Desafios
Desafios
Desafios
Salvador/BA
2016
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RESUMO
O tema desse trabalho envolve a análise de uma forma específica de realização de
pesquisa, qual seja, a empírica, que tem como nota diferenciadora o fato de se utilizar
da observação dos fatos como fonte da produção do seu conhecimento. Pretende-se,
a partir dessa análise, discutir as dificuldades específicas relacionadas à aplicação
dessa forma de pesquisa no âmbito da ciência do direito. Justifica-se a realização
deste artigo pela atual necessidade de se revelar as possibilidades metodológicas,
bem assim as dificuldades particulares enfrentadas pelo pesquisador, na realização
de pesquisas empíricas de cunho jurídico. A hipótese envolve a constatação da
importância de se realizar a pesquisa empírica no âmbito do direito, motivo pelo qual
se deve enfrentar os obstáculos existentes para que se empreenda por essa
modalidade investigativa no universo do saber jurídico. Para empreender o trabalho
utilizou-se a metodologia hipotético-dedutiva a partir da leitura analítica e crítica de
obras produzidas nos âmbitos da filosofia, da epistemologia, da metodologia, das
ciências sociais, notadamente antropologia e sociologia, e da ciência do direito.
PALAVRAS-CHAVE: Direito. Metodologia. Pesquisa empírica.
SUMÁRIO
1. Introdução. – 2. Considerações sobre os fundamentos da ciência e sobre a ciência
do direito. - 2.1. Ciência e senso comum. - 2.2. A ciência do direito e seu objeto. - 2.3.
Epistemologia jurídica e ciência do direito. – 3. A investigação científica e a
metodologia da pesquisa empírica. – 4. Os desafios da pesquisa empírica no âmbito
do direito. – 5. Conclusão.
1 INTRODUÇÃO
2Sejam elas as faculdades ou as universidades, especificamente, tendo em vista que não se pode
destacar o ensino técnico de um saber superior ao produzido ou fomentado no âmbito do ensino médio,
mas para fins de demarcação do que se pretende nesse trabalho, optou-se pelas formações tradicionais
de graus de bacharelado e licenciatura advindas das duas modalidades de instituições mencionadas
de forma específica.
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de todo tipo, doutrina, obras de Direito de toda a espécie, adágios e aforismos jurídicos
e, por fim, aos objetos emblemáticos do saber forense (GUSTIN e DIAS, 2015).
3 A estruturação das instituições que são objeto de interesse, muitas vezes, da pesquisa empírica no
âmbito do Direito, como prisões e órgãos juridicionais, dificultam o acesso do pesquisador estudante,
oras por vedações legais, oras por entraves burocráticos da máquina estatal. Todavia, a virtualização
dos Tribunais e dos processos judiciais também produzem alguma facilidade que não deve ser
desconsiderada.
4 Para além da crítica constante à necessidade de economia de tempo e apelo à velocidade do mundo
pós-moderno, indicando para aprofundamento na análise a leitura de Bauman (1998), nota-se uma
cobrança generalizada para que os estudantes concluam com brevidade os cursos de graduação para
que entrem, o quanto antes, no mercado profissional e, assim, demonstrem serem bem sucedidos
socialmente. Tal postura vai na contramão do caminho por uma formação sólida, madura e segura do
profissional que vai lidar diariamente, dentre outras coisas, com os conflitos sociais e seus meios de
solução.
5 Pertencem à modalidade stricto sensu de pós graduação os cursos de Mestrado, profissional (vide
Não é de hoje a querela sobre a cientificidade ou não do Direito. Aliás, não raro
é apresentada esta como sendo a grande questão preliminar a ser enfrentada pelos
alunos de graduação quando se deparam com as disciplinas introdutórias do curso.
Isso porque, a acepção adotada, que revela uma escola conceitual, também
esconde um ponto de vista. Essa forma de enxergar o mundo, que nada mais é que
uma inclinação ideológica, orienta toda aquela produção e merece ser descortinada
de maneira preliminar, afinal, para que se saiba onde se chegou, tem que se
compreender por onde se quis partir.
