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DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Dissertação apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em
Ecologia, no Instituto de
Biociências da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul
como parte dos requisitos para
obtenção do título de Mestre em
Ecologia.
AGRADECIMENTOS
RESUMO
ABSTRACT
SUMÁRIO
páginas
1. INTRODUÇÃO.............................................................................................. 01
1.1 Reprodução e polinização em plantas................................................... 01
1.2 Sistema de estudo................................................................................. 04
2. MATERIAL E MÉTODOS............................................................................ 11
2.2 Áreas de estudo..................................................................................... 11
2.3 Procedimentos experimentais............................................................... 13
2.2.1 Sistema reprodutivo................................................................... 13
2.2.2 Produção de néctar.................................................................... 14
2.2.3 Disponibilidade do pólen........................................................... 15
2.2.4 Receptividade do estigma.......................................................... 16
2.2.5 Visitantes florais........................................................................ 18
3. RESULTADOS.............................................................................................. 20
3.1 Sistema reprodutivo.............................................................................. 20
3.2 Néctar................................................................................................... 23
3.3 Disponibilidade do pólen...................................................................... 23
3.4 Receptividade do estigma..................................................................... 27
3.5 Visitantes florais................................................................................... 27
3.5.1 Variação temporal no ano.......................................................... 27
3.5.2 Variação temporal diária........................................................... 31
3.5.3 Quantidade de pólen.................................................................. 35
3.5.4 Comportamento dos visitantes florais....................................... 35
4. DISCUSSÃO.................................................................................................. 44
4.1 Sistema reprodutivo.............................................................................. 44
4.2 Disponibilização do pólen.................................................................... 48
4.3 Receptividade do estigma..................................................................... 51
vii
4.4 Néctar................................................................................................... 52
4.5 Visitantes florais................................................................................... 55
5. CONCLUSÕES.............................................................................................. 60
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................... 62
viii
LISTA DE FIGURAS
páginas
Figura 1. Ramo (A), flor (B) e frutos imaturos (C) de P. suberosa............. 08
LISTA DE TABELAS
páginas
Tabela 1. Relação das espécies de passifloráceas estudadas e
caracterizadas quanto ao sistema reprodutivo.............................................. 06
1. INTRODUÇÃO
anteras e estigmas acima do nível do perianto (Semir & Brown, 1975; Sacco,
1980; Ferri et al., 1981).
Apesar de possuírem flores hermafroditas, as espécies de
passifloráceas estudadas são, em sua maioria, parcial ou totalmente auto-
incompatíveis (Tabela 1) e, por isso dependentes da polinização cruzada
mediada por animais, uma vez que os grãos de pólen são inaptos
morfologicamente à polinização abiótica (Taylor & Taylor, 1993; Raven et
al., 1999; García et al., 2002). Dentre as características florais que previnem
ou restringem a auto-polinização em flores hermafroditas, está a posição das
anteras em relação aos estigmas (Stephenson & Bertin, 1983). Na família
Passifloraceae, os estigmas, geralmente em número de três, estão
posicionados no ápice do androginóforo, posição superior às anteras,
localizadas logo abaixo deles. Além disso, as flores da família apresentam
movimento das estruturas florais, incluindo filetes e estiletes. Segundo Janzen
(1968), essa característica funciona como um mecanismo que promove a
fecundação cruzada, pois determina uma diferença temporal em relação à
coleta e deposição do pólen em uma dada flor.
As flores da família Passifloraceae são principalmente polinizadas por
insetos, especialmente abelhas (Tabela 1). A polinização de espécies de
interesse econômico, por exemplo P. edulis, por abelhas mamangavas do
gênero Xylocopa, é bem conhecida (Janzen, 1968; Cobert & Willmer, 1980;
Sazima & Sazima, 1989; Camillo,1996). Espécies polinizadas por beija-flores
constituem o segundo maior registro dentro do grupo (Janzen, 1968; Escobar,
1985; Koschnitzke & Sazima, 1997; Varassin et al., 2001). A polinização
mediada por morcegos ocorre em Passiflora mucronata, Passiflora galbana,
Passiflora penduliflora e em Tetrastylis ovalis (Sazima & Sazima, 1978,
1987; Buzato & Franco, 1992; Varassin et al., 2001; Kay, 2001). Os casos
estudados indicam que as flores em questão apresentam atributos
6
A B
Figura 1. Ramo (A), flor (B) e frutos imaturos (C) de P. suberosa. Barras = 6, 3 e
7mm, respectivamente.
