O Perfil Da Fluencia de Fala e Linguagem de Crianc

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Pediatria (São Paulo) 2004;26(2):90-6 Perfil da fluência de crianças prematuras

Souza R, Andrade CRF

Artigo Original Original Article Artículo Original

O perfil da fluência de fala e linguagem


de crianças nascidas pré-termo*
Fluency speech and language profile of preterm children
El perfil de la fluéncia de la habla y lenguage de los niños nacidos pre-términos
1 2
Rosana de Souza , Cláudia Regina Furquim de Andrade

Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da Universidade de São Pau-
lo. São Paulo, SP, Brasil

Resumo

Objetivo: traçar o perfil da fluência de fala e linguagem de crianças nascidas pré-termo, na faixa etária de 2 a 3 anos.
Casuística e Métodos: foram avaliadas 14 crianças com idades entre 2 a 3 anos nascidos pré-termo, com peso ao
nascimento inferior a 2.500 g e exame neurológico normal. Por intermédio das amostras de fala das crianças, obteve-se o
perfil da fluência quanto aos aspectos de tipologia das disfluências, velocidade de fala e freqüência das rupturas. Os dados
obtidos foram comparados entre subgrupos da amostra e com um referencial brasileiro de normalidade. Resultados:
verificou-se diferença estatística significante para freqüência das rupturas em relação à idade gestacional e peso ao nasci-
mento; a descontinuidade de fala foi significantemente maior no grupo de 32 e 33 semanas de idade gestacional quando
comparado ao de 34 a 36 semanas; e no grupo com extremo baixo peso/muito baixo peso quando comparado ao grupo de
baixo peso ao nascimento. Em relação ao referencial brasileiro, o grupo avaliado teve médias significativamente menores
para: tipologia das disfluências e velocidade de fala; para a freqüência das rupturas, tanto para a descontinuidade de fala
quanto para disfluências gagas. Conclusões: as crianças nascidas pré-termo apresentaram o perfil da fluência defasado
em relação às crianças nascidas a termo. Isto tem implicação na habilidade discursiva e de transição articulatória.

Descritores: Linguagem infantil. Desenvolvimento da linguagem. Transtornos do desenvolvimento da linguagem. Pa-


drões de referência. Estudos de avaliação. Prematuro. Pré-escolar.

1
Mestre em Lingüística pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP
2
Professora Titular do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da FMUSP
*Baseado em Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 2002
Apresentado no 10º Congresso Brasileiro de Fonoaudiologia; 2002; Belo Horizonte, MG, Brasil. p.814

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Perfil da fluência de crianças prematuras Pediatria (São Paulo) 2004;26(2):90-6
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Abstract

Objective: to define the speech fluency and language profile of preterm children with ages ranging from 2.0 to 2.11 years.
Casuistic and Methods: fourteen preterm children with ages ranging from 2.0 to 2.11 years and birth weight less than 2500 g
were evaluated. The profile of fluency regarding typology of disfluency, speech rate and frequency of speech disruptions was
obtained by speech sample analysis. The data obtained were subjected to an intra and inter-group (a Brazilian standard)
analysis. Results: the intra-group statistical analysis presented a significant difference for frequency of speech disruption
related to gestational age and birth weight; the percentage of speech disruption was significantly higher in the 32 and 33-week
gestational age group when compared to the 34 to 36-week group. The data were similar to the very low/extremely low birth
weight group when compared to low birth weight group. In the inter-group analysis a significant difference was obtained for
every variable tested: the research group presented mean typology of disfluency and speech rate significantly inferior to the
reference values; in relation to frequency of disruption, the research group presented significantly lower means compared to
the reference values for both percentage of speech disruption and stuttered disfluency. Conclusions: the preterm children
presented a significantly inferior fluency profile, and therefore of discursive and articulatory abilities, when compared to term
children.

Keywords: Child language. Language development. Language development disorders. Reference standards. Evaluation
studies. Infant, premature. Child, preschool.

