O Ensino de Filosofia

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O ENSINO DE FILOSOFIA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Marcos José Burnagui1

RESUMO: A pesquisa tem como finalidade, propor algumas expectativas para


desenvolver as habilidades do pensar, refletir sobre a realidade humana, como seres que
buscamos respostas para as indagações humanas. A finalidade da pesquisa é oferecer
aos estudantes do CEJA um suporte através da filosofia para ajudar na discussão dos
problemas cotidiano e apontar caminhos racionais para soluciona-los. A necessidade de
seres humanos questionadores desperta a necessidade da busca de usar o espaço do
CEJA para fazer algumas provações: os “por quês”, os “pra quês” e os “como”. Alguns
pensadores da área filosófica justificam está necessidade como crianças que buscam
entender o movimento histórico a partir das perguntas. O objetivo da pesquisa é
despertar esses alunos para o questionamento e elevar a sua consciência em um estágio
mais elevado de maturidade e percepção da realidade. O trabalho científico sobre “O
ensino de filosofia na educação de jovens e adultos” tem por objetivo levar uma
discussão, sistemática, rigorosa e radical do processo filosófico para os alunos do CEJA.
Diante da problemática filosófica é de fundamental importância fazer os jovens e
adultos da escola terem o contato com o processo de reflexão, principalmente tomar
como método o olhar filosófico para as questões que envolvem a sua vida e os seus
problemas existenciais. O pensar crítico e reflexivo neste mundo capitalista e
consumista tornou-se distante das pessoas. Retomar essa problemática filosófica,
resgatar a identidade dos “seres pensantes”, devolver a eles a condição de serem eles
próprios os mediadores de suas decisões. A convivência desses alunos com a filosofia é
mínima, pois não tiveram a oportunidade e nem o contato com a filosofia e com os
temas que ao longo da história os filósofos fizeram, diante disso, é de fundamental
importância que possibilitemos essa interação entre os estudantes do CEJA e a filosofia
que eleva a condição humana de todos.

Palavras-chave: Filosofia. Ensino de filosofia. Reflexão crítica. EJA.

1
Licenciado em estudos sociais, professor da rede estadual de Santa Catarina.
Especialista em Educação Profissional Integrada à Educação Básica na Modalidade de Educação de
Jovens e Adultos – PROEJA pelo IFSC, polo Lages.
INTRODUÇÃO

O pensar reflexivamente tem sido uma das grandes problemáticas da escola.


Como fazer com que alunos tenham domínio da realidade que os cercam? Como fazer
que criem gosto pelo pensar, como despertá-los do “sono da razão”?
Aprende-se a fazer as coisas fazendo, aprende-se a pensar pensando... não
existe forma mágica para se despertar da ignorância. Existe processo de levar as pessoas
a se conscientizar da necessidade de mudança para se conquistar a dignidade.
A perspectiva é fazer, na relação interdisciplinar, a construção do processo
racional de Jovens e Adultos. Só se deixará os alunos mais conscientes quando se tiver a
consciência que o ser humano não é gaveta de conhecimento, mas é processo, é
totalidade onde um conhecimento não está desvinculado de outro, ou seja, um
complementa o outro.
A filosofia é fundamental para elevar a auto-estima dos alunos, na
compreensão de seus valores a partir de sua família, da sua cultura, do seu meio social.
Com a descoberta destes valores, os estudantes tornam-se protagonistas da busca do
conhecimento, tão importante para se redescobrir na sociedade como mediador da
mudança.
A problemática abordada circunscreve em entender como desenvolver as
habilidades do pensar e do refletir no cotidiano dos alunos do CEJA, de modo especial
nas escolas de Lages.
A investigação desta problemática justifica-se tendo em vista a necessidade
urgente de se buscar uma sociedade mais pensante. Com a filosofia no CEJA é possível
fazer um debate de temas pertinentes. Esses estudantes não tiveram a oportunidade de
fazer filosofia, nesse sentido é uma novidade, diante do senso comum que prega que a
filosofia não serve pra nada, é um acrescentar um critério único e fundamental que é o
pensar reflexivo, que é o questionar os fatos e situações que envolvem a vida a as
relações desses alunos.
Quando falamos em estudantes do CEJA, sabemos que esses alunos foram
privados, excluídos da escola. Diante dessa problemática o ensino de filosofia para os
estudantes do CEJA, tem uma relevância muito grande, pois vai resgatar juntos com as
outras disciplinas uma ampla visão de mundo e de indivíduos.

