Multiplos Olhares Publicar
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Ituiutaba, MG
2018
© Gabriela Dambrós, Leonice Aparecida de Fátima Alves Pereira Mourad
2018.
Editor da obra: Mical de Melo Marcelino.
Arte da capa: Anderson Pereira Portuguez.
Créditos da capa: recorte da obra “Povo Brasileiro”(Tarsila do Amaral)
Diagramação: Anderson Ferreira de Azevedo Filho.
E-Books Barlavento
CNPJ: 19614993000110. Prefixo editorial: 68066 / Braço editorial da
Sociedade Cultural e Religiosa Ilè Asé Tobi Babá Olorigbin.
Rua das Orquídeas, 399, Cidade Jardim, CEP 38.307-854, Ituiutaba, MG.
Tel: 55-34-3268.9168
[email protected]
ISBN: 978-85-68066-74-4
Inquietudes
Ana Maria de Oliveira Lopes,
Fabio Nolasco ................................................................... 13
10
O capítulo VII intitulado “História da educação de surdos
no brasil: algumas aproximações”, de autoria de Laionel Mattos
da Silva traz um panorama da Educação de surdos no Brasil, do
Império do Brasil até o presente momento. De como se deu o
início da política educacional, dos avanços e dificuldades da
inclusão da Língua Brasileiras de Sinais – Libras como língua
oficial do povo surdo e o funcionamento de uma Escola pública
voltada para esta política educacional.
O capítulo VIII, de autoria de Kátia Gomes da Silva
Amaro e Maria Henriqueta dos Santos Gomes, intitulado
“Disciplinarização dos corpos, poder e educação”, busca pensar
a constituição do corpo, e as relações de poder que incidem
sobre o mesmo, de sorte que a escola no cenário moderno se
apresenta como um mecanismo de imobilização do ser humano
pelo ser humano através da comunicação que produz efeitos
sobre quem as frequenta e sobre a sociedade escolarizada.
O capítulo IX intitulado “Mulheres, no plural e singulares:
uma cartografia sobre questões de gênero em uma escola
básica” de autoria de Joana Adriana Nunes Martins e Douglas
Casarotto de Oliveira, trata de um ensaio cartográfico composto
por narrativas constituídas tomando-se como base as
experiências da pesquisadora como mulher, educadora e
acadêmica do curso de psicologia, em uma escola de educação
básica, na periferia da cidade de Santa Maria, no estado do Rio
Grande do Sul. Tem como objetivo geral dar visibilidade e
problematizar situações que emergem no cotidiano escolar sob
perspectivas de gênero.
No penúltimo capitulo “Inclusão digital na agricultura
familiar: atividades extensionistas da UERGS-Erechim”, os
autores Zenicleia Angelita Deggerone, Eliziane Franceschi,
Douglas Cenci, Silvia Santin Bordin, Saionara Eliane Salomoni
e Roberto Serena Fontanelli, relatam um projeto de extensão que
11
buscou através da inclusão digital proporcionar aos agricultores
familiares associados ao Sindicato Unificado dos Trabalhadores
na Agricultura Familiar do Alto Uruguai (SUTRAF-AU) – Sede
de Erechim, formação para a utilização das tecnologias de
informação, orientadas para a comunicação e desenvolvimento
das atividades no meio rural.
O último texto dessa coletânea intitulado “Coletivo da
terra: da escola do campo às universidades um percurso
necessário” de autoria de Marinalva Gomes, Werica Mirlen
Duarte Silva, Míriam Elisabete Renner e Elianai Moreira de
Carvalho Oliveira constitui um relato de experiência sobre as
ações desenvolvidas pelo grupo de educadores e educadoras da
escola do campo “Coletivo Da Terra”. Construir um espaço de
discussão com os pares e integrar os conhecimentos adquiridos
com as experiências vividas foi o que balizou a criação do
grupo, que tem por objetivo contribuir para a consolidação de
um espaço de dialogo das práticas educacionais que promovam
o debate sobre modelos educacionais culturalmente pertinentes e
socialmente justos realizadas nas escolas do campo, indígenas e
quilombolas.
Com essa organização, disponibilizamos um conjunto de
reflexões, a partir de áreas do conhecimento distintas, bem como
contextos educacionais diversos.
12
INQUIETUDES
Ana Maria de Oliveira Lopes
Fabio Nolasco
Era uma vez, numa tarde de verão, um casal de velhos
professores aposentados, patriarcas de seu clã, conversavam
olhando para o silencioso grupo familiar, onde cada membro
jazia mergulhado em seu mundo digital. Entre olhares e
expressões faciais de perplexidade e aflição, eis que emerge a
preocupação do casal com as relações dos mais jovens com o
mundo real. O diálogo progrediu e não demorou identificarem
que grande parte da humanidade está com dificuldades de
convivência; de sorrir; de observar o planeta e sua diversidade
de ambientes social e natural; de entender os ciclos,
especialmente os dos alimentos, da geração de sementes até seu
consumo; de se encantar com o bem, o bom e o belo; de
enxergar o outro; de aceitar o diferente; de participar de diálogos
político-filosóficos; de identificar os sons-cheiros-matizes da
casa e do entorno; de se comover com a velhice-doença-dor-
morte...
Essas questões brotavam sobretudo de suas
reminiscências, como de cartas recebidas na juventude, de flores
e cenários observados, de frutos deliciados, de eventos
participados, de rituais vividos...
A prosa ia animadamente entre eles, mas de repente...
raios, trovões e os ruídos de uma chuvarada suplantaram as
palavras. Pararam absortos... As quatro gerações da família
presentes se agitaram. Lentamente, cada um foi largando seu
equipamento e todos passaram a contemplar assustados as
manifestações da natureza. Os quitutes e sucos de frutas ainda
permaneciam intocados sobre a mesa da varanda, mas a agitação
dos elementos conseguiu tirar a todos de suas “bolhas” e trazê-
13
los à realidade. Sofregamente passaram à comilança, surgindo
então uma trégua para entabular um animado diálogo familiar.
Os velhos avós-professores provocaram os mais jovens numa
conversa reflexiva. E assim ficaram, por horas, num aquecido
debate.
Pouco a pouco, entretanto, cada um voltou ao seu
infindável, instigante e individual mundo digital... e o silêncio
voltou a reinar.
Quando os avós, tradicionais humanistas retomaram à
conversa com alguns dos membros menos jovens, foi possível
pontuarem as características gerais das matrizes paradigmáticas
em conflito dentro do clã.
Seriam estes conflitos frutos de uma sociedade em que
escasseia, mas preocupações com o bem, o bom e o belo; com
os direitos das outras formas de vida; com a natureza ou
ambiente natural; com os direitos dos excluídos; com a ética
para além da “legalidade”?
Enfim, seriam frutos da expansão do paradigma neoliberal
no seio das nações?
E o século XXI mal começava.
Os avós ficaram angustiados.
De onde, nos processos educativos da sua família, vieram
os princípios e valores conflitantes? Quanto teria sido sua
responsabilidade? Teriam vindo da família, da escola, da
sociedade local, da igreja, da mídia?
Após prolongado e tenso debate, chegaram a um
consenso: a educação não precisa de uma simples “reforma”,
mas sim de “revolução”. De uma mudança que chegue às raízes,
que seja tão provocante, tão magnética e tão desafiadora quanto
à corrida digital, quanto ao universo imponderável da semiótica
computacional.
Passaram então, por outro lado, a se questionar:
14
Como pode, adultos que não receberam uma educação
humanizante, inclusiva, afetiva... proporcioná-la aos mais
jovens?
Como pode, professores que não dominam conceitos e
nem receberam uma formação humanizante, inclusiva, afetiva...
proporcioná-la aos jovens?
Como pode, os mais velhos, mais amadurecidos, com
alguma formação humanista, revoltarem-se ou cobrarem dos
jovens, posturas mais humanizantes, inclusivas, afetivas?
Como pode, uma comunidade educativa (escolar,
familiar...) mergulhada no paradigma neoliberal, julgar as
gerações mais jovens por viverem alienada e acriticamente, sob
valores que estão levando o planeta ao esgotamento e talvez,
está civilização à sua extinção?
Quem ou quais seriam os responsáveis para fazer a quebra
do paradigma vigente e instaurar um paradigma emergente mais
responsável?
Quando poderá ocorrer um “ponto de mutação” que
consiga superar esta matriz paradigmática excludente e
irresponsável?
Como mudar os valores, os padrões de
comportamento/consumo e a cultura, se não começar pela
educação das crianças?
Em que cenário poderia isso ocorrer?
Ocorrerá “naturalmente”?
Poderia a “ciência & tecnologia convencional”, dar conta
de revolucionar sozinha, seus próprios valores neoliberais?
Poderiam as universidades públicas engendrarem cursos
inclusivos, humanizantes e não-neoliberais, na formação de
professores?
15
Os “delírios” dos mais experientes ou os sonhos dos
jovens poderiam inspirar a academia, a família e os grupos
sociais a repensarem e transmutarem suas práticas educativas?
Após este turbilhão de reflexões, os avós resolveram
proclamar seus delírios como um legado ou, no mínimo, como
provocação às novas gerações de educadores (pais,
professores...).
Como todos sabem, à velhice e aos poetas é
permitido...delirar.
DELÍRIO 01:
A deficiente participação em atividades triviais domésticas
quando criança, afeta o processo educativo de convivência e
autonomia?
DELÍRIO 02:
A precoce imersão num mundo em rede-virtual, associada
ao deficiente estímulo às crianças, para percepção dos ambientes
e cenários domésticos, poderão levar à alienação, solidão e
superficialidade e até a processos sócio patogênicos na vida do
adulto?
DELÍRIO 03:
Como a comunidade educativa pode levar a criança a
desenvolver o sentimento de pertencimento (família, cultura,
lugar...)? Este sentimento seria importante para sua cidadania e
humanização?
DELÍRIO 04:
A falta de participação da criança no sonhar, no planejar,
no executar e no avaliar atividades cotidianas, terá impactos nas
suas convivências da vida adulta?
16
DELÍRIO 05:
A transparência e a participação da criança na
administração de recursos e atividades domésticas, pode
desenvolver jovens e adultos mais resilientes?
DELÍRIO 06:
As formas com as quais o grupo educativo convive com as
diferenças, podem desenvolver crianças, jovens e adultos menos
discriminatórios-preconceituosos e mais solidários-equitativos?
DELÍRIO 07:
O quanto a práxis sócio-política do grupo familiar, à vista
das crianças, contribui no desenvolvimento de práticas de
cidadania, engajamento e responsabilidade nos futuros adultos?
DELÍRIO 08:
A participação dos idosos na vida lúdica-artística-
dionisíaca das crianças, pode auxiliar no processo educativo e
no desenvolvimento de adultos mais plenos e criativos?
DELÍRIO 09:
A participação das crianças nas manifestações de
afetividade e espiritualidade do grupo familiar, pode contribuir
na formação emocional do futuro adulto?
DELÍRIO 10:
A psicosfera do ambiente familiar, com exemplos de
companheirismo, receptividade, cumplicidade e coparticipação,
ajudaria na formação das crianças, levando a se tornarem
adultos leais, fraternos, solidários?
DELÍRIO 11:
Quais as consequências na educação das crianças, dos
exemplos dados pelos mais velhos, como na busca incessante de
17
muitos, em “parecerem” fisicamente mais jovens do que
realente são?
DELÍRIO 12:
Seria um estímulo positivo para a autoestima e para a
educação das crianças, se os adultos reconhecessem não só a
coragem-versatilidade-capacidade dos jovens no uso de aparatos
tecnológicos, mas também seu papel de instrutor e até de
solucionadores práticos de problemas nesta área?
DELÍRIO 13:
Faria falta na vida adulta, a participação na fase infantil,
da convivência com a natureza e com ambientes rurais, quando
é maior sua capacidade desconhecer e memorizar a diversidade,
beleza, singularidade e importância de plantas, animais e ofertas
das paisagens?
DELIRIO 14:
Como pode pais/professores, que pouco dominam os
significados de conceitos da filosofia, psicologia, sociologia,
antropologia e campos afins, poder desenvolver um razoável
autoconhecimento, poder identificar características-habilidades-
potencialidades humanas e poder proporcionar às crianças uma
educação que tenha mais “sentido” e que nos leve à uma
civilização da cultura da paz?
DELIRIO 15:
É possível educamos as crianças naquilo em que não
somos educados?
Ademais, ruge o clássico e geral delírio, que não se pode
calar: “Afinal, quem veio primeiro, o ovo ou a galinha”?
18
Diante do fracasso das religiões neste intento, dos
humanistas do século 20, qual geração assumirá no 21, o papel
de protagonista nesta revolução dos processos educativos?
Qual geração terá coragem de dar o salto para gestar e
instaurar um outro mundo, movido pela utopia humanizante,
mesmo que taxada de “impossível”?
Teria nossa civilização desacreditado ou abandonado as
utopias como motor da evolução sócio-política da educação?
Como mudar o mundo sem que cada um se disponha a
evoluir, a partir de sua interioridade?
Poderá a humanidade instaurar esta revolução na
educação, mantendo a fé inabalável e irrestrita no “mercado”?
Como poderemos contribuir nesta revolução educacional,
se cada um não reconhecer, quebrar e transmutar os seus velhos
e carcomidos paradigmas, matriz dos processos decisórios que
colocam o planeta e civilizações em risco?
19
“A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos,
ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte
corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei.
Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não
deixe de caminhar.”
Eduardo Galeano citando Fernando Birri
Chapada dos Guimarães, MT, Fevereiro de 2018.
20
A MÚSICA COMO RECURSO DIDÁTICO NAS AULAS
DE GEOGRAFIA
Bruna Brentano
Gustavo Argenta
Introdução
21
Neste capítulo é descrito uma experiência realizada em
uma escola pública no município de Arroio do Meio, Rio
Grande do Sul, em que foi utilizada a música como um recurso
didático para o ensino e aprendizagem das regiões brasileiras na
disciplina de Geografia em turmas de 7º ano do Ensino
Fundamental.
A música está presente no nosso cotidiano e pode ser
significativa quando utilizada nas práticas educativas em sala de
aula. Ressaltamos que a regionalização do Brasil é estudada pela
Geografia e é sentida pelos alunos como um conteúdo distante,
que não faz parte de sua realidade. A música nessa perspectiva,
traz aos educandos a proximidade com o estudo das regiões
brasileiras e manifesta as culturas existentes em nosso país.
Assim, esse capítulo apresenta uma proposta de prática de
ensino através das músicas, com o propósito de contribuir para o
ensino da Geografia e das demais disciplinas curriculares.
Essa prática mostrou-se positiva para o ensino de
Geografia e para o estudo das regiões brasileiras. Alguns
aperfeiçoamentos são necessários para que o professor possa
aproveitar melhor o recurso didático, porém os alunos
mostraram-se satisfeitos com a metodologia da aula e
conseguimos perceber o aprendizado decorrente do uso da
música, o que é o principal motivo da utilização de novos
recursos didáticos.
O Ensino da Geografia
23
fenômenos que vão além do espaço visível. De acordo com
Castellar e Vilhena (2012, p. 7):
24
Os Diferentes Recursos Didáticos
25
memorização dos conteúdos, em que o aluno devia saber os
países e as capitais na ponta da língua. Isso está ultrapassado. O
aluno deve conhecer a realidade que o cerca e saber, de modo
crítico, posicionar-se diante de determinados fatos sociais.
Ressaltamos ainda que para um aluno poder formar um
pensamento crítico, o professor deve despertar nele a apreciação
pela Geografia. É para essa razão que são utilizadas novas
ferramentas de ensino.
Para as turmas dos anos finais do Ensino Fundamental,
essas ferramentas na Geografia, algumas vezes, se resumem a
pesquisas na internet, assistir filmes, vídeos ou documentários,
ler revistas e jornais e outros recursos repetitivos. Na escola
também há outros recursos didáticos, porém são pouco
explorados. Paulo Freire já dizia que não há docência sem
discência, nesse contexto o professor deve se reinventar e
planejar suas aulas afim de torná-las atrativas à compreensão
dos educandos, não apenas transferindo seu conhecimento, mas
dando oportunidade para que o aluno procure o conhecimento,
sendo o professor um mediador.
O uso das tecnologias como laboratório de informática e
projetor de vídeo podem ser ferramentas interessantes ao ensino.
Tornam as aulas dinâmicas e despertam o interesse dos alunos
para a disciplina. Os recursos tecnológicos podem melhorar a
compreensão dos conteúdos se comparado à métodos da
educação tradicional, em que há dificuldade de abstração. Sobre
isso, os PCN’s (1998, p. 141-142) afirmam que:
26
espaciais, formas de organização social, noções de
distâncias e pontos de referências, processos de
transformações, papel das ações humanas nas
transformações do espaço, etc., que favorecem a
aprendizagem significativa dos conhecimentos
geográficos.
27
[...] o trabalho que traz a música como principal
linguagem permite ao professor de Geografia estabelecer
interfaces com diferentes disciplinas, como História,
Língua Portuguesa, Literatura e Artes, dentre outras,
enriquecendo as experiências no desenvolvimento de
novos saberes. Em um país de dimensões continentais, há
muitos ritmos e gêneros musicais que expressam,
regionalmente, as influências dos povos que constituíram
a nação brasileira. A música, ao mesmo tempo em que
reflete a diversidade cultural de um povo, permite um
aprofundamento na compreensão de suas dinâmicas
sociais, econômicas, políticas e territoriais.
28
Utilizando a Música em Sala de Aula como Recurso Didático
29
Quadro 1 – Estilos musicais por regiões brasileiras.
30
Garota De Ipanema - Tom Jobim
Bossa Nova
Águas de Março - Elis Regina
Tá Vendo Aquela Lua - Exaltasamba
Pagode
Buquê de Flores - Thiaguinho
Sudeste
Não Deixe o Samba Morrer -
Samba Alcione
Vou Festejar - Beth Carvalho
Funk Sonhar - MC Gui
Vanera De Chão Batido - Os Serranos
Milonga Maragata - César Oliveira e
Milonga
Sul Rogério Melo
Chote Chote Brasileiro - Os Serranos
Rock Amigo Punk – Ultramen
Org.: ARGENTA, G.; BRENTANO, B. (2018).
31
individualmente com o uso de um computador, entretanto com a
limitação da sala de informática, optou-se pelo auditório para a
reprodução das músicas e da atividade.
Figura1: Primeira página: Mapa das Macrorregiões Brasileiras e as Músicas.
32
conteúdo. Com a reprodução de cada música, os alunos
deveriam escutá-las e associar as letras e os ritmos com a região
que foi selecionado, criando conexão entre os estilos musicais e
as regiões brasileiras.
Figura 2:Páginas secundárias: Mapas das regiões com as respectivas
músicas.
33
Após a realização da atividade no auditório, os alunos
elaboraram, em sala de aula, um relatório sobre a atividade que
havia ocorrido. No relato os alunos contaram, em formas de
textos, tópicos ou frases o que haviam escutado e qual o vínculo
perceberam entre as músicas e as regiões, isto é, se havia algum
instrumento ou algum som que simbolizava algum lugar em
específico. Também descreveram as letras das músicas,
detalhando sobre as formas que cada estilo se utiliza para
expressar frases e sentimentos.
As Análises e Observações Decorrentes da Prática
No decorrer da atividade observamos alguns resultados do
uso da música como recurso didático para tal conteúdo. Os
alunos participaram veemente na aula, relatando se conheciam
ou não as músicas e dependendo dos estilos musicais ou das
obras selecionadas, cantavam e dançavam junto.
A participação dos alunos dessa forma, é fundamental para
seu aprendizado, pois com o empenho dos educandos em
aprender, o papel do professor na sala de aula é de orientar os
alunos a chegar ao conhecimento ideal. Trazer novos recursos
didáticos é uma forma do professor guiar o aluno e demonstrar o
conhecimento que deve ser adquirido.
Realizando primeiramente uma análise através da
percepção e da observação, afirmamos que o recurso didático
teve aceitação pela maior parte dos alunos, já que grande
quantidade dos educandos participou ativamente na aula. Outra
análise realizada é através dos relatórios que os alunos
elaboraram ao final da atividade.
Nos relatos, os alunos descreveram os ritmos que são
encontrados em cada região do Brasil, os instrumentos
utilizados, a forma com que o vocalista canta a música, as letras,
os instrumentos e se conheciam ou não as músicas e os estilos.
34
Anteriormente o professor solicitou o relatório, mas não havia
pedido que fossem inseridas tantas informações, apenas que
deveriam elaborar um texto sobre a atividade realizada. Com
tantas informações, surpreendemo-nos com os resultados, já que
os alunos souberam analisar as músicas e elaborar um texto
levando em consideração cada região.
Alguns alunos fizeram um texto corrido sobre as músicas
reproduzidas e as regiões, outros escreveram sobre cada região
detalhadamente. Julgou-se os resultados como positivo, já que
os alunos conseguiram perceber a conexão existente entre as
músicas e as regiões brasileiras. Sobre cada região foi retirado
um trecho de diferentes alunos para elucidar como os mesmos
relataram essa atividade com a música:
Região Sul:
35
Aluno 2: As músicas falam sobre antigas paixões, sobre
histórias vividas com sofrimento, também fala sobre a paixão
pela viola.
Região Nordeste:
Aluno 1: As músicas da Região Nordeste falam sobre a alegria
e gratidão que as pessoas têm de morar no Brasil. Com certeza
são músicas bem animadas que caracterizam bem a região.
Músicas que particularmente eu gosto bastante.
Aluno 2: Estilo Axé: saxofone, piano, guitarra, bateria. Estilo
Frevo: saxofone, pandeiro e flauta.
Região Sudeste:
Aluno 1: São músicas mais calmas o estilo Bossa Nova, fala
sobre muitas coisas do passado. Funk fala sobre sonhos, sonhar
e não desistir. Pagode é mais animado, fala sobre amor,
danças. Samba é carnaval, é bem animada, é uma tradição para
eles, todo ano eles comemoram o carnaval.
Aluno 2: Suas músicas são bem calmas, o seu estilo é Bossa
Nova, seus instrumentos são o piano e o violão, sua voz é bem
leve. Tem funk com xingamentos e tem funk com violão e sem
xingamentos, tem pagode e sua voz é única.
Região Norte:
Alunos 1: Estilo carimbo fala sobre que a gente dança sozinho.
O estilo indígena fala sobre o amor da música.
Aluno 2: Fala sobre a pureza e o amor pela dança, são músicas
animadas e bem interativas. Música indígenas também fazem
parte da região Norte e falam sobre guerra, disputas e festas.
36
Alguns outros alunos preferiram escrever sobre a
atividade sem dividir por regiões, citando o Brasil como um
todo, isto é, dando significado principalmente a cultura
brasileira do que a divisão das músicas por região. Um aluno
que preferiu escrever um texto não mencionando todas as
regiões e em alguns momentos escrevendo até por estados
relatou que “O Brasil tem culturas diferentes. No Rio Grande do
Sul as músicas são mais calmas e falam mais da região, dos
campos, gado, cavalo, chimarrão, mulher, festas no CTG, bailes
e vestimentas. Já no Centro-Oeste é bem diferente, pois fala das
pessoas e cantos de viola”.
Através da observação na sala de aula e da análise dos
relatórios elaborados pelos alunos, percebemos que os mesmos
criaram relações entre a música e as regiões brasileiras, em
alguns casos relacionando até com os estados. Essa análise nos
mostra algumas das potencialidades da utilização de novos
recursos didáticos em sala de aula, demonstrando que os alunos
querem aprender, porém de maneiras diferentes.
Considerações Finais
37
dos estados e das regiões, como é o caso dos estilos musicais
funk, sertanejo, pagode, entre outros. Esses estilos são tocados
em todas as regiões brasileiras e para realizar a atividade
proposta, o professor tem que cuidar a letra de cada música para
que realmente esteja se referindo as regiões desejadas.
Quando há a possibilidade de inserir diferentes recursos
didáticos em sala de aula, o professor deve se esforçar para
utilizá-lo, pois percebeu-se que utilizando a música, algo
presente no cotidiano de todos os alunos, em sala de aula, já fez
diferença, demonstrando maior interesse dos alunos pela
disciplina. Quando o recurso utilizado é conhecido pelos
educandos, os mesmos sentem-se confortáveis com o
aprendizado, pois conhecem a forma pela qual estão
aprendendo.
Por fim, estudar Geografia pode ser cansativo para os
alunos, principalmente quando ensinamos somente através do
método tradicional, aquele em que o aluno deve realizar cópia
de textos do quadro, utilizar o livro didático e escutar a
exposição dos conteúdos pelo professor. Por isso, é necessário
renovar-se, adequando as atividades com a realidade dos alunos.
Como professores de Geografia, confiamos que utilizar recursos
didáticos diferentes mudam a forma pela qual ensinamos, e é
nessa perspectiva que pensamos ser educadores cada vez
melhores pensando no futuro de nossos alunos.
38
Referências
39
PONTUSCHKA, N. N.; PAGANELLI, T. I.; CACETE N. H.
Para ensinar e aprender Geografia. 3. Ed. São Paulo: Cortez,
2009.
40
PENSAMENTO COMPUTACIONAL NA EDUCAÇÃO
BÁSICA: POSSIBILIDADES DE JOGOS E ATIVIDADES
LÚDICAS
Ricardo Radaelli Meira
Tatiane de Souza Ritter
Introdução
Este artigo apresenta possibilidades de jogos e atividades
lúdicas para a inclusão e desenvolvimento do Pensamento
Computacional no Ensino Fundamental, utilizando atividades
desplugadas e computacionais. O estudo e a escolha das
ferramentas lúdicas e dos jogos visaram introduzir conceitos
computacionais, estimular o desenvolvimento do raciocínio
lógico e do pensamento computacional dos alunos. Tendo como
objetivo geral da pesquisa fornecer uma análise sobre as
potenciais ferramentas a serem utilizadas na disseminação do
pensamento computacional em alunos de ensino fundamental.
Os nativos digitais, ou também conhecidos como as
crianças da atualidade, possuem uma grande facilidade em
manusear e conviver com a tecnologia, mas esta dita facilidade
não inclui o conhecimento sobre o seu funcionamento, desta
forma, Resnick(2015) defende que é necessário se ter fluência
nas novas tecnologias, saber codificar e entender o motivo pelo
qual determinada ação ocorreu, dando a capacidade de
programar, criar e desenvolver projetos, comunicando-se com as
tecnologias emergentes e não apenas acessando redes sociais.
McCue (2016), cita a necessidade de ampliar as
habilidades básicas de leitura e escrita e incluir a tecnologia:
Até as últimas décadas, a educação se concentrava em
três habilidades, leitura, escrita e aritmética. Se as
dominasse, você era considerado uma pessoa instruída,
41
mas agora a tecnologia mudou tudo. Em sua vida
particular, na escola e no trabalho de seus pais, a
tecnologia está em constante uso. E comunicar-se com a
tecnologia exige uma nova habilidade, chamada de
codificação, ou programação de computador. (MCCUE,
2016 p. 07).
Sendo assim, para tornar-se um indivíduo fluente nas
tecnologias emergentes, exige-se a capacidade deste de
compreender os motivos e razões que resultaram em
determinada execução. Entende-se, portanto, que o ensino do
pensamento computacional, bem como dos conceitos de
programação, podem ter seu início na educação básica. Visto
que os benefícios destes conhecimentos seriam aproveitados nas
diversas áreas do conhecimento. Desta forma, justifica-se este
estudo com a apresentação e seleção de ferramentas que
auxiliem o incentivo e estimulem o desenvolvimento do
Pensamento Computacional.
Muitas das atividades e jogos pesquisados apresentam
conceitos do pensamento computacional para resolução de
problemas cotidianos. Sendo proposto o uso de objetos e
atividades para a introdução de regras, condicionais e variáveis,
como as atividades da computação desplugada.
Este trabalho está organizado da seguinte maneira. Na
seção 2 apresenta-se uma breve reflexão a respeito do
Pensamento Computacional, na seção 3 são apresentadas as
atividades e jogos pesquisados e na seção 4 têm-se as
considerações finais.
Pensamento Computacional
A consciência de que a programação de computadores
auxilia no pensar vem de meados da década de 60, quando
Papert (1980) já mencionava sua importância para a construção
42
do conhecimento e o desenvolvimento do pensamento. Nesta
mesma época, dava-se início ao uso da linguagem de
programação "Logo", criada por Papert em conjunto com
Feurzeig, como ferramenta de apoio ao ensino. Esta linguagem
de programação foi defendida por Papert (1980), como sendo
uma ferramenta viável de utilização para a estimulação do que
foi chamado de Powerfull Ideas e Procedural Knowledge. Com
isto, Papert(1980) afirmou que a computação seria capaz de
proporcionar uma maneira de articular o pensamento e,
particularmente, a interação entre o pensar e a aprendizagem.
A introdução do termo “Pensamento Computacional”, ou
Computational Thinking, ocorreu através de um artigo escrito
por Jeannette Wing, em 2006, no qual constam as explicações e
definições básicas sobre o que é o Pensamento Computacional.
O pensamento computacional se baseia nos limites e no poder
de processos de computação, sejam eles executados por um ser
humano ou por uma máquina (WING, 2006).
Wing (2006) também define Pensamento Computacional
como sendo uma representação de habilidades e atitudes, as
quais não estão restritas aos cientistas da computação, mas são
universalmente aplicáveis a qualquer área por qualquer pessoa.
Assim, temos o pensamento computacional como referência a
um conjunto de conceitos, habilidades e práticas da computação,
os quais podem ser aplicados, tanto em atividades do cotidiano,
como nas diversas áreas do conhecimento.
Além de construir vários exemplos de ligação entre ações
do cotidiano e situações computacionais, Wing (2006) diz que o
pensamento computacional não está vinculado unicamente com
a capacidade de programar um computador, mas com a
capacidade de pensar em vários níveis, identificando os
principais pontos de cada um destes níveis. O autor ainda cita
que o pensamento computacional não deve tentar fazer com que
43
as pessoas pensem da mesma forma que um computador, até
porque, computadores são sem imaginação, não sendo capazes
de identificar detalhes para os quais não foram previamente
programados para serem identificados, desta forma, entende-se
que o limite do pensamento de um computador é o limite da
imaginação e conhecimento de seu programador.
Ao se questionar para quem ensinar o Pensamento
Computacional, pesquisadores como Valente, Resnick,
Brackman, Wing entre outros, defendem que o pensamento
computacional deve ser ensinado nas escolas desde as séries
iniciais da Educação Básica, independente da futura profissão
que os alunos irão seguir. Isto não significa que estes autores
não defendam o ensino do pensamento computacional para
qualquer idade, justamente em contraponto, o maior consenso da
comunidade cientifica acerca do tema pensamento
computacional, é que este, deve ser ensinado para toda e
qualquer pessoa, independente de idade ou profissão.
É inegável a transformação da relação dos indivíduos
como sociedade e com suas profissões, fruto da presença das
tecnologias digitais na sociedade contemporânea. Todas as
profissões podem fazer uso e tirar proveitos das facilidades
promovidas pela tecnologia, seja um economista verificando
alterações no mercado mundial ou projetando e simulando
cenários de acordo com suas ideias; ou um médico atualizando-
se ou realizando procedimentos cirúrgicos com o auxílio de
instrumentos computadorizados ou automatizados; um
engenheiro civil ao verificar a resistência da edificação contra
fatores simulados.
Percebe-se assim a importância, de que ocorra o trabalho e
ensino dos conceitos da ciência da computação em propostas
educacionais, visando a iniciação destes o quanto antes, para
que crianças e adolescentes tenham a oportunidade de
44
desenvolver a visão do pensamento computacional. Reforçando,
assim, a necessidade da revisão do ensino atual de softwares de
escritório (editores de texto, planilhas eletrônicas etc.) e sua
substituição por formas de ensino onde o foco seja o
desenvolvimento do pensamento e suas formas de pensar.
A capacidade de criação e execução de um algoritmo pode
ocorrer com ou sem o uso computacional, Nunes (2008) faz
referência ao exemplo da resolução de cálculos matemáticos, os
quais podem ser resolvidos por uma calculadora ou por uma
pessoa, basta que ambos tenham os conhecimentos necessários e
sejam capazes de interpretar todos os passos.