Resumen

Objetivo: delinear el perfil de la fluencia del habla y lenguaje de niños nacidos pre-término, con edad entre 2 y 3 años.
Casuística y Métodos: fueron evaluados 14 niños con edades entre 2 y 3 años nacidos pre-término, con peso de nacimiento
inferior a 2500 g y examen neurológico normal. Por intermedio de algunas muestras del habla de los niños se obtuvo el
perfil de la fluencia cuanto a los aspectos de tipología de las difluencias, velocidad del habla y frecuencia de rupturas. Los
datos obtenidos fueron comparados entre los subgrupos de muestras y con uno referencial brasilero de normalidad. Resul-
tados: se verifico diferencia estadística significante para frecuencia de las rupturas en relación a la edad gestacional y peso
de nacimiento; el porcentaje de discontinuidad del habla fue significativamente mayor en el grupo de 32 y 33 semanas de
edad gestacional cuando comparado al de 34 a 36 semanas; y en el grupo con extremo bajo peso/ muy bajo peso cuando
comparado al grupo de bajo peso al nacimiento. En relación al referencial brasilero el grupo evaluado tubo medias signifi-
cativamente menores para: tipología de las difluencias y velocidad del habla; para la frecuencia de rupturas, tanto para la
discontinuidad del habla como para las difluencias tartamudas Conclusiones: los niños nacidos pre-término presentaron
el perfil de la fluencia, significativamente desfasado en relación al de niños nacidos de término. Esto tiene implicación en la
habilidad discursiva y de transición articulatoria.

Palabras-clave: Lenguage infantil. Desarrollo del lenguage. Trastornos del desarrollo del lenguage. Estandares de
referencia. Estudios de evaluación. Prematuro. Preescolar.

Introdução
O aumento da sobrevida dos bebês prematuros fez Nas crianças nascidas pré-termo, o atraso na aqui-
com que houvesse, também, uma crescente preocu- sição e no desenvolvimento da linguagem é uma das
pação com a qualidade de vida e desenvolvimento desordens da comunicação oral mais descritas na li-
7-10 11
dessas crianças. Assim, vários estudos foram realiza- teratura . Reed descreve que a linguagem possui
dos e apontaram a prematuridade como um fator de cinco componentes básicos: fonológico, semântico,
risco para o atraso no desenvolvimento global, incluin- sintático, morfológico e pragmático; e cada um faz
1-6
do alterações da fala, linguagem e aprendizagem . parte de um sistema que todos os falantes de uma

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mesma língua devem aprender para que a comunica- gagueira. Segundo a autora, essa é uma visão
ção seja eficiente. O atraso de linguagem pode com- reducionista da comunicação humana. A avaliação da
prometer todos os componentes lingüísticos e ocor- fluência é importante não só ao diagnóstico da
re quando uma habilidade específica de linguagem gagueira, mas fornece parâmetros sobre a efetividade
tarda para surgir ou se desenvolver. Porém, a aquisi- da linguagem. O falante fluente pode produzir longas
ção desta habilidade dá-se na mesma seqüência das seqüências de sílabas sem esforço, combinando emis-
crianças que têm desenvolvimento normal. sões rápidas e contínuas, permitindo que sua emis-
são seja o reflexo próximo de sua habilidade e maturi-
Na literatura referente à linguagem em crianças dade lingüística.
1-10,12
prematuras ainda não existe um consenso sobre
qual componente lingüístico estaria mais comprome- Para avaliação da fluência são considerados os
tido. As controvérsias sobre os resultados dos estu- aspectos de tipologia das disfluências (interrupções no