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A possibilidade é de resgatar a condição de seres pensantes, transformar
esses estudantes em seres ativos e participantes das decisões que envolvem suas vidas e
as situações e conflitos do cotidiano.

1. A IMPORTÂNCIA DA FILOSOFIA NA VIDA DO SER


HUMANO

O maior desafio para o ser humano é se entender como ser pensante, ser que
busca resposta para sua existência, para a existência do mundo e de tudo o que está em
sua volta. Compreender a totalidade é o maior desafio para a humanidade. “Admirar-se
com a realidade, é estar em continua contemplação e reflexão sobre o mundo que nos
circunda. Tomar tudo como rotineiro, natural e comum é estagnar a mente e entrar numa
atividade costumeira onde nada causa espanto e pouco faz refletir” (TOMELIN, Janes e
Karina, p 57).
O próprio filósofo Sócrates em sua dinâmica de compreender o ser humano
nos adverte, “uma vida sem reflexão não merece ser vivida”, ou seja, o ser humano que
se entende por gente tem por dever refletir, buscar resposta para tudo o que está em sua
volta. A filosofia se encarrega de fazer esta “viagem” na busca de respostas para as
angústias.
A filosofia resgata o desejo pelo saber que nasce a partir da necessidade de
desvelar o conhecimento escondido, nascendo assim, o conceito das coisas, dos objetos
existentes. Para Deleuze e Guattari (1997. p 13), “a filosofia, (...), é a disciplina que
consiste em criar conceitos”. Os conceitos elaboram o conjunto mutável de
entendimento que se pode elaborar sobre a realidade, fazendo com que o filósofo
encontre o instrumento que lhe possibilite pensar sobre seu contexto em contínua
transformação.
Ao conceituar, pensa-se a singularidade das coisas no seu convívio com a
totalidade. Nem fragmentos, nem definições, nem verdades absolutas são suficientes
para filosofar, somente nos conceitos o filósofo encontra as razões para seu pensar. O
conceito é para a filosofia um instrumento de dúvida, questionamento e reflexão.

(...) Ser filósofo, disse Thoreau, não é apenas ter pensamentos sutis,
nem mesmo fundar uma escola, mas amar o saber a ponto de viver,
segundo os ditames deste saber, uma vida de simplicidade,
independência, magnanimidade e confiança. Podemos estar certos de
que, se conseguirmos controlar o saber, todas as demais coisas nos

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serão incorporadas. A verdade não nos fará ricos, mas nos tornará
livres. (DURANT, W. p. 26-7)

Filosofar é apaixonar-se na busca da total racionalidade, refletir e pensar


eleva a condição de ser humano, ou seja, o traz dignidade o torna indivíduo consciente
de si, do mundo e de tudo o que o circunda.
O pensar filosófico surgiu gradativamente em substituição aos pensamentos
e tradições mitológicas. Diante desse processo e fundamental que conheçamos algumas
das características do surgimento da filosofia.

2. O SURGIMENTO E CARACTERÍSTICAS DA FILOSOFIA

A formação do pensamento filosófico se deu na passagem do mito para a


razão. A principal característica está justamente na superação da visão cosmogônica2
para uma explicação cosmológica sobre a ordenação do universo. Da cosmogonia para a
cosmologia3 nasce a filosofia.
As tradições cosmogônicas trazem uma perspectiva do surgimento do
universo feito por deuses da mitologia Grega. A cosmogonia é a criação do universo
feitos por deuses e a cosmologia é o processo filosófico de investigação racional sobre
as possíveis formas de ordenação do universo, uma delas muito conhecida a teoria do
Big Bang.
A filosofia surge quando alguns pensadores resolveram duvidar das
explicações mitológicas e começaram a pensar na possibilidade de explicar a realidade a
partir da razão, sem recorrer à fé.
O conhecimento filosófico surgiu gradativamente em substituição aos mitos
e às crenças religiosas na tentativa de conhecer e compreender o mundo e os seres que
nele habitam.
A filosofia é uma matéria que vem pra somar ou seja, tem por finalidade
criar a possibilidade de ajudar na compreensão do indivíduo na sua totalidade, por isso
ela é interdisciplinar.

