Sustentabilidade em Ação - Volume 1

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2023 – Editora Uniesmero

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Organizador

Jader Luís da Silveira

Editor Chefe: Jader Luís da Silveira


Editoração e Arte: Resiane Paula da Silveira
Imagens, Arte e Capa: Freepik/Uniesmero

Revisão: Respectivos autores dos artigos

Conselho Editorial
Ma. Tatiany Michelle Gonçalves da Silva, Secretaria de Estado do Distrito Federal, SEE-DF
Me. Elaine Freitas Fernandes, Universidade Estácio de Sá, UNESA
Me. Laurinaldo Félix Nascimento, Universidade Estácio de Sá, UNESA
Ma. Jaciara Pinheiro de Souza, Universidade do Estado da Bahia, UNEB
Dra. Náyra de Oliveira Frederico Pinto, Universidade Federal do Ceará, UFC
Ma. Emile Ivana Fernandes Santos Costa, Universidade do Estado da Bahia, UNEB
Me. Rudvan Cicotti Alves de Jesus, Universidade Federal de Sergipe, UFS
Me. Heder Junior dos Santos, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP
Ma. Dayane Cristina Guarnieri, Universidade Estadual de Londrina, UEL
Me. Dirceu Manoel de Almeida Junior, Universidade de Brasília, UnB
Ma. Cinara Rejane Viana Oliveira, Universidade do Estado da Bahia, UNEB
Esp. Jader Luís da Silveira, Grupo MultiAtual Educacional
Esp. Resiane Paula da Silveira, Secretaria Municipal de Educação de Formiga, SMEF
Sr. Victor Matheus Marinho Dutra, Universidade do Estado do Pará, UEPA
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Silveira, Jader Luís da


S587p Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro
Verde - Volume 1 / Jader Luís da Silveira (organizador). – Formiga
(MG): Editora Uniesmero, 2023. 169 p. : il.
Formato: PDF
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Modo de acesso: World Wide Web
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5492-029-2
DOI: 10.5281/zenodo.10001226

1. Sustentabilidade. 2. Meio Ambiente e Ecologia. 3. Ciência e


Natureza. I. Silveira, Jader Luís da. II. Título.

CDD: 370.7
CDU: 577.5

Os artigos, seus conteúdos, textos e contextos que participam da presente obra apresentam
responsabilidade de seus autores.

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Acesse a obra originalmente publicada em:


https://www.uniesmero.com.br/2023/10/sustentabilidade-em-
acao-ciencia-e.html
AUTORES

ANDREIA CRISTINA FURTADO


CLARISSE SILVA VITÓRIA
CRISTINA FERREIRA ASSIS
DANIELLE NATHALLY SILVA
DHULLY MARIELE DOS SANTOS
DOUGLAS LUIZ MAZUR
ELISMAR GARRETO LOPES
GABY CARVALHO ALVES
IVONETE TEREZINHA TREMEA PLEIN
JOÃO GABRIEL DE REZENDE CORREA PIMENTA
JOSYMAR CLEITON PEREIRA DE BARROS
JÚLIO CÉSAR DOS SANTOS SANTANA
KELLY ROBERTA MAZZUTTI LÜBECK
LUÃ FÁBIO NUNES DA CONCEIÇÃO SANTANA
MATHEUS VITOR DINIZ GUERI
RHADSON REZENDE MONTEIRO
RODRIGO DA SILVA MAIA
ROSINEIDE FÁTIMA DALEASTE
WALDIR NAGEL SCHIRMER
WELLINGTHON COELHO DE OLIVEIRA
APRESENTAÇÃO

Vivemos em um momento crítico da história da humanidade, em que os


desafios ambientais e sociais que enfrentamos são inegáveis e urgentes. A crescente
degradação do nosso planeta, a escassez de recursos naturais, a mudança climática
e a perda de biodiversidade são ameaças reais que exigem ação imediata. Nesse
cenário, a busca pela sustentabilidade tornou-se imperativa, e a ciência desempenha
um papel fundamental na compreensão, na mitigação e na resolução desses
problemas.

"Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde" é uma


obra que surge como um farol de conhecimento e inspiração em meio às incertezas
de um mundo em transformação. A obra explora as raízes de nossos problemas
ambientais e as complexidades de sua resolução. Mas "Sustentabilidade em Ação"
não se detém na análise: ele também oferece um tesouro de práticas e experiências
reais que demonstram como a teoria se traduz em ações tangíveis.

Nossa jornada começa com uma reflexão sobre o que sustentabilidade


realmente significa, mergulhando em uma visão holística que abrange não apenas o
meio ambiente, mas também questões sociais, econômicas e culturais. A partir daí,
exploramos as bases científicas da sustentabilidade, abordando tópicos que vão
desde a conservação da biodiversidade até a gestão dos recursos hídricos, da energia
renovável à agricultura sustentável.

Este livro é uma fonte valiosa de informações para estudantes, acadêmicos,


formuladores de políticas e qualquer pessoa que esteja comprometida em promover
a sustentabilidade em sua vida pessoal ou profissional. Ao folhear estas páginas, você
será levado a explorar as muitas maneiras pelas quais a ciência e a prática se
entrelaçam para moldar um futuro mais promissor para todos.

"Sustentabilidade em Ação" é uma chamada à ação, um lembrete de que todos


nós temos um papel a desempenhar na construção de um mundo mais sustentável.
Convidamos a se inspirar, a se informar e a se engajar, pois juntos podemos
transformar a teoria em ação e pavimentar o caminho para um futuro verde e próspero
para as gerações vindouras.
Que este livro sirva como um farol de esperança e sabedoria em nossa busca
incessante por um mundo mais sustentável. O futuro está em nossas mãos, e a ciência
é nossa bússola. É hora de agir.

Boa leitura!
SUMÁRIO

Capítulo 1
AMAZÔNIA E AS DIVERSIDADES FÚNGICAS, ESTUDO DE UMA
LOCALIDADE NA MAIOR USINA HIDRELÉTRICA BRASILEIRA: UM RELATO
DE EXPERIÊNCIA 9
Wellingthon Coelho de Oliveira; Rodrigo da Silva Maia; Dhully Mariele Dos
Santos; Elismar Garreto Lopes

Capítulo 2
AGROECOLOGIA: UM CAMINHO
Ivonete Terezinha Tremea Plein 21

Capítulo 3
A GOVERNANÇA AMBIENTAL E OS CRITÉRIOS ESG PARA FINS DE
PRESERVAÇÃO AMBIENTAL 36
João Gabriel de Rezende Correa Pimenta

Capítulo 4
ECOPEDADGOGIA, ECOÉTICA E SUSTENTABILIDADE: CAMINHOS PARA
O ENSINO DAS CIÊNCIAS AGRARIAS, AMBIENTAIS E SOCIAIS APLICADAS
A LUZ DAS POLITICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL 53
Rhadson Rezende Monteiro; Cristina Ferreira Assis

Capítulo 5
ODS 6 E A GESTÃO HÍDRICA: GOVERNANÇA E PARTICIPAÇÃO SOCIAL
DOS COMITÊS DE BACIAS HIDROGRÁFICA (CBH) DO ESTADO DA BAHIA
Rhadson Rezende Monteiro; Clarisse Silva Vitória; Luã Fábio Nunes da 69
Conceição Santana; Júlio César dos Santos Santana

Capítulo 6
REFLEXÕES SOBRE UMA FORMAÇÃO CONTINUADA PARA OS ANOS
INICIAIS ENVOLVENDO MATEMÁTICA E EDUCAÇÃO AMBIENTAL 88
Rosineide Fátima Daleaste; Kelly Roberta Mazzutti Lübeck

Capítulo 7
A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO FORMAL: REFLEXÃO SOBRE OS
IMPACTOS DO AQUECIMENTO GLOBAL NA DÉCADA OCEÂNICA PARA O
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA 110
Gaby Carvalho Alves; Danielle Nathally Silva; Josymar Cleiton Pereira de
Barros

Capítulo 8
POTENCIAL DE GERAÇÃO DE BIOGÁS A PARTIR DE RESÍDUOS
AGROINDUSTRIAIS: BAGAÇO DE MALTE
Douglas Luiz Mazur; Waldir Nagel Schirmer; Matheus Vitor Diniz Gueri; 131
Andreia Cristina Furtado

Capítulo 9
DISCUSSÃO SOBRE O VALOR VENAL DO IMÓVEL NA ÓTICA DA
SUSTENTABILIDADE 145
João Gabriel de Rezende Correa Pimenta

AUTORES 165
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

Capítulo 1
AMAZÔNIA E AS DIVERSIDADES FÚNGICAS,
ESTUDO DE UMA LOCALIDADE NA MAIOR
USINA HIDRELÉTRICA BRASILEIRA: UM
RELATO DE EXPERIÊNCIA
Wellingthon Coelho de Oliveira
Rodrigo da Silva Maia
Dhully Mariele Dos Santos
Elismar Garreto Lopes

9
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

AMAZÔNIA E AS DIVERSIDADES FÚNGICAS, ESTUDO DE UMA


LOCALIDADE NA MAIOR USINA HIDRELÉTRICA BRASILEIRA: UM
RELATO DE EXPERIÊNCIA

Wellingthon Coelho de Oliveira


Graduando em Ciências Biológicas pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Pará (IFPA), campus Tucuruí. E-mail: [email protected].

Rodrigo da Silva Maia


Professor do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico (EBTT) do Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia do Pará (IFPA), campus Tucuruí. Graduado em
Ciências Biológicas, Mestre e Doutor em Ciências Ambientais. Especialista em
Ensino de Língua Inglesa. Email: [email protected].

Dhully Mariele Dos Santos


Graduanda em Ciências Biológicas pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Pará (IFPA), campus Tucuruí. E-mail: [email protected].

Elismar Garreto Lopes


Graduanda em Ciências Biológicas pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Pará (IFPA), campus Tucuruí. E-mail: [email protected].

RESUMO
Os fungos são seres vivos altamente especializados que atuam na
decomposição da matéria orgânica. O nome “Fungos” é amplo e
consistente, pois existem diversas formas de classificar e nomear
esse grupo. Eles são chamados de macro/microfungos dependendo
da estrutura morfológica que se apresentam. Microfungos são
aqueles que apresentam estruturas morfológicas e reprodutivas que
só podem ser visualizadas ao microscópio óptico. Por sua vez, os
macrofungos contêm estruturas especializadas (esporomas) que são
facilmente visualizadas. A identificação desses indivíduos ocorreu na
ilha de germoplasma localizada no município de Tucuruí Pará, e tem
importante função de contribuir com estudos específicos nesta
localidade. Após a construção da barragem de Tucuruí, surgiram

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Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

1.110 ilhas nas bacias do Tocantins, habitadas por 6.500 pessoas,


que viviam basicamente do extrativismo animal e vegetal. Os
impactos ambientais após a construção da barragem eram iminentes
e como medida de mitigação foi criada a ilha de germoplasma, sendo
um projeto subsidiado pelo Instituto Nacional de Pesquisas da
Amazônia (INPA), no qual foram plantadas diferentes espécies de
árvores coletadas na área que seriam inundados, distribuídos em 28
parcelas de 2,4 ha. Ao todo, foram observados 20 fungos, sendo 15
(95%) pertencentes ao filo Basidiomycota e 5 (5%) ao Ascomycota.
Além disso, fungos das ordens (Polyporales) e (Agaricales) foram
frequentemente identificados. Polyporales são popularmente
conhecidos como orelha-de-pau devido ao hábito do basidioma e por
possuírem grande eficiência na degradação da lignina e/ou celulose
e hemicelulose presentes na madeira. Agaricales são fungos
importantes para a ciclagem de nutrientes e são eficazes na
degradação da madeira, pois possuem enzimas lignocelulolíticas.
Palavras-chave: Fungos. Basidiomycota. Amazônia. Macrofungos.
Ascomycota.

ABSTRACT
Fungi are highly specialized living beings that act in the decomposition
of organic matter. The name “Fungi” is wide and consistent, as there
are several ways to classify and name this group. They are called
macro/microfungi depending on the morphological structure that is
presented. Microfungi are those that present morphological and
reproductive structures that can only be visualized by an optical
microscope. In return, macrofungi contain specialized structures
(sporomes) that are easily visualized. The identification of these
individuals took place on the germplasm island located in the city of
Tucuruí Pará, and has an important function in contributing to specific
studies in this location. After the construction of the Tucuruí dam,
1,110 islands appeared in the Tocantins basins, inhabited by 6,500
people, who basically lived from animal and plant extractivism. The
environmental impacts after the construction of the dam were
imminent and as a mitigation measure the germplasm island was
created, being in a project subsidized by the National Institute of
Amazonian Research (INPA), in which in plantadas different species
of trees collected in the area that would be flooded, distributed in 28
plots of 2.4 ha. Overall, 20 fungi were observed, 15 (95%) belonging
to the Basidiomycota phylum and 5 (5%) to the Ascomycota. In
addition, fungi of the orders (Polyporales) and (Agaricales) were
frequently identified. Polyporales are popularly known as wood ear
due to the habit of the basidiome and because they have great
efficiency in degrading the lignin and/or cellulose and hemicellulose
that are present in the wood. Agaricales are important fungi for nutrient
cycling and are effective in degradation wood, as they have
lignocellulolytic enzymes.
Keywords: Fugus. Basidiomycota. Amazonia. Macrofungi.
Ascomycota.

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Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

INTRODUÇÃO

A Usina Hidrelétrica de Tucuruí, situada no estado do Pará, foi edificada antes


de 23 de janeiro de 1986 quando o conselho nacional do meio ambiente (CONAMA)
estabeleceu a sua resolução n. 001 para consolidar a lei federal n 6.938 de 31 de
agosto de 1981, ordenando relatórios sobre os impactos que a mesma poderia
ocasionar ao meio ambiente (FEARNSIDE, 2015).
Após a construção da barragem de Tucuruí surgiram 1.110 ilhas nas bacias do
Tocantins sendo habitadas por 6.500 pessoas, que viviam basicamente do
extrativismo animal e vegetal (PINTO, 2012). Os impactos ambientais após a
construção da barragem eram iminentes e como medida mitigatória a ilha do
germoplasma foi criada, sendo um projeto subsidiado pelo Instituto nacional de
pesquisas da Amazônia (INPA), no qual foram plantadas diferentes espécies de
árvores coletadas na área que seria alagada, distribuídas em 28 parcelas de 2,4 ha.
(FEARNSIDE, 2015; LEÃO et al., 2021).
Os conhecimentos voltados para a comunidade fúngica é primordial para
restauração de áreas que sofreram impactos ambientais (FINK et al., 2021), pois
atuam diretamente na ciclagem de nutrientes no solo (KIRK et al., 2008). Demasiados
estudos relataram que os fungos têm papel significativo para a manutenção da
diversidade de plantas e para o funcionamento dos ecossistemas (SHIVAS; HYDE,
1997).
A denominação “Fungos” é ampla e consistente pois existem diversas formas
de classificar e denominar esse grupo. Os mesmos são chamados de
macro/microfungos dependendo da estrutura morfológica que é apresentada. Assim,
microfungos são aqueles que apresentam estruturas morfológicas e reprodutivas que
só podem ser visualizadas pelo microscópio óptico. Em contrapartida, os macrofungos
contêm estruturas especializadas (esporomas) que são facilmente visualizadas
(MARQUES, 2012).
No mundo estão descritas cerca de 99.000 espécies de fungos das 1.500.000
espécies que se acredita existir (KIRK et al., 2008). A classificação mais recente dos
fungos “verdadeiros” (stricto sensu), são atribuídas através de estudos filogenéticos e
propostas por um grupo de micologistas especialistas. Podendo ser dividida em 7 filos,
10 subfilos, 35 classes, 12 subclasses e 129 ordens (HIBBETT et al., 2007).

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Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

Neste estudo, realizamos a identificação de macrofungos que foram


observados na ilha do germoplasma e os classificamos de acordo com as suas
respectivas ordens, com o intuito de fornecer subsídios para pesquisas futuras na
mesma área.

MATERIAIS E MÉTODOS

Os fungos foram observados na ilha do germoplasma, reservatório de Tucuruí-


Pará, posicionada geograficamente a 3º51’58,3’’S e 49o38’25,8’’W. (Mapa 1)
Neste trabalho foi realizada uma visita na ilha de Germoplasma com intuito de
fotografar os macrofungos e identificá-los. A expedição ocorreu em 12 de abril de
2023, no período das 8:00 às 11:00 da manhã. As áreas percorridas pelos
pesquisadores se concentraram em: Quadra 8, quadra 20, quadra 16, parcela nativa
4, quadra 6, quadra 13, quadra 11, quadra 5 e 22.
Em campo foram utilizadas câmeras fotográficas para auxílio na identificação
de estruturas macroscópicas desses fungos, fazendo-se uso de uma régua para se
obter uma melhor resolução do tamanho dos macrofungos que foram fotografados.
Para cada espécie localizada fez-se uso de uma ficha de campo, para anotar
informações importantes como: data da coleta, horário, e a quadra em que os fungos
foram visualizados.
A identificação e classificação taxonômica dos fungos são abordados no livro
“Primavera Fungi” (TIM, 2018). Assim, foi possível obter uma melhor visualização e
determinação dos macrofungos que foram registrados (Imagem 1).

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Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

Imagem 1- Fungos fotografados e suas respectivas espécies;(1) S.ostrea. (2) Mycena


aphitophora. (3) Calyptella capula. (4) Geastrum aculeatum (5) Podoscypha petalodes. (6)
Cookeina speciosa. (7) Microporus aculeatus. (8) Favolus tenuiculus p.Beauv. (9) Cordyceps
militaris. (10) Xylaria telfairii. (11) Perenniporia medulla-panis. (12) Lacaria laccata. (13)
Tricholoma Esquestre. (14) Geastrum echinulatum. (15) Trametes betulina. (16) Marasmius
rotula. (17) Psathyrella abieticola. (18) Crypothecia subnidulans. (19) Daldinha subnidulans.
(20) Amauroderma rugossum.

Fonte: autores (2023).


Mapa 1- localização ilha do germoplasma

Fonte: autores (2023).

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Foram evidenciados 20 fungos no geral, sendo que 2 grandes filos foram


observados, Basidiomycota e Ascomycota. As identificações corresponderam a 20

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Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

(100%) de todos os fungos que foram evidenciados e classificados, sendo que 15


(95%) foram aqueles pertencentes ao filo dos Basidiomycotas e 5 (5%) foram os
Ascomycota.
Do Filo dos Basidiomycotas foram encontrados da classe dos Agaricomycetes
e suas respectivas ordens: Russulales, Agaricales, Geastrales, Polyporales,
Geastrales Hosaka. Do filo dos Ascomycota foram observados da classe dos
Pezizomycota, Sordariomycetes e arthoniomicetos e suas respectivas ordens,
Pezizales, Hypocreales, Arthoniales. Os fungos que foram observados e identificados
com frequência foram aqueles da ordem dos Agariacales e Polyporales,
respectivamente, com uma quantidade de 8 e 6 indivíduos (Tabela 1).
Os fungos degradadores de madeira podem ser divididos em 3 grupos:
Podridão branca; podridão parda ou marrom, podridão macia, mole ou branda
(BLANCHETTE,1995; CASTRO, 2009; FENGEL; WEGENER, 1989; MORESCHI,
2013; SCHWARZE, 2007; SOARES, 1998). Os principais fungos responsáveis pela
podridão branca e parda são os pertencentes a classe basidiomicetes, e os
causadores de podridão mole são os ascomycetos e schizomicetos (MORESCHI,
2013).
Os macrofungos pertencentes ao grupo dos agaricales foram observados com
frequência. Esses cogumelos apresentam diversas formas como lamelados, formas
reduzidas e clavarioides (MATHENY et al., 2007). Esses cogumelos são importantes
para a ciclagem de nutrientes e são eficazes na degradação da madeira, pois
possuem enzimas lignocelulolíticas (RYVARDEN, 1991; BEGON et al., 2006).
Outro grupo de fungos que foram identificados com frequência foram da classe
dos Polyporales pertencentes ao filo dos Basidiomycota, sendo eles basidiomicetos
macroscópicos que são caracterizados por apresentar o himenóforo tubular
(GILBERTSON; RYVARDEN, 1986; ALEXOPOULOS et al., 1996). Esses fungos são
conhecidos popularmente como orelhas-de-pau devido ao hábito do basidioma e por
possuir grande eficácia em degradar a lignina e/ou celulose e hemicelulose que estão
presentes na madeira (NEWELL et al., 1996; ANAGNOST, 1998). Outra característica
importante desses fungos é a presença de poros na parte inferior do basidioma,
diferente dos cogumelos que possuem lamelas aderidas ao píleo (FIGUEIREDO et
al., 2020).
No mundo estão descritas cerca de 99.000 espécies de fungos (KIRK et al.,
2008), sendo assim o filo dos Basidiomycotas é considerado o mais evoluído do reino

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Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

fungi. Existem registros com mais de 29.900 espécies de Basidiomycota, com


aproximadamente 1.350 gêneros, em 130 famílias, sendo este o segundo maior grupo
(KIRK et al., 2001).
O Brasil é composto por um habita com uma alta biodiversidade, abrigando
cerca de 60% de todas as espécies no planeta terra, possuindo maior diversidade
micro habitas e matéria orgânica (CAPELARI; GUGLIOTTA, 1996). De modo geral, os
fungos dependem totalmente da maneira em que o ambiente se comporta,
principalmente em relação a umidade do ar e a temperatura (PUTZKE; PUTZKE 2013;
WEBSTER; WEBER, 2007), e disponibilidade de nutrientes e carbono no solo
(CURLEVSKI et al., 2010).

Tabela 1- Descrição taxonômica da ordem, família e espécie dos fungos. Seguindo com
número de indivíduos que foram observados.

Classificação Taxonômica dos fungos


Número de
Ordem Família Espécie
indivíduos
Stereaceae S.ostrea 20
Russulales
Marasmiaceae Calyptella capula 8

Mycenaceae M.aphitophora 1
Hydrangeacee Lacaria laccata 1
Tricholoma
Tricholomataceae 1
Esquestre
Agaricales
Marasmiaceae Marasmius rotula
4
Psathyrellacea

Psathyrellaceae Psathyrella abieticola 1

Geastraceae Geastrum aculeatum


Geastrales 1

Geastrales
Geastraceae Corda Geastrum echinulatum 1
Hosaka

Meruliaceae Podoscypha petalodes 1

Polyporaceae
Microporus aculeatus 1

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Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

Polyporales Polyporaceae
Favolus tenuiculus
1
p.Beauv

Polyporaceae Perenniporia medulla-


1
panis

Polyporaceae
Trametes betulina 1

Ganodermataceae Amauroderma rugosum 1


Pezizales Sarcoscyphaceae Cookeina speciosa 1
Hypocreales Codycipitaceae Cordyceps militaris 4
Xylariaceae Xylaria telfairii
1
Xylariales
Xylariaceae
Daldinia concentrica 3
Cryptothecia
Arthoniales Arthoniaceae 1
subnidulans
Fonte: Autores (2023).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os fungos encontrados em grande abundância foram aqueles pertencentes ao


filo dos Basidiomycotas e em menor parcela observou-se os Ascomycotas. A
expedição e observação dos fungos são de suma importância para a comunidade
científica, uma vez que a barragem de Tucuruí pôde ter influenciado diretamente na
forma de comportamento das biodiversidades no habita.
Nossas identificações e caracterizações acerca dos fungos poderão servir de
auxílio para pesquisas futuras. Podendo ajudar a comunidade cientifica a desvendar
mistérios sobre os fungos, pois os estudos acerca dos mesmos são ínfimos na
Amazônia.

REFERÊNCIAS

ANAGNOST, S. E. Light microscopic diagnosis of wood decay. Iawa Journal. v.


19, n. 2, p. 141- 167, 1998.

ALEXOPOULOS, C. J.; MIMS, C. W.; BLACKWELL, M. Introductory Mycology. 4.


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Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

CASTRO, H. F. Processos Químicos Industriais II: Papel e celulose.


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COSTA, V.R. 2000. Tucuruí Quinze Anos Depois. Ciência Hoje 27(159): 48-51.

CAPELARI, M; GUGLIOTTA, A. M. Estudo da diversidade de espécies de fungos


macroscópicos do estado de São Paulo. Versão Preliminar. São Paulo-SP. 1996.

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BLANCHETTE, RA. DELIGNIFICATION BY WOOD-DECAY FUNG. Annual Review


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BLANCHETTE, RA. DEGRATION OF LIGNOCELLULOSE COMPLEX IN WOOD.


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FEARNSIDE, P.M. 2015. Impactos Ambientais da Barragem de Tucuruí: Lições


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53-74. In: HIDRELÉTRICAS NA AMAZÔNIA: IMPACTOS AMBIENTAIS E SOCIAIS
NA TOMADA DE DECISÕES SOBRE GRANDES OBRAS. Vol. 1. Editora do
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Manaus, Amazonas. 296 pp

FENGEL. D.; WEGENER, G. Wood Chemistry. Ultrastructure and Reactions, 1st


ed., Walter de Gruyter: Berlin, 1989.

FINK, S; GROSS, A; SENN-IRLET, B; SCHEIDEGGER, C. 2021. Os dados da


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das áreas ribeirinhas protegidas. Fungal Ecology, 49: 100981.

FIGUEIREDO, Bianca Vicente; SANTOS, Michele Bomfim; FORTUNA, Jorge Luiz.


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extremo Sul da Bahia. Brazilian Journal of Animal and Environmental Research,
[S. l.], p. 3171/3190, 20 set. 2020.

GILBERTSON, R. L.; RYVARDEN, L. North American Polypores:Fungiflora, Oslo, v,


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Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

Capítulo 2
AGROECOLOGIA: UM CAMINHO
Ivonete Terezinha Tremea Plein

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Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

AGROECOLOGIA: UM CAMINHO1

Ivonete Terezinha Tremea Plein


Doutoranda em Geografia (UNIOESTE). Técnica em Assuntos Educacionais
(UTFPR). [email protected]

RESUMO
O artigo mostra as possibilidades e as limitações para implementação
da produção agroecológica, percebidas por um grupo de famílias, no
Assentamento da Reforma Agrária Conquista na Fronteira, no
município de Dionísio Cerqueira – SC – Brasil. Durante as visitas de
campo e entrevistas, foram apresentadas, pelos atores sociais
algumas de suas aflições e perspectivas para os rumos que a forma
de produção agroecológica poderia ter dentro do assentamento. No
decorrer do texto está organizada uma discussão dessas abordagens
com referencial teórico sobre a agroecologia, mostrando-se as
possibilidades e as limitações evidenciadas naquela realidade, como:
a dificuldade de mudança de pensamento, as barreiras para
transformar a forma de produção comercial e as diferenças de
opiniões dentro do coletivo. Seus sonhos, perspectivas e obstáculos
são mostrados, com a particularidade da produção e vida coletiva,
característica específica do Assentamento Conquista na Fronteira.
Palavras-chave: Agroecologia, Assentamento da Reforma Agrária,
Trabalho Coletivo.

ABSTRACT
The article shows the possibilities and limitations for the
implementation of agroecological production, perceived by a group of
families, in the Agrarian Reform Settlement Conquista na Fronteira, in
the municipality of Dionísio Cerqueira – SC – Brazil. During the field
visits and interviews, the social actors presented some of their
afflictions and perspectives for the directions that the form of
agroecological production could have within the settlement. In the
course of the text is organized a discussion of these approaches with
theoretical reference on agroecology, showing the possibilities and
limitations evidenced in that reality, such as: the difficulty of changing
thinking, the barriers to transform the form of commercial production
and the differences of opinions within the collective. Their dreams,
perspectives and obstacles are shown, with the particularity of
production and collective life, a specific characteristic of the Conquest
Settlement on the Border.

1Este trabalho foi apresentado no XIV ENANPEGE (Encontro Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa
em Geografia) e publicado nos Anais (Tremea Plein, 2021).

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Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

Keywords: Agroecology, Agrarian Reform Settlement, Collective


Work.

INTRODUÇÃO

Neste ensaio desenvolve-se uma discussão a respeito das possibilidades que


a agroecologia apresenta como forma de produção/vivência rural, na construção de
uma sociedade mais justa, igualitária e com capacidade de produzir/consumir
alimentos de forma sustentável, garantindo que as próximas gerações tenham
soberania alimentar e qualidade de vida.

Partindo do pressuposto de que a agricultura denominada tradicional,


ou seja, aquela agricultura praticada até a metade do século XIX era
eminentemente uma agricultura sem o uso de fertilizantes e outros
insumos químicos sintéticos, é possível, afirmar que as práticas de
produção orgânicas e agroecológicas foram predominantes até a
década de 1840. Assim, a agroecologia enquanto prática é mais antiga
do que a agroecologia enquanto ciência. Todavia, as práticas
tradicionais que hoje podem ser denominadas de agroecológicas, não
o eram até o início da agroecologia enquanto ciência (Candiotto,
2020a, p. 40).

Durante muito tempo a humanidade produziu e viveu com proximidade aos


recursos naturais que dispunha, mas nos últimos séculos seu modo de vida, produção
e consumo tornaram esse sistema insustentável.

Por outro lado, as contundentes mudanças nas formas de produzir


alimentos, deflagradas com a chamada modernização da agricultura,
não podem ser entendidas apenas pelo viés das alterações da base
técnica da produção, mas também, entre outros fatores, pelo
crescente poder do mercado globalizado. O agricultor que em sua
terra percebe uma progressiva perda de autonomia sobre seus
processos decisórios, é um ator cuja territorialidade está sendo
readequada segundo lógicas alheias a seu horizonte social e
geográfico de intervenção (Eduardo; Klein; Gonçalves, 2020. p. 151).

Neste contexto, o trabalho está estruturado em duas partes. Na primeira parte,


apresenta-se uma mostra das possibilidades da agroecologia enquanto ciência e
forma de produção/vivência, embasada em autores que mostram sua capacidade
como alternativa para a sustentabilidade, sem esquecer-se da sua premissa enquanto
movimento social/cultural de coletivos.

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Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

Na segunda parte, objetiva-se deixar claro que este é um caminho de escolhas,


nem sempre fáceis, de grande amplitude exatamente por envolver o coletivo e a
percepção de algo que vai muito além de um “conjunto de técnicas”, mas de um
movimento contínuo de construção de um lugar novo. Para isso, serão apresentadas
algumas discussões em torno dos desafios e possibilidades que estão presentes no
Assentamento Conquista na Fronteira.

A formação do acampamento conquista na fronteira reunia os


elementos físicos, naturais e sociais, ou seja, o espaço e a sociedade.
O mesmo foi se rearquitetando na medida que as pessoas superam o
medo e se encorajavam na busca por um lugar que as condicionassem
a suprir a fome, bem como realizar outros sonhos condizentes à
dignidade humana (Moreira, 2009, p. 87).

Metodologicamente, a primeira parte foi construída com base em literatura


sobre o tema, enquanto, a segunda buscou fundamentação empírica em visitas
realizadas ao assentamento Conquista na Fronteira, no município de Dionísio
Cerqueira – SC – Brasil, nos anos de 2017 e 2019, as explanações feitas pelos
sujeitos 02 e 03, que coordenaram as visitas, bem como com entrevistas feitas de
forma on line, por conversas pelo aplicativo WhatsApp e e-mail, durante o mês de
março de 2021. Os membros do assentamento entrevistados foram: um agrônomo,
26 anos, vive há 18 anos no assentamento (sujeito 01), uma professora, 30 anos,
nasceu no assentamento (sujeito 02), um agricultor, 63 anos, é membro desde o
acampamento (sujeito 03). Salienta-se que isso se refere às suas formações, já que
todos se consideram agricultores, vivem no assentamento e trabalham nos diferentes
grupos de atividades em sistema de revezamento, conforme organização social do
assentamento.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O processo para desenvolvimento da agroecologia como alternativa não pode


ser individualizado. Não é um movimento solitário, sua base é o coletivo. No entanto,
modificar formas de produzir, viver, pensar e comercializar já postas em uma
sociedade não é tarefa simples. Na tentativa de entender como esse processo é
moroso buscou-se em um lugar diverso, o Assentamento Conquista na Fronteira 2,

2Assentamento constituído em 1988, no município de Dionísio Cerqueira - SC. Com área de 1.190,32
hectares (MOREIRA, 2009). Atualmente vivem no assentamento 44 famílias.

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Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

saber quais as possibilidades e limitações, já que este lugar não desenvolve a


agroecologia como um todo, mesmo este sendo um dos temas estudados há anos no
espaço coletivo.

A comunidade, na discussão, busca se contrapor aos interesses do


mercado e encontrar as melhores políticas para a reterritorialização,
acreditando que, por meio dos embates teóricos, confrontando os
diferentes pensamentos que, ainda, continuam provocando conflitos
de subjetivações, superem-se as distancias de grau de interesse num
processo de reconstrução com novas subjetivações (Moreira, 2009, p.
123).

Com base em visitas realizadas ao assentamento nos anos de 2017 e 2019,


bem como, entrevistas realizadas com três membros no mês de março de 2021, a
seguir apresentar-se-ão alguns aspectos, desafios e perspectivas do tema
agroecologia no assentamento.
Durante as visitas, os agricultores citavam as técnicas agroecológicas como
uma alterativa experimental em algumas áreas da produção coletiva, como exemplo,
a horta e plantas medicinais.
A figura 01 mostra os grupos de trabalho e a forma de organização do
assentamento, sendo apresentadas por um dos agricultores durante uma visita, no
salão comunitário. No Painel à direita os principais objetivos do assentamento podem
ser lidos: 1-uma vida digna e igualitária para todos; 2 – transformação da sociedade.

Figura 01: Organização do assentamento. 2019. Foto da autora. Uso de imagem autorizada
pelo ator social.
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Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

A construção de um lugar próprio, com uma organização baseada na igualdade


participativa foi um desafio para estes agricultores, pois,

No lugar – um cotidiano compartido entre as mais diversas pessoas,


firmas e instituições – cooperação e conflito são a base da vida em
comum. Porque cada qual exerce uma acção própria, a vida social em
comum. Porque cada qual exerce uma acção própria, a vida social se
individualiza; e porque a contigüidade é criadora de comunhão, a
política se territorializa, com o confronto entre organização e
espontainedade. O lugar é o quadro de uma referência pragmática ao
mundo, do qual lhe vêm solicitações e ordens precisas de ações
condicionadas, mas é também o teatro insubstituível das paixões
humanas, responsáveis, através da ação comunicativa, pelas mais
diversas manifestações da espontaneidade e da criatividade (Santos,
2008. p. 322).

Na entrevista, o sujeito 01 explica como é o sistema de produção e tomada de


decisões no assentamento:

No assentamento os trabalhos entorno da produção se dão em alguns


setores, que são estratégicos para o funcionamento da cooperativa,
são eles: pecuária leiteira e de corte, grãos/lavoura, erva mate,
alimentação/subsistência e indústria. Cada setor de trabalho é
composto por um grupo suficiente de pessoas para desenvolver as
atividades demandadas daquele setor. Para fazer frente a estes
setores, cada um deles é composto por duas pessoas que tem a tarefa
de coordenar as atividades do mesmo. Porém, as decisões das
atividades a serem desenvolvidas em cada setor passam por um
planejamento coletivo, envolvendo todas as pessoas do
assentamento, aonde em reunião se avalia o ano anterior e se planeja
as atividades para o próximo ano agrícola, em assembleia se aprova
ou não as propostas debatidas e levantadas pelos núcleos de bases,
sobre os trabalhos para o próximo ano. A partir deste momento, cabe
aos coordenares/as e aos membros/as do setor, desenvolver as
atividades planejadas coletivamente. A produção de alimentos
(subsistência) é toda destinada a alimentação das famílias do
assentamento, somente o excedente é comercializado nas feiras da
cidade. Com exceção da produção de leite, que é toda destinada para
a indústria para a posterior transformação em seus mais diversos
derivados (2021).

