O Ensino de Filosofia
O Ensino de Filosofia
O Ensino de Filosofia
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Licenciado em estudos sociais, professor da rede estadual de Santa Catarina.
Especialista em Educação Profissional Integrada à Educação Básica na Modalidade de Educação de
Jovens e Adultos – PROEJA pelo IFSC, polo Lages.
INTRODUÇÃO
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A possibilidade é de resgatar a condição de seres pensantes, transformar
esses estudantes em seres ativos e participantes das decisões que envolvem suas vidas e
as situações e conflitos do cotidiano.
O maior desafio para o ser humano é se entender como ser pensante, ser que
busca resposta para sua existência, para a existência do mundo e de tudo o que está em
sua volta. Compreender a totalidade é o maior desafio para a humanidade. “Admirar-se
com a realidade, é estar em continua contemplação e reflexão sobre o mundo que nos
circunda. Tomar tudo como rotineiro, natural e comum é estagnar a mente e entrar numa
atividade costumeira onde nada causa espanto e pouco faz refletir” (TOMELIN, Janes e
Karina, p 57).
O próprio filósofo Sócrates em sua dinâmica de compreender o ser humano
nos adverte, “uma vida sem reflexão não merece ser vivida”, ou seja, o ser humano que
se entende por gente tem por dever refletir, buscar resposta para tudo o que está em sua
volta. A filosofia se encarrega de fazer esta “viagem” na busca de respostas para as
angústias.
A filosofia resgata o desejo pelo saber que nasce a partir da necessidade de
desvelar o conhecimento escondido, nascendo assim, o conceito das coisas, dos objetos
existentes. Para Deleuze e Guattari (1997. p 13), “a filosofia, (...), é a disciplina que
consiste em criar conceitos”. Os conceitos elaboram o conjunto mutável de
entendimento que se pode elaborar sobre a realidade, fazendo com que o filósofo
encontre o instrumento que lhe possibilite pensar sobre seu contexto em contínua
transformação.
Ao conceituar, pensa-se a singularidade das coisas no seu convívio com a
totalidade. Nem fragmentos, nem definições, nem verdades absolutas são suficientes
para filosofar, somente nos conceitos o filósofo encontra as razões para seu pensar. O
conceito é para a filosofia um instrumento de dúvida, questionamento e reflexão.
(...) Ser filósofo, disse Thoreau, não é apenas ter pensamentos sutis,
nem mesmo fundar uma escola, mas amar o saber a ponto de viver,
segundo os ditames deste saber, uma vida de simplicidade,
independência, magnanimidade e confiança. Podemos estar certos de
que, se conseguirmos controlar o saber, todas as demais coisas nos
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serão incorporadas. A verdade não nos fará ricos, mas nos tornará
livres. (DURANT, W. p. 26-7)
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Cosmogônica – Cosmogonia – termo usado para designar o surgimento do universo feito por deuses da
mitologia grega.
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Cosmologia - Termo usado para designar a explicação cientifica – racional do surgimento do universo.
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Na compreensão e abrangência da filosofia, entende-se que todo o
conhecimento está totalmente vinculado ao processo racional. Desta maneira,
compreende-se o ser humano primeiro racional. Nesta compreensão, entende-se o
sujeito primeiro filósofo para depois entendê-lo como um ser aberto para vários tipos de
conhecimento.
4. A FILOSOFIA E A CIÊNCIA
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funde as teorias do empirismo e racionalismo para organizar um saber empírico e
racional, verdadeiro pelo rigor da observação e precisão da matemática”. (TOMELIN,
Janes e Karina, p 67)
A ciência se tornou uma aliada da revolução industrial e a humanidade
mudou sua maneira de ver o mundo e de viver. Muitas invenções propiciaram uma vida
facilitada para o ser humano, porém, paralelo a tudo isso, cresce um grande
desequilíbrio entre humanidade e meio ambiente.
Os temas dos quais a filosofia tem uma preocupação de discussão e
A complexidade de filosofia é tão grande que vai além, por isso essa
totalidade deve ser estudada. Entende-se que fazer filosofia é compreender o conjunto
de realidade complexas que formam o ser humano e tudo que está em sua volta. Dentre
estas realidades, pode-se citar: a política, a ideologia, liberdade, entre outros.
5.1 Política
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O pensamento de Dom Pedro Casaldáliga vai nesta perspectiva quando
sustenta que temos que fazer da política um exercício básico de cidadania. A cidadania
é o reconhecimento político dos direitos humanos. Por que somos humanidade, somos
sociedade.
Para haver uma política saudável, recuperada em seus princípios mais dignos
e humanos, se é desafiado a se conscientizar e politizar. Parágrafo muito curto.
Segundo Aristóteles, “o ser humano é um ser social e político” (TOMELIN,
Janes e Karina, p. 97). Política é participar na vivência. Em sociedade, convive-se e na
relação com os outros se participa da sociedade. Se for ser político, participação é a
palavra de ordem. Contudo, a participação pode ser ativa, transformadora,
emancipadora, inclusora ou passiva, deixando as coisas como estão, desiguais,
excludentes, geradoras de pobreza.