3. FILOSOFIA E A RELAÇÃO COM AS OUTRAS DISCIPLINAS

2
Cosmogônica – Cosmogonia – termo usado para designar o surgimento do universo feito por deuses da
mitologia grega.
3
Cosmologia - Termo usado para designar a explicação cientifica – racional do surgimento do universo.

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Na compreensão e abrangência da filosofia, entende-se que todo o
conhecimento está totalmente vinculado ao processo racional. Desta maneira,
compreende-se o ser humano primeiro racional. Nesta compreensão, entende-se o
sujeito primeiro filósofo para depois entendê-lo como um ser aberto para vários tipos de
conhecimento.

A filosofia significa e abrange cinco campos de estudo e discurso: a


lógica, a estética, a ética, a política e a metafísica. Lógica é o estudo
do método ideal de pensamentos e pesquisa. Estética é o estudo da
forma ideal, ou beleza, é a filosofia da arte. Ética é o estudo da
conduta ideal, o mais elevado dos conhecimentos, dizia Sócrates, é o
conhecimento do bem e do mal, o conhecimento da sabedoria da
vida. Política é o estudo da organização social ideal, polis – como
bem governar a cidade. Metafísica é o estudo da realidade máxima de
todas as coisas: da natureza real e final da matéria (ontologia) da
mente (psicologia filosófica, e da inter-relação de mente e de matéria
nos processos de percepção e conhecimento (epistemologia)
(DURANT, W. p. 26-7)

Na compreensão interdisciplinar não existe possibilidade de trabalhar em


sala de aula as diferentes formas de aprendizagem sem relacioná-las. Todas têm em
comum formar seres humanos dinâmicos, preparados para enfrentar as complexas
realidades existentes na realidade. Diante disso, a perspectiva é tornar a filosofia uma
parceira na compreensão do estudante.
Desenvolver a consciência é uma das características e potencialidades da
filosofia. A busca desta consciência implica numa necessidade existencial, para se
tomar controle do movimento histórico. “A filosofia torna o instrumento racional para
despertar a humanidade de seu sono profundo, das ilusões, das manipulações, da
verdade ofuscada”. (TOMELIN, Janes e Karina, 58).
A filosofia tem uma intima relação com a ciência, pois a ciência trabalha
com fundamentação teórica, um embasamento pratico, e a filosofia tem como
característica a construção de uma discussão ampla e abrangente sobre temas das quais
a ciência também se ocupa.

4. A FILOSOFIA E A CIÊNCIA

A ciência a partir do século XVIII se emancipa e dá autonomia para o


cientista conhecer e desvelar o funcionamento do universo. A relação que se constrói
entre filosofia e ciência é na busca de resposta para a vida humana. “O iluminismo

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funde as teorias do empirismo e racionalismo para organizar um saber empírico e
racional, verdadeiro pelo rigor da observação e precisão da matemática”. (TOMELIN,
Janes e Karina, p 67)
A ciência se tornou uma aliada da revolução industrial e a humanidade
mudou sua maneira de ver o mundo e de viver. Muitas invenções propiciaram uma vida
facilitada para o ser humano, porém, paralelo a tudo isso, cresce um grande
desequilíbrio entre humanidade e meio ambiente.
Os temas dos quais a filosofia tem uma preocupação de discussão e

entendimento estão ligados a política, as ideologias e a liberdade. Esses temas são

importantes e necessário para o entendimento e a busca por caminhos ligados a ética.

5. TEMAS RELACIONADOS À FILOSOFIA

A complexidade de filosofia é tão grande que vai além, por isso essa
totalidade deve ser estudada. Entende-se que fazer filosofia é compreender o conjunto
de realidade complexas que formam o ser humano e tudo que está em sua volta. Dentre
estas realidades, pode-se citar: a política, a ideologia, liberdade, entre outros.

5.1 Política

Desde as primeiras civilizações, o ser humano se organizou socialmente para


garantir sua sobrevivência. As relações de poder marcam, em cada grupo social, as
condições políticas que ele vive.
A palavra política tem origem grega, polis, que significa cidade. Política
significa a arte de bem dirigir a cidade, porém, ainda hoje, muitos não entenderam seu
verdadeiro significado. A palavra polis significa cuidar da cidade, mas não literalmente,
cuidar da cidade significa cuidar das pessoas que vivem nela, ou seja, cuidar do cidadão
que mora na cidade, para que ele tenha cidadania.
Muitos dizem detestar a política, mas na verdade o que eles detestam é a
politicagem existente nas mais variadas áreas. A política é imprescindível a um povo,
mas infelizmente as relações de poder são corrompidas politicagem. Segundo
Emmanuel Mounier, tudo é política, mesmo que a política não seja tudo.

