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FILOSOFIA E EDUCAÇÃO: UMA PERSPECTIVA SOCIOEDUCATIVA A LUZ DA

RAZÃO

Pedro Henrique dos Santos Ramos1


Paulo Cesar Delboni2

RESUMO

O presente trabalho visa responder a seguinte pergunta: Qual é a função e a


importância da filosofia para a educação? Particularmente a educação se vê diante
de novos desafios que são cruciais para o estabelecimento de seus objetivos e suas
práticas. O objetivo da presente pesquisa é evidenciar a importância do ensino de
Filosofia para a educação além de descrever, segundo opinião de autores da área
analisar os elementos centrais da relação entre filosofia e educação presentes nos
escritos de filósofos e teóricos da educação demonstrar como a relação entre
filosofia e educação implica em uma relação necessária diante da finalidade entre
ambas enquanto campos de conhecimento. A metodologia utilizada neste trabalho
foi calçada na pesquisa bibliográfica, que possibilitou estudo, pesquisa, análise e
reflexão da temática estudada. Assim a pesquisa apresenta a demonstração de que
a educação não é contrária à liberdade, para tanto, procura empregar uma
perspectiva do tipo explicativa, registrando, analisando e interpretando a questão do
homem, da liberdade e da educação presentes nas obras de Jean-Jacques
Rousseau. A Filosofia requer que estejamos abertos ao novo procurando demarcar
espaços que têm especial relevância para da Educação. Kant entende que pela
Educação parte do princípio de que ela é um processo constante e permanente,
capaz de levar o homem ao seu aperfeiçoamento como sujeito moral. Isto é, o
homem aprende a ser moral por intermédio da educação. Por fim, a contribuição
pedagógica de Paulo Freire.

Palavras-Chaves: Educação; Filosofia; Razão e Pedagogia.

ABSTRACT
The present article intends to answer the following question: What is the function and
the importance of Philosophy for the education? Particularly, education faces
challenges which are crucial to establish its objectives and practices. The present
objective of this research is highlight the importance of Philosophy teaching for
education, besides describing according to author’s opinion in the area, analyze the
main elements in the relation between philosophy and education, presented in the
philosophers writings and theorists in education. As so, showing how the relation
between philosophy and education implies in a necessary relation against the goal
between both, as knowledge areas. The methodology used in this article was

1
Graduando do Curso de Filosofia do Centro Universitário Salesiano de Vitória. E-mail: pe-
[email protected]
2
Graduado em Filosofia (PUC/MG), Mestre em Filosofia pela Pontificia Universitas Gregoriana Roma
e doutorando em Filosofia pela Universidade Católica de Santa Fé – Argentina. E-mail:
[email protected]
2

cemented through bibliographic research, which made the study possible, regarding
research, analysis and the thoughts of the theme studied. As a result, the research
shows a demonstration that education is not against freedom, and for this, looks use
an explainable type of perspective, booking, analyzing and interpreting the matter of
men, freedom and the education shown through Jean-Jacques Rousseau creations.
Philosophy requires that we are open to the new, pinpointing rooms which have
special relevance for education. Kant understands that education starts from a
beginning that it is a lasting process, able to guide the men to your improvement as a
moral being. That is, the man learns to be moral/ethical through education. Last but
not least, the Paulo Freire’s pedagogical contribution.

Keywords: Education. Philosophy. Reason. Pedagogy

1 INTRODUÇÃO

É fato que a capacidade de aprender não é uma característica exclusivamente


humana. Ou seja, tal capacidade extrapola o universo humano e racional. Porém, o
que distingue e enobrece o ser humano é a sua capacidade de se educar e educar
os outros em uma dimensão que transcende a mera existência laboral ou material e,
assim, produzir coisas que são exclusividade humana, como a política, a arte ou a
ética. As produções que essa condição humana possibilita, permitem a coexistência
de uma pluralidade de pessoas e manifestações livres de todas as espécies.
No primeiro capítulo do trabalho bibliográfico, início buscando as origens da relação
entre filosofia e educação o campo filosófico constitui-se como o mais antigo tendo
sua origem atribuída ao final do século VII e início do século VI a.C nas colônias
gregas da Ásia Menor, na cidade de Mileto, sendo o primeiro filósofo Tales de
Mileto. A palavra filosofia é de origem grega composta pela junção das palavras
Philo, que significa amizade, amor fraterno, respeito e Sophia, que significa
sabedoria assim, a filosofia é entendida como sendo a amizade pela sabedoria e o
filósofo visto como aquele que tem amor pelo saber. Para Saviani (1990, p. 30) o
filósofo é:
[...] um especialista do pensamento, [...] ele ‘não só pensa’ com maior rigor
lógico, com maior espírito de sistema, do que os outros homens, mas
conhece toda a história do pensamento, isto é, sabe quais as razões do
desenvolvimento que o pensamento sofreu até ele e está em condições de
retomar os problemas a partir do ponto onde eles se encontram após terem
sofrido a mais alta tentativa de solução, etc.
Fazer filosofia é então estar em caminho, em busca; a consciência filosófica é uma
consciência inquieta, insatisfeita, presa a um ceticismo e não à posse de um saber
absoluto.
3

A educação mostrada é aquela voltada para a natureza, que não se restringe


apenas ao conhecimento, mas a formação do sujeito. Assim a pesquisa apresenta a
demonstração de que a educação não é contrária à liberdade, para tanto, procura
empregar uma perspectiva do tipo explicativa, registrando, analisando e
interpretando a questão do homem, da liberdade e da educação presentes nas
obras de Jean-Jacques Rousseau.
A definição de sujeito ganha destaque na pesquisa, na medida em que é um
conceito contraditório na perspectiva do filósofo, pois, o cidadão é sujeito e sujeitado
de suas ações quando integrante da sociedade. Neste prisma, é que no segundo
capitulo do trabalho vou apresentar a associação entre os indivíduos, em que a
liberdade esteja presente, na perspectiva de Rousseau.
Ainda no capítulo segundo a teoria de Kant apresenta um aspecto filosófico para
discutir a educação, e com isso consegue fazer críticas bastante direcionadas ao
processo educacional. Faz alguns questionamentos sobre como seria o método
mais adequado para educar o indivíduo independentemente da classe social, visto
que a educação não apresenta a característica de educar o homem conforme o seu
nível social ou econômico, mas deve pensar no sujeito como um todo; pois a
educação não está estruturada para formar o homem apenas para o trabalho.
Como objetivos norteadores do estudo propõem-se: analisar os elementos centrais
da relação entre filosofia e educação presentes nos escritos de filósofos e teóricos
da educação, que expressam as conexões entre esses campos de conhecimento;
mapear os campos da filosofia e da educação, observando os aportes teóricos entre
esses campos do conhecimento; caracterizar a relação entre filosofia e educação
nos discursos clássico, moderno e contemporâneo da filosofia e da educação com
vistas ao esclarecimento da natureza da interconexão entre esses campos de
conhecimento; demonstrar como a relação entre filosofia e educação implica em
uma relação necessária diante da finalidade entre ambas enquanto campos de
conhecimento; discutir a compreensão de que a filosofia apresenta uma dimensão
pedagógica intrínseca, bem como a reciprocidade da afirmação, demonstrada na
formação e atuação do educador.