Resnick (2009) ainda afirma que a programação, assim
como o pensamento computacional, auxilia na construção de
habilidades como o raciocínio lógico, pensamento crítico,
capacidade de reconhecer padrões e resolução de problemas,
além de trazer benefícios para diversas matérias do currículo
comum, como matemática e ciências, podendo também, ser
utilizado em diversos problemas do cotidiano.
Para um bom desenvolvimento do pensamento
computacional, não basta que o conteúdo seja apenas
apresentado ao aluno, necessita de uma metodologia
diferenciada, em que a interação e o uso de novas ferramentas
sejam promovidos como forma integradora, com a finalidade de
aumentar o interesse dos alunos, conforme citado em Silva et al
(2016).
Reforçando este entendimento, Papert (1994) relaciona a
ação de educar como o conjunto de ações e situações capazes de
promover e garantir ao estudante, o interesse e a vontade de
permanecer e desenvolver ações que subsidiem o processo de
construção do conhecimento.
Junior (2014) traz à tona um dos pilares da teoria do
construcionismo, reforçando a importância de que o aprendizado
45
deva ocorrer com atividades e ferramentas do interesse do
estudante, já que com isto, adicionando com a possibilidade de
compartilhar o resultado obtido, as chances de tornar o
aprendizado por parte do estudante mais significativo aumentam
consideravelmente.
Jogos e Atividades Lúdicas
A falta de motivação e desinteresse do estudante pode ser
ultrapassada com a diversificação nos métodos de ensino, desta
forma, o uso de atividades e jogos lúdicos, bem como uma
linguagem atraente e a conexão do conteúdo com ações
cotidianas podem auxiliar o educador a manter o interesse do
aluno e com isto, construir o conteúdo de forma facilitada.
Fialho (2008) salienta que o uso de jogos educacionais
promove momentos de ensino-aprendizagem ao apresentarem
atividades que estimulam o prazer e captam a atenção, ao
mesmo tempo em que incentivam a construção do
conhecimento. Ainda, Huizinga (2000) questiona os motivos
pelos quais um jogo de qualquer natureza é capaz de deter de tal
forma a atenção e emoção do espectador, fazendo com que este
vibre, grite e externe suas emoções.
Assim como o brincar é capaz de despertar no indivíduo
uma série de sentimentos e sensações, a teoria construtivista de
Piaget (1978) referência o sujeito como agente ativo no processo
de aprendizagem, sendo que, segundo esta teoria, o
desenvolvimento cognitivo ocorre devido às relações dos
indivíduos com os objetos de conhecimento, sendo que esta
interação deve promover alterações nas estruturas lógicas, em
diferentes níveis e em crescente complexidade.
Pontos importantes sobre ações a serem tomadas por
professores que desejam utilizar jogos em suas atividades são
abordados em Haidt (2000), como proporcionar atividades
46
desafiadoras, onde se procure estimular a reflexão e a descoberta
por parte dos estudantes, fazer uso de metodologias que
privilegiem a estimulação do pensamento e a construção de
esquemas mentais, fazer uso de materiais diversos que
possibilitem o ver, o tocar e o manipular, fazer uso do jogo
como elemento pedagógico, usufruindo-se do interesse natural
que este desperta e disseminar a troca de ideias e
argumentações, bem como a cooperação entre os estudantes.
Em consideração a isto, e embasando-se no relatório
produzido pelo National Research Council (USA National
Research Council, 2011), em 2011, tem-se como atividades
sugeridas para o desenvolvimento do Pensamento
Computacional: a robótica, a produção de narrativas digitais, a
programação e as atividades que não usam tecnologia, como a
computação desplugada.
Desta forma, avaliaram-se atividades onde são trabalhados
os conceitos do Pensamento Computacional, bem como
ferramentas capazes de fazerem conexão com as bases do
pensamento computacional, com e sem o uso do computador.
Diversas foram estas atividades, desde o uso das próprias
contidas no livro base sobre computação desplugada, Computer
Science Unplugged, bem como outras desenvolvidas pela
criatividade dos pesquisadores.
Jogos analógicos e Computação Desplugada
A utilização dos jogos contidos no livro intitulado
Computer Science Unplugged, ou, Computação Desplugada,
estão sendo utilizados por uma vasta quantidade de
pesquisadores. Este livro foi desenvolvido por Bell, Witten e
Fellows, no ano de 2011 e é baseado no ensino dos fundamentos
da Ciência da Computação sem a utilização do computador.
47
Apesar do livro Computer Science Unplugged não
contemplar todo o conteúdo da Ciência da Computação, seus
jogos focam de forma específica alguns dos conceitos
fundamentais. Os exemplos práticos contidos na Computação
Desplugada, são para Silva et al. (2016), a chave principal para
seu sucesso, pois aliam problemas computacionais e objetos
encontrados no mundo real.
O primeiro jogo encontrado no livro Computação
Desplugada visa trabalhar a representação binária, sendo que o
seu desenvolvimento se dá através de um jogo de cartas,
relacionando a carta virada com a face para baixo com o binário
zero e a carta com face virada para cima com o binário um,
tornando o conteúdo transmitido de fácil assimilação por parte
do aluno. São trabalhados nesta atividade os conceitos de
representação de dados computacionais, podendo representar
qualquer número ou letra.
Os cartões binários utilizados são compostos de pontos,
sendo iniciado o primeiro cartão da direita com um ponto e
dobrando o número para o próximo cartão, à esquerda. Com uso
destes cartões é possível à contagem numérica.
As atividades do referido livro, estão dispostas em três
grandes conceitos, Representação de Dados, Algoritmos e
Procedimentos. As atividades de representação de dados têm
como foco as formas utilizadas pelos computadores na sua
representação, tratando temas de armazenamento, coleta e
representação de dados, já as atividades de algoritmos abordam
métodos de ordenação e busca e as atividades de procedimentos
apresentam avançados conceitos, como autômatos, grafos e
linguagens de programação.
As atividades de Representação de Dados contidas no
livro são:
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Números binários: Conforme já apresentado, esta
atividade tem como objetivo à introdução dos conceitos de
representação binária de dados, esta forma de representação, é a
única linguagem entendida por um computador. Por mais que
existam diversas formas e meios de se programar um
computador, no final, tudo transforma-se em 0s e 1s, ou, com
energia e sem energia, assim sendo, qualquer informação acaba
tornando-se binária. O livro apresenta diversas formas de
trabalho com esta representação binária, desde a conversão de
letras e números ao sistema binário, até a forma de
representação e impressão efetuada por máquinas de fax.
Compressão de texto: Esta atividade busca a redução do
tamanho de uma mensagem através da identificação de padrões,
removendo as partes iguais existentes. O exemplo inicial dá-se
com as palavras “aranha arranha”, onde é demonstrado que a
seção “ranha” é repetida em ambas as palavras, podendo ser
substituída por um caractere que passará a ter seu significado,
assim podendo ser construída uma tabela de substituições e
reduzir o tamanho de um texto.
Detecção e Correção de Erros: Esta atividade aborda
uma técnica amplamente utilizada em diversos ambientes, seja
na computação ou fora dela, está presente nos dígitos
verificadores, em cpfs, códigos ISBN, códigos de barra, entre
muitos outros locais, bem como na transmissão de dados
computacionais, visando sempre garantir a confiabilidade de que
o que foi enviado será recebido corretamente. O livro traz um
jogo onde cartas com cores em apenas um de seus lados,
simulam a representação de dados, estas cartas são dispostas em
forma de matriz quadrada, onde deve conter um número par de
cartas com a face colorida para cima em todas as suas linhas e
colunas, é então solicitado a um dos jogadores que não olhe a
49
carta que o outro irá virar, após isto, o primeiro jogador deverá
encontrar a carta que foi virada.
Teorias da Informação: Neste ponto, a atividade do livro
tem como objetivo trabalhar a busca ou ordenação por um dado
ou informação com a execução de poucas perguntas. Ao
exemplo de escolher um número natural entre 1 e 100, pode-se
encontra-lo com 7 palpites, apenas perguntando se o número
escolhido é maior ou menor que a metade do universo de
possibilidades. Isto em computação é associado à busca ou
ordenação de dados, onde pode-se encontrar qualquer valor
dentro de um universo previamente conhecido uma velocidade
muito maior do que se comparada com uma busca sequencial.
Apesar de tratar o assunto de busca de dados, ainda se refere à
primeira parte do livro, associada ao tratamento dos dados.
Já a segunda parte refere-se às atividades de algoritmos,
estas são:
Algoritmos de Busca: A atividade referente a algoritmos
de busca trabalha o jogo da batalha naval, onde se devem
encontrar os navios do oponente. Os conceitos trabalhados são
de busca linear, busca binária e busca por dispersão, ou hashing.
Na busca binária, os navios devem estar ordenados de forma
crescente. Esta atividade procura demonstrar as diferentes
formas de busca realizadas pelo computador, já por sua vez, a
busca linear, tem a necessidade de verificar todas as
possibilidades existentes, sendo assim uma busca muito lenta e
exaustiva, já na busca binária, pode-se utilizar o conceito do
jogo anterior, onde busca-se o meio do universo de
possibilidades e a partir disto, caminha-se para o lado da
solução, caso menor ou maior que o meio. A busca por
dispersão faz uso de uma chave de busca, o que se assemelha
aos dígitos verificadores.
50
Algoritmos de Ordenação: A ordenação de objetos
agrupados por alguma característica em comum é o objetivo
buscado por esta atividade. No caso utilizado, foram dispostos
recipientes contendo água ou areia e solicitada a ordenação por
peso, são apresentadas formas de seleção variadas, entre elas
estão o teste unitário, lento e trabalhoso e o método chamado
QuickSort, este método é comumente utilizado na ordenação de
grandes listas de dados e tem início ao escolher-se um objeto de
forma aleatória e fazendo sua pesagem, deste ponto de partida
compara-se este item com outro aleatório, já realizando sua
ordenação prévia, este procedimento é realizado repetidamente
até que todos os elementos sejam avaliados e a ordenação seja
concluída.
As demais atividades do livro não são relevantes ao
objetivo deste trabalho, pois tratam conceitos de Computação
mais avançados do que o nível visado por esta pesquisa, assim,
não serão abordadas, pois não são compatíveis.
As organizações Code.Org e Programaê disponibilizam
uma série de atividades desplugadas com alto valor estimulante
para diversos públicos, estas atividades estão disponíveis nas
respectivas plataformas das organizações com documentação
textual e também em vídeo. Dentre estas atividades, destaca-se o
trabalho nos pilares do pensamento computacional.
A atividade Construindo o Frankstein foi encontrada no
portal Programaê e é composta por quatro personagens do tipo
monstro, sendo estes divididos em características, tipos de
olhos, tipos de cabeça, tipos de orelhas, tipos de narizes e tipos
de bocas, sendo que cada monstro possui sua característica
própria. O jogo desenvolve-se com a escolha das características
de um personagem por parte dos alunos, com a finalidade de
construir um monstro completo. Como finalização os alunos
devem escrever as características do monstro construído para
51
que os demais reconstruam o respectivo monstro com as
informações dadas.
Esta atividade trabalha vários conceitos do Pensamento
Computacional, além de exigir do aluno o reconhecimento das
características, além disto, pode-se ser ajustada para atender ao
público sem domínio da escrita, sendo que o passo de
desenvolvimento de algoritmo pode ser completamente
reproduzido de forma oral.
Outra atividade fornecida pelas organizações citadas
trabalha com a leitura e a escrita, na atividade de construção de
histórias o aluno é incentivado a identificar os padrões
existentes em 3 histórias semelhantes e remover os pontos
diferentes, assim podendo substitui-los por outros objetos ou
atores, sempre criando um algoritmo que permita a construção
da história independentemente do ator ou objeto escolhido para
ela.
Esta atividade consiste em utilizar os conceitos do
Pensamento Computacional para a resolução de tarefas
cotidianas, o principal conceito utilizado é o conceito de
Algoritmos, uma vez que a atividade exige uma descrição da
sequência de passos necessários para a atingir os objetivos,
como é o caso do exemplo pesquisado, onde foi utilizado o
processo de semear, os alunos foram apresentados a todos os
passos e componentes básicos necessários e auxiliados a
executar a tarefa de semear a terra em um pote e rega-la, após
isto, inicia-se a utilização do conceito de algoritmos, onde é
solicitada a construção de um passo a passo, devendo-se
reproduzir a sequência necessária para a tarefa.
Esta tarefa pode ser continuada e incrementada sugerindo
a resolução de outros problemas, como a troca de uma lâmpada,
ou a troca de um pneu, além de apresentar novas situações,
exigindo-se do aluno um pensamento sobre o cenário solicitado,
52
força que este repense as ferramentas necessárias, como a
capacidade de alcançar o teto para a troca da lâmpada. Também
se têm as possibilidades de aumento de dificuldade ao inserir
condicionais e testes, ao exemplo de, tem-se lâmpada nova? É a
lâmpada que queimou ou há falta de energia elétrica?
A associação com outras matérias é comum durante as
atividades da Code.Org, como é visto no exemplo da atividade
de introdução do pensamento computacional, onde é solicitado
aos alunos que façam a soma de todos os números existentes
entre 1 e 200, de forma mental não ultrapassando a marca de 30
segundos.
Os alunos se surpreendem com o pedido e mal conseguem
assimilar ou desenvolver alguma forma de raciocínio para a
descoberta do resultado, após o tempo limite, o professor da
atividade demonstra que a soma do primeiro número, um, com o
último número, duzentos, do segundo número com o penúltimo
número, do terceiro número com o antepenúltimo número e
assim por diante, sempre resultará em duzentos e um (201),
assim os alunos decompõem o problema e reconhecem o padrão
existente entre eles, em sequência, multiplica-se o número de
vezes que ocorrerá 201, ou seja, a metade do universo inicial de
números, ficando com o problema da resolução de 201 x 100,
sendo fácil para os alunos atingirem o objetivo inicial.
Robô Burro
A atividade denominada Robô Burro, foi encontrada em
Ortiz e Raabe (2016), esta atividade consiste no professor se
fazer passar por um robô com capacidades de interpretação de
comandos limitada, simulando assim o entendimento de um
computador. Os alunos participantes darão então comandos para
que o robô atinja o seu objetivo, este objetivo pode ser, por
exemplo, a chegada a determinado lugar ou alcançar
53
determinado objeto, os alunos podem fazer uso comandos
válidos para o robô, estes comandos devem limitados e
completos, ao exemplo de que vá até a porta não deve ser
atendido, devendo ser substituído por, ande um passo. Após a
ambientação com a experiência, os alunos devem atingir o
objetivo da atividade, além de serem capazes de associar e
vincular as necessidades de instruções com ações diárias.
Torre de Hanói
O jogo Torre de Hanói traz a possibilidade de promover a
compreensão da necessidade de executar uma estratégia para a
resolução do problema enfrentado. A referida ferramenta tem
como regra, a movimentação unitária de peças, nunca deixando
uma peça maior acima de uma menor, fazendo uso das três
hastes o usuário deverá transportar todas as peças de uma haste
para outra no menor número de movimentos possível. A solução
perfeita respeita a regra matemática de 2n – 1, sendo n o número
de discos em uso.
Nota-se a capacidade do jogo Torre de Hanói, de exigir
uma visão geral e um pensamento lógico por parte do jogador,
uma vez que, caso não faça um estudo prévio do efeito de sua
jogada, acabará ele utilizando-se do método de tentativa e erro,
chegando muitas vezes a uma conclusão aceitável, porém não
esperada, ou seja, fazendo uso de um maior número de
movimentos do que o necessário pela perfeita solução.
Blocos Lógicos
Outra atividade não computacional pesquisada foi a
ferramenta chamada Blocos Lógicos, esta ferramenta consiste de
uma série de peças compostas e divididas por características
físicas como espessura, tamanho, forma geométrica e coloração,
sendo elas quadrados, retângulos, triângulos e círculos, grandes
54
e pequenos, finos e grossos, amarelos, azuis e vermelhos. Esta
atividade tem grande utilidade para o progresso do raciocínio
lógico e combinatório, assim como do pensamento
computacional, podendo ser utilizada de forma a introduzir
todos os conceitos dos pilares do pensamento computacional,
bem como a identificação e exclusão de características,
estabelecimento de relações, sequências lógicas, uso de
condicionais, entre outras.
De acordo com Teixeira (2013), o raciocínio combinatório
não é natural ao ser humano, porém ao ser exercitado, melhora
significativamente a resolução de problemas de contagem além
de permitir a seleção, partição ou colocação de objetos, pessoas,
números ou letras, de forma que quando combinados
adequadamente, resultem em ações significativas. Sua
representação pode ser utilizada em diferentes linguagens, de
forma verbal, matemática, gráfica ou por meio de tabelas, com a
finalidade de produzir, expressar ou comunicar ideias,
interpretando intenções e situações.
55
Jogos e Atividades Digitais e o Ensino de Programação
Os jogos digitais vêm sendo explorados como forma e
ferramenta auxiliar no ensino de diversos conhecimentos. Hays
(2005) reforça argumentando que um jogo desenvolvido com a
finalidade educacional tem objetivos, regras e restrições bem
especificas e está focado no contexto a ser ensinado. Neste
sentido, entende-se que nem todos os jogos podem ser utilizados
com finalidade educacional, uma vez que um jogo desenvolvido
para o entretenimento poderá trazer benefícios cognitivos de
forma reduzida para o usuário.
Scaico (2012) cita que já é comum o uso de jogos digitais
para o ensino de programação, porém que estes jogos devem
obedecer a alguns parâmetros e estabelecer uma conexão entre a
dimensão pedagógica e as suas características lúdicas, caso
contrário, corre o risco de tornar-se apenas um mecanismo de
entretenimento.
Entende-se assim, que ao proporcionar ao aluno, a
interação deste com o conteúdo em forma de ferramentas e
objetos e a possibilidade de alteração de cenários e ambientes,
bem como movimentos e atuações sobre os personagens e
objetos, irá torna-lo um agente ativo para que possa entender as
consequências e resultados de suas ações, bem como refletir
sobre elas.
Mesmo que não fazendo uso de programação ou não
atingindo de forma direta os conceitos do pensamento
computacional, muitos jogos de raciocínio lógico podem ser
utilizados neste estudo. O portal Racha Cuca, disponível em:
https://rachacuca.com.br, contém uma grande variedade de
atividades valiosas para o desenvolvimento de um raciocínio
lógico, o que pode auxiliar o pensamento computacional, as
atividades de maior destaque por seu possível vínculo com este
trabalho são o Robox, Cubo Vermelho e Teste do Einstein.
56
Robox
No jogo Robox, disponível em:
https://rachacuca.com.br/raciocinio/robox/, o objetivo é
posicionar as caixas sobre um ponto determinado, o jogo
transcorre dentro de um espaço de movimentação limitada, com
obstáculos e possíveis bloqueios conforme sejam dispostas as
caixas, tendo um robô como personagem principal, este robô
deve posicionar-se próximo das caixas para que sua
movimentação ocorra, sendo ele responsável por empurra-las,
conta também com vários níveis, onde faz necessário que o
usuário pense previamente nas consequências de determinada
movimentação, pois caso as caixas encostem-se às laterais, não
serão possíveis de serem removidas, uma vez que o robô não
conseguirá se posicionar entre a parede e a caixa.
Cubo Vermelho
O jogo do Cubo Vermelho, disponível em:
https://rachacuca.com.br/jogos/cubo-vermelho/, consiste em
movimentar um cubo sobre uma plataforma, tendo como
objetivo fazer passagem em cada um dos pontos pré-definidos,
esta atividade obriga o usuário a pensar antecipadamente nos
movimentos a serem executados, pois, uma vez sobre o local,
este deixará de existir, não sendo possível retornar sobre ele.
Caso o usuário movimente-se sobre um local inexistente, este
perderá o jogo. Esta atividade também conta com diversos
níveis de dificuldade.
Teste do Einstein
A atividade denominada Teste do Einstein está disponível
em: https://rachacuca.com.br/teste-de-einstein/ e conta com uma
tabela com cinco colunas e cinco linhas, sendo cada coluna
57
representada por uma casa, bem como cada linha por uma cor,
nacionalidade, bebida, cigarro e animal pertencente a sua casa.
O jogo tem como objetivo preencher de forma correta todos os
campos, fazendo uso de apenas 4 regras que informam que os
dados como cor da casa, nacionalidade, bebida, cigarro e animal
de estimação do morador não são repetidos. Algumas dicas são
distribuídas, porém, de uma forma que faz com que todas sejam
utilizadas, mas não forneçam a resolução do jogo, fazendo-se
necessário um pensamento crítico sobre estas.
Hora do código e Code.Org
A organização Code.Org, que mantém a Hora do
Código, disponibiliza atividades com diversas variações de
níveis e objetivos, bem como a necessidade de recursos técnicos
e conhecimentos prévios variados, todas as atividades da
plataforma, contam com um auxílio programado e também
como uma rotina a ser realizada inicialmente, também contam
com diversos níveis e construção por blocos.
As atividades relacionadas aos personagens dos
desenhos “Angry Birds” e “Frozen” iniciam-se do ponto mais
básico, fazendo com o que o usuário mova ou vire o
personagem, assim visualizando a execução dos códigos de
forma facilitada e trabalhando os conceitos de condicionais
conforme o avanço nos níveis da atividade.
A maioria das atividades da plataforma faz uso de
programação por blocos de encaixe no estilo quebra cabeça,
com a descrição da ação em cada bloco, assim necessitando o
domínio da leitura por parte do aluno. Como a Code.Org
também incentiva o desenvolvimento de crianças não
alfabetizadas, disponibiliza na plataforma, atividades onde os
blocos de programação são substituídos por figuras sequenciais
58
que apresentam por intermédio de desenhos o resultado
produzido. A atividade “The Foos” é um exemplo disto.
O jogo The Foos, bem como seu ambiente e figuras de
comandos, os quais não necessitam compreensão de letras, pois
são representados com ilustrações do resultado produzido. Nesta
atividade, a representação dos comandos é efetuada por meio de
ilustração, do resultado do comando, bem como o número de
passos necessários. A atividade, conta também com
demonstrações e auxilio nos níveis iniciais, sendo que na
medida em que avança, o usuário é desafiado com novos
comandos e também com a remoção das ajudas, como o
conhecimento prévio do número de comandos necessários para a
resolução, bem como a introdução de variações dos comandos já
conhecidos, como o sentido do movimento, se para a esquerda
ou para a direita, ficando a cargo do usuário esta identificação e
utilização correta.
As atividades apresentadas na plataforma utilizam regras
como forma de regular e conduzir o usuário para desenvolver o
conhecimento correto e desejado, fazem uso de comandos em
diversos níveis, sendo alguns em forma de figuras e ilustrações e
outros mais complexos como blocos de encaixe, no estilo
quebra-cabeça, em que um encaixa no outro, formando uma
sequência.
Scratch
O Scratch é uma linguagem de programação focada em
desenvolver o pensamento criativo e o trabalho em conjunto,
conta com uma comunidade de nível mundial onde é possível
compartilhar mídias interativas desenvolvidas com o software,
como histórias, jogos e animações. O Scratch foi projetado,
desenvolvido e é mantido pelo grupo Lifelong Kindergarten no
59
MIT Media Lab., os dados podem ser consultados em:
https://scratch.mit.edu/parents/
Resnick (2015) defende um modelo espiral para o ensino
do estudante, sendo que este modelo fornece ao aluno a
possibilidade de imaginar, criar, compartilhar e repetir as fases
do projeto, permitindo que seja constantemente melhorado, este
modelo de conhecimento em espiral.
Outro ponto benéfico ao uso do software Scratch,
consiste em sua abrangência e diversidade de oportunidade de
criação de conteúdo, uma vez que conta com muitos recursos e
possibilidades, além de permitir a adição de personagens e
ilustrações para o desenvolvimento de novos enredos e histórias,
deixando aberto para que o usuário explore e desenvolva sua
criatividade, sempre sendo orientado pela forma de programação
de montar e encaixar comandos, não sendo necessário o
conhecimento prévio de comandos e linhas de código escritas de
forma exata, tornado possível assim, que crianças de diversas
idades consigam desenvolver e compartilhar projetos.
Resnick (2015), coordenador do grupo desenvolvedor do
Scratch, defende que o ensino deve ser focado na dinâmica de
aprendizagem de crianças do jardim de infância, de forma que o
aprendiz se focará em projetos que julgue importante. Desta
forma, ao utilizar o software Scratch, Resnick (2015) sugere que
cada aluno desenvolva o seu projeto individual e não seja
limitado a executar apenas o que o professor deseja. Ainda é
citado que o uso da comunidade é extremamente benéfico, pois
pode conectar o aluno com outros indivíduos que tenham o
mesmo interesse, fazendo com que a colaboração seja agradável
para ambos, difundindo assim o trabalho colaborativo, além do
pensamento computacional.
60
Considerações Finais
As diversas atividades e jogos aqui apresentados possuem
grande capacidade de auxiliar o desenvolvimento do
Pensamento Computacional, bem como do raciocínio lógico.
Todas sendo capazes de fornecer ao professor formas diferentes
de trabalho, visando sempre cativar e incentivar os alunos a
participarem e se apropriarem do conteúdo trabalhado.
Um dos principais aspectos identificados nas atividades e
jogos relatados é a capacidade de permitir uma manipulação
variada, tornando o professor capaz de utilizar e avaliar estas
ferramentas conforme necessitar, uma vez que este pode utilizar
estas ferramentas para buscar determinados objetivos
específicos ou dar ênfase a determinado conceito.
A busca por atividades e jogos desplugadas foi dada
visando às necessidades físicas exigidas por estas e na
capacidade comum das escolas em supri-las, desta forma,
atividades que demandam espaço muito grande, ou um grande
número de assistentes foram removidas desta revisão, assim
como os requisitos computacionais foram levados em
consideração, softwares que exigem um conhecimento prévio de
conceitos não focados no Pensamento Computacional de alguma
semântica ou necessitam de um poder computacional muito
elevado também foram desconsiderados.
Vale ressaltar que ao se trabalhar com jogos e atividades
lúdicas abre-se um campo para uma maior participação e
envolvimento dos alunos. Dessa forma, a utilização das
ferramentas apresentadas visa a fornecer ao professor uma série
de possibilidades para abordar o pensamento computacional,
dado a importância do desenvolvimento do mesmo, cabendo ao
professor considerar qual delas pode ser um melhor caminho,
levando em consideração a sua realidade e as temáticas que
deseja abordar.
61
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Educação. V. 10 n. 3, Dezembro, 2012.
SCRATCH. Disponível em https://scratch.mit.edu. Acesso em
15 de Setembro de 2016.
SILVA, Vladimir. Souza, Aryesha. e Moraes, Dyego.
Pensamento Computacional no Ensino de Computação em
63
Escolas: Um relato de Experiências de Estágio em Licenciatura
em Computação em Escolas Públicas. Congresso Regional
sobre Tecnologias na Educação 2016 http://ceur-ws.org/Vol-
1667/CtrlE_2016_AC_paper_55.pdf <acesso em 5 de Janeiro de
2017>.
TEIXEIRA, Paulo J. M., Os Blocos Lógicos e o
Desenvolvimento do Raciocínio Combinatório. XI ENEM 2013,
http://sbem.web1471.kinghost.net/anais/XIENEM/pdf/1661_37
4_ID.pdf <acesso em 07 de Novembro de 2016>.
USA NATIONAL RESEARCH COUNCIL (NRC). Report of a
Workshop of Pedagogical Aspects of Computational Thinking.
Washington, D.C.: The National Academies Press. 2010.
Disponível em: https://www.nap.edu/catalog/13170/report-of-a-
workshop-on-the-pedagogical-aspects-ofcomputational-
thinking. Acesso em: Outubro, 2016.
Wing, J. M. “Computational thinking”. In Communications of
the ACM, v. 49, n. 3, 2006.
64
O USO DAS TECNOLOGIAS GOOGLE NA EDUCAÇÃO
1
Mais do histórico da empresa ver em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Google;
65
vários outros por inúmeros problemas, como infringir direitos
autorais.
Acessando as Ferramentas
No momento que você realiza um pequeno cadastro para
criar uma conta de e-mail, já pode usufruir de diversos
aplicativos tanto para computadores, quanto para dispositivos
móveis, através do sistema operacional Android, pertencente a
Google.
A primeira ferramenta que temos acesso já no cadastro é o
Gmail, que permite troca de e-mails (que são semelhantes às
cartas, mas em um formato digital). Vinculado a eles podem-se
utilizar ferramentas como o Google Drive, Google Docs.,
Google Forms, Agenda, contatos, encurtador de links, Blogger,
Sites Google, Youtube, Google Maps, além de poder contar com
outras ferramentas que não necessitam, propriamente, do
vínculo com o Gmail, como o Google Sky, Google Earth e
Scholar Google. A partir desta apresentação, existe a
necessidade de conhecer essas ferramentas e analisar a melhor
maneira de adequá-las à realidade dos alunos:
Pesquisa Google
66
pode facilitar a pesquisa para trabalhos, ou mesmo a busca por
informações rápidas a fim de tornar a aula mais completa. A
pesquisa do Google busca em links, no corpo de sites e páginas
o conteúdo pesquisado, podem ser utilizados filtros de pesquisa
a fim de refinar e agilizar as buscas, como buscar diretamente
por imagens, vídeos, notícias.
Atualmente esse é o principal “buscador” da internet, e
por consequência, o principal recurso utilizado por alunos para
realizar trabalhos de pesquisa. Portanto, seu uso deve ser
orientado, pois dentro do conteúdo oferecido existem diversos
sites com informações incorretas, mal-intencionadas, repletas de
conteúdo ideológico, que podem tornar uma pesquisa apenas a
reprodução do pensamento de um “autor anônimo”. É
interessante, direcionar as pesquisas dos alunos a sites/blogs de
conteúdo que contenham algum referencial e a autoria. Há
diversos resultados de pesquisa com conteúdo que nem mesmo
deixam disponível o autor do post ou do artigo. Por exemplo:
podemos sugerir um tema de pesquisa histórica orientada, em
que uma parte de grupo fica responsável pelo conceito, outra por
personagens históricos, outra por imagens e uma busca por
citações de autores ou ainda vídeos relacionados.
Entre as ferramentas da Google, existem, ainda, diversos
recursos que se encontram “ocultos”. Entre eles destaco: a
função calculadora, previsão do tempo, conversor de medidas
entre outras funcionalidades que não ficam no portal do Google.
No que tange a artigos acadêmicos, existe uma ferramenta de
busca específica, dentro da pesquisa Google: O Google
Acadêmico (scholar Google), que é uma ferramenta de pesquisa
adequada às necessidades de quem necessita de fontes de
pesquisa vindas de artigos científicos.
67
Utilizando o GMAIL
O Gmail é a primeira ferramenta que temos acesso após o
cadastro na Google. Esta ferramenta nos permite trocar e-mails
(correio eletrônico). Por meio dele é possível encaminhar para
outro contato, ou grupo de contatos, textos, imagens, vídeos,
links entre outros. Este recurso também permite o uso do
Hangout, que funciona como um chat, com um determinado
contato, além de oferecer suporte para vídeo chamadas. Esta
ferramenta é interessante, pois a maioria dos alunos, atualmente,
não usa e-mail como principal aplicativo para se comunicar
informalmente, geralmente utilizam-se de aplicativos de
mensagem instantânea, como o WhatsApp ou Messenger, assim
o e-mail pode manter um caráter mais formal, adequado para
tratar de assuntos referentes à disciplina.
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disponíveis, dentro e fora, do universo da Google, solicitam que
um e-mail seja fornecido.
Acessando os contatos
A partir do Gmail, podemos acessar a funcionalidade de
contatos da Google, que nos permite criar um pequeno registro
de pessoas, como uma agenda telefônica, onde podemos dentro
do cadastro inserir nome, data de nascimento, telefones, e-mails,
links de sites, endereço, foto e anotações pertinentes desse
contato que desejamos salvar.