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O pensamento de Dom Pedro Casaldáliga vai nesta perspectiva quando
sustenta que temos que fazer da política um exercício básico de cidadania. A cidadania
é o reconhecimento político dos direitos humanos. Por que somos humanidade, somos
sociedade.
Para haver uma política saudável, recuperada em seus princípios mais dignos
e humanos, se é desafiado a se conscientizar e politizar. Parágrafo muito curto.
Segundo Aristóteles, “o ser humano é um ser social e político” (TOMELIN,
Janes e Karina, p. 97). Política é participar na vivência. Em sociedade, convive-se e na
relação com os outros se participa da sociedade. Se for ser político, participação é a
palavra de ordem. Contudo, a participação pode ser ativa, transformadora,
emancipadora, inclusora ou passiva, deixando as coisas como estão, desiguais,
excludentes, geradoras de pobreza.
Esta última forma de participação é conveniente com a politicagem que é a
arte de manipular. Neste sentido, o silêncio político, o apoliticismo, são úteis para a
manutenção do poder corrupto. “Queremos ser políticos e fazer política, sem possível
neutralidade, ser a favor da vida ou da morte, nisso não existe neutralidade, ou servimos
à vida ou somos cúmplices da morte de muitos seres humanos”. (Dom Pedro
Casaldáliga,
http://www.servicioskoinonia.org/agenda/archivo/portugues/obra.php?ncodigo=1)
Para ajudar a diferenciar o que se almejamos do que se abomina, o
economista Rui Barbosa usa os termos política e politicalha. Veja-se:

A política afina o espírito humano, educa os povos no conhecimento


de si mesmos, desenvolve nos indivíduos a atividade, a coragem, a
nobreza, a previsão, a energia, cria, apura, eleva o merecimento. Não
é esse o jogo da intriga, da inveja e da incapacidade, o que entre nós
se deu alcunha de politicagem. Essa palavra não traduz ainda todo o
desprezo do objeto significado. Não há dúvida que rima bem com
criadagem e parolagem, afilhadagem e ladroagem. Mas não tem o
mesmo vigor de expressão que os seus consoantes. Quem lhe dará
com o batismo adequado? Politiquice? Politiquismo? Politicaria?
Politicalha? A política é a arte de gerir o Estado, segundo princípios
definidos, regras morais, leis escritas, ou tradições respeitáveis. A
politicalha é a indústria de explorar o benefício de interesses
pessoais. A política é a higiene dos países moralmente sadios. A
politicalha, a malária de todos os povos de moralidade estragada.
(Rui Barbosa, 2007)

Da mesma forma, Bertolt Brecht na sua poesia “o analfabeto político”

afirma:

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O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, não
participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de
vida, os preços do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e
do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é
tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia política.
Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nascem a
prostituta, o menor abandonado, o assaltante, o drogado e o pior de
todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e
lacaio das empresas nacionais e multinacionais. (Bertolt Brecht).

A palavra política significa a arte de bem cuidar as pessoas que vivem na


cidade. A politicalha significa o jogo de interesses pessoais que almeja o poder para
obter benefícios pessoais.

5.2 Ideologia

A palavra ideologia é empregada cotidianamente de duas maneiras: a “boa


ideologia” e a “má ideologia”.
A primeira conhecida como “boa ideologia” recebe uma forma de emprego
que está associada a uma necessidade social, a uma identidade social, como lembra a
música do Cazuza: “ideologia, quero uma pra viver”. (TOMELIN, Janes e Karina, p.
122).
A segunda conhecida como “má ideologia” faz referência à manipulação
social como forma de dominação. Ou pode ser ainda o conhecimento utilizado
interesseiramente, sendo uma tentativa de convencer as pessoas por meio de uma
elucidação ou falseamento da realidade
O filósofo Karl Marx verificou a estrutura social que se formou em cada
tempo, principalmente a era industrial e percebeu que toda sociedade está dividida em
classes, sendo que uma domina as demais. Para não perder seus privilégios e conquistar
outras, a classe dominante utiliza um mecanismo sutil de dominar e assim perpetuar-se
no poder. A ideologia é a voz do opressor e a alienação o silêncio do oprimido.
A ideologia está presente na escola, na família, na religião, na política, na
mídia e em todos os lugares onde as pessoas se relacionam. Ele se propaga em todas as
instituições sociais que, de alguma forma, exercem um papel formativo da consciência
humana. Veja nas características a seguir, o que a ideologia faz e como atua na
consciência humana:
 Manipula as vontades;
 Cria desejos e necessidades;