Toda a organização, decisões e trabalho no assentamento é feita de forma


coletiva. Segundo consta na fala do sujeito 03 “no início foram uns 03 anos de reuniões
para ver como seria a organização e os que não concordaram do coletivo, foram
embora, para outros acampamentos porque nós procurava ser coletivo, fazer uma
sociedade diferente”. Esse aspecto da coletividade está expresso na contraordem da
sociedade moderna, pois,

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Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

Se no coração da modernidade está a convicção de que a realidade


objetiva, externa ao indivíduo e que pode ser conhecida pelo
raciocínio, o multiculturalismo afirma o contrário: que a realidade é
convencional, que o individuo participa de sua construção e que o
conhecimento nada tem de objetivo ou definitivo, pois ele depende do
poder, da história e das relações que se desencadeiam entre os
diferentes grupos sociais (Moreira, 2009, p. 87).

Ao serem inqueridos se há discussões relativas à Agroecologia no


assentamento. A resposta é unanime entre os 03 entrevistados: sim!

Sim. Nos últimos anos tem-se avançado sobre as práticas e os


estudos entorno da agroecologia, mas infelizmente, ainda à passos
lentos. A agroecologia está presente com maior intensidade na
produção hortícola, a qual é destinada ao consumo das famílias e
comercializadas em feiras da cidade (Sujeito 01, 2021).

(...) a gente tem essa discussão presente. Tivemos vários momentos


de estudo sobre, e alguns setores como a horta e o setor de
alimentação trabalham com alguns princípios da agroecologia, mas
não dá pra dizer que é... (Sujeito 02, 2021).

Nossa maior preocupação ainda é com o que a gente consume aqui


no assentamento. Porque nas lavouras ainda é produção
convencional (Sujeito 03, 2021).
Na figura 02, vista parcial da horta e da produção de plantas medicinais,
consideradas fonte de referência num sistema de produção diferenciado dentro do
assentamento.

Figura 02: Produção de hortaliças e plantas medicinais. 2017. Foto da autora.

A agroecologia apresenta-se como alternativa de produção e vida para


agricultores que buscam uma outra forma de se relacionar com a própria vida, com a

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Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

terra e seus recursos produtivos, bem como, outra forma de vivência na sociedade e
nas relações de produção e comércio.

No contexto latino-americano, a agroecologia tem sido associada a um


processo de transformação social e a uma perspectiva decolonial. O
giro decolonial, a luta pela autonomia camponesa, o bem-viver, entre
outras perspectivas analíticas alternativas têm sido muito úteis para
dar um corpo teórico e epistemológico para a agroecologia (Candiotto,
2020a, p. 58).

Ao ser perguntado “A agroecologia é praticada em alguma parte da produção


(coletiva ou individual)? Em caso afirmativo, quais e de que forma? Obteve-se as
seguintes respostas:

O preparo e uso das caldas na horta são frequentes, mas a gente


ainda precisa avançar muito na discussão, sabendo que não é só
plantar sem veneno, que tem toda essa relação entre seres humanos
e natureza, das relações pessoais... (Sujeito 02, 2021);

Sim. Principalmente nos últimos anos. Dentro dos setores


estratégicos do assentamento, o setor da alimentação/subsistência
é o que mais tem discutido e trabalhado entorno da agroecologia,
principalmente ao eixo da produção de alimentos, dada a
complexidade que é a agroecologia. Desde o início do
assentamento, um dos principais temas discutidos entorno da
produção de alimentos, é a produção orgânica, sem o uso de
venenos ou produtos químicos sintéticos. Porém com o
amadurecimento teórico do tema agroecologia dentro do
assentamento, buscou-se dar início às práticas agroecológicas
(Sujeito 01, 2021).

A clareza do conceito de agroecologia presente nestas falas demonstra que


“um produtor não pode mais estar atento somente às necessidades de sua unidade
produtiva e acreditar que, a partir de uma intervenção somente neste nível, poderá
lidar adequadamente com as questões de sustentabilidade a longo prazo (Gliessman,
2001, p. 594)”.
Fica evidenciada o esforço de manter o tema presente no assentamento e a
necessidade que sentem de preservar técnicas “mais sustentáveis” na área que
produz alimentos para subsistência e venda direta ao consumidor, como é o caso da
horta.

Nesse sentido, nas disputas territoriais de mercado, a agroecologia é


um trunfo dos atores de contra-hegemonia, por propiciar maior
controle sobre seus recursos e sobre suas territorialidades. Por esse
viés, esses atores constroem autonomias e, gradativamente, projetam
suas relações de poder (Eduardo; Klein; Gonçalves, 2020. p. 153).

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Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

‘A produção de alimentos para a subsistência é o principal foco do


assentamento. A independência alimentar foi uma busca desde o tempo do
acampamento que antecedeu a formalização do assentamento. “Nós sempre
quisemos produzir nosso alimento, nunca pegamos cesta básica do governo” (sujeito
03). Como pode ser visto,

Parte da realidade constituinte do território do acampamento


conquistado na fronteira está vinculada com a fome, porém não
podemos desconsiderar a importância que possui a organização do
movimento social e seus princípios. Em diálogo com integrantes do
MST no atual assentamento rural, afirmam ter vivido momentos de
muita fome e quando tiveram condições de cultivar e colher seus
alimentos, durante os primeiros anos, exageravam na quantidade de
consumo alimentar, comendo muito mais do que necessitavam
(Moreira, 2009, p. 87).

Sobre a construção de espaços de agroecologia dentro do assentamento e as


técnicas iniciais utilizadas na produção de alimentos, converge a ideia de que:

O trabalho das ONGs está inspirado na crença de que a pesquisa e o


desenvolvimento agrícola devem operar baseados em uma
abordagem “de baixo para cima”, utilizando os recursos já disponíveis:
a população local, suas necessidades e aspirações, seu conhecimento
agrícola e recursos naturais autóctones. Acredita-se que as
estratégias baseadas na participação, capacidades e recursos locais
aumentam a produtividade enquanto conservam a base dos recursos
(Altieri, 2000, p. 33).

O caminho que os sujeitos do assentamento destacam como longo e em fase


inicial corrobora com a perspectiva de que:

Se a agricultura como um todo deve tornar-se verdadeiramente


sustentável, todos os aspectos da produção, distribuição e consumo
de alimentos precisam estar incluídos neste quadro. (...). É a interação
complexa entre todas as dimensões, ecológica, técnica, social e
econômica, de nossos sistemas alimentares que determinará se estes
podem ser sustentáveis a longo prazo (Gliessman, 2001, p. 593).

Foi perguntado “Quais as principais dificuldades enfrentadas para as


práticas agroecológicas?

Hoje, o quadro social do assentamento é composto


majoritariamente por pessoas acima dos 50 anos de idade. E
apesar da agroecologia e suas técnicas serem utilizadas há muito
mais tempo que isso, ainda se tem uma grande resistência por
parte destas pessoas em aceitar mudanças, principalmente quando
fala-se em agroecologia, compreendendo-a como um todo. Por ser

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Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

algo “novo” para os/as assentados/as, esses acreditam que os


resultados de todo um processo, devem ser imediatos, algo que
dificilmente é possível alcançar dentro de um sistema
agroecológico. O que por vez acaba frustrando a estas pessoas e
fazendo com que desistam de dar seguimento na construção desse
processo (Sujeito 01, 2021).

A agroecologia é um processo, que se constrói e transforma com o decorrer


do tempo/espaço. Não é fácil para pessoas que tem uma construção histórica de
grandes dificuldades, modificar suas formas de produção quando alcançam uma
situação que acredita ser mais “tranquila e menos sofrida”, como se percebe na fala
do sujeito 03:

Desde criança a gente sempre teve uma vida muito sofrida, em


terras dobradas, fazendo tudo a mão, com pouco recurso, um
monte de irmãos num pedaço pequeno de terra, depois como
acampado, pior ainda, sem poder produzir, só lutando pra ter
alguma coisa melhor pros filho da gente, aí aqui a gente teve que
fazer tudo desde o começo com pouca ferramenta, quase só
trabalho braçal, a gente foi crescendo junto, comprando as coisas
e hoje a gente tem uma vida muito mais tranquila, os novos nem
sabe tudo o que a gente sofreu porque o tempo deles já foi tudo
diferente (Sujeito 03, 2017).

Considerando que “as práticas agroecológicas resultam culturalmente


compatíveis com a racionalidade produtiva camponesa, pois se constroem sobre o
conhecimento agrícola tradicional, combinando este conhecimento com elementos da
ciência agrícola moderna” (Leff, 2002, p. 41), no assentamento há uma busca pela
agroecologia enquanto prática, no entanto, a maior parte da população é maior de 50
anos, estes, estão vivendo sua conquista e tem orgulho da sua construção coletiva.
Ao que parece aguardam que os jovens façam novos progressos e avancem nessas
outras perspectivas como o caso da agroecologia. Considerando que,

Seus princípios emergem das culturas que habitam os diferentes


ecossistemas e são recuperáveis através de uma nova racionalidade
produtiva, um amálgama do tradicional com o moderno, que passa por
processos de transformação e assimilação cultural em práticas
produtivas locais (Leff, 2002, p. 42).

Nas entrevistas ficou evidenciado que os membros mais jovens do


assentamento têm se dedicado a dar continuidade aos estudos em torno do tema
agroecologia, pois acreditam ser um caminho para o futuro de resistência do
assentamento, podendo assim dar continuidade a construção social que se inserem,
já que:

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Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

O território do assentamento foi se configurando numa realidade de


desconstrução e reconstrução, através das ações cotidianas dos
assentados conduzidas, em parte, pelo olhar camponês, permitindo,
com isso, que novas identidades fossem se construindo, num
processo de des-re-territorialização (Moreira, 2009, p. 97).

A construção de novas formas de vivências e de produção é inerente ao


processo do movimento social imbricado no seio das concepções políticas do
assentamento. Continuar e transformar faz parte do cotidiano de resistência e de luta
do movimento.
O questionamento final foi sobre quais seriam as principais motivações para a
agroecologia?

Acreditar que um novo sistema produtivo pode ser instalado em


nossa sociedade, e se sabe que com a agroecologia é possível
produzir alimentos de qualidade e quantidade para alimentar a
população mundial. Diante disso, no assentamento, parte da
juventude vêm se dedicando nos trabalhos, buscando compreender
a teoria, associando-a à prática, para um dia tornar esse sonho
realidade (Sujeito 01, 2021).

Nós queremos uma sociedade melhor e para isso precisamos parar


de destruir para produzir, além de deixar de sermos manipulados
pelo mercado. Na escola tentamos trabalhar com as crianças desde
pequenos o respeito com a natureza e como fazemos parte dela
(Sujeito 02, 2019).

Se os jovens continuarem no assentamento, dando continuidade


ao que já foi construído por nós, dá para fazer muita coisa melhor
com os recursos que eles tem hoje e isso vai fazer com que ainda
tenham como lutar por uma vida mais digna para todos porque a
gente lutou muito foi principalmente pra dar uma vida melhor pros
filhos e pros netos, pensando no futuro que tivessem onde trabalhar
e viver sem ser explorados (Sujeito 03, 2019).

Interessante perceber a permanência viva dos princípios do Movimento dos


Trabalhadores Sem Terra como foi em toda a história do assentamento,

Nesse contexto de contraditórios, entre o mercado mundial,


intensificando suas ações, e o lugar, rejeitando as verticalidades
imponentes, criou-se o movimento social do campo e prol da ocupação
de terras que não estariam cumprindo a função social da mesma. O
território Conquista na Fronteira do Extremo Oeste de Santa Catarina
faz parte dessa história da sociedade brasileira (Moreira, 2009, p. 88).

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Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

O que indica uma relação permanente entre a agroecologia e os movimentos


sociais já destacados por Gliessman,

Pelo início dos anos 80, a agroecologia tinha emergido como uma
metodologia e uma estrutura básica conceitual distintas para o estudo
de agroecossistemas. Uma influência importante durante este período
veio dos sistemas tradicionais de cultivo, de países em
desenvolvimento, que começaram a ser reconhecidos por muitos
pesquisadores como exemplos importantes de manejo de
agroecossistemas, ecologicamente fundamentados (Gliessman, 2001,
p 56).

Percebe-se que o movimento de construção e reconstrução dos ideais


libertários dentro do assentamento continuam presentes, mesmo depois de 30 anos,
fazendo com que as novas gerações tenham formação científica, cultural e política
capaz de reproduzir sua forma de vida e transformar sua forma de produção num
movimento coletivo de luta, trabalho e vida.
Os movimentos sociais e sindicais no Brasil também ganharam força a partir
dos anos 80. E a agroecologia, assim como outros temas/formas de uma sociedade
mais justa e equilibrada encontraram em seu seio campo aberto para discussões e
possibilidades de desenvolvimento.
Na figura 03, estão em destaque os princípios de luta que permeiam as bases
do assentamento, como um lembrete diário dos seus princípios.

Figura 03: Identificação na sede do assentamento. 2019. Foto da autora.

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Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

A figura 03 mostra símbolos importantes do Movimento Sem Terra no Brasil. O


facão mostra uma ferramenta simples de trabalho, com muitas finalidades, neste caso
“abrir caminhos”, foi explicado pelo sujeito 03 que “muitas vezes as pessoas pensam
que o facão é visto como arma, mas para nós é a ferramenta de abrir picadas, fazer
as armações para erguer as barracas de lona no acampamento, foi assim que
começamos aqui”. As inscrições que ficam expostas nessa área, de uso comum, no
assentamento é para “manter viva a memória do início do assentamento que foi a
ocupação da terra, com o acampamento dos sem terras” (sujeito 03) e lembrar os que
já conquistaram a terra para que permaneçam na luta, “porque toda conquista vem da
união, da luta, do coletivo” (Sujeito 02).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Produzir de forma agroecológica vai muito além de usar técnicas específicas


de manejo e produção, insere-se num circuito maior de escolha de vida, de princípios
mais que econômicos, mas de respeito à vida na Terra e convivência do “ser
agricultor”, num contexto desfavorável a essa forma de vida e de produção. “Os
saberes agroecológicos são uma constelação de conhecimentos, técnicas, saberes e
práticas dispersas que respondem às condições ecológicas, econômicas, técnicas e
culturais de cada geografia e de cada população” (Leff, 2002 p. 37).
Quando se pensa a reforma agrária ela parece algo muito distante, no entanto,
o assentamento Conquista na Fronteira mostrou que uma nova realidade é possível
de ser construída. Um sonho iniciado com 60 famílias há mais de 30 anos, é hoje um
espaço diferente de vida, onde a dignidade humana se faz presente e as relações de
poder são igualitárias no seu coletivo. “Até mesmo a utopia é um não-lugar, ou melhor,
é um lugar imaginário que se situa num outro tempo melhor que o nosso tempo, longe
do nosso espaço do aqui-e-agora” (Porto Gonçalve, 2002, p. 226).
Neste espaço a agroecologia cria sementes de uma nova forma de produzir
alimentos e, quiçá, de ser o legado para novas gerações. A emancipação só é possível
se houver uma mudança nas formas hegemônicas de poder. Desconstrução dos
conhecimentos e legitimação de outros modos de “ser no mundo”. Esta racionalidade
é excludente, degradadora e limitante (Leff, 2017).

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Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

Ésta se manifiesta en la opresión, subyugación, discriminación,


marginalización y exclusión de otros mundos de vida. De esta manera,
los procesos de resistência a la invasión de la modernidad sobre los
mundos de vida tradicionales se convierten en movimientos de
rexistencia; son la expresión de otras ontologías existenciales que se
manifiestan en la arena política (Leff, 2017, pp 143-144).

No Assentamento Conquista na Fronteira, a produção de alimentos para todos


os moradores é seu principal objetivo e nas áreas destinadas para este fim, “a
utilização de agricultura menos agressiva e mais natural é prioritário, não usando
quase nada de produtos químicos” (Sujeito 03). No entanto, “a produção para
comercialização é feita de maneira convencional, com uso, inclusive de agrotóxicos
(sujeito 03), “o que se consegue fazer, é um certo isolamento de uma área e outra já
que a produção coletiva nos dá as condições para isso (Sujeito 02). “As discussões e
o desejo de produzir de forma agroecológica estão presentes” (Sujeito 01).
No coletivo, as famílias vêm discutindo, são estudadas as possibilidades e as
limitações de implementar a agroecologia, pois, em termos ideológicos, entendem que
“seria não só uma forma de produzir e sim um modo de viver” (Sujeito 02). E neste
sentido, “não são fácies as mudanças, são caminhos que podem acontecer, mas que
dependem de tempo, preparação e decisão coletiva” (Sujeito 01), pois, envolvem
riscos, perdas financeiras à primeira vista e, sobretudo, mudança de hábitos.

AGRADECIMENTOS

Reconhecimento à UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná) pela


concessão de afastamento integral, com ônus limitado, para dedicação exclusiva ao
Doutorado.

Aos membros do Assentamento Conquista na Fronteira, em especial os que


dispuseram de seu tempo pessoal para prestar as informações e acompanhar nas
visitas de campo. Cedendo inclusive, o direito de uso de suas imagens, tão
significativas.

34
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

REFERÊNCIAS

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ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2000.

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ideológica importante. Francisco Beltrão. Microsoft PowerPoint. Aula ministrada na
disciplina: Geografia, ecologia política e agroecologia, em 21.07.2020b.

EDUARDO, Márcio Freitas; KLEIN, Edson José; GONÇALVES, Giovani José. A


Ecoterra e seu construto territorial de mercado: As experiências de venda direta
como antecedentes do Circuito Sul de circulação e comercialização de produtos
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v. 2, n. 2, 2020, pp. 143 – 188.

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2021, Campina Grande. Anais do XIV ENANPEGE.... Campina Grande: Realize
Editora, 2021. p. 1-14.

35
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

Capítulo 3
A GOVERNANÇA AMBIENTAL E OS
CRITÉRIOS ESG PARA FINS DE
PRESERVAÇÃO AMBIENTAL
João Gabriel de Rezende Correa Pimenta

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Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

A GOVERNANÇA AMBIENTAL E OS CRITÉRIOS ESG PARA FINS


DE PRESERVAÇÃO AMBIENTAL

João Gabriel de Rezende Correa Pimenta


Graduado em Direito pela Faculdade Cesusc. Mestrando em Ciências Jurídicas pela
Univali. Ex-Procurador Jurídico do Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina –
IMA-SC. E-mail: [email protected]

RESUMO
Governos de todo o mundo tem usado medidas fiscais de
sustentabilidade para reduzir emissões de poluentes. Assim, cumprir
seus compromissos com a neutralidade e demais aspectos. Embora
esses objetivos sejam compartilhados, as políticas estabelecidas para
alcançá-los variam muito. Como é o caso das práticas Environmental,
Social and Governance (ESG). O ESG é um conjunto de ações
ambientais, sociais e de governança. Essas variáveis ajudam a medir
a sustentabilidade e o impacto ético de uma empresa. Esta pesquisa
tem o objetivo de destacar como as ações do poder público podem
potencializar práticas sustentáveis com o propósito de incentivar o
investimento em preservação ambiental. Os resultados mostram que
que a questão ambiental de forma geral, apresenta uma constante e
continua evolução no meio dos negócios.
Palavras-chave: Governança. Transnacionalidade. Poder Público.
Impostos. Áreas de Preservação Permanente. Preservação
ambiental.

ABSTRACT
Governments around the world are using fiscal sustainability
measures to reduce pollution, meet their neutrality commitments, and
more. These goals are shared, like policies for those who want them
badly. In this case, the Environmental, Social, and Governance (ESG)
practices are highlighted. The ESG is a set of environmental, social,
and governance actions that help measure a company's sustainability
and ethical impact. In this way, this research has the potential to
highlight public actions as investments, with the purpose of promoting
the objective of preserving the environment.
Keywords: Governance. Transnationality. Government. Taxes.
Permanent Preservation Areas. Environmental preservation.

37
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

INTRODUÇÃO

A aplicação de boas práticas de governança ambiental, por meio de políticas


públicas, pode elaborar sistemas robustos com o objetivo de proteger o meio
ambiente.
Atualmente o tema Governança Ambiental está em evidência, principalmente
na pauta Environmental – Meio ambiente (E), Social – Social (S) and Governance –
Governança (G) quando grandes fundos do mercado financeiro ao redor do mundo
têm voltado sua atenção a investimentos que observem esta questão. Pois a proteção
ao meio ambiente e o lucro são objetivos que atualmente caminham lado a lado.
A governança ambiental possui uma grande importância nas decisões sobre o
meio ambiente, por meio das organizações civis e governamentais. Com o objetivo de
obter ampla e irrestrita adesão ao projeto de manter a integridade do planeta, trata-se
de uma pauta atual e vigente em qualquer localidade do globo.
O Poder Público pode se utilizar de diferentes formas para incentivar a
preservação ambiental, tais como:
 a prática da extrafiscalidade ambiental;
 a criação de políticas públicas ambientais; e
 o uso de medidas tributárias com o objetivo de reduzir impostos para quem
busca preservar o meio ambiente.
Considerando a estreita relação entre o meio ambiente e a atividade econômica
verifica-se o papel que o Estado pode exercer. Isso pode ser dar pela governança
efetiva que atue com o objetivo de cumprir seu papel constitucional de proteger o meio
ambiente. Sendo por meio de políticas públicas de sustentabilidade, obedecendo à
premissa de que a proteção ao meio ambiente. Dessa forma, implicando direta e
indiretamente a melhoria da qualidade de vida da população.
Atualmente muitas organizações, principalmente as grandes empresas
transnacionais, desenvolvem projetos ambientais pensando em uma forma de
amenizar a degradação ambiental. Também, como forma de associar a marca com a
consciência ecológica, sem receber benefícios fiscais.
Entretanto, caso sejam criados novos incentivos por parte do poder público,
esse número tenderia a aumentar e provavelmente haveria benefícios para ambos os
lados. Visto que as empresas conseguiriam também um “desconto” financeiro dos

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Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

gastos com o investimento realizado. Isso, poderia incentivar pessoas físicas a investir
na preservação ambiental, que até o momento é muito incipiente.
Os Estados ainda são muito “tímidos” no sentido de criar incentivos para
redução de impostos referentes à circulação de mercadorias que incentivam as boas
práticas ambientais e a preservação do meio ambiente. Da mesma forma não há
incentivos como o existente na lei de incentivo à cultura (Lei Rouanet). Essa lei foi
criada com a proposta de oferecer recursos financeiros a projetos artísticos com a
redução do imposto de renda.
Neste contexto, o objetivo desta pesquisa é verificar critérios de Governança
Ambiental por meio da pauta ESG para fins de preservação do meio ambiente.
Com o propósito, então, de se discutir tais aspectos, esse artigo está orientado
pelo seguinte problema: como as ações do poder público com a efetiva aplicação de
uma melhor Governança Ambiental podem potencializar práticas sustentáveis com o
propósito de incentivar o investimento em preservação ambiental?
Os aspectos metodológicos que delineiam esta pesquisa partem de um
aprofundamento bibliográfico, tendo como escopo nortear o estudo quanto ao objetivo
proposto. Ademais, a construção do referencial, além de conceituar o tema abordado,
possibilita ao pesquisador um esclarecimento maior, podendo produzir conhecimentos
por meio das informações disponíveis sobre o tema.

1. ENVIRONMENTAL, SOCIAL, AND GOVERNANCE (ESG)

O ESG refere-se a um conjunto de critérios de avaliação de desempenho


corporativo que avaliam a robustez dos mecanismos de governança de uma empresa
e sua capacidade de gerenciar efetivamente seus impactos ambientais e sociais.
A governança apresenta três pilares, seja: econômica, política e administrativa.
A governança econômica inclui processos de tomada de decisão que afetam as
atividades econômicas de um país e suas relações com outras economias. Apresenta
implicações importantes para a equidade, pobreza e qualidade de vida.
Para o Banco Mundial e o FMI – Fundo Monetário Internacional, o termo
Governança, possui oito características: 1) participação; 2) estado de direito; 3)
transparência; 4) capacidade de resposta; 5) orientação ao consenso; f) equidade e
inclusão; 7) efetividade e eficiência; e 8) accountability. 7 Esses critérios são
elencados no relatório “Governança para o desenvolvimento humano sustentável” do

39
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) de 1997, que


acrescentou o item “visão estratégica”.
O Governo refere-se a atividades sustentadas por uma autoridade formal e pelo
poder de polícia que garante a implementação das políticas instituídas, ou seja
(GARCIA, SANTOS; GARCIA, 2020, p. 12):

Seria o conjunto de pessoas que exercem o poder político e que


determinam a orientação política de uma determinada sociedade. É
preciso, porém acrescentar que o poder de governo, sendo
habitualmente institucionalizado, está normalmente associado à
noção de Estado

A governança política é o processo de tomada de decisão para formular a


política em si. A governança administrativa é o sistema de implementação de políticas.
Abrangendo todos os três, a boa governança define os processos e estruturas que
orientam as relações políticas e socioeconômicas.
A ideia de ESG foi mencionada pela primeira vez em 2006 no relatório
Princípios das Nações Unidas para o Investimento Responsável, discutindo como
deve ser incorporado nas avaliações financeiras das empresas para influenciar os
investimentos sustentáveis (ATKINS, 2020). Desde então, a pesquisa em torno dela
no mundo das finanças, accountability e gestão se expandiu.
Por exemplo, na prática, accountability na administração pública parte do
princípio de que existe alguém ou alguma organização responsável por fazer a gestão
de decisões que impactam a sociedade – os órgãos públicos e seus gestores.
Isso deve deixar esse processo o mais transparente possível, prestando contas
à população e a outros órgãos das suas ações, gastos e políticas, aumentando a
responsabilidade dos gestores públicos e o poder de controle da sociedade.
Na realidade trata-se de uma possibilidade real de permitir que os gestores
públicos elaborem projetos de Governança para a Gestão Ambiental nas decisões
sobre o meio ambiente no intuito de promover e acelerar a transição rumo a
sociedades sustentáveis.
Neste caso, exemplos de dados ESG incluem a quantificação das emissões de
carbono de uma empresa, consumo de água ou violações de privacidade do cliente.
Deste modo, investidores institucionais, bolsas de valores e conselhos usam
cada vez mais informações de divulgação de sustentabilidade e responsabilidade

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Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

social para explorar a relação entre a gestão de fatores de risco ESG de uma empresa
e seu desempenho de negócios.
O ESG é um conceito de desenvolvimento sustentável que considera como
coordenar o desenvolvimento do meio ambiente, da sociedade e da governança
corporativa no nível da empresa. Por exemplo, o desempenho ESG pode ser uma
ferramenta de governança para reduzir a financeirização corporativa ou uma
ferramenta de interesse próprio para os gestores buscarem retornos financeiros
promovendo a financeirização corporativa (ZHAN et al., 2022).
Dessa forma e no contexto do ESG a Governança deixa de ser um atributo de
algum governo para ser, de modo cada vez mais profundo, instrumento do incremento
da coesão de entidades e organizações nacionais, regionais e globais.
Assim, tem-se se a governança transnacional, que sugere as bases territoriais
e a autonomia ou soberania nacional não podem ser tomadas como certas. Esse fato
implica, que a atividade de governança está inserida em estruturas geopolíticas
particulares e, envolta em redes institucionais múltiplas e interativas. Segundo Hale
(2019, p. 204-205):

O transnacionalismo também se reflete na história da política


ambiental global. No início do século XX, redes transnacionais de
conservacionistas europeus criaram os primeiros órgãos ambientais
internacionais. Após a Segunda Guerra Mundial, a União Internacional
para a Conservação da Natureza foi criada como uma organização
internacional com governos nacionais e entidades científicas e
conservacionistas independentes. organizações servindo como
membros. Além disso, a natureza técnica e científica de muitas
questões ambientais criou um papel importante para especialistas,
organizações não governamentais (ONGs) e suas comunidades
epistêmicas associadas.

Deste modo, o surgimento de atores ambientais transnacionais é um elemento


importante da transnacionalização mais ampla da política mundial no período pós-
guerra. A teia de conexões econômicas além-fronteiras, sustentada por mudanças
tecnológicas nas comunicações e nos transportes, criou tanto o interesse quanto a
possibilidade de uma política além do Estado (HALE, 2019).
De fato, a emergência das questões ambientais como assunto da política
mundial criou um vetor adicional para a expansão do transnacionalismo. Um dos
novos domínios das relações internacionais (outros sendo saúde, direitos humanos,
finanças globais e investimento estrangeiro direto) em que interdependência trouxe

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Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

uma gama mais diversificada de atores para se engajar em atividades políticas além
das fronteiras
A World Health Organization (WHO) elegeu, em 2018, a poluição do ar e
mudança do clima como um dos dez principais eixos da agenda global, tendo em vista
que a poluição atmosférica é considerada o maior risco ambiental para a saúde
humana (OMS, 2018).
De acordo com a OMS, 9 em cada 10 pessoas no mundo respiram ar contendo
altos níveis de poluentes. 7 milhões de mortes anuais ocorrem em função da
exposição à poluição atmosférica e a redução do investimento para tratamento de
saúde pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Ainda de acordo com a WHO (2018),
estima-se que as mudanças climáticas serão a causa principal de 250 mil mortes
anuais entre 2030 e 2050.
O investimento por parte do Poder Público, por meio da redução de impostos,
permitirá o desenvolvimento sustentável e com isso a redução da poluição. Também,
a melhoria da qualidade do ar e consequentemente a redução do número de mortes
anuais, pois a previsão para o número de mortes em razão das mudanças climáticas
é assustadora.
Deste modo, ao investir na adoção de práticas ESG ainda pode ser considerado
supérfluo ou menos relevante até pouco antes da pandemia da Covid-19, os indícios
para os próximos anos são de que mudar essa mentalidade será um imperativo para
as organizações. Segundo a Fundep (2021, s.p.):

As previsões indicam um cenário de expansão do ESG. A Global


SustainableInvestment Alliance, entidade que analisa os chamados
“investimentos responsáveis”, estima que esse tipo de gasto já atingiu
US$ 31 trilhões, o que corresponde a 36% do total de ativos
financeiros mundiais. Em 2021, o mercado de crédito para dívida
sustentável ultrapassou US$ 1 trilhão em captação acumulada.
Visando investimentos sustentáveis, em 2020, a B3, a Bolsa Brasileira
de Valores lançou um conjunto de índices de sustentabilidade que vão
desde ações de governança corporativa até carbono eficiente nas
organizações. A obrigação das empresas que compõem este fundo é
estar alinhada ao Pacto Global das Nações Unidas para o
desenvolvimento sustentável até 2030.

Ao mesmo tempo, a natureza das questões ambientais muitas vezes permite


que atores, como cidades e empresas privadas, tenham impactos significativos sobre
os desafios ambientais.

42
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

Essa combinação de fatores cria a possibilidade de um conjunto diversificado


de atores se conectarem por meio das fronteiras para adquirir autoridade. Também,
contestar resultados e assumir funções de governança na política ambiental e que
atualmente é observado na maioria das empresas transnacionais.

2. MEIO AMBIENTE E OS CRITÉRIOS ESG

Meio Ambiente é um termo muito abrangente. Inclui uma ampla variedade de


fenômenos. É um termo dinâmico que pode ser usado para descrever uma área
limitada, por um lado, e todo o planeta, por outro.
O termo Meio Ambiente pode ser percebido em diferentes conotações. Existem
inúmeras definições do termo fornecidas por diferentes instrumentos jurídicos
nacionais e internacionais.
Para Sion (2021), os padrões ESG são bons indicadores de risco porque
mostram aos investidores que os riscos relacionados ao negócio excedem os
econômicos tradicionais.
Esses padrões, refletem oportunidades para todas as empresas com o
reconhecimento pelas práticas sociais e ambientais realizadas no mercado. Isso
inclusive podem atrair mais investimentos, que devem levar em consideração os
critérios ambientais, sociais e de governança para poder receber financiamento das
grandes instituições bancárias.
O impacto da divulgação ESG geralmente ocorre em empresas mais sensíveis
às questões ambientais, onde essas empresas costumam atuar em um contato social
mais acessível. Além disso, a divulgação ESG como um todo pode fornecer uma
avaliação mais significativa se uma empresa estiver exposta a problemas ambientais
(MIRALLES-QUIRÓS; MIRALLES-QUIRÓS; GONÇALVES, 2018).
Os requisitos ESG são maiores, e a indústria mais sensível se concentrará mais
no manejo sustentável. Para tanto, usará esses requisitos como padrão da empresa
na superação de polêmicas ambientais.
A cultura ESG é um dos códigos de conduta da nossa época, que busca
mediante a implementação de processos e práticas que visam garantir a direção do
desenvolvimento sustentável, buscando um equilíbrio entre atributos econômicos,
sociais e ambientais. O ESG (Quadro 1), é um pilar do mundo corporativo e projetam
como deve ser a conduta dos agentes envolvidos no desenvolvimento econômico.

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Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

Quadro 1. Critérios ESG


Critérios Breve descrição
Ambientais Têm como foco de atenção o impacto (positivo e negativo) que uma
(Environmental) atividade econômica pode ser no meio ambiente. Alguns dos temas a
serem considerados são: mudanças climáticas/aquecimento global;
produção sustentável (produção global, orgânicos, etc.,); pegada de
carbono/emissões de CO2 e gases do efeito estufa; poluição
atmosférica; gestão de resíduos; gestão de recursos hídricos; fontes de
energia utilizadas e consumo; conservação de recursos naturais e
impacto na fauna e flora.
Sociais (Social) Preocupa-se com a relação da empresa e a sociedade, tanto com seus
consumidores/clientes como seus funcionários/colaboradores. Podem
ser incluídos nessa temática os seguintes pontos: direitos humanos;
direito do consumidor/ qualidade e segurança de produtos; proteção de
dados; direitos trabalhistas/proteção e segurança no local de trabalho;
direito das minorias/ diversidade/ questões raciais de gênero,
LGVTQI+, responsabilização pela cadeia de fornecimento; trabalho
infantil; trabalho escravo e integração com a comunidade local.
Governança Preocupação com a gestão do processo de decisão e proteção dos
(Governance) direitos e interesses dos stakeholders; a estrutura dos mecanismos e
processos de controle e operação da empresa em respeito a princípios
éticos e distribuição equânime de direitos e responsabilidades entre os
stakeholders. Dentre eles, destacam-se processos eficientes e
transparentes de contabilidade fiscal; remuneração executiva e
composição da diretoria; código de conduta e valores corporativos/
processos de gestão e responsabilização; programa de integridade/
prevenção de atos irregularidades de corrupção, fraude, conluio ou
práticas coercitivas e prevenção de práticas anticompetitivas.
Fonte: Elaboração pelo autor a partir de Sion (2021, p. 07).

