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O DEBATE SOCIOAMBIENTAL

NO SÉCULO XXI:
contribuições e perspectivas
Clarissa Melo Lima
Gilvan Charles Cerqueira de Araújo
(Organizadores)
Clarissa Melo Lima
Gilvan Charles Cerqueira de Araújo
(Organizadores)

O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI:


contribuições e perspectivas

Brasília, Distrito Federal


2024
É proibida a reprodução total ou parcial desta publicação, por quaisquer meios,
sem autorização prévia, por escrito, da Cátedra Unesco de Juventude, Educação
e Sociedade.
The authors are responsible for the choice and presentation of information
contained in this book as well as for the opinions expressed therein, which are
not necessarily those of UNESCO and do not commit the Organization.

Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990,


que entrou em vigor no Brasil em 2009.

Coleção Juventude, Educação e Sociedade

Comitê Editorial: Geraldo Caliman (Coordenador), Célio da Cunha, Carlos


Ângelo de Meneses Sousa, Gilvan Charles Cerqueira de Araújo, Renato Brito.
Conselho Editorial Consultivo: Esther Martinéz (Portugal), Azucena Ochoa
Cervantes (México), Cristina Costa Lobo (Portugal), Marilia Costa Morosini
(PUCRS).
Capa / Diagramação: Nathan Belcavello de Oliveira.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Lumos Assessoria Editorial
E24 O debate socioambiental no século XXI : contribuições e perspectivas
[recurso eletrônico] / organizadores Clarissa Melo Lima e Gilvan
Charles Cerqueira de Araújo. – Brasília : Cátedra Unesco de Juventude,
Educação e Sociedade : Universidade Católica de Brasília, 2024.
Dados eletrônicos (pdf).

Inclui bibliografia.
ISBN 978-65-6036-715-9

1. Gestão Ambiental. 2. Sociologia Ambiental. 3. Desenvolvimento


Sustentável. 4. Educação Ambiental. I. Lima, Clarissa Melo. II. Araújo,
Gilvan Charles Cerqueira de.
CDD23: 363.7

Bibliotecária: Priscila Pena Machado – CRB-7/6971

Cátedra Unesco de Juventude, Educação e Sociedade


Universidade Católica de Brasília, Campus I
QS 07, Lote 1, EPCT, Águas Claras 71906-700
Brasília – DF / Telefone: (61) 3356-9601
SUMÁRIO
Apresentação |7
Clarissa Melo Lima
Gilvan Charles Cerqueira de Araújo

1. Gestão Ambiental e Educação em Riscos | 9


Ambientais nas Escolas: uma revisão bibliográfica
Clarissa Melo Lima
Gilvan Charles Cerqueira de Araújo
Tito Ricardo Vaz da Costa
Ronaldo Ferreira da Silva

2. Prevenção de desastres como promoção à | 33


Igualdade Racial: uma contribuição possível a partir da
Educação Ambiental
Sergio Mauricio Costa da Silva Pinto
Nathan Belcavello de Oliveira

3. ‘Características da tarefa’: uma análise sobre a | 51


percepção dos teletrabalhadores da área de Tecnologia
da Informação e Comunicação do Instituto Federal do
Acre e da Universidade Federal do Acre
Raimara Neves de Souza
Carlos André de Melo Alves

4. Estudo de caso na UnB: fatores inibidores e | 73


facilitadores ao fomento à inovação
Pedro Ravizzini Furtado
Jonilto Costa Sousa
Pedro Henrique Rodrigues de Camargo Dias
5. Uma década de Economia Circular na Gestão | 97
Ambiental: mapeamento e análise da literatura
Eliana de jesus Lopes
Maria do Socorro Vale
Francinalda Aragão Carneiro

6. Propostas de ação para reduzir a evasão e | 119


aumentar o ingresso nos cursos de Gestão Ambiental e do
Agronegócio da Faculdade UnB de planaltina (FUP)
Alexandre Nascimento de Almeida
Ivonaldo Vieira Neres
Luiz Cláudio Costa Ferreira
Samila Neres Farias da Silva

7. Fontes emergentes de proteína de origem animal | 133


como alternativa de combate à desnutrição infantil
José Lopes Neto
Roberta Lomonte Lemos de Brito
Eliana de Jesus Lopes

8. Direito à Saúde: a invisibilidade da saúde mental | 157


da mulher brasileira encarcerada e a escassez de políticas
públicas
Francielle Caroline Zacarkin
Henrique Franco Morita

9. Drivers para a adoção de energias renováveis: | 177


review de tendências e desafios globais
Francinalda Aragão Carneiro
Eliana de Jesus Lopes
Flávio Albuquerque Ferreira da Ponte
10. Potencial energético de briquetes de casca de arroz | 199
em mistura com serragem de pinus
Sarah Cristinne Soares Calais
Ailton Teixeira do Vale
Clarissa Melo Lima

11. Acampamento Terra Livre 2024: relatos sobre o | 215


avanço recente da ofensiva contra os povos e direitos
indígenas no Brasil
Guilherme Rocha Câmara Parini
Clarissa Melo Lima
Tito Ricardo Vaz da Costa

12. Análise da Lei de Animais Comunitários: estudo de | 235


caso da Faculdade de Planaltina no Distrito Federal
Larissa Santos Salgado
Luciana de Oliveira Miranda (in memoriam)
Clarissa Melo Lima
Iara Oliveira Fernandes

13. A implementação das políticas de saúde em nível | 257


federal para pacientes com diagnósticos de câncer
Nátalyn Letícia Oliveira de Amorim
José Iturri de La Mata
Clarissa Melo Lima
Tito Ricardo Vaz da Costa

14. A plataforma Instagram como ferramenta para | 289


divulgação de conhecimento sobre sustentabilidade: a
experiência do perfil @gestao.ambiental.unb
Flávia Nogueira de Sá
Vitória Cristhina da Silva Santos
Júlia de Sousa Vale
15. Análise HAZOP de um novo sistema automatizado | 311
destinado ao aproveitamento das vísceras de tilápia do
Nilo para biocombustíveis
Francisco de Assis da Silva Mota
Antônio Bruno de Vasconcelos Leitão
Clarissa Melo Lima

Sobre a organizadora e o organizador | 341

Sobre as autoras e os autores por Capítulo | 343


APRESENTAÇÃO

O século XXI trouxe à tona desafios ambientais que exigem


soluções complexas e colaborativas em diferentes esferas da
sociedade. O livro "O Debate Ambiental no Século XXI: Contribuições
e Perspectivas" reúne uma coletânea de reflexões, estudos de caso
e análises críticas que exploram a intersecção entre meio
ambiente, inovação tecnológica, justiça social e desenvolvimento
sustentável. Organizado em 15 capítulos, a obra busca fornecer
uma visão ampla e interdisciplinar sobre os temas emergentes no
cenário ambiental contemporâneo.

Os primeiros capítulos tratam de questões que envolvem a


educação e a gestão ambiental, destacando a importância da
conscientização nas escolas e do papel da educação ambiental na
promoção da igualdade racial. As iniciativas voltadas à prevenção
de desastres, alinhadas à justiça social, oferecem uma perspectiva
transformadora de como a sustentabilidade pode ser inclusiva.

Na sequência, há uma análise aprofundada sobre as novas


dinâmicas do teletrabalho no contexto tecnológico, assim como
um estudo de caso que investiga os fatores que inibem ou
promovem a inovação em uma das mais renomadas instituições de
ensino superior do Brasil. Completando este bloco de discussões,
a economia circular é explorada em sua evolução ao longo de uma
década, apresentando um panorama abrangente da literatura
sobre o tema.

Temas como a evasão escolar em cursos de gestão


ambiental e agronegócio, a busca por alternativas sustentáveis
para combater a desnutrição infantil, e a invisibilidade da saúde
mental de mulheres encarceradas no Brasil mostram como as
questões ambientais dialogam diretamente com aspectos sociais,
econômicos e de direitos humanos.

A obra também apresenta uma revisão sobre os principais


drivers para a adoção de energias renováveis, além de estudos
específicos que tratam do potencial energético de materiais como
a casca de arroz e a serragem de pinus. A luta dos povos indígenas
e o avanço de políticas regressivas são retratados por meio de
relatos sobre o Acampamento Terra Livre, uma das mais
importantes mobilizações em defesa dos direitos indígenas no
Brasil.

Além disso, o livro aborda temas como o bem-estar animal


por meio da análise da Lei de Animais Comunitários, políticas de
saúde pública para pacientes oncológicos, e o uso das redes
sociais, como o Instagram, para a disseminação de conhecimento
sobre sustentabilidade. Por fim, apresenta uma análise HAZOP
sobre o aproveitamento das vísceras da tilápia do Nilo para a
produção de biocombustíveis, mostrando a relevância das
tecnologias emergentes na busca por soluções ecológicas
inovadoras.

Esta obra se configura, portanto, como um convite à


reflexão crítica sobre as interseções entre meio ambiente, justiça
social, tecnologia e inovação. Ao explorar contribuições diversas e
perspectivas inovadoras, o livro proporciona uma leitura
indispensável para estudantes, profissionais e pesquisadores
interessados em compreender e enfrentar os desafios ambientais
do nosso tempo.

8
Capítulo 1 |
GESTÃO AMBIENTAL E EDUCAÇÃO
EM RISCOS AMBIENTAIS NAS
ESCOLAS: UMA REVISÃO
BIBLIOGRÁFICA
Clarissa Melo Lima1

Gilvan Charles Cerqueira de Araújo2

Tito Ricardo Vaz da Costa3

Ronaldo Ferreira da Silva4

1
Professora Auxiliar da Universidade Estadual de Goiás (UEG). Posse. Goiás.
Brasil. Doutora em Ciências Agrárias.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/6917886925634086
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9940-8863
Correio eletrônico: [email protected]
2
Professor da Universidade Católica de Brasília (UCB). Brasília. Distrito
Federal. Brasil. Doutor em Geografia.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/8439116307383334
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4238-0139
Correio eletrônico: [email protected]
3
Professor Substituto da Universidade de Brasília (UnB). Brasília. Distrito
Federal. Brasil. Doutor em Engenharia Florestal.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/1068744176859901
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5827-7975
Correio eletrônico: [email protected]
4
Professor Assistente da Universidade Estdual de Goiás (UEG). Posse. Goiás.
Brasil. Mestre em Gestão do Conhecimento e da Tecnologia da Informação.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7462950670630913
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9395-5743
Correio eletrônico: [email protected]
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

INTRODUÇÃO

A gestão ambiental tem se tornado uma prioridade


estratégica para organizações que buscam não apenas cumprir
regulamentações mas também obter vantagens competitivas e
promover melhorias organizacionais. D’Ambros (2011) destaca
que a integração de questões ambientais nas estratégias
empresariais pode se tornar um diferencial competitivo
significativo. Nesse contexto, a gestão ambiental é entendida
como a combinação de política ambiental, planejamento ambiental
e gerenciamento ambiental. Segundo Netto (2014), essa gestão
envolve a articulação de ações de diferentes agentes sociais para
alinhar a exploração dos recursos ambientais com as
especificidades do meio ambiente, baseando-se em princípios e
diretrizes previamente definidos.

O planejamento ambiental busca alinhar o uso, controle e


proteção do meio ambiente com as aspirações sociais e
governamentais. Já o gerenciamento ambiental engloba as ações
de gestão realizadas por agentes governamentais e a participação
da sociedade. A política ambiental, por sua vez, é composta por
princípios que moldam as aspirações sociais ou governamentais
quanto à regulamentação e modificação do uso, controle e
proteção ambiental (Netto, 2014).

No Brasil, a evolução das políticas ambientais pode ser


dividida em quatro etapas, conforme Nusdeo (2012). A primeira
etapa focou na administração dos recursos naturais, e na década
de 1970 o foco se deslocou para a poluição industrial e o
planejamento territorial. Na década de 1980, houve transição para
10
LIMA, ARAÚJO, COSTA e SILVA | Capítulo 1

a gestão integrada dos recursos naturais. A política ambiental


brasileira é formalizada pela Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981,
que adota uma abordagem sistêmica, integrando a atuação de
estados e outras áreas da administração pública (Brasil, 1981).

O Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) é


estruturado em diversos níveis, incluindo o Conselho de Governo
como órgão superior, o CONAMA como órgão consultivo e
deliberativo, e o Ministério do Meio Ambiente como órgão central.
Os órgãos executores, como IBAMA e ICMBio, implementam as
políticas governamentais, e os órgãos estaduais e municipais são
responsáveis pela fiscalização e controle das atividades que podem
causar degradação ambiental (Amado, 2017).

A legislação ambiental brasileira, especialmente a Lei nº


6.938, de 1981, enfatiza o desenvolvimento sustentável,
destacando a importância da preservação, melhoria e recuperação
da qualidade ambiental para assegurar o desenvolvimento
socioeconômico, a segurança nacional e a proteção da dignidade
humana (Brasil, 1981). A Constituição Federal de 1988 incorporou
o conceito de desenvolvimento sustentável, refletindo um
compromisso nacional com a gestão ambiental (Brasil, 1988;
Silvestre, 2004).

Os princípios norteadores da gestão ambiental incluem


eficiência econômica, conservação ambiental, geração de
benefícios, distribuição de renda e financiamento da gestão. Os
instrumentos de gestão variam de ferramentas econômicas e
regulamentares a ações de educação, investimentos públicos e
sistemas de informações ambientais (Bursztyn; Bursztyn, 2013;
Netto, 2014). Os instrumentos de comando e controle, por

11
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

exemplo, estabelecem normas para reduzir a poluição, e os


instrumentos econômicos incentivam comportamentos ambientais
através de tributos, preços públicos, subsídios ou transações de
direitos de poluir (Motta, 2006).

A regulamentação baseada em comando e controle é a base


dos sistemas de gestão ambiental na maioria dos países, embora
enfrente desafios de implementação em países em
desenvolvimento (Margulis, 1996). Os instrumentos de mercado,
como créditos de emissão de poluentes, são uma alternativa para
estabelecer direitos transacionáveis (Motta, 2006; Nusdeo, 2006).
Instrumentos de persuasão, como a ISO 14.000 e as campanhas de
educação ambiental, incentivam ações de proteção ambiental sem
imposições legais ou incentivos financeiros (Nogueira; Pereira,
2013).

Os princípios poluidor-pagador e usuário-pagador,


consagrados na Constituição de 1988, determinam que poluidores
e usuários de recursos naturais devem arcar com os custos de
prevenção e combate à poluição. O princípio da prevenção
enfatiza a necessidade de evitar danos ambientais, ao passo que o
princípio da precaução permite ações preventivas mesmo diante
da incerteza científica (Bursztyn; Bursztyn, 2013).

A participação social é crucial para a gestão ambiental, com


os estados incentivando a conscientização e a participação pública
(Bursztyn; Bursztyn, 2013). A integração das políticas ambientais
com as políticas macroeconômicas do governo é fundamental, pois
incentivos econômicos podem influenciar a adesão às regras
ambientais (Margulis, 1996). A escolha de instrumentos ambientais
no Brasil deve ser pluralista, multidimensional, subjetiva, reflexiva

12
LIMA, ARAÚJO, COSTA e SILVA | Capítulo 1

e transparente, buscando uma gestão ambiental (Nogueira;


Pereira, 2013).

Dentro desse contexto, a avaliação de riscos ambientais em


escolas emerge como uma área de importância crescente. A
Educação em Redução de Riscos e Desastres (ERRD) em escolas
tem sido uma prática essencial para formar sociedades críticas e
resilientes, capazes de lidar com incertezas e desafios ambientais.
Estudos como o de Dagnino e Carpi Junior (2007) e Soto et al.
(2006) destacam a importância de identificar e gerenciar os riscos
ambientais presentes no ambiente escolar, desde fatores físicos
como ruído e temperatura até riscos biológicos e químicos.

Exemplos de práticas de ERRD em escolas incluem a análise


de qualidade da água e a conscientização sobre a contaminação
ambiental, como demonstrado por Soto et al. (2006) em São Paulo.
Além disso, a integração de abordagens educativas críticas e
resilientes para enfrentar desastres socioambientais é
fundamental para preparar as futuras gerações para um mundo em
constante mudança (Matsuo; Silva, 2021; Souza, 2016).

Este trabalho apresenta uma revisão bibliográfica


abrangente sobre a gestão ambiental, explorando a evolução das
políticas ambientais, os instrumentos de gestão e os princípios
norteadores que moldam a prática da gestão ambiental no Brasil.
Além disso, aborda a temática de riscos ambientais em escolas,
destacando a importância da educação ambiental na formação de
sociedades mais conscientes e preparadas para enfrentar os
desafios ambientais. Ao compreender esses aspectos, busca-se
oferecer uma base teórica sólida para futuras pesquisas e práticas
no campo da gestão ambiental.

13
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

METODOLOGIA

O método empregado nesta pesquisa foi a pesquisa


bibliográfica, fundamentada em uma revisão abrangente da
literatura existente. Inicialmente, para delimitar o tema e a
problemática, foi conduzida uma busca por trabalhos relacionados
à interseção entre sustentabilidade e educação. A seleção das
obras baseou-se em palavras-chave como “Gestão Ambiental”,
“Riscos Ambientais” e “Educação”.

Para realizar a pesquisa de maneira detalhada e específica,


foram utilizadas três principais bases de dados: a Scientific
Electronic Library Online (SciELO), o Google Acadêmico e a
plataforma de periódicos da CAPES. Essas bases de dados
forneceram um suporte robusto para a elaboração da pesquisa,
abrangendo uma ampla gama de estudos e perspectivas sobre os
temas de interesse.

A amostragem foi realizada nas três bases mencionadas,


resultando em um total inicial de 25 trabalhos selecionados. Esse
processo de amostragem foi conduzido para garantir uma
diversidade de perspectivas e abordagens sobre os temas em
análise.

Os trabalhos selecionados foram publicados entre 2000 e


2022. Esse intervalo de tempo foi escolhido estrategicamente para
assegurar a relevância e atualidade das informações contidas nas
obras selecionadas. Foram incluídos trabalhos com foco nas
ciências humanas e nas ciências sociais aplicadas, áreas que
frequentemente exploram as interseções entre educação e

14
LIMA, ARAÚJO, COSTA e SILVA | Capítulo 1

sustentabilidade.

A seleção abrangeu obras escritas nos idiomas português,


inglês e espanhol, permitindo a inclusão de estudos relevantes em
uma variedade de contextos culturais e geográficos. Obras
anteriores a 2000 foram excluídas, a menos que tratassem de
conceitos e definições fundamentais do desenvolvimento
sustentável. Também foram excluídos trabalhos que não estavam
diretamente relacionados à sustentabilidade ou que não estavam
nos idiomas especificados.

A análise inicial dos documentos foi realizada por meio da


leitura dos resumos. Esse processo permitiu identificar a relevância
dos trabalhos para os temas propostos, bem como sua
contribuição para a compreensão das relações entre educação e
sustentabilidade. Posteriormente, os trabalhos considerados
relevantes foram submetidos a uma análise mais detalhada, que
incluiu a leitura completa dos elementos textuais principais, como
introdução, metodologia, resultados e discussões.

A escolha da pesquisa bibliográfica como método principal


é justificada pela sua capacidade de oferecer uma visão ampla e
diversificada sobre o tema em questão. A revisão da literatura
possibilita compilar e sintetizar conhecimentos já estabelecidos,
identificando lacunas e oportunidades para novas investigações.
Além disso, o uso de bases de dados reconhecidas como a SciELO,
o Google Acadêmico e a plataforma de periódicos da CAPES
assegura a qualidade e a credibilidade das fontes selecionadas.

15
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Integrar questões ambientais nas estratégias empresariais


surge da visão da gestão ambiental como um diferencial
competitivo e um fator de melhoria organizacional (D’Ambros,
2011). A gestão ambiental pode ser compreendida como a soma
da política ambiental, do planejamento ambiental e do
gerenciamento ambiental. Trata-se do processo de articulação das
ações dos diferentes agentes sociais que interagem em um dado
espaço, com vistas à adequação dos meios de exploração dos
recursos ambientais, naturais, econômicos e socioculturais às
especificidades do meio ambiente, com base em princípios e
diretrizes previamente definidos (Netto, 2014).

O planejamento ambiental é um estudo prospectivo que


busca alinhar o uso, controle e proteção ambiental com as
aspirações sociais ou governamentais. O gerenciamento ambiental
envolve ações de gestão sob iniciativa de agentes governamentais,
incluindo a participação da sociedade. A política ambiental
constitui um conjunto de princípios doutrinários que moldam as
aspirações sociais ou governamentais no que diz respeito à
regulamentação ou modificação do uso, controle e proteção do
meio ambiente (Netto, 2014).

Segundo Nusdeo (2012), a evolução das políticas


ambientais no Brasil pode ser dividida em quatro etapas, como
ilustrado na Figura 1.

Inicialmente, a preocupação era restrita à administração dos


recursos naturais (como os Códigos de Águas). Na década de 1970,

16
LIMA, ARAÚJO, COSTA e SILVA | Capítulo 1

surgiu uma preocupação com a poluição industrial e o


planejamento territorial, culminando na década de 1980 com o
conceito de gestão integrada dos recursos naturais.

Figura 1. Evolução das políticas ambientais no Brasil

Fonte: Lima (2017) adaptado de Nusdeo (2012).

Tabela 1. O Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA)


Tipo de órgão Composição
Órgão Superior Conselho de governo
Órgão Consultivo e CONAMA
Deliberativo
Órgão Central Ministério do Meio Ambiente
Órgãos Executores IBAMA e ICMBio
Órgãos da administração pública com
Órgãos Setoriais
atribuições afins
Órgãos Seccionais Órgãos estaduais
Órgãos Locais Órgãos municipais
Fonte: Netto (2014), com base na Lei nº 6.938, de 1981.

No Brasil, a política ambiental é definida pela Lei nº 6.938,


de 31 de agosto de 1981. O aspecto mais importante desta lei é a
abordagem sistêmica, prevendo a atuação dos estados e outras
áreas da administração pública.

17
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

O Órgão Superior (Conselho de Governo) assessora o


Presidente da República na formulação da política nacional e nas
diretrizes governamentais para o meio ambiente e os recursos
naturais (Amado, 2017). O Órgão Consultivo e Deliberativo
(CONAMA) assessora, estuda e propõe ao Conselho de Governo
diretrizes de políticas governamentais para o meio ambiente e os
recursos naturais, além de deliberar sobre normas e padrões
ambientais. O Órgão Central (Ministério do Meio Ambiente)
planeja, coordena e supervisiona a política nacional e as diretrizes
governamentais para o meio ambiente. Os Órgãos Executores
(IBAMA e ICMBio) executam e garantem a execução das diretrizes
e políticas governamentais para o meio ambiente. Os Órgãos
Seccionais (estaduais e do Distrito Federal) executam programas e
projetos, bem como controlam e fiscalizam atividades que podem
provocar degradação ambiental. Os Órgãos Locais (municipais)
têm funções similares aos Órgãos Seccionais, limitados às suas
respectivas jurisdições (Amado, 2017).

A legislação ambiental brasileira apresenta o conceito de


desenvolvimento sustentável na Lei nº 6.938, de 31 de agosto de
1981. O artigo 2º da lei dispõe: “A Política Nacional do Meio
Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação
da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País,
condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da
segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana”. O
artigo 4º, inciso I, dispõe que a Política Nacional do Meio Ambiente
visa “à compatibilização do desenvolvimento econômico-social
com a preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio
ecológico”. Esta lei estrutura o quadro legal e institucional da
proteção ambiental no País (Brasil, 1981).

18
LIMA, ARAÚJO, COSTA e SILVA | Capítulo 1

A Constituição Federal de 1988, nos artigos 170 e 225,


incorporou o conceito de desenvolvimento sustentável dado pela
Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981 (Brasil, 1988; Silvestre,
2004).

Os princípios que norteiam a gestão ambiental visam à


eficiência econômica, conservação ambiental, geração de
benefícios, distribuição de renda e financiamento da gestão. Os
instrumentos de gestão ambiental incluem ferramentas
econômicas, de regulamentação, de persuasão, ações de educação,
investimentos públicos e sistemas de informações ambientais
(relatórios de qualidade ambiental). A implantação dos
instrumentos de gestão requer simplicidade, facilidade de
implementação e aceitabilidade política e social (Bursztyn;
Bursztyn, 2013; Netto, 2014).

Os instrumentos de comando e controle estabelecem


normas, regras, procedimentos e padrões para assegurar o
cumprimento dos objetivos da política ambiental, como reduzir a
poluição do ar ou da água (Motta, 2006). Diferentemente dos
instrumentos de comando e controle, os econômicos têm caráter
indutor por meio da imposição de tributos e preços públicos,
criação de subsídios ou possibilidade de transação sobre direitos
de poluir ou créditos de não poluir (Nusdeo, 2006).

A regulamentação do tipo comando e controle é a base dos


sistemas de gestão ambiental na maioria dos países. Problemas na
implementação das normas e regulamentos são comuns em países
em desenvolvimento, independentemente do nível de renda ou
crescimento econômico (Margulis, 1996). Os instrumentos de
mercado estabelecem direitos transacionáveis entre os agentes ou

19
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

a negociação em mercado aberto, podendo se referir à emissão de


substâncias poluentes ou créditos decorrentes de práticas
ambientais (Nusdeo, 2012).

Para o funcionamento dos instrumentos de mercado, é


necessário criar um sistema de teto e comércio, em que a
autoridade ambiental estabelece um limite total de emissões de um
determinado poluente para um conjunto de fontes (Nusdeo, 2012).

Figura 2. Sistema de teto e comércio

Fonte: Lima (2017).

Finalmente, a autoridade compara as emissões das


empresas com suas quotas e impõe penalidades se estas
ultrapassarem os limites estabelecidos.

Os instrumentos de persuasão são estímulos que


incentivam ações de indivíduos, grupos ou empresas para proteger
o meio ambiente, sem serem diretamente forçados pela lei ou
induzidos por mecanismos financeiros (Nogueira; Pereira, 2013). A
ISO 14.000 – Requisitos para o Sistema de Gestão Ambiental – é
um exemplo de instrumento de persuasão. Outros exemplos
incluem difusão de informações, educação ambiental, negociação
direta e acordos voluntários.

Entre os princípios ambientais estão: poluidor-pagador,


usuário-pagador, prevenção, precaução e participação. O princípio
do poluidor-pagador determina que os custos de prevenção e
combate à poluição devem ser imputados ao poluidor. O princípio
do usuário-pagador estabelece que os usuários de recursos

20
LIMA, ARAÚJO, COSTA e SILVA | Capítulo 1

naturais devem estar sujeitos à aplicação de instrumentos


econômicos para que o uso desses recursos beneficie a
coletividade. Esses princípios são utilizados para fundamentar a
sustentabilidade (Casa; Zanini; Vasconcellos, 2013).

Embora a Constituição de 1988 dedique um capítulo ao


meio ambiente, não defende a adoção de instrumentos
econômicos. A mesma Constituição proíbe a criação de tributos,
de modo que o princípio do poluidor-pagador não pode ser
implementado sem uma emenda constitucional. Contudo, algumas
taxas e multas fazem parte do sistema de controle, com valores
arbitrados pelo órgão de controle ambiental (Margulis, 1996). Além
disso, o princípio do poluidor-pagador já foi utilizado para
fundamentar o desenvolvimento sustentável em julgados nos
tribunais superiores brasileiros.

O México possui uma lei nacional do meio ambiente mais


recente, que já incorpora o princípio do poluidor-pagador e institui
multas por desobediência às regras de controle de poluição da
água (Margulis, 1996).

O princípio da prevenção enfatiza que é melhor prevenir


danos ambientais do que remediá-los. Cabe ao empreendedor
público ou privado adotar ações de prevenção de danos
ambientais comprovados, graves e irreversíveis, a um custo
economicamente aceitável (Bursztyn; Bursztyn, 2013). O princípio
da precaução complementa o da prevenção, permitindo agir
mesmo na ausência de certeza científica, pois a falta de certeza não
deve justificar a inação (Bursztyn; Bursztyn, 2013).

O princípio da participação, explicitado na Declaração do


Rio de 1992, afirma que as questões ambientais são mais
21
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

eficazmente tratadas com a participação de todos os cidadãos


implicados. Os estados devem facilitar e incentivar a
conscientização e participação do público, divulgando amplamente
as informações pertinentes e estimulando a participação ativa da
sociedade no processo decisório e nas ações de prevenção e
controle ambiental (Bursztyn; Bursztyn, 2013).

O fornecimento de informações pode ser uma ferramenta


útil, pois produtores ou consumidores muitas vezes ignoram
medidas de controle ambiental que também reduzem gastos totais.
Exemplos típicos incluem a redução de desperdício no consumo
doméstico de energia elétrica. A substituição de lâmpadas e
aparelhos elétricos pode ser compensada pela redução nas
despesas de energia elétrica. Persuadir as pessoas a adotar essas
mudanças depende, basicamente, da difusão de informações por
meio de campanhas publicitárias e educativas (Nogueira; Pereira,
2013).

As políticas ambientais devem ser integradas com as


políticas macroeconômicas do governo e com os incentivos e
regras governamentais para os setores econômicos. A falta de
coordenação entre incentivos econômicos e regras ambientais
pode levar agentes econômicos a desconsiderar as regras mais
restritivas (Margulis, 1996).

A escolha de instrumentos ambientais no Brasil deve ter


características básicas como: natureza multidimensional da
realidade, pluralismo, reconhecimento da subjetividade dos
resultados, reflexividade e transparência. Ainda há um longo
caminho para se alcançar um estágio autêntico de gestão
ambiental no Brasil (Nogueira; Pereira, 2013).

22
LIMA, ARAÚJO, COSTA e SILVA | Capítulo 1

Avaliação do risco ambiental em escolas


Dagnino e Carpi Junior (2007) definiram risco como um
evento, esperado ou inesperado, que se torna realidade. A simples
possibilidade de que algo possa ocorrer já constitui um risco.
Ittelson (1973) classificou como ambiente tudo o que “circunda,
envolve e engole” o trabalhador. Moura (2016) conceitua risco
ambiental como qualquer possibilidade de que um elemento ou
circunstância em um determinado processo e ambiente de
trabalho possa causar danos à saúde, seja através de acidentes ou
pela poluição ambiental.

Os riscos ambientais resultam da associação entre riscos


naturais e aqueles decorrentes de processos naturais agravados
pela atividade humana e pela ocupação do território (Veyret,
2007). Esse conceito pode ser restringido ao meio físico onde o
trabalhador realiza suas atividades, incluindo ruído, vibrações,
calor, frio, altitude e produtos tóxicos, que, quando excedem
certos limites, podem provocar doenças ou afetar o bem-estar
(Lima, 2013).

Iida e Guimarães (2016) destacaram que diversos fatores


relacionados ao projeto de máquinas e equipamentos, ao ambiente
físico (iluminação, temperatura, ruídos, vibrações), ao
relacionamento humano e aos fatores organizacionais podem
influenciar o desempenho do trabalho humano, podendo inclusive
provocar acidentes.

Buschinelli, Rocha e Rigotto (1994) definiram risco


ambiental como “uma denominação genérica para os possíveis
agentes de doenças profissionais que podem ser encontrados em
uma atividade ou local de trabalho”. As relações entre locais e a
23
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

produção de doenças resultam de um acúmulo de situações


históricas, ambientais e sociais (Santos; Noronha, 2001). Segundo
a NBR 12.543 (ABNT, 1999), agentes químicos ou biológicos
presentes em um ambiente que tenham potencial de causar um
efeito adverso a um sistema biológico, dependendo de sua
concentração, são definidos como contaminantes. Portanto,
contaminantes ambientais possuem propriedades capazes de
induzir doenças, conforme ilustrado na Quadro 1.

Quadro 1. Divisão dos riscos ambientais capazes de caracterizar um


ambiente insalubre
Contaminantes de
Tipos
um determinado ambiente

Aerodispersóides, Gases, Líquidos, Sólidos


Agentes Químicos
e Vapores

Iluminação, Temperatura, Sobrecarga


Agentes Físicos Térmica, Radiação, Ruído, Vibração e
Pressão atmosférica ambiente
Atividades de contatos permanentes do
indivíduo com micro e macroganismos
Agentes Biológicos
patogênicos que produza efeito adverso ao
metabolismo humano

Agentes ambientais Influências nocivas à saúde de ambientes


diversos considerados insalubres ao indivíduo

Fonte: ABNT (1999); Dellarosa e Colcaioppo (1994); Lima (2013).

Reconhecer um risco à saúde em uma atividade requer


conhecimento detalhado dos métodos de trabalho, processos e
operações, matérias-primas e produtos finais ou secundários
(Dellarosa; Colcaioppo, 1994).

No ambiente escolar, observa-se uma maior incidência dos


riscos provocados por agentes físicos. Nesse contexto, destaca-se
24
LIMA, ARAÚJO, COSTA e SILVA | Capítulo 1

o estudo de Souza e Silva (2018) que aferiu o conhecimento dos


professores de geografia de Minas Gerais sobre o risco ambiental.
Com relação aos agentes biológicos Soto et al. (2006) analisaram a
qualidade da água em 50 escolas públicas no estado de São Paulo,
identificando elevada incidência de contaminação provocada por
problemas de manutenção dos poços.

Extrapolando o ambiente escolar, as abordagens


educacionais com vistas à redução dos riscos está presente em
diversos estudos. Matsuo e Silva (2021) analisaram práticas de
Educação em Redução de Riscos e Desastres (ERRD) em escolas
públicas, desenvolvendo abordagens críticas e resilientes para
enfrentar desastres socioambientais. Souza (2016) analisou
abordagens e conteúdos sobre riscos ambientais em três TCCs,
focando em vulnerabilidade, perigo, risco, percepção ambiental e
saberes escolares em comunidades localizadas em áreas de risco
em Belo Horizonte.

Costa et al. (2023) pontuam que desde 1989 existe o Centro


Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais
(Prevfogo). Trata-se de um Centro Especializado, dentro da
estrutura do Ibama, responsável pela política de prevenção e
combate aos incêndios florestais em todo o território nacional,
incluindo atividades relacionadas com campanhas educativas. Tais
estudos deixam clara a importância das ações de educação
ambiental no enfrentamento dos riscos ambientais
contemporâneos.

25
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

CONCLUSÃO

A integração de políticas de gestão ambiental nas


estratégias empresariais é crucial para a sustentabilidade e
competitividade. A avaliação de riscos ambientais, como discutido
neste trabalho, desempenha um papel essencial na identificação e
mitigação de potenciais danos ao meio ambiente e à saúde
humana. Paralelamente, a educação ambiental é um instrumento
poderoso para conscientizar e capacitar indivíduos a adotarem
práticas sustentáveis e responsáveis.

A análise das políticas ambientais no Brasil, destacando


princípios como o poluidor-pagador e o usuário-pagador, ressalta
a importância de responsabilizar os agentes econômicos pelos
custos ambientais. Instrumentos como a avaliação de riscos e a
educação ambiental são fundamentais para alcançar uma gestão
ambiental autêntica e eficaz.

No contexto escolar, a avaliação de riscos ambientais ganha


relevância, especialmente considerando os riscos físicos e
biológicos presentes nas escolas. Estudos sobre Educação em
Redução de Riscos e Desastres (ERRD) demonstram como
abordagens educacionais podem fortalecer a resiliência e a
consciência ambiental.

Em síntese, a gestão ambiental, aliada à avaliação de riscos


e à educação ambiental, são pilares fundamentais para a
construção de uma sociedade mais sustentável e consciente de
suas responsabilidades ambientais. Essa integração não apenas

26
LIMA, ARAÚJO, COSTA e SILVA | Capítulo 1

protege o meio ambiente e a saúde humana mas também promove


o desenvolvimento socioeconômico equitativo e sustentável.

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31
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

32
Capítulo 2 |
PREVENÇÃO DE DESASTRES COMO
PROMOÇÃO À IGUALDADE RACIAL:
UMA CONTRIBUIÇÃO POSSÍVEL A
PARTIR DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Sergio Mauricio Costa da Silva Pinto1

Nathan Belcavello de Oliveira2

1
Servidor público federal da carreira de Analista de Infraestrutura, atuando no
Departamento de Obras de Proteção e Defesa Civil da Secretaria Nacional de
Proteção e Defesa Civil do Ministério da Integração e do Desenvolvimento
Regional. Salvador, Bahia, Brasil. Mestre em Ciências Sociais (UCSAL).
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7088195164001707
Correio eletrônico: [email protected]
2
Servidor público federal da carreira de Analista de Infraestrutura, atuando na
Coordenação-Geral de Gestão Integrada da Secretaria Nacional de
Desenvolvimento Urbano e Metropolitano do Ministério das Cidades. Professor
de Educação Básica da carreira Magistério Público do Distrito Federal, atuando
na equipe de Educação Profissional e Tecnológica do Centro de Educação de
Jovens e Adultos da Asa Sul (CESAS). Brasília, Distrito Federal, Brasil. Especialista
em Docência para a Educação Profissional e Tecnológica (IFB); Bacharel e
Licenciado em Geografia (UFJF).
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9346285904754323
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5588-3694
Correio eletrônico: [email protected]
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

INTRODUÇÃO

Os desastres naturais ou induzidos por ação humana


atingem, majoritariamente, as populações mais vulneráveis, como
moradores das periferias de grandes cidades e pequenos
produtores rurais, o que implica na maioria negra e pobre que se
encontra nessa situação social por todo o Brasil, esgueirando-se
por encostas ou arriscando-se às margens de rios. É fato que a
política pública de prevenção desses desastres historicamente não
tem tido a prioridade orçamentária necessária nas três esferas de
poder – federal, estadual e municipal –, com algumas honrosas
exceções que vêm confirmar a regra. Para atender a essa premente
demanda social, faz-se necessária a revisão dessa política pública
que se tem pautado, prioritariamente, no atendimento social e na
execução de obras após a ocorrência dos desastres, minimizando
sobremaneira as ações de prevenção que poderiam evitá-los.

Para registro conceitual, as ações ligadas a desastres podem


ser classificadas em três grandes grupos: prevenção, resposta e
reconstrução. As ações de resposta incluem as de caráter
humanitário, como alimentação, vestuário e moradia provisória aos
diretamente atingidos pelo desastre, e as de caráter público como,
por exemplo, o restabelecimento de serviços públicos essenciais,
como a normalização de fornecimento de água e energia e obras
emergenciais em logradouros urbanos e estradas rurais. Já a
reconstrução é a etapa pós-desastre, quando já ocorreram as
respostas emergenciais – humanitárias e de obras civis – e o
contexto já permite o dimensionamento adequado dos prejuízos
na infraestrutura pública, atuando-se na reconstrução de estradas,

34
PINTO e OLIVEIRA | Capítulo 2

pontes, muros de contenção, prédios públicos, dentre outras obras,


além da reconstrução de unidades habitacionais destruídas pelo
desastre.

Deve-se salientar que o Brasil tem buscado fortalecer a


política nacional de proteção e defesa civil, com base nos novos
paradigmas internacionais da redução dos riscos de desastres, com
ênfase nas ações de prevenção, sem se descuidar das necessárias
ações de resposta e recuperação, caso o desastre ocorra. A adoção
de ações de prevenção e o aperfeiçoamento do conhecimento dos
riscos de desastres são um importante avanço para a efetiva
implementação da política nacional de proteção e defesa civil, cujo
objetivo principal é a redução dos riscos de desastres, em todos os
âmbitos territoriais (Brasil, 2018, p. 12).

Como se vê, a única ação em que o foco é a atuação anterior


ao desastre, buscando-se evitá-lo e, assim, evitarem-se perdas
humanas e materiais, é a de prevenção, cuja definição está
colocada no inciso VIII do artigo 1º da Lei nº 12.608, de 2012:
VIII - prevenção: ações de planejamento, de
ordenamento territorial e de investimento destinadas
a reduzir a vulnerabilidade dos ecossistemas e das
populações e a evitar a ocorrência de acidentes ou de
desastres ou a minimizar sua intensidade, por meio da
identificação, do mapeamento e do monitoramento
de riscos e da capacitação da sociedade em atividades
de proteção e defesa civil, entre outras estabelecidas
pelos órgãos do Sinpdec (Brasil, 2012).

A partir de tal definição é possível vislumbrar que, no bojo


da prevenção, a perspectiva educativa legal se reduz à “capacitação
da sociedade em atividades de proteção e defesa civil”, em que a
própria prevenção não é abordada, principalmente considerando a

35
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

interação socioambiental. Eis a real possibilidade de contribuição


da educação ambiental à questão aqui debatida.

DO RACISMO ESTRUTURAL AO TRATAMENTO DOS


DESASTRES NATURAIS NO BRASIL

A forma como se organiza globalmente a sociedade


capitalista, com forte exploração de bens e meios de produção,
incluindo-se a mão de obra trabalhadora e os recursos biológicos e
materiais do planeta, cuja principal finalidade é o aumento do valor
do capital e não o bem-estar de todas as pessoas, tem conduzido a
humanidade a uma situação de crise tão extensa por conta das
mudanças climáticas que põe em risco não só a existência de
diversas espécies animais e vegetais, como a da própria espécie
humana. Essas mudanças vivenciadas em forma de tragédia em
todos os cantos do planeta, que têm aumentado em extensão e
frequência nas primeiras décadas do século XXI, têm, portanto,
causas globais e estruturais, pois refletem a forma como a
humanidade organiza suas relações de exploração e produção.
Ferreira e Felício (2021, p. 42) chamam essa superexploração dos
territórios e da vida de “saques à Mãe Terra”, concluindo que “o
lucro deles é a destruição rápida e veloz de nossos territórios, de
nossos biomas”.

Apesar de serem causas globais e sistêmicas, as


consequências são sempre locais, pois atingem determinados
grupos, comunidades e cidades, causando perdas materiais e
36
PINTO e OLIVEIRA | Capítulo 2

humanas que transformam a vida das pessoas atingidas em locais


e contextos bem específicos. A administração duma cidade, duma
região, ou mesmo duma nação qualquer, não é capaz de, com ações
pontuais, prover uma solução definitiva ao problema das tragédias
climáticas, a não ser preveni-lo e mitigá-lo, portanto, jamais o
evitar, haja vista sua incapacidade de intervenção numa situação
cuja causa é global. Caberia, então, a governos locais e regionais
pensar em ações e políticas públicas possíveis que promovam um
mínimo de segurança às populações mais expostas a um problema
que, efetivamente, só seria solucionado com a mudança na
organização estrutural da sociedade.

Em pesquisa recente (Liberato, 2023), publicada pela


Confederação Nacional de Municípios (CNM), nos dez anos entre
2013 e 2022, foi apontado que 5.199 dos 5.570 municípios
brasileiros foram atingidos por desastres naturais, como
tempestades, secas, inundações, enxurradas e alagamentos,
afetando diretamente a vida de cerca de 4,2 milhões de pessoas e
implicando em cerca de 2,2 milhões de moradias danificadas ou
destruídas, além de diversos outros prejuízos em infraestrutura
pública, como estradas, hospitais, contenções e escolas, que
também impactaram diretamente milhões de pessoas. É
importante destacar que os últimos anos da pesquisa
apresentaram maior incidência de desastres, podendo-se inferir
que o problema vem, pouco a pouco, tornando-se cada vez mais
grave, urgindo que medidas e ações de prevenção sejam também
priorizadas ao lado das ações de resposta e reconstrução.

Diante do perfil demográfico brasileiro, é sabido que a


maioria da população afetada por desastres, mormente aquela que
reside nas periferias das grandes cidades, é formada por pessoas
37
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

negras e empobrecidas. E são essas as pessoas que, vítimas dessas


tragédias recorrentes, perdem suas moradias, bens materiais,
animais domésticos e entes queridos, além da perda do já restrito
acesso aos serviços públicos ofertados em seus locais de
residência.

A reconstrução de unidades habitacionais destruídas por


desastres executada pela Secretaria Nacional de Proteção e Defesa
Civil (SEDEC) do Ministério da Integração e do Desenvolvimento
Regional (MIDR), que também compõe a política pública da
Secretaria Nacional de Habitação (SNH) do Ministério das Cidades
(MCID), é um exemplo de ação de reconstrução que, ao lado do
acesso à nova moradia, contribui para o rompimento dos laços
sociais da comunidade, fazendo com que muitas famílias afetadas
pelo desastre declinem da oferta da nova residência em favor da
manutenção desses laços que fortalecem o pertencimento social a
determinada comunidade. É comum, por exemplo, situações em
que algumas casas, destruídas por certo desastre ocorrido em área
de risco, sejam reconstruídas noutro local mais seguro. Contudo, as
demais casas que se mantiveram firmes, mesmo que ainda na área
de risco, não seriam atendidas pela política pública de reconstrução
de unidades habitacionais, uma vez que essas residências não se
enquadrariam nos requisitos exigidos. Dessa maneira, amigos e
parentes, acostumados a uma vida social de apoio mútuo, além da
perda da referência do território, são afastados compulsoriamente
de suas relações culturais e de pertencimento social, gerando
angústias e dificuldades vividas para todos os envolvidos.

Uma robusta política pública de ações de prevenção, além


de poder evitar perdas humanas e materiais associadas aos
desastres, também seria capaz de planejar o lado social e cultural
38
PINTO e OLIVEIRA | Capítulo 2

que, grosso modo, tem sido sumariamente relegado a um problema


de ordem individual em favor das questões meramente técnicas.

O principal resultado do fortalecimento das políticas


públicas de prevenção seria o cuidado com as populações
periféricas, majoritariamente negras e pobres, dando-lhes
segurança para habitar e dignidade para viver, pois não é possível
se falar em direitos e oportunidades para todos se é justamente a
população negra e pobre que vive nas encostas e nas beiras dos
rios das cidades brasileiras, sem saber se no dia seguinte à chuva
ainda estará viva ou terá moradia.

Pode-se inferir que a manutenção do atual arcabouço


normativo e a baixa prioridade orçamentária dada às ações de
prevenção de desastres são uma das formas mais duras da
expressão do racismo estrutural que sustenta o funcionamento do
Estado brasileiro, uma vez que, segundo Almeida (2019, p. 33),
a viabilidade da reprodução sistêmica de práticas
racistas está na organização política, econômica e
jurídica da sociedade. O racismo se expressa
concretamente como desigualdade política,
econômica e jurídica.

Tais escolhas orçamentárias e normativas, que não impedem


o vilipêndio da vida, causando perdas e mortes, representam
também o conceito de necropolítica elaborado por Mbembe (2018,
p. 7), que se questiona sobre isso da seguinte forma: “sob quais
condições práticas se exerce o poder de matar, deixar viver ou
expor à morte? Quem é o sujeito dessa lei?”.

Como exemplo concreto da manifestação do racismo


estrutural na sociedade brasileira em situação de desastres, pode-
se citar o recente caso de dimensões catastróficas que vitimou
39
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

milhares de pessoas no Estado do Rio Grande do Sul entre os


meses de maio e junho de 2024. Segundo dados do Censo
Demográfico de 2022 (IBGE, 2023, p. 41), o Rio Grande do Sul
possui uma população de cerca de 10,9 milhões de pessoas, sendo
78,4% de pessoas autodeclaradas brancas, 6,5% de pessoas pretas,
14,7% de pessoas pardas e o restante, cerca de 0,4%, entre
indígenas e amarelos. Portanto, negras e negros, que, segundo o
IBGE, é a soma das populações pretas e pardas, representam cerca
de 21,2% da população total dos moradores do Rio Grande do Sul.

Em junho de 2024, o Datafolha fez uma pesquisa no Estado,


ouvindo a população sobre os efeitos daquele que já é considerado
o maior desastre climático de sua história. Segundo esse
levantamento estatístico, publicado pela Folha de São Paulo,

mais da metade (52%) dos pretos nos municípios


afetados relata algum tipo de perda com as
enchentes. Entre os pardos, 40% respondem que teve
algum tipo de prejuízo. Entre a população branca
dessas mesmas cidades, a proporção de entrevistados
que relata alguma perda material ou de renda é de
26%.
[...] Em comparação com brancos e pardos, os pretos
são o único grupo que destoa da média da população
quando respondem se tiveram de deixar suas casas
durante as enchentes. Enquanto 14% dos gaúchos
dizem que foram expulsos pela inundação, entre os
pretos essa proporção é de 24%, ou praticamente um
em cada quatro (Kruse; Prestes, 2024).

Em outro estudo publicado pelo Nexo Jornal, com foco na


Região Metropolitana de Porto Alegre, que compara dados do
Censo Demográfico de 2010 com as áreas atingidas pelo desastre
de 2024, afirma-se que:

40
PINTO e OLIVEIRA | Capítulo 2
as áreas que mais sofreram com as enchentes
apresentam uma concentração expressiva de
população negra (pretos e pardos), geralmente acima
da média dos municípios. É o caso de Porto Alegre no
Humaitá e Sarandi, embora também haja casos como
a Restinga, que possui uma grande população negra,
mas está localizada longe do Guaíba. Em Canoas o
bairro que mais sofreu foi o Mathias Velho, com uma
forte presença negra especialmente no seu extremo
oeste, próximo ao Rio dos Sinos. Em São Leopoldo, o
bairro mais afetado foi o Santos Dumont e em Novo
Hamburgo, o bairro Santo Afonso, ambos com maior
proporção de população negra nestas cidades. Em
Guaíba o bairro mais atingido foi o Santa Rita, que
concentra uma grande proporção de população negra
e de baixa renda (Augustin; Soares, 2024).

Essas informações estão ilustradas na Figura 1, que mostra


a distribuição da população negra na Região Metropolitana de
Porto Alegre (RMPA) em 2010 e as áreas inundadas nessa mesma
região em 2024. Vale destacar que entre os censos de 2010 e de
2022 a autodeclaração da população preta e parda aumentou em
todo o Rio Grande do Sul e, em especial, na RMPA. Segundo dados
do Censo Demográfico de 2022 (IBGE, 2023, p. 43), o estado
gaúcho teve aumento de cerca de 19,3% de pessoas
autodeclaradas pretas e de 41,4% de pardas, contrastando com a
diminuição de cerca de 4,1% de pessoas brancas.

O arquiteto e urbanista William Mog, assessor técnico do


Ministério Público do Rio Grande do Sul, comentando o resultado
da pesquisa do Datafolha (Kruse; Prestes, 2024) acima
apresentada, reconhece “que a proporção maior de pobres, pardos
e pretos entre os afetados por tragédias climáticas é um padrão
nacional pela dificuldade de acesso dessas populações à moradia
formal”.

41
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

Figura 1. População negra em 2010 e áreas inundadas na RMPA em


2024

Fonte: Augustin; Soares (2024).

42
PINTO e OLIVEIRA | Capítulo 2

Para Buttel (apud Rigotto, 2008, p. 54), as sociedades


europeias, e seu Estado de Bem-Estar Social, nivelaram não só o
padrão de vida de sua população, como também igualaram os
riscos habitacionais envolvidos por meio da redução da segregação
residencial e territorial. Entretanto, sobre isso, comenta Rigotto
(2008, p. 54) que:

esta igualdade de risco não se aplica num contexto de


desigualdade social como o dos Estados Unidos e
muito menos de países em desenvolvimento, onde a
desigualdade ambiental é mais a regra que a exceção.
Lembra que foi tendo em vista esta desigualdade
ambiental que Murphy (1994) criou o conceito de
“classes ambientais”, cuja premissa é a desigualdade
de risco, dos azares e outros processos ambientais.

O que se evidencia no contexto dos países da periferia do


sistema capitalista global é a onipresença da desigualdade social,
que também se manifesta por meio da segregação territorial, que,
no caso brasileiro, empurra populações majoritariamente pretas e
pobres aos locais de maior risco de desastre ambiental. Num
contexto de agravamento das condições climáticas do planeta, que
acarretará cada vez mais e maiores catástrofes naturais, essas
“classes ambientais”, que, não por coincidência, são as mesmas
classes subalternas do sistema de produção, estarão ainda mais
expostas e sujeitas a perdas humanas e materiais.

Essa aproximação entre classes ambientais e sociais tem, no


Brasil, razões históricas e sociais profundas que apontam para as
escolhas sociopolíticas feitas pela elite brasileira durante o
processo de formação e organização dessa sociedade. Raça e
classe, assim, confundem-se numa trágica expressão do racismo
estrutural que vige desde sempre na sociedade brasileira e que
segue sua trajetória de exclusão e morte.
43
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

Assim Gonzalez e Hasenbalg tratam dessa questão:

A raça, como atributo social e historicamente


elaborado, continua a funcionar como um dos
critérios mais importantes na distribuição de pessoas
na hierarquia social. Em outras palavras, a raça se
relaciona fundamentalmente a um dos aspectos da
reprodução das classes sociais, isto é, a distribuição
dos indivíduos nas posições da estrutura de classes e
dimensões distributivas da estratificação social. No
que se refere às desigualdades raciais
contemporâneas, a explicação que enfatiza o legado
da escravidão e o diferente ponto de partida de
brancos e negros no momento da abolição pode ser
colocada em questão. O poder explicativo da
escravidão com relação à posição social do negro
diminui com o passar do tempo, ou seja, quanto mais
afastados estamos, no tempo, do final do sistema
escravista, menos se pode invocar a escravidão como
uma causa da atual subordinação social do negro.
Inversamente, a ênfase deve ser colocada nas
relações estruturais e no intercâmbio desigual entre
brancos e negros no presente (Gonzalez; Hasenbalg,
2008, p. 74-75).

Logo, pode-se constatar pelos dados apresentados sobre a


tragédia gaúcha em 2024 que a população negra, moradora por
excelência das periferias insalubres das cidades brasileiras, é a que
está mais exposta ao risco ambiental e é, obviamente, a vítima
preferencial dessas tragédias naturais. E pouca utilidade terá o foco
dos investimentos do Estado, em todas as suas esferas, apenas na
resposta assistencial e na reconstrução habitacional e de
infraestrutura pública destruída, pois essas ações se fazem após o
desastre já ter ocorrido, vitimando de formas diversas a população
negra mais impactada. A mitigação desse problema só se dará por
meio de ações de prevenção, evitando-se, assim, as contínuas
perdas materiais e humanas comuns durante esses eventos.

44
PINTO e OLIVEIRA | Capítulo 2

UMA CONTRIBUIÇÃO POSSÍVEL A PARTIR DA


EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Considerando a prevenção de desastres até aqui abordada,


Silva e Nishijima (2011) trazem importantes contribuições ao
debate, afirmando que “A educação ambiental, ao sensibilizar os
indivíduos para modificar atitudes e valores, na busca de novos hábitos
de entendimento da natureza complexa do ambiente, torna-se
importante fator na prevenção de desastres naturais”. Ainda, acerca
de comentário de Pedro Caballero, professor de Engenharia
Ambiental, exemplifica que:

Na universidade, nós já percebemos que o que é


estrutural somente não soluciona o problema, mesmo
em curto prazo. O que se precisa fazer são também
medidas não estruturais como educação. Ou seja, se
eu ensinar para cada pessoa que ter três árvores na
frente de casa vai reduzir a temperatura ambiente,
haverá absorção de água, emissão de oxigênio, além
de melhorar a biodiversidade, já vai ajudar bastante
(Silva; Nishijima, 2011).

Por sua vez, Tasca, Goerl e Kobiyama (2009, p. 7) salientam


que:
A ciência demonstra-se [...] de grande importância no
desenvolvimento de conhecimentos a partir de
estudos, experimentos e observações para a
compreensão dos mecanismos que formam um
desastre natural e como este provocará impactos.
Através destes conhecimentos podem-se desenvolver
medidas preventivas e mitigatórias frente aos
desastres e reduzir ao máximo seus impactos.

Sem dúvida, a compreensão dos mecanismos formativos


dos desastres e da interação humana com o ambiente são uma
45
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

fundamental contribuição da educação ambiental à prevenção de


desastres. Contudo, ao ser focada na compreensão do desastre em
si ou em sensibilização pessoal para modificação de atitudes e
valores individuais, tal contribuição tende a se tornar nébula. A
necessária abordagem do racismo estrutural, anteriormente
delineado e exemplificado no caso do Rio Grande do Sul, esclarece
quanto à desigualdade social e à segregação territorial,
concretamente contribuindo para a prevenção de desastres que,
além de mitigar, torna-se ação socioambiental transformadora.

Nesse sentido, qualquer contribuição da educação


ambiental como medida não estrutural de prevenção de desastres,
necessariamente perpassa pela compreensão da sociedade que,
em última instância, nada mais é que parte integrante do ambiente.
Esse, ao ser negligenciado como totalidade em favor da benesse de
poucas pessoas que concentram riqueza à base da exploração de
muitas e demais elementos do ambiente, tem os desastres como
consequências previsíveis. Adotando-se tal perspectiva, a
prevenção de desastres, como o conjunto de medidas estruturais e
de tal educação ambiental, potencialmente também se torna
política promotora da igualdade racial.

CONCLUSÃO

Pode-se, a partir dos dados e reflexões apresentados, inferir


que a solução definitiva do problema das tragédias ambientais
passaria por mudanças globais na organização social, política e
46
PINTO e OLIVEIRA | Capítulo 2

econômica, portanto distante da possibilidade de ação local.


