisto em que não evoluímos. Se jovens de 16 a 18 anos se acham no direito de bater em gays gratuitamente, isso significa que a geração Y, tão moderna e plugada, não passa de um bando de brutamontes que mantêm ranços medievais tal qual seus pais, avós,  bisavós e demais antecedentes? Espero que não. Filho da paz sou eu que nunca levantei a mão para ninguém na minha vida. Me respeitem!


P.S. Pela lei brasileira, menores não podem ser identificados pela mídia. Mas, na internet, circulam todos os dados dos agressores. Vou chamá-los aqui de A, B, C e D. A mora na Vila Mariana. B mora na Bela Vista (aqui atrás de casa) e o pai dele foi preso no ano passado pela Interpol. C também mora na Vila Mariana, pratica musculação, muay thai e jiu tisu. D mora no Itaim Bibi. O maior, de 19 anos, é Jonathan Lauton Rodrigues, da Vila Mariana, e é instrutor de jiu jitsu. Os bairros são de classe média (alta, eu diria) da cidade de São Paulo e, portanto, não se pode nem argumentar que veem de periferias abandonadas, como é comum alegar nesses casos.

sábado, 27 de novembro de 2010

Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós

Uma moradora, singelamente, se aproximou da repórter e lhe entregou uma caixa de fósforos. Não quis se identificar e saiu rapidamente. A repórter abriu a caixa de fósforos e dentro havia uma carta de agradecimento aos oficiais da Polícia Militar do Rio de Janeiro e da Marinha e passagens do samba-enredo do Carnaval de 1989 da escola de samba Imperatriz Leopoldinense (veja vídeo da música abaixo).





Esse é o trecho, entre tantos, que destaco da ocupação das favelas cariocas pela polícia e Forças Armadas, ou seja, pelo Estado. Porque foi o Estado que deixou isso acontecer e agora precisa agir como se fossemos uma representação de Israel e Palestina, com ocupações de territórios e intifadas.


As pessoas, como a moradora acima, comemoram, agradecem, rezam e acreditam que, agora, o Rio de Janeiro estará livre da pestilência do narcotráfico. Em ação cinematográfica que já dura dias, a ação policial e militar tem sido chamada de "Tropa de Elite 3", como se fosse a continuação do filme que alça a polícia carioca - e o Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) - a patamares inimagináveis. O filme, aliás, consagra o comandante do Bope como um verdadeiro herói.


E herói foi uma das palavras escritas pela moradora no bilhete da caixa de fósforos. Mas, por que heróis, se são apenas agentes desde sempre destinados a nos proteger? E por que o Estado deixou a situação da cidade mais linda do Brasil (e quiçá do mundo) chegar neste estado?


Não vejo como heróicos os avanços no Rio de Janeiro. A imagem mais significativa até agora foi a da debandada de bandidos da Vila Cruzeiro para o Complexo do Alemão (que reúne 15 favelas): tudo registrado pelas câmeras da TV (vídeo abaixo). Os bandidos, longe de se constrangerem, acenavam com as armas para mostrar o eventual poder de fogo que têm.





A explicação para o estado de abandono em que se converteram as favelas do Rio (e de São Paulo, do Recife, Salvador, Fortaleza, Manaus...) é uma só: aonde o Estado não exerce o papel de Estado, outros o farão. No Rio, além dos bandidos do narcotráfico, as pessoas ainda convivem com as milícias, que, na minha opinião, não diferem em grau algum dos bandidos. Pois que milícias não são um poder constituído. São ilegais e, portanto, estão à margem do Estado de direito, assim como estão os marginais.


Não, não celebro ao ver a transmissão em tempo real dessa peculiar Guerra do Golfo brasileira. Me entristeço. Porque estamos a celebrar como se fosse um salvo-conduto para um novo mundo. Obviamente, isso não ocorrerá porque a raiz continua podre. A superfície pode até parecer limpa. Mas, se o subterrâneo que alimenta a raiz não for eliminado, nada mudará. Será apenas o clamor desta operação. Porque o fundamento tem raízes profundas em toda a estrutura desta que se quer uma Nação, que se quer um ator global, com influência no mundo civilizado.


Trabalho ao lado de um outro complexo de favelas em São Paulo. São as favelas do Jaguaré - Rocinha, Moinho, Diogo Pires, Nova Jaguaré (considerada a maior de São Paulo) e outras que nem se sabe ao certo os nomes. É o Complexo do Jaguaré. Eventualmente, à tarde, ouve-se o pipocar de fogos na região das favelas. No Brasil, qualquer um de nós sabe que é o sinal para avisar que novos carregamentos de drogas chegaram. Isso acontece em qualquer lugar do País, inclusive na minha cidade natal que tem, ela própria, a rua do narcotráfico.


Não importa para onde se olhe, portanto, a capilaridade da violência é superior a qualquer outro sistema no Brasil. A violência - drogas, armas, roubos, assassinatos - tem densidade mais alta do que a água, a luz, o telefone, os esgotos. É o maior feito desse País: a inclusão social pela violência. É apenas nesse nível que, verdadeiramente, somos, classes A, B, C, D e E, todos iguais, enfim, sob as asas que se querem da liberdade, mas são, verdadeiramente, da violência.

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Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

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