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No ambiente de sala de aula é interessante fazer o cadastro
nos contatos dos alunos e, a partir deles, criar grupos de e-mails
para facilitar a comunicação entre professor e alunos, além de
utilizar esses dados para, até mesmo, controlar as datas de
aniversários, demonstrando, assim o carinho que o professor tem
pelos alunos.
Os contatos armazenados podem ser exportados para um
arquivo e importados novamente em outra conta de e-mail, se
por alguma ocasião, houver a necessidade de se criar mais um
Gmail ou o atual será desativado, para evitar a perda desses
contatos fazendo esse processo de exportar e importar evitasse
um retrabalho e se mantém esse banco de dados.
Utilizando o GOOGLE DRIVE
70
ao serviço online, é possível desfrutar suas ferramentas e salvar
todo o trabalho que for feito para acessá-lo depois de qualquer
lugar, até mesmo trabalhar simultâneo em um computador ou
celular que utilize o sistema operacional Android, com o
aplicativo do Google Drive instalado e acesso à internet.
Por meio da utilização do Google drive é possível
compartilhar arquivos, como livros, planilhas, textos, imagens,
vídeos, questionários, fazendo, por exemplo, a opção de se
trabalhar apenas com conteúdos digitais, podendo,
paralelamente, trabalhar a consciência ecológica, pois haverá
uma grande diminuição de papel impresso para trabalho em
aula, e se, devidamente configurado, os arquivos
disponibilizados, podem ser convertidos, automaticamente, para
o formato do Google Docs., permitindo edição online e
colaborativa.
O Google Drive pode ser aplicado em sala de aula, da
seguinte maneira: o professor disponibiliza um arquivo
(compartilhado) para os alunos acessarem de suas contas
Google, através de seus Gmails, neste arquivo podem ser
incluídos textos, links ou mesmo vídeos sobre os conteúdos
discutidos, ou que serão tema das aulas, destacando pontos
específicos de pesquisa e leitura e com a integração com o
Google Docs. e o Google Forms, realiza uma atividade de
perguntas e respostas on-line seja por meio do Drive, com
visualização em tempo real das edições, seja no Forms, no
formato de formulário ou mesmo um arquivo enviado por e-mail
ao professor, para revisão e seguinte correção e feedback
(positivo ou não).
71
A ferramenta GOOGLE DOCS
É a ferramenta Office da Google, similar aos mais
conhecidos, fornecidos pela Microsoft, Word (editor de textos),
Excel (planilhas eletrônicas) e Power Point (apresentação de
Slides), o Google Docs. trabalha em sincronia com o Gmail e
Google Drive, pois a partir deles é possível disponibilizar um
link para edição on-line de algum arquivo na nuvem.
73
É um recurso para avaliações e até mesmo para lições de
casa, mais uma vez enfatizando o impacto ambiental da não
utilização de papel e que possibilita fazer uso de maneira
eficiente do tempo que o aluno fica na internet, seja em frente ao
celular, tablete ou computador.
No que tange ao professor, o Google Forms serve, além de
ferramenta para a confecção de questionários (objetivos ou
dissertativos), como uma ferramenta de análise de resultados,
pois dentro da interface de autor do questionário, é possível
visualizar o rendimento, aluno por aluno, ou mesmo gráficos
com um apanhado geral de todas as respostas de uma
determinada amostragem, averiguando assim, sem a necessidade
de cálculos em separado, quais assuntos os alunos estão
encontrando mais dificuldade e até, mesmo realizar pesquisas,
como pesquisas de satisfação, dos próprios alunos para saber se
as atividades estão tendo algum efeito positivo ou negativo
sobre as suas experiências discentes.
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Utilizando os sites GOOGLE
Os sites Google oferecem a possibilidade de criar uma
página na internet que possui uma infinidade de utilidades, e na
sala de aula, o foco é oferecer uma experiência intuitiva, por
meio desta ferramenta, é possível editar páginas relacionadas,
boletins informativos entre outros.
Disponibiliza uma interface leve, é possível inserir
conteúdos escritos e criar tutorial, pois disponibiliza páginas
com diversos links, possui um formato mais simples que o
Blogger.
BLOGGER
É uma ferramenta de criação e edição de blogs.
Inicialmente o Blog era tido como um diário on-line no qual seu
responsável publica histórias, notícias, textos, ideias e imagens.
Podendo liberar a participação de colaboradores que terão
acesso para também publicar no blog. Na atualidade os Blogs
são recursos para criação e divulgação de todo material ou
conteúdo que o autor deseja disponibilizar na web.
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Na educação, os blogs têm sido utilizados para viabilizar
que o professor disponibilize materiais, dicas de leitura e vídeos
que podem ser utilizados nas aulas ou em atividades extraclasse.
Além de estratégia pedagógica, podem ter a função de um
portfólio, em que o aluno registra as atividades conforme o
professor solicita; ou espaço de intercâmbio entre instituições
geograficamente distantes, acerca de um tema em comum; e
ainda, espaço de debate e integração. O Blog se usado em um
formato menos informal pode servir como repositório de
conteúdo, que o professor disponibiliza aos alunos, realizando
assim outra forma de pesquisa orientada, além de poder
autorizar aos alunos contribuir ao blog ou mesmo incentivar a
criação de um por parte dos alunos, o que desperta um
sentimento de autonomia e responsabilidade, pois é a partir de
seu esforço, pesquisa e tempo dedicado ao blog, que o mesmo
terá validade, seja como alguma atividade, seja para referenciar
aos futuros alunos.
Um exemplo de blog como repositório é o
auladehistorianaweb.blogspot.com, que fornece conteúdo da
disciplina de História, separados em diversas categorias, com
links, imagens e, principalmente, referências, onde poderão ser
obtidos os conceitos, trabalhando, assim, a pesquisa com
referencial.
GOOGLE EARTH
É mais uma ferramenta que permite que o usuário mostre
qualquer ponto do mundo com clareza e precisão. Utilizando o
mapa e um poderoso Zoom, é possível viajar, visitando,
monumentos históricos e prédios importantes.
76
Em uma aula sobre os países europeus ou asiáticos, por
exemplo, este recurso pode ser utilizado para visualizar o estado
das principais construções da humanidade como o Coliseu, as
pirâmides entre outras maravilhas do mundo. Portanto, é uma
ferramenta que possibilita aos alunos acesso e contato virtual
com diferentes lugares do mundo acessando monumentos,
obras, museus, cidades e lugares importantes na história
mundial.
GOOGLE SKY
Para que curte estrelas, a Google disponibiliza este
aplicativo, que tem conteúdo um “mapa das estrelas”, a partir
dele podemos contemplar e analisar estrelas, constelações e
planetas, é uma ferramenta capaz de alcançar os alunos devido
ser um tema não tradicional, astronomia, mas que desperta nos
alunos um interesse pelo nosso vasto universo.
77
Explorando O GOOGLE MAPS
A ferramenta Google de mapeamento permite a
visualização por satélite e, até mesmo, uma visão da rua, certo
que um pouco desatualizada, mas nos mostra uma noção visual
do local pretendido, da mesma maneira que o Google Earth nos
permite vislumbrar diversas localidades pelo mundo. Muito
utilizada no dia a dia, pode ser perfeitamente utilizada em um
contexto didático. É ideal para trabalhar, por exemplo, as
grandes civilizações, guerras, esclarecendo que conflitos que
parecem em escala mundial, são, na realidade, bem
concentrados em pontos isolados, mas com consequências de
grande impacto.
GOOGLE GROUPS
A ferramenta Google Groups é uma aplicação, dentro do
Gmail, que permite a criação de uma “sala de discussão”, ou
popularizado pelo termo “fórum”, permite aos membros
vinculados, pelo Gmail, disponibilizar materiais e perguntas aos
membros. A partir dele podemos trabalhar com as dúvidas,
78
exercícios, atividades para os alunos e professores trocarem
experiências.
CHROME WEB STORE
O Chrome web store pode, em um primeiro momento,
soar estranho citar este navegador como ferramenta que possa
ser usada na educação, mas o Chrome Web Store (loja de
aplicativos do Google Chrome), oferece diversos recursos que
podem ser utilizados em sala de aula, sem necessidade de
programas, apenas instalando uma extensão dentro do seu
navegador.
Dentro da Chrome Web Store existe até mesmo uma seção
apenas para ferramentas educacionais, apesar de a grande
maioria das aplicações estarem em inglês, são de fácil instalação
e uso, sendo, na maioria das vezes, intuitiva.
79
desenvolvedores de gráficos, aplicativos de vocabulários, vídeo
aulas, técnicas de digitação, noções de informática entre outros.
GOO.GL
O goo.gl é uma ferramenta simples, porém, muito prática
para divulgação de links e compartilhamentos, basicamente ele
“encurta links”, mas como isso pode ser usado na sala de aula?
Simples, por vezes encontramos e-books (livros digitais), links
de textos, vídeos, imagens, álbuns nas redes sociais, mas os
links são gigantescos, impossível de serem digitados, ou
compartilhados por e-mail, pois muitas vezes são considerados
spans (propagandas), então a melhor solução para isso é encurtá-
lo.
O goog.gl cria um “atalho” com poucos caracteres, por
exemplo o link original assim:
https://www.youtube.com/channel/UCifJA8Bbu54reZhrMN3Vz
Ow, depois de encurtado fica assim: https://goo.gl/egcc5Z,
assim, possibilitando ser copiado e digitado sem problemas.
Outro aspecto interessante é que, uma vez logado na sua
conta Gmail, o link encurtado fica salvo, possibilitando acessá-
lo novamente, caso, por infelicidade, perca as anotações do link
encurtado ou mesmo o original, ou seja, funciona, também,
como uma ferramenta de “backup” para esses links que deseja
lembrar ou compartilhar.
YOUTUBE
O Youtube, atualmente, é o maior agregador de vídeos da
internet, muitas pessoas criam conteúdo, dos mais diversos
temas. O Youtube pode ser atrelado a outras redes sociais com
seu conteúdo sendo compartilhado via blogs, e-mail, links,
aplicativos de smartphones e outros, podendo ser exploradas
80
para meios de divulgação e informação para a dinâmica das
relações sociais.
81
ambiente, já que, mediariam informações dinâmicas e
interativas entre os sujeitos propiciando um maior
envolvimento.
O professor pode, também, disponibilizar vídeo em um
canal com conteúdo ou mesmo atividade para realização à
distância, tornando a lição de casa uma experiência digital e
mais dinâmica e atraente aos olhos dos alunos.
Considerações Finais
Primeiramente, é importante ter em mente que esse tema
não é engessado e imutável. Essas ferramentas tecnológicas
oferecem recursos que podem, ou não, se adequar a diferentes
realidades. A ideia é utilizar estas inúmeras ferramentas para
tornar a sala de aula um ambiente mais atrativo e interessante
aos alunos que vivem nesse mundo da internet. O professor, que
se percebe como guia do aluno na construção do seu
conhecimento, ao se apropriar dessas ferramentas tecnológicas,
apresenta os conteúdos e conhecimentos da realidade e da
humanidade de uma maneira mais estimulante e atrativa, com
uso de recursos tecnológicos, e assim motiva os alunos para
aprendizagens significativas.
Como exemplos do uso dessas ferramentas na prática,
apresento, a seguir, as seguintes sugestões:
Em um primeiro momento, coletar ou, mesmo, criar
contas de Gmail para cada aluno, ou se preferir para cada dupla
ou grupo, mas e-mails individualizados são importantes para
desenvolver a autonomia do aluno, e para que se possa dar
atendimento individualizado, em caso de dívidas.
Em seguida, adicionar esses e-mails nos contatos da conta
do professor, ou conta separada apenas da turma, para melhor
gerenciamento, após isso criar um grupo Google, com esses
Gmails para tirar dúvidas e encaminhar atividades.
82
No momento que for propício, deixar textos e vídeos de
conteúdos no Google Drive principal e compartilhar para os
alunos, sempre bom lembra que nos smartphones que possuem o
sistema operacional Android, é possível acessar todos os
arquivos disponibilizados nos drives vinculados, assim
poupando tempo e recursos, como folhas impressas, é pertinente
ao usar esses recursos enaltecer o impacto ambiental positivo do
não utilizarmos muito papel.
Uma vez disponibilizados os arquivos, dentro do Drive é
possível criar e compartilhar um formulário com uma atividade
de casa ou mesmo uma prova on-line, que permite um rápido
feedback, pois é possível configurar para que o resultado ou
pontuação seja disponibilizado ao concluir o teste, e assim o
professor tem ao seu dispor as estatísticas da turma, podendo se
concentrar nas principais dificuldades da turma.
Como atividade de pesquisa é interessante encaminhar os
alunos ao site principal das pesquisas Google, mas também ao
Google acadêmico (Scholar Google), pois oferecem referências
mais confiáveis, e o trabalho pode ser divido em uma parte
escrita (documental) que pode ser publicada em um blog da
turma, que servirá como base para turmas futuras e para as
apresentações, com auxílio direto do professor, criar um canal
de vídeos no Youtube, pois assim os alunos vão perdendo o
receio de falar na frente de outras pessoas, pois o vídeo te
permite errar, basta fazer a edição, e futuramente trabalhando a
oratória dos alunos para que possam se apresentar ao vivo, seja
na sala de aula, seja em Lives no próprio canal.
É interessante, se a escola possuir uma sala ou laboratório
de informática funcionando, levar os alunos para lá e averiguar
seus níveis de conhecimento no que diz respeito à informática,
suas habilidades e para ter noção de que o que está sendo
cobrado dos alunos é realmente possível de ser feito por eles.
83
Ainda como atividades recorrentes podemos sugerir são
buscas de mapas históricos e uma comparação com suas
condições atuais, que podem ser buscadas no Google Earth ou
Maps, além de, a partir do próprio navegador Chrome, criação
on-line de linhas do tempo interativas, que dentro de uma aula,
apresentação ou vídeo, se tornam muito mais atrativas.
Lembrando que essas ferramentas não são de uso
exclusivo para sala de aula, podendo ser adaptadas para a
organização do próprio professor, para arquivar documentos,
elaborar planilhas, apresentações, provas e atividades, controlar
o rendimento dos alunos e diversificar suas aulas.
Cabe ao professor compreender a realidade da turma, com
humildade e curiosidade, e assim aprender o que os alunos
também têm para oferecer no quesito tecnologias, pois como
nativos digitais que são, possuem diversas experiências e ideias
que por vezes não passa na mente do professor. Em uma visão
humanista da educação, o aluno como protagonista e o professor
como guia, devem trabalhar juntos na construção de
conhecimentos. As ferramentas Google, fornecem os subsídios e
diferentes recursos, basta adequá-los a realidade e usufruir de
cada ferramenta para qualificar os processos de ensino e de
aprendizagem em sala de aula.
84
Referências
85
PRENSKY, March. Nativos Digitais, Imigrantes Digitais. 2001.
Disponível em:
<http://www.colegiongeracao.com.br/novageracao/2_intencoes/
nativos.pdf>. Acesso em: 07 de maio de 2017.
86
OS JOGOS INDÍGENAS E O CURRICULO DO ENSINO
FUNDAMENTAL
Rosemeri Kohler de Carvalho
Hellen Cristina de Souza
Esta comunicação está relacionada aos desdobramentos da
Lei 11.645/08 e trata da inclusão dos conteúdos produzidos e
socializados milenarmente pelos Paresí como um conteúdo
especifico dos componentes curriculares do Ensino
Fundamental. Apresenta a inclusão do Tirimore, um Jogo
Paresí, como conteúdo no componente curricular da Educação
Física para o último ano do Ensino Fundamental na Escola
Estadual Vereador Manuel Marinheiro em Tangará da Serra
MT.
No contexto da Escola Estadual Manuel Marinheiro as
discussões sobre educação e diversidade que tomam o povo
indígena Paresí como referência se dá no Projeto Intercâmbio
Cultural desenvolvido no Ensino Fundamental e com atividades
específicas para o último ano. As atividades relacionadas ao
intercambio também se constituem um tema importante do
planejamento anual do projeto de formação continuada que se
dá no interior da escola com a participação do Centro de
Formação e Atualização dos Profissionais da Educação Básica
CEFAPRO. No contexto deste projeto no ano de 2013 cerca de
100 estudantes matriculados nas escolas das aldeias
participaram juntos do Desfile Cívico comemorativo do
Aniversário da Cidade o que permite afirmar que a discussão
que a escola está propondo toma formas e contextos mais
amplos e pode ser uma evidência de que a materialização do que
propõe a Lei 11.645/08 tem mais chances de se concretizar
quando a inclusão na perspectiva disciplinar que a Lei orienta
passa a ser afirmada como um projeto da escola. O papel da
87
reflexão sobre a diversidade da formação continuada também
precisa superar a perspectiva de informação para uma
perspectiva de análise lançando mão principalmente dos estudos
e pesquisas que permitam aos profissionais da escola um olhar
crítico sobre o projeto de educação escolar que eles
materializam no cotidiano da escola.
Os Paresí são um povo indígena que vive na imensa
chapada que divide as águas das bacias amazônica e platina.
Atualmente eles estão distribuídos em seis municípios da região
oeste de Mato Grosso. Em Tangará da Serra os Paresí vivem em
cerca de 30 aldeias nas Terras Indígenas Paresí e Formoso.
Internamente os Paresí se subdividem em cinco subgrupos
distintos entre eles os Waimare, Kozarini, Kaxiniti. Em
Tangará da Serra parte significativa da população é do sub
grupo Kozarini. Os Paresí são falantes de uma da família
Aruak como os demais povos Aruak ficaram conhecidos na
literatura por serem bons agricultores, ceramistas e exímios
artesãos de bolas coloridas de mangaba.
A visibilidade alcançada pelos Jogos Indígenas no Brasil
promoveu o fantástico jogo de ‘futebol de cabeça’ dos Paresí em
todo o cenário nacional. Os jogos indígenas se tornaram tema
das pesquisas científicas sobre os quais recentemente se tem
produzido uma extensa literatura. No contexto da
implementação da Lei 11 645/08 que orienta a obrigatoriedade
da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena” nos
currículos de todo o sistema educacional a discussão sobre os
jogos indígenas pode contribuir para fortalecer a discussão sobre
a inclusão nos componentes curriculares dos sabres e
conhecimentos relacionados aos povos indígenas.
As atividades pedagógicas do projeto Intercâmbio Cultural
com os Paresí, orientadas e realizadas pelos e estudantes
indígenas e não indígenas puderam contribuir com um
88
importante espaço de reflexão e afirmação dos valores e da
cultura dos Paresí. Do ponto de vista da inclusão no PPP da
escola e no currículo escolar dos saberes produzidos e
socializados milenarmente pelos Paresí, é possível afirmar que
isto representou um avanço importante nos desafios que a escola
enfrenta para alcançar os objetivos da Lei 11 645/08. Este relato
embora se relacione com as demais atividades do projeto, faz
um recorte bastante delimitado para tratar especificamente das
atividades e das contribuições geradas e oportunizadas no
componente curricular da Educação Física.
A discussão que relaciona educação física e diversidade
cultural já aparecia no primeiro texto sobre das orientações
sobre currículo e escola organizada por ciclos publicado pela
SEDUC/MT 2000: Escola Ciclada de Mato Grosso: Novos
Tempos e espaços para ensinar-aprender a sentir, ser e fazer: “A
Educação Física permite que se vivenciem diferentes práticas
corporais advindas das mais diversas manifestações culturais
(p.139). No mesmo parágrafo a discussão já apontava uma
concepção de currículo escolar ancorada não apenas no respeito
e valorização da diversidade cultural e na inclusão e no aceso
dos saberes produzidos e socializados pelos povos indígenas O
texto é bastante explícito:
(...) as danças, os esportes, as lutas, os jogos e as
ginásticas das mais variadas origens étnicas, sociais e
regionais compõe um vasto patrimônio cultural e deve
ser valorizado, conhecido e desfrutado. O acesso a este
conhecimento contribui para a adoção de uma postura
não preconceituosa e não discriminatória diante das
manifestações e expressões dos diferentes grupos étnicos
e sociais (...) e das pessoas que deles fazem parte
(pág.139).
89
Esta discussão sobre currículo e diversidade baseada em
uma perspectiva de aproximação e diálogo com os Paresí já
havia tomado forma no ambiente escolar desde o ano de 2007. O
tema foi um componente específico da discussão da sala do
educador em 2011 e estimulados com a atual discussão sobre a
Lei 11 645/08 o tema da inclusão de saberes indígenas no
currículo escolar tomou forma e a professora de Educação
Física, Rosemeri Kohler de Carvalho decidiu trabalhar com seus
alunos do 3º ciclo, 3ª fase, três modalidades esportivas indígenas
dos Paresí.
Como um conteúdo no componente curricular da
Educação Física o projeto teve como objetivos: Criar espaços de
socialização com os alunos sobre as modalidades esportivas
desenvolvidas pelos índios Paresí da Aldeia do Formoso; Incluir
como conteúdo do componente curricular Educação Física
saberes produzidos e socializados pelos Paresí, povo indígena da
região e contribuir com a atual discussão sobre a Lei 11 645/08
que trata da inclusão de saberes indígenas no currículo escolar e
principalmente para atender as orientações curriculares da
escola organizada por ciclos de formação humana que para a
área específica de Linguagens propõe como um eixo articulador
a formação sociocultural nas diferentes linguagens, no mesmo
eixo um dos descritores é ‘reconhecer a significância da
Cultura Corporal de Movimento para a construção das
diferentes identidades culturais’ (pág.52).
As atividades foram estruturadas a partir de diferentes
fases: primeiramente os alunos foram em busca da pesquisa
bibliográfica e da pesquisa de campo. De posse do material,
dividiu-se em grupos de cinco a seis alunos, ficando os grupos
com o material que tivesse mais afinidade para assim, exibirem
num segundo momento seu trabalho, ao grande grupo, através
de seminário. Para um melhor entendimento das modalidades os
90
grupos também deveriam apresentar uma maquete do trabalho a
ser apresentado (maquete do jogo por eles escolhido).
As atividades escolhidas para serem estudadas foram:
Xikunahity-futebol de cabeça, que é uma espécie
de futebol, o chute só pode ser desferido usando a cabeça, ou
melhor a bola deve ser cabeceada, são dois times, três atletas
para cada lado, como se fosse uma quadra de voleibol, de terra
batida e sem rede. Quando a bola é lançada, como se fosse a
cobrança de um tiro de meta, os atletas ficam em pé para
observar o destino da bola, quando ela bate no solo, eles tentam
tocá-la, lançando-se ao chão. A bola só pode ser tocada com a
cabeça. Ganhará o jogo quem conseguir tocar a bola, fazendo
com que ela ultrapasse a linha de fundo. Essa modalidade é
praticada exclusivamente por homens.
Tihimore -O jogo é disputado com duas bolas de
marmelo verde e o objetivo é tirar as espigas adversárias que se
encontram sobre os paus. É jogado com dois ou quatro atletas de
cada lado, não tem juiz, apenas uma pessoa de cada lado, que
tem a função de verificar se houve toque e fazer a pontuação.
Joga-se em um campo de 10 metros de comprimento por 1
metro de largura, nas duas extremidades são colocados os dois
paus feitos de madeira fixada ao solo e que recebem espigas de
milho. Praticado somente pelas mulheres (geralmente jovens e
adolescentes) do povo Paresí. A prova é disputada entre famílias
ou clãs. É realizada em festas e rituais de iniciação e quando as
crianças recebem os nomes próprios. É semelhante ao jogo de
boliche.
Kapo-kapo– É o nome que os Paresí dão ao jogo
de peteca, também conhecido como o jogo de peteca indígena. É
um esporte tradicional, parece uma espécie de brincadeira e é
praticado somente pelos homens da aldeia, que devem se
colocar frente a frente, em círculo, os índios petequeiros tabelam
91
o objeto no centro da arena quem deixar a peteca cair no chão é
submetido a uma penalidade, que pode ser aplicada tanto pelos
que estão jogando como pelos que estão assistindo ao jogo.
Após terem sido apresentadas em seminário, a professora
sugeriu que as atividades esportivas indígenas fossem colocadas
na prática, e cada grupo deveria adaptá-las para que pudessem
ser praticadas na escola com os outros alunos dos demais ciclos,
e assim, os alunos tiveram um tempo para que isso ocorresse.
As atividades menos complexas foram praticadas em
atividades coletivas, outras apenas foram apresentadas aos
demais ciclos, para que tivessem conhecimento das modalidades
que os Paresí praticavam.
Uma das atividades que mais empolgaram e
entusiasmaram as crianças matriculadas nos anos iniciais foi a
peteca kapokapo, pois além de brincarem também
confeccionaram com palha de milho seca. Os alunos do 2º ciclo
tiveram maior entusiasmo e praticaram o tihimore, que é mais
estimulante e adequado a essa faixa etária.
No mesmo semestre finalizando o ano letivo, os alunos do
final do Ensino Fundamental foram visitar a aldeia Formoso do
povo Paresí e conheceram in loco os aspectos relevantes do
trabalho de pesquisa e das atividades que haviam apresentado e
jogado na escola. Foi muito gratificante, eles levaram as
maquetes dos jogos, apresentaram e explicaram aos estudantes
indígenas como haviam trabalhado e percebido os jogos Paresí.
Os alunos da escola Estadual Manoel Marinheiro também
organizaram uma gincana para este dia na aldeia com atividades
recreativas, jogaram futebol e voleibol, apresentaram uma
pequena peça teatral que alertava sobre os perigos da dengue.
Após as apresentações os alunos foram convidados
juntamente com eles praticarem as atividades esportivas
92
estudadas na sala de aula. O passeio foi finalizado com muito
êxito.
É possível afirmar que o projeto Intercâmbio Cultural com
os Paresí contribuiu para fortalecer na escola espaços de
aprendizagem que reconhecem e valorizam a diversidade étnica
racial e fortaleceu a discussão sobre a Lei 11 645/08 na
perspectiva de contribuir para romper à visão que apenas os
jogos praticados dentro da escola podem se constituir como
referência para as diversas formas de esporte e cultura brasileira.
Mais do que isso o projeto apontou uma alternativa viável e
exitosa de respeito e inclusão dos conteúdos produzidos e
socializados milenarmente pelos Paresí como um conteúdo
especifico dos componentes curriculares.
93
Referências
94
GÊNERO E PROJETOS DE VIDA EM CONTEXTOS DE
PRIVAÇÃO DE LIBERDADE: UMA REFLEXÃO A
PARTIR DA FOTOGRAFIA
Priscila Klein da Silva
Miriam Pires Corrêa de Lacerda
Introdução
Este artigo é um recorte da pesquisa de Mestrado em
Educação que deu origem a dissertação intitulada Registros de
um Sonho: Jovens Mulheres privadas de liberdade fotografando
seus projetos de vida cujo objetivo foi conhecer os projetos de
vida de jovens mulheres que cumprem medida socioeducativa
de privação de liberdade.
A pesquisa teve como cenário o Centro de Atendimento
Socioeducativo Feminino (CASEF). O CASEF é a única
unidade feminina de cumprimento de medida socioeducativa de
privação de liberdade do Rio Grande do Sul.
A metodologia utilizada nesta pesquisa teve caráter
qualitativo (MELUCCI, 2005; BOGDAN & BIKLEN, 1994),
ancorada na abordagem feminista (NOGUEIRA, 2001;
TERRAGNI, 2005; PAIXÃO; EGGERT, 2011; DAVIS, 2016),
utilizando pressupostos metodológicos da pesquisa participante
(BRANDÃO, 1990; BORDA, 1990; DEMO, 1999). Para análise
dos dados utilizamos a hermenêutica feminista (EGGERT, 1999;
PAIXÃO; EGGERT, 2011; CASTRO, 2014). Esse rol
metodológico possibilitou estabelecer uma relação horizontal
com as participantes da pesquisa, o que favoreceu o
estabelecimento de vínculos, o estreitamento da relação de
confiança, além do compromisso em dar visibilidade as suas
histórias, fora da contenção do CASEF.
95
Como recursos metodológicos fizemos uso de um curso de
iniciação à fotografia, da escrita de diários sobre a produção das
fotografias e da observação participante.
O curso de iniciação a fotografia, com duração de 30
horas, foi organizado em duas oficinas semanais com três horas
de duração cada. Para a realização das mesmas, contamos com o
apoio de um educador da rede pública do município de
Alvorada, que apresentou as jovens a técnica e a linguagem
fotográfica. A cada encontro, inicialmente, as jovens
apropriavam-se dos recursos técnicos da arte da fotografia e em
seguida, partiam para o momento prático: o registro fotográfico.
Mas este registro não era aleatório. Ao registrar as imagens, as
gurias3 precisavam relacioná-las com seus projetos de vida,
compreendido, neste estudo, como uma relação entre o passado,
presente e futuro.
Com intuito de fomentar ainda mais essa reflexão e
complementando a mensagem transmitida através da fotografia,
propusemos que cada jovem escrevesse em um diário, contando
a história da imagem produzida.
Ao longo do curso, foram produzidas muitas fotografias.
Algumas delas foram elencadas para a escrita dos diários, que
geraram a exposição fotográfica “Registros de um Sonho”,
apresentada na unidade feminina, o CASEF, e na sede da
Fundação de Atendimento Socioeducativo.
Participaram deste curso 8 Jovens Mulheres, com idade
entre 14 e 18 anos, oriundas de Porto Alegre, Região
Metropolitana e interior do Rio Grande do Sul.
Realizar a pesquisa com Jovens Mulheres nos imbuiu de
um compromisso ético para além das convenções acadêmicas.
Tanto a categoria Juventudes, quanto Gênero, carregam consigo
a responsabilidade política do fazer junto, da escuta e da
3
Termo adotado no Rio Grande do Sul como sinônimo de menina.
96
implicação. Promover a aproximação das jovens com a
fotografia e a autoria, foi a forma que encontramos para que a
academia e a sociedade de maneira geral, escutem o que essas
gurias têm a dizer.
Juventudes e Gênero: Retomando Conceitos
A construção social da categoria juventude se efetivou
principalmente após a Segunda Grande Guerra, devido as
grandes mudanças sociais e culturais que possibilitaram que
as/os jovens se destacassem em razão de obterem uma cultura
própria, com características e manifestações únicas. Antes, a
juventude era somente percebida como uma fase de transição da
infância para a vida adulta, caracterizada principalmente pelo
viés dos conflitos, não sendo necessária uma atenção especial, já
que, como estava associada a um período etário, logo seria
“substituída” pela adultez.
Porém, entendida como um processo, logo se pôde
compreender que a linearidade associada à juventude enquanto
uma passagem para a vida adulta, marcada por rituais, não era
uma regra. Ela variava conforme multifatores presentes no
cotidiano destes sujeitos, que muitas vezes “desordenavam” os
acontecimentos, descaracterizando a perspectiva linear proposta,
ainda hoje, no campo científico.
As discussões em torno do termo juventude, atualmente,
fazem parte de um rol acadêmico considerável, que o caracteriza
como um processo que não é estanque, unívoco, homogêneo, ou
definido somente através de um período etário. Para Dayrell
(2003, p. 42):
Construir uma noção de juventude na perspectiva da
diversidade implica, em primeiro lugar, considerá-la não
mais presa a critérios rígidos, mas sim como parte de um
processo de crescimento mais totalizante, que ganha
97
contornos específicos no conjunto das experiências
vivenciadas pelos indivíduos no seu contexto social.
Significa não entender a juventude como uma etapa com
um fim predeterminado, muito menos como um
momento de preparação que será superado com o chegar
da vida adulta.
Desta forma, optamos por utilizar o termo Juventudes, no
plural, a fim de reforçar a ideia de heterogeneidade que esta
categoria incorpora, uma vez que quando se fala em juventudes,
uma série de fatores são postos em questão, os quais não podem
ser desconsiderados, como: quem são estas4 jovens? Onde
vivem? Do que gostam? Quais são seus projetos de vida?
Nesta grande rede juvenil, composta por possibilidades,
distintas e complementares, é imprescindível tratarmos da
questão de gênero, mais especificamente do lugar que a
juventude feminina tem ocupado neste complexo cenário, ainda
predominantemente marcado por uma sociedade patriarcal e
cada vez mais conservadora, a tal ponto de compreenderem a
categoria gênero, enquanto uma ideologia, que não deve estar
presente no cotidiano escolar5.
