ECUMENISMO - ATIVIDADE AVALIATIVA

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Teologia e Pluralismo Religioso1

Isac Antonio Pereira Parente2

O Belga Edward Schillebeeckx (1914-2009), principalmente no terceiro livro da


sua obra sobre cristologia, apresenta uma posição teológica de inclusivismo aberto.
Mesmo com traços de uma teologia das religiões, a temática presente no livro não se trata
exatamente disso, mas da identidade do cristianismo.

O autor se ocupa duma perspectiva que possibilite à religião cristã reportar-se da


melhor forma possível às outras religiões, isto é, excluídos os absolutismos e os
relativismos. De acordo com Schillebeeckx, no contexto hodierno, o cristianismo deve
mostrar-se como reconhecedor e respeitador da identidade religiosa das outras tradições,
isso por meio de uma relação recíproca pela qual tanto o cristianismo desafia quanto é
desafiado através do seu conteúdo.

Por outro lado, no correr da história, a grande tentação do cristianismo foi afirmar-
se imperialmente perante o mundo, traduzindo sua verdade como única e absoluta. Esse
absoluto se traduz, por exemplo, em que até os elementos específicos nas outras religiões
não seriam, de fato, próprios, mas valores nitidamente cristãos.

Se se interroga pelo caminho o qual o cristianismo deverá percorrer para manter


sua identidade e simultaneamente reconhecer um valor positivo aos outros credos, o
teólogo belga aponta como saída a práxis e o anúncio do Reino assumidos por Jesus.
Sendo manifestação singular e única de Deus, Cristo é também manifestação histórica,
ou seja, possui dimensão limitada, contingente ao tempo e ao espaço humanos.

A partir da consciência dessa dimensão histórica é que se poderá ampliar o diálogo


da relação com o cristianismo com as outras religiões. Pois que o teólogo afirma sobre
Jesus não ser o único caminho que leva a Deus. Mesmo Jesus apresenta a Deus e, de certo,
esconde-o, à medida que sua revelação se dá em modo criatural. Justamente considerando
essa continência, a suma riqueza divina não é exaurida.

1
Atividade referente à Disciplina de Ecumenismo, ministrada pelo Prof. Dr. Pe. Júnior Aquino.
2
Aluno do Curso de Bacharelo em Teologia pela Faculdade Católica de Fortaleza (FCF). 2024.2.
Ampliando o comentário a respeito da visão teológica de Schillebeeckx, Roger
Haight define-a enquanto teocêntrica. No centro da cosmologia exposta pelo belga está
Deus: o Criador e o responsável pelo desenvolvimento de toda a história. Logo, Jesus
constituiria mais adequadamente o mediador da salvação especificamente cristã. Aqui,
estão garantidas a importância da salvação dada por Jesus e, por outro lado, a presença e
a ação divinas independentemente de Deus.

Na identidade de Jesus, pode-se observar o dado da abertura: ao pai, à sua vontade,


à unidade com Ele, ao Seu plano. Para Cristo, a causa do Reino é mais importante do que
ele mesmo. Por indicar-se sempre ao Deus que é Pai e Criador, Jesus descobre em Deus
o significado autêntico do seu ser.

Ao dissertar sobre Deus, o belga opta por destacar a qualidade humana da


divindade encarnada. Transcendente e humano, tais traços de Deus cumprem-se na pessoa
de Jesus, confessado Messias pelos cristãos. De um lado, se Jesus manifesta a Deus, pelo
outro é o paradigma para toda a humanidade.

Dessa forma, quando se trata do relacionamento entre o cristianismo e as outras


religiões deve acontecer uma atitude de abertura, já que o Deus pregado e vivenciado na
práxis de Jesus é o Deus sinal da abertura. Daí que o pluralismo religioso não deva ser
concebido como problema ou ponto negativo. Pelo contrário, é algo positivo cujas raízes
se encontram no próprio cristianismo.

Atualmente, quando se trata do pluralismo religioso, Schillebeeckx defende que o


cristianismo deveria expressar-se ao mundo não com tons imperialistas, mas anunciando
e testemunhando seus valores como dom. Disso decorre que a manifestação de Deus não
se esgotaria completamente em Jesus Cristo. O teólogo concebe a Deus como uma
gratuidade tamanha que não possa, aos homens, justificar quaisquer sensos superior de
religião perante os demais credos.

W. Panneneberg defende a clássica posição de que a verdade não pode ser


renunciada ao comprar o cristianismo às outras religiões. Todavia, aprofundar a verdade
sobre uma determinada religião não implica desprezar as profissões de fé restantes. Ora,
isso significa que religião alguma pode exaurir a questão da verdade.

Diante do tradicional axioma “fora da Igreja não há salvação”, Schillebeeckx


propõe no seu livro de que “fora do mundo não há salvação”, já que do ponto de vista
desse teólogo, quem ofende o mundo atenta pecaminosamente contra o Criador, contra
àquele que de diferentes formas chamam “Deus”. Portanto, a salvação não poderia
associar-se completamente à igrejas ou denominações religiosas, mas direcionam-se ao
mundo e à história: o grande palco da realidade salvífica.

É no amplo espaço da história o local onde se desenrola a história das religiões,


como uma espécie da continuidade neste universo maior. Quando se trata da salvação, o
que está posto é não a religião em si, mas a humanidade. Diante de uma dinâmica entre o
sagrado e o humano, faz-se necessário humanizar a realidade e recuperar a consideração
sobre um Deus interessado no humano.

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