dos provavelmente decorrem da diversidade dos as- fluxo de fala comuns e gagas), velocidade de fala (pa-
pectos da linguagem avaliados (compreensão, emis- lavras e sílabas por minuto) e a freqüência das inter-
23,26-29
são, recepção, vocabulário), dos métodos e testes uti- rupções no fluxo de fala .
lizados – Clinical Linguistic and Auditory Milestone
2 8
Scale , Token Test for Children , Auditory Analysis of Considerando que a fluência da fala reflete o
8 9,10
Speech Test , Peabody Picture Vocabulary Test , processamento discursivo, estudos sobre o perfil da fluên-
12
McCarthy Scales of Children Abilities ; e da faixa etária cia podem fornecer dados objetivos tanto para a avalia-
estudada, que varia de 1 a 8 anos de idade. ção inicial quanto para o acompanhamento do desen-
volvimento da linguagem de crianças nascidas pré-ter-
Os estudos que pretenderam detectar mais preco- mo. O estudo aqui apresentado teve como objetivo tra-
cemente os desvios no desenvolvimento da lingua- çar o perfil da fluência de fala e linguagem em crianças
gem avaliaram as crianças na faixa etária de 18 a 36 de 2 a 3 anos de idade nascidas pré-termo, comparando
12-17
meses . Isto leva em conta que o surgimento das a performance com as nascidas a termo da mesma fai-
26-25,28
primeiras palavras ocorre por volta dos 12 meses de xa etária, avaliadas em estudos anteriores .
11,18
idade . Entre os 18 e 24 meses as crianças apre-
sentam a grande expansão vocabular, sendo que aos
24 meses elas têm um léxico de 200 a 300 palavras e
11,18
Casuística e Métodos
combinam duas palavras numa frase . Aos três anos
de idade uma criança já deveria ter um vocabulário O estudo foi realizado em um período de 6 meses
ativo, ou seja, suficiente para uma comunicação efeti- (2000) com 14 crianças de idade cronológica entre 2
19
va em ambiente social . O início tardio da fala é tido a 3 anos, nascidas pré-termo e com peso ao nasci-
por alguns autores como preditivo de alterações de mento inferior a 2.500 g, no Hospital e Maternidade
20,21
linguagem posteriores . Leonor Mendes de Barros, São Paulo, SP. Os dados
médicos foram obtidos a partir do prontuário de cada
Sobre a fluência em crianças prematuras, não fo- criança. As crianças que participaram do estudo es-
ram encontrados estudos específicos, embora a lite- tão em seguimento no ambulatório de prematuros de
ratura cite que a prematuridade é um fator de risco hospital-maternidade, referência na Zona Leste da ci-
10,22
para desordens nessa área . A fluência pode ser dade de São Paulo.
definida como o fluxo contínuo e suave de produção
da fala, é variável de criança para criança e altera-se Os critérios para inclusão dos participantes foram:
23
ao longo do desenvolvimento . Na fase pré-escolar, a) crianças nascidas pré-termo com peso ao nasci-
a expansão do vocabulário e o aumento da complexi- mento inferior a 2.500 g.
dade sintática estão relacionados com o aumento das b) idade entre 2 e 3 anos no período de avaliação.
rupturas na fala. Observa-se, posteriormente, uma c) avaliação neurológica normal – motora, auditiva e
tendência à estabilização da fluência quando as crian- visual, segundo parecer do neurologista pediátrico.
ças adquirem maior domínio lingüístico-fonológico e
23-25
morfossintático, semântico e pragmático . Durante o período,dezenove crianças satisfizeram
os critérios de inclusão. Dessas, foram excluídas três
23
Andrade destaca que, no Brasil, a área de avalia- cujos responsáveis não aceitaram participar do estu-
ção da fluência tem sido exclusivamente vinculada à do e duas que faltaram no dia da avaliação. O estudo