Entretanto, à revelia dessa impossibilidade, governos e sociedades
locais podem e devem agir no sentido de minorar as consequências
desse problema por meio da priorização política e orçamentária de
ações de prevenção de desastres, ao lado da continuidade das
ações de restabelecimento e reconstrução, e do investimento
público na educação ambiental, constituindo-se também em ações
antirracistas fundamentais e concretas para a superação do grave
problema social da desigualdade de risco ambiental causado pelas
tragédias climáticas que tenderão a se ampliar cada vez mais.

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Disponível em: <https://pp.nexojornal.com.br/opiniao/2024/06/07/trag
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jul. 2024.

BRASIL. Lei nº 12.608, de 10 de abril de 2012. Institui a Política Nacional


de Proteção e Defesa Civil - PNPDEC; dispõe sobre o Sistema Nacional
de Proteção e Defesa Civil - SINPDEC e o Conselho Nacional de Proteção
e Defesa Civil - CONPDEC; autoriza a criação de sistema de informações
e monitoramento de desastres; altera as Leis nºs 12.340, de 1º de
dezembro de 2010, 10.257, de 10 de julho de 2001, 6.766, de 19 de
dezembro de 1979, 8.239, de 4 de outubro de 1991, e 9.394, de 20 de

47
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI
dezembro de 1996; e dá outras providências. Brasília: Presidência da
República, 2012. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
_ato2011-2014/2012/lei/l12608.htm>. Acesso em: 10 out. 2024.

_______. Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Desenvolvimento


Urbano. Manual técnico para redução de riscos de desastres aplicado ao
planejamento urbano. Brasília, DF: Jica, dez. 2018. Disponível em:
<https://www.jica.go.jp/Resource/brazil/portuguese/office/publications
/c8h0vm000001w9k8-att/volume6.pdf>. Acesso em: 30 jul. 2024.

FERREIRA, J.; FELÍCIO, E. Por terra e território: caminhos da revolução


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29 jun. 2024. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/
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go.php?idartigo=1103>. Acesso em: 30 jul. 2024.

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hidrológica. In: SIMPÓSIO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E MEIO
AMBIENTE DA ZONA DA MATA MINEIRA, 1., 2010, Juiz de Fora. Anais
[...]. Juiz de Fora, MG: UFJF, 2010. p. 1-15. Disponível em:
<https://www.labhidro.ufsc.br/Artigos/Art17-Prevencao_de_desastres.p
df>. Acesso em: 30 jul. 2024.

49
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

50
Capítulo 3 |
‘CARACTERÍSTICAS DA TAREFA’: UMA
ANÁLISE SOBRE A PERCEPÇÃO DOS
TELETRABALHADORES DA ÁREA DE
TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E
COMUNICAÇÃO DO INSTITUTO
FEDERAL DO ACRE E DA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE

Raimara Neves de Souza1

Carlos André de Melo Alves2

1
INSTITUTO FEDERAL DO ACRE. Rio Branco. Acre. Brasil. Mestra em
Administração Pública - UnB.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0304282875939583
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9112-7266
Correio eletrônico: [email protected]
2
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA. Brasília. Distrito Federal. Brasil. Doutor em
Administração – USP.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9622111951760093
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9566-2514
Correio eletrônico: [email protected]
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

INTRODUÇÃO

Em dezembro de 2019, teve início a transmissão do


coronavírus SARS-CoV-2, causador da Covid-19, levando a uma
crise sanitária internacional em 2020 (Castaman; Rodrigues, 2020).
No Brasil, o estado de calamidade pública devido à pandemia
resultou em medidas como o distanciamento social. Essa
necessidade influenciou as formas de trabalho nas organizações,
fazendo do teletrabalho a ser uma alternativa para várias
organizações (Figueiredo et al., 2021).

Durante o período da pandemia de Covid-19 foi utilizado o


termo trabalho remoto para reportar-se às políticas adotadas para
aumentar isolamento social e diminuir a propagação da doença.
Constatou-se no período o aumento da implementação do
teletrabalho em organizações públicas e privadas. Essa
constatação pode ensejar reflexões sobre o estudo do desenho do
trabalho inserido nas mudanças vivenciadas pelos trabalhadores.

Conforme Borges-Andrade et al. (2019) e Parker et al.


(2017), desenho do trabalho corresponde ao estudo “da criação e
à modificação da composição, do conteúdo, da estrutura e do
ambiente no qual tarefas e papéis são desempenhados”. Além
disso, as características da tarefa no contexto do desenho do
trabalho relacionam-se com a forma como o trabalho é realizado e
a natureza das tarefas específicas (Rios et al., 2017).

Diante do exposto, neste estudo pretende-se responder o


seguinte problema: quais são as percepções sobre as
‘Características da Tarefa’ dos teletrabalhadores da área de

52
SOUZA e ALVES | Capítulo 3

Tecnologia da Informação e Comunicação do Instituto Federal do


Acre (IFAC) e da Universidade Federal do Acre (UFAC)? Dessa
forma, este estudo tem como objetivo analisar as percepções
sobre as ‘Características da Tarefa’ dos teletrabalhadores da área
de Tecnologia da Informação e Comunicação do IFAC e da UFAC.

Efetuou-se uma pesquisa descritiva com abordagem


predominantemente quantitativa. Aplicaram-se questionários a
uma amostra de 41 técnicos administrativos em educação da área
de TIC, sendo 22 deles do IFAC e os 19 restantes, da UFAC. De
forma complementar, efetuou-se a coleta de documentos a
respeito das áreas de TIC. A operacionalização das ‘Características
da Tarefa’ considerou 24 subcategorias agrupadas em 6 categorias
(1. ‘Autonomia na Planificação do Trabalho’, 2. ‘Autonomia de
Decisão e Realização’, 3. ‘Variedade de Tarefa’, 4. ‘Significado da
Tarefa’, 5. ‘Identificação da Tarefa’ e 6. ‘Feedback do Trabalho’) e
foi baseada no Work Design Questionnaire (WDQ), proposto por
Morgeson e Humprey (2006) e validado para o Brasil por Borges-
Andrade (2019). O tratamento dos dados empregou as estatísticas
descritiva e inferencial não paramétrica, com uso de análise de
resíduos (Pestana; Gageiro, 2005), sendo complementado por
análise documental. Para realizar as estatísticas utilizaram-se o
Microsoft Excel e o Statistical Package for Social Sciences (SPSS).

DESENVOLVIMENTO

O desenvolvimento deste estudo estrutura-se em três


53
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

partes. A primeira delas é conceitual e busca trazer aspectos do


teletrabalho na administração pública, o desenho do trabalho e
características da tarefa. A segunda e a terceira partes apresentam
os resultados da pesquisa empírica citada no último parágrafo da
introdução.

O Teletrabalho na Administração Pública, o Desenho do


Trabalho e as Características da Tarefa
De acordo com Nilles (1997), teletrabalho pode ser
conceituado como o trabalho executado remotamente por meio da
tecnologia da informação, podendo ser em tempo integral ou
parcial. Segundo o art. 75-B da Lei no 13.467, de 2017, considera-
se teletrabalho a prestação de serviços preponderantemente fora
das dependências do empregador, com a utilização de tecnologias
de informação e de comunicação que, não se constituam como
trabalho externo (Brasil, 2017).

Na administração pública federal brasileira, o teletrabalho


iniciou com o Serviço Federal de Processamento de Dados
(SERPRO) e, posteriormente, foi implementado em outras
organizações públicas, como o Tribunal de Contas da União (TCU)
em 2009, a Receita Federal em 2010, a Advocacia Geral da União
(AGU) em 2011 e o Tribunal Superior do Trabalho (TST) em 2012
(Silva, 2015). Durante a pandemia decorrente da Covid-19, entre
29 de junho e 3 de julho de 2020, apurou-se 95% da força de
trabalho da rede federal de educação exercendo atividades por
intermédio do teletrabalho (Brasil, 2020).

Parker (2014) apresenta que o teletrabalho pode afetar,

54
SOUZA e ALVES | Capítulo 3

alterar ou gerar novos desenhos do trabalho. Nesta pesquisa,


desenho do trabalho é o estudo, a criação, a modificação da
composição, do conteúdo, da estrutura e do ambiente no qual
tarefas e papéis são desempenhados (Borges-Andrade et al., 2019;
Parker et al., 2017). Para estudar desenho do trabalho criaram-se
instrumentos de pesquisa, validados através de pesquisas pré-
existentes. Carvalho-Freitas et al. (2019) ressaltam que os estudos
tradicionais sobre desempenho individual focavam principalmente
no desempenho da tarefa. Assim, Morgeson e Humphrey (2006)
criaram um instrumento citado na introdução deste estudo
chamado WDQ e que, conforme Jesus (2019), surgiu para superar
limitações na pesquisa, operacionalizando o conjunto de
dimensões e subdimensões.

Similar ao estudo de Marcon et al. (2019), este estudo


enfatiza um dos termos abordados na literatura sobre desenho de
trabalho, como categoria inclusa no WDQ, chamado
‘Características da Tarefa’. Segundo (Rios et al., 2017, p. 5),
‘Características da Tarefa’ “relacionam-se com a forma como o
trabalho é feito e com o alcance e a natureza das tarefas associadas
a um trabalho específico”, enquanto para Gondim et al. (2019), as
‘Características da Tarefa’, referem-se à maneira como o trabalho
é realizado. Serão consideradas neste trabalho as 6 categorias
associadas às características da tarefa, cuja descrição consta do
Quadro 1 com base em Jesus et al. (2019). Associadas à
‘Características da Tarefa’ são associadas 24 subcategorias
conforme os estudos de Borges-Andrade et al. (2019) e Marcon et
al. (2019). Por fim, o Quadro 1 mostra um construto que possui
respaldo teórico prévio e pode ser empregado para descrever as

55
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

‘Características da tarefa’ de trabalhadores, inclusive da área de


TIC.

Quadro 1. Categorias e subcategorias associadas a ‘Característica da


Tarefa’
Categoria Definição Subcategorias
Scat 01. ‘O meu trabalho possibilita
Nível de que eu decida sobre quando fazer
Cat 01.
liberdade e minhas atividades’; Scat 02. ‘o meu
Autonomia
independência trabalho possibilita que eu decida a
na
na ordem em que as coisas serão feitas’;
planificação
organização Scat 03. ‘o meu trabalho possibilita
do trabalho
do trabalho. que eu planeje como fazer minhas
atividades’.
Scat 04. ‘O meu trabalho me dá a
oportunidade de usar minha iniciativa
pessoal ou julgamento na sua
realização’; Scat 05. ‘O meu trabalho
me permite tomar muitas decisões
por conta própria’; Scat 06. ‘O meu
Nível de
Cat 02. trabalho me proporciona autonomia
independência
Autonomia para tomar decisões’; Scat 07. ‘O meu
e liberdade
de decisão e trabalho me permite tomar decisões
nas tomadas
realização sobre os métodos que uso para
de decisões.
realizá-lo’; Scat 08. ‘O meu trabalho
me dá independência e liberdade de
escolher como realizá-lo’; Scat 09. ‘O
meu trabalho me dá autonomia para
decidir por conta própria como
executá-lo’.
Scat 10. ‘O meu trabalho envolve uma
grande variedade de tarefas’; Scat 11.
A execução
‘o meu trabalho consiste em fazer
Cat 03. de ampla
muitas coisas diferentes’; Scat 12. ‘o
Variedade gama de
meu trabalho exige a realização de um
de tarefas atividades no
amplo conjunto de tarefas’; Scat 13. ‘o
trabalho.
meu trabalho envolve a realização de
uma variedade de tarefas’.
Continua...

56
SOUZA e ALVES | Capítulo 3

Categoria Definição Subcategorias


Scat 14. ‘É provável que os resultados
O quanto a do meu trabalho afetem de forma
atividade significativa a vida de outras pessoas’;
influência a Scat 15. ‘o meu trabalho em si é muito
Cat 04. vida ou significativo e importante em um
Significado trabalho de contexto mais amplo’; Scat 16. ‘o meu
da tarefa outras trabalho tem um grande impacto
pessoas fora sobre as pessoas de fora da
da organização’; Scat 17. ‘o meu trabalho
organização. tem um impacto significativo sobre as
pessoas de fora da organização’
Scat 18. ‘O meu trabalho envolve
completar uma parte da tarefa que
tem começo e fim claros’; Scat 19. ‘O
Envolve a meu trabalho está organizado de
Cat 05. execução do forma que eu possa realizar atividades
Identificação trabalho por completas do início ao fim’; Scat 20.
da tarefa completo. ‘O meu trabalho me dá a possibilidade
de terminar completamente as
atividades que comecei’; Scat 21. ‘O
meu trabalho me possibilita concluir o
que comecei’
Scat 22. ‘As atividades do meu
trabalho fornecem, por si só,
informações diretas e claras sobre a
Feedback a
efetividade (por exemplo, qualidade e
Cat 06. partir do
quantidade) do meu desempenho’;
Feedback do próprio
Scat 23. ‘o meu trabalho, por si só,
trabalho trabalho.
fornece feedback sobre o meu
desempenho’; Scat 24. ‘o meu
trabalho, por si só, me fornece
informação sobre meu desempenho’.
Legenda: ‘Cat’ significa ‘categoria’; ‘Scat’ significa ‘subcategoria’.
Fonte: adaptado de Borges-Andrade et al. (2019) e Jesus et al. (2019).

Por fim, em busca de compreender as ‘Características da


Tarefa’ de teletrabalhadores da área de TIC durante a pandemia,
podem ser empregados estudos a respeito de desenho do trabalho

57
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

e, especialmente, o instrumento WDQ e suas adaptações ao


contexto brasileiro, visto que, segundo Borges-Andrade et al.
(2019), esse instrumento pode auxiliar o entendimento de como a
tecnologia afeta vários contextos profissionais, bem como pode
ajudar a promover intervenções baseadas em evidências para
situações que organizações enfrentam.

Identificação das Percepções Segundo Subcategorias


Associadas às Categorias Referentes às ‘Características
da Tarefa’
A Tabela 1 apresenta análise descritiva das respostas dadas
para as vinte e quatro subcategorias, com o objetivo de identificar
as percepções dos teletrabalhadores da área de TIC sobre as
características da tarefa. As análises apresentam quantidade e
porcentagem em que cada alternativa foi respondida em suas
subcategorias, indicando também as seguintes estatísticas
descritivas: mínimo, máximo, moda e mediana.

Tabela 1. Análise descritiva – subcategorias


DT D NCND C CT Total M M
SCAT Qtd Qtd Qtd Qtd Qtd Qtd MIN MÁX O E
(%) (%) (%) (%) (%) (%) D D
N N
Scat 3 8 18 6 6 41 C C
DT CT
01 (7,32) (19,51) (43,90) (14,63) (14,63) (100,00) N N
D D
N N
Scat 0 2 25 8 6 41 C C
D CT
02 (0,00) (4,88) (60,98) (19,51) (14,63) (100,00) N N
D D
Scat 0 0 12 18 11 41
NCND CT C C
03 (0,00) (0,00) (29,27) (43,90) (26,83) (100,00)
Continua...

58
SOUZA e ALVES | Capítulo 3

DT D NCND C CT Total M M
SCAT Qtd Qtd Qtd Qtd Qtd Qtd MIN MÁX O E
(%) (%) (%) (%) (%) (%) D D
Scat 1 3 11 15 11 41
DT CT C C
04 (2,44) (7,32) (26,83) (36,59) (26,83) (100,00)
N N
Scat 2 10 13 9 7 41 C C
DT CT
05 (4,88) (24,39) (31,71) (21,95) (17,07) (100,00) N N
D D
N
Scat 3 8 14 15 1 41 C
DT CT C
06 (7,32) (19,51) (34,15) (36,59) (2,44) (100,00) N
D
Scat 0 3 10 15 13 41
D CT C C
07 (0,00) (7,32) (24,39) (36,59) (31,71) (100,00)
N N
Scat 1 3 18 15 4 41 C C
DT CT
08 (2,44) (7,32) (43,90) (36,59) (9,76) (100,00) N N
D D
Scat 1 4 12 18 6 41
DT CT C C
09 (2,44) (9,76) (29,27) (43,90) (14,63) (100,00)
Scat 0 0 6 8 27 41 C C
NCND CT
10 (0,00) (0,00) (14,63) (19,51) (65,85) (100,00) T T
Scat 0 1 8 10 22 41 C C
D CT
11 (0,00) (2,44) (19,51) (24,39) (53,66) (100,00) T T
Scat 0 0 8 11 22 41 C C
NCND CT
12 (0,00) (0,00) (19,51) (26,83) (53,66) (100,00) T T
Scat 0 0 8 10 23 41 C C
NCND CT
13 (0,00) (0,00) (19,51) (24,39) (56,10) (100,00) T T
Scat 0 1 3 12 25 41 C C
D CT
14 (0,00) (2,44) (7,32) (29,27) (60,98) (100,00) T T
Scat 0 1 5 8 27 41 C C
D CT
15 (0,00) (2,44) (12,20) (19,51) (65,85) (100,00) T T
N
Scat 2 13 7 11 8 41 C
DT CT D
16 (4,88) (31,71) (17,07) (26,83) (19,51) (100,00) N
D
N N
Scat 2 9 14 9 7 41 C C
DT CT
17 (4,88) (21,95) (34,15) (21,95) (17,07) (100,00) N N
D D
Scat 2 5 10 14 10 41
DT CT C C
18 (4,88) (12,20) (24,39) (34,15) (24,39) (100,00)
Continua...

59
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

DT D NCND C CT Total M M
SCAT Qtd Qtd Qtd Qtd Qtd Qtd MIN MÁX O E
(%) (%) (%) (%) (%) (%) D D
N N
Scat 2 7 14 7 11 41 C C
DT CT
19 (4,88) (17,07) (34,15) (17,07) (26,83) (100,00) N N
D D
N N
8
Scat 2 3 16 12 41 C C
DT CT
20 (4,88) (7,32) (39,02) (29,27) (100,00) N N
(19,51)
D D
Scat 1 2 13 16 9 41
DT CT C C
21 (2,44) (4,88) (31,71) (39,02) (21,95) (100,00)
N N
Scat 0 8 14 13 6 41 C C
D CT
22 (0,00) (19,51) (34,15) (31,71) (14,63) (100,00) N N
D D
N N
Scat 2 9 10 10 10 41 C C
DT CT
23 (4,88) (21,95) (24,39) (24,39) (24,39) (100,00) N N
D D
N N
Scat 2 7 14 8 10 41 C C
DT CT
24 (4,88) (17,07) (34,15) (19,51) (24,39) (100,00) N N
D D
Legenda: Scat 01 a Scat 24 – Subcategorias descritas previamente no
Quadro 1; D – Discordo, DT – Discordo Totalmente, NCND – Nem
Concordo Nem Discordo, C – Concordo, CT – Concordo Totalmente;
Qtd – Quantidade; % - Considerando os 41 respondentes. MIN –
Mínima; MAX – Máxima; MOD – Moda; MED – Mediana.
Fonte: Dados da pesquisa.

Considerando a Tabela 1, as 24 subcategorias (100,00% do


total) apresentaram a alternativa “concordo totalmente” como
máxima, e que 14 delas (58,34% do total das subcategorias)
apresentaram a alternativa “discordo totalmente” como mínima.
Em geral, a percepção de concordância sobre as subcategorias
(“concordo” ou “concordo totalmente”) foi apurada como moda em
13 subcategorias (54,16% das subcategorias) e como mediana em
12 subcategorias (50,00% das subcategorias). Quanto à percepção
de discordância (“discordo” ou “discordo totalmente”), foi apurada

60
SOUZA e ALVES | Capítulo 3

como moda em apenas uma subcategoria (Scat 16) e não houve


subcategoria indicando mediana com percepção discordante. A
sinalização de predomínio para a percepção de concordâncias,
quando comparadas com as discordâncias, considerando as 24
(vinte e quatro) subcategorias das ‘Características da Tarefa’,
alinha-se aos escritos de Marcon et al. (2019) ao descreverem que
os respondentes do seu estudo apresentaram predominância de
concordância.

Em complemento, seis subcategorias exibiram percentual


de concordância acima de 80,00%: Scat 10; Scat11 – o meu
trabalho consiste em fazer muitas coisas diferentes; Scat 12; Scat
13; Scat 14 – é provável que os resultados do meu trabalho afetem
de forma significativa a vida de outras pessoas e Scat 15 – o meu
trabalho em si é muito significativo e importante em um contexto
mais amplo. Acrescente-se que para as subcategorias Scat 10, Scat
13, Scat 14 e Scat 15, esses resultados assemelham-se ao de
Marcon et al. (2019).

Contraste das Percepções Considerando as Categorias


das ‘Características da Tarefa’
Para subsidiar o contraste das percepções previamente
identificadas considerando as categorias específicas das
Características da tarefa, inicialmente aproveitou-se a totalização
das subcategorias por categoria com base as informações da
Tabela 1 e da Figura 1 deste estudo, permitindo vincular as vinte e
quatro subcategorias a cada uma das seis categorias e realizar as
análises descritas na sequência.

61
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI
Tabela 2. Análise descritiva – categorias
DT D NCND C CT Total M M
Cat Qtd Qtd Qtd Qtd Qtd Qtd MÍN MÁX O E
(%) (%) (%) (%) (%) (%) D D
N N
Cat 3 10 55 32 23 123 C C
DT CT
01 (2,44) (8,13) (44,72) (26,02) (18,70) (100,00) N N
D D
Cat 8 31 78 87 42 246
DT CT C C
02 (3,25) (12,60) (31,71) (35,37) (17,07) (100,00)
Cat 0 1 30 39 94 164 C C
D CT
03 (0,00) (0,61) (18,29) (23,78) (57,32) (100,00) T T
Cat 4 24 29 40 67 164 C
DT CT C
04 (2,44) (14,63) (17,68) (24,39) (40,85) (100,00) T
N
Cat 7 17 53 49 38 164 C
DT CT C
05 (4,27) (10,37) (32,32) (29,88) (23,17) (100,00) N
D
N
Cat 4 24 38 31 26 123 C
DT CT C
06 (3,25) (19,51) (30,89) (25,20) (21,14) (100,00) N
D
Legenda: Cat 01 a Cat 06 - categorias previamente citadas no Quadro 1.
D – Discordo, DT - Discordo Totalmente, NCND - Nem Concordo Nem
Discordo, C – Concordo, CT - Concordo Totalmente.; Qtd – Quantidade;
% - percentual considerando a coluna Total igual a 100,00%. MIN –
Mínima; MAX –Máxima; MOD – Moda; MED – Mediana.
Fonte: Dados da pesquisa.

Segundo a Tabela 2, observa-se que as 6 subcategorias


(100,00% do total) apresentaram a percepção ‘concordo
totalmente’ como máxima, e que 5 delas (83,33% do total das
subcategorias) apresentaram a percepção “discordo totalmente”
como mínima. A única categoria que apresentou a percepção
‘Discordo’ como mínima foi Cat 03 – ‘Variedade de tarefas’. A
Tabela 2 permite constatar, ainda, que essa Cat 03 apresentou a
percepção ‘concordo totalmente’ para moda e mediana. Por sua
vez, a Cat 01 – ‘Autonomia e planificação da tarefa’ é a única com
a percepção ‘não concordo nem discordo’ como moda e mediana.
Em geral, a percepção de concordância sobre as categorias foi

62
SOUZA e ALVES | Capítulo 3

apurada como moda em 3 categorias (50,00% das subcategorias) e


como mediana em 5 categorias (83,33% das categorias) e não
houve percepção de discordância para moda ou mediana.

Além da análise descritiva foi possível efetuar uma análise


inferencial, adotando-se o Teste Qui-Quadrado. A hipótese nula
desse teste (H0) foi a de que não havia diferenças significativas
entre a percepção dos teletrabalhadores sobre as categorias
específicas da ‘Características da tarefa’ e a hipótese alternativa
(H1) indicou que essas diferenças entre a percepção dos
teletrabalhadores era significativa. O resultado desse teste consta
da Tabela 3, mostrando que o resultado do Teste Qui-quadrado foi
140,71 para 20 graus de liberdade, com um nível de significância
de 0,00. Desta forma, pode-se concluir pela rejeição da hipótese
nula, no nível de significância de 0,05, sugerindo haver diferenças
significativas na percepção dos teletrabalhadores, considerando as
referidas categorias.

Tabela 3. Análise inferencial – Teste Qui-Quadrado – categorias


Graus de
N Qui-Quadrado Significância
liberdade
984 140,711 20 0,00**
Legenda: 1 – Todos os requisitos para execução dos testes qui-
quadrados foram atendidos. N – Número de respostas dadas para as
subcategorias associadas às categorias.
** Significativo a 0,05.
Fonte: Dados da pesquisa.

Considerando a significância obtida no Teste Qui-


Quadrado, efetuou-se a análise de resíduos que, conforme
previamente citado na metodologia, considera dentro da
normalidade a frequência das respostas que apresentam variação
entre -1,96 e 1,96, com significância de 0,05 (Pestana; Gageiro,

63
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

2005). Os resultados dessa análise de resíduos estão descritos na


Tabela 4. Na referida tabela, constata-se que a Cat 01 –
‘Autonomia e planificação da tarefa’ apresenta mais respostas do
que o esperado em “Nem concordo, nem discordo” e menor
frequência de respostas do que o esperado em “concordo
totalmente”. Esse resultado alinha-se com os resultados da
estatística descritiva citados na Tabela 2, indicando que Cat 01
apresentou a percepção “Nem concordo nem discordo” como
moda e mediana. Nos estudos de Marcon et al. (2019) e Carvalho-
Freitas et al. (2019), os respondentes apresentaram maior
tendência para a percepção de concordância com a categoria.

Com base na Tabela 4, constata-se que Cat 02 – ‘Autonomia


de decisão e realização’ apresenta mais frequências de respostas
do que o esperado para a percepção “Concordo”, e menor
frequência do que o esperado para a percepção “Concordo
totalmente”. Estes resultados são corroborados pelo estudo de
Carvalho-Freitas et al. (2019), o qual relatou que respondentes
para essa categoria apresentaram uma concordância parcial com a
categoria.

Tabela 4: análise de resíduos - categorias


Categoria DT D NCND C CT
Cat 01 -0,14 -0,92 3,30 -0,47 -2,20
Cat 02 0,59 0,82 0,86 2,10 -3,58
Cat 03 -2,08 -3,99 -2,50 -1,08 6,57
Cat 04 -0,16 1,46 -2,65 -0,93 2,68
Cat 05 1,28 -0,20 0,85 0,39 -1,49
Cat 06 0,42 2,91 0,44 -0,64 -1,70
Legenda: Cat 01 a Cat 06 – categorias previamente citadas no Quadro
1; D – Discordo; DT – Discordo Totalmente; NCND – Nem Concordo
Nem Discordo; C – Concordo; CT – Concordo Totalmente.
Fonte: Dados da pesquisa.

64
SOUZA e ALVES | Capítulo 3

Em adição, conforme mostra a Tabela 4, a Cat 03 –


‘Variedade de tarefas’ apresenta maior variação de resposta para a
percepção “Concordo totalmente”, com frequências menores do
que o esperado em “Discordo totalmente”, “Discordo”, “Nem
concordo, nem discordo”. Na pesquisa de Marcon et al. (2019), os
dados encontrados apresentam predominância de maior
concordância por partes dos gestores, assim como os
respondentes da pesquisa de Carvalho-Freitas et al. (2019).

Já para a Cat 04 – ‘Significado da tarefa’ vale destacar na


Tabela 4 maior frequência do que o esperado em respostas para a
percepção “Concordo Totalmente” e menor frequência do que o
esperado em “Nem Concordo nem Discordo”. Nos estudos de
Carvalho-Freitas et al. (2019), é apresentada concordância com a
categoria, os gestores do estudo de Marcon et al. (2019)
apresentaram maior índice de concordância; enquanto Abbad et al.
(2019) em sua comparação com trabalhadores presenciais e
teletrabalhadores, relatam que os teletrabalhadores apresentaram
baixa concordância com esta categoria.

A Cat 05 – ‘Identificação da tarefa’, para os dados exibidos


na Tabela 4, não houve variações em respostas dos
teletrabalhadores, quando comparada com o valor esperado. A
este respeito, a pesquisa de Carvalho-Freitas et al. (2019)
apresentou concordância nesta categoria, enquanto a pesquisa de
Freitas e Odelius (2021) apresentou menor concordância.

A Cat 06 – ‘Feedback do trabalho’ apresenta na Tabela 4,


frequência de respostas acima da esperada na percepção
“discordo”. Esses resultados, também, foram encontrados nos
estudos de Gondim et al. (2019) e justificados pelo acúmulo de
tarefas dificultando a reflexão crítica sobre o desempenho. Por sua
65
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

vez, os resultados diferem das pesquisas de Marcon et al. (2019) e


Carvalho-Freitas et al. (2019), que identificaram concordância
entre os respondentes, observando que a categoria apresenta
resultados divergentes conforme os respondentes das pesquisas
estudadas.

Por fim, os resultados exibidos sobre a comparação das


percepções dos teletrabalhadores de TIC a respeito das categorias
associadas a características da tarefa, indicaram que a análise
descritiva, em geral, sinalizou a percepção de concordância como
moda em 3 categorias e como mediana em 5 categorias, e que não
houve percepção de discordância para moda ou mediana. Por sua
vez, a análise inferencial sinalizou que essa percepção dos
teletrabalhadores diferenciaram-se com excesso de ocorrências
para cinco categorias, destacando-se a percepção ‘concorda
totalmente’ para Cat 03 – Variedade de tarefas. Em adição,
constataram-se excessos de ocorrências em percepções para
outras quatro categorias: a percepção ‘concorda totalmente’ para
Cat 04 – ‘Significado da Tarefa’, a percepção ‘concordo’ para Cat
02 – ‘Autonomia de Decisão e Realização’, a percepção ‘não
concordo nem discordo’ para Cat 01 – ‘Autonomia na planificação
do trabalho’ e, em certa medida acima do esperado, a percepção
‘Discordo’ de Cat 05 – ‘Feedback do trabalho’.

CONCLUSÃO

O objetivo geral deste estudo foi analisar as percepções

66
SOUZA e ALVES | Capítulo 3

sobre as “Características da Tarefa” dos teletrabalhadores da área


de TIC do IFAC e da UFAC. Esta pesquisa pode auxiliar gestores
no entendimento das ‘Características da Tarefa’ de trabalhadores
da área de TIC, podendo ainda contribuir para o entendimento do
desenho de trabalho de forma mais ampla.

Após o exame de 984 respostas para subcategorias, as


evidências presentes nos resultados, indicaram, em geral, a
percepção dos respondentes de concordância sobre as
subcategorias pertinentes às categorias associadas às
características da tarefa. Tal concordância (“concordo” ou
“concordo totalmente”) foi apurada como moda em 13
subcategorias (54,16% das subcategorias) e como mediana em 12
subcategorias (50,00% das subcategorias).

Adicionalmente, os resultados da comparação das


percepções dos teletrabalhadores de TIC considerando as seis
categorias pertinentes às características da tarefa indicaram, numa
análise descritiva, a concordância como moda em 3 categorias e
como mediana em 5 categorias, e que não houve percepção de
discordância para moda ou mediana. Por sua vez, a análise
inferencial sinalizou que percepções dos teletrabalhadores
diferenciaram-se com excesso de ocorrências para cinco
categorias, destacando-se a percepção ‘concordo totalmente’ para
a categoria ‘Variedade de tarefas’ e, em certa medida acima do
esperado, a percepção ‘Discordo’ para a categoria ‘Feedback do
trabalho’.

Por fim, como sugestões para estudos futuros, recomenda-


se: analisar, na forma de estudos de caso em profundidade,
aspectos formais que possam influenciar a percepção sobre as

67
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

Características das Tarefa; descrever outros aspectos abrangidos


no instrumento WDQ para o melhor entendimento de outros
assuntos relativos a desenho do trabalho, abrangendo as áreas de
TIC das IES estudadas, de outras IES não abrangidas no lócus deste
estudo.

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71
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

72
Capítulo 4 |
ESTUDO DE CASO NA UNB: FATORES
INIBIDORES E FACILITADORES AO
FOMENTE À INOVAÇÃO

Pedro Ravizzini Furtado1

Jonilto Costa Sousa2

Pedro Henrique Rodrigues de Camargo Dias3

1
Universidade de Brasília. Brasília. Distrito Federal. Brasil. Mestre em Gestão
Pública.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0637144888909463
ORCID: https://orcid.org/0009-0006-4815-4668
Correio eletrônico: [email protected]
2
Universidade de Brasília. Brasília. Distrito Federal. Brasil. Doutor em
Administração.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/2798671439590312
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8656-2124
Correio eletrônico: [email protected]
3
Universidade de Brasília. Brasília. Distrito Federal. Brasil. Mestre em Gestão
Pública.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/5350593196099882
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7486-1362
Correio eletrônico: [email protected]
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

INTRODUÇÃO

A inovação no setor público brasileiro tem seguido uma


tendência de incorporar práticas de inovação das organizações
privadas, especialmente nas Instituições Federais de Ensino (IFE).
As universidades desempenham um papel crucial, não apenas na
geração de novos conhecimentos por meio da pesquisa e
desenvolvimento, mas também no apoio ao processo de inovação
nas empresas, formando mão-de-obra qualificada e contribuindo
para o desenvolvimento socioeconômico nacional (Reis, 2004;
Marcovitch, 1999).

Estudos de Kuhlmann (2008) destacam a importância do


governo no fomento à inovação tecnológica, essencial para o
crescimento e desenvolvimento de uma nação. Nos últimos anos,
o Brasil tem ampliado a oferta de recursos para programas de
financiamento público voltados a atividades de pesquisa e
desenvolvimento (Wallsten, 2000).

Diante dos desafios tecnológicos globais, é imperativo que


o Brasil esteja preparado para transformações que impactam o
mundo (Arbix et al., 2017). As universidades precisam amadurecer
e se internacionalizar, uma vez que o fluxo de conhecimento é vital
para a recuperação econômica do país. Empresas, pressionadas por
mercados regionais e globais, devem elevar seu nível de pesquisa,
desenvolvimento e inovação. Nesse contexto, a colaboração entre
setor público, privado e universidades, conforme o modelo da
tríplice hélice, surge como uma solução promissora.

Os gestores reconhecem a necessidade de melhorar o

74
FURTADO, SOUSA e DIAS | Capítulo 4

conhecimento dos instrumentos de gestão para inovação,


apontando o modelo da hélice tríplice como uma solução potencial
para integrar os processos entre universidade, empresa e governo,
promovendo o redesenho de políticas públicas integradas (Sousa
et al., 2017). Inovação, como processo que necessita ser gerido,
deve estar alinhada à estratégia organizacional da instituição
(Scherer; Carlomagno, 2009).

Esta pesquisa tem como objetivo identificar e caracterizar


os fatores que facilitam e inibem o fomento à inovação pelo
Departamento de Pesquisa e Inovação da Universidade de Brasília
(UnB). A pesquisa se justifica pela importância das universidades
na geração de novos conhecimentos e no desenvolvimento de
pesquisas que contribuem para a inovação em organizações
públicas e privadas. Essas instituições são vistas como agentes
centrais em economias baseadas no conhecimento,
desempenhando um papel empreendedor no desenvolvimento
econômico regional através da criação de conhecimento científico
e tecnológico aplicado, resultando em inovação (Etzkowitz;
Leydesdorff, 1997).

FATORES QUE IMPACTAM O FOMENTO DE INOVAÇÃO


PELAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS PARA O
DESENVOLVIMENTO

As universidades desempenham um papel crucial no


desenvolvimento econômico e social local e regional,
75
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

responsabilidade fortalecida pela Lei de Inovação de 2004 e seu


marco legal de 2016 (Brasil, 2014 e 2016). O modelo da Hélice
Tríplice, que envolve universidades, indústria/empresas e governo,
coloca essas instituições em papéis igualmente importantes na
promoção da inovação. A interação universidade-empresa, com
apoio governamental, é essencial para o desenvolvimento
socioeconômico, como exemplificado pelo sucesso da Coreia do
Sul em maximizar a capacidade de inovação e competitividade
tecnológica (Leydesdorff; Etzkowitz, 1996).

No Brasil, a inovação ainda é emergente, com políticas


públicas recentes voltadas para o financiamento de pesquisa e
desenvolvimento, principalmente em pequenas e médias
empresas, que ainda não geraram impactos sociais significativos
(Iacono; Almeida; Nagano, 2011). O Estado deve, portanto, criar
um ambiente mais propício para a inovação, garantindo
estabilidade econômica e financiamentos adequados para
estimular a colaboração entre empresas, universidades e institutos
de pesquisa (De Negri; Kubota, 2008).

Embora políticas de inovação tenham avançado, a cultura


de inovação no Brasil ainda é incipiente, necessitando de
aperfeiçoamento e consolidação para enfrentar os desafios
tecnológicos globais (Arbix et al., 2017). As universidades são
fundamentais para estimular a economia, graças ao fluxo de
conhecimento que promovem. No entanto, existem barreiras
significativas, como questões burocráticas, falta de mecanismos de
intermediação, e dificuldades na gestão de projetos inovadores,
que limitam a cooperação entre universidades e o setor produtivo
(Closs; Ferreira, 2010).

76
FURTADO, SOUSA e DIAS | Capítulo 4

Para superar essas barreiras, é necessário promover uma


perspectiva mais aberta de inovação, que incorpore colaboração
entre cidadãos, empresários e sociedade civil, além de utilizar
novas tecnologias para apoiar processos de inovação pública
(Gascó, 2017).

METODOLOGIA DA PESQUISA

A pesquisa adotou uma abordagem qualitativa, exploratória


e descritiva, com foco no estudo de caso da Universidade de
Brasília (UnB) para identificar fatores inibidores e facilitadores ao
fomento à inovação. Conforme Creswell (2007), a pesquisa
qualitativa é adequada para estudos exploratórios, onde o
pesquisador busca compreender fenômenos por meio de interação
com os participantes.

O estudo utilizou o estudo de caso como estratégia de


investigação (Godoy, 2010), tendo como lócus da pesquisa o
Decanato de Pesquisa e Inovação (DPI) da UnB. Foram aplicadas
três técnicas principais de coleta de dados: pesquisa documental,
entrevista semiestruturada e pesquisa bibliográfica.

A pesquisa documental abrangeu a análise de leis de


inovação (2004 e 2016), o decreto de inovação (2018), atas de
reuniões, resoluções da UnB, editais de pesquisa e documentos
internos do DPI. Estes documentos serviram como base para
aprofundamento do conhecimento antes das entrevistas,

77
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

permitindo uma análise mais rica das informações coletadas.

Foram realizadas entrevistas em dois momentos:


inicialmente, entrevistas preliminares com especialistas do DPI
para explorar o tema e delinear o objeto de estudo; e
posteriormente, entrevistas mais detalhadas para levantar dados
específicos sobre os fatores inibidores e facilitadores da inovação.
As entrevistas foram registradas e transcritas para análise,
preservando a identidade dos entrevistados por meio de
designações alfanuméricas. O Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido foi apresentado e aceito pelos participantes.

A pesquisa bibliográfica focou em publicações científicas,


com um recorte temporal de dez anos (2009-2019), buscando
termos como “Inovação no setor público” e “Gestão da Inovação”
em português e inglês. As bases de dados utilizadas incluíram o
Portal de Periódicos da CAPES e a Biblioteca Digital de Teses e
Dissertações (BDTD), com filtros para as áreas de Ciências Sociais
Aplicadas e Administração Pública. A análise incluiu leitura de
resumos, palavras-chave, e fichamento dos materiais relevantes.

Para análise dos dados/informações optou-se pela análise


de conteúdo a partir dos protocolos de Bardin (2010), que
permitiram a construção e classificação das categorias com base
na semântica, identificando semelhanças, diferenças,
convergências e divergências entre os dados, para produzir
descrições e interpretações (Franco, 2012).

78
FURTADO, SOUSA e DIAS | Capítulo 4

IDENTIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE FATORES


INIBIDORES AO FOMENTO DA INOVAÇÃO PELO DPI

A partir da aplicação da técnica análise de conteúdo


resultou na construção de duas categorias, a posteriori, em relação
aos fatores inibidores ao fomento da inovação pelo DPI: Categoria
I – Estruturação Interna; e Categoria II – Burocracia e
conhecimento legal.

Categoria I – Estruturação Interna. Definição: reduzida


maturidade organizacional a qual a Universidade de Brasília está
submetida quanto à sua estruturação organizacional voltada à
inovação em temos de organização, disposição de recursos
humanos e financeiros.

A partir da fala de E1, aponta que existem fatores inibidores


ao fomento de inovação como falta de política e estruturação
organizacional, não só no âmbito da UnB, como no Distrito
Federal: “a falta da política [...], a própria não estruturação interna
mínima para você pelo menos pensar em inovação, outra questão
da própria região, o fato da gente não ter um DF estruturado para
inovação [...]”. Neste contexto, Brandão (2012) corrobora com a
ideia de que a dificuldade de articulação Intersetorial, a estrutura
organizacional verticalizada, a baixa capacidade técnica dos
estados e municípios são barreiras à inovação.

Depreende-se que a UnB detém relevantes desafios no


fomento à inovação como implementação de política institucional
efetiva e definição prática de atividades das unidades,
considerando as atribuições contidas na Resolução do Conselho

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O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

Universitário n.º 0001/2017, e a necessidade por instituição de


política de inovação prevista no Marco Legal de Inovação, Lei nº
3.243/2016, visando, assim, ao melhor desempenho conjunto das
unidades e sua estruturação.

Por sua vez, argumenta E4 a necessidade de que as ações


de inovação tenham caráter contínuo e que fomentem o
empreendedorismo por meio de eventos, disciplinas, encontros e
atividades relacionadas:

a gente fomentar um ambiente até na universidade


que permita que ideias inovadoras venham à tona,
então tem momentos de encontro, ter eventos, ter
disciplinas que fomentem isso, enfim, da gente
manter sempre a bola em campo, isso é importante
para fomentar o empreendedorismo e a inovação, a
gente praticamente não fala de um sem o outro.

Argumenta E1 no sentido de que a UnB absorva os recursos


que poderiam ser reinvestidos em inovação, porém são devolvidos
por limites financeiros:
a universidade capta muito, poderia investir,
reinvestir na própria universidade, mas a gente tem
devolvido de setenta a cem milhões de reais por ano
para o governo federal, porque a gente bate num teto
[...] para a gente é muito ruim.

Para E1, a universidade obtém recursos financeiros, porém


os órgãos de controle os visualizam como fonte de lucro: “os
órgãos de controle compreenderem que essa captação de recursos
também gera riqueza, e que a gente aqui na universidade não está
querendo ganhar dinheiro”.

Os pesquisadores Sousa e Bruno-Faria (2013) explicam que


a ausência de recursos financeiros é um entrave ao fomento de

80
FURTADO, SOUSA e DIAS | Capítulo 4

inovação, ao mesmo tempo que Falqueto e Farias (2013) afirmam


que há fatores como rigidez e o excesso de regras induzem à falta
de dinamismo gerencial e eficiência de resultados em
universidades. Infere-se, porquanto, que a dificuldade da
instituição quanto à maximização de recursos financeiros ao
fomento de inovação, tendo em vista a limitação proporcionada
por leis, órgãos de controle e a ausência de política institucional.

Salienta E1 que existe a necessidade de aprimoramento da


gestão de setores do DPI como o CDT, o qual ainda sofre
mudanças estruturais de atividades:

tem que mudar o modelo do NIT, do CDT, e agregar


mais gente ao NIT na verdade, para ele ficar focado
nessas duas coisas que a gente falou, da proteção de
propriedade intelectual e empreendedorismo, e toda
parte de empreendedorismo, incubação, startup, [...]
isso eu acho que ainda precisa de muito trabalho.

Ressalta E4 que existem fatores inibidores à inovação como


recursos materiais e financeiros, número reduzido de projetos de
inovação e falta de espaço, porém destaca que a maior dificuldade
se trata de falta de recursos humanos: “o que a gente tem mais
dificuldade é recurso no momento, recursos humanos, recursos
materiais”.

Ressalta Janissek et al. (2016) que a gestão organizacional,


modernização de processos e gestão de pessoas são considerados
elementos-chave para uma gestão inovadora universitária. Isso
pode levar universidades com problemas em recursos humanos e
dimensionamento de equipe ao insucesso em termos de inovação.

Salienta E1 que o PCTEC era pequeno e que agora está em


processo de crescimento na UnB:

81
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI
aqui o nosso NIT é forte, mas o nosso parque não
tinha quase nada, você olha para o parque, nem estou
olhando para a China, eu estou olhando para o Brasil
mesmo, São José dos Campos, UFRJ, então você vê
como o nosso parque é pequeno.

Discorre E1 que o PCTEC, unidade do ecossistema de


inovação da UnB, ainda está se estruturando e se integrando
completamente ao DPI:

eu acho que uma coisa também é o parque se


reestruturar, então o resumo da opera que o nosso
ecossistema de inovação tem que ser completamente
mesmo, a gente tem que terminar esse processo, [...]
eu acho que a gente consegue, mas tem muita coisa
ainda para ser aprimorada mesmo.

Por sua vez, observa Baldoni (2014) que o parque


tecnológico é indutor para a ampliação de oportunidades de
emprego, valorização de pesquisas, criação de projeto e
contribuição de P&D, isto é, contribui para o desenvolvimento
regional, o que justifica a instituição do PCTEC, por meio da
Resolução do Conselho Universitário n.º 0011/2018 (Brasil,
2018b), como órgão complementar, ligado diretamente à reitoria,
com caráter estratégico dentro da UnB e unidade indutora de
inovação.

Quanto à Categoria II – Burocracia e conhecimento legal,


que tem por definição: limitado conhecimento sobre leis,
regramentos internos e externos, e procedimentos vinculados ao
fomento de inovação na UnB. O entrevistado E5 explana que os
fatores inibidores à inovação têm cunho burocrático e de
entendimento jurídico que impactam diretamente a relação entre
mercado e universidade.

82
FURTADO, SOUSA e DIAS | Capítulo 4

Os estudos de Stewart (2014) apontam que a burocracia é


um obstáculo que pode se manifestar por meio de tensões entre
departamentos e pessoas, sendo um dos principais motivos para
que organizações não impulsionem projetos de cooperação com
universidades e que haja transferência tecnológica. Sustentar a
inovação torna-se mais difícil do que iniciá-la. A Lei nº
13.243/2016 prevê condições e deveres das ICT em relação ao
fomento financeiro e estímulo de ações vinculadas à inovação,
visando criar meios para a inovação se desenvolver na seara
universitária e nas relações com o mercado (Brasil, 2016).

Salienta E4 que o desconhecimento sobre legislação e


processos internos da UnB dificultam o estímulo à inovação:

muitas vezes a comunidade acadêmica desconhece o


que pode, o que não pode, a gente enfrenta
dificuldades, isso não é só aqui na UnB, com os órgãos
de controle porque também não estão a par ainda,
porque isso tudo é um processo que vai se
desenvolvendo, dar a brechas que essas legislações
oferecem para fomentar a inovação.

Destaca E1 sobre a necessidade de se criar instrumentos


normativos para o desenvolvimento de atividades de inovação,
como na implementação de uma política de inovação: “primeiro
terminar todo esse arcabouço de resolução internas[...]”.

Por sua vez, indica E2 a necessidade do DPI na busca por


conhecimento em inovação: “apesar de a gente não entrar no
mérito de cada projeto, isso não impede que nós possamos de
alguma forma aprender, conhecer um pouco mais da inovação”. O
Decreto nº 9.283/2018 trouxe avanços para o fomento à inovação
no contexto universitário em termos de instrumentos e
regramentos, o que demanda conhecimento profundo para sua
83
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

aplicação.

Infere-se, desse modo, que a burocracia, o desenvolvimento


técnico sobre legislações e processos institucionais morosos são
inibidores ao fomente à inovação, quer sejam por meio de ações
institucionais, ou por meios da disponibilização de recursos
materiais, financeiros e de pessoal. O conhecimento e
entendimento da legislação, regimentos e procedimentos
institucionais pela própria UnB detém relevância para o
desenvolvimento de política e ações de fomento à inovação.

IDENTIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE FATORES


FACILITADORES AO FOMENTO À INOVAÇÃO PELO DPI

A aplicação das técnicas de pesquisa possibilitou a


identificação e caracterização de fatores facilitadores ao fomento
à inovação pelo DPI, vinculado ao contexto atual e percepção dos
atores entrevistados, em duas categorias: apoio técnico-político e
apoio legal.

Categoria III – Apoio técnico-político. Definição: O apoio


técnico da equipe de gestores e servidores, bem como de
infraestrutura física disponíveis na instituição para o fomento à
inovação apresenta-se com facilitador ao fomento à inovação pelo
DPI.

A respeito do apoio técnico-político, destaca E1 que fatores


como a instalação dos parques de pós-graduação e projetos e
84
FURTADO, SOUSA e DIAS | Capítulo 4

pesquisas são facilitadores ao fomento de inovação na UnB: “está


prontinho para gerar inovação é o nosso parque de pós-graduação
instalado, e o nosso parque de projetos e pesquisas que não estão
ligados à pós-graduação”. Salienta E3 que a concepção do DPI, por
meio da Resolução do Conselho Universitário nº 0001/2017
(Brasil, 2017), unidade com foco em inovação na UnB, foi um
facilitador inicial:

a criação do DPI foi um facilitador, [...] você tinha um


decanato que era de pesquisa e pós-graduação que
ninguém falava de inovação, então eu acho que ter
separado isso, ter deixado a pós-graduação separada
da pesquisa e inovação, [...] eu acho que foi
importante, então isso facilitou muito.

Ressalta E1 que a UnB possui corpo técnico capacitado à


inovação como fator facilitador:

nós temos aqui também um corpo técnico no DPI que


está muito interessado em fazer isso funcionar [...],
nós temos um corpo de pesquisadores fantásticos
assim, e acho que isso é um diferencial enorme.

Destaca E3 sobre produção do conhecimento,


infraestrutura laboratorial e recursos como fatores facilitadores:
é uma universidade muito rica em termos de
produção do conhecimento, e mesmo em termos de
infraestrutura laboratorial a gente tem uma coisa
imensa aqui dentro, então isso também é um grande
facilitador, a gente tem muito recurso já estabelecido
aqui, o que a gente precisa e manter melhor esses
recursos, usar melhor também.

Segundo Gascó (2017) e Brandão (2012), a qualificação


técnica de colaboradores e os laboratórios são fatores que podem
apoiar a inovação pública, por meio de concessão de auxílio e
bolsas em pesquisas, e o custeio na participação de discentes ou
85
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

docentes em publicações de revistas científicas ou na participação


em eventos relacionados à inovação.

Infere-se que a UnB dispõe de apoio técnico por meio de


servidores dispostos a realizarem atividades relacionadas à
inovação com comprometimento e engajamento, além da busca
pelo conhecimento, e ainda, ampla quantidade de laboratórios em
funcionamento. Esse aspecto já contribui para resultados em
pesquisa e produção do conhecimento, colaborando, com o
aspecto de apoio técnico como um facilitador ao fomento de
inovação.

Categoria IV – Apoio Legal. Definição: a consolidação do


apoio advindo de legislações e regramentos externos à UnB no
tocante ao fomento de inovação.

Em relação ao apoio legal, E5 destaca que fatores como o


Decreto nº 9.283/2018 apoiado pela Lei de Inovação, contribuem
para o fomento à inovação na UnB:

primeiro deles é o decreto, é o decreto, é a lei do bem,


é a percepção de que esse mecanismo está rodando,
é o fato do DPI estar justamente gerando alguns
editais específicos para quando você tem ações de
inovação, ou multiusuário ou prestação de serviços.

O Decreto nº 9.283, de 2018, prevê instrumentos jurídicos


como termos de cooperação, contratos e convênios,
procedimentos e parâmetros para a operacionalização das
referidas leis. Esse decreto visou estabelecer medidas de incentivo
à inovação, à pesquisa científica e tecnológica no ambiente
produtivo, com vistas à capacitação tecnológica, ao alcance da
autonomia tecnológica e ao desenvolvimento do sistema
produtivo nacional e regional por meio da relação entre governo-
86
FURTADO, SOUSA e DIAS | Capítulo 4

universidade-empresa.

O entrevistado E1 destaca que o Decreto nº 9.283/2018


gerou avanços no fomento à inovação: “o decreto realmente abriu
possibilidades e foi um avanço, sem dúvidas nenhuma”. Salienta E3
que o decreto oferece novas oportunidades e perspectivas sobre
inovação:

o decreto ele ajuda porque ele traz um monte de


aberturas que antes a gente não tinha, então tudo
está ficando mais fácil, você agora, por exemplo, tem
a possibilidade de um professor ser sócio minoritário
numa empresa, então estão abrindo muitas
perspectivas.

Dentro dessa visão, aponta E4 que o decreto regulamenta


pontos que não eram previstos na Lei nº 13.243, de 2016, o Marco
Legal da inovação, que criou responsabilidades e deveres no
fomento à inovação: “veio a regulamentar uma série de pontos, [...]
os dispositivos já estavam todos na lei, enfim, eu acredito que ele
veio para ajudar sim”. Observa-se que Brandão (2012) corrobora
com a ideia de que apoio político e requisitos legais são indutores
à inovação.

Compreende-se que o Decreto nº 9.283/2018 cria


regramentos e padrões referentes ao Marco Legal de Inovação por
meio de instrumentos jurídicos e ferramentas de transparência, o
que impulsiona a UnB a criar procedimentos próprios ao fomento
de inovação, facilitando assim a implantação de uma política
institucional voltada à inovação, fator exigido legalmente.

O Decreto nº 9.283/2018, ainda prevê a participação das


universidades no capital social de empresas que tiveram origem em
processo de incubação, porém E1 destaca que a UnB não detém

87
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

participação em nenhuma empresa e não haverá previsão em


política institucional de inovação, a ser divulgada pela instituição:

a gente não tem não, nós nem enveredamos por essa


seara, estamos longe de ter isso assim, não vejo isso
em curto prazo aqui na UnB de jeito nenhum [...] a
gente nem está colocando isso na política agora.

E4 acredita que não haverá participação da UnB em capital


social de empresas em período breve:

acho que é muito recente ainda, e fazer parte do


capital social, a universidade é um órgão público, né,
por mais que a lei permita ainda tem um trajeto muito
grande para você conseguir colocar isso em paralelo
ou junto com uma iniciativa privada.

Salienta E1 que a política institucional de inovação poderá


contribuir para a eficiência e segurança jurídica das ações voltadas
à inovação: “cada um fazia por conta, uma coisa é você fazer por
conta própria, outra coisa é uma política que realmente facilite,
agilize, dê segurança jurídica, então é isso que a gente está
apostando”.

Destaca E3 que com a política, a inovação seja


descentralizada às unidades acadêmicas da UnB:

estamos querendo com essa nova política que o


ecossistema seja a universidade inteira, então a
inovação pode acontecer dentro das unidades
também, você criar uma empresa incubada dentro de
uma unidade, ou fazer, isso tudo pode ser feito
também.

Ressalta ainda E3 que a política de inovação, prevista na Lei


nº 13.243, de 2016, facilitará para definir regras e
responsabilidades: “a política deixa clara as regras, as
responsabilidades, quem e que faz o que, as regras para que aquilo
88
FURTADO, SOUSA e DIAS | Capítulo 4

aconteça”. Corrobora Gascó (2017) com a ideia de que a inovação


é uma questão importante na agenda política e acadêmica, e que
haja um modelo mais aberto para inovar. Dessa forma, o apoio
proporcionado por instrumentos normas e regras legais,
regramentos externos à UnB facilita o fomento à inovação pelo
DPI.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa possibilitou identificar e caracterizar os


fatores inibidores e facilitadores ao fomento à inovação pelo DPI,
considerando o contexto atual da UnB e metodologia de pesquisa
aplicado. Os fatores inibidores e facilitadores ao fomento de
inovação pelo DPI foram divididos em duas categorias cada, os
inibidores: estruturação interna; burocracia e conhecimento legal;
já os facilitadores: apoio técnico-político; e apoio legal.

A UnB dispõe de apoio técnico por meio de servidores


dispostos a realizar atividades relacionadas à inovação com
dedicação e engajamento, além da busca desses pelo
conhecimento. Ademais, a universidade possui uma relevante
quantidade de laboratórios em funcionamento, que implica em
pesquisa e produção do conhecimento, corroborando com o
aspecto de apoio técnico como um facilitador ao fomento de
inovação.

O apoio político da UnB possui destaque no processo de

89
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

estruturação de meios e atividades ao fomento de inovação na


instituição, levando em conta a concepção de um decanato
responsável por pesquisa e inovação foi criado, o DPI, a criação da
Política de Inovação da UnB, e que houve a estruturação de
parques ligados à pesquisa e desenvolvimento de projetos também
ligados à inovação, como o PCTEC e o Parque de Pós-Graduação.

O Decreto nº 9.283/2018, baseado nas Leis nº


10.973/2004 e nº 13.243/2016, criam regramentos e padrões ao
fomento da inovação por meio de instrumentos jurídicos como
termos de parceria e convênio e ferramentas de transparência, o
que estimula a UnB a criar procedimentos próprios ao fomento à
inovação, facilitando assim a execução da política institucional
voltada à inovação.

