Trabalho Filosofia

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Dizer e Viver a esperança

Aspectos sobre Linguagem e Religião


no pensamento de Rubem Alves

Davi Denucci, Henrique Fidelis, Mateus Haddad, Pedro Paulo, Rodrigo Jung
O corpo e a linguagem:
O que é linguagem?
Ferramenta exclusivamente humana para a construção do mundo e da
sociedade. Responsável por criar e manter as sociedades, possuem uma
relação de dependência mútua. É capaz de demarcar tempo e espaço, além
disso delimita os valores de um povo.

É responsável também pela interpretação de mundo, portanto é mais social que


biológica; Ela dita o que sentimos, vemos e ouvimos. A linguagem também
permite que o homem atravesse o real e parta para o mundo imaginário, no
entanto, nada que existe neste pode existir divorciado da linguagem em si.
O corpo e a linguagem:
Linguagem e o mundo
Todo esforço se constitui em transformar valores em fatos históricos e sociais.
O mundo então vira uma expressão de valores e, portanto, de linguagem.
Rubem alves defende que o mundo é um constructo humano. Portanto, a
estrutura da realidade é a estrutura da linguagem, as sociedades definem o que
é real ou não (Ex: Dinheiro, justiça e castas). Portanto, o homem vive num
universo de símbolos.

“Os universos simbólicos, a religião, a história são expressões do esforço


humano no sentido de tornar a natureza, o tempo e o espaço em função de si
mesmo. Esforço titânico para antropologizar o universo todo, transformando-o
numa extensão do corpo.” - Rubem Alves
O corpo e a linguagem:
Linguagem científica X Linguagem religiosa
Ling. Científica: Descreve o mundo, pretende ser um reflexo fiel dele, no
entanto, a linguagem utilizada em si é uma interpretação.

Ling. Religiosa: Explora a relação do homem com o mundo ao seu redor


como um verdadeiro relacionamento. Não envolve formulação de hipóteses
sobre a existência de Deus, pois não é possível alcançar tal conhecimento sem
uma paixão subjetiva de acordo com a lógica Kantiana.

A linguagem liga os fatos e os valores, o que leva o homem a nomear as


coisas, dar significação, organizar o mundo a partir dos valores humanos. Essa
atitude precede a razão, portanto, a razão existe devido à ela. Esquecer este
fato leva à uma ruptura entre a ciência e os valores.
O papel da linguagem na construção da religião:

A Interpretação da linguagem: “Para Alves, toda religião é um jogo de


linguagem. Cada discurso religioso aponta para um grupo que compartilha
valores e, por isso, esse discurso estabelece uma visão de mundo que será
compartilhada pela comunidade que o utiliza.”
Busca pelo sentido: “Para Alves, o homem cria a religião porque quer viver
em um mundo que faça sentido.”
A religião “serve” para o homem como uma forma persuasão, uma forma
de seguir algo na qual dê sentido à sua vida, e dependendo da sua
interpretação, diferentes tipos de crenças são seguidas.
Religião humanista:
Assim como Feuerbach, Marx e Freud, de acordo com Alves a religião é algo
completamente humano, isso é dado pela necessidade do sentido do homem ao
viver, assim buscando sentido nas crenças religiosas, assim podemos caracterizar a
religião aos olhos de Alves como algo humanista.

Além disso, a interpretação entra em tona como algo também humanista em que
mais uma vez tem como o objetivo trazer sentido para a vida do homem, assim
também determinado pelas condições materiais de cada comunidade.

Outro fator humanista ao ver de Alves é o homem ter a capacidade de diferenciar o


ser humano além de um ser racional, mas também como um ser simbólico, assim
também entrando no “divino”, que é justamente o homem saber mais sobre o seu
lado divino em questão.
Religião como formação Dádiva de Deus:
de sociedade: É a ideia na qual o homem seria o
intermediário entre Deus e o
Para isso ser possível, para Alves,
mundo, assim trazendo a religião e
a religião deveria deixar de ser
o reino de Deus para o mundo por
vista apenas como uma série de meio da política. Assim com o
rituais, e sim uma série de ações objetivo de “mudar o mundo”.
efetivas no mundo.
O fenômeno da conversão como mudança de linguagem

O fenômeno de conversão:
Para se aderir a uma religião, é necessário que ocorra um “rito de passagem”, na qual o iniciante atesta, por meio
de uma provação ou ritual, que está pronto para ser inserido em determinada comunidade. Para Alves, este
processo diz respeito a uma mudança de linguagem