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Tabela 1 – Caracterização das crianças do grupo de pesquisa.

Crianças do GP Sexo Idade cronológica Idade gestacional Peso Apgar

1 LMS feminino 24 meses 36 semanas MBP DPG


2 MCM feminino 34 meses 32 semanas MBP DPL
3 LBGA feminino 35 meses 35 semanas BP NL
4 DGS masculino 28 meses 36 semanas MBP NL
5 LPA masculino 35 meses 35 semanas MBP DPG
6 CSO feminino 33 meses 32 semanas BP DPL
7 SSO feminino 33 meses 34 semanas MBP DPL
8 ASLE feminino 31 meses 32 semanas EBP DPG
9 GRC masculino 24 meses 34 semanas MBP DPL
10 LJAS masculino 35 meses 33 semanas MBP DPG
11 VMC feminino 24 meses 35 semanas BP DPM
12 MOF masculino 24 meses 32 semanas MBP DPG
13 LMS feminino 29 meses 35 semanas BP DPL
14 CKSC feminino 25 meses 33 semanas MBP DPM

BP = baixo peso; MBP = muito baixo peso; EBP = extremo baixo peso; NL = normal;
DPL = depressão perinatal leve; DPM = depressão perinatal moderada; DPG = depressão perinatal grave

23,26
foi então realizado com um total de 14 crianças (Tabe- da Fluência de Fala proposto por Andrade . Este
la 1), constituindo o grupo de pesquisa (GP). Protocolo de Avaliação da Fluência de Fala é um teste
original, inteiramente direcionado ao Português falado
As crianças que constituíram o GP realizaram a ava- no Brasil. O protocolo é parte do ABFW – Teste de
liação da fluência da fala em dia previamente agendado. Linguagem Infantil nas Áreas de Fonologia, Vocabulá-
23
Considerando que a maioria das crianças residia em rio, Fluência e Pragmática . Esse protocolo conside-
locais distantes do hospital, optou-se por não realizar a ra os seguintes aspectos:
avaliação no mesmo dia da consulta pediátrica, para • tipologia das rupturas do fluxo de fala: disfluências
evitar que a fadiga interferisse nas respostas. comuns (interrupções no fluxo da fala encontradas em
todos os falantes) – hesitações, interjeições, palavras
Na data da avaliação, inicialmente, os responsá- não terminadas, repetição de palavras, repetição de
veis pelas crianças recebiam informações sobre os segmentos e repetição de frases; disfluências gagas
objetivos da pesquisa e os procedimentos que seriam (interrupções no fluxo da fala indicativas de gagueira)
realizados, segundo o Protocolo nº 010/99 aprovado – repetição de sílabas, repetição de sons, prolonga-
pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital. Após mentos, bloqueios, pausas (maiores que 2 segundos),
a assinatura do termo de consentimento foi feita a intrusão de sons ou segmentos;
coleta da amostra de fala. • velocidade de fala: fluxo de palavras e sílabas por
minuto;
A coleta da amostra de fala foi realizada através da • freqüência de rupturas da fala: porcentagem de
filmagem da interação entre a criança e a mãe com du- descontinuidade de fala (interrupções no fluxo da
ração de 10 minutos. As amostras de fala foram transcri- mensagem comuns e gagas); porcentagem de
tas literalmente por meio de observação das fitas de disfluências gagas.
vídeo. Para garantir a fidelidade dos resultados, as trans-
crições das amostras foram avaliadas por dois Foi comparado o perfil da fluência de fala entre o
fonoaudiólogos peritos. O índice de compatibilidade en- grupo de pesquisa (GP) e valores de referência pre-
tre a pesquisadora e os peritos foi de 90%. viamente estabelecidos. Os valores de referência (VR)
utilizados foram obtidos e publicados pelo Laborató-
O procedimento de coleta e análise das amostras rio de Investigação Fonoaudiológica da Fluência da
de fala foi determinado pelo Protocolo de Avaliação Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, com 200

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28
Tabela 2 - Perfil da fluência: comparação entre prematuros e um grupo de referência .

Tipologia das disfluências Estatística VR GP P

Disfluências comuns Média 16,00 3,00 < 0,001*


Desvio-padrão 7,44 4,15
Disfluências gagas Média 3,95 0,93 0,001*
Desvio-padrão 3,12 1,14

Velocidade de fala
Palavras / Minuto Média 88,25 8,25 < 0,001*
Desvio-padrão 18,18 5,61
Sílabas / Minuto Média 147,39 12,69 < 0,001*
Desvio-padrão 31,88 9,10

Freqüência das rupturas


% Descontinuidade de fala Média 10,27 2,78 < 0,001*
Desvio-padrão 4,59 2,49
% Disfluências gagas Média 2,00 0,68 0,010*
Desvio-padrão 1,56 1,05
28
VR = Valor de referência ; GP = Grupo de pesquisa; * = diferença estatística significante

crianças fluentes. Os dados, obtidos através das aná- Em relação à freqüência das rupturas, houve diferen-
lises de fala, constituem um parâmetro da fluência ça estatisticamente significante para a taxa de
28
normal da fala . descontinuidade de fala e disfluências gagas. O GP apre-
sentou taxas de descontinuidade de fala e disfluências
Os resultados obtidos foram submetidos à análise gagas inferiores ao VR.
estatística com o teste t de Student, selecionado pela
pertinência ao tamanho da amostra. O valor de
significância foi menor ou igual a 5% (p < 0,05). Discussão
As crianças nascidas pré-termo apresentaram re-
Resultados sultado, quanto ao perfil da fluência, significantemente
inferiores ao das crianças nascidas a termo, embora
Na Tabela 2, são apresentados os resultados tivessem exames neurológicos normais.
do perfil da fluência no GP, comparativamente aos
28
valores de referência . Houve diferença estatisti- A respeito da tipologia das disfluências, a literatura apon-
camente significante para a tipologia das ta que, na fase de aquisição de linguagem, é esperado que
disfluências, velocidade de fala e freqüência das as crianças apresentem um número maior de disfluências
rupturas entre os dois grupos. de tipologia comum, sobretudo repetições de segmentos,
23-25,28
palavras e frases . No entanto, no estudo realizado, as
Em relação à tipologia das disfluências, houve di- crianças prematuras apresentaram 81,25% menos
ferença estatisticamente significante quanto às disfluências comuns e 76,46% menos disfluências gagas
disfluências comuns e gagas. O GP apresentou taxas que os valores de referência. Conforme apresentado por
23
de disfluências comuns e gagas inferiores ao VR. Andrade , a tipologia das disfluências comuns e gagas está
relacionada, respectivamente, com o processamento da
Em relação à velocidade de fala, houve diferença linguagem e com o processamento da fala. Assim, pode-
estatisticamente significante tanto para palavras quan- se inferir com base nos resultados apresentados que as
to para sílabas por minuto. O GP apresentou taxa de crianças prematuras apresentam defasagem em relação
produção de palavras e de sílabas por minuto inferio- às crianças nascidas a termo, tanto no processamento da
res aos VR. linguagem como no processamento da fala.

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A respeito da velocidade de fala, observou-se no um risco para desenvolver uma desordem na área da
estudo que as crianças nascidas pré-termo apresen- linguagem e necessita de um acompanhamento apro-
taram taxa de velocidade de fala, tanto em palavras priado. A partir do encaminhamento para avaliação de
quanto em sílabas por minuto, significantemente me- um especialista é possível determinar qual a melhor
nor que os valores de referência. Nas crianças pre- conduta para cada caso – tratamento formalizado ou
maturas a velocidade de fala, em palavras por minu- programas terapêuticos com retornos periódicos que
to, foi 10,7 vezes menor que o valor de referência; e envolvam orientações aos pais.
em sílabas por minuto foi 11,6 vezes menor que o
grupo de crianças nascidas a termo. Os resultados Apesar de existirem controvérsias sobre a interfe-
indicam que as crianças prematuras apresentam rência da prematuridade nos diferentes aspectos do
déficits na capacidade de produção da informação, desenvolvimento infantil, os estudos destacam a ne-
expressa pela redução no número de palavras por cessidade da avaliação precoce e do acompanha-
minuto, e na velocidade articulatória, indicada pela mento interdisciplinar longitudinal de crianças nasci-
3-6,9-10,16
redução no número de sílabas por minuto. Acredita- das pré-termo .
se que a redução significativa na taxa de velocidade
de fala pode ser indicativa de um retardo de lingua- Considera-se que o Protocolo de Avaliação da
23
gem vocabular e fonológica . Fluência de Fala, por fornecer dados objetivos sobre
as habilidades comunicativas da criança, possibilita
A respeito da freqüência das rupturas no grupo de tanto um parecer diagnóstico transversal quanto o pos-
14
crianças prematuras, a descontinuidade de fala foi terior seguimento longitudinal. Perissinoto destaca
73%, inferior à encontrada no grupo de referência. Em que a análise comparativa entre as visões transversal
relação à porcentagem de disfluências gagas, a taxa e longitudinal, registradas por intermédio de roteiros
de rupturas gagas para as crianças prematuras foi três de avaliações, permite a distinção entre as evoluções
vezes menor que o valor de referência. Os resultados normal, atrasada e patológica.
indicam que as crianças nascidas pré-termo apresen-
tam déficit na fluência não sugestivo de gagueira do
desenvolvimento. Conclusões
Observa-se, de forma geral, que as crianças nas- Foram verificadas alterações da fluência em crian-
cidas pré-termo apresentaram o perfil da fluência ças prematuras entre 2 e 3 anos de idade. Em função
significantemente defasado em relação às crianças do reduzido número de crianças submetidas ao estu-
nascidas a termo. do, as conclusões apresentadas são preliminares, e
os resultados devem ser vistos com restrições.
Detectar uma alteração de linguagem aos 2-3 anos
de idade não significa determinar um mau prognósti- A pesquisa transversal deve ser replicada com um
co ou inserir a criança em terapia fonoaudiológica. maior número de crianças, e deve haver seguimento
Tem-se que considerar as variações individuais no longitudinal para que se verifiquem tanto as variações
processo de aquisição e desenvolvimento da lingua- de maturação neurológica com possibilidade de recu-
gem mas, também, não se pode “aguardar pela fala”. peração espontânea, como a identificação das eta-
É necessário compreender que essa criança apresenta pas para a intervenção fonoaudiológica precoce.

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Endereço do autor para correspondência:


Rosana de Souza
Rua Pascoal Garofalo, 103 - Interlagos
CEP: 04775-180 - São Paulo - SP - Brasil
Tel.: 0XX (11) 5667-6594 - Cel. 0XX (11) 9706-2961 Recebido para publicação: 21/10/2003
E-mail: [email protected] Aceito para publicação: 22/03/2004

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