Destaca-se a relevância estratégica de atuação do


Ecossistema ao fomento de inovação na UnB, sendo as duas
unidades componentes, DPI e PCTEC, fundamentais para a
condução de atividades de inovação, principalmente em
desenvolvimento de tecnologia e conhecimento por empresas
incubadas e interação com empresas consolidadas em mercado, as
quais possuem experiência e know-how tecnológico.

O empenho conjunto das unidades de inovação, fortalecido


pela Política de Inovação, resulta em atuação estratégica interna,
por meio da colocação de empresas incubadas em mercado,
quanto externa, através de parcerias com organizações
consolidadas as quais trazem recursos e meios tecnológicos, o que
evidencia a robustez e evolução do Ecossistema de Inovação da
UnB.

A criação de instrumentos e mecanismos voltados à


90
FURTADO, SOUSA e DIAS | Capítulo 4

inovação, como a concepção do DPI, a formação do Ecossistema


de Inovação da UnB, a divulgação da Política de Inovação, o que
culminam na expansão de atividades promovidas pela
universidade, tal como possibilitou a descentralização de ações a
unidades acadêmicas e administrativas, na participação da
comunidade universitária e externa em ações de inovação e,
principalmente, estimula uma cultura de inovação.

Recomenda-se, para futuras pesquisas, que se estude como


a política institucional de inovação da UnB, impactou no fomento
de inovação pelo Ecossistema da universidade. Sugere-se,
também, que seja realizada pesquisa no campo da cultura
organizacional voltada à inovação no âmbito da UnB.

REFERÊNCIAS

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equívocos e instabilidade das Políticas de Inovação no Brasil. Novos
Estudos CEBRAP, São Paulo, v. 36, n. 3, p. 9-27, São Paulo, nov. 2017.
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BALDONI, L. A Unicamp como ator principal na construção de um


parque científico e tecnológico. International Journal of Innovation, São
Paulo, v. 2, n. 2, p. 118-127, jul.-dez. 2014. Disponível em: <https://doi.o
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BARDIN, L. Análise de conteúdo. 4. ed. Lisboa: Edições 70, 2010.

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O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI
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organizações públicas do governo federal brasileiro: análise da
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Administração) – Programa de Pós-Graduação em Administração,
Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Ciência da
Informação e Documentação, Universidade de Brasília, Brasília, 2012.
Disponível em: <https://repositorio.unb.br/jspui/handle/10482/1161
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ao desenvolvimento científico, à pesquisa, à capacitação científica e
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2004, a Lei nº 6.815, de 19 de agosto de 1980, a Lei nº 8.666, de 21 de
junho de 1993, a Lei nº 12.462, de 4 de agosto de 2011, a Lei nº 8.745,
de 9 de dezembro de 1993, a Lei nº 8.958, de 20 de dezembro de 1994,
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92
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96
Capítulo 5 |
UMA DÉCADA DE ECONOMIA
CIRCULAR NA GESTÃO AMBIENTAL:
MAPEAMENTO E ANÁLISE DA
LITERATURA

Eliana de Jesus Lopes1

Maria do Socorro Vale2

Francinalda Aragão Carneiro3

1
Professora do Centro Universitário Inta (UNINTA). Sobral. Ceará. Brasil.
Mestra e Bacharel em Engenharia de Produção.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/2229632313372153
ORCID: http://orcid.org/0000-0003-0496-1661
Correio eletrônico: [email protected]
2
Professora do Centro Universitário Inta (UNINTA). Sobral. Ceará. Brasil.
Doutora em Engenharia Civil (Saneamento) e Mestra/Bacharel/Licenciada em
Química.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/1191957495930306
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4458-8884
Correio eletrônico: [email protected]
3
Professora do Centro Universitário Inta (UNINTA). Sobral. Ceará. Brasil.
Mestra em Educação e Bacharel em Física.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9534128738356628
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3503-146X
Correio eletrônico: [email protected]
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, a crescente conscientização sobre os


impactos ambientais e o esgotamento dos recursos naturais tem
levado a uma busca incessante por modelos de desenvolvimento
mais sustentáveis (Lopes et al., 2024). Nesse contexto, surgem
diversas Estratégias de Gestão Ambiental (EGA) que visam mitigar
os efeitos negativos das atividades humanas sobre o meio
ambiente.

Entre essas estratégias, a Economia Circular (EC) destaca-se


como uma alternativa inovadora ao modelo linear tradicional de
"extrair, produzir, consumir e descartar". A EC propõe a criação de
ciclos fechados, onde os resíduos são minimizados e os materiais
são mantidos em uso por meio de práticas como a reutilização,
reciclagem e remanufatura, promovendo um uso mais eficiente e
sustentável dos recursos (Morales; Belmonte-Ureña, 2021).

A crescente adoção da EC nas organizações tem sido


amplamente explorada na literatura, destacando tanto suas
sinergias quanto suas distinções em relação a outras EGA, como a
Logística Reversa, Produção Mais Limpa (PML) e Sistemas de
Gestão Ambiental (SGA) (Yang et al., 2023).

Embora essas abordagens compartilhem o objetivo comum


de promover a sustentabilidade, elas diferem em suas
metodologias e modos de aplicação (Mohnish; Parag, 2024).
Compreender essas diferenças e sinergias é crucial para integrar a
EC de forma eficaz nas práticas organizacionais e para maximizar
os benefícios dessa transição.

98
LOPES, VALE e CARNEIRO | Capítulo 5

Neste cenário, o presente estudo se propõe a realizar um


mapeamento abrangente da literatura da última década sobre a EC
aplicada à gestão ambiental. O objetivo principal desta pesquisa é
identificar as sinergias e diferenças entre a EC e as principais EGA,
bem como traçar um mapa temático que revele as tendências e
evoluções dessa abordagem ao longo dos últimos dez anos. Ao
fornecer uma análise detalhada e atualizada, este estudo
contribuirá para uma melhor compreensão das potencialidades e
desafios da EC no contexto da gestão ambiental organizacional.

METODOLOGIA

A classificação deste estudo tomou como base os clássicos


Gil (2022) e Marconi e Lakatos (2022). Suas características são de
natureza básica, com objetivos exploratório-descritivo, abordagem
qualitativa e o método de investigação segue os procedimentos da
Revisão Bibliográfica Sistemática. A revisão de literatura pode ser
realizada de várias maneiras, com maior ou menor
aprofundamento, mas Lopes, Bouzon e Carneiro Neto (2024)
propõem seguir o método Preferred Reporting Items for Systematic
Reviews and Meta-Analyses (PRISMA) para garantir maior
confiabilidade e replicabilidade para a pesquisa.

Neste estudo, o método prisma será operacionalizado nos


seguintes passos: (i) definição das palavras-chave “circular
economy” e “environmental management”; (ii) definição da scopus
como base de dados acadêmica para as buscas, pois segundo
99
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

Govindan e Hasanagic (2018) essa é uma das bases internacionais


mais importantes e relevantes na atualidade; (iii) processo de
seleção com os critérios de inclusão e exclusão (iv) análise do
portifólio bibliográfico.

Os critérios de inclusão definidos para a pesquisa foram


artigos de periódicos revisados por pares; publicados entre 2014 e
agosto de 2024; nos idiomas inglês, português ou espanhol. Os
critérios de exclusão são documentos do tipo artigo de congresso,
resumo, editorial, capítulo de livro e livro; documentos publicados
antes de 2014; documentos em outros idiomas diferente dos
definidos no critério de inclusão; estar alinhado com a temática.
Após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, resultaram
em 764 artigos de periódicos que envolvem o tema.

Para gerenciamento e tratamento dos dados foram


utilizados o Mendeley, o RStudio (bibliometrix) e o Excel. Foi
realizado o mapa da literatura, com base no qual tecemos
avaliações qualitativas e quantitativas.

REFERENCIAL TEÓRICO

Economia Circular na Gestão Ambiental das


Organizações
Nos últimos anos, a sociedade global tem enfrentado
desafios significativos relacionados à sustentabilidade, como o
esgotamento dos recursos naturais, a poluição ambiental e as
100
LOPES, VALE e CARNEIRO | Capítulo 5

mudanças climáticas (Mohnish; Parag, 2024). Esses problemas são


amplificados pelo modelo econômico linear tradicional, baseado na
extração, produção, consumo e descarte, que promove uma
abordagem insustentável ao uso dos recursos (D’Amato et al.,
2017). Nesse cenário, a EC surge como uma alternativa
promissora, capaz de redefinir a forma como as organizações
gerenciam seus processos produtivos e suas responsabilidades
ambientais.

A EC é um modelo econômico que visa transformar o


sistema de produção e consumo tradicional, promovendo a
reutilização, reciclagem, reparação e remanufatura de produtos e
materiais, de modo a fechar os ciclos produtivos e minimizar a
geração de resíduos (Kristensen; Mosgaard; Remmen, 2021). Ao
substituir a linearidade pela circularidade, as empresas não apenas
reduzem seu impacto ambiental, mas também criam novas
oportunidades de valor, inovação e competitividade. Esse modelo
propõe uma abordagem regenerativa e restaurativa por design, no
qual o ciclo de vida dos produtos é estendido e os resíduos são
minimizados, sendo continuamente reintegrados ao processo
produtivo (Lopes et al., 2024).

A Ellen MacArthur Foundation, uma das principais


entidades promotoras da EC, destaca que essa abordagem é
fundamentada em três princípios básicos:

1. Eliminar resíduos e poluição: Desde o início, produtos


são desenhados para evitar a geração de resíduos e
poluição, considerando todo o ciclo de vida, desde a
produção até o descarte.

2. Manter produtos e materiais em uso: Prioriza-se a


101
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

durabilidade, reutilização, remanufatura e reciclagem,


estendendo ao máximo o ciclo de vida dos produtos e
materiais.

3. Regenerar sistemas naturais: O objetivo é regenerar e


restaurar os sistemas naturais, por exemplo, através da
agricultura regenerativa, que promove a recuperação dos
solos e dos ecossistemas.

Esses princípios contrastam com o modelo linear, que trata


os recursos como ilimitados e prioriza o consumo rápido e o
descarte, resultando em uma grande quantidade de resíduos e
poluição. A adoção desses princípios é essencial para que as
organizações possam transformar suas operações em sistemas
circulares, promovendo a sustentabilidade em longo prazo.

A EC tem se difundido amplamente em diversos setores. Na


manufatura, a produção de itens com materiais recicláveis,
reutilizáveis e de fácil reparação é destaque, especialmente nos
setores de eletroeletrônicos e automotivo, que investem em
design para a circularidade (Lopes et al., 2024). Na construção civil,
a EC se expressa pela reutilização de materiais, redução de
resíduos e projetos de edifícios modulares que facilitam a
desmontagem e reciclagem (Skawińska; Zalewski, 2018). O setor
da moda e têxtil adota práticas como o uso de tecidos reciclados,
economia compartilhada e modelos de negócio baseados em
aluguel e revenda (Yang et al., 2023). Em tecnologia e eletrônicos,
a EC promove a reparabilidade e o retorno de dispositivos ao ciclo
produtivo, reduzindo o descarte. Na agroindústria, a reciclagem de
resíduos orgânicos para biogás e fertilizantes destaca o potencial
da EC em setores tradicionalmente lineares (Zhang et al., 2022).

102
LOPES, VALE e CARNEIRO | Capítulo 5

Apesar dos avanços e das oportunidades oferecidas pela


EC, as organizações enfrentam desafios significativos na sua
implementação (Lopes et al., 2024). A mudança de um modelo
linear para um circular exige inovação em produtos e processos,
adaptação de modelos de negócio e, muitas vezes, mudanças
culturais profundas. Além disso, barreiras econômicas,
tecnológicas e regulatórias podem dificultar a adoção generalizada
da EC (Morales; Belmonte-Ureña, 2021).

No entanto, as organizações que conseguem superar esses


desafios têm a oportunidade de se destacar em um mercado cada
vez mais voltado para a sustentabilidade, ao mesmo tempo em que
reduzem custos operacionais e criam novos fluxos de receita. A EC
também pode ser integrada com outras EGA, como a Logística
Reversa, PML, e SGA, formando uma abordagem mais holística e
eficaz para a sustentabilidade corporativa (Kristensen; Mosgaard;
Remmen, 2021).

A transição para a EC exige uma mudança de paradigma,


onde design, produção e consumo são repensados para preservar
e regenerar recursos, pois esse sucesso depende da colaboração
entre governos, empresas e consumidores, além de políticas
públicas que incentivem práticas circulares. Como estratégia de
gestão ambiental, ela pode transformar o funcionamento das
organizações, direcionando-as para um futuro mais sustentável e
resiliente. Ao adotar esses princípios, as empresas não só mitigam
impactos ambientais, mas também se posicionam como líderes na
construção de uma economia que respeita os limites do planeta e
promove o bem-estar social e econômico das futuras gerações.

103
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

Gestão de Recursos e a Evolução das Estratégias


Ambientais
Ao longo da história da humanidade, a gestão dos recursos
naturais foi marcada por diferentes abordagens que refletiram as
necessidades e o contexto de cada época (Martín-De Castro;
Amores-Salvadó; Díez-Vial, 2023). No início, as sociedades
dependiam diretamente da natureza para sua sobrevivência,
utilizando os recursos de maneira extrativista e, muitas vezes,
predatória.

Durante milênios, o foco principal foi a exploração dos


recursos para atender às demandas imediatas da população, sem
grande preocupação com a renovação ou sustentabilidade desses
recursos (Szymczyk, 2019). A Revolução Industrial, iniciada no
século XVIII, trouxe consigo uma transformação significativa na
maneira como os recursos eram geridos, com a intensificação da
exploração e a introdução de tecnologias que aumentaram
exponencialmente a capacidade de produção.

Entretanto, essa visão utilitarista começou a mostrar suas


falhas à medida que os impactos ambientais se tornavam mais
evidentes. O desenvolvimento desenfreado, aliado à crescente
poluição e degradação dos ecossistemas, levou à tomada de
consciência sobre a necessidade de uma nova abordagem para a
gestão dos recursos (Nikiforov et al., 2019). Esse despertar para as
questões ambientais é relativamente recente, ganhando força a
partir da segunda metade do século XX, quando se tornou claro
que o modelo de desenvolvimento baseado na exploração
irrestrita dos recursos naturais não era sustentável (Szymczyk,
2019).

104
Figura1. Estratégias de Gestão Ambiental
LOPES, VALE e CARNEIRO | Capítulo 5

_______
105
Fonte: Elaborado pelos autores (2024).
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

No ambiente organizacional, diversas estratégias de gestão


ambiental (EGA) surgiram como respostas às crescentes demandas
por práticas mais sustentáveis e conscientes. Essas estratégias têm
sido fundamentais para auxiliar as organizações a minimizarem
seus impactos ambientais e alinhar suas operações com princípios
de sustentabilidade. Entre essas EGA, destacam-se as que são
ilustradas na Figura 1, cada uma oferecendo abordagens
específicas para enfrentar os desafios ambientais contemporâneos
e contribuir para o desenvolvimento sustentável.

A gestão ambiental nas organizações evoluiu


significativamente ao longo dos últimos séculos, refletindo a
crescente conscientização sobre a necessidade de preservar os
recursos naturais e minimizar os impactos negativos sobre o meio
ambiente (Lopes et al., 2024). As estratégias mencionadas
representam um esforço global para reconfigurar a maneira como
as empresas operam, promovendo práticas mais sustentáveis e
alinhadas com os princípios de uma economia que respeita os
limites do planeta.

A adoção dessas estratégias não apenas protege o meio


ambiente, mas também cria valor econômico e social,
demonstrando que é possível conciliar desenvolvimento
econômico com responsabilidade ambiental. Ao avançar nessa
direção, as organizações têm a oportunidade de liderar a transição
para um futuro mais sustentável e equitativo.

106
LOPES, VALE e CARNEIRO | Capítulo 5

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Nos últimos anos, a EC tem ganhado destaque em nível


global como uma abordagem essencial para enfrentar os desafios
ambientais e promover a sustentabilidade. À medida que os
princípios da EC se difundem, observa-se um crescente interesse
acadêmico e uma intensificação das pesquisas nesta área. Esse
movimento não se limita a um único país, mas envolve uma ampla
rede de colaboração internacional, que tem sido crucial para o
avanço do conhecimento e a implementação de práticas circulares
em diversas regiões.

Gráfico 1. Colaboração entre países em publicações sobre EC na


gestão ambiental
59 28
China 51 34
43 37
Reino Unido 21 17
22 13
Brasil 26 7
15 14
Suécia 23 5
8 14
Estados Unidos da América 8 13
13 5
Dinamarca 6 9
8 4
Grécia 9 2
6 5
Bélgica 5 6
7 3
Canadá 4 6
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

SCP MCP

Fonte: Dados da pesquisa (2024).

Nesse contexto, o Gráfico 1 ilustra a colaboração entre


países em termos de publicações sobre EC na gestão ambiental,
utilizando os indicadores MCP (Multiple Country Publication) e SCP

107
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

(Single Country Publication). Esses índices são fundamentais para


entender a dinâmica de cooperação internacional, com o MCP
refletindo as publicações resultantes de colaborações entre
diferentes países, e o SCP representando as publicações realizadas
exclusivamente dentro de uma única nação.

O Gráfico 1 também destaca a importância da colaboração


internacional na pesquisa sobre EC e gestão ambiental,
evidenciando como a sinergia entre nações contribui para o avanço
do conhecimento e a disseminação de boas práticas. Além da
Espanha, outros países que têm investido significativamente em
parcerias internacionais incluem o Reino Unido, Austrália e Índia,
fortalecendo redes de pesquisa que cruzam fronteiras geográficas
e culturais. A predominância do índice MCP em países como
Espanha e Reino Unido sugere que a pesquisa colaborativa está
desempenhando um papel crucial na produção científica dessa
área, possibilitando uma troca mais rica de conhecimentos e
experiências, que, por sua vez, podem acelerar a transição para
práticas mais sustentáveis em nível global.

O Gráfico 2 apresenta o mapa temático da EC na gestão


ambiental, que distribui os temas em dois eixos principais: grau de
desenvolvimento e grau de relevância. Esses eixos permitem
visualizar quais tópicos estão mais consolidados na literatura, quais
são emergentes, e quais podem estar perdendo relevância.

Este mapa temático é essencial para identificar os principais


focos de pesquisa na área, além de sugerir direções futuras para
investigações acadêmicas. No quadrante de temas motores, com
alto grau de desenvolvimento e relevância, destaca-se uma bolha
de tamanho médio com as palavras “avaliação do ciclo de vida”,

108
Gráfico 2. Mapa temático da EC na Gestão Ambiental
LOPES, VALE e CARNEIRO | Capítulo 5

_______
109
Fonte: Dados da pesquisa (2024).
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

“análise do ciclo de vida” e “mudanças climáticas”. Esses termos


são centrais na pesquisa sobre EC na gestão ambiental, pois
combinam uma sólida base de desenvolvimento com alta
relevância. As análises de ciclo de vida são fundamentais para
medir os impactos ambientais, alinhando-se aos objetivos da EC de
minimizar esses impactos ao longo de todo o ciclo de vida dos
produtos.

No quadrante de temas básicos, caracterizado por alta


relevância, mas menor desenvolvimento, encontramos uma grande
bolha com “gestão ambiental”, “economia circular” e
“desenvolvimento sustentável”. Esses conceitos são fundamentais
para a EC, mas ainda estão em fase de consolidação teórica e
prática, o que é esperado em uma área em expansão.

No quadrante de nichos temáticos, com alto


desenvolvimento e relevância limitada, aparece uma pequena
bolha com “digestão anaeróbia”, “biomassa” e “não humanos”.
Esses temas são áreas especializadas que, embora bem
desenvolvidas, ainda não ganharam grande destaque na EC.

Por fim, no quadrante de temas em declínio ou emergentes,


uma pequena bolha com “tomadas de decisão”, “efeitos sociais e
econômicos” e “cadeias de suprimentos” reflete áreas com baixo
desenvolvimento e relevância. Esses temas, embora importantes,
ainda não foram suficientemente explorados na literatura ou estão
apenas começando a emergir como tópicos relevantes para a EC.

A adoção de EGA é crucial para que as organizações possam


minimizar seus impactos negativos no meio ambiente e contribuir
para um desenvolvimento sustentável. Dentro desse contexto, a
EC tem se destacado como uma abordagem abrangente, que busca
110
LOPES, VALE e CARNEIRO | Capítulo 5

não apenas reduzir resíduos, mas também transformar todo o ciclo


de vida dos produtos e processos.

No entanto, para entender plenamente o papel da EC na


gestão ambiental, é essencial analisar como ela se relaciona com
outras estratégias tradicionais de sustentabilidade. O Quadro 1
ilustra as sinergias e diferenças entre a EC e as principais EGA,
destacando como essas abordagens podem se complementar ou
diferir em seus objetivos e métodos.

Quadro 1. Sinergias e Diferenças de Estratégias de GA e a EC


Estratégia de
Gestão Ambi- Sinergias com a EC Diferenças em Relação à EC
ental
Facilita o retorno de pro-
Logística reversa foca no
dutos e materiais ao ciclo
fluxo de retorno de produtos
produtivo, essencial para
Logística Re- específicos, enquanto a EC
fechar os ciclos na EC.
versa abrange todo o ciclo de vida
Ambas buscam minimizar
dos produtos, desde o design
o desperdício e maximi-
até o descarte.
zar a reutilização.
Promove a eficiência de PML concentra-se na preven-
recursos e a redução de ção de poluição e melhoria de
Produção resíduos no processo processos dentro da em-
Mais Limpa produtivo, alinhando-se presa, enquanto a EC envolve
(PML) aos princípios da EC de uma transformação sistêmica
minimizar o impacto am- que inclui design, produção e
biental. consumo sustentável.
A economia verde é uma
Ambas visam a sustenta-
abordagem macroeconômica,
bilidade, promovendo o
abrangendo políticas públicas
crescimento econômico
Economia e estratégias para todos os
com menor impacto am-
Verde setores econômicos, en-
biental. A EC pode ser
quanto a EC foca na gestão
uma estratégia dentro da
de produtos e materiais em
economia verde.
ciclos fechados.
Continua...

111
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI
Estratégia de
Gestão Ambi- Sinergias com a EC Diferenças em Relação à EC
ental
SGA é mais orientado para a
Fornece uma estrutura conformidade regulatória e
para implementar práti- gestão de impactos ambien-
Sistema de
cas de EC dentro das or- tais dentro de uma organiza-
Gestão Am-
ganizações, promovendo ção, enquanto a EC busca re-
biental (SGA)
conformidade e melhoria desenhar sistemas inteiros
contínua. para eliminar resíduos e man-
ter materiais em uso.
A ecoeficiência concentra-se
Complementa a EC ao
na redução dos impactos am-
produzir mais valor com
bientais por unidade de pro-
menos recursos, redu-
Ecoeficiência dução, enquanto a EC visa
zindo o impacto ambien-
transformar todo o sistema
tal e aumentando a efici-
para eliminar resíduos desde
ência operacional.
o início.
ACV é uma ferramenta de
Suporta a EC ao avaliar e
avaliação, enquanto a EC é
Análise do melhorar o impacto am-
uma estratégia abrangente
Ciclo de Vida biental em todas as fases
que inclui ações de design,
(ACV) do ciclo de vida de um
produção, consumo e gestão
produto.
de resíduos.
O DfE é central para a
EC, promovendo a cria- DfE foca no estágio de de-
Design para ção de produtos que são sign, enquanto a EC abrange
o Meio Am- fáceis de reparar, reutili- todo o ciclo de vida do pro-
biente (DfE) zar e reciclar, alinhando- duto e sistemas econômicos
se perfeitamente aos mais amplos.
seus objetivos.
A ecologia industrial foca em
parcerias e trocas de resíduos
Promove a simbiose en-
e recursos entre empresas,
tre empresas, o que pode
Ecologia enquanto a EC abrange uma
ser uma aplicação prática
Industrial gama mais ampla de estraté-
da EC em um nível Inter
gias, incluindo a reformulação
organizacional.
de modelos de negócios e o
design de produtos.
Continua...

112
LOPES, VALE e CARNEIRO | Capítulo 5
Estratégia de
Gestão Ambi- Sinergias com a EC Diferenças em Relação à EC
ental
Marketing verde concentra-
Pode promover produtos
se na comunicação e venda
e serviços que aderem
de produtos sustentáveis, en-
Marketing aos princípios da EC, aju-
quanto a EC envolve mudan-
Verde dando a educar e atrair
ças fundamentais em como
consumidores conscien-
os produtos são criados, con-
tes.
sumidos e reciclados.
Relatórios de sustentabili-
Podem monitorar e co-
dade são ferramentas de co-
municar o progresso em
Relatórios de municação e avaliação, en-
direção à implementação
Sustentabili- quanto a EC é uma aborda-
da EC, incentivando
dade gem prática e estratégica
transparência e respon-
para o design de sistemas
sabilidade.
econômicos e industriais.
ESG abrange uma avaliação
ESG Critérios ESG podem in- ampla de práticas ambientais,
(Environ- cluir práticas de EC como sociais e de governança, en-
mental, So- parte da avaliação de quanto a EC foca mais espe-
cial, sustentabilidade corpo- cificamente na gestão de ma-
Governance) rativa. teriais e recursos dentro de
um sistema fechado.
Fonte: Elaborado pelos autores (2024).

O Quadro 1 revela que, embora a EC compartilhe vários


objetivos com outras EGA, como a minimização de resíduos e a
eficiência de recursos, ela se distingue pela sua abordagem
sistêmica e abrangente, que envolve o redesenho completo dos
ciclos de vida dos produtos.

Enquanto estratégias como a logística reversa e a produção


mais limpa se concentram em aspectos específicos do ciclo
produtivo, a EC integra múltiplas fases, desde o design até a
recuperação, promovendo uma transformação mais profunda e
sustentável. Essa análise demonstra que, embora haja sinergias

113
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

significativas, as diferenças entre essas abordagens também são


essenciais para entender como cada uma pode ser aplicada de
maneira mais eficaz dentro das organizações.

CONCLUSÃO

Este estudo apresentou uma análise detalhada das sinergias


e diferenças entre a EC e as principais EGA, além de traçar um
mapa temático que evidencia o consolidado das tendências e
evoluções dessa abordagem nos últimos dez anos.

Inicialmente, foi realizado um mapeamento da literatura


existente, que permitiu identificar os principais temas,
colaborações entre países e a posição das diferentes estratégias no
contexto global de pesquisa sobre EC. O software bibliometrix foi
essencial para o tratamento desses dados e consolidação dos
resultados. Em seguida, foram exploradas as conexões entre a EC
e outras EGA, como a logística reversa, a produção mais limpa e o
sistema de gestão ambiental, destacando-se tanto os pontos de
convergência quanto as distinções fundamentais entre elas.

Os resultados revelam que, embora existam significativas


sinergias entre a EC e outras EGA, a EC se destaca por sua
abordagem mais sistêmica e abrangente, que busca transformar
radicalmente o ciclo de vida dos produtos e materiais. Este estudo,
portanto, responde ao objetivo geral proposto, ao identificar e
esclarecer as relações entre a EC e as demais estratégias de

114
LOPES, VALE e CARNEIRO | Capítulo 5

sustentabilidade, além de mapear as tendências que vêm


moldando pesquisas nessa área.

Para futuras pesquisas, sugere-se a exploração de áreas


emergentes identificadas no mapa temático, como a integração da
EC com cadeias de suprimentos e os impactos sociais e
econômicos dessa abordagem. Além disso, investigações mais
aprofundadas sobre a implementação prática da EC em diferentes
setores econômicos e regiões geográficas podem contribuir para
uma melhor compreensão das barreiras e oportunidades
associadas a essa transição. Estudos comparativos entre países,
que examinem como diferentes contextos culturais e regulatórios
influenciam a adoção de práticas circulares, também seriam
valiosos para avançar na pesquisa e na aplicação efetiva da EC em
um nível global.

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117
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI
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10 out. 2024.

118
Capítulo 6 |
PROPOSTAS DE AÇÃO PARA
REDUZIR A EVASÃO E AUMENTAR O
INGRESSO NOS CURSOS DE GESTÃO
AMBIENTAL E DO AGRONEGÓCIO DA
FACULDADE UNB DE PLANALTINA
(FUP)
Alexandre Nascimento de Almeida 1
Ivonaldo Vieira Neres 2
Luiz Cláudio Costa Ferreira 3
Samila Neres Farias da Silva 4

1
Professor Associado da Universidade de Brasília (UnB). Brasília. Distrito
Federal. Brasil. Doutor em Engenharia Florestal.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9028104786496275
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9113-0729
Correio eletrônico: [email protected]
2
Servidor público da Universidade de Brasília (UnB). Brasília. Distrito Federal.
Brasil. Mestre em Gestão Pública.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/1139267016661900
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5315-9635
Correio eletrônico: [email protected]
3
Servidor público da Universidade de Brasília (UnB). Brasília. Distrito Federal.
Brasil. Mestre em Gestão Pública.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7431877792957851
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5919-1065
Correio eletrônico: [email protected]
4
Estudante de Gestão Ambiental da Universidade de Brasília (UnB). Brasília.
Distrito Federal. Brasil. Graduanda.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0598078280959066
Correio eletrônico: [email protected]
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

INTRODUÇÃO

Em novembro de 2022, a direção da Faculdade UnB de


Planaltina (FUP) tornou público o Edital FUP n.º 002/2022 que
viabilizou a execução de estudos sobre a elaboração do plano de
melhorias acadêmicas da instituição (FUP, 2022). O edital previu
que os estudos devem gerar dois relatórios; primeiramente o
Relatório Diagnóstico e, com base neste, o presente relatório,
intitulado “Propostas de Ação”. A divisão das propostas do edital
considerou três eixos de estudos: 1) Licenciaturas na FUP; 2)
Bacharelados em Gestão na FUP e 3) Percepção da Comunidade
sobre a FUP.

As informações do Relatório Diagnóstico, e que embasaram


esse relatório, contaram com dados primários e secundários. Os
dados primários totalizaram 186, 68 e 34 questionários
respondidos pelos egressos, estudantes que evadiram e
estudantes matriculados nos cursos de gestão da FUP. Os dados
secundários indicaram a evolução da demanda, evasão e
permanência nos cursos de Gestão Ambiental (GAM) e Gestão do
Agronegócio (GEAGRO) da FUP no período de 2010 até 2021
(Almeida et al., 2023).

Conforme o Relatório Diagnóstico parte das causas do


baixo ingresso, evasão e permanência nos cursos de gestão da FUP
decorrem de questões alheias ao raio de atuação da comunidade
acadêmica da instituição. Portanto, as informações consideradas
do Relatório Diagnóstico, para a elaboração das propostas de ação,
referiram-se àquelas passíveis de subsidiar ações de intervenção
ao alcance dos Docentes e Órgãos Colegiados da FUP e da UnB.
120
ALMEIDA, NERES, FERREIRA e SILVA | Capítulo 6

O diagnóstico dos cursos de gestão da FUP sugere que não


há solução isolada, simples e imediata para alcançar, de forma
sustentável, os objetivos previstos no Edital FUP n.º 002/2022
(FUP, 2022, p. 11): “aumentar a entrada de estudantes na FUP,
aumentar o número de estudantes por turma, diminuir a evasão
escolar, aumentar a taxa de conclusão dos cursos e a qualidade da
formação dos egressos”.

Em longo prazo, todos os objetivos previstos no edital


supracitado são correlacionados, ou seja, uma melhoria na
qualidade da formação levará a uma redução na evasão e
permanência dos estudantes e, também, um aumento na demanda
dos cursos pela sociedade. Porém, é preciso cautela na adoção de
medidas que podem ter um efeito positivo na demanda, evasão e
permanência em curto prazo, caso essas medidas levem a uma
redução na qualidade da formação em longo prazo, agravando,
portanto, os problemas que, inicialmente, buscou resolver.

As informações do Relatório Diagnóstico indicaram 6 (seis)


eixos de limitações que devem ser, prioritariamente, abordadas,
considerando-se a elaboração de propostas para a melhoria da
qualidade acadêmica dos cursos de GAM e GEAGRO da FUP.
Definiram-se os eixos de limitações como: 1) Distanciamento dos
Cursos para o Mercado de Trabalho; 2) Falta de Reconhecimento
dos Cursos juntamente ao Conselho de Classe e Órgãos Públicos;
3) Limitações na Divulgação dos Cursos; 4) Desmotivação e Falta
de Engajamento Docente; 5) Dificuldades de Acessibilidade dos
Cursos e do Campus UnB de Planaltina; e 6) Falta de Aplicação
Profissional e Transdisciplinaridade no Currículo dos Cursos (figura
1).

121
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

Dessa forma, elaborou-se estudo com objetivo de elaborar


propostas de ação com base no diagnóstico realizado (Almeida et
al., 2023), detalhando ações para o curto, médio e longo prazo, a
fim de contribuir com o aumento do número de estudantes na
FUP, diminuir a evasão escolar, aumentar a taxa de conclusão dos
cursos e elevar a qualidade da formação dos egressos.

Figura 1. Eixos de limitações dos cursos de gestão da FUP

Distanciamento
dos cursos para
o mercado de
trabalho
Falta de aplicação Falta de
profissional e reconhecimento
transdisciplinaridad juntamente ao
e no currículo dos conselho de
cursos classe e órgãos
públicos

Dificuldades de
acessibilidade dos Limitações na
cursos e do divulgação dos
campus UnB de cursos
Planaltina
Desmotivação e
falta de
engajamento
docente

Fonte: elaboração dos autores.

122
ALMEIDA, NERES, FERREIRA e SILVA | Capítulo 6

DESENVOLVIMENTO

Com base na avaliação realizada apresentaram-se 34


propostas de ação, priorizando ações endereçadas para a melhoria
da qualidade e acessibilidade dos cursos de gestão da FUP e,
consequentemente, contribuindo para redução da evasão e
permanência dos estudantes, elevando a demanda destes em
longo prazo. Embasaram-se as propostas no diagnóstico prévio,
destacando-se que o eixo representado pela “acessibilidade dos
cursos e do campus UnB de Planaltina” incluiu sugestões para
flexibilização e inclusão no currículo dos cursos e, também, para
facilitar o acesso e permanência no campus.

Quadro 1. Propostas de ação alinhadas ao diagnóstico para os cursos


de GAM e GEAGRO da FUP
Distanciamento dos Cursos para o Mercado de Trabalho

1. Aproximação dos estudantes ao mercado de trabalho potencial da


GAM e GEAGRO, incluindo: setor público e privado; grandes e pequenas
empresas; ONG; dentro e fora da região de Planaltina. Ampliação nas ações
de mapeamento e divulgação de estágios e empregos na área dos cursos.
Realização de atividades complementares com profissionais, feiras, visitas
técnicas e de campo. Ampliar agenda de pesquisa em torno de problemas
práticos dos órgãos e empresas que compõem o raio de atuação do gestor
ambiental e do agronegócio.
2. Mapeamento e aproximação dos egressos, principalmente aqueles que
estão trabalhando na área dos cursos da GAM e GEAGRO. Incluí-los em
atividades da FUP, por exemplo: em eventos, disciplinas, e junto a Empresa
Junior.
3. Monitoramento da dinâmica do mercado potencial da GAM e
GEAGRO e da atuação dos egressos. Estabelecer plano de monitoramento
com grupo parcimonioso e preciso de indicadores e coleta periódica das
informações.
Continua...

123
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI
4. Apresentação e fortalecimento da Empresa Junior: mapear e/ou
direcionar projetos, terceirizar serviços para a empresa, incentivar ações
voluntárias etc.
5. Cadastramento da FUP e orientações para os estudantes sobre rede
de estágios, por exemplo: IEL e CEE. Facilitar a localização de vagas
alinhadas ao perfil dos estudantes. Fazer intermediação entre os
estudantes e as empresas e órgãos promotores de estágio.
6. Realização de Fóruns nos municípios e regiões administrativas da
Região de Influência do Campus (RIC – II), juntamente a autoridades e
empresários locais, a fim de apresentar o curso e realizar parcerias.

Falta de Reconhecimento juntamente ao Conselho de Classe e Órgãos Públicos

7. Informar estudantes e apoiar ações de regulamentação e


reconhecimento profissional dos cursos de GAM e GEAGRO juntamente
ao Conselho de Classe. Registrar o Projeto Pedagógico de Curso (PPC)
juntamente a conselhos de interesse (CREA, CRQ, entre outros), atribuindo
competências legais compatíveis à formação dos estudantes.
8. Atuar juntamente a órgãos públicos relacionados a GAM e GEAGRO
(IBRAM, IBAMA, MMA, MAPA, CONAB, SEAGRI-DF, CEASA, EMATER,
entre outros) a fim de valorizar e reconhecer gestores ambientais e do
agronegócio em editais de concurso público, bem como mapear
oportunidades de estágios.

Limitações na Divulgação dos Cursos

9. Estabelecer um plano de marketing, identificar o público-alvo, suas


necessidades e promover uma comunicação efetiva. Melhorar o
posicionamento dos cursos, diferenciando dos concorrentes.
10. Valorizar e consolidar a "marca" UnB (ativo ainda muito forte).
11. Ampliar canais de comunicação, enfatizando redes sociais e website
institucional.
12. Criatividade e incorporação de diferentes canais de comunicação
como: identificação da "marca" UnB no ônibus do Intercamp, estreitar laços
com a UnB/TV, comunicação direta com a comunidade em eventos
internos e ações juntamente às escolas de Ensino Médio, entre outras.
13. Monitoramento periódico da percepção da comunidade sobre a
imagem dos cursos da GAM, da GEAGRO e da FUP.

124
ALMEIDA, NERES, FERREIRA e SILVA | Capítulo 6

Desmotivação e Falta de Engajamento Docente

14. Valorizar e utilizar todas as formas de incentivo possíveis para


os docentes que: 1) promovam pesquisas junto aos alunos de
graduação na área de atuação dos cursos; 2) promovam saídas de
campo e visitas técnicas, ou seja, teoria aliada ao campo e a prática;
3) promovam aproximação do mercado de trabalho potencial da
GAM e GEAGRO; 4) desenvolvam ações inovadoras e efetivas
relacionadas a didática, avaliação e acolhimento dos estudantes.
Importante monitorar o trabalho dos professores, divulgar e
valorizar aspectos objetivos.
15. Não incentivar qualquer ação que enseje movimento político
ideológico partidário no campus entre os docentes e discentes.

Dificuldades de Acessibilidade dos Cursos e do Campus UnB de Planaltina

Ações para o acesso e permanência no campus UnB de Planaltina


16. Retornar e melhorar o Intercamp. Promover conexão ampla entre os
campi, fazenda da UnB, estações de pesquisa e biblioteca central. Facilitar
o acesso de oportunidades que ocorrem em outros campi da UnB para o
estudante da FUP.
17. Ampliar recursos e, principalmente, melhorar o processo de seleção e
manutenção da Assistência Estudantil. Diminuir a burocracia em relação à
identificação do estudante em vulnerabilidade socioeconômica (incluir
estudantes e equipe multidisciplinar na definição de novos processos de
trabalho) e ampliar controle para a manutenção da assistência. Reavaliar,
periodicamente, o perfil do estudante em vulnerabilidade e tornar efetivo
canais de denúncia via ouvidoria.
18. Ação conjunta entre FUP e DDS com vista a entender o perfil e as
necessidades específicas dos estudantes dos cursos de gestão da FUP,
visando otimizar a aplicação de recursos (necessariamente, demandas não
são as mesmas de outros campi, de outros cursos e entre cursos no período
diurno e noturno).

Ações para flexibilização e inclusão no currículo dos cursos


19. Integração das disciplinas com campus do Darcy Ribeiro. Sugestão que
grade curricular deveria prever disciplinas básicas no Darcy (junto com os
demais estudantes de outras graduações) e específicas em Planaltina,
Continua...

125
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI
inclusive prevendo integração entre os cursos de gestão da FUP no caso
das disciplinas básicas. Direcionamento do curso não pode ficar restrito ao
morador de Planaltina, deve buscar quem quer ter uma formação
diferenciada em meio ambiente e em agronegócio, bem como facilitar para
que esse interessado acesse a universidade, melhorando o transporte em
todos os fluxos.
20. Revisão das ementas das disciplinas, considerando a possibilidade de
ampliar equivalências e maior integração entre os campi da UnB.
21. Ações de monitoria e tutoria direcionadas para as disciplinas com
maior índice de reprovação. Promoção de cursos de nivelamento abertos
para a comunidade em relação ao que for necessário, por exemplo: curso
de pré-cálculo.
22. Criação de disciplina introdutória para acolher e auxiliar o(a) recém
ingresso(a). Objetivo de explicar, em geral, como funciona a universidade e
auxiliar o entendimento do curso e das suas linhas de atuação, bem como
despertar nos estudantes um sentido de investimento nas suas
potencialidades.
23. Flexibilizar currículo, em geral, diminuir disciplinas obrigatórias,
respeitando formação geral dentro das linhas de atuação da GAM e
GEAGRO.
24. Ampliar e buscar todas as sinergias e ganhos possíveis das tecnologias
de educação a distância.

Falta de Aplicação Profissional e Transdisciplinaridade no Currículo dos Cursos

25. Adaptação da grade curricular com foco na formação de um


profissional competente para atuar nas diferentes áreas dos cursos,
diferenciando-o do agrônomo, do administrador e de outros
profissionais que atuam no meio ambiente e não possuem formação
abrangente e com potencial transdisciplinar. Sugestão que sejam
identificadas linhas de atuação, orientando o estudante sobre a
integração / sinergia entre as disciplinas do seu interesse,
promovendo a interdisciplinaridade e transdisciplinaridade dentro
dos cursos.
26. Criação de disciplinas orientadas à demanda do mercado de
trabalho potencial da GAM e GEAGRO, conforme o mapeamento de
linhas gerais de atuação.
27. Adaptação do plano de ensino de muitas disciplinas existentes
a demanda do mercado de trabalho potencial da GAM e GEAGRO.
Continua...

126
ALMEIDA, NERES, FERREIRA e SILVA | Capítulo 6
28. Extinção de disciplinas redundantes e/o desnecessárias,
conforme demanda do mercado de trabalho potencial da GAM e
GEAGRO.
29. Promoção de cursos extracurriculares de curta duração para
estudantes, similar ao que PROCAP faz para servidores da UnB, com
foco na capacitação em competências profissionais importantes, por
exemplo: utilização de softwares (geoprocessamento, análise
estatística, entre outros), empreendedorismo etc.
30. Incentivo à inovação e ao empreendedorismo em disciplinas e
em atividades complementares.
31. Incentivo às aulas práticas, visitas técnicas e maior
aproveitamento dos laboratórios, inclusive o de informática (buscar
licenças de softwares mais utilizados).
32. Incentivo ao Corpo Docente e Discente na participação de
Congressos Técnico/Científicos relacionados a GAM e a GEAGRO,
por exemplo: Congresso Brasileiro de Gestão Ambiental e a SOBER
(monitorar participação e valorizar docentes e discentes proativos).
Direcionar apoio financeira e ampliar divulgação de editais de
fomento.
33. Alinhar carga horária a uma formação de tecnólogo e/ou ajustar
que o bacharelado permita habilitação de técnico com a realização
de uma carga horária menor. Ou seja, ampliar habilitação conforme
carga horária cursada.
34. Autoavaliação periódica dos cursos, utilizando um conjunto
parcimonioso de indicadores importantes, válidos e comparáveis.
Indicadores devem ser capazes de mensurar a consolidação dos
cursos ao longo do tempo.

Fonte: elaboração dos autores.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O detalhamento das propostas considerou o prazo, a


dificuldade de implementação e identificou o agente responsável
por sua execução. Adotaram-se as seguintes escalas: 1) Prazo –
127
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

Curto, Médio e Longo; 2) Dificuldade – Fácil, Média e Difícil; 3)


Agente responsável – Docentes da FUP, Diretoria da FUP e Alta
Administração da UnB.

As decisões na UnB ocorrem em seus órgãos colegiados;


portanto, é assumido como responsabilidade da Diretoria da FUP
ou Alta Administração da UnB onde o Diretor da FUP, Decano ou
Reitor da UnB presidem e pautam os órgãos colegiados que
deliberam, inicialmente, sobre o mérito das propostas. Quando
apontado para os docentes, entende-se que se refere a ações que
dependem de proatividade individual do professor ou em que seu
mérito é discutido em órgãos colegiados inferiores e presididos
pelos docentes como: Colegiado de Curso, Colegiado de Área e
Núcleo Docente Estruturante da FUP.

Quanto ao dimensionamento do prazo e da dificuldade das


propostas, naturalmente, trata-se da percepção dos autores,
podendo não refletir a realidade prática, dada a complexidade e
imprevisibilidade em relação à implementação de qualquer
mudança na UnB. Diferentemente de uma instituição de Ensino
Superior Privada, o poder decisório do gestor na UnB é mais
compartilhado e limitado. Apresentam-se, nos quadros 2, 3 e 4,
respectivamente, o alinhamento das propostas ao prazo, a
dificuldade de implementação e o seu agente responsável.

Quadro 2. Prazo de implementação das propostas


Prazo Número da Proposta
1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 10, 11, 13, 14, 15, 21, 29,
Curto: 1 (um) ano
30, 31, 32, 34
9, 12, 16, 17, 18, 19, 20, 22, 23, 24, 25, 26, 27,
Médio: 5 (cinco) anos
28
Longo: 10 (dez) anos 33
Fonte: elaboração dos autores.

128
ALMEIDA, NERES, FERREIRA e SILVA | Capítulo 6
Quadro 3. Dificuldade de implementação das propostas
Dificuldade Número da Proposta
Fácil 1, 2, 4, 7, 8, 10, 11, 12, 14, 15, 21, 29
Média 3, 5, 6, 9, 13, 16, 17, 18, 22, 23, 24, 30, 31, 32, 34
Difícil 19, 20, 25, 26, 27, 28, 33
Fonte: elaboração dos autores.

Quadro 4. Agente responsável pela execução das propostas


Agente Responsável Número da Proposta
1, 4, 6, 7, 9, 19, 20, 21, 22, 23, 25, 26, 27, 28,
Docentes
29, 30, 31
Diretoria da FUP 2, 3, 5, 8, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 32, 34
Alta Gestão da UnB 16, 17, 18, 24, 33
Fonte: elaboração dos autores.

Um maior detalhamento das propostas, incluindo metas,


planos de ação e indicadores de acompanhamento, dependerão de
aprovação e convencimento interno, promovendo uma integração
orgânica, dificultando, assim, a previsibilidade de qualquer
cronograma de ação prévio.

CONCLUSÃO

Em conclusão, o presente documento apresenta um


conjunto abrangente de propostas de ação destinadas a enfrentar
as limitações identificadas nos cursos de Gestão da Faculdade UnB
de Planaltina (FUP). O diagnóstico inicial revelou uma série de
desafios, como o distanciamento dos cursos em relação ao
mercado de trabalho, dificuldades de reconhecimento junto a
órgãos competentes e barreiras de acessibilidade, que afetam

129
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

diretamente a permanência e a evasão dos estudantes.

As 34 propostas delineadas no documento abordam


soluções de curto, médio e longo prazo, priorizando a melhoria da
qualidade acadêmica e a redução da evasão, sem comprometer a
formação dos egressos. Entre as ações sugeridas estão a
aproximação com o mercado de trabalho, o fortalecimento de
parcerias com entidades públicas e privadas, a criação de
disciplinas que promovam a interdisciplinaridade e a ampliação dos
canais de comunicação com a sociedade.

É fundamental que a implementação dessas propostas seja


conduzida de forma colaborativa entre docentes, diretoria da FUP
e a alta administração da UnB, visando alcançar um impacto
duradouro e positivo na qualidade dos cursos. Embora os desafios
sejam complexos e de difícil execução, o sucesso dessas ações
pode consolidar a relevância dos bacharelados em Gestão e
contribuir significativamente para o desenvolvimento acadêmico e
profissional dos estudantes da FUP.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, A. N.; NERES, I. V.; FERREIRA, L. C. C.; FARIAS DA SILVA, S.


N. Situação dos Bacharelados em Gestão da Faculdade UnB de
Planaltina (FUP). Relatório Diagnóstico. Não Publicado, 2023.

FUP. Edital FUP n.º 002/2022. Apoio à execução de estudos de suporte


à elaboração do plano de melhorias acadêmicas da Faculdade UnB

130
ALMEIDA, NERES, FERREIRA e SILVA | Capítulo 6
Planaltina. Brasília: UnB, 2022. Disponível em: <http://fup.unb.br/wp-
content/uploads/2022/11/EDITAL-FUP-02_2022.pdf>. Acesso em: 7
jun. 2023.

131
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

132
Capítulo 7 |
FONTES EMERGENTES DE PROTEÍNA
DE ORIGEM ANIMAL COMO
ALTERNATIVA DE COMBATE À
DESNUTRIÇÃO INFANTIL

José Lopes Neto 1

Roberta Lomonte Lemos de Brito 2

Eliana de Jesus Lopes 3

1
Técnico do Laboratório de Gastronomia do Centro Universitário Inta
(UNINTA). Sobral. Ceará. Brasil. Especialista em Gastronomia Vegana e
Vegetariana; Tecnólogo em Gastronomia.
Currículo Lattes: https://lattes.cnpq.br/6195536065975582
ORCID: https://orcid.org/0009-0000-6858-5365
Correio eletrônico: [email protected]
2
Professora do Centro Universitário Inta (UNINTA). Sobral. Ceará. Brasil.
Doutora em Medicina Veterinária, Mestra em Zootecnia, Bacharela em
Medicina Veterinária, Especialização em Biotecnologia e em Saúde Coletiva.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/6229821847477498
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9502-1813
Correio eletrônico: [email protected]
3
Professora do Centro Universitário Inta (UNINTA). Sobral. Ceará. Brasil.
Mestra e Bacharela em Engenharia de Produção.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/2229632313372153
ORCID: http://orcid.org/0000-0003-0496-1661
Correio eletrônico: [email protected]
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

INTRODUÇÃO

A desnutrição é um importante problema de Saúde Pública


e afeta milhões de crianças em todo o mundo, resultando em
consequências graves para o seu desenvolvimento físico e
cognitivo, comprometendo seu futuro e perpetuando ciclos de
pobreza e doença (Mazhitova et al., 2024; Moura et al., 2023).
Combatê-la de maneira eficaz é um desafio complexo que envolve
diversas frentes, desde políticas públicas, a intervenções
nutricionais e educacionais. Nesse cenário, a escolha de fontes
alternativas de proteína de origem animal na dieta desempenha um
papel crucial.

As proteínas de origem animal, provenientes de criações de


ruminantes, suínos, aves e peixes, têm sido fundamentais na
alimentação humana durante anos e são ricas em aminoácidos
essenciais, vitaminas e minerais necessários para o crescimento e
o desenvolvimento saudável das crianças (Fasolin et al., 2019). No
entanto, a produção dessas proteínas está associada a diversos
impactos ambientais negativos, incluindo a emissão de Gases de
Efeito Estufa (GEE); o uso intensivo de água e terra; além da perda
de biodiversidade, principalmente pelo desmatamento em algumas
regiões para criação de bovinos.

Neste contexto, surge a necessidade de explorar e adotar


fontes alternativas de proteína de origem animal que sejam mais
sustentáveis e igualmente nutritivas (Moura et al., 2023). Sendo
assim, a transição para fontes não usuais de proteína de origem
animal, como por exemplo as de: insetos, moluscos cultiváveis,
carne cultivada em laboratório utilizando a Biotecnologia e
134
LOPES NETO, BRITO e LOPES | Capítulo 7

organismos aquáticos, apresenta uma oportunidade crucial para


mitigar os impactos ambientais da produção de alimentos
(Rumpold; Van Huis, 2021; Thornton; Gurney-Smith; Wollenberg,
2023). A eficiência superior na conversão de recursos naturais e o
menor impacto ecológico em comparação às criações
convencionais de animais, tornam essas fontes emergentes uma
opção viável e necessária para um futuro mais sustentável (Fasolin
et al., 2019).

Além dos benefícios ambientais, essas novas opções


proteicas também possuem potencial para contribuir
significativamente na melhoria da segurança alimentar global
(Mazhitova et al., 2024). Em regiões onde a produção tradicional
de carne é limitada por fatores geográficos, climáticos ou
econômicos, as alternativas proteicas podem oferecer uma solução
viável e sustentável (Fasolin et al., 2019). Dessa forma, é possível
diversificar as fontes de proteína disponíveis, promovendo uma
dieta mais balanceada, equilibrada e ricas em nutrientes, acessível
para populações vulneráveis, especialmente para o público infantil.

Além disso, a aceitação de novas fontes de proteína pelos


consumidores e a regulamentação adequada para garantir sua
segurança e qualidade são aspectos que precisam ser abordados
para que essas alternativas se tornem viáveis e amplamente
adotadas. Diante deste cenário, a presente pesquisa teve como
questão: Quais as principais fontes emergentes de proteínas de
origem animal podem ser utilizadas como alternativa para
combater a desnutrição infantil? Para responder a esta
problemática, este estudo teve como objetivo identificar as
principais fontes emergentes de proteína de origem animal que
podem ser utilizadas como alternativa de combate à desnutrição
135
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

infantil.

REFERENCIAL TEÓRICO

Impactos Ambientais e Sustentabilidade na Produção


de Proteínas de Origem Animal
A produção tradicional de proteínas de origem animal,
principalmente aquela proveniente da criação de ruminantes,
suínos, aves e peixes, é amplamente reconhecida por seu impacto
significativo no meio ambiente (Iannotti, 2018). A agropecuária é
responsável por aproximadamente 14,5% das emissões globais de
Gases de Efeito Estufa (GEE), tendo a bovinocultura a maior
contribuinte, devido à fermentação entérica e à gestão de estrume,
além do uso intensivo de fertilizantes nas culturas de forragem
(Milana; Van Asselt; Van Der Fels-Klerx, 2024). Além disso, a
pecuária demanda grandes quantidades de recursos naturais,
incluindo água e terra, visto que a produção de um quilograma de
carne bovina, por exemplo, requer aproximadamente 15.000 litros
de água e ocupa uma área considerável de terra, resultando muitas
vezes em desmatamento e perda de biodiversidade (Iannotti,
2018).

Comparativamente, as fontes alternativas de proteína,


como insetos, carne cultivada em laboratório e organismos
aquáticos, apresentam um impacto ecológico significativamente
menor (Chukwudi et al., 2023). Os insetos, por exemplo, possuem

136
LOPES NETO, BRITO e LOPES | Capítulo 7

uma eficiência de conversão alimentar muito superior à dos


animais tradicionais. Estudos indicam que esses invertebrados
podem converter alimento em proteína com uma eficiência duas a
três vezes maior do que os suínos e quatro a cinco vezes maior do
que bovinos (Chuwa et al., 2023). Além disso, a criação de insetos
emite muito menos GEE e utiliza significativamente menos água e
terra, contribuindo para uma redução substancial de efeitos
maléficos ao ambiente.

A inovação e a tecnologia desempenham um papel


fundamental na viabilização de alternativas proteicas. Visto que,
avanços científicos e tecnológicos permitem o desenvolvimento de
métodos eficientes para a produção e processamento dessas
proteínas, garantindo sua segurança e qualidade nutricional
(Chukwudi et al., 2023). Complementando esse pensamento,
esforços contínuos em pesquisa e desenvolvimento são essenciais
para superar os desafios de aceitação do consumidor e integração
no mercado alimentar global.

Uma inovação tecnológica recente é a carne cultivada em


laboratório, a partir de células, da espécie animal de interesse,
cultivadas em biorreatores (Hubert, 2019). Este método elimina a
necessidade de criar e abater animais, reduzindo drasticamente os
impactos ambientais associados à pecuária tradicional. Estudos
preliminares sugerem que a carne cultivada pode reduzir as
emissões de GEE em até 96% e o uso de água em até 82% em
comparação com a carne bovina convencional (Fasolin et al., 2019).
No entanto, é importante considerar que essa tecnologia ainda
está em desenvolvimento e enfrenta desafios em termos de
escalabilidade e custo.

137
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

Revisões de literatura e estudos empíricos corroboram a


viabilidade das fontes emergentes de proteína como soluções
sustentáveis para a produção de alimentos. Chuwa et al. (2023)
destacou em seu estudo que gafanhotos comestíveis,
especificamente Ruspolia differens, estão emergindo como uma
valiosa fonte alternativa de proteína animal para combater a
desnutrição infantil. Esses insetos são ricos em nutrientes como
proteínas, gorduras, fibras e minerais essenciais como ferro, zinco
e cálcio, com um teor de proteína variando de 7,80% a 44,70%,
pois os gafanhotos oferecem uma solução promissora para lidar
com a desnutrição, particularmente as deficiências proteico-
energéticas. Eles ressaltam que seu perfil nutricional e potencial
para complementar dietas com cultivos de baixo valor nutricional
os tornam uma opção sustentável e benéfica para melhorar a
segurança alimentar e combater a desnutrição, especialmente em
países em desenvolvimento como a Tanzânia. Percebe-se com
esses estudos que, além de reduzir os efeitos no ambiente, as
fontes alternativas de proteína podem oferecer uma diversificação
importante na dieta humana, promovendo uma nutrição mais
equilibrada e segura.