Porém, não há como negar que em todo o processo
histórico, mulheres tenham sido caladas, devido ao lugar que
supostamente ocupavam na sociedade. Digo supostamente, pois
atualmente é sabido que muitas mulheres obtiveram lugares
4
A partir deste momento, passamos a referir sempre as jovens. Com tal
providência demarco que, ao longo do texto, estarei me referindo somente às
jovens mulheres e suas lutas políticas.
5
Em tempos como o atual, marcado por iniciativas como o PL Nº 867, de
2015, que busca incluir, entre as diretrizes e bases da educação nacional, o
“Programa Escola se Partido”, por exemplo, que abrange como um dos
princípios a “neutralidade política, ideológica e religiosa do Estado”, é
possível perceber o caráter conservador em muitas ações, e a escola é
bastante visada neste sentido.
98
relevantes em momentos históricos, todavia não revelados nos
escritos ao longo do tempo.
Àquelas que ousaram desafiar o patriarcado6, foram
silenciadas de diversas formas, pois suas vozes traziam à tona
questionamentos que colocavam em xeque os argumentos
utilizados para preservar a dominação masculina. Era um risco
que sacudia a sociedade patriarcal e que precisava ser eliminado.
E por que discutirmos juventudes e gênero? Para
compreendermos o quão heterogênea é a categoria juventudes,
que abrange, neste caso, uma subcategoria, de gênero e que
também poderá subdividir-se, pois quando falamos em gênero,
abre-se possibilidade para versarmos de homens, gays,
transexuais, mulheres, etc. E quando digo mulher, não posso
homogeneizar este termo, visto as multiplicidades de raça,
classe e etnia implícitas nesta palavra.
Pode-se considerar como relações de gênero, uma
categoria que pretende incluir em si mesma, um
complexo conjunto de processos sociais. O gênero, como
categoria analítica e como processo social, é relacional,
isto é, as relações de gênero são processos complexos e
instáveis constituídos por e através de partes inter-
relacionadas e interdependentes, o que significa que cada
parte não tem sentido de existir sem a outra parte.
(NOGUEIRA, 2001, p. 241).
Neste sentido, e ainda conforme Davis (2016), a categoria
gênero não pode ser analisada de forma isolada ou
hierarquizada. Ela necessita ser vista de forma interseccional
com outras categorias (classe e raça, por exemplo), de modo a
6
Em sua forma mais primária, o patriarcado apareceu como um estado
arcaico. A unidade básica da organização do patriarcado é a família, que
constantemente gera os valores e normas do patriarcado (MORAES, p.21,
2002).
99
demonstrar que a combinação de opressões coloca grupos em
maior situação de vulnerabilidade.
Quando nos aproximamos das categorias juventudes e
gênero, percebemos algumas relações entre elas. Uma delas é o
caráter político; outra é a ideia de pesquisar com; e ainda,
percebemos uma semelhança entre o “s” utilizado para marcar a
heterogeneidade das Juventudes e a interseccionalidade de
Gênero, Raça e Classe, abordadas por algumas autoras
feministas, como Ângela Davis (2016).
Importante salientar que tanto o uso do termo juventude
no plural, quanto a ideia de intersecção, presente nos estudos de
gênero, não são utilizados por todos e todas que pesquisam
temáticas vinculadas a estas categorias. Todavia, ao longo da
trajetória acadêmica, fazemos escolhas teóricas que venham ao
encontro de nossa visão de mundo.
Por isso, nos aproximamos destes dois eixos e para dar
mais sentido a este estudo, procuramos relacioná-los,
entendendo que é relevante para quem pesquisa as juventudes,
compreender a função de sua escrita, no plural, nessa relação
interseccional, a fim de perceber que inserida na
heterogeneidade presente nas juventudes, existem aquelas, e
dizemos aquelas porque são justamente as jovens mulheres, que
em razão da combinação com outros fatores, são as mais
vulnerabilizadas.
100
Figura 1 – Elaborada pelas autoras.
Juventudes Gênero
Classe
Raça
7
Quando utilizamos a expressão sujeitas, aproximo-a da visão freiriana de
sujeitos da história, ou seja, homens e mulheres que fazem parte de um
processo histórico, de uma comunidade, de determinada cultura e que
precisam ter consciência disso (FREIRE, 1975).
102
Neste sentido, devemos atentar para a relação entre os
projetos de vida e os contextos sociais onde as jovens estão
inseridas. Como já foi referido, as juventudes são heterogêneas e
marcadas por desigualdades. A construção de projetos de vida
precisa estar em consonância com o que é possível e para isso,
ela deve ser protagonizada pelas jovens e estas precisam ter
consciência de sua realidade.
Quando o projeto de vida é elaborado sem levar estes
aspectos em conta, é possível que, ao não obter êxito naquilo
que planejou, a jovem se frustre e/ou seja culpabilizada pelo que
não “deu certo”, causando o efeito contrário a que este projeto, a
partir da definição defendida aqui, se propõe.
A partir dessa lógica, a inserção social dos jovens se
consagra como resultado das capacidades individuais de
elaborar um determinado projeto de vida e persistir no
mesmo, tornando-se uma responsabilidade pessoal que
vai explicar (e justificar) o lugar social que passará a
ocupar quando adulto. Tal concepção, apesar de não ser
mais hegemônica, encontra-se ainda presente no
imaginário social contemporâneo, disputando com outros
modelos e concepções (LEÃO; DAYRELL; REIS, 2011,
p. 1073).
Talvez o maior desafio quando pensamos na elaboração do
projeto de vida juvenil, seja compreendermos a relação que as
juventudes têm com o tempo e o futuro, visto as disparidades
geracionais, na medida em que “o modo de conceber e viver o
tempo não é um dado natural, muito menos metafisico, mas uma
dimensão sociocultural que vem se modificando com o suceder
das gerações, de acordo com o contexto histórico e cultural de
cada grupo social” (LEÃO; DAYRELL; REIS, 2011, p. 1072).
A partir das fotografias e diários que as jovens produziram
ao longo da pesquisa, foi possível perceber uma relação entre a
103
memória, ou seja, aquilo que ocorreu ontem, e o futuro, aquilo
que ainda não aconteceu. Essa relação configurou a construção
dos seus projetos de vida.
Percebi a construção dos projetos de vidas das gurias de
forma processual. De maneira geral, as jovens somente
conseguiram refletir sobre o futuro, neste caso em estudo, a
saída do CASEF, depois de terem elaborado situações ocorridas
no passado. O início de seus registros era marcado pelo
presente, pela privação de liberdade, por seus sentimentos em
relação ao CASEF (Imagem 1). A memória era resgatada após
esse primeiro momento (Imagem 2), onde eram contados
recortes de suas histórias de vida, onde, conforme nossa
observação, elas demonstraram maior sofrimento. O futuro
(Imagem 3) foi o pedaço da vida menos explorado nas escritas
das gurias, e em razão desta quase negação, suspeitamos que
possa ter sido o momento mais doloroso do processo de autoria.
Imagem 1 – Meu Refúgio (KAYLA, 2017)
104
Imagem 1- Meu Refúgio (KAYLA, 2017)
105
Imagem 3 – Meus Sonhos (PANDA, 2017)
106
lança aos pés. Ele gostaria de parar para acordar os
mortos e reconstituir, a partir dos seus fragmentos, aquilo
que foi destruído. Mas do paraíso sopra um vendaval que
se enroldilha nas suas asas, e que é tão forte que o anjo já
não as consegue fechar. Esse vendaval arrasta-o
imparavelmente para o futuro, a que ele volta as costas,
enquanto o monte de ruínas à sua frente cresce até o céu.
Aquilo a que chamamos o progresso é esse vendaval.
É como se as Jovens Mulheres estivessem de costas para o
futuro, com medo do que encontram no passado, pois quanto
mais “mexem”, mais ruínas caem a seus pés. Assim como o anjo
da história, elas também gostariam de “parar para acordar os
mortos”, ou seja, compreender o passado, elaborar a memória.
Mas, mesmo de costas ao futuro são sugadas, enquanto as ruínas
do passado continuam a crescer à sua frente.
107
A FOTOGRAFIA COMO RECURSO PROPULSOR DE
LUTA POR RECONHECIMENTO
“Como pode, né sora, uma foto fazer isso com a gente?
(AURORA)”.
Assim como a jovem Aurora, também nos
surpreendemos com a forma que a fotografia operou nas jovens,
e porque não dizer, em nós, na medida em que vivenciamos no
decorrer deste estudo, os momentos de descobertas obtidos por
meio do fotografar, e da fotografia.
A ideia de conhecer os projetos de vida das jovens que
cumpriam medida socioeducativa de privação de liberdade por
meio da fotografia se deu em razão de, ao mesmo tempo em que
seria possível abordar um assunto tão complexo e por vezes
doloroso, utilizando o recurso da captura de imagens, ou seja, as
jovens contariam um pouco de sua história a partir de imagens
externas a elas; também confrontaríamos “práticas pedagógicas”
que atuam, muitas vezes, na reprodução de ações machistas,
reforçando os papéis sociais dominantemente definidos para as
mulheres.
Desta forma, para dar sentido e, ao mesmo tempo,
possibilitar uma experiência significativa para as Jovens
Mulheres que estão inseridas na FASE, é que foi decidido
ofertar, através da parceria com o Projeto de Audiovisual Clube
das 5, vinculado a Prefeitura Municipal de Alvorada/RS, um
curso de iniciação a fotografia.
Mesmo reconhecendo a fotografia como uma ferramenta
mediadora, um processo de “estar entre”, precisamos buscar um
aparato teórico que embasasse a proposta de realizar um curso
de fotografia para Jovens Mulheres no interior de uma unidade
108
de privação de liberdade, de modo a compreendê-lo como uma
“potência pedagógica”.
Assim, “reconhecer a fotografia como uma forma
expressiva, produto de um tempo, mas que também se projeta
em outros tempos ao remeter, por exemplo, no futuro ao
passado” (SCHULTZE, 2005, p. 07), contribuiu para ratificar
sua utilização como instrumento metodológico neste estudo.
A dinâmica de procurar espaços de significação no interior
do CASEF, buscar ligação com suas histórias de vida, para
depois produzir a fotografia, possibilitou a compreensão que a
“informação visual não se resume a confirmação do óbvio, mas
pode ser uma porta de entrada para reflexões renovadas, a partir
de indicativos oferecidos por um momento real roubado ao
tempo” (HUMBERTO, 2000, p.41).
A fotoetnografia, termo cunhado pelo antropólogo Luis
Eduardo Robinson Achutti (1997), considera a possibilidade de
uma “escrita fotográfica”, que enfatiza a capacidade narrativa de
uma fotografia. Esta definição contribuiu para a reflexão sobre
os modos que as jovens contariam sobre as imagens produzidas,
pois, ao mesmo tempo em que era significativo possibilitar ao
espectador ou espectadora que fizessem suas leituras, a partir de
sua visão de mundo, também era de extrema importância levar a
conhecimento público, as construções das Jovens Mulheres,
acerca de sua produção fotográfica.
A construção e elaboração na imagem fotográfica, com
suas particularidades, ou em diálogos intertextuais com
outras linguagens, como pintura ou escultura, dá a alunos
e alunas a chance de vocalizarem, isto é, realizarem sua
própria expressão, atuando como criadores ativos, e não
somente receptores de imagens que circulam a seu redor.
Essa elaboração fotográfica é sistema simbólico [...]
(SCHULTZE, 2005, p. 07).
109
As fotografias produzidas individualmente pelas gurias,
ao longo do curso, precisavam estar vinculadas aos seus projetos
de vidas. Em razão disto, a imagem era capturada,
intencionalmente. Além disto, ao início da oficina, cada jovem
recebeu um diário, no qual fazia registros acerca de como
percebia a relação entre a imagem que capturava pela fotografia
e seus projetos de vida.
Penso que o exercício da escrita dos diários possibilitou
um processo de auto escuta e elaboração de algumas de suas
histórias. Partir das fotografias produzidas pelas jovens para
instigar o link com seus projetos de vida pode ter dado mais
leveza à retomada de situações bastante dolorosas de suas
biografias.
Como um dos objetivos do curso foi a organização e
realização de exposições fotográficas, as jovens organizaram as
fotografias por blocos de investigação, conforme seu
entendimento, e definiram títulos para os blocos. Para a
exposição foi deliberado que as fotografias seriam agrupadas
conforme o tema abordado nos diários. Assim, a partir das
discussões das Jovens Mulheres, emergiram oito temáticas:
Quem sou eu? Amor, Amizade, Paz, Desafios, Sofrimento,
Liberdade e, Vida Nova. Estas temáticas, pensadas para as
exposições fotográficas, foram utilizadas na pesquisa como
categorias relacionadas aos projetos de vida das jovens em
questão.
Neste sentido, atribuímos à fotografia um dos principais
eixos metodológicos do estudo, na medida em que apresentou os
principais dados a serem analisados, principalmente em razão da
participação ativa das jovens nas atividades que foram
propostas.
Ao longo dos dez encontros para a realização do curso de
fotografia, os vínculos foram se estreitando. Foram momentos
110
de descontração, aprendizagem, lembranças e construções. A
cada encontro, as potências dessas Jovens Mulheres iam se
evidenciando, as produções fotográficas iam ganhando mais
sentido e os diários complementavam a mensagem deixada na
fotografia, mas que de tão subjetiva, poderia não ser
interpretada.
Suspeitamos que as jovens utilizaram a experiência
pedagógica do ato de fotografar como uma possibilidade de luta
por reconhecimento. Desconfiamos que, ao produzirem imagens
que dialogavam com suas histórias, as gurias encontraram uma
forma de “mandar uma mensagem” para a sociedade de forma
geral, mostrando que elas são muito mais do que o ato
infracional que praticaram.
Para tratar da luta por reconhecimento, utilizamos os
preceitos de Honneth (2003), quando refere que as relações
intersubjetivas do reconhecimento recíproco em uma sociedade
se dão em três dimensões: o amor, o direito e a estima social. À
medida que esse reconhecimento é negado, através de uma
violação ou desrespeito, passamos a utilizar estratégias para
sermos reconhecidas, fato que o autor nomeia de “luta por
reconhecimento”.
Ao longo de nossa estada no campo de pesquisa,
observamos que cada uma das jovens, em algum momento de
sua trajetória, teve uma destas dimensões desrespeitadas. A
partir da análise das dimensões do direito e da solidariedade,
considerando os registros das sujeitas da pesquisa percebemos
que:
[...] diferentemente do reconhecimento jurídico em sua
forma moderna, a estima social se aplica às propriedades
particulares que caracterizam os seres humanos em suas
dimensões pessoais: por isso, enquanto o direito moderno
representa um medium de reconhecimento que expressa
111
propriedades universais de sujeitos humanos de maneira
diferenciadora, aquela segunda forma de reconhecimento
requer um medium social que deve expressar as
diferenças de propriedades entre sujeitos humanos de
maneira universal, isso é, intersubjetivamente vinculante.
Essa tarefa de mediação é operada, no nível social, por
um quadro de orientações simbolicamente articulado,
mas sempre aberto e poroso, no qual se formulam valores
e os objetivos éticos, cujo todo constitui a
autocompreensão cultural de uma sociedade [...].
(HONNETH, 2003, p.199-200)
Por mais que as relações de desrespeito relacionadas ao
amor, principalmente em situações familiares, estivesse presente
nos relatos das jovens, a negação do direito e da estima social se
apresentaram como fundantes na luta por reconhecimento. Isto
pôde ser observado em atos de resistência no interior da unidade
de privação de liberdade feminina, e em suas produções.
Relacionando a dimensão do direito à realidade das Jovens
Mulheres que participaram da pesquisa, e partindo do
pressuposto que “todos são iguais perante a lei”, para que sejam
reconhecidas juridicamente, as jovens precisariam gozar dos
mesmos direitos que todos e todas. Mas com o advento das
desigualdades sociais, raciais e de gênero, como essa premissa é
assegurada?
Um aspecto, dentre outros, que exemplifica o desrespeito
ao direito se expressa no dado referente à escolarização. Das 8
(oito) jovens que participaram da pesquisa, 6 (seis) estavam fora
da escola antes da privação de liberdade.
Já no que se refere à dimensão da estima social, as
produções das gurias apontaram que existia certo
reconhecimento nas relações comunitárias. No entanto, o
reconhecimento relacionado à estima social está vinculado a um
modelo dominante, padronizado, que vai de encontro àquele
112
exercido nas periferias, realidade da qual as jovens pertenciam.
Todo comportamento que destoe daquele estabelecido pelo
modelo, no nosso caso, ocidental, capitalista e patriarcal, é tido
como um desvio de conduta, passível de desrespeito.
Para ilustrar o desrespeito à dimensão da estima social,
trazemos à baila outro exemplo registrado por uma das jovens
em seu diário, onde ela narra que sua família está enfrentando
dificuldades na cidade em que reside em razão de ela estar em
privação de liberdade. Conta que inclusive foram demitidos de
seus trabalhos, devido à repercussão midiática de sua situação
no município. Este é o reflexo de um comportamento social
macro, defensor da frase “bandido bom é bandido morto”, e que
não vê mais “salvação” para aqueles e aquelas que experienciam
a privação de liberdade.
Para Honneth (2003) são justamente as formas de
desrespeito aos direitos e estima social, que impulsionam as
pessoas à luta por reconhecimento. E a fotografia, combinada
com a escrita dos diários foi a forma que as jovens encontraram
de lutar por reconhecimento, sejam no que se refere aos seus
direitos, seja na busca pela estima social.
Considerações que se Emprestam para Pensar
Mesmo se tratando do recorte de um estudo maior, é
possível tecer algumas considerações acerca das juventudes
femininas em privação de liberdade, a construção de seus
projetos de vida e como a fotografia pôde, nesta experiência,
atuar como uma ferramenta de luta por reconhecimento,
principalmente nas dimensões do direito e da solidariedade. O
“olhar intersecional” e horizontal para todos estes aspectos
contribuiu para relacioná-los as jovens e suas questões.
Há a necessidade de que os estudos sobre/com as
juventudes, mesmo que já compreendam sua heterogeneidade,
113
também possam utilizar a lente da interseccionalidade, que não
enxerga as categorias de forma hierarquizada, e sim
combinadas, visto reconhecer a importância de estabelecer o
entrelaçamento entre as opressões.
A possibilidade de trabalhar com o conceito de projeto de
vida, aproximando a os elementos da história pessoal, a partir de
Walter Benjamin (2012), foi de extrema relevância para
compreendermos os fenômenos que o campo nos apresentava e
dar sentido teórico às construções juvenis. Importante ressaltar
que a opção pela pesquisa participante8, bem como escolha da
análise dos dados através da hermenêutica feminista9
possibilitou que as gurias fossem as verdadeiras protagonistas,
na medida em que representa um jeito de fazer pesquisa
acadêmica que permite o “caminhar junto”.
O lugar que a educação ocupou nesta pesquisa e na
trajetória destas meninas foi o da boniteza10. Quando a jovem
Lindsay diz em seu diário: “quando eu estou fotografando, eu
enxergo as coisas com outros olhos, vejo tudo mais bonito”
(LINDSAY, 2017), ela está expressando que a educação como
formação humana precisa abarcar a boniteza e a amorosidade11,
dois conceitos chaves para Paulo Freire.
Na fotografia nós aprendemos que precisamos nos
preparar para a vida lá fora, porque estamos presas agora,
mais um dia vamos ir embora e vamos reencontrar nossa
8
Para maiores esclarecimentos, vide referências bibliográficas.
9
Para maiores esclarecimentos, vide referências bibliográficas.
10
Trata-se do componente estético da educação (FREIRE, 1996).
A boniteza da educação está associada à amorosidade, à alegria e ao querer
bem, entre outros saberes necessários à prática educativa, reveladores da
subjetividade que lhe é inerente.
11
Não creio na amorosidade entre mulheres e homens, entre os
seres humanos, se não nos tornamos capazes de amar o mundo
(FREIRE, 2000, p. 67).
114
família e outras pessoas diferentes. Temos que estar
preparadas para suportar qualquer dor (LINDSAY,
Diário de itinerância, 2017).
A fotografia operou como instrumento para reflexão e
para aprendizagem. A possibilidade de autoria contribuiu para o
fortalecimento das jovens, pois o processo de pensar em seus
projetos de vida, reelaborar suas memórias e assim,
(re)significarem seu presente e futuro, pode ter colaborado para
que elas estejam mais “preparadas para suportar qualquer dor”.
Diante disso, importante dizer que esta discussão não se
encerra por aqui. As informações levantadas neste estudo
continuarão possibilitando reflexões, seja no campo acadêmico,
seja no contexto institucional e social.
As imagens produzidas por estas Jovens Mulheres,
carregadas de sentidos e de busca por representação, ecoarão por
onde sejam abertos espaços de debate e construção coletiva, em
prol de (re)pensarmos qual o lugar do público feminino na
Política de Socioeducação.
115
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SHULTZE, Ana Maria. Educação, comunicação e fotografia:
estabelecendo alicerces na escola pública fundamental. Anais do
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TERRAGNI, Laura. A pesquisa de Gênero. In: MELUCCI,
Alberto. Por uma sociologia reflexiva: pesquisa qualitativa e
cultura. Traduzido por Maria do Carmo Alves do Bomfim.
Petrópolis/RJ: Vozes, 2005.
118
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DE SURDOS NO BRASIL:
ALGUMAS APROXIMAÇÕES
Laionel Mattos da Silva
Introdução
A história da educação de surdos no Brasil tem início a
partir do momento, conforme dados históricos, em que D. Pedro
II, durante o Império Colonial do Brasil, oficializa uma
instituição voltada para a educação da comunidade surda.
Entretanto, é importante ressaltar que, segundo Strobel (2008) o
povo surdo existe desde os primórdios da humanidade. Por isso,
a comunidade surda sempre existiu, inclusive durante o período
anterior à criação do Instituto educacional de surdos. O seu
desconhecimento se dá pela segregação acometida a eles, o que
os faz ser excluídos da nossa linha histórica, associando-os a
aberrações. “O processo educacional dos surdos apresenta as
diversas faces de uma educação excludente, desde que estes
deveriam ser obrigados a falar e suas especificidades negadas.”
(Alves et al, 2015, p.30)
Outro aspecto da cronologia aqui apresentada é a
instituição da língua brasileira de sinais (Libras), que sempre
existiu, sendo proibida, entretanto, a sua prática, visto que o
modelo curricular era estruturado no oralismo. Nesse contexto,
neste artigo também relatamos a oficialização da Libras através
de uma legislação específica e de um decreto presidencial que
regulamenta tal lei e dispõe sobre outras medidas.
No debate sobre a educação inclusiva, que fora
conquistada através de muita luta, falamos sobre a Escola
Estadual Especial Keli Meise Machado (KMM), que tem seu
ensino voltado para a educação do povo surdo. Além disso,
abordamos também a política de educação inclusiva, as utopias
119
e a dificuldade de uma inclusão com culturas diferentes em
ambientes não propícios.
Dessa forma, para a elaboração deste artigo, buscamos
referências bibliográficas que pesquisem a história, a relação e
os desafios enfrentados pela comunidade surda. Assim,
intentamos realizar uma revisão acerca da história da educação
de surdos no Brasil, além de uma reflexão deste cenário hoje
através de informações sobre a Escola Estadual Especial Keli
Meise Machado.
Nascimento da Educação de Surdos no Brasil
Em 1857 o Brasil ainda era uma colônia de Portugal,
portanto o Império do Brasil estava sob o comando de Dom
Pedro II. Nesse ano, o Imperador institui uma política
educacional voltada para a comunidade surda. Antes de 1857,
portanto, não se tem registro da existência de uma educação
específica para essa população. Segundo Strobel (2008), o
interesse de Dom Pedro II com a educação de surdos surge
devido ao seu genro, o Príncipe Luís Gastão de Orléans, marido
da princesa Isabel, que era parcialmente surdo. No entanto, não
há informações aprofundadas sobre esse fato. Todavia,
independente da motivação inicial, Dom Pedro II fica marcado
na história por instituir uma política educacional específica para
a comunidade surda.
Dom Pedro II faz um convite a Ernest Huet, um professor
surdo francês, que prontamente aceita a convocação do
imperador. Huet desembarca no Rio de Janeiro, juntamente com
a sua esposa, em 1855, com o claro objetivo de fundar uma
escola para surdos. Assim, em 26 de setembro de 1857 é
fundado o Imperial Instituto de Surdos-Mudos, dando início ao
processo de educação oficial dos surdos no Brasil. Tal escola
teve o importante papel de educar e oportunizar a criação de
120
uma Língua de Sinais para a comunicação entre o povo surdo,
além de servir de asilo para meninos surdos de todo o país,
segundo Strobel (2008). Nesse processo, vemos a relevância de
tal movimento como o primeiro passo para o que eventualmente
se tornaria a Língua Brasileira de Sinais, de extrema relevância
para a aprendizagem.
Entretanto, nem todo o processo foi benéfico, visto que em
seu início a Instituição priorizou os meninos, conforme Alves
(2015, p.29), “Vale salientar, entretanto, que as meninas surdas
só tiveram direito à educação no início do século XX quando
surgiu o Instituto Santa Terezinha, em São Paulo”. Portanto
quase cinquenta anos de atraso para que as meninas tivessem o
direito à educação voltada para o povo surdo.
A oficialização da política educacional veio através da Lei
nº 839, de 26 de setembro de 1857, que deu nome ao instituto
que, entretanto, seria modificado pela Lei n° 3.198, de 6 de
julho de 1957, para “Instituto Nacional de Educação de Surdos”,
apelidado de INES, tal alteração reflete o pensamento ideário
contemporâneo. Sua sede permanece até hoje na capital do Rio
de Janeiro. Porém, apesar do avanço através da criação de uma
Instituição voltada para a educação do povo surdo, o processo
educacional não foi fácil, conforme o relato:
Surdos foram obrigados a rejeitar sua língua natural e
aprender outra língua de modalidade diferente da sua, a
língua oral de seu país, e isto lhes trouxe e traz um
grande prejuízo no que diz respeito ao processo de
comunicação, tanto na Língua de Sinais como na própria
oralização destes indivíduos. (ALVES et al, 2015, p.30)
Nesse contexto, os autores nos remetem a outra discussão
acerca do método de ensino a ser utilizado na educação de
surdos no Brasil: a necessidade do fortalecimento da Língua
Brasileira de Sinais. Em todo o processo histórico mundial
121
surgiram os mais variados posicionamentos acerca do uso da
língua de sinais e da oralidade, boa parte das escolas estava com
a oralidade enraizada em seus currículos e negando todos os
aspectos socioculturais da comunidade surda.
A língua de sinais foi impedida de ser usada na educação
por muitos séculos e, se nos detivermos apenas nos
últimos 130 anos, poderemos ver isso de forma
imperiosa. Se entendermos que a língua é a expressão em
essência de uma cultura, a proibição da língua de sinais
se configura como a interdição de uma condição
primordial da comunidade surda. (MOURA, 2008, p.104)
Por isto, entendemos que D. Pedro II teve um papel
fundamental na educação de surdos no Brasil, sendo seu
precursor. Contudo, teve o auxílio e gerenciamento do professor
Ernest Huet no comando da INES. Tal resgate trouxe novamente
o debate da língua de sinais. Ademais, o estímulo e fim da
negligencia ajudaram no processo de oficialização da Língua
Brasileira de Sinais. Da negação à oficialização, renasce a
LIBRAS, como abordaremos na seção a seguir.
Libras: Uma língua que se vê
Assim, a criação de uma instituição educacional voltada
para a instrução de surdos foi processo pioneiro para a educação
dessa comunidade, hoje já mais consolidada. Porém, uma das
criações mais importantes para o povo surdo foi a Língua
Brasileira de Sinais, que desde 1857 foi se estruturando,
formalizando e pegando referências de outros países. Sobre esse
processo:
A escola do INES era o ponto de convergência e
referência dos professores de surdos e dos próprios
surdos da época. Eles usavam a língua de sinais francesa,
122
trazida por Huet, e misturavam com a existente no país.
Esta mistura originou mais tarde a língua brasileira de
sinais – Libras, que usamos hoje. Assim como as línguas
orais, as línguas de sinais se constituem a partir de outras
existentes. (DORIA, 1958, p.171)
Nos mais diversos países do mundo começam a surgir o
redescobrimento e a oficialização da língua de sinais. Ainda
assim, a sociedade continuava excluindo a comunidade surda,
pois não aceitavam que a língua de sinais pudesse ser
oficializada como uma língua do povo surdo. Inclusive, foi
nesse recorte de tempo que se enxergou que as línguas de sinais
não eram únicas, pois cada país tinha a sua própria linguagem
contendo suas particularidades locais. (MORI e SANDER,
2015)
Assim, a Libras, apesar de ter sofrido forte influência da
língua de sinais francesa, muito em virtude do francês, Professor
Huet, que acabou por introduzir a sinalização na educação do
Brasil, contou com sinais já existentes no Brasil, utilizados pela
população surda brasileira. Nesse contexto, fica evidente que a
língua brasileira de sinais já existia mesmo antes da sua
oficialização. Por essa razão, utilizamos o termo
redescobrimento, indicando que tal comunicação já existia há
anos entre os surdos.
Entretanto, apesar de termos um instituto voltado para a
educação dos surdos, a tarefa de introduzir a língua de sinais não
foi fácil, pois a grande maioria das escolas especiais estavam
enraizadas no oralismo, ou seja, obrigavam os alunos surdos a
aprenderem com esse método, excluindo-os da possibilidade de
usar os gestos, dificultando em grande parte sua aprendizagem e
autonomia.
A partir da década de 1980 até 1990, renasce no Brasil o
uso dos sinais, mais precisamente a filosofia educacional
123
chamada de Comunicação Total, segundo Ciccone
(1996). Essa filosofia se originou nos Estados Unidos, na
tentativa de melhorar a educação dos surdos. Essa
filosofia contempla toda forma de comunicação possível,
ou seja, a fala, os sinais, o teatro, a dança, mímica, etc.
As escolas especiais iniciaram lentamente o uso de sinais,
já que elas estavam enraizadas no oralismo. Aos surdos
se deu voz e os professores ouvintes aprenderam os sinais
com seus próprios alunos. Um clamor se levantou na
educação especial para a abertura de novos caminhos,
caminhos estes mais democráticos, mais naturais com o
uso dos sinais. A língua de sinais no Brasil ainda não era
oficial e não era ainda entendida como uma língua
(MORI e SANDER, 2015, p.10)
Ao esclarecer, Mori e Sander buscam recordar que, da
década de 1980 até 1990, iniciou-se a ideia de comunicação
total, método que auxiliou de muitas formas o processo de
aceleração do uso da língua de sinais na educação da
comunidade surda. A partir do momento que tal população
passou a ser protagonista na luta por seus mais amplos direitos
avançou-se na conquista de políticas educacionais. Ou seja, da
organização do povo surdo, seu empoderamento, voz,
autoridade e autonomia vieram os avanços.
Assim, apesar de já ser utilizada há um bom tempo pela
comunidade surda, a Língua de Sinais do Brasil só foi
regulamentada em 24 de abril de 2002 via Lei °10.436,
conforme o parágrafo único.
Entende-se como Língua Brasileira de Sinais - Libras a
forma de comunicação e expressão, em que o sistema
linguístico de natureza visual-motora, com estrutura
gramatical própria, constituem um sistema linguístico de
transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades
de pessoas surdas do Brasil. (BRASIL, 2002, p.01)
124
Contudo, após sua oficialização, faltava algo que deixasse
mais claro o papel da Língua de Sinais. Nesse contexto, surge o
Decreto n° 5.626 de 22 de dezembro de 2005 que dispõe sobre a
regulamentação da Lei,
É um documento específico sobre o uso e a difusão da
Libras, como uma língua oficial no país. A promulgação
desse Decreto foi um passo notável na história da
educação dos surdos no Brasil, e coloca nosso país à
frente de muitos países desenvolvidos, devido à visão e
prática modernas de respeito, de inclusão e
acessibilidade, como o mundo exige nos dias de hoje
(MORI e SANDER, 2015, p.12)
Nesse decreto de regulamentação, destacamos o artigo 22,
que é um eixo primordial para educação de surdos inclusiva e
democrática;
125
alunos surdos, bem como com a presença de tradutores e
intérpretes de Libras - Língua Portuguesa.