A eficiência e transparência são as principais preocupações desse eixo, que


devem ser adotadas como critérios de Governança no setor público. Nos últimos anos,
o Direito Ambiental passou a ser visto como um meio crítico de promoção do
desenvolvimento sustentável. Beck (2018), faz uso da mudança climática como
exemplo de algo que seria capaz de alterar a ordem política mundial.
O ímpeto da metamorfose viabilizaria, neste caso, uma nova interpretação das
alterações do clima. Dessa vez direcionada para a emergência de uma coletividade
consciente capaz de transmutar o mundo para melhor; é o que o autor chama de
catastrofismo emancipatório.
Beck (2018) reconhece que as mudanças climáticas acarretam novas formas
de poder e acentuam as desigualdades e as inseguranças já não é mais suficiente.
Deve-se ter em mente que ela remodela os alicerces da sociedade, oportunizando
novas formas de cooperação, certezas e solidariedade.
Nesse contexto, o autor pontua, que a alteração do clima induz o
desenvolvimento de mecanismos de responsabilidade transnacional, cria padrões

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Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

formais e informais de cooperação entre nações. Ainda, abre novos mercados globais,
é responsável pela mudança de estilos de vida e padrões de consumo, bem como
possibilita novas formas de salvaguardar a natureza.
Algumas leis ambientais regulam a quantidade e a natureza dos impactos das
atividades humanas: por exemplo, estabelecendo níveis permitidos de poluição ou
exigindo licenças para atividades potencialmente prejudiciais. Outras leis ambientais
são de natureza preventiva e buscam avaliar os possíveis impactos antes que as
atividades humanas possam ocorrer.
Sobre a proteção do ambiente Rodrigues (2018, p. 46) destaca que:

Como todo e qualquer processo evolutivo, a mutação no modo de se


encarar a proteção do meio ambiente é feita de marchas e
contramarchas. Não se pode, assim, identificar, com absoluta
precisão, quando e onde terminaram ou se iniciaram as diversas fases
representativas da maneira como o ser humano encara a proteção do
meio ambiente. Na verdade, esse fenômeno pode ser
metaforicamente descrito como uma mudança no ângulo visual com
que o ser humano enxerga o meio ambiente.

Desde que Porter e Van Der Linde (1995) afirmaram em sua obra “Green and
competitive: ending the stalemate”, que as organizações podem aumentar a
produtividade de seus recursos com inovações que reduzam o impacto ambiental.
Consequentemente, transformando investimentos socioambientais em vantagens
competitivas, os debates teóricos e estudos empíricos tem se intensificado com a
imposição de padrões e regulamentações ambientais adequados.
A inovação é a chave para a mudança para o aumento da produtividade por
meio de boas práticas de Governança Ambiental. Para Orsato (2009), o argumento
de Porter, que ficou conhecido como hipótese “ganha-ganha”. Uma vez que sugere
que as empresas sujeitas a uma regulamentação mais rígida podem realmente se
beneficiar. Isso tudo, por meio de uma maior competitividade, ao mesmo tempo que
melhora o ambiente e melhora sua “imagem” no contexto da economia global.
O debate sobre o valor gerado à empresa por investir voluntariamente em
questões socioambientais tornou-se central a ponto da preocupação em adotar
posturas ambientalmente sustentáveis; socialmente corretas e economicamente
viáveis tem estado cada vez mais presente nas definições estratégicas das empresas
(HART, 2006; SACHS, 2008; ORSATO, 2009; PRAHALAD, 2010).
As políticas ambientais tradicionais dependiam de regulamentação obrigatória
para diminuir a poluição e reduzir os impactos ambientais causados pela indústria e
45
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

outras fontes de poluentes. A legislação é uma ferramenta poderosa para reduzir as


emissões para o ar, a água e o solo e proteger os recursos naturais e os ecossistemas.
O conceito mencionado pela Constituição aborda o meio ambiente não
unicamente como bem público, pois não é somente do Estado, porém de todos, a
obrigação de mantê-lo e preservá-lo. Assim, o direito ao meio ambiente está atrelado
ao direito à vida como dito no artigo 225 da Constituição Federal, não se reduzindo
somente ao direito à vida, e à qualidade de vida em um meio ambiente limpo, digno e
preservado.
Carneiro (2018, s.p.) destaca que:

Todos têm o direito ao meio ambiente saudável, que põe a disposição


os meios necessários a uma vida digna, e para isso, é necessário
construir uma relação de equilibro entre o homem e a natureza,
conforme determina em seu artigo 225, a Constituição Federal:Art.
225- Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Tantas mudanças no ambiente econômico-corporativo se transportam para a


gestão pública, na medida em que conceitos como “Estado Verde” ou “Cidades
Sustentáveis” passam a ser perseguidos pelos gestores públicos.
Uma vez que o “cliente” dos serviços públicos, ou seja, o cidadão, tem se
posicionado valorizando práticas sustentáveis na oferta dos produtos do aparelho
estatal. Seja na infraestrutura das cidades, nas condições de acessibilidade,
diversidade, inclusão, igualdade de acesso às políticas públicas, na transparência e
publicização dos atos, no comprometimento com a conservação ambiental, entre
outros.
A principais medidas relacionadas aos critérios ESG na seara pública são
ações reguladoras e executoras, voltadas para:
 à redução do desmatamento e restauração ecológica;
 licitações de concessões de rodovias sob condições de redução de
emissão de carbono;
 eliminação de processos físicos com utilização de papel;
 licitações para compras de suprimentos a partir da qualificação/certificação
de fornecedores conforme parâmetros sustentáveis;
 investimento em energias renováveis; e

46
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

 maior transparência de atos de gestão demonstra que se a jornada ESG é


uma ação coletiva, os governos não podem deixar de participar ativamente.
O meio ambiente, com base nos padrões de gestão e governança ESG, deve
estar associado ao impacto ambiental e social de qualquer projeto, obra ou atividade
econômica sujeita a licenças ambientais.

3. LICENCIAMENTO AMBIENTAL E OS CRITÉRIOS ESG

O deferimento ou não das licenças ambientais é de responsabilidade exclusiva


do Poder Público, que pode adotar de uma forma mais efetiva controles objetivos de
Governança para ser mais eficiente na análise dos processos licenciamentos.
A introdução da prática ESG no setor público passa pela forma como são
produzidas as leis, devendo-se repensar o processo legislativo para que ele se adapte
ao ESG. Propõem-se algumas mudanças procedimentais, como a obrigatoriedade de
realização de audiências públicas durante a tramitação de proposições legislativas.
Mudanças, essas que impactem no meio ambiente, desenvolvimento social e a
condução ética e inclusiva da administração pública.
O Poder Público regulador, executor e controlador das políticas de Governança
precisa se movimentar em direção aos novos anseios ambientais exigidos pela
sociedade.
O deferimento ou não das licenças ambientais é de responsabilidade exclusiva
do Poder Público, que pode adotar de uma forma mais efetiva controles objetivos de
Governança para ser mais eficiente na análise dos processos licenciamentos.
A introdução da prática ESG no setor público passa pela forma como são
produzidas as leis, devendo-se repensar o processo legislativo para que ele se adapte
ao ESG.
Propõem-se algumas mudanças procedimentais, como a obrigatoriedade de
realização de audiências públicas durante a tramitação de proposições legislativas
que de alguma forma impactem o meio ambiente, o desenvolvimento social e a
condução ética e inclusiva da administração pública.
Os instrumentos de comando e controle no âmbito do Licenciamento Ambiental
são aqueles que regulam diretamente, por meio da regulação e o estabelecimento de
normas, procedimentos, e posterior fiscalização sobre a sua aplicação.
Nesse sentido, cabe colacionar o entendimento de Field e Field (p. 204, 2014):
47
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

A abordagem de comando e controle de políticas públicas é aquela


em que, a fim de gerar comportamentos socialmente desejáveis, as
autoridades políticas simplesmente garantem o comportamento por lei
e, então, usam qualquer maquinário de fiscalização – tribunais, polícia,
multas, etc.- necessário para fazer as pessoas obedecerem à lei.

Segundo Nogueira e Pereira (2009), os exemplos mais comuns de


instrumentos de comando e controle são: as normas de controle de poluição
atmosférica e da água por meio do estabelecimento de padrões; as normas de
zoneamento, que estabelecem restrições para a utilização de áreas protegidas.
Os procedimentos do licenciamento ambiental, precedidos dos necessários
estudos, para a implantação de projetos com potencial de serem altamente
degradadores, em que se buscará regras para o devido respeito às melhores práticas
de gestão aplicáveis.
Rissato e Sambatti (1996) entendem as licenças ambientais são objeto de
comando e controle, pois as licenças são usadas pelos órgãos de controle ambiental
para permitir a instalação de projetos e atividades com certo potencial de impacto no
meio ambiente.
Esses licenciamentos consistem em autorizações concedidas pela autoridade
competente para exploração econômica de áreas de interesse ambiental em
propriedades privadas. Pode ainda estabelecer padrões de uso e exploração de
recursos naturais, bem como a reabilitação ecológica de áreas a serem exploradas.
Dependendo da complexidade de um projeto e do risco ambiental que ele
possa representar, o prévio estudo de impacto ambiental é condição indispensável à
concessão da licença.
A adoção das boas práticas de ESG no âmbito do Licenciamento Ambiental
permitirá ao órgão ambiental um exame profundo dos detalhes do projeto a ser
licenciado, tais como: o número exato de empregos criados, o material de construção
utilizado, o volume exato de emissões de ar, entre outros, sendo que ao Licenciar
inúmeras atividades similares, o órgão ambiental ao adotar um sistema de governança
robusto permitirá uma análise mais célere e eficiente dos requisitos necessários para
conceder uma licença ambiental.
Celeridade e eficiência no órgão ambiental são sinônimos de um melhor
resultado econômico no mercado privado, pois um empreendimento licenciado não
produz riquezas (lucros – setor privado, impostos – setor público e geração de
empregos no âmbito social).

48
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

O Estado de Santa Catarina adotou o Licenciamento Ambiental por Adesão e


Compromisso para empreendimentos que serão instalados em áreas onde os
impactos são exatamente conhecidos e permite a emissão da Licença de forma
automática, após o envio da documentação exigida em lei, para a avaliação ambiental
da atividade por parte do interessado em licenciar a atividade, sendo que ao Estado
compete a parte da emissão da Licença.
Atualmente, segundo a Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina,
cerca de 25 % dos licenciamentos ambientais emitidos pelo Instituto de Meio Ambiente
(IMA) de Santa Catarina no ano de 2020 foram realizados na modalidade por adesão
e compromisso.
O modelo foi utilizado em 2.413 dos 9.978 processos protocolados no órgão,
sendo que a avicultura representa o maior volume dentro da modalidade de
licenciamento, sendo a segunda maior demandante de licenciamentos ambientais no
estado, atrás apenas da suinocultura.
As mudanças existentes no mercado privado em razão da prática ESG podem
ser implantadas na gestão pública na medida em que conceitos como “Estado Verde”
ou “Cidades Sustentáveis” estão na pauta dos Gestores Públicos.
O “cliente” principal do poder público é cidadão, ou seja, é para esta pessoa
que deve gestor deve governar, sendo que na área tributária, por meio de políticas
públicas, é possível a criação de normais para incentivar ou desincentivar
determinados comportamentos.
O Poder Público regulador, executor e controlador das políticas de Governança
precisa se movimentar em direção aos novos anseios ambientais exigidos pela
sociedade.
No ramo da sustentabilidade há diversas situações em que o Poder Público
poderia incentivar a preservação ambiental, pois conservar o meio ambiente é
sinônimo da melhoria da qualidade de vida e da mesma forma destaca-se que a
política de desoneração tributária, caminha aos preceitos do Direito a Saúde e ao Meio
Ambiente e as tendências estabelecidas na prática ESG.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No presente artigo buscou-se fazer a análise das práticas de Governança com


a adoção da prática ESG no âmbito do Licenciamento Ambiental. A adoção da prática

49
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

ESG como prática de Governança no setor público permitirá uma melhor visualização
na qualidade do tratamento dado ao assunto por cada um dos entes federativos.
Permitindo que o controle social e, consequentemente, a pressão social,
principal motor do serviço público, façam com que a governança ambiental e
sustentável se torne agendas fortes e motivem a criação de políticas públicas para
seu aprimoramento.
O licenciamento ambiental por adesão e compromisso nada mais é que a
adoção de forma indireta das práticas ESG para poder conceder uma licença sem a
análise humana.
Tal situação, por exemplo, permitiu ao Estado de Santa Catarina emitir 25% de
suas licenças de forma automática (Governança), com a geração de empregos de
forma imediata (Social) sem se descuidar dos critérios de meio ambiente (Ambiental)
e com isso gerando empregos de forma imediata com o pagamento de impostos.
O setor público poderá se beneficiar do diferencial existente no mercado
privado que vem adotando a forma ESG de gestão. Porque os consumidores, tanto
no âmbito nacional como no global não estão mais focados apenas no valor da
mercadoria/serviço.
Os consumidores querem antes conhecer a origem do produto, práticas
ambientais, as condições de sua produção, a gestão de resíduos, de embalagens; nas
opções de trabalho, entre tantos outros fatores.
Quanto aos investidores, estes têm indicado que o alinhamento de práticas
sustentáveis se tornou um critério, uma nova tendência facilitadora da obtenção de
recursos – a “financiabilidade”, pois as grandes corporações bancárias exigem a
prática dos requisitos ESG para emprestar dinheiro.
Essas descobertas têm implicações importantes para a comunidade de
investimentos, mas para os gestores dessas empresas e formuladores de políticas.
Os formuladores de políticas têm um papel relevante nesse campo. Para continuar a
disseminar as práticas ESG o governo deve desenvolver políticas públicas que
contribuam para o desenvolvimento sustentável.
Investir de forma sustentável é não investir em um ativo específico, de classe
ou por meio de um ESG relacionado com a estratégia. Refere-se à estratégia e a
prática de forma sistemática e explicitamente a incorporação de fatores de ESG nas
decisões de investimento e tomada de decisão.

50
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

A extensão dos critérios ESG em outras modalidades do licenciamento


ambiental permitirá maior celeridade e eficiência econômica para o setor Público.
Portanto, com o ESG ganhando mais atenção e destaque, a divulgação torna-
se central para avaliar as empresas – e central para as questões que os formuladores
de políticas irão abordar. Isso para não falar da complexidade adicional ao considerar
várias agências reguladoras globais e questões geopolíticas associadas envolvidas
na avaliação ESG.

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04 de setembro/2022.

52
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

Capítulo 4
ECOPEDADGOGIA, ECOÉTICA E
SUSTENTABILIDADE: CAMINHOS PARA O
ENSINO DAS CIÊNCIAS AGRARIAS,
AMBIENTAIS E SOCIAIS APLICADAS A LUZ
DAS POLITICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO
AMBIENTAL
Rhadson Rezende Monteiro
Cristina Ferreira Assis

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Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

ECOPEDADGOGIA, ECOÉTICA E SUSTENTABILIDADE: CAMINHOS


PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS AGRARIAS, AMBIENTAIS E
SOCIAIS APLICADAS A LUZ DAS POLITICA NACIONAL DE
EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Rhadson Rezende Monteiro


Doutorando em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Rede PRODEMA na
Universidade Estadual de Santa Cruz; Doutorando em Direito pela Universidade
Federal de Santa Catarina;

Cristina Ferreira Assis


Doutorando em Educação pela Universidade do Estado da Bahia; Professora da
Universidade Estadual de Santa Cruz;

RESUMO
Em meio ao cenário global de desenvolvimento sustentável, o estudo
explora a interconexão entre ecopedagogia, ecoética e os Objetivos
de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Centraliza-se na questão:
"Como a Lei 9.795/99, enraizada na ecopedagogia e ecoética, pode
ser instrumentalizada para intensificar a integração dos conceitos de
sustentabilidade na formação em ciências agrárias no Brasil?" O foco
principal é analisar a influência e aplicabilidade da Lei 9.795/99 no
ensino superior nas áreas de ciências agrárias, ambientais e sociais
aplicadas. Este marco legal, aliado à ecopedagogia e ecoética, tem o
potencial de revolucionar a educação agrária no Brasil, guiando-a
para uma abordagem mais responsável e sustentável. A UNESCO
destaca a premência de políticas vigorosas em educação ambiental,
considerando os desafios globais emergentes. Com isso, a
ecopedagogia, complementada pela ecoética, serve como uma
bússola para direcionar uma educação agrária e ambiental mais
consciente. A riqueza biodiversiva do Brasil coloca o país em posição
estratégica, porém desafiadora, de evoluir para práticas agrícolas que
valorizem e celebrem a interdependência com o meio ambiente. A Lei
9.795/99, quando bem implementada, pode funcionar como um
catalisador para uma formação agrária que integre plenamente os
conceitos de sustentabilidade, especialmente em nível superior. Ao
abordar a interação entre ecopedagogia, ecoética e diretrizes legais,
este estudo aspira a reforçar o compromisso do Brasil com uma
educação agrária e ambiental inovadora e eco-consciente. Em

54
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

síntese, esta pesquisa propõe-se a iluminar o caminho para uma


reformulação profunda do ensino superior nas áreas de ciências
agrárias, ambientais e sociais aplicadas no Brasil, tornando-o
alinhado com as demandas e desafios da sustentabilidade
contemporânea.
Palavras-chave: Ensino; Ecopedagogia; Educação Ambiental;
Sustentabilidade; Lei 9.795/99.

ABSTRACT
In the midst of the global scenario of sustainable development, the
study explores the interconnection between ecopedagogy, ecoethics
and the Sustainable Development Goals (SDGs). It focuses on the
question: "How can Law 9.795/99, rooted in ecopedagogy and
ecoethics, be used to intensify the integration of sustainability
concepts in agricultural science education in Brazil?" The main focus
is to analyze the influence and applicability of Law 9.795/99 in higher
education in the areas of agricultural, environmental and applied social
sciences. This legal framework, combined with ecopedagogy and
ecoethics, has the potential to revolutionize agrarian education in
Brazil, guiding it towards a more responsible and sustainable
approach. UNESCO highlights the urgency of vigorous policies in
environmental education, considering the emerging global challenges.
With this, ecopedagogy, complemented by ecoethics, serves as a
compass to direct a more conscious agrarian and environmental
education. Brazil's biodiverse wealth places the country in a strategic,
albeit challenging, position to evolve towards agricultural practices that
value and celebrate interdependence with the environment. Law
9795/99, when well implemented, can act as a catalyst for an agrarian
education that fully integrates sustainability concepts, especially at a
higher level. By addressing the interaction between ecopedagogy,
ecoethics and legal guidelines, this study aims to reinforce Brazil's
commitment to innovative and eco-conscious agrarian and
environmental education. In summary, this research proposes to light
the way for a profound reformulation of higher education in the areas
of agricultural, environmental and applied social sciences in Brazil,
making it aligned with the demands and challenges of contemporary
sustainability.
Keywords: Teaching; Ecopedagogy; Environmental education;
Sustainability; Law 9.795/99.

1. Introdução

No complexo cenário global de desenvolvimento sustentável, como a


ecopedagogia, a ecoética e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) se
entrelaçam, a fim de conduzir um futuro mais harmônico com a natureza? A

55
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

ecopedagogia (Nepomoceno; Carniatto, 2022; Gadotti, 2009) surge como uma


resposta educacional que alinha a formação acadêmica com princípios ecológicos, e
sua intersecção com a ecoética ressalta a importância ética de respeitar o meio
ambiente. Neste cenário, questiona-se: Como a Lei 9.795/99, fundamentada na
ecopedagogia e ecoética, pode ser instrumentalizada para promover uma integração
plena dos conceitos de sustentabilidade na formação em ciências agrárias no Brasil?
Os objetivos deste estudo concentram-se na análise da triangulação entre a Lei
9.795/99, a ecopedagogia e a ecoética no contexto da sustentabilidade agrícola
brasileira (Feitosa et al., 2007; Cazella et al., 2017). Além de traçar o histórico da Lei
9.795/99 e suas implicações no cenário educacional brasileiro (Rodrigues; Guimarães,
2010; Garcia et al., 2020), este trabalho busca avaliar a aplicação desta lei tanto na
educação formal quanto na não formal, identificando suas contribuições, desafios e
particularidades.
A UNESCO sublinha a urgência de se adotar políticas robustas em educação
ambiental à luz dos crescentes desafios globais. Tal urgência é ainda mais enfatizada
pelo foco da Educação para o Desenvolvimento Sustentável (EDS) no item 4.7 dos
ODS, que visa a capacitação de estudantes em prol do desenvolvimento sustentável
até 2030.
O debate contemporâneo acerca da sustentabilidade e educação para as
mudanças climáticas tornou-se vital. A ecopedagogia, reforçada pela ecoética,
valoriza a simbiose entre humanos e natureza, funcionando como um guia potente
para uma educação agrária mais consciente e responsável (Nepomoceno et al., 2019;
Fuentes Molina; González Fragozo, 2016).
O ambiente agrícola brasileiro, rico em sua biodiversidade, enfrenta o desafio de
evoluir rumo a práticas mais sustentáveis. Integrando ecopedagogia, ecoética e a Lei
9.795/99, vislumbra-se uma formação agrária que não apenas respeita, mas celebra
a interdependência com o meio ambiente (Do Prado Morais; De Barros, 2022).
A partir deste estudo, espera-se obter insights que iluminem a paisagem
educacional agrária brasileira, servindo como guia para a formulação de políticas
educacionais mais coesas e alinhadas com os preceitos de sustentabilidade.
Ao explorar a confluência entre ecopedagogia, ecoética e a Lei 9.795/99 no
âmbito agrícola brasileiro, este trabalho visa fortalecer o compromisso do Brasil com
uma formação agrária superior que seja inovadora e eco-consciente.

56
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

Neste estudo, adotou-se uma metodologia de pesquisa exploratória e descritiva


com ênfase em uma abordagem teórica (Severino, 2017). A principal estratégia
implementada foi a revisão bibliográfica, uma técnica que visa sintetizar, avaliar e
debater a atualidade de um tópico, garantindo uma compreensão robusta e detalhada
(Brizola; Fantin, 2016).
Para este mapeamento literário, utilizaram-se palavras-chave estratégicas como
"ensino", "ciências agrárias", "ecopedagogia", "ecoética" e "sustentabilidade". A
seleção criteriosa desses termos assegurou uma busca focada e relevante ao
contexto da pesquisa. Utilizando o Google Acadêmico, devido à sua vasta gama de
publicações acadêmicas, os termos foram aplicados em diversas combinações,
conforme sugerido por Assis e Monteiro (2023).
Após identificar títulos e resumos relevantes, procedeu-se à leitura completa dos
textos selecionados. Esta etapa propiciou uma análise crítica das literaturas,
aprofundando o entendimento das áreas abordadas (Brizola; Fantin, 2016).
Paralelamente, uma avaliação detalhada da legislação relacionada ao ensino,
sustentabilidade e práticas agrárias foi realizada. Guiada pelos princípios da
hermenêutica jurídica (Soares, 2010), esta análise visou entender as sutilezas e
propósitos da legislação dentro de seu contexto aplicado. Esse método interpretativo
revelou-se crucial para obter uma perspectiva abrangente das leis e sua relação com
as necessidades atuais do ensino em ciências agrárias e ambientais (Assis e
Monteiro, 2023).
Diante da meticulosa metodologia adotada e da rica literatura explorada, este
trabalho está preparado para adentrar no cerne da discussão. O capítulo seguinte
mergulha nos insights extraídos da revisão bibliográfica e da análise legislativa,
desvelando a interação entre ecopedagogia, ecoética e as diretrizes legais em vigor.
Através de uma narrativa coesa, buscaremos entender como estes elementos podem,
coletivamente, orientar e reformular o ensino das ciências agrárias no Brasil,
alinhando-o com os imperativos da sustentabilidade contemporânea.

2. Redefinindo o Ensino das Ciências em busca do conhecimento


sustentável: Ecopedagogia, Sustentabilidade e Tendências Globais

No contexto educacional voltado para o ensino das ciências agrárias e


ambientais, o presente capítulo de discursão e desenvolvimento aprofunda-se na

57
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

necessidade de adaptação e inovação curricular para atender às premissas de


sustentabilidade tanto em âmbitos nacionais quanto internacionais. A formação em
ciências agrárias tem enfrentado desafios e oportunidades singulares, os quais serão
dissecados em três segmentos essenciais: inicialmente, "Ecopedagogia e
Sustentabilidade", que examina a relação entre práticas pedagógicas e princípios
sustentáveis; em seguida, "Contexto Internacional e a Política Nacional de Educação
Ambiental", que situa a formação agrária brasileira dentro das tendências e diretrizes
globais de sustentabilidade; e, por fim, "A formação nos cursos superiores de Ciências
Agrárias: A Relevância da PNEA, da (Eco)ética e da Ecopedagogia", que destaca a
importância de uma abordagem integrada e inovadora no ensino agrário. Este debate
visa lançar luz sobre os caminhos para um ensino agrário e ambiental mais coeso,
responsivo e alinhado às demandas contemporâneas de sustentabilidade.

2.1 Ecopedagogia, (Eco)ética e Sustentabilidade

A ecopedagogia é uma perspectiva educacional que entrelaça o ensino e a


aprendizagem com princípios ecológicos, enfatizando a sustentabilidade, a
valorização do meio ambiente e uma relação equilibrada entre seres humanos e a
natureza (Gadotti, 2009). Essa abordagem se apresenta como uma alternativa aos
métodos convencionais de ensino, incorporando a consciência ecológica em sua
essência (Guerra, 2019).
No cerne dessa proposta didática, encontramos a ideia intrínseca de sustentabilidade.
Esta se refere à capacidade de suprir as necessidades do presente sem comprometer
o bem-estar das gerações futuras. Nesse sentido, tem o objetivo de infundir essa
percepção nos alunos, moldando cidadãos informados e comprometidos (Gadotti,
2009).
A ecopedagogia, ou "pedagogia da Terra", é portanto, conceitualmente, uma
abordagem educacional que se origina da confluência entre as áreas da ecologia e da
educação. A ideia central é que a educação deve ser reconfigurada em um contexto
global de crise socioambiental, garantindo que os educandos se tornem cidadãos
críticos, conscientes e aptos a participar da construção de uma sociedade mais justa
e sustentável. Dentro deste enquadramento, o conceito envolve: 1) Conexão com a
Terra: insiste na ideia de que a humanidade faz parte da Terra, e não é separada ou
superior a ela. Portanto, os processos educativos devem reconhecer e valorizar nossa

58
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

interdependência com todos os seres vivos; 2) Visão Holística da Educação: Ao invés


de segmentar o conhecimento em disciplinas estanques, a ecopedagogia promove
uma educação interdisciplinar, onde os temas são abordados de forma integrada,
considerando suas relações com o meio ambiente e a sociedade; 3) Formação de
Cidadãos Ativos: Mais do que transmitir informações, busca formar cidadãos ativos,
críticos e participativos, que sejam capazes de atuar na transformação da sociedade
rumo à sustentabilidade; 4) Ética Ambiental: Central para o conceito é a inculcação de
uma ética que valorize o respeito à vida em todas as suas formas, promovendo a
responsabilidade e a consciência ecológica.; 5) Pedagogia da Esperança: Inspirada
em parte pelo trabalho de Paulo Freire, também incorpora a ideia de uma "pedagogia
da esperança", onde a educação é vista como uma ferramenta para a transformação
social e ambiental.
No cenário da formação agrícola, a ecopedagogia ressalta a relevância de
adotar práticas agrícolas que sejam sustentáveis. A abordagem busca estabelecer um
vínculo mais íntimo entre seres humanos e a terra, incentivando métodos que honrem
o ecossistema e conservem os recursos naturais (Nepomoceno; Carniatto, 2022).
A ascensão dessa didática indica um reconhecimento mais profundo de nossa
responsabilidade compartilhada em relação ao meio ambiente. Vai além de uma
simples reinterpretação da educação tradicional; propõe-se a desafiar o foco
antropocêntrico da pedagogia, cultivando uma consciência mais global e integrada
(Dickmann, 2022). Aqui, a humanidade é percebida não como dominante, mas como
parte vital da intricada teia da vida.
No cerne da ecopedagogia, encontra-se o princípio da "ecoética". Segundo
Monteiro (2022), a ecoética mescla ética e ecologia, defendendo uma
responsabilidade compartilhada perante o planeta, equilibrando sociedade, economia
e ecossistema como pilares inseparáveis da trajetória humana. Este ideário
transcende o olhar antropocêntrico, tradicionalmente focado na humanidade,
favorecendo um entendimento ecocêntrico, onde os seres humanos coexistem dentro
de uma ampla rede de vida. Em termos aplicados, a ecoética orienta tomadas de
decisão em campos como governança verde, metodologias sustentáveis,
conservação de espécies e defesa dos direitos animais, sustentando opções que
valorizam a coesão entre todos os entes e seus habitats.
Por sua vez, como destacado por Nepomoceno e Carniatto (2022), a
ecopedagogia não contrapõe a educação ambiental, e sim a enriquece. Seu

59
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

panorama integrador aborda, além da conexão homem-natureza, reflexões profundas


sobre o papel humano. Da Silva Paulo e Francelino (2021) sublinham a potencialidade
tanto da educação ambiental quanto da ecopedagogia em impulsionar a
sustentabilidade, apontando para a imperatividade de currículos adaptados às
complexidades contemporâneas.
Sob essa perspectiva, Pereira et al. (2007) postulam que a ecopedagogia, com
sua proposta pedagógica inovadora, tem o potencial de acelerar o avanço sustentável.
Em consonância, Guerra (2019) realça a relevância desse enfoque pedagógico na
promoção de uma verdadeira virada educacional.
Consequentemente, a ecopedagogia se apresenta como uma metodologia
educacional ascendente, firmemente arraigada em preceitos de sustentabilidade e
ecoética, com o objetivo de formar uma comunidade mais coesa e informada. A sua
implementação implica numa avaliação e recalibração constantes de métodos
pedagógicos.
Dando continuidade à temática, o próximo segmento analisará o quadro
jurídico, explorando a Lei da Política Nacional de Meio Ambiente e sua interação com
a ecopedagogia, esclarecendo as interseções entre diretrizes legais e pedagogia
prática.

2.2 Contexto Internacional e a Politica Nacional de Educação Ambiental

A Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) representou um marco


fundamental na trajetória do Brasil rumo à sustentabilidade. Com base na legislação
e nas reflexões da época, Layrargues (2002) destaca que a PNEA surgiu de um
esforço deliberado de imersão da perspectiva ambiental na pedagogia. Tal progresso,
se desdobrando por cerca de vinte anos, é resultado da dedicação de pedagogos
voltados ao ambientalismo na busca por estabelecer novos padrões éticos na
interação da população brasileira com o ecossistema.
Nesse intervalo, observou-se um amadurecimento da sociedade quanto ao
entendimento do vínculo entre humanidade e natureza. O aumento da sensibilização
acerca da sustentabilidade, aliado a alertas de deterioração ecológica, catalisou
diversas iniciativas e debates, dentre os quais a PNEA se sobressai.
Revistando marcos históricos dessa jornada, em 1977, a Conferência
Intergovernamental sobre Educação Ambiental ocorreu em Tbilisi (EUA). Conforme

60
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

Jacobi (2003), esse evento delineou o começo de um movimento internacional


visando fomentar uma apreciação renovada da relevância ecológica. Anos depois, a
Primeira Conferência do Meio Ambiente Humano emergiu como um divisor de águas
na sensibilização para problemas ambientais. Furtado (2009) ressalta que, a partir
desse encontro em Estocolmo, reconheceu-se a imperatividade de preparar
indivíduos para lidar com questões ambientais, solidificando a noção de educação
voltada para o meio ambiente.
Estes eventos ilustram como a atenção global se concentrou progressivamente
nos dilemas ambientais causados pelo modo de vida humano e, consequentemente,
na crucialidade da educação ambiental. A indagação que se impõe é: por que
distinguir educação convencional e educação ambiental? Para elucidar essa questão,
é imperativo compreender trechos específicos da Constituição Federal de 1988, bem
como da Lei nº 6.938/81, que estabelece a Política Nacional de Meio Ambiente.

“Lei nº 6.938/81, Art. 2º, Inciso X - Educação ambiental a todos os


níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando
capacita-la para participação ativa na defesa do meio ambiente”
(BRASIL,1981).

“CF 1988 Art. nº 225, inciso VI - Promover a educação ambiental em


todos os níveis de ensino e a conscientização publica para a
preservação do meio ambiente” (BRASIL,1998).

Ambos artigos citados revelam uma preocupação com a educação ambiental


que antecede a PNEA, isso é reflexo de um cenário nacional e internacional onde a
importância e a urgência de se enfrentar a “crise ecológica” passa a integrar os ideais
e interesse de parte dos representantes políticos, que a partir de então, começam
notar que além da influência política, tanto a cultura do povo quanto a
responsabilidade socioambiental das indústrias tem papel fundamental nesse
combate.
A consolidação do termo "educação ambiental" iniciou uma busca pela
afirmação de sua importância em contraste com a educação tradicional, muitas vezes
percebida como desconectada das crescentes preocupações ambientais. Era
fundamental que a educação ambiental se integrasse aos espaços pedagógicos,
proporcionando um caráter mais social à agenda ambiental.
No âmbito das políticas públicas democráticas, Layrargues (2002, p.03)
destaca dois pressupostos fundamentais: (a) a presença de atores sociais
adequadamente representados por organizações que abranjam a diversidade do
61
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

espectro político-ideológico em questão, e (b) a existência de instâncias coletivas


onde os interesses e conflitos entre indivíduos e instituições sejam debatidos, visando
ao consenso e não somente a ação de entidades governamentais.
O Brasil, contudo, não apresentava essas condições à época. Apesar do clamor
público por uma política de educação ambiental, a concretização de tal política não
atendia plenamente às demandas da sociedade. No plano estadual, somente no final
de 1999 as Políticas Estaduais de Educação Ambiental começaram a ser instituídas,
culminando na criação de comissões e grupos gestores, como aponta Layrargues
(2002).
Neste contexto, evidencia-se que a mera existência de uma lei pode não
garantir sua eficácia. A Lei nº 9.795/99 enfrentou desafios significativos, notadamente
o veto ao seu artigo 18, que propunha destinar 20% dos recursos provenientes de
multas ambientais para ações em educação ambiental (Brasil, 1999). Este veto
comprometeu a autonomia da legislação, fazendo-a depender de alianças com outros
setores e interesses.
Além disso, Velasco (2004) argumenta que, embora a Lei da PNEA pudesse
desencorajar a instituição de uma disciplina específica de Educação Ambiental, ela
não deveria proibir sua criação. Afinal, na ausência de outras iniciativas, é preferível
ter um espaço garantido para a Educação Ambiental, mesmo que sob a forma de uma
disciplina, do que não ter qualquer espaço.
Apesar dos percalços enfrentados pela PNEA, seu valor intrínseco na busca
por um equilíbrio ecológico é inegável. A educação ambiental tem conquistado
território, movendo-se em direção à transversalidade que lhe é inerente. Entretanto,
ainda enfrenta desafios para sua plena efetivação e para alcançar o impacto
transformador desejado.

2.3 A formação nos cursos superiores de Ciências Agrárias e Ambientais: A


Relevância da PNEA, da (Eco)ética e da Ecopedagogia.

O papel da Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) dentro do cenário


educacional formal brasileiro é central, sendo conduzida pelo Ministério da Educação
(MEC) e o Ministério do Meio Ambiente (MMA). Estes, mesmo com distintas
prerrogativas - uma na seara pedagógica e a outra ambiental - colaboram para
estabelecer diretrizes no setor educacional (Verano; Alcoforado e Cordeiro, 2020).

