Linguagem e Aprendizagem

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ISSN 2317-1782 (Online version)

Desempenho em decodificação e
Comunicação Breve
Brief Communication escrita de crianças com Transtorno do
Desenvolvimento da Linguagem: dados
Aparecido José Couto Soares1 
Gabriele Hilário Cardoso Santos2  preliminares
Débora Maria Befi-Lopes2 

Performance in decoding and writing of


children with Developmental Language
Disorder: preliminary data

Descritores RESUMO
Linguagem Objetivo: Verificar o desempenho de crianças com diagnóstico de Transtorno do Desenvolvimento da Linguagem
Transtorno Específico de Linguagem em provas de decodificação e escrita para assim entender melhor suas manifestações e o processo de aquisição
das habilidades da linguagem escrita. Método: Foram sujeitos do estudo 80 crianças. Compuseram o Grupo-
Leitura Pesquisa 16 crianças com diagnóstico de Transtorno do Desenvolvimento da Linguagem, sendo 13 do gênero
Aprendizagem masculino e 3 do gênero feminino, média de idade de 7,3. O Grupo Controle contou com 64 sujeitos pareados
Avaliação em gênero, idade, escolaridade e nível sócio econômico com o Grupo Controle na proporção 4:1. Foi realizada
avaliação da habilidade de decodificação de palavras e pseudopalavras de ambos os grupos, contabilizando-se
o tempo de leitura de palavras corretas e a porcentagem de acertos, considerando-se também a extensão da
palavra/pseudopalavra. A avaliação da escrita foi realizada no grupo controle, que teve seus erros ortográficos
analisados e categorizados. Todos os dados passaram por análise estatística descritiva e inferencial. Resultados:
Os dados indicaram maior tempo de decodificação e menor porcentagem de acertos para as crianças do Grupo
Pesquisa. Em relação aos erros ortográficos, observou-se a predominância de erros de ortografia arbitrária.
Conclusão: Os dados evidenciam que crianças com Transtorno do Desenvolvimento da Linguagem tendem a
apresentar maior tempo de decodificação, maior porcentagem de erros do que seus além, de erros ortográficos
mais concentrados na ortografia natural.

Keywords ABSTRACT
Language Purpose: to verify the performance of children with Developmental Language Disorder in decoding and writing
Specific Language Disorder tests in order to better understand their manifestations and the process of acquiring written language skills.
Methods: The study subjects were 80 children. The Research Group consisted of 16 children diagnosed with
Reading Developmental Language Disorder, 13 males and 3 females, mean age of 7.3. The Control Group counted on
Learning 64 subjects paired in gender, age, education and socioeconomic level with the Control Group in a 4:1 ratio. The
Evaluation ability to decode words and pseudowords of both groups was evaluated, measuring the time spent to correctly
read words and the percentage of correct answers, also considering the length of the word/pseudoword. The
writing evaluation was carried out in the control group, which had its spelling errors analyzed and categorized.
All data underwent descriptive and inferential statistical analysis. Results: The data indicated a longer decoding
time and a lower percentage of correct answers for the children from the Research Group. Regarding spelling
errors, there was a predominance of arbitrary spelling errors. Conclusion: The data showed that children with
Developmental Language Disorder tend to have a longer decoding time, greater percentage of errors than their
peers and tend to present spelling errors more concentrated in natural orthography.

Endereço para correspondência: Trabalho realizado no Laboratório de Investigação Fonoaudiológica em Pediatria, Departamento de Fisioterapia,
Aparecido José Couto Soares Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo – USP - São Paulo (SP), Brasil.
Departamento de Fonoaudiologia – 1
Departamento de Fonoaudiologia da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP – São Paulo (SP), Brasil.
Universidade Federal de São Paulo 2
Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional, Faculdade de Medicina, Universidade
- UNIFESP, Rua Botucatu, 802, São de São Paulo – USP - São Paulo (SP), Brasil.
Paulo (SP), Brasil, CEP: 04023-062.
Fonte de financiamento: nada a declarar.
E-mail: [email protected]
Conflito de interesses: nada a declarar..
Recebido em: Dezembro 07, 2022 Este é um artigo publicado em acesso aberto (Open Access) sob a licença Creative Commons Attribution, que permite
Aceito em: Maio 07, 2023 uso, distribuição e reprodução em qualquer meio, sem restrições desde que o trabalho original seja corretamente citado.