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 Desenvolve o fascínio pela mercadoria;
 Encobre a verdade;
 Deixa a realidade confusa e distorcida;
 Possui um discurso lacunar;
 Explica a realidade a partir da visão de mundo da classe dominante.
A função da ideologia dominante é conservar as coisas como estão, ou seja,
criar uma realidade ilusória confortável a todos os dominados de forma que não sintam
as contradições e o peso da opressão. Para conservar as coisas como estão, ele se utiliza
dos mecanismos acima apontados e se dilui na ingenuidade coletiva.
Na ideologia de consumo, a classe dominante tem como prioridade fazer
com que as pessoas consumam desenfreadamente. No sistema capitalista, a produção é
voltada para o consumo e para o lucro. Quanto maior a procura, maior a produção e
maior o lucro.
A propaganda é a estratégia para fazer as pessoas consumirem. Ela cria
modelos, padrões de beleza, gosto, prazer, lazer que fazem as pessoas almejarem o que
lhes é apresentado. Os propagandistas sabem que todos buscam a felicidade, a
harmonia, o bem estar, uma família feliz, etc.
A partir da realidade e da vontade, os propagandistas criam uma imagem
daquilo que se almeja, agregando a um produto. De alguma forma, a propaganda nos
promete: “compre isso e leve aquilo”. Consuma cigarro X e tenha a liberdade, creme
dental N para um sorriso perfeito, sabonete M para uma pele perfeita. Muitas vezes se
compra o produto por aquilo que ele promete, muito mais do que aquilo que realmente
pode fazer, ou seja, compra-se a ilusão.
Sobre o consumo alienado quem fala é Carlos D. de Andrade na poesia Eu,
Etiqueta:

Em minha calça está grudado um nome que não é meu de batismo ou


de cartório, um nome... estranho ... Meu tênis é proclama colorido de
alguma coisa não provada por este provador de longa idade. Meu
lenço, meu relógio, meu chaveiro ...Meu isso, meu aquilo, desde a
cabeça aos bicos dos sapatos são mensagens, letras falantes, gritos
visuais ... e fazem de mim homem-anúncio itinerante ... estou, estou
na moda. É doce estar na moda, ainda que a moda seja negar minha
identidade, trocá-la por mil, açambarcando Todas as marcas
registradas ... com que inocência demito-me de ser eu que antes era e
me sabia tão diverso de outros, tão mim-mesmo, ser pensante, sentinte
e solidário com outros seres diversos e conscientes de sua humana,
invencível condição(...)http://pensador.uol.com.br/frase/MjAyODM0/

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A classe dominante usa das alienações individuais para se manter no poder e
manter os trabalhadores alienados ao capitalismo. A resposta ao conceito de ideologia
passa a ter um cunho político, ou seja, sua origem é constatada na ambição capitalista
que para explorar precisa dificultar a percepção do real e alienar.

5.3 Liberdade

O problema da liberdade está em pensar se existe ou não. Será que se é livre?


Que tipo de liberdade se tem? Por muitas vezes as pessoas se sentem presas, sem
liberdade para sair de casa ou fazer o que se gosta.
A liberdade sempre foi uma questão fundamental na história da humanidade.
Todos querem ser livres. A história revela que muitas pessoas tiveram que pagar um
preço alto pela liberdade. Muitos queimados em fogueira, outros presos, perseguidos e
torturados.
Para a corrente filosófica existencialista, a liberdade é uma das grandes
angústias da condição humana. Constantemente se está escolhendo, porque se é livre. A
angústia está na responsabilidade das escolhas livres que se faz.
Nesta condição da escolha, os seres humanos não nascem livres. A liberdade
é conquistada dia-a-dia. Assim procedem todos os que querem romper com as correntes
que prendem, alienam e interrompem a liberdade.
No livro de Leonardo Boff, “A águia e a galinha”, o pensador ajuda a refletir

sobre as escolhas e opções.