“Os limites da minha linguagem denotam os limites do meu mundo”


A linguagem estrutura o mundo e serve como quadro de referência para toda a realidade, isto é, serve como
uma lente pela qual enxergamos o mundo, de forma a nos “enfeitiçar” a ver tudo pela ótica da mesma. A
gênese da conversão é justamente dada pela experiência que abala esse quadro de referência e inclina o
homem na busca de uma nova forma de enxergar o mundo
O fenômeno da conversão como mudança de
linguagem
Ordem e Caos:
Sendo a linguagem a ponte entre o homem e o mundo, o homem cuja linguagem foi “quebrada”
encontra-se em um estado de caos e confusão. É justamente essa crise existencial que serve de jardim
para o florescimento do fenômeno de conversão. “O momento de desestruturação da conversão estabelece
as bases para a esperança utópica”.

Um mundo novo, que é o mesmo:


A conversão não é um processo racional, e sim uma experiência subjetiva do mundo. As coisas permanecem
como sempre foram, mas a relação entre o sujeito e a realidade são completamente transformadas. A
consciência ressuscita transfigurada, sem causa natural, sem ter no sujeito causa eficiente, podendo apenas ser
descrita como um milagre.
O fenômeno da conversão como mudança de
linguagem
A compreensão da realidade:

Segundo Alves, a experiência de conversão coloca à prova a eficácia dos modelos teóricos humanos na tarefa de
compreender a realidade. Em sua visão, existe uma descontinuidade entre o racional e o real, justamente pela enorme
complexidade da realidade, que foge a compreensão humana. O filósofo atesta que a realidade como a conhecemos, ao
contrário de um plano unidimensional, seria na verdade uma interseção de vários planos convergentes que se relacionam
de maneiras caóticas, de forma a tornar o conceito de uma realidade previsível e racional completamente infactível.

A experiência religiosa:

O homem que busca sentido diante da realidade, recebe na conversão possibilidade de agir diferente perante ao mundo.
Alves afirma que este processo é derivativo da imaginação, e portanto, de caráter inerentemente emotivo. Com este
pensamento, Alves conclui que o ideal científico seria “anti-humano”, justamente por ir contra a natureza do homem,
movido por desejo e paixão. A emoção revela de forma crua, a forma do indivíduo de se relacionar e expressar com o
mundo. A experiência de conversão é vista como uma nova forma de consciência que se constitui sobre um transcendente
“fora” dessa consciência. A experiência de conversão coloca o homem diante desse outro transcendente, muitas vezes
percebido como Deus, que paradoxalmente não se encontra como totalmente transcendente.
A linguagem que pretende falar sobre Deus:
Para os fiéis, o que é Deus e como esse ser divino surge no mundo?
Durante sua obra "Dizer e Viver a Esperança", Rubem Alves, aborda previamente o conceito de um Deus
místico, onipresente, criador do mundo e das coisas, detentor do destino da humanidade e do universo, a
promessa da salvação e garantia do paraíso pós morte, que existe dentro das inúmeras religiões do planeta,
sejam monoteístas ou politeístas. Essa visão sobre esse Deus, diferente de todos os outros seres existentes
no mundo, é influenciada por teólogos e mitos consolidados desde a antiguidade, antes mesmo da fundação
da religião mais seguida no mundo, o Cristianismo.

Relação Deus X Sociedade:


Ainda em sua obra, Rubem fala sobre uma visão alternativa que existe sobre Deus, uma visão mais crítica,
baseada em ideias de sociólogos e filósofos como Karl Marx, Feuerbach e Nietzsche. A ideia em comum
desses autores sobre a relação Religião X Deus é as diferentes apropriações existentes sobre a visão de
Deus, como um refúgio para as angústias e frustrações do dia a dia, um motivo de vida e de esperança de
um futuro promissor. Rubem também argumenta sobre a morte de Deus. Segundo ele, a morte de Deus é
um problema antropológico que surge séculos depois em uma sociedade dominada pela ciência e pelo
discurso científico. Ainda nessa ideia, para Rubem, Deus se transforma de um ser metafísico para um
símbolo da relação Eu-Mundo, suprindo uma necessidade humana cultural de uma figura de amparo
psicológico e apoio emocional.
A linguagem que pretende falar sobre Deus:

Deus como ser poético:


Alves dialoga com as idéias de Feuerbach quando este afirma que refletir sobre Deus é
refletir sobre o homem e também quando apresenta Deus como ser poético. Esta
analogia se dá pela ideia de que a poesia busca exprimir o inexpressável, dessa forma, se
a poesia é uma expressão do desejo humano, e Deus é uma expressão do desejo humano,
logicamente, este se configura como um ser essencialmente poético. Dessa forma, Alves
configura que tanto Deus quanto a religião são poesia, por expressarem os desejos do
coração humano. Dessa forma, o discurso sobre Deus aponta inevitavelmente para a
sociedade que o homem está inserido, uma vez que sua visão religiosa reflete seus
desejos e seus desejos refletem as determinações de suas condições materiais e
sociedade na qual o indivíduo está inserido. Nesse momento o filósofo dialoga com as
ideias de Marx no que diz respeito a inexistência de uma essência humana que
independe de condições materiais.
A linguagem que pretende falar sobre Deus:
O reino de Deus não-transcendente:
Nesse ponto, Deus assume o papel de um horizonte almejado pelos indivíduos, uma esperança utópica a ser
concretizada na Terra. Dessa forma, Deus e o seu reino adotam um papel político-social como símbolo de
referência comportamental. Nessa análise, falar de Deus é falar de justiça social, condições dignas para
todos os indivíduos, esperança de viver em um mundo que faça sentido e quaisquer cristalizações físicas
que possam levar a esse ideal. A linguagem de Deus aqui é vista como uma espécie de guia que visa tornar
o homem digno do Éden novamente. Sendo assim, para Alves, Deus deixa o seu papel como ser
transcendente, para agir como um ser de impacto direto na história e expressão humana.

Deus e o corpo:
Por fim, o discurso Alvesiano se resume ao corpo individual. Alves conclui que não há nada no mundo de
maior importância ao ser humano do que seu corpo cultural, seu direito como indivíduo. Guerras e
revoluções são travadas em busca da paz, da tranquilidade e da saciedade desse corpo. Portanto, o filósofo
conclui que a busca por Deus em verdade diz respeito a busca pela libertação do corpo. O corpo vive entre
o assédio do passado e a ansiedade do futuro. Entre a memória e a esperança. O corpo é o centro do
universo. A esperança do corpo é Deus, um projeto utópico do homem futuro. Dessa forma conclui-se que
Deus passa na visão Alvesiana de um ser transcendente para um horizonte de concretização dos desejos
humanos. Deus liberta o corpo no seu agir como ponte para a conexão do homem com seus desejos, e com
o mundo.
A religião como linguagem da esperança:

O termo linguagem se refere a natureza histórica do ser humano, mostra como a história, a
cultura influencia na comunicação, e é um reflexo na experiência histórico-cultural, Rubem Alves
acredita que durante o processo histórico no mundo, veio surgindo, em que ele contribuía para
se tornar visível, um discurso que expressava dor e anseio dos povos, da comunidades, minorias
que se sentem feridas em suas dignidades, e essa linguagem é a religião.

De acordo com o pensamento Alvesiano, a religião é uma linguagem que expressa a esperança
humana, buscando sentido e vontade de viver, e a esperança, está ligada a ideia de que o reino de
Deus é um lugar utópico, ou seja um lugar ou estado ideal, talvez inexistente que se revela por
ser um lugar para se viver bem.
A religião como linguagem da esperança:

Existem divergências relacionadas ao pensamento marxista, há uma relação íntima entre a esperança e a
realidade vivida, sendo a esperança, uma forma de negar a realidade vivida, é algo mais humano, de
acordo com um dos pensadores marxistas Ernst Bloch, é necessário abandonar a ideia de Deus, para que
a humanidade possa realizar sua capacidade de ação criativa e ter um futuro melhor,. A esperança para
Bloch, é algo vito completamente humano, que só pode ser alcançada pela classe trabalhadora que tem o
potencial de transformar o mundo em um lugar melhor.

Historicamente, o presente é negado pelo ser humano, o homem apreende tudo aquilo que cria dor,
sofrimento, injustiça, portanto há de ser negado, no entanto a esperança é uma forma positiva assumida
pela negação do presente negativo. De tal forma, o ser humano busca sentido, esperança na religião, ou
seja, falar sobre Deus, é falar sobre esperança humana, no pensamento Alvesiano a religião passa a ter
uma função transformadora para a sociedade, já que se vê na tentativa de expressão de um desejo maior
do ser humano.

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