2 A GÊNESES DOS CONCEITOS DE FILOSOFIA E EDUCAÇÃO

2.1 A FILOSOFIA COMO FORMA RACIONAL DE CONHECER E SUA ORIGEM


4

Ter conhecimento sobre a história da filosofia, mesmo que breve, pode nos fornecer
pistas para compreendermos como o campo do saber filosófico originou as
diferentes ciências e foi decisivo para a busca de respostas para os enigmas da
vida, outrora explicados apenas por mitos. Apesar de não valer-se do empirismo e
levar em consideração explicações metafísicas em suas observações, a filosofia
clássica nos apontou a relevância da sistematização, do rigor e da racionalidade na
estruturação do pensamento.
A fase inaugural da filosofia deu início basicamente na Grécia antiga, de um período
conhecido como, pré-socrático, de acordo com a tradição histórica, o interesse
filosófico está voltado para a natureza.
Indagações e questionamentos levaram os gregos a inquietarem-se na busca de
explicações racionais que pudessem explicar os acontecimentos naturais, humanos
e sociais que permeavam sua existência posto que os mitos já não fossem
suficientes para dar conta dessas indagações. Foi por causa dessas inquietudes que
surgiram as bases para a construção dos fundamentos da racionalidade lógica no
ocidente ao longo dos anos, a partir da Filosofia.
Marilena Chauí nos oferece uma espécie de “linha do tempo da Filosofia” não como
percurso reto a ser seguido como um trajeto linear e sem desvios, mas, muito mais,
como possibilidade de nos situarmos de forma sistematizada ao longo desse tempo:
A história da filosofia grega é composta por quatro períodos, são eles:
Período pré-socrático ou cosmológico (do final do século VII ao final do
século V a.C.), período em que a filosofia se ocupa fundamentalmente com
a origem do mundo e as causas das transformações da natureza. Período
socrático ou antropológico (do final do século V e todo o século IV a.C.),
quando a filosofia investiga as questões humanas. Período Sistemático
(final do século IV ao final do século III a.C.) quando a filosofia busca reunir
sistematizar tudo quanto foi pensado pela cosmologia e pelas investigações
sobre a ação humana na ética, na política e nas técnicas. Período
helenístico ou greco-romano (do final do século III a.C. até o século IV d.C.)
Nesse longo período, que abrange a época do domínio mundial de Roma e
do surgimento do cristianismo, a filosofia se ocupa sobretudo com as
questões da ética, do conhecimento humano e das relações entre homem e
a natureza e de ambos com Deus. (CHAUÍ, 2006, p.39).
Os primeiros filósofos reconhecidos, os pré-socráticos, eram sobretudo metafísicos
preocupados em estabelecer as características essenciais da natureza no seu todo.
Platão e Aristóteles escreveram penetrantemente sobre metafísica e ética; Platão
sobre o conhecimento; Aristóteles sobre lógica (dedutiva), a técnica mais rigorosa
para justificar crenças; estabeleceu as suas regras de uma forma sistemática e
manteve intacta a sua autoridade durante mais de 2000 anos.
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Historicamente, a filosofia demorou a se fundamentar, pois, na antiguidade o pensar


era impregnado por mitos e convicções de Fé da religiosidade, o que dificultou o
estabelecimento da racionalidade específica da filosofia. Ou seja, a filosofia já nasce
calcada na forma como concebemos o pensamento racional ainda nos dias atuais.
Segundo Chauí, a filosofia grega teve forte influência sobre a formação do
pensamento e das instituições das sociedades ocidentais. Assim, a filosofia,
inicialmente, tinha o objetivo de explicar racional e coerentemente as questões da
physis relacionadas aos aspectos referentes à cosmologia e, posteriormente,
questões referentes à polis, Com o passar dos anos, novas temáticas foram sendo
incorporadas à reflexão filosófica. Reflexões essas marcadas por um pensamento
voltado para a explicação racional dos fenômenos que constituíam as inquietações
dos homens daquela época, em que muitas dessas questões ainda persistem.
Na Idade Média, ao serviço do cristianismo, a filosofia apoiou-se primeiramente na
metafísica de Platão, e em seguida na de Aristóteles, com o propósito de defender
crenças religiosas. No Renascimento, a liberdade de especulação metafísica
ressurgiu; na sua fase tardia, com Bacon e, de um modo mais influente com
Descartes e Locke, dirigiu-se para a epistemologia com o objetivo de ratificar e, tanto
quanto possível, acomodar a religião e os novos desenvolvimentos das ciências
naturais (CUNHA,1992).

2.2 O QUE É FILOSOFIA?

Quando nos deparamos com essa pergunta, esperamos uma resposta exata, porém,
na verdade estamos diante de uma série de significados, aos quais, juntos, dão
sentido ao o que vem a ser a Filosofia. Esta pergunta, talvez, seja o ponto de partida
de alunos, que iniciam seus estudos em Filosofia.
A filosofia trata da realidade não a partir de recortes, mas do ponto de vista da
totalidade. A visão da filosofia é de conjunto, de entendimento do problema, não de
modo parcial, mas relacionando cada aspecto observado outros do contexto em que
está inserido (CUNHA,1992).
Podemos buscar um significado para filosofia a partir de sua etimologia:
A palavra filosofia é grega. É composta de duas outras: philo e sophía. Philo
quer dizer “aquele ou aquela que tem um sentimento amigável”, pois deriva
de philía, que significa “amizade e amor fraterno”. Sophía quer dizer
“sabedoria” e dela vem a palavra sophós, Sábio. [...] Filosofia significa,
6

portanto, “amizade pela sabedoria” ou “amor e respeito pelo saber”.