Outro aspecto crucial é a educação e a conscientização dos


consumidores sobre os benefícios das fontes alternativas de
proteína (Amato et al., 2023). Campanhas educativas e
informativas podem ajudar a quebrar barreiras culturais e
preconceitos, promovendo uma maior aceitação dessas novas
fontes alimentares (Tso; Lim; Forde, 2021). A colaboração entre
governos, indústria alimentícia, comunidades científicas e
organizações não-governamentais é vital para a criação de
políticas e regulamentações que apoiem a produção sustentável e

138
LOPES NETO, BRITO e LOPES | Capítulo 7

o consumo dessas proteínas.

Desafios e Perspectivas na Adoção de Fontes


Alternativas de Proteína
A aceitação e integração de fontes alternativas de proteína
no mercado alimentar enfrentam diversos desafios significativos
(Fasolin et al., 2019). Embora as propriedades nutricionais e a
sustentabilidade dessas alternativas sejam promissoras, a sua
adoção em larga escala depende da superação de barreiras
culturais, econômicas e regulatórias que influenciam a percepção
e o aquisição por parte dos consumidores (Tso; Lim; Forde, 2021).

Um dos principais desafios na aceitação das proteínas


alternativas é a resistência cultural (Thornton; Gurney-Smith;
Wollenberg, 2023). Insetos e carne cultivada em laboratório ainda
são vistos com ceticismo por muitos consumidores, que
frequentemente associam essas opções a noções negativas de
sabor, textura e segurança alimentar. Esse preconceito cultural
pode dificultar a integração dessas proteínas nas dietas diárias,
exigindo campanhas educativas e de sensibilização para mudar
percepções e hábitos alimentares (Amato et al., 2023; Tso; Lim;
Forde, 2021).

Do ponto de vista econômico, os custos de produção das


fontes alternativas de proteína podem ser elevados, especialmente
no caso da carne cultivada em laboratório, que ainda depende de
tecnologias emergentes e infraestrutura especializada
(Churchward-Venne et al., 2017). Esses custos podem traduzir-se
em preços mais altos para o consumidor final, limitando a

139
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

competitividade dessas proteínas em relação às opções


tradicionais (Onwezen et al., 2021). Além disso, a falta de
economias de escala na produção inicial das proteínas alternativas
pode aumentar os desafios econômicos.

As barreiras culturais são amplas e complexas, variando


significativamente entre diferentes regiões e populações. A
aceitação de insetos como alimento, por exemplo, é mais comum
em algumas culturas asiáticas e africanas, mas enfrenta resistência
substancial na Europa e nas Américas (Chukwudi et al., 2023). Além
disso, a carne cultivada em laboratório é frequentemente
percebida como “artificial” ou “não natural”, o que pode
desencorajar sua adoção, mesmo entre consumidores
preocupados com a sustentabilidade (Takefuji, 2021).

As barreiras econômicas incluem não apenas os custos de


produção elevados, mas também a necessidade de investimentos
significativos em pesquisa e desenvolvimento para melhorar as
tecnologias de cultivo e processamento. Incentivos econômicos e
subsídios governamentais podem ser necessários para tornar essas
fontes de proteína mais acessíveis e competitivas no mercado.

No âmbito regulatório, a aprovação e regulamentação de


novos alimentos apresentam desafios adicionais (Lähteenmäki-
Uutela et al., 2021). As proteínas alternativas precisam passar por
rigorosos processos de avaliação e segurança alimentar, além de
obter aprovações das agências reguladoras antes de serem
comercializadas (Williams, 2021).

Esse processo pode ser demorado e oneroso, criando


obstáculos adicionais para os produtores, pois para superar esses
desafios, diversas estratégias têm sido propostas e implementadas
140
LOPES NETO, BRITO e LOPES | Capítulo 7

com sucesso (Churchward-Venne et al., 2017). Campanhas de


marketing e educação pública desempenham um papel crucial na
mudança de percepções culturais. A promoção dos benefícios
nutricionais e ambientais das proteínas alternativas, juntamente
com degustações e eventos educacionais, pode ajudar a aumentar
a aceitação dos consumidores.

Estudos de caso mostram que parcerias entre empresas de


alimentos e organizações de pesquisa podem acelerar a inovação
e reduzir custos. Por exemplo, colaborações entre startups de
carne cultivada e grandes corporações alimentícias têm levado a
avanços tecnológicos que diminuem os custos de produção e
melhoram a qualidade do produto (Stephens et al., 2018).

Além disso, iniciativas governamentais e políticas públicas


favoráveis são essenciais. Em alguns países, subsídios para a
pesquisa e desenvolvimento de proteínas alternativas e incentivos
fiscais para empresas inovadoras têm mostrado resultados
positivos (Williams, 2021).

A criação de um ambiente regulatório claro e favorável


também é vital para facilitar a entrada dessas novas proteínas no
mercado, além da desmistificação por meio de conhecimento e
experimentação dos novos produtos pela população, ajudam a
aumentar a aceitabilidade dessas novas opções proteicas (Takefuji,
2021). Assim, a adoção de fontes alternativas de proteína envolve
um conjunto complexo de desafios, mas também apresenta
oportunidades significativas para transformar o mercado
alimentar. A combinação de estratégias educativas, parcerias
inovadoras e apoio regulatório pode ajudar a superar as barreiras
existentes e promover uma integração mais ampla e sustentável

141
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

dessas novas opções proteicas.

METODOLOGIA

Este estudo trata-se de uma pesquisa básica, com


características exploratórias e descritivas, utilizando uma
abordagem qualitativa, adotando-se uma revisão sistemática de
literatura (Gil, 2022; Lopes; Bouzon; Carneiro Neto, 2024), que
estabelece critérios para a busca e seleção de um portifólio
bibliográfico, justamente para analisar um recorte da literatura que
represente a temática abordada.

Inicialmente, definiu-se o escopo da pesquisa, a partir do


problema a ser solucionado e as palavras-chave que deveriam ser
utilizadas na busca. Foi utilizado o acrônico PICo, no qual o P
(Problema) foi representado pela palavra-chave “fontes
alternativas de proteínas de origem animal”; I (Fenômeno de
interesse) foi representado por “combate à desnutrição”; e, Co
(Contexto) foi representado por “infantil”. Todos os termos foram
colocados em inglês na Scopus, uma base reconhecida
internacionalmente e em português nos Periódicos da Capes, com
intuito de valorizar os instrumentos de pesquisa nacionais.

O Portifólio Bibliográfico (PB) bruto resultou em 169


documentos na Scopus e 185 no Portal de Periódicos da Capes, os
quais foram submetidos a uma avaliação criteriosa, utilizando os
seguintes critérios de inclusão: artigos de periódicos revisados por

142
LOPES NETO, BRITO e LOPES | Capítulo 7

pares publicados nos últimos de 2014 a julho de 2024; nos idiomas


inglês, português e espanhol; que utilizasse uma fonte alternativas
de proteína animal na nutrição infantil; abordasse os Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030.

Foram excluídos documentos duplicados, artigos e


congresso, resumos, capítulos de livro, livro; documentos em
idioma diferente dos definidos nos critérios de inclusão e
pesquisas que não estivessem alinhadas com o tema. Após o
processo de seleção, o PB final ficou com 11 artigos de periódicos
alinhados com o tema. A análise do PB foi feita com base na leitura
completa dos textos e nos gráficos e esquemas gerados pelos
softwares VosViwer e RStudio (bibliometrix). Para o
gerenciamento dos documentos foi utilizado ainda o Mendeley.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A identificação de fontes alternativas de proteína de origem


animal é crucial para enfrentar os desafios globais de segurança
alimentar e desnutrição infantil. A escassez de recursos naturais, o
aumento da população mundial e as mudanças climáticas
demandam soluções sustentáveis e inovadoras para garantir uma
nutrição adequada para todas as crianças. As fontes emergentes
de proteína identificadas nesta pesquisa e ilustradas no Quadro 1
oferecem alternativas promissoras tanto em termos nutricionais
quanto de sustentabilidade.

143
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI
Quadro 1. Características das fontes emergentes de proteína de
origem animal alternativas à desnutrição infantil
Fonte de Moluscos
Insetos Medusas
Proteína Cultivados
Proteína (35-75%),
vitaminas (B12, Proteína, ômega-3,
Conteúdo
riboflavina), vitaminas (B12), Proteína, colágeno.
Nutricional
minerais (ferro, minerais (zinco).
zinco).
Baixa emissão de
gases, uso eficiente Filtração natural da Abundância em
Benefícios de recursos, rápido água, redução de algumas áreas,
Ambientais ciclo de vida poluentes baixo impacto
Alta eficiência de marinhos. ambiental.
produção.
Aceitação cultural,
Sazonalidade, Processamento,
Desafios processamento e
aceitação cultural. aceitação cultural.
regulamentação.
Região / País Tailândia, China,
Espanha, França,
com Maior Uganda, China, Japão.
Aceitação África do Sul. Japão.
Projetos de granjas
de insetos para
alimentação
Programas de Consumo
humana na
Exemplos de aquicultura tradicional em
Tailândia e Uganda
Implementação sustentável na pratos culinários na
Pesquisa e
Espanha e França China e Japão.
desenvolvimento
em nutrição infantil
na África do Sul.
Fonte: elaboração dos autores.

Os achados no quadro comparativo destacam a diversidade


e o potencial das fontes alternativas de proteína de origem animal
para combater a desnutrição infantil, considerando tanto os
aspectos nutricionais quanto os benefícios ambientais e desafios
associados (Mazhitova et al., 2024). Insetos emergem como fontes
altamente nutritivas e sustentáveis, com maior aceitação em
regiões da Ásia e África.

144
LOPES NETO, BRITO e LOPES | Capítulo 7

Enquanto os moluscos cultivados são valorizados por seus


benefícios ambientais na Europa e Ásia (Thornton; Gurney-Smith;
Wollenberg, 2023). Já as medusas, apesar de sua alta
disponibilidade e baixo impacto ambiental, ainda enfrentam
desafios culturais e de processamento (Bonaccorsi et al., 2020).
Esses dados sublinham a necessidade de estratégias adaptadas às
realidades regionais para promover a aceitação e integração dessas
fontes alternativas, enfatizando a importância de políticas públicas
que incentivem a pesquisa, desenvolvimento e educação
nutricional para superar as barreiras culturais e econômicas.

Para promover a adoção de fontes alternativas de proteína


de origem animal no combate à desnutrição infantil é fundamental
implementar políticas viáveis e eficazes que abarquem várias
frentes. Nesse sentido, a educação e sensibilização são cruciais,
pois campanhas de conscientização devem ser desenvolvidas para
destacar os benefícios nutricionais e ambientais dessas novas
opções proteicas, direcionando-se tanto ao público geral quanto a
grupos específicos, como pais, educadores e crianças (Williams,
2021).

Incluir temas sobre alimentação sustentável e diversificada


no currículo escolar pode ajudar a moldar hábitos alimentares mais
saudáveis e sustentáveis desde a infância. Visto que, a inclusão
dessas proteínas nos programas de alimentação escolar pode ter
um impacto direto e imediato no combate à desnutrição infantil
(Adegboye, 2022). A implementação gradual dessas proteínas
alternativas, começando com projetos-piloto em regiões
vulneráveis, permitirá avaliar a aceitação e o impacto nutricional
entre as crianças, ajustando as estratégias conforme necessário.

145
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

Em complemento à educação e sensibilização, incentivos


econômicos são essenciais para fomentar a produção e o consumo
dessas proteínas (Lähteenmäki-Uutela et al., 2021). Oferecer
subsídios e incentivos fiscais para produtores e startups que
trabalham com proteínas alternativas pode reduzir os custos de
produção, tornando esses alimentos mais competitivos no
mercado (Moura et al., 2023). Além disso, apoiar financeiramente
projetos de pesquisa e desenvolvimento ajudará a aprimorar as
tecnologias de cultivo e processamento, melhorando a qualidade e
aceitação dos produtos.

O investimento em pesquisa e desenvolvimento deve ser


uma prioridade. Financiamentos direcionados a estudos sobre o
impacto nutricional e a viabilidade de escalabilidade dessas fontes
são fundamentais. Promover a inovação tecnológica para melhorar
o processamento e a palatabilidade das proteínas alternativas
ajudará a superar algumas das barreiras mais significativas à sua
adoção (Mazhitova et al., 2024).

Além disso, a regulamentação e aprovação eficiente dessas


novas fontes alimentares é vital. Estabelecer diretrizes claras e
processos de aprovação que garantam a segurança e a qualidade
nutricional dos produtos ajudará a construir a confiança dos
consumidores e facilitar a entrada dessas proteínas no mercado
(Rumpold; Van Huis, 2021).

No contexto brasileiro, a promoção de fontes alternativas


de proteína para combater a desnutrição infantil é crucial para
alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da
Agenda 2030 (Mariutti et al., 2021). Com sua biodiversidade rica
e um setor agrícola robusto, o país tem grande potencial para

146
LOPES NETO, BRITO e LOPES | Capítulo 7

liderar essa transformação, embora enfrente desafios estratégicos


no cumprimento da Agenda 2030.

Apoiar a pesquisa local é essencial. Incentivar universidades


e institutos de pesquisa a explorar proteínas alternativas pode
gerar soluções adaptadas às condições brasileiras, contribuindo
para os ODS 2 (Fome Zero) e ODS 9 (Inovação e Infraestrutura)
(Blesh et al., 2019 e Rumpold; Van Huis, 2021). Um ambiente de
pesquisa robusto permitirá o desenvolvimento de tecnologias
escaláveis, beneficiando a nutrição infantil e servindo como
modelo global (Moura et al., 2023).

Parcerias público-privadas são fundamentais para acelerar


o desenvolvimento e a implementação de tecnologias
sustentáveis. Colaborações entre governo, empresas e ONGs
facilitam a troca de conhecimentos e recursos, ajudando a superar
desafios econômicos e criando um mercado viável para proteínas
alternativas, alinhado ao ODS 17 (Parcerias e Meios de
Implementação).

Integrar proteínas alternativas nos programas de


alimentação escolar, especialmente em áreas vulneráveis,
permitirá avaliar sua eficácia e aceitação, contribuindo para os
ODS 3 (Saúde e Bem-Estar) e ODS 4 (Educação de Qualidade)
(Bruni et al., 2018). A educação nutricional também é vital, com
materiais educativos e campanhas que promovam o consumo
sustentável, alinhando-se ao ODS 12 (Consumo Responsável).

Incentivos fiscais e subsídios à produção de proteínas


alternativas podem reduzir custos e tornar esses alimentos mais
acessíveis, posicionando o Brasil como líder global em práticas
alimentares sustentáveis. Isso apoia o ODS 8 (Trabalho Decente) e
147
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

ODS 13 (Ação Climática), promovendo cadeias de produção


sustentáveis (Sánchez-Muros; Barroso; Manzano-Agugliaro,
2014).

No entanto, a implementação dessas estratégias enfrenta


desafios significativos, incluindo a necessidade de alinhar as
políticas nacionais aos ODS e superar resistências culturais (Moura
et al., 2023). Um ambiente regulatório favorável é crucial para
facilitar a aprovação e comercialização dessas proteínas,
garantindo segurança alimentar (Djuragic; Rakita; Dragojlovic,
2021). Ao superar esses desafios, o Brasil pode não apenas
melhorar a nutrição infantil, mas também consolidar sua posição
como líder em inovação e sustentabilidade alimentar, contribuindo
para um futuro mais saudável e sustentável.

CONCLUSÃO

Este capítulo alcançou seu objetivo de identificar fontes


emergentes de proteína de origem animal que podem ser utilizadas
como alternativas sustentáveis e nutricionalmente ricas no
combate à desnutrição infantil. A análise abrangeu algumas
proteínas alternativas, incluindo insetos, carne cultivada em
laboratório, moluscos cultivados e medusas, destacando suas
propriedades nutricionais, benefícios ambientais e desafios de
aceitação e implementação.

As propriedades nutricionais dessas fontes alternativas são

148
LOPES NETO, BRITO e LOPES | Capítulo 7

altamente promissoras e os seus benefícios ambientais são


inegáveis. Os insetos, por exemplo, oferecem perfis de
aminoácidos completos, alta digestibilidade e são ricos em
vitaminas e minerais essenciais, como B12, ferro e ômega-3. Além
disso, a criação desses invertebrados utiliza significativamente
menos recursos naturais e gera menos emissões de GEE em
comparação aos sistemas de produção de carne tradicionais.

A carne cultivada em laboratório, apesar de ainda estar em


fase de desenvolvimento e enfrentar barreiras culturais
significativas, também mostram grande potencial devido à sua
capacidade de oferecer nutrição balanceada e adaptável. Os
moluscos cultivados e as medusas contribuem para a limpeza dos
ecossistemas aquáticos. No entanto, os desafios de aceitação
cultural e econômica são significativos. A resistência dos
consumidores a essas novas fontes de proteína, especialmente
aquelas percebidas como “não convencionais” ou “artificiais”, pode
dificultar sua adoção generalizada. Desta forma, campanhas
educativas que destaquem os benefícios nutricionais e ambientais,
bem como estratégias de educação nutricional e sensibilização são
necessárias para mudar percepções e aumentar a aceitação
cultural.

Além disso, investimentos em pesquisa e desenvolvimento


para melhorar tecnologias de produção, e incentivos econômicos
para produtores são passos cruciais, visto que os custos de
produção, especialmente para tecnologias emergentes como carne
cultivada em laboratório, ainda são altos. Sendo assim, para
superar esses desafios e promover a adoção dessas fontes
alternativas, são necessárias políticas públicas bem estruturadas,
com incentivo e subsídios que podem ajudar a reduzir esses custos,
149
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

tornando-as mais acessíveis e competitivas no mercado.

Os aspectos sustentáveis dessas fontes alternativas de


proteínas de origem animal são cruciais para atender à crescente
demanda por alimentos de uma maneira que não comprometa os
recursos das gerações futuras, alinhando-se com os Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030. A criação
de um ambiente regulatório favorável também é essencial para
garantir a segurança e a qualidade desses novos alimentos, além
disso, as características dessas proteínas as tornam viáveis para
suplementar e diversificar a dieta de crianças, proporcionando os
nutrientes necessários para um crescimento e desenvolvimento
saudáveis, sendo assim, a integração dessas proteínas nos
programas de alimentação escolar pode ter um impacto direto e
imediato na nutrição infantil.

Nesse ínterim, este estudo não apenas identificou várias


fontes emergentes de proteína de origem animal que podem ser
utilizadas no combate à desnutrição infantil, mas também destacou
as estratégias necessárias para superar os desafios de aceitação e
implementação. O Brasil, com sua rica biodiversidade e capacidade
agrícola, está bem-posicionado para liderar essa transformação,
alinhando suas políticas alimentares com os objetivos globais da
Agenda 2030.

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155
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

156
Capítulo 8 |
DIREITO À SAÚDE: A INVISIBILIDADE
DA SAÚDE MENTAL DA MULHER
BRASILEIRA ENCARCERADA E A
ESCASSEZ DE POLÍTICAS PÚBLICAS

Francielle Caroline Zacarkin1

Henrique Franco Morita2

1
Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Ponta Grossa. Paraná.
Especialista em Direito Civil e Processual Civil (UNESA). Pós-graduanda em
Gestão Pública (UEPG).
Currículo Lattes: https://lattes.cnpq.br/7149306482949293
ORCID: https://orcid.org/0009-0008-9466-6407
Correio eletrônico: [email protected]
2
Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR). Apucarana. Paraná. Brasil.
Doutor em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Catarina.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3612307617120344
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3341-0797
Correio eletrônico: [email protected]
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

INTRODUÇÃO

Segundo as pesquisas mais recentes, divulgadas pela


Organização Mundial de Saúde (2017), o Brasil ocupa o primeiro
lugar no ranking mundial com o maior número de pessoas ansiosas,
tendo alcançado a porcentagem de 9,3% sofrendo de alguma
forma de distúrbio ansioso. Além disso, os dados destacam que os
brasileiros estão entre as populações com a maior incidência de
distúrbios depressivos, alcançando cerca de 5,8% da população.

O presente artigo tem como intuito tratar de somente uma


parcela da sociedade brasileira, buscando evidenciar a importância
do direito à saúde mental das mulheres encarceradas em nosso
sistema prisional. Ainda que o problema da saúde mental não seja
uma realidade exclusiva das mulheres privadas de liberdade, nas
condições em que se encontram, a questão se torna
profundamente mais grave e intensa, tendo em vista que
permanecem abandonadas e invisíveis, tanto por suas próprias
famílias quanto pelo Poder Público.

O direito à saúde está previsto na Constituição Federal de


1988, dispondo que a saúde é direito de todos e dever do Estado,
o qual deve tutelar esse direito por meio de políticas sociais e
econômicas. Os dispositivos constitucionais objetivam a redução
de riscos a doenças, e o acesso universal e igualitário a todos os
cidadãos às ações e serviços de promoção, proteção e recuperação
da saúde. Entretanto, será demonstrada uma verdadeira ausência
da proteção do direito à saúde mental para o mencionado grupo
de mulheres.

158
ZACARKIN e MORITA | Capítulo 8

O encarceramento tende a exacerbar problemas mentais


preexistentes e, também, a desenvolver novos, afetando
negativamente a saúde dos indivíduos nessa situação. Ainda que
encarceradas, cumprindo a pena pelos crimes que cometeram,
devem ter seus direitos humanos e fundamentais respeitados e
protegidos, entre eles, o direito à saúde mental. O direito à saúde
deve ser respeitado de forma universal, ou seja, o Poder Público
não pode se esquivar da obrigação na prestação de serviços
relacionados à saúde das pessoas privadas de liberdade.

O estudo do presente tema apresenta-se da seguinte forma:


primeiramente, aborda-se o papel do legislador e, também, das
autoridades competentes na proteção da dignidade da pessoa
humana ao prever o direito constitucional à saúde, incluindo a
tutela da saúde física e mental de mulheres encarceradas. Em
seguida, será realizada uma análise das principais doenças mentais
que afetam a população carcerária feminina no Brasil, e,
consequentemente, como a falta de proteção à saúde mental se
enquadra na condição do Estado de Coisas Inconstitucionais.

Adiante, busca-se evidenciar a importância de uma maior


atuação do Poder Público no enfrentamento das doenças mentais
dentro do sistema carcerário brasileiro feminino e, principalmente,
como a negligência estatal fere o direito à dignidade da pessoa
humana quando verificadas situações em que prisioneiras
apresentam transtornos mentais e não recebem o devido
tratamento.

Por fim, ressalta-se a crucial necessidade na expansão de


políticas públicas destinadas a proteger e recuperar a saúde dessas
mulheres, que, mesmo encarceradas, permanecem sendo titulares

159
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

de direitos e destinatárias de recursos públicos.

DESENVOLVIMENTO

O Direito Constitucional à Saúde no Sistema Prisional


Brasileiro
O direito constitucional à saúde é um dos direitos
fundamentais tutelados pela Constituição Federal de 1988,
diretamente ligado ao princípio da dignidade da pessoa humana e
à garantia de um mínimo existencial.

O direito à saúde está disposto no artigo 6º de nossa Carta


Magna, sendo considerado como um dos direitos sociais de todo
cidadão. Tal direito também está previsto no artigo 196 do texto
constitucional, que prevê sua garantia de forma universal e
igualitária, por meio de políticas sociais e econômicas que visem a
redução do risco de doença e outros agravos, bem como, ao acesso
universal e igualitário às ações e serviços públicos para sua
promoção, recuperação e proteção. Em consonância, o artigo 5º da
CF/88, prevê um extenso rol de direitos e garantias fundamentais,
abordando, entre eles, direitos da população encarcerada, no qual
destaca-se o inciso XLIX, o qual assegura aos presos o respeito à
integridade física e moral.

Observa-se que o legislador constitucional buscou a tutela


do direito à saúde, estando fundamentado em um Estado
Democrático de Direito, declarando a saúde como direito
160
ZACARKIN e MORITA | Capítulo 8

fundamental a todos e um dever do Estado Brasileiro, sem excluir


a população carcerária:

[...] é no âmbito do direito à saúde que se manifesta


de forma mais contundente a vinculação do seu
respectivo objeto (no caso da dimensão positiva,
trata-se de prestações materiais na esfera da
assistência médica, hospitalar etc.) com o direito à
vida e o princípio da dignidade da pessoa humana. [...]
O direito à vida (e, no que se verifica a conexão,
também o direito à saúde) assume, no âmbito desta
perspectiva, a condição de verdadeiro direito a ter
direitos, constituindo, além disso, pré-condição da
própria dignidade da pessoa humana (Sarlet, 2017, p.
671).

Ainda, previamente ao texto constitucional, em 1984 foi


criada a Lei de Execução Penal, legislação dedicada a tratar com
especificidade das condições do cumprimento da pena e da
assistência aos presos. A referida lei segue em consonância com a
CF/88, ao estabelecer que a assistência à saúde dos presos deve
ser atendida de forma integral, incluindo a saúde mental e física de
pessoas encarceradas:

Art. 14. A assistência à saúde do preso e do internado


de caráter preventivo e curativo, compreenderá
atendimento médico, farmacêutico e odontológico.
[...]
Art. 183. Quando, no curso da execução da pena
privativa de liberdade, sobrevier doença mental ou
perturbação da saúde mental, o Juiz, de ofício, a
requerimento do Ministério Público, da Defensoria
Pública ou da autoridade administrativa, poderá
determinar a substituição da pena por medida de
segurança (Brasil, 1984).

A Lei de Execução Penal tem como objetivo garantir que os


presos, no cumprimento de suas penas, tenham acesso a serviços
de saúde adequados, contudo, conforme podemos verificar, a lei é

161
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

escassa no que se refere ao direito à saúde mental.

Frente a tal escassez, o Poder Executivo, por meio do


Ministério da Saúde em conjunto com o Ministério da Justiça,
desenvolveu normativas e diretrizes com o intuito de contemplar
a assistência à saúde dentro do sistema prisional de maneira
específica, elaborando o Plano Nacional de Saúde no Sistema
Penitenciário, trazendo como principais diretrizes:

Prestar assistência integral resolutiva, contínua e de


boa qualidade às necessidades de saúde da população
penitenciária; Contribuir para o controle e/ou
redução dos agravos mais frequentes que acometem
a população penitenciária; Definir e implementar
ações e serviços consoantes com os princípios e
diretrizes do SUS; Proporcionar o estabelecimento de
parcerias por meio do desenvolvimento de ações
intersetoriais; Contribuir para a democratização do
conhecimento do processo saúde/doença, da
organização dos serviços e da produção social da
saúde; Provocar o reconhecimento da saúde como
um direito da cidadania; Estimular o efetivo exercício
do controle social (Brasil, 2004, p. 14).

E, especificamente voltada ao gênero feminino, a Política


Nacional de Atenção às Mulheres Privadas de Liberdade (2014),
prevê que mulheres encarceradas podem contar com acesso a
atendimento psicossocial e interdisciplinar dentro do sistema
prisional, com garantias como a convivência com a família e
comunidade, cuidados com a saúde mental, entre outras. No
entanto, como iremos observar adiante, tais políticas públicas não
são colocadas em prática de forma eficiente.

Podemos verificar a atuação do Poder Legislativo e


Executivo na tutela do direito à saúde dentro do regime prisional,
ainda que na esfera teórica. No entanto, há uma grande distância

162
ZACARKIN e MORITA | Capítulo 8

entre a norma escrita e o que é de fato colocado em prática dentro


das instituições prisionais, principalmente no tocante à saúde
mental.

Sales (2007), destaca diversos fatores impeditivos para que


a assistência à saúde atenda adequadamente à população
encarcerada. Esses fatores incluem a falta de estrutura física nas
prisões brasileiras, a escassez de profissionais de saúde dedicados
a essa área e a invisibilidade das necessidades dessa população. No
presente trabalho iremos destacar a relevância das políticas
públicas voltadas à saúde mental das mulheres prisioneiras no
Brasil, analisando algumas das falhas existentes e propondo
soluções para melhorar o atendimento a esse grupo vulnerável.

A saúde mental de mulheres encarceradas no Brasil


Além de enfrentarem a desigualdade de gênero dentro e
fora do mercado de trabalho, as mulheres carregam o papel
socialmente atribuído como “cuidadoras” do lar, somando-se à
obrigação de contribuir economicamente dentro do núcleo
familiar. Mulheres que possuem melhores condições de vida,
conseguem equilibrar as funções sem dificuldades mais gravosas,
mesmo enfrentando alguns desafios. Já as que não contam com
uma estrutura familiar definida, condições econômicas estáveis ou
redes de apoio, possuem maior risco de entrarem no mundo da
criminalidade.

Segundo Flores (2018), para grande parte dessas mulheres,


o crime não é algo tão distante, sendo que em muitas das vezes
são cooptadas à criminalidade pelos próprios companheiros,

163
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

servindo como cúmplices ou acessórios nos delitos. Contudo,


quando essas mulheres vão para a prisão, tornam-se praticamente
invisíveis. Ao serem presas, os vínculos socioafetivos são rompidos
e enfraquecidos pelo distanciamento e abandono.

Consoante informações do Departamento Penitenciário


Nacional (Brasil, 2022), a maior parte das mulheres presas é jovem,
negra, de baixo nível socioeconômico e mãe solteira, que durante
o encarceramento perdem os vínculos familiares, sendo
abandonadas pelos entes queridos e principalmente por seus
companheiros.

Por si só, a privação da liberdade é um evento


extremamente estressante. Quando à essa situação se acrescenta
a violação em massa de direitos fundamentais, principalmente do
direito à saúde mental, percebe-se que a prisão atua como uma
instituição de caráter exclusivamente punitivo/vingativo,
promovendo forte impacto negativo no psicológico dos indivíduos
sob sua tutela.

Para Santos et al. (2017), a prisão é reconhecida como um


espaço que pode ter negativas implicações psicológicas para a
saúde mental das mulheres, que apresentam taxas muito mais
elevadas de problemas psicológicos do que os presos do sexo
masculino e do restante da comunidade.

É fato incontroverso que o sistema prisional brasileiro não


acompanha o crescimento populacional e o aumento da
criminalidade. Frente à inércia estatal, temos como resultado a
superlotação das instituições prisionais, uma abismal falta de
estrutura e condições inadequadas para preservação do direito à
saúde mental. E quando se fala em prisões femininas, os impactos
164
ZACARKIN e MORITA | Capítulo 8

são ainda maiores, face à escassez de políticas públicas específicas


ao gênero.

De acordo com Germano, Monteiro e Liberato (2018), a


sociedade tende a estigmatizar as mulheres em contraste com os
homens. Segundo diversos estudos, as mulheres que se desviam
do comportamento passivo esperado, acabam sendo rotuladas
como “loucas”, “rebeldes” e “agressivas”. Por outro lado, os
homens, quando cometem crimes, são geralmente vistos como
"criminosos" sem que haja um julgamento de caráter ou sanidade.
Esse duplo padrão evidencia um preconceito de gênero profundo.

O presente artigo não pretende vitimizar nem eximir as


responsabilidades das mulheres prisioneiras. Seu objetivo é
destacar a ineficiência do nosso sistema prisional, especialmente
no que diz respeito ao agravamento e à criação de problemas de
saúde mental.

Segundo estudos realizados por Fernandes e Hirdes (2016),


as principais situações que causam sofrimento mental de mulheres
presidiárias são a tristeza pelo abandono dos familiares, a culpa
pela ausência na criação dos filhos, o medo pela inadequação na
adaptação à cultura prisional, a despersonalização e sofrimento
antecipado sobre a vida fora da prisão frente ao estigma, a
discriminação da sociedade que não possibilita perspectivas de
trabalho fora do contexto criminal, a ideação suicida, os quadros
de depressão e ansiedade.

Em um estudo realizado, constatou-se que as mulheres


inseridas dentro do sistema prisional brasileiro têm cinco vezes
mais chances de apresentar transtornos mentais do que mulheres
que estão em liberdade:
165
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI
Neste estudo sobre a saúde mental durante o período
de confinamento, as mulheres relataram: ansiedade,
estresse, depressão, alteração do padrão de sono, uso
indevido de medicação psicotrópica, uso abusivo de
drogas lícitas e ilícitas, abstinência sexual, precárias
condições de confinamento e interrupção das
relações familiares. A maioria já sofreu algum tipo de
violência. [...] Para evitar o agravamento dos sintomas
depressivos que aparecem no período de reclusão é
importante o suporte externo e o apoio de um serviço
de saúde mental, como confirmam alguns estudos
(Santos et.al., 2017, p. 6).

A partir disso, pode-se confirmar que devido ao


encarceramento, as presas suportam dor emocional muitas vezes
superior a dores físicas, o que pode causar sérios problemas de
saúde, como a depressão profunda e a ideação suicida.

De acordo com uma pesquisa realizada dentro de um


presídio feminino no Rio de Janeiro, as principais queixas das
prisioneiras são de problemas relacionados à saúde mental,
vejamos alguns depoimentos:

[...] problema físico não [...] só mental, [...] depressão [...]


(M12). [...] eu estou precisando muito de um psiquiatra
[...] (M7). [...] me deparo no tempo sozinha. [...] me bate
a depressão do abandono. [...] tem hora que eu me acho
péssima. [...] vontade de morrer, [...] parar de sofrer [...]
(M3); [...] estressada [...] desconto na polícia [agentes
penitenciárias] meus problemas [...] (M16). [...] preciso
do remédio para me acalmar [...] (M36). [...] vai dormir
na cadeia? É o local que menos se dorme [...] (M2); [...]
muita ansiedade. Acordo às 4 horas. [...] sinto ansiedade
e preocupação [...] (M4); [...] vi uma morte que me
abalou [...] meu sistema nervoso ficou abalado [...]
(M14); [...] acordar aqui é muita loucura. [...] aqui é um
hospício [...] (M18). [...] os barulhos das presas me
incomodam [...] a gritaria e a agitação [...] (M1) (Santos
et al., 2017, p. 5).
166
ZACARKIN e MORITA | Capítulo 8

O confinamento dentro de um ambiente superlotado


somado às dores psicológicas que já carregam antes da prisão, os
conflitos entre as detentas, os distúrbios do sono, a falta de itens
para a higiene pessoal, os desequilíbrios hormonais, o uso de
medicamentos sem prescrição e o abuso de drogas, resultam em
danos irreparáveis à saúde mental desses indivíduos.

Para Tourinho et al. (2017), as condições das prisões


brasileiras depõem contra o cumprimento do Direito Penal e
evidencia o descaso com a dignidade humana praticado nessas
instituições. E, considerando os problemas já mencionados dentro
dos presídios junto à falta de políticas públicas para o atendimento
dessas mulheres, fica nítido o caráter insuficiente e/ou inexistente
da preservação e proteção do direito à saúde mental delas.

Ocorre que, quando a sociedade permite e o Estado se


mantém inerte, o direito à saúde é continuamente esfacelado e
consigo a dignidade da pessoa humana. A permissão de tais
condições de sobrevivência dessas prisioneiras é por si só uma
verdadeira aquiescência com a condição de Estado de Coisas
Inconstitucionais.

RESULTADOS E/OU DISCUSSÃO

O Estado de Coisas Inconstitucional e a violação ao


direito fundamental à saúde mental de mulheres
encarceradas
167
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

Não é novidade que a falha das políticas públicas dentro do


sistema prisional brasileiro contribui para a constante violação em
massa de direitos fundamentais, caracterizando o Estado de Coisas
Inconstitucional (ECI), que pode ser definido como:
Técnica de decisão por meio da qual cortes e juízes
constitucionais, quando rigorosamente identificam
um quadro de violação massiva e sistemática de
direitos fundamentais decorrente de falhas
estruturais do Estado, declaram a absoluta
contradição entre os comandos normativos
constitucionais e a realidade social, e expedem ordens
estruturais dirigidas a instar um amplo conjunto de
órgãos e autoridades a formularem e implementarem
políticas públicas voltadas à superação dessa
realidade inconstitucional. (Campos, 2016, p. 21).

As condições desumanas dentro dos presídios se tornaram


objeto de julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), por meio
da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF)
nº 347, em que foi reconhecido o Estado de Coisas
Inconstitucional no sistema prisional brasileiro:

No sistema prisional brasileiro, há uma situação de


violação em massa de direitos fundamentais dos
presos, a exemplo dos direitos à integridade física,
alimentação, higiene, saúde, estudo e trabalho. Esse
cenário está em desacordo com as normas previstas
na Constituição Federal de 1988 (art. 3º, III, e art. 5º,
incs. XLVII, XLVIII e XLIX), nos tratados internacionais
de direitos humanos de que o Brasil é parte e nas
demais leis aplicáveis ao tema (entre elas, a Lei de
Execução Penal). Essas normas autorizam que o
Estado limite a liberdade do condenado, mas não
permitem que outros direitos sejam desrespeitados.
As condições de cumprimento de pena estão
expressamente reguladas pelas normas citadas. O seu
cumprimento não é uma questão política, mas uma
questão jurídica, a ser assegurada pelo STF (Brasil,
2015).

168
ZACARKIN e MORITA | Capítulo 8

O julgado, além de reconhecer o Estado de Coisas


Inconstitucional do sistema prisional brasileiro, também foi
favorável à intervenção judicial na solução de problemas quanto à
falha ou inexistência de políticas públicas, e não para a alteração
das políticas públicas, pois se trata de área de competência
administrativa.

As falhas em nosso sistema prisional são de natureza


estrutural, envolvendo aspectos políticos e institucionais.
Frequentemente, há omissões legislativas, pois as autoridades
hesitam em adotar medidas mais incisivas em relação aos direitos
das pessoas encarceradas, temendo a repercussão pública e a
possível perda de votos nas eleições.

Para Campos (2015), existem inúmeros mecanismos


processuais que possibilitam a tutela objetiva de direitos
fundamentais e a tomada de ordens estruturais voltadas à
superação do estado inconstitucional. Embora o Estado de Coisas
Inconstitucional (ECI) tenha sido reconhecido em 2015 pelo
Supremo Tribunal Federal como uma situação de violação massiva
e generalizada de direitos fundamentais, ainda não é possível notar
mudanças significativas dentro do sistema prisional.

Além disso, o estigma associado aos problemas de saúde


mental dentro das prisões contribui para a negligência e o
tratamento inadequado das prisioneiras que sofrem com
transtornos mentais. A falta de políticas públicas efetivas e a
inércia do governo em implementar as mudanças necessárias
demonstram uma grave omissão em garantir os direitos
fundamentais e humanos desses indivíduos.

169
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

É muito provável que a condição de Estado de Coisas


Inconstitucional em nosso atual sistema prisional tenha como uma
de suas origens a insuficiência no desenvolvimento de políticas
públicas voltadas à tutela dos direitos fundamentais da população
encarcerada. A gravidade da situação evidencia a omissão do
Poder Público, o qual não pode se eximir de sua responsabilidade
legal e constitucional na reintegração dessas mulheres à sociedade:

O tratamento degradante só ajudará a embrutecê-lo


contribuindo, para que ao sair do cárcere retorne em
condições piores, trazendo mais mal a todos nós, pois,
não havendo prisão perpétua a pena de morte em
nosso país, todos os que se encontram cumprindo
pena, retornarão a conviver entre nós, e repito, muito
pior do que antes. Porém em plena época de
redemocratização, onde o país assegura em sua Carta
Magna os direitos fundamentais da pessoa humana,
presenciamos todos os tipos de arbítrio contra a
pessoa do prisioneiro. (Mirabete, 2007, p. 135).

Ainda que a maior parte de nossa sociedade, seja por temor


ou por revolta, resista em considerar pessoas encarceradas como
titulares de direitos fundamentais, é indispensável o respeito da
força normativa de nossa Constituição Federal na proteção do
direito à dignidade da pessoa humana apenada.

As políticas públicas para a preservação da saúde mental de


prisioneiras são frequentemente deixadas de lado pelo Poder
Público devido a uma combinação de diversos fatores, tais como o
preconceito, as prioridades orçamentárias, a falta de
conscientização e sensibilidade para com essa parcela da
população, a falta de estrutura nas instalações prisionais, a falta de
pessoal qualificado para o trabalho e a baixa remuneração dos
mesmos, a sobrecarga do sistema penitenciário e a escassez de
pesquisa e dados sobre saúde mental nos presídios.
170
ZACARKIN e MORITA | Capítulo 8

Com base no exposto, verifica-se a urgência no


desenvolvimento de políticas públicas voltadas para a preservação
e melhoria da saúde mental, especialmente as de fomento ao apoio
familiar/afetivo e de atendimento integrado por profissionais da
saúde qualificados.

CONCLUSÃO

As discussões apresentadas visam, acima de tudo, fomentar


uma reflexão crítica sobre a falta de políticas públicas voltadas ao
direito à saúde mental de mulheres presas e o que impede sua
efetiva implementação e concretização dentro do sistema prisional
atual.

Conforme exposto, após a condenação, observa-se um


desmoronamento do núcleo familiar e o abandono da mulher
presa, o que evidencia a desigualdade de gênero, pois isso não
acontece da mesma forma com os homens quando estão
encarcerados. Devido ao abandono por parte dos familiares e,
principalmente, dos companheiros, surgem sentimentos de
tristeza, dor, culpa e solidão.

Assim, a privação de liberdade e a consequente ruptura dos


laços afetivos impactam a saúde mental dessas mulheres, sendo a
expectativa pelo retorno ao contato com os familiares uma das
piores formas de sofrimento dentro da prisão. O contato com
familiares é essencial para a reintegração da mulher na sociedade.

171
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

Como a condição de estar presa é temporária, tendo em vista que


não há prisão perpétua no Brasil, a família deve continuar sendo,
para o indivíduo preso, um referencial de esperança para a vida
fora da prisão.

Considerando que se trata de um grupo específico em


condições de vulnerabilidade, é extremamente importante
fortalecer as redes de atenção à saúde e avançar nas políticas
públicas que garantam melhores condições de saúde para as
mulheres encarceradas. Isso é particularmente crucial no que diz
respeito à saúde mental, pois essa população é mais propensa ao
sofrimento psíquico no período de reclusão.

Ressalta-se a necessidade de uma equipe de saúde que


reoriente constantemente o serviço de saúde mental dentro das
penitenciárias ou um serviço de referência na rede de saúde
mental, a fim de garantir a continuidade da atenção à saúde das
encarceradas.

O presente trabalho não pretende apresentar soluções


definitivas para esse problema tão complexo. Em vez disso, busca
destacar e trazer à luz essa questão perante a sociedade. A saúde
mental é tema amplamente discutido nos dias de hoje, sendo
objeto de conscientização e desestigmatização. No entanto, essas
discussões raramente abrangem ou adentram nosso sistema
prisional.

As mulheres presas são frequentemente tratadas como


seres invisíveis devido à falta de estrutura física das prisões e o
desrespeito pelas especificidades do gênero feminino. No que se
refere à saúde mental, poucas políticas públicas são efetivamente
implementadas na prática. É impossível ressocializar um ser
172
ZACARKIN e MORITA | Capítulo 8

humano em um ambiente tão opressivo, especialmente quando o


isolamento se torna físico, psicológico e emocional.

É essencial que se compreenda a gravidade dessas questões


e de como a escassez de políticas públicas para atender essas
necessidades impacta negativamente o desenvolvimento da
sociedade.

A criação de programas de tratamento psicológico e


psiquiátrico, juntamente com a melhoria das condições gerais das
prisões, com apoio da família e conscientização da sociedade, são
requisitos basilares para promover a verdadeira ressocialização e
garantir o respeito aos direitos humanos dessas mulheres.

Ao trazer essa discussão para o centro do debate público,


espera-se fomentar uma maior compreensão e mobilização social
para a mudança das condições atuais, visando um sistema prisional
mais eficaz, funcional e humano.

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176
Capítulo 9 |
DRIVERS PARA A ADOÇÃO DE
ENERGIAS RENOVÁVEIS: REVIEW DE
TENDÊNCIAS E DESAFIOS GLOBAIS

Francinalda Aragão Carneiro1

Eliana de Jesus Lopes2

Flávio Albuquerque Ferreira da Ponte3

1
Professora do Centro Universitário Inta (UNINTA). Sobral. Ceará. Brasil.
Mestra em Educação e Bacharel em Física.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9534128738356628
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3503-146X
Correio eletrônico: [email protected]
2
Professora do Centro Universitário Inta (UNINTA). Sobral. Ceará. Brasil.
Mestra e Bacharel em Engenharia de Produção.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/2229632313372153
ORCID: http://orcid.org/0000-0003-0496-1661
Correio eletrônico: [email protected]
3
Departamento de Tecnologia em Energias Renováveis (CEAD), Campus
Ministro Petrônio Portela, da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Teresina.
Piauí. Brasil. Engenheiro Químico.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9198423779619032
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4631-5828
Correio eletrônico: [email protected]
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

INTRODUÇÃO

A crescente preocupação com as mudanças climáticas e a


necessidade de uma matriz energética sustentável têm colocado
as energias renováveis no centro das discussões globais (Owusu;
Asumadu-Sarkodie, 2016). Nos últimos anos, a transição para
fontes de energia limpas tornou-se uma prioridade para governos,
setor privado e sociedade civil. Essa mudança é essencial para
mitigar os impactos do uso intensivo de combustíveis fósseis, que
ainda predominam na matriz energética e são grandes
responsáveis pelas emissões de gases de efeito estufa (Villani;
Giovinazzi; Costanzo, 2023).

Dentro desse contexto, a Agenda 2030 para o


Desenvolvimento Sustentável, adotada pelas Nações Unidas,
surge como um marco estratégico, destacando o Objetivo de
Desenvolvimento Sustentável (ODS) 7, que visa garantir o acesso
universal a uma energia limpa, acessível e sustentável (Fuso Nerini
et al., 2018). O ODS 7 não apenas reflete a urgência de acelerar a
transição energética global, mas também reforça a importância de
expandir o uso de energias renováveis como uma das principais
estratégias para alcançar um futuro sustentável (Hunt; Kipouros;
Lamprakis, 2024). No entanto, apesar do consenso sobre a
importância desse processo, a implementação em larga escala de
energias renováveis ainda enfrenta uma série de desafios.

Esses desafios estão intrinsecamente ligados a diversos


fatores, conhecidos como drivers, que variam conforme os
contextos econômicos, políticos, tecnológicos e sociais (Mehmood
et al., 2022). A complexidade e a diversidade desses drivers,
178
CARNEIRO, LOPES e PONTE | Capítulo 9

juntamente com as especificidades regionais e setoriais, tornam


essencial uma análise crítica e abrangente para identificar quais são
os mais relevantes e como eles interagem na promoção das
energias renováveis (Solangi; Alyamani; Magazzino, 2024).
Entender esses fatores é crucial para a formulação de políticas
públicas eficazes e estratégias empresariais que possam acelerar a
transição energética global de maneira eficiente e sustentável.

Diante desse cenário, este estudo tem como objetivo


analisar e sintetizar a literatura existente sobre os principais drivers
que impulsionam a implementação de energias renováveis em
diferentes contextos ao redor do mundo. Ao identificar e
categorizar esses drivers, busca-se contribuir para uma
compreensão mais aprofundada das forças que moldam a
transição energética global, alinhando-se com as metas
estabelecidas pelo ODS 7 da Agenda 2030 e promovendo uma
matriz energética mais sustentável.

REFERENCIAL TEÓRICO

Energias Renováveis para um Futuro Sustentável

O desenvolvimento sustentável tornou-se uma prioridade


global, impulsionado pela crescente conscientização sobre as
mudanças climáticas, a escassez de recursos naturais e a
necessidade de mitigar os impactos ambientais dos combustíveis
179
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

fósseis (Solangi; Alyamani; Magazzino, 2024). Nesse contexto, as


energias renováveis emergem como uma solução crucial,
contribuindo para a redução das emissões de gases de efeito
estufa e promovendo um desenvolvimento econômico mais
sustentável.

As energias renováveis, como solar, eólica, hidrelétrica,


geotérmica e biomassa, são definidas como fontes de energia
naturalmente reabastecidas em uma escala de tempo humana.
Diferentemente dos combustíveis fósseis, essas fontes são
inesgotáveis e têm impactos ambientais significativamente
menores (Tu et al., 2022). De acordo com a International Renewable
Energy Agency (IRENA), elas são fundamentais para a
descarbonização das economias e desempenham um papel central
na consecução dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
(ODS), especialmente o ODS 7, que visa garantir acesso à energia
acessível, confiável, sustentável e moderna para todos.

Além de mitigar as mudanças climáticas, as energias


renováveis promovem a segurança energética, reduzem a
dependência de combustíveis fósseis e fomentam o
desenvolvimento econômico, especialmente em regiões menos
desenvolvidas (Akinradewo et al., 2021). Historicamente, a
utilização de energias renováveis remonta a séculos, mas foi a crise
do petróleo da década de 1970 que despertou um interesse
renovado por essas fontes, expondo a vulnerabilidade das
economias dependentes de combustíveis fósseis. Desde então,
avanços tecnológicos e a crescente pressão para enfrentar as
mudanças climáticas têm impulsionado o desenvolvimento e a
adoção dessas tecnologias.

180
CARNEIRO, LOPES e PONTE | Capítulo 9
Quadro 1. Tipos de energias renováveis e suas características
Tipo de Cresci- Principais
Capacidade
Energia Principais Tecnolo- mento Regiões de
Global Ins-
Renová- gias Anual Implementa-
talada (GW)
vel Médio (%) ção
Painéis Fotovoltai- Ásia, Europa,
Energia
cos, Energia Solar 10000 200 América do
Solar Térmica Norte
Europa, Amé-
Energia
Turbinas Eólicas 8370 150 rica do Norte,
Eólica Ásia
América do
Energia
Barragens Hidrelé- Sul, Ásia,
Hidrelé- 12960 15
tricas América do
trica Norte
Combustão Direta,
Europa, Amé-
Bio- Digestão Anaeró-
1440 45 rica do Norte,
massa bica, Biocombustí-
Ásia
veis
Energia América do
Sistemas Geotérmi-
Geotér- 140 30 Norte, Islân-
cos de Alta Entalpia
mica dia
Energia Energia das Marés,
Europa, Amé-
Oceâ- Ondas, Correntes 5 10
rica do Norte
nica Marinhas
Hidro- Eletrólise da Água Europa, Amé-
gênio com Energia Reno- 3 300 rica do Norte,
Verde vável Austrália
Fonte: Elaborado pelos autores (2024).

Nas últimas duas décadas, a capacidade global de energia


renovável aumentou significativamente, com tecnologias como
solar fotovoltaica e energia eólica tornando-se cada vez mais
competitivas em relação às fontes de energia tradicionais (Hao;
Shao, 2021). O Quadro 1 apresenta uma visão comparativa das
principais fontes de energia renovável, destacando suas
características essenciais, como as principais tecnologias utilizadas,
a capacidade instalada, as taxas de crescimento anual e as regiões
predominantes de implementação. Esta tabela permite uma análise
181
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

clara e comparativa das diferentes alternativas de energia


renovável e seu papel na transição para uma matriz energética
mais sustentável.

Os dados do Quadro 1 mostram uma diversidade


significativa entre as fontes de energia renovável, tanto em
capacidade instalada quanto em taxa de crescimento anual. A
Energia Hidrelétrica se destaca pela maior capacidade global
instalada, refletindo sua importância histórica, especialmente em
regiões com abundantes recursos hídricos. Já as energias Solar e
Eólica, embora com capacidades menores, exibem taxas de
crescimento anual mais altas, indicando uma rápida expansão nos
últimos anos (Ben Cheikh; Ben Zaied, 2024). O Hidrogênio Verde,
apesar de sua capacidade ainda modesta, emerge como uma
promessa, especialmente em regiões como Europa e América do
Norte, impulsionado por políticas de descarbonização.

Embora algumas fontes renováveis estejam mais


consolidadas, outras estão em plena expansão, contribuindo para
a diversificação e sustentabilidade da matriz energética global
(Dahlan; Lastra; Rochette, 2022). No entanto, desafios como a
intermitência de fontes como solar e eólica, a necessidade de
tecnologias de armazenamento eficientes e os altos custos iniciais
de investimento ainda persistem. Avanços tecnológicos, redução
de custos e apoio governamental estão criando oportunidades
para a contínua expansão dessas energias. A integração com redes
elétricas e o desenvolvimento de armazenamento de energia são
áreas-chave para superar esses obstáculos.

A adoção de energias renováveis é crucial para cumprir os


compromissos da Agenda 2030, especialmente o ODS 7, que visa

182
CARNEIRO, LOPES e PONTE | Capítulo 9

garantir acesso universal a energia sustentável (Fuso Nerini et al.,


2018). O rápido crescimento de tecnologias como solar e eólica,
conforme demonstrado, não só ajuda a mitigar mudanças
climáticas, mas também promove o desenvolvimento sustentável,
criando empregos verdes, fomentando a inovação tecnológica e
reduzindo a dependência de combustíveis fósseis.

Além dos benefícios ambientais, as energias renováveis têm


potencial para impulsionar o desenvolvimento econômico local e a
criação de novas indústrias. Ao atender ao ODS 7, os países não só
avançam rumo a uma matriz energética mais sustentável, mas
também colhem benefícios como geração de empregos e
fortalecimento da segurança energética. O papel central das
energias renováveis na mitigação das mudanças climáticas e no
desenvolvimento sustentável reforça a necessidade de continuar
promovendo sua adoção globalmente, assegurando que os
objetivos da Agenda 2030 sejam alcançados de forma eficaz e
equitativa.

METODOLOGIA

A classificação deste estudo foi fundamentada nas obras


clássicas de Gil (2022) e Marconi e Lakatos (2022). O estudo é de
natureza básica, com objetivos que combinam características
exploratórias e descritivas, utilizando uma abordagem qualitativa.
O método de investigação adotado segue os procedimentos da
Revisão Bibliográfica Sistemática. Existem diferentes formas de
183
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

conduzir uma revisão de literatura, com variações no nível de


aprofundamento. No entanto, Lopes, Bouzon e Carneiro Neto
(2024) sugerem a utilização do método Preferred Reporting Items
for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA) para assegurar
maior confiabilidade e a possibilidade de replicação dos resultados
da pesquisa.

Para definir a questão de pesquisa, utilizou-se o acrônimo


PCC (População, Conceito e Contexto), representados pelos
termos respectivos “drivers”, “energias renováveis” e “global”. A
base de dados definida para as buscas foi a Scopus, pois segundo
Govindan e Hasanagic (2018), é uma das bases internacionais mais
importantes e relevantes na atualidade.

Os critérios de inclusão definidos para a pesquisa foram


artigos de periódicos revisados por pares; publicados entre 2019 e
agosto de 2024; nos idiomas inglês, português ou espanhol; nas
áreas de Energia, Ciências Ambientais e Engenharias. Os critérios
de exclusão são documentos do tipo artigo de congresso, resumo,
editorial, capítulo de livro e livro; documentos publicados antes de
2019; documentos em outros idiomas diferente dos definidos no
critério de inclusão; não estar alinhado com a temática. Após a
aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, resultaram em 806
artigos de periódicos que envolvem o tema.

Para gerenciamento e tratamento dos dados foram


utilizados o Mendeley, o RStudio (bibliometrix) e o Excel. Foi
realizado o mapa da literatura, com base no qual tecemos
avaliações qualitativas e quantitativas.

184
CARNEIRO, LOPES e PONTE | Capítulo 9

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Mapa da literatura em Energias Renováveis


A análise da literatura sobre energias renováveis revela um
panorama de colaboração científica internacional cada vez mais
robusto, essencial para o avanço e disseminação de
conhecimentos nessa área crítica para o desenvolvimento
sustentável. O Gráfico 1 apresenta um mapa da colaboração entre
países, destacando as publicações sobre energias renováveis e os
índices de Multiple Country Publications (MCP) e Single Country
Publications (SCP).

Esses indicadores são fundamentais para avaliar o nível de


colaboração internacional (MCP) e a produção científica realizada
de forma independente dentro de um único país (SCP). A China,
que lidera a produção científica nessa temática, não apenas possui
o maior número de publicações, mas também se destaca tanto em
MCP quanto em SCP, demonstrando sua crescente influência e
liderança global na pesquisa de energias renováveis.

Após a análise do Gráfico 1, observa-se que além da China,


que se sobressai em ambas as métricas, os Estados Unidos e o
Reino Unido também desempenham papéis significativos no
cenário global de publicações sobre energias renováveis. Países
como Alemanha, Itália e Austrália estão emergindo como
importantes colaboradores internacionais, evidenciando um
aumento na cooperação científica que é vital para o
compartilhamento de tecnologias, inovações e melhores práticas.

185
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI
Gráfico 1. Colaboração entre países em publicações sobre energias
renováveis

China 113 71
EUA 61 22
Reino Unido 42 24
Índia 49 13
Alemanha 43 19
Itália 28 17
Espanha 30 11
Austrália 19 18
Portugal 18 7
Países

Turquia 16 6
Irã 13 8 SCP
Canadá 12 9
MCP
Malásia 11 9
Polônia 12 6
Paquistão 5 13
Holanda 8 10
Coreia 13 5
Arábia Saudita 3 12
Grécia 10 5
Brasil 11 4

0 50 100 150 200


Número de Publicações

Fonte: dados da pesquisa (2024).