Soares et al. CoDAS 2024;36(1):e20220318 DOI: 10.1590/2317-1782/20232022318pt 1/6


INTRODUÇÃO respeito. Como hipóteses, espera-se que as crianças com TDL
apresentem prejuízos na decodificação e na aquisição da escrita.
O transtorno do desenvolvimento da linguagem (TDL) Sendo assim, o objetivo do presente estudo é verificar o
caracteriza-se pela presença de alterações significativas no desempenho de crianças com diagnóstico de TDL em provas
processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem, de decodificação e escrita sob ditado.
excluindo-se crianças com alterações justificadas por fatores
sócio-ambientais, bi ou multilinguismo além de condições MÉTODO
biomédicas onde são esperadas alterações de linguagem(1,2).
Comumente observa-se nessas crianças prejuízos na aquisição Estudo retrospectivo transversal, aprovado pelo Comitê de
lexical, que varia conforme o grau do transtorno e a criança pode Ética e Pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade de
apresentar dificuldades no vocabulário expressivo e receptivo. São Paulo sob nº 2.262.300. O estudo foi realizado no Laboratório
Ademais, os prejuízos nos aspectos fonológicos é uma característica de Investigação Fonoaudiológica em Pediatria do curso de
importante, sendo comum essas crianças apresentarem fala Fonoaudiologia da Universidade de São Paulo. Em decorrência
ininteligível. Alguns estudos(3,4) apontam déficits importantes de a pesquisa ser retrospectiva, realizada em banco de dados, o
nos componentes do processamento fonológico em crianças com Termo de Consentimento Livre e Esclarecido foi dispensado.
TDL, como a memória de curto prazo fonológica e a consciência Participaram deste estudo 80 crianças na faixa etária de 6 a
fonológica, que são consideradas habilidades fundamentais para o 10 anos de idade, separadas em dois grupos. O Grupo-Pesquisa
processo de aquisição da linguagem em sua modalidade escrita(3). (GP) foi composto por 16 crianças, sendo 13 do sexo masculino
Neste contexto, sabe-se que as habilidades do processamento e 3 do sexo feminino, média de idade de 7,3, com diagnóstico de
fonológico associam-se com o sucesso no processo de aprendizagem Transtorno do Desenvolvimento da Linguagem (TDL) baseados
porque somadas são responsáveis respectivamente, pela capacidade em critérios internacionais recentes(1,2), e que foram atendidas
de análise da estrutura sonora da fala, retenção de informações no ambulatório do referido Laboratório. O público do serviço é
e o acesso rápido a representações das informações fonológicas prioritariamente de nível socioeconômico médio-baixo. Importante
da língua(5). Todavia, conforme citado, essas são habilidades ressaltar que tal variável foi considerada quando da avaliação e
prejudicadas em crianças com TDL devido às alterações em diagnóstico de TDL, conforme diretrizes mais recentes, que incluem
diversos subsistemas da linguagem(1). uma bateria de avaliação de todos os subsistemas da linguagem
Essas alterações, portanto, acarretam em um tempo maior para a e suas habilidades subjacentes(1,2). Os critérios de inclusão para
solidificação linguística em crianças com TDL quando comparadas este grupo foram: possuir diagnóstico de TDL, estar em idade de
à população em desenvolvimento típico e levam à repercussões escolarização formal (6 a 10 anos de idade) e estar regularmente
importantes no processo de aquisição da linguagem escrita(4). matriculado no Ensino Fundamental I. O Grupo Controle (GC)
Sabe-se que essas crianças apresentam dificuldades referentes à contou com 64 sujeitos pareados em gênero, idade, escolaridade
leitura e à escrita, provavelmente decorrentes dos prejuízos da e nível socioeconômico com o GP na proporção 4:1, ou seja, cada
linguagem oral e do processamento fonológico característicos criança do GP, foi pareada com 4 crianças do GC.
do TDL(6). Há um crescente no número de estudos relacionados O GC foi construído especificamente para a prova de
às habilidades de linguagem escrita de crianças com TDL, bem decodificação e conta com crianças com desenvolvimento
como a importância da sua caracterização para a efetuação de de linguagem oral, leitura e escrita típicos, confirmado por
diagnósticos diferenciais em relação aos Transtornos Específicos procedimentos fonoaudiológicos realizados em estudo anterior(8).
de Aprendizagem e, até mesmo, a co-ocorrência destes quadros(7). A média de idade do GC foi de 7,2. Os critérios de inclusão do
Apesar disso, são escassos os estudos brasileiros que se dedicam GC foram: não possuir queixas ou alterações de linguagem oral
a melhor entender as alterações de linguagem escrita dessas crianças, e escrita; estar regularmente matriculado em escola do ensino
bem como seu processo de aquisição. Isso decorre do fato de que até fundamental I; não possuir queixas de aprendizagem; possuir
a mudança de paradigma e de nomenclatura de Distúrbio Específico desempenho adequado em triagem fonoaudiológica realizada no
de Linguagem (DEL) para Transtorno do Desenvolvimento de estudo anterior(8). Os indivíduos do GP foram avaliados quanto às
Linguagem(1), as manifestações da linguagem escrita eram pouco suas habilidades de decodificação e escrita e as crianças do GC
investigadas nesta população, principalmente no Brasil. No entanto, apenas quanto à decodificação. Isso decorre do fato de a prova de
evidencia-se a importância de uma abordagem holística das decodificação utilizada ter parâmetros e variáveis específicas que
alterações de crianças TDL, principalmente considerando-se que foram publicadas recentemente(8) e a análise da escrita ser realizada
tal transtorno acomete, longitudinalmente, todos os subsistemas por instrumento publicado em forma de teste padronizado(9),
da linguagem(4), que levarão a diferentes impactos ao longo da dispensando a necessidade de Grupo Controle para tal variável.
vida do indivíduo e, consequentemente, na sua trajetória escolar. Para avaliação e análise da decodificação foi utilizado
Dessa forma, torna-se primordial estudos que investiguem as o Protocolo de Acompanhamento do Desenvolvimento da
manifestações na linguagem escrita de crianças com TDL, para Decodificação (PRADE)(8) que consiste de palavras balanceadas
melhor entender os prejuízos desta população e delinear não linguisticamente conforme as regras de decodificação do
apenas planejamentos terapêuticos que envolvam a linguagem Português Brasileiro (PB) respeitando-se também a variação
escrita, mas desenvolver ações que promovam o desenvolvimento de extensão de palavras de mono a polissílabos para crianças
de políticas públicas educacionais para essas crianças que, desta faixa escolar. A prova também conta com não-palavras
atualmente, não são amparadas por nenhuma legislação a que foram derivadas das palavras reais e que também seguem as