(CHAUÍ, 2006, p.25)
Podemos ter várias explicações para responder essa pergunta, porem de forma
mais rápida de explicar o que é filosofia? Fica bem clara a colocação, que filosofia
significa “amizade pela sabedoria ou “amor e respeito pelo saber”.
Se levarmos em consideração somente estas formas de pensar a filosofia, tem-se a
ideia de uma prática filosófica como mera contemplação, algo que se exerce apenas
no campo das ideias. Porém, ainda guiada pela etimologia da palavra, vamos
constatar que esta sugere afeto (philia) pelo saber, portanto não há como
estabelecer uma relação direta com a contemplação. Dessa forma, a etimologia
acima citada a respeito da palavra filosofia, por si só, não possibilita estabelecermos
um sentido definidor do termo, diante da complexidade que a palavra suscita. O que
me leva a concluir que não é possível entendermos realmente a filosofia através,
somente, de sua etimologia.
Podemos definir, também o conceituar a filosofia como uma reflexão sobre os
problemas que a realidade apresenta.
“A filosofia não é, de modo algum, uma simples abstração independente da
vida. Ao contrário ela é a própria manifestação humana e sua mais alta
expressão(...)A filosofia traduz o sentir, o pensar e o agir do homem.
Evidentemente, o homem não se alimenta da filosofia, mas sem dúvida
nenhuma, com a ajuda da filosofia” (BRANGATTI, p. 13 1993)
A Filosofia não faz juízos de realidade, como a ciência, mas juízos de valor. Isto
significa que filosofar é ir além do que é, é buscar entender como deveria ser, julgar
o valor da ação, ir em busca do significado Filosofia propriamente surge quando um
pensar torna-se objeto de uma reflexão (CUNHA,1992).
Segundo Deleuze, 1992: “A tarefa da filosofia é, antes de qualquer coisa, criar
conceitos. O filósofo é inventor de conceitos”. Assim para entender melhor a filosofia
como criação de conceito, Deleuze nos explica que:
O filósofo é o amigo do conceito, ele é conceito em potência. Quer dizer
que a filosofia não é uma simples arte de formar, de inventar ou de fabricar
conceitos, pois os conceitos não são necessariamente formas, achados ou
produtos. A filosofia, mais rigorosamente, é a disciplina que consiste em
criar conceitos. (DELEUZE e GUATARRI, 1992, p. 13)
Podemos concluir que “a questão da filosofia é o ponto singular onde o conceito e a
criação, se remetem um ao outro.
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2.3 BREVE RELATO SOBRE O SURGIMENTO DA EDUCAÇÃO

A educação é a forma de construção de conhecimento e atitudes necessárias para


integração do homem à sociedade. Portanto, acontece em dois momentos distintos:
primeiro, como educação familiar, segundo, como educação erudita.
A respeito da educação podemos observar diferentes momentos que são de
fundamental importância para a história de nossa humanidade: Período Antigo,
subdividido em Primitivo, Antigo e Medieval, Moderno, destacando-se o
Renascimento. Como algo inerentemente humano, a educação se transforma e o
processo educacional segue as normas e os padrões de cada período histórico,
respondendo a necessidade de cada sociedade.
A arte Rupestre, feita na parede das cavernas, exposta acima, representa o período
de 4.000 a.C. Acredita-se que teriam uma finalidade ritualística.
O período primitivo corresponde à pré-história. Anterior à escrita, a educação
primitiva tem como objetivo ajustar a criança em seu ambiente físico e social através
da aquisição das experiências. O saber, neste período, é disponível a qualquer
pessoa, não existe divisão social. Os chefes de família são os professores.
As mudanças na educação ocorrem com a revolução neolítica, onde é fixada uma
divisão educativa, paralela à divisão do trabalho. (homem/mulher).
Poderíamos nos adentrar mais profundamente sobre a educação em cada
civilização ou sociedade, e como se deu no desenvolvimento de cada sociedade,
porem entre várias destacarei a Grécia Antiga.
A educação tem como princípio a formação do cidadão, completo e virtuoso, para
tanto é necessário um modelo que abranja corpo e mente; concomitantemente com
o surgimento do pensamento filosófico surge a palavra Paidéia.
Por volta do século v a.C. é criada a palavra Paidéia, que de início significa
apenas ‘criação dos meninos’ (pais, paidós, ‘criança’). Mas com o tempo, a
palavra adquire nuanças que tornam intraduzível. Werner Jaeger, famoso
helenista alemão escreveu uma obra com esse nome, diz: Não se pode
evitar o emprego de expressões modernas como civilização, cultura,
tradição, literatura ou educação; nenhuma delas, porém, coincide realmente
com o que os gregos entendiam por Paidéia. Cada um daqueles termos se
limita a exprimir um aspecto daquele conceito global e, para abranger o
campo total do conceito grego, teríamos de empregá-los todos de uma só
vez (ARANHA, 1989, p. 37).
É com os gregos que educação toma base e princípios novos. Temos na antiga
Grécia princípios educacionais diferenciados, por exemplo, em Atenas e Esparta.
Enquanto Atenas prepara a pessoa para a cidadania e exercício público, em Esparta
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os meninos são considerados como pertencentes ao estado, e assim eles devem se


desenvolver fisicamente para a defesa da sua polis.
Com Sócrates temos o começo do desenvolvimento dos princípios éticos nas bases
da educação. Sócrates também foi um grande opositor aos sofistas, que eram
mestres itinerantes que ensinavam qualquer pessoa em troca de pagamento.
Embora eles tenham sido recriminados, podemos concluir que foi com os sofistas
que começou todo o princípio real do que hoje conhecemos como educação. Platão
expõe sua visão pedagógica na forma da alegoria da caverna.