9
2. MATERIAL E MÉTODOS
A B
tanto, todas as flores utilizadas foram mantidas cobertas até a coleta dos
frutos, afim de se evitar perdas destes. Assim, as flores utilizadas no controle
e tratamento de xenogamia, que precisaram ficar descobertas durante seu
período funcional, foram isoladas no dia posterior.
O experimento foi realizado no período entre 21 de fevereiro e 25 de
março de 2002. As flores isoladas foram monitoradas diariamente e
submetidas aos tratamentos, em dias consecutivos, conforme abriam. No total,
foram utilizadas 80 flores, sendo 20 para cada tratamento.
marcadas com etiquetas de papel foram amostradas a cada meia hora, das 7 às
14 horas, sendo cada flor amostrada apenas uma vez. Esse estudo foi
conduzido em 21 de janeiro de 2003 e, no total, foram tratadas 75 flores,
sendo em média, nove flores amostradas em intervalos de meia hora. Para fins
de análise os dados foram agrupados a cada hora.
A contagem dos grãos de pólen nos dois experimentos foi feita por
meio de uma amostragem do total de pólen presente sob a lamínula. Para
tanto, utilizou-se uma grade confeccionada através de uma fotocópia, em
papel manteiga, de uma folha de papel milímetrado. Daí, foi recortado um
quadrado de tamanho igual ao da lamínula (1,5 x 1,5 cm) sendo, parte da área
desse colorida com caneta nanquim (Figura 3). Essa grade era colocada sobre
a lamínula e todo o pólen presente na área não colorida (35%) foi contado
com o auxílio de uma lupa Euromex®, modelo SQFD (aumento de 25x) e de
um contador manual.
3. RESULTADOS
3.2 Néctar
O volume médio de néctar produzido por flor no experimento em que
se utilizou flores não manuseadas foi de 3,2µl + 0,18. O volume médio
máximo observado ao longo do dia foi de 6,77µl + 0,42 e a menor quantidade
21
4.5
3.0
volume (µl)
1.5
0.0
8 10 12 14 16 18
tempo (hora)
6
volume (µl)
0
6:30 7:00 7:30 8:00 8:30 9:00 9:30 10:00
tempo (hora)
1500
1250
grãos de pólen (n)
1000
750
500
250
0
7 8 9 10 11 12 13 14
tempo (hora)
105
90
frutos prduzidos (%)
75
60
45
30
15
0
8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18
tempo (hora)
300
flores e visitantes florais (n)
250
200
150
100
50
0
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
tempo (mês)
80
y=0,1843x+0,8378
r2=0,8728
visitante floral (n)
60 p<0 0001
40
20
0
0 50 100 150 200 250 300
flores (n)
família espécie
Polybia ignobilis (Haliday, 1836)
Pachodynerus guadulpensis (Saussure, 1853)
Vespidae
Polistes versicolor (Oliver, 1791)
Polistes cavapytiformis Richards, 1978
Augochloropsis sp.