Esses resultados reforçam a importância da colaboração


internacional na pesquisa de energias renováveis, indicando que a
cooperação entre nações não só aumenta o impacto das pesquisas,
como também acelera a transição para uma matriz energética mais
sustentável e globalmente integrada.

O Gráfico 2 apresenta o mapa temático da literatura sobre


energias renováveis, uma ferramenta visual que mapeia os tópicos
mais discutidos e sua posição em termos de relevância e grau de
desenvolvimento. Este gráfico é dividido em quadrantes que
permitem identificar temas motores, básicos, emergentes ou em

186
CARNEIRO, LOPES e PONTE | Capítulo 9

declínio, e nichos temáticos.

Cada bolha no gráfico representa um conjunto de palavras-


chave associadas, com o tamanho das bolhas indicando a
intensidade das discussões sobre esses temas. O mapa temático é
fundamental para entender a estrutura da pesquisa em energias
renováveis, identificando não apenas os tópicos centrais e bem
desenvolvidos, mas também áreas emergentes que podem
representar novas fronteiras de investigação.

Após a análise do Gráfico 2, observa-se que o quadrante de


temas motores, que representa tópicos com alta relevância e
desenvolvimento, é dominado por uma grande bolha central com
as palavras “dióxido de carbono”, “energias renováveis”, e
“emissões de carbono”. Isso reflete a centralidade dessas questões
nas discussões sobre mitigação das mudanças climáticas. Na
interseção entre os quadrantes de temas motores e básicos, uma
bolha grande com “energia alternativa”, “energias renováveis”, e
“políticas energéticas” evidencia a importância dessas áreas na
formulação de estratégias de transição energética.

Após a análise do Gráfico 2, fica evidente que o campo das


energias renováveis está profundamente conectado às discussões
sobre a mitigação das mudanças climáticas, como demonstrado
pela grande bolha no quadrante de temas motores, associada às
palavras "dióxido de carbono," "energias renováveis," e "emissões
de carbono." Isso reflete a prioridade global dada à redução das
emissões e à transição para fontes de energia limpa. Na interseção
entre os quadrantes de temas motores e básicos, a bolha que inclui
"energia alternativa," "energias renováveis," e "políticas
energéticas" destaca a importância de desenvolver e implementar

187
Gráfico 2. Mapa temático em Energias Renováveis
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

_______
188
Fonte: dados da pesquisa (2024).
CARNEIRO, LOPES e PONTE | Capítulo 9

políticas eficazes para suportar essa transição. Esses tópicos são


fundamentais tanto para a pesquisa acadêmica quanto para a
formulação de políticas públicas.

No cruzamento entre os temas motores e os nichos


temáticos, a bolha relacionada a “recursos de energias renováveis”,
“energia eólica”, e “fontes de energias renováveis” sugere um
crescente interesse em explorar e otimizar diferentes fontes de
energia, com ênfase particular na energia eólica. Essa área de
pesquisa está se expandindo à medida que novas tecnologias
tornam a energia eólica mais viável e eficiente.

Por outro lado, no quadrante de temas em declínio ou


emergentes, observam-se duas bolhas de interesse: uma que
envolve “inversores elétricos”, “topologia”, e “aplicativo Matlab”, e
outra menor, relacionada a “aplicações em energias renováveis”. A
primeira sugere que, embora o Matlab continue sendo uma
ferramenta valiosa e amplamente utilizada na pesquisa e
desenvolvimento de tecnologias renováveis, a presença de novas
ferramentas e softwares mais modernos pode estar diminuindo
sua predominância. A segunda bolha, com seu menor grau de
relevância e maior desenvolvimento, pode indicar áreas de
aplicação específicas que, embora tenham recebido atenção no
passado, estão agora sendo superadas por tecnologias e métodos
mais avançados. Este mapa temático oferece uma visão rica e
dinâmica dos diferentes estágios de evolução dentro do campo das
energias renováveis, destacando tanto os tópicos que continuam a
dominar as discussões quanto aqueles que estão sendo reavaliados
ou substituídos por abordagens mais inovadoras.

189
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

Drivers para a implementação de energias renováveis


Identificar os drivers para a implementação de energias
renováveis é crucial para a construção de um futuro sustentável.
Esses drivers, que incluem fatores econômicos, políticos,
tecnológicos, sociais e ambientais, funcionam como os principais
catalisadores para a transição energética global. Compreender
quais são os mais influentes em diferentes contextos permite que
governos, empresas e sociedade civil desenvolvam estratégias
mais eficazes para promover a adoção de fontes de energia limpa.

A identificação desses drivers é essencial porque eles não


apenas determinam o ritmo e a escala da implementação de
energias renováveis, mas também influenciam a eficiência e a
viabilidade dessas transições em diferentes regiões e setores. Ao
mapear esses fatores, é possível antecipar desafios, alocar recursos
de maneira mais eficiente e criar políticas públicas que incentivem
o investimento em tecnologias sustentáveis. Além disso, conhecer
os drivers permite a criação de um ambiente favorável para a
inovação, fortalecendo o desenvolvimento de novas soluções
energéticas que são cruciais para enfrentar os desafios das
mudanças climáticas e alcançar as metas estabelecidas pela
Agenda 2030, especialmente o ODS 7.

O Quadro 2 apresenta uma visão detalhada dos principais


drivers que influenciam a implementação de energias renováveis,
categorizados em cinco áreas principais: econômica, política,
tecnológica, social e ambiental. Cada driver é descrito de forma a
ressaltar sua importância e impacto na adoção de tecnologias
renováveis, fornecendo exemplos práticos de como esses fatores
têm moldado as políticas e decisões energéticas globais. Essa

190
CARNEIRO, LOPES e PONTE | Capítulo 9

tabela oferece uma estrutura clara para entender como diferentes


forças interagem para promover ou limitar a expansão das energias
renováveis, sendo um recurso valioso para pesquisadores e
formuladores de políticas.

Quadro 2. Drivers para a implementação de energias renováveis


Impacto na Exemplos de
Driver Descrição
Implementação Influência
Fatores econômicos, Alta: Determina Redução nos
como custos de investi- a viabilidade fi- custos de painéis
mento, incentivos fiscais, nanceira e a atra- solares, aumento
Econômico e competitividade de mer- tividade para in- de investimen-
cado, que influenciam a vestidores. tos em energia
adoção de energias reno- eólica.
váveis.
Políticas governamentais, Alta: Pode acele- Acordo de Paris,
regulamentações, subsí- rar ou restringir a subsídios para
dios e acordos internacio- adoção de ener- energias renová-
Político
nais que promovem ou di- gias renováveis veis, metas de
ficultam a implementação com base nas po- energia limpa.
de energias renováveis. líticas vigentes.
Avanços tecnológicos que Média: Influencia Desenvolvi-
melhoram a eficiência, re- diretamente a mento de bate-
duzem custos e tornam as disponibilidade e rias mais eficien-
Tecnológico
energias renováveis mais acessibilidade tes, inovação em
viáveis e competitivas. das tecnologias painéis solares.
renováveis.
Aceitação social, consci- Média: Aumenta Campanhas de
entização pública, e de- o apoio público e conscientização
manda por práticas sus- facilita a aceita- ambiental, pres-
Social
tentáveis que impulsio- ção das tecnolo- são social para
nam a adoção de energias gias renováveis. uso de energias
renováveis. limpas.
Necessidade de mitigar Alta: Pressiona Regulamenta-
impactos ambientais, re- pela adoção de ções sobre emis-
duzir emissões de CO2 e energias renová- sões de CO2,
Ambiental preservar recursos natu- veis devido aos pressão para
rais, motivando a transi- compromissos preservar ecos-
ção para energias limpas. com a sustenta- sistemas.
bilidade.
Fonte: Elaborado pelos autores (2024).

191
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

Após a análise dos dados apresentados no Quadro 2,


observa-se que os drivers econômicos e políticos possuem um
impacto particularmente elevado na implementação de energias
renováveis. Os incentivos fiscais, subsídios e políticas
governamentais desempenham um papel crítico na viabilidade
financeira e na atratividade dos investimentos em energias limpas.

Os avanços tecnológicos, embora com impacto moderado,


são essenciais para tornar as energias renováveis mais acessíveis e
eficientes. Por outro lado, os drivers sociais e ambientais destacam-
se por sua capacidade de gerar apoio público e pressão para
mudanças, refletindo a crescente conscientização sobre a
necessidade de práticas sustentáveis. Esses achados sublinham a
importância de uma abordagem integrada que considere todos
esses drivers para acelerar a transição energética global.

CONCLUSÃO

Este estudo realizou uma análise aprofundada dos principais


drivers que impulsionam a implementação de energias renováveis,
destacando como fatores econômicos, políticos, tecnológicos,
sociais e ambientais atuam como catalisadores na transição para
uma matriz energética sustentável. A revisão da literatura revelou
que esses drivers não apenas promovem a adoção de tecnologias
renováveis, mas também desempenham um papel crucial na
determinação do ritmo e da eficácia com que essa transição ocorre
em diferentes contextos globais. O estudo também destacou a
192
CARNEIRO, LOPES e PONTE | Capítulo 9

importância da colaboração internacional na produção científica


sobre energias renováveis, evidenciada pela liderança de países
como China, Estados Unidos e Reino Unido, e pelo crescente
envolvimento de nações como Alemanha, Itália e Austrália.

Ao abordar a dinâmica da colaboração entre países e os


temas emergentes e consolidados na literatura sobre energias
renováveis, o estudo mostrou como a produção científica global
está se organizando em torno de questões centrais, como a
mitigação das emissões de dióxido de carbono e o
desenvolvimento de políticas energéticas eficazes. O mapeamento
temático destacou áreas-chave, incluindo a pesquisa sobre energia
eólica e a diversificação das fontes de energia, bem como áreas
emergentes que, embora menos desenvolvidas, apresentam
grande potencial para avanços tecnológicos e aplicações futuras.

Este estudo cumpriu plenamente o objetivo geral proposto,


que foi de analisar e sintetizar a literatura existente sobre os
principais drivers que impulsionam a implementação de energias
renováveis em diferentes contextos ao redor do mundo. Ao
fornecer uma visão abrangente das forças motrizes por trás da
adoção de energias renováveis, este trabalho contribuiu para a
compreensão das complexas interações que moldam a transição
energética global. Além disso, a identificação de temas motores e
emergentes na pesquisa sobre energias renováveis oferece uma
base sólida para a formulação de políticas públicas e estratégias
empresariais voltadas para a promoção de uma matriz energética
mais sustentável. Esses drivers, conforme identificados, estão
fortemente alinhados com o Objetivo de Desenvolvimento
Sustentável (ODS) 7 da Agenda 2030, que busca garantir o acesso
universal a energia acessível, confiável, sustentável e moderna
193
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

para todos.

Para pesquisas futuras, é sugerido um aprofundamento nas


interações entre os diferentes drivers em contextos regionais
específicos, especialmente em países em desenvolvimento, onde
fatores locais podem apresentar desafios e oportunidades únicos
para a adoção de energias renováveis. Além disso, estudos
comparativos entre países em diferentes estágios de transição
energética podem fornecer insights valiosos sobre as melhores
práticas e barreiras comuns, permitindo a formulação de
estratégias mais eficazes para a promoção das energias renováveis
em escala global. Tais estudos são essenciais para apoiar o
cumprimento das metas estabelecidas pelo ODS 7, ao promover
uma transição energética inclusiva e sustentável.

Outro campo promissor para futuras investigações é a


análise do impacto das tecnologias digitais emergentes, como a
inteligência artificial e o big data, na gestão e otimização dos
sistemas de energia renovável. Estas tecnologias têm o potencial
de transformar a maneira como as energias renováveis são
integradas e gerenciadas, aumentando a eficiência e a viabilidade
econômica dessas fontes de energia.

Além disso, é crucial o desenvolvimento de políticas


inovadoras que incentivem a adoção de soluções sustentáveis,
garantindo que os benefícios das energias renováveis sejam
amplamente distribuídos e que a transição energética ocorra de
maneira equitativa e alinhada com os objetivos globais da Agenda
2030. Esses estudos futuros têm o potencial de contribuir
significativamente para o avanço da transição energética global,
enfrentando de maneira eficaz os desafios climáticos e ambientais

194
CARNEIRO, LOPES e PONTE | Capítulo 9

que se colocam no século XXI.

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197
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

198
Capítulo 10 |
POTENCIAL ENERGÉTICO DE
BRIQUETES DE CASCA DE ARROZ EM
MISTURA COM SERRAGEM DE PINUS

Sarah Cristinne Soares Calais1

Ailton Teixeira do Vale2

Clarissa Melo Lima3

1
Engenheira Florestal pela Universidade de Brasília (UnB). Brasília. Distrito
Federal. Brasil.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/1095602759724739
ORCID: https://orcid.org/0009-0001-2296-5861
Correio eletrônico: [email protected]
2
Professor Titular da Universidade de Brasília (UnB). Brasília. Distrito Federal.
Brasil. Doutora em Energia da Biomassa.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9046091156129405
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5579-2381
Correio eletrônico: [email protected]
3
Professora Auxiliar da Universidade Estadual de Goiás (UEG). Posse. Goiás.
Brasil. Doutora em Ciências Agrárias.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/6917886925634086
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9940-8863
Correio eletrônico: [email protected]
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

INTRODUÇÃO

O esgotamento iminente dos combustíveis fósseis, e a


crescente degradação ambiental proveniente do seu consumo,
impõem a adoção de fontes de energia sustentáveis e
ecologicamente responsáveis. Neste cenário, a biomassa emerge
como uma alternativa energética promissora, principalmente em
grandes produtores agrícolas e florestais como o Brasil. A grande
quantidade de biomassa residual gerada anualmente tem sido um
desafio para as indústrias, que, de acordo com a Política Nacional
de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305/2010), são obrigadas a dar uma
destinação final ambientalmente adequada aos resíduos que
geram.

Dentre as biomassas com potencial de uso na produção de


energia, a casca de arroz se destaca devido ao fato de apresentar
baixo teor de umidade e alto teor de voláteis, porém, atenção deve
ser dada ao teor de cinzas (Vieira et al., 2013). A casca é o principal
subproduto gerado no beneficiamento do arroz, muito utilizada no
sul do país na produção de energia elétrica em termoelétricas. No
entanto, é um resíduo de baixa densidade a granel e elevado teor
de cinzas. A densidade a granel é uma propriedade fundamental,
pois favorece a densidade energética e reduz os custos
relacionados ao transporte e armazenamento (Nakashima et al.,
2014). Por outro lado, o alto teor de cinzas está diretamente
relacionado à diminuição do poder calorífico, devido as cinzas
representarem a fração incombustível da amostra (Furtado et al.,
2010).

A densidade da casca de arroz pode ser aumentada por meio


200
CALAIS, VALE e LIMA | Capítulo 10

da briquetagem, um processo de compactação de resíduos


realizado sob altas pressões e temperaturas, que produz blocos
densos e uniformes conhecidos como briquetes. O briquete é um
substituto direto da lenha que oferece vantagens em diversos
aspectos, como eficiência energética, características físicas,
comercialização, transporte e armazenamento (Dias et al., 2012).

A mistura da casca de arroz com biomassa florestal é uma


alternativa para a diminuição do teor de cinzas, uma vez que
madeiras em geral, possuem menores concentrações de elementos
que formam cinzas (Brand et al., 2021). Neste contexto, o objetivo
deste estudo foi avaliar o potencial energético de briquetes
produzidos a partir de diferentes composições de casca de arroz
em mistura com serragem de Pinus sp.

MATERIAIS E MÉTODOS

A casca de arroz e a serragem de pinus foram obtidas na


indústria de beneficiamento e madeireira do Distrito Federal. Cinco
tratamentos foram definidos com base nas proporções de cada
resíduo, conforme apresentado na Tabela 1.

Os resíduos foram caracterizados de acordo com os


tratamentos na forma in natura, ou seja, na condição em que
foram produzidos, e na forma de briquetes, após terem sido
sujeitos ao processo de compactação. Devido à ausência de
normas brasileiras específicas para a padronização e

201
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

caracterização de briquetes, foram adotadas as normas


internacionais da International Organization for Standardization
(ISO).

Tabela 1. Tratamentos em função da composição percentual da casca


de arroz e serragem de pinus
Tratamento Massa da casca de arroz (%) Massa da serragem de
pinus (%)
T1 100 0
T2 75 25
T3 50 50
T4 25 75
T5 0 100
Fonte: Autores.

Caracterização do material in natura


O teor de umidade foi determinado de acordo com a norma
ISO 18134 (2015). Posteriormente, a densidade a granel foi obtida
pela relação entre a massa e o volume conhecido de um recipiente.

Na análise imediata foram determinados o teor de material


volátil, cinzas e carbono fixo, com base nas normas ISO 18122
(2015) e ISO 18123 (2015). Os ensaios foram realizados em
duplicatas, no Laboratório de Produtos Florestais (LPF) do Serviço
Florestal Brasileiro (SFB).

O poder calorífico superior foi determinado por meio de


uma bomba calorimétrica, com base na norma ISO 18125 (2017).
O valor médio do poder calorífico considerado foi aquele entre dois
valores cuja diferença não ultrapassou 29 kcal.kg-1. A partir do
poder calorífico superior, o poder calorífico inferior e o útil foram
determinados pelas Equações 1 e 2, respectivamente:

202
CALAIS, VALE e LIMA | Capítulo 10

PCI = PCS − (600 ∗ 9H / 100) (Eq. 1)


PCU = PCI ∗ (1 − Ubu) – 600 ∗ Ubu (Eq. 2)
Em que:
PCI = poder calorífico inferior (kcal.kg-1);
PCS = poder calorífico superior (kcal.kg-1);
H = teor de Hidrogênio (%), sendo utilizado o valor de 6,08% para a casca
de arroz (MACÊDO,
2012) e 6% para serragem de pinus (Calegari et al., 2005);
PCU = poder calorífico útil (kcal.kg-1);
Ubu = teor de umidade da amostra em base úmida.

A densidade energética foi determinada pelo produto do


poder calorífico útil e a densidade a granel. O poder calorífico útil
proporciona uma estimativa mais precisa da densidade energética,
pois desconsidera a energia consumida para evaporação da água
de constituição e umidade do resíduo (Lima, 2010).

Produção e análise dos briquetes


Os briquetes foram produzidos em uma briquetadeira de
laboratório da marca Lippel. Para cada tratamento foram realizadas
10 repetições, totalizando 50 briquetes. Cada briquete foi
confeccionado com 40 gramas de material, submetido a uma
pressão de 80 bar e uma temperatura de 120º C por 5 minutos.
Após a descompressão, os briquetes foram resfriados por 10
minutos com ventilação forçada. Os parâmetros de briquetagem
foram definidos conforme Souza e Vale (2016) e Oliveira et al.
(2017). Nas misturas, os resíduos foram agitados manualmente
com o auxílio de um saco plástico afim de inserir o material de
forma homogênea no cilindro. Nenhum aglutinante foi adicionado
aos resíduos, dependendo apenas da lignina para aglutinação das
partículas.

203
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

A briquetagem é um processo mecânico, e, portanto,


assume-se que não há modificações significativas na composição
química do material in natura em relação aos briquetes (Almeida et
al., 2015). A densidade aparente foi determinada de forma unitária,
pela relação entre a massa e o volume. O volume foi calculado com
base nas dimensões cilíndricas do briquete.

Análise estatística
As caracterizações foram realizadas por meio da estatística
descritiva, adotando-se um delineamento inteiramente
casualizado, composto por cinco tratamentos. Os dados foram
submetidos à análise de variância (ANOVA) e ao teste Tukey (com
5% de significância).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Caracterização do material in natura


O teor de umidade do material in natura variou de 8,55% a
9,16% nos tratamentos, situando-se dentro do intervalo
recomendado para a fabricação de briquetes (Paula et al., 2011).
Um alto teor de umidade reduz o poder calorífico e dificulta o
armazenamento, promovendo a degradação do material além de
aumentar os custos de transporte (Vale et al., 2011). Por outro lado,
teores muito baixos dificultam os mecanismos de ligação entre as

204
CALAIS, VALE e LIMA | Capítulo 10

partículas durante a briquetagem (Gonçalves, 2010).

Todas as propriedades analisadas do material in natura


apresentaram diferença significativa entre tratamentos na análise
de variância (ANOVA), a 5% de significância. A Tabela 2 apresenta
os valores médios do teor de materiais voláteis, cinzas, carbono fixo
e densidade a granel do material in natura para cada tratamento.
Os baixos coeficientes de variação obtidos indicam que o
experimento foi bem controlado.

Tabela 2. Valores médios dos teores de material volátil, cinzas, carbono


fixo e densidade a granel para o material in natura
Material Carbono Fixo Densidade a
Tratamento Cinza (%)
Volátil (%) (%) Granel (kg.m-3)
T1 71,50 (0,81) 12,68 (5,08) 15,82 (1,20) 120,59 (1,57)
T2 75,29 (0,32) 9,24 (1,21) 15,47 (1,60) 126,21 (1,83)
T3 78,66 (0,32) 6,16 (4,51) 15,18 (1,85) 157,42 (2,23)
T4 82,50 (0,39) 3,08 (4,26) 14,42 (2,15) 184,88 (0,87)
T5 85,78 (0,25) 0,23 (8,57) 13,98 (1,52) 229,28 (3,37)
Valores entre parênteses correspondem aos coeficientes de variação (%).
Fonte: Autores.

Os materiais voláteis facilitam a queima e desempenham um


papel crucial durante a ignição e nas etapas iniciais de combustão
da biomassa. No entanto, há uma relação inversa entre os materiais
voláteis e o carbono fixo. Altos teores de carbono fixo são
desejáveis por proporcionar uma queima mais lenta e um maior
tempo de resistência nas câmaras de combustão (Chaves et al.,
2013).

A mistura de biomassas reduziu o teor de cinzas da casca de


arroz (T1) e proporcionou o aumento do teor de carbono fixo da
serragem de pinus (T5). A cinza é um material indesejável por
causar aglomeração, incrustações e derretimento dos

205
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

componentes dos combustores, exigindo procedimentos de


manutenção mais frequentes (Protásio et al., 2012). O alto teor de
cinzas na casca de arroz era esperado, pois altos níveis de cinzas
são comuns em resíduos de culturas agrícolas devido à presença
elevada de compostos inorgânicos (Brand et al., 2021).

A diferença dos valores de densidade a granel entre os


resíduos foi influenciada pela menor granulometria da serragem de
pinus. Os resíduos foram analisados nas condições em que foram
gerados com o objetivo de verificar a viabilidade da briquetagem
sem a necessidade de reprocessamento da matéria-prima, a fim de
reduzir custos de produção. Partículas menores facilitam a união
entre si, reduzem os espaços vazios e proporcionam maior
densidade (Kaliyan; Morey, 2009).

O tratamento T5, composto apenas pela serragem de pinus,


apresentou os maiores valores de poder calorífico útil (4077,98
kcal.kg-1) e densidade energética (0,94 Gcal.m-3). Em contraste, o
tratamento T1, composto exclusivamente por casca de arroz,
obteve os valores mais baixos (3385,68 kcal.kg-1 e 0,41 Gcal.m-3).
Esses resultados eram esperados devido ao maior poder calorífico
das espécies florestais em comparação com os resíduos agrícolas,
influenciado pela composição química da madeira (Quirino et al.,
2005).

Análise dos briquetes


A briquetagem foi bem-sucedida nos cinco tratamentos,
resultando em briquetes sem fissuras e rachaduras visíveis.
Contudo, os briquetes produzidos com casca de arroz (T1, T2, T3,
T4) apresentaram desprendimento de material em decorrência da
206
CALAIS, VALE e LIMA | Capítulo 10

granulometria do resíduo. Quanto maior a granulometria, menor é


a superfície de contato e a transferência de calor, fatores
importantes para que a lignina se fluidifique e atue eficientemente
como adesivo entre as partículas (Quirino et al., 2012). O
desprendimento de material implica em maior desgaste no
transporte e menor vida útil no armazenamento.

Os briquetes apresentaram média de 3,3 cm de diâmetro,


4,06 cm de comprimento e 34,75 cm³ de volume (Tabela 3). Os
briquetes de laboratório possuem dimensões menores do que os
briquetes industriais, que apresentam entre 5 e 10 cm de diâmetro
e de 25 a 40 cm de comprimento, podendo variar em forma e
tamanho para atender aos requisitos do cliente (Dias et al., 2012).
A diminuição da umidade do briquete em relação ao material in
natura ocorre devido a elevada temperatura e pressão durante o
processo de briquetagem.
Tabela 3. Valores médios de diâmetro, comprimento, volume e teor de
umidade dos briquetes produzidos
Diâmetro Comprimento Umidade
Tratamento Volume (cm³)
(cm) (cm) (%)
T1 3,28 (0,21) 4,19 (0,59) 35,35 (0,77) 8,52 (4,61)
T2 3,29 (0,30) 4,16 (0,42) 35,26 (0,47) 8,37 (2,13)
T3 3,29 (0,45) 4,15 (1,52) 35,37 (1,59) 8,38 (1,03)
T4 3,29 (0,23) 3,99 (0,90) 34,00 (0,84) 8,31 (0,91)
T5 3,35 (1,23) 3,83 (0,60) 33,77 (2,31) 8,17 (2,03)
Valores entre parênteses correspondem aos coeficientes de variação (%).
Fonte: Autores.

Os valores de densidade a granel dos briquetes variaram em


torno de 400 kg.m-³ nos tratamentos. A densidade a granel dos
briquetes dificilmente excede 500 kg.m-³, mas ainda é
significativamente maior que a densidade a granel da biomassa não
adensada (Dias et al., 2012). Essa é uma propriedade muito

207
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

importante pois determina o espaço útil a ser ocupado pelos


briquetes no transporte e armazenamento. Além disso, de acordo
com Quirino e Brito (1991), propriedades como poder calorífico,
teor de carbono fixo e teor de cinza, não são significativos
individualmente para descrever a qualidade do briquete em
comparação com a densidade a granel, pois esta apresenta maior
correlação com a combustão.

O poder calorífico útil dos briquetes apresentou valores


mais elevados em relação ao material in natura devido ao menor
teor de umidade (Tabela 4). Os valores de densidade aparente
obtidos são considerados altos, o que é desejável devido à relação
diretamente proporcional com a densidade energética do briquete
(Souza; Vale, 2016).

Tabela 4. Poder calorífico útil, densidade aparente e densidade


energética dos briquetes
Densidade Aparente
Tratamento Poder Calorífico Útil (kcal.kg-1)
(kg.m-³)
T1 3414,03 a 1203,39 a
T2 3645,75 b 1210,65 a
T3 3856,26 c 1208,84 a
T4 3929,93 d 1259,12 b
T5 4097,43 e 1276,58 c
Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si pelo
Teste de Tukey a 5% de significância.
Fonte: Autores.

Todos os tratamentos apresentaram incrementos


significativos (teste F a 95% de probabilidade) na densidade
energética com a compactação da biomassa (Figura 1). A densidade
energética é o melhor parâmetro para comparação da eficiência
energética pois representa a quantidade de energia por unidade de
volume do combustível (Pinheiro et al., 2005). O ganho energético

208
CALAIS, VALE e LIMA | Capítulo 10

foi afetado de forma inversamente proporcional pela densidade a


granel, desse modo, quanto menor a densidade a granel do material
in natura, maior a taxa de aumento da densidade energética após a
compactação.

Figura 1 – Ganho energético pela compactação da biomassa.

Fonte: Autores.

CONCLUSÃO

A casca de arroz e a serragem de pinus apresentam


propriedades energéticas satisfatórias e são favoráveis a
briquetagem sem processamento prévio e adição de aglutinantes.
A mistura da biomassa florestal com a casca de arroz, melhora os
valores de material volátil, cinzas, poder calorífico e densidade dos
briquetes. O ganho em densidade energética com a compactação

209
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

da biomassa foi superior a 78% em todos os tratamentos, e é


afetado pela densidade a granel de forma inversamente
proporcional. O aumento da proporção de casca de arroz, sem
moagem, prejudica a estrutura do briquete, tornando-o mais frágil,
neste sentido o tratamento 4 foi o melhor resultado.

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214
Capítulo 11 |
ACAMPAMENTO TERRA LIVRE 2024:
RELATOS SOBRE O AVANÇO RECENTE
DA OFENSIVA CONTRA OS POVOS E
DIREITOS INDÍGENAS NO BRASIL

Guilherme Rocha Câmara Parini1

Clarissa Melo Lima2

Tito Ricardo Vaz da Costa3

1
Técnico em Meio Ambiente pela Universidade da Cidade de São Paulo (Unicid).
São Paulo. São Paulo. Brasil. Graduando em Gestão Ambiental.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7425360904056348
ORCID: https://orcid.org/0009-0004-7592-5099
Correio eletrônico: [email protected]
2
Professora Auxiliar da Universidade Estadual de Goiás (UEG). Posse. Goiás.
Brasil. Doutora em Ciências Agrárias.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/6917886925634086
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9940-8863
Correio eletrônico: [email protected]
3
Professor Substituto da Universidade de Brasília (UnB). Brasília. Distrito
Federal. Brasil. Doutor em Engenharia Florestal.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/1068744176859901
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5827-7975
Correio eletrônico: [email protected]
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

INTRODUÇÃO

As hipóteses científicas mais aceitas sugerem que o


continente americano foi ocupado inicialmente há cerca de 12 mil
anos (Cunha, 1992). Denevan (1976, p. 230) estimou que, em
1492, uma população de 6,8 milhões de nativos habitava a
Amazônia, o Brasil central e a costa nordeste. Assim sendo, a
narrativa predominante de que a América era um continente
pouco povoado e que foi acidentalmente descoberto pelos
europeus, não poderia ser mais incorreta. Jennings (1975 apud
Cunha, 1992, p. 14) contesta essa narrativa, ao afirmar
categoricamente que “a América não foi descoberta, foi invadida”
e, em decorrência dessa invasão e posterior colonização, Cunha
(1992, p. 14) pondera sobre como “um continente teria logrado a
triste façanha de, com um punhado de colonos, despovoar um
continente muito mais habitado”.

O projeto de colonização da América assegurou o


favorecimento das metrópoles nas relações econômicas com as
colônias e converteu os países do continente em meras
(acrescentei palavra) zonas de produção agrícola e extração
mineral, voltados para a exportação, recorrendo a negação plena
dos direitos coletivos à terra e à organização social dos povos
originários que aqui habitavam (Cunha; Barbosa, 2018). Quijano
(2005 apud Cunha; Barbosa, 2018, p. 80) considera que “essa
concepção somente podia ser sustentada por um profundo
racismo, que justificasse ou procurasse justificar a inferioridade
racial desses povos, em geral formados por populações originárias
e afrodescendentes”.

216
PARINI, LIMA e COSTA | Capítulo 11

A partir do encontro das sociedades do “Antigo e do Novo


Mundo”, doenças como varíola, sarampo, gripe, difteria e tifo se
alastraram rapidamente entre os nativos e etnias indígenas
desapareceram por completo (Cunha, 1992, p. 12), resultando
naquilo que Dobyns (1966 – tradução livre) classificou como “um
dos maiores cataclismos biológicos do mundo”. No entanto, esses
micro-organismos não foram os únicos causadores dessa trágica
redução populacional dos nativos americanos. Esse genocídio, de
proporções continentais, foi consequência de um processo
multifacetado que implicou homens, micro-organismos e,
sobretudo, uma política de colonização e expansão do capitalismo
mercantil proveniente da Europa (Cunha, 1992). Nas palavras da
autora:

O agravamento das guerras indígenas, provocado


pela sede de escravos, as guerras de conquista e de
captura em que os índios de aldeia eram alistados
contra os índios ditos hosTI, as grandes fomes que
tradicionalmente acompanhavam as guerras, a
desestruturação social, a fuga para novas regiões das
quais se desconheciam os recursos ou se tinha de
enfrentar os habitantes, a exploração do trabalho
indígena, tudo isso pesou decisivamente na dizimação
dos índios (Cunha, 1992, p. 13).

Após séculos de colonização e de incontáveis violências


sofridas, presumiu-se que os povos indígenas e seus costumes,
cosmovisões, línguas e etnias estariam fadados a “desaparecer” e
que, aos poucos, estes se integrariam e seriam assimilados por uma
sociedade cada vez mais homogênea (Cunha; Barbosa, 2018). No
entanto, apesar de historicamente violentados e oprimidos, esses
povos continuaram resistindo e existindo com seus direitos
coletivos (Coll, 1986).

217
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

Os povos indígenas são os verdadeiros guardiões das


florestas, que permanecem extraordinariamente preservadas em
seus territórios. Estudo publicado pela Food and Agriculture
Organization (FAO) aponta que em torno de 35% das florestas
nativas da América Latina e Caribe se situam em áreas ocupadas
por povos indígenas; mais de 80% das terras indígenas são
cobertas por florestas; entre 320 e 380 milhões de hectares de
florestas são preservados pela ação dos povos indígenas na região
(FAO, 2021). Desse modo, esses povos são essenciais para os
esforços de conservação das florestas e a proteção da
biodiversidade global (Colchester, 2004).

Desprezando por completo a presença de indígenas que


habitam essas terras, atividades agropecuárias e a construção de
obras de infraestrutura disseminam-se país adentro – rodovias,
estradas, hidrelétricas, portos –, principalmente nas regiões da
Amazônia e Centro-Oeste. O atual projeto de desenvolvimento
promove contra esses povos, de forma violenta e contínua, o
desrespeito aos seus direitos mais básicos, territoriais e humanos
(Dos Santos, 2020). O autor avalia que:

É na perspectiva extrativista, principalmente na


região amazônica, embora não exclusivamente, que,
sobre os territórios e sobre os povos indígenas, os
processos de violência e expropriação se abateram,
desconsiderando ou invisibilizando suas existências
para dar lugar à exploração econômica insana,
degradadora da natureza e exploradora dos humanos
(Santos, 2020, p. 431).

Como consequência do recente esfacelamento das políticas


ambientais, indigenistas e de práticas neocoloniais, criaram-se as
“condições perfeitas de retirar dos povos nativos seus meios de
vida, levando-os a morte sem um banho de sangue” (Scherf; Silva;
218
PARINI, LIMA e COSTA | Capítulo 11

Silva, 2021). Esse contexto fez emergir um novo ciclo de genocídio


dos povos indígenas, impulsionado por invasões e crimes
praticados por madeireiros e garimpeiros ilegais em territórios
tradicionais. As atividades ilegais aumentaram drasticamente
nesses territórios, notadamente a partir de 2019, causando um
aumento extraordinário do desmatamento e das violações dos
direitos à terra, á um meio ambiente ecologicamente equilibrado e
à vida (Barbosa; De Caponi, 2022).

Essa pesquisa teve como objetivo coletar e reunir


depoimentos e impressões sobre o avanço recente da ofensiva
contra os Povos e direitos indígenas no Brasil e acompanhar a
mobilização e luta dos povos indígenas durante o Acampamento
Terra Livre 2024. Entre os dias 22 e 26 de abril, foi realizada em
Brasília, a maior mobilização do movimento popular indígena do
Brasil. O Acampamento Terra Livre (ATL) representa a maior
mobilização e reunião dos povos e organizações indígenas do
Brasil e acontece anualmente, na cidade de Brasília (DF). Fruto da
luta incessante desses povos, o movimento nasce em 2004,
quando lideranças indígenas das distintas regiões do país iniciaram
uma série de protestos em Brasília contra a política indigenista
vigente na época, dando origem ao Acampamento Terra Livre
(ATL, 2022). O Acampamento Terra Livre surgiu com o propósito
de reunir e dar visibilidade aos povos indígenas do Brasil,
reivindicar do Estado brasileiro o atendimento de suas demandas,
tornar evidentes e protestar contra as violações constantes de
seus direitos (APIB, 2021).

219
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

Genocídio, Epistemicídio, Etnocídio e Necropolítica


Clavero (2011) cunhou apropriadamente o termo
“genocídios cotidianos”, para descrever o extermínio gradual de
povos indígenas em países latino-americanos. Esse conceito difere
da definição clássica e amplamente utilizada de genocídio – criada
pela “Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de
Genocídio”, realizada na ONU, logo após os genocídios e horrores
cometidos durante a Segunda Guerra Mundial –, uma vez que
revela a utilização de métodos diferenciados e que promovem um
extermínio silencioso e lento, a extinção de culturas e de modos de
vida, costumes, tradições e cosmovisões. Sob tal perspectiva, é
possível estabelecer uma relação estreita entre o conceito de
“genocídios cotidianos” e o conceito de “necropolítica”, formulado
por Mbembe (2016, p. 146) como “formas contemporâneas de
subjugação da vida ao poder da morte”. Nas palavras de Clavero:
[…] os genocídios cotidianos dos Estados latino-
americanos pareciam tão somente políticas ordinárias
`as quais, por ventura, saíam um pouco do controle.
Como poderia falar-se de genocídio em casos como
estes, quando não havia assassinatos em série, em
escala industrial, com plena intenção? Em
comparação com o genocídio nazi, os genocídios
cotidianos resultavam assim algo trivial e portanto,
como tais, invisíveis (Clavero, 2011, p. 115).

Na Amazônia brasileira – bioma com a maior concentração


de povos e Terras Indígenas – esse contexto tem produzido
“epistemicídios” e “ecocídios” em larga escala, principalmente em
decorrência da adoção, por parte do Estado brasileiro, de políticas
econômicas e ambientais que priorizam o desenvolvimento
econômico em detrimento do bem-estar desses povos e da
conservação de saberes milenares, conhecimentos, territórios e do
220
PARINI, LIMA e COSTA | Capítulo 11

meio ambiente em que vivem (Bordieu, 2012).

A ideologia predominante, que impõe o desenvolvimento


econômico acima de tudo e a apropriação mercantil da natureza
como reserva de valor, coopta o Estado que, ao fazer uso da
violência institucionalizada, pretende garantir um
desenvolvimento às custas da aniquilação e do apagamento da
cultura e dos conhecimentos produzidos por esses grupos sociais
subordinados. Dessa maneira, acirram-se os conflitos
socioambientais em todo o país e tornam-se cada vez mais
frequentes os ecocídios e epistemicídios (Bordieu, 2012).
Boaventura de Souza Santos, em seu livro La Globalización del
derecho: los nuevos caminos de la regulación y la emancipación,
define epistemicídio como:

o processo político-cultural através do qual se mata


ou destrói o conhecimento produzido por grupos
sociais subordinados, como meio para manter ou
aprofundar essa subordinação. Historicamente, o
genocídio frequentemente esteve associado ao
epistemicídio. Por exemplo, na expansão europeia, o
epistemicídio (destruição do conhecimento indígena)
foi necessário para “justificar” o genocídio de que
foram vítimas os indígenas (Santos, 1998, p. 208).

RESULTADOS E DISCUSSÕES

De acordo com o último censo demográfico realizado no


Brasil, em 2022, aproximadamente 1,7 milhões de indivíduos
entrevistados se declararam indígenas (IBGE, 2023). Constituída
por 305 grupos étnicos, que falam 274 línguas distintas (IBGE,
221
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

2010), essa população distribui-se pela região Norte (44,48%),


Nordeste (31,22%), Centro-Oeste (11,8%), Sudeste (7,28%) e Sul
(5,20%). Ainda segundo o levantamento, aproximadamente 867,9
mil vivem na Amazônia Legal, região formada pelos estados da
Região Norte, Mato Grosso e parte do Maranhão (IBGE, 2023).

Gráfico 1. População indígena, segundo as Grandes Regiões


(2010 e 2022)

Dados Censo IBGE


1800,0
Milhares

1600,0
1400,0
1200,0
1000,0
800,0
600,0
400,0
200,0
0,0
Brasil Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul

2010 2022

Fonte: IBGE, Censo Demográfico (2010 e 2022).

Em comparação com os números divulgados pelo censo


anterior, realizado em 2010, é possível constatar um aumento
surpreendente dessa população. A população indígena brasileira
praticamente dobrou, em apenas 12 anos – saltando de 896.917
para 1.693.535 indivíduos. Esse notável crescimento não pode ser
atribuído somente a fatores demográficos (mortalidade, natalidade,
migração), mas também a fatores subjetivos, como o
empoderamento e reafirmação étnica dessas pessoas, que
passaram a se identificar e reconhecer enquanto indígenas,
222
PARINI, LIMA e COSTA | Capítulo 11

principalmente nas áreas urbanas.

Para essa pesquisa, foram entrevistado(a)s, ao todo, 25


indígenas. Desses, 22 foram entrevistado(a)s presencialmente e 3
responderam ao questionário online, via Google Forms. A pesquisa
contou com a participação de indígenas pertencentes a 21 etnias
diferentes, espalhadas por 12 estados. Dos 25 entrevistados, 17
vivem atualmente em Terras Indígenas, enquanto 8 vivem em
áreas urbanas.

Gráfico 2. Prática que representa, atualmente, a maior ameaça aos


povos indígenas de todo o Brasil

Violência
física,
Invasões ilegais
assassinatos
“grilagem” de
Garimpo 24%
terras
ilegal 44%
8%

Desmatamento
Ilegal
24%

Invasões ilegais e a prática de “grilagem” Queimadas ilegais


Desmatamento ilegal Garimpo ilegal
Violência física

Fonte: Questionário ATL (2024).

Quando questionados sobre “qual prática representa,


atualmente, a maior ameaça aos povos indígenas de todo o Brasil?”,
44% dos entrevistados responderam “Invasões ilegais e a prática
de grilagem”; 24% afirmaram ser o “Desmatamento ilegal”; 8%
apontaram o “Garimpo ilegal” e 24% citaram “Violência física,

223
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

agressões, assassinatos de indígenas” (Gráfico 2).

A entrevistada Leila, da etnia Borari (PA), descreve as


invasões e práticas de grilagem que acontecem em seu território:

Invasão, porque quando você entra... porque eles


invadem para ocupar, para fazer garimpo ilegal, para
desmatar, para queimar, então... com certeza é
invasão e prática de grilagem. Meu território é um
território que tem uma especulação imobiliária muito
alta, porque é uma área de turismo, tem muita
grilagem (sic) (Leila Borari).

Quando questionados sobre “qual prática representa,


atualmente, a maior ameaça aos povos indígenas da sua
região/Terra Indígena?”, 20% dos entrevistados responderam
“Invasões ilegais e a prática de grilagem”; 8% disseram “Queimadas
ilegais”; 32% mencionaram “Desmatamento ilegal”; 4% indicaram
“Garimpo ilegal” e 32% destacaram “Violência física, agressões,
assassinatos de indígenas” (Gráfico 3). Artur N., da etnia Kariri-
Xocó (AL), faz um breve relato sobre o desmatamento em sua
região:
Eu sou da etnia Kariri-Xocó, de Alagoas, e lá já foi
muito desmatado, entendeu? Ao redor da nossa
aldeia, né... então hoje a mata está muito fraca,
porque foi desmatado muito para pasto de gado, né.
E ainda o pessoal quer desmatar mais, entendeu? E a
gente hoje está nessa luta de retomada de terra,
entendeu? Ao redor da aldeia, que tem muitos
fazendeiros ainda que estão em terra indígena, né. E
invadindo e fazendo pasto... desmatando, entendeu?
Isso prejudica em tudo, entendeu? Tanto no clima,
né... e vem... através disso vem violência também,
contra os indígenas, entendeu? E o pessoal fica
amedrontado... as crianças ficam com medo (sic)
(Arthur N. Kariri-Xocó).

224
PARINI, LIMA e COSTA | Capítulo 11
Gráfico 3. Prática que representa, atualmente, a maior ameaça aos
povos indígenas da sua região/Terra Indígena
Não
respondeu
4% Invasões ilegais
Violência física, “grilagem” de terras
assassinatos 20%
32%
Queimadas
ilegais
8%
Garimpo
ilegal Desmatamento
4% Ilegal 32%

Invasões ilegais e a prática de “grilagem” Queimadas ilegais


Desmatamento ilegal Garimpo ilegal
Violência física, assassinatos Não respondeu

Fonte: Questionário ATL (2024).

Quando questionados sobre “qual(is) dessas práticas citadas


acontecem ou aconteceram recentemente na sua região/Terra
Indígena?”, 15% dos entrevistados responderam “Invasões ilegais
e a prática de grilagem”; 15% ressaltaram as “Queimadas ilegais”;
30% indicaram o “Desmatamento ilegal”; 7% salientaram o
“Garimpo ilegal” e 33% assinalaram a “Violência física, agressões,
assassinatos de indígenas” (Gráfico 4). Ingrid, da etnia Tikuna (AM),
aborda, em seu depoimento, a violência praticada contra os
indígenas e defensores dos povos indígenas, na sua região:
É a violência física, agressões e assassinatos é o que
acontece. O que aconteceu recentemente por causa
do Bruno, não sei se você soube... o Bruno, ele foi
assassinado lá no Amazonas, lá no Rio Solimões. Ele
estava indo fazer uma reunião, ele e o Dom. Então,
está ligado à minha região, foi o que aconteceu lá (sic)
(Ingrid Tikuna).

225
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI
Gráfico 4. Qual(is) dessas práticas citadas acontecem ou aconteceram
recentemente na sua região / Terra Indígena?

Invasões ilegais
“grilagem” de terras
Desmatament 15 %
o Ilegal 30% Queimadas
ilegais
Garimpo 15%
ilegal
Violência
7%
física,
assassinatos
33%

Invasões ilegais e a prática de “grilagem” Queimadas ilegais


Desmatamento ilegal Garimpo ilegal
Violência física, assassinatos

Fonte: Questionário ATL (2024).

A partir de 2018, registrou-se um aumento de 252% nas


invasões a terras indígenas, na comparação com os quatro anos
anteriores. Foram 309 casos em 2022, maior número da série
histórica, iniciada em 2003, como mostra o Gráfico 5. Entre 2018
a 2022, foram 1.133 casos, contra 321 no quadriênio anterior, de
2015 a 2018 (CIMI, 2022).

No intervalo de uma década, de 2011 até 2020, os conflitos


por terras expandiram-se de modo preocupante em todo o país,
crescendo 92%. Durante o período de 2019 a 2020, o aumento
dos conflitos fundiários foi de 25%, conforme dados divulgados em
relatório produzido pela Comissão Pastoral da Terra (CPT),
registrando o maior número desde 1985. Do total de 171.625
famílias afetadas pelos conflitos, 96.931 (56%) são famílias
indígenas (CPT, 2021).
226
PARINI, LIMA e COSTA | Capítulo 11

Gráfico 5. Invasões em TI, exploração ilegal de recursos e danos


diversos ao patrimônio
350

300

250

200

150

100

50

0
2004

2007
2003

2005
2006

2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
2021
2022
Fonte: Cimi – Relatório: Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil (2003–
2022).

Comparando o desmatamento agregado entre os anos de


2019 a 2021, com os anos de 2016 a 2018, o desmatamento das
TI sofreu um aumento de 138%. A degradação florestal, em 2021,
aumentou 55% no interior das TI, resultando em 22.707 hectares
degradados por exploração ilegal de madeira, garimpos e incêndios
(Gráfico 2). Desde 2019, a degradação florestal por exploração de
madeira, garimpo e incêndios aumentou em 140% no interior das
TI.

As Terras Indígenas estão entre as áreas mais preservadas


do País e o aumento acelerado do desmatamento nesses
territórios tem impactos expressivos em escalas local, regional e
nacional, segundo Wanderley, Milanez e Gonçalves:

227
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI
Localmente, ela diminui a biodiversidade, limita a
disponibilidade de alimentos para os povos indígenas
e aumenta o assoreamento de igarapés e rios,
prejudicando o abastecimento de água, a pesca e a
navegação. Em escala regional, a redução da área
florestada impacta negativamente a umidade e a
incidência de chuva na região, aumentando a
probabilidade de grandes incêndios e intensificando
as secas. Do ponto de vista nacional, a perda de área
de Floresta Amazônica impactaria diretamente a
quantidade de chuva no país, prejudicando o
abastecimento de água, a agricultura e a geração de
energia hidrelétrica (Lovejoy; Nobre, 2019 apud
Wanderley; Milanez; Gonçalves, 2020, p. 581).

Gráfico 6. Degradação florestal em TI por exploração madeireira,


garimpos e queimadas
25000

20000

15000

10000

5000

0
2018 2019 2020 2021

Degradação Florestal nas TI´s (hectares x ano)

Fonte: Deter – INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

228
PARINI, LIMA e COSTA | Capítulo 11
Figura 1. Indígenas celebram e dançam durante o Acampamento Terra
Livre 2024

Fonte: Guilherme Parini (2024).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As respostas obtidas através das entrevistas realizadas com


os participantes do Acampamento Terra Livre 2024, possibilitam
constatar o avanço da ofensiva contra os povos e direitos
indígenas no Brasil. Invasões ilegais praticadas por garimpeiros,
madeireiros e “grileiros”, desmatamento e a violência
intensificaram-se brutalmente em Terras Indígenas, notadamente
durante os anos de 2019 a 2023. Estimuladas pela negligência e
229
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

anuência do Estado, que deveria zelar pelos direitos e proteger os


territórios dos povos originários, essas invasões frequentemente
precedem os desmatamentos e a violência direta contra os
indígenas (trecho acrescentado) e potencializam as ameaças à
saúde, cultura, bem-estar e o modo de vida destes povos.

Conquistas importantes e históricas foram obtidas por meio


da mobilização indígena através do “Acampamento Terra Livre”,
como consequência das constantes lutas em todos os âmbitos.
Além dessas conquistas, logrou-se uma maior participação e
representação em instâncias ou colegiados que lidam e decidem
sobre questões fundamentais para esses povos. No entanto, todos
os direitos constitucionais garantidos aos indígenas ainda não
foram integralmente contemplados. Apesar da consagração dos
direitos dos povos originários pela carta magna e trinta e cinco
anos após sua promulgação, a sociedade brasileira e o Estado ainda
enfrentam grandes desafios para assegurar a efetivação desses
direitos, estabelecidos nas políticas públicas voltadas aos povos
indígenas.

Após séculos de colonização e de incontáveis violências


sofridas, presumiu-se que os povos indígenas e seus costumes,
cosmovisões, línguas e etnias estariam fadados a desaparecer e
que, aos poucos, estes se integrariam e seriam assimilados por uma
sociedade cada vez mais homogênea (Cunha; Barbosa, 2018).
Contudo, apesar de historicamente violentados e oprimidos, esses
povos continuaram resistindo e existindo com seus direitos
coletivos (Coll, 1986).

230
PARINI, LIMA e COSTA | Capítulo 11

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234
Capítulo 12 |
ANÁLISE DA LEI DE ANIMAIS
COMUNITÁRIOS: ESTUDO DE CASO
DA FACULDADE DE PLANALTINA NO
DISTRITO FEDERAL

Larissa Santos Salgado1

Luciana de Oliveira Miranda2

Clarissa Melo Lima3

Iara Oliveira Fernandes4

1
Graduada em Gestão Ambiental pela Universidade de Brasília (UnB). Brasília.
Distrito Federal. Brasil.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/1016254591559517
Correio eletrônico: [email protected]
2
Professora Associada da Universidade de Brasília (UnB). Brasília. Distrito
Federal. Brasil. Doutora em Administração (in memoriam).
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7127812465310939
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0744-9770
3
Professora Auxiliar da Universidade Estadual de Goiás (UEG). Posse. Goiás.
Brasil. Doutora em Ciências Agrárias.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/6917886925634086
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9940-8863
Correio eletrônico: [email protected]
4
Doutora em Ciências Ambientais pela Universidade de Brasília (UnB). Brasília.
Distrito Federal. Brasil.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/8048813920663455
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0487-2186
Correio eletrônico: [email protected]
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

INTRODUÇÃO

A definição de animal comunitário se dá no art. 1º da Lei


Distrital nº 6.612, de 2 de junho de 2020 (Brasília, 2020), sendo o
cão ou gato que estabelece laços de dependência e de manutenção
na comunidade em que vive, ainda que não possua responsável
único e definido, pode ser mantido no local em que se encontra
sob a responsabilidade de um ou mais tutores. Para entender
melhor quem são considerados os tutores dos animais
comunitários, deve-se ler o art. 2º conforme a Lei nº 6.612/2020:

Art. 2º Podem ser considerados tutores de animal


comunitário os responsáveis, os tratadores e os
membros da comunidade que com ele tenham
estabelecido vínculos de afeto e dependência e que,
para tal fim, se disponham voluntariamente a cuidar
deste animal.
Parágrafo único. Os tutores devem promover,
voluntariamente, os cuidados com higiene, saúde e
alimentação dos animais comunitários pelos quais se
responsabilizem, devendo zelar, também, pela
limpeza do local em que estes se encontrem (Brasília,
2020).

Com isso, a principal diferença é que animais de rua não


possuem esse vínculo comunitário, sendo completamente
errantes, sem se estabelecerem em nenhum local fixo. Animais
errantes podem nascer na condição de desabrigo ou serem
abandonados, o que determina se ele é ou não da comunidade, de
acordo com a lei, é o laço de dependência que o animal tiver com
o as pessoas que ali vivem ou frequentam.

A presença de animais comunitários, especialmente cães e


gatos, é uma realidade significativa no cotidiano urbano. Dados da
236
SALGADO, MIRANDA, LIMA e FERNANDES | Capítulo 12

Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (2021) mostram que


quase dos lares no Distrito Federal tem pelo menos um animal de
estimação, predominando os cães sobre os gatos. Pesquisa
realizada pelo curso de Medicina Veterinária da UNIS em Varginha
e Paraguaçu (MG) confirma essa tendência, com 69% das pessoas
convivendo com animais e maior número de tutores de cães. No
entanto, a falta de cuidados adequados pode resultar em
problemas sérios, como a transmissão de doenças zoonóticas e
impactos na fauna local, uma vez que cães e gatos, adaptados a
ambientes controlados, não têm a capacidade de sobreviver no
meio selvagem (Kerber, 2017; Torrecilha, 2021).

A proteção dos animais comunitários está amparada por


políticas públicas e leis, como a Constituição Federal de 1988, que
estabelece a responsabilidade do Poder Público em proteger a
fauna e a flora (art. 225, § 1º, inciso VII). A senciência animal, ou
seja, a capacidade de sentir dor e prazer, reforça a necessidade de
uma abordagem ética e empática na proteção desses seres
(Pereira, 2019). Este estudo propõe investigar a situação dos
animais comunitários na Universidade de Brasília – Planaltina e
avaliar a efetividade da Lei nº 6.612/2020 nesse contexto, assim
como a percepção da comunidade acadêmica, com o objetivo de
promover uma abordagem mais consciente e responsável em
relação à proteção animal.

A crescente preocupação com a proteção animal destaca a


complexidade do cuidado com animais comunitários,
especialmente em locais públicos onde o abandono é comum.
Estudos indicam que animais nascidos nas ruas enfrentam altas
taxas de mortalidade e problemas de saúde, tornando a questão
não apenas uma preocupação ética mas também uma questão de
237
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

saúde pública e gestão ambiental (Faria et al., 2013). O abandono


de animais domésticos, muitas vezes resultado de desinformação
sobre a capacidade dos animais de sobreviver sozinhos, apresenta
lacunas legais que dificultam a implementação de soluções eficazes
(Pinheiro et al., 2015). A presença de gatos no campus, em
particular, reflete um problema exacerbado por preconceitos
culturais e a necessidade de abordagens mais informadas e
sensíveis para a convivência entre humanos e animais (Silvério et
al., 2021).

O papel das mulheres na proteção de animais comunitários


também merece destaque, pois essas ações frequentemente
enfrentam críticas sexistas e são desvalorizadas. A pesquisadora
Andréa Osório (2018) explora como o trabalho de cuidado animal,
predominantemente realizado por mulheres, é muitas vezes
desconsiderado e criticado de maneira desigual. O projeto
“Fupelinos”, coordenado por mulheres, exemplifica o impacto
positivo da participação feminina na gestão dos felinos na
Faculdade UnB Planaltina (FUP), demonstrando melhorias
significativas na alimentação e saúde dos animais, bem como a
importância da contribuição das mulheres para a proteção animal.

Além disso, a presença de animais comunitários nas ruas


tem implicações para a saúde coletiva e a ética social, como
apontado pela Declaração Universal dos Direitos dos Animais, que
condena o abandono como um ato cruel (Azevedo, 2020; Mourão,
2022). Estudos como o de Pinheiro et al. (2015) mostram que a
rejeição de gatos, especialmente machos, é um problema
persistente, apesar da crescente conscientização. O abandono e a
gestão inadequada de animais comunitários não só afetam a saúde
pública mas também podem levar a conflitos entre humanos e
238
SALGADO, MIRANDA, LIMA e FERNANDES | Capítulo 12

animais, destacando a necessidade de estratégias eficazes para


melhorar a convivência e assegurar o bem-estar animal, conforme
a pesquisa proposta sobre os animais comunitários da UnB-FUP.
Dessa forma, o objetivo do trabalho foi analisar a aplicação da lei
6.612/2020 na UnB de Planaltina.

MATERIAIS E MÉTODOS

Para alcançar os objetivos desta pesquisa, foi adotada uma


abordagem metodológica mista, que combina métodos
qualitativos e quantitativos. Essa abordagem permite uma
compreensão abrangente e detalhada do fenômeno em estudo,
proporcionando uma visão mais completa das experiências e
atitudes da comunidade acadêmica da UnB de Planaltina (FUP) em
relação aos animais comunitários.