Numa tarde sonolenta de verão, voltava um criador de cabras, do alto


de uma planura verde. Quando passava ao pé de uma montanha,
encontra um ninho de águias todo estraçalhado. Recolheu a águia
com cuidado e pensou em levá-la ao seu vizinho, que empalhava
animais. Na manhã seguinte teve grata surpresa. Percebeu que a águia
se mexia levemente. Havia feridas em várias partes do corpo e a
águia estava cega. Todo dia partia-lhe pedaços de pão e carne e a
alimentava com dificuldade. Depois de um ano, começou a perceber
que os sentidos despertavam para a vida. Primeiro os ouvidos. Depois
começou a mover-se por si mesma. Recuperou sua voz, mas continua
cega. Os olhos são tudo para uma águia. Por fim o empalhador
decidiu coloca-la junto às galinhas. Depois de três anos de paciente
cuidado ela recuperara seu corpo de águia. Passado algum tempo, o
empalhador recebeu a visita de um naturalista, que ficou perplexo ao
ver a águia galinha. Decidiram fazer um teste. O empalhador
colocou-a no braço e falou-lhe: Águia, nunca deixará de ser águia,
estenda suas asas e voe. Porem vendo as galinhas, a águia deixou-se
cair pesadamente. Aí ambos lembraram da importância do sol para

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uma águia, e a levaram no alto da montanha, de frente para o sol. O
empalhador sustentou fortemente a águia sob o olhar confiante do
naturalista e disse: águia, você é amiga das montanhas, filha do sol,
eu lhe suplico/; desperte de seu sono! Revele sua força interior. Abras
suas asas e voe para o alto! A águia ergueu-se soberba sobre o
próprio corpo, abriu as longas asas, esticou o pescoço e alçou vôo.
Leonardo Boff. (BOFF, L. 1997).

Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São


dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de
fraternidade. A liberdade condiciona os indivíduos a terem coragem, responsabilidade,
maturidade tornando-os livres em busca de total independência.
Os seres humanos são naturalmente livres, pois estão sempre fazendo
escolhas, essas escolhas permitem os seres humano agir com racionalidade.

6. APLICAÇÃO DA PESQUISA
A pesquisa aconteceu em quatro turmas de filosofia do CEJA de Lages, com a
duração aproximadamente de um semestre. Com mais ou menos 60 estudantes. De
agosto de 2014 a dezembro de 2014.
Os alunos que iniciam no CEJA, dificilmente tiveram contato com a filosofia.
Ao começar todo o semestre existe toda uma especulação de como é o professor e como
é a disciplina de filosofia, sendo assim, optei em realizar esse trabalho para averiguar
como existiam estereótipos em relação a filosofia.
O trabalho foi aplicado aos estudantes de forma bibliográfica, fazendo com que
os estudantes pudessem manter um contato com a filosofia e com os próprios filósofos.

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6.1 RESULTADOS DA PESQUISA

O trabalho tem como objetivo analisar as praticas filosóficas em sala de


aula. Os estudantes do CEJA são alunos que na sua maioria nunca tinham tido o
contado com a filosofia. Diante disso, buscou-se analisar esse aproximação e
aprofundamento da filosofia nas suas vidas. O resultado é incrivel no sentido da
aceitação e principalmente na dedicação e transformação de um ser “senso comum” em
um ser pensante, racional, ativo intelectualmente.
A curiosidade de descobrir o que é a filosofia leva a uma interação com o
processo filosófico, a racionalidade, a intelectualidade que esses alunos trazem reforça a
ideia que é preciso inserir o processo racional na vida desses alunos, pois a
racionalidade, o pensar crítico já é uma prática diaria desses estudantes.
A novidade de ter filosofia leva a uma certa insegurança, pois é uma
material “diferente” das tradicionais: matemática, fisica, biologia, história, lingua
portuguesa, etc. Professor mas o que é FILOSOFIA? Quem a inventou? Quando que
surgiu? Por que filosofia no CEJA? É só mais uma matéria para atrasar ainda mais a
minha vida escolar. Já estou atrasado e agora colocaram mais essa matéria só pra me
atrapalhar.
Diante dessa problemática a filosofia aparece num primeiro momento como
algo negativo no curriculo escolar, porém quando os jovens começam a se interar do
que é o processo filosófico, olhos brilham de entusiasmo pela materia e se tornam
amigos do saber.
Professor por que fomos e somos privados de aprender, a questionar, por
que não nos ensinaram isso antes? Por que a filosofia não é colocada como prioridade
nas escolas? Essa problemática que os alunos levantam, já é uma questão totalmente
filosofica, por isso que o projeto tem uma importancia significativa para esses alunos do
CEJA.
Na aplicação do projeto, elaborei algumas perguntas sobre as questões que
envolvem a filosofia no cotidiano desses alunos. Os nomes que aparecerão são nomes
ficticios, para não expor os alunos. O questionário foi o seguinte:
1. Qual era a sua visão sobre a filosofia? (as respostas seguiram a ideia fiel
do aluno)
“Que a filosofia não servia para nada, era só para completar a grade escolar”.
(Mário)
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“Minha visão era sobre uma matéria que só falava do tempo passado”.
(Marcelino)
“A filosofia não tinha sentido nenhum em minha vida”. (Alexandre)
“Era uma matéria que não fazia sentido, não tinha importancia”. (Gean)
“Uma materia qualquer”. (Lucia)
“Eu achava que a filosofia era apenas para os filosofos”. (João)
“Antes eu não fazia ideia do que era a filosofia, pois quando eu comecei o ensino
medio na minha adolescência não tive filosofia”. (Maria de Lurdes)
“Eu achava a filosofia chata, sem graça”. (Tiago)
“A filosofia era mais uma materia que não precisaria existir” (Francielle)