Halictidae
Augochlorella ephyra (Schrottky, 1910)
Apidae Apis mellifera Linnaeus, 1758
32
mês V1 V2 V3 V4 A1 A2 A3 total
jan 20 6 0 1 10 3 2 42
fev 2 0 1 0 0 6 10 19
mar 1 0 0 0 0 2 2 5
abr 34 0 0 0 2 0 1 37
mai 47 0 9 0 6 4 0 66
jun 1 0 1 0 2 0 0 4
jul 0 0 0 0 0 0 0 0
ago 4 0 0 0 0 5 0 9
set 17 0 0 0 0 3 0 20
out 14 0 0 0 0 1 0 15
nov 1 0 0 0 1 1 0 3
dez 19 2 2 2 0 4 1 30
total (%) 160 (64) 8 (3,2) 13 (5,2) 3 (1,2) 21 (8,4) 29 (11,6) 16 (6,4) 250
34
hora
espécie
8-9 9 - 10 10 - 11 11 - 12 12 - 13 13 - 14
Polybia ignobilis 25 52 30 18 20 15
Polistes versicolor 0 0 3 3 1 1
Pachodynerus guadulpensis 0 1 4 6 2 0
Polistes cavapytiformis 0 0 0 2 1 0
Apis mellifera 4 8 5 2 1 1
Augochloropsis sp. 0 6 4 11 7 1
Augochlorella ephyra 1 5 7 2 1 0
35
80
60
visitante floral (n)
40
20
0
8 9 10 11 12 13 14
tempo (hora)
450
400
350
grãos de pólen (n)
300
250
200
150
100
50
0
V1 V2 V3 V4 A1 A2 A3
A B
*
C
Figura 13. Polybia ignobilis, A) com pólen aderido ao corpo, visitando flor de P.
suberosa; B) detalhe do contato com anteras (seta cheia), enquanto se alimenta de
néctar na câmara nectarífera (asterisco) e, C) com anteras e estigmas (seta vazia).
Barras = 3mm.
39
A B
*
C
A B
*
C
4. DISCUSSÃO
numericamente de um ano para outro (Jain, 1976; Barth, 1991; Proctor et al.,
1996).
Em P. suberosa, entretanto, a autofecundação espontânea não parece
ser freqüente na natureza, uma vez que o número de frutos produzidos por
autofecundação sem a intervenção de polinização manual foi baixo. Esse fato
pode ser atribuído à posição das estruturas reprodutivas na flor, que torna
menos provável o contato das anteras com a superfície estigmática. A
separação espacial dos órgãos reprodutivos (hercogamia) junto com a
dicogamia (separação temporal desses) são duas estratégias comumente
adotadas por espécies vegetais, mesmo as autogâmicas, no sentido de
promover uma otimização nas taxas de reprodução cruzada (Wyatt, 1983;
Barth, 1991; Harder & Barrett, 1996; Snow et al., 1996). A restrição imposta
por barreira física à autogamia, devido a posição de anteras e estigmas ocorre
em outras espécies de passifloráceaes (Escobar, 1981; García & Hoc, 1998a).
Dutra & Machado (2001) registraram para uma espécie de Bignoniaceae um
fato semelhante ao observado em P. suberosa, onde a espécie apesar de ser
autocompatível, não apresenta em condições naturais frutos produzidos por
autogamia espontânea. Tal fato deve-se à separação espacial dentro da flor de
anteras e estigmas, restringindo a autopolinização e conseqüentemente a
autofecundação.
Considerando-se o fato de que em condições experimentais P.
suberosa apresentou igual sucesso de frutificação e sementes viáveis tanto por
autogamia como por xenogamia (Acioli, 1999), a diferença observada entre os
resultados (número de frutos produzidos) nos tratamentos de autopolinização
manual e xenogamia em condições naturais pode ser atribuída em parte à
variação na quantidade de grãos de pólen. Nas polinizações manuais o
número de grãos de pólen depositado sobre os estigmas, além de ser mais
46
dos frutos produzidos, embora esse aspecto não tenha sido mensurado no
presente estudo.
A geitonogamia permite uma quantidade variável de autofecundação
em espécies autocompatíveis que, preferencialmente, se reproduzem por
fecundação cruzada (Escobar, 1985), estando relacionada ao incremento no
número de flores que pode ser observado quando uma espécie de planta
encontra-se em altas densidades (Hessing, 1988; Stepenson, 1981).
Klinkhamer et al. (1993) consideram que a geitonogamia ocorre em quase
todas as espécies polinizadas por animais, havendo registro de 37% para
populações de Asclepiadaceae e de 47% para populações de Polemoniaceae, e
que está associada às características que determinam o aumento da
atratividade em relação aos visitantes florais.