Metodologia
Pesquisa Participativa Comunitária

A pesquisa participativa comunitária desempenhou um


papel crucial no estudo, facilitando a colaboração ativa dos
membros da comunidade acadêmica da FUP. Essa abordagem
envolveu a identificação e descrição dos animais comunitários
presentes no campus, com os participantes contribuindo para a
observação e registro das interações entre esses animais e a

239
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

população local. Além disso, o método favoreceu o envolvimento


direto da comunidade, promovendo um entendimento
compartilhado e incentivando o engajamento nas soluções
propostas.

A coleta de dados foi realizada em diversas etapas.


Inicialmente, foram obtidos dados primários por meio de
entrevistas semiestruturadas com membros da comunidade
acadêmica, permitindo a obtenção de informações detalhadas
sobre suas experiências, atitudes e percepções em relação aos
animais comunitários. Complementarmente, foram feitas
observações diretas das interações entre pessoas e animais no
campus, a fim de capturar dados comportamentais e contextuais
em tempo real. Além dos dados primários, foram coletados dados
secundários provenientes de fontes diversas, como estatísticas
governamentais, relatórios de organizações de proteção animal,
registros de abrigos e literatura acadêmica relevante.

A análise dos dados seguiu duas abordagens principais. A


análise quantitativa possibilitou a identificação de relações
significativas entre o comportamento das pessoas e os animais
comunitários, fornecendo subsídios para a formulação de
recomendações e estratégias que visam melhorar a coexistência
entre a comunidade acadêmica e os animais. Por outro lado, a
análise qualitativa permitiu compreender as experiências e
percepções dos participantes, destacando áreas que requerem
intervenção e melhorias.

240
SALGADO, MIRANDA, LIMA e FERNANDES | Capítulo 12

DISCUSSÃO E RESULTADOS

Análise da Aplicação da Lei Nº 6.612, de 2020 na


Faculdade UnB de Planaltina
Art. 1º

O art. 1º da Lei nº 6.612/2020 do Distrito Federal define o


conceito de “animal comunitário” como aquele que, apesar de não
ter um responsável único, mantém laços de dependência com a
comunidade. Esta legislação estabelece diretrizes para a
manutenção e o cuidado desses animais, destacando a importância
de um tutor.

No início, a presença de animais abandonados na


universidade era limitada, com apenas a gata “Gordinha” se
enquadrando como um animal comunitário. Desde então, o
número de animais errantes aumentou, o que levou a comunidade
acadêmica a implementar cuidados básicos, como alimentação e
abrigo. Mesmo antes da promulgação da lei, a universidade já
aplicava conceitos semelhantes ao fornecer suporte a esses
animais. Além da legislação distrital, leis estaduais e municipais
ampliam a regulamentação sobre animais comunitários. Por
exemplo, a Lei nº 11.140/2018 na Paraíba estabelece obrigações
específicas para esterilização e identificação de cuidadores. Leis
municipais tratam de questões como registro e autorização para a
instalação de abrigos e comedouros.

Art. 2º

O art. 2º trata da definição e responsabilidades dos tutores

241
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

de animais comunitários. Os tutores, que podem ser responsáveis,


tratadores ou membros da comunidade, devem assumir
voluntariamente a responsabilidade pelos cuidados dos animais,
incluindo higiene, saúde e alimentação.

Na prática, manter a constância na arrecadação de fundos e


fornecer cuidados veterinários pode ser desafiador. A falta de
apoio financeiro governamental pode sobrecarregar os cuidadores
voluntários, como mencionado por Martins (2020). A recente
proposta do PL nº 2636/2022, que introduz o “Cartão Ração”, visa
ajudar a aliviar essas dificuldades financeiras, oferecendo um
auxílio financeiro aos cuidadores. A Lei nº 6.612/2020 reforça a
importância da participação voluntária e do cuidado responsável,
em linha com outras legislações que promovem a esterilização e a
prevenção de maus-tratos. A falta de recursos e a sobrecarga dos
cuidadores indicam a necessidade de mais suporte institucional.

Art. 3º

O art. 3º autoriza a instalação de abrigos, comedouros e


bebedouros em áreas públicas, escolas e órgãos públicos, desde
que atendam a certas condições. Apesar de ter sido vetado
inicialmente, foi mantido pela Câmara Legislativa.

Na FUP-UnB, a colocação de abrigos e comedouros tem


sido permitida e apoiada pela direção da universidade, desde que
não interfira na circulação e esteja devidamente autorizada. A
implementação desses itens deve seguir as orientações da lei,
incluindo a sinalização adequada. Este artigo complementa outras
regulamentações que priorizam a criação de condições adequadas
para o cuidado de animais comunitários, como a Lei nº 643 em
Florianópolis, que trata do registro e vacinação de animais.
242
SALGADO, MIRANDA, LIMA e FERNANDES | Capítulo 12

Art. 4º

O art. 4º estabelece critérios para a identificação dos


animais comunitários, incluindo a microchipagem e o uso de
coleiras com placas de identificação.

A microchipagem é cara e não foi implementada na FUP-


UnB. No entanto, a comunidade pode adotar a identificação por
coleiras e placas, conforme discutido nas entrevistas. Essas
medidas ajudam na identificação e segurança dos animais
comunitários e são necessárias para o cumprimento da lei. A
microchipagem é destacada em leis estaduais como a Lei nº 21.970
em Minas Gerais, que também enfatiza a identificação e
esterilização. A aplicação efetiva dessas medidas na FUP-UnB
pode melhorar a gestão dos recursos e a responsabilidade
compartilhada.

Art. 5º

O art. 5º, apesar de ter sido vetado, foi mantido pela Câmara
Legislativa e prevê ações complementares que o poder público
deve desenvolver para apoiar a adoção comunitária e o bem-estar
dos animais.

O veto a este artigo sugere uma possível relutância do


governo em assumir responsabilidades diretas. O artigo propõe
ações como a promoção de campanhas de conscientização,
orientação técnica e estabelecimento de parcerias com entidades
de proteção animal. A falta de implementação destas medidas pelo
poder público pode deixar lacunas na efetiva proteção dos animais
comunitários. Enquanto o poder público deve ser responsabilizado
pela implementação dessas medidas, a FUP-UnB pode continuar

243
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

promovendo práticas de cuidado e conscientização por conta


própria, conforme discutido pelos entrevistados. O apoio
institucional e a colaboração com entidades de proteção animal
são cruciais para o sucesso da legislação e para o bem-estar dos
animais comunitários.

Análise da Execução da Lei de Animais Comunitários na


FUP-UnB
A implementação da Lei nº 6.612/2020 na Faculdade UnB
de Planaltina (FUP-UnB) revelou tanto avanços quanto desafios no
manejo de animais comunitários. A lei, embora tenha promovido a
instalação de comedouros, bebedouros e abrigos, não forneceu
recursos financeiros adequados para castração e vacinação, o que
tem gerado dificuldades para os cuidadores. Muitas vezes, é
necessário que estes desembolsem recursos próprios para garantir
o bem-estar dos animais, uma vez que a lei não cobre esses custos
nem estabelece suporte direto para tal.
A ausência de um suporte financeiro adequado e a falta de
uma estrutura de apoio institucional foram evidenciadas em casos
de abandono de animais na universidade. Em 2022, foram
registrados quatro abandonos consecutivos de filhotes em
condições alarmantes, o que gerou a necessidade de uma
campanha de conscientização organizada pela própria comunidade
acadêmica, composta por alunos, servidores e professores. Essas
ações incluíram tratamentos médicos, campanhas de adoção e a
criação de redes de doações para cobrir os custos com os animais,
demonstrando a mobilização e o esforço da comunidade frente à
falta de suporte governamental.

244
SALGADO, MIRANDA, LIMA e FERNANDES | Capítulo 12

Os casos de abandono, que incluíram filhotes encontrados


em condições críticas e sem identificação dos responsáveis,
evidenciam a fragilidade da aplicação da lei e a necessidade de uma
resposta mais robusta do governo. Apesar de múltiplas tentativas
de envolvimento de órgãos públicos, a falta de sucesso nessas
abordagens forçou a comunidade acadêmica a buscar soluções
alternativas, como o apoio financeiro por meio de doações e o
cuidado direto com os animais até que fossem adotados.
A crítica à presença de animais no campus é uma questão
recorrente, sendo que alguns argumentam que o ambiente
universitário não é adequado para animais domésticos. No
entanto, o abandono é uma realidade cruel que precisa ser
enfrentada, especialmente considerando a sobrecarga de ONGs e
cuidadores que frequentemente não conseguem acolher mais
animais ou gerenciar os já acolhidos (Lima, 2022).
Em resumo, a Lei nº 6.612/2020, apesar de ter facilitado a
instalação de infraestruturas básicas para os animais comunitários,
não abordou questões complexas, como o suporte financeiro para
castração e vacinação ou a gestão de abandonos. A assistência de
uma organização não governamental (ONG) em 2018 foi crucial
para realizar um mutirão de castração, destacando a necessidade
de maior apoio e colaboração entre a comunidade e o governo para
assegurar um manejo eficaz e sustentável dos animais
comunitários na FUP-UnB.

Análise da Gestão de Animais Comunitários na


Faculdade UnB Planaltina (FUP)
A análise da gestão de animais comunitários na Faculdade

245
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

UnB Planaltina (FUP) é elucidada por meio de dois relatos de


entrevistados que descrevem os desafios e as estratégias adotadas
ao longo dos anos. O primeiro entrevistado apresenta um
panorama histórico desde a construção da FUP em 2003 até 2022.
Ele destaca o surgimento de problemas relacionados à presença de
animais, particularmente cães errantes de grande porte, que
geraram insegurança na comunidade acadêmica. Um incidente de
mordida ocorrido com um estudante acentuou a preocupação com
a saúde e o bem-estar dos animais. A introdução de intervenções
para o manejo de animais acabou desencadeando uma onda de
abandonos, colocando a comunidade acadêmica e ONGs em uma
situação complicada (Lima, 2022).

Em 2016, observou-se um aumento significativo na


população de gatos, exacerbado pela distribuição desordenada de
alimentos. Essa situação gerou divisões de opinião, com um grupo
contrário à presença de animais no campus e outro grupo
favorável, mas preocupado com os impactos na higiene e na
presença de roedores (Ribeiro; Marotta, 2017). A crise sanitária
global revelou a dificuldade de controlar a entrada de animais no
campus devido à falta de barreiras físicas na Universidade de
Brasília (UnB). As tentativas de parcerias para solucionar o
problema foram infrutíferas, levando o entrevistado a organizar
reuniões para discutir o manejo dos animais. A colaboração com
uma ONG resultou em um manejo ético dos gatos e cães, incluindo
ações de castração e construção de infraestruturas de alimentação
(Acervo da FUP, 2018).

O segundo entrevistado, cuja atuação começou em 2010,


relata o aumento na presença de gatos após a construção de novos
edifícios, o que facilitou o acesso à comida e contribuiu para a
246
SALGADO, MIRANDA, LIMA e FERNANDES | Capítulo 12

expansão da população felina. Ela destaca que, inicialmente, a


presença de animais era limitada e caracterizada por uma gata e
uma rotatividade de cachorros. A situação piorou com a
distribuição de alimentos em mesas, levando a reclamações e a
uma divisão de opiniões sobre os animais no campus. A
entrevistada relata que a conscientização sobre a castração surgiu
devido ao aumento da população de gatos e destaca a contribuição
crucial de uma ONG para a implementação de mutirões de
castração (Aleixo et al., 2021).

A partir de 2021, com a promulgação da Lei Federal nº


14.228/2021, que proíbe a eutanásia de cães e gatos de rua, a
situação melhorou, embora casos de agressividade ainda ocorram,
como no incidente com o cachorro “Bicudo” em 2023. A
conscientização sobre o comportamento dos animais e a
necessidade de castração continua sendo uma prioridade. A
pandemia de covid-19 trouxe desafios adicionais, como a redução
da participação financeira para a alimentação dos animais devido
ao distanciamento social.

Ambos os entrevistados destacam a importância da empatia


e do envolvimento individual no manejo dos animais comunitários.
O primeiro entrevistado sugere que a responsabilidade e o cuidado
com os animais são aspectos fundamentais da responsabilidade
ambiental. A entrevistada, por sua vez, reforça que a convivência
com animais contribui para uma maior empatia e compreensão do
papel dos seres vivos no ecossistema.

Dados coletados dos gatos comunitários da FUP-UnB


A proteção animal tem evoluído significativamente desde a
247
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

Revolução Industrial, período que marcou a intensificação da


exploração animal e o distanciamento entre humanos e animais
(Thomas, 2010; Mói, 2014). Iniciativas legislativas pioneiras
surgiram em Londres no início do século XIX, com Richard Martin
estabelecendo leis contra maus-tratos e fundando a Royal Society
for the Prevention of Cruelty to Animals (RSPCA) em 1824, o que
representou um marco na proteção dos animais domésticos e
estabeleceu um precedente para a legislação futura (Mói, 2014).
Esses esforços iniciais estabeleceram as bases para uma maior
conscientização e regulamentação em torno do bem-estar animal,
impulsionando debates e legislações subsequentes.

No cenário contemporâneo, a gestão de animais


comunitários, como gatos, enfrenta desafios complexos, conforme
evidenciado pelo estudo realizado na FUP-UnB. A castração se
apresenta como uma medida crucial para controlar a natalidade e
evitar problemas associados ao abandono desses animais.
Entretanto, o abandono contínuo nas áreas universitárias destaca
a necessidade de uma abordagem mais robusta e responsável,
envolvendo a mobilização comunitária e programas educacionais
para mitigar os problemas relacionados (Mourão, 2022; Ribeiro;
Marotta, 2017). A eficácia dessas medidas é confirmada pela Lei nº
6.612/2020 e pelo projeto Fupelinos, que mostram melhorias na
gestão de gatos no campus, embora o abandono e a falta de
cuidados ainda sejam preocupações significativas.

Apesar dos avanços legislativos, como a Lei nº 6.612/2020,


a legislação brasileira ainda apresenta lacunas importantes,
particularmente no que tange ao reconhecimento da senciência
animal. O Código Civil Brasileiro ainda classifica os animais como
“coisas”, o que limita a eficácia das leis contra maus-tratos e a
248
SALGADO, MIRANDA, LIMA e FERNANDES | Capítulo 12

promoção do bem-estar animal (Santos; Moraes, 2021). Projetos


de lei que visam reconhecer a senciência animal estão em
tramitação, mas o processo legislativo é demorado e enfrenta
desafios significativos (Regis, 2021). A análise dos dados do
questionário amostral da FUP revela uma diversidade de opiniões
sobre a presença de gatos no campus, destacando a importância
de uma gestão equilibrada que considere tanto os benefícios
quanto os desafios associados aos animais comunitários para
garantir um ambiente universitário seguro e harmonioso.

CONCLUSÃO

Antes de apresentar o fluxograma, uma breve explicação é


necessária para que a leitura dele seja mais dinâmica. As setas
verdes representam interações diretamente proporcionais e as
setas vermelhas demonstram que quando um fator aumenta, o
outro diminui. O fluxograma abaixo representa de forma ilustrativa
as conclusões extraídas da pesquisa.

O surgimento das leis de proteção animal está


profundamente ligado à transformação da relação humana com os
animais, especialmente a partir da Revolução Industrial. Com o
rápido crescimento urbano e a exploração intensiva de recursos
animais, surgiram práticas cruéis e uma crescente distância entre
humanos e animais (Thomas, 2010; Mói, 2014). Em Londres, no
início do século XIX, Richard Martin foi pioneiro ao criar leis contra

249
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

Fluxograma 1. Esquema sistêmico

_______
250
Fonte: as autoras (2023).
SALGADO, MIRANDA, LIMA e FERNANDES | Capítulo 12

maus-tratos e fundar a Royal Society for the Prevention of Cruelty to


Animals (RSPCA) em 1824, estabelecendo um marco significativo
na proteção animal (Mói, 2014).

No contexto contemporâneo, a proteção de animais


comunitários, como gatos, enfrenta desafios complexos. O estudo
sobre a presença de gatos na FUP-UnB destaca que a castração é
uma medida crucial para controlar a natalidade e mitigar problemas
associados ao abandono. No entanto, o abandono desses animais
nas áreas universitárias continua sendo um problema, refletindo a
necessidade de maior vigilância e responsabilidade comunitária.
Dados e literatura demonstram que programas educacionais e a
mobilização comunitária podem minimizar os problemas e
maximizar os benefícios dessas ações (Mourão, 2022; Ribeiro;
Marotta, 2017).

Apesar dos avanços, como evidenciado pela Lei


6.612/2020 e iniciativas como o projeto Fupelinos, a legislação
brasileira ainda enfrenta lacunas significativas. A Lei nº
6.612/2020 trouxe melhorias na proteção dos animais
comunitários na FUP-UnB, mas a legislação nacional continua a
tratar os animais como “coisas” no Código Civil brasileiro, limitando
a eficácia das leis contra maus-tratos e a promoção do bem-estar
animal (Santos; Moraes, 2021). Projetos de lei que buscam
reconhecer a senciência animal estão em tramitação, mas o
processo é lento (Regis, 2021). A análise dos dados do questionário
amostral da FUP revela uma percepção variada sobre os gatos no
campus, com sugestões de castração e vacinação, destacando a
complexidade na gestão e a necessidade de uma abordagem
abrangente para garantir um ambiente universitário seguro e
harmonioso.
251
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

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sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividade
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252
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O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI
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255
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

256
Capítulo 13 |
A IMPLEMENTAÇÃO DAS POLÍTICAS
DE SAÚDE EM NÍVEL FEDERAL PARA
PACIENTES COM DIAGNÓSTICOS DE
CÂNCER

Nátalyn Letícia Oliveira de Amorim1

José Iturri de La Mata2

Clarissa Melo Lima3

Tito Ricardo Vaz da Costa4

1
Graduada em Gestão de Saúde Coletiva pela Universidade de Brasília (UnB).
Brasília. Distrito Federal. Brasil.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3207781023089419
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8817-976X
Correio eletrônico: [email protected]
2
Professor Associado da Universidade de Brasília (UnB). Brasília. Distrito
Federal. Brasil. Doutor Saúde Coletiva.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/8289253277731370
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6598-1861
Correio eletrônico: [email protected]
3
Professora Auxiliar da Universidade Estadual de Goiás (UEG). Posse. Goiás.
Brasil. Doutora em Ciências Agrárias.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/6917886925634086
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9940-8863
Correio eletrônico: [email protected]
4
Professor Substituto da Universidade de Brasília (UnB). Brasília. Distrito
Federal. Brasil. Doutor em Engenharia Florestal.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/1068744176859901
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5827-7975
Correio eletrônico: [email protected]
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

INTRODUÇÃO

Este é um estudo de revisão narrativa que pretende


examinar as leis de 2012 a 2022 que abordem sobre os prazos para
o diagnóstico e tratamento de câncer e levantar informações sobre
a implementação dessas leis. Foi a base do Trabalho de Conclusão
de Curso da primeira autora. No último século, ocorreram muitas
transformações na forma de compreender o câncer sua
representação e abordagem. O câncer chegou como algo
inespecífico, incurável e se transformou em um mal conhecido
mundialmente, presente e temido por toda a sociedade,
independentemente da classe social, o diagnóstico é sempre
assustador (Texeira; Neto, 2020). Tais transformações são
resultados da evolução nos processos sociais que foram
contribuindo para o conhecimento da sociedade médica e afins,
novas tecnologias que auxiliam nos diagnósticos, leis e portarias
que destinam aos pacientes diagnosticados para orientações e
tratamento (Sobral et al., 2022).

O controle da vigilância epidemiológica permite analisar a


incidência, morbidade hospitalar e a mortalidade para entender a
ocorrência e a evolução das doenças. Para isso é importante
entender sobre os tipos de câncer e caracterizar quais os
elementos que influenciam o cenário e tempo de possíveis
mudanças, por meio disso é possível desenvolver planejamentos
efetivos para investir em programas de prevenção e controle do
câncer (INCA, 2022).

Atualmente o câncer é a doença que tem prevenção e a


segunda maior causa de morte no mundo. Nos últimos 3 anos,
258
AMORIM, ITURRI, LIMA e COSTA | Capítulo 13

segundo INCA (2019) o câncer de maior incidência é o de pele não


melanoma, em sequência, as neoplasias de mama, próstata, cólon
e reto, pulmão e estômago. Sobral et al. (2022) enfatizaram a
investigação feita na Malásia onde 50% a 88% das mortes por
câncer de mama poderiam ter sido evitados mediante a um
diagnóstico precoce e o acompanhamento ideal com acesso rápido
ao tratamento. Eles destacam que as disparidades
socioeconômicas foram características em países em
desenvolvimento a piora no desfecho das neoplasias nesse
contexto.

No tocante à morbidade por consequência do câncer no


Brasil, observa-se que teve um número expressivo de 2.056.709
registros de internação, e o maior número dessas internações é na
região sudeste (1.005.439) (Ministério da Saúde, 2016). Quanto ao
tipo de câncer que mais acarreta adoecimento no sexo masculino,
é a neoplasia maligna de próstata, pele, bexiga, tecidos mesotelial
e tecidos moles e estômago. Nas mulheres, são neoplasias
malignas de pele e mama (Silva; Sena; Nascimento, 2020).

No território nacional, temos muitas leis e decretos para o


auxílio de profissionais de saúde a favorecerem aos usuários de
sistema único de saúde os diagnósticos e tratamentos precisos. Por
exemplo, a Lei nº 12.732, de 22 de novembro de 2012, confere
aos brasileiros o direito de iniciarem seus tratamentos em até 60
dias. Conhecida como a “Lei dos 60 dias”, mas complementada por
outros dispositivos, institui o prazo de trinta dias em caso de
exames diagnósticos comprobatórios da notificação de casos de
câncer em todo o território nacional (Brasil, 2012).

Outro exemplo é a Lei nº 874/2013, cujo objetivo é auxiliar

259
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

na prevenção e controle do câncer, a fim de reduzir a mortalidade


e incapacidade causadas pelo câncer, diminuir a incidência de
alguns tipos de câncer e melhorar a qualidade de vida por meios de
ações de promoção prevenção, detecção precoce, tratamento
oportuno e cuidados paliativos (Ministério da Saúde, 2013).

A Organização Mundial da Saúde (OMS, 2020) afirmou a


importância da detecção precoce como uma estratégia
fundamental para o controle do câncer, pois isso possibilita que o
paciente seja encaminhado ao tratamento mais rápido e em tempo
oportuno, além de aumentar a sobrevida e diminuir a morbidade,
para isso é preciso o uso dessas duas estratégias. Essas ações
precisam ser distinguidas quanto ao impacto na implementação e
necessidade de infraestrutura e custos distintos.

A implementação faz parte do ciclo de políticas públicas e


consiste em transformar os planos em resultados. O processo de
implementação envolve diversos atores de diferentes níveis
governamentais e organizações de distintos interesses
institucionais, esse processo é complexo (O’Toole Junior, 1996).
De forma complementar, Barbosa (2016) afirmou que esse
processo de implementação tem suas complexidades devido aos
pontos de temas diferentes destas políticas.

O tema é de suma importância para a sociedade e


profissionais de saúde, uma vez que entender e discutir esse tema
mostra a dimensão de adoecimento da população mundial, afinal,
o câncer é temido por todos, independentemente de raça, etnia,
classe social ou religião, é uma doença que assusta. Por isso, falar
de prevenção e tratamento no tempo oportuno é tão importante.
Educação em saúde salva vidas.

260
AMORIM, ITURRI, LIMA e COSTA | Capítulo 13

Optamos por esse tema, após observar que há leis que


amparam a prevenção e o tratamento do câncer e que muitos
profissionais desconhecem ou guardam para si as informações. O
interesse surge por notar que existem leis que não são
implementadas da forma correta, talvez porque não são divulgadas
da forma como deveriam. É preciso repassar informações corretas
aos pacientes e seus familiares, para que tenham conhecimento
sobre seus direitos quanto ao enfrentamento ao câncer. Há
diversos programas e benefícios para pacientes que estão com
diagnóstico de câncer.

O tema é valioso para profissionais de saúde coletiva por


ser um ramo de possível atuação, um tema relevante na sociedade
atual e de suma necessidade que profissionais da saúde tenha
entendimento para auxiliar a população, podendo se qualificar e
atuar na prevenção e no controle do câncer. Pretende-se ainda
despertar nesses profissionais a necessidade de informações
aprofundadas sobre as inovações sobre prevenção, diagnósticos e
tratamentos sobre o câncer e as estratégias disponíveis para
auxiliar os pacientes a adquirirem conhecimento.

Dessa forma, o objetivo geral do estudo foi expor como são


implementadas uma seleção de políticas de saúde de nível federal
para pacientes com diagnóstico de Câncer no Brasil.

METODOLOGIA

Segundo o estudo da Unesp (2015), uma revisão é uma


261
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

busca, uma análise a descrição de um conjunto de conhecimentos


que busca responder uma pergunta específica e relata que há três
tipos de revisão: narrativa, sistemática e integrativa.

Nos estudos de revisão narrativa, os critérios não são


explícitos da mesma forma que nas Revisões Sistemáticas nem
seguem um método tão rigoroso para a busca e análise da
literatura como nas revisões sistemáticas. A revisão sistemática é
uma pesquisa investigativa e científica, são pesquisas de análise
crítica da literatura, testam hipóteses e têm como objetivo reunir,
avaliar, levantar e criticar a metodologia da pesquisa, e por meio
disso sintetizar os resultados de diversos estudos. Para isso, usa-
se uma ferramenta formulada para auxiliar e nortear a pesquisa,
uma pergunta de pesquisa, claramente formulada. Utiliza métodos
explícitos e sistemáticos para selecionar, avaliar e recuperar os
resultados mais importantes (Unesp, 2015).

Por sua vez, a revisão integrativa é uma alternativa para


revisar rigorosamente os estudos e combinar diversas
metodologias como, por exemplo, delineamento experimental e
não experimental. É uma escolha assertiva para promover a revisão
de estudos de diversas áreas de conhecimento, por combinar
diferentes métodos combinados e ampliaras possibilidades de
análise de literaturas (Unesp, 2015).

O estudo realizado pelo Grupo Ânima Educação (2014)


relata que os tipos de revisões são: revisões narrativas e revisão
bibliográfica sistemática e que esse último se dividi em: meta
análise, revisão sistemática, revisão qualitativa e revisão
integrativa. Porém, a diferença desses estudos está nas
características e nos objetivos de cada estudo. As diferenças: na

262
AMORIM, ITURRI, LIMA e COSTA | Capítulo 13

revisão narrativa a questão é ampla e muitas vezes inespecífica, já


na revisão sistemática é específica, com critérios aplicados
uniformemente. Nos estudos narrativos as fontes de seleção
podem ser variáveis, na sistemática a seleção é criteriosa, a síntese
na revisão narrativa e qualitativa já nas sistemáticas é quantitativa.

As revisões narrativas são desenhadas com temáticas mais


abertas, dificilmente partem de questões definidas de forma
específicas, ou seja, não exigem protocolos com critérios
diferentes de rigor, quando comparadas com as sistemáticas, e
busca fontes mais diversificadas. Ao contrário das revisões
sistemáticas, as revisões narrativas costumam ser parciais e
representam a visão dos autores sobre os conteúdos levantados
de forma qualitativa, são ponderadas a fim de sustentar o ponto de
vista do autor (Grupo Anima Educação, 2014).

Os estudos narrativos dão ao autor liberdade do tamanho


da amostra e permite que cheguem a conclusões diferentes sobre
o mesmo ponto de partida, a questão norteadora da pesquisa. São
revisões feitas a partir dos resumos criadas a fim de extrair o
melhor de cada texto escolhido, para atualizar o leitor quanto ao
assunto e conhecimento estudado, por isso é um tipo estudo mais
utilizado por estudantes para a realização de trabalho de conclusão
de curso (Unesp, 2015). Por que, apesar de termos leis bem
redigidas voltadas para pacientes com câncer e assistidas pelo SUS,
na prática não estão sendo implementadas?

Diante disso, a opção foi pela revisão narrativa pela


liberdade na escolha de informação. Por consequência, isso
permitiu incluir fontes não oficiais, e não somente artigos
científicos, mas também sites e/ou matérias jornalísticas de fontes

263
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

confiáveis. Foram excluídos estudos de fontes não confiáveis, sem


data de publicação, estudos de textos incompletos e estudos
publicados antes de 2012.

Logo após a definição dos critérios, os estudos foram


classificados de acordo com o objetivo da pesquisa, ao final
tivemos um total de 48 textos os quais foram separados para a
discussão sobre as implementações das políticas públicas acerca
do tratamento de câncer apenas 8 para compor o quadro 2. Das
48 referências, 13 são leis e decretos e documentos do Ministério
da Saúde. Dessas leis foram selecionadas 8 para compor o quadro
1, a fim de destacar a leis federais que beneficiam pacientes com
diagnóstico de câncer publicada entre 2012-2022. Os descritores
utilizados foram: “câncer”, “políticas públicas de saúde”,
“implementação das políticas de saúde” e “tratamento”.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A princípio foram descritas as Leis (Quadro 1) selecionadas


dentro tempo estipulado de 10 anos (2012-2022). Essas leis
descrevem quais são os direitos das pessoas com câncer quanto a
promoção, prevenção, tratamento, medicações e direitos
trabalhistas e, com isso, expor quais estão sendo implementadas e
de que forma estão sendo efetuadas na prática.

Essas leis foram estabelecidas para benefício de pacientes


com diagnóstico de câncer, pois este vem aumentando

264
AMORIM, ITURRI, LIMA e COSTA | Capítulo 13

significativamente na última década. Segundo OMS (2017), os


dados para 2030 no mundo são alarmantes, 27 milhões de novos
casos. Desses novos casos, 80% deles ocorrerão em países em
desenvolvimento. O INCA aponta que entre 2016-2017 houve
600 mil novos casos de câncer (INCA, 2015).

Quadro 1. As Leis federais encontradas entre os anos de 2012 e 2022


LEIS 2012-2022 CONCEITO
Lei nº 12.732, de Dispõe sobre o primeiro tratamento de paciente
22 de novembro com neoplasia maligna comprovada e estabelece
de 2012 prazo para seu início.
Lei nº 12.715, de Institui o Programa Nacional de Apoio à Atenção
17 de setembro Oncológica.
de 2012
Lei nº 12.802, de Lei da Reconstrução Mamária
24 de abril de
2013
Lei nº 13.767, de Regulamenta a ausência dos trabalhadores para a
18 de dezembro realização de exames preventivos.
de 2018
Altera a Lei nº 12.732, de 22 de novembro de
Lei nº 13.896, de 2012, para que os exames relacionados ao
30 de outubro de diagnóstico de neoplasia maligna sejam
2019 realizados no prazo de 30 (trinta) dias, no caso em
que especifica.
Lei nº 14.238, de Institui o Estatuto da Pessoa com Câncer e dá
19 de novembro outras providências
de 2021
Lei nº 14.308, de Institui a Política Nacional de Atenção à
8 de março de Oncologia Pediátrica.
2022
Altera a Lei nº 11.664, de 29 de abril de 2008,
Lei nº 14.335, de
para dispor sobre a atenção integral à mulher na
10 de maio de
prevenção dos cânceres do colo uterino, de
2022
mama e colorretal.
Fonte: elaboração própria.

No ano de 2012, foram criadas duas leis para garantir o

265
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

tratamento em tempo hábil para pacientes diagnósticos com


câncer: a Lei nº 12.715, de 17 de setembro de 2012, que institui o
Programa Nacional de Apoio à Atenção Oncológica; e em
novembro a Lei nº 12.732, que garante que o primeiro tratamento
do paciente com neoplasia maligna comprovada comece seu
tratamento via Sistema Único de Saúde (SUS) em até 60 dias do
diagnóstico (Brasil, 2012).

Em 2013, a Lei nº 12.802 assegurou que mulheres com


câncer de mama possam fazer a cirurgia de retirada do câncer na
rede pública e já realizar a reconstrução mamária também pelo SUS
(se possível na mesma ocasião cirúrgica). Caso isso não seja
possível, a lei assegura a essa mulher poder realizar a reconstrução
assim que possível (Brasil, 2013).

A Lei nº 13.767 de 2018 garante aos trabalhadores que


possam se ausentar de seus trabalhos para realizar exames
preventivos de câncer. A lei dispõe que esses trabalhadores podem
se ausentar de seus empregos três dias a cada doze meses de
trabalho, desde que comprove o fato ao empregador (Brasil, 2018).

A Lei nº 13.896/2019 determina que os exames dos


pacientes do SUS com diagnóstico de neoplasias malignas sejam
realizados no prazo de 30 dias. Essa lei foi incluída na Lei nº
12.732/2012, com o objetivo de acelerar o acesso desses
pacientes aos tratamentos que forem necessários de forma mais
rápida (Brasil, 2019).

A Lei nº 14.238/2021 cria o Estatuto da pessoa com câncer


com objetivo de que os portadores tenham condições de igualdade
nos tratamentos. A lei garante integralidade nos atendimentos dos
SUS, o que inclui assistência médica, medicamentos, assistência
266
AMORIM, ITURRI, LIMA e COSTA | Capítulo 13

psicológica, atendimento especializado e, sempre que possível, até


internação domiciliar. Além disso, dispõe sobre o direito ao
tratamento da dor adequada, acesso ao atendimento
multidisciplinar e aos cuidados paliativos (Brasil, 2021).

A Lei nº 14.308 institui a Política Nacional de Atenção


Oncologia Pediátrica, foi sancionada em março de 2022 e teve
origem na PL 3.921/2020, Afim de, que haja redução na
mortalidade e no abandono de tratamento de câncer em crianças
e adolescentes e com isso haja aumento nos índices de sobrevida
das vítimas dessa doença na faixa etária de 0 a 19 anos (Brasil,
2022).

A Lei nº 14.335 de 2022 garante o atendimento integral


pelo SUS para a detecção, prevenção e o tratamento de câncer de
mama, colorretal e uterino em mulheres independentemente da
idade, afirmando a importância do diagnóstico precoce (Brasil,
2022).

Para melhor entendimento sobre como estão sendo


implementadas essas leis, foi realizada uma busca entre os estudos
utilizados para a estruturação dessa pesquisa, nos quais foram
selecionadas 8 fontes (Quadro 2) entre os 48 selecionados
inicialmente.

Estima-se que cerca de um terço dos casos de câncer seriam


evitáveis se houvesse políticas públicas eficazes quanto ao início
dos tratamentos, cerca de 60% dos pacientes que morrem por ano
no Brasil tiveram o diagnóstico já em estágio avançado, o que
requer tratamento de alta complexidade de alto impacto
socioeconômico (INCA, 2016). Para os anos de 2023-2025, são
esperados cerca de 704 mil casos novos de câncer no Brasil para
267
Quadro 2. Textos selecionados para o desenvolvimento da revisão narrativa de literatura
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

Tipo de
estudo ou
Autor / Título / Ano Objetivo Principais achados
documento
ou material
Um documento elaborado
por técnicos especializa-
A necessidade de qualificar e aumen-
dos com objetivo de revi-
CONASS. Nota Técnica 03. Nota tar o nº de exames citopatológicos
sar os pontos que estão
2013 técnica para o diagnóstico do câncer de colo
são efetuados da Lei nº
uterino.
12.732, de 22 de novem-
bro de 2012.
O presente artigo sumariza

_______
268
Isis Quezado MAGALHÃES; o histórico dos esforços
Maria Inês Pordeus Gadelha; empreendidos no Brasil e Apesar dos esforços descritos, a On-
Carla Donato Macedo; as ações sugeridas pela co- cologia Pediátrica no Brasil apre-
Artigo
Teresa Cristina Cardoso. A munidade científica para senta poucos avanços nos resultados
científico
Oncologia Pediátrica no acelerar os resultados, se obtidos em relação a países desen-
Brasil: Por que há Poucos considerados e incluídos volvidos.
Avanços? 2016. na Política Nacional de
Controle do Câncer
Continua...
Tipo de
AMORIM, ITURRI, LIMA e COSTA | Capítulo 13

estudo ou
Autor / Título / Ano Objetivo Principais achados
documento
ou material
Este trabalho busca estu- Se considerarmos a prevalência e a
dar mais profundamente a gravidade do câncer, associadas às
PEROTTONI, Anelise. implantação da Política estimativas de casos novos projeta-
Política de Atenção para a Prevenção e Con- dos para um futuro próximo (2030),
Monografia
Oncológica no Brasil: uma trole do Câncer na Rede de é fundamental que seja acelerada a
revisão bibliográfica, 2018. Atenção à Saúde das Pes- implementação da Política de Aten-
soas com Doenças Crôni- ção Oncológica, em sua plenitude,
cas no âmbito do SUS. em todo o território nacional.
Vanessa Murta REZENDE;

_______
Busca-se incentivar as instituições

269
Gabriela Furtado NEVES. Apresentar um panorama
do terceiro setor que atuam na pres-
Formação, Treinamento e do triênio 2016-2018, re-
tação de serviços oncológicos a par-
Aperfeiçoamento em ferente aos projetos volta-
Artigo ticiparem do programa por meio de
Oncologia Infanto juvenil no dos para essa temática, na
científico projetos com capacidade técnica
Âmbito do Programa área de formação, treina-
operacional, considerados de rele-
Nacional de Apoio à Atenção mento e aperfeiçoamento
vância para o sistema único de saúde
Oncológica: um Panorama do de recursos humanos
e seus usuários.
Triênio 2016-2018. 2018.
Continua...
Tipo de
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

estudo ou
Autor / Título / Ano Objetivo Principais achados
documento
ou material
Brunize Altmiranda FINGER Estado pode ser responsabilizado,
e Têmis LIMBERGER. Acesso observando três critérios: Universali-
Verificar se o Estado pode
ao tratamento oncológico o dade do acesso ao tratamento contra
ser responsabilizado civil-
SUS: A responsabilidade civil Artigo o câncer de mama em até 60 dias;
mente, e em que condi-
do estado pela perda da científico Acessibilidade ao tratamento médico
ções, pela perda da chance
chance de cura ou de frente às barreiras Geográficas; e
de cura ou de sobrevida.
sobrevida das pacientes com Tratamento contra o câncer de
câncer de mama. 2019. mama materialmente possível.
Mostrar o Levantamento

_______
48% dos pacientes com câncer de ca-

270
Tiago Cepas Lobo. O melhor no Brasil sobre como está
beça e pescoço foram diagnostica-
sorriso está guardado entre a sendo o diagnóstico do Site
dos tardiamente (estágios III e IV) no
cabeça e o pescoço. 2021. Câncer de Cabeça e Pes-
brasil.
coço
Destacam-se duas leis e seus benefí-
Descrever estratégias ne- cios para a população. A Lei nº
Mario Jorge Sobreira da
cessárias para o fortaleci- 14.238, de 19 de novembro de 2021,
SILVA; Anke BERGMANN.
mento das políticas públi- que instituiu o estatuto da pessoa
Novos Rumos da Política de Editorial
cas e priorizar medidas com câncer; e a Lei nº 14.308, de 8
Controle do Câncer no Brasil,
para o controle do câncer de março de 20228, que instituiu a
2022.
no Brasil. Política Nacional de Atenção à Onco-
logia Pediátrica.
Continua...
Tipo de
AMORIM, ITURRI, LIMA e COSTA | Capítulo 13

estudo ou
Autor / Título / Ano Objetivo Principais achados
documento
ou material
Mapear o fluxo de atendi-
mento da paciente com
Apesar do SUS oferecer diversas
câncer de mama na Insti-
ações para controle da neoplasia, ob-
Janaína Batista Almeida tuição e analisar os inter-
serva-se que o prazo estabelecido
MAGALHAES. Análise dos valos de diagnóstico e tra-
pela legislação para acesso ao trata-
intervalos de diagnóstico e tamento do câncer de
mento após confirmação diagnóstica
tratamento no itinerário mama, em mulheres aten- Trabalho de
não está sendo totalmente cumprido.
terapêutico de pacientes didas entre janeiro de mestrado
O não cumprimento da legislação
ambulatoriais com câncer de 2018 e dezembro de 2020

_______
configura omissão e pode resultar

271
mama em um hospital em um Hospital Universi-
em ação de responsabilização dos
universitário federal, 2022. tário Federal (HUF), consi-
gestores públicos, considerando os
derando a Lei nº
danos causados à saúde.
12.732/2012 e o contexto
da pandemia de Covid-19.
Fonte: Autores
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

cada ano do triênio em destaque para a região sul e sudeste do


Brasil que concentram cerca de 70% da incidência (INCA, 2022).

A Lei nº 12.732/2012, que ampara o paciente com direito a


confirmação do diagnóstico de câncer por meio da realização de
exames em até 60 dias em casos que a principal hipótese seja
neoplasia maligna. Apesar de a lei expor todo o caminho dos
direitos dos pacientes, grande parte dos que recorrem ao SUS já
estão em estágio avançado (Brasil, 2012; Finger; Limberger, 2019).

No site “Observatório de Oncologia”, que é uma plataforma


on-line que expõe e monitora os dados abertos e compartilha as
informações relevantes da área de oncologia do Brasil, descreveu
que o câncer, por exemplo, de cabeça e pescoço tem aumentado
significativamente devido à busca tardia das pessoas ao serviço de
saúde por não ter informações que os levem a procurar por ajuda.
Outro ponto abordado é o estadiamento desses pacientes quando
chegam aos centros por ajuda, em grande maioria já estão em
estágio III ou IV. E mesmo com a Lei dos 30 dias, Lei nº
13.896/2019, que auxilia no direito do paciente em realizar
exames confirmatórios no prazo de 30 dias os números de
diagnósticos tardios estão aumentando (Lobo, 2021).

Segundo os registros do INCA nos anos entre 2014-2018,


cerca de 48% dos pacientes foram diagnosticados tardiamente em
estágio III e IV. E seguem relatando que apenas cerca de 27,8% dos
pacientes receberam o diagnóstico em até 30 dias. Isso configura
como o acesso aos serviços especializados é de difícil acesso e o
que foi observado é o não cumprimento da lei, seja ela dos 60 dias
para o diagnóstico ou os 30 dias para o diagnóstico e o acesso ao
início do tratamento (Lobo, 2021).

272
AMORIM, ITURRI, LIMA e COSTA | Capítulo 13

Finger e Limberger (2019) relatam que a saúde pública é


caótica no país, quando se trata de diagnóstico e tratamento de
câncer não é diferente; pois, segundo a pesquisa, os pacientes
recebem o diagnóstico tardiamente o que dificulta o tratamento
adequado e impossibilita muitas vezes que esses pacientes
alcancem cura. Em uma pesquisa realizada em 2015 com pacientes
do sistema de saúde pública, entre 10 pacientes 6 declararam
como péssimo o tempo de espera de tratamento para câncer,
destacando o tempo de espera para tratamento a maior
adversidade enfrentada (Finger; Limberger, 2019).

Perottoni (2018) afirma que a Lei dos 60 dias alcançou


algum grau de implementação, apesar disso, foi apurado que o SUS
mesmo estando absorvendo pacientes e tendo ampliado a
assistência, o crescimento da oferta de serviço não foi na mesma
proporção do crescimento e demanda do serviço.

A Lei nº 12.715/2012 foi regulamentada pelo Decreto nº


7.988/2013 e atualizado pela Portaria de consolidação do
Ministério da Saúde nº 05/2017, anexo lXXXVi, que revogou a
Portaria GM/MS nº 1.550/2014 institui o Programa Nacional de
Apoio à Atenção Oncológica (Brasil, 2012). Segundo Silva et al.
(2017), existe falta de investimento na ampliação da oferta de
serviços.

Segundo nota técnica da CONASS (2013), mostrou-se que


a análise feita nos serviços de oncologia é insuficiente e que há
desigualdade oncológica (CACON e UNACON) nas regiões do
Brasil, em especial nos serviços de radioterapia disponibilizados
pelo Ministério da saúde, não houve sucesso na expansão desses
exames conforme foi proposto. Quanto às cirurgias oncológicas,

273
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

foram alteradas segundo a revisão e pactuação na CIT de


dezembro de 2012, publicada na Portaria nº 947/2012, que incluiu
na tabela de procedimentos do SUS. E então surgem os desafios
de implementação, como: disposição e expansão dos serviços nos
estados e municípios para incorporar os novos tratamentos e
garantir o acesso à quimioterapia e radioterapia.

Quanto à Lei nº 14.308, de 8 de março de 2022, em 2016 o


estudo de Magalhães et al. (2016) já relatava a ineficiência das
políticas quanto ao atendimento aos pacientes da oncologia
pediátrica no Brasil, em que não havia avanços nos cuidados e na
prestação de atendimento a esse setor. Foi relatado dificuldade de
organização do acesso assistencial e na disponibilidade de dados e
deixou registrada a necessidade de leis com envolvimento de
diversos atores e interessados na ampliação da relevância desse
tema nas agendas de saúde em nosso país, para acelerar avanços
concretos na sobrevida de crianças e adolescentes que dependem
do Sistema Único de Saúde no Brasil.

Como a lei é nova, há grandes expectativas de melhorias


para a saúde das crianças e adolescentes, segundo Silva e
Bergmann (2022) a oncologia pediátrica necessita de grandes
melhorias ainda para que tenha maior efetividade do cuidado e da
qualidade de vida desses pacientes. Expectativas foram levantadas
quanto a essa normativa exatamente por buscar o favorecimento
da implementação que objetiva ampliar o acesso precoce ao
diagnóstico dessas crianças e serem encaminhados ao tratamento
mais rápido para obter prognóstico favorável aos pacientes que
enfrentam o câncer na infância e na adolescência.

Conforme informação fornecida pelo INCA, estima-se que

274
AMORIM, ITURRI, LIMA e COSTA | Capítulo 13

em 2018-2019 no Brasil houve cerca de 12.500 novos casos de


câncer infanto-juvenil, o que corresponde a 3% de casos de
neoplasias no país. Apesar de o índice de cura de neoplasias no país
ser alta, ainda é a segunda causa de óbito na faixa etária de 0 a 19
anos (Rezende; Neves, 2018).

Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS,


2021), o câncer infantil faz muitas vítimas todos os anos na
América e no mundo. Infelizmente no período da pandemia de
Covid-19, os serviços de atendimento a crianças com câncer foram
gravemente interrompidos em mais de 20 países das Américas.
Felizmente esses serviços já voltaram ao normal, pois com o risco
desses pacientes desenvolver o Covid-19 de forma mais grave é
grande e pode levá-los a óbito.

O OPAS (2021) forneceu uma visão geral da situação,


declarando que cerca de 280 mil crianças de zero a 19 anos são
diagnosticadas com câncer em todo o mundo, em concordância a
Agência Internacional para Pesquisa em Câncer (IARC), da
Organização Mundial da Saúde (OMS), declarou que de 29 mil
crianças diagnosticadas com câncer 10 mil morrerão, e isso poderia
ser evitado.

O diretor do OPAS (2021), Anselm Hennis, declarou que


“um diagnóstico de câncer infantil não precisa mais ser uma
sentença de morte”. A ciência tem avançado muito nos últimos
anos, principalmente em diagnósticos e tratamentos precoces, isso
salva vidas, mas na prática precisa ser para todos, declarou.

As mortes por câncer infantil são evitáveis, mas não são por
falha no diagnóstico tardio ou incorreto, ou ainda por limitações no
cuidado, ou até abandono ao tratamento. Os tipos mais comuns
275
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

em crianças são câncer cerebral, leucemia, linfoma e tumores


sólidos, tumor Wilms um tipo raro de câncer renal que afeta as
crianças. O OPAS (2021), com intuito de ajudar de alguma forma
com esses problemas, lançou um curso sobre o diagnóstico de
câncer precoce em crianças e adolescentes para que profissionais
de saúde da atenção primária sejam capacitados para detectar
precocemente o câncer em tempo hábil para que as crianças
tenham oportunidade de tratamento.

Quanto à Lei nº 14.335/2022, foi criada para alterar a Lei


nº 11.664/2008, para dispor sobre a atenção integral à mulher na
prevenção dos cânceres do colo uterino, de mama e colorretal. Em
2013 por meio da nota técnica do CONASS (2013) foi descrito
preocupação com a necessidade de ampliação no número dos
exames citopatológicos para o diagnóstico do câncer de colo
uterino. Por meio de nota de preocupação, professores e
estudiosos da Universidade Estadual de Campinas descreveram a
preocupação com essa lei alegando não ter base técnica e
científica dos benefícios de os exames serem feitos em mulheres
muito jovens, já que a lei sugere que os exames sejam feitos a partir
da puberdade. Porém é uma colocação que não faz sentido quando
avaliado o número de casos nessa faixa etária devido à baixa
prevalência de câncer nesse grupo específico. Cabe aqui relatar
que o rastreamento desnecessário em mulheres abaixo de 25 anos
pode significar tratamentos dispensável e um comprometimento
futuro reprodutivo da mulher (Zeferino et al., 2022).

Quando incluídas mulheres jovens ao sistema para esse


rastreamento precoce ainda sem comprovação, gera-se ao sistema
de saúde sobrecarga, e o sistema atual já está sobrecarregado.
Com isso, corremos o risco de que esta lei gere desperdícios de
276
AMORIM, ITURRI, LIMA e COSTA | Capítulo 13

recursos financeiros ao disponibilizar exames que podem acarretar


mais danos do que benefícios e poderão prejudicar mulheres com
mais idade e casos mais graves, pois as vagas estarão ocupadas por
jovens cujo benefício é incerto e ainda inexistente (Zeferino et al.,
2022).

Vale ressaltar que os exames de câncer colorretal


direcionado a mulheres também ocorrem em homens, mas o SUS
não implementou ainda rastreamento e prevenção para homens,
mas esse rastreamento específico não será na puberdade, e sim a
partir de 45 anos (Zeferino et al., 2022). Por fim, é importante
debater sobre esse ponto da baixa cobertura de rastreamento e
priorizar o grupo de mulheres de faixa etária de maior risco, pois
as taxas de mulheres com diagnóstico com estágios avançados de
câncer de mama, colo do útero e cólon-reto, são inaceitáveis.

As políticas públicas são traduzidas por meio da


implementação que ocorre num processo dinâmico e não linear,
dando ação às decisões. Com isso, é necessário que sejam feitas
avaliações das atividades que foram determinadas pelos atores
estatais e sociais, a fim de determinar como a política está sendo
efetiva na prática e confirmar o seu desempenho positivo
(Magalhães et al., 2016).

Essas avaliações acontecem para que os resultados


retroalimentem a criação de novas políticas e/ou por meio das
implementações e o aprimoramento da política, a lei seja
reformada ou revogada, é o que está fazendo o Tribunal de Contas
da União. Contudo, o acesso é restrito as informações sobre as
deficiências na implementação nas políticas Nacional de atenção
Oncológica. Por isso a limitação encontrada pela autora em expor

277
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

o andamento das ações quanto às leis que auxiliam os pacientes e


como elas são orquestradas na prática. É nítido o aumento do
número de casos de pacientes que chegam para tratamento em
estágio bem avançado por falta de informação e orientação, falta
de um diagnóstico bem-feito e humanizado (Lobo, 2021).

Os resultados encontrados a partir dos artigos e estudos


lidos falam de forma unânime em reforçar aos profissionais de
saúde a necessidade do diagnóstico precoce, que inclui uma
estratégia de rastreamento que aumentaria a possibilidade de cura
para alguns tipos de câncer, além de fornecer ao paciente a
oportunidade de reduzir a morbidade resultante da doença e de
seus tratamentos, diminuindo os custos de tratamentos e custos
previdenciários (Finger; Limberger, 2019, Lobo, 2021; Silva;
Bergmann, 2022).

Quanto maior a demora na realização dos exames para


determinar o estadiamento da doença e encaminhar ao
oncologista, maiore é a dificuldade em decidir um tratamento
apropriado e iniciar um protocolo de tratamento. Já em 2018 se
apontavam alguns fatores determinantes dos atrasos no
diagnóstico e início de tratamento de neoplasias malignas: carência
de profissionais adequadamente capacitados - relacionada com
dificuldades de educação continuada; despreparo da atenção
primária no rastreamento precoce nos casos de câncer,
demorando seu encaminhamento à atenção especializada, e
deficiências na prevenção dessas doenças (Perottoni, 2018). A
persistência desses fatores pode explicar os achados pesquisa
doutoral de Magalhães (2022) apontando que 66,7% dos pacientes
de câncer de um hospital universitário federal iniciavam seus
tratamentos depois da data estipulada por lei.
278
AMORIM, ITURRI, LIMA e COSTA | Capítulo 13

Essa falta de estrutura e falta de investimento na prevenção


vem deixando prejuízos para ambos os lados, pacientes
diagnosticados tardiamente têm tratamentos prolongados,
gerando prejuízos para pacientes e para todo o país. O que leva ao
aumento de gastos com os tratamentos, ainda é preciso levar em
conta os prejuízos financeiros devido aos custos previdenciários
decorrentes do período prolongado de afastamento para
tratamento (Finger; Limberger, 2019).

É difícil falar de tratamento sem comparar o Brasil com


outros países, por exemplo, no Canadá o tempo estimado de início
de tratamento de pacientes com neoplasias malignas é de iniciar a
radioterapia em até 28 dias a contar do dia que esse paciente foi
lançado ao sistema. Segundo Finger e Limberger (2019), no ano de
2009 cerca de 88% dos pacientes com neoplasias maligna no
Canadá conseguiram começar o tratamento dentro dos 30 dias do
limite imposto por lei. Mas aqui no Brasil não ocorre assim devido
a diversos fatores.

Um deles é a deficiência que há no sistema do SUS devido


algumas unidades não terem nem acesso ao Sistema de informação
do Câncer (SISCAN), no qual são inseridos os pacientes para serem
encaminhados para o tratamento, cerca de 34% das unidades não
dispõem desse recurso e, com isso, não há o cumprimento do prazo
legal. Outro ponto é que o SUS não tem capacidade de oferecer
tratamento em períodos semelhantes como o Canadá. Em
continuidade, Finger e Limberger (2019) afirmam que é preciso
que haja a aplicação de recursos para que alcance o maior número
de pessoas que necessitam desses serviços públicos. Todas essas
demandas não alcançadas se voltam para a falta de efetividade das
leis.
279
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

O SUS oferece diversas ações para pacientes com câncer,


porém o que vimos nos estudos é a falta de cumprimento dos
prazos em vários desses serviços. De acordo com a literatura aqui
analisada, quanto maior o tempo de espera para iniciar o
tratamento, menores as chances de cura e sobrevida dos pacientes
com câncer.

Rezende e Neves (2018) já haviam descrito que cerca de


70% das crianças poderiam ser curadas se fossem diagnosticadas
precocemente e tratadas em centros especializados em oncologia
pediátrica, ou seja, independentemente da idade do diagnóstico,
quanto antes fosse feito maior seria a chances de sobrevida.

CONCLUSÃO

Ficou exposto por meio do estudo o quanto a medicina vem


crescendo e desenvolvendo mais e mais recursos para a luta contra
o câncer, afinal não é um problema particular de um país, e sim um
terror mundial. Porém, avaliando as leis com tantos direitos para
os pacientes com diagnóstico de câncer, ficou clara a necessidade
de melhorias na prática efetiva dessas leis. Quanto ao diagnóstico
precoce, que haja diminuição no tempo de espera para o início do
tratamento, a necessidade de preparo dos profissionais desde a
saúde primária em fazer o diagnóstico e encaminhamentos em
tempo oportuno e orientações aos pacientes e seus familiares, já
que vimos que para muitos faltam até o básico como acesso ao
sistema.
280
AMORIM, ITURRI, LIMA e COSTA | Capítulo 13

Então a falta de implementação em muitos casos é devido à


falta de recursos, falta de orientação por parte de profissionais,
necessidade de maiores ações governamentais, falta de
conhecimento por parte dos usuários, pois com o
desconhecimento de direitos expostos em leis por parte dos
usuários leva a falta de denúncias para que haja rigor em
cumprimentos de prazos.

O não cumprimento da lei deve gerar responsabilização


para os gestores públicos, pois devem ser levados em consideração
os danos causados à saúde, o que configura omissão de serviços
que deveriam ter sido ofertados aos usuários em tempo hábil sem
causar danos na qualidade de vida ou até na perda da vida por
demora em serem supridos em suas necessidades dentro do
quadro da doença.

É importante que outros estudos sejam feitos em prol de


mostrar a não efetividade das leis brasileiras voltadas para os
direitos dos usuários do SUS quanto ao tratamento de câncer.