2.4 FILOSOFIA E EDUCAÇÃO

Sabe-se que a educação é uma atividade humana que funciona com um instrumento
de preservação dos valores de uma sociedade e como um meio, por onde se
realizam as transformações sociais. Por este motivo, ela precisa de pressupostos e
conceitos que fundamentem e orientem seus caminhos.
Desta forma, a educação dentro de uma sociedade é uma prática que se encontra
direcionada por uma determinada concepção teórica, uma concepção filosófica que
norteia a sua prática educacional. As relações entre Educação e Filosofia são
bastante estreitas, pois enquanto a educação trabalha com o desenvolvimento dos
jovens das novas gerações de uma sociedade, a filosofia fornece a reflexão sobre a
forma e o motivo de como se dá este desenvolvimento.
Anísio Teixeira diz que: “Muito antes que as filosofias viessem expressamente a ser
formuladas em sistemas, já a educação, como processo de perpetuação da cultura,
nada mais era do que o meio de se transmitir a visão do mundo e do homem, que a
respectiva sociedade honrasse e cultivasse”.
A filosofia estabeleceu um vínculo originário com a educação desde que os gregos
adquiriram consciência filosófica, no séc. IV a. C., aproximadamente. Trata-se do
período em que a sofística deu início à problematização da prática e da teoria
educacional, continuada por Sócrates e Platão, com uma “consciência profunda
acerca da complexidade das questões humanas e sociais” (SCOLNICOV, 2006, p.
16). Esse movimento configurou uma tendência de familiaridade da filosofia com a
educação, expressa na ideia de fundamentos para produzir, paulatinamente, um
afastamento em função de novos contextos sociais, epistemológicos e culturais e,
sobretudo, pelo surgimento das ciências, a partir do período moderno, quando só é
9

considerado saber científico aquele que segue os limites impostos pela autocerteza
e pela autofundamentação da razão.
Podemos arriscar dizer que foi com Sócrates e sua maiêutica, que se deu a relação
inaugural, no sentido pedagógico, entre a Filosofia e Educação, porém, desde os
primórdios da filosofia, muito antes de Sócrates, já a partir de seus predecessores,
essa relação pode ser percebida, se considerarmos que todo processo Educativo
passa necessariamente por “[...] uma questão primordial do ser humano, na busca
por entender sua existência no mundo e por transmitir essa experiência aos outros
seres.” (MENDONÇA, 2011, p. 3)
Filosofia e educação e, por consequência, e de certo modo, somos levados a
considerar a sua relação. São duas áreas de saber grandiosas e que se ramificam
em inúmeras especialidades, temáticas e períodos. A educação é em si uma
complexa atividade humana. Segundo Arendt (2013), entre outras coisas, a
educação é o processo de inserção das novas gerações no velho mundo. Já a
filosofia possui uma ampla gama de definições como procuraremos mostrar abaixo e
que, de certo modo, corroboram com a definição razoável, de que “filosofia é aquilo
do que se ocupam os filósofos” (BOUFLEUER; NEITZEL, 2014, p. 3). A filosofia
resulta do esforço humano em construir entendimentos e compreensões sobre o
mundo, conceituá-lo e dar-lhe sentidos e significados. Como afirma Deleuze (1999,
p. 3), filosofar é a ação de “inventar conceitos”.
As relações entre filosofia e educação são tão intrínsecas que John Dewey pôde
afirmar que as filosofias são, em essência, teorias gerais de educação. Está claro
que se referia à filosofia como filosofia de vida. Sendo a educação o processo pelo
qual os jovens adquirem ou formam "as atitudes e disposições fundamentais, não só
intelectuais como emocionais, para com a natureza e o homem", é evidente que a
educação constitui o campo de aplicação das filosofias, e, como tal, também de sua
elaboração e revisão. Muito antes, com efeito, que as filosofias viessem
expressamente a ser formuladas em sistemas, já a educação, como processo de
perpetuação da cultura, nada mais era do que meio de se transmitir a visão do
mundo e do homem, que a respectiva sociedade honrasse e cultivasse.
Filosofia e educação se fazem campos correlatos de estudo e de prática, e em
nenhum outro período da história se registra afirmação mais decisiva, primeiro,
quanto à função da educação na formação e distribuição dos indivíduos pela
sociedade e, em segundo lugar, quanto ao reconhecimento de que sociedade
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ordenada e feliz será aquela em que o indivíduo esteja a fazer aquilo a que o
destinou sua natureza.
Como se distribuiriam os homens? A observação do senso-comum estava a mostrar
que se escalonavam eles em graus diversos de capacidade mental, alguns mal se
libertando dos apetites e necessidades do corpo, outros alcançando a coragem e a
generosidade, e outros ascendendo, afinal, à contemplação intelectual e ao gosto
das ideias e das formas do espírito.
Com tais elementos não seria difícil a fórmula especulativa pela qual se ordenasse o
complexo do mundo e do homem. O pressuposto fundamental aí estava: tudo que
existe se divide em Formas e Aparências, as primeiras reais, eternas, e, só elas,
suscetíveis de conhecimento, e as últimas, passageiras, mutáveis, em processo de
ser mas não chegando a ser, suscetíveis apenas de produzir opiniões e crenças,
sem valor de saber, isto é, saber racional.

3 A CONCEPÇÃO FILOSÓFICA DE ALGUNS PENSADORES EM RELAÇÃO


À EDUCAÇÃO.

Hoje, quando falamos em Educação, nem sempre relacionamos diretamente com a


Filosofia – relacionamos com psicologia, pedagogia, uma série de outras áreas,
esquecendo que a Filosofia, originalmente como busca da sabedoria, está
diretamente ligada ao homem. O homem como ser social e cultural está incluído
nesta sabedoria que o filósofo busca compreender, e um dos elementos
fundamentais para entender sobre o homem é saber como educá-lo.
Nas etapas do contexto histórico da filosofia, podemos apresentar vários pesadores
que contribuíram para a evolução intelectual e humana da sociedade.
Portanto, se observarmos a história da civilização humana ou da Filosofia, vamos
perceber que “Educação e Filosofia” se relacionam de forma natural quase que
intrinsecamente. Cabe ressaltar que a primeira grande formulação filosófica, no
Ocidente, iniciou com os mais evidentes propósitos educativos.
Enquanto a educação trabalha com o desenvolvimento dos jovens e das novas
gerações de uma sociedade, a filosofia é a reflexão sobre o que e como devem ser
ou se desenvolver estes jovens e esta sociedade.

3.1 AS CONTRIBUIÇÕES DE ROUSSEAU E KANT NA EDUCAÇÃO


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Podemos considera, que o processo educacional, mostrando que esta colabora para
a interação do indivíduo com o meio que o cerca. Consequentemente a educação
exerce sua influência no comportamento humano, tirando deste as incoerências,
criando situações para o exercício da experiência, dos sentidos, direcionando o
indivíduo no caminho da natureza. Assim, cabe ao estudo mostrar a educação como
aquela que prepara o indivíduo para a vida dentro da sociedade, harmonizado com a
natureza, onde o bem comum é o principal resultado neste processo. A partir do
então, mergulharemos nas análises dos pensadores da educação, Rousseau e Kant.