Esta última forma de participação é conveniente com a politicagem que é a
arte de manipular. Neste sentido, o silêncio político, o apoliticismo, são úteis para a
manutenção do poder corrupto. “Queremos ser políticos e fazer política, sem possível
neutralidade, ser a favor da vida ou da morte, nisso não existe neutralidade, ou servimos
à vida ou somos cúmplices da morte de muitos seres humanos”. (Dom Pedro
Casaldáliga,
http://www.servicioskoinonia.org/agenda/archivo/portugues/obra.php?ncodigo=1)
Para ajudar a diferenciar o que se almejamos do que se abomina, o
economista Rui Barbosa usa os termos política e politicalha. Veja-se:
afirma:
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O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, não
participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de
vida, os preços do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e
do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é
tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia política.
Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nascem a
prostituta, o menor abandonado, o assaltante, o drogado e o pior de
todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e
lacaio das empresas nacionais e multinacionais. (Bertolt Brecht).
5.2 Ideologia
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Desenvolve o fascínio pela mercadoria;
Encobre a verdade;
Deixa a realidade confusa e distorcida;
Possui um discurso lacunar;
Explica a realidade a partir da visão de mundo da classe dominante.
A função da ideologia dominante é conservar as coisas como estão, ou seja,
criar uma realidade ilusória confortável a todos os dominados de forma que não sintam
as contradições e o peso da opressão. Para conservar as coisas como estão, ele se utiliza
dos mecanismos acima apontados e se dilui na ingenuidade coletiva.
Na ideologia de consumo, a classe dominante tem como prioridade fazer
com que as pessoas consumam desenfreadamente. No sistema capitalista, a produção é
voltada para o consumo e para o lucro. Quanto maior a procura, maior a produção e
maior o lucro.
A propaganda é a estratégia para fazer as pessoas consumirem. Ela cria
modelos, padrões de beleza, gosto, prazer, lazer que fazem as pessoas almejarem o que
lhes é apresentado. Os propagandistas sabem que todos buscam a felicidade, a
harmonia, o bem estar, uma família feliz, etc.
A partir da realidade e da vontade, os propagandistas criam uma imagem
daquilo que se almeja, agregando a um produto. De alguma forma, a propaganda nos
promete: “compre isso e leve aquilo”. Consuma cigarro X e tenha a liberdade, creme
dental N para um sorriso perfeito, sabonete M para uma pele perfeita. Muitas vezes se
compra o produto por aquilo que ele promete, muito mais do que aquilo que realmente
pode fazer, ou seja, compra-se a ilusão.
Sobre o consumo alienado quem fala é Carlos D. de Andrade na poesia Eu,
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A classe dominante usa das alienações individuais para se manter no poder e
manter os trabalhadores alienados ao capitalismo. A resposta ao conceito de ideologia
passa a ter um cunho político, ou seja, sua origem é constatada na ambição capitalista
que para explorar precisa dificultar a percepção do real e alienar.
5.3 Liberdade
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uma águia, e a levaram no alto da montanha, de frente para o sol. O
empalhador sustentou fortemente a águia sob o olhar confiante do
naturalista e disse: águia, você é amiga das montanhas, filha do sol,
eu lhe suplico/; desperte de seu sono! Revele sua força interior. Abras
suas asas e voe para o alto! A águia ergueu-se soberba sobre o
próprio corpo, abriu as longas asas, esticou o pescoço e alçou vôo.
Leonardo Boff. (BOFF, L. 1997).
6. APLICAÇÃO DA PESQUISA
A pesquisa aconteceu em quatro turmas de filosofia do CEJA de Lages, com a
duração aproximadamente de um semestre. Com mais ou menos 60 estudantes. De
agosto de 2014 a dezembro de 2014.
Os alunos que iniciam no CEJA, dificilmente tiveram contato com a filosofia.
Ao começar todo o semestre existe toda uma especulação de como é o professor e como
é a disciplina de filosofia, sendo assim, optei em realizar esse trabalho para averiguar
como existiam estereótipos em relação a filosofia.
O trabalho foi aplicado aos estudantes de forma bibliográfica, fazendo com que
os estudantes pudessem manter um contato com a filosofia e com os próprios filósofos.
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6.1 RESULTADOS DA PESQUISA
“Agora minha visão é mais complexa, tenho uma compreensão maior do mundo e
das minhas angustias”. (Mário)
“Agora acho a filosofia bem importante para minha vida, penso melhor nas coisas
s sempre pergunto o POR QUE das coisas” (Marcelino)
“Eu percebo que a filosofia é importante na nossa vida, pois faz parte do nosso
cotidiano, qualquer pessoa pode ser filósofo, isso vem muito de cada um, do pensar e
agir de cada um”. (Alexandre)
A filosofia é para todos, pois todos pensam e agem a partir da racionalidade”.