62
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

A Lei nº 9.795 de 1999 (PNEA) no seu Art. 9º, ressalta a necessidade da


Educação Ambiental (EA) estar inserida em todos os currículos de instituições
educacionais, independentemente de serem públicas ou privadas, englobando todos
os níveis e modalidades de ensino (BRASIL, 1999). Cascais e Terán (2014) elucidam
o papel da educação formal, destacando sua característica institucionalizada,
estruturada e orientada.
O Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA) e o Sistema Nacional
de Meio Ambiente (Sisnama) unem esforços para implementar a PNEA nas diferentes
esferas governamentais, conforme delineado por Verano; Alcoforado e Cordeiro
(2020). Ainda, conforme o Art.10º, a EA se integra interdisciplinarmente, e não como
uma matéria específica, em todas as modalidades de ensino (Adams, 2012).
Universidades e instituições de ensino superior têm uma responsabilidade
significativa na consolidação da educação ambiental. O foco deve estar alinhado aos
ideais de desenvolvimento sustentável e à integração das ciências agrárias,
ambientais e sociais aplicadas (Barbieri, 2011). Contudo, muitos educadores ainda
desconhecem a Lei nº 9795/99, o que pode comprometer sua implementação eficaz,
especialmente considerando a formação requerida para promover a PNEA (Adams,
2012).
Reafirmando a significância da EA, a Constituição Federal de 1998 estabelece
a promoção da EA como obrigatória. Este tipo de educação, quando bem estruturada,
envolve diversos setores da sociedade, e precisa ser transversal, considerando
práticas como a ecopedagogia e a especificidade de cada região (Verano; Alcoforado
e Cordeiro, 2020).
A PNEA tem desempenhado um papel crescente na discussão acadêmica nas
ciências agrárias, ambientais e sociais aplicadas. No entanto, a discussão deve ir além
de questões de degradação ambiental e abranger áreas mais amplas, considerando
múltiplos stakeholders (Adams, 2012).
Dentro da esfera das ciências agrárias e ambientais, a formação em EA é
essencial, destacando a relação intrínseca entre práticas agrícolas, meio ambiente e
sociedade. Profissionais destes campos têm uma relevância na promoção de um
desenvolvimento rural sustentável, como evidenciado pela Lei Nº 9.795 (Pereira et al.,
2022). A interdisciplinaridade, ancorada nas práticas de ecopedagogia, é fundamental
para promover uma abordagem ecológica no ambiente acadêmico (Gadotti, 2009).

63
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

O papel da Extensão Rural, em ligar a academia à sociedade, é imperativo em


um contexto de desafios globais, como mudanças climáticas e agroecologia (Leal e
Braga, 2019). Dentro deste panorama, as Ciências Agrárias, Ambientais e Sociais
Aplicadas são pilares no entendimento da relação entre humanidade e meio ambiente,
integrando princípios de sustentabilidade, ética e justiça (Monteiro, 2022).
As instituições de ensino superior, em seu compromisso com a sociedade,
devem ir além das obrigações legislativas, produzindo profissionais equipados para
enfrentar os desafios contemporâneos de maneira integrada (Molina et al., 2020). Ao
priorizar uma educação que busca transformar, as Ciências Agrárias, Ambientais e
Sociais Aplicadas tornam-se veículos para um futuro mais equitativo e sustentável.

3. Considerações Finais

O cenário agrícola brasileiro, um mosaico dinâmico de tradições e inovações,


está diante de um imperativo histórico: harmonizar as metas econômicas com as
exigências de sustentabilidade e conservação ambiental. Ao desvendar as
interseções entre a Lei 9.795/99, a ecopedagogia e o ensino das ciências agrárias,
este estudo iluminou caminhos promissores e desafios persistentes para a formação
agrícola no Brasil.
Em resposta às questões levantadas na introdução, chega-se as seguintes
consideraçõres:
i) A Lei 9.795/99, ao ser traçada em seu histórico, revelou-se um marco legislativo que
potencializa a integração da sustentabilidade no campo educacional brasileiro,
corroborando estudos anteriores (Rodrigues; Guimarães, 2010; Garcia et al., 2020).
ii) Em termos de aplicação da Política Nacional da Educação Ambiental na educação
formal, observa-se que, enquanto avanços significativos foram alcançados, persistem
desafios intrínsecos ao engajamento efetivo de instituições e profissionais de ensino.
iii) No âmbito da educação não formal, a Política Nacional da Educação Ambiental se
manifesta de maneira distinta, revelando particularidades e relevâncias que refletem
a diversidade e complexidade das abordagens de aprendizagem fora dos ambientes
tradicionais de ensino.

64
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

iv) A execução da Lei 9.975/99 demonstrou avanços e retrocessos. Embora tenha


influenciado positivamente a incorporação de práticas sustentáveis no currículo
agrícola, obstáculos institucionais e práticos ainda limitam sua plena realização.
v) A Lei 9.975/99 é inegavelmente fundamental para a formação em ciências agrárias.
Sua influência nas práticas pedagógicas e no currículo tem sido vital para garantir que
a próxima geração de profissionais agrícolas seja equipada não apenas com
conhecimentos técnicos, mas também com uma profunda compreensão da
importância da sustentabilidade.
A UNESCO, ao enfatizar a imperatividade da educação para a
sustentabilidade, destaca o papel crítico que a ecopedagogia desempenha. A
ecopedagogia não apenas ressalta a interdependência entre humanos e o meio
ambiente, mas também serve como um farol, guiando o ensino agrário em direção a
práticas mais sustentáveis.
Neste cenário, a relevância do ensino das ciências agrárias, alinhado às
demandas contemporâneas e aos princípios da sustentabilidade, não pode ser
subestimada. A agricultura, enquanto atividade humana primordial, detém o potencial
tanto para mitigar quanto exacerbar as crises ambientais contemporâneas. Portanto,
garantir que a formação em ciências agrárias esteja firmemente ancorada em
princípios de sustentabilidade não é apenas uma questão de prática educacional, mas
um imperativo global.
Conclui-se, portanto, que a busca contínua por uma formação agrícola que
equilibre tradição, inovação e sustentabilidade é não apenas desejável, mas
essencial. Ao seguir as diretrizes da ecopedagogia e da Lei 9.795/99, o Brasil tem a
oportunidade de liderar globalmente, mostrando que é possível prosperar
economicamente enquanto se honra e protege o meio ambiente.

4. Referencias

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Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

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68
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

Capítulo 5
ODS 6 E A GESTÃO HÍDRICA: GOVERNANÇA
E PARTICIPAÇÃO SOCIAL DOS COMITÊS DE
BACIAS HIDROGRÁFICA (CBH) DO ESTADO
DA BAHIA
Rhadson Rezende Monteiro
Clarisse Silva Vitória
Luã Fábio Nunes da Conceição Santana
Júlio César dos Santos Santana

69
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

ODS 6 E A GESTÃO HÍDRICA: GOVERNANÇA E PARTICIPAÇÃO


SOCIAL DOS COMITÊS DE BACIAS HIDROGRÁFICA (CBH) DO
ESTADO DA BAHIA

Rhadson Rezende Monteiro


Doutorando em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela rede PRODEMA na
Universidade Estadual de Santa Cruz. Doutorando em Direito pela Universidade
Federal de Santa Catarina. Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal
do Espírito Santo. Graduado em Direito e em História pela Universidade Federal de
Ouro Preto. Advogado, Analista e Professor Universitário [email protected]

Clarisse Silva Vitória


Graduanda do Bacharelado Interdisciplinar em Ciências Ambientais
[email protected]

Luã Fábio Nunes da Conceição Santana


Graduando do Bacharelado Interdisciplinar em Ciências Ambientais
[email protected]

Júlio César dos Santos Santana


Graduando do Bacharelado Interdisciplinar em Ciências Ambientais
[email protected]

RESUMO
Os Comitês de Bacia Hidrográfica são entidades integrantes do
Sistema Nacional de Recursos Hídricos. Eles promovem a gestão
participativa das águas ao encorajar o diálogo entre diversos setores
que se beneficiam deste recurso, como o governo, os usuários e a
sociedade civil. A atuação desses Comitês é essencial para alcançar
os objetivos da ODS 6, uma vez que ambas as iniciativas visam
aprimorar a qualidade da água, garantir seu uso eficiente e proteger
e revitalizar os ecossistemas. Esta pesquisa, de caráter quali-
quantitativo, recorre a revisão bibliográfica e análise de documentos
oficiais fornecidos pelo Instituto de Meio Ambiente e Recursos
Hídricos (INEMA). Ela destaca a estrutura atual dos membros em

70
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

posições representativas nos Comitês da Bahia, examina a


descentralização e envolvimento destas entidades, evidenciando a
predominância de determinados grupos na gestão pública das águas.
Das 17 bacias na Bahia, 15 têm comitês responsáveis por estabelecer
diretrizes para a gestão hídrica local; contudo, somente seis desses
comitês possuem um plano de administração. A análise revelou uma
predominância de entidades do setor privado e órgãos
governamentais, com uma sub-representação de comunidades
tradicionais e indígenas, cujas práticas culturais valorizam a proteção
ambiental, desviando-se assim do modelo de gestão integrada
proposto pela ODS 6.
Palavras-chave: Comitês; Gestão Hídrica; Governança; ODS 6;
Participação Social;

ABSTRACT
The River Basin Committees are members of the National System of
Water Resources. They promote participatory water management by
encouraging dialogue between different sectors that benefit from this
resource, such as government, users and civil society. The work of
these Committees is essential to achieve the objectives of SDG 6,
since both initiatives aim to improve water quality, ensure its efficient
use and protect and revitalize ecosystems. This qualitative and
quantitative research resorts to a bibliographic review and analysis of
official documents provided by the Institute of Environment and Water
Resources (INEMA). It highlights the current structure of members in
representative positions in the Bahia Committees, examines the
decentralization and involvement of these entities, evidencing the
predominance of certain groups in public water management. Of the
17 basins in Bahia, 15 have committees responsible for guidelines for
local water management; However, only six of these committees have
a management plan. The analysis revealed a predominance of private
sector entities and government agencies, with an underrepresentation
of traditional and indigenous communities, whose cultural practices
value environmental protection, thus deviating from the integrated
management model proposed by SDG 6.
Keywords: Committees; Water Management; Governance; ODS 6;
Social Participation;

INTRODUÇÃO

A água, recurso vital que permeia todas as dimensões do desenvolvimento


sustentável, é indispensável para a saúde, segurança alimentar, energia e
crescimento econômico (GADONNEIX et al., 2010). A despeito de sua importância,
muitas regiões enfrentam desafios críticos relacionados à sua distribuição e gestão
(OCDE, 2015). No Brasil, detentor de 12% do volume global de água doce, a

71
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

governança hídrica se revela tanto uma oportunidade quanto um desafio, sendo


premente a necessidade de abordagens integradas e participativas (AGÊNCIA
NACIONAL DE ÁGUAS, 2022; EMBRAPA, 2018).
Os Comitês de Bacia Hidrográfica (CBH) surgem, nesse contexto, como
entidades-chave para a gestão dos recursos hídricos em uma perspectiva
descentralizada, permitindo a participação ativa de diferentes setores da sociedade
(RAUBER & CRUZ, 2013; TRINDADE & SCHEIBE, 2019). Tal abordagem, alinhada
aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, particularmente ao
ODS 6, visa assegurar a disponibilidade e a gestão sustentável da água e do
saneamento para todos até 2030 (IPEA, 2019).
Tendo em vista a centralidade dos CBHs na gestão hídrica brasileira e a
crescente necessidade de garantir sua eficácia e representatividade, emerge a
seguinte questão de pesquisa: "Qual é a atual composição dos Comitês de Bacias
Hidrográficas no Estado da Bahia e como se distribuem os percentuais de participação
por segmento em cada comitê instalado?".
Para abordar esta questão, este estudo se inspira significativamente nos
achados de MONTEIRO et al. (2023), que analisaram a descentralização dos CBHs
na Bahia, traçando um panorama de sua gestão pública, governança e participação
social. Suas descobertas indicam nuances na representatividade dos diferentes
segmentos envolvidos, iluminando tanto as potencialidades quanto as lacunas na
gestão participativa das águas no estado.
No decorrer deste trabalho, examinaremos o marco legal e os mecanismos de
participação nos CBHs, considerando tanto perspectivas nacionais quanto
internacionais, e refletindo sobre seus limites, desafios e oportunidades (XAVIER &
BENTES, 2020). Através de uma análise detalhada e contextualizada, pretendemos
não apenas compreender a configuração representativa dos CBHs da Bahia, mas
também lançar luz sobre as práticas e estratégias que podem conduzir a uma gestão
hídrica mais inclusiva e eficaz.
Para alicerçar a investigação proposta, adotou-se uma abordagem quali-
quantitativa de natureza exploratória e descritiva (Assis e Monteiro, 2023).
Inicialmente, conduziu-se um levantamento bibliográfico (Gil,2002) em sequência,
para garantir uma compreensão mais profunda e detalhada, a análise de conteúdo
(Bardin, 1977) foi empregada para examinar documentos oficiais.

72
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

O núcleo da análise se centrou nos registros disponibilizados pelo Instituto do


Meio Ambiente e Recursos Hídricos (INEMA, 2022). Foram meticulosamente
examinados documentos que versam sobre a nomeação de conselheiros, regimentos
internos, planos de gestão de bacias e atas de reuniões dos comitês gestores. Para
assegurar uma organização clara e sistemática, os dados foram catalogados em
tabelas, distribuídos por cada um dos 15 comitês. Especial atenção foi dada à
verificação da ocupação ativa dos conselheiros, identificando também a presença de
suplentes ou eventuais vacâncias.
Os dados primordialmente quantitativos foram organizados em planilhas e,
posteriormente, traduzidos em representações gráficas. Estas visualizações
buscaram capturar a participação dos diversos atores envolvidos: poderes federais,
estaduais e municipais; agentes de interesses econômicos, como empresas de
saneamento, setores de agronegócio, indústria e mineração; e representantes da
sociedade civil, incluindo sindicatos, ONGs, comunidades tradicionais e povos
indígenas. O objetivo principal dessa segmentação foi avaliar a porcentagem de
representatividade de cada segmento nos CBHs.
Finalizando a etapa metodológica, com base nos dados dos 15 comitês,
elaborou-se um gráfico de barras. Este gráfico objetivou comparar o padrão
participativo de cada comitê, permitindo observações acerca de padrões de
governança, atuação e a proporção de membros em relação à extensão da área de
cada bacia hidrográfica.
Em suma, a gestão de recursos hídricos e a composição dos Comitês de Bacias
Hidrográficas (CBHs) no Estado da Bahia representam uma temática de alta
relevância, visto que as dinâmicas participativas influenciam diretamente na
efetividade das políticas públicas voltadas à conservação e uso sustentável da água.
A compreensão clara da participação dos diferentes segmentos e seu impacto na
gestão hídrica pode elucidar desafios e potencialidades na governança dos recursos
hídricos. Neste contexto, o presente estudo propõe-se a retratar a atual configuração
desses comitês na Bahia, destacando sua composição e os percentuais de
participação de cada segmento, proporcionando, assim, uma visão panorâmica e
crítica sobre o tema.

73
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

ODS 6, GOVERNANÇA, PARTICIPAÇÃO SOCIAL E GESTÃO DA ÁGUAS NO


BRASIL

Embora a água seja um bem precioso, o Brasil, apesar de seu vasto potencial
hídrico, enfrenta discrepâncias consideráveis em sua distribuição e acesso. Muitas
regiões com bacias de vazão limitada sofrem com demandas crescentes, resultando
em escassez e tensões relacionadas à água, enquanto outras áreas com abundância
hídrica têm demandas menores. A competição pela água tem aumentado,
principalmente na agricultura irrigada, responsável por 70% do consumo hídrico
brasileiro (EMBRAPA, 2018).
Na Bahia, essa luta pelo acesso à água não é novidade e promete continuar.
O estado, contudo, não tem um mapeamento aprofundado da capacidade e fluxo dos
seus rios e reservatórios. A falta de fiscalização agravou o problema, ocultando dados
cruciais sobre a exploração hídrica (INEMA, 2022).
A Lei das Águas, por meio do Sistema Nacional de Informações sobre Recursos
Hídricos, estabelece diretrizes para a gestão hídrica, incluindo concessões,
classificação de corpos d'água e cobrança pelo uso. No entanto, no terreno, muitas
atividades agrícolas permanecem irregulares e há lacunas nas informações sobre os
impactos da irrigação e fornecimento de água para animais. Além disso, muitos planos
de gestão hídrica ainda estão em desenvolvimento (EMBRAPA, 2018).
O ODS 6, inserido na Agenda 2030, visa aprofundar os esforços dos Objetivos
de Desenvolvimento do Milênio. Suas principais metas incluem garantir acesso
universal a água limpa e saneamento, bem como fortalecer a participação comunitária
na gestão hídrica (Nações Unidas, 2019).
A governança, nesse contexto, é entendida como um processo que cria
ambientes e estratégias de tomada de decisão, considerando as necessidades do
governo, setor privado e sociedade civil, especialmente nas regiões que se busca
preservar (MONTEIRO e SCHIAVETTI, 2023).
Nesse sentido, a contribuição dos Comitês de Bacia Hidrográfica como espaços
de representação colegiada, tem-se por definição que:

“O Comitê de Bacia Hidrográfica é um órgão colegiado de caráter


consultivo, normativo e deliberativo, pertencente ao Sistema Estadual
de Gerenciamento de Recursos Hídricos, vinculado ao Conselho
Estadual de Recursos Hídricos (BAHIA, p. 3, 2009).”

74
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

A essência da democracia reside na participação ativa, permitindo que diversos


grupos sociais colaborem em decisões coletivas. Este processo de deliberação
coletiva envolve a troca e harmonização de perspectivas variadas, visando conciliar
divergências e criar consensos em prol de objetivos compartilhados. Tal processo
democrático é enriquecido pela inclusão e consideração de múltiplos pontos de vista,
especialmente em fóruns como conselhos e comitês, onde a comunicação
desempenha um papel crucial (HABERMAS, 2002).
A existência dos Comitês de Bacia Hidrográfica (CBH) é intrinsecamente ligada
à participação social. Seu propósito principal é descentralizar a administração dos
recursos hídricos, enfatizando a governança e assumindo um papel vital na realização
das metas do ODS 6. Ao descentralizar, os CBHs buscam integrar a gestão pública
com as comunidades, incentivando uma participação cidadã mais robusta. Em teoria,
isso possibilita tomadas de decisões mais precisas e democráticas, refletindo as
especificidades e demandas regionais. A verdadeira representação se baseia no
princípio de que as escolhas políticas devem ser tomadas por aqueles diretamente
afetados, através de um diálogo aberto e público.
Prosseguindo nesta análise, o próximo capítulo oferecerá um panorama mais
detalhado sobre a participação social nos CBH do Estado da Bahia.

UM RETRATO DOS CBH DO ESTADO DA BAHIA

A Bahia possui 17 Bacias consideradas regiões de planejamento e gestão das


águas, dessas apenas 15 possuem comitês de Bacias Hidrográficas (CBH) já
instalados. Doravante o trabalho se debruça a analisar as características e
documentos disponíveis sobre as bacias hidrográficas com comitês. Neste capítulo é
apresentado as principais características de cada bacia como população, extensão, e
número de municípios inseridos, seguido de uma representação em gráfico da
composição da representação das entidades de cada comitê.
A região do rio de Contas contém uma população de 1.242.439 pessoas e área
de 55.483 km², abarca integralmente 46 municípios (INEMA, 2022).

75
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

Gráfico 1 – Configuração em 2023 do CBH Rio de contas.

Fonte: Monteiro et al, 2023 com dados do INEMA, 2023.

A região que abrange o rio de Corrente abrange integralmente 13, totalizando


uma população de 196.761, e com área de 34.875 km². No seu trecho inferior,
pertencente à Depressão Sanfranciscana predominam alguns remanescentes de
floresta estacional e pequenas áreas de agricultura familiar e de pecuária extensiva.
Contendo 27 rios (INEMA, 2022).

Gráfico 2 – Configuração em 2023 do CBH Rio Corrente.

Fonte: Monteiro et al, 2023 com dados do INEMA, 2023.

O CBH Rio Frades, Bunharém e Santo Antônio concentra um grande número


de unidades de conservação, inclusive o maior fragmento de Mata Atlântica do
nordeste, o complexo ParNa´s Monte Pascoal e Descobrimento. As principais
atividades desenvolvidas na área são monocultura de eucalipto, pecuária extensiva e
do turismo, além disso, nesta região está concentrado um grande número de aldeias
indígenas Pataxó, etnia mais numerosa da Bahia. O povo Pataxó tem buscando o
resgate cultural de suas tradições conciliando resistência à geração de renda através
de visitas às suas reservas, a bacia possui área de 11.000 km² e abarca integralmente
11 municípios (INEMA, 2022).

76
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

Gráfico 3 – Configuração em 2023 do CBH Rio Frades, Bunharém e Santo Antônio.

Fonte: Monteiro et al, 2023 com dados do INEMA, 2023.

A região Bacia Grande abarca 17 municípios com área de 76.630 km²,


totalizando uma população de 335.550 (INEMA, 2022).

Gráfico 4 – Configuração em 2023 do CBH Rio Grande.

Fonte: Monteiro et al, 2023 com dados do INEMA, 2023.

A região da Bacia Itapirucu possui atividade mineradora e predomínio da


agricultura de subsistência e pecuária tradicional, abrange 55 municípios com uma
população de 1,3 milhões dentro de uma área de 38.664 km² (INEMA, 2022).

Gráfico 5 – Configuração em 2023 do CBH Rio Itapicuru.

Fonte: Monteiro et al, 2023 com dados do INEMA, 2023.

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Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

A Bacia do Rio Leste possui área de 9.507 km², abarcando 24 Municípios,


com população de 682.652 habitantes (INEMA, 2022).

Gráfico 6 – Configuração em 2023 do CBH Rio Leste.

Fonte: Monteiro et al, 2023 com dados do INEMA, 2023.

A Bacia do Rio Paraguaçu abrange 86 municípios com 54.877 km², com


população de 1.657.254 habitantes (INEMA, 2022).

Gráfico 7 – Configuração em 2023 do CBH Rio Paraguaçu.

Fonte: Monteiro et al, 2023 com dados do INEMA, 2023.

A Bacia Paramirim e Santo Onofre corresponde a uma área de 21.952 km²


abarca 27 municípios com uma população de 235.721 habitantes (INEMA,2022).

Gráfico 8 – Configuração em 2023 do CBH Rio Paramirim e Santo Onofre.

Fonte: Monteiro et al, 2023 com dados do INEMA, 2023.

78
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

A Bacia Peruíbe, Itanhem e Jucuruçu possui área de 16.161 km² de extensão,


abrange 15 municípios totalizando uma população de 381.983 km² (INEMA,2022).

Gráfico 9 – Configuração em 2023 do CBH Rio Peruíbe, Itanhem e Jucuruçu.

Fonte: Monteiro et al, 2023 com dados do INEMA, 2023.

A Bacia Recôncavo Norte e Inhambupe possui extensão de 18.015 km², abarca


46 municípios e possui uma população de 3.742.632 habitantes (INEMA, 2022).

Gráfico 10 – Configuração em 2023 do CBH Rio Recôncavo Norte e Inhambupe.

Fonte: Monteiro et al, 2023 com dados do INEMA, 2023.

A Bacia do Recôncavo Sul possui área de 16.990km², sua população é de


906.902 habitantes, abarca 56 municípios. Dentre as atividades econômicas,
destacam-se o turismo e produção de dendê, também há enorme influência da
agricultura familiar, proveniente das comunidades tradicionais existentes (INEMA,
2022).

79
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

2022).
Gráfico 11 – Configuração em 2023 do CBH Rio Recôncavo Sul.

Fonte: Monteiro et al, 2023 com dados do INEMA, 2023.

A Bacia do Salitre possui área de 14.136 km², é pertencente à Bacia do Rio


São Francisco, possui uma população de 96.951 habitantes e abrange um total de 9
municípios (INEMA, 2022).

Gráfico 12 – Configuração em 2023 do CBH Rio Salitre.

Fonte: Monteiro et al, 2023 com dados do INEMA, 2023.

A Bacia do Sobradinho possui área de 37.339 km², sua população é cerca de


154.766 e abrange um total de 11 municípios (INEMA, 2022).
Gráfico 13 – Configuração em 2023 do CBH Rio Sobradinho.

Fonte: Monteiro et al, 2023 com dados do INEMA, 2023.

A Bacia de Verde Grande possui área de 31.410 km², possui uma população

80
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

de 741.500 habitantes, cerca de 87% da área da bacia está inserida no estado de


Minas Gerais e restante no estado da Bahia. A bacia abrange um total de 35
municípios, desse números 27 são do estado de Minas Gerais e apenas 8 são do
estado da Bahia (INEMA, 2022).

Gráfico 14 – Configuração em 2023 do CBH Rio Verde Grande.

Fonte: Monteiro et al, 2023 com dados do INEMA, 2023.

A Bacia Verde-Jacaré possui uma área de 33.000 km², sua população é de


349.628 habitantes, abrange 29 municípios (INEMA, 2022).

Gráfico 15 – Configuração em 2023 do CBH Rio Jacaré.

Fonte: Monteiro et al, 2023 com dados do INEMA, 2023.

Na maioria dos Comitês nota-se a presença massiva das esferas Federais,


Estaduais e Municipais que em conjunto com as instituições privadas, representadas
pela categoria Usuários diversos, acabam formando uma maioria para a tomada de
decisões, podendo abrir brechas para outros usos e assim desconfigurar a gestão
integrada prevista na ODS 6 em fornecer uma água limpa alinhadas a um saneamento
adequado.

81
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

ANÁLISE E ESTRUTURA DOS COMITÊS DE BACIAS HIDROGRÁFICAS DA


BAHIA: REPRESENTATIVIDADE E ORGANIZAÇÃO

Atualmente, a Bahia conta com 15 Comitês de Bacias Hidrográficas, sendo que


a maior parte foi estabelecida em 2012 através de decretos. Embora todos estejam
em atividade, nem todos têm um regimento interno definido. Para destacar os comitês
que possuem tal regimento, foi construído o Gráfico 16.

Gráfico 16 – Relação dos comitês de Bacia Hidrográfica que possuem regimento interno.

Fonte: Monteiro et al, 2023 com dados do INEMA, 2023.

É de extrema importância a organização referente o gerenciamento das Bacia


Hidrográficas, então foi realizado uma análise documental de quais os comitês
possuem plano gestor de bacia que resultou a certificação que apenas seis possuem
o plano, é possível observar no gráfico 17.

Gráfico 17 – Relação dos comitês de bacia que possuem plano de bacia hidrográfica.

Fonte: Monteiro et al, 2023 com dados do INEMA, 2023.

A maioria dos Comitês já montaram comissão de planejamento e trabalho, no


entanto, algumas já venceram o prazo de dois anos e não foram renovadas para um
novo mandato, é possível acessar essas informações no site oficial do INEMA, ao

82
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

sistematizar essas informações foi possível traçar um gráfico que informa quais os
comitês possuem o CTPPP ativo, totalizando apenas 5 comitês, gráfico 18.

Gráfico 18 – Relação quantitativa dos comitês que possuem CTPPP ativo.

Fonte: Monteiro et al, 2023 com dados do INEMA, 2023.

Todos os 15 conselhos se encontram em atividade, utilizamos como critério a


existência de ATAs reunião publicadas nos últimos dois anos no site do INEMA. Dos
comitês existentes, 66,7% possuem regimento interno exceto o CBH de
Frades,Buranhém e Santo Antônio. Sobre o plano de gerenciamento de bacia apenas
seis comitês possuem, totalizando 40%, apenas 5 CBH possuem Câmara técnica de
planos, programas e projetos (CTPPP) ativas, sendo que destas, duas já estão entre
as que possuem plano de gerenciamento de bacias (INEMA, 2022). É possível
observar o comparativo em porcentagem no gráfico 19.

Fonte: Monteiro et al, 2023 com dados do INEMA, 2023.

83
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

Sobre a participação social e pluralidade de representação nos CBHs, o gráfico


20 abaixo identifica uma mesclagem de entidades que variam a cada comitê,
exemplificando diversas configurações na participação, tornando perceptível a
descentralização da gestão.

Gráfico 20. Quantidade de representantes das entidades em cada comitê e a extensão de


cada bacia.

Fonte: Monteiro et al, 2023 com dados do INEMA, 2023.

O gráfico apresentado ilustra as entidades representadas nos conselhos de


bacias hidrográficas, permitindo uma análise das organizações que participam
ativamente das decisões nesses ambientes. Nota-se uma sub-representação
significativa de povos e comunidades tradicionais, sugerindo uma limitação em sua
influência nas decisões que os impactariam diretamente. Das 15 CBH avaliadas, a
presença predominante é do poder público, com pelo menos 12 abrangendo
representações dos níveis federal, estadual e municipal. Em seguida, estão as
associações, sindicatos e entidades de classe, seguidos pelos usuários ligados a
atividades como pesca, irrigação e agropecuária. Vale ressaltar que, dentre as cinco
maiores bacias, duas não têm representantes indígenas. Chama a atenção a
expressiva presença de instituições de ensino e pesquisa em 14 das 15 CBHs,
reforçando a importância de avaliar e pesquisar os modelos de gestão, tanto em
perspectivas sociais quanto ambientais. A maior parte das bacias mencionadas está
situada unicamente na Bahia, com exceção da CBH Verde Grande, que engloba
participantes tanto da Bahia quanto de Minas Gerais devido à sua localização entre
ambos os estados. À exceção do segmento industrial e minerador, todos os setores
têm representantes de ambas as unidades federativas.

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Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao investigar a atual composição dos Comitês de Bacias Hidrográficas (CBH)


no Estado da Bahia, percebemos uma variabilidade significativa no que diz respeito à
representatividade dos diferentes atores envolvidos na gestão hídrica. As análises
demonstraram a predominância do poder público em muitos destes comitês, ao passo
que grupos indígenas e comunidades tradicionais ainda encontram-se marginalizados
(TRINDADE; SCHEIBE, 2019). Esta realidade nos mostra a necessidade premente
de um equilíbrio maior nas representações, garantindo assim uma gestão
verdadeiramente democrática e inclusiva.
A gestão participativa é uma chave para garantir sustentabilidade e justiça no
uso dos recursos hídricos. Alinhando-se ao ODS 6 - Água Potável e Saneamento,
torna-se fundamental reforçar o acesso universal a água e saneamento, conectando-
o diretamente com as questões de justiça social (MONTEIRO et al., 2023).
No contexto da Bahia, o INEMA tem uma responsabilidade enorme em
promover a participação social na gestão hídrica. Ao garantir a inclusão e
representatividade de grupos historicamente marginalizados, a gestão hídrica torna-
se mais robusta e equitativa, resultando em um uso mais sustentável dos recursos
(AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS, 2022).
Cada município tem seu papel fundamental na garantia de qualidade dos
recursos hídricos. Afinal, como destaca o estudo de Trindade e Scheibe (2019), a
água em um rio é reflexo direto das práticas e decisões adotadas em cada localidade
por onde passa.
A indústria e o mercado têm o poder e a responsabilidade de contribuir para
uma gestão hídrica mais sustentável. Através da adoção de práticas conscientes e
alinhadas com as diretrizes de sustentabilidade, é possível promover um impacto
positivo na gestão dos recursos hídricos. As comunidades locais, os povos tradicionais
e as organizações da sociedade civil são peças fundamentais na tessitura de uma
gestão hídrica realmente democrática e justa. Incorporar suas vozes e saberes nos
processos decisórios é um passo essencial para uma gestão equilibrada (MONTEIRO
et al., 2023).
Como sugestão para futuras investigações, seria produtivo analisar estratégias e
práticas globais que têm sido bem-sucedidas em promover a inclusão e
representatividade em comitês de gestão hídrica. Um estudo comparativo entre

85
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

diferentes estados brasileiros, analisando a eficácia e os desafios de diferentes


modelos de gestão, poderia trazer insights valiosos para otimizar a gestão hídrica na
Bahia.

REFERÊNCIAS

AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (ANA). Relatório de Gestão do Exercício 2022.


Brasília: ANA, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/ana/pt-br/todos-os-
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exercicio-2022. Acesso em: 27 ago. 2023.

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de referência para a pesquisa em ciências humanas e sociais aplicadas. Jures, v.
16, n. 29, p. 1-28, 2023.

BAHIA. Resolução n° 52, de 19 de Junho de 2009. Diário Oficial. Conselho


Estadual de Recursos Hídricos (CONERH). Salvador, Bahia, p. 01-02, 2009.
Disponível em:
http://www.seia.ba.gov.br/sites/default/files/legislation/Resolu%C3%A7%C3%A3o%2
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de Pesquisa Agropecuária, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento,
Brasília, DF, p. 15-20, 2018.

GADONNEIX, Pierre et al. Water for energy. World Energy Council, p. 03, 2010.

GIL, Antônio Carlos et al. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo, Atlas,
p. 59-85, 2002.

HABERMAS, Jürgen. Inclusão do outro. Edições Loyola, São Paulo, Humanística,


p. 147-238. 2002.

INEMA, Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos. CBH Comitês de bacias


Hidrográficas, 2023. Disponível em: http://www.inema.ba.gov.br/gestao-2/comites-
de-bacias/comites/. Acesso em 15 de Abril de 2023.

INEMA, Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Gestão, Comitês de


bacias, 2022. Disponível em: http://www.inema.ba.gov.br/gestao-2/comites-de-
bacias/comites/. Acesso em 15 de Abril de 2023.

IPEA, Objetivos de Desenvolvimento Sustentável: Água e saneamento, Instituto


de Pesquisa Econômica Aplicada, Governo do Brasil, 2019. Disponível em:
https://www.ipea.gov.br/ods/ods6.html. Acesso em 02 de Maio de 2023.

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Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

MONTEIRO, R. R.; VITÓRIA, C. S.; SANTANA, J. C. dos S.; SANTANA, L. F. N. da


C. Gestão Pública, Governança, Participação Social e ODS 6: Um retrato da
descentralização dos Comitês de Bacias Hidrográficas no estado da Bahia, Brasil.
Scientific Journal ANAP, [S. l.], v. 1, n. 4, 2023. Disponível em:
https://publicacoes.amigosdanatureza.org.br/index.php/anap/article/view/4029.
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MONTEIRO, R. R. e SCHIAVETTI, A.. Direito, unidades de conservação e


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Disponível em:
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RAUBER, Denise; CRUZ, Jussara Cabral. Gestão de Recursos Hídricos: uma


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TRINDADE, Larissa de Lima; SCHEIBE, Luiz Fernando. Gestão das águas:


limitações e contribuições na atuação dos comitês de bacias hidrográficas
brasileiros. Ambiente & Sociedade, v. 22, 2019.

XAVIER, Andre; BENTES, Natália Mascarenhas Simões. Limites, desafios e


oportunidades de participação na gestão de recursos hídricos: Uma análise do
marco jurídico internacional e uma revisão integrativa da literatura sobre participação
nos comitês de bacias hidrográficas brasileiros. Direito Público, v. 17, n. 95, 2020.

87
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

Capítulo 6
REFLEXÕES SOBRE UMA FORMAÇÃO
CONTINUADA PARA OS ANOS INICIAIS
ENVOLVENDO MATEMÁTICA E EDUCAÇÃO
AMBIENTAL
Rosineide Fátima Daleaste
Kelly Roberta Mazzutti Lübeck

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Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

REFLEXÕES SOBRE UMA FORMAÇÃO CONTINUADA PARA OS


ANOS INICIAIS ENVOLVENDO MATEMÁTICA E EDUCAÇÃO
AMBIENTAL

Rosineide Fátima Daleaste3


Professora Municipal, Mestranda, UNIOESTE, Brasil

Kelly Roberta Mazzutti Lübeck4


Professora Doutora, UNIOESTE, Brasil.