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281
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI
BRASIL. Lei nº 12.715, de 17 de setembro de 2012. Altera a alíquota das
contribuições previdenciárias sobre a folha de salários devidas pelas
empresas que especifica; institui o Programa de Incentivo à Inovação
Tecnológica e Adensamento da Cadeia Produtiva de Veículos
Automotores, o Regime Especial de Tributação do Programa Nacional de
Banda Larga para Implantação de Redes de Telecomunicações, o Regime
Especial de Incentivo a Computadores para Uso Educacional, o Programa
Nacional de Apoio à Atenção Oncológica e o Programa Nacional de
Apoio à Atenção da Saúde da Pessoa com Deficiência; restabelece o
Programa Um Computador por Aluno; altera o Programa de Apoio ao
Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores,
instituído pela Lei nº 11.484, de 31 de maio de 2007; altera as Leis nºs
9.250, de 26 de dezembro de 1995, 11.033, de 21 de dezembro de 2004,
9.430, de 27 de dezembro de 1996, 10.865, de 30 de abril de 2004,
11.774, de 17 de setembro de 2008, 12.546, de 14 de dezembro de
2011, 11.484, de 31 de maio de 2007, 10.637, de 30 de dezembro de
2002, 11.196, de 21 de novembro de 2005, 10.406, de 10 de janeiro de
2002, 9.532, de 10 de dezembro de 1997, 12.431, de 24 de junho de
2011, 12.414, de 9 de junho de 2011, 8.666, de 21 de junho de 1993,
10.925, de 23 de julho de 2004, os Decretos-Leis nºs 1.455, de 7 de abril
de 1976, 1.593, de 21 de dezembro de 1977, e a Medida Provisória nº
2.199-14, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências. Brasília:
Presidência da República, 2012. Disponível em: <https://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12715.htm>. Acesso em: 10
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_______. Lei nº 12.732, de 22 de novembro de 2012. Dispõe sobre o


primeiro tratamento de paciente com neoplasia maligna comprovada e
estabelece prazo para seu início. Brasília: Presidência da República, 2012.
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BRASIL. Lei nº 12.802, de 24 de abril de 2013. Altera a Lei nº 9.797, de

282
AMORIM, ITURRI, LIMA e COSTA | Capítulo 13
6 de maio de 1999, que “dispõe sobre a obrigatoriedade da cirurgia
plástica reparadora da mama pela rede de unidades integrantes do
Sistema Único de Saúde - SUS nos casos de mutilação decorrentes de
tratamento de câncer”, para dispor sobre o momento da reconstrução
mamária. Brasília: Presidência da República, 2013. Disponível em:
<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l128
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_______. Lei nº 13.767, de 18 de dezembro de 2018. Altera o art. 473 da


Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei nº
5.452, de 1º de maio de 1943, a fim de permitir a ausência ao serviço
para realização de exame preventivo de câncer. Brasília: Presidência da
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_______. Lei nº 13.896, de 30 de outubro de 2019. (Altera a Lei nº 12.732,


de 22 de novembro de 2012, para que os exames relacionados ao
diagnóstico de neoplasia maligna sejam realizados no prazo de 30 (trinta)
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Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022
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_______. Lei nº 14.238, de 19 de novembro de 2021. Institui o Estatuto


da Pessoa com Câncer e dá outras providências. Brasília: Presidência da
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de 29 de abril de 2008, para dispor sobre a atenção integral à mulher na
prevenção dos cânceres do colo uterino, de mama e colorretal. Brasília:
283
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI
Presidência da República, 2022. Disponível em: <https://www.planalto.
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287
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

288
Capítulo 14 |
A PLATAFORMA INSTAGRAM COMO
FERRAMENTA PARA DIVULGAÇÃO
DE CONHECIMENTO SOBRE
SUSTENTABILIDADE – A
EXPERIÊNCIA DO PERFIL
@gestao.ambiental.unb

Flávia Nogueira de Sá1

Vitória Cristhina da Silva Santos2

Júlia de Sousa Vale3

1
Professora Adjunta da Universidade de Brasília (UnB). Brasília. Distrito Federal.
Brasil. Doutora em Ecologia.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/2619903294347515
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6135-4537
Correio eletrônico: [email protected]
2
Graduanda em Gestão Ambiental na Universidade de Brasília (UnB). Brasília.
Distrito Federal. Brasil.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3678951045972141
Correio eletrônico: [email protected]
3
Graduanda em Gestão Ambiental na Universidade de Brasília (UnB). Brasília.
Distrito Federal. Brasil.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/1018581466001795
Correio eletrônico: [email protected]
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

INTRODUÇÃO

Com a pandemia da Covid-19 e seus lockdowns, houve uma


mudança no uso dos espaços educacionais, sendo os espaços
virtuais rapidamente ocupados (Caspari, 2022). Professores
tiveram que diversificar os recursos educacionais e assim as redes
sociais foram definitivamente incorporadas nos métodos de
aprendizagem (Caspari, 2022).

As redes sociais representam uma forma de comunicação


pela internet e referem-se a uma categoria de ferramentas e
plataformas que facilitam o compartilhamento de informações,
ideias, discussões, em diversas formas de conteúdo (como texto,
vídeo, áudio e imagem), seja através de mensagens pessoais ou não,
sempre de uma forma muito conveniente (Faizi et al., 2013;
Britannica, 2024).

Na verdade, este tipo de mídia já era onipresente e parte


integrante da vida diária de milhões de pessoas em todo o mundo
e tinha um grande impacto nos diferentes aspectos de nossas vidas
pessoais e profissionais (Faizi et al., 2013) antes mesmo da
pandemia. Na última década, as redes sociais online (RSO) e as suas
aplicações penetraram na nossa vida quotidiana, transformando o
modo de vida dos jovens, ao mesmo tempo que se tornaram um
dos mais importantes meios de comunicação e entretenimento
(Zachos et al., 2018). Em 2024, mais de 5 bilhões de pessoas ao
redor do mundo usavam redes sociais e estima-se que o número
de usuários chegue a quase 6 bilhões em 2028 (Statista, 2024).
Provavelmente, por esses motivos, foram tão facilmente e
rapidamente incorporadas nos processos educacionais.
290
NOGUEIRA-DE-SÁ, SANTOS e VALE | Capítulo 14

As primeiras redes sociais surgiram no início da década de


1970 com o e-mail e os programas de chat. Mas foi no início do
século 21 que surgiu o sítio mais popular de rede social, com
bilhões de usuários ao redor do mundo, o Facebook (Britannica,
2024). Outras formas de redes sociais surgiram para o
compartilhamento de tipos específicos de conteúdo, – como o
exemplo do YouTube para compartilhar vídeos, o TikTok, para
vídeos curtos e o LinkedIn para permitir conexão profissional
(Britannica, 2024).

As redes socais como ferramentas educacionais


Considerando que um grande número de utilizadores da
Internet são jovens, potencialmente professores e estudantes
(Faizi et al., 2013) e que nos últimos anos, surgiram novas formas
de procurar conhecimento utilizando redes sociais, tanto na
aprendizagem formal como informal (Zachos et al., 2018), pode-se
dizer que as redes sociais já influenciam bastante a forma como se
ensina e aprende (Faizi et al., 2013). As RSO já são utilizadas como
fonte de informação para estudantes de diferentes níveis.

Existe um amplo consenso na comunidade científica de que


as mídias sociais têm o potencial de beneficiar e prejudicar crianças
e adolescentes (OSG, 2023). Por essa razão, muito se discute sobre
os efeitos negativos que o excesso de exposição às redes sociais
causa nas pessoas, especialmente as mais jovens. Em função disso,
muitos professores são reticentes ao uso dessas ferramentas no
ensino. No entanto, trabalhos recentes têm mostrado que as redes
sociais podem trazer benefícios para alguns jovens,
proporcionando uma comunidade positiva e uma ligação com
291
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

outras pessoas que partilham identidades, capacidades e


interesses (OSG, 2023). Também tem se demonstrado o impacto
positivo das RSO nos processos educativos, principalmente no
ensino superior (Zachos et al., 2018) e que, portanto, as redes
sociais podem ser valiosas na interação entre professores e
estudantes e no compartilhamento de conhecimento. Por exemplo,
as RSO podem melhorar a comunicação entre alunos e entre
professores e alunos (Rozen, 2018). Graças a estas tecnologias, os
alunos, que frequentemente se queixam de estarem intimidados
ou entediados com métodos tradicionais em sala de aula, podem
interagir com colegas em questão de segundos. Outra grande
vantagem do uso dos aplicativos de mídia social para fins
educacionais é que eles promovem a colaboração, permitem que
os alunos trabalhem juntos para alcançar um objetivo comum (Faizi
et al., 2013; Rozen, 2018).

No entanto, assim como acontece em outras redes sociais,


juntamente com os seus vários usos e benefícios para os
educadores, existem desafios potenciais. Desafios em função da
distinção de conteúdos confiáveis, para evitar o discurso violento
ou menos amistoso e a formação de comunidades com objetivos
negativos são alguns deles (Carpenter et al. 2020). Em um trabalho
de revisão para entender a qualidade da informação na
comunicação por redes sociais Afful-Dadzie et al. (2023)
concluíram que a natureza casual, sem regras e individualista das
RSO explicam os diferentes níveis de qualidade da informação
divulgadas, entre elas algumas falsas.

292
NOGUEIRA-DE-SÁ, SANTOS e VALE | Capítulo 14

O Instagram
Criado em 2010, o Instagram é um serviço de rede social de
compartilhamento de fotos e vídeos em que os usuários acessam
o serviço por meio de um aplicativo ou interface da web. O
aplicativo desde então tem crescido, tendo hoje mais de 1 bilhão
de usuários por mês (Caspari, 2022). É conhecido por seus recursos
visuais atraentes e interações sociais fáceis (Pratiwi; Suhermanto,
2023), o que facilita a formação de “comunidades” – um conjunto
de usuários interessados em determinado tema. A rede social
oferece mensagens privadas, a opção de marcar conteúdo com
hashtags pesquisáveis e algumas diferentes formas de publicações,
portanto de se expressar:

1. Story: permite o compartilhamento de momentos


cotidianos e se aproximar de pessoas e ideias que possam
interessar, através de fotos e vídeos que desaparecem
em 24 horas (Instagram, 2024). Este recurso permite que
indivíduos se comuniquem com outros usuários de
maneiras que variam em privacidade e formalidade
(Carpenter et al. 2020).
2. Feed: seção do aplicativo que reúne as atualizações de
fotos e vídeos publicados em perfis que o usuário segue
ou de outros sugeridos pelo aplicativo, que são
relevantes de acordo que seus interesses. Podem contar
até 10 fotos / vídeos por postagem de perfis pessoais ou
20, se perfil é comercial.
3. Reels: compartilhamento de vídeos de até 90 segundos
criados no Instagram ou de outra forma. É considerada a
melhor forma de criadores de conteúdo encontrar a sua

293
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

comunidade, que é engajada e alinhada com interesses


comuns (Instagram, 2024).

O Instagram é uma das redes sociais mais populares no


mundo (Planer et al., 2023; Pratiwi; Suhermanto, 2023), tendo sido
escolhida como mídia social de informação e publicação por
possuir recursos que permitem aos usuários atingir grandes
públicos, além de interagir em tempo real (Pratiwi; Suhermanto,
2023), conforme mencionado. Também é mais frequentemente
usado por um público jovem, tendo a maioria dos usuários entre
18 e 34 anos de idade (Dixon, 2022), grupo que tem crescido como
consumidor de notícias em redes sociais (Unicef, 2021).

Provavelmente por estas razões, o Instagram também tem


sido usado como uma ferramenta educacional por professores
(Rozen, 2018; Carpenter et al., 2020). Apesar de existirem alguns
aspectos negativos sobre o uso desta rede social, como por
exemplo a indicação de ter maior viés para as boas notícias de
grande interesse, sem dar destaque às mais difíceis (Al-Rawi et al.
2021) e também de resultados de diversos estudos que sugerem
uma forte ligação entre o intenso uso de redes sociais em geral e o
aumento de depressão, ansiedade, solidão, tendências suicidas e
sentimento de inadequação (Britannica, 2024), vantagens
educacionais sobre a utilização das redes sociais ainda podem
superar os fatos mencionados, além de aproximar estudantes e
professores. O Instagram tem um aspecto interessante em relação
à outras redes sociais de ser igualmente difusor de imagens e
conteúdo. Apesar de ser uma plataforma predominantemente
visual, com a possibilidade de inclusão de imagens, gráficos e até
mesmo vídeos, também é possível inserir um texto embaixo do
recurso visual e fazer uso das hashtags para direcionar o leitor
294
NOGUEIRA-DE-SÁ, SANTOS e VALE | Capítulo 14

sobre a interpretação e posicionamento do autor (Hermida;


Mellado, 2020). Outra característica interessante para o difusor de
conteúdo é a possibilidade de comentar – e por isso poder interagir
com os leitores – e, também, de repostar conteúdos através dos
Stories. Neste sentido, Carpenter et al. (2020) reportou que uma
das motivações para o uso do Instagram profissionalmente pelos
professores seria a de olhar para ideias e conteúdos
compartilhados por outros educadores, aprendendo com a
sabedoria e experiência de outros educadores (Carpenter et al.,
2020). No entanto, deve-se lembrar que o compartilhamento de
informações é um aspecto que merece atenção dos usuários, e o
cuidado ao fazê-lo deve ser fortemente instruído pelos professores.
Infelizmente, as redes sociais têm sido o principal meio para a
difusão das informações falsas, especialmente nos últimos tempos
com a chegada da Inteligência Artificial, que as cria e passam a
diante. Os professores ou difusores de conteúdo devem sempre
chamar atenção aos usuários sobre este cuidado e, também,
orientar como buscar fontes seguras e confiáveis de informação.
Por exemplo, Afful-Dadzie et al. (2023) invocaram que
profissionais ou instituições de saúde se envolvam mais
ativamente na comunicação para evitar a circulação de informação
de má qualidade nessas mídias. Nesta mesma linha de pensamento,
deixamos a sugestão que a informação deve ser adquirida em
perfis/contas de profissionais ou instituições reconhecidas e que o
número de seguidores não seja um parâmetro.

Por fim, é importante entender que, apesar da alta difusão


das falsas notícias nas redes sociais, estas, inclusive o Instagram,
ainda são usadas por instituições de educação (Pratiwi;
Suhermanto, 2023), de ciência e até mesmo para o jornalismo sério

295
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

e de qualidade (Hermida; Melado, 2020; Planer et al., 2023). Por


isso, mesmo profissionais da área da Educação concordam que as
vantagens do uso da rede social Instagram compensam as
dificuldades e desafios encontrados (Carpenter et al., 2020).

Considerando a grande influência das redes sociais nos


jovens, a coordenação do bacharelado em Gestão Ambiental da
Universidade de Brasília (UnB) abriu um perfil no Instagram para
aprimorar a comunicação com os estudantes e divulgar
informações pertinentes ao curso. Neste capítulo, vamos
apresentar nossa percepção sobre esta experiência e trazer
resultados sobre como o perfil evoluiu e como vem influenciando
os seus seguidores.

DESENVOLVIMENTO

Conforme mencionado anteriormente, as redes sociais hoje


fazem parte do dia a dia das pessoas, especialmente os jovens. Em
todo lugar, é comum ver as páginas de redes sociais nos celulares
das pessoas ao longo de todo o dia para trocar mensagens, ver
notícias, ou simplesmente passar o tempo (Budiwarman, 2021).

Atualmente, o planeta passa por uma crise climática e


ambiental, sentida pelas enchentes, ondas de temperaturas
extremas, entre outros eventos que são reportados em todas as
partes do mundo. No ponto em que a crise se encontra, a solução
não está mais nas mãos somente dos cientistas ou dos políticos,

296
NOGUEIRA-DE-SÁ, SANTOS e VALE | Capítulo 14

mas sim é uma responsabilidade de todos. Muitas das ações que


levam à proteção do planeta, são discutidas e tratadas no curso de
Gestão Ambiental. Por isso, o conjunto dos seus professores
representa uma fonte valiosa de conhecimento que hoje é tão
importante ser assimilado no dia a dia das pessoas. Muitos
educadores também usam o Instagram para organizar uma
comunidade de interesses e objetivos em comum (Carpenter et al.,
2020). E este é um dos principais objetivos do perfil
@gestao.ambiental.unb hoje: reunir pessoas interessadas em
praticar os hábitos sustentáveis para divulgar informações e trocar
ideias sobre isto. Ao mesmo tempo, os administradores do perfil
acreditam que esta divulgação pode chamar a atenção de jovens
que estejam em fase de escolha da profissão e, conhecendo melhor
a importância e aspectos mais teóricos da sustentabilidade,
possam escolher cursos com o viés ambiental.

Recentemente, os termos sustentabilidade e


desenvolvimento sustentável se tornaram tópicos importantes em
quase todas as atividades humanas (Geraldo; Pinto, 2020). Por isso,
promover o conhecimento sobre sustentabilidade e os benefícios
do desenvolvimento sustentável pode levar à sociedade
compreender o que podemos fazer para se beneficiar e beneficiar
o planeta (Geraldo; Pinto, 2020).

Muitos não sabem que o conceito de sustentabilidade não


surgiu do movimento ambientalista, mas sim um produto de uma
reação contra o radicalismo deste movimento, que não somente
propunha limites ao crescimento econômico, como enfatizava a
necessidade de uma regulação como forma de reduzir a
degradação ambiental (Castro, 2004). O desenvolvimento
sustentável foi colocado em evidência pelas Nações Unidas, por
297
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

uma comissão que produziu o Relatório Brundtland, que o definia


simplesmente como o desenvolvimento “que preenche as
necessidades da geração presente sem comprometer as gerações
futuras de preencherem suas necessidades” (Castro, 2004). Desde
então, o conceito foi debatido em diferentes reuniões
internacionais para que se chegasse a um formato mais preciso.
Hoje o termo sustentabilidade se refere a um conceito que abrange
três dimensões – a social, a econômica e ambiental (Budiwarman,
2021).

Sendo essas exatamente as três dimensões abordadas no


curso de Gestão Ambiental, da UnB, hoje o nosso perfil se dedica
mais frequentemente a divulgar o conhecimento na economia, no
bem-estar social e o funcionamento dos sistemas naturais como
forma a engajar seus seguidores, tornando-os cidadãos capazes de
atuar de forma a contribuir com os objetivos globais de promover
o bem-estar socioeconômico e ambiental (Geraldo; Pinto, 2020).

O perfil de Instagram do bacharelado em Gestão Ambiental


da UnB – @gestao.ambiental.unb – foi criado em junho de 2021 e
foi utilizado de forma não sistemática pela coordenação de curso
até meados de 2022 para divulgar informações relacionadas aos
trabalhos de professores e estudantes ou temas relacionados ao
meio ambiente.

A demanda por uma maior profissionalização do perfil, com


o intuito de aprimorar a comunicação do curso tanto com a
comunidade interna quanto com a comunidade externa, surgiu
pela coordenação seguinte, que avaliou que o uso da plataforma
como ferramenta de comunicação estava muito aquém de suas
possibilidades. Naquele momento foram discutidos vários

298
NOGUEIRA-DE-SÁ, SANTOS e VALE | Capítulo 14

aspectos da presença virtual do curso, incluindo a definição de um


público-alvo e a melhor plataforma para alcançar este público.
Sobre o primeiro ponto, definiu-se que o projeto deveria ter dois
públicos em mente: aquele prestes a ingressar em um curso
universitário (o que inclui tanto jovens quanto adultos em busca de
capacitação) e a comunidade do campus, incluindo estudantes,
professores e técnicos.

A autora FNS deste capítulo, FNS e outro professor do


curso formaram um grupo com estudantes interessados em
contribuir para o perfil, discutindo-se inicialmente a definição de
pautas de conteúdo, a criação de identidade visual e a elaboração
de estratégias para alcançar público interno e externo à instituição.

Em um período de aproximadamente três meses (entre


setembro e dezembro 2022) essa equipe se reuniu
esporadicamente, estabelecendo ações prioritárias e começando a
atuar como um projeto informal. Como resultado desta ação, no
início de 2023 o perfil praticamente dobrou em número de
seguidores (saindo de pouco mais de 300 para mais de 500),
enquanto o engajamento cresceu de forma consistente, a taxa de
interação mensal chegou a 400 usuários distintos sendo que,
dentre estes, 100 não pertenciam ao grupo de seguidores do perfil
do projeto. Além disso, a interação por postagem saltou de
algumas dezenas para algumas centenas, por postagem, em um
indicativo do sucesso das ações tomadas até aquele momento.

Em relação à plataforma de redes sociais para divulgação do


curso, pode-se dizer que houve consenso quase imediato entre os
membros da equipe sobre o uso do Instagram, mas chegou-se a
discutir brevemente o uso do TikTok ou do Linkedin. Este último

299
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

foi descartado pela sua baixa adesão entre estudantes e


professores do curso, enquanto o TikTok não foi considerado,
tanto pela excessiva informalidade, quanto pelo uso exclusivo do
vídeo como mídia de comunicação, acerca do qual acreditávamos
demandar maior esforço e tempo para a criação de conteúdo.

Uma das primeiras modificações do grupo em relação ao


perfil existente, foi sua transformação para um perfil comercial,
além do seu próprio nome, passando de @gestao_ambiental_unb
para @gestao.ambiental.unb. Essa mudança foi importante no
contexto do Instagram, pois ela tornou o nome do perfil mais
atraente do ponto vista visual, facilitando tanto a sua digitação em
quaisquer dispositivos, quanto a sua memorização. Além disso, as
postagens no Feed em formato de carrossel, passaram a ter
presente o logotipo da UnB, campus Planaltina e começaram a
incluir um quadro final convidando o leitor a compartilhar o
conteúdo. Essas ações marcaram o início da nova fase do perfil,
tornando-o mais profissional e marcando a presença virtual do
curso de Gestão Ambiental da Universidade de Brasília no
Instagram.

Administradores de outros perfis que mantém grande


engajamento, mencionam que a frequência de postagens é um
aspecto muito importante para um perfil no Instagram, pois ela tem
um peso relevante no algoritmo que promove conteúdos na
plataforma (alcançando mais usuários). Considerando esta
demanda, a equipe se propôs a meta de manter três postagens
semanais, sendo pelo menos uma como conteúdo novo para o Feed
ou Reels. Desde então, essa meta tem sido mantida visando o
crescimento contínuo do perfil. A equipe se reúne periodicamente
para planejar as postagens do mês seguinte, considerando algum
300
NOGUEIRA-DE-SÁ, SANTOS e VALE | Capítulo 14

fato de interesse ambiental ou conteúdo de sustentabilidade. Em


função do tema de cada publicação, os estudantes do projeto são
colocados em contato com os professores do curso para discutir a
postagem e receber material atualizado para o conteúdo da
publicação.

MATERIAL & MÉTODOS

Como o perfil @gestao.ambiental.unb é profissional, é


possível ter acesso à diversos parâmetros sobre a sua performance
e alcance das postagens. A seguir, apresentaremos algumas
características sobre o alcance e seguidores do perfil, obtidos
através da sessão “insight” no próprio aplicativo.

RESULTADOS & DISCUSSÃO

Desde sua criação até a redação deste texto (setembro de


2024), o perfil já fez 179 postagens entre publicações no Feed,
Stories e Reels.

Em setembro de 2022, quando o perfil deixou de ser


somente uma ferramenta da coordenação do curso e passou a ter
a contribuição de estudantes do curso, tinha aproximadamente

301
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

300 seguidores. Hoje são 1.851, número que passou a crescer mais
intensamente em 2023 e 2024, depois que o perfil se tornou um
projeto de Extensão, sendo registrado no sistema da Universidade
de Brasília e tendo dois estudantes colaboradores bolsistas a cada
ano. Os seguidores estão distribuídos em diferentes faixas etárias,
desde adolescentes até idosos, apesar do maior público estar na
faixa dos jovens adultos (Figura 1).

Figura 1. Distribuição das classes etárias de seguidores do perfil


@gestao.ambiental.unb em setembro de 2024

Fonte: elaboração própria a partir de dados do Instagram (2024).

Apesar de alguns perfis terem uma identidade visual e/ou


padrão de grade, características que supostamente podem atrair
mais seguidores, houve uma tentativa no passado de criar uma
identidade, mas como não houve consenso entre os participantes
do projeto, a ideia foi abandonada para que cada membro do
projeto pudesse ter liberdade de criar as postagens seguindo o

302
NOGUEIRA-DE-SÁ, SANTOS e VALE | Capítulo 14

estilo que achar que melhor combina com a postagem (Figura 2).

Figura 2. Amostra da grade do perfil @gestao.ambiental.unb

Fonte: Instagram (2024).

303
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

Considerando os últimos três meses, o perfil teve


mensalmente em média 16,27 mil visualizações e promoveu
593,33 interações. Destas interações, 70,8% aconteceram com os
seguidores, mostrando que mesmo sem promover a publicação na
rede social, ainda atingimos um bom número de não seguidores.
Acreditamos que o aumento no número de seguidores e
visualizações está relacionado ao maior número de postagens,
além de serem feitas em uma periodicidade mais regular. Além das
interações promovidas pelas postagens, frequentemente
recebemos mensagens de usuários com dúvidas sobre o curso de
Gestão Ambiental e especialmente de empresas e parceiros
solicitando a divulgação de cursos na área, estágios e até
oportunidades de emprego.

O padrão de visualização dos diferentes tipos de publicação


é similar entre seguidores e não seguidores do perfil. Ambos
visualizam mais frequentemente os Stories, seguido pela
visualização dos Reels, seguidos pelo Feed. Por outro lado,
encontramos diferenças significativas (teste Kruskal-Wallis, P<
0,001) no número de curtidas para cada um dos tipos de
publicações. sendo o Story o tipo de publicação que gera
significativamente menos curtidas e as publicações dos tipos Reels
e Feed não se diferem significativamente (Figura 3).

Cada conjunto de 3 postagens na linha vertical representa


um período de 3 dias: 1. dia postagem do Reels, 2. dia anterior à
postagem do Reels em que um Feed e um Story tenham sido
postados e 3. dia seguinte à postagem do Reels em que um Feed e
um Story tenham sido postados. Número de asteriscos ao lado do
tipo de publicação quando diferentes, indica diferença significativa
no número de curtidas.
304
NOGUEIRA-DE-SÁ, SANTOS e VALE | Capítulo 14

Figura 3. Número de curtidas de 3 tipos de publicações, Reels, Story e


Feed, postadas em diferentes ocasiões

Fonte: elaboração própria a partir de dados do Instagram (2024).

CONCLUSÃO

O arqueologista Doutor Gino Caspari, administrador de um


perfil com 128 mil seguidores menciona que conhecer a o tipo de
conteúdo que sua audiência consome, além de identificar
características da plataforma são as chaves para uma comunicação
científica efetiva (Caspari, 2022). Esse trabalho é parte desse
mesmo esforço para o perfil @gestao.ambiental.unb. O histórico
do perfil e os resultados aqui reportados indicam que estamos no
caminho para alcançar cada vez mais usuários da plataforma
Instagram interessados no tema da Sustentabilidade. O
conhecimento apresentado neste capítulo sobre o nosso perfil e
como é acessado por seus usuários será empregado no futuro para

305
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

tentar aumentar ainda mais, difundir nosso conteúdo e contribuir


para o aumento de ações contra a crise que vivemos.

AGRADECIMENTOS

As autoras agradecem aos professores Luiz Felippe Salemi


e Marco Aurélio Alves Barbosa por, juntamente com FNS,
idealizarem o perfil estudado e pela parceria na administração e
produção de conteúdo nos seus anos iniciais. Também
agradecemos aos diversos estudantes que de alguma forma
contribuíram com postagens ou ideias, em especial Amanda dos
Santos Martins e Júlia Fontes Medeiros. Somos gratos à Extensão
da Faculdade UnB Planaltina pelo auxílio financeiro ao projeto e ao
Decanato de Extensão da Universidade de Brasília pelas bolsas
PIBEX.

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306
NOGUEIRA-DE-SÁ, SANTOS e VALE | Capítulo 14
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307
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI
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2023.

309
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

310
Capítulo 15 |
ANÁLISE HAZOP DE UM NOVO
SISTEMA AUTOMATIZADO
DESTINADO AO APROVEITAMENTO
DAS VÍSCERAS DE TILÁPIA DO NILO
PARA BIOCOMBUSTÍVEIS

Francisco de Assis da Silva Mota1

Antônio Bruno de Vasconcelos Leitão2

Clarissa Melo Lima3

1
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal. Piaui. Brasil. Doutor em
Automação.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9509458964109076
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2286-5289
Correio eletrônico: [email protected]
2
Universidade Federal do Piaui. Teresina. Brasil. Doutor em Engenharia
Mecânica.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/5567801490506745
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5770-942X
Correio eletrônico: [email protected]
3
Professora Auxiliar da Universidade Estadual de Goiás (UEG). Posse. Goiás.
Brasil. Doutora em Ciências Agrárias.
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/6917886925634086
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9940-8863
Correio eletrônico: [email protected]
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

INTRODUÇÃO

Atualmente a população mundial é estimada,


aproximadamente, em 7.318.413 habitantes. Com isso, a
necessidade de aumento na produção de alimentos e energia
tende a crescer de maneira compatível a suprir essas necessidades
do crescimento populacional. Estimativas revelam que será
produzir nos próximos 40 anos a mesma quantidade de alimentos
produzidos nos últimos 8.000 anos.

Neste contexto, de termos uma maior capacidade


produtiva, as produções de peixes em cativeiro veem ganhando
destaque tanto em produtividade como na geração de resíduos
(Mota et al., 2014). Atualmente, a produção mundial de peixes
ultrapassou a marca de 157 milhões de toneladas (FAO, 2024). No
entanto, a geração de resíduos tende a crescer na mesma
proporção. Segundo Gomes (apud Mota et al., 2014), na maioria
dos casos, os despejos do processamento de pescado são lançados
nos cursos de água adjacentes às indústrias sem um tratamento
adequado, contribuindo para a poluição do meio ambiente.

Dentre os peixes produzidos em cativeiro a Tilápia do Nilo


ganha destaque em termos de produtividade (Dias, 2009). Em
2013 a produção desta espécie no Brasil atingiu a marca de 250
mil toneladas (Sussel, 2013).

Como, aproximadamente, 4% do material pescado (tilápia)


poderão ser convertidos em óleo, estimasse uma produção mensal
de 8.400 toneladas de óleo de vísceras de tilápia por mês (Mota et
al., 2014). O restante de 6% corresponde ao percentual das

312
MOTA, LEITÃO e LIMA | Capítulo 15

vísceras na qual a parte proteica está inclusa. Ou seja, uma


produção de 12.500 toneladas mensais de rejeitos de vísceras de
tilápia sem qualquer utilização.

Na contramão da cadeira produtiva, são gerados


diariamente milhões de toneladas de rejeitos. Com isso, estudos
que venham a reutilizar o rejeito de materiais produtivos são
essenciais ao desenvolvimento sustentável. Dentro deste
enfoque, surge a necessidade de progressos tecnológicos
promotores da utilização de matérias-primas que possuam valor
agregado, alta capacidade de produção e custo competitivo. Tal
que, o resíduo ou subproduto gerado na exploração de um recurso,
possa vir a ser convertido em insumo de valor agregado para outra
indústria. Neste sentido, o aproveitamento dos resíduos do peixe,
as vísceras, para a produção de adubos (biofertilizantes), e
biodiesel, é uma ótima alternativa para suprir o déficit de matéria
prima e reduzir a poluição causada pela liberação dos resíduos nos
rios e solo (Arruda, 2004 e Costa et al., 2013).

Com isso, a utilização destes rejeitos, após trabalhos de


pesquisas que os qualificassem como matéria prima adequada a
produção de biodiesel (Silva, 1997, Völz et al., 2007 e Lima, 2008),
passa a ser uma nova fase de readaptação dos sistemas produtivos
e ajustes econômicos que venham a tornar a produção de
biocombustíveis viáveis. E, a utilização de meios de descarte em
aterros, segundo Martins (2012), não são uma alternativa
recomendável. Uma vez que as águas residuais geradas no
processamento contêm sólidos suspensos, restos de peixes e
elevada.

Uma vez que o estudo trata do desenvolvimento de um

313
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

sistema novo, destinado a extração do óleo de vísceras de peixes


para posterior utilização na cadeia de biodiesel, o conhecimento da
operacionalidade e funcionamento da unidade torna-se
necessário. Com isso, a dissipação destes sistemas, em territórios
no qual a unidade passa ser utilizada como mecanismo de
integração econômico e social, necessitará de estudos que ajudem
no manuseio seguro e prevenção de falhas que possam a trazer
prejuízos a operadores e comunidades.

E para esta avaliação foi realizada uma análise HAZOP que


é uma metodologia fortemente disciplinada, cujo objetivo é
identificar as causas que levam um processo a desviar de suas
intenções de projeto, ou seja, analisa causas que podem levar ao
mau funcionamento de peças individuais de equipamentos, e os
efeitos ou consequências sobre a instalação como um todo (Dunjó
et al., 2010).

A análise HAZOP (Hazard and Operability Studies) é uma


técnica desenvolvida para se identificar e avaliar riscos, ou
problemas de segurança, em uma planta de processos e problemas
operacionais que, embora não perigosos, poderiam comprometer
a habilidade da planta em atingir a produtividade prevista no
projeto. Matos (2009) e Dunjó et al. (2010), definem que é o
método mais abrangente e utilizado na indústria química como
meio de identificar riscos.

Embora existam diversos trabalhos que reportam


resultados da análise HAZOP aplicada a processos de alta
complexidade e risco, a aplicação prática dela é praticamente
inexistente quando se refere à estudos envolvendo o sistema de
extração de óleo de vísceras de peixes. Portanto, tal trabalho

314
MOTA, LEITÃO e LIMA | Capítulo 15

pretende preencher uma lacuna nos diz respeito à compreensão


dos riscos deste tipo de unidade, bem como servir como um guia
de aplicação para projetos futuros.

DESENVOLVIMENTO

Fluxograma de Bloco, processo e automação (P&ID)


Para o levantamento de estudos de fluxo de material foram
realizados estudos de produtividade em laboratório bem como as
etapas necessárias ao processo (Figura 1). Para tanto, foi utilizado
os dados de projeto apresentados por Mota et al. (2014). Neste
trabalho foi descrito a quantidade de matéria prima e óleo
produzido pelo sistema. Com isso, obteve-se as etapas necessárias
a extração do óleo e suas respectivas operações unitárias.

A elaboração dos fluxogramas de processo e automação


foram realizados a partir de dados de processos e condições ótimas
de operacionalidade de uma planta piloto. Para tanto, as condições
de operacionalidade e produtividade foram respeitadas. Com isso,
obteve-se as condições ótimas de operacionalidade (Set Points) do
equipamento.

Segundo Aguiar (2008), para dar início à análise HAZOP é


imprescindível que se disponha do diagrama PI&D (Diagrama de
Tubulação e Instrumentação) da planta de processamento, ou seja,
sem esse diagrama é impossível iniciar a pesquisa. Assim, o
primeiro passo para realização da análise HAZOP foi a confecção
315
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

Figura 1. Fluxo de material a ser obtido na linha produtiva de óleo extraído de vísceras

_______
316
Fonte: elaboração própria.
MOTA, LEITÃO e LIMA | Capítulo 15

do diagrama PI&D da planta objetivo de estudo. Deve-se também


esclarecer todas as intenções de projeto, assim como todos os seus
equipamentos e parâmetros de operação (Toungsetwut, 2015).

Além do diagrama, para realização da análise HAZOP são


necessários certos termos característicos do método já vistos
anteriormente, como as palavras guias, a equipe de estudo, os nós
de estudo e a tabela HAZOP (Guo; Kang, 2015).

Os nós de estudo serão definidos pela equipe que realizará


o estudo mediante a análise do diagrama PI&D (Diagrama de
Instrumentação e Tubulação) da unidade de processamento.

Equipe necessária para realização do estudo HAZOP


Há a necessidade de uma equipe multidisciplinar para
realização da análise HAZOP, que deverá, neste estudo específico,
ser composta por pessoas que desenvolveram ou participam do
próprio projeto de montagem e construção da unidade piloto.

Por tratar-se de um estudo simples, pois ele realizara-se em


uma planta de processamento piloto, a equipe foi constituída
somente dos seguintes componentes:

• Líder da Equipe: Responsável pelo estudo e mediador das


reuniões do grupo;
• Engenheiro Químico: Engenheiro responsável pela
elaboração, construção e automação da unidade piloto;
• Engenheiro de Produção: Engenheiro que será
responsável pela operação e manutenção da planta;

317
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

• Engenheiro Químico: Responsável pelo desenvolvimento


do PI&D.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Diagrama de Tubulação e Instrumentação da planta


piloto
Como em todo projeto de um processo, a construção do
diagrama de PI & D sucede a elaboração do PFD (Process Flow
Diagram). Este mostra o arranjo das operações unitárias no
processo, as conexões entre as correntes, as vazões (de
preferência mássicas ou molares), composições destas e condições
de operação como pressão e temperatura (Towler; Sinnott, 2008).

O fluxograma de processos da unidade foi desenvolvido de


forma a possibilitar uma visão geral do processo de extração de
óleo de vísceras. Assim, foi possível avaliar o fluxo mássico e os
equipamentos que representariam as operações unitárias
presentes no processo.

Na Tabela 1, apresentada abaixo, são apresentados os TAG


dos equipamentos com seus respectivos nomes. Com isso é
possível identificar os pontos de fluxo de material e os
procedimentos a serem adotados em caso de falha em qualquer
parte da unidade.

318
MOTA, LEITÃO e LIMA | Capítulo 15
Tabela 1. TAG dos equipamentos e funcionalidades
TAG Equipamento Função
Refrigerar os vapores de
TRF01 Torre de refrigeração água gerados na secagem
do óleo.
Aquecer os reatores R01 e
CDE01 Caldeira elétrica
R02.
Realizar a cocção das
R01 Reator de cocção
vísceras processadas.
Reator de degomagem e Realizar a purificação do
R02
secagem óleo extraído.
Realizar a separação entre a
DC01 Decantador de borra fração proteica e a fração
oleica.
Armazenamento da parte
TP01 Tanque de coleta de borra
proteica das vísceras.
Tanque de coleta de água Armazenar a água removida
TP02
condensada do óleo degomado.
Armazenar o óleo
TP03 Tanque de coleta de óleo
purificado final.
Remoção de particulados
que não tenham sido
FP01 Filtro prensa
removidos na decantação e
degomagem.
Bombear o óleo extraído
BC01 Bomba centrifuga
das vísceras
Bombear água de
BC02 Bomba centrifuga
refrigeração
Bombear óleo térmico
BE01 Bomba de engrenagem aquecido em direção aos
reatores.
Redução da pressão interna
BV01 Bomba de vácuo ao reator de degomagem
durante a secagem do óleo.
Fonte: elaboração própria.

Com a determinação dos fluxos mássicos e compreensão


dos gradientes de temperaturas, a estruturação do sistema bem,
como a estratégia de controle da unidade, pode ser estabelecida.

319
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

Figura 2. Modelagem do Sistema de Pirólise. (a) Estrutura destinada ao


suporte, (b) Reator de alimentação (cocção), (c) Reator de degomagem
e secagem, (d) Equipamento responsável pela separação entre as fases
oleicas e proteica

(a) (b)

(c) (d)

Fonte: elaboração própria.


320
MOTA, LEITÃO e LIMA | Capítulo 15

Para tanto a unidade possui uma estratégia de controle tipo


feedback. O qual tem como variáveis de controle a temperatura,
pressão e nível.

A modelagem do sistema, após a certificação da


configuração de fluxo mássico, é apresentada na Figura 2. Nesta
modelagem são apresentados os equipamentos com suas partes
internas e configuração espacial. A modelagem completa – Figura
2 (a) – apresenta os equipamentos alocados em uma estrutura
modular que possibilita o transporte da unidade, de forma
facilitada, para qualquer ambiente. O reator de alimentação
(cocção), apresentado na Figura 2 (b), possui elementos
indicadores de temperatura, o mesmo pode ser observado no
reator de degomagem e secagem – Figura 2 (c). O equipamento
responsável pela separação entre as fases oleicas e proteica é
representado pela Figura 2 (d).

Construção das tabelas HAZOP e análise dos resultados


A unidade é formada por sete setores ou Nós de estudo Na
Tabela 2 são apresentados os Nós e suas designações. Na unidade
as vísceras de Tilápia do Nilo são alimentadas, diretamente, no
reator de cocção (R01), representado pelo Nó 2. Toda a unidade,
em pontos que necessitam de calor, é aquecido por uma caldeira
com óleo térmico aquecido por resistências elétricas (CDE01) e
bombeado por uma bomba de engrenagem (BE01) (Nó 1). A etapa
de separação entre a fase oleica (Lipídios) e proteica (Borra) é
representada pelo Nó 3. Neste nó o decantador vertical (DC01)

321
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

realiza a separação das fases removendo a parte proteica e enviado


ao tanque de borra (TP01). A parte oleica, que fica na parte
superior no decantador vertical (DC01), é bombeada para o reator
de degomagem e secagem (RT02). Nesta etapa, Nó 4, ocorre a
purificação do óleo extraído. De forma a manter a estabilidade
térmica do óleo produzido, a temperatura no RT02 é controlada e
mantida em 100 0C. E, em conjunto com controle de temperatura,
o reator é mantido a uma pressão de 10 mmHg. Mantendo um
equilíbrio termodinâmico, a baixa pressão interna, toda a água
presente no óleo será removida e condensada no sistema de
condensação (XC1 e TP02). O vácuo, no RT02, é mantido pela
presença da bomba de vácuo BV01. Uma vez que a unidade foi
projetada de forma a trabalhar em um regime de descontinuidade
(regime batelada), a corrente de óleo térmico, aquecida, é
direcionada de acordo com a etapa a ser realizada. Assim, na etapa
de cocção e secagem as válvulas atuadas VT9 e VT10 são
acionadas de acordo com a utilização destes reatores. Com isso, o
Nó 1 é responsável por manter a corrente de óleo térmico aos
sistemas de cocção, degomagem e secagem. No Nó 3 estão as
operações unitárias responsáveis pela condenação e redução da
pressão. O Nó 7 representa a etapa do processo responsável por
enviar água a temperatura ambiente ao sistema de condensação.
Para tanto, o nó possui uma torre de refrigeração (TRF1) que envia
água a temperatura ambiente, absorve calor de correntes
aquecidas, remoção de calor no trocador de calor XC01 do sistema
de vácuo, e retorna a TRF1. Na Figura 3 é apresentado o
fluxograma de automação com a designação dos nós em estudo.

O resultado da avaliação dos, principais, nós do sistema, é


apresentado nas tabelas abaixo. Em cada nó foi realizado o estudo

322
MOTA, LEITÃO e LIMA | Capítulo 15

de possíveis problemas que possa prejudicar o funcionamento da


unidade e possível parada da planta em pontos considerados
cruciais a produção.

Tabela 2. Nós no sistema e suas funções


Nó Função
1 Aquecimento dos tanques com
agitação
2 Tanque de cocção
3 Separação de fases oleica e proteica
4 Secagem e purificação
5 Condensação e vácuo
6 Retirada de particulados e estocagem
7 Resfriamento
Fonte: elaboração própria.

O Nó 1 apresentado corresponde ao sistema de


aquecimento dos tanques de cocção e secagem. Nele estão
inclusos a caldeira de aquecimento (CDE01) a bomba de
engrenagem (BE01) e a malha de controle. Esse nó é responsável
pelo aquecimento de todas as correntes que necessitam de calor.
Com isso, os possíveis problemas que possam ocorrer neste nó em
estudo poderão ocasionar desde a necessidade de uma avaliação
preventiva até uma parada total da planta de processamento. Uma
vez que o incorreto funcionamento deste nó irá ocasionar no
funcionamento incorreto no restante das operações unitárias que
necessitam de transferência de calor adequadamente.

O Nó 2 foi avaliado e seus pontos de falhas estão descritos


na Tabela 3. Nesta tabela estão relacionadas as principais causas
que podem ocasionar no sistema destinado a separação entre a
fase oleica (lipídios) e a parte proteica (borra). Assim, foram
avaliadas as possíveis causas que podem ocasionar falhas neste
sistema e falhas na unidade produtora de óleo.
323
Figura 3. Fluxograma P&I e sues nós de atuação
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

Água

Óleo térmico

XC2 Óleo de Vísceras de


PI peixes
VE10

E-93
Parte protéica
LSH
TP02 (Borra)
R01 R02
Nó 2 TI
TI

VE06
Vácuo
LSL
VT09

LIC

VT08
VT10

VT07
VT04

_______
324
VT01 Nó 4 VE05
CDE01 FP 1

VT05
TI E-91
VT06
TRF01 LSH DC1
TP01
LSH TP03
TIT Nó 5
E-97
LSL

VE07 VE01 TC VT02 LSL VE04


VE08

VE02

VE09 LIC
VE03
LIC

VT03
E-90
BC01
E-92
BV01

BC02
E-99
BE01
E-95

Nó 7 Nó 1 Nó 3 Nó 6

Fonte: elaboração própria.


Tabela 3. Planilha Referente ao Nó 02
MOTA, LEITÃO e LIMA | Capítulo 15

Sistema/Subsistema
Nó 02: Tanque de agitado de cocção Parâmetros: Temperatura e Agitação
01: Reator
Palavras
Nó Variáveis Causa(s) Consequência(s) Providencia(s)
Guia
(1) Realizar uma avalia-
ção no sistema de con-
(1) Sobrecarga nas resis- trole do sistema de
(1) Superaquecimento na
tências de aquecimento aquecimento, avaliar as
carga de matéria orgâ-
internas ao óleo no inte- resistências de imersão e
nica. Desvio de parâme-
rior da caldeira. Falha no a eficácia nos termopa-
tros físico-químicos no
controle de temperatura res utilizados. Realizar
Mais produto final obtido.

_______
ou nos termopares. uma avaliação nos ter-

325
(1)
mopares da caldeira e do
Menos
2 Temperatura tanque agitado.
(2)
(2) Problemas nas resis- (2) Ineficiência no aqueci- (2) Realizar uma avalia-
Nenhuma
tências de aquecimento mento do tanque agitado ção no sistema de con-
(3)
internas ao óleo no inte- e consequente redução trole do sistema de
rior da caldeira. Falha no da eficiência do processo. aquecimento, avaliar as
controle de temperatura Caso seja comprovado o resistências de imersão e
ou termopares. Problemas vazamento nas serpenti- a eficácia nos termopa-
nas paredes da serpentina nas, contaminação da res utilizados. Realizar
com possível incrustação matéria orgânica presen- uma manutenção nas
ou vazamentos. te no tanque. serpentinas.
Continua...
Sistema/Subsistema
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

Nó 02: Tanque de agitado de cocção Parâmetros: Temperatura e Agitação


01: Reator
Palavras
Nó Variáveis Causa(s) Consequência(s) Providencia(s)
Guia
(3) Realizar uma avalia-
(3) Problemas nas re-
ção no sistema de con-
sistências de aquecimento
Mais trole do sistema de
internas ao óleo no
(1) aquecimento, avaliar as
interior da caldeira. Falha
Menos (3) Parada da planta de resistências de imersão e
Temperatura no controle de
(2) processamento. a eficácia nos termo-
temperatura ou nos
Nenhuma pares utilizados. Avaliar
termopares. Parada do
(3) o sistema de bombea-
2 sistema de bombea-
mento e tubulações da

_______
mento.

326
caldeira de aquecimento.
Mais (1) Avaliar o controle por
(1) (1) Problemas no controle (1) Ineficiência na inversor de frequência,
Menos de agitação por inversores transferência de calor e realizar uma
Agitação
(2) de frequência. Problemas de massa internos ao manutenção no sistema
Nenhuma no eixo e pás de agitação. tanque agitado. de agitação e pás do agi-
(3) tador.
Continua...
Sistema/Subsistema
MOTA, LEITÃO e LIMA | Capítulo 15

Nó 02: Tanque de agitado de cocção Parâmetros: Temperatura e Agitação


01: Reator
Palavras
Nó Variáveis Causa(s) Consequência(s) Providencia(s)
Guia
(2) Avaliar o controle por
(2) Problemas no controle (2) Ineficiência na inversor de frequência,
de agitação por inversores transferência de calor e realizar uma
de frequência. Problemas de massa internos ao manutenção no sistema
Mais
no eixo e pás de agitação. tanque agitado. de agitação e pás do agi-
(1)
tador.
Menos
2 Agitação (3) Problemas no controle (3) Parada da Planta. (3) Avaliar o controle por
(2)
de agitação por inversores inversor de frequência,
Nenhuma
de frequência. Problemas realizar uma

_______
(3)

327
no eixo e pás de agitação. manutenção no sistema
de agitação e pás do agi-
tador.

Fonte: elaboração própria.


Tabela 4. Planilha Referente ao Nó 03
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

Sistema/Subsistema
Nó 03: Separação fase oleica e proteica Parâmetros: Nível e Vazão
01: Ciclone
Palavras
Nó Variáveis Causa(s) Consequência(s) Providencia(s)
Guia
(1) Aumento da carga (1) Rever o sistema de
de alimentação oriun- (1) Transbordo de fasesalimentação na saída
dos do tanque de coc- oleica e proteica no de-
do decantador, avaliar
ção. Ineficiência na ma- cantador DC1. Ineficiên-
os sensores de nível e a
lha de controle e sen- cia na separação de fases.
malha de controle do
Mais sores de nível. processo.
(1) (2) Se certificar que os
(2) Redução da carga (2) Ineficiência na estraté-
Menos volumes de alimenta-

_______
3 Nível de alimentação oriun- gia de controle devido à

328
(2) ção necessários a cor-
dos do tanque de coc- altura de sensores de ní-
Nenhum reta operação do sis-
ção. vel.
(3) tema são respeitados.
(3) Inexistência de ma- (3) Se certificar que os
téria orgânica sendo volumes de alimenta-
enviada ao nó em es- (3) Parada da Planta. ção necessários a cor-
tudo. Problemas nos reta operação do sis-
sensores de nível. tema são respeitados.
Continua...
Sistema/Subsistema
MOTA, LEITÃO e LIMA | Capítulo 15

Nó 03: Separação fase oleica e proteica Parâmetros: Nível e Vazão


01: Ciclone
Palavras
Nó Variáveis Causa(s) Consequência(s) Providencia(s)
Guia
(1) Ineficiência na separa-
(1) Controle na massa
(1) Aumento da carga ção de fases, oleica e pro-
de entrada do RT01,
de alimentação dos re- teica, no decantador DC1.
avaliação da malha de
atores, abertura da vál- Sobrecarga na alimenta-
controle e da válvula
vula atuada VT02. ção do reator de purifica-
de controle.
ção da fase oleica RT02.
Mais
(2) Redução da carga (2) Ineficiência na separa-
(1) (2) Controle na massa
de alimentação dos re- ção de fases, oleica e pro-
Menos de entrada do RT01,
3 Vazão atores, problemas na teica, no decantador DC1.

_______
(2) avaliação da malha de

329
válvula atuada VT02 Sobrecarga na alimenta-
Nenhum controle e da válvula
ou vazamentos em tu- ção do reator de purifica-
(3) de controle.
bulações. ção da fase oleica R02.
(3) Controle na massa
(3) Inexistência de
de entrada do R01,
carga de alimentação.
(3) Parada da planta. avaliação da malha de
Problemas na bomba
controle e da válvula
de envio de material.
de controle.
Fonte: elaboração própria.
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

Na Avaliação do Nó 3 pode-se observar que as variáveis a


serem mantidas sob controle são a temperatura e agitação das pás
da hélice. Uma vez que estas são as variáveis que necessárias a
uma eficiente transferência de massa e calor.
Na Tabela 4 é apresentada a avaliação do nó referente ao
sistema de separação de fases oleica e proteica. Para tanto, as
variáveis monitoradas são a vazão e nível de tanques.
A etapa referente ao estudo do Nó 3 corresponde a
separação entre fases. Sabendo disso, deve-se ressaltar que o
sistema conta de um decantador vertical, que tem por propriedade
a necessidade de um tempo necessário para o adensamento da
fase proteica, constituída de material carbônico, com inexistência
ácidos graxos, e de uma parte não adensada, parte oleica,
constituída por cadeias de ácidos graxos. Assim, a avaliação das
variáveis levou em consideração, não somente a atuação do
equipamento, mais também, a interação do sistema em sua
operacionalidade completa.
Na Tabela 5 é apresentada a avaliação do nó referente ao
tanque agitado responsável pela remoção de gomas do óleo e
desumidificação. Nestes são avaliados os parâmetros de
temperatura, pressão e agitação. Uma vez que, estando em
operação, o tanque trabalha em baixas pressões (10mmHg),
variações na pressão interna poderão ocasionar variações na
qualidade do óleo. Isso deve-se ao fato de o sistema trabalhar em
condições de equilíbrio líquido-vapor. E, com isso, variações de
pressão irão provocar variações na temperatura necessária para
que ocorra a secagem do óleo (lipídios). E, a redução do arraste,
condensados no empacotamento da tubulação, será contatado
pela ausência da fase oleosa no condensado recuperado no tanque
de condensados (TP02).
330
Tabela 5. Planilha Referente ao Nó 04
MOTA, LEITÃO e LIMA | Capítulo 15

Sistema/Subsistema Nó 04: Tanque de agitado de Purificação


Parâmetros: Temperatura, Pressão e Agitação
01: Reator e Desumidificarão
Palavras
Nó Variáveis Causa(s) Consequência(s) Providencia(s)
Guia
(1) Realizar uma avalia-
ção no sistema de con-
(1) Sobrecarga nas resis- trole do sistema de
(1) Superaquecimento
tências de aquecimento aquecimento, avaliar as
na carga de matéria or-
internas ao óleo no inte- resistências de imersão
gânica. Desvio de parâ-
rior da caldeira. Falha no e a eficácia nos termo-
metros físico-químicos
controle de temperatura pares utilizados. Realizar
no produto final obtido.

_______
Mais ou nos termopares uma avaliação nos ter-

331
(1) mopares da caldeira e do
Menos tanque agitado.
4 Temperatura
(2) (2) Problemas nas resis- (2) Ineficiência no aque- (2) Realizar uma avalia-
Nenhuma tências de aquecimento cimento do tanque agi- ção no sistema de con-
(3) internas ao óleo no inte- tado e consequente re- trole do sistema de
rior da caldeira. Falha no dução da eficiência do aquecimento, avaliar as
controle de temperatura processo. Caso seja resistências de imersão
ou nos termopares. Pro- comprovado o vaza- e a eficácia nos termo-
blemas nas paredes da mento nas serpentinas, pares utilizados. Realizar
serpentina com possível contaminação da maté- uma manutenção nas
incrustação ou vazamen- ria orgânica presente serpentinas.
tos. no tanque.
Continua...
Sistema/Subsistema Nó 04: Tanque de agitado de Purificação
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

Parâmetros: Temperatura, Pressão e Agitação


01: Reator e Desumidificarão
Palavras
Nó Variáveis Causa(s) Consequência(s) Providencia(s)
Guia
(3) Realizar uma avalia-
ção no sistema de con-
(3) Problemas nas resis-
trole do sistema de
Mais tências de aquecimento
aquecimento, avaliar as
(1) internas ao óleo no inte-
resistências de imersão
Menos rior da caldeira. Falha no (3) Parada da planta
Temperatura e a eficácia nos termo-
(2) controle de temperatura de processamento.
pares utilizados. Avaliar
Nenhuma ou nos termopares. Parada
o sistema de bombea-
(3) do sistema de bombea-
4 mento e tubulações da

_______
mento.

332
caldeira de aqueci-
mento.
Mais (1) Avaliar o controle por
(1) (1) Problemas no controle (1) Ineficiência na inversor de frequência,
Menos de agitação por inversores transferência de calor realizar uma manuten-
Agitação
(2) de frequência. Problemas e de massa internos ção no sistema de agita-
Nenhuma no eixo e pás de agitação. ao tanque agitado. ção e pás do agitador.
(3)
Continua...
Sistema/Subsistema Nó 04: Tanque de agitado de Purificação
MOTA, LEITÃO e LIMA | Capítulo 15

Parâmetros: Temperatura, Pressão e Agitação


01: Reator e Desumidificarão
Palavras
Nó Variáveis Causa(s) Consequência(s) Providencia(s)
Guia
(2) Avaliar o controle por
(2) Problemas no controle (2) Ineficiência na
inversor de frequência,
de agitação por inversores transferência de calor
Mais realizar uma manuten-
de frequência. Problemas e de massa internos
(1) ção no sistema de agita-
no eixo e pás de agitação. ao tanque agitado.
Menos ção e pás do agitador.
Agitação
(2) (3) Avaliar o controle por
(3) Problemas no controle
Nenhuma inversor de frequência,
de agitação por inversores
(3) (3) Parada da Planta. realizar uma manuten-
de frequência. Problemas
ção no sistema de agita-

_______
no eixo e pás de agitação.

333
ção e pás do agitador.
4 (1) Realizar uma manu-
(1) Problemas no sistema (1) Degradação tér- tenção preventiva e pre-
de vácuo (BV01). Aumento mica da parte lipídica. ditiva no sistema de
da temperatura provocado Danos a estrutura do bombeamento a vácuo.
pela corrente de óleo da tanque com possível Rever a estratégia de
Mais (1)
Pressão caldeira (CDE01). explosão. controle no sistema de
Menos, (2)
aquecimento.
(2) Redução da tempera-
(2) Ineficiência no pro- (2) Rever a estratégia de
tura provocada pela cor-
cesso de secagem da controle no sistema de
rente de óleo da caldeira
fase oleica. aquecimento.
(CDE01).
Fonte: elaboração própria.
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

A unidade, totalmente desenvolvida e construída, é


apresentada na Figura 6. O sistema para extração foi desenvolvido
em uma estrutura modular que possibilite que o mesmo possa ser
transportado, de forma facilitada, a qualquer ambiente no qual
venha a ser instalado. Sua configuração, em termos de processo
produtivo, foi desenvolvida em uma plataforma batelada
alimentada. Seus materiais construtivos são representados por aço
inox e aço carbono. A unidade possui uma automação de processo
tipo feedback com sensores que possibilitam acompanhar desvio
em termos de variáveis de pressão e temperatura.