3.2 A INTERPRETAÇÃO DA EDUCAÇÃO SEGUNDO ROUSSEAU

Jean-Jacques Rousseau, sueco nascido em 28 de julho de 1912 em Genebra Suíça


foi um dos mais importantes teóricos políticos, filósofo, escritor, compositor e faleceu
em 1778 na França. Rousseau apresentou um ensino enfatizando a necessidade da
educação individual, para que os alunos tornassem independentes e dono das
próprias escolhas. Conviveu com muitos filósofos, cientistas e estudiosos do período
do Iluminismo (Século XVIII) como Montesquieu, Voltaire, Kant, Locke e Newton,
dos quais recebeu críticas por seus escritos.
Durante a infância há fragilidade e dependência, mas para Rousseau é temporário,
pois nascemos livres e as crianças precisam estar preparadas para enfrentar os
desafios da sociedade. Segundo a teoria desenvolvida por Rousseau, a brincadeira
e os esportes fazem com que o aprendizado sobre linguagem, canto, geometria e
aritmética colabora com autonomia infantil. A educação que prepara o aluno para o
mundo, portanto autonomia e desenvolvimento psíquico contribuem com uma
sociedade independente e evolutiva;
Quanto ao meu aluno, ou melhor, o da natureza, exercitado desde cedo a
bastar-se a si mesmo na medida do possível, não costuma a recorrer sem
cessar aos outros e menos ainda em exibir-lhes o seu grande saber. Em
compensação, julga, prevê, raciocina em tudo que se relaciona de perto
consigo. Não discursa, age; não sabe uma palavra do que se faz na
sociedade, mas sabe muito bem o que lhe convém. (ROUSSEAU, 1995, p.
113)
A racionalidade para Rousseau ela ajuda calcular, julgar e prever suas intenções, de
certa forma a fantasia atrapalha o desenvolvimento racional, para o estudioso desta
forma ele acredita que desta forma aumente os desejos e vá além da realidade.
12

Durante sua vida escreveu várias obras, as principais, foram o discurso sobre a
desigualdade entre os homens, que trata de uma obra de 1753 que aborda a origem
dessa desigualdade entre os homens. O contrato social, a firmando que a vida social
é uma espécie de contrato, onde a sociedade condiciona sua liberdade para um bem
geral, obra que também está condicionada a demonstração de uma educação social
e política, e o Emilio ou da educação, esta última marcou profundamente a sua
época, e trouxe grande sucesso revolucionando a pedagogia e servindo de ponto de
partida para as teorias de todos os grandes educadores do século XIX e XX. Trata-
se de um romance filosófico onde o homem é visto como bom por natureza, mas
que a sociedade o corrompe.
Rousseau ao desenvolver suas pesquisas, destacou a importância do
desenvolvimento infantil individual, ou seja, desenvolver a capacidade de maneira
autônoma e racional. Em sua concepção ao constituir sua essência natural, caberia
ao homem seguir e obedecer a instruções do crescimento natural do ser-humano.
Faz parte do crescimento contato com a realidade, desse modo requer cuidado com
as crianças.
A observação feita pelo filosofo relacionada a formação das crianças, é que a
relação adulto/criança gere conhecimento e tenha reflexibilidade ao mostrar á
realidade. Destacando as potencialidades das crianças sendo que possam percorrer
um caminho seguro e que seja aceito em âmbito social. Compreendemos que para
o autor a educação só pode ser conquistada quando há experiência, a vivência
acaba fazendo parte das ações e reações, do cotidiano de forma natural e por vezes
acontece de forma gradativa da vida do homem e desse modo à educação teria feito
seu papel.
Outro contexto relacionado a educação para Rousseau, é a desigualdade entre os
homens a arte da nação de propriedade privada, e numa buscar constante de poder.
“[...], Mas a desigualdade se estende sem dificuldade entre as almas
ambiciosas e covardes, sempre prontas a correr os riscos da fortuna e a
dominar ou servir quase indiferentemente, conforme ela se lhes torne
favorável ou contraria.” (ROUSSEAU, p. 134, 1754)
Portanto se a desigualdade parte do poder, ou pela busca, em se tratando da
educação na visão rousseauniana podemos reafirmar que a educação também é
uma ponte para esta busca, então percebemos que na própria educação acontece a
desigualdade.
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Contudo, ainda sobre a sua educação, observa-se o meio tradicional e ao mesmo


tempo livre, pois o que Rousseau pretende é que o homem tenha a liberdade de
aprender, que não seja apenas guiado pelos caminhos já projetados feitos por outro
homem, mas que o próprio sujeito tenha liberdade de instruir a si mesmo. A esse
respeito, Aranha afirma que “Rousseau quer que o homem integral seja educado
para si mesmo. Viver é o que eu desejo ensinar-lhe. Quando sair das minhas mãos,
ele não será magistrado, soldado ou sacerdote, ele será, antes de tudo, um homem”
(ARANHA, p. 12, 1996). Por isso, a política e a educação caminham juntas
Rousseau, uma completando a outra.
Mas, sobretudo no que nos refere é que também Rousseau em seus princípios
educativos destaca que ciência e o homem devem ser ensinados como dever do
homem, mas não deve se esquecer dos processos naturais da terra para evoluir.
Isso significa que todo ser-humano deve gostar da infância e ter recordações de
saudade. Ao ter um guia essa criança estará preparada para os benefícios e
malefícios da vida, e Rousseau destaca que o homem que vive não é aquele que
conta sua idade, mas aquele que sente a vida.

3.3 A EDUCAÇÃO EM KANT

Immanuel Kant nasceu no dia 22 de abril de 1724, na pequena cidade de


Königsberg, antiga Prússia, onde foi professor catedrático, não casou e nem teve
filhos. Embora de pequena estatura e físico frágil, era um homem extremamente
metódico.
Embora Kant seja mais conhecido ou divulgado pelos seus textos chamados críticos
– Crítica da Razão Pura (1781), Fundamentos da Metafísica dos Costumes (1785),
Crítica da Razão Prática (1788), Crítica da Faculdade de Julgar (1790) –, os seus
estudos abrangem e representam uma importante contribuição na formulação de
uma nova concepção de mundo e de homem.
As reflexões kantianas sobre educação podem ser ancoradas em sua filosofia da
história. No texto Ideia de uma história universal de um ponto de vista cosmopolita
(KANT, 1986), Kant aborda o tema da filosofia da história. A história (Geschichte) é a
das ações humanas, da manifestação do jogo da liberdade da vontade humana que,
dotada de um curso regular, fornece um sentido àquilo que se mostra confuso e
irregular nos sujeitos individuais:
14