RESUMO
Esse artigo tem por objetivo apresentar e discutir atividades
desenvolvidas junto a um curso de formação continuada para os
professores dos anos inicais do município de Ramilândia-PR, relativas
ao ODS número 13, a fim de identificar, entre os docentes, o tipo de
abordagem associada a Educação Ambiental (EA) e as conexões
estabelecidas com a disciplina de matemática. Logo, relizamos uma
pesquisa bibliográfica para a elaboração do curso, a técnica na coleta
de dados foi a observação participante, com registros em diário de
campo e por vídeos, e para analise dos dados nos apoiamos na
análise de conteúdo. A pesquisa possibilitou a junção de métodos
matemáticos mais contextualizados e significativos no estudo de
temáticas sobre o Meio Ambiente, num processo criativo, destacando
o meio em que vivemos e a conscientização dos valores ambientais
sobre a arborização da área urbana de Ramilândia. Concluímos que o
curso possibilitou transformar concepções ultrapassadas sobre o
tema, utilizando a matemática aliada a EA, destacando a importância
de desenvolver uma estratégia de arborização na área urbana dessa
cidade. Ademais, mostrou-se uma oportunidade de ponderar sobre a
maneira de planejar as aulas, de ver e utilizar a matemática aliada aos
problemas do cotidiano, de discutir conceitos da EA e do ensino de
matemática crítico. Assim, a pesquisa demostrou que mesmo
professores formados nos programas tradicionais são capazes de
atrelar o ensino de matemática ao meio ambiente, deixando de lado a
aprendizagem através de exercícios repetitivos para dar espaço ao
método investigativo e emancipatório da aprendizagem.

3 Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE; Programa de Pós-graduação Mestrado em


Ensino; [email protected] e-mail;
4 Universidade Estadual de Campinas – Unicamp; Doutorado em Matemática.
[email protected] e-mail.

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Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

Palavras-chave: Formação de Professores. Educação Ambiental.


Ensino de Matemática.

ABSTRACT
This article aims to present and discuss activities developed along with
a continuing education course for teachers in the early years in
Ramilândia city, Paraná, related to SDG number 13, in order to
identify, among teachers, the type of approach associated
Environmental Education (EE) and the connections established with
the discipline of Mathematics. Therefore, we carried out a
bibliographical research for the preparation of the course, the data
collection technique was participant observation, with records in a field
diary and videos, and for data analysis we relied on content analysis.
The research enabled the combination of more contextualized and
significant mathematical methods in the study of themes about the
Environment, in a creative process, highlighting the environment in
which we live and the awareness of environmental values about the
afforestation of the urban area of Ramilândia city. We conclude that
the course made it possible to transform outdated conceptions on the
subject, using mathematics allied to EE, highlighting the importance of
developing a strategy for afforestation in the urban area of this city. In
addition, it was an opportunity to consider how to plan classes, to see
and use mathematics combined with everyday problems, to discuss
concepts of EE and critical mathematics teaching. So, the research
demonstrated that even teachers trained in traditional programs are
able to link the teaching of mathematics to the environment, leaving
aside learning through repetitive exercises to make room for the
investigative and emancipatory method of learning.
Keywords: Teacher Training. Environmental education. Mathematics
Teaching.

1 INTRODUÇÃO

Atualmente, as principais preocupações em escala global se referem aos


problemas ambientais, a saúde do planeta Terra, e a pobreza que assola milhões de
pessoas nos diversos continentes. Essas questões são decorrentes da ação humana
e de sua incapacidade de bem gerir os recursos naturais para o sustento equilibrado
de todos frente a necessidade, muitas vezes supérfluas, de consumo de uma minoria,
oriunda de uma sociedade que se estruturou apoiada pelo comércio, pelas trocas,
pela relevância dada aos bens materiais.
Perante essas condições ambientais e sociais se torna urgente a busca para
solucionar a falta de emprego e saneamento básico, de alimentação adequada, de
saúde e educação de qualidade e ações que combatam as alterações climáticas.

90
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

Diante disso, a Organização das Nações Unidas (ONU) promoveu conferências e


acordos com o objetivo de melhorar as condições de sustentabilidade e de
preservação do planeta, incentivando o desenvolvimento igualitário entre a população,
com o lema: sem deixar ninguém para trás. No ano 2000, foram implantados os
Objetivos de Desenvolvimento do Milênio para combater a pobreza até 2015 e, após
essa data, a Assembleia Geral das Nações Unidas, composta por 193 países, definiu
metas mundiais partindo de quatro principais dimensões: social, ambiental, econômica
e institucional. Essas intenções culminaram com a elaboração dos 17 Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS), divididos em metas a serem alcançadas até o
ano de 2030, compromissos assumidos num documento que ficou conhecido como
Agenda 2030 (IDIS, 2023).
Já em um âmbito local, apontamos para o sistema educacional como uma
ferramenta de extrema importância para formação de cidadãos conscientes e
responsáveis por suas ações, em especial em relação a Educação Ambiental (EA),
pois os estudantes serão protagonistas de atitudes que podem ajudar ou prejudicar a
preservação do planeta. As escolas, portanto, têm papel fundamental em disseminar
informações e transmitir conhecimentos relativos ao meio ambiente e sustentabilidade
para que as crianças estejam preparadas para enfrentar os desafios futuros,
preferencialmente através de projetos interdisciplinares ou transdisciplinares e da
formação continuada de seus professores. É papel obrigatório da escola trabalhar os
Temas Contemporâneos Transversais (TCT), conforme indicação da Base Nacional
Comum Curricular (BNCC) (BRASIL, 2018), de maneira facilitadora, fomentando e
integrando as ações de forma contextualizada. Dessa forma, cabe a todas as áreas
do conhecimento contribuírem com os TCT e a matemática não pode se eximir dessa
tarefa.
Assim, como forma de aproximar a matemática do tema transversal meio
ambiente, investigamos, por meio de um curso de formação de professores dos anos
iniciais, suas concepções sobre EA e as relações com o Ensino de Matemática (EM),
bem como efetivamos ações que procuraram integrar estas áreas com discussões,
elaboração e aplicação de planos de aula e posterior retorno destas atividades. Este
trabalho está sendo desenvolvido junto ao Programa de Pós-Graduação em Ensino
(PPGEn), nível mestrado, na linha de pesquisa Ensino de Ciências e Matemática, da
Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), campus de Foz do Iguaçu e,
aqui, abordaremos um dos ODS analisados no curso.

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Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

Nesse contexto, a escolha de trabalhar sobre EA, em especial os ODS, e o EM


nas escolas, tem como importância inserir conceitos que tornem essa instituição um
lugar que propicia ações positivas com o ambiente estudantil, de maneira simples
criam-se oportunidades para integrar valores culturais relativos à sustentabilidade do
planeta, através da interação com a natureza, aproximando o homem ao meio
ambiente. Para isso, a matemática pode ser estudada em diferentes contextos, como:
reflorestamento, produção de lixo, arborização das cidades, desperdício, escassez da
água e uso de agrotóxicos. Esses foram temas escolhidos durante a formação dos
professores dos anos iniciais do Município de Ramilândia – PR para elaboração de
planos de aula do primeiro ao quinto ano escolar.
Ressaltamos que para integrar os compromissos da Agenda 2030 aos
conteúdos escolares se faz necessária formações que contemplam os ODS,
contribuindo para a mudança de possíveis comportamentos arraigados no consumo
exagerado e desmedido, buscando o equilíbrio com a natureza e, posteriormente,
efetivando projetos que visam intervenções positivas para a sustentabilidade das
comunidades. O ambiente educativo construído no cotidiano escolar preza pela
aprendizagem e reflexões ambientais, e o mais importante, que os estudantes possam
construir significados e conferir sentido aquilo que aprendem.
Nesse sentido, este texto tem por objetivo apresentar as atividades
desenvolvidas junto ao curso de formação continuada “Educação Ambiental e Ensino
de Matemática: possíveis relações para os anos iniciais”, relativas ao ODS número 13
(ação contra a mudança global do clima), a fim de identificar, entre os professores, o
tipo de abordagem associada a EA e as conexões estabelecidas com a disciplina de
matemática. Portanto, nesse artigo vamos discorrer sobre as ações discutidas e
implementadas no curso de formação continuada para os professores dos anos
iniciais do município de Ramilândia – PR, desenvolvidas na semana pedagógica e que
contou com a parceria da Secretaria Municipal de Educação.
Dessa forma, almejamos colaborar com reflexões que contribuam com a
formação de professores e com ações sustentáveis no espaço formal de ensino e para
além dele, destacando a matemática na aprendizagem e no desenvolvimento de
habilidades de identificação e solução de problemas ambientais, interpretação de
dados e posterior análise crítica dessas informações.

92
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

2 METODOLOGIA

Nesse trabalho utilizamos preceitos da pesquisa qualitativa, segundo a qual um


dos objetivos é “promover o confronto entre os dados, as evidências, as informações
coletadas sobre determinado assunto e o conhecimento teórico acumulado a respeito
dele” (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 1). Para tanto, realizamos, inicialmente, uma
pesquisa bibliográfica que “é desenvolvida com base em material já elaborado,
constituído principalmente de livros e artigos científicos” (GIL, 2002, p. 44).
O estudo analisou documentos sobre a EA, voltada para os anos iniciais, além
de regulamentações e leis aplicadas no processo educacional, tais como: A
Constituição da República Federativa do Brasil, normativas sobre EA (Lei nº
9.795/1999, Parecer CNE/CP nº 14/2012 e Resolução CNE/CP nº 2/2012), Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Parâmetros Curriculares Nacionais, BNCC,
Referencial Curricular do Paraná e a Proposta Curricular da Associação dos Municípios
do Oeste do Paraná. Além disso, analisamos a temática EA e EM em artigos,
dissertações e teses para fundamentar a elaboração do curso de formação continuada
que foi ofertado aos professores.
Outro momento foi a aplicação do curso para os docentes dos anos iniciais,
da Escola Municipal Arlindo Gouveia, sendo esta, a única escola do município. Este
curso contou com a parceria da Secretaria Municipal de Ramilândia - PR e, por se
tratar de um município pequeno, obteve a participação de todo o seu efetivo, a
saber, 26 professores distribuídos em 20 turmas, nos períodos matutino e
vespertino, que atendem aproximadamente 320 estudantes.
A técnica para coleta de dados foi a observação participativa, considerando
que a pesquisadora faz parte do grupo estudado, partilhando de atividades do
cotidiano escolar, pois essa metodologia oportuniza ao pesquisador o estudo de
comportamentos e interações sociais mais naturais, com respostas mais confiáveis à
realidade observada (JUNIOR; BATISTA, 2011). Ainda, conforme justificam os
autores acima (p. 244), há:

Alta interação entre pesquisador e grupo pesquisado, [que] incorpora-


se e confunde-se com o próprio grupo. Tem como principal objetivo,
levar o pesquisador a compreender como é a relação e reações de um
pesquisado, imprimindo maior fidedignidade nas impressões e coleta
de dados. Este tipo de técnica pode ser natural, quando o pesquisador

93
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

faz parte do grupo, ou artificial, quando se infiltra para conseguir


informações.

Cabe enfatizarmos que optamos por este procedimento, pois a observação


participativa é “uma estratégia que envolve não só a observação direta, mas todo um
conjunto de técnicas metodológicas (incluindo entrevistas, consulta a materiais etc.),
pressupondo um grande envolvimento do pesquisador na situação estudada”
(FIORENTINI; LORENZATO, 2006, p. 108). Ainda, fizemos uso de diário de campo e
vídeos para registro, tudo contando com a autorização dos participantes e atendendo
as normas estabelecidas pelo Comitê de Ética em Pesquisas da Unioeste, conforme
parecer nº 5.661.025.
O curso de formação para os professores teve a intenção de investigar os
conhecimentos prévios que eles possuem sobre EA, suas concepções, qual a
experiência com o tema, se relacionavam a EA com o EM ou em qual disciplina ela era
trabalhada etc. Ainda, aconteceram encontros no intuito de esclarecer sobre a temática
e os ODS para, posteriormente, sugerir ao grupo que elaborasse uma proposta de
plano de aula para ser aplicada em sala de aula (1º ao 5º ano), com subsequente
retorno para exposição das ações efetivadas e discussão das estratégias didáticas
adotadas. O curso foi desenvolvido através da metodologia ativa da sala de aula
invertida e contou com momentos presenciais, de atividades assíncronas e, para
encerramento, um último momento online síncrono com o grupo. Segundo Junior
(2020), as vantagens de se empregar a metodologia da sala de aula invertida
consistem na participação ativa dos participantes, na maior liberdade na programação
estudada, na melhora da autoestima e da interação com o professor.
Para a análise dos dados, nos apoiamos na análise de conteúdo, sendo que ela
é concebida “como uma técnica que tem como principal função descobrir o que está
por trás de uma mensagem, de uma comunicação, de uma fala, de um texto"
(FIORENTINI; LORENZATO, 2006, p. 137). Ainda, de acordo com Moraes (1999), a
análise de conteúdo pode se constituir de diversos materiais de comunicação verbal e
não-verbal, como cartas, cartazes, jornais, informes, livros, relatos autobiográficos,
discos, gravações, entrevistas, diários pessoais, filmes, fotografias, vídeos etc. Os
dados chegam em estado bruto necessitando de refinamento para facilitar o trabalho
de compreensão, interpretação e inferência.

94
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

3 ANÁLISE DE DADOS

Para melhor compreender a pesquisa realizada, detalharemos o curso, nossa


principal fonte de investigação. A formação continuada para os professores aconteceu
na última semana de janeiro de 2023 e contou com a parceria da Secretaria Municipal
de Educação de Ramilândia, fazendo parte das formações pedagógicas que
antecedem o ano letivo, o que possibilitou englobar todos os docentes dos anos iniciais
do município, de forma que os dados representam a totalidade da população
(amostral).
Nos primeiros momentos presenciais foram discutidos conceitos e ideias sobre
EA, temas transversais, em específico Meio Ambiente, e sobre a matemática crítica,
além de apontamentos sobre os documentos e as regulamentações da EA e sua
associação com outras áreas do conhecimento e com o EM. Aqui uma ênfase maior
foi dada a Proposta Curricular dos Municípios do Oeste do Paraná (AMOP), sendo este
um documento norteador para elaboração dos currículos escolares dos 54 municípios
do Oeste do Paraná. Esta associação é conhecida como a maior entidade, de
municípios, organizada do Paraná. Os pressupostos teórico-metodológicos do
currículo da AMOP seguem a BNCC, tratando da EA nas disciplinas de ciências,
geografia, história e, até mesmo, na de educação física. Entretanto, a disciplina de
matemática não expõe nada sobre esse assunto, ficando evidente a necessidade de
trabalhar uma nova concepção, incorporando os temas de relevância social ou temas
transversais ao ensino da matemática.
Nos intervalos do curso foram aplicadas dinâmicas para criar momentos de
descontração, para aproximar e socializar o grupo, buscando aumentar a empatia e
afinidade, o que acarretou um melhor entrosamento para a hora da elaboração dos
planos de aula. Também, foram entregues diários para uso individual do educador e
registro das atividades.
Como atividade assíncrona, disponibilizamos um vídeo educativo sobre a
matemática no meio ambiente, demostrando que esta disciplina está inserida em toda
parte, cabendo a nós aprendermos a visualizá-la. Nesse vídeo, investiga-se como a
matemática é a chave para calcular o índice pluviométrico e prevenir catástrofes
ambientais, ressaltando, também, um alerta da necessidade de repensarmos a
quantidade de lixo que produzimos. Em outro vídeo optamos por tratar do meio
ambiente e da sustentabilidade através de fatos históricos que indicam a preocupação

95
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

ambiental, como surgiu o movimento ambientalista, qual sua relação com a EA no


Brasil e os mitos e chavões no campo da EA.
No retorno para os momentos presenciais, o curso foi dividido em três etapas:
discussão da Agenda 2030, dos ODS e do papel docente enquanto agente promotor
da cidadania ambiental (CA); dinâmica com a elaboração de nuvem de palavras;
escolha de tópicos e elaboração dos planos de aula.
Na primeira etapa, houve a explanação dos slides com a definição da Agenda
2030 e dos ODS. “A agenda 2030 lançada pela Organização das Nações Unidas
(ONU) em 2015, é uma chamada global para acabar com a pobreza, proteger o meio
ambiente e o clima e garantir que as pessoas, em todos os lugares possam desfrutar
de paz e prosperidade” (BUENO; TORRES, 2022, p. 9). Nela foram estabelicidas os
17 ODS, compondo a agenda mundial para a construção e implementação de políticas
públicas que visam guiar a humanidade até 2030. Nesse momento, foi discutido as
ações que podemos adotar como agentes promotores da CA, reconhecendo que EA
tem como alvo a formação de cidadãos ambientalmente comprometidos, lembrando
que

A CA alicerça-se em direitos colectivos de natureza cognitiva (direito


ao conhecimento, à comunicação, à aprendizagem ao longo da vida...)
e sociocultural (direito do ambiente, direito à paz, à diferença, à
infância, à cidade, ao desenvolvimento harmonioso das culturas, ao
desenvolvimento dos povos, a um ambiente sustentável...). Alarga o
valor e limites da solidariedade em termos: espaciais (apoio ao terceiro
Mundo); temporais (impacto das acções do cidadão do presente nos
cidadãos do futuro); interespécies (direitos naturais para os não
humanos e respeito pela biodiversidade) e interculturais
(reconhecimento e respeito pela biodiversidade cultural e pelo diálogo
entre culturas) (SANTOS, 2007, p. 72).

Depois de expormos e trabalharmos sobre a importância de se desenvolver


ações relativas a EA, adentramos no tema mais específico dos ODS e de como eles
estão vinculados com a ideia de CA, ações essas que se alinham com a meta 4.7 da
Agenda 2030.

Até 2030, garantir que todos os alunos tenham acesso a


conhecimentos e adquiram habilidades necessárias para promover o
desenvolvimento sustentável, por meio da Educomunicação
socioambiental, o que inclui a abordagem de estilos de vida
sustentáveis, direitos humanos, igualdade de gênero, promoção da
cultura de paz e não-violência, cidadania global e valorização da
sociobiodiversidade local e da diversidade cultural, da inclusão e da
contribuição da cultura, dentre outros princípios fundamentais para o

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Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

desenvolvimento sustentável (IPEA, 2018, p. 123).

Pretendíamos, através das abordagens, ampliar esta rede de esforços na


implementação de empreendimentos que mirem nos ODS e a formação continuada
nos permite “multiplicar” estas ações através da atuação dos docentes juntos aos seus
alunos e destes com seus familiares.
A segunda etapa consistiu na dinâmica da elaboração de uma nuvem de
palavras com o grupo, através de uma construção interativa e em tempo real. Para
isso, fizemos uso da plataforma colaborativa Mentimeter5, que disponibiliza de uma
maneira prática a construção automática da nuvem a partir da introdução de respostas
a um questionamento. Para esta atividade solicitamos: Defina, em uma palavra, o seu
sentimento em trabalhar a sustentabilidade. A Figura 1 representa a nuvem de palavras
elaborada.

Figura 1: Nuvem de palavras (Mentimeter).

Fonte: Autores, dados da pesquisa (2023).

Para a terceira etapa das ações presenciais, após os encaminhamentos e


discussões teóricas, subdividimos os professores em cinco subgrupos, ficando cada
um responsável pela elaboração de um plano de aula direcionado a um ano escolar.
Ainda, estipulamos que os planos de aula teriam duração de três (03) horas aula, os
conteúdos deveriam abordar a EA e o EM, trabalhando com um dos ODS e com
conteúdos de matemática indicados na Proposta Curricular da AMOP, específico para
cada ano escolar. A Tabela 1 apresenta a escolha da unidade temática, dos objetivos
do conhecimento, do tema da EA e do ODS escolhido por cada subgrupo.

5Disponível em: https://www.mentimeter.com/pt-BR. Acessado em: 30 jan. 2023.

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Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

Tabela 1 – Descrição das temáticas sobre EA e EM abordadas por cada subgrupo.

Subgrupo Unidade Temática Objetivos do Tema da EA ODS


Ano Conhecimento
1º Grandezas e Medidas de Tempo Reflorestamento 15 - Vida terrestre
Medidas
2º Números e Agrupamento e Materiais 11 - Cidades e
Álgebra/ Troca; Tabelas e Recicláveis Comunidades
Tratamento da Gráficos Sustentáveis
Informação
3º Tratamento da Tabelas e Gráficos Arborização das 13 - Ação Contra a
Informação Cidades Mudança Global do
Clima
4º Números e Sistema de Desperdício e 6 - Água Limpa e
Álgebra/ Numeração Escassez da Água Saneamento
Grandezas e Decimal; Medidas
Medidas de Capacidade
5º Grandezas e Medidas de Uso de 3 -Saúde e Bem-
Medidas Capacidade, Agrotóxicos estar
Comprimento e
Massa
Fonte: Autores (2023)

Finalizando os momentos presenciais, com a conclusão dos planos de aula, os


professores retornaram para suas salas e, em momentos oportunos, todos aplicaram
suas produções, observando e coletando informações que foram discutidas no último
encontro, que se deu por vídeo conferência de forma síncrona. Com isso, encerramos
as atividades da formação continuada. Na sequência examinamos detalhes das ações
discorridas no curso.
Os registros realizados no diário de campo e em vídeo, advindos da observação
participante, nos permitiram interpretar que houve um consenso dos participantes ao
afirmarem que a EA é a maneira que nos portamos no convívio com o meio ambiente
e que se deve preservar a natureza, não poluindo ou contaminado o planeta.
Evidenciamos, também, que muitas vezes trabalham a EA na sala de aula de maneira
diferente, que “nem sequer percebem”, como quando ensinam a forma correta do
descarte de materiais recicláveis, de não jogar o lixo na natureza ou na sala de aula.
Por outro lado, poucos professores opinaram sobre as possibilidades de relações entre
EA e EM e a participação ficou mais limitada, sendo que alguns responderam que tudo
no meio ambiente envolve quantidades, interpretações, números e que são
necessários os conceitos matemáticos para se analisar a EA, provavelmente
inspirados no vídeo discutido.
Com relação a Nuvem de Palavras, notamos a dificuldade de alguns professores
em utilizar o recurso do Mentimeter, pois a palestrante precisou atendê-los

98
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

individualmente direcionando e, até mesmo, realizando etapas para chegar na escrita


da palavra. Entretanto, a maioria do público introduziu sua palavra facilmente na
plataforma. Essa dinâmica foi interessante, pois docentes se encontravam
adormecidos no sentido da tecnologia e tiveram que sair de sua zona de conforto, mas
ficou evidente que gostaram da atividade, devido à alta interação e admiração com a
amplitude de atividades que a plataforma permite estabelecer. Ainda, percebemos,
conforme Figura 1 acima, que a palavra que mais expressou o sentimento dos
docentes foi “vida”, seguido de “responsabilidade”. Isso nos leva a pensar que estamos
no caminho certo, porque a sustentabilidade busca o equilíbrio entre as necessidades
humanas e a preservação dos recursos naturais e sem o comprometimento e a
responsabilidade não podemos garantir uma vida saudável no planeta.
Quanto aos planos de aula, muitos docentes já haviam trabalhado com os temas
da EA em outros anos e, portanto, optaram por discutir assuntos que lhes eram
familiares, evitando saírem da zona de conforto. O diferencial foi a ênfase dada aos
conteúdos matemáticos, como forma de auxiliar a elucidar as questões ambientais e a
trabalhar, paralelamente, a matemática.
Todas as propostas dos planos de aula foram aplicadas em salas de regência,
em 20 turmas dos anos iniciais, totalizando 334 estudantes. A Tabela 2 indica os
números de alunos que participaram das atividades em cada grupo. Os dados mostram
o impacto que ações realizadas nas escolas possuem, sem detalhar o alcance da ação
junto aos familiares destas crianças.

Tabela 2 – Quantidades de turmas e número de estudantes.


Subgrupo Turma A Turma B Turma C Turma D Total
Ano
1º 15 15 16 17 63
2º 16 15 15 16 62
3º 17 17 16 15 65
4º 16 18 18 18 70
5º 18 18 19 19 74
Total Geral 334
Fonte: Autores (2023).

Na sequência analisaremos o plano de aula do 3º ano, que aborda o ODS 13 –


ação contra a mudança global do clima – associado ao tema arborização das cidades.
Escolhemos esse ODS devido a necessidade de refletir sobre as mudanças climáticas
que, infelizmente, já se fazem presentes, com cada vez maior frequência, em nossas
vidas, evidenciando a importância da relação vida e responsabilidade, acima

99
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

mencionada.
Assuntos relacionados as mudanças climáticas tornaram-se rotineiros em nosso
cotidiano, pelos meios de comunicação, escolas e esferas governamentais, tratando-
se de um desafio em nível global devido a sua abrangência e complexidade (NOBRE;
REID; VEIGA, 2012).
Ademais, estamos em plena era tecnológica, o que permite ao público um
acesso imensurável as informações, mas por outro lado, persiste na população a
confusão de conceitos científicos, principalmente quando se trata de mudança
climática e aquecimento global, devido a um déficit educacional que é consequência
do baixo nível de alfabetização científica (OLIVEIRA; VECCHIA; CARNEIRO, 2015).
Corroborando, Felicio e Onça (2010) apontam que notícias e informações de pesquisas
tendenciosas são divulgadas com alta legitimidade, entretanto, na área do ensino
formal, temos o compromisso de transformar essas desinformações em ações
positivas. Ainda, verifica-se dois grandes motivos para as informações falsas, as fake
News, o

pecuniário - no qual o responsável pela divulgação das notícias falsas


obtém proveito financeiro com o alcance da desinformação – e
ideológico – em que a intenção real para disparo das informações
inverídicas parte do desejo de manipulação de pontos de vista. Essa
realidade é maléfica ao observar que para concretizar os ODS número
13, são necessários além de investimento econômico, potencializar a
educação na conscientização da população, com a criação de senso
de coletividade e de solidariedade (PORTO; JABORANDY;
MACHADO, 2020, p. 11).

Sendo assim, com o tema escolhido pelo subgrupo, sobre a arborização urbana,
os professores trabalharam as consequências da urbanização, o paisagismo, a
estabilidade de solo, conforto térmico etc. Segundo Morais (2011), a arborização
urbana traz inúmeros benefícios como absorção de carbono emitida pelos veículos,
diminuição de temperaturas, diminuição da incidência de luz, retenção de água,
filtragem e remoção de gases e partículas poluentes do ar, atenuação da poluição
sonora, diminuição do estresse cotidiano, favorecimento para o equilíbrio ambiental e
a preservação da biodiversidade local. Logo, a arborização é exencial para as cidades,
pois auxilia na qualidade de saúde mental e física da população.
O plano de aula delineado para os terceiros anos se apoiou em uma pesquisa
de campo que buscou analisar como se encontra a arborização urbana em
determinados locais da cidade de Ramilândia/PR, investigando a quantidade das

100
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

árvores com a classificação em saudáveis e não saudáveis, nas ruas e avenidas,


praça municipal e área escolar. A Tabela 3 contém um resumo das informações
contidas nesse plano.

Tabela 3 – Plano de aula do terceiro ano.


Identificação
Autor(es): Subgrupo 3º

Município: Ramilândia
Componente curricular: Matemática
Ano escolar: 3º ano
Período de avaliação: 1º bimestre
Número de Aulas: 03
Conteúdo
Unidade temática:
- Tratamento de informação.
- Arborização da área urbana de Ramilândia.
Objetos de conhecimento:

Dados: Tabelas e gráficos.


Conteúdos:

Arborização da área urbana do Município de Ramilândia.


Investigação da quantidade e estado de preservação das árvores nas ruas da cidade.
Conhecimentos Prévios:

Identificar o que os alunos dominam em relação a arborização de áreas urbanas e qual sua
importância para a qualidade de vida dos munícipes.
Objetivo de aprendizagem-foco:

(EF03MA27) Ler, interpretar e comparar dados apresentados em tabelas de dupla


entrada, gráficos de barras ou de colunas, envolvendo resultado de pesquisas
significativas, utilizando termos como maior e menor frequência, apropriando-se desse
tipo de linguagem para compreender aspectos da realidade sociocultural significativos.
Produzir texto para expressar as ideias que elaborou a partir de leitura de tabelas de dupla
entrada, gráficos de barras ou de colunas.
AULA: 1, 2 e 3
Objetivo Específico da Aula:

Possibilitar a reflexão sobre a necessidade de trabalhar atitudes positivas para conservação


do meio ambiente e a desenvolver conteúdos matemáticos ligados ao tema meio ambiente.
Encaminhamento metodológico:
1. Apresentação dos objetivos da aula aos estudantes
Destacar os objetivos da aula e como será realizado as atividades em campo e na sala de
aula.
2. Introdução
[...] Introduzir os conceitos: Interpretação de tabela e gráficos; Arborização nas cidades;
pesquisa de campo.
3. Desenvolvimento
[...] Na primeira parte da atividade os alunos, em grupos, irão fazer uma sondagem do
ambiente pesquisado.

101
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

Cada grupo acompanhado de um responsável adulto irá contabilizar as árvores da principal


avenida e as três ruas próximas à ela, identificadas como: Ruas A, B, C e D. Os alunos irão
contar a quantidade de árvores das ruas. Será um total de duas ruas por grupo, sendo uma
rua para cada dois alunos. Cada árvore poderá ser contada uma única vez e só serão
contabilizadas as árvores consideradas adultas.
As árvores deverão ser quantificadas pelos alunos pelo seu estado, classificando-as
em:
a. Árvores saudáveis;
b. Árvores não saudáveis.
[...] O grupo deve responder aos seguintes questionamentos:
1. Qual rua tem mais árvores?
2. Qual rua teve mais árvores saudáveis?
3. Qual rua teve mais árvores não saudáveis?
4. Você observou alguma ave nas árvores? Se sim, em que tipo de árvore?
5. Encontrou-se árvore com flores? Frutas? Quais eram os aspectos das flores, frutos?
6. Para o grupo, qual a importância da manutenção das árvores do meio ambiente e,
precisamente, na área urbana?
7. O que o grupo achou do trabalho?
Ao final das apresentações feitas pelo grupo, dialogar com eles sobre a importância do
trabalho e explicar como a obtenção e a análise dos dados matemáticos podem ajudar no
entendimento do problema.
Com a obtenção dos dados e os mesmos colocados na tabela, organizar-se á em outra
cartolina o gráfico de barras. (Escolher um campo da tabela para representar no gráfico:
quantidade ou classificação.)
4. Possibilidades de Avaliação
A avaliação será feita através da participação e desenvoltura de cada aluno.

Recursos didáticos:

Lápis, borracha, caderno, lápis de cor, cartolina, vídeo.


Referências:
CECCHETTO, Carise Taciane; CHRISTMANN, Samara Simon. Arborização urbana:
importância e benefícios no planejamento ambiental das cidades. Disponível em:
https://www2.ufrb.edu.br/petmataatlantica/images/PDFs/ ARTIGO---ARBORIZACAO-
URBANA-IMPORTANCIA-E-BENEFICIOS-NO-PLANEJAMENTO-AMBIENTAL-DAS-
CIDADES-1.PDF. Acesso em: 31 jan. 2023.
PARANÁ. AMOP. Proposta pedagógica curricular: educação infantil e ensino
fundamental (anos Iniciais): rede pública municipal - região da AMOP. Cascavel:
Assoeste, 2019. Disponível em http://paginapessoal.utfpr.edu.br/
adrianam/oficinaprefeituramunicipalamop/PROPOSTA%20PEDAGOGICA%20CURRICUL
AR_2020.pdf/view. Acesso em: 31 jan. 2023.
PREFEITURA DE MOGI GUAÇU. A importância da arborização nas áreas urbanas.
Disponível em: https://youtu.be/ fSii9Ctvnu0. Acesso em: 31 jan. 2023.
Fonte: Autores, dados da pesquisa (2023)

Para a coleta de dados, dos alunos, foi observada a região central da cidade de
Ramilândia, onde encontrasse a praça pública, a prefeitura municipal, a escola
Municipal Arlindo Gouveia, a maioria dos comércios e casas da população urbana e o
pátio da escola. Foram investigadas a Rua A (Avenida Voluntários da Pátria), Rua B
(Juscelino Kubitschek), Rua C (Dante Sartório de Oliveira) e a Rua D (Castelo Branco).
Após análise, foi descrito em uma tabela os nomes dos alunos que coletaram os
102
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

dados; a quantidade de árvores e a classificação delas nas categorias saudáveis e


não saudáveis. A Figura 2 expõe o trabalho feito por um grupo de alunos.

Figura 2: Tabulação e interpretação dos dados coletados.

Fonte: Autores, dados da pesquisa (2023).