(Gean)
“É algo que faz com que todos nos tenhamos outras formas de percepção do
mundo”. (Lucia)
“A filosofia busca outra dimensão da realidade, vai além das necessidades
imediatas, está sempre presente, pois a todo momento estou tomando decisões”.(João)
“Na minha visão que estou tendo agora e que a filosofia ajuda a dar luz ao que
está apagado no pensar e no agir”. (Maria de Lurdes)
“mudou o meu modo de pensar e agir, agora penso antes de tomar qualquer
decisão”. (Tiago)
“Agora minha visão é outra, a filosofia faz parte da minha vida, do meu jeito de
pensar, do meu jeito de ser, agora tenho uma filosofia de vida”. (Francielle)
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“Que não devemos acreditar em tudo que nos falam, sempre devemos nos
perguntar, ir sempre atraz do conhecimento para que possamos entender aquilo que nos
foi dito”. (Mário)
“A importância dela é como posso ensinar e aprender ao mesmo tempo, ter uma
visão diferente das coisas, como pensar antes de agir em algo, como ter um pensamento
filosófico diante dos fatos”. (Marcelino)
“Em tudo o que fazemos tem filosofia, a filsofia está em nosso cotidiano”
(Alexandre)
“A importância da filosofia agora é agir, pensar e recuperar o tempo em que fiquei
na caverna”. (Gean)
“Tornar-me capaz de superar a situação dada e reparar o pensamento e as minhas
ações que se desencadeia, a gente se abre para uma mudança”. (Lucia)
“É fazer com que todos nós tenhamos outra forma de ver as coisas, de ter coragem
para conhecer novas coisas para nossas vidas. A filosofia me despertou para a
racionalidade”. (Maria de Lurdes)
“Exercitar o talento da razão, seus princípios, exercer o direito de refletir, agir por
si próprio”. (Tiago)
“Professor eu sou um “um broto” fruto da filosofia, a filosofia ajudou-me a
descobrir o mundo” (Francielle)
4. De que forma a filosofia tem te ajudado? Ela é importante? Como? Por
que?
“Na verdade é a base, é a essência de todos os conhecimentos, pois sem a filosofia
eu aceitaria as perguntas como elas são, pra começar a entender a filosofia tenho que
abrir mão do meu saber e ao mesmo tempo reaproveitar o que ja sei, só que temos que
entender que o conhecimento que tenho não é uma verdade absoluta, é a filosofia que
nos leva a olhar para o mundo com um olhar de racionalidade e sensibilidade”. (Mário)
“Ajuda a reaprender a ver o mundo, sendo uma atividade fundamental reflexiva,
crítica e analítica, a filosofia abre um novo olhar sobre o mundo, um olhar livre de
preconceitos e aberto a muitos por ques. Ela é importante para nós seres pensantes,
embora muitos não saibam da sua importância e de seus poder de transformação. Ela
ajuda a desvendar os mistérios e histórias da nossa existência e compreender o por que e
a razão fundamnetalpara tudo o que existe”. (Marcelino)
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“Tem me ajudado a ter conhecimento e maturidade nas minhas escolhas, é muito
importante pois está em todo momento, pois ajuda na minha vida a tomar decisões mais
racionais”. (Alexandre)
“A filosofia me ajuda a ser uma pessoa mais otimista, mais feliz. Tenho me
tornado uma pessoa mais positiva, mais otimista, aprendi a confiar em mim mesmo”.
(Gean)
“Me ajudou a ter novas visões sobre as coisas. A filosofia é importante pois,
muitas vezes deixamos de fazer muitas coias por medo, por não conhecer, é como dizia
o texto é como se tivessemos usando um guarda sol, tampando nossas visões e nos
impedindo de conhecer novas coias”. (Lucia)
“Me ajuda a enxergar o mundo com os olhos bem aberto. A importancia dela me
ajuda a ser um ser humano mais honesta, sincera, verdadeira. Além de ter um
conhecimento da vida, das pessoas. Ver erros e corrigi-los”. (Maria de Lurdes)
“A filosofia tem me ajudado a dar valor maior a minha vida e as pessoas que amo,
minha família”. (Tiago)
“Me ensina a pensar, estimula o raciocínio”. (Francielle)
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CONCLUSÃO
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REFERÊNCIAS
ARISTÓTELES. Política. São Paulo: Nova Cultura, 1999. (Coleção Os Pensadores)
TOMELIN, Janes e Karina. Diálogos Filosóficos. 2a. Edição, Nova Letra, Blumenau:
2004.
Web site
http://www.servicioskoinonia.org/agenda/archivo/portugues/obra.php?ncodigo=1)
http://pensador.uol.com.br/frase/MjMzMDA5/
http://pensador.uol.com.br/frase/MjAyODM0/
Dados do autor:
Nome: Marcos José Burnagui
Instituição: Secretaria de Educação de SC
Formação: Filosofia
Contato: [email protected]
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