§ 1 o São denominadas escolas ou classes de educação
bilíngue aquelas em que a Libras e a modalidade escrita
da Língua Portuguesa sejam línguas de instrução
utilizadas no desenvolvimento de todo o processo
educativo. (BRASIL, 2005, p.07).
127
em deficiência auditiva. Entretanto, também em 1973, por
alguns meses, as classes especiais utilizaram as salas do Colégio
Estadual Vila Becker.
128
1986, o trabalho com os alunos surdos e deficientes auditivos
passou a ser na Comunidade dos Mormons, em Novo
Hamburgo.
Ainda na década de 80, mais precisamente no dia 26 de
abril de 1986, houve a mudança para um prédio próprio
comprado pela comunidade hamburguense, e posteriormente
ressarcido pelo Estado. Esse prédio situava-se no bairro Boa
Vista, em Novo Hamburgo.
Durante esse processo itinerante da classe especial, os
avanços foram sendo conquistados e principalmente
oficializados. No dia 4 de dezembro de 1987, através do decreto
nº 36612, foi criado, a partir das classes especiais já existentes, a
Escola Estadual de 1 grau incompleto Otávio Rosa e a Escola
Estadual de 1 grau incompleto para Educação Especial, na
cidade de Novo Hamburgo e através da portaria n° 20484 de
19/10/88, foi autorizado o funcionamento de ambas as
instituições. Assim, de certa forma, a classe especial foi
oficializada como um anexo da Escola Otávio Rosa,
transformando-as em uma única instituição educacional, ou seja,
um significativo avanço que impulsionou as conquistas na
década seguinte.
Em consequência do que fora mencionado anteriormente,
no dia 21 de dezembro de 1990, foi inaugurado o novo prédio da
Escola Estadual de 1° grau incompleto para Educação Especial,
situado no Bairro São José, na cidade de Novo Hamburgo, onde
permanece até hoje. Em dezembro de 1993, através da portaria
01387 do Governo do Estado, a Escola passou a denominar-se
Escola Estadual de 1° grau incompleto Keli Meise Machado, em
homenagem a uma aluna que havia falecido. A inauguração da
Escola foi um marco para a educação de surdos na região do
Vale dos Sinos. Apesar de a educação de surdos ter iniciado,
mesmo que timidamente, em 1973, a Escola Keli Meise
129
Machado comemora o seu nascimento no dia em que fora
reconhecida como uma instituição educacional de classe
especial, no dia 19 de outubro de 1988.
Figura 2: Inauguração da Escola Keli Meise Machado, no dia 21/12/1990
130
e a segunda língua deve ser a do país em que ele vive.” No caso, a
segunda é a Língua Portuguesa. Compreende-se, portanto, que
por mais que a Língua Portuguesa não seja uma língua
estrangeira, a dificuldade dos surdos em aprender uma segunda
língua, é grande. Assim como qualquer aluno pode apresentar
dificuldades em aprender um novo idioma.
Figura 3: Escola Estadual Especial Keli Meise Machado atualmente (2018)
131
sendo elas: a corporal, musical, plástica e escrita, com o intuito
de compreensão dos sentimentos e ideias, fortalecendo por vez a
capacidade expressiva. A KMM, que é uma Escola Especial
pública, trabalha numa perspectiva bilíngue, portanto, a
organização curricular é pensada a partir da realidade dos alunos
surdos, respeitando as suas características, como por exemplo: a
cultura do povo surdo, a Libras e as demais constituições de
identidades. Portanto, o ambiente idealizado pelo PPP deve
seguir dessa forma: “[...] em um ambiente em que as culturas
podem conviver de forma pacífica, todas as suas manifestações
devem poder estar presentes.” (MOURA, 2012, p. 105).
A Escola atende todos os anos do Ensino Fundamental:
pela manhã há as turmas do 5° ao 9° ano e, pela tarde, as turmas
do 3° ao 5° ano. A escola também oportuniza a educação de
jovens e adultos – EJA: são duas turmas na parte da tarde, 04 e
05. Hoje, a KMM conta com 40 alunos, sendo 30 alunos
matriculados do 3° ao 9° ano e os demais nas turmas da tarde da
modalidade EJA. A faixa etária dos alunos varia muito, nas
turmas da manhã os alunos têm de 11 a 22 anos, já nas turmas
da tarde os alunos do 3° ao 5° ano tem de 9 a 11 anos.
Especificamente no EJA, a faixa etária dos alunos é de 19 a 50
anos, sendo importante destacar que muitos desses alunos do
EJA entraram na Escola depois de muito tempo no ostracismo,
ou seja, não sabiam da existência da língua de sinais. No
entanto, utilizavam em suas famílias os gestos que conseguiram
constituir no dia a dia.
O quadro docente da Escola é composto por 8 professores,
sendo 7 mulheres e 1 homem. A KMM conta com serviço de
orientação educacional sob responsabilidade de uma professora
e de uma monitora pedagógica que auxilia as turmas das series
iniciais. A parte administrativa é composta pela diretora que faz
a gestão da escola, por 1 servente merendeira que cuida da
132
alimentação escolar e de um auxiliar de serviços gerais que
contribui com a organização e limpeza dos espaços da Escola.
No que diz respeito a Libras, os professores e a gestão
escolar da Escola em sua maioria são fluentes ou parcialmente
fluentes. Contudo, os demais se comunicam das mais variadas
formas, ou seja, com sinais da língua de sinais ou com
comunicações usuais que foram construídas ao longo do
processo.
Assim sendo, a Escola KMM preza pela excelência da sua
educação. Todas as áreas disciplinares trabalham, além de seus
conteúdos específicos, a cultura e a identidade do povo surdo.
Sem esse viés pedagógico não se pode constituir uma educação
de qualidade que seja inclusiva e democrática para a
comunidade surda.
Considerações Finais
A constituição de um processo educacional público e que
respeitasse a identidade do povo surdo no Brasil, não foi uma
tarefa simples, pois, antes, durante e hoje ainda sofre com
preconceitos, enfrentas barreiras e negações sobre à cultura da
comunidade surda. Entretanto, o panorama da educação de
surdos na última década no Brasil mudou bastante.
Todavia no Brasil, após a promulgação da constituição
federal em 1988, a comunidade surda iniciou uma longa batalha
pelos seus direitos em sua totalidade, e especificamente na
educação, por mais que se tivessem os direitos assegurados na
carta magna, esse não era o panorama real das Escolas. A
Constituição Federal deu possibilidades, mostrou novos
caminhos e afirmou que o direito é para todos (aqui incluímos a
comunidade surda que buscava a sua inclusão educacional).
Hoje, a educação está ainda no processo de inclusão, pois
não possuímos uma ideal inclusão educacional e social do surdo.
133
Isso se dá porque existe uma dicotomia entre as escolas
regulares e as escolas especiais, visto que numa escola regular o
aluno surdo irá conviver com o aluno ouvinte, mas em sua
grande maioria as Escolas não têm professores com fluência em
Libras, nesse caso as mantenedoras disponibilizam os interprete
de libras para o surdo.
Entendemos que a inclusão escolar deve ser dessa forma,
no entanto, ainda não estamos preparados, pois a Escola tem de
ser bilíngue para que exista uma interação social e educacional,
ou seja, todos os alunos, inclusive os ouvintes, devem aprender
a língua de sinais numa escola regular onde tenha um aluno
surdo, do contrário, como será a sua comunicação com os
colegas ouvintes? Dessa forma, o desconhecimento da Libras
por parte dos alunos ouvintes dificulta a inclusão social com os
demais colegas. Além do que já fora relatado, a educação para
ser bilíngue, deve ser pautada pela diversidade das culturas.
Logo, deve existir a troca de culturas identitárias no ambiente
escolar, tendo cuidado para que não haja sobreposição de uma
sobre as demais.
Acreditamos que a inclusão do aluno surdo deva ocorrer
em uma escola regular, mas nos moldes de uma educação
bilíngue que oportunize aprendizagem mutua, tanto da língua de
sinais como a troca de informações entre as culturas, sendo essa
a educação justa, necessária e inclusiva.
134
Referências
MOURA, M. C., Atendimento Educacional Especializado:
Estudante Surdo – Reflexões sobre a Identidade, Cultura e
Comunidade. In: GIROTO, C. R. M; MARTINS, S. E. S. O;
BERBERIAN, A.P (Orgs). Surdez e Educação Inclusiva. São
Paulo, Cultura Acadêmica; Universitária, 2012. Cap. 5, p. 97 -
118
135
espaço acadêmico. IN: ALMEIDA, W.G (Org). Educação de
surdos: formação, estratégia e prática docente. Ilhéus, Editus,
2015. Cap. 2, p. 27-48.
136
DISCIPLINARIZAÇÃO DOS CORPOS, PODER E
EDUCAÇÃO
Kátia Gomes d a Silva Amaro
Maria Henriqueta dos Santos Gomes
No presente artigo apresento algumas reflexões sobre a
constituição do corpo, e as relações de poder que incidem sobre
o mesmo, principalmente a partir da obra “O corpo na história”
de José Carlos Rodrigues, o mesmo se utiliza de Michel
Foucault para demonstrar que a noção de indivíduo é um
artefato ideológico que foi sendo construído e solidificado pelos
poderes da sociedade disciplinar. Para o autor o corpo humano é
socialmente concebido e, portanto, objeto do cientista social.
(...) procurei tornar claro que é possível uma
compreensão dos processos sociais que se apoie na
inteligência do corpo e, sobretudo, na sensibilidade.
Tentei ilustrar a outra face dessa moeda, isto é, mostrar
que uma compreensão dos modos de sentir só é factível
com base na consideração dos processos corporais como
fenômenos sociais. A vida coletiva é possível de se
captar por intermédio dos empregos que os homens
fazem de seus ouvidos, narizes, olhos, bocas, peles. Mas
ao mesmo tempo, esses órgãos e os sentidos
correspondentes não existem de modo meramente
orgânico, como absolutos a-históricos, devendo sempre
ser considerados no âmbito da trama de relações sociais
que lhes atribuem sentidos. (RODRIGUES, 1999:167)
O objetivo do autor é evidenciar os “movimentos” e
“praticas” que constituíram a subjetividade contemporânea,
defendendo a ideia de sociedade como um sistema de
significação e de que as relações sociais são próprias de
137
mensagens e de que cada mínimo detalhe pode carregar
informação sobre as intenções e o lugar das pessoas nela.
Nessa linha de pensamento o importante é conhecermos
os modos diferentes de existência, novas relações conosco e
com o outro, outras racionalidades, em nosso próprio passado
(RAGO,2003:39). Essa postura nos afasta de uma “história total
e verdadeira”, da qual Foucault faz questão de questionar e se
libertar. Como bem observa Margareh Rago em seu texto “O
historiador e o tempo”:
A autonomização da História formulada pelo filósofo
traduziu-se então, como um libertar-se de determinadas
representações do tempo, do espaço, do passado, da
verdade, assim como possibilitou uma crítica dos
procedimentos metodológicos que levam a determinados
efeitos, a relações de poder, a construções autoritárias do
passado e que, para além dos sujeitos excluídos,
suprimem o contado direto com as experiências da
liberdade, inventadas e usufruídas por nossos
antepassados. (RAGO, 2003:39)
A produção do conhecimento histórico dessa maneira
passa trazer a possibilidade de refletir sobre nossas maneiras,
práticas, concepções do passado e sobre o passado, e destacar os
fios que ainda nos podem prender a ele e a sua tradição.
O “corpo” também possui um passado Peter Pál Pelbert
afirma que o corpo também é histórico e “que desde tempos
imemoriais é o “civilizatório adestramento progressivo do
animal-homem, a ferro e fogo que resultou na forma-homem
que conhecemos” (2004, p.144).
Em suma, o corpo também é histórico, ele é a superfície
de inscrição dos acontecimentos, lugar de dissociação do
Eu, volume em perpétua pulverização. A genealogia,
como análise da proveniência, está, portanto, no ponto de
138
articulação do corpo com a história. Ela deve mostrar o
corpo inteiramente marcado de história e a história
arruinando o corpo. (PELBERT, 2004:144)
O corpo não é destituído de uma história, o corpo
constitui-se em “sujeitos” agentes, pensantes que almejam
legitimar seus regimes de verdades e relação de poderes. Como
destaca “Keith Jenkns “o que impede de dizerem-se certas
coisas e permite expressarem-se apenas coisas específicas é o
poder; a verdade fica na dependência de alguém ter poder para
torna-la verdadeira” (2001, p58).
Pensando a partir de Foucault o corpo também se constitui
em um fato histórico que pode ser questionado, problematizado,
pensado, refletido. Rodrigues destaca que nossas formas de
sentir aparentemente naturais tem uma história. E faz uma
crítica as fronteiras estabelecidas entre as disciplinas, afirma que
os maiores pensadores do nosso tempo como Michel Foucault e
Edgar Morin não podem ser encaixados numa estrutura
disciplinar. E faz um alerta para a necessidade de avançar a
compartimentação existente entre as disciplinas cientificas a fim
de romper com as fronteiras disciplinares.
Utilizando-me de Durval Muniz de Albuquerque Junior “a
história, em nosso tempo não pode ser discurso de construção,
mas de desconstrução” (2005, p81); um discurso que se desvia
das versões aceitas e totais do passado que petrificam e
transformam os discursos em absolutos. Como ele mesmo
“apresenta”:
Para ser historiador, como para ser poeta, é preciso não
estar alheio a nada, é preciso estar envolvido pela vida,
estar misturado com as pessoas e as coisas, para existir
nelas, ser disfarçado. Misturar-se para apodrecer seu
próprio eu; apodrecer para fermentar novos personagens
e novos entendimentos para a vida e para o passado, fazer
139
história como exalação que corrompe os limites do
homem, tal como ele se define e está definido em nosso
tempo. O historiador, como o poeta, é um formulador de
devires outros. (ALBUQUERQUE JUNIOR, 2005:83)
Nesse sentido é preciso deixar levar-nos por tais
experimentos ao se ariscar a “formular devires outros”. É
sempre do corpo que se trata, mesmo e principalmente quando
se parte do corpo da escrita (AGABEN, 1995:59). Escrita que
está viva e pulsante através das mentalidades e sensibilidades.
O eixo fundamental de nosso raciocínio foi insistir sobre
o fato de que uma sociedade só encontra existência nos
corpos pulsantes dos seres humanos que a constituem: ela
é vísceras, nervos, sentidos, neurônios... A história, desta
maneira, não se concretiza apenas em guerras, decretos,
tratados, obras, monumentos ou entronizações:
materializa-se também e talvez até primordialmente em
perfumes, sons, miragens, memórias, carícias, distâncias,
ascos, evitações, esquecimentos. Não há outra concretude
social; uma sociedade estará nos corpos de seus membros
ou não residirá em parte alguma. (RODRIGUES,
1999:167)
Para José Carlos Rodrigues historicamente no Ocidente,
tivemos o corpo que os antropólogos e historiadores chamam de
corpo promíscuo, que é aquele que se mistura com o mundo e
com os outros corpos. É um corpo comunitário, no qual tudo é
exibido em público e em coletividade. Com o desenvolvimento
do capitalismo, começa a surgir um corpo com outras
características que é individual, separado dessa promiscuidade.
É um corpo disciplinado que não se mistura com o mundo e com
outros corpos.
Segundo, Rodrigues na Idade Média e ainda no
Renascimento tanto os seres, quanto as coisas eram percebidas
140
como uma continuidade; a cosmovisão era inteiramente
teocêntrica. No século XVII emerge uma nova forma de
conhecimento que dará sentido ao mundo e irá conformar não
somente a racionalidade, mas também posturas, representações e
sensibilidades do homem ocidental moderno. Caracteriza-se
uma nova postura indicada por outra maneira de produzir e
conceber o saber. Para o autor ao se problematizar a história e
imagens dos tempos medievais, podemos entrar em contato com
dimensões que foram negadas e interrogar a pertinência das
opções culturais do ocidente.
Na Europa Medieval havia uma grande diversidade
cultural das quais o Estado e o catolicismo objetivavam e
possuíam um papel importante na busca da unificação,
homogeneização dessa sociedade. Havia uma sociedade
multiforme, mas que liam os mesmos livros, falavam a mesma
língua, falava-se dialetos, a cultura pagã fazia parte também da
cultura religiosa, da tradição oral enfim, existia o que podemos
chamar uma “cultura de todo mundo”. Havia uma amalgama
entre as culturas, da elite e camponesa. O padre que realizava
suas missas em latim também falava o patuá, o nobre que vivia
no castelo também conhecia as tradições populares, em suma
cultura de elite e cultura popular (termo que fora utilizado a
partir do século XVIII) não se opunham totalmente nos tempos
medievais.
Até o século XVI não se encontrava oposição entre estas
duas culturas, aos poucos desenvolveu a cultura dos instruídos.
Em 1800 com o Iluminismo na maior parte do continente a elite
já havia abandonado quase completamente a cultura “de todo
mundo”; buscou-se uma separação e distanciamento entre
camponês e nobre. Os nobres adotaram maneiras mais polidas,
estilos mais autoconscientes de comportamento, adotaram a
cultura do autocontrole, posturas corporais estudadas e
141
artificiais; aprenderam falar e escrever corretamente, assim
procuravam marcar diferenças por todos os meios. A cultura se
separou e passou a segregar.
Para Clifford Geertz(1989) os atos da sociedade só
ganham significados com a cultura e o nosso corpo é produto do
cultural, ou seja, o homem é um ser envolto a uma teia de
significados que ele mesmo construiu. E Michel Foucault se
utilizando das reflexões de Frederick Nietzsche destaca:
Pensamos que o corpo tem apenas as leis de sua
fisiologia, e que escapa à história...ele é formado por uma
série de regimes que constroem; ele é destroçado por
ritmos de trabalho, repouso e festa; ele é intoxicado por
venenos-alimentos ou valores, hábitos alimentares e leis
morais simultaneamente; ele cria resistências.
(FOUCAULT, 1984:27)
Desta maneira o homem é orgânico, mas precisa viabilizar
materialmente a existência, o abstrato passa a ser concreto que
transcendi os processos puramente orgânicos, que se materializa
e faz-se pelos mitos, danças, rituais, pelas trocas simbólicas,
arte, religião. “A vida material humana inclui necessariamente
tudo o que não é diretamente material” (RODRIGUES, 199:97).
“Esse simbólico abstrato em torno do qual os homens se
unem é, certamente o que de mais concreto há” destaca José
Carlos (RODRIGUES, 1999:97). Para o mesmo os homens
convivem não apenas como organismos individuais que
convivem em grupos, mas como grupos que se relacionam em
sociedades que coexistem entre si. De modo as relações sociais
entre grupos sociais também devem ser materialmente
viabilizadas. O autor elege três planos que estão presentes na
convivência em sociedade de maneira individual ou coletiva:
primeiro ninguém vive apenas como organismo: convive,
segundo ninguém convive apenas como interação: compartilha
142
e terceiro nenhuma vida se faz apenas como contenção:
expande-se.
Para constituir assim uma maneira de pensar e agir, assim
o poder é relacional, o outro não é dado é produzido. Para os
homes é tão importante e necessário viabilizar o dar e receber
quanto respirar, tão importante propiciar o consumar quanto o
acumular, o dar e festejar o trabalhar e o produzir.
José Carlos afirma que no medievo espirito e matéria,
corpo e alma eram uma fusão: “o corpo medieval não era um
mero revelador da alma era o lugar simbólico em que se
constituía a própria condição humana” (RODRIGUES,
1999:56). O corpo nesse cenário era um corpo preguiçoso sem
grandes preocupações com o tempo e com o trabalho, também
não era o corpo-consumidor da sociedade industrial. Estava se
configurando um corpo cortês governado pela formalidade, por
uma lógica de normatização que se apresentou na gênese do
corpo individual. O que é chamado de corpo individual era
quase totalmente ausente na cultura popular medieval, pois o
indivíduo se diluía no corpo social.
O corpo medieval nada tinha a ver com aquele que
pensamos conhecer que abriga a nossa sensibilidade. Não
se tratava do corpo singularizado e individualizado do
burguês. Não era um corpo circunscrito em si. Não era
um corpo contido. Não era um corpo fechado, pronto,
acabado. Não transmitia a ideia de ser completo em si ou
por si mesmo. Não era um território rigorosamente
delimitado. Não era um corpo visível apenas do exterior
e que mostrasse somente uma superfície, uma fachada
lisa e quase sem fendas. Ao contrário do nosso, em que
quase todos os orifícios estão escrupulosamente vedados,
não era, o medieval, um corpo do qual se eliminassem as
manifestações de vida íntima. Ele tinha a boca
escancarada, o apetite glutão de devorar imensas
143
quantidades- o que o opõe á cupidez do individualismo.
Tratava-se de um corpo em movimento, que jamais
estava inteiramente encerrado, que estava sempre se
desfazendo, refazendo e fazendo outro corpo. O corpo
medieval estava sempre absorvendo o mundo ou sendo
absorvido por ele. (RODRIGUES, 1999:84)
Como ressalta Rodrigues nos tempos medievais nada se
conhecia desta censura a informação e a comunicação entre os
corpos. Tudo era público, ou publicável; o comer, o excretar, o
copular, o dormir, o parir, morrer; era o tempo de um corpo
expansivo, indisciplinado, transbordante não havendo uma
moralidade específica de controle do corpo. O corpo medieval
ainda não era objeto de um discurso moralista capitalista.
Contudo para Michel Foucault (2004) o indivíduo é
“moldado” pelas relações de poder que atravessam a sociedade,
e não existem sujeitos autônomos e livres, estamos presos a uma
“teia de significados”, que normatizam a sociedade. José
Rodrigues ressalta que:
É preciso registrar, para início de raciocínio, que um dos
domínios que se autonomizaram com relação ao
amálgama que formava o universo medieval foi
exatamente este a que cotidianamente nos referimos
como “indivíduo”. De modo geral, não é muito fácil
convencer as pessoas de que a ideia que vem á nossa
mente, quando falamos de indivíduo, não tenha existido
sempre em concretude, de que não seja absoluta ou
eterna, de que o conceito a que se refere tenha uma
história. Não seria ousado demais afirmar que esta talvez
seja umas das maiores dificuldades que os antropólogos
encontram para se entenderem com seus auditórios:
mostrar a indivíduos que suas ideias e sentimentos
individuais não são assim tão individuais e que
144
representam respostas a determinadas condições sociais e
históricas.
Semelhante dificuldade é perfeitamente compreensível:
afinal de contas, com aquele que está introjetado em
minha individualidade e que me constitui? Com que
sensibilidade sinto, senão com aquela que me faz
exatamente como Sou? Não obstante, é absolutamente
fundamental termos em mente que este indivíduo é uma
instituição. Que ele não existiu desde sempre. Que não é
universal nem absoluto. Sem este esforço não poderemos
olhar para a nossa cultura, não atingiremos o
entendimento dos processos de sua formação. Não
conseguiremos nos livrar dos óculos que tingem o mundo
com uma única coloração. (RODRIGUES, 1999: 121)
Criou-se uma individualidade; a constituição dessa
individualidade implicou mudanças radicais nos modos de
pensar, agir e sentir. O refinamento dos costumes vinculou-se ao
desenvolvimento de lógicas e técnicas de proteção do corpo, “as
fronteiras corporais tenderam a tornar-se progressivamente mais
demarcadas e os corpos mais definidos. ” (RODRIGUES,
1999:181). Como destaca Pelbart:
Foucault descreveu a modelagem do corpo moderno, sua
docilização através das tecnologias disciplinares, que
desde a revolução industrial otimizaram as forças do
homem e temos disso alguns ecos em kafka, também.
Como diz Foucault, seria preciso afastar uma tese muito
difundida de que o poder nas sociedades burguesas e
capitalistas teria negado a realidade do corpo em proveito
da alma, da consciência, da idealidade. Na verdade, nada
mais é material, nada é mais físico, mais corporal que o
exercício de poder...Qual é o tipo de investimento do
corpo que é necessário e suficiente ao funcionamento da
sociedade capitalista como a nossa? Daí a descrição
145
desses terríveis regimes disciplinares que se encontram
nas escolas, nos hospitais, nas casernas, nas oficinas, nas
cidades, nos edifícios, nas famílias.(2004, p 144)
O corpo agora é treinado para determinadas funções, em
geral ligadas ao trabalho e á produtividade. Surge assim um
corpo que acompanha o desenvolvimento do capitalismo até a
sociedade industrial ele se baseia nos múltiplos. Mas, na
sociedade industrial, esse corpo começa a entrar em declínio,
porque a lógica da sociedade industrial faz com que os músculos
sejam substituídos por máquinas.
Progressivamente esse “corpo-ferramenta” vai cedendo
espaço para o corpo consumidor, que vai desempenhando um
trabalho que antes era feito pelos outros corpos. Não é mais o
corpo que produz, mas cada vez mais um corpo que consome,
sem cicatriz, sem calosidades nem marcas do trabalho. Trata-se
de um corpo do qual cada mínimo detalhe o torna um
consumidor especializado. Esse corpo consumidor é, no tempo
em que nós vivemos o grande herói cultural. Ele é o grande
modelo de corpo. Os outros tipos de corpos não desapareceram
completamente. Entretanto, embora a hegemonia seja cada vez
maior do corpo consumidor.
Segundo Rodrigues umas das marcas do mundo
contemporâneo é o processo de individualização que tem se
acelerado como nunca, ou seja, as pessoas estão sendo guiadas
pelos seus interesses próprios, cada vez mais pessoas estão na
sua, desinteressados pela diferença dos outros, assim qualquer
diferença é indiferente porque o mundo acaba na fronteira do eu.
Processo que marca as formas de comportamento dos indivíduos
na sociedade industrial e de consumo, ao mesmo tempo essa
sociedade é considerada de massa, massificada, homogeneizada.
Segundo o autor tem-se a princípio da ideia da dicotomia e
paradoxo entre multiplicação das diferenças, intrínseca a
146
individualização e o processo de massificação, homogeneização
das culturas, grupos, indivíduos; para o mesmo é uma condição
ilusória. Assim o que acontece na contemporaneidade é um
processo notável é um jogo de massificação e individualização.
Guilherme Corrêa em seu texto intitulado “Do livro de
receitas: como produzir um homem”, faz uma discussão sobre o
poder da escola no cenário moderno como um mecanismo de
imobilização do homem pelo homem através da comunicação. A
escola como ambiente de comunicação ocorre um tipo de
exercício com importantes efeitos sobre quem as frequenta e
sobre a sociedade escolarizada. Trata-se do exercício próprio
das situações de comunicação: a imobilidade (CORRÊA,
2005:45).
Educação e comunicação formam um bloco de
estratégias pedagógicas. A pedagogia que formam, como
qualquer pedagogia, visa conduzir o outro rumo ao
mesmo, adequar a uma realidade social, harmonizar o
socius pela pacificação de cada um, pelo ajustamento à
moral e pelo controle da potência de diferir. (CORRÊA,
2005:46)
Assim a escola como uma instituição que produz “efeitos”
sobres os corpos se torna um dispositivo que provoca
imobilidade e controle. Essa imobilidade alcançada através de
um ambiente de comunicação/discurso ao que Michel Foucault
em “A ordem do discurso” relaciona com formas de poder:
Suponho que em toda sociedade a produção do discurso é
ao mesmo tempo controlada, selecionada, organizada e
redistribuída por certo número de procedimentos que têm
por função conjurar seus poderes e perigos, domina seu
acontecimento aleatório, esquivar sua pesada e temível
materialidade. (1996, p 9)
147
A escola se torna um ambiente de “pedagogização” do
outro e de suas subjetividades em busca de uma harmonia social
que se ajuste a moral e que controle desejos de diferir-se. Diante
dessa associação da escola e comunicação cria-se um contexto
que objetiva ações socializantes destinadas:
...a produzir uma ordem de participação coletiva, cuja
principal característica é o universal, e a difundir os
valores de uma racionalidade científica e capitalista
grifada pela governamentalização do Estado. E aí a
penetração da lei, da norma, dos direitos e deveres,
enfim, da cidadania no mais íntimo de cada relação até a
produção de uma relação de cada um consigo mesmo.
Um corpo social e uma interioridade, um eu que quer,
são os objetivos e efeitos dessa pedagogização. Ou ainda
a estruturação de uma vontade própria por meio dos
tratamentos individualizados, de conteúdos
programáticos, de parâmetros científicos de julgamento:
uma vontade própria comum a todos. (CORRÊA,
2004:46)
Para Corrêa a junção entre escola, matriz disciplinar e
tecnologias de comunicação instaurou uma era moderna de
controle:
...e viver hoje, depois do todo o programa de
transformação a que fomos submetidos para nos
comportarmos de acordo com o que se espera de nós a
sociedade, confunde-se com obedecer a comandos. É
bom lembrar que as máquinas de ensinar, das quais o
computador é o topo da evolução, nos transformam em
máquinas de aprender, em governados. (CORRÊA,
2004:52)
Em seu texto Anarquismos e Sociedade de controle, Edson
Passeti (2006) afirma que o homem está sendo “moldado” de
148
acordo com interesses do governo, da sociedade, do sistema
econômico, de acordo com seu entorno social. Segundo Passeti
“domando” as ideias o homem é alienado com discursos
políticos, democráticos, de justiça social, sufrágio universal, de
modo que “interessa agora é extrair o máximo de energias
inteligentes, fazer participar, criar condições para cada um se
sentir atuando e decidindo no interior das políticas de governos,
em organizações não governamentais e na construção de uma
economia eletrônica” (2006: p. 09).
Busca-se o bem comum, existem leis para se atingir esse
objetivo, mas somente as leis não bastam é necessário governar
e transformar, educar, criar estratégias para dispor os homens
para fins específicos. O objetivo então é o controle das
estratégias que os indivíduos na sua liberdade e subjetividade
podem ter em relação a eles mesmos e uns em relação aos
outros.
Agora procura-se um governo da população, dos corpos
em coletividade, a população passa a ser o bem mais precioso
dos governantes contemporâneos pois:
A população aparece, portanto, mais como fim e
instrumento do governo que como força do soberano, a
população aparece como sujeito de necessidades, de
aspirações, mas também como objeto nas mãos do
governo, como consciente, frente ao governo, daquilo
que ela quer e inconsciente em relação àquilo que se quer
que ela faça (...)
É constituída segundo Foucault a “política Pastoral”, que
enxerga na população o rebanho que precisa ser salvo e
conduzido. Que se utiliza da chamada economia política para
traçar e mapear as relações dos homens com o seu território,
riquezas, saberes, para que juntamente com dispositivos sutis de
segurança e a ideia da necessidade da soberania se produzam
149
“subjetividades” e dispositivos de controle e disciplina que
anulam a “força do povo rebanho”; alienando-os.
Guilles Deleuze também se utilizando de Foucault faz
uma discussão quanto aos “dispositivos de controle” da
sociedade. Discutindo a passagem da sociedade de soberania
para a sociedade disciplinar no século XVIII e XIX, e aponta
que essa seria provisória, surgindo a sociedade de controle.
Muda-se a lógica social segundo Gilles Deleuze:
Nas sociedades de disciplina não se parava de recomeçar
(da escola à caserna, da caserna à fábrica), enquanto nas
sociedades de controle nunca se termina nada, a empresa,
a formação, o serviço sendo os estados metaestáveis e
coexistentes de uma mesma modulação como que de um
deformador universal. (1992: p222)
O homem agora na sociedade de controle é uma “cifra”,
um na massa, não mais um dá massa. “Os indivíduos tornaram-
se dividuais”, pois na sociedade de controle há uma rivalidade
inexplicável, rivalidade essa que divide e contrapõe os
indivíduos um em relação aos outros e em relação a si mesmos;
anulando assim a ideia de “engajamento político”, reforçando o
ideário da sociedade capitalista de competição.