Com essas representações e pelas interpretações apontadas em sala de aula,


expostas por docentes do subgrupo do terceiro ano, podemos perceber que os
estudantes usaram os métodos matemáticos contextualizados ao tema de sua
pesquisa (arborização urbana), quantificaram, classificaram, construíram hipóteses e
coletaram dados.
Uma análise mais detalhada dos dados coletados nesta investigação nos levou
a inferir que as informações e interpretações levantadas pelos estudantes (3º ano)
foram feitas de maneira crítica aos temas “Arborização Urbana”, “Educação Ambiental”
e “Ensino de Matemática”, sendo que a maioria reside na área rural do município e que
estes desfrutam de um ambiente mais arborizado, levando as crianças a destacar que
no sítio a temperatura é mais fresca e agradável. Informaram, também, que quando
acompanham seus familiares em visitas na cidade, sofrem por não terem um local
adequado para esperar o ônibus, mesmo com os pontos de ônibus cobertos, pois o
calor é intenso. Essa estratégia de pesquisa, segundo os professores, possibilitou a
junção da Matemática com o Meio Ambiente, num processo criativo destacando o meio
em que vivemos e a conscientização de alguns valores ambientais.
103
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

Os estudantes observaram, e as professoras que os acompanharam relataram,


que várias pessoas se encontravam na praça municipal, devido a quantidade de
árvores e bancos, podendo perceber que os munícipes procuram um espaço arrejado,
um conforto térmico que a arborização tem para oferecer. O que não ocorre em várias
ruas. Também, na escola municipal, foi evidenciado que os carros dos funcionários
ficam no pátio na lateral da escola, onde haviam várias árvores, mas que acabaram
caindo com os ventos fortes ou morrendo devido a exposição das raizes, restando
apenas uma, o que gera disputa para estacionar os carros nessa sombra. As
professoras informaram, ainda, que os alunos estavam anciosos para que fisesse sol
e pudessem coletar os dados nas ruas da cidade. Assim, o foco principal dos
professores e alunos, após a aplicação do plano de aula, foi solucionar os problemas
encontrados, sabendo que todas as ruas observadas necessitam de um projeto de
arborização adequado para esses ambientes, até mesmo a escola: no pátio,
estacionamento e parquinho.
Com isso, percebemos que a matemática foi introduzida como uma ferramenta
para auxiliar na compreensão de questões do cotidiano, com um trabalho que
extrapolou a sala de aula, agitou a escola, ressignificou as relações na vida da
comunidade escolar por meio da CA, pois “Ser cidadão ambiental, no alvorecer do
século XXI, reclama da educação ambiental (EA) uma abertura a estreitas conexões
entre direitos sociais, culturais, cognitivos e ambientais” (SANTOS, 2007, p. 71). Ainda,
segundo D’Ambrosio (1996), a matemática é uma ciência desenvolvida pela espécie
humana ao longo da sua história para explicar e melhor conviver com os contextos
naturais e culturais da sociedade, o que se evidenciou nesse trabalho.
A matemática possibilitou que os alunos observassem e identificassem que a
quantidade presente de árvores na área urbana do município é mínima, pela proporção
de casas, comércios, praça, asfaltamento e construções. Esse crescimento
desordenado do centro urbano gerou vários prejuízos à qualidade de vida dos
habitantes, porém parte destes prejuízos podem ser evitados pela legislação e controle
das atividades e, principalmente, o planejamento com a arborização adequada dos
centros urbanos. De fato, Pereira (2020) coloca que o conforto térmico está ligado as
percepções físicas, fisiológicas e psicológicas e que quando estas condições se
encontram confortáveis com a temperatura do ambiente o saldo para a saúde é
positivo. Isso reforça os aspectos transdisciplinares do trabalho, o qual utilizou
conteúdos matemáticos para melhor conduzir as reflexões sobre a arborização urbana

104
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

do município de Ramilândia.
Evidenciamos, também, que alguns conceitos da EA estão arraigados na
formação dos professores, conduzindo ao estabelecimento de valores fiéis aquilo em
que acreditam, já interiorizado pelos docentes, na medida que imprimem naturalidade
ao ensinarem determinados cuidados com o meio ambiente, pois informaram “trabalhar
a EA sem perceber”. Entretanto, demonstraram dificuldades em relacionar EA e EM,
ficando evidente em sua fala ou pela falta de participação nessas discussões. Isso não
nos surpreende, pois trata-se de um problema mais amplo, de falta de contextualização
da própria matemática. Assim, quando se pede que aborde um tema do cotidiano, um
TCT, muitos professores ficam aflitos, como observado no curso.
De fato, Cunha (2017, p. 9) apurou em seus estudos que, “a disciplina de
matemática é aplicada de forma descontextualizada, distante da realidade vivenciada
pelo aluno na sala de aula, comprometendo o processo de ensino e aprendizagem”.
Ainda, segundo este autor, as dificuldades encontradas pelos professores se referem
a: salas superlotadas, espaço físico inadequado, falta de ferramentas para trabalhar,
formação tradicional e elaboração do currículo sem a formação humanística. Dessa
forma, cabe ao professor adotar em suas aulas as inovações contextualizadas que a
matemática requer atualmente. Para superar essas dificuldades, identificamos “a
importância de se apresentar à sociedade uma aplicação das transversalidades
destacadas em problemas matemáticos contextualizados, pontuando a capacidade
deste componente curricular em contribuir para a formação cidadã e crítica dos
discentes”. (FACIN, 2021, p. 101). Com isso, constatamos que é possível contribuir
para que haja a promoção da cidadania por meio dos temas transversais e do ensino
de matemática, desenvolvendo propostas sobre os TCT que possibilitam estabelecer
práticas educativas relacionadas as questões da vida real.
Já a metodologia utilizada para o desenvolvimento do curso, a sala de aula
invertida, proporcionou o desenvolvimento de diferentes habilidades, tanto cognitivas
quanto emocionais, conduzindo os participantes a se tornarem protagonistas na
formação de seu conhecimento, inclusive pela superação frente aos obstáculos que o
uso das tecnologias digitais ofereceu para alguns professores com mais tempo de
carreira.
Por fim, devido as observações e registros coletados, concluímos que a maioria
dos professores se identificou com certos “mitos/chavões” que são associados a EA e
que, por vezes, caracterizam e limitam sua esfera de atuação, a saber: “Que EA deve

105
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

ter como objetivo conscientizar as pessoas com relação aos problemas ambientais”,
“O objetivo principal da EA é de transformar comportamentos e hábitos individuais”,
“As pessoas precisam de mais informação para serem mais ecológicas”, “Os
professores transmitem os conteúdos ambientais, as pessoas é que não aprendem e
nem mudam de atitudes”, “Precisamos de mais leis para forçar as pessoas a serem
mais ecológicas” e “Eu separo lixo, eu faço EA”. De fato, como afirma Sauvé (2005),
para abordar o campo da EA, pesquisadores, professores e pedagogos adotam
diferentes discursos e propõem diversas maneiras de conceber e praticar essa ação
educativa, cada um com sua própria visão. Assim, analisando e refletindo sobre
maneiras de se tratar a EA no espaço escolar, verificamos que a corrente da EA que
melhor representa o grupo é a Corrente Resolutiva6, pois ela se apoia na apresentação
e identificação dos problemas ambientais e na busca de suas soluções.

4 CONCLUSÃO

Com esse estudo buscamos evidenciar diferentes possibilidades de se


estabelecer ações que aproximem a AE do EM, de forma crítica, bem como analisar
as concepções dos professores do município de Ramilândia – PR sobre esses temas,
através da elaboração e aplicação de um plano de aula sobre o ODS 13: ação contra
a mudança global do clima.
As ações ajudaram a reforçar nosso entendimento de que o desenvolvimento
desse trabalho é relevante em virtude da urgência de se trabalhar as questões
ambientais no âmbito escolar, relacionando-as de maneira positiva com o ensino da
matemática, buscando alternativas para superar os problemas socioambientais
através de uma efetiva EA e um EM crítico. Também, é uma oportunidade de repensar
concepções ultrapassadas sobre o tema, destacando a disciplina de matemática como
uma ciência desenvolvida pela espécie humana para refletir sobre as organizações
sociais, culturais e ambientais.
Como resultado, verificamos que a concepção de EA que prevalece no grupo
diz respeito a corrente resolutiva, conforme Sauvé (2005). Isso reforça que, para
alcançar os ODS, precisamos de estratégias que visam não apenas a preservação

6“Corrente Resolutiva: trata-se de informar ou de levar as pessoas a se informar sobre problemáticas


ambientais, assim como a desenvolver habilidades voltadas para resolvê-las” (SAÚVE, 2005, p. 21).

106
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

dos recursos naturais, mas a melhoria da qualidade de vida das populações,


buscando ações que se aproximem dos preceitos mais amplos da CA. Ainda, os
professores possuem e defendem valores relativos a EA já adquiridos e consolidados
por eles, sobre os cuidados com o meio ambiente e a sustentabilidade.
O curso de formação para os professores foi importante, pois mostrou-se uma
oportunidade de ponderar sobre a maneira de planejar as aulas, de ver e utilizar a
matemática aliada aos problemas do cotidiano, de discutir conceitos da EA e do EM
crítico. Ademais, a pesquisa demostrou que mesmo professores formados nos
programas tradicionais são capazes de atrelar o EM ao TCT do meio ambiente. O
curso proporcionou a aquisição de conhecimentos da EA e da matemática crítica,
deixando de lado a aprendizagem através de exercícios repetitivos para dar espaço
ao método investigativo e emancipatório da aprendizagem.
Mediante a aplicação do plano de aula dos terceiros anos, e segundo a meta
13b dos ODS “Promover mecanismos para a criação de capacidades para
planejamento relacionado à mudança do clima e à gestão eficaz, nos países menos
desenvolvidos [...]” (IPEA, 2018, p. 341), identificou-se a necessidade de nos
aprofundarmos nesse conteúdo para podermos contribuir nas ações da
sustentabilidade da comunidade de Ramilândia. Assim, o projeto procurou investigar
e quantificar o estado de arborização da área urbana do município na intenção de
compreender as necessidades da população e utilizar campanhas educativas visando
o resgate de um relacionamento melhor com as árvores, visto a importância da
presença delas para amenizar as altas temperaturas, umedecer o ambiente e reduzir
os poluentes atmosféricos, ampliando o direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado e do bem-estar da população ramilandiense. Após essas conclusões, foi
informado para o técnico e engenheiro florestal do município, responsável pela
secretaria de Meio Ambiente, as interpretações dessa pesquisa de campo, na intenção
de alertar para esse assunto, sabendo que ele tem a formação necessária e é o
responsável por realizar projetos e planejamentos adequados as necessidades
existentes em relação a arborização urbana, salientando que temos que cumprir
várias metas até 2030 e que devemos correr contra o tempo, pois as árvores levam
até 15 anos para atingir a fase adulta.
Portanto, destacamos a importância de dar continuidade as pesquisas
ambientais aliadas a matemática, pois esse estudo também apontou, nas discussões
com os professores, vários problemas ambientais possíveis de serem solucionados,

107
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

com a união da comunidade local e investimentos em projetos adequados. Ademais,


o ensino escolar é conduzido pelos professores, cabendo a eles influenciar os alunos
quanto a necessidade de atitudes sustentáveis.
Concluímos o trabalho com a sensação de dever cumprido, com a esperança
de que as sementes agora lançadas germinem, cresçam, floresçam e se multipliquem,
pois promover a melhoria na educação, aumentando não somente a conscientização,
mas a capacidade de ações na intenção da redução dos impactos ambientais, são os
compromissos destacados nesse curso de formação para professores.

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109
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

Capítulo 7
A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO
FORMAL: REFLEXÃO SOBRE OS IMPACTOS
DO AQUECIMENTO GLOBAL NA DÉCADA
OCEÂNICA PARA O DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL: UM RELATO DE
EXPERIÊNCIA
Gaby Carvalho Alves
Danielle Nathally Silva
Josymar Cleiton Pereira de Barros

110
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO FORMAL: REFLEXÃO


SOBRE OS IMPACTOS DO AQUECIMENTO GLOBAL NA DÉCADA
OCEÂNICA PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UM
RELATO DE EXPERIÊNCIA

Gaby Carvalho Alves


Bióloga, Mestranda (UPE), [email protected]

Danielle Nathally Silva


Bióloga, Mestranda (UPE), [email protected]

Josymar Cleiton Pereira de Barros


Turismólogo, mestrando (UPE), [email protected]

RESUMO
A intensificação do aquecimento global vem ocorrendo devido a ações
antrópicas, através dos aspectos econômicos e industriais sobre isso,
afetando diretamente os oceanos, sendo estes de tamanha vitalidade
para o planeta Terra. Desta forma, a Década dos Oceanos tem uma
importância para o Desenvolvimento Sustentável, apresentando a
necessidade e destaque que se deve ter com o ambiente marinho,
desta forma, a Educação Ambiental serve como instrumento
fundamental para a formação das condutas dos seres humanos,
sendo aplicada para o surgimento de novos comportamentos,
gerando uma nova cidadania, enfatizando a relação entre homem e
natureza. Portanto, este projeto teve como real objetivo gerar
soluções para problemas relacionados ao aquecimento global e
direcionamento de suas consequências nos oceanos. O método
utilizado foi o Ensino Baseado em Problemas (PBL), resultando em
um trabalho de relato de experiência, visando tornar o aluno da
educação formal responsável pela construção do seu aprendizado,
preparando-o para o mundo e tornando-o profissional e cidadão.
Resultando, assim, no incentivo à quebra de paradigmas e debates
saudáveis sobre temas importante de modo construtivo, individual e
coletivo, onde o espaço escolar é ativo e promotor da participação.
Desta forma, este relato contribui na formação de indivíduos críticos,
na mudança de comportamentos e na transformação socioambiental,
preservado o meio ambiente através dos princípios da Educação
Ambiental no reestabelecimento do equilíbrio ecológico,

111
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

principalmente quanto à importância dos oceanos e da mobilização


de agentes sociais, favorecendo os propósitos dos Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável, da Agenda 30 e do pensamento
sustentável.
Palavras-chave: Agenda 2030. ONU. Sustentabilidade.
Conscientização Ambiental.

ABSTRACT
The intensification of global warming has been occurring due to
anthropic actions, through its economic and industrial aspects, directly
affecting the oceans, which are of such vitality for planet Earth. In this
way, the Decade of the Oceans has an importance for Sustainable
Development, presenting the need and emphasis that must be given
to the marine environment, in this way, Environmental Education
serves as a fundamental instrument for the formation of the behavior
of human beings, being applied to the emergence of new behaviors,
generating a new citizenship, emphasizing the relationship between
man and nature. Therefore, this project had the real objective of
generating solutions for the problems related to global warming and
directing its consequences in the oceans. The method used was
Problem-Based Teaching (PBL), resulting in an experience report
work, aiming to make formal education students responsible for
building their learning, preparing them for the world and making them
professionals and citizens. Thus, resulting in encouraging the breaking
of paradigms and healthy debates on important topics in a
constructive, individual and collective way, where the school space is
active and promotes participation. In this way, this report contributes
to the formation of critical individuals, in changing behavior and in
socio-environmental transformation, preserving the environment
through the principles of Environmental Education in restoring the
ecological balance, especially with regard to the importance of the
oceans and mobilization of social agents, promoting the purposes of
the Sustainable Development Goals, 2030 Agenda and sustainable
thinking.
Keywords: 2030 Agenda. ONU. Sustainable. Environmental
Awareness.

INTRODUÇÃO

A vivência com relato de experiência em Educação Ambiental é uma atividade


descritiva dos alunos do Mestrado Profissional em Gestão do Desenvolvimento Local
Sustentável da Universidade de Pernambuco, resultado da prática vivenciada no
Componente Curricular Educação Ambiental, que visou gerar conhecimento e
discussão em torno do aquecimento global, enfatizando a Década das Nações Unidas
de Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável, sendo o resultado de

112
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

esforços conjuntos para refletir sobre os seus efeitos e transtornos e possíveis


soluções.
O ser humano, no decorrer dos anos, promoveu modificações no ambiente
natural, adulterando, deformando, destruindo e devastando ecossistemas, a fim de
ajustar os espaços conforme suas necessidades, resultando em impactos negativos
de grandes proporções à natureza, como o aquecimento global, mudanças climáticas
e redução/extinção da biodiversidade dos ecossistemas (AMARAL; JABLONSKI,
2005; GUERRA, 2011).
O aquecimento global é definido como o aumento progressivo da taxa de
temperatura média da Terra por conta de gases de efeito estufa (GEEs), como
clorofluorcarbono (CFC), dióxido de carbono (CO2) e poluição excessiva oriunda do
homem. O efeito estufa é um fenômeno que envolve processos de absorção e
emissão de vários modos de energia eletromagnética, onde uma radiação mais
energética pode ser absorvida por um corpo e, ao ser emitida, transforma-se em outro
tipo de radiação, com energia mais baixa (IRITANI et al. 2014; SILVA et al., 2006).
Apesar de ser também um fenômeno natural do planeta, o efeito estufa é
intensificado devido às diversas atividades humanas relacionadas com aspectos
econômicos e industriais, apresentando como consequência alterações na
composição padrão destes gases na atmosfera terrestre (D’AMELIO, 2006). As
mudanças climáticas, ou alterações climáticas, são mudanças no estado do clima que
pode ser identificada (ex.: por meio de testes estatísticos) através de alterações na
média e/ou na variabilidade das suas propriedades e que permanece por um grande
período de tempo, geralmente décadas ou mais (IPCC, 2014).
O planeta Terra é composto por 27% de terra emersa e 73% de água. Desta
porcentagem de água, 97,5% está concentrada nos oceanos e mares, enquanto
apenas 2,5% representa a quantidade de água doce (VESENTINI; VLACH, 2018). O
ambiente marinho é responsável por abrigar um amplo e variado conjunto de
diferentes formas de vida. Entretanto, apesar da sua riqueza e importância, houve
uma grande perda da sua biodiversidade, ocorrendo a extinção de algumas espécies
ou o eminente risco de extinção, seja por causas naturais ou pelas ações do homem,
causando impactos na saúde marítima e, como consequência, na saúde humana
(SOARES-GOMES; FIGUEIREDO, 2002).
Os impactos do aquecimento global nos oceanos são preocupantes, uma vez
que, de acordo com as UNEP (2021), o oceano ameniza o clima e influencia o tempo,

113
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

tendo armazenado mais de 90% do calor resultante da mudança climática gerada por
humanos e um terço das emissões de carbono do mundo. No Brasil, o Ministério do
Meio Ambiente estabelece que os mares do País possuem 10% das espécies de
peixes do planeta e que a maior parte da sua zona costeira exibe degradações
oriundas da superpopulação, pois, cerca de 50% da população reside em faixa
litorânea. Além disso, 85% da poluição dos oceanos é consequência das ações
antrópicas e 90% dos contaminantes ficam nas regiões costeiras (BRASIL, 2012).
Sendo assim, a Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento
Sustentável é uma oportunidade fundamental para evidenciar, além da importância
dos oceanos e da manutenção da saúde e sustentabilidade dos ecossistemas
marinhos, a necessidade de cuidados com o ecossistema e de implementações de
medidas educativas cabíveis para a proteção e manutenção desse ambiente,
promovendo a proteção do Meio Ambiente Marinho.
As problemáticas envolvendo questões ambientais estão cada vez mais
evidentes e preocupantes, destacando-se na sociedade de modo a conquistar um
grande espaço nas discussões dos diversos segmentos sociais, midiáticos e
político/econômico, sendo pauta de políticas públicas voltadas, principalmente, ao
processo educacional (BURATO et al., 2007). Logo, surge a necessidade de fomentar
e estimular ações que comovam e conscientizem todos os setores da sociedade, no
intuito de diminuir os efeitos nocivos ao meio ambiente e à vida no planeta
(MEDEIROS et al, 2011).
Desta forma, a Educação Ambiental pode atuar como ferramenta na formação
e estruturação de indivíduos ecológicos, diligentes com o âmbito ao qual pertencem,
e não somente consigo. Emergindo deste novo comportamento/posição uma nova
forma social, cultural, política e econômica, estabelecendo uma participação
consciente dos autores, a fim de inserir, nas ações do dia a dia, o hábito de olhar a
natureza como extensão de si, fazendo parte dela e, assim, agir consciente quanto às
atitudes que devem ser tomadas, sendo o indivíduo o agente de transformação em
relação à conservação ambiental (MEDEIROS et al, 2011; SAUVÉ, 2005).
Para que exista resultados positivos na pauta ambiental, é preciso transformar
princípios, valores, comportamentos e hábitos, de modo a promover melhorias nos
aspectos ecossistêmicos e na qualidade de vida do planeta (BEZERRA, 2014), sendo,
conforme Capra (2000), fundamental a criação de uma nova perspectiva de cidadania,
integrando as relações entre homem-natureza e homem-homem.

114
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

A Política Nacional de Educação Ambiental que determina a Educação


Ambiental como um componente crucial e permanente da educação nacional,
devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do
processo educativo, em caráter formal e não-formal (BRASIL, 1999). Portanto, busca
firmar um compromisso entre as instituições para assegurar a implementação de sua
prática no ensino formal, ou seja, a Lei determina que, a todo cidadão, durante toda
sua vida escolar, é garantido o direito ao ensino da Educação Ambiental. Para que,
desse modo, busque-se formar cidadãos críticos-responsáveis e sociedades
sustentáveis.
Logo, esta vivência com relato de experiência em Educação Ambiental visa
levantar questionamentos sobre as problemáticas voltadas ao aquecimento global e
possíveis soluções dos problemas ambientais oriundos deste aquecimento e seus
impactos no oceano, levantando os seguintes questionamentos: i) como a crise hídrica
pode influenciar no aquecimento global sobre os oceanos?; ii) quais impactos
ambientais resultantes do descarte de resíduo sólido pelo turismo de massa e como
pode afetar a vida marinha?; e iii) qual a relação da agricultura cm o aquecimento
global sobre os oceanos?

Relevâncias e contribuições do estudo

O valor e dimensão desta vivência se estabelece pela necessidade da criação,


do desenvolvimento e da prática de uma postura ativa dos indivíduos, enquanto
sociedade e cidadão, no tocante da Educação Ambiental, responsabilidade
socioambiental e conscientização e sensibilização quanto ao tema, a partir da
experiência vivenciada, informando e estimulando o pensamento crítico, auxiliando na
educação formal de jovens no aspecto social, ambiental, político, cultural e
econômico, atendendo, principalmente ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável
(ODS) 14, Vida na Água.
O ODS 14 visa a gestão de modo sustentável e proteção dos ecossistemas
marinhos e costeiros conter e prevenir impactos danosos expressivos, inclusive
através do reforço da sua capacidade de resiliência, adotando ações resolutivas para
a sua restauração, com o propósito de assegurar oceanos saudáveis e produtivos
(BRASIL, 2019). Associado a este, a Educação ambiental foi fundamental para
promover reflexões e transformações de hábitos (BEZERRA, 2014) voltados para o

115
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

aquecimento global na perspectiva da Década Oceânica, visando uma alteração no


cenário atual do comportamento humano quanto às questões ambientais.
Este estudo teve como objetivo a transmissão do conhecimento acerca da
temática “Os impactos do aquecimento global e sua relação com o oceano”,
destacando a Década Oceânica das Nações Unidas no ensino formal, utilizando a
Educação Ambiental como instrumento de reflexão e mudança, desde os valores às
ações. A partir da construção do pensamento analítico e do desenvolvimento de
projetos com a participação do coletivo para reduzir os danos e transformar o
ambiente, inserindo, na prática didática e dinâmicas conceituais, de modo a levantar
problemáticas que consideram o contexto da comunidade inserida, formando
indivíduos críticos e agentes ativos, a fim de fornecer uma base de dados quanto à
percepção ambiental da comunidade acadêmica e externa, sendo uma base analítica
do progresso destes a respeito do tema.

METODOLOGIA

Para a produção deste relato de experiência, foi utilizada a metodologia de


Ensino Baseado em Problemas (PBL), que se caracteriza no método de ensino-
aprendizagem disposto em problemas, tanto da vida real como simulados (FILHO
RIBEIRO, 2003), sendo capaz de tornar o aluno responsável na construção do
aprendizado conceitual, procedimental e atitudinal, através de problemas propostos
que o expõem situações motivadoras e prepara-o para o mundo, servindo para a boa
conduta de alunos que se tornarão profissionais e cidadãos, prestando como incentivo
de aprendizagem dos conhecimentos conceituais, procedimentais e atitudinais,
objetivados (RIBEIRO, 2008).
As etapas e planejamento ocorreram em quatro encontros, distribuídos em um
encontro por semana. Salienta-se, conforme Ribeiro (2008), que o ideal é que
ocorressem, pelo menos, seis encontros, sendo três presenciais e três a distância.
Por conta do tempo do componente curricular de Educação Ambiental, os quatro
encontros foram divididos em dois encontros presenciais e dois encontros remotos,
havendo interações através do aplicativo WhatsApp, viabilizando maior diálogo e
trocas.
Foram levantadas as problemáticas e suas bases bibliográficas, tanto em
materiais científicos como de fácil acesso público (jornal online, pesquisas no Google,

116
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

livros didáticos, entre outros), visando a disponibilidade e entendimento de alunos do


ensino formal (Fundamental II e Médio). Assim, a fundamentação teórica tem por base
pesquisa científica e popular sobre os aspectos dos tópicos levantados sobre as
questões do aquecimento global, sendo elas: a crise hídrica, o impacto do descarte
incorreto de resíduos sólidos e o papel da agricultura na crise ambiente.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A Crise Hídrica

Existe uma urgência em admitir que a qualidade e a quantidade da água são


diretamente afetadas pelas mudanças climáticas, que, por sua vez, são
consequências do aquecimento global. Conforme a autora, a proteção da água é um
dever que carece da participação de todos. O aquecimento global, provocado pelo
efeito estufa, acelerado pela ação antrópica, é, sem dúvida, a maior dificuldade
enfrentada pela humanidade hoje em dia (KOCHAN, 2022).
Um dos problemas mais urgentes e imediatos decorrentes desse aquecimento
será o das águas, sua escassez, sua poluição e assimetria na distribuição. Nesse
contexto, o aquecimento global já está dando sinais alarmantes, mostrando que,
quanto mais o planeta aquece, maior as implicações da crise hídrica, afetando outros
aspectos sociais e econômicos, como insegurança alimentar, crise na agricultura,
crise energética etc. (KOCHAN, 2022).
O aumento da temperatura do planeta será conduzido por significativas
mudanças no ciclo hidrológico, regiões úmidas ficando mais úmidas e regiões áridas
vulneráveis a secas severas. Os oceanos, por sua vez, exercem um papel
fundamental na retenção do calor do planeta, absorvendo cerca de 90% do excesso
do calor provocado pela emissão de gases de efeito estufa (GEE) e um terço das
emissões de dióxido de carbono (CO2), sendo encarregados de equilibrar a
temperatura do planeta Terra (CARVALHO, 2020; JORNAL JÁ, 2021).
A temperatura do oceano é um agente de grande implicação no regime de
chuvas no continente, visto que o remanejamento de calor no oceano é capaz de
formar piscinas frias e quentes, o que deturpa o regime de chuvas no continente,
podendo passar a chover mais em umas regiões e menos em outras (ROCHA, 2014).
A origem de um planeta mais quente está intimamente ligada à quantidade de água
evaporada dos oceanos, em uma escala global, é eminente o aumento de 10% no

117
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

volume de chuvas decorrentes da maior evaporação do oceano, acarretando grandes


áreas alagadas e inundação em determinadas regiões enquanto outras sofrerão com
fortes períodos de estiagem, seca (KOCHAN, 2022). Entretanto, o oceano está
severamente ameaçado por demasiada poluição e aumento severo da temperatura
(WAYCARBON, 2017).
Para amenizar as adversidades das mudanças climáticas nos oceanos, durante
a Conferência das Partes (COP) 26, realizada em 2021, na cidade de Glasgow, na
Escócia, a Coalizão pela Água e Clima – Water and Climate Coalition (WCC), solicitou
que as ações climáticas sejam agregadas a ações relativas à preservação das águas
e oceanos, por causa da interligação entre a crise climática e os acentuados eventos
extremos vinculados aos ciclos hidrológicos, englobando secas e inundações
(NAÇÕES UNIDAS BRASIL, 2021).
Em 2015, 193 delegados dos Estados-membros da ONU instituíram o
documento chamado “Transformando o Nosso Mundo: A Agenda 2030 para o
Desenvolvimento Sustentável”, onde foram projetados 17 Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS), entre os quais estão o ODS 6 – água potável e
saneamento; ODS 7 – energia limpa e acessível; ODS 13 – combate as alterações
climáticas (ações contra a mudança global do clima); e ODS 14 – vida debaixo d’água,
que são os ODS que mais se conectam à crise hídrica (REDE BRASIL DO PACTO
GLOBAL, 2022).
Com o intuito de alcançar os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS)
estabelecidos pela ONU em 2015, mais especificamente ODS 5 – igualdade de
gêneros – e ODS 14 – vida debaixo d’água, foi criada, em 2019, a Liga das Mulheres
pelo Oceano, um movimento em rede que integra os esforços de emancipação das
mulheres e atua pela conservação do oceano, assim como ajuda a divulgar dados
relacionados ao oceano, sustentabilidade e estratégias voltadas à promoção da
Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável (2021-2030). Essa
liga age tentando simplificar a comunicação para que o entendimento da relação entre
oceano e o clima seja mais efetivo e disseminado ao senso comum, como também
realiza relatórios que podem contribuir para a criação de políticas públicas (REDE
BRASIL DO PACTO GLOBAL, 2022).
O oceano é um local de transição entre o mar, a costa e o continente, formando
um ambiente totalmente conectado e proporcionando uma série de serviços
ecossistêmicos, como lazer, aspirações religiosas, transporte marítimo, provedor de

118
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

alimentos e, principalmente, sumidouro de dióxido de carbono e provedor do oxigênio


consumido pela população terrestre (REDE BRASIL DO PACTO GLOBAL, 2022). O
Greenpeace (2020) estabelece que o oceano sempre serviu como atenuador das
mudanças climáticas, há muito tempo ele vem absorvendo o calor de forma lenta
através dos fitoplânctons, que conseguem absorver cerca de 40% de todo o dióxido
de carbono (CO2) produzido, quatro vezes a capacidade da floresta Amazônica.
O aquecimento global acarretará fome, enchentes, secas e crise energética,
todos esses fenômenos são oriundos da crise hídrica (WWF, 2010). A redação da
revista Além da Energia (2021) publicou uma matéria explicando que, no cenário de
crise energética, o Brasil diminuiu sua dependência da energia hidrelétrica de 85%
para 61% desde 2021 até agora, devido à adoção de fontes limpas e renováveis, como
a energia eólica, a solar fotovoltaica, biomassa etc., seguindo, com isso, as
orientações estabelecidas na ODS 7 – energia acessível e limpa.
Perante todo o debate apresentado, observa-se que há indigência de uma
maior democratização das informações referentes as questões ambientais,
aquecimento global, crise hídrica, proteção dos recursos hídricos e oceanos. Diante
dessa discussão, Kochan (2022) detalha em seu artigo a importância de uma
educação ambiental para o avanço de uma compreensão e análise crítica sobre a
problemática ambiental e a necessidade de uma mudança de paradigmas na relação
do ser humano com a natureza.

O impacto do descarte incorreto de resíduos sólidos

A Lei Federal nº 12.305/2010, responsável por instituir a Política Nacional de


Resíduos Sólidos, e regulamentada pelo Decreto nº 7.404/2010, estabelece princípios
e diretrizes para o gerenciamento dos resíduos sólidos, além da proteção à saúde
humana e da sustentabilidade como princípios norteadores para as ações
governamentais neste âmbito, proporcionando um marco importante para a gestão
dos RSU no Brasil e incentivando a soluções ambientalmente adaptadas para a
disposição final destes resíduos (BRASIL, 2010). Observa-se uma frequência cada
vez maior de um gerenciamento inadequado dos resíduos sólidos, gerndoa impactos
imediatos, tanto na saúde quanto no ambiente, contribuindo diretamente para as
mudanças climáticas. Considerando este como um problema em crescimento, os

119
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

resíduos sólidos se destacam como um problema ambiental grave da atualidade


(WHO, 2007).
O desenvolvimento econômico, o crescimento da população, a urbanização e
a revolução tecnológica vêm modificando diretamente o estilo de vida da população e
os modos de produção e consumo em geral. Como consequência real desses
processos, nota-se um aumento na produção de resíduos sólidos, tanto em relação à
quantidade quanto à diversidade, destacando-se, principalmente, nos grandes centros
urbanos. Em virtude das novas tecnologias inseridas ao cotidiano, além da
preocupação com a quantidade dos resíduos, a composição dos elementos, em sua
maioria, é sintética e perigosa aos ecossistemas e à saúde humana (FERREIRA;
ANJOS, 2001).
Apesar de poucos dados, os impactos diretos do turismo nos oceanos são os
mais variados, como construções irregulares em zonas costeiras, excesso de lixo e
esgoto em destinos de praias mais visitadas, atividades de barcos e mergulhos não
monitorados por órgãos fiscalizadores, emissões excessivas de CO2 por cruzeiros e
muitas outras práticas que contribuem para o aumento constante destes impactos
(DUÉK, 2022). As atividades turísticas não só ajudam na destruição dos oceanos,
como elas são diretamente afetadas por essas transformações. Afinal, os turistas
buscam praias limpas, com áreas preservadas e com belezas naturais a serem
apreciadas, diferente do que infelizmente têm se deparado com uma frequência cada
vez maior de lixo nas praias animais mortos na costa, como consequência direta dos
impactos gerados pelos resíduos sólidos (DUÉK, 2022).
O relatório “The Ocean Economy in 2030, produzido pela OECD (Organisation
for Economic Co-operation and Development), afirma que o turismo marítimo e
costeiro coopera com 24% do valor agregado das indústrias baseadas no oceano e
ficando atrás apenas do petróleo e gás. Para a autora, cada vez mais é evidente que
o turismo é responsável pode ser um dos setores essenciais para garantir a
sustentabilidade dos ecossistemas marinhos e da economia azul, formada pelas
indústrias que dependem dos oceanos para o seu desenvolvimento. Em 2022, foi
confirmado o depósito de cerca de 8 milhões de toneladas de plástico (25 milhões de
toneladas de lixo) por ano nos oceanos, que são transformados em microplásticos, e
acabam sendo ingeridos por peixes, aves e moluscos, voltando, depois, diretamente
para o homem, uma vez que estes se alimentam de animais contaminados (DUÉK,
2022).

120
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

Vale ressaltar que o lixo que chega nos mares vem de diferentes lugares
através de rios e esgotos. Exclusivamente no Mar Mediterrâneo, mais de 220 milhões
de turistas buscam essa área para usufruir de férias todo ano, contribuindo
diretamente para o aumento de cerca de 40% de lixo (principalmente plástico) a cada
verão (WWF, 2009). Um estudo da Transport & Environment identificou que navios de
cruzeiros, que operavam em águas europeias, emitiam mais gases poluentes do que
todos os carros da Europa. Além dos gases atmosféricos, os grandes navios são,
também, uma grande fonte de poluição marinha, devido ao despejo de lixo e esgoto
não tratado diretamente no mar. Atividades recreativas, como mergulhos, passeio de
barco, caiaque, entre outras, se não forem praticadas com responsabilidade, podem
ter um impacto enorme nos ambientes oceânicos. Qualquer atividade humana, se
praticada sem o cuidado necessário, tende a transformar negativamente o local
(DUÉK, 2022).
Portanto, é importante advertir sobre a conservação ambiental e a observância
às Leis sobre os Resíduos Sólidos, pois, estes últimos, quando não destinados
corretamente, podem ser levados ao mar, prejudicando não só a fauna e flora
marinhas, como o meio ambiente em geral e, consequentemente, o próprio ser
humano. Bem como, a reeducação da população como um todo, para uma maior
sensibilidade as questões ambientais, compreendendo que o homem é parte da
natureza e, portanto, deve ser estabelecida uma relação de cuidado, de preservação
deste meio.