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regras de decodificação do PB, bem como a variação de mono palavra e da extensão da palavra sobre o tempo e a porcentagem
a polissílabos. Ambas as tarefas foram realizadas de forma de acertos. O valor de significância estatística adotado foi igual a
presencial e consistiram em solicitar à criança a decodificar as 5% (p ≤ 0,05). Utilizou-se o software SPSS Statistics, versão 28.0.
palavras da maneira que elas acreditavam ser a forma correta. Foram realizadas também equações de estimações generalizadas
As palavras são apresentadas iniciando-se pelos monossílabos, (GEE) para verificar os efeitos para cada variável isoladamente,
seguindo para dissílabos e assim sucessivamente. Quando a intragrupo e também os efeitos da interação entre todas as variáveis
criança comete dez erros consecutivos a prova é finalizada. estudadas (tipo de palavra, extensão e valores totais) intergrupo.
O procedimento é o mesmo para palavras e não-palavras. Foram Em relação à escrita, foi verificada a porcentagem de crianças com
contabilizados o tempo de decodificação de palavras corretas nível alfabético de escrita e, destas, a porcentagem da tipologia
e a porcentagem de acertos tanto para cada tipo de estímulo de erros, de ortografia natural ou arbitrária.
(de mono a polissílabo) quanto valores totais para a categoria
(palavras ou não palavras). A escolha de tal instrumento se deu RESULTADOS
em decorrência de este analisar especificamente a decodificação,
que sabe-se ser habilidade fundamental para as fases posteriores No que diz respeito à análise da escrita, das crianças
da alfabetização e por conter estímulos que são baseados na classificadas em nível alfabético, os dados indicaram que, em
estrutura do Português Brasileiro, com adequado balanceamento média, 76,58% dos erros foram de ortografia natural e 35,13% de
linguístico, conforme descrito anteriormente. Os dados foram ortografia arbitrária. Observou-se também grande variabilidade
tabulados em planilha específica e passaram por análise estatística. no desvio padrão com valores de 22,95 e 18,68, respectivamente.
Em relação à escrita, foi utilizada uma lista de palavras Em relação a decodificação, observou-se maior tempo de
utilizada em estudo anterior, que mostraram-se adequadas para decodificação no GP em comparação com o GC (Tabela 1).
crianças com TDL(10). A prova consiste em um ditado de oito Além disso, a extensão da palavra foi uma variável importante
palavras e oito pseudopalavras; ambas as listas de palavras foram e levou ao aumento do tempo de leitura em ambos os grupos,
compostas de palavras dissílabas com estrutura CV (consoante- mas em maior proporção no GP. Tal fato foi observado tanto na
vogal); além disso, as palavras possuem correspondência fono- decodificação de palavras quanto em pseudopalavras (Tabela1).
grafêmica consideradas transparentes. Realizou-se análise do Em relação à porcentagem de acertos tanto das palavras quanto
desempenho em escrita e, para crianças com escrita alfabética, das pseudopalavras, o desempenho do GP foi consideravelmente
foi realizada categorização do perfil de erros ortográficos com menor quando comparado ao GC (Tabela 1).
base nas diretrizes do Teste Pró-Ortografia(9). Nesta perspectiva, A Tabela 2 confirma os pontos analisados quanto à decodificação
os erros foram classificados, em porcentagem, em erros de de forma conjunta, indicando diferença estatística nas múltiplas
ortografia natural e arbitrária(9). Os dados foram tabulados em variáveis da presente pesquisa. Dessa forma, observa-se interação
planilha específica e passaram por análise estatística. entre todas as variáveis, ou seja, todas elas influenciam o desempenho
Foi realizada análise estatística com o objetivo de caracterizar em decodificação, porém, o maior impacto foi observado no GP,
os grupos em relação ao tempo de leitura e porcentagem de verificando-se prejuízos em todas as variáveis estudadas (palavra/
acertos de acordo com o tipo e a extensão das palavras, além dos pseudopalavra, extensão da palavra/pseudopalavra, valores totais
valores totais; investigou-se também o efeito do grupo, do tipo de de tempo de decodificação e porcentagem de acertos).

Tabela 1. Valores descritivos do tempo de leitura (em segundos) e porcentagem de acertos de acordo com o tipo de palavra, a extensão da
palavra e o grupo
TEMPO DE LEITURA
Tipo de Extensão da IC 95%
Grupo n Média DP Mediana Mín. Máx.
palavra palavra LI LS
Palavra Monossílabo GC 54 7,09 2,56 6,43 7,72 7,10 1,20 14,70
GP 16 19,56 7,59 16,50 23,12 18,00 11,00 37,00
Dissílabo GC 52 23,86 10,11 21,28 26,54 22,10 1,10 51,30
GP 14 72,71 42,67 55,70 95,00 66,00 29,00 201,00
Trissílabo GC 50 32,26 14,42 28,17 36,39 32,45 5,50 66,20
GP 9 109,89 36,08 88,00 132,00 106,00 61,00 183,00
Polissílabo GC 42 38,69 24,56 32,19 46,87 32,15 5,20 137,40
(4 sílabas)
GP 6 93,50 22,42 76,33 111,20 98,50 64,00 118,00
Polissílabo GC 41 22,00 8,59 19,55 24,66 20,10 5,70 39,50
(5 sílabas)
GP 5 58,00 22,52 43,40 72,60 57,00 39,00 94,00
Total GC 55 104,80 52,25 90,58 119,42 113,00 4,50 209,00
GP 16 198,19 123,19 142,29 253,37 223,00 18,00 408,00
Legenda: n = número de participantes; DP = Desvio padrão; Mín. = Mínimo; Máx. = Máximo; IC 95% = intervalo de confiança de 95% calculado com 1000
amostras bootstrap; LI = limite inferior; LS = limite superior

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Tabela 1. Continuação...
TEMPO DE LEITURA
Tipo de Extensão da IC 95%
Grupo n Média DP Mediana Mín. Máx.
palavra palavra LI LS
Pseudopalavra Monossílabo GC 45 8,93 2,85 8,23 9,64 8,50 2,10 19,50
GP 9 22,78 12,47 16,67 30,44 17,00 12,00 52,00
Dissílabo GC 42 30,58 9,15 28,05 33,12 28,20 17,80 57,20
GP 8 94,00 44,04 64,63 124,62 84,50 45,00 154,00
Trissílabo GC 45 42,28 14,88 37,82 46,16 41,80 7,60 85,30
GP 6 129,67 34,94 105,33 157,54 138,50 88,00 179,00
Polissílabo GC 42 37,97 15,13 33,62 42,94 36,70 8,20 79,20
(4 sílabas) GP 4 114,25 38,35 86,23 146,25 114,50 68,00 160,00
Polissílabo GC 39 24,42 9,15 21,75 27,02 24,20 6,80 46,20
(5 sílabas) GP 4 65,75 17,21 54,25 78,56 63,00 49,00 88,00
Total GC 48 127,84 53,91 110,48 142,97 133,60 6,50 219,20
GP 9 272,56 153,87 180,79 362,44 273,00 12,00 553,00
PORCENTAGEM DE ACERTOS
Tipo de Extensão IC 95%
Grupo n Média DP Mediana Mín. Máx.
palavra da palavra LI LS
Palavra Monossílabo GC 64 64,06 41,81 54,43 73,78 83,33 0,00 100
GP 16 56,56 28,03 42,80 69,48 52,50 16,00 100
Dissílabo GC 64 55,18 40,24 45,63 64,82 75,00 0,00 100
GP 16 49,26 31,47 33,02 64,52 49,98 0,00 93,75
Trissílabo GC 64 52,41 41,41 42,07 63,14 59,09 0,00 100
GP 16 25,52 30,55 12,15 39,98 14,28 0,00 85,71
Polissílabo GC 64 50,10 42,12 39,85 60,54 62,50 0,00 100
(4 sílabas) GP 16 16,80 28,93 3,91 32,03 0,00 0,00 81,25
Polissílabo GC 64 51,76 43,58 41,80 61,52 68,75 0,00 100
(5 sílabas) GP 16 17,19 29,18 5,47 31,02 0,00 0,00 87,50
Total GC 64 51,94 39,81 42,55 61,73 65,71 0,00 97,14
GP 16 25,37 30,45 10,72 40,61 13,50 0,00 86,19
Pseudopalavra Monossílabo GC 64 51,04 37,66 41,94 60,16 66,67 0,00 100
GP 16 39,79 39,07 21,87 57,29 33,33 0,00 100
Dissílabo GC 64 51,56 40,72 42,29 60,84 62,50 0,00 100
GP 16 30,98 34,02 15,82 46,61 19,75 0,00 100
Trissílabo GC 64 43,11 33,94 35,31 51,12 54,55 0,00 95,45
GP 16 21,87 32,69 6,53 36,63 0,00 0,00 86,36
Polissílabo GC 64 33,30 29,86 25,98 40,71 37,50 0,00 87,50
(4 sílabas) GP 16 16,02 32,19 1,17 32,42 0,00 0,00 93,75
Polissílabo GC 64 36,52 35,17 28,91 44,73 37,50 0,00 100
(5 sílabas) GP 16 12,50 27,76 1,56 25,00 0,00 0,00 87,50
Total GC 64 41,50 32,89 34,05 49,27 52,14 0,00 92,86
GP 16 23,09 29,36 10,14 37,00 13,54 0,00 88,52
Legenda: n = número de participantes; DP = Desvio padrão; Mín. = Mínimo; Máx. = Máximo; IC 95% = intervalo de confiança de 95% calculado com 1000
amostras bootstrap; LI = limite inferior; LS = limite superior

Tabela 2. Teste de efeitos para cada variável e para a interação entre as variáveis das Equações de Estimações Generalizadas elaborados para
tempo e porcentagem de acertos
Efeitos
Variável Par. Intercepto
G T E GxT GxE TxE GxTxE
Tempo X2 de Wald 10396,960 159,466 29,301 791,129 2,357 10,365 5,758 6,574
gl 1 1 1 4 1 4 4 4
p < 0,001* < 0,001* < 0,001* < 0,001* 0,125 0,035* 0,218 0,160
Acertos (%) X2 de Wald 269,657 4,320 14,827 26,053 2,880 11,609 2,076 1,229
gl 1 1 1 4 1 4 4 4
p < 0,001* 0,038* < 0,001* < 0,001* 0,090 0,021* 0,722 0,873
Teste X2 de Wald; *Valor estatisticamente significante no nível de 5% (p ≤ 0,05)
Legenda: Par. = Paraâmetro; gl = graus de liberdade; G = Grupo; T = Tipo de palavra; E = Extensão da palavra

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DISCUSSÃO no processamento fonológico, o que pode influenciar também
em sua capacidade de reconhecimento das palavras quando
Este estudo teve como objetivo verificar o desempenho de estão aprendendo a ler. Além disso, a dificuldade no aspecto
crianças com diagnóstico de TDL em provas de decodificação fonológico dessas crianças reduz a eficiência das habilidades
e escrita para assim entender melhor suas manifestações e o metafonológicas, como a consciência fonológica e memória
processo de aquisição das habilidades da linguagem escrita nesta de curto prazo fonológica, importantes para a decodificação,
população. A base da aquisição da linguagem escrita advém e que tendem a estar mais relacionadas à sua idade linguística
de habilidades adquiridas e aprimoradas a partir da linguagem do que cronológica(2,4).
oral(11), o que em crianças com transtorno do desenvolvimento Cabe salientar que, apesar de tal temática ser abordada mais
da linguagem ocorre de modo mais lento(4). aprofundadamente no mundo(3,6,7,12,13) ainda há poucos estudos
Neste contexto, considerando as crianças em nível alfabético desta natureza no Brasil. Sendo assim, o presente estudo apresenta
de escrita notou-se uma porcentagem maior de erros de escrita evidências fundamentais a respeito do desempenho de crianças
natural do que arbitrários, o que corrobora a hipótese de que com TDL em habilidades de decodificação e escrita e reforça a
as alterações em processamento fonológico dessas crianças importância de novos estudos na área.
dificultam a conversão fonema-grafema e consequentemente
o desenvolvimento da escrita(11). CONCLUSÃO
É importante salientar que em estudos recentes, crianças com
TDL tendem a apresentar maior número de erros ortográficos em Os dados evidenciam que crianças com TDL tendem a
palavras que dependem da conversão fono-grafêmica e maior apresentar maior tempo de decodificação do que seus pares
facilidade em grafar corretamente palavras de ortografia arbitrária, típicos e resultados abaixo do esperado no que se refere à
que estão mais ligadas à rota lexical e são menos dependentes escrita, consonante com o que se observa na literatura mundial.
de habilidades fonológicas(11,12). Ressalta-se, também que a Ademais, observou-se maior tempo de decodificação e menor
maioria destes estudos foram realizados em línguas estrangeiras porcentagem de acertos independentemente da extensão da
com diferentes características de opacidade e transparência(11,12). palavra, com maior dificuldade nas pseudopalavras. O presente
Entretanto, os dados do presente estudo reforçam tal hipótese estudo possibilita reflexões sobre o desempenho em linguagem
uma vez que observamos o mesmo perfil de erros em uma língua escrita de crianças TDL e reforça a necessidade de estudos na área
transparente, como é o Português Brasileiro (PB), apesar de ser
comum a escrita ortográfica ocorrer mais tardiamente devido REFERÊNCIAS
às múltiplas representações que o PB apresenta no sentido do
fonema para o grafema(13). Salienta-se a necessidade de mais 1. Bishop DVM, Snowling MJ, Thompson PA, Greenhalgh T. Phase 2 of
estudos na área para que se avance no entendimento do processo CATALISE: a multinational and multidisciplinary Delphi consensus study
de aquisição da escrita por crianças TDL alfabetizadas em PB. of problems with language development: Terminology. J Child Psychol
Psychiatry. 2017;(10):1068-80. http://dx.doi.org/10.1111/jcpp.12721.
No que se refere à decodificação, a literatura(3), aponta que PMid:28369935.
crianças com distúrbios da linguagem tendem a apresentar 2. Befi-Lopes DM, Soares AJC. Perspectivas atuais em diagnóstico e
dificuldades relacionadas desde a compreensão da linguagem nomenclatura nas alterações de linguagem. In: Giacheti CM, editor. Avaliação
oral até a capacidade de decodificação, o que é reforçado nos da fala e da linguagem: perspectivas interdisciplinares em Fonoaudiologia.
dados do presente estudo, pois as crianças do GP apresentaram Marília: Oficina Universitária; São Paulo: Cultura Acadêmica; 2020. p.
223-36.
tempo de decodificação mais lento e maior porcentagem de
erros em relação a seus pares típicos. 3. Snowling MJ, Hulme C. Annual Research Review: reading disorders
revisited - the critical importance of oral language. J Child Psychol Psychiatry.
O presente estudo também aponta a extensão da palavra 2021;62(5):635-53. http://dx.doi.org/10.1111/jcpp.13324. PMid:32956509.
como uma variável importante, uma vez que houve aumento no 4. Befi-Lopes DM, Leão LFA, Soares AJC. Relações entre idade linguística e
tempo de decodificação em função da extensão das palavras para consciência fonológica de crianças com transtorno do desenvolvimento da
ambos os grupos, sendo sempre superior no GP. Em relação às linguagem. Rev CEFAC. 2022;24(3):e