O capitalismo, o marketing, o consumismo ditam as regras
na sociedade de controle, e o último esse sim é um instrumento
poderoso de controle social. Agora: “o controle é de curto prazo
e de rotação rápida, mas também contínuo e ilimitado, ao passo
que a disciplina era de longa duração, infinita e descontínua”
(DELEUZE p222).
Então quando li Foucault: Vigiar e Punir, percebi o quanto
os indivíduos foram “condicionados”, e “utilizados”;
disciplinados para uma maior aplicação de poder, através das
“instituições fechadas”.
150
Lendo Paula Sibilia vi que a continuação da aplicação do
poder se evolui com as necessidades de controle e ampliação do
poder, onde os mecanismos de controle ganham novos sentidos
nessa sociedade a qual Deleuze denomina sociedade de controle,
que segundo o mesmo o controle não está mais voltado somente
para o controle do corpo, mas também da “alma”, ou seja, a sua
subjetividade.
Houve nesse sentido como também destaca Rodrigues
uma mudança radical na conduta, nos modos de pensar e nos
sentimentos humanos. Criou-se um novo conceito de homem;
um homem que apresenta autocontrole corporal, afetivo e
cognitivo.
A característica básica deste conceito de ser humano é o
espelhamento de si em si mesmo. É o cuidado de si, para
dentro de si. É a atenção e o policiamento dos próprios
gestos e pensamentos. É o trabalho constante, infatigável
e sempre mais aplicado das reações entre o íntimo e o
social, entre o cultural e o natural. Mediante esse
trabalho, os últimos termos (social, cultural, natural)
definham e, ao menos imaginariamente, acabam tendo
sua importância sufocada pela indiferença a qualquer
paisagem exterior-indiferença gerada no âmago dessa
cega viagem que o eu faz de si a si mesmo, que faço de
mim a mim mesmo. Entretanto, e de maneira paradoxal,
este culto do eu a si próprio exige um peso progressivo e
cada vez mais agressivo das convenções sociais e das
artificialidades teatrais sobre o mundo das sensações
imediatas e espontâneas. Dito de outro modo: o indivíduo
independente, autônomo e livre, absorve água quando
pensa respirar e acaba se afogando no oceano das regras
de um sistema político e econômico, de uma cultura,
enfim, que o escraviza e que o obriga a ser exatamente
assim: alguém que desempenha compulsoriamente o
151
papel de ser livre, autônomo,
independente.(RODRIGUES, 1999:178)
Para José Carlos Rodrigues um homem carcerário de si
próprio, vivendo na ilusão de serem livres e autônomos, não
percebendo que passaram a viver em uma teatralidade social.
Cada ser humano, por assim dizer, passa a ter que se
enfrentar a si mesmo: a ter que disfarçar as paixões, a
rejeitar os ditames do coração, a evitar sob emoção. Por
este meio, deve-se reciprocamente fazer de conta que o
que vale é uma extrema e ambivalente indiferença ao
outro, como se ele não estivesse lá. No limite desse
fingimento, as máscaras acabam se transformando em
rostos e fica difícil distinguir a insensibilidade que se
finge da insensibilidade que se vive. (RODRIGUES,
1999:185)
Há então um novo modo individualista de conceber o
corpo e sua existência; que criaram “verdades”, “realidades” e
“sujeitos” que lutam por uma individualidade que legitimam a
busca pelo íntimo e o privado, mas que paradoxalmente tem
necessidade de expor o privado para o coletivo. O que pode
justificar o sucesso de programas, revistas, jornais, livros,
biografias.
Como Benito Bisso Schmidt em seu texto “A biografia
histórica: o “retorno” do gênero e a noção de “contexto” discute
a respeito de como pensar a constituição de biografias históricas.
O mesmo afirma que as biografias estão na moda e podem ser
explicadas pelo interesse dos leitores, pelo “voyeurismo”; o
interesse em conhecer a vida do outro nos “mínimos detalhes”.
Já no campo do conhecimento acadêmico está relacionado à
crise da “história ciência”, pois, hoje há uma desvalorização das
explicações históricas totalizantes, da formulação de um sujeito
152
universal, nesse sentido há um interesse cada vez maior por
percursos e trajetórias individuais.
Todavia não podemos deixar de problematizar que apesar
da busca incessante pela “disciplinarização/individualização dos
corpos”, existiam modos de resistências que estavam presentes
no passado e que estão presentes também no presente.
Existiam leis e também a transgressão dessas leis. Nesse
sentido podemos analisar, compreender que os indivíduos
agiam, pensavam, negociavam, e buscavam maneiras de criar
estratégias para fugir das regras, das normas, pois estes não são
destituídos de interesses. Não perdendo de vista que os
“interesses” são constituídos através das experiências humanas,
dos corpos, e os interesses dirigem as “ações”.
Dentro da lógica das mentalidades e sensibilidades da
individualização ocorriam a criação dos signos de resistências,
havia um “corpo desfeito que foge tanto ao sistema do juízo
como adestramento e à disciplina, uma vitalidade não orgânica,
inumana, livre de alma ou de subjetividade(PELBART: 2004,
151).
Como destaca Peter PálPelbart a partir das leituras
deAgamben, Deleuze e de Foucault:
No mesmo domínio em que hoje incide a dominação
biopolítica , isto é, a vida, reduzida à vida nua, trata-se de
reencontrar aquela uma vida, tanto na sua beatitude
quanto na capacidade nela embutida de fazer variar suas
formas, e de dar-se uma forma. (2004, p155)
Como afirma Deleuze é preciso criar vacúolos de não
comunicação para evidenciar o silêncio o que nos remete a
pensar o não dito de Michel Certeau. E pensar as figuras
literárias em Kafka que apresentam:
153
A exigência de uma forma-de-vida, mas uma forma-de-
vida sem forma, e precisamente, sem sede de forma, sem
sede de verdade, que põem em xeque nossos modos de
existência, e que talvez equivalham, no domínio
subjetivo, ao que foi para o primata a liberação da mão
na sua postura ereta. (PELBART: 2004, p155)
E acredito que esse seja o “papel” do historiador, de
encontrar “riquezas”, onde os discursos já são apresentados
como “terras inférteis”, “discursos homogeneizantes” dessa
maneira o historiador é aquele que jamais procura o finito para
os acontecimentos, mas sim aquele que vive de um “devir” ou
inesperadas ações.
154
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155
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157
MULHERES, NO PLURAL E SINGULARES: UMA
CARTOGRAFIA SOBRE QUESTÕES DE GÊNERO EM
UMA ESCOLA BÁSICA
158
Meu pai morreu e meu irmão pensa que agora ele manda
em mim.
Estou me sentindo um lixo.
Minha missão com ele acabou, estou cansada de passar
trabalho. 12
Por trás de cada rosto uma história pra contar. Um olhar,
um sonho que se foi uma vida por viver. Muitas falas, muitas
vivências. Somos mulheres no plural e singulares.
Neste ensaio procuro narrar situações que envolvem
questões de gênero em uma escola de educação básica, pública e
de periferia, numa comunidade da qual eu faço parte desde a
minha infância. A partir das pistas encontradas, verificar como
emergem neste território e como potencializam a formação das
subjetividades dos atores em cena, cartografando e dando
visibilidade a elas. Também as implicações que me afetam como
mulher, educadora, psicóloga e pesquisadora da temática de
gênero.
12
Estas frases são recortes das falas das mulheres que habitam o território
onde compus este trabalho são frases que me tocaram e fizeram todo sentido
nesta caminhada. São partes integrantes do diário de campo.
159
Tem talento de equilibrista ela é muitas, se você quer
saber, hoje aos trinta é melhor que aos dezoito. Nem
Balzac poderia prever. Depois do lar, do trabalho e dos
filhos, ainda vai pra night ferver. Disfarça e segue em
frente. Todo dia, até cansar. E eis que de repente ela
resolve então mudar.” (Desconstruindo a Amélia. Pitty,
Chiaroscuro, 2009)
160
Como professora de educação básica e acadêmica do
curso de psicologia, tenho me surpreendido nos últimos anos de
meu fazer por alguns estranhamentos que me mobilizam a
pensar sobre o campo escolar e as questões relacionadas a
gênero, assim como refletir sobre mim mesma. Por entender
estar em campo aberto para muitas possibilidades deste fazer,
me proponho aqui a ensaiar um pensamento, uma escrita ainda
com toda a sua provisoriedade.
Larossa Bondía propõe que se pense a educação a partir
do par experiência/sentido numa possibilidade mais existencial
(sem ser existencialista) e mais estética (sem ser esteticista),
tendo nas palavras a produção de sentido e como potentes
mecanismos de subjetivação. (BONDÍA, 2002, p. 20). Desta
forma busco capturar através de minhas lentes um pouco destes
mecanismos muitas vezes sutis que vão afetando de alguma
forma nossa subjetividade, sensibilizando-a e nos
potencializando a problematizar as questões de gênero a partir
deste campo de formação do ser humano que é o ambiente
escolar.
Como mulher-mãe-filha, professora-psicóloga-eterna
aprendiz, que olha o mundo que me cerca ponho-me a pensar:
por que em uma escola maciçamente feminina ainda usamos o
termo professor ao nos referirmos ao grande grupo de
profissionais que nela atuam? Da mesma forma em uma turma
composta de setenta por cento de meninas, usamos o termo
alunos ao nos referirmos ao grande grupo? Por que ao fazermos
um cartaz/bilhete de convocação de participação da família em
eleição do conselho escolar, ainda usamos como forma de
tratamento o termo pais ou responsáveis, sendo que a grande
maioria dos membros da família que participam das reuniões da
escola e chefiam as famílias são mulheres (mães ou avós)?
Trocando uma ideia sobre isso com uma colega da
161
disciplina de Língua Portuguesa ela refere: - A língua
portuguesa é machista, por que entende que se tiver um homem
no grupo e cinquenta mulheres, prevalece o gênero masculino
como termo universal. Por que as mulheres sentem-se incluídas
quando são tratadas no masculino, mas os homens mesmo em
minoria, não se incluem na forma de tratamento no feminino?
Por ser a linguagem usada de forma ideológica e expressando
relações de poder, neste caso machista. Recorro a Freire (1992.
p. 67)13 que em uma de suas obras escreve sobre o uso da
linguagem como expressão de um discurso machista e que para
mudar o mundo e torná-lo menos injusto há que se mudar a
linguagem e a forma de tratamento.
162
feminino em primeiro lugar contrariando a normativa
gramatical, pois entendo que as palavras têm força e ao colocar
as mulheres mesmo estando em maioria em uma condição de
subordinação ao gênero masculino contribuindo para a
manutenção do status quo. Como disse Freire (1992) mudar a
linguagem faz parte do processo de mudar o mundo. A relação
entre linguagem-pensamento-mundo é uma relação dialética,
processual, contraditória.
Feita esta ressalva vamos ocupando este espaço onde
habitam minhas inquietudes e onde escolhi para debruçar o meu
olhar no estágio específico e na escrita do trabalho final. Desafio
este que tem se apresentado maior do que imaginei. Para essa
tarefa busquei dar atenção a tudo que me rodeia neste campo,
observando suas cores e potencialidades, ouvindo suas vozes e
silêncios, narrando as suas histórias. Neste sentido tornou-se um
desafio a cada dia maior, professora, grevista ao mesmo tempo
estagiária e acadêmica da Psicologia como equacionar esta
questão? Escola fechada, salário parcelado, desrespeito e perda
de direitos, estamos todas/os passando por dias muito difíceis
aqui. Inicialmente toda a escola vota pela greve. Nesse sentido o
estágio esteve ameaçado. Sentimentos contraditórios se
apresentam de um lado a educadora consciente do seu papel e da
necessidade de lutar em um momento tão crítico que o estado e
o país vivem. De outro a pesquisadora que necessita estar no
campo. A vida dá seu rumo, algumas professoras do Currículo
Por Atividades14, optam por retornar da greve, mesmo com um
número reduzido de professoras e alunas/os o estágio estaria
salvo, apesar de toda precariedade que isso representa como,
perda de contato com as/os alunas/os das séries finais do Ensino
Fundamental e Médio, tensão entre as colegas grevistas e não
14
Denomina-se Currículo Por Atividades os anos iniciais da formação escolar
do Ensino Fundamental, compondo-se do 1º Ano ao 5º Ano.
163
grevistas, dificuldade de organizar as oficinas que poderiam ser
implementadas, entre outras.
Enfim, este é o campo de minha escolha para realizar o
estágio específico e pensar meu trabalho de conclusão de curso
com toda a sua contradição e beleza.
164
Segundo Rolnik (2011) a cartografia contribui para um
ressignificar. A partir do olhar do cartógrafo surge um novo
mundo, novos sentidos que expressam a afetabilidade, deixando
para trás o mundo que até então existia, novos afetos, novos
mundos. À cartógrafa cabe traduzir, dar voz a esses novos afetos
que pedem passagem, sendo, portanto, meio antropófaga,
devorando a paisagem, internalizando-a e depois dando língua a
estes afetos. Neste processo me vejo ora a menina que quase
sempre habitou este território, estudou nestas escolas, morou
neste bairro e aqui se reconheceu adolescente, mãe, mulher, ora
a profissional que busca entender que processos se dão neste
território que tem uma geografia composta por vários relevos e
cores.
Neste sentido, portanto, a cartografia é vista como uma
viagem, onde a cartógrafa faz parte da tripulação e a partir das
suas lentes fotografa todas as paisagens que o caminho
proporcionar, como as mudanças do relevo, as variações
climáticas, o multicolorido do céu, a diversidade da flora e da
fauna visitadas, os sons e tons que os viajantes usam sejam para
expressar espanto, medo ou alegria. Nessa viagem o diário de
bordo fez parte da minha caixa de ferramentas que lancei mão a
fim de apreender as minhas percepções e manter registrados o
melhor possível cada momento desta viagem. Quanto a esse
aspecto, Barros e Passos referem que:
A pesquisa-intervenção requer, por isso mesmo uma
política da narratividade. Aqui o modo de dizer e o modo
de registrar a experiência se expressam em um tipo de
textualidade que comumente é designado como diário de
campo ou diário de pesquisa. (PASSOS E BENEVIDES,
2015, p. 173)
Portanto, Barros (2015) diz que o método cartográfico
desestabiliza alguns pressupostos tradicionais do conhecimento
165
científico que se legitimou como positivo, rigoroso, neutro e
objetivo, pois entende que toda pesquisa é intervenção e
compromete aquele que conhece e quem (ou o que) é conhecido
como partes integrantes de um mesmo processo.
Neste sentido as demandas mais agudas que se
apresentaram durante o estágio e serviram como referência, nos
mostraram ser a escola um território de vida e de constante
movimento e ao buscar o caminho ele foi se abrindo e se
desenhando a nossa frente. Portanto tornou-se uma possibilidade
de ação não determinista e imóvel, mas ao contrário, foi refeita,
repensada e revisada durante o processo, reinventando novas
estratégias de intervenção a partir da afetabilidade causada pelo
movimento. E assim, portanto inacabado. Nesse processo me
inseri como parte dele, observando e atuando diretamente,
afetando e sendo afetada em todo processo.
166
das escolas estaduais. Tenho acompanhado todo o processo de
transformação que a região ferroviária tem passado, sua
paisagem e seus personagens me são familiares.
O corpo docente, apesar da falta de recursos humanos e da
sobrecarga de trabalho, tem realizado alguns projetos junto aos
alunos a fim de discutir sobre a problemática da realidade em
que está inserida. Em geral, tais projetos estão ligados a meio
ambiente e ao resgate histórico da região. A partir deste olhar
que as/os educadoras/es e as/os alunas/os têm da comunidade
algum retorno para a escola já foi obtido, seja através de
recursos financeiros, apresentações de trabalhos e publicações
na área das ciências humanas, principalmente História e
Geografia. Pode-se observar também, algumas mudanças no
cuidado com a escola na criação de mandalas de ervas, horta,
estufa e revitalização dos jardins e da pracinha.
Sou professora há quinze anos do magistério estadual, há
sete anos estou nesta escola e aqui tenho desempenhado minhas
atividades, inicialmente como professora de história nos anos
finais do Ensino Fundamental e Médio. Nos últimos quatro anos
também atuo como orientadora educacional. Desde que entrei na
graduação de Psicologia tenho refletido sobre a realidade que
me cerca e a possibilidade de colaborar, de alguma forma, para a
reflexão e a possibilidade de se encontrar brechas possíveis que
possam de alguma forma, contribuir para a criação de algo novo,
singular.
Busco olhar este campo e as minhas implicações, com
base na análise institucional para assim dialogar com a
Educação e a Psicologia. Cartografo alguns caminhos possíveis
que me afetam sobre esta realidade, os sentidos que a compõem
e os atravessamentos que também me mobilizam como
psicóloga e ser humano. Bondía (2002) refere que pensar não é
somente “raciocinar” ou “calcular” ou “argumentar”, como nos
167
tem sido ensinado algumas vezes, mas é sobretudo, dar sentido
ao que somos e ao que nos acontece.
Neste território que tenho me construído e também me
desconstruído. Digo isso por me deparar com as dificuldades de
ser instituído no campo e ao mesmo tempo tentar olhá-lo de uma
forma diferente a partir dos atravessamentos que me perpassam
provocando assim muitas vezes a minha (des) construção. Esse
processo de gestar algo que ainda não sabemos como será e
como se apresentarão os caminhos é dolorido, mas também
desafiador e instigante. Desta forma nos colocamos neste
território de saber, de relações de poder, e de subjetividades,
como o artista que pega seus pincéis e deixa fluir os tons que
darão cor a sua obra. Sabemos que alguns tons já estão postos,
mas o caminho está por trilhar e nele há insegurança e o medo
do fracasso, mas também a vontade de fazer melhor, aprender e
potencializar de alguma forma os contornos e os tons da obra
final.
Pensar as relações de poder e gênero e a formação da
subjetividade das pessoas da comunidade escolar foi a proposta-
desafio que resolvemos encarar. À medida que os dias vão
passando os fatos acontecendo, novos ingredientes compõem
esta narrativa, personagens novos surgem e com sua roupagem
própria mudam a paisagem.
Para refletirmos sobre o campo da instituição escolar
precisamos entender um pouco mais sobre ela, e assim definir
inicialmente com qual conceito de instituição referenciaríamos a
nossa análise institucional e, para isso buscamos em Rodrigues e
Souza (2002, p. 42) a definição de instituição. Para elas a
instituição no sentido da Análise Institucional é “como certas
formas de relações sociais, tomadas como gerais, que se
instrumentam nas organizações e nas técnicas, sendo nelas
produzidas, reproduzidas, transformadas e ou subvertidas”.
168
Na Luta me Construo, na Vida me Reconheço
169
instrumento de opressão muitas vezes, sem ter consciência
disso. Neste contexto é deflagrada a greve nas escolas estaduais.
Inicialmente com a totalidade dos professores aderindo ao
movimento e a escola fechada. Algumas professoras retornam
após uma semana de greve e as contradições e divergências
tendem a se acirrar.
Ser professora e grevista não é uma posição muito
confortável, tomar posição, lutar para não perder conquistas e
avançar. Talvez em uma escola maior, que só tenha ensino
médio seja um pouco mais tranquila, pois a unidade é um pouco
maior. Em geral, nas escolas que possuem Currículo Por
Atividades essa unidade não acontece, talvez pela divergência
de interesses e realidades pessoais diferentes. Na escola em que
atuo o currículo quase nunca adere ao movimento grevista, pois
as situações individuais se sobrepõem às coletivas. De seis
professoras, apenas uma sempre é grevista, participando
ativamente do movimento. Entendo que a liberdade de escolha é
um direito de cada uma, mas na prática o que vemos é uma
divisão clara entre as colegas. Já houve em anos anteriores
situações de conflito mais sérias. A única educadora grevista do
currículo, neste momento passa por uma situação muito delicada
em sua vida pessoal – a luta contra uma leucemia em sua mãe -
senhora de si, ela é a chefe de uma família, composta por ela,
sua mãe, sua filha, uma irmã e uma sobrinha - a casa das cinco
mulheres. Além disso, luta também, judicialmente para obtenção
da medicação e da quimioterapia que o plano de saúde de sua
mãe não cobre. Salário parcelado. Desvalorização frente à
comunidade, pressão das mães e pais de suas/seus alunas/os que
não se importando com a realidade da educadora ameaçam
trocar as/os alunas/os de turma ou de escola correndo o risco de
perde-los, e ainda, a filha passando também por dificuldades na
escola precisando de atendimento especializado. Enfim, como
170
ela mesma diz:
- Estou a ponto de surtar!
Neste cenário, em meio à greve, a parte não grevista da
escola chama a comunidade para as comemorações do vinte de
setembro15 e para a eleição do Círculo de Pais e Mestres – CPM.
A direção disponibiliza espaço às/os educadoras/es grevistas
para que deem o relato da greve e mobilizem as famílias
presentes. Após, os relatos de greve e a tentativa de mobilização
fracassada, decidimos ir para a praça, lá haverá mobilização. Na
saída, no pátio esta educadora desaba, transborda, as lágrimas há
tanto seguradas vem à tona, sua dor é escancarada. A vontade
que tenho é de sentar e chorar junto. Entendo a sua dor, também
sinto o peso que é estar sozinha para tudo, ter que ser sempre
forte, pensar por toda família, tomar decisões, resolver
problemas. Somos as cuidadoras de nossas filhas, de nossas
mães, de nossas/os alunas/os. Quem cuida de nós? Somos o lado
racional que paga as contas, que coloca a comida na mesa, que
troca a emoção pela racionalidade, que corre pra acudir as filhas
que terminaram o namoro... E nós? Como fica a mulher que nos
habita? Onde a escondemos? Que sentido tem nosso trabalho,
nossa luta? Por quem devemos lutar mesmo? Em meio ao
transbordamento ela me diz:
- Me sinto um lixo nesse momento, mal me olham, me
trataram como um nada e não estou lutando só por mim!
Neste momento também me questiono sobre o sentido da
luta, difícil segurar as lágrimas manter o equilíbrio.
Conversamos muito sobre o contexto profissional e pessoal que
ela está vivendo e uma das possibilidades que nossa reflexão
15
A escola tradicionalmente faz Atividade Integrada de do dia do gaúcho, no
dia 20 de setembro, neste evento são apresentadas encenações e danças,
sendo o mesmo aberto à comunidade, reúnem-se os três turnos de
funcionamento da escola.
171
provocou foi a de repensar a sua atuação no movimento
grevista neste momento pessoal em que está vivendo. Talvez
seja a hora de parar.
A escola enquanto instituição e aparelho do estado na
maquinaria da sujeição têm atuado em todas nós. As relações de
poder aqui se escancaram de tal forma que se confundem os
papéis, de modo que os próprios colegas de profissão podem
exercer função de dominação e sujeição como parte da
engrenagem estatal. Dispositivos tão sutis que muitas vezes se
tornam imperceptíveis na rotina diária escolar, mas que em
momentos de crise se manifestam e se apresentam. Carvalho
afirma que:
172
tradutor da ideologia dominante, para que não se tornem
“agentes da dominação, os tradutores incorporam tais falas
como sendo suas, a ponto de não perceberem que são também
sujeitados pela estratégia de manipulação e exploração”. (p. 52).
Portanto pode-se dizer que meu papel é sentir os
atravessamentos que me perpassam e buscar alternativas de
atuação que implicam na instituição e em seus instituintes
potencializando a vida que lá pulsa. Para isso aguardo o retorno
integral das educadoras/es e a estabilização da recuperação das
aulas para que possa colocar em prática algumas ações. Apesar
desta frustração inicial, procuro as possibilidades e caminhos
que fortaleçam os indivíduos como seres dotados de sua própria
subjetividade, mas também como parte desta coletividade social,
desnaturalizando assim os processos de submissão e repressão a
que estamos todas/os vinculadas dentro da instituição escolar.
Por isso uma das estratégias pensadas foi provocar e intensificar
os movimentos instituintes16 para assim fortalecer os agentes
nos implicando em todo o processo.
A instituição escolar passa atualmente por várias
situações de tensão, que tem colocado toda a comunidade
escolar em situação de alerta, entre elas as questões relacionadas
aos adolescentes como: casos de violência incluindo agressões
físicas entre as meninas, automutilação e mais recentemente
casos de tentativas de suicídio. Pensar sobre toda esta realidade
16
Coimbra, Lobo e Barros afirmam que: ao nos imiscuir nas instituições
temos como estratégias provocar e intensificar movimentos instituintes
que possam percorrer e intensificar movimentos instituintes que possam
percorrer até seus vasos capilares, no sentido de fazer circular a palavra.
Fortalecer as forças instituintes para que seja o instituído constantemente
denunciado no seu processo de naturalização. Por que nos imiscuir nas
instituições? Imiscuir é misturar, significa necessariamente implicar-se
com tudo que se faz, que se vive. É afirmar agenciamentos que
estabelecem uma prática revolucionária. (p. 57)
173
que nos afeta e mobiliza constantemente, passa a ser mais um
desafio.
Ao estar inserida nesta realidade que se descortina, sinto-
me diretamente implicada em entender esses processos tanto a
nível psicológico como todo o contexto social-político-
econômico-ideológico-gênero e suas múltiplas determinações.
Pensar a instituição escola é (sinônimo) lidar diretamente com a
frustração, os conflitos e as dificuldades. Esses são, a meu ver,
os sentimentos que acabam também se configurando como
analisadores potenciais deste campo e também de minha
inserção e intervenção. E isso também me causou angústia, pois
sendo um território de espaço potencial de atenção e cuidado, é
também paralisante, de desencontros e muitas vezes um espaço
de perdas e frustrações
175
pensamento. Corrêa afirma que:
17
Para Guattari & Rolnik (1996) existimos e produzimos subjetividades em
meio a uma luta, a luta que Guattari denomina como processos de
singularização. Que podem ser compreendidos como uma espécie de desvio,
de escapatória frente às tentativas de traduzir a existência pelo crivo
dominante do capital. Para ele “O que chamo de processos de singularização
é algo que frustra esses mecanismos de interiorização dos valores
capitalísticos, algo que pode conduzir à afirmação de valores num registro
particular, independentemente das escalas de valor que nos cercam e
espreitam por todos os lados. (pág.47)
176
subjetivação sofrem as mais variadas transformações (...). Para
Foucault em “Sujeito e Poder” as lutas políticas que se fazem
necessárias em nosso tempo
18
Chimamanda Ngozi Adichie é uma feminista nigeriana autora, entre outras
obras, de Para Educar Crianças Feministas – um manifesto (2017), que é
escrito no formato de carta contendo conselhos para uma amiga sua que
acaba de dar à luz uma menina.
177
Se não empregarmos a camisa de força do gênero nas
crianças pequenas, daremos a elas espaço para alcançar
todo o seu potencial. Por favor, veja Chizalum como
indivíduo. Não como uma menina que deve ser de tal ou
tal jeito. Veja seus pontos fortes e seus pontos fracos de
maneira individual. Não a meça pelo que uma menina
deve ser. Meça-a pela melhor versão de si mesma.
(ADICHIE, 2017. p. 26)
178
nome das Marias, Quitérias, da Penha Silva.
Empoderadas, revolucionárias, ativistas, deixem nossas
meninas serem super heroínas! Pra que nasça uma Joana
D'arc por dia! Como diria Frida: "eu não me Kahlo!"
Junto com o bonde saio pra luta e não me abalo. O grito
antes preso na garganta já não me consome. É pra acabar
com o machismo. E não pra aniquilar os homens. Quero
andar sozinha porque a escolha é minha. Sem ser
desrespeitada e assediada a cada esquina. Que possa soar
bem, correr como uma menina. Jogar como uma menina.
Dirigir como menina, ter a força de uma menina. Se não
for por mim, mude por sua mãe ou filha!” (Respeita as
Mina. Kell Smith, 2017)
179
Observo a cena enquanto vou me aproximando, de um lado o
menino que lidera o grupo argumenta que a menina não pode jogar
porque chora, a menina por sua vez enraivecida diz que não chora que
eles não a aceitam porque ela é mulher e joga bem melhor do que eles.
Tento argumentar com o menino que poderiam fazer times mistos,
pois faltam meninos para jogar, mas ele me reage dizendo que menina
não joga futebol, joga vôlei e pronto! Ela cansada da discussão me
diz:
- Deixa sora não adianta, nem quero mais jogar com esses
piás!” (Diário de campo 16/05/2017)
Saio deste recreio com uma sensação estranha de fracasso, por
não ter conseguido dissuadir alguns meninos a mudarem de ideia.
Penso, com meus botões, que algo não está certo. Várias perguntas
povoam minha mente: De onde eles tiraram que menina joga 'somente'
vôlei? O que estou fazendo na Orientação e na sala de aula que não
consigo atingir essas pessoinhas que com tão pouca idade tem ainda
tanto preconceito com a possibilidade de a mulher jogar futebol? Um
país em que temos uma Marta e uma seleção feminina que joga, por
vezes, com mais garra que a masculina, e é considerada a melhor
jogadora de futebol por cinco vezes, meninas não podem jogar
futebol? Como são feitas as práticas de educação física na escola, e
onde ficam as outras disciplinas das diversas áreas do conhecimento
ao tratarem desses assuntos? Como estamos abordando estas questões
em nossas salas de aula? Entendo que preciso refletir mais sobre estas
e outras situações cotidianas do ambiente escolar em que estou
inserida, pois formo e também sou formada por elas. A partir destas
reflexões cotidianas, de minha prática, das relações de gênero, de
poder, de saber e da formação de nossas subjetividades procuro pensar
esta realidade. Lembro-me de imediato Adichie (2015) que diz que
estamos abafando a humanidade que existe nos meninos com uma
definição muito estreita de masculinidade, ensinando-os que não
podem ser fracos ou se mostrarem vulneráveis (p.29), ou seja, ser
menino significa não chorar? Não sentir? Por outro lado, desta forma
180
também condenamos as meninas a certa passividade, a jogos menos
ativos e uma vida mais contida ou simplesmente, excluímos aquelas
que não se encaixam neste padrão.
A sala da Orientação Educacional na última gestão
escolar, passou por um processo físico de humanização,
tornando-se um lugar mais aconchegante, na tentativa de junto
com a prática de orientação, mudar o olhar das/os educadoras/es
e das/os educandas/os sobre este setor da escola. Dar ao espaço
físico também um caráter mais próximo e humano tem sido uma
tarefa cotidiana, deixando de ser uma quase “delegacia” da
escola para tornar-se um local de acolhimento e escuta. Numa
dessas tardes adentra a sala uma menina do 6 º ano aos prantos,
joga-se na cadeira ao mesmo tempo em que bufa. Pergunto-lhe o
que houve, ao que ela me responde:
“- A vice me mandou falar com a senhora porque eu bati
no F., ‘sora’ eu sei que menina não deve brigar, nem bater nos
meninos, mas aquele guri me incomoda, fica me chamando de
tudo quanto é coisa e eu não aguento!” (Diário de Campo
19/04/2017)
Continuamos conversando e aos poucos ela vai se
acalmando. Chama-me a atenção sua fala em relação a “menina
não deve brigar nem bater nos meninos”, penso quantas vezes
ouvi isso também quando era criança e até mesmo adolescente
em casa e na família. Minha tia dizia que eu nunca iria encontrar
um namorado que me aguentasse, porque eu era muito
questionadora e não aceitava quietas “as coisas”. Fico refletindo
sobre o nosso papel de educadoras, estamos educando para quê?
Quantas vezes reproduzimos discursos prontos que vão nos
formatando dentro de certos padrões e muitas vezes nos fazem
aceitar certas situações e não reagir a elas? Reflito sobre a
questão da violência contra as mulheres, quantas de nós aceitam
quietas a agressão física e psicológica porque assim foram
181
ensinadas a não se rebelarem?
Optei por voltar meu olhar para as questões de gênero por
ser um tema que muito tem me mobilizado e sensibilizado, não
somente por ser mãe, mulher, educadora e futura psicóloga, mas
principalmente após o estágio na clínica onde me deparei com
situações de violência e abuso contra mulheres e meninas.
Percebo que a escola é um dos sistemas mais importantes na
(des)construção de identidades, é no território escolar que
muitos preconceitos se cristalizam ou se transformam, sendo
portanto o campo mais fértil para a intervenção e debate destas
questões. Butler refere sobre gênero que
“Se alguém “é” uma mulher, isso certamente não é tudo o
que esse alguém é; o termo não logra ser exaustivo, não
porque os traços predefinidos de gênero, mas porque os
traços predefinidos de gênero de uma “pessoa”
transcendam a parafernália específica de seu gênero, mas
porque o gênero nem sempre se constituiu de maneira
coerente ou consistente nos diferentes contextos
históricos, e porque o gênero estabelece interseções com
modalidades raciais, classistas, étnicas, sexuais e
regionais de identidades discursivamente constituídas.
Resulta que se tornou impossível separar a noção de
“gênero” das interseções políticas e culturais em que
invariavelmente ela é produzida e mantida. ” (BUTLER,
2017, p. 21)
Tratar de gênero, portanto, requer mais que uma
categorização, um olhar atento a tudo que compõe o indivíduo,
sendo a escola um dos territórios que mais contribui para tal. É
também neste campo que se busca estimular relações mais
saudáveis e igualitárias entre os mais diversos gêneros. Nesse
sentido Corrêa (2011, p.188) refere que a educação não conduz
necessariamente ao bem, à felicidade ou ainda a um ideal
182
humano de sociedade. Educação e processos educacionais não
são bons. Nem maus. São processos de modificação.
Dentro do pressuposto de se pensar a escola como
instituição fundamental da sociedade disciplinar com objetivos
próprios para atingir esse fim vemos em Corrêa que
“A escola funciona dentro desses objetivos como
máquina, aparelho ou dispositivo que pode ser acionado
pelo centro de decisões de qualquer poder (religioso e/ou
político e/ou econômico que esteja em vigência, onde se
processa a fabricação desses indivíduos ideais e, na
lógica desses poderes, consequentemente, da sociedade.”
(CORRÊA, 2011, p. 188)
A escola cumpre uma função de homogeneização e
disciplinamento e é também lá que se encontram as brechas para
o novo. O fazer docente colabora para a problematização da
discriminação de gênero provocando uma reflexão e um
desacomodar das personagens que compõem as mais diferentes
cenas deste palco. Dentro do atual contexto histórico sofre-se a
ação, radical muitas vezes, de grupos religiosos, políticos que
tem usado a mídia para travarem uma batalha contra a educação
de gênero e a diversidade, tornando ainda mais árdua a tarefa de
se discutir com equidade a questão de gênero, além de
comportamentos conservadores que já estão introjetados
culturalmente e socialmente aceitos. Neste caso servindo para a
manutenção de um padrão de sociedade patriarcal e
conservadora, tendo um certo tensionamento permeado por
relações de poder. Neste sentido Foucault dialogando com
Deleuze (1979) afirma que a teoria não expressará, não
traduzirá, não aplicará uma prática; ela é uma prática. (pág.71).
É, portanto na tensão desses vários segmentos que a voz deve
ser dada à escola e a sua comunidade, para que daí surjam as
mais diversas e possíveis contribuições para este debate,
183
potencializando-se espaços de diálogo e trocas.
Na maioria das vezes parece que se está fabricando dentro
desta máquina escolar indivíduos que mantém os estereótipos e
as desigualdades. Há que se buscar as fissuras do sistema
disciplinar e da maquinaria para se (re) pensar formas criativas
de (re) ação. Lopes infere que a
“Organização criativa porque sempre há a possibilidade
de o sujeito “escapar” e/ou borrar as formas criadas para
a sua captura – formas que geralmente o aprisionam a
uma identidade, a um diagnóstico, a uma maneira de ser.”
(LOPES, 2012, p.859)
Assim tratar sobre gênero na escola é urgente, e pensar
como este tema tem sido tratado na escola também. Tenho
observado que em geral nas escolas tem havido certo retrocesso
quanto a estes temas, nos murais da escola desenhos são feitos a
partir de estereótipos ligados ao sexo e, na escola em que atei já
aconteceram de trabalhos de jovens homossexuais serem
riscados com palavrões e xingamentos. Ainda que muitas/os
colegas tenham-se empenhado em trabalhar com esta temática,
provocando algum debate e reflexão.
Trabalhar gênero requer um olhar apurado e atento,
sensível a dor que tem sido provocada àqueles que não se
enquadram aos modelos tradicionais e binários de homem e
mulher, e felizmente tem-se realizado um debate de fôlego
abrindo possibilidades de novas leituras e formas criativas de
ver, sentir e estar no mundo, desta forma há uma multiplicidade
de conceitos e outras formas de refletir que problematizam e a
questão. Louro (2010, p.51) aponta que “novas” identidades
culturais obrigam a reconhecer que a cultura, longe de ser
homogênea e monolítica, é, de fato, complexa, múltipla,
desarmoniosa, descontínua. Sendo, portanto fundamental se
repensar as práticas dando voz a esta multiplicidade de
184
identidades que estão cada dia mais emergindo em nosso fazer
cotidiano19.
Problematizar gênero significa trabalhar com múltiplos
conceitos e o vemos a partir de um rizoma20, pois para além do
enquadramento em teorias e apresentação de argumentos, o
estamos pensando como uma relação entre diferentes pontos,
uma conexão. Oliveira refere que
Penso ser do interesse da teoria feminista esta viagem
que nos permite fazer aquilo que também Joan Scott nos
impele, que é olhar para além da busca de uma origem,
mas olhar para esses processos como processos de tal
modo interligados que não se pode desenredar. ”
(OLIVEIRA, 2012, p.43)
Portanto pensar gênero é apurar o olhar a fim de captar
toda a diversidade existente, refletindo sobre as possibilidades
de existência, para além da divisão biológica entre masculino e
feminino. Como também despatologizar as identidades das
pessoas transgêneros. É dialogar com conceitos como rizoma,
onde se assume as várias formas e muitos relevos que permitem
um olhar mais diverso e mais completo.
Assim esclarece Oliveira sobre o conceito de gênero
“O gênero, do meu ponto de vista, é um rizoma. Pode ser
territorializado e reterritorializado de múltiplas formas e
19
Louro afirma que nós educadoras/es: “Temos que aprender nesses tempos
pós-modernos, a aceitar que a verdade é plural, que ela é definida pelo local,
pelo particular, pelo limitado, temporário, provisório. Temos que aprender a
ser modestos e, ao mesmo tempo, estarmos atentos em relação ao caráter
político de nossas ações cotidianas.” (pág. 51)
20
Para Deleuze (1995) o rizoma nos permite entender os agenciamentos
presentes nas relações, criando espaços para que os mais variados processos
aconteçam, permitindo que os entendamos a partir do seu funcionamento e da
busca de sentido.
185
com inúmeras invocações. Não se trata de um conceito
único, trata-se de uma multiplicidade subsumida
pelo mesmo nome ou em alguns nem sequer
subsumida pelo mesmo nome – como no caso de
Beauvoir, Mead e Riviére. É isso mau? Sim, nos modelos
positivistas e assentes na lógica moderna do desperdício
da experiência (Santos, 2000). Noutras epistemologias,
essa multiplicidade fomenta as possibilidades de pensar o
gênero de forma cada vez mais complexa e
emancipatória. É a essa sua ambivalência e definição
múltipla que o tornam aliciante para pensar com ele as
possibilidades dos feminismos contemporâneos,
marcados e habitados pelo múltiplo e não pelo uno.”
(OLIVEIRA, 2012, p.50)
Desta forma, refletir atualmente sobre estas questões
significa pensar a escola como possibilidade de habitar o novo,
o diverso seja a partir do viés feminista ou do olhar para a
diversidade homossexual, transexual e porque não também
heterossexual? Para além de se olhar sob estas perspectivas
pode-se pensar criticamente sobre o sujeito moderno, sobre as
verdades universais, historicizando a prática e as relações de
saber e poder na instituição e no cotidiano escolar. Butler afirma
que
“As estruturas jurídicas da linguagem e da política
constituem o campo contemporâneo do poder;
consequentemente, não há posição fora desse campo, mas
somente uma genealogia crítica de suas próprias práticas
de legitimação. Assim, o ponto de partida crítico é o
presente histórico, como definiu Marx. E a tarefa é
justamente formular, no interior desta estrutura
constituída, uma crítica às categorias de identidade que as
estruturas jurídicas contemporâneas engendram,
naturalizam e imobilizam.” (BUTLER, 2017, p. 24)
186
Logo cartografo esses processos e relações de gênero que
se dão na escola, como as práticas pedagógicas podem manter o
que até então historicamente foi construído ou contribuir para a
desconstrução e desnaturalização do binarismo de gênero, e
ainda, as relações de poder implicadas nesse contexto se
articulam na formação dos sujeitos.
Pensar com mais clareza e de forma refletiva nas escolas
pode favorecer a problematização de todas estas questões que
envolvem tanto o mundo das mulheres quanto dos transgêneros,
homossexuais entre outros, e podendo daí, emergir algo novo,
potente. A partir não só dos movimentos sociais que militam
nessas frentes, mas a partir de todo ser humano que acredita na
possibilidade de um mundo melhor e mais justo.
Retornamos da greve, agora quase a totalidade das
professoras/es, retomo novamente a ideia de produzir oficinas
de rimas com as alunas/os. Conversando com uma
colega/amiga, da área das letras, que também milita no
movimento feminista, é grafiteira e tatuadora, comento que
gostaria de trabalhar com oficinas de artes, mas me sinto
insegura por não ser uma área que eu conheça muito bem. Ela
de imediato se empolga com a possibilidade oferecendo-se para
colaborar na sua realização o que me deixa feliz e mais
tranquila. Ainda que assuste pensar como lidarei com estes
temas, acabo me lembrando de outro diálogo que tive com uma
pessoa muito especial em minha vida, sobre a insegurança e o
medo de falhar que tenho. Ele me diz que escondo uma mulher
corajosa e valente, porque segundo ele a coragem não está em
não ter medo, mas em enfrentá-lo. Isso tem provocado reflexões
em mim e mudanças na forma como me vejo e como vejo o
mundo. O medo da frustração pode nos paralisar algumas vezes,
187
porém temos que enfrentá-lo seja nas dificuldades da vida
profissional ou pessoal, buscando potencializar a vida e a força
que em nós possa existir. Nesse sentido apesar das dificuldades
iniciais, iremos a partir também de parcerias como esta com
colegas, quem sabe, coletivos de fora da escola, colocar em
prática as oficinas com as alunas/os, buscando conectar a vida
que existe, apesar de sua precariedade e fragilidade,
potencializando algo criativo e diferente. Que venham então, as
oficinas de rimas e grafite!
188
que é capaz. Vai fazer você sentir inveja de outros casais.
E você vai ver que as outras eram todas iguais. Vai
querer comprar um sítio lá em Minas Gerais. Essa mina é
uma daquelas fenomenais. Vitamina, é proteína e sais
minerais. Ela é a vida após a vida. Despedida pros seus
dias mais normais. Pra que mais? Ela não cansa, não
cansa, não cansa jamais. Hoje pode até chover, porque
ela só quer paz. (Ela só quer paz. Projota. 3FS, 2016)
189
beleza única: a de saber-se em construção e inacabada. Trago
comigo a mania de acreditar na vida e no ser humano, nesse
ensaio, nem tudo foi bonito, teve dor, sofrimento e muitas
lágrimas. Porém também teve a vida como potência de criação
do novo, não podemos mudar os erros do passado, mas podemos
fazer diferente, fazer melhor. Vejo e sinto isso nas mulheres
com quem convivo, mesmo as que pensaram em acabar com a
vida, na realidade gritam por algo novo que arranque a dor que
trazem, muitas vezes guardadas em silêncio em algum canto de
si. Ao encontrar a menina do bilhete esses dias ela me relatou
sorrindo que agora está tudo bem, o irmão “fez as pazes com
ela”, está namorando “em casa” e fazendo Muay thai. (Diário
de Campo 06/12/2017) É a vida pedindo passagem!
Foquei meu olhar nas mulheres neste ensaio, mas a mim
também tocaram situações vividas pelos homens, alguns que
criam suas filhas/os sozinhos, outros que assumem filhos que
não são seus e que os amam da mesma forma, avôs que
assumem o papel de pais. Admiro-os muito, me sensibiliza e
toca também seus olhares e silêncios, mas isso pode ser chão
para outras narrativas. Vejo aqui também uma potência de vida
que precisa ser melhor refletida, e narrada.
Enfim, cartografar as paisagens que me rodeiam foi uma
experiência extremamente rica, aprendi, muitas vezes desabei,
me reconstruí e voltei mais forte. Olhar o ser humano de frente
não é tarefa fácil, talvez por isso vivamos um mundo das
relações efêmeras e rápidas, dá trabalho, chega a doer, mas em
compensação ao olhar para o outro com um pouco mais de
atenção, olhamos para nós também e descobrimos tesouros
escondidos. É na troca, no território que crescemos. Talvez não
seja nem melhor, nem pior, mas com certeza hoje sou diferente
190
de ontem. Dar voz a estas mulheres, me permitiu pensar a vida,
o mundo, e apesar de tudo ainda sentir que uma outra vida é
possível, nestas mulheres encontram-se potências que podem
mobilizar para o novo. Que possamos ser o que quisermos com
quem quisermos, onde quisermos estar. Quebrar as correntes
não é fácil e que o medo que vi - e que já senti também - nos
olhares destas mulheres não as impeçam de encarar o mundo de
frente e recomeçar sempre se preciso for. Somos mulheres no
plural, andamos juntas, brigamos juntas, sentimos as mesmas
dores e alegrias, mas cada uma com sua história são singulares,
únicas e nesta caminhada, a Psicologia e a Educação também
tem muito a dizer e contribuir.
191
Referências
192
DREYFUSS, H.L. RABINOW, P. Michel Foucault: uma
trajetória filosófica para além do estruturalismo e da
hermenêutica. Tradução Vera Porto Carrera. Rio de Janeiro,
Forense Universitária, 1995.
195
Referências Musicais
196
INCLUSÃO DIGITAL NA AGRICULTURA FAMILIAR:
ATIVIDADES EXTENSIONISTAS DA UERGS-ERECHIM
Zenicléia Angelita Deggerone
Eliziane Franceschi
Douglas Cenci
Silvia Santin Bordin
Saionara Eliane Salomoni
Roberto Serena Fontanelli
Introdução
O processo de inclusão digital tornou-se muito importante
para a evolução da sociedade, visto que a cada dia surgem novas
tecnologias que disponibilizam o acesso à informação, fazendo
com que sejam necessários cada vez mais conhecimentos
específicos para sua utilização.
Diante destes benefícios da inclusão digital, agricultores
familiares que são moradores da zona rural, também podem
estar conectados em tempo real com informações, a fim de
auxiliar o desenvolvimento das atividades praticadas em suas
propriedades rurais.
Frente à importância do tema, decidiu-se desenvolver este
projeto de extensão intitulado “Inclusão digital na agricultura
familiar”. O mesmo foi executado em parceria com o Sindicato
Unificado dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do Alto
Uruguai – SUTRAF-AU – Sede de Erechim.
O objetivo geral do projeto foi capacitar agricultores
familiares na utilização das tecnologias de informação,
orientadas para a comunicação e desenvolvimento das
atividades no meio rural.
Especificadamente, buscou-se:
- proporcionar aos agricultores o conhecimento necessário
para a operacionalização de programas computacionais;
197
- capacitar os agricultores familiares na utilização da
internet e outros recursos computacionais para a solução de
problemas práticos cotidianos;
- oportunizar o acesso a informações relevantes dentro do
seu contexto sociocultural e profissional;
O projeto buscou ministrar, através de 40 horas aulas,
conhecimentos acerca da operacionalização de um computador,
e acesso aos programas: Word, Excel, Paint; e Internet.
Atividades de Extensão na Universidade Estadual do Rio
Grande do Sul
Dados disponibilizados no PDI da UERGS informam que
a mesma está organizada sob a forma de fundação de direito
privado, multi-campi, com sede e foro na Capital do Estado,
conforme seu Estatuto, decreto nº. 43.240 de 15 de julho de
2004, instituída e mantida pelo poder público estadual e
vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência
e Tecnologia.
Fundada no ano 2001, através do decreto n°11.646/01, a
Universidade tem como objetivo, segundo o artigo 2.° do
referido decreto, ministrar o ensino de graduação, de pós-
graduação e de formação de tecnólogos; oferecer cursos
presenciais e não presenciais; promover cursos de extensão
universitária; fornece assessoria científica e tecnológica e
desenvolver a pesquisa, as ciências, as letras e as artes,
enfatizando os aspectos ligados à formação humanística e à
inovação, à transferência e à oferta de tecnologia, visando ao
desenvolvimento regional sustentável, o aproveitamento de
vocações e de estruturas culturais e produtivas locais.
UERGS está localizada em 24 municípios gaúchos, que
são: Alegrete, Bagé, Bento Gonçalves, Botucaraí - Soledade,
Cachoeira do Sul, Caxias do Sul, Cruz Alta, Encantado,
198
Erechim, Frederico Westphalen, Guaíba, Litoral Norte - Osório,
Montenegro, Novo Hamburgo, Porto Alegre, Sananduva, Santa
Cruz do Sul, São Borja, São Francisco de Paula, Santana do
Livramento, São Luiz Gonzaga, Tapes, Três Passos e Vacaria.
Ministra cursos de bacharelado, licenciatura e tecnólogo,
nas áreas das Ciências Humanas, da Vida e do Meio Ambiente,
das Exatas e Engenharias. Oferece, em convênio com a
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES), um Programa Especial de Formação Pedagógica de
Docentes para tecnólogos(as) e bacharéis(las) que atuam em
Escolas Técnicas e Institutos Federais de Educação Superior
(IFES).
Metade das vagas é reservada para pessoas
economicamente hipossuficientes, incluindo a cota para negros e
indígenas, de acordo com a população no Estado (definida com
base nos dados do IBGE), e 10% são reservadas para pessoas
com deficiência.
Também oferece cursos de Pós-Graduação Lato Sensu
(especialização), nas sete regiões em que está presente, nas três
áreas de conhecimento em que já oferta cursos de graduação.
Em 2016, a Universidade abriu seu primeiro curso de Mestrado,
em Ambiente e Sustentabilidade, na Unidade em São Francisco
de Paula.
No que tange a atividade de extensão destacamos que a
Pró-reitora de Extensão – Proex - orienta, coordena e fiscaliza
todas as atividades de extensão da UERGS. Ela planeja, delibera
e normatiza suas ações através da articulação com a Comissão
Central e Câmara de Extensão do CONEPE. Fazem parte desta
Pró-reitora a Coordenadoria de Programas e Projetos e a
Coordenadoria de Eventos.
As ações de extensão realizadas na UERGS têm como
objetivo promover a interação transformadora entre a Instituição
199
e a sociedade integrando as artes e a ciência ao ensino, à
pesquisa e ao desenvolvimento social, com a comunidade
regional, visto que toda atividade de extensão acadêmica
pressupõe uma ação com a comunidade.
Disponibilizando ao público externo à instituição o
conhecimento adquirido com o ensino e a pesquisa
desenvolvidos na Universidade, a extensão se consolida, na
mesma medida em que a universidade aprende com a
comunidade. Caracteriza-se assim a extensão como via de mão
dupla, ao mesmo tempo em que se ensina, se aprende,
produzindo conhecimento, bem como aponta Freire (1977): O
conhecimento não se estende do que se julga sabedor até aqueles
que se julga não saberem; o conhecimento se constitui nas
relações homem mundo, relações de transformação, e se
aperfeiçoa na problematização crítica dessas relações.
Nessa perspectiva, a ação de extensão pode ser condutora
de um novo conhecimento a ser trabalhado e articulado com o
ensino e a pesquisa. Assim, a articulação entre a Universidade e
a sociedade por meio da extensão passa a ser um processo que
estabelece uma relação dinâmica entre a Universidade no seu
contexto social.
De acordo com a política de extensão que se busca
desenvolver na UERGS, as ações de extensão apresentam
grande diversidade e derivam da natureza da Universidade,
devido aos seus 7 campi e 24 Unidades, inseridas em diferentes
contextos socioeconômicos e culturais. Com essa amplitude e
complexidade, a extensão universitária da UERGS, assume
ainda algumas premissas que foram tratadas no 1º Encontro
Integrado de Fóruns de Áreas da Universidade.
Atendendo ao disposto na meta 12.7 do PNE 2014-2024
(BRASIL, 2014), a Universidade deverá assegurar, no mínimo,
10% do total de créditos curriculares exigidos para a graduação
200
em programas e projetos de extensão universitária, orientando
sua ação, prioritariamente, para as áreas de grande pertinência
social. Para isso, é incluída esta meta no PPC na sua elaboração
e revisão.
Na Universidade, a infraestrutura para a prática da
extensão em geral é conseguida com parcerias e convênios com
outras instituições, como Universidades, ONGs, Governo do
Estado, prefeituras municipais, escolas e demais entes parceiros
que participam de sua filosofia de trabalho. Isto faz parte da
inserção da UERGS junto às comunidades. Também são
utilizados os espaços disponíveis nas Unidades Universitárias. A
partir de 2012 houve dotação orçamentária para financiamento
de estrutura e/ou de custeio de bolsas e/ou material de apoio,
para a realização de ações de extensão.
As ações de extensão desenvolvidas pela Universidade são
classificadas por área de conhecimento, área temática e tipo de
ação.
Inclusão Digital na Agricultura Familiar
A inclusão digital é o termo usado para incluir atividades
relacionadas com a ação inclusiva na sociedade no que tange a
informação. Nesse sentido, novos desenvolvimentos em
tecnologia transformam o risco de uma divisão digital em
oportunidade, trazendo o benefício da internet e das tecnologias
relacionadas para todos os segmentos da população, incluindo
pessoas, que estão em desvantagem devido à educação, idade,
gênero, deficiência, etnia ou aqueles que vivem em regiões
remotas, ou seja, em áreas geograficamente distantes dos centros
urbanos (TAKARASHI, 2000).
O uso aplicado da tecnologia da informação pode conduzir
a um aumento na produtividade econômica, e assim objetivar
altos níveis de desenvolvimento social em áreas rurais,
201
conforme relata Madon (2007) sobre o projeto de tele centros
comunitários na Índia, em 2002.
De forma prática e direta, Gonçalves (2012) entende por
inclusão digital o processo de apropriação das novas ferramentas
tecnológicas de informação e comunicação, de modo a permitir
a autonomia das pessoas historicamente excluídas dos seus
direitos.
Numa concepção mais ampla, que vai além da inclusão
digital, Martini (2005) vê na promoção da cidadania digital uma
iniciativa fundamental para incrementar a educação da
população brasileira, com vistas a assegurar a preservação da
cultura com a proliferação de sítios de língua portuguesa e
temáticas vinculadas ao cotidiano; iniciar a requalificação
profissional de trabalhadores; e incentivar a criação de postos de
trabalho de maior qualidade.
Diante destes benefícios da inclusão digital, agricultores
familiares que são moradores da zona rural, também podem
estar conectados em tempo real com informações, para auxiliar
no desenvolvimento das atividades praticadas em suas
propriedades rurais.
A temática da inclusão digital tem tocado diversas
instituições, públicas e/ou privadas, no trabalho coletivo, a fim
de criar centros de inclusão digital, objetivando oportunizar essa
inclusão, a educação, o entretenimento, a comunicação virtual e
democratizando o acesso à internet, para a melhoria da
qualidade de vida das comunidades.
Resultados e Discussões
O projeto foi dividido em doze oficinas, sendo cada uma
delas com duração de duas horas e meia. As aulas foram
ministradas pelos professores da Universidade Estadual do Rio
Grande do Sul – Unidade de Erechim.
202
A primeira turma de agricultores familiares foi organizada
pelo Sindicato Unificado dos Trabalhadores na Agricultura
Familiar do Alto Uruguai – SUTRAF-AU, o qual doou a
UERGS, através de um termo de comodato oito computadores
para auxiliar neste curso de capacitação. As aulas foram
ministradas no laboratório de informática da UERGS – Unidade
de Erechim, e contaram com a participação de 17 alunos. O
projeto teve início no dia 15 de setembro e encerrou suas
atividades em 7 de dezembro de 2016.
A segunda turma de agricultores familiares foi organizada
pelo Sindicato Unificado dos Trabalhadores na Agricultura
Familiar do Alto Uruguai – SUTRAF-AU. As aulas foram
ministradas no laboratório de informática da UERGS – Unidade
de Erechim, e contaram com a participação de 13 alunos. O
projeto teve início no dia 21 de setembro e encerrou suas
atividades em 8 de dezembro de 2017.
Para auxiliar os alunos, foi desenvolvido um material de
apoio em que foi descrito passo a passo, os conteúdos abordados
em sala de aula, a fim de auxiliar os agricultores quando estes
quisessem praticar em suas residências os conhecimentos
visualizados durante o curso.
A figura 01, ilustra a notícia do curso, onde os alunos
tiveram o primeiro contato com os computadores, e a mídia
local esteve presente registrando este importante momento.
203
Figura 1: Divulgação do curso de informática para agricultores, em jornal de
circulação na cidade de Erechim.
204
fechar janelas e por fim, desenvolveu-se atividade prática. Na
segunda aula trabalhou-se a parte de digitação e acentuação em
documentos do Word, prática de digitação utilizando todos os
dedos, prática de navegação na internet, vídeos no Youtube,
notícias, receitas, etc.
Figura 2: Alunos em sua primeira aula
205
Na terceira oficina trabalharam-se basicamente assuntos
relacionados à iniciação à internet no navegador google chrome,
acessando-se alguns site de buscas como google e de vídeos no
youtube, onde foi pesquisado assuntos de interesse dos alunos
como: previsão do tempo, receitas, cotação de produtos
agrícolas e vídeos, além de ser revisado todas as práticas
exercidas nas duas primeiras aulas bem como coordenação
motora no paint, digitação de documentos no Word, tendo em
vista formatação de textos, internet – youtube, notícias previsão
do tempo, receitas, etc.
Figura 4: Alunos em sua terceira aula.
207
Figura 5: Alunos em Figura 6: Alunos em Figura 7: Alunos em
sua quarta aula. sua quarta aula. sua sexta aula.
208
Figura 8: Alunos em sua sétima aula.
209
No décimo primeiro encontro foi realizado uma revisão
de todo conteúdo o qual os alunos haviam mais dúvidas, foi
feito o encerramento do projeto, com avaliação do participantes
perante as aulas, e até mesmo professores e conteúdo, figura 11.
210
Figura 12: Solenidade de formatura do Figura 13: Entrega dos
curso de extensão - professores, alunos e certificados aos alunos.
lideranças compondo a mesa de honra.
211
Considerações Finais
A realização deste curso de extensão permitiu capacitar
agricultores familiares para a utilização das tecnologias de
informação, além de oportunizar democraticamente o acesso à
comunicação e a novos conhecimentos.
O curso de extensão propiciou aos agricultores familiares
noções sobre as funcionalidades de um computador; da
confecção de documentos no Word; a elaboração de planilhas de
acompanhamento de custos de produção no Excel; no acesso a
Internet, principalmente em sites de notícias; consulta a previsão
do tempo; culinária; cotação de preços dos produtos
agropecuários; sites de comunicação e entretenimento; e acesso
a vídeos demonstrativos no youtube.
Verifica-se dessa forma, que o curso de extensão
possibilitou aos agricultores familiares um maior domínio das
tecnologias, tais como, o computador, e a Internet, além do
processo de sua utilização para a troca de informações, para a
qualificação dos processos de gestão, de controle da propriedade
e para ampliação da interação com os demais agricultores e
organizações vinculadas ao meio rural.
Conclui-se a partir da realização deste projeto de extensão,
que o mesmo possibilitou a integração da Universidade Estadual
do Rio Grande do Sul – Unidade em Erechim, com a
comunidade local, principalmente com agricultores familiares,
categoria esta muito importante para o desenvolvimento local.
A curricularização da Extensão decorrente da política
pública desafia as IES brasileiras a redimensionarem suas
concepções e práticas extensionistas, marcadamente
assistencialistas e ou mercantilistas e, excepcionalmente
alinhadas às demandas da sociedade e à dinâmica curricular.
Ademais, a realização dessas atividades, potencializa a
extensão garantindo a efetividade da curricularização dessa
212
mesma, em cumprimento com o disposto no Plano Nacional de
Educação, o que propicia uma maior aproximação entre a
Universidade e a sociedade, implicando em ganhos para todos.
213
Referências
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o equívoco da extensão universitária. Petrópolis, RJ: Editora
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Disponível em: . Acesso em: 19 Jan. 2016.
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Plano Nacional de Educação – PNE 2014-2024. Brasília, DF.
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countries: processes of institutionalisation. 9th International
214
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VEIGA, J. E.; ABRAMOVAY, R.; EHLERS, E. Em direção a
uma agricultura mais
sustentável. In: Costa Ribeiro, W. (Org.). Patrimônio
Ambiental Brasileiro. 1ª Ed. São Paulo:Editora da
Universidade de São Paulo, 2012. p. 305-333. Disponível em:
<http://www.zeeli.pro.br/wp-content/uploads/2012/06/2003-
c_Em-direcao-a-uma-agriculturamais-sustentavel.pdf>. Acesso
em: 20 out. 2015.
216
COLETIVO DA TERRA: DA ESCOLA DO CAMPO ÀS
UNIVERSIDADES UM PERCURSO NECESSÁRIO
Marinalva Gomes
Werica Mirlen Duarte Silva
Míriam Elisabete Renner
Elianai Moreira de Carvalho Oliveira
Introdução
Tudo começou no ano de 2013, em uma reunião de
professores na Escola Estadual Reinaldo Dutra Vilarinho no
município de Nova Olímpia com os professores do CEFAPRO
de Tangará da Serra, a pauta da reunião era referente a
organização de um seminário educativo como fechamento do
Projeto Memória (s): Raízes Culturais da Educação do Campo
que fora desenvolvido nessa mesma escola, com o objetivo de
resgatar as memórias da construção dos assentamentos e das
vivências dos povos do campo como forma de sobrevivência
dos mesmos.
Anteriormente após sucessivas discussões, estava previsto
no projeto a realização de um Seminário Educativo, porém o
Seminário que seria desenvolvido na escola não foi efetivado
com a mesma programação que outrora havia sido discutido,
porque recebemos um convite do Professor Dr. Luiz Augusto
Passos da Universidade Federal de Mato Grosso/UFMT para
participarmos do SEMIEDU 2013, evento que o mesmo
coordenava, sendo assim, articulou-se com alguns professores a
criação desse Coletivo da Terra que teve como membros
fundadores Francisca Edilza Barbosa de Carvalho (Escola
Municipal Deputado Renê Barbour/Campo), Miriam Elisabete
Renner(Escola Estadual Reinaldo Dutra Vilarinho), Marinalva
Gomes (Escola Estadual Marechal Cândido Rondon) e parceira
217
do NEED desde 2003, Hellen Cristina de Souza (CEFAPRO
Tangará da Serra) e Leonice Mourad (UFSM).
Diante das novas possibilidades apresentadas foi
constatado que as escolas indígenas, quilombolas poderiam ser
convidadas a participar pois tinham o mesmo princípio que as
escolas do campo que é sobreviver da terra e lutar pela
permanência na mesma.
Essa discussão foi levada aos professores através de um
encontro que foi realizado pelo CEFAPRO de Tangará da Serra
com todos os professores indígenas, quilombolas e do campo,
através de seus coordenadores com o intuito de esclarecer os
objetivos da criação do Coletivo e se todos apoiariam sua
criação, com isso foi apresentado seu estatuto, lido a todos e
modificado e acrescentando as sugestões dos mesmos, através
desse acontecimento estava criado oficialmente o Coletivo da
Terra.