O papel da agricultura na crise ambiente

No cenário da agricultura, o qual influência e é influenciado pelas constantes e


aceleradas mudanças climáticas, provenientes da modernização de diferentes
setores, sem contar na falta de compreensão, que surge tardiamente, sobre os
impactos danosos ao ambiente, não apenas para população em geral, mas, como
também, para a comunidade cientifica (ASSAD, 2021). É possível perceber que
homem e natureza se encontram em conflito, em que a humanidade passa a exigir
mais dos recursos naturais, sem discernimento ou preocupação com os impactos
ambientais, degradando o planeta, reduzindo ou extinguindo populações da fauna e
da flora, com perda da biodiversidade terrestre, impactando diretamente a saúde do

121
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

meio ambiente marinho e, como consequência, na saúde humana (AL GORE, 2006;
ALVES, 2021).
A agricultura tem um papel importante nas mudanças climáticas, cujas
queimadas e desmatamentos são um exemplo disso, emitindo para a atmosfera
diversos gases, como o CO2, uma prática que surgiu no Brasil com o cultivo da cana-
de-açúcar, a fim de limpar a área a ser plantada. A prática também se destina a
formações de pasto, onde esse fogo, supostamente controlado, pode acarretar em
incêndios florestais, reduzindo mais ainda a biodiversidade restante. Essa prática,
principalmente no cerrado brasileiro, é, historicamente, evidenciada no manejo da
agricultura e pecuária (SCHMIDTH et al., 2016) A atividade agrícola está ligada a
fatores climáticos, como pluviosidade, teor de água no solo, condições atmosféricas e
radiação solar, sendo assim, não só prejudica o ambiente como pode ser prejudicado
pela falta de cuidados com ele, a agricultura ameaça e pode ser ameaçada. Com a
perda de produtividade, diminuição das chuvas, acarretando maior incidência de
doenças no cultivo e o manejo do solo com grandes riscos de erosão hídrica (GHINI,
2005).
Além disso, é preciso uma postura voltada para os princípios das Nações
Unidas, construindo um pensamento que una, novamente, o ser humano à natureza,
respeitando-a, considerando sua perspectiva social, cultural, econômica, ecológica e
fundamentalmente salutar para a vida humana (SIQUEIRA, 2011), promovendo o
desenvolvimento de tecnologias mitigatorias desses impactos. Ressalta-se que a
produtividade não deve cair, atendendo a exportação agrícola e ao padrão de
consumo, com boas práticas agrícolas pode evitar a degradação do solo, emissões
de gases nocivos ao ambiente, o uso excessivo de fertilizantes nitrogenados, o
aumento da temperatura da Terra, secas e enchentes, maior incidência de pragas e
doenças e perda de produtividade, por exemplo (THORSTENSEN; ZUCHIERI, 2021).
É fundamental o envolvimento econômico, no intuito de minimizar os danos ao
ambiente, por meio de políticas públicas que promovam essa redução, gerenciando
os recursos naturais e consolidando a perspectiva ambiental. Para promover essa
postura, é preciso adaptar as atividades agropecuárias às alterações climáticas, a
partir de ações de gestão com base nos ecossistemas. Isto significa que é preciso a
adoção de práticas de manejo que desfrutem da biodiversidade, dos serviços
ecossistêmicos e dos processos ecológicos de biomas naturais ou modificados sem

122
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

impactá-los, favorecendo as culturas e a pecuária de forma sustentável, reduzindo os


impactos às variações climáticas (ASSAD, 2019).
Sem tirar a credibilidade do setor, é necessário haver mais estudos que levem
em consideração todos os aspectos sociais, culturais, econômicos, tecnológicos, entre
outros, garantindo um maior aproveitamento, sem oprimir a atividade responsável por
produzir alimentos, mas transformando-a sem acessível e sustentável. É possível usar
a agricultura para atenuar os impactos da mudança climática, a partir de um
agroecossitema agregado ao aumento do estoque de carbono nos solos e no
componente arbóreo, aumentando a produtividade, reduzindo as emissões nos
balanços de GEE (Gases de Efeito Estufa), aumentando os cuidados com a água e
com o solo (URQUIAGA et al. 2010).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O primeiro encontro, dia 21 de setembro de 2022, foi presencial, com duração


de 4h, sendo importante que este primeiro momento sempre seja presencial, com a
presença do orientador/professor. Foi o momento de apresentação da atividade,
abordando os possíveis casos a serem analisados, no qual foram resgatadas e
identificadas problemáticas, ocorrendo um debate, levantamento de possibilidades e,
a partir deste processo, surgiu o tema do projeto.
Nesse dia, forma estabelecidas as funções de cada pessoa do grupo:
secretário, analista e editor, com as respectivas funções de: registrar todas as
atividades e agendas determinadas nas reuniões; observar se o tema não está em
fuga e manter o alinhamento dos membros dos grupos; e organizar os textos, mediar
debates e ajustar o relatório final, com todos os dados gerados na atividade para a
apresentar a um grupo maior e elaborar recomendações.
O segundo encontro ocorreu de forma remota, dia 27 de setembro, com
duração de 2:30h, no qual foi realizada a fundamentação do problema, integralizando
a teoria e a prática, a partir da obtenção da pesquisa de conteúdo sobre o problema,
realizada durante a finalização do primeiro encontro e realização do segundo
encontro, datando de 23 a 26 de setembro. O terceiro, de forma presencial, ocorreu
no dia 04 de outubro, no período de 4h, ocorrendo o debate sobre as possíveis
soluções (brainstorm), resultado da pesquisa realizada pelos integrantes no período
de 28 de setembro a 03 de outubro.

123
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

E o quarto e, neste caso, último encontro, foi realizado no dia 10 de outubro,


com duração de quase 2h, de forma remota, sendo a apresentação do projeto à
professora orientadora e à turma, cuja produção ocorreu no período de 05 de outubro
a 09 de outubro, conjuntamente, com diálogos e debates via WhatsApp, tanto entre o
grupo como com a professora orientadora.
As temáticas discutidas nesse projeto foram de suma importância ambiental,
social e educacional, e a sua construção se consistiu em levantamento de pesquisas
bibliográficas, com o foco voltado para a Educação Ambiental, obtendo um olhar
interdisciplinar. As buscas realizadas foram alcançadas em produtos formais e não
formais, como revistas, jornais, sites, artigos científicos, livros e vídeos, visando a
abrangência e acesso a materiais para turmas de ensino formal, evitando restringir a
artigos e linguagens científicos. Assim, a partir desse material, promover uma base
para o desenvolvimento da reflexão e conhecimento dos alunos.
Após a finalização dos três primeiros encontros, foi realizada a produção da
proposta, visando a resolução da problemática do aquecimento global voltada para os
oceânicos, baseada na Década Oceânica, tendo como principal ferramenta a
Educação Ambiental, visando alcançar os objetivos estabelecidos, refletir os impactos
ambientais sofridos pelo planeta durante os longos anos e transformar
percepção/perspectiva e comportamento social. Também foram considerados os
aspectos que impactam o aquecimento global, suas causas, consequências e, como
supracitado, suas possíveis soluções.
A partir da análise dos dados levantados, da fundamentação teórica e dos
diálogos realizados nos encontros e em conversas coletivas via WhatsApp, foi
possível identificar causas e consequências do aquecimento global e, além disso, de
forma orientada, sendo viável a aquisição do conhecimento com opiniões e
pensamentos divergentes convergindo para o mesmo objetivo: entender o cenário
atual e procurar soluções viáveis para evitar a propagação/continuidade do problema.
Nessa perspectiva, a Educação Ambiental teve um papel fundamental no
desenvolvimento dessa experiência, resultando em uma reorientação das ações e
pensamentos, agora, reflexivos, combativo, que, na análise do grupo, precisa estar,
de forma multidisciplinar, em diversos componentes curriculares do ensino formal,
proporcionando experiências educativas que possam ampliar a visão integrada ao
meio ambiente.

124
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

Ressalta-se a importância da academia na construção da consciência


ambiental dos alunos, que, por sua vez, tem autoridade de promover, por meio de
atividades pedagógicas, a capacidade de reflexão sobre o mundo atual, protegendo
os direitos dos cidadãos atuais e de gerações futuras, tendo como dever fundamental
a formação de indivíduos conscientes, responsáveis, multiplicadores e modificadores
do meio ambiente.
Desta forma, a metodologia PBL associada à Educação Ambiental incentivou
a quebra de paradigmas, proporcionando discussões saudáveis sobre temáticas
polêmicas, que dividem pessoas e pensamentos, de forma construtiva, individual e
coletiva, transformando o ambiente de sala de aula em um espaço ativo, não apenas
receptivo, atingindo os propósitos propostos, resultando em mais maturidade, mais
vontade de aprender, respeito a opiniões e pensamentos diferentes e às múltiplas
relações, com saída da zona de conforto, promovendo a participação ativa do meio
ambiente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao término desta pesquisa, foi possível ter a percepção e a certeza da


necessidade de uma mudança de comportamento e de perspectiva do indivíduo e da
sociedade em geral para obter uma maior responsabilidade ambiental, de forma ativa,
obtendo a notoriedade do ser humano como parte integrativa da natureza e do meio
ambiente, acentuada pelo prisma da Educação Ambiental, que é peça chave para uma
mudança no cenário atual do meio ambiente e dos desequilíbrios nele encontrado,
buscando refletir, discutir, sobre as possibilidades e dimensões dos impactos e
colapsos ambientais, por meio do pensamento sustentável e da construção de novos
valores sociais, visando garantir uma qualidade de vida melhor para gerações atuais
e futuras.
O estudo contribui para a formação de cidadãos críticos, no qual se espera dos
mesmos não só uma mudança de comportamentos, como também de atitudes, de
posicionamento e transformação socioambiental, para preservar e recuperar o que
tem sido degradado no meio ambiente pela própria humanidade. As práticas
humanas, inconscientes, inconsequentes e desenfreadas, têm levado o planeta Terra
a sofrer graves danos ambientais, que têm atingido diretamente todos os
ecossistemas e ameaçado as gerações do presente e futuras. Sendo assim, a

125
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

Educação Ambiental, enquanto ferramenta da reflexão sobre os impactos ambientais,


é primordial para que todas as pessoas do mundo façam sua parte no
reestabelecimento do equilíbrio ecológico, preservando e protegendo todos
ecossistemas, resultando em um mundo, uma vida e uma humanidade melhores.
A década oceânica visa garantir o cuidado e a inserção de atividades
educativas que assegurem a manutenção, prevenção e proteção do ambiente
marinho, que, constantemente, é ameaçado por maus hábitos antrópicos, como
descarte inadequado de resíduos sólidos, atividades de agricultura não sustentável,
desperdício de água, queimadas, entre outras situações, gerando o aquecimento
global e, consequentemente, seus efeitos. Fazendo-se necessária a reeducação,
conscientização e sensibilização da população, através de instrumentos
educacionais, como a Educação Ambiental nesta experiência, quanto à importância
dos oceanos e da mobilização de agentes públicos, privados e da sociedade civil,
favorecendo todos os propósitos dos ODS, da Agenda 30 e do pensamento
sustentável.
Ao adentrar nessa temática, pôde-se notar que não há outra forma de modificar
essa realidade a não ser pela adoção de princípios da Educação Ambiental, que, no
geral, consiste em tornar indivíduo um cidadão crítico, comprometido, ativo e com
práticas sustentáveis, desenvolvendo, assim, uma postura reflexiva, de mudança de
pensamento/comportamento, sendo agente ativo na luta contra a degradação do meio
ambiente, causados pelo próprio homem. Além disso, é urgente uma nova visão sobre
as problemáticas do aquecimento global que estimule: a mudança de atitude, o
respeito pelo meio ambiente, o esclarecimento sobre a conjuntura mundial quanto aos
impactos reais e preocupantes do aquecimento global, entre outras soluções.
Mas, para que isso ocorra, é preciso de metodologia, de normas rigorosas, de
pensamento crítico, fazendo-se necessária, ao observar as legislações ambientais, a
construção de normas que garantam um meio ambiente mais protegido, preservado,
conservado, mantido e, até mesmo, mais saudável para essa e futuras gerações,
tornando mais fácil a manutenção do equilíbrio ecológico e a preservação do meio
ambiente e de seus ecossistemas e biodiversidades.

126
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

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130
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

Capítulo 8
POTENCIAL DE GERAÇÃO DE BIOGÁS A
PARTIR DE RESÍDUOS AGROINDUSTRIAIS:
BAGAÇO DE MALTE
Douglas Luiz Mazur
Waldir Nagel Schirmer
Matheus Vitor Diniz Gueri
Andreia Cristina Furtado

131
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

POTENCIAL DE GERAÇÃO DE BIOGÁS A PARTIR DE RESÍDUOS


AGROINDUSTRIAIS: BAGAÇO DE MALTE

Douglas Luiz Mazur


Mestrando em Engenharia Química, UTFPR – Ponta Grossa,
[email protected]

Waldir Nagel Schirmer


Doutor em Engenharia Ambiental, Universidade Estadual do Centro-oeste -
UNICENTRO

Matheus Vitor Diniz Gueri


Doutor em Energia e Sustentabilidade, UNILA, [email protected]

Andreia Cristina Furtado


Doutora em Engenharia Química, UNILA, [email protected]

RESUMO
O setor cervejeiro, impulsionado pelo segmento de cervejas
artesanais, tem experimentado um crescimento notável no cenário
brasileiro, aliado a este crescimento, surge a questão da geração de
resíduos agroindustriais. O bagaço de malte é o principal resíduo
orgânico gerado durante o processo de produção de cerveja e pode
ser biomassa passível de aproveitamento energético por meio da
geração de biogás. Este estudo visa a investigar o potencial de
produção de biogás a partir do bagaço de malte em escala laboratorial
e em condições mesófilas por meio de testes de BMP, os
experimentos contemplam diferentes proporções entre bagaço de
malte e inóculo. O inóculo utilizado foi a coleta de fundo de uma
composteira doméstica, visando fornecer os microrganismos
necessários para digestão anaeróbica do substrato. O tratamento que
gerou o maior percentual de metano no biogás (43%) foi o tratamento
com bagaço e inóculo na proporção 1:1, contrastadamente, as demais
proporções geraram teores inferiores de metano, principalmente o
tratamento utilizando apenas bagaço de malte que apesar de ter o
maior volume de biogás gerado, apresentou um teor de metano de
apenas 23,7%. Por fim concluiu-se que o tratamento bagaço/inóculo
na proporção 1:1 foi o mais eficiente do ponto de vista energético

132
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

devido ao maior percentual de metano em sua composição


característica essa relevante para o aproveitamento do biogás
gerado.
Palavras-chave: Digestão anaeróbica. Bagaço de malte. Biogás.
Testes de BMP. Resíduos agroindustriais.

ABSTRACT
The brewing sector, notably the craft beer segment, has been
experiencing remarkable growth in the Brazilian landscape. Alongside
this growth, the issue of agroindustrial waste generation emerges. Malt
husk stands out as the primary organic residue generated during the
beer production process and holds the potential to be biomass
amenable to energy utilization through biogas generation. This study
aims to investigate the biogas production potential from malt husk on
a laboratory scale under mesophilic conditions through BMP
(Biochemical Methane Potential) tests. The experiments encompass
varying ratios between malt husk and inoculum. The inoculum
employed consisted of the bottom collection from a domestic
composting unit, aimed at providing the necessary microorganisms for
the anaerobic digestion of the substrate. The treatment that yielded
the highest methane percentage in the biogas (43%) was the
treatment involving malt husk and inoculum in a 1:1 ratio. In contrast,
the other ratios resulted in lower methane contents, particularly the
treatment utilizing malt husk exclusively, which despite generating the
largest biogas volume, exhibited a methane content of only 23.7%. In
conclusion, it was established that the malt husk to inoculum ratio of
1:1 treatment proved the most energy-efficient due to its higher
methane content, a characteristic that is relevant for the utilization of
the generated biogas.
Keywords: Anaerobic digestion. Malt bagasse. Biogas. BMP tests.
Agroindustrial residues.

INTRODUÇÃO

A comercialização e produção de cerveja tem se intensificado no Brasil,


sobretudo as cervejas artesanais que protagonizam a evolução e crescimento do
ramo. As cervejarias artesanais impulsionam a economia local e a região onde estão
inseridas, intensificando principalmente a atividade turística (GOMES, MARCUSSO,
2022). Segundo Ministério da Agricultura e Pecuária – MAPA (2023), o setor está em
amplo contínuo crescimento (Figura 1) e chama a atenção de produtores,
consumidores e planejadores de destinos turísticos aliando produtos, serviços e
atividades do segmento cultural e gastronômico (MUNHOZ, 2022).

133
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

Figura 1. Total de cervejarias registradas no Brasil de 2000 a 2022.

Fonte: MAPA, 2023.

O setor cervejeiro é destaque no crescimento tanto de produção quanto em


número de novos estabelecimentos, em 2022, o Brasil contava com 1.729 cervejarias
em funcionamento registradas no Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(MAPA); o crescimento do número de cervejarias registradas se comparado aos anos
2000 é de aproximadamente 4322%, esse crescimento foi impulsionado pelo mercado
de cerveja artesanal (MAPA, 2023).
O processo de fabricação de uma cervejaria, consiste, de forma simplificada na
transformação do malte de cevada em mosto, rico em açúcares, qual é fermentado
por leveduras produzindo a cerveja (VITANZA, et al., 2016; FILLAUDEAU,
BLANPAIN-AVET, DAUFIN, 2006). Contudo é importante destacar que em
praticamente em todas as etapas de produção são gerados resíduos orgânicos.
O principal resíduo gerado na fabricação de cerveja é o bagaço de malte/grãos
gerado logo após o processo de mosturação na lavagem e clarificação como
apresentado na Figura 2. De acordo com Mussatto, Dragone, Roberto (2006), o
bagaço de malte/grãos corresponde a 85% do total de resíduos sólidos gerados pela
fabricação de cerveja.

134
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

Figura 2. Etapas básicas do processo de produção de cerveja e a cogeração do bagaço de


malte.

Fonte: Adaptado de Tozetto (2017).

Além de ser um processo com elevada geração de resíduos orgânicos,


demanda o uso de uma grande quantidade de água. Bochman et al. (2020) estimam
que, para cada 1 m³ final de cerveja produzida, são gerados em torno de 200 kg de
bagaço de malte, evidenciando a enorme quantidade deste resíduo gerado durante o
processo de produção de cerveja.
O bagaço de malte, principal resíduo orgânico produzido por uma cervejaria,
tem composição química bem definida. Essa característica é resultado, em grande
parte, dos rigorosos padrões de qualidade e homogeneidade necessários para o
malte, matéria-prima primordial no processo de produção de cerveja. A composição
do bagaço de malte é basicamente 17% de celulose, 28% de polissacarídeos não-
celulósicos e 28% lignina (MUSSATTO, DRAGONE E ROBERTO, 2006).
Devido à grande quantidade de proteínas e fibras (20% e 70%
respectivamente, em base seca) o bagaço de malte, mesmo úmido, é destinado
principalmente para a alimentação animal (MUSSATTO, DRAGONE E ROBERTO,
2006). Porém, estudos demonstram a possibilidade da intoxicação por etanol de
bovinos alimentados com bagaço de malte, devido à fermentação deste resíduo nos
coxos (TRUJILLO et al, 2018; BRUST et al, 2015).
A possibilidade de intoxicação dos animais e o fato de que o bagaço deve ser
utilizado antes mesmo do início da sua decomposição, pode inviabilizar em algumas

135
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

situações a utilização deste resíduo na alimentação animal, necessitando de uma


nova forma de destinação. Além disso, no que se refere aos resíduos de origem
agroindustrial esta tem sido uma das grandes geradoras de biomassa passível de ser
aproveitada energeticamente.
Neste contexto, o estudo do potencial de geração de biogás com resíduos de
cervejaria tem a finalidade de analisar a viabilidade da utilização do bagaço de malte
para a geração de biogás. A promoção do estudo do potencial aproveitamento
energético deste resíduo vai de encontro com a Política Nacional de Resíduos Sólidos
(PNRS) (BRASIL, 2010) e com o RenovaBio que visa diversificar a matriz energética
nacional valorizando matérias primas regionais e o aproveitamento de biomassa
(BRASIL, 2017).
Portanto o presente estudo busca avaliar o potencial de geração de biogás a
partir da biodigestão anaeróbia de bagaço de malte gerado na produção de cerveja,
por meio do volume de biogás e teor de metano gerado na biodigestão do bagaço de
malte e verificar a influência dos principais parâmetros (pH, nutrientes, sólidos voláteis
e totais) no processo de biodigestão de resíduos desta natureza.

METODOLOGIA
Caracterização do substrato e inóculo

O substrato utilizado no presente estudo foi o bagaço de malte cozido. Para a


caracterização do bagaço, foram efetuadas análises de umidade, pH e sólidos voláteis
(SV), antes e após a biodigestão, de acordo com o Standard Methods for the
Examination of Water and Wastewater (APHA, 1998).
O inóculo foi obtido em uma composteira de resíduos domésticos; a coleta foi
realizada no fundo desta devido ao fato dos microrganismos que promovem a
degradação anaeróbica ficarem mais ao fundo devido a condições favoráveis com
menor concentração de oxigênio.

Teste do Potencial Bioquímico de Metano (BMP) e composição do biogás

O teste de Potencial Bioquímico de Metano (BMP, na abreviatura em inglês)


tem como objetivo gerar estimativas do potencial de geração de biogás a partir de
uma pequena amostra de resíduos. A estimativa consiste em quantificar fisicamente

136
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

o biogás produzido pelo método manométrico ou volumétrico em condições mesófilas


(STEINMETZ et al., 2016), relacionando portanto a quantidade de matéria orgânica
adicionada no reator com a quantia de biogás produzido.
O teste foi realizado em escala de bancada em pequenos reatores (Figura 3),
os reatores utilizados foram elaborados com frascos de borossilicato com volume total
de 250 mL, com tampas de nylon, manômetros para monitoramento e válvulas para
descarga e coleta do biogás gerado.

Figura 3. Reator utilizado no teste BMP.

Fonte: Os autores.

Os ensaios de BMP foram divididos em 3 tratamentos (A, B e C) com diferentes


proporções de substrato (bagaço de malte) e inóculo (D), os ensaios foram realizados
em triplicata par os tratamentos C e D, e em duplicata para os tratamentos A e B,
devido ao vazamento de dois reatores. As proporções de cada tratamento são
apresentadas na tabela 1.

137
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

Tabela 1. Tratamentos e proporções de bagaço/inoculo a serem avaliados


Tratamento Proporção bagaço/inoculo
A 1/1
B 2/1
C Apenas bagaço de malte
D Apenas inoculo

O teor de umidade em todos os tratamentos foi fixado em 90% e o pH foi


mantido próximo da neutralidade, considerando que, valores de pH abaixo de 6,0-6,5
inibem a atividade das bactérias metanogênicas (ESPOSITO et al., 2012). Além do
controle da umidade e pH, a temperatura foi mantida em 33ºC, garantindo condições
mesófilas nos reatores onde o rendimento da geração de biogás por massa
adicionada ao reator é maior (SANTOS FILHO et al, 2020).
Após a adição dos tratamentos e vedação dos reatores foi realizada uma
recirculação com uma corrente de N2 (gás inerte) no “headspace” de 150 mL dos
frascos durante 30 segundos, a fim de garantir a anaerobiose do meio.
A geração de biogás era monitorada diariamente (sempre às 18h), a fim
relacionar com os dados de pressão atmosférica no município de Irati-PR, coletados
no mesmo horário pela estação meteorológica convencional do município e
divulgados no site do INMET (Instituto Nacional de Meteorologia). A partir dos dados
de pressão atmosférica e pressão manométrica dos reatores, a pressão foi convertida
em volume de biogás gerado em cada biodigestor.
A concentração de metano no biogás foi determinada com o analisador portátil
de gases Columbus, da Columbus Instuments (EUA). As amostras eram coletadas
após a geração de um volume significativo de biogás, as coletas de amostras ocorriam
com uma seringa de 60 mL, o conteúdo da seringa era injetado no amostrador e no
final de cada amostragem; com outra seringa injetava-se 60 mL de ar atmosférico, a
fim de efetuar a limpeza do amostrador do analisador de gases e evitar a
contaminação entre as medições.
O volume de metano gerado foi obtido pela multiplicação do percentual de
metano medido no amostrador e o volume total de biogás gerado no período; no final
do ensaio foi efetuado a soma de todos os volumes de metano gerado em cada
biodigestor afim de obter o volume total de metano gerado.

138
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Caracterização do substrato e inóculo

O quadro 1 apresenta a caracterização dos tratamentos pré e pós ensaio


quanto a pH, Teor de umidade e sólidos voláteis (SV).

Quadro 1. Caracterização dos tratamentos pré e pós ensaio de biodigestão anaeróbica.


Tratamento A Tratamento B Tratamento C Tratamento D
pH pré-ensaio 6,89 6,85 7,02 6,8
pH pós-ensaio 6,8 6,69 6,95 6,74
Redução pH 0,09 0,16 0,07 0,06
Teor de umidade
90 90 90 90
(%) pré-ensaio
Teor de umidade
89,7 89,8 89,8 89,9
(%) pós-ensaio
Sólidos voláteis
24955,57289 21139,42249 34355,88972 34124,96269
pré-ensaio (mg/L)
Sólidos voláteis
24453,59383 20806,5182 33053,30774 33777,19079
pós-ensaio (mg/L)
Redução Sólidos
501,9790642 332,9042912 1302,581982 347,7719079
Voláteis (mg/L)

Percentual de
redução de sólidos 2,01 1,57 3,79 1,02
voláteis (%)

A temperatura em todos os tratamentos foi mantida em 33ºC, o pH inicial foi


mantido próximo a neutralidade 6,8 a 7,02, considerando que a neutralidade é
favorável para a geração de biogás (CHEN; CHENG; CREAMER, 2008), a maioria
dos organismos metanogênicos desenvolvem-se no pH entre 6,7 a 7,5 e o pH abaixo
de 6,5 inibe a atividade metanogênica no meio ((MANONMANI et al., 2017;
ESPOSITO et al., 2012). O tratamento C apresentou o pH ao final dos ensaios mais
próximo da neutralidade (6,95) e o tratamento A (6,8) o segundo pH mais próximo das
condições mesófilas, e de fato favoreceu a geração de metano em ambos tratamentos
(Tabela 3).
Os tratamentos A e C tiveram os maiores percentuais de redução dos sólidos
voláteis, esses sólidos referem-se à matéria orgânica presente no substrato passível
de degradação, atuando como fonte de matéria prima para as bactérias
metanogênicas (OLIVEIRA, 2006).

139
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

Teste do Potencial Bioquímico de Metano (BMP) e composição do biogás

A figura 4 apresenta a taxa de geração diária (NmL/g resíduo seco) e o volume


acumulado, todos os tratamentos tiveram a taxa de geração diária e volume
acumulado subtraídos do inóculo.

Figura 4. Taxa de geração diária e volume acumulado de biogás.

Fonte: Os autores.

Para os tratamentos A e B, as maiores taxas de geração diária média foram


obtidas pelo tratamento C no quarto dia de experimento (34,18 NmL/g resíduo seco) Os
percentuais médios de metano para cada tratamento são apresentados no quadro 2.

Quadro 2. Percentual de metano (CH4) obtido em cada tratamento


Percentual de CH4
(%) Volume de CH4 (NL)
Tratamento A 43,0 0,61
Tratamento B 23,8 0,20
Tratamento C 23,7 0,69

140
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

Apesar de o tratamento C ter a maior taxa de geração média diária de biogás e


maior volume acumulado, este tratamento apresentou a menor porcentagem de
metano na composição do biogás e um percentual de metano 1,8 vezes menor que o
tratamento A, isso se deve à ausência no inóculo no tratamento C, deixando o
substrato suscetível a outros microrganismos, como o caso de leveduras selvagens e
que aproveitam as características favoráveis do bagaço de malte como sacarose,
maltose e amido residuais (MUSSATTO; DRAGONE; ROBERTO, 2006) para o seu
crescimento, promovendo a fermentação alcóolica do meio, gerando assim um grande
volume de CO2, porém com baixo teor de metano, já que pode haver a inibição da
atividade de microrganismos metanogênicos por diversos meios, dentre eles a
acidificação do substrato e a presença de etanol sintetizado pelos levedos, além da
inibição por esgotamento de nutrientes.
O tratamento mais eficiente em termos de percentual de metano foi o
tratamento A (bagaço/inóculo 1:1), com o percentual de metano de 43%, os demais
tratamentos com menor proporção ou ausência de inóculo, obtiveram percentuais de
metano muito inferiores, 23,8% para o tratamento B (bagaço/inóculo 2:1) e 23,7% para
o tratamento C (apenas bagaço). Isso se deve ao fato da adição do inóculo, promover
um tratamento anaeróbio mais eficiente e concentrações de inóculo próximas a
proporção 1:1 podem otimizar a produção de biogás (NEVES; OLIVEIRA; ALVES,
2004), isso se deve ao fato que o inóculo é responsável por fornecer microrganismos
degradadores com capacidade metanogênica ao biodigestor (OLIVEIRA et al.,2012).
Considerando os percentuais de metano gerado, o biogás gerado pelo
tratamento A é o mais eficiente do ponto de vista de aproveitamento energético ao
apresentar a maior quantidade de metano (CH4), composto este de interesse no
biogás e a sua concentração na mistura é diretamente proporcional ao poder calorífico
do biogás, característica essa muito relevante para a sua utilização (WALSH et al.,
1989).
Substratos com alto teor de ligninocelulose como o bagaço de malte podem ter
baixa digestão anaeróbica (OLATUNJI; AHMED; OGUNKUNLE, 2022), devido à
presença elevada de bactérias redutoras de sulfato que produzem H 2S que além de
inibir a geração de metano competem com as bactérias metanogênicas pelos
substratos orgânicos e inorgânicos presentes no reator (CHEN; CHENG; CREAMER,
2008).

141
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

Para mitigar essa interferência da lignocelulose na geração de biogás, pode ser


empregado um pré-tratamento, seja biológico, físico e/ou químico. Esses tratamentos
visam a quebra das fibras do bagaço (PRATIMA, 2016), aumentando por
consequência quantia de sólidos voláteis e como estes servem como matéria prima
para as bactérias metanogênicas (OLIVEIRA, 2006), promove a otimização da
produção de biogás para substratos como o bagaço de malte.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por meio desta pesquisa foi possível concluir que diferentes proporções de
inoculo e substrato podem influenciar a produção de metano durante a biodigestão
anaeróbica, portanto algumas proporções podem otimizar a biodigestão, resultando
em um biogás com maior teor de metano e, consequentemente, maior poder calorífico,
característica essa, relevante para a viabilidade da geração de biogás com o substrato
em questão.
Os tratamentos que apresentaram maior produção de biogás também
demonstraram as maiores reduções nos sólidos voláteis, logo substratos com
elevados teores de sólidos voláteis podem consequentemente produzir elevadas
quantidades de biogás.
Por fim, propõe-se para trabalhos futuros utilizando substratos com elevados
teores de lignocelulose como é o caso do bagaço de malte, realizar um pré-tratamento
de caráter físico, químico ou biológico que promova a quebra das fibras do substrato,
facilitando a biodigestão anaeróbica e otimizando a produção de biogás.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e


Tecnológico (CNPq) pela bolsa de iniciação científica.

REFERÊNCIAS

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Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

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144
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

Capítulo 9
DISCUSSÃO SOBRE O VALOR VENAL DO
IMÓVEL NA ÓTICA DA SUSTENTABILIDADE
João Gabriel de Rezende Correa Pimenta

145
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

DISCUSSÃO SOBRE O VALOR VENAL DO IMÓVEL NA ÓTICA DA


SUSTENTABILIDADE

João Gabriel de Rezende Correa Pimenta


Graduado em Direito pela Faculdade Cesusc. Mestrando em Ciências Jurídicas pela
Univali. Ex-Procurador Jurídico do Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina –
IMA-SC. E-mail: [email protected]

RESUMO
A qualidade de vida e a sustentabilidade do meio ambiente tornaram-
se variáveis de atuação do Estado. Por meio, das normas do Sistema
Tributário, age de maneira a alterar alguns comportamentos por parte
do contribuinte. O IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) é uma
das principais fontes de receita de coleta de tributos dos municípios.
Neste contexto, o presente estudo tem o objetivo de discutir sobre
IPTU aplicado aos bens nas Áreas de Preservação Permanente
(APPs) na ótica da Sustentabilidade. Este estudo bibliográfico explora
a aplicabilidade dessa cobrança indevida realizada pelos municípios.
Dessa forma, o recolhimento indevido do IPTU sobre áreas de
Preservação provoca danos econômicos e de outros tipos aos
contribuintes que não podem dispor de seu imóvel e poderiam
também investir na preservação ambiental o valor gasto com o
pagamento do tributo.
Palavras-chave: Meio Ambiente. IPTU. Sustentabilidade. Direito.
Áreas de Preservação Permanente. APP. Preservação Ambiental.

ABSTRACT
The quality of life and the sustainability of the State's environment
have become variables of action. Through the rules of the Tax System,
it acts in order to change behavior on the part of the taxpayer. The
IPTU (Urban Property and Territorial Law) is one of the main sources
of revenue from municipal taxes. In this context, the present study
aims to challenge the IPTU applied to assets in Permanent
Preservation Areas (APPs) from the perspective of Sustainable Law.
This bibliographic study explores the applicability of this charge made
by the municipalities. In this way, the improper reception of the IPTU
of preservation can also invest in its tribute and invest in preservation
areas that cannot protect the environment and the value also invest in
the tax economy that can protect the environment.
Keywords: Environment. Property Tax Sustainability. Right.
Permanent Preservation Areas. APP. Environmental Preservation.

146
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

1. Introdução

Em 25 de Maio de 2022 celebramos dez anos da vigência da Lei 12.651/2012


(Código Florestal), que foi um marco na legislação brasileira, com a criação de
“ferramentas” como o pagamento ou incentivo a manutenção de Áreas de
Preservação Permanente – APP. Entretanto, até o momento, quando a questão se
trata de arrecadação fiscal, tanto os municípios, como os Estados e a União tratam a
questão da área de APP como uma área plenamente tributável e com isso tributam os
imóveis urbanos inseridos em área de preservação como área passível de uso, sendo
que existe vedação expressa em nossa legislação no sentido de proibir edificação em
área de APP. Está inclusive previsto no Art. 41, I da referida legislação o pagamento
ou incentivo a manutenção de áreas de preservação permanente.
Áreas de Preservação Permanente (APP) são áreas protegidas, cobertas ou
não por vegetação nativa. Elas têm a função ambiental de conservar os recursos
hídricos, a paisagem, o equilíbrio geológico, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna
e flora, resguardar o solo e garantir o bem-estar das populações humanas.
Os Estados ainda são muito tímidos no sentido de criar outros incentivos para
redução de impostos referentes à circulação de mercadorias, que incentivam as boas
práticas ambientais e preservam o meio ambiente e não há incentivos para
investimentos para preservação ambiental, tais como o existente na lei de incentivo a
cultura (Lei Rouanet), que foi criada com a proposta principal de oferecer recursos
financeiros a projetos artísticos com a redução do imposto de renda.
A partir da Conferência de Estocolmo, em 1972, que foi o primeiro evento
organizado pela Organização das Nações Unidas para discutir questões ambientais
de maneira global, tanto o Brasil como as demais nações passaram a reconhecer o
direito a um meio ambiente saudável como direito fundamental do ser humano.
A contenção ao uso da propriedade concernente ao espaço de preservação
constante em parte de imóvel urbano (loteamento) não afasta a incidência do IPTU.
Uma vez que o evento gerador da cobrança continua íntegra, qual seja, a propriedade
localizada na zona urbana do município.
Assim, para o alcance do benefício da isenção tributária municipal acerca do
IPTU sobre imóveis localizados em áreas de APP devem ser destacados os seguintes
aspectos (CARVALHO, 2021): i) lei municipal que concede a isenção; ii) localização
do bem em área de preservação permanente; iii) não impedimento completo do direito

147
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

de propriedade sobre o imóvel; iv) impossibilidade de sua comprovação por meio de


exceção de pré-executividade.
Os aspectos metodológicos que delineiam esta pesquisa partem de um
aprofundamento bibliográfico, tendo como escopo nortear o estudo quanto ao objetivo
proposto. Ademais, a construção do referencial, além de conceituar o tema abordado,
possibilita o pesquisador um esclarecimento maior, podendo o mesmo produzir
conhecimentos por meio das informações disponíveis sobre o tema.
O investimento por parte do Poder Público, por meio da redução de impostos,
permitirá o desenvolvimento sustentável e com isso a redução da poluição, melhoria
da qualidade do ar e consequentemente a redução do número de mortes anuais.
Neste contexto, o objetivo desta pesquisa é verificar a não incidência tributária
em Área de Preservação Permanente (APP), considerando a análise do valor venal
do imóvel.
Com o propósito, então, de se discutir tais aspectos, esse artigo está orientado
pelo seguinte problema: como as ações do poder público com a efetiva redução do
pagamento de impostos podem potencializar práticas sustentáveis com o propósito
de melhorar a qualidade de vida da população?

2. Sustentabilidade aplicada com a redução de impostos para fins de


preservação ambiental

O desenvolvimento global realizado em grande parte de forma insustentável


acabou agravando a crise ambiental de nosso planeta, que somado as crises políticas,
práticas de corrupção, intolerâncias religiosas, falta de ética nas organizações
públicas e privadas, entre tantos outros males do fim do século passado e início desse
século, levou indivíduos, pesquisadores, educadores, governos e organizações a
crerem que a sustentabilidade deve ocupar um lugar central na vida econômica e
social das nações, pois ela tem sido considerada a propulsora de mudanças que
poderão modificar o futuro ambiental, social e econômico do planeta.
Nesse sentido, apesar de existir outros problemas que devam ser enfrentados
por parte das grandes corporações, o papel do poder público ainda é muito tímido no
sentido de promover incentivos a preservação ambiental, que em nosso País podem
existir nos três entes governamentais (União, Estados e Municípios), por meio da
redução de impostos com práticas sustentáveis e quando cobram tributos, que não

148
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

deveriam ser cobrados, neste caso para fins do presente Estudo a não diferenciação
do valor venal do imóvel existente em área de preservação.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) elegeu, em 2019, a poluição do ar e
mudança do clima como um dos dez principais eixos da agenda global, tendo em vista
que a poluição atmosférica é considerada o maior risco ambiental para a saúde
humana. De acordo com a OMS, 9 em cada 10 pessoas no mundo respiram ar
contendo altos níveis de poluentes e 7 milhões de mortes anuais ocorrem em função
da exposição à poluição atmosférica e a redução do investimento para tratamento de
saúde pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
O investimento por parte do Poder Público, por meio da redução de impostos,
permitirá o desenvolvimento sustentável e com isso a redução da poluição, melhoria
da qualidade do ar e consequentemente a redução do número de mortes anuais.
“Ambiente” é um termo muito abrangente. Inclui em seu âmbito uma ampla
variedade de fenômenos. É um termo dinâmico que pode ser usado para descrever
uma área limitada, por um lado, e todo o planeta, por outro. O termo Meio Ambiente
pode ser percebido em diferentes conotações. Existem inúmeras definições do termo
fornecidas por diferentes instrumentos jurídicos nacionais e internacionais.
O Direito Ambiental é um corpo de leis, que é um sistema de estatutos
complexos e interligados, direito comum, tratados, convenções, regulamentos e
políticas que visam proteger o ambiente natural que pode ser afetado, impactado ou
ameaçado pelas atividades humanas.
Algumas leis ambientais regulam a quantidade e a natureza dos impactos das
atividades humanas: por exemplo, estabelecendo níveis permitidos de poluição ou
exigindo licenças para atividades potencialmente prejudiciais. Outras leis ambientais
são de natureza preventiva e buscam avaliar os possíveis impactos antes que as
atividades humanas possam ocorrer.
Sobre a proteção do ambiente Rodrigues (p. 46, 2018) destaca que:

Como todo e qualquer processo evolutivo, a mutação no modo de se


encarar a proteção do meio ambiente é feita de marchas e
contramarchas. Não se pode, assim, identificar, com absoluta
precisão, quando e onde terminaram ou se iniciaram as diversas fases
representativas da maneira como o ser humano encara a proteção do
meio ambiente. Na verdade, esse fenômeno pode ser
metaforicamente descrito como uma mudança no ângulo visual com
que o ser humano enxerga o meio ambiente.

149
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

Nos últimos anos, o Direito Ambiental passou a ser visto como um meio crítico
de promoção do desenvolvimento sustentável. Conceitos de políticas como o princípio
da precaução, participação pública, justiça ambiental e o princípio do poluidor-pagador
informaram muitas reformas de leis ambientais a esse respeito. Tem havido
considerável experimentação na busca de métodos mais eficazes de controle
ambiental além da tradicional regulamentação do estilo comando e controle. Eco
impostos, licenças de emissão negociáveis, normas voluntárias como a ISO 14000 e
acordos negociados são algumas dessas inovações.
Por exemplo, a lei nº 12.651/12 dispõe sobre o Código Florestal Brasileiro, que
dispõe sobre a proteção de vegetação nativa. Sobre este tema Figueiredo (2004,
p.226), destaca:

Áreas de preservação permanente, por sua vez, não admitindo


supressão da vegetação, são também áreas non edificandi. Como
consequência, constituindo-se o imóvel de fulano situado em grande
parte (90%) em APP e APL e, como tal, tendo por característica central
a não admissão de qualquer tipo de intervenção, é por decorrência a
impossibilidade de dispor e utilizar da propriedade em razão da
vedação legal.

Portanto, a lei ambiental é uma mistura complexa de leis federais, estaduais e


locais, regulamentos, escolhas de políticas, ciência e preocupações com a saúde.
Além disso, é uma área dinâmica do direito com mudanças ocorrendo rapidamente. A
pesquisa do direito ambiental exige a consciência de que essa área do direito é mais
do que um conjunto de leis e regulamentos e está em constante mudança.

3. Meio ambiente, Sustentabilidade e Direito

O nosso planeta é prejudicado por problemas ambientais que esgotam os


recursos naturais e prejudicam os meios de subsistência, muitos dos quais são
exacerbados por más práticas industriais. Se deixados sem controle, os problemas
ambientais afetam negativamente os negócios, tanto diretamente quanto em rupturas
na cadeia de suprimentos e indiretamente, como em riscos à saúde que levam à perda
de horas-homem e eficiência.
Conectada à sustentabilidade, temos a expressão Desenvolvimento
Sustentável que visa alcançar um nível mais alto e melhor de desenvolvimento,
considerando as preocupações econômicas, ambientais e sociais. As políticas

150
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

ambientais tradicionais dependiam de regulamentação obrigatória para diminuir a


poluição e reduzir os impactos ambientais causados pela indústria e outras fontes de
poluentes. A legislação é uma ferramenta poderosa para reduzir as emissões para o
ar, a água e o solo e proteger os recursos naturais e os ecossistemas.
Carneiro (2018, s.p.) destaca que:

Todos têm o direito ao meio ambiente saudável, que põe a disposição


os meios necessários a uma vida digna, e para isso, é necessário
construir uma relação de equilibro entre o homem e a natureza,
conforme determina em seu artigo 225, a Constituição Federal: Art.
225- Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

O conceito mencionado pela Constituição, aborda o meio ambiente não


unicamente como bem público, pois não é somente do Estado, porém de todos, a
obrigação de mantê-lo e preservá-lo. Assim, o direito ao meio ambiente está atrelado
ao direito à vida como dito no artigo 225 da Constituição Federal, não se reduzindo
somente ao direito à vida, e à qualidade de vida em um meio ambiente limpo, digno e
preservado.
Deste modo, é imprescindível a implementação de políticas públicas que
favoreçam o desenvolvimento sustentável do país, um exemplo dessas políticas é o
IPTU verde. De acordo com Almança (2020, s.p.):

O IPTU verde consiste na instituição de descontos no valor do IPTU


cobrado dos contribuintes que implementem em seus imóveis
benfeitorias focadas na utilização sustentável dos recursos naturais.
Tais benfeitorias podem ser focadas: na captação e reutilização de
água, na geração de energia, no tratamento de resíduos, no
aproveitamento bioclimático; no uso de materiais provenientes de
fontes naturais renováveis ou recicladas.

O IPTU verde é de caráter municipal, sua aplicação varia segundo a legislação


de cada município. Pois, o desconto depende de uma variedade de medidas
utilizadas, ou seja, as Tecnologias Sustentáveis.
A primeira cidade a adotar o IPTU Verde, foi o município de Guarulhos em São
Paulo, introduzindo o benefício por meio da Lei Ordinária 6.793/2010. Os incentivos
fiscais são previstos no artigo 61 da referida Lei, os descontos variam de 3% a 20%
no valor do IPTU. A condição para tanto é que o proprietário do imóvel comprove a
adoção de duas ou mais medidas ambientais, tais como: sistemas de reuso e

151
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

captação de água, aquecimento hidráulico/elétrico solar, construções com material


amigo do meio ambiente, sistema de energia eólica, telhado verde e separação de
resíduos sólidos (GUARULHOS, 2010).
No município de Camboriú, em Santa Catarina, o IPTU Verde foi instituído pela
Lei nº 2.544/2013, que concede até 12% de desconto no valor do imposto, ao
contribuinte que adote no imóvel, medidas como: sistema de captação de água da
chuva, reuso de água, sistema de aquecimento hidráulico solar e construções com
material sustentável (CAMBORIÚ, 2013).
Na cidade e Florianópolis, o IPTU Verde foi estabelecido a partir do Decreto
Municipal 12.608, no ano de 2014. Este mesmo decreto ainda regula as áreas de
Preservação Permanente e a Conservação de Patrimônios Históricos Tombados.
Outras cidades como Guarulhos, as cidades de Araraquara, Valinhos, São
Carlos e São Vicente, todas em São Paulo, estão utilizando o IPTU verde. Além de
algumas cidades dos estados de(a): Bahia, Santa Catarina, Amazonas, Minas Gerais,
Paraná, Espírito Santo, entre outros.
Dessa forma, o IPTU Verde se mostra uma ferramenta forte na execução da
função social dos tributos, e incentivo à proteção e preservação ao meio ambiente.

4. Direito tributário aplicado as áreas de preservação permanente

Um dos aspectos mais importantes na área do direito tributário são os tributos.


Eles são receitas públicas que consistem em benefícios pecuniários exigidos por uma
Administração pública. Esses tributos são exigidos como resultado da realização do
orçamento ao qual a lei vincula a obrigação de contribuir, com o objetivo principal de
obter receita para a manutenção dos gastos públicos.
Por meio do sistema tributário, as autoridades públicas podem influenciar a
economia. Por exemplo, com o aumento das obrigações fiscais de pagamento pode
“esfriar” ou “desacelerar’ as atividades econômicas em um determinado momento,
retirar dinheiro do mercado. Da mesma maneira que pode ser aumentado ou
diminuindo as obrigações de pagamento.
Os tributos também podem ajudar a proteger outros propósitos constitucionais,
como o direito à saúde ou a integridade física e psicológica. Por exemplo, aumentando
o preço de compra de um produto nos casos em que se estima que o consumo desse
produto não seja desejável.

152
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

Neste contexto o direito tributário é parte do direito financeiro responsável


principalmente pela arrecadação de renda (impostos) para o apoio do Estado e pelo
estudo das relações jurídicas (contribuinte do Estado), que ocorrem como resultado
de referido relacionamento com base na obrigação tributária. O direito financeiro é o
principal responsável pelo estudo de receitas e preparação de despesas. Segundo
essa definição, entende-se por renda pública aqueles os cinco principais aspectos:
i. receita tributária (impostos, contribuições e taxas);
ii. renda dos ativos imobiliários do Estado (aluguel de móveis e imóveis;
em ativos patrimoniais gerais);
iii. os lucros obtidos pelas empresas público;
iv. rendimentos de ativos ou venda de empresas públicas ou
privatizações, etc.; e
v. receita de dívida pública (empréstimos).
Em praticamente todos os países do mundo, o sistema tributário é responsável
por gerar a maior parte da receita necessária para financiar os serviços prestados pelo
Estado. A arrecadação de impostos permite que o Estado cumpra suas obrigações
estabelecidas na Constituição, como garantir o bem comum, fornecer à população os
serviços básicos de que necessita. Para fazer hospitais, estradas, saúde e educação,
o Estado precisa dos impostos arrecadados do contribuinte.
Com relação ao Código Tributário Nacional (CTN) brasileiro, de acordo com
Andrade Filho (2019), apesar de ter sido criado como lei ordinária, alcançou, em razão
de formulação doutrinária e sobretudo da legalidade, o status de lei complementar, e
com essa compostura, até hoje, exerce a função constitucional de norma geral de
direito tributário a que se refere o inciso III do art. 146 da CF de 1988. De tal modo, o
CTN foi admitido pela Constituição Federal de 1988, de acordo com o Ministro Moreira
Alves, por momento do julgamento do Recurso Extraordinário nº 101.084-PR.
De acordo com Harada (2019) e com Lei n. 5.172, de 25 de outubro de 1966
Art. 2º:
O sistema tributário nacional é regido pelo disposto na Emenda Constitucional
nº 18, de 1º de dezembro de 1965, em leis complementares, em resoluções do Senado
Federal e, nos limites das respectivas competências, em leis federais, nas
Constituições e em leis estaduais, e em leis municipais.
O CTN ainda é normativo e está susceptível a mudanças. A primeira se deu em
que uma lei ordinária foi transformada em lei complementar. Com o ocorrido da

153
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

Constituição Federal de 1988, o CTN teve um anova alteração, pois passa a ter
normas características e próprias de leis complementares ao lado de cláusulas que
não adotam esse atributo.
Sobre a Competência Tributária A Lei n. 5.172, de 25 de outubro de 1966
Capítulo I, disposições gerais, prega que (CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL, 2017,
p. 11-12; HARADA, 2019, p. 211-212):

Art. 6º A atribuição constitucional de competência tributária


compreende a competência legislativa plena, ressalvadas as
limitações contidas na Constituição Federal, nas Constituições dos
Estados e nas Leis Orgânicas do Distrito Federal e dos Municípios, e
observado o disposto nesta Lei.
Parágrafo único. Os tributos cuja receita seja distribuída, no todo ou
em parte, a outras pessoas jurídicas de direito público pertencerá à
competência legislativa daquela a que tenham sido atribuídos.
Art. 7º A competência tributária é indelegável, salvo atribuição das
funções de arrecadar ou fiscalizar tributos, ou de executar leis,
serviços, atos ou decisões administrativas em matéria tributária,
conferida por uma pessoa jurídica de direito público a outra, nos
termos do § 3º do artigo 18 da Constituição.
§ 1º A atribuição compreende as garantias e os privilégios processuais
que competem à pessoa jurídica de direito público que a conferir.
§ 2º A atribuição pode ser revogada, a qualquer tempo, por ato
unilateral da pessoa jurídica de direito público que a tenha conferido.
§ 3º Não constitui delegação de competência o cometimento, a
pessoas de direito privado, do encargo ou da função de arrecadar
tributos.
Art. 8º O não-exercício da competência tributária não a defere a
pessoa jurídica de direito público diversa daquela a que a Constituição
a tenha atribuído.

A regra, por melhor que seja, geralmente precisa ser esclarecida e interpretada
para sua aplicação. Outros são vazios ou realmente confusos e precisam da ajuda de
especialistas jurídicos.
No caso específico da legislação tributária devido ao número de regulamentos
e à sua constante ‘renovação’, é necessária a necessidade de especialistas
experientes na busca de um entendimento das questões tributárias abundantes. A
doutrina serve como ponto de referência e reflexão para uma melhor análise da norma,
a experiência de juristas ou jurisconsultos se torna, em muitas passagens, de grande
importância.
Similar a lei tributária, a política fiscal engloba aspectos, funções e objetivos
mais amplos, pois implica não apenas as receitas e despesas do Estado, mas também
o conjunto de ações que o governo adota. Isso como parte de uma política econômica

154
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

(políticas públicas), que buscam alcançar o crescimento do país de maneira ordenada.


Porém, usando a arrecadação (receita) e as despesas como ferramentas para atingir
seus objetivos para o controle da inflação, estabilidade econômica, crescimento do
emprego, etc., usando.
Portanto, a complexidade da regra tributária e seus objetivos, muitas vezes não
permitem um trabalho claro no momento de sua criação e redação. Isso não é
necessariamente devido à escassez de talentos dos responsáveis, mas por causa da
linguagem complexa, usado quando se deseja especificar com precisão excessiva o
que a norma deseja transmitir.

5.Análise do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU)em área de Preservação


Permanente

A Constituição Federal determina que o âmbito do IPTU é a propriedade predial


e territorial urbana, e o Código Civil emite os poderes do dono do imóvel, sendo seu
direito utilizar o bem e desfrutar dele materialmente (demolir, reformar etc.) ou
juridicamente (alienar, gravar, etc.), sendo que nas áreas de Área de Preservação
Permanente nada se pode fazer (ASSOCIAÇÃO DOS NOTÁRIOS E
REGISTRADORES DO BRASIL, 2022).
O IPTU está relacionado ao proveito econômico inerente à propriedade, ao
domínio útil ou a posse do imóvel, conforme redação do Artigo 32 do Código Tributário
Nacional, in verbis (PLANALTO, s.d., s.p):

Art. 32. O imposto, de competência dos Municípios, sobre a


propriedade predial e territorial urbana tem como fato gerador a
propriedade, o domínio útil ou a posse de bem imóvel por natureza ou
por acessão física, como definido na lei civil, localizado na zona urbana
do Município.

Para os efeitos deste imposto, entende-se como zona urbana a definida em lei
municipal, observado o requisito mínimo da existência de melhoramentos indicados
em pelo menos dois dos incisos seguintes, construídos ou mantidos pelo Poder
Público (Planalto, s.d., s.p.):
I. meio-fio ou calçamento, com canalização de águas pluviais;
II. abastecimento de água;
III. sistema de esgotos sanitários;

155
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

IV. rede de iluminação pública, com ou sem posteamento para distribuição


domiciliar;
V. escola primária ou posto de saúde a uma distância máxima de 3 (três)
quilômetros do imóvel considerado.
Conforme disposto na legislação infraconstitucional, constitui fato gerador para
incidência do IPTU o domínio útil ou a posse da propriedade de bem imóvel localizado
em perímetro urbano, ou seja, possui a natureza propter rem em razão de estar ligado
à propriedade, domínio e uso do imóvel. Assim quatro conceitos se destacam:
a) Propriedade: trata-se de instituto jurídico que indica o gozo jurídico pleno de
uso, fruição e disposição do bem imóvel.
b) Domínio útil: é um dos elementos de gozo jurídico da propriedade plena e,
sem se confundir com o “domínio direto” (afeto à substância do bem),
“compreende os direitos de utilização e disposição, inclusive o de alienação,
conferidos ao foreiro, relativamente a prédio enfitêutico”.
c) Posse: deflui do conceito de possuidor, como sendo todo aquele que tem de
fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade
(art. 1.196 do Código Civil); o que não ocorre com o mero detentor, que,
achando-se em relação de dependência para com o outro, conserva a posse
em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas (art. 1.198 do
Código Civil)”.
O artigo 5º, inciso XXIII da Carta Magna estabelece que a propriedade atenda
a sua função social. Igualmente, o Código Civil em seu artigo1.228, § 1º assinala que:
o direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades
econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o
estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio
ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das
águas.

6. Não Incidência tributária em APP

As Áreas de Preservação Permanente (APPs) (Figura 1) foram instituídas pelo


Código Florestal (Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012) e são espaços territoriais
legitimamente protegidos, ambientalmente frágeis e vulneráveis, podendo ser
públicas ou privadas, urbanas ou rurais, cobertas ou não por vegetação nativa.

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Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

Figura 1 – Tipos de APPs

Fonte: https://www.florestativa.com.br/areas-preservacao-permanente-app

Segundo Consultório Jurídico (2019), na Lei Federal nº. 12.651/12, as APPs


são definidas como áreas cobertas ou não por vegetação nativa. Com a função
ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e
a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar
o bem-estar das populações humanas. Sendo descrita em lei ou por ato do Chefe do
Poder Executivo (art. 3º, II e 4º, I a XI – Lei Federal nº. 12.651/12).
Dentre as várias funções ou serviços ambientais oferecidos pelas APP em meio
urbano, destacam-se (SASSON; BRITO, 2019):
 a proteção do solo evitando o acontecimento de desastres ligados ao uso e
ocupação impróprios de encostas e topos de morro;
 a proteção dos corpos d'água, impedindo enchentes, poluição das águas e
obstrução dos rios;
 a conservação da permeabilidade do solo e do regime hídrico, evitando contra
inundações e enxurradas, contribuindo com a recarga de aquíferos e impedindo
o comprometimento do abastecimento público de água em qualidade e em
quantidade;

157
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

 a função ecológica de refúgio para a fauna e de corredores ecológicos que


promovem o fluxo gênico de fauna e flora, principalmente entre áreas verdes
localizadas no perímetro urbano e nas suas proximidades;
 o abrandamento de desequilíbrios climáticos intraurbanos, por exemplo, como
a demasia de aridez, o incômodo térmico e ambiental e o efeito "ilha de calor".
O direito ambiental determina uma administração diferenciada de proteção das
áreas de preservação permanente, o que, por limitar o pleno exercício da propriedade,
afasta a incidência do IPTU (TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E
DOS TERRITÓRIOS, 2018).
O Código Florestal de 1965 para as proposições de APPs em área urbana,
incumbia a instauração destas áreas aos planos diretores e leis de uso do solo, isto é
(PLANALTO, s.p., s.d.):

Art. 4º § 2ºLei Federal nº 4.771/65 – A supressão de vegetação em


área de preservação permanente situada em área urbana, dependerá
de autorização do órgão ambiental competente, desde que o município
possua conselho de meio ambiente com caráter deliberativo e plano
diretor, mediante anuência prévia do órgão ambiental estadual
competente fundamentada em parecer técnico.

Portanto, a conservação das APPs na área citadina permite a valorização da


paisagem e do patrimônio natural e edificado (de valor ecológico, histórico, cultural,
paisagístico e turístico). Esses espaços desempenham funções sociais e educativas,
por exemplo, referentes à disponibilidade de campos esportivos, áreas de lazer e
recreação, contato com os elementos da natureza e educação ambiental.
Consequentemente oferecendo melhor qualidade de vida às populações urbanas, que
representam 84,4% da população do país.

7.Do valor venal do imóvel em APPs

O valor venal é conceituado, segundo Harada (2019, p.243) como: “aquele


preço que seria alcançado em uma operação de compra e venda à vista, em
condições normais do mercado imobiliário, admitindo-se a diferença de até 10% para
mais ou para menos”.
Existe entendimento de que a melhor interpretação do artigo 32 do Código
Tributário Nacional (CTN) seria que o que deve justificar a cobrança do tributo não é
a propriedade em si, mas a possibilidade de uso do imóvel.

158
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

O valor venal não deve ser misturado com preço, visto que não é obrigatório
que o imóvel seja negociado pelo valor indicado no cálculo realizado. A legislação
deve clarificar como se alcança o valor venal desses imóveis. Pois, não pode este ser
criado de uma simples avaliação de mercado, já que o lançamento tributário é um ato
administrativo vinculado. Entende-se que a importância das avaliações é mais
significativa quando utilizadas para impugnar lançamento devido a uma estipulação
exacerbada do valor venal.
Para chegar ao valor venal do imóvel, base de cálculo, se faz necessária a
multiplicação de 04 (quatro) fatores (CONTEÚDO JURÍDICO, 2018, s.p.):
I. dimensões;
II. localização na Planta Genérica de Valores,
III. localização na Planta Genérica de Valores, bem como a sua área
construída, e,
IV. qualificação.
Logo, o cálculo é realizado da seguinte forma:

𝑉 = 𝐴 𝑥 𝑉𝑅 𝑥 𝑃 𝑥 𝑇𝑅

Em que:
V = valor venal do imóvel; A = área da edificação; VR = valor unitário padrão
residencial, de acordo com a Planta de Valores do Município; P = fator posição, varia
conforme a localização do imóvel em relação ao logradouro; TR = fator tipologia
residencial, de acordo com as características construtivas do imóvel, consideradas
assuas reformas, acréscimos e modificações.
A seguir é mostrado, por exemplo, os cálculos de um imóvel nos anos de 2015,
2016 e 2019, localizado no Município de Florianópolis, em que 90% do imóvel está
localizado em APP, sendo que o valor do metro quadrado territorial oscilou conforme
a Figura 2.

159
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

Figura 2 – Exemplo de valor venal do imóvel

Aqui cabe destacar que, não há qualquer base legal para que a municipalidade
possa aumentar o valor venal do metro quadrado do imóvel em uma forma tão
exacerbada, que conforme apresentado, o valor é quase quatro vezes mais caro do
que aquele cobrado nos anos de 2015 e 2016. Assim, Santos (2020, p. 13) destaca
que:

Não se trata de desconsiderar que o IPTU grava a propriedade, mas,


sim, reconhecer que não há incidência do IPTU em áreas de reserva
florestal, pois são várias as vedações impostas legalmente ao bem
jurídico tutelado (áreas protegidas), no que resta em impedimentos de
cobrança da referida exação.

O valor da base de cálculo aferido pelo poder público não é absoluto, haja vista
que o contribuinte tem o direito de se contrapor ao valor. Nesse sentido, a
Municipalidade deveria levar em consideração, para fins da base de cálculo do valor
venal do imóvel, a existência de APP e Área de Preservação com Uso Limitado para
fins de cálculo do valor do Tributo, prestigiando desta forma o incentivo a conversação
do meio ambiente na forma preceituada no Código Florestal.
Haja vista que o contribuinte não usufruirá o direito de propriedade na região
que existir a restrição ambiental. Deste modo, devendo ser observada tal condição,
prevalecendo redução do valor venal do imóvel nos casos em que não seja permitindo
edificações em razão da impossibilidade do uso da área.
Se por exemplo, a área que representa 90% (noventa por cento) do imóvel do
proprietário não é passível de utilização, não sendo possível a utilização desta área
como base de cálculo do valor venal do imóvel deve ser então reduzida o valor do
tributo cobrado.

160
Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

Portanto, a valoração do item referente à área do imóvel (tamanho do terreno)


está diretamente vinculada a sua capacidade construtiva para fins de cálculo do valor
venal do imóvel. Assim, não podendo ser analisada sem levar em consideração as
restrições ambientais na propriedade para fins do valor do tributo a ser efetivamente
cobrado.
No ramo do Direito Público há diversas situações em que o Poder Público
poderia incentivar a preservação ambiental, pois conservar o meio ambiente é
sinônimo da melhoria da qualidade de vida.

8. Considerações Finais

Ao tratarmos a incidência do IPTU sobre as APPs, nos encontramos com uma


característica do Direito Ambiental. Esse ramo jurídico determinou um regime distinto
de proteção das APPs, o que limitou o total exercício do direito de propriedade. Pois
ao analisarmos as várias restrições na utilização do imóvel urbano que representa
uma APP, pois para fins rurais o ITR utiliza como base de cálculo apenas a área
efetivamente utilizada, que pode inclusive gerar um tratamento desigual do imóvel
urbano para o rural, pois o contribuinte que mora em município urbano arca com um
valor maior para pagamento dos impostos.
A proteção das APPs tem como incumbência ambiental o adequado uso dos
recursos hídricos, paisagem, equilíbrio geológico, biodiversidade, facilitação do fluxo
gênico de fauna e flora, proteção do solo e assegurar o bem-estar das populações
humanas (Código Florestal – Lei 12.651/2012, art. 3°, inciso II).
O obstáculo de parcela da propriedade urbana por reconhecimento de área de
preservação permanente, por si só, não acarreta à infração do artigo 32 do CTN, que
aborda o fato causador do tributo.
As alegações principais são: a propriedade abrangida por APP não provoca
diminuição total da propriedade; e que se fosse o caso de exoneração de IPTU nas
referidas áreas deveria haver antecipação legal para tanto, segundo acontece com o
Imposto sobre Propriedade Territorial Rural (ITR).
O assunto sobre as APPs, ainda longe de esgotar, mostra múltiplas outras
discussões. Dessa forma, percebe-se a necessidade de “legalização” entre os
interesses arrecadatórios e o exercício da propriedade dos pagantes que são
detentores de imóveis urbanos situados nestas áreas.

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Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

A Constituição Federal define que o âmbito do IPTU é a propriedade predial e


territorial urbana, e o Código Civil enuncia os poderes do dono do imóvel, sendo seu
direito utilizar o bem e dispor dele materialmente (demolir, reformar, etc.) ou
juridicamente (alienar, gravar, etc.), sendo que nas áreas de APPs nada se pode fazer.
Ferramentas como o IPTU, e demais tributos, que são praticados a favor de
causas ambientais, precisam ter um estudo intenso a fim de oportunizar sua aplicação
e execução no viés do uso das políticas públicas.
Portanto, o ordenamento jurídico permite ao Poder Público impor limitações ao
direito de propriedade. Em contrapartida, é vedado tributar o proprietário que não pode
dispor do bem. Dentro desta pesquisa realizada, verificou-se que imóveis situados em
APPs deve-se calcular o valor venal do tributo municipal tendo como valor econômico
o valor territorial onde efetivamente é possível edificar como uma forma de justiça e
razoabilidade.

Referências

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ordinaria-n-2544-2013-institui-o-programa-de-incentivo-e-desconto-denominado-iptu-
verde-no-ambito-do-municipio-de-camboriu-e-da-outras-providencias>. Acesso em:
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Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

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entre dilemas e possibilidades. Disponível em: <https://direitoambiental.com/areas-
de-presevacao-permanente-urbanas-entre-dilemas-e-possibilidades/>. Acesso em:
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TJDFT. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS


TERRITÓRIOS.Imóvel situado em área de preservação permanente – não
incidência de IPTU. 2018. Disponível em:
<https://www.tjdft.jus.br/consultas/jurisprudencia/informativos/2018/copy_of_informati
vo-de-jurisprudencia-n-383/imovel-situado-em-area-de-preservacao-permanente-
2013-nao-incidencia-de-iptu>. Acesso em: 16 de jul. 2022.

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Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

AUTORES

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Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

Andreia Cristina Furtado


Doutora em Engenharia Química, Universidade Federal da Integração Latino-
americana – UNILA.

Clarisse Silva Vitória


Graduanda em Bacharelado Interdisciplinar em Ciências Ambientais pela
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB.

Cristina Ferreira Assis


Professora Assistente da área de Ensino de História na Universidade Estadual de
Santa Cruz (UESC). Doutorado em Educação (em curso) pela Universidade do Estado
da Bahia (UNEB) na linha: Processos Civilizatórios: Educação, Memória e Pluralidade
Cultural. Mestre em História pela Universidade Estadual de Santa Cruz - UESC (2020),
Mestre em Educação pela Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP (2014) e
licenciada em História pela UFOP (2011). Vinculada: ao Grupo de Estudos História,
Cultura, Educação e Linguagens - GEHCEL na UNEB; ao Grupo de Estudos do
Atlântico e da Diáspora Africana - GPEADA na UESC e ao Núcleo Sociedade, Família
e Escola - NESFE na UFOP. Produziu materiais didáticos para o Ensino de História
na educação básica. Possui experiência como docente na educação básica e no
ensino superior. Realizou pesquisas referentes a: escolarização em camadas
populares e juventudes em situação de vulnerabilidade. Atualmente, vem pesquisando
Livros Didáticos de História, Programa de Ensino, Professores e Intelectuais com
enfoque no Ensino de História e na História da Educação da Bahia.

Danielle Nathally Silva


Bacharel em Ciências Biológicas, formada pela Universidade de Pernambuco (UPE),
com ênfase em Saúde. Mestranda pela Universidade de Pernambuco do Curso de
Gestão em Desenvolvimento Local Sustentável (FCAP/UPE).

Dhully Mariele Dos Santos


Graduando pelo curso de ciências Biológicas no Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia no Pará (IFPA), campus Tucuruí.

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Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

Douglas Luiz Mazur


Mestrando em Engenharia Química, Universidade Tecnológica Federal do Paraná –
UTFPR.

Elismar Garreto Lopes


Graduando pelo curso de ciências Biológicas no Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia no Pará (IFPA), campus Tucuruí.

Gaby Carvalho Alves


Graduada em Licenciatura Plena em Letras Português/Inglês pela Universidade de
Pernambuco - Campus Mata Norte (2012.2)/ Especialista em Docência do Ensino
Superior pela Faculdade Joaquim Nabuco (2016.1)/ Bacharel em Ciências Biológicas
pela Universidade de Pernambuco, ênfase em Saúde e Meio Ambiente - Campus
Santo Amaro (2021.1)/ Mestranda pela Universidade de Pernambuco do Curso de
Gestão em Desenvolvimento Local Sustentável (FCAP/UPE).

Ivonete Terezinha Tremea Plein


Técnica em Assuntos Educacionais – UTFPR. Graduada em Geografia (Licenciatura
Plena) pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (2000). Especialista em
Informática em Educação pela Universidade Federal de Lavras (2004). Mestre em
Educação (Universidad de León - ESP.). Mestre em Geografia (UNIOESTE - 2013).
Doutoranda em Geografia – UNIOESTE.

João Gabriel de Rezende Correa Pimenta


Graduado em Direito pela Faculdade Cesusc. Mestrando em Ciências Jurídicas pela
Univali. Ex-Procurador Jurídico do Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina –
IMA-SC.

Josymar Cleiton Pereira de Barros


Bacharelado em Turismo (2012.1) pela Faculdade Santa Helena (FSH); Pós-
Graduação em Planejamento e Desenvolvimento Sustentável com ênfase em Turismo
e Meio Ambiente (FAFIRE). Mestrando pela Universidade de Pernambuco do Curso
de Gestão em Desenvolvimento Local Sustentável (FCAP/UPE).

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Sustentabilidade em Ação: Ciência e Práticas para um Futuro Verde

Júlio César dos Santos Santana


Graduando em Bacharelado Interdisciplinar em Ciências Ambientais pela
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB.

Kelly Roberta Mazzutti Lübeck


Possui graduação em Matemática pela Universidade Federal de Santa Maria (2002),
mestrado em Matemática pela Universidade Federal de São Carlos (2004) e
doutorado em Matemática pela Universidade Estadual de Campinas (2007).
Atualmente é Professora Associada da Universidade Estadual do Oeste do Paraná -
UNIOESTE, Campus Foz do Iguaçu, no Curso de Bacharelado em Matemática e no
Programa de Pós-Graduação em Ensino (PPGEn). Possui experiência na área de
Matemática e com a formação de Professores de Matemática.

Luã Fábio Nunes da Conceição Santana


Graduando em Bacharelado Interdisciplinar em Ciências Ambientais pela
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB.

Matheus Vitor Diniz Gueri


Doutor em Energia e Sustentabilidade, Universidade Federal da Integração Latino-
americana – UNILA.

Rhadson Rezende Monteiro


Advogador, Professor e Analista. graduado em Direito e em História pela Universidade
Federal de Ouro Preto. Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal do
Espírito Santo. Doutorando em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela rede
PRODEMA na Universidade Estadual de Santa Cruz. Doutorando em Direito pela
Universidade Federal de Santa Catarina.

Rodrigo da Silva Maia


Professor do Ensino Básico, técnico e Tecnológico (EBTT) do instituto Federal de
educação, ciência e tecnologia do Pará (IFPA), campus Tucuruí. Graduado em
Ciências Biológicas, mestre e doutor em ciências ambientais. Especialista em ensino
de língua inglesa.

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Rosineide Fátima Daleaste


Acadêmica regular no programa de Mestrado de Ensino( UNIOESTE/ FOZ DO
IGUAÇU) Graduada em Ciências Biológicas (Licenciatura) pela Faculdade Assis
Gurgacz - Cascavel-PR, Segunda graduação em Pedagogia pela Faculdade de
Tecnologia Machado de Assis-Curitiba-PR, tenho quatro especializações lato sensu,
Pós-Graduação em Educação Ambiental na Universidade Castelo Branco, Pós-
Graduação em Gestão Escolar na Universidade Cidade de São Paulo, Pós-graduação
em Educação do Campo pela Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas-FACISA, Pós-
graduada em Educação Especial e Inclusiva, Faculdade de Educação São Luís-
Jaboticabal-SP. Atualmente, concursada 40h como professora municipal, atuando
como coordenadora pedagógica escolar.

Waldir Nagel Schirmer


Doutor em Engenharia Ambiental, Universidade Estadual do Centro-oeste –
UNICENTRO.

Wellingthon Coelho de Oliveira


Graduando pelo curso de ciências Biológicas no Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia no Pará (IFPA), campus Tucuruí.

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