Os homens, enquanto indivíduos, e mesmo povos inteiros mal se dão conta


de que, enquanto perseguem propósitos particulares, cada qual buscando
seu próprio proveito e frequentemente uns contra os outros, seguem
inadvertidamente, como a um fio condutor, o propósito da natureza, que
lhes é desconhecido, e trabalham para a sua realização (KANT, 1986, p.10).
Portanto, é na natureza que se deve procurar o sentido da ação humana. Seria
infrutífero pressupor que houvesse nos homens e nos seus jogos um propósito
racional próprio. Cumpre a quem queira compreender o homem, descobrir, no curso
absurdo das coisas humanas, um propósito que possibilite uma história segundo um
determinado plano da natureza para criaturas que procedem sem um plano próprio.
Kant considera o homem como um ser dotado de potencialidades que podem e
precisam ser desenvolvidas para a realização máxima de suas disposições originais
que é o aperfeiçoamento cada vez maior da humanidade.
Tal qual em sua filosofia da história, vemos na filosofia da educação de Kant, a
perspectiva de um sentido para as coisas, para o ser humano, há um caminho
teleológico a ser percorrido. Por esse caminho, foram deixadas sementes, nas quais
estão todas as indicações e potencialidades que, a priori, são essenciais para que
se possa chegar ao destino esperado. À educação caberá, portanto, ajudar o
homem a cultivar tais sementes no solo do próprio eu, para que posteriormente
surjam os frutos. Embora os animais cumpram seu destino por instinto, o homem
não é obrigado a fazê-lo sem ter consciência do processo que ocorre, em razão do
fato de que “o indivíduo humano não pode cumprir por si só esta destinação, esta
finalidade, pois, não pode ser atingida pelo homem singular, mas unicamente pela
espécie humana” (KANT, 1999, p. 19). E aí está exposto o lugar e participação do
homem nessa conjectura, ele é ativo e consciente pela sua própria condição de um
ser racional e livre.
Quando se tratava da educação, Kant priorizava a formação humana. A educação,
para ele, tinha o compromisso de tornar o homem um ser moralista procurando tratá-
lo de forma prática com as possíveis transformações que estavam a sua volta. Foi
por uma revisão crítica dos fundamentos do saber e do agir iluminista através da
crítica da razão (teoria e prática) que Kant iniciou uma pedagogia rigorista, destinada
a formar um homem universal e racional, marcado pelo caráter e pelo domínio que
nele exerce a racionalidade universal.
No pensamento kantiano encontramos um posicionamento que aponta para o
homem como um ser para o qual há uma destinação para aquilo que o transcende.
O homem é um ser para o infinito e, deve, portanto, inclinar-se a cumprir esse ideal:
15

“O destino do homem, portanto, é o infinito” (REALE, 1990, p. 932). É seguindo este


caminho que queremos ter como bússola as hipóteses que foram expostas desde o
princípio deste trabalho, para que não percamos de vista os objetivos almejados. A
questão sobre a maneira pela qual a educação poderá contribuir de forma decisiva
para que o homem possa superar seu estado de animalidade e, enfim, libertar-se,
para chegar a um processo de humanização, é algo que permanece sendo nosso
foco e sendo assim, as páginas que se seguirão para o próximo capítulo serão de
fundamental importância para que tenhamos a ciência daquilo que pensa o filósofo
de Konigsberg acerca destas questões.
Elevar o homem ao seu grau máximo de perfeição pode ser, nestes termos, uma
das atribuições da educação. A ela cumpre polir, esclarecer e que o homem possa,
por seu trabalho, sair do estado de máxima rudeza em direção à máxima destreza e
à perfeição do modo de pensar e, por conseguinte, à felicidade. Nesse caso, as
gerações pretéritas têm como tarefa preparar às gerações futuras para:
[...] um degrau a partir do qual elas possam elevar mais o edifício que a
natureza tem como propósito, e que somente as gerações posteriores
devem ter a felicidade de habitar a obra que uma longa linhagem de
antepassados (certamente sem esse propósito) edificou, sem mesmo poder
participar da felicidade que preparou (KANT, 1986, p. 13).
As dificuldades sempre existirão, porém, elas fazem parte do processo que garantirá
a construção de uma vida digna. A sociedade cosmopolita não está nem no início
desse processo, por isso é preciso alertar para o fato de que há uma permanente
tensão na realização das forças naturais. Os homens estão dotados da capacidade
de se antagonizarem para o desenvolvimento de todas as suas disposições naturais.
O antagonismo torna-se, ao fim, a causa de uma ordem regulada por leis. Kant
chama-o de «a insociável sociabilidade», isto é, a inclinação dos homens «a entrar
em sociedade», mas com a tendência de «uma oposição geral que ameaça
constantemente dissolver essa sociedade» (1986, p. 13). A natureza semeou essa
disposição no homem e fez dela o meio para que se cumpra a sua finalidade.

4 A FILOSOFIA E A EDUCAÇÃO: UMA REALIDADE PARALELA?

O século XXI está passando por diversas transformações sociais, culturais,


ambientais entre outras a educação merece um destaque em especial. Trazendo
consigo novas concepções ao desafio de educar as novas inovações tecnologia se
faz presente na vida de muitas pessoas. Em meio ao desafio, os educadores vêm
16

buscando métodos que possam se adequar à nova realidade dos estudantes cada
vez mais escassos de “vontade” e anseios em desbravar suas capacidades
intelectuais. Em meio as tecnologias. Hoje tudo se tornou mais acessível,
principalmente aos meios de informações com a TV, internet, redes sociais etc. Mas
Paulo Freire nos advertia “Não podemos nos pôr diante de um aparelho de televisão
“entregues” ou “disponíveis” ao que vier.” (FREIRE,1996.)
Em tempos de Fake News, o comentário De Paulo Freire nunca foi tão importante e
atual. Em meio a ao comportamento de muitos, devemos fazer ao menos uma breve
reflexão sobre o que ouvimos e lemos em nosso dia a dia. Hoje tudo vem com maior
facilidade, maiores informações, contudo se torna mais fácil esquecê-las, pois
confunde-se informação com conhecimento.
Na sociedade atual, a ideia de construção do Homem Novo, tornou-se estereótipos
destinados a aqueles que tentam combater os novos desejos humanos. O de TER e
não se preocupam com aquilo que em meio a sua caminhada vão deixando de SER.
Novos conceitos são constituídos continuamente no ambiente pedagógico e há que
se buscarem incessantemente novos meios e novos métodos que tenham o poder
de criar esse Homem novo.
Contudo, a filosofia se mostra contemporânea e por que não dizer a mais futurista
das ferramentas de construção do processo pedagógico. Na origem filosofia e
pedagogia se confundiam na Grécia Antiga, as duas eram a mesma coisa, a
convergência entres as duas era natural, não havia distinção entre elas, hoje assim
como no passado precisamos retomar esse caminho de onde não deveríamos ter
nos afastados, pois não há como separá-las, como Pavianinos diz :(apud. Botter
2012, p. 20).
“Na sua origem, a filosofia é propriamente um projeto educativo; num
segundo momento, a filosofia fornece os fundamentos do projeto
pedagógico e a pedagogia vira uma consequência do projeto filosófico; num
terceiro momento, a filosofia assume a tarefa crítica relativa às teorias
educacionais.”
Em um mundo onde tudo está, se automatizando, os pedagogos não podem permitir
que os indivíduos deixem de pensar e desenvolver um senso crítico há cerca, da
realidade. “É nesse sentido que reinsisto em que formar é muito mais do que
puramente treinar o educando no desempenho de destrezas.”( do autor). Freire nos
mostra que a pedagogia ao fundir-se com a filosofia pode resgatar o grande
sortilégio de modificar Homens dotados de capacidade de transformar-se e de
17