2. Qual é a visão que está tendo agora?

“Agora minha visão é mais complexa, tenho uma compreensão maior do mundo e
das minhas angustias”. (Mário)
“Agora acho a filosofia bem importante para minha vida, penso melhor nas coisas
s sempre pergunto o POR QUE das coisas” (Marcelino)
“Eu percebo que a filosofia é importante na nossa vida, pois faz parte do nosso
cotidiano, qualquer pessoa pode ser filósofo, isso vem muito de cada um, do pensar e
agir de cada um”. (Alexandre)
A filosofia é para todos, pois todos pensam e agem a partir da racionalidade”.
(Gean)
“É algo que faz com que todos nos tenhamos outras formas de percepção do
mundo”. (Lucia)
“A filosofia busca outra dimensão da realidade, vai além das necessidades
imediatas, está sempre presente, pois a todo momento estou tomando decisões”.(João)
“Na minha visão que estou tendo agora e que a filosofia ajuda a dar luz ao que
está apagado no pensar e no agir”. (Maria de Lurdes)
“mudou o meu modo de pensar e agir, agora penso antes de tomar qualquer
decisão”. (Tiago)
“Agora minha visão é outra, a filosofia faz parte da minha vida, do meu jeito de
pensar, do meu jeito de ser, agora tenho uma filosofia de vida”. (Francielle)

3. Qual é a importância da filosofia para a sua vida?

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“Que não devemos acreditar em tudo que nos falam, sempre devemos nos
perguntar, ir sempre atraz do conhecimento para que possamos entender aquilo que nos
foi dito”. (Mário)
“A importância dela é como posso ensinar e aprender ao mesmo tempo, ter uma
visão diferente das coisas, como pensar antes de agir em algo, como ter um pensamento
filosófico diante dos fatos”. (Marcelino)
“Em tudo o que fazemos tem filosofia, a filsofia está em nosso cotidiano”
(Alexandre)
“A importância da filosofia agora é agir, pensar e recuperar o tempo em que fiquei
na caverna”. (Gean)
“Tornar-me capaz de superar a situação dada e reparar o pensamento e as minhas
ações que se desencadeia, a gente se abre para uma mudança”. (Lucia)
“É fazer com que todos nós tenhamos outra forma de ver as coisas, de ter coragem
para conhecer novas coisas para nossas vidas. A filosofia me despertou para a
racionalidade”. (Maria de Lurdes)
“Exercitar o talento da razão, seus princípios, exercer o direito de refletir, agir por
si próprio”. (Tiago)
“Professor eu sou um “um broto” fruto da filosofia, a filosofia ajudou-me a
descobrir o mundo” (Francielle)
4. De que forma a filosofia tem te ajudado? Ela é importante? Como? Por
que?
“Na verdade é a base, é a essência de todos os conhecimentos, pois sem a filosofia
eu aceitaria as perguntas como elas são, pra começar a entender a filosofia tenho que
abrir mão do meu saber e ao mesmo tempo reaproveitar o que ja sei, só que temos que
entender que o conhecimento que tenho não é uma verdade absoluta, é a filosofia que
nos leva a olhar para o mundo com um olhar de racionalidade e sensibilidade”. (Mário)
“Ajuda a reaprender a ver o mundo, sendo uma atividade fundamental reflexiva,
crítica e analítica, a filosofia abre um novo olhar sobre o mundo, um olhar livre de
preconceitos e aberto a muitos por ques. Ela é importante para nós seres pensantes,
embora muitos não saibam da sua importância e de seus poder de transformação. Ela
ajuda a desvendar os mistérios e histórias da nossa existência e compreender o por que e
a razão fundamnetalpara tudo o que existe”. (Marcelino)