Resgate Histórico do Coletivo da Terra: um Relato de
Experiência
O coletivo da terra é um grupo formado pelos
profissionais da educação das diferentes áreas do conhecimento,
de diferentes grupos étnicos como os indígenas, os camponeses
e os quilombolas. O Coletivo luta pela possibilidade de
promover espaços para (re) significações acerca dos saberes
locais que se constituem essas comunidades além de contribuir
para o diálogo dos aspectos culturais, sociais e políticos da ação
pedagógica e militante das escolas, nas quais as linguagens,
histórias, técnicas e raízes se entrelaçam.
Nele os educadores abordam discussões sobre a terra
como princípio educativo, pois todos engajados neste
movimento sobrevivem dela, é da terra que tiram o sustento, o
pão, ela produz a vida, o trabalho e também educação, tanto o
218
indígena, o quilombola quanto o camponês caminham nesta
perspectiva e trabalham estes princípios da terra educadora pela
qual são, também, transformados.
CALDART (1999), fala sobre o princípio educativo da
terra e segundo ela não se trata de centrar um projeto educativo,
ou educacional, em uma única pedagogia, ou eleger uma
determinada prática social como sendo a prática educativa por
excelência; menos ainda de ir alterando esta escolha ao sabor de
modismos teóricos da conjuntura. Não é assim que os seres
humanos se educam. Não há uma prática capaz de concentrar
em si mesma, e de uma vez para sempre, todas as virtualidades
pedagógicas necessárias à formação humana.
As ações propostas pelo Coletivo se alimentam da
discussão sobre a valorização dos saberes do campo, indígenas e
quilombolas, da construção dos currículos, a seleção e
organização de conteúdo, que seja voltado para a realidade de
cada escola, desde uma lógica multicultural e principalmente da
negação da hegemonia do paradigma proposto pela
modernidade nos espaços da educação escolar pública. Para
Saviani (2003), este processo deve ser pensado e valorizado e
socializado, pois os alunos são os sujeitos deste meio são deles
as experiências vivenciadas.
Após essa decisão iniciou um diálogo com os professores
utilizando as redes sociais, para organizar o primeiro evento
coordenado pelo Coletivo da Terra, e também escolheram os
coordenadores para mediar a organização dentro de cada escola.
Inicialmente foi organizado coletivamente os temas que
estruturaria os trabalhos na escola para assim subsidiar as
apresentações dos trabalhos no evento do SEMIEDU. E ficou
assim constituído: TEMA: I FÓRUM DA TERRA COMO
PRINCIPIO EDUCATIVO.
219
Uma das propostas desenvolvidas a partir das atividades
coletivas e das atividades organizadas pelas escolas que fazem
parte do grupo é dar visibilidade aos aspectos teóricos e
epistemológicos a partir da valorização dos espaços de
discussão, da reflexão e das atividades artísticas que possam
contribuir com a afirmação da natureza política dos saberes e
das lutas dos povos indígenas, quilombolas e trabalhadores dos
assentamentos rurais.
Uma das tarefas realizadas pelo Coletivo da Terra foi o
Projeto Arte e Memória na Escola do Campo com Cândido
Portinari, uma ideia da professora Leonice Mourad e escrito pela
professora Werica Mirlen Duarte Silva que abrangeu escolas dos
assentamentos, do quilombo e indígenas, a partir das obras do
artista com proposta de releituras, no viés da diversidade
cultural e étnica, que propunha compreensão e valorização da
Arte em suas variações, regionalidade e do homem da terra, que
por muitas vezes foi marginalizado, estigmatizado pela sua cor,
raça, cultura e religião.
Portinari pintou a beleza de um Brasil de várias cores,
multicultural, lembrou da sua infância no campo e das
brincadeiras da sua época. O trabalho realizado nas escolas foi
de grande importância, em que o autor buscou valorizar a
cultura camponesa nos seus quadros em óleo sobre a tela.
Proposta de Programação – Coletivo das Escolas do
Campo, Indígena e Quilombola (da região do polo do
CEFAPRO em Tangará da Serra), Data: 10 de setembro de
2013, Atividade: Tributo ao Hemisfério Sul. Essa proposta teve
por objetivo reproduzir o Mapa Sur 501 anos Cabeza Abajo
como se fosse um grande mural sob a coordenação da Escola do
Campo. Esse espaço de diálogo foi construído com material
reciclável um globo terrestre com cinco metros de diâmetro e
220
confeccionado um mapa de tecido costurado a mão pelos
estudantes da escola do campo.
221
Fonte:Acervo Das Autoras.
222
trabalhadores rurais. Está relacionada ao plantio e distribuição
de mudas de plantas ornamentais e tinham o objetivo de tornar
os acampamentos e assentamentos mais floridos e bonitos, na
linguagem dos trabalhadores: ‘um lugar bom de viver’. A
oficina é uma proposição das escolas dos assentamentos
Antônio Conselheiro e Rio Branco ao final distribuirá mudas de
flores produzidas pelo coletivo de educadores e educandos dos
cursos de agroecologia e do Programa Mais Educação.
Mesa Redonda: Epistemologias da Educação do Campo,
Indígenas e Quilombolas; Trata-se da proposição de uma mesa
redonda com trabalhadores e lideranças das escolas dos
assentamentos, aldeias e quilombo do polo do CEFAPRO em
Tangará da Serra com convidados ligados a discussão da
valorização dos modos de produzir e socializar o conhecimento
das populações indígenas, quilombolas e assentadas.
No ano de 2014 VI FORUM DE EDUCAÇÃO DE
DIVERSIDADE “Arte, Identidade E Cultura Nos Novos
Contextos Tecnológicos e Midiáticos”, as atividades ocorreram
em parceria do NEED (Núcleo de Educação e Diversidade) da
UNEMAT, CEFAPRO, SEMEC. A proposta era divulgar os
trabalhos artísticos realizados na educação do campo, na aldeia e
no quilombo para isso as escolas expuseram seus trabalhos no
centro cultural em Tangará da Serra.
Os Fóruns de Educação e Diversidade tem se constituído
como o maior evento sobre educação nesta região de Mato
Grosso. Organizado e inspirado pelas discussões sobre
Educação e Pertinência Cultural tal como a lemos pela primeira
vez em Rigoberta Menchu, em que reúne lideranças dos
movimentos sociais no campo, povos indígenas e quilombolas e
professores da Educação Básica e Superior em todos os espaços
da sua programação. Neste ano o objetivo era de contribuir com
a discussão que relaciona educação e diversidade tendo como
223
ponto de partida o diálogo e o respeito aos modos de produzir e
socializar o conhecimento dos povos indígenas, quilombolas e
trabalhadores do campo no contexto da educação escolar básica
e superior.
Esta edição de 1014 se fundamentou na compreensão de
que as discussões que relacionam arte e novas tecnologias de
comunicação e mídias no contexto mais amplo da educação
escolar básica e superior podem oferecer um rico espaço de
diálogo e reflexão potencialmente capaz de contribuir com o
atual debate sobre arte, cultura, diversidade étnica e cultural e as
novas tecnologias de comunicação e informação. Desde o ponto
de vista da formação inicial e continuada de professores
capitaneada pelas universidades e no caso de Mato Grosso pelos
Centros de Formação de Professores da Educação
Básica/CEFAPRO o projeto de formação que considere a arte
desde as especificidades e as dimensões atribuídas pelos
próprios povos indígenas, do campo e quilombola, que
compõem o Coletivo da terra, se constitui ainda um desafio.
O evento contribuiu com a consolidação de espaços de
discussão e militância capazes de respeitar e valorizar as
dimensões política, identitária e de resistência que a arte adquire
nos movimentos sociais e nas escolas indígenas, quilombola e
do campo. E finalmente informar a alegria de ter recebido
amigos e companheiros da América do Sul porque para além do
debate local esta edição procurou consolidar o diálogo com as
discussões, pesquisas e militâncias sobre o tema nos países
vizinhos em um percurso que aceita o desafio de pensar a
América como Indígena e Africana.
Uma das apresentações do coletivo foi a Instalação:
Tributo ao Hemisfério Sul, Projeto de Instalação Artística
Interativa inspirada nas discussões de Galeano propõe uma
aposta na construção de outras possibilidades de ver, sentir e
224
conceber o mundo: “América Latina abarca em el mapa mundi
menos espacio que Europa y mucho menos que la suma de
Estados Unidos y Canadá, cuando em realidad América Latina
es dos veces más grande que Europa y bastante mayor que
Estados Unidos y Canadá. El mapa, que nos achica, simboliza
todo lo demás. Geografía robada, economía saqueada, historia
falsificada, usurpación cotidiana de larealidad de lllamado
Tercer Mundo, habitado por gentes de tercera, abarca menos,
come menos, recuerda menos, vive menos, dice menos”. Uma
proposta do COLETIVO DA TERRA, os responsáveis foram a
professora Míriam Elisabete Renner - Assentamento Riozinho,
Thauan Renner - Assentamento Riozinho.
A Exposição “Arte e Educação no Projeto Mais
Educação” com o objetivo de reunir os trabalhos relacionados a
produção artística do projeto Mais Educação nas escolas do
campo, quilombo e indígenas também idealizado pelo Coletivo
e os responsáveis foram Wérica M. Duarte Silva - Assentamento
Antonio Conselheiro e Nadir José Barivieira - SEMEC Tangará
da Serra.
Em 2016 a proposta de formação veio com o tema
‘Oficina de Formação Continuada: Terra como Principio
Educativo” aprovada pela FAPEMAT. Nossa intenção foi
realizar as oficinas entre os dias 27 de agosto e 02 de setembro.
Foram propostas três oficinas uma ligada ao projeto de química
com a professora Mariuce Campos de Morais da UFMT e nesta
mesma oficina que pensada para Barra do Bugres, também uma
formação específica sobre arte e novas tecnologias com a
professora Malu, que desde 2003 participa dos fóruns de
educação e Diversidade.
Para Tangará da Serra por sugestão de Leonice Mourad e
das educadoras do assentamento o tema foi hidroagronegócio
com a Leonice Mourad e o Luiz Augusto Passos como
225
convidados externos. Em Sapezal o tema proposto foi Educação
Escolar Indígena com parceria da Semec de Sapezal estas
oficinas foram realizadas em uma das aldeias Paresí do
município. Os convidados externos foram a Edir Pina de Barros
e a professora Maria Aparecida Bergamaschi.
Esta programação tornou-se possível com a parceria do
curso de Licenciatura de Química – UFMT, do Laboratório de
Química LABPEQ– UFMT, do Coletivo da Terra, da
SEDUC/CEFAPRO Polo de Tangará da Serra, NEED (Núcleo
de Educação e Diversidade, UNEMAT Polo de Tangará da
Serra. Com o tema Oficinas de Formação Continuada: Terra
como Princípio Educativo Projeto de Extensão: Educação
Científica em Contexto Intercultural.
A Ação: O agrohidronegócio e seus impactos na Educação
Escolar do Campo foi realizada na escola Marechal Candido
Rondon a Programação realizada em 24 de novembro de 2016,
período matutino: Recepção e abertura, apresentação: Mãe
Terra –Nossa Esperança – Apresentação Roda de conversa entre
os grupos envolvidos na realização das oficinas formativas, com
o tema “A Formação Continuada de Professores e o diálogo com
os saberes tradicionais em contextos multiculturais” com
Mariuce Campos de Moraes e Leonice Aparecida Alves
Mourad.
226
Fonte: Acervo Das Autoras
227
Fonte: As autoras.
228
229
O Livro “Terra como Princípio Educativo”
Fonte: As autoras
Foi organizado pelas professoras doutora Hellen Cristina
de Souza; doutoranda Eliane Bonoponepá Monzilar e a doutora
Marinez Cargin-Stieler, publicado pela gráfica Sanches, em
2016 e constituiu um sonho coletivo realizado que contou com o
financiamento da FAPEMAT. Esta publicação traz a tona as
características e os desafios da educação escolar e formação de
professores em contextos sociais marcados pela luta e acesso e
permanência na terra.
Os textos agrupados neste livro relacionam-se a diferentes
momentos desta trajetória e carregam as muitas contradições da
luta dos movimentos sociais contra o império do hidro e do
agronegócio e seus devastadores impactos na região.
O livro reúne trabalhos e discussões pelo CEFAPRO,
NEED e Coletivo da Terra e foram publicados os textos tal
como foram enviados e marca políticas da afirmação do valor da
diferença a da dura luta pela sobrevivência em contextos tão
desiguais.
Divididos em dois blocos, o primeiro reúne textos e
discussões dos projetos do CEFAPRO, NEED e Coletivo da
230
Terra e o segundo é uma coletânea de artigos de autoria dos
profissionais indígenas.
Fernandes e Molina (2005) no Artigo O Campo Na
Educação Do Campo afirmam que: indivíduos pensam e agem
conforme paradigmas inscritos em sua cultura. Diferentes
paradigmas orientam a sociedade. Portanto, construir um
paradigma, significa dar sentido às interpretações possíveis da
realidade e transformá-la. Quem faz isso? São todos os
protagonistas desta realidade. Quem tem papel importante nesse
processo são os sujeitos produtores do conhecimento e os
sujeitos que acreditam neste saber e o utilizam para transformar
a realidade.
Na perspectiva de novos paradigmas, surge o Coletivo da
Terra, com discussões sobre a terra como princípio educativo e
o livro traz este título, CALDART, afirma que, este princípio
educativo é um movimento das práticas, diversas, por vezes
mesmo contraditórias entre si, o que educa sujeitos, humaniza.
Ativar este movimento, desencadear processos que combinem
diferentes práticas pedagógicas, é refletir para que constituam
um movimento educativo coerente, no sentido de que
desenvolvido em torno de valores e de princípios comuns, eis a
grande tarefa dos educadores e das educadoras. Tanto mais
daqueles comprometidos com a formação dos sujeitos das
transformações sociais, e do combate pela dignidade humana,
para todos. Veja:
De certo modo reproduzem em outra dimensão, e
também politizam, o aprendizado básico que já têm como
trabalhadores da terra, lavradores. O trabalho na terra,
que acompanha o dia a dia do processo que faz de uma
semente uma planta e da planta um alimento, ensina de
um jeito muito próprio (que é também cultural,
simbólico) que as coisas não nascem prontas, mas que
precisam ser cultivadas; são as mãos do lavrador, da
231
lavradora, as que podem trabalhar a terra para que chegue
a produzir o pão. Este também é um jeito de compreender
que o mundo está para ser feito e que a realidade pode
ser transformada, desde que se esteja aberto para que ela
mesma diga a seus sujeitos como fazer isto, assim como a
terra vai mostrando ao lavrador como precisa ser
trabalhada para ser produtiva. Deste trabalho vem o
aprendizado da paciência: não adianta apressar o tempo;
da persistência: é preciso trabalhar todos os dias; e
também da resistência diante dos percalços do cultivo: é
preciso aprender a recomeçar tudo de novo e não
abandonar a terra, quando intempéries cortam um
processo de cultivo. Não é difícil enxergar, no jeito dos
sem-terra conduzirem a sua luta, os traços que trazem de
volta alguns destes saberes da sua relação com a terra.
(CALDART, 1999).
O trabalho desenvolvido pelo Coletivo da Terra se
consolida num espaço de dialogo das práticas educacionais que
promovem o debate sobre modelos educacionais culturalmente
pertinentes e socialmente justo realizadas nas escolas do campo,
indígenas e quilombolas promovendo o fortalecimento político,
pedagógico e cultural.
O trabalho é voltado para a formação continuada dos
professores e é de crucial importância no chão da escola e na
vida do profissional da educação, tendo como finalidade de
fortalecer o espaço escolar, proporcionando aos docentes um
ambiente e tempo para enriquecerem seus conhecimentos de
modo contínuo e eficaz no seu dia a dia, com momentos de
reflexão, troca de experiências e debates, leituras diversas,
buscando alternativas para soluções de melhorar o
desenvolvimento do ensino aprendizado do educando,
trabalhando os problemas enfrentados na escola a partir de
232
necessidades levantadas pelo coletivo pensando no bem estar
pedagógico dos educandos.
O olhar pedagógico da formação continuada deverá ser
voltado para o educando, respeitando e conhecendo as
características etárias, sociais, psicológicas, cognitivas e
emocionais do mesmo como sujeito de sua aprendizagem. É
importante descartar que a formação pedagógica do educador,
tem o principal objetivo de formação e desenvolvimento do
aluno, sabemos que é necessário o educador estar em constante
busca pelo conhecimento e ter como foco os quatro pilares da
educação como mapa norteador do seu trabalho, pois todo
ensino aprendizado deverá obter resultados satisfatórios que
oportunizem a qualidade de ensino através da formação, neste
aspecto buscando resgatar os princípios metodológicos da
prática educativa, motivando os educadores e oferecendo
subsídios para realizar um trabalho pautado em teorias que
amparam um aprimoramento da prática de forma dialética.
A formação continuada é um caminho muito difícil para
os educadores que vivem nos assentamentos, há muitas
dificuldades e empecilhos na sua caminhada. Porém os
educadores não desistem nunca na busca dos saberes e
conhecimentos, com muito esforço e dedicação pela sua
profissão o educador segue em frente em busca de novos
horizontes, pois sabemos da importância que é a busca pelo
conhecimento e atualização do mesmo, sendo primordial para o
aprendizado do educando. Sendo que a formação continuada da
subsídios e orientações sobre como se trabalhar com ênfase as
metodologias de estudo beneficiando o ensino aprendizado do
educando, para que o mesmo possa adquirir novos
conhecimentos e compartilhá-los para a vida toda.
A formação continuada é uma ferramenta indispensável,
pois permite a socialização e aquisição de conhecimentos que
233
irá nortear o fazer pedagógico de forma contextualizada,
buscando novos horizontes para trilhar o longo caminho do
processo de educar, para isso é preciso estar em constante
aperfeiçoamento da prática pedagógica e da aplicação das novas
diretrizes da educação.
Por isso faz-se necessário que os profissionais da
educação estejam sempre aprimorando seus conhecimentos,
discutindo as dificuldades, preparando material pedagógico e
aplicando-o na sala de aula para verificar as competências e
habilidades dos alunos, averiguando se os resultados alcançados
foram positivos ou negativos para que em conjunto com a
equipe pedagógica da escola seja possível fazer as intervenções
necessárias visando principalmente à melhoria do ensino-
aprendizagem dos educandos.
Entretanto a formação continuada nos propicia um olhar
mais afinco sobre a base Nacional de estudos dos diversos
setores da educação em todo nosso território em busca de
articulação com uma sociedade mais justa garantindo assim o
direito a aprendizagem e ao desenvolvimento do ser humano,
abrindo diversos leques de leitura e reflexão pôr as diversas
áreas de conhecimento.
Sabemos que a pluralidade e a diversidade é uma das
molas propulsora de organização do trabalho pedagógico sendo
o professor sujeito que atua no espaço escolar estabelecendo
relações num contexto de pluralidade e diversidade com outros
sujeitos, interagindo não apenas com os seus educandos em seu
cotidiano, mas sendo mediador e transmitindo sua influência em
todo o espaço educativo, mediado pelos conhecimentos
científicos, culturais, tecnológicos, filosóficos, artísticos e
políticos, onde o mesmo precisa ter a consciência que ele pode
interferir no processo educativo de forma eficaz tendo o cuidado
de não persuadir seu educando mas ter o compromisso e
234
responsabilidade de buscar metodologias que venha realmente
contribuir no processo de aprendizagem do seus alunos para que
seu trabalho seja com ênfase e eficiente na mediação de seu
conteúdo valorizando o que a pluralidade cultural que o mesmo
traz consigo.
A formação continuada é um trabalho pedagógico
essencial para contribuir na prática do educador visando a
aprendizagem do educando, pois as vivências na formação
continuada auxiliam na superação do saber e experiência,
conhecimento e prática, tendo como base instruir o professor na
expectativa de que ele assuma sua prática mediante a reflexão da
experiência vivida, onde o formador exerce o papel de
transformador e ser pensante, inicia-se uma política de formação
continuada onde os mesmos são atores desempenhando um dos
seus principais papéis, o de mediador do conhecimento. Como
diz Cabral (2008, p.94):
A Formação Continuada é um importante espaço de
reflexão, construção e desconstrução de caminhos que
nos possibilita organizar a nossa prática pedagógica em
função do desenvolvimento permanente de nossos alunos
e do alcance das competências ainda não atingidas
Entretanto a Formação Continuada é crucial para o
crescimento intelectual e profissional dos educadores enquanto
mediadores do conhecimento, onde estarão aperfeiçoando seus
conhecimentos, discutindo as dificuldades, preparando material
pedagógico e aplicando-o na sala de aula para verificar
desenvolver as competências e habilidades dos alunos
preparando-o para o mundo contemporâneo e profissional.
235
Considerações Finais
Percebe-se que o Coletivo Da Terra nas escolas do campo:
indígenas, quilombolas e campesinas, em parceria com outras
importantes instituições como as Universidades, Cefapro e
Need, núcleo de pesquisa, juntamente com todo trabalho
realizado contribuiu para desempenho dos educadores e
educadoras que distante das cidades lutam pelas mesmas causas,
lutam pelo direito de posse da terra, direito de educação e de
uma vida digna no campo e toda esta batalha resultou na
formação de vários cidadãos para o exercício da cidadania e
para o mercado de trabalho. Todo trabalho realizado reflete na
sala de aula, a formação contínua dos profissionais da educação
básica no campo, tem surtido efeito que se nota na ampla
variedade de cursos superiores dos quais nossos alunos oriundos
de escola pública do campo estão cursando, nas diferentes
modalidades de ensino, sendo eles presenciais ou
semipresenciais, universidades públicas e privadas nas esferas
estaduais e federais.
Mediante a exposição dos dados acima citados, por ser
uma escola do campo, sujeita a inúmeros desafios enfrentados,
com número reduzido de alunos concluintes do Ensino Médio,
sabemos que é necessário olhar para a “escola” como sendo um
lugar privilegiado de formação humana, em que os educadores
assumem o seu papel como formadores de sujeitos, que visam a
importância de compreensão de mundo a partir de suas próprias
escolhas para o futuro profissional.
Desta forma avaliamos os trabalhos do Coletivo da Terra e
seus parceiros como positivo, é pensando assim que
pretendemos desenvolver, reforçar e ampliar as ações pois
reconhecemos que é preciso ter uma formação continuada com
responsabilidade, desempenho e de qualidade, promovendo
estudos e debates, pesquisas e outros, para repensar e refletir
236
sobre a função da escola pública e sua proposta curricular
voltada para a superação dos desafios, especificamente, na
educação do campo.
237
Referências
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Estatísticas. Brasília – DF, 2017. Disponível em
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PPP- Projeto Político Pedagógico da Escola Marechal Cândido
Rondon, 2017.
239
240
SOBRE OS ORGANIZADORES
Gabriela Dambrós
241
SOBRE OS AUTORES
Ana Maria Oliveira Lopes
Graduada em Pedagogia, especialista em educação do campo e
alfabetização. Foi coordenadora do escritório regional da
Unesco-MT. Tem grande experiência em alfabetização e
formação de professores. Atualmente é professora aposentada da
rede estadual de educação do estado do Mato Grosso,
bordadeira, atriz e avó de Pedro, João e Caetano.
Bruna Brentano
Possui graduação em Geografia – Licenciatura Plena pela
Universidade Federal de Santa Maria (2017). Atualmente é
estudante do curso de Especialização em Mídias na Educação
pela Universidade Federal de Santa Maria. Atua como
professora na rede pública municipal de Lajeado/RS.
Douglas Casarotto de Oliveira
Psicólogo – UFSM, Esp. em Humanização da Gestão e Atenção
do SUS – ESP-RS\UFRGS, Me. em Educação – UFSM e
Doutorando em Psicologia Social e Institucional – UFRGS.
Docente do curso de Psicologia da FISMA – SM e Psicólogo do
CAPS AD Cia do Recomeço. Como pesquisador, atua no campo
da Saúde Mental e Coletiva, com ênfase na educação sobre
drogas sob a perspectiva da Redução de Danos.
242
Douglas Cenci
Especialista em Agricultura Familiar e Desenvolvimento
Sustentável (UERGS); Bacharel em Administração (UNOPAR-
Erechim); Atua como coordenador do Sindicato Unificado dos
Trabalhadores na Agricultura Familiar do Alto Uruguai
(SUTRAF-AU). E-mail:[email protected]
Elianai Moreira de Carvalho Oliveira
Graduada em Pedagogia- ITEC, Especialista em Psicopedagogia
Clínica e Educacional e em Coordenação Pedagógica-UFMT,
SEDUC/MT.
Eliziane Franceschi
Acadêmica do Curso de Administração da Universidade
Estadual do Rio Grande do Sul - Unidade em Erechim
(UERGS); E-mail:[email protected].
Fabio Nolasco
Possui graduação em Engenharia Agronômica pela
Universidade Federal de Viçosa (1974), mestrado em Fitotecnia
(Produção Vegetal) pela Universidade Federal de Viçosa (1984)
e doutorado em Fitotecnia (Produção Vegetal) pela
Universidade Federal de Viçosa (1999). Foi professor efetivo no
curso de Agronomia do Programa de Ciências Agroambientais
da Universidade do Estado de Mato Grosso, em Cáceres-MT.
Professor aposentado da FAMEV (Faculdade de Agronomia e
Medicina Veterinária), da Universidade Federal de Mato Grosso
em Cuiabá-MT.
243
Fernando de Fraga Brazeiro
Formando em 2018 de História (licenciatura) do Centro
Universitário Leonardo da Vinci (UNIASSELVI), atualmente
trabalha na Secretaria da Escola Municipal de Ensino
Fundamental Osório Ramos Corrêa, Gravataí-RS.
Gabriela Dambrós
Possui graduação em Geografia Licenciatura pela UFSM
(2011), Especialização em TICs aplicadas a educação pela
UFSM (2014), Especialização em Ensino de Sociologia no
Ensino Médio pela UFSM (2015), Mestra em Geografia pela
UFSM (2014), Doutora em Geografia pela UFRGS (2018).
Professora de Geografia na rede pública municipal de
Gravataí/RS.
Gustavo Argenta
Possui graduação em Geografia – Licenciatura Plena pela
Universidade Federal de Santa Maria (2017). Atualmente é
estudante do curso de Especialização em Mídias na Educação
pela Universidade Federal de Santa Maria. Atua como professor
nas redes públicas municipais de Arroio do Meio/RS e
Teutônia/RS.
Hellen Cristina de Souza
Graduação em pedagogia (1985). Mestre em Educação pela
UFMT (1997). Doutora em Ciências Sociais pela PUC/SP
(2010). Atualmente trabalha como professora formadora na área
de Educação Escolar Indígena no CEFAPRO - Centro de
Formação e Atualização dos Profissionais da Educação Básica
do Estado do Mato Grosso.
Joana Adriana Nunes Martins
244
Professora de História – UFSM. Psicóloga egressa da FISMA.
Mestranda de Ensino de História – UFSM. Atualmente é
Coordenadora Pedagógica da Escola Técnica Caxias do Sul.
Atua no campo da Educação e Psicologia como pesquisadora da
temática de Gênero, com interesse em formação de
subjetividades, violência e educação continuada de
professoras/es.
Kátia Gomes da Silva Amaro
Mestre em História pela Universidade Federal de Mato Grosso
(2010- 2012). Licenciada em História pela Universidade do
Estado de Mato Grosso (2007). Atualmente é professora efetiva
da rede pública estadual de ensino de Mato Grosso.
Laionel Mattos da Silva
Formado em História pela Universidade do Vale do Rio dos
Sinos (UNISINOS). Especialista no Ensino de Sociologia no
Ensino Médio pela Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM) Atualmente é estudante do curso de especialização em
Gestão Pública pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS). É professor de História da Escola Estadual Especial
Keli Meise Machado.
Leonice Aparecida de Fátima Alves Pereira Mourad
Graduada em Direito (1990) e História (1999) pela UNISINOS,
Graduada em Ciências Sociais pela ULBRA (2007); Graduada
em Geografia pela ULBRA (2017) e graduada em Agricultura
Familiar e Sustentabilidade pela UFSM (2017). Mestre em
História da América Latina (2002) e Doutora em História da
América Latina (2008) pela UNISINOS. Mestre em Geografia
(2015) pela UFSM e Doutoranda em Geografia pela UFSM.
245
Maria Henriqueta dos Santos Gomes
Licenciada e Bacharel em História pela Universidade Federal
do Mato Grosso (2010). Mestre em História pela Universidade
Federal de Mato Grosso (2012).Atualmente é docente da
educação básica no SESI Escola e docente do ensino superior da
Faculdade Cuiabá – FAUC.
Marinalva Gomes
Graduada em Ciências Biológicas (UNEMAT), Especialista em
Educação do Campo (UFMT), Mestranda no Curso de Pós
Graduação no Ensino de Ciências Naturais – PPGECN –
UFMT. Professora da SEDUC-MT, na E.E. Marechal Candido
Rondon, Tangará da Serra - MT.
Míriam Elisabete Renner
Graduada em Pedagogia UFMT. Especialista em Educação do
Campo. UFMT. Professora na Escola Municipal Renê Barbour,
Nova Olímpia MT.
Miriam Pires Corrêa de Lacerda
Pesquisadora e Professora Adjunta da Universidade FEEVALE.
Doutora em Educação pela UFRGS (2009). Realizou Estágio
Pós Doutoral junto ao programa de Pós-Graduação em
Educação PUCRS, pelo Programa Nacional Pós Doutoral –
CAPES. Mestre em Educação pela UFRGS (1990). Graduada
em Pedagogia com Habilitação em Orientação Educacional pela
UFRGS (1975).
246
Priscila Klein da Silva
Professora da educação básica. Mestra em Educação pela
PUCRS (2018). Graduada em Pedagogia com Habilitação em
Orientação Educacional pela ULBRA (2008) e especialista em
Educação de Jovens e Adultos e Educação de Privados de
Liberdade pela UFRGS (2012).
Ricardo Radaelli Meira
Graduação Ciências da Computação pela Universidade de Cruz
Alta (UNICRUZ), Mestrado Profissional em Tecnologias
Educacionais em Rede pela Universidade Federal de Santa
Maria (UFSM). E-mail do autor: [email protected].
Roberto Serena Fontanelli
Doutor e mestre em Zootecnia (UFRGS); Graduado em
Engenharia Agronômica (UPF). Atua como docente nos Cursos
de Administração e Gestão Ambiental da Universidade Estadual
do Rio Grande do Sul – Unidade em Erechim (UERGS) ; E-
mail: [email protected].
Rosemeri Köhler de Carvalho
Possui graduação em Educação Física pela Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul (1984) e especialização em
Nutrição Humana e Saúde pela Universidade Federal de Lavras
(2001). Atualmente é professor titular da Secretaria do Estado
de Educação. Tem experiência na área de Educação Física, com
ênfase em Recreação.
247
Saionara Eliane Salomoni
Pós-doutora e doutora em Ecologia e Recursos Naturais
(UFSCAR); Mestrado em Ecologia (UFRGS); Graduada em
Ciências Biológicas (PUC-RS). Atua como docente no Curso
de Gestão Ambiental da Universidade Estadual do Rio Grande
do Sul – Unidade em Erechim (UERGS); E-mail: saionara-
[email protected].
Silvia Santin Bordin
Doutora em Agronomia (UNESP); Mestra em Agronomia
(UFSM); Graduada em Engenharia Agronômica e em
Licenciatura Plena em História (UFSM). Atua como docente
nos Cursos de Administração e Gestão Ambiental da
Universidade Estadual do Rio Grande do Sul – Unidade em
Erechim (UERGS); E-mail: [email protected].
Tatiane de Souza Ritter
Graduação em História pela Universidade Estadual de Maringá
(UEM), Especialização em Psicopedagogia no Ensino
Aprendizagem pelo Centro Universitário Claretiano, Mestrado
Profissional em Ensino de História pela Universidade Federal de
Santa Maria (UFSM).
Werica Mirlen Duarte Silva
Professora da SEDUC-MT na E.E. Marechal Candido Rondon
E.E. Marechal Candido Rondon, Tangará da Serra - MT.
Licenciada em Letras – UNEMAT, Especialista em Licenciatura
Mato-grossense - UNEMAT e em Coordenação Pedagógica –
UFMT.
248
Zenicléia Angelita Deggerone
249