As teorias científicas em sua origem buscam por dar uma resposta correta,
decorrente de um método supostamente perfeito, ou seja, a tentativa de se alcançar
a verdade, em suas variadas acepções.
Até mesmo porque, revela Morin (p. 21), que diversos trabalhos, ainda que
antagônicos em muitos pontos, de Popper, Kuhn, Lakatos, Feyerabend, entre outros,
têm como traço comum a demonstração de que as teorias científicas têm enorme
parte imersa cujo conteúdo não tem caráter científico, mas que é, ao mesmo tempo,
indispensável ao desenvolvimento da ciência. Nessa zona se situa o que entende por
“zona cega da ciência”, que acredita ser a teoria reflexo do real.
Com isso, o que se pretende é demonstrar que mesmo a ciência, com todas as
suas formas de verificação e de demarcação de conteúdo produzido, possui um
manancial teórico baseado no senso comum e nos sabres práticos incomensurável.
Seja porque não são fontes reveladas, seja porque são fontes que não se tem
consciência aprioristicamente.
Bobbio (2001) também traz à tona outras duas teorias sobre o direito, que
divergem do ponto de vista normativo, quais sejam: a teoria do direito como instituição
e a teoria do direito como relação.
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Parece até óbvio associar o direito à norma, já que se estuda a lei escrita no
direito por excelência. Ocorre que a regulação social não se dá apenas por meio de
leis positivadas, bem como o fenômeno jurídico não se esgota em suas manifestações
dogmáticas, sendo parte da experiência vivida.
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Fazendo, neste momento, referência ao famigerado brocardo latino ubi societas ibi ius
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Tal método é contestado por Popper (2013), que rechaça a possibilidade lógica
de se inferir enunciados universais de enunciados particulares. Para ele, o problema
da indução está em saber se as inferências indutivas se justificam e em que
condições, até mesmo porque para ele a descrição de uma experiência só pode se
tratar de um enunciado singular.
7 As mesmas autoras, ainda, atribuem a essa construção sobre o método indutivo uma forte crítica
oriunda do âmbito das ciências sociais aplicadas que diz que as pesquisas dessa área em especial
“não permitem generalizações completas por se restringirem a campos sociais específicos, sendo
difíceis a universalização dos conhecimentos obtidos” (GUSTIN e DIAS, 2015, p. 22)
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Com isso, se percebe que são três os objetivos da pesquisa empírica, quais
sejam: coletar dados, resumir dados e fazer inferências descritivas ou causais, que
envolve, nas palavras de Epistein e King (2013, p. 23), “usar os dados que
observamos para aprender sobre os dados que queremos levantar.”
Pedro Demo (1995) coloca a questão empírica tendo problemas teóricos seu
como pressuposto, argumentando que um dado não fala por si nem é evidente, mas
se apresenta ao mundo através do quadro de referências teóricas pelo qual é colhido
e observado. Para o sociólogo, a pesquisa se constrói na confluência do esforço
teórico e do esforço empírico.
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A ciência do direito, ainda que por meio do seu objeto por excelência, o direito,
não possui instrumentos para dar respostas corretas sempre e em qualquer
circunstância, busca, contudo, os melhores meios para compatibilizar os anseios da
sociedade na busca por preservar alguma segurança e a continuidade das relações
existentes.
8 Essa crítica se direciona a toda estrutura educacional no Brasil, mas o recorte aqui apresentado nos
leva a direcioná-la ao campo do ensino do direito.
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5 CONCLUSÃO
direito, visto como uma técnica, se forma com uma finalidade construída pelas
diversas ciências sociais.
Apesar de haver diversos desafios, não exauridos nesse trabalho, sendo muitos
relativos à questões culturais, ou seja, de formação do próprio profissional do direito,
bem como outros relativos à burocracia da estruturação dos espaços acadêmicos, o
incentivo se faz necessário, tendo em vista que somente com o recurso da realidade
observável, o direito logrará o êxito de se aproximar e dialogar com a sociedade que
o deu causa, superando a distância provocada pela vontade fria e uniletaral do
Legislador.
REFERÊNCIAS:
http://www.ufrgs.br/cursopgdr/downloadsSerie/derad005.pdf
LIVRO IPEA http://hdl.handle.net/11058/2377