Trabalho Artigo (Prof. Pedro)
Trabalho Artigo (Prof. Pedro)
Trabalho Artigo (Prof. Pedro)
Introdução
Plantas com flores apresentam diferentes sistemas sexuais e reprodutivos, e esses são
variáveis e flexíveis (Proctor et al. 1996). A compreensão desses sistemas ajuda a
esclarecer importantes aspectos da interação flor-visitante, do padrão de fluxo gênico das
populações, assim como das relações filogenéticas entre espécies vegetais (Richards
1997). Nos ambientes tropicais predominam espécies monoclinas, mas com estratégias
florais que dificultam a autogamia e otimizam a xenogamia, normalmente associadas à
morfologia floral (Proctor et al. 1996). As características florais podem facilitar ou dificultar a
ação dos visitantes seja pela associação entre o tamanho corporal dos animais e as
dimensões florais ou pela localização dos recursos na flor e quando essas características
convergem, pode resultar na polinização (Frankie et al. 1983).
Material e métodos
Biologia floral - Foram utilizadas 20 flores de cada espécie distribuídas em cinco indivíduos
(quatro flores por indivíduo) e registraram-se informações sobre a forma, diâmetro e
profundidade da corola, cor, estruturas reprodutivas e sua disposição na flor. Para a
medida do comprimento da inflorescência foram selecionadas 20 inflorescência de cada
espécie, sendo uma de cada indivíduo. Voucher das espécies foram depositados no
Herbário da Universidade Estadual de Feira de Santana (J. mutabilis E.L. Neves 01, J.
ribifolia E.L. Neves 02, J. molissima E.L. Neves 03). Durante os períodos de pico de
floração (segundo Neves et al. 2010) em 20 indivíduos de cada espécie, previamente
marcados, acompanhou-se a duração de uma inflorescência por indivíduo, contou-se o
número de flores estaminadas e pistiladas por inflorescência (n = 30) e o número de frutos
produzidos por inflorescência (n = 30). A duração da antese e a longevidade dos dois tipos
de flores foram verificadas em 20 flores de cada tipo em 10 indivíduos (duas flores por
indivíduo) diferentes para cada espécie.
O volume do néctar foi medido em 10 flores estaminadas e 10 pistiladas, por cada espécie
(uma flor por indivíduo), utilizando-se microcapilares de 10 e 25 µL para J. mollissima e J.
mutabilis e de 5 µL para J. ribifolia. Para a medida do volume total de néctar produzido,
botões foram ensacados com voal para evitar a presença de visitantes. O néctar foi
medido 36 horas após o início da antese nas flores pistiladas e após 14 horas nas flores
estaminadas. Para avaliar o padrão diário de produção de néctar, botões foram ensacados
com voal para evitar a presença de visitantes e o néctar foi medido a cada três horas. Esse
procedimento não foi feito para J. ribifolia porque as flores eram danificadas logo na
primeira amostragem. Para avaliar a quantidade de néctar disponível aos visitantes (nectar
standing crop), realizou-se a medida de seis em seis horas em flores funcionais abertas
aos visitantes. A concentração de solutos foi medida utilizandose refratômetro de bolso
(Atago® 0% a 32%), sendo o total de açúcar (em mg) mensurado utilizando-se a tabela
proposta por Galetto & Bernadello (2005).
Visitantes florais - Foram feitas observações dos visitantes às flores, no período de março
de 2004 a junho de 2007, em indivíduos focais no campo (10 indivíduos por espécie) com
relação à frequência de visita às flores, comportamento, tempo de permanência e recurso
coletado. No total foram feitas 132 horas de observações de campo para as três espécies
sendo 96 horas distribuídas no período diurno (32 horas para cada espécie) e 36 horas no
noturno (12 horas para cada espécie). As espécies de abelhas visitantes foram capturadas
para identificação, sendo as mais comuns identificadas no campo, a partir de informações
disponíveis em Pigozzo (2004). Material testemunho encontra-se depositado na coleção
do Museu de Zoologia da Universidade Federal da Bahia. Os beija-flores foram
identificados utilizando-se as pranchas do manual de campo proposto por Souza (2004) e
a classificação seguiu as recomendações do Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos
(Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos 2006).
Análise dos dados - Foi utilizada análise de variância não paramétrica Kruskal-Wallis
(Siegel & Castellan Junior 1988), ao nível de significância de 5%, com teste de
comparação múltipla de Dunn para analisar o efeito dos diferentes tratamentos dos
sistemas reprodutivos na formação de frutos nas espécies estudadas, utilizando-se o
programa GraphPad InStat© 3.0 for Windows. Os gráficos de produção diária de néctar e
de standing crop foram feitos no aplicativo R versão 2.13.0 (2011), pacote graphics version
2.13.0 e editados no aplicativo CorelDraw 12 versão 12.0.0.458 (2003).
Resultados
Nas três espécies, a deiscência das anteras ocorre no momento em que as estruturas
reprodutivas ficam expostas a partir de um orifício formado pela separação das pétalas no
ápice da flor e 100% dos grãos de pólen permanecem viáveis por toda a antese. Cada flor
estaminada de J. mollissima produz, em média, 3516 ± 268 grãos de pólen, as de J.
mutabilis, 2836 ± 188, e as de J. ribifolia, 1684 ± 181. Sendo assim, a razão pólen/óvulo
foi, respectivamente, 1172,0; 945,3 e 561,3.
Em todas as espécies, o néctar começa a ser secretado cerca de meia hora após a abertura
total da flor e a secreção permanece por toda a antese em J. ribifolia e até às 10h00 (cerca
de 17 horas após o início da antese) em J. mollissima e J. mutabilis. As flores pistiladas
dessas duas espécies, que tem duração superior a 24 horas, interrompem a secreção de
néctar às 10h00 do primeiro dia de antese e retornam a produção às 19h00, completando
assim, dois períodos de secreção. Nas três espécies, 10% das flores estaminadas não
produziam néctar. O volume de néctar secretado variou ao longo do dia e para J.
mollissima e J. mutabilis o período de maior secreção ocorreu entre 01h30 e 04h00 (figura
1). Em J. mollissima e J. mutabilis houve disponibilidade de néctar (nectar standing crop) à
noite, e ao amanhecer, já não havia mais néctar. Já em J. ribifolia, houve néctar durante
todo o período (figura 2). Os dados de volume total e concentração média de néctar e total
médio de açúcar por flor das três espécies são apresentados na tabela 1.
Sistemas reprodutivos - Os resultados dos experimentos dos sistemas reprodutivos das três
espécies são apresentados na tabela 2. Apenas J. ribifolia produziu frutos por geitonogamia
espontânea. O fruto registrado no experimento de apomixia deve ser resultante de
contaminação.
As demais espécies visitaram apenas uma flor em cada indivíduo. Eulaema nigrita, X.
grisescens e X. frontalis realizaram visitas rápidas e utilizaram as peças florais como local
de pouso, contatando assim as estruturas reprodutivas. Pseudoaugochlora pandora visitou
apenas as flores estaminadas onde ficavam em constante movimento e saiam com o
corpo carregado de pólen.
Discussão
O maior número de flores estaminadas em relação às pistiladas é uma estratégia que pode
ser vantajosa para as plantas por aumentar a disponibilidade de pólen na população e,
consequentemente, a chance de polinização cruzada. Essa característica é comum em
espécies monóicas e dióicas e foi observado em outros estudos com espécies
de Jatropha (p.e. Raju & Ezradanam 2002, Añez et al. 2005, Bhattacharya et al. 2005,
Santos et al. 2005). Além disso, essas flores recebem maior quantidade de visitas
favorecendo a doação de maior quantidade de grãos de pólen (Stanton et al. 1986),
compensando assim a sua menor longevidade (Silva et al. 2006).
Em plantas com flores unissexuais, uma modificação de sexo do indivíduo pode acontecer
rapidamente através de estímulo ambiental, do tamanho ou idade do indivíduo (Richards
1997). Um exemplo disso é a dioicia funcional, ou seja, alternância de função pistilada e
estaminada em um mesmo indivíduo, tornando-o temporariamente unissexual. Esse
fenômeno, que ocorre em pelo menos 37 famílias de angiospermas, está fortemente
associado à monoicia, à protoginia e à autocompatibilidade, e tem como principal
vantagem evolutiva minimizar a geitonogamia e favorecer a xenogamia (Cruden 1988).
Dioicia funcional foi observada em J. mutabilis, cujas inflorescências apresentavam,
exclusivamente flores estaminadas, tornando os indivíduos funcionalmente masculinos.
Não foram encontrados registros para outras espécies de Jatropha, mas Raju &
Ezradanam (2002) descreveram para J. curcas a ocorrência de indivíduos com algumas
inflorescências contendo flores estaminadas na posição de flores pistiladas, evidenciando
a possibilidade de sua ocorrência. Santos et al. (2005) registraram a ocorrência de flores
em estágio intermediário de sexualidade, com vestígio do sexo oposto em J.
mollissima e J. mutabilis, mas não mencionam fenômenos de dioicia funcional.
Em J. ribifolia, a produção de néctar até a senescência das flores pode ser considerada
mais uma estratégia desta espécie para a atração de potenciais polinizadores. Entretanto,
isso não pode ser comprovado devido ao baixo número de visitantes observados durante o
período amostral. Para J. mollissima e J. mutabilis, o horário de início da produção de
néctar foi semelhante àquele observado por Santos et al. (2005). Entretanto, aquelas
autoras relataram que não houve produção de néctar à noite, nem mesmo nas flores
pistiladas que duram mais de dois dias, diferente do aqui relatado, uma vez que a maior
produção, nas três espécies, ocorreu durante a madrugada. A diminuição do volume em J.
mollissima e J. mutabilis ao longo do dia deve estar relacionado ao aumento da
temperatura e diminuição da umidade relativa, conforme sugerem Faegri & Pijl (1979).
Outra possibilidade é que tenha havido reabsorção do néctar, recurso que permite às
plantas economizarem metabólitos não consumidos pelos polinizadores (Luyt & Johnson
2002).
Maior quantidade de açúcar disponibilizado no néctar produzido pelas flores pistiladas
deve ampliar sua atratividade aos visitantes e com isso aumentar as chances de
polinização, já que são menos abundantes em todos os indivíduos. Por outro lado, as
flores estaminadas, mais abundantes, disponibilizam menor quantidade de açúcar, o que,
de acordo com Bhattacharya et al. (2005), representa um ganho evolutivo estabelecido
graças às forças seletivas operando no sistema planta-polinizador. A maior frequência e
abundância de A. mellifera nas flores de J. mutabilis pode ser explicada pela maior
quantidade de açúcar disponibilizada por esta espécie vegetal, tanto nas flores pistiladas,
quanto nas estaminadas.
Os dados obtidos neste estudo permitem concluir que a monoicia favorece a xenogamia
nestas espécies, mas o sucesso desse sistema de reprodução depende do
desenvolvimento assincrônico das inflorescências e do comportamento dos polinizadores.