A atratividade da planta está relacionada à quantidade e qualidade das
“recompensas” oferecidas aos visitantes florais (Faegri & Pijl, 1971). Uma
das formas de ser mais atraente é produzindo um grande número de flores de
forma simultânea. Segundo Stephenson (1981), o número de flores e a forma
como estão agrupadas no tempo e no espaço influencia a atração de
polinizadores e o fluxo de pólen na população. Diversos estudos têm
demonstrado que insetos visitam mais flores, de forma sucessiva, se o número
de flores aumenta (Klinkhamer et al., 1993; Harder & Barrett, 1996; Snow et
al., 1996; Utelli & Roy, 2000).
P. suberosa, quanto à periodicidade de floração, pode ser classificada,
segundo Newstrom et al (1994), como tendo padrão de floração contínuo.
Essa espécie pode apresentar flores durante todo o ano com pelo menos três
épocas de picos florais. Conforme observado, o número de flores está
correlacionado com o número de visitantes florais. Logo, a ocorrência de
picos florais deve incrementar as taxas de autofecundação por geitonogamia
uma vez que os insetos observados visitam várias flores de forma seqüencial.
48
4.4 Néctar
Apesar de alguns insetos visitarem as flores de P. suberosa à procura
de pólen, o néctar foi o principal recurso procurado, assim como ocorre em
outras espécies de passifloráceas (e.g. Chandra, 1976; Semir & Brown, 1975;
Koschnitzke & Sazima, 1997; Varassin & Silva, 1999; Varassim et al., 2001).
O néctar é considerado o mais importante mediador nas interações
entre plantas e polinizadores, e o padrão de secreção pela flor é um dos
fatores que determina a composição, abundância e freqüência do grupo de
visitantes nas flores (Heinrich & Raven, 1972; Cruden et al., 1983; Dafni,
1992)
As flores de P. suberosa já abrem com um pequeno volume de néctar
disponível, indicando que a produção tem início antes da antese. Logo que a
flor abre, a presença de visitantes florais não resulta em polinização devido à
posição de anteras e estigmas e ao fato de pouco pólen estar disponível.
Entretanto, já ter algum néctar disponível garante a presença de visitantes
florais, ainda que representados por poucos indivíduos. Assim, as primeiras
flores na população com anteras em posição três já estão recebendo visitas. A
53
5. CONCLUSÕES
Apesar de ser autocompatível, P. suberosa preferencialmente se
reproduz por xenogamia, dado a barreira física imposta pela posição de
anteras e estimas dentro da flor. A transferência de pólen mediada por insetos
além de responder pela formação de frutos por xenogamia, parece acarretar no
desenvolvimento de frutos produzidos por autofecundação.
Na população de P. suberosa o número de frutos resultantes de
autofecundação por geitonogamia, ainda que não tenha sido mensurado, deve
ser alto devido a proximidade entre as plantas e o padrão comportamental dos
insetos que visitam varias flores seqüencialmente.
O processo de polinização está fortemente associado ao movimento
das estruturas reprodutivas e o período funcional da flor de P. suberosa está
correlacionado com o período de atividade dos polinizadores, assim como
observado para outras espécies de passifloráceaes.
O período da manhã parece ser aquele em que a maior parte do
processo de polinização ocorre, dada a biologia floral de P. suberosa
combinada ao padrão comportamental dos insetos que visitam as flores.
O néctar é o principal mediador no processo de transferência de pólen
e os insetos com tamanho compatível para contatar anteras e estigmas, que
procuram as flores em busca desse recurso, determinam um processo de
polinização mais efetivo do que aqueles que visitam as flores em busca de
pólen.
Apesar de ser visitada por uma variada entomofauna, sendo parte dela
potencialmente capaz de polinizar as flores, na população de P. suberosa
estudada a vespa P. ignobilis é, dentre os visitantes florais, aquela que
efetivamente poliniza as flores.
62
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS