2016 PollianaGomesLopes PDF
2016 PollianaGomesLopes PDF
2016 PollianaGomesLopes PDF
Brasília, DF
Março de 2016
Universidade de Brasília
Brasília, DF
2016
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA
Dissertação de Mestrado
Banca Examinadora:
_______________________________________________
Presidente/PPGECL UnB
_______________________________________________
_______________________________________________
_________________________________________________
Dedicatória
______________________________________________________________________
Dedico este trabalho à memória da minha avó Dionária Marinho Lima, que sinto tanta
Charles Darwin
II
Agradecimentos
______________________________________________________________________
deste projeto.
À minha amiga Karina Alacid Salles que esteve comigo em todos os momentos, em
trabalho. Pelas dicas nos trabalhos de campo e auxílio na escolha das áreas do
experimento.
Aos amigos e colegas do grupo Restaura Cerrado, que me auxiliaram nos testes
Alessandro, Ana Beatriz, Allyne, Karen, Guilherme, Ana Carla, Ana Clara, Maria Paula
regarem e cuidarem das minhas plantas nos momentos em que estive ausente.
outra unidade da federação, que proporcionou o apoio financeiro para a realização deste
Mestrado.
Aos meus pais, pela educação que me fez chegar onde estou e pelo eterno amor e
Ao meu amor, marido e companheiro de vida, pelo constante apoio, entusiasmo e por
estar todos os dias ao meu lado, comemorando minhas vitórias e me levantando nos
momentos difíceis.
Resumo
Gramíneas africanas são responsáveis por uma série de problemas ecológicos por se
tornarem invasoras em muitas partes do mundo, afetando especialmente áreas
campestres e savânicas, como no caso do Cerrado. A restauração ecológica por meio de
semeadura direta tem se mostrado uma prática eficaz no controle destas gramíneas
exóticas invasoras em algumas áreas deste bioma brasileiro. A espécie Lepidaploa
aurea (Mart. ex DC.) H. Rob. (Asteraceae) demonstra bom desempenho em projetos de
restauração ecológica no Cerrado e aparentemente inibe o crescimento das gramíneas
exóticas invasoras Andropogon gayanus e Urochloa decumbens, sem, no entanto, afetar
o desenvolvimento de algumas espécies nativas arbóreas, o que indica uma possível
atividade alelopática. O objetivo deste trabalho foi identificar o potencial alelopático de
L. aurea sobre as gramíneas exóticas invasoras A. gayanus e U. decumbens, sobre a
gramínea nativa: Loudetiopsis chrysothrix, e sobre as arbóreas nativas: Copaifera
langsdorffii e Acacia polyphylla, em condições controladas, semi-naturais e naturais.
Foram feitos experimentos: (i) em laboratório, com o uso de extratos aquosos de folhas
e raizes de L. aurea em placas de Petri, em solo natural (sem esterilização) e esterilizado
(para avaliação do efeito da microbiota), e em vermiculita; (ii) em casa de vegetação,
com uso de carvão ativado e utilização de solo onde L. aurea foi previamente cultivada
e de serrapilheira de L. aurea e (iii) em campo, com uso de carvão ativado e avaliação
da germinação e do crescimento inicial das plantas-alvo cultivadas dentro e fora de
manchas de L. aurea (áreas dominadas pela espécie). Foi constatado o potencial
alelopático de L. aurea sobre todas as espécies-alvo (espécies-modelo, exóticas e
nativas) em laboratório. Em casa de vegetação, o contato com os aleloquímicos de L.
aurea reduziu o crescimento inicial da gramínea exótica U. decumbens e aumentou o
crescimento inicial das espécies nativas C. langsdorffii e L. chrysothrix. Em campo, os
efeitos alelopáticos foram observados somente no estímulo à germinação de sementes
de C. langsdorffii. A alelopatia em L. aurea pode ser útil em projetos de restauração
ecológica por auxiliar no controle da U. decumbens e por estimular o melhor
desenvolvimento de outras espécies nativas.
Abstract
African grasses are responsible for a number of ecological problems for being invasive
in several parts of the world, affecting especially open ecosystems such as grasslands
and woodlands as it is the case in the Brazilian savanna, the Cerrado. In these areas,
ecological restoration through direct sowing has been shown to be an effective practice
in the control of exotic species in some areas of this Brazilian biome. The specie
Lepidaploa aurea (Mart. Ex DC.) H. Rob. (Asteraceae) shows good performance in
ecological restoration projects in the Cerrado and apparently inhibits the growth of the
exotic grasses Andropogon gayanus and Urochloa decumbens, without, however,
affecting the development of certain native species tree, indicating a possible
allelopathic activity. The aim of this work was to identify the allelopathic potential of L.
aurea on the exotic grasses A. gayanus and U. decumbens, on the native grass
Loudetiopsis chrysothrix and on the natives tree Copaifera langsdorffii e Acacia
polyphylla under controlled conditions, semi-natural and natural. Experiments were
made: (i) in laboratory conditions with the use of water extracts of L. aurea (1.25, 2.5, 5
and 10% concentration) in Petri dishes, in sterilized soil (for evaluation of the effect of
microbial) and natural (no sterilization) and vermiculite; (ii) in a greenhouse, with
activated carbon and utilization of soil where L. aurea was previously grown and L.
aurea’s litter and (iii) in the field, with use of activated charcoal and evaluation of
germination and early growth the target plants in and out of patches dominated by L.
aurea. We found allelopathic effects of L. aurea on all target species (model species,
exotic and native) in the laboratory conditions. In the greenhouse, the contact with the
allelochemicals of L. aurea reduced the initial growth of exotic species U. decumbens
and increased the initial growth of native species C. langsdorffii and L. chrysothrix. In
the field, the allelopathic effects were observed only in increasing the germination of the
native tree C. langsdorffii. Allelopathy in L. aurea can be useful in ecological
restoration projects for assisting in the control of U. decumbens and encourage better
development of other native species.
Sumário
Alelopatia ...................................................................................................................... 7
Hipóteses ..................................................................................................................... 15
Capítulo 1 ................................................................................................................... 16
Resumo .................................................................................................................... 16
Abstract ................................................................................................................... 17
Introdução................................................................................................................ 18
Resultados ............................................................................................................... 26
Discussão................................................................................................................. 35
Capítulo 2 ................................................................................................................... 41
Resumo .................................................................................................................... 41
Abstract ................................................................................................................... 42
VII
Introdução................................................................................................................ 43
Material e Métodos.................................................................................................. 48
Resultados ............................................................................................................... 59
Discussão................................................................................................................. 66
Figura 8- Sorghum bicolor cultivado em solo natural tratado com extrato de folha de
Lepidaploa aurea nas concentrações de 10,00%, 5,00%, 2,50%, 1,25% e 0% (controle),
respectivamente da esquerda para a direita.
Figura 3- (A) Vasos com Lepidaploa aurea (6 indivíduos por vaso) em casa de
vegetação após seis meses do plantio e (B) Sementeira com 30 sementes (pré-
germinadas) de Copaifera langsdorffii dispostas em solo no qual L. aurea foi
previamente cultivada em casa de vegetação (tratamento sem carvão ativado).
Figura 9- (A) Comprimento das espécies-alvo cultivadas por 76 dias em solo coberto
com folhas secas de Lepidaploa aurea em casa de vegetação e (B) Biomassa seca das
espécies-alvo cultivadas por 76 dias em solo coberto com folhas secas de L. aurea em
casa de vegetação. As barras representam a média nos valores de comprimento e
biomassa seca das espécies-alvo em cada tratamento (serrapilheira e controles com e
sem sombreamento). Diferentes letras representam as diferenças entre os tratamentos.
As análises foram feitas para cada espécie separadamente e letras iguais sobre diferentes
espécies não indicam resultados iguais.
Figura 11- (A) Comprimento das espécies-alvo cultivadas em campo por 6 meses,
dentro e fora de manchas de Lepidaploa aurea, em parcelas com e sem carvão ativado.
(B) Biomassa seca das espécies-alvo cultivadas em campo por 6 meses, dentro e fora de
manchas de L. aurea, em parcelas com e sem carvão ativado. As barras representam as
médias dos valores de comprimento e de biomassa seca das espécies-alvo em cada
tratamento (dentro - com carvão, dentro - sem carvão, fora - com carvão, fora - sem
carvão). Diferentes letras representam as diferenças entre os tratamentos. As análises
foram feitas para cada espécie separadamente e letras iguais sobre diferentes espécies
não indicam resultados iguais.
Figura 12- (A) Urochloa decumbens após plantio em solo no qual Lepidaploa aurea foi
previamente cultivada em casa de vegetação (tratamento com carvão ativado) e (B)
Urochloa decumbens após plantio em solo no qual Lepidaploa aurea foi previamente
cultivada em casa de vegetação (tratamento sem carvão ativado).
1
Introdução Geral
Contextualização
(GO), Brasil, nos quais foi utilizada a técnica de semeadura direta em área total, com o
herbáceas e gramíneas), foi observado que a espécie arbustiva Lepidaploa aurea (fig.1)
2015) (fig.1). Nas áreas de plantio, especificamente no entorno de locais onde existem
camada relativamente espessa de serrapilheira durante todo o ano (fig.2), onde foi
como por exemplo, Copaifera langsdorffii e Acacia polyphylla, o que sugere possíveis
A B
Figura 1- (A) Indivíduo de Lepidaploa aurea em campo e (B) Área de plantio de restauração ecológica
por meio de semeadura direta dominada pela espécie Lepidaploa aurea, na Reserva Biológica (Rebio) da
Contagem, DF (Foto: Keiko Pellizzaro).
A B
Figura 2- (A) Camada de serrapilheira em manchas de Lepidaploa aurea (áreas dominadas pela planta)
em área de plantio de restauração ecológica e (B) Zona sem cobertura vegetal, especialmente de
gramíneas exóticas invasoras, no entorno de manchas de Lepidaploa aurea, onde há a ocorrência de
espécies nativas, em áreas de restauração ecológica (Foto: Keiko Pellizzaro).
iniciais de sucessão secundária, como é o caso dos locais de plantios recentes realizados
(Cheung et al. 2009, Miranda 2009). No caso específico das áreas de plantios de
(GO).
3
negativa. Acredita-se que o mais comum seja que plantas vizinhas interajam de forma
físico ou biológico provocada por alguns organismos, com reflexo nos seres vizinhos; e
(iii) alelopatia – interferência provocada por substâncias químicas produzidas por certos
comunidade.
desafio no mundo todo (Inderjit & Nilsen 2003, Lankau 2010, Nilsson 1994).
alelopatia.
4
estas espécies invasoras são plantas, elas podem excluir competitivamente plantas
ecossistemas (Lockwood et al. 2007, Sampaio & Schmidt 2013, Williams & Baruch
2000).
diversas e a facilidade de dispersão (D’Antonio & Vitousek 1992, Kolar & Lodge,
2001).
Cerrado brasileiro, local que possui clima semelhante ao das savanas africanas, o que
extensas áreas de vegetação nativa do Cerrado (Pivello 2011), o que tem provocado uma
5
dos motivos é o fato das gramíneas exóticas serem capazes de alterar significativamente
natural nas áreas invadidas e expandem sua área de dominância em direção a áreas
realizada através da remoção das espécies exóticas e a reintrodução das espécies nativas
que foram perdidas por alterações da comunidade (Morin 1999). No entanto, esse
aurea. No entanto, espécies nativas ruderais geralmente possuem vida curta e algumas
Para que a prática de restauração ecológica seja de fato eficaz, um dos requisitos
importantes é a seleção das espécies que serão utilizadas nos plantios, neste sentido, a
recursos do meio, e das potencialidades alelopáticas das plantas é essencial para melhor
espécies nativas que não só se estabeleçam e cresçam rapidamente, mas que também
(Wishnie et al. 2007). Neste sentido, a alelopatia pode ser um mecanismo fundamental
regeneração natural (Cummings et al. 2012). De fato, existem evidências de que plantas
7
invasoras é muitas vezes malsucedida ou mesmo inviabilizada por que algumas técnicas
desenvolvimento das espécies exóticas invasoras, pode ser uma ferramenta de auxílio à
viabilização e o êxito dos projetos de restauração (Cummings 2012, Hooper et al. 2002,
Alelopatia
planta-alvo está localizada (Cheng 1999, Ferreira 2004, Inderjit 2001, Inderjit &
plantas receptoras pela epiderme foliar ou pela raiz (Souza Filho & Alves 2002b).
das plantas doadoras (Wu et al. 2001). Nestes bioensaios, frequentemente são utilizadas
desenvolvimento (Blum 1999, Fenner 2000), isso por que a fase entre a germinação e a
formação das primeiras folhas, estágio chamado de plântula, é o mais sensível à ação de
sua disponibilidade para as plantas vizinhas (Hadacek 2002, Macías et al. 2007, Reigosa
et al. 2013). Pouco se sabe sobre os mecanismos exatos que influenciam as interações
planta-planta em condições naturais (Inderjit & Callaway 2003, Lankau 2009) e pode
ser difícil caracterizar a alelopatia e seu verdadeiro impacto, a menos que fatores
(White et al. 1989). De fato, para entender como compostos químicos se tornam
inibição ou estímulo da planta-alvo em campo (Inderjit & Callaway 2003, Inderjit &
alelopáticas entre plantas ocorre (Andrade et al. 2013, Lankau 2010). Em condições
naturais os efeitos de aleloquímicos presentes no solo podem ser alterados (Ferreira &
Áquila 2000), uma vez que estes compostos podem ser retidos, transformados pela biota
e/ou transportados para outros locais através da percolação promovida pela chuva (Chen
1992).
Cummings et al. 2012). Ainda assim, uma das melhores maneiras de aumentar a
interferências ambientais (Ferreira 2004, Inderjit & Nilsen 2003, Nilsson 1994, Reigosa
sinergismo inerente aos efeitos alelopáticos, uma vez que os aleloquímicos são sempre
carbono e aminoácidos (Tang et al. 1995). Blum et al. (1993) sugeriram que os efeitos
substâncias neutras, como por exemplo, uma mistura de nitrato, compostos fenólicos e
glicose, respectivamente.
ativado ao solo (Inderjit & Calaway 2003). O carvão ativado é um adsorvente eficiente
orgânicos solúveis em água (alguns dos quais são aleloquímicos), impedindo assim sua
Aschehoug 2003, Inderjet & Calaway 2003, Jarchow & Cook 2009, Kabouw et al.
melhor desempenho na presença do carvão ativado, é provável que no solo onde elas
foram cultivadas existam aleloquímicos que foram adsorvidos pelo carvão, os quais,
Nilsen 2003).
garantias de que ele adsorva todos os produtos químicos com atividades alelopáticas, o
que pode causar interpretações errôneas dos experimentos em que não se observa efeitos
11
em ambas as regiões afetadas e não afetadas pela espécie doadora, a alelopatia não é um
comunidade (Wardle et al. 1998, Westoby & Whigth 2006). Apesar de grande parte dos
mais comum é a realização de testes com espécies-alvo isoladas (Meiners et al. 2014).
Portanto, a escolha das espécies-alvo deve ser feita de forma a refletir as interações que
condições naturais.
Para que a alelopatia seja avaliada de forma mais completa num contexto
ecológico, os grupos funcionais das plantas da área de estudo também devem ser
levados em consideração (Meiners et al. 2014, Wardle et al. 1998, Westoby & Wrigth
2006). Chon & Nelson (2010) discutem que existe um forte componente taxonômico
12
mecanismo de sucessão ecológica (Hils & Vankat 1982, Kaligaric et al. 2011, Myster &
Pickett 1992), o que foi evidenciado por Meiners et al. (2014) ao demonstrar que a
comuns aos vários estágios de sucessão, evidenciando que plantas de vida curta, em
tempo. Nestes trabalhos, os autores discutem que o potencial alelopático depende, entre
explicação para o motivo das espécies exóticas invasoras apresentarem tanto sucesso no
estabelecimento de novas áreas (Barbosa et al. 2008, Callaway & Aschehoug 2000,
Callaway & Ridenour 2004, Del Fabbro et al. 2014). As espécies exóticas, em geral,
não compartilham um histórico evolutivo com as espécies nativas do local, e por esse
motivo as plantas nativas não possuem defesas contra os aleloquímicos das novas
plantas concorrentes (Barbosa et al. 2008, Callaway & Aschehoug 2000, Callaway &
Ridenour 2004). Mesmo com as evidências de que a experiência evolutiva das espécies-
alelopatia, antes de mais nada, é uma característica comum tanto às espécies exóticas,
quanto às nativas, e como tal, deve ser entendida como um mecanismo geral de
única ou mais prevalente em um dos dois tipos de espécies: exóticas e nativas (Meiners
13
et al. 2014). Sendo assim, estudos para compreender as diferenças dos efeitos
coevolutivo das espécies, mas tembém as características funcionais tanto das plantas
Estima-se que cerca da metade das espécies de Asteraceae ocorram no Novo Mundo,
com 2.013 espécies na flora brasileira, onde são particularmente abundantes nos
2015).
A tribo Vernonieae Cass., com 98 gêneros e cerca de 1.400 espécies, sob o ponto
Asteraceae. Numa série de estudos sobre Vernonieae, Robinson (1987a, 1988a, b, 1990,
(Bremer 1994).
Originalmente, Cassini (1817 apud King & Dawson 1975) nomeou Lepidaploa
longo de quase 60 anos, Robinson (1990) manteve Lepidaploa no status genérico com
e ocorrem preferencialmente em locais abertos, com alta luminosidade. Além disso, sua
cinco dias em mais de 70% das sementes a 20 ou 25ºC (Ferreira et al. 2001) e em
alguns casos, são consideradas ervas daninhas associadas a pastagens e culturas por
uma altura média de 1,3 m (fig 1). É nativa do Brasil e ocorre no bioma Cerrado,
especialmente nas vegetações de campo rupestre e Cerrado (lato sensu) (Dematteis &
Almeida, 2015). A fenologia da espécie não é bem documentada, no entanto, nas áreas
de plantio por semeadura direta no Distrito Federal e em Goiás, a L. aurea floresce entre
os meses de abril e maio, com frutificação entre maio e outubro (Observação pessoal).
potencial alelopático desta espécie torna-se mais um importante atributo a ser estudado,
com vistas a confirmar a espécie como uma boa alternativa para uso em projetos de
condições de campo.
Hipóteses
foram levantadas as hipóteses a serem testadas neste trabalho: (i) A L. aurea possui
Loudetiopsis chrysothrix.
16
Capítulo 1
Resumo
Abstract
Introdução
é uma das maneiras de tentar controlar as invasões por gramíneas exóticas e promover o
restabelecimento vegetal nas áreas invadidas. (Horowitz et al. 2013, Martins et al.
2011).
do Distrito Federal (DF) e de Goiás (GO), Brasil, foi observado que a planta arbustiva
nativa Lepidaploa aurea (Mart. ex DC.) H. Rob. (Asteraceae) com frequência apresenta
restauração (Sampaio et al. 2015). Este padrão pode indicar mecanismos específicos de
controle de gramíneas exóticas invasoras, entre eles uma possível atividade alelopática.
compostos do metabolismo secundário produzidos por uma planta exercem sobre outros
organismos (plantas, fungos, insetos e algas) (Ferreira 2004, Lovett & Ryuntyu 1992).
presentes em todas as partes das plantas, como folhas, raizes, frutos, cascas e sementes.
com ação alelopática, e estes são considerados apenas uma pequena parte da quantidade
aumento expressivo nas últimas duas décadas. Novaes et al. (2013) discutem que no
contato com extratos vegetais da planta doadora (Reigosa et al. 2013, Souza Filho et al.
2010). Nestes testes, em grande parte das vezes, as espécies-alvo são espécies-modelo
como o tomate e o rabanete, por se tratarem de espécies cujas sementes são facilmente
Pennacchio et al. 2005). Alguns autores defendem que este tipo de teste não identifica o
potencial alelopático da planta doadora, mas sim o seu potencial fitotóxico (Allem et al.
2014, Reigosa et al. 2013). O termo alelopatia só deve ser utilizado quando são
similaridade com as condições naturais, como por exemplo: o uso de extratos aquosos, o
20
doadora são importantes como passo inicial em estudos de alelopatia, já que fornecem
2014).
vegetais, cuidados especiais devem ser dispensados para o fator potencial osmótico dos
que leva, em muitos casos, a superestimar os efeitos alelopáticos (Souza Filho et al.
2009). Ferreira & Aquila (2000) afirmam que um potencial osmótico elevado pode
exemplo.
prosseguir com o estudo para avaliação do seu potencial alelopático em condições mais
microbiota sobre os efeitos dos extratos aquosos da planta doadora. Estes bioensaios,
mesmo em carácter preliminar, podem ser usados para posteriores comparações com
e/ou naturais. Ademais, esse tipo de metodologia fornece maior embasamento para a
compreensão do papel do solo e de sua microbiota nos efeitos fitotóxicos (Aires et al.
2013, Inderjit 2005, Inderjit & Weston 2000, Lankau 2009). A comparação dos efeitos
é uma forma eficaz e muito utilizada para quantificar os efeitos da microbiota do solo na
os efeitos biológicos da ação física do solo (Aires et al. 2005, Kaur et al. 2009,).
sobre outras espécies de plantas e (b) a microbiota presente no solo influencia os efeitos
fitotóxicos observados.
Material e métodos
Espécies estudadas
nativo do Cerrado muito ramificado de altura média de 1,3 metro, que possui caule com
pêlos acinzentados e folhas simples, alternas, de pecíolo curtíssimo e com tricomas nas
e uma monocotiledônea: o sorgo (Sorghum bicolor, Poaceae), que foi escolhida por ser
uma espécie muito utilizada como potencial alternativa para estudos alelopáticos
preliminares, pois suas sementes são pequenas, de fácil obtenção no mercado, além de
Material Vegetal
de L. aurea, também foi decidido utilizar os extratos de raizes da planta nos bioensaios
(Dorning & Cippolini 2005, Gatti et al. 2010, Moosavi et al. 2011, Wandscheer &
Para obtenção dos extratos, o material vegetal foi separado, eliminado o excesso
de solo (no caso das raizes) e secado em estufa a 60°C por 48 horas (Costa & Pasin,
2015). Depois de seco o material foi triturado em Moinho de Rotor Tipo Ciclone. O pó
porcelana, papel filtro de gramatura 80 g/m² e uma bomba de vácuo. O resultado foi um
extrato a 10% que foi sendo diluído em água destilada para alcançar as concentrações de
5,00%, 2,50% e 1,25%. O tratamento controle foi feito com água destilada.
A escolha de extratos aquosos para os testes foi selecionada pelo fato de que eles
se aproximam mais do que acontece na natureza, já que uma das formas naturais de
protocolos apresentados por Wagner e Bladt (2001) e Atale et al. (2011) com os
regentes: (i) Cloreto de Ferro, para detecção de compostos fenólicos e taninos, (ii)
diferentes concentrações (10,00; 5,00; 2,50 e 1,25%) do extrato foliar, e para isso, 10
posteriormente foi medida a massa de cada uma das amostras e calculado o valor em
ppm para cada uma delas. O segundo procedimento foi medir a osmolaridade dos
extratos. Para isso, os extratos de L. aurea nas diferentes concentrações estudadas nos
bioensaios: (1,00; 5,00; 2,50 e 1,25%) tiveram sua osmolaridade medida utilizando um
24
feitas em triplicatas.
80g/m²) umedecido com os extratos nas concentrações de 10,00; 5,00; 2,50 e 1,25% e
total de 200 sementes por espécie. A partir daí, seguiu-se a incubação das placas por
lycopersicum e de 5 dias para S. bicolor, foi feita a avaliação do crescimento inicial das
espécies-alvo, através da medição das suas partes aéreas e radiculares, com a utilização
de um paquímetro digital.
Bioensaios em solo
recipiente foi adicionado uma única vez o volume de extrato nas concentrações de
água destilada. Nos dois tipos de solo foram semeadas 20 sementes de cada espécie-alvo
de 100% do solo nos recipientes com regas diárias, as quais foram realizadas colocando-
se a água no fundo das caixas de gerbox, assim o solo era irrigado de baixo para cima,
superior a 2mm. Para avaliar o crescimento inicial, foram medidos, com paquímetro
Figura 1- Plântulas de Lactuca sativa em solo natural com extrato vegetal de Lepidaploa aurea (10
repetições/ concentração de extrato) em laboratório. Todas as plantas-alvo cultivadas em solo natural e
esterilizado seguiram o mesmo padrão.
Análises Estatísticas
Os resultados dos testes em placas de Petri foram avaliados por meio de Análises
cada espécie e os resultados dos testes em solo foram avaliados através do uso de
ANOVA de dois fatores: concentração dos extratos e tipo de solo (esterilizado e natural)
angular (arcoseno √%) (Snedecor & Cochran 1978). As análises foram realizadas no
Resultados
nos bioensaios (10,00; 5,00; 2,50 e 1,25%) podem ser vistos na tabela 1. Depois de
observou-se que o extrato apresentou um valor médio de 86,3 mmol/kg (-0,23 Mpa)
para a concentração máxima testada. Esse valor foi comparado com resultados obtidos
(gergelim), que apresentou a germinação inibida por extratos vegetais somente a partir
da osmolaridade de 100 mmol/kg, o que indica que os efeitos dos extratos vegetais de L.
aurea, mesmo na concentração mais alta utilizada (10%), não são de natureza osmótica.
Tabela 1- Tabela de osmolaridade em mmol/kg e MPa para várias concentrações de extrato foliar de L.
aurea. Os resultados foram obtidos em laboratório com o uso do aparelho osmômetro de pressão de vapor
osmometer Winscon® 5.520.
5 8.227 52 -0,14
Germinação
bicolor não teve sua germinação afetada pelo extrato foliar. Já o extrato de raiz de L.
S. lycopercicum (F4, 15= 8,2, p=0,001, N= 40; F4, 15= 11,8, p=0,0001, N= 40;
concentração de 10% (F4, 45= 17,6; p<0,0001; N= 10) (fig. 3). Por sua vez, o extrato de
Crescimento inicial
sobre o crescimento inicial das espécies-alvo do que o extrato de raiz, pois afetou
sativa e R. sativus e afetou apenas o crescimento radicular de S. bicolor (F4, 178= 13,9;
p<0,0001; N=40) e de S. lycopersicum (F4, 152= 5,7; p< 0,0001; N=40) (fig. 5).
Figura 5- Comprimentos das partes aéreas e radiculares das espécies-modelo cultivadas em placas de
Petri em laboratório pelo período de 5 a 7 dias (dependendo da espécie): (A) com extrato de folha de
Lepidaploa aurea e (B) com extrato de raiz de Lepidaploa aurea. As barras representam o valor médio de
comprimento de cada espécie-alvo em cada tratamento (concentrações de extrato). Diferentes letras
indicam as diferenças entre os tratamentos. As análises foram feitas para cada espécie separadamente e
letras iguais sobre diferentes espécies não indicam resultados iguais.
extrato, mas provocou diferenças no crescimento apenas da parte aérea de L. sativa (F4,
57= 4,9; p= 0,0018; N=20), sem no entanto, indicar padrão dose-dependente. Por sua
afetado (F4, 82= 10,6; p<0,0001; N=20) pelo extrato foliar em solo autoclavado,
Figura 6- Comprimentos das partes aéreas e radiculares das espécies-modelo cultivadas em laboratório
pelo período de 8 a 12 dias (dependendo da espécie): (A) em solo natural com extrato de folha de
Lepidaploa aurea e (B) em solo autoclavado com extrato de folha de Lepidaploa aurea. As barras
representam o valor médio de comprimento de cada espécie-alvo em cada tratamento (concentrações de
extrato). Diferentes letras indicam as diferenças entre os tratamentos. As análises foram feitas para cada
espécie separadamente e letras iguais sobre diferentes espécies não indicam resultados iguais.
de crescimento radicular e aéreo apenas na espécie L. sativa (parte aérea: F4, 66= 4,2; p=
0,0043; N= 20 e parte radicular: F4, 65= 13,7; p< 0,0001, N=20) e do crescimento
aérea: F4, 77= 4,6; p= 0,0022; N=20 e parte radicular: F4, 85= 6,1; p<0,0001; N=20), mas
Figura 7- Comprimentos das partes aéreas e radiculares das espécies-modelo cultivadas em laboratório
pelo período de 8 a 12 dias (dependendo da espécie): (A) em solo natural com extrato de raiz de
Lepidaploa aurea e (B) em solo autoclavado com extrato de raiz de Lepidaploa aurea. As barras
representam o valor médio de comprimento de cada espécie-alvo em cada tratamento (concentrações de
extrato). Diferentes letras indicam as diferenças entre os tratamentos. As análises foram feitas para cada
espécie separadamente e letras iguais sobre diferentes espécies não indicam resultados iguais.
germinação da maioria das espécies-alvo. Nos testes com extrato de folha de L. aurea,
autoclavado e, nos testes com extrato de raiz, apenas S. bicolor teve mais sementes
Tabela 2- Resultados das ANOVA para a avaliação da ação da microbiota sobre os efeitos dos extratos
de folha e de raiz de Lepidaploa aurea na germinação das espécies-modelo em laboratório. As colunas
Solo e Extrato indicam o tipo de solo e o tipo de extrato nos quais foram observadas diferenças
significativas entre os valores de germinação das espécies-alvo. Foram realizadas ANOVA de dois
fatores: Solo (natural ou autoclavado) e Tratamento (concentrações dos extratos).
apresentou maior crescimento em solo autoclavado (tab. 3). Já nos bioensaios com
(parte aérea e radicular) e R. sativus (parte aérea) em solo autoclavado (tab. 4).
34
Tabela 3- Resultados das ANOVA para a avaliação da ação da microbiota sobre os efeitos do extrato de
folha de Lepidaploa aurea no comprimento das partes aéreas e radiculares das espécies-modelo em
laboratório. A coluna Solo indica o tipo de solo no qual foram observadas diferenças significativas nos
valores de comprimento das espécies-alvo. A coluna Parte Afetada indica a parte da planta (se aérea ou
radicular) que apresentou diferenças significativas no comprimento conforme o tipo de solo. Foram
realizadas ANOVA de dois fatores: Solo (natural ou autoclavado) e Tratamento (concentração de
extrato).
Tabela 4- Resultados das ANOVA para a avaliação da ação da microbiota sobre os efeitos do extrato de
raiz de Lepidaploa aurea no comprimento das partes aéreas e radiculares das espécies-modelo em
laboratório. A coluna Solo indica o tipo de solo no qual foram observadas diferenças significativas nos
valores de comprimento das espécies-alvo. A coluna Parte Afetada indica a parte da planta (se aérea ou
radicular) que apresentou diferenças significativas no comprimento conforme o tipo de solo. Foram
realizadas ANOVA de dois fatores: Solo (natural ou autoclavado) e Tratamento (concentração de
extrato).
Discussão
do que sobre o crescimento inicial das espécies-modelo. Muitos trabalhos indicam que a
frequentemente são vistos com ressalva (Candido et al. 2010, Ferreira e Borghetti 2004,
das características que melhor indica a ação fitotóxica de extratos vegetais (Burgos et al.
2004, Ferreira & Aquila 2000, Koitabashi et al. 1997). Alguns trabalhos relatam que o
efeito mais acentuado sobre o crescimento das raizes pode ter relação com o maior
contato desta parte da planta com o substrato embebido da solução de extrato (Chung et
Figura 8- Sorghum bicolor cultivado em solo natural tratado com extrato de folha de Lepidaploa aurea
nas concentrações de 10,00%, 5,00%, 2,50%, 1,25% e 0% (controle), respectivamente da esquerda para a
direita.
alvo foram mais sensíveis ao extrato de folha do que ao extrato de raiz de L. aurea, em
ambas as condições testadas, o que pode ser explicado pelo fato de L. aurea produzir
permanece abaixo das plantas durante todo o ano. Esta característica, em adição ao fato
entre espécies, entre indivíduos de uma mesma espécie e entre diferentes condições
observados por Azevedo Neto (2010) que estudou os efeitos de extratos aquosos
Tawaha 2003, Belinelo et al. 2008), padrão de respostas oposto ao encontrado neste
trabalho.
alvo.
potencialização dos efeitos inibitórios dos extratos de L. aurea. Nos bioensaios com
38
extrato de folha a microbiota do solo atuou reduzindo os efeitos inibitórios dos extratos
exemplo, sobre a germinação de R. sativus. Por sua vez, a ação microbiana reduziu os
tenha sido compensada com o aumento do seu crescimento aéreo, sob estas condições.
Ademais, não se constatou um padrão das partes das plantas que tiveram o
espécies utilizadas nos bioensaios (Andrade et al. 2013). Para melhor compreender a
germinadas e/ou maior crescimento inicial das plantas-alvo em solo autoclavado podem
para identificar quais compostos estão presentes e suas concentrações nos extratos, uma
vez que uma grande quantidade de compostos químicos estão englobados nos grupos
secundários de plantas possuem uma grande importância econômica, pois são utilizados
40
de formas variadas, que vão desde produtos farmacológicos, corantes, até pesticidas ou
Durigan (2008) aponta que o conhecimento dos processos ecológicos (dentre eles a
alelopatia), dos processos sucessionais e do ciclo de vida das plantas são de grande
invadidas por gramíneas exóticas, a alelopatia em espécies nativas pode servir como
aprofundados que visem avaliar o potencial alelopático desta espécie em condições mais
em L. aurea poderia confirmar a espécie como uma boa alternativa para uso em projetos
Capítulo 2
____________________________________________________________
Lopes, P. G; Salles, K, A; Schmidt; I. B; Oliveira, S. C. C; Sampaio, A. B.
Resumo
Grande parte das áreas naturais do Cerrado estão sendo convertidas em pastagens de
gramíneas africanas, que estão entre as principais espécies exóticas invasoras (EEI) em
todo o mundo. Uma das práticas de controle de EEI em áreas degradadas é a restauração
ecológica, que visa reconstituir o ambiente degradado o mais próximo possível do seu
estado original. Em projetos de restauração ecológica no Cerrado, a espécie Lepidaploa
aurea (Mart. ex DC.) H. Rob. (Asteraceae) se destaca por seu sucesso de
estabelecimento e aparente inibição do crescimento das gramíneas exóticas invasoras
Andropogon gayanus e Urochloa decumbens, o que pode indicar potencial alelopático.
O objetivo do trabalho foi identificar o potencial alelopático de L. aurea sobre as EEI e
sobre espécies nativas (uma gramínea e duas arbóreas) em condições controladas, semi-
naturais e naturais. Foram feitos experimentos: (i) em laboratório, com o uso de extrato
vegetal de L. aurea; (ii) em casa de vegetação, com uso de carvão ativado e utilização
de solo onde L. aurea foi previamente cultivada e de serrapilheira de L. aurea e (iii) em
campo, com uso de carvão ativado e avaliação da germinação e crescimento inicial de
espécies-alvo plantadas dentro e fora de áreas dominadas por indivíduos de L. aurea.
Foi constatado o potencial alelopático de L. aurea em laboratório sobre todas as
espécies-alvo, em casa de vegetação sobre U. decumbens e sobre as espécies nativas
Copaifera langsdorffii e Loudetiopsis chrysothrix, todavia, em campo, os efeitos
alelopáticos foram observados somente no aumento da germinação da espécie C.
langsdorffii. A alelopatia em L. aurea pode auxiliar projetos de restauração ecológica,
na escolha de técnicas mais baratas e eficazes de controle de U. decumbens e na seleção
de plantas nativas a serem utilizadas em plantios de restauração.
Abstract
Large natural areas of the Brazilian savanna (Cerrado) have been converted to pastures
planted with African grass species, which are among the major invasive alien species
(IAS) worldwide. One of the control practices of IAS in degraded areas involves
ecological restoration, which aims to bring degraded areas to restored states, as close as
possible to the original state. In restored areas within the Cerrado, Lepidaploa aurea
(Mart. Ex DC.) H.Rob. (Asteraceae) stands out for its successful establishment and for
an apparent inhibition the growth of exotic grasses Andropogon gayanus and Urochloa
decumbens, which may indicate allelopathic potential. The objective of this work was to
identify L. aurea allelopathic effects on IAS and on native species (one grass and two
woody) under controlled, semi-natural and natural conditions. Experiments were carried
out: (i) in the laboratory, with different concentrations of L. aurea extracts (from 1.25,
2.5, 5 e 10%); (ii) in the greenhouse, with use of activated charcoal and using soil where
L. aurea was previously grown and L. aurea litter and (iii) in field conditions with
activated carbon use to evaluate seed germination and early growth of the target-species
inside and outside areas dominated by L. aurea. We found allelopathic potential of L.
aurea in the laboratory on all target-species, in the greenhouse on U. decumbens and on
native species Copaifera langsdorffii and Loudetiopsis chrysothrix, however, in the
field, the allelopathic effects were observed only through an increased seed germination
rate for the native tree C. langsdorffii. Allelopathy in L. aurea can help ecological
restoration projects, the choice of cheaper and effective techniques control of U.
decumbens and selection of native plants to be used in plantations.
Introdução
para suportar o clima do Cerrado e o pisoteio pelo gado, e ainda para manter altas a
taxas alarmantes (Pivello 2011, Williams & Baruch 2000), afetando diretamente as
espécies herbáceas nativas por competição, podendo causar extinções locais e perda
& Westbrooke 2004, Holl 2002). As gramíneas africanas são um exemplo de espécies
invadidadas, facilitando com isso sua própria manutenção no ambiente (Baruch et al.
vegetação e dos processos ecológicos, para que o ecossistema se torne mais resistente às
formas de alcançar este objetivo (Morin 1999). Para isso, o controle mecânico das
arbustos e árvores, como o caso de grandes áreas do Cerrado (Sampaio et al. 2015).
ecológica é a escolha das espécies que serão usadas nos plantios. Alguns estudos
pontuam que certas características funcionais podem ser a chave para a seleção de
espécies mais eficientes no restabelecimento vegetal, como por exemplo, certas árvores
sombreamento (Jones et al. 2004, Joo Kim et al. 2008) ou árvores que afetam o
uma das menos exploradas é a possibilidade de que algumas espécies de plantas que
plantas nativas pode ser uma das características úteis na seleção de espécies a serem
comunidades vegetais e a vegetação clímax (Carvalho 1993, Chou 1999, Ferreira 2004).
45
Muitos trabalhos com alelopatia já vêm sendo realizados com espécies exóticas
e rápido domínio da paisagem por estas espécies (Barbosa et al. 2008, Callaway &
Aschehoug 2000, Callaway & Ridenour 2004, Del Fabbro et al. 2014). A hipótese
“novel weapons” (novas armas) sugere que alelopatia pode ser um mecanismo
novo ambiente, mesmo não mostrando efeitos similares sobre as espécies vizinhas em
seu local de origem, onde as plantas compartilham sua história evolutiva (Callaway &
Ridenour, 2004).
proposta por Cummings et al. (2012) estabelece que plantas introduzidas podem ser
que as espécies não possuem uma experiência evolutiva juntas, o que pode dificultar a
invasão.
fatores que influenciam a sua susceptibilidade aos aleloquímicos produzidos por outras
plantas (Calaway & Ridenour 2005, Cummings et al. 2012). No entanto, para que os
(DF) e de Goiás (GO), Brasil, foi observado que a espécie nativa Lepidaploa aurea
comumente usados em testes de alelopatia, como alface, rabanete, tomate e sorgo), nos
considerar que muitas vezes a presença de aleloquímicos em plantas e mesmo sua ação
condições naturais, isso porque o efeito alelopático das substâncias após liberação no
solo é, geralmente, muito menor do que o observado em laboratório (Inderjit & Nilsen
2003).
existem diversos outros fatores que influenciam as interações planta-planta, como por
(Almeida 1991, Ferreira 2004, Hadacek 2002, Inderjit & Nilsen 2003, Macías et al.
interações (Inderjit & Nilsen 2003, Nilsson 1994, Reigosa et al. 2013, Romeo &
campo é a utilização de carvão ativado nos bioensaios. O carvão ativado tem uma alta
neutralizar aleloquímicos (Del Fabbro et al. 2014, Indejit & Callaway 2003, Nolan et al.
servindo, portanto, para comparações com o tratamento sem a adição do carvão ativado.
Geralmente, as mesmas plantas-alvo são cultivadas nos substratos com e sem carvão
Nolan et al. (2014) discutem que o carvão ativado pode ser usado para reduzir os
Fabbro et al. 2014, Kulmatiski 2011, Kulmatiski & Beard 2006, Lau et al. 2008,
Schertzer et al. 2009, Wurst & Van Beersum 2009), ou seja, o carvão ativado pode ter
48
um efeito maior sobre o desenvolvimento das plantas-alvo, que vai além do efeito
descobriram que o carvão ativado produzia efeitos em solos naturais (sem esterilização),
mas não em solos esterilizados, indicando que os efeitos do carvão ativado foram
espécie, os objetivos do trabalho são: (a) testar o potencial alelopático de L. aurea sobre
Material e Métodos
Área de Estudo
Espécies estudadas
Cerrado do Brasil central (Farias et al. 2002) (fig. 1). As espécies do gênero são
(Lorenzi 2000). A L. aurea pode ser definida como uma espécie ruderal, sendo
chrysothrix nestas zonas de inibição, no entanto, a espécie foi selecionada como uma
Figura 1- Indivíduo de Lepidaploa aurea em área de campo na Reserva Biológica (Rebio) da Contagem
(DF).
Material vegetal
Federal. Para obtenção dos extratos, o material vegetal foi separado, eliminado o
excesso de solo (no caso das raizes) e secado em estufa a 60°C por 48 horas (Costa &
Pasin 2015). Depois de seco, o material foi triturado em Moinho de Rotor Tipo
Sônica Digital por 25 minutos. Em seguida, a solução foi coada com o auxílio de um
resultado foi um extrato a 10% que foi sendo diluído em água destilada para alcançar as
concentrações de 5%; 2,5% e 1,25%. O tratamento controle foi feito com água
destilada.
51
Experimentos em laboratório
Optou-se por não avaliar a germinação das espécies-alvo nos testes laboratoriais, por ter
de textura fina, a qual foi disposta em sementeiras com 36 células (cada célula com
capacidade de 5g de substrato) e estas em bandejas plásticas (fig. 2). Em cada célula foi
extrato tiveram cinco tratamentos, com quatro concentrações de extrato (10, 00; 5,00;
2,50 e 1,25%) e um tratamento controle com água destilada. Para cada extrato, foi
utilizada uma sementeira por tratamento (N=36), cinco por espécie, perfazendo um total
e por 18 dias para as espécies arbóreas. Foi mantida em 100% a capacidade de campo
da vermiculita nos recipientes com regas diárias, as quais foram realizadas colocando-se
a água no fundo das bandejas, para evitar a perda excessiva dos extratos por lixiviação.
52
com paquímetro digital, dos comprimentos das partes aéreas e radiculares de cada
indivíduo plantado.
A B
Figura 2- (A) Sementeira de 36 células com vermiculita no interior de bandeja plástica utilizada nos
bioensaios laboratoriais e (B) Sementeira com plântulas de Urochloa decumbens cultivadas em
vermiculita com extrato foliar de Lepidaploa aurea (tratamento controle - 0% de extrato) em laboratório.
experimento foi avaliado o crescimento inicial das espécies-alvo, após o plantio em solo
quatro plântulas de cada vaso foram retiradas. Os vasos com as seis plântulas restantes
foram mantidos por seis meses em casa de vegetação com irrigação diária (fig. 3). Para
maior contato com o sol, após esse período, os vasos foram transportados para uma área
externa protegida com sombrite, dispostos em bandejas plásticas e mantidos por mais
três meses com irrigação manual, de baixo para cima, de dois em dois dias. Após o
período de 9 meses, as plantas foram retiradas dos vasos e o solo foi homogeneizado e
dividido em duas partes. Para a atenuação dos efeitos alelopáticos da planta doadora e
carvão para 1 L de solo (Del Fabbro et al. 2014). O bioensaio teve, portanto, dois
tratamentos, um de solo com carvão ativado e outro de solo sem carvão ativado. Os
solos com e sem carvão ativado foram distribuídos cada qual em cinco sementeiras de
plântula por célula (fig. 3). As espécies-alvo gramíneas, tanto as exóticas quanto a
sementes/tratamento.
campo do solo nos recipientes com regas diárias, as quais foram realizadas colocando-se
paquímetro digital.
A B
Figura 3- (A) Vasos com Lepidaploa aurea (6 indivíduos por vaso) em casa de vegetação após seis
meses do plantio e (B) Sementeira com 30 sementes (pré-germinadas) de Copaifera langsdorffii dispostas
em solo no qual L. aurea foi previamente cultivada em casa de vegetação (tratamento sem carvão
ativado).
para 15 kg de solo (Oliveira et al. 2012). Na superfície de um terço dos vasos foram
campo, a qual foi previamente estimada. Os outros dois terços dos vasos foram
utilizados para dois tipos de controle diferentes: um controle sem sombreamento (solo
exposto) e um controle com sombreamento, no qual foi usado um sombrite para simular
usados na casa de vegetação). A serrapilheira coletada foi seca em estufa (60°C por
utilizada nos vasos no experimento para avaliação dos efeitos dos aleloquímicos foliares
de L. aurea.
plantadas quatro sementes pré-germinadas por vaso e após uma semana, três delas
foram retiradas e foi mantida apenas uma planta por vaso. As plantas foram cultivadas
capacidade de campo dos vasos, pelo período de 76 dias. As regas foram feitas de cima
para baixo, para a liberação no solo dos compostos existentes na serrapilheira. Para a
planta-alvo.
Experimento em campo
plantas-alvo em áreas afetadas e não afetadas pela L. aurea, em parcelas com e sem
carvão ativado. Para isso, em novembro de 2014, foram selecionadas dez manchas de L.
L. aurea). Em cada tratamento foram feitas duas parcelas (20 x 20 cm) para cada
assim, cada espécie-alvo foi plantada em quatro parcelas por mancha: com carvão –
dentro, sem carvão – dentro, com carvão – fora, sem carvão – fora e cada mancha
do carvão ativado ao solo, nas parcelas sem o carvão ativado, antes do plantio, o solo foi
revolvido da mesma maneira que nas parcelas nas quais foi misturado o carvão. Em
cada mancha foram demarcadas duas parcelas nas quais não foi plantada nenhuma
espécie-alvo (uma dentro e uma fora da mancha), para excluir o efeito do surgimento de
da mesma maneira que nas outras parcelas com e sem carvão ativado (fig. 4).
exceção da espécie L. chrysothrix, para a qual foram plantadas 100 sementes por
parcela. Optou-se por plantar um número maior de sementes de L. chrysothrix por que
foi constatado, em experimentos anteriores, que esta espécie apresenta baixo percentual
do segundo mês reduziu-se o número de plantas por parcelas para no máximo de 20,
para evitar efeitos decorrentes da densidade. O experimento foi desmontado após seis
de cada planta-alvo.
58
Figura 4- Croqui do experimento em campo. Disposição das parcelas em uma mancha de Lepidaploa
aurea (áreas dominadas pela espécie). As cinco espécies-alvo: Andropogon gayanus, Urochloa
decumbens, Loudetiopsis chrysothrix, Copaifera langsdorffii e Acacia polyphylla, foram plantadas em
duas condições (com e sem carvão ativado no solo) em parcelas de 20 x 20 cm localizadas dentro de áreas
dominadas por Lepidaploa aurea (no círculo) e fora de áreas dominadas por esta espécie potencialmente
alelopática, a no mínimo 3 metros de distância de um indivíduo de Lepidaploa aurea. Também foram
demarcadas parcelas de controle de espontâneas dentro e fora das manchas de Lepidaploa aurea, para
evitar erros na contagem de indivíduos, caso ocorresse o surgimento espontâneo de espécies que não
foram plantadas.
Análises Estatísticas
foram realizadas ANOVA de dois fatores: local (dentro e fora das manchas de L. aurea)
e presença de carvão ativado na parcela (com ou sem) para cada espécie separadamente.
Resultados
Experimentos laboratoriais
exceção da parte aérea de C. langsdorffii. A espécie mais afetada pelo extrato foliar foi
a U. decumbens (parte aérea: F4, 175= 7,2; p<0,0001; N= 36 e parte radicular= F4, 175=
extrato de 1,25% (fig. 6). Já o extrato de raiz de L. aurea teve pouca influência sobre o
espécies: U. decumbens (F4, 175= 5,9; p<0,0001; N= 36), que apresentou redução da
A B
Figura 5- Urochloa decumbens após cultivo em vermiculita em laboratório: (A) com extrato de folha de
Lepidaploa aurea na concentração 0% (controle), (B) com extrato de folha de L. aurea na concentração
10%.
60
Figura 6- Urochloa decumbens cultivada em laboratório em vermiculita com extrato de raiz de L. aurea
nas concentrações de 0% (controle), 1,25%, 2,50%, 5,00% e 10,00%, respectivamente da esquerda para a
direita.
polyphylla (parte aérea: F1, 58= 17,59; p< 0,0001; N= 30 e parte radicular: F1, 58= 5,843;
p= 0,0188; N= 30), pois a espécie apresentou crescimento reduzido em solo sem carvão
observado para o crescimento radicular de U. decumbens (F1, 70= 30,69; p< 0,0001; N=
Figura 8: Comprimento das espécies-alvo cultivadas pelo período de 13 dias para as gramíneas e de 18
dias para as espécies arbóreas, em solo no qual Lepidaploa aurea cresceu durante 9 meses em casa de
vegetação, com e sem carvão ativado. As barras representam a média do comprimento das espécies-alvo
para cada tratamento (com e sem carvão ativado). Os asteriscos representam diferenças significativas
entre os tratamentos.
62
das folhas secas, se comparados à média dos valores do controle sem luminosidade
bioensaio. Todavia, U. decumbens (parte radicular: F2, 38= 4,3; p= 0,021; N= 15) obteve
Figura 9- (A) Comprimento das espécies-alvo cultivadas por 76 dias em solo coberto com folhas secas de
Lepidaploa aurea em casa de vegetação e (B) Biomassa seca das espécies-alvo cultivadas por 76 dias em
solo coberto com folhas secas de L. aurea em casa de vegetação. As barras representam a média nos
valores de comprimento e biomassa seca das espécies-alvo em cada tratamento (serrapilheira e controles
com e sem sombreamento). Diferentes letras representam as diferenças entre os tratamentos. As análises
foram feitas para cada espécie separadamente e letras iguais sobre diferentes espécies não indicam
resultados iguais.
63
Esse padrão de respostas foi diferente do observado nos testes de crescimento realizados
extratos de raiz.
radicular desta espécie-alvo no tratamento de solo coberto com folhas secas, o que
Experimentos em Campo
campo, afetando somente C. langsdorffii (F1, 34= 17,4; p= 0,0002; N= 10), que teve sua
germinadas nas parcelas sem carvão ativado dentro das manchas de L. aurea, se
comparado ao das parcelas com carvão ativado. Para a maioria das espécies-alvo,
Figura 10- Percentual de germinação das espécies-alvo cultivadas em campo por 6 meses, dentro e fora
de manchas de Lepidaploa aurea (áreas dominadas pela espécie) em parcelas com e sem carvão ativado.
As barras representam as médias dos percentuais de germinação das espécies-alvo em cada tratamento
(dentro - com carvão, dentro - sem carvão, fora - com carvão, fora - sem carvão). Diferentes letras
representam as diferenças entre os tratamentos. As análises foram feitas para cada espécie separadamente
e letras iguais sobre diferentes espécies não indicam resultados iguais.
das espécies-alvo em condições de campo, já que não foram observadas diferenças nos
65
e sem carvão ativado localizadas dentro das manchas de L. aurea. No geral, foi
observado maior crescimento inicial das espécies-alvo dentro das manchas de L. aurea
do que fora delas, com exceção da espécie C. langsdorffii (F3, 277= 3,8; p= 0,016; N= 10)
que apresentou maiores valores de biomassa seca da parte radicular nas parcelas fora
das manchas, sem, no entanto, mostrar diferenças significativas nos valores observados
nas parcelas com e sem carvão ativado (fig. 11). O tratamento fora da mancha com
carvão ativado foi desconsiderado para a espécie A. gayanus, pois neste tratamento, a
Figura 11- (A) Comprimento das espécies-alvo cultivadas em campo por 6 meses, dentro e fora de
manchas de Lepidaploa aurea, em parcelas com e sem carvão ativado. (B) Biomassa seca das espécies-
alvo cultivadas em campo por 6 meses, dentro e fora de manchas de L. aurea, em parcelas com e sem
carvão ativado. As barras representam as médias dos valores de comprimento e de biomassa seca das
espécies-alvo em cada tratamento (dentro - com carvão, dentro - sem carvão, fora - com carvão, fora -
sem carvão). Diferentes letras representam as diferenças entre os tratamentos. As análises foram feitas
para cada espécie separadamente e letras iguais sobre diferentes espécies não indicam resultados iguais.
66
Discussão
que os extratos de raízes, o que pode ter acontecido em decorrência do fato da planta
produzir uma grande quantidade de folhas, que após liberadas no solo, formam uma
(Capítulo 1 deste trabalho). Nestes bioensaios, também foi observado, após testes de
mais alta (10%), não foram de natureza osmótica. O mesmo padrão de respostas foi
alvo. A única espécie que teve o crescimento aumentado em condições controladas foi
que, com exceção da espécie U. decumbens, grande parte das outras espécies-alvo que
(Inderjit & Nilsen 2003, Inderjit & Callaway 2003). Ou seja, as respostas das espécies-
alvo obtidas em testes laboratoriais, devem ser corroboradas por testes realizados em
alelopáticos de L. aurea (Hadacek 2002, Macías et al. 2007, Reigosa et al. 2013) . No
controle sem sombreamento, o que pode ser considerado mais um indício de que fatores
crescimento radicular.
evidência de que essas espécies-alvo podem ser, de fato, susceptívies à ação dos
aurea, condiz com o padrão estabelecido pela hipótese da defesa de território (homeland
histórico evolutivo (Callaway & Ridenour 2004). No entanto, antes considerar que o
padrão desta hipótese esteja atuando no local de estudo, é necessário observar outros
teve o crescimento inicial reduzido em laboratório, e não foi afetada nos bioensaios para
Além disso, a espécie não foi testada no experimento de crescimento realizado com a
pela inibição do crescimento de apenas uma espécie exótica invasora, resultado pouco
69
folhas secas de L. aurea em condições semi-naturais, mesmo que este efeito não tenha
espécies, talvez tenham tido mais importância para a susceptibilidade aos aleloquímicos
decumbente, que se caracteriza por um rápido crescimento inicial das plantas, as quais
mais alto (Da Silva 2008). O crescimento inicial mais vigoroso de U. decumbens,
possivelmente faz com que esta espécie necessite de uma maior quantidade de água na
comparados aos das espécies A. gayanus e L. chrysothrix. Por outro lado, considerando
produzirem efeitos sobre o crescimento de A. gayanus, talvez possa ser explicado pelo
fato de a primeira espécie ser nativa e possuir, portanto, um histórico evolutivo com a L.
aurea. Ainda assim, para que o padrão de distribuição de espécies seja explicado pela
hipótese da defesa de território, devem ser realizados testes com mais espécies exóticas
alelopático de L. aurea sobre gramíneas nativas que convivam na mesma área com a
A B
Figura 12- (A) Urochloa decumbens após plantio em solo no qual Lepidaploa aurea foi previamente
cultivada em casa de vegetação (tratamento com carvão ativado) e (B) Urochloa decumbens após plantio
em solo no qual Lepidaploa aurea foi previamente cultivada em casa de vegetação (tratamento sem
carvão ativado).
intensificação dos efeitos alelopáticos de L. aurea sobre esta espécie-alvo, o que pode
em subprodutos tóxicos (Inderjit 2005, Lankau 2009, Inderjit & Weston 2000, Andrade
et al. 2013). Esse entendimento pode ser reforçado pelo fato de que em bioensaios
fitotóxicos dos extratos vegetais de L. aurea foram reduzidos pela microbiota do solo
para algumas espécies-alvo e potencializados para outras (Capítulo 1). Outra explicação
fitofisionomia de mata seca, diferente das outras espécies nativas testadas neste estudo –
mais abertas do Cerrado, como no Cerrado “stricto sensu”. A diferença geográfica nos
possivelmente não possuem uma relação coevolutiva forte, o que talvez tenha se
em condições mais próximas às naturais. Por outro lado, o maior contato entre L. aurea
mesmo ambiente, pode ter promovido nestas espécies-alvo a existência de defesas mais
exótica, mas de uma espécie nativa que não coexiste geograficamente com a espécie
doadora, pode indicar que a experiência evolutiva das plantas, sendo elas exóticas ou
vegetais. Para interpretações mais consistentes dos resultados de estudos que envolva o
presença dos aleloquímicos de L. aurea, pode ser útil no controle desta gramínea
exótica, já que raizes menos desenvolvidas em gramíneas podem facilitar sua remoção
rebrota destas plantas, especialmente nos meses de déficit hídrico típicos do Cerrado
durante a estação seca. Todavia, este resultado deve ser visto como um dos instrumentos
qual deve estar aliado a outros instrumentos e técnicas para uma maior eficiência no
restabelecimento vegetal, isso porque, apesar desta gramínea exótica aparenemente ter
demonstrando que mesmo após ser afetada negativamente pela ação alelopática da
espécie doadora, ainda apresenta maior potencial competitivo do que a gramínea nativa.
73
aurea pode contribuir para que o restabelecimento vegetal aconteça de forma mais
rápida. Esse resultado também pode servir de base para a seleção de um rol de espécies
alvo nas parcelas sem e com carvão ativado dentro das manchas de L. aurea. A única
exceção foi a espécie C. langsdorffii que apresentou maior germinação nas parcelas sem
carvão ativado dentro das manchas, se comparada às com carvão no mesmo local, o que
nas parcelas sem e com carvão ativado fora das manchas de L. aurea, o que reforça a
condição, que o comprimento da parte aérea desta espécie-alvo, assim como o da outra
espécie arbórea testada – A. polyphylla, foi menor do que o das duas gramíneas exóticas
discutido na literatura que esta é uma das muitas características que tornam as
maior nas parcelas dentro das manchas de L. aurea. Esse padrão aliado ao fato dos
aleloquímicos não terem afetado a maioria das espécies-alvo, sugere que condições
espécies-alvo em campo. O microclima mais ameno dentro das manchas, com menor
temperatura e maior umidade podem ter sido decisivos para os resultados observados.
iniciais de desenvolvimento, que muitas vezes esses fatores são controlados, como no
Diante dos resultados obtidos nas três condições testadas: laboratório, casa de
apresentou melhor desenvolvimento inicial sob essa mesma influência: nas três
esta hipótese não foi corroborada para as espécies A. gayanus e A. polyphylla, pois a
condições laboratoriais, o que não foi observado nas outras condições: casa de
vegetação e campo, portanto, o potencial alelopático de L. aurea sobre esta espécie não
portanto, que L. aurea porduz efeitos inibitórios no crescimento desta espécie nativa.
alelopáticos sejam de fato evidenciados (Nilsson 1994, Del Fabbro 2014). Neste
neste trabalho tenha sido muito simplificada, todavia, sua execução foi de extrema
devem ser realizados trabalhos com a exclusão das condições ambientais que se
sobrepuseram aos efeitos alelopáticos neste estudo, como por exemplo o plantio de
alelopatia de outros tipos de interferência, como por exemplo a competição por recursos
(Nilsson 1994), o que pode ser feito com a realização de biensaios com a utilização de
76
carvão ativado e de canos de PVC para separação de raízes das espécies receptora e
doadora.
característica de L. aurea que reforça sua escolha como uma boa alternativa para uso em
desenvolvimento de outras espécies nativas. Além disso, este trabalho pode servir de
Discussão Geral
condição.
de L. aurea tiveram uma intensidade maior do que nas outras condições. O extrato foliar
forma, tanto das espécies-modelo quanto das espécies exóticas e nativas testadas. Em
espécies-alvo foram afetadas pelos compostos alelopáticos das folhas secas e das raizes
de L. aurea em casa de vegetação. No total, duas espécies nativas, uma gramínea (L.
radicular em resposta aos aleloquímicos de L. aurea, e outras duas, uma exótica (U.
Andropogon gayanus e Urochloa decumbens, foi corroborada em parte e para uma das
laboratório e casa de vegetação, todavia essa resposta não foi observada em condições
inicial reduzido pelo extrato foliar de L. aurea em condições controladas, o que foi
repetiu no bioensaio com extrato de raiz de L. aurea em laboratório, nem nas outras
mesmo comportamento em laboratório e em campo. Por outro lado, esta hipótese foi
refutada para a outra espécie nativa arbórea, A. polyphylla, já que a espécie apresentou
outras espécies nativas, pode trazer à prática da restauração uma série de possibilidades
Referências Bibliográficas
Abhilasha, D.; Quintana, N.; Vivanco, J.; Joshi, J. 2008. Do allelopathic compounds in
invasive Solidago canadensis s.l. restrain the native European flora? Journal of
Ecology 96: 993–1001.
Adkins, S.; Ashmore, S. and Navie, S. 2007. Seeds: biology, development and ecology.
Cambridge: CAB International, 496 p.
Aires, S. S.; Ferreira, A. G. & Borghetti, F. 2005. Efeito alelopático de folhas e frutos
de Solanum lycocarpum A. St-Hil. (Solanaceae) na germinação e crescimento de
Sesanum indicum L. (Pedaliaceae) em solo sob três temperaturas. Acta Botânica
Brasilica, 19(2): 339-344.
Allem, L. N.; Gomes, A. S.; Borghetti, F. 2014. Pequi leaves incorporated into the soil
reduce the initial growth of cultivated, invasive and native species. Annals of the
Brazilian Academy of Sciences. ISSN 0001-3765.
Almeida, F. S. 1991. Controle de plantas daninhas em plantio direto. Londrina:
Circular 67. lapar, 34p.
Alves, S. M.; Arruda, M. S. P.; Souza Filho, A. P. S. 2002. Biossíntese e Distribuição
de Substâncias Alelopáticas. In: Souza Filho, A. P. S.; Alves S. M., editores.
Alelopatia: princípios básicos e aspectos gerais. Belém: Embrapa Amazônia
oriental. p 79-109.
An, M.; Pratley, J. E.; Haig, T.; Jellett, P. 1997. Genotypic variation of plant species to
the allelopathic effects of vulpia residues. Austral. J. Exp. Agric., v.37, p. 647-660.
Andrade, E. R. de et al. 2013. Efeito da microbiota do solo na atividade fitotóxica de
extratos foliares de Stryphnodendron adstringens (Mart.) Coville. Iheringia. Série
Botânica, v. 68, n. 2, p. 187-194.
Anese S. et al. 2015. Phitotoxic activity of different plant parts of Drimys brasiliensis
miers on germination and seedling develepment. Biosc. J. v. 31, n. 3, p. 923-933.
Atale, N. et al. 2011. Phytochemical and Antioxidant Screening of Syzygisem cumini
Seed Extracts: a comparative study. Journal of Pharmacy Research, v. 4, n. 12, p.
4530-4532.
Azevedo Neto, E. N. 2010. Potencial Alelopático de Leucena e de Sabiá na
Germinação, na Emergência e no Crescimento Inicial do Sorgo. Monografia
(Engenheiria Florestal), Universidade Federal de Campina Grande, Paraíba. 25 f.
81
França, A. C.; Souza, I. F. de; Santos, C. C.; Oliveira, E. Q. de; Martinoto, C. 2008.
Atividades Alelopáticas de Nim Sobre o Crescimento de Sorgo, Alface e Picão-preto.
Ciênc. Agrotec., Lavras, v.32, n. 5, p.1374-1379, set/out 2008.
Freitas, G. K. 1999. Invasão biológica pelo capim-gordura (Melinis minutiflora Beauv.)
em um fragmento de Cerrado (A.R.I.E Cerrado Pé-de-Gigante, Santa Rita do Passa
Quatro, SP). Departamento de Ecologia Geral, Instituto de Biociências, Universidade
de São Paulo, São Paulo. Dissertação de Mestrado.
Gatti, A. B.; Ferreira, A. G.; Arduin, M.; Perez, S. C. G. de A. 2010. Allelopathic
effects of aqueous extracts of Artistolochia esperanzae O. Kuntze on developement
of Sesamun indicum L. seedlings. Acta bot. bras, v. 24, n. 2, p. 454-466.
Hadacek, F. 2002. Secondary metabolites as plants traits: Current assessment and future
perspectives. Critical Reviews in Plant Sciences 21(4): 273-322.
Haemig, P.D. 2011. Engenheiros do Ecossistema: Organismos que Criam, Modificam e
Mantêm Habitats. ECOLOGIA. INFO 12 http: www.ecologia.info/engenheiros-do-
ecossistema.htm Acesso em 05/12/2015.
Hils, M. H.; Vankat, J. L. 1982. Species removals from a first-year old-field plant
community. Ecology 63:705–711
Holl, K. D. 2002. Effect of shrubs on tree seedling establishment in an abandoned
tropical pasture. Journal of Ecology 90: 179-187.
Hooper, E.; Condit, R.; Legendre. P. 2002. Responses of 20 native tree species to
reforestation strategies for abandoned farmland in Panama. Ecol Appl 12:1626–
1641.
Horowitz , C.; Oliveira, A. S.; Da Silva, V.; Pacheco, G. & Sobrinho, R. I. 2013 Manejo
da Flora Exótica Invasora no Parque Nacional de Brasília: Contexto Histórico e
Atual. Biodiversidade Brasileira, 3(2): 217-236.
Inderjit. 2001. Soil: Enviromental effects on allelochemical activity. Agronomy
Journal 93: 79-84.
Inderjit. 2005. Soil microorganisms: An important determinant of allelopathic activity
Plant and Soil 274: 227-236.
Inderjit and Callaway; R. M. 2003. Experimental designs for the study of allelopathy.
Plant and Soil 256: 1–11.
Inderjit and Dakshin, K. M. M. 1995. On laboratory biossays in Allelopathy. The
Botanical Review, v. 61, n. 1.
85
Society for Ecological Restoration International – SER. The Science and Practice of
Ecological Restoration. Donald A. Falk, Margaret A. Palmer, and Joy B. Zedler (ed).
Island Press 2006. 377p.
Souza Filho, A. P. da S.; Alves, S. de M. 2002. Alelopatia: princípios básicos e aspectos
gerais. Belém: Embrapa Amazônia Oriental.
Souza Filho, A. P. S.; Alves, S. M. 2002b. Mecanismos de ação dos agentes
alelopáticos. In: Souza Filho, A. P. S.; Alves, S. M., editores. Alelopatia: princípios
básicos e aspectos gerais. Belém: Embrapa Amazônia Oriental. p 131-154.
Souza Filho, A. P. S. et al. 2010. Metodologias empregadas em estudos de avaliação da
atividade alelopática em condições de laboratório – revisão crítica. Planta Daninha,
Viçosa-MG, v. 28 (3), p. 689-697.
Srikanth, J., Pushpalatha, N. A. 1991. Status of biological-control of Parthenium
hysterophorus in India - A review. Insect Science and its Application, Kenya, V.
12, n. 4, p. 347-359.
Szczepanski, A. J. 1977. Allelopathy as a means of biological control of water weeds.
Aquatic Biol. 3: 193-197.
Tang, C. S. W. F. et al. 1995. Plant stress and allelopathy. In: Allelopathy: Organisms,
Processes, and Applications. pp. 142–157.
Turk, M. A. and Tawaha, A. M. 2003. Allelopathic effect of black mustard (Brassica
nigra L.) on germination and growth of wild oat (Avena fatua L.). Crop Protection,
v. 22, p. 673-677, 2003.
Wagner, H. and Bladt, S. 2001. Plant Drug Analysis: a thin layer chromatograph atlas. 2
ed. Alemanha: Springer.
Wandscheer, A. C. D. and Pastorini, L. H. 2008. "Allelopathic interference of Raphanus
raphanistrum L. on the germination of Lactuca sativa L. and Solanum lycopersicon
L." Ciência Rural 38.4: 949-953.
Wardle, D. A.; Nilsson, M-C.; Gallet, C.; Zackrisson, O. 1998. An ecosystem-level
perspective of allelopathy. Biol Rev 73:305–319.
Weidenhamer, J D. 1996. Distinguishing resource competition and chemical
interference: overcoming the methodological impasse. Agron. J. 88, 866–875.
Westoby M, Wright IJ (2006) Land-plant ecology on the basis of functional traits.
Trends Ecol Evol 21:261–268.
91