Figura 6. Unidade Contínua destinada a extração de óleo de vísceras


de peixes

Fonte: elaboração própria.


334
MOTA, LEITÃO e LIMA | Capítulo 15

A unidade, uma vez construída em uma plataforma


compacta, possui a facilidade de operacionalidade e visualização
de problemas em sua operação. O sistema, em decorrência de uma
operação de até três turnos diários, assim como qualquer outra
unidade produtiva, sofrerá esforços elétricos e mecânicos que vão
exigir uma manutenção preventiva e preditiva. A detecção de
possíveis falhas e a compreensão da divisão de setores, nós, de
atuação facilitará que as manutenções sejam realizadas de forma a
minimizar a perca de tempo nas paradas. E, com isso, a
estruturação da análise do sistema, em todos os nós, facilitará, em
caso de parada, que o profissional responsável possa corrigir a
falha no nó correspondente.

CONCLUSÕES

Como demonstrado, a análise HAZOP foi capaz, através do


uso das palavras guia, identificar os possíveis riscos operacionais
advindos dos desvios nas intenções de operação, como
possibilidades de incêndios, explosões, contaminações ambientais
e suas consequências. Foi possível identificar os riscos que estão
associados à seleção de materiais, ao projeto mecânico dos
equipamentos às especificações dos acessórios.

Além dos riscos, foi possível a identificação de desvios que


estão relacionados à perda de produção da unidade pela parada,
da mesma, perda de produção de um determinado produto
específico. As unidades de processamento, por ser um sistema
335
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

batelada, dependem muito do sistema de alimentação e tempos de


operação. A ineficiência de algumas destas operações unitárias
pode comprometer o funcionamento da unidade produtora e a
qualidade do óleo obtido.

Em um sistema que vai operar a faixas de temperaturas


controladas, uma estratégia de controle que possa monitorar todas
as etapas de seu funcionamento torna-se fundamental a segurança
de profissionais que venham a trabalhar na unidade, bem como da
qualidade do óleo. E, a escolha de sensores e controladores, que
venham a operar na faixa de trabalho destas unidades, deve ser
realizada tomando todo o cuidado para que a unidade não sofra
danos devido ao range de funcionalidade.

A unidade de processamento de resíduos de pescados, em


decorrência de uma avaliação ambiental, social, e econômica,
apresenta o potencial de produção de óleo que poderá ser utilizado
em diferentes rotas de produção de biocombustíveis. Desta forma,
a trabalho desenvolvido poderá ser utilizado como uma ferramenta
de acompanhamento de processos produtivos, que em sua
semelhança em operações unitárias, necessitem de uma avaliação
de segurança e operacionalidade.

O estudo desenvolvido está diretamente alinhado com os


Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), especialmente
os ODS 7 (Energia Acessível e Limpa), ODS 9 (Indústria, Inovação
e Infraestrutura) e ODS 12 (Consumo e Produção Responsáveis).
Ao propor o aproveitamento das vísceras de tilápia para a
produção de biodiesel, o trabalho promove a transição para fontes
de energia renováveis, reduzindo a dependência de combustíveis
fósseis (ODS 7). Além disso, a inovação tecnológica aplicada ao

336
MOTA, LEITÃO e LIMA | Capítulo 15

sistema de extração de óleo contribui para o desenvolvimento de


soluções industriais mais eficientes e sustentáveis, alinhadas com
o ODS 9. Finalmente, ao reutilizar resíduos que normalmente
seriam descartados de forma inadequada, o estudo colabora
diretamente para a implementação de práticas de produção e
consumo sustentáveis, minimizando os impactos ambientais e
promovendo o uso mais eficiente de recursos, em conformidade
com o ODS 12.

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O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI
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MOTA, LEITÃO e LIMA | Capítulo 15
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339
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI
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531.

340
SOBRE A ORGANIZADORA E O ORGANIZADOR

Clarissa Melo Lima é doutora em Ciências Florestais pela


Universidade de Brasília (2017); mestre pelo Departamento de
Engenharia Florestal - Universidade de Brasília (2013); e graduada
em Engenharia Química pela Universidade Federal do Ceará
(2009). É professora colaboradora da Universidade de Brasília
(UnB). É Professora da Universidade Estadual de Goiás (UEG). Tem
experiência na área de extensão rural em comunidades residentes
no semiárido cearense, com agricultores familiares e produtores de
mamona para fabricação de biodiesel. Atuou em projetos
inovadores de extensão em tecnologia e gestão de biodiesel. Tem
experiência em Certificação ISO 9001 e Gestão da Qualidade. Tem
experiência também na área de Ciências Florestais, com ênfase em
colorimetria, espectroscopia no infravermelho, manejo e
tecnologia florestal e uso de produtos florestais em sistemas de
produção de carvão vegetal e gestão de processos produtivos em
operações em indústrias moveleiras de madeira, ergonomia, gestão
ambiental, legislação ambiental, poluição ambiental, produção,
inovação e sustentabilidade. Tem experiência em Engenharia
Química, com ênfase em análise de amostras de combustíveis
automotivos na área de óleo, gás e biodiesel; análises de modernas
tecnologias laboratoriais para controle da qualidade de serviços de
água e esgoto; e logística reversa baseada no condicionamento de
efluente de gaseificador de biomassa para geração de energia
elétrica. É orientadora de Projeto de Pesquisa e Elaboração de
Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação e Pós-Graduação.
Contato: [email protected]
O DEBATE AMBIENTAL NO SÉCULO XXI

Gilvan Charles Cerqueira de Araújo é graduado em Geografia pela


Universidade Estadual Paulista, UNESP – Campus de Rio Claro /
SP, Mestre em Geografia pela Universidade de Brasília, Doutor em
Geografia pela Universidade Estadual Paulista, UNESP – Campus
de Rio Claro / SP, Pós-Doutorado em Geografia pela Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São
Paulo, Pós-Doutorando em Educação pela Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul. Professor e Pesquisador
Permanente do Programa Stricto Sensu de Mestrado e Doutorado
em Educação da Universidade Católica de Brasília, atuando nas
linhas de pesquisa Processo Educacional e Formação de
Professores e Política, Gestão e Avaliação da Educação.
Pesquisador Associado – Cátedra UNESCO Universidade Católica
de Brasília. Membro do corpo docente do Programa de Pós-
Graduação em Integração da América Latina – Prolam / USP.
Membro dos grupos de pesquisa Geografia, Literatura e Arte (USP)
e Juventude, Educação e Sociedade (UCB / DF). Participação e
coordenação de atividades de ensino, pesquisa e extensão em
cursos de Graduação e Pós-Graduação, atuação e coordenação em
formação de professores. Autoria, parecerista, atuação em
organização, avaliação e curadoria de livros / capítulos acadêmicos
e didáticos para graduação e pós-graduação e artigos em
periódicos nacionais e internacionais. Atuação em consultoria para
órgãos como Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal,
Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior e Ministério da Educação. Experiência nos seguintes
temas: Geografia, Ciências Humanas, Educação, Formação de
Professores, Políticas Públicas Educacionais, Ensino de Geografia,
Epistemologia, Metodologia de Pesquisa e Ontologia. Contato:
[email protected]
342
SOBRE AS AUTORAS E OS AUTORES
POR CAPÍTULO

Capítulo 1 | Gestão Ambiental e Educação em Riscos


Ambientais nas Escolas: Uma Revisão
Bibliográfica

Clarissa Melo Lima é doutora em Ciências Florestais pela


Universidade de Brasília (2017); mestre pelo Departamento de
Engenharia Florestal - Universidade de Brasília (2013); e graduada
em Engenharia Química pela Universidade Federal do Ceará
(2009). É professora colaboradora da Universidade de Brasília
(UnB). É Professora da Universidade Estadual de Goiás (UEG). Tem
experiência na área de extensão rural em comunidades residentes
no semiárido cearense, com agricultores familiares e produtores de
mamona para fabricação de biodiesel. Atuou em projetos
inovadores de extensão em tecnologia e gestão de biodiesel. Tem
experiência em Certificação ISO 9001 e Gestão da Qualidade. Tem
experiência também na área de Ciências Florestais, com ênfase em
colorimetria, espectroscopia no infravermelho, manejo e
tecnologia florestal e uso de produtos florestais em sistemas de
produção de carvão vegetal e gestão de processos produtivos em
operações em indústrias moveleiras de madeira, ergonomia, gestão
ambiental, legislação ambiental, poluição ambiental, produção,
inovação e sustentabilidade. Tem experiência em Engenharia
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

Química, com ênfase em análise de amostras de combustíveis


automotivos na área de óleo, gás e biodiesel; análises de modernas
tecnologias laboratoriais para controle da qualidade de serviços de
água e esgoto; e logística reversa baseada no condicionamento de
efluente de gaseificador de biomassa para geração de energia
elétrica. É orientadora de Projeto de Pesquisa e Elaboração de
Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação e Pós-Graduação.
Contato: [email protected]

Gilvan Charles Cerqueira de Araújo é graduado em Geografia pela


Universidade Estadual Paulista, UNESP – Campus de Rio Claro /
SP, Mestre em Geografia pela Universidade de Brasília, Doutor em
Geografia pela Universidade Estadual Paulista, UNESP – Campus
de Rio Claro / SP, Pós-Doutorado em Geografia pela Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São
Paulo, Pós-Doutorando em Educação pela Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul. Professor e Pesquisador
Permanente do Programa Stricto Sensu de Mestrado e Doutorado
em Educação da Universidade Católica de Brasília, atuando nas
linhas de pesquisa Processo Educacional e Formação de
Professores e Política, Gestão e Avaliação da Educação.
Pesquisador Associado - Cátedra UNESCO Universidade Católica
de Brasília. Membro do corpo docente do Programa de Pós-
Graduação em Integração da América Latina – Prolam / USP.
Membro dos grupos de pesquisa Geografia, Literatura e Arte (USP)
e Juventude, Educação e Sociedade (UCB / DF). Participação e
coordenação de atividades de ensino, pesquisa e extensão em
cursos de Graduação e Pós-Graduação, atuação e coordenação em
formação de professores. Autoria, parecerista, atuação em
344
AUTORAS e AUTORES

organização, avaliação e curadoria de livros / capítulos acadêmicos


e didáticos para graduação e pós-graduação e artigos em
periódicos nacionais e internacionais. Atuação em consultoria para
órgãos como Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal,
Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior e Ministério da Educação. Experiência nos seguintes
temas: Geografia, Ciências Humanas, Educação, Formação de
Professores, Políticas Públicas Educacionais, Ensino de Geografia,
Epistemologia, Metodologia de Pesquisa e Ontologia. Contato:
[email protected]

Tito Ricardo Vaz da Costa é engenheiro eletricista formado pela


Universidade Federal do Ceará – UFC (2004), com Especialização
em Controladoria de Finanças Corporativas pela FIPECAFI / USP
(2007), Mestrado em Engenharia Elétrica pela Universidade de
Brasília - UnB (2013) e Doutorado em Ciências Florestais pela UnB
(2021). Profissional atuante na área de energia elétrica, com ênfase
em regulação do setor elétrico e sistemas de transmissão de
energia. Atualmente vinculado à Agência Nacional de Energia
Elétrica – ANEEL, ocupando o cargo de especialista em regulação;
e a Universidade de Brasília (UnB), na condição de professor
substituto. Contato: [email protected]

Ronaldo Ferreira da Silva possui graduação em Tecnologia em


Processamento de Dados pela Universidade Estadual de Goiás
(2003), Especialização em Marketing pela Universidade Cândido
Mendes (2006), Mestrado em Gestão do Conhecimento e da
Tecnologia da Informação pela Universidade Católica de Brasília
345
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

(2018). Experiência no desenvolvimento de aplicações desktop e


client/server utilizando o ambiente Delphi (linguagem Object
Pascal), aplicações web com PHP, Java e NodeJS, baseadas em
padrões e aplicações Mobile (Android), desenvolvimento frontend
com Angular (JavaScript e TypeScript). Professor dedicação
exclusiva de Linguagens de Programação no curso de Sistemas de
Informação da Universidade Estadual de Goiás - Câmpus Posse
desde 2009, prestou serviços de implementação, configuração e
suporte em servidores GNU/Linux, redes de computadores,
Softwares de Gestão Pública e Portais na Internet com ênfase em
ferramentas free e open source para empresas públicas e privadas.
Em 2013 foi eleito para o cargo de Diretor do Câmpus Posse da
UEG para o quadriênio 2014-2017, sendo reeleito para novo
mandato compreendendo o quadriênio 2018-2021. Foi
coordenador do curso de Sistemas de Informação da UEG Posse
entre os anos de 2020 e 2023. Foi cofundador e presidente da
Fundação Educacional de Apoio à Universidade Estadual de Goiás
- Câmpus Posse (FAUEG-POSSE) no período de 2015 a 2021. Foi
membro da diretoria da Associação Comunitária para o
Desenvolvimento de Posse (ADEPE) de 2016 a 2021. É
conselheiro do Conselho do Parque Estadual de Terra Ronca
(CONPETeR). Atualmente, além de docente, também exerce a
função de Assessor Pedagógico da UEG Posse. Contato:
[email protected]

346
AUTORAS e AUTORES

Capítulo 2 | Prevenção de desastres como promoção à


Igualdade Racial: uma contribuição
possível a partir da Educação Ambiental

Sergio Mauricio Costa da Silva Pinto é servidor público federal da


carreira de Analista de Infraestrutura, atuando no Departamento
de Obras de Proteção e Defesa Civil (DOP) da Secretaria Nacional
de Proteção e Defesa Civil (SEDEC) do Ministério da Integração e
do Desenvolvimento Regional (MIDR). Salvador, Bahia, Brasil.
Graduado em Engenharia Elétrica (UFBA) e Filosofia (UCSAL); com
Mestrado em Ciências Sociais (UCSAL); atualmente cursando
graduação em Direito (UFBA). Contato: [email protected]

Nathan Belcavello de Oliveira é servidor público federal da


carreira de Analista de Infraestrutura, atuando como assessor
técnico especializado na Coordenação-Geral de Gestão Integrada
(CGGI) da Secretaria Nacional de Desenvolvimento Urbano e
Metropolitano (SNDUM) do Ministério das Cidades (MCID).
Professor de Educação Básica da carreira de Magistério Público do
Distrito Federal, atuando como coordenador de estágios na equipe
de Educação Profissional e Tecnológica Centro de Educação de
Jovens e Adultos da Asa Sul (CESAS). Brasília, Distrito Federal,
Brasil. Graduado como bacharel e licenciado em Geografia (UFJF),
licenciado em Filosofia (Faculdade Única de Ipatinga) e licenciado
em Sociologia (Unifatecie); com Especialização em Coordenação
Pedagógica e Supervisão Escolar (Faculdade Única de Ipatinga), em
Gestão de Cidades e Agronegócio (Faculdade Única de Ipatinga);

347
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

em Docência para a Educação Profissional e Tecnológica (IFB) e


em Educação de Jovens e Adultos (IMES); atualmente cursando
graduação em bacharelado em Administração (Unifatecie).
Contato: [email protected]

348
AUTORAS e AUTORES

Capítulo 3 | ‘Características da tarefa’: uma análise


sobre a percepção dos teletrabalhadores da
área de tecnologia da informação e
comunicação do Instituto Federal do Acre e
da Universidade Federal do Acre

Raimara Neves de Souza é Mestre em Administração Pública pela


Universidade de Brasília (UnB), Especialista em Política de
Promoção de Igualdade Racial pela Universidade Federal do Acre
(UFAC) e em Docência no Ensino Superior pela Faculdade UNINA.
Licenciada em Pedagogia, com ênfase em Interculturalidade, pela
Universidade do Estado do Amazonas (UEA), e em Administração
pela Faculdade Barão de Rio Branco. Desde 2015, trabalha como
TAE – Pedagoga no IFAC, e desde outubro de 2020, ocupa função
gratificada. Com experiência na docência, tendo lecionado no
ensino infantil e superior na área de administração, além de atuar
na educação profissional e tecnológica, com tutoria, orientação e
supervisão de programas de formação profissional. É pesquisadora
na área de qualidade de vida do servidor, desenho do trabalho,
características da tarefa e Educação Profissional. Contato:
[email protected]

Carlos André de Melo Alves é Professor Adjunto do


Departamento de Administração da Universidade de Brasília
(UnB), credenciado como orientador no Mestrado Profissional em
Administração Pública (MPA / UnB). Possui doutorado em
Administração pela Universidade de São Paulo (FEA / USP),

349
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

mestrado em Administração pela Universidade Federal do Paraná


(UFPR), especialização docente em Gestão de Tecnologia da
Informação pela Associação de Ensino Unificado do Distrito
Federal (AEUDF) e graduação em Tecnologia em Processamento
de Dados (Unesp). É analista do Banco Central do Brasil (BCB)
desde 1998, possuindo experiência em gestão pública. Atua nas
áreas de ensino, pesquisa e extensão, possuindo títulos como
autor, avaliador de artigos científicos, bem como orientador na
área de Administração. É pesquisador vinculado ao Grupo de
Pesquisa em Operações, Logística e Métodos de Análise – GO
META. As principais áreas de interesse de pesquisa contemplam
estudos relacionados com organizações públicas e privadas,
enfatizando: gestão de riscos, governança, regulação,
Administração de Sistemas de Informação. Contato:
[email protected]

350
AUTORAS e AUTORES

Capítulo 4 | Estudo de caso na UnB: fatores inibidores e


facilitadores ao fomente à inovação

Pedro Ravizzini Furtado possui graduação em Administração


(2014) e mestrado em Gestão Pública (2020) pela Universidade de
Brasília. É especialista em Gestão Pública pela Universidade
Cândido Mendes (2016). Atualmente é servidor público federal, no
cargo de Administrador, pela Universidade de Brasília. Trabalhou
na Agência de Promoção de Exportações do Brasil como assistente
de Recursos Humanos de 2015 a 2017, na unidade de
desenvolvimento de pessoal. Contato: [email protected]

Jonilto Costa Sousa é Professor adjunto da Universidade de


Brasília no campus de Planaltina (FUP / UnB) desde 2012.
Vinculado ao Programa de Pós-graduação em Gestão Pública
desde 2012. É doutor (2012) e mestre (2006) em Administração
pela Universidade de Brasília pelo PPGA / UnB; graduado (1995)
em Administração de Empresas pelo Centro Universitário do
Distrito Federal. Atua na linha de pesquisa em Inovação no âmbito
das organizações pública. Tem experiência nas áreas de
Administração e de Educação, atuando principalmente nos
seguintes temas: educação a distância, qualidade, gestão da
inovação, desenvolvimento organizacional. Contato:
[email protected]

Pedro Henrique Rodrigues de Camargo Dias é pesquisador e


servidor efetivo do Ministério Público Federal desde 2016, com
351
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

formação em bacharelado em Administração e Mestrado


Profissional em Gestão Pública (FUP-UnB). Atualmente, é analista
de Planejamento e Orçamento do MPU e ocupa o cargo de
Secretário Regional na Procuradoria Regional da República da 1ª
Regional do MPF. Contato: [email protected]

352
AUTORAS e AUTORES

Capítulo 5 | Uma década de Economia Circular na


Gestão Ambiental: mapeamento e análise
da literatura

Eliana de Jesus Lopes é doutoranda em Engenharia de Produção


(UFSC). Mestra e Bacharela em Engenharia de Produção, com
especialização em Gestão Ambiental, Engenharia de Segurança do
Trabalho e Tutoria em Educação a Distância e Docência do Ensino
Superior. Foi Coordenadora dos Cursos Tecnológicos de Processos
Gerenciais EaD (2021-2024) e Gestão Ambiental EaD (2022-
2024) do Centro Universitário Inta – UNINTA. Fora da academia
atuou nas áreas de suprimentos e gestão da qualidade.
Experiências na academia como membro do Núcleo Docente
Estruturante em cursos Tecnológicos e de bacharelado; e como
docente em cursos de Ciências Aplicadas, Exatas e Tecnológicos,
tanto no ensino presencial como no ensino a distância. Atua no
ensino superior desde 2017, com pesquisas nas áreas de logística
e cadeia de suprimentos, sustentabilidade, gestão da qualidade,
gestão de operações. Atua ainda como membro do Laboratório de
Desempenho Logístico (LDL) do Programa de Pós-Graduação da
UFSC. Contato: [email protected]

Maria do Socorro Vale é Pós-Doutora pelo Instituto de Ciências


do Mar – LABOMAR-UFC. Doutora em Engenharia Civil, com área
de concentração em Saneamento Ambiental, Mestra, Bacharela e
Licenciada em Química. Tem experiência e pesquisas nas áreas de
química e engenharia sanitária e ambiental, com ênfase em análise

353
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

de traços e química ambiental, atuando principalmente nos


seguintes temas: espectrofotometria, espectroscopia, emissão
óptica com plasma acoplado indutivamente (ICP-OES), tratamento
de efluentes, análise de água, aspergillus niger, tecnologia da
biomassa, biolubrificantes. Atualmente tem pesquisado sobre
energias renováveis, saneamento básico e desenvolvimento
sustentável. Atua no ensino superior desde 2017, como docente
em cursos de Ciências Aplicadas, Exatas e Tecnológicos, tanto no
ensino presencial como no ensino a distância (EaD). Professora do
Centro Universitário Inta (UNINTA), vinculada ao curso de
Engenharia Civil. Contato: [email protected]

Francinalda Aragão Carneiro é doutoranda em Educação pela


Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia (ULHT),
Lisboa – Portugal. Mestre em Educação pela Universidade
Lusófona de Humanidades e Tecnologias (2012) e revalidado pela
Universidade Federal do Ceará (UFC) com pesquisas e trabalhos
direcionados ao ensino de Física na Educação Básica. Especialista
em psicopedagogia pelo Instituto Superior de Tecnologia Aplicada
(UNINTA). Licenciada em Física pela Universidade Estadual Vale
do Acaraú (2007). Atualmente é professora de graduação nos
cursos de Engenharia Civil, Produção e Administração da UNINTA
e do curso de Engenharia Civil da faculdade Luciano Feijão (FLF).
Gestora de monitoria. Contato: [email protected]

354
AUTORAS e AUTORES

Capítulo 6 | Propostas de ação para reduzir a evasão e


aumentar o ingresso nos cursos de Gestão
Ambiental e do Agronegócio da Faculdade
UnB de planaltina (FUP)

Alexandre Nascimento de Almeida possui graduação em


Engenharia Florestal pela Universidade de Brasília (2003),
mestrado e doutorado em Engenharia Florestal pela Universidade
Federal do Paraná, concluídos nos anos de 2007 e 2011 na área de
concentração de economia, política e administração florestal.
Especialização em Administração de Negócios pela Association of
Business Executives (ABE). Coordenou equipes nos projetos
financiados: 1) “Oferta e Demanda de Madeira para fins
Industriais” para o Governo do Estado do Paraná (2006-2007); 2)
“Suporte à elaboração de estudos socioeconômicos, ambientais e
técnicos de instalações em áreas portuárias” para a Secretaria de
Portos da Presidência da República (SEP / PR) (2012-2015); 3)
“Deficiências dos Estudos de Impacto Ambiental – EIA” para a
Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP / DF)
(2017-2019) e 4) “Situação dos Bacharelados em Gestão da
Faculdade UnB de Planaltina: Diagnóstico e Propostas de Ação”
para a Universidade de Brasília (UnB) (2022-2023). Coordenou o
Programa de Pós-Graduação em Gestão Pública (PPGP / UnB)
(2016-2017) e coordena o Programa de Pós-Graduação em
Ciências Ambientais (PPGCA / UnB) (2024-Atual). Ministrou curso
de capacitação em Econometria Básica para servidores do
Ministério do Planejamento e Orçamento (MPOG) e Métodos
Quantitativos para servidores em convênios junto ao Ministério da

355
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

Educação (MEC), Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP),


Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) e Polícia Civil do
Distrito Federal (PCDF). Tem experiência na área de gestão
pública, ambiental e florestal, métodos quantitativos e avaliação de
impactos ambientais. Atualmente é professor Associado III da
Universidade de Brasília (UnB) e orientador dos programas de Pós-
graduação em Gestão Pública, Ciências Ambientais e Gestão e
Regulação de Recursos Hídricos da Faculdade UnB de Planaltina.
Possui mais de 200 trabalhos completos publicados em periódicos,
anais de congressos e capítulos de livros. Contato:
[email protected]

Ivonaldo Vieira Neres é servidor público efetivo na Universidade


de Brasília no cargo de Assistente em Administração desde 2010.
Bacharelado em Administração de Empresas e Mestre em Gestão
Pública. Experiências profissionais na área de Estatística
Inferencial aplicada, análise de dados com SPSS, Python para Data
Science e R Project, Professor nas disciplinas de Gestão de
Projetos, Gestão de Pessoas, Teoria Geral da Administração,
Metodologia Cientifica e Elaboração de Projetos. Pesquisador nas
áreas de avaliações socioeconômicas, mercado de trabalho e
desempenho no ensino superior. Contato: [email protected]

Luiz Cláudio Costa Ferreira possui graduação em Engenharia


Mecânica pela Universidade de Brasília (2012). Possui MBA em
Gestão Financeira: Controladoria e Auditoria na Escola de Pós-
Graduação em Economia da Fundação Getúlio Vargas (2018).
Mestrado Profissional em Gestão Pública (2021) pela Universidade
356
AUTORAS e AUTORES

de Brasília (2021). Atualmente é técnico administrativo da


Universidade de Brasília. Atuando principalmente nos seguintes
temas: avaliação de política pública, acesso ao ensino superior e
assistência estudantil. Pesquisador no grupo de pesquisa
“Laboratório de Pesquisa em História e Historiografia do Brasil”, da
Universidade de Brasília (2021). Contato: [email protected]

Samila Neres Farias da Silva é graduanda em Gestão Ambiental na


Universidade de Brasília, atualmente atuando como presidenta da
Empresa Júnior EMBRAGEA, de consultoria ambiental. Meu
compromisso com o desenvolvimento acadêmico e profissional é
constante, e sou apaixonada por explorar a interseção entre
toxicologia ambiental e saúde pública. Minha jornada acadêmica
tem me conduzido a uma dedicação particular à análise de água,
solo e sedimentos. Através da pesquisa e da prática, busco
contribuir para soluções sustentáveis e saudáveis em nosso
ambiente. Acredito que a compreensão profunda desses
elementos é essencial para promover um futuro mais limpo e
seguro para nossa sociedade. Estou comprometida em ampliar
meu conhecimento e compartilhar minhas descobertas para
contribuir com a gestão ambiental e a preservação da saúde
pública. Contato: [email protected]

357
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

Capítulo 7 | Fontes emergentes de proteína de origem


animal como alternativa de combate à
desnutrição infantil

José Lopes Neto é Técnico do Laboratório de Gastronomia do


Centro Universitário Inta (UNINTA). Especialista em Gastronomia
Vegana e Vegetariana (Estácio de Sá) e Gastrônomo (UNINTA),
com experiência de mais de 18 anos em cozinha industrial, cozinha
brasileira (franquias de restaurantes nacionais) e buffets (eventos
diversos). Desde 2019 desenvolve atividades como consultor no
ramo gastronômico, com orientação de cardápios, fichas técnicas,
boas práticas de fabricação e manipulação de alimentos, segurança
em ambiente de produção de alimentos, liderança em cozinha e
estabelecimentos de comercialização de alimentos, dentre outros;
e organização de eventos gastronômicos desde a elaboração de
cardápios a apresentação dos pratos. Em 2019 foi contemplado
pelo prêmio destaque universitário UNINTA na categoria
produção científica, importante reconhecimento pela instituição.
Contato: [email protected]

Roberta Lomonte Lemos de Brito Possui graduação em Medicina


Veterinária pela Universidade Estadual de Santa Cruz, BA,
especialização em Biotecnologia e em Saúde Coletiva pela
Universidade Católica Dom Bosco, MT, mestrado em Zootecnia
(Área de concentração: Produção de Ruminantes), pela
Universidade Estadual Vale do Acarau / Embrapa Caprinos e
Ovinos, CE, e doutorado em Medicina Veterinária (área de

358
AUTORAS e AUTORES

Medicina Veterinária Preventiva) na Universidade Estadual


Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP / Jaboticabal), SP.
Professora no Centro Universitário INTA-UNINTA nos cursos de
Medicina e no Mestrado Acadêmico em Biotecnologia. Tem
experiência na área de Saúde Pública, Saúde Animal,
Epidemiologia, Bioestatística, Doenças Infecciosas e Parasitárias.
Contato: [email protected]

Eliana de Jesus Lopes é doutoranda em Engenharia de Produção


(UFSC). Mestra e Bacharela em Engenharia de Produção, com
especialização em Gestão Ambiental, Engenharia de Segurança do
Trabalho e Tutoria em Educação a Distância e Docência do Ensino
Superior. Foi Coordenadora dos Cursos Tecnológicos de Processos
Gerenciais EaD (2021-2024) e Gestão Ambiental EaD (2022-
2024) do Centro Universitário Inta – UNINTA. Fora da academia
atuou nas áreas de suprimentos e gestão da qualidade.
Experiências na academia como membro do Núcelo Docente
Estruturante em cursos Tecnológicos e de bacharelado; e como
docente em cursos de Ciências Aplicadas, Exatas e Tecnológicos,
tanto no ensino presencial como no ensino a distância. Atua no
ensino superior desde 2017, com pesquisas nas áreas de logística
e cadeia de suprimentos, sustentabilidade, gestão da qualidade,
gestão de operações. Atua ainda como membro do Laboratório de
Desempenho Logístico (LDL) do Programa de Pós-Graduação da
UFSC. Contato: [email protected]

359
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

Capítulo 8 | Direito à Saúde: a invisibilidade da saúde


mental da mulher brasileira encarcerada e
a escassez de políticas públicas

Francielle Caroline Zacarkin é Graduada em Bacharelado em


Direito pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, UEPG / PR,
Especialista em Direito Civil e Processo Civil pela Universidade
Estácio de Sá, UNESA / RJ, Pós-graduanda em Gestão Pública pela
Universidade Estadual de Ponta Grossa, UEPG / PR. Advogada.
Contato: [email protected]

Henrique Franco Morita é Bacharel em direito e licenciado em


filosofia. Possui os títulos de mestre e doutor em filosofia pela
Universidade Federal de Santa Catarina. Realizou duas
especializações, uma na área de direito constitucional e outra na
área de filosofia moderna e contemporânea. Atualmente: a) é
professor na Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR); b) é
professor da Universidade Aberta do Brasil no curso de Graduação
em Administração Pública da Universidade Federal de Santa
Catarina; c) cursa Especialização em Ensino de Filosofia na
Universidade Federal de Pelotas; d) orienta trabalhos de conclusão
de curso na Pós-Graduação em Gestão Pública da Universidade
Estadual de Ponta Grossa; e) orienta trabalhos de conclusão de
curso na Pós-Graduação em Direito Constitucional da Academia
Brasileira de Direito Constitucional. Tem experiência como
docente em cursos de graduação e pós-graduação, tanto na
modalidade presencial quanto na modalidade à distância. Também

360
AUTORAS e AUTORES

atua como revisor de periódicos e possui vínculo com alguns


projetos de pesquisa e de extensão em andamento. É membro do
Núcleo de Ética e Filosofia Política (NÉFIPO) da UFSC e do Núcleo
de Estudos sobre Teorias da Justiça da UEL. Contato:
[email protected]

361
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

Capítulo 9 | Drivers para a adoção de energias


renováveis: review de tendências e desafios
globais

Francinalda Aragão Carneiro é doutoranda em Educação pela


Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia (ULHT),
Lisboa - Portugal. Mestre em Educação pela Universidade
Lusófona de Humanidades e Tecnologias (2012) e revalidado pela
Universidade Federal do Ceará (UFC) com pesquisas e trabalhos
direcionados ao ensino de Física na Educação Básica. Especialista
em psicopedagogia pelo Instituto Superior de Tecnologia Aplicada
(UNINTA). Licenciada em Física pela Universidade Estadual Vale
do Acaraú (2007). Atualmente é professora de graduação nos
cursos de Engenharia Civil, Produção e Administração da UNINTA
e do curso de Engenharia Civil da faculdade Luciano Feijão (FLF).
Gestora de monitoria. Contato: [email protected]

Eliana de Jesus Lopes é doutoranda em Engenharia de Produção


(UFSC). Mestra e Bacharela em Engenharia de Produção, com
especialização em Gestão Ambiental, Engenharia de Segurança do
Trabalho e Tutoria em Educação a Distância e Docência do Ensino
Superior. Foi Coordenadora dos Cursos Tecnológicos de Processos
Gerenciais EaD (2021-2024) e Gestão Ambiental EaD (2022-
2024) do Centro Universitário Inta – UNINTA. Fora da academia
atuou nas áreas de suprimentos e gestão da qualidade.
Experiências na academia como membro do Núcleo Docente
Estruturante em cursos Tecnológicos e de bacharelado; e como

362
AUTORAS e AUTORES

docente em cursos de Ciências Aplicadas, Exatas e Tecnológicos,


tanto no ensino presencial como no ensino a distância. Atua no
ensino superior desde 2017, com pesquisas nas áreas de logística
e cadeia de suprimentos, sustentabilidade, gestão da qualidade,
gestão de operações. Atua ainda como membro do Laboratório de
Desempenho Logístico (LDL) do Programa de Pós-Graduação da
UFSC. Contato: [email protected]

Flávio Albuquerque Ferreira da Ponte é Doutor, Mestre e Bacharel


em Engenharia Química pela Universidade Federal do Ceará (UFC),
com especialização em Tutoria em Educação a Distância e
Docência do Ensino Superior pelo Centro Universitário Inta
(Uninta) e especialização em Formação para Energias Renováveis
Pela Faculdade de Tecnologia CENTEC (FATEC). É professor do
Departamento de Tecnologia em Energias Renováveis do Centro
de Educação Aberta e a Distância (CEAD), Campus Ministro
Petrônio Portela, da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Atua no
Ensino Superior desde 2016, desempenhando papéis significativos
na academia. Atuação abrange tanto a modalidade presencial
quanto modalidade no ensino a distância (EaD). Na esfera da
pesquisa tem ênfase em otimização de processos, com foco em
energia, meio ambiente e sustentabilidade. Temas de interesse
incluem gestão de processos, biocombustíveis, biomateriais,
antioxidantes e catálises. Já contribuiu para a pesquisas
relacionadas a isolamentos e teste ativos de fitoterápicos como
platymiscium floribundum, flavonóides e triterpenos para fármacos.
Atualmente está envolvido em pesquisas que abordam otimização
de processos, desenvolvimento de processos e inovações, com
destaque a relevância da sustentabilidade. Além da dedicação à
363
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

área acadêmica, possui experiência profissional em otimização de


tecnologia de processos, com ênfase profissional em gestão de
processo de lactícínio e refino de óleos vegetais. Contato:
[email protected]

364
AUTORAS e AUTORES

Capítulo 10 | Potencial energético de briquetes de casca


de arroz em mistura com serragem de pinus

Sarah Cristinne Soares Calais é Engenheira Florestal pela


Universidade de Brasília (2023). Possui experiência no Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
e Serviço Florestal Brasileiro. Contato: [email protected]

Ailton Teixeira do Vale possui graduação em Engenharia Florestal


pela Universidade Federal de Viçosa (1983), mestrado em Ciências
Florestal pela Universidade Federal de Viçosa (1988) e doutorado
em Energia na Agricultura pela Universidade Estadual Paulista Júlio
de Mesquita Filho (2000). Atualmente é professor Associado 04 do
Departamento de Engenharia Florestal da Universidade de Brasília.
Tem experiência na área de Recursos Florestais e Engenharia
Florestal, com ênfase em Propriedades Físicas e Energéticas da
Madeira, de Biomassa em Geral e Resíduos Agroflorestais, atuando
principalmente nos seguintes temas: peletização, briquetagem,
carbonização e torrefação de madeira, resíduos agroflorestais e
bambu. Contato: [email protected]

Clarissa Melo Lima é doutora em Ciências Florestais pela


Universidade de Brasília (2017); mestre pelo Departamento de
Engenharia Florestal - Universidade de Brasília (2013); e graduada
em Engenharia Química pela Universidade Federal do Ceará

365
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

(2009). É professora colaboradora da Universidade de Brasília


(UnB). É Professora da Universidade Estadual de Goiás (UEG). Tem
experiência na área de extensão rural em comunidades residentes
no semiárido cearense, com agricultores familiares e produtores de
mamona para fabricação de biodiesel. Atuou em projetos
inovadores de extensão em tecnologia e gestão de biodiesel. Tem
experiência em Certificação ISO 9001 e Gestão da Qualidade. Tem
experiência também na área de Ciências Florestais, com ênfase em
colorimetria, espectroscopia no infravermelho, manejo e
tecnologia florestal e uso de produtos florestais em sistemas de
produção de carvão vegetal e gestão de processos produtivos em
operações em indústrias moveleiras de madeira, ergonomia, gestão
ambiental, legislação ambiental, poluição ambiental, produção,
inovação e sustentabilidade. Tem experiência em Engenharia
Química, com ênfase em análise de amostras de combustíveis
automotivos na área de óleo, gás e biodiesel; análises de modernas
tecnologias laboratoriais para controle da qualidade de serviços de
água e esgoto; e logística reversa baseada no condicionamento de
efluente de gaseificador de biomassa para geração de energia
elétrica. É orientadora de Projeto de Pesquisa e Elaboração de
Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação e Pós-Graduação.
Contato: [email protected]

366
AUTORAS e AUTORES

Capítulo 11 | Acampamento Terra Livre 2024: relatos


sobre o avanço recente da ofensiva contra
os povos e direitos indígenas no Brasil

Guilherme Rocha Câmara Parini está concluindo a graduação no


curso de Gestão Ambiental, no campus da UnB de Planaltina (FUP);
Curso técnico em Meio Ambiente realizado na UNICID
(Universidade Cidade de São Paulo), com o apoio do PRONATEC
(Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e
Emprego);Estágio no Zoológico de São Paulo, em 2009, como
monitor do Programa Criança Ecológica, criado pela Secretaria do
Meio Ambiente com o propósito de conscientizar as crianças sobre
a importância da preservação ambiental, através da educação
ambiental; Estágio no Centro de Referência em Educação
Ambiental, na SEMA (Secretaria do Meio Ambiente) de São Paulo,
de 2009 à 2010, como auxiliar administrativo; Entrevistador pelo
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), realizando
pesquisa de campo, coleta de dados e entrevistas em domicílios
para a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios);Entrevistador no Instituto DATAFOLHA, realizando
entrevistas por telefone, aplicação de questionário, coleta de
dados, pesquisas de opinião, de satisfação, de mercado e eleitoral.
Contato: [email protected]

Clarissa Melo Lima é doutora em Ciências Florestais pela


Universidade de Brasília (2017); mestre pelo Departamento de
Engenharia Florestal - Universidade de Brasília (2013); e graduada

367
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

em Engenharia Química pela Universidade Federal do Ceará


(2009). É professora colaboradora da Universidade de Brasília
(UnB). É Professora da Universidade Estadual de Goiás (UEG). Tem
experiência na área de extensão rural em comunidades residentes
no semiárido cearense, com agricultores familiares e produtores de
mamona para fabricação de biodiesel. Atuou em projetos
inovadores de extensão em tecnologia e gestão de biodiesel. Tem
experiência em Certificação ISO 9001 e Gestão da Qualidade. Tem
experiência também na área de Ciências Florestais, com ênfase em
colorimetria, espectroscopia no infravermelho, manejo e
tecnologia florestal e uso de produtos florestais em sistemas de
produção de carvão vegetal e gestão de processos produtivos em
operações em indústrias moveleiras de madeira, ergonomia, gestão
ambiental, legislação ambiental, poluição ambiental, produção,
inovação e sustentabilidade. Tem experiência em Engenharia
Química, com ênfase em análise de amostras de combustíveis
automotivos na área de óleo, gás e biodiesel; análises de modernas
tecnologias laboratoriais para controle da qualidade de serviços de
água e esgoto; e logística reversa baseada no condicionamento de
efluente de gaseificador de biomassa para geração de energia
elétrica. É orientadora de Projeto de Pesquisa e Elaboração de
Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação e Pós-Graduação.
Contato: [email protected]

Tito Ricardo Vaz da Costa é engenheiro eletricista formado pela


Universidade Federal do Ceará – UFC (2004), com especialização
em Controladoria de Finanças Corporativas pela FIPECAFI/USP
(2007), mestrado em Engenharia Elétrica pela Universidade de
Brasília – UnB (2013) e doutorado em Ciências Florestais pela UnB
368
AUTORAS e AUTORES

(2021). Profissional atuante na área de energia elétrica, com ênfase


em regulação do setor elétrico e sistemas de transmissão de
energia. Atualmente vinculado à Agência Nacional de Energia
Elétrica – ANEEL, ocupando o cargo de especialista em regulação;
e a Universidade de Brasília (UnB), na condição de professor
substituto. Contato: [email protected]

369
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

Capítulo 12 | Análise da Lei de Animais Comunitários:


estudo de caso da Faculdade de Planaltina
no Distrito Federal

Larissa Santos Salgado é graduada em Gestão Ambiental pela


Universidade de Brasília – UnB (2023). Brasília, Distrito Federal.
Contato: [email protected]

Luciana de Oliveira Miranda (in memorium) foi bacharel em


Sociologia e Política pela Pontifícia Universidade Católica do Rio
de Janeiro (1992), Mestre em Administração Pública pela
Fundação Getulio Vargas – RJ (1996) e Doutora em Administração
pela UnB / PPGA (2013). Foi professora associada da Universidade
de Brasília – UnB, campus Planaltina, atuando na graduação, nas
disciplinas de Gestão de Cooperativas e Administração Pública; e
no Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Gestão Pública
(PPGP), este como coordenadora-adjunta. Também foi
pesquisadora do Centro de Estudos Avançados de Governo e
Administração Pública (CEAG / UnB) desde agosto de 2009 e
Editora-chefe da Revista RP3 – Revista de Pesquisa em Políticas
Públicas desde 2019. Teve experiência em pesquisa e ensino na
área de Administração Pública, com ênfase em Governança e
Políticas Públicas.

Clarissa Melo Lima é doutora em Ciências Florestais pela


Universidade de Brasília (2017); mestre pelo Departamento de
Engenharia Florestal – Universidade de Brasília (2013); e graduada
370
AUTORAS e AUTORES

em Engenharia Química pela Universidade Federal do Ceará


(2009). É professora colaboradora da Universidade de Brasília
(UnB). É Professora da Universidade Estadual de Goiás (UEG). Tem
experiência na área de extensão rural em comunidades residentes
no semiárido cearense, com agricultores familiares e produtores de
mamona para fabricação de biodiesel. Atuou em projetos
inovadores de extensão em tecnologia e gestão de biodiesel. Tem
experiência em Certificação ISO 9001 e Gestão da Qualidade. Tem
experiência também na área de Ciências Florestais, com ênfase em
colorimetria, espectroscopia no infravermelho, manejo e
tecnologia florestal e uso de produtos florestais em sistemas de
produção de carvão vegetal e gestão de processos produtivos em
operações em indústrias moveleiras de madeira, ergonomia, gestão
ambiental, legislação ambiental, poluição ambiental, produção,
inovação e sustentabilidade. Tem experiência em Engenharia
Química, com ênfase em análise de amostras de combustíveis
automotivos na área de óleo, gás e biodiesel; análises de modernas
tecnologias laboratoriais para controle da qualidade de serviços de
água e esgoto; e logística reversa baseada no condicionamento de
efluente de gaseificador de biomassa para geração de energia
elétrica. É orientadora de Projeto de Pesquisa e Elaboração de
Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação e Pós-Graduação.
Contato: [email protected]

Iara Oliveira Fernandes é doutora em Ciências Ambientais pela


UnB (2024). Mestre em Solos e Qualidade de Ecossistemas pela
UFRB – Campus Cruz das Almas (2018). Engenheira Ambiental
pelo IFBA – Campus Vitória da Conquista (2016). Especialista em
Saneamento Ambiental pelo IFTM – Campus Uberaba (2022). Atua
371
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

nas áreas de manejo e conservação do solo e da água, gestão de


áreas contaminadas, geoprocessamento aplicado ao saneamento e
sequestro de mercúrio (Hg) pelo solo. Analista Ambiental da área
de Geoquímica do Solo na Hidrobr Consultoria LTDA desde
outubro de 2023. Contato: [email protected]

372
AUTORAS e AUTORES

Capítulo 13 | A implementação das políticas de saúde


em nível federal para pacientes com
diagnósticos de câncer

Nátalyn Leticia Oliveira de Amorim é graduada em Gestão de


Saúde Coletiva pela Universidade de Brasília (UnB). Brasília.
Distrito Federal. Tem experiência na área de Saúde Coletiva, com
ênfase em Saúde Pública. Contato: [email protected]

José Antonio Iturri de La Mata é Professor Associado do Curso de


Saúde Coletiva FCE/UnB. Possui graduação em Medicina Humana
– Universidad Peruana Cayetano Heredia (1984), Mestrado em
Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz (1994) e Doutorado
em Saúde Coletiva pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(2002) na área de Políticas Públicas, Planejamento e Administração
em Saúde. Pós-doutorado em curso (até 04/2024). Atualmente é
Professor Associado da Universidade de Brasília / Faculdade de
Ceilândia (FCE / UnB). Foi Coordenador Adjunto e Coordenador
pró-tempore do Curso de Saúde Coletiva / FCE / UnB. Tem
experiência na área de Saúde Coletiva, atuando principalmente nos
seguintes temas: Implementação e avaliação de políticas e
programas, utilização (uso e influência) da avaliação,
monitoramento de políticas e programas, modelos de atenção em
saúde, saúde comunitária, educação popular em saúde, avaliação
de tecnologias em saúde, apropriação social de novas tecnologias
de informação / comunicação (objeto do doutorado). Tem
experiência em consultorias nessas temáticas para órgãos do setor

373
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

público (níveis federal e estadual) e Organizações Não


Governamentais, participação em grupos de trabalho sobre o tema
e experiência de trabalho em gestão no setor de saúde
suplementar. Contato: [email protected]

Clarissa Melo Lima é doutora em Ciências Florestais pela


Universidade de Brasília (2017); mestre pelo Departamento de
Engenharia Florestal - Universidade de Brasília (2013); e graduada
em Engenharia Química pela Universidade Federal do Ceará
(2009). É professora colaboradora da Universidade de Brasília
(UnB). É Professora da Universidade Estadual de Goiás (UEG). Tem
experiência na área de extensão rural em comunidades residentes
no semiárido cearense, com agricultores familiares e produtores de
mamona para fabricação de biodiesel. Atuou em projetos
inovadores de extensão em tecnologia e gestão de biodiesel. Tem
experiência em Certificação ISO 9001 e Gestão da Qualidade. Tem
experiência também na área de Ciências Florestais, com ênfase em
colorimetria, espectroscopia no infravermelho, manejo e
tecnologia florestal e uso de produtos florestais em sistemas de
produção de carvão vegetal e gestão de processos produtivos em
operações em indústrias moveleiras de madeira, ergonomia, gestão
ambiental, legislação ambiental, poluição ambiental, produção,
inovação e sustentabilidade. Tem experiência em Engenharia
Química, com ênfase em análise de amostras de combustíveis
automotivos na área de óleo, gás e biodiesel; análises de modernas
tecnologias laboratoriais para controle da qualidade de serviços de
água e esgoto; e logística reversa baseada no condicionamento de
efluente de gaseificador de biomassa para geração de energia
elétrica. É orientadora de Projeto de Pesquisa e Elaboração de
374
AUTORAS e AUTORES

Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação e Pós-Graduação.


Contato: [email protected]

Tito Ricardo Vaz da Costa é engenheiro eletricista formado pela


Universidade Federal do Ceará – UFC (2004), com especialização
em Controladoria de Finanças Corporativas pela FIPECAFI / USP
(2007), mestrado em Engenharia Elétrica pela Universidade de
Brasília – UnB (2013) e doutorado em Ciências Florestais pela UnB
(2021). Profissional atuante na área de energia elétrica, com ênfase
em regulação do setor elétrico e sistemas de transmissão de
energia. Atualmente vinculado à Agência Nacional de Energia
Elétrica – ANEEL, ocupando o cargo de especialista em regulação;
e a Universidade de Brasília (UnB), na condição de professor
substituto. Contato: [email protected]

375
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

Capítulo 14 | A plataforma Instagram como ferramenta


para divulgação de conhecimento sobre
sustentabilidade – a experiência do perfil
@gestao.ambiental.unb

Flávia Nogueira de Sá é Bióloga (UFRJ), Mestre e Doutora em


Ecologia (UNICAMP). Pós-doutorados em Interação entre Animais
e Plantas na Macquarie University (Austrália) e na University of
Nevada (EUA). Professora na UFRGS entre 2005 e 2010, atuando
em pesquisa e nos cursos de graduação em Biologia e pós-
graduação em Ecologia. Desde 2010 é professora na UnB campus
Planaltina, atuando nos cursos de Licenciatura em Ciências
Naturais e Gestão Ambiental. Já foi coordenadora de curso de
graduação por 3 ocasiões. Tem experiência em pesquisa na área de
interação entre insetos e plantas e Ecologia Química,
especialmente em análise de compostos secundários e
investigação no seu papel nas defesas de plantas. Também atua
como extensionista na Instituição inglesa ClimateScience, fazendo
parte da coordenação de uma olimpíada mundial e na UnB,
coordenando 2 projetos de divulgação da universidade e do curso
de Gestão Ambiental através de visitas em escolas públicas e na
administração do perfil @gestao.ambiental.unb. Contato:
[email protected]

Vitória Cristhina da Silva Santos possui ensino médio pelo Colégio


Cívico Militar Centro Educacional 03 de Sobradinho (2019). É
Graduanda em Gestão Ambiental pela UnB. Tem experiência na

376
AUTORAS e AUTORES

área de Ciências Ambientais. Contato:


[email protected]

Júlia de Sousa Vale possui ensino médio pelo Instituto São José
(2022). É Graduanda em Gestão Ambiental pela UnB. Brasília,
Distrito Federal. Contato: [email protected].

377
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

Capítulo 15 | Análise HAZOP de um novo sistema


automatizado destinado ao
aproveitamento das vísceras de tilápia do
Nilo para biocombustíveis

Francisco de Assis da Silva Mota possui Mestrado Pela


Universidade Federal do Ceará (UFC). Doutorado em Engenharia
de Teleinformática, com ênfase em Automação industrial, pela
Universidade Federal do Ceará (UFC). Professor na pós-graduação
do curso de Engenharia Elétrica (PPGE). Membro do comitê de
especialistas em energias renováveis e bicombustíveis do
Consorcio Interestadual de desenvolvimento sustentável do
Nordeste. Atuação no desenvolvimento de tecnologias para
produção de combustíveis renováveis a partir da captura de CO2.
Atuação no desenvolvimento e integração de tecnologias
ambientais para produção de energia elétrica a serem instaladas
em regiões remotas (Integração Máquina biopeixes – Reator
Multifuncional destinado a produção de biodiesel). Possui
experiência em projetos de equipamentos destinado a
biocombustível. Atuação profissional utilizando de simuladores de
processos: Hysys, CHEMCAD. Atuando em projetos com
empresas internacionais: TECBIO, NASA, EMBRAER e BOEING
(PROJETO - BIOQUEROSENE PARA AVIAÇÃO). Conhecimentos
nos setores de derivados de petróleo, análise e desenvolvimento
de novos produtos. Desenvolvimento de unidades pilotos,
destinadas ao aproveitamento de resíduos do biodiesel
(Gliceroprocess), material orgânico oriundo da produção de tilápia
(Projeto Biopeixes). Atualmente trabalhando no desenvolvimento

378
AUTORAS e AUTORES

de planta piloto destinada a produção de hidrocarbonetos a partir


do coco de babaçu e coco de praia. Membro e coordenador do
Grupo de Estudos Avançados em Processos Industriais (GEAPI).
Coordenação do Núcleo de Automação em Plantas Pilotos (NAPP).
Colaborador no Grupo de pesquisas e ciências de Alimentos. Vice
coordenador Acadêmico do curso de Especialização em Logística
e Distribuição da UFPI. Avaliador institucional (IES) INEP.
Coordenador do curso de Engenharia de produção (2018-2020).
Projetos de implantação e acompanhamento de riscos de
segurança em plantas para biocombustíveis (HAZOP, FEI, CEI).
Desenvolvimento e implantação de cadeia produtivas destinadas
ao beneficiamento do coco babaçu (Projeto Mini Franquias
Sociais). Apoio, a partir do conhecimento de técnicas de segurança
industrial, ao projeto Masterplan do Porto de Parnaíba – PI (Ações
para delineamento da zona de tancagem para armazenamento de
amônia). Contato: [email protected]

Antônio Bruno de Vasconcelos Leitão é Doutor em Engenharia


Mecânica pela Universidade Estadual de Campinas, FEM /
UNICAMP, na área de concentração Térmica e Fluidos com ênfase
em simulação de processos de mudança de fase e armazenamento
de energia térmica. Possui Mestrado em Ciência e Engenharia dos
Materiais pela Universidade Federal do Piauí, UFPI. Possui
Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho pela
Universidade Cândido Mendes. Engenheiro Mecânico e concluinte
do curso superior de Tecnologia em Energias Renováveis ambos
pela Universidade Federal do Piauí. Possui capacitação em
Hidrogênio Verde pelo projeto H2Brasil, coordenado pelo
Ministério de Minas e Energia em parceria com a Agência Alemã
379
O DEBATE SOCIOAMBIENTAL NO SÉCULO XXI

GIZ (Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit)


através da cooperação Brasil-Alemanha. Cursou quatro anos de
Engenharia Química pela Universidade Federal do Ceará, UFC.
Atuou por treze anos como Profissional de Navegação Aérea na
Infraero / Nav Brasil Serviços de Navegação Aérea S.A nos
aeroportos de Uberlândia – MG e Teresina – PI. Técnico em
Informações Aeronáuticas pelo Instituto de Controle do Espaço
Aéreo (ICEA) localizado no Centro Técnico Aeroespacial (CTA) em
São José dos Campos-SP. Atualmente é professor do Magistério
Superior no curso de Engenharia Mecânica da Universidade
Federal do Piauí e do Programa de Pós-Graduação em Ciência e
Engenharia dos Materiais atuando na linha de pesquisa simulação
computacional na Engenharia dos Materiais. Também atua nos
seguintes temas: Energia Térmica, Energias Renováveis, Métodos
numéricos aplicados à Transferência de Calor e Mecânica dos
Fluidos Computacionais, Aplicação dos materiais associados à
cadeia produtiva do hidrogênio de baixo carbono. Membro do
Núcleo de Altos Estudos em Energias Renováveis do Piauí
(NAEERPI) com foco no desenvolvimento do hidrogênio verde,
tendo o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Piauí
(FAPEPI). Apoio ao projeto Masterplan do Porto de Luís Correa-PI
com ações na análise de segurança industrial na zona de tanques
para armazenamento de amônia verde e ao projeto Masterplan do
hidrogênio de baixo carbono do Estado do Piauí. Contato:
[email protected]/[email protected]

Clarissa Melo Lima é doutora em Ciências Florestais pela


Universidade de Brasília (2017); mestre pelo Departamento de
Engenharia Florestal – Universidade de Brasília (2013); e graduada
380
AUTORAS e AUTORES

em Engenharia Química pela Universidade Federal do Ceará


(2009). É professora colaboradora da Universidade de Brasília
(UnB). É Professora da Universidade Estadual de Goiás (UEG). Tem
experiência na área de extensão rural em comunidades residentes
no semiárido cearense, com agricultores familiares e produtores de
mamona para fabricação de biodiesel. Atuou em projetos
inovadores de extensão em tecnologia e gestão de biodiesel. Tem
experiência em Certificação ISO 9001 e Gestão da Qualidade. Tem
experiência também na área de Ciências Florestais, com ênfase em
colorimetria, espectroscopia no infravermelho, manejo e
tecnologia florestal e uso de produtos florestais em sistemas de
produção de carvão vegetal e gestão de processos produtivos em
operações em indústrias moveleiras de madeira, ergonomia, gestão
ambiental, legislação ambiental, poluição ambiental, produção,
inovação e sustentabilidade. Tem experiência em Engenharia
Química, com ênfase em análise de amostras de combustíveis
automotivos na área de óleo, gás e biodiesel; análises de modernas
tecnologias laboratoriais para controle da qualidade de serviços de
água e esgoto; e logística reversa baseada no condicionamento de
efluente de gaseificador de biomassa para geração de energia
elétrica. É orientadora de Projeto de Pesquisa e Elaboração de
Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação e Pós-Graduação.
Contato: [email protected]

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