modificar a realidade, deixando de lado os conceitos pré-estabelecidos pelo senso


comum e pela alienação constante imposta pela sociedade que se apresenta.
O caminho é longo, mas de alguma maneira essa junção entre a filosofia e a
educação torna-se essencial na busca de resultados promissores quanto a
preocupação desse aluno, futuramente fazendo parte de uma história, inserido num
mercado de trabalho, participante de uma democracia, se vendo responsável pelo
futuro de uma sociedade. Portanto, é preciso ressaltar condições onde a filosofia
possa ser parte integrante da formação do aluno pós Ensino Médio, é estar ciente de
que o novo Homem irá ao mundo por ele vivido capacitado, de razão e vontades,
instrumentos de qualificação humana em tempos escassos no que se refere ao
saber.
A uma dificuldade em falar de filosofia e educação, pois ambas não possuem uma
única definição, e é impossível apenas uma palavra ou termo que as determinem o
que são. Mas nessas primeiras linhas, o tema abordado será a Educação.
A uma crescente discussão a respeito da educação, e qual é o seu papel em nossa
sociedade, e em nosso país. A um aspecto positivo nessa questão em que a
sociedade começa a pensar na importância da mesma e o seu papel. Vale destacar
que no Brasil a educação não é um programa de uma nação e sim programa de
governo, que após os seus anos de mandatos aquele ou aqueles programas não
tem garantias de continuidade, mesmo que este já tenha demonstrado resultados
positivos e que são viáveis, um exemplo disso é o método Freiriano que apesar de
ter resultados tangíveis ainda é visto com desprezo por parte da sociedade.
A participação da sociedade viabiliza a todos, o conhecimento e a avaliação de tudo
que é prestado. Quando a comunidade participa ativamente dos projetos ou mesmo
de toda a construção da identidade da escola, fica mais fácil de atingir a qualidade
no ensino, pois, ao avaliar, questionar e participar, o indivíduo promove o
crescimento de todos. A participação da comunidade é imprescindível para a
democratização e gestão do ensino, pois quando se fala em educação, promove
uma ação política, “o ato de educar é uma ação política”. A Pedagogia do Oprimido
de Paulo Freire (1987) nos diz:
A educação liberadora é incompatível com uma pedagogia que, de maneira
consciente ou mistificada, tem sido prática de dominação. A prática da
liberdade só encontrará adequada expressão numa pedagogia em que o
oprimido tenha condições de, reflexivamente, descobrir-se e conquistar-se
como sujeito de sua própria destinação histórica.
18

Quando se fala em educação deve pensar no desenvolvimento sócio político,


cultural, econômico, e isso só acontecerá se a nossa educação for um ato de
libertação. “Uma educação só é libertadora quando o sonho do oprimido não é
tornar-se o opressor”. Desde os primeiros passos o ser humano recebe, educação
seja em casa, na igreja, na rua ou em outros ambientes, muitos responsáveis
frequentemente perguntam como podem ajudar na educação da escola. Ora, eles
não podem ajudar a escola, porque é essa instituição que os ajudam, a tarefa de
educar é da família, é na família que ele recebe os seus princípios étnicos, a tarefa
do estado é de desenvolver aptidões para o mercado de trabalhos como nos diz a
Constituição Federal 1988:
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será
promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e
sua qualificação para o trabalho.
Diante disso pode advém a pergunta: O que faz então a escola? A sua tarefa da
escola é o da escolarização, um processo de formalização de conteúdos ela ajuda
em uma parte da educação das crianças e dos jovens, visto que, a maior parte do
tempo a criança fica com a família e está por sua vez deve dar a criança além dos
itens básicos para sobrevivência, carinho, ternura, conhecimentos básicos sobre a
vida em comunidade como se comportar etc. A educação como nos diz Brandão
(1985, p. 10-11)
A educação é, como outras, uma fração do modo de vida dos grupos sociais
que criam e recriam entre tantas outras invenções de sua cultura, em sua
sociedade. (...) Ela ajuda a pensar tipos de homens. Mais do que isso, ela
ajuda a criá-los, através de passar de uns para outros o saber que os
constitui e legitima.
A “filosofia e educação alimentam-se reciprocamente e avançam século após século
na busca por fazer o homem cada vez mais humano” (CARBONARA, 2007, p. 253).
O sistema educacional comete um grande equívoco quando fundamenta-se somente
sobre perspectivas técnicas e pragmáticas esquecendo que o homem é uma criatura
de vontades, medos, desejos, afetos. Educar a partir da perspectiva de uma
educação libertadora, da filosofia de Paulo Freire seria romper com o pragmatismo e
com todos os princípios autoritários, dogmáticos e fundamentalistas de uma
educação “bancária” que costumam alienar os homens retirando o pensamento
crítico por uma educação para de mercado. Os temas tratados pela filosofia
contribuiriam para humanizar mais a educação e em especial os educandos. A
dimensão do pensamento filosófico Freiriano contribui para a construção de uma
19

consciência coletiva sobre a realidade do estudante, retirando de sua comunidade


elementos para o seu aprendizado e o sentido que tem a comunidade humana sobre
a terra.
Direcionando o estudo até a filosofia sabe-se que através dela o pensamento, lógico
e crítico são estimulados, auxiliando a compreensão, transformação, construção e
preservação de concepções abrangentes de mundo. A filosofia se interessa por
aquele instante em que a realidade natural (o mundo das coisas) e a história (o
mundo dos homens) tornam-se estranhas, espantosas, incompreensíveis e
enigmáticas, quando o senso comum já não sabe o que dizer e as ciências e as
artes ainda não sabem o que pensar e dizer.
A filosofia ocupa-se com a origem, a forma e o conteúdo dos valores éticos,
políticos, artísticos e culturais, bem como com a compreensão das causas e das
formas de ilusão e do preconceito no plano individual e coletivo, com as
transformações históricas dos conceitos, das ideias e dos valores. Percepção,
imaginação, memória, linguagem, inteligência, experiência, reflexão,
comportamento, vontade, desejo e paixões são alvos da filosofia, modalidades de
relação entre o ser humano e o mundo. O homem é o único animal dotado de
racionalidade, deixou de “estar-aí para ser-aí” no mundo (LIMA VAZ,1991, p. 176),
desde então ele se pergunta sobre a utilidade das coisas. Chega a ser contraditório
hoje, que o homem busque somente o que lhe é útil e se esquece da transcendência
da filosofia que é a reflexão sobre a reflexão, é uma atividade reflexiva que se
sustenta sobre outras atividades reflexivas, outras maneiras de pensar e agir. Uma
atividade baseada na análise crítica de seus próprios conceitos e pressuposições, a
fim de entender suas maneiras de discussão e dedução. Diante da importância da
filosofia nos orienta Marilena Chauí (2002, p. 18):
Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum for útil; se
não se deixar guiar pela submissão às ideias dominantes e aos poderes
estabelecidos for útil; se buscar compreender a significação do mundo, da
cultura, da história for útil; se conhecer o sentido das criações humanas nas
artes, nas ciências e na política for útil; se dar a cada um de nós e à nossa
sociedade os meios para serem conscientes de si e de suas ações numa
prática que deseja a liberdade e a felicidade para todos for útil, então
podemos dizer que a filosofia é o mais útil de todos os saberes de que os
seres humanos são capazes.
A filosofia se mostra imprescindível na formação do educador, pois oferece a ele
métodos para analisar profundamente a complexidade dos problemas educacionais
e a contribuição das diferentes disciplinas pedagógicas para o desenvolvimento
20

intelectual dos alunos. A partir dessa constatação, pode-se dizer também que ela
exerce enorme influência no processo de ensino-aprendizagem promovido nas
escolas, estimulando a curiosidade, a reflexão e o pensamento crítico dos
estudantes.
A filosofia nos dias atuais vem perdendo espaço para a era da informática e das
redes sociais, num solavanco avassalador, nossa mente já recebe tudo "pronto",
seja na forma de estímulos ao consumo, mídias e até de pensar e agir, a publicidade
estuda o assunto a fundo em grandes grupos de pesquisa, para formatar o indivíduo
através das redes ao qual ele tem acesso. Diariamente o cidadão fornece sem saber
diversas informações primordiais a respeito de si mesmo e nem se dá conta disso.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Podemos a partir de então criar nossas primeiras impressões sobre quais


contribuições a filosofia possibilita ao campo da educação e porque é necessária
uma atitude filosófica. Como afirma Reboul (1971) poder-se-ia afirmar que a
educação é talvez a prova decisiva do pensamento filosófico. Ela permite discernir o
sentido humano dos debates filosóficos para lá dos seus aspectos técnicos, colocar
os conceitos mais abstratos a prova da prática, bem como mostrar que a filosofia
não é somente trabalho de especialistas, mas dos homens. Assim, para a atitude do
educador ser entendida como filosófica, não basta apenas falar sobre conceitos, no
caso, dentro dos campos da filosofia e da pedagogia, mas questionar o sentido e
entender como os conceitos entre ambos os campos de conhecimento relacionam-
se entre si e quais fatos expressam a produção de uma atitude pedagógica com
finalidade reflexiva. Entende-se como de suma importância que o educador
enquanto filósofo da educação reflita sobre a problemática educacional ao qual ele
está inserido e que este busque um significado existencial para sua prática.
Para Rousseau a educação básica influencia no crescimento do aluno, sua técnica
de aprendizado é racional e independente. De certa forma o aprendizado só é
adquirido com experiência, do qual ele chama “experiência natural”.
O processo educativo kantiano tem como primeiro passo formar o homem para
viver em sociedade,
transformando a coação externa em liberdade e autonomia e isso se traduz por
fazer com que a disciplina imposta pelo educando passe a ser
21

gradativamente uma coação interna do ser humano, quando ele terá condições de d
ar‐ se leis e viver sob as mesmas.
Ensinar filosofia deve levar o estudante para o universo da problemática filosófica,
fazendo com que ele observe que esse é o universo das possibilidades. Esse
trabalho de discutir a filosofia irá permitir o caminho de um programa ou de temas a
serem perpassados.
Essa possibilidade que foi traçado no início poderá ser modificado conforme a
sequência das questões que estão sendo utilizadas pelo aluno e professor.
Lançadas essas questões, devemos observar a possível percepção do estudante,
de que a questão não pode ser explicada através das regras definidoras de nossas
atitudes diárias, e o estudante usará de seu pensamento e raciocínio sem pressa
para sua resposta, não passando por aquele processo acelerado, atitude que leva
ao ritmo apressado da produção.
Para a Filosofia e as demais disciplinas, se ousarmos pensar sempre será melhor,
sendo a paciência e a lentidão virtudes do pensar. Isso quer dizer que daremos
tempo necessário para que o estudante possa acessar e rever suas experiências e
refletir sobre elas. Com a visão metodológica e didática de ensino, tal prática
significa deixar que discussão entre os estudantes possa seguir sem pressa de
alcançar um resultado.
Outro método importante é o texto filosófico. Ao ser trabalhado em sala de aula
devemos observar que eles não se prestam a verdades ou doutrinas absolutas, pois
são o resultado de uma busca, e assim serão sujeitos à discussão. Sendo assim não
podemos trabalhar com a escolha dos temas que está na moda, mas usaremos a
moda para discutirmos as situações presentes no mundo do consumo e da cultura
de massa.
Portanto, é de extrema importância a valorização do exercício diário da escuta, outro
caminho a ser colocado em prática pelo professor em sala de aula. Com esse ponto
ressaltado, devemos avaliar e considerar que é necessário cultivar o aprendizado de
ouvir e respeitar a opinião do colega, sem que essa situação não signifique ser
obrigado a aceitar tudo o que o outro diz, tendo em mente o saber discutir as
opiniões colocadas.
22

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