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“Tem me ajudado a ter conhecimento e maturidade nas minhas escolhas, é muito
importante pois está em todo momento, pois ajuda na minha vida a tomar decisões mais
racionais”. (Alexandre)
“A filosofia me ajuda a ser uma pessoa mais otimista, mais feliz. Tenho me
tornado uma pessoa mais positiva, mais otimista, aprendi a confiar em mim mesmo”.
(Gean)
“Me ajudou a ter novas visões sobre as coisas. A filosofia é importante pois,
muitas vezes deixamos de fazer muitas coias por medo, por não conhecer, é como dizia
o texto é como se tivessemos usando um guarda sol, tampando nossas visões e nos
impedindo de conhecer novas coias”. (Lucia)
“Me ajuda a enxergar o mundo com os olhos bem aberto. A importancia dela me
ajuda a ser um ser humano mais honesta, sincera, verdadeira. Além de ter um
conhecimento da vida, das pessoas. Ver erros e corrigi-los”. (Maria de Lurdes)
“A filosofia tem me ajudado a dar valor maior a minha vida e as pessoas que amo,
minha família”. (Tiago)
“Me ensina a pensar, estimula o raciocínio”. (Francielle)

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CONCLUSÃO

O resultado obtido se deu graças aos estudantes terem captado a essência da


filosofia, pois ao final das atividade era possivel perceber o entusiasmo dos estudantes,
sua postura de criticidade e autonomia dentro da sala e com os colegas.
Este trabalho foi de fundamental importância para compreender quem é o
estudante do CEJA – Jovens e Adultos seres racionais que voltam para a escola. São
estudante de uma extraordinária capacidade de reflexão, atuantes em movimentos
sociais, políticos, religiosos da região.
São estudantes que têm uma experiência de vida extraordinária, o que falta é
direcionar este conhecimento da escola da vida, para um processo ordenado deste
conhecimento.
A partir desta realidade são desafiados numa compreensão maior da
realidade, surgindo então a necessidade da filosofia, que na sua dinâmica tenta
desvendar os mistérios acerca da vida humana, a nossa existência na compreensão
maior em relação a Deus e todo o processo evolutivo.
Os seres humanos são seres de relações, numa dinâmica que envolve o ser
humano, o mundo, a natureza. Quanto maior for a compreensão sobre a existência,
maior será a compreensão sobre o semelhante e sobre o sistema ecológico.
Todas as relações humanas passam pela condição racional, quanto maior
capacidade de pensar logicamente, maior será a atitude responsável diante dos fatos e
acontecimentos do dia-a-dia.

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REFERÊNCIAS
ARISTÓTELES. Política. São Paulo: Nova Cultura, 1999. (Coleção Os Pensadores)

BOFF, Leonardo. A águia e a galinha. Uma metáfora a condição humana. 27a.ed.


Petrópolis: Vozes, 1997.

CHAUÍ, Marilena. O que é ideologia. São Paulo: 1984.

DELEUZE,G. GUATARI, F. O que é filosofia? Rio de Janeiro: 1997.

DURANT, W. A história da filosofia. São Paulo: Nova Cultural. 2000.

MORE, Thomas, A Utopia.São Paulo: abril Cultura, 1972. (Coleção Os Pensadores)

PLATÃO, A República. São Paulo: Nova Cultura, 2000 (Coleção os Pensadores)

TOMELIN, Janes e Karina. Diálogos Filosóficos. 2a. Edição, Nova Letra, Blumenau:
2004.

Web site

http://www.servicioskoinonia.org/agenda/archivo/portugues/obra.php?ncodigo=1)

http://pensador.uol.com.br/frase/MjMzMDA5/

http://pensador.uol.com.br/frase/MjAyODM0/

Dados do autor:
Nome: Marcos José Burnagui
Instituição: Secretaria de Educação de SC
Formação: Filosofia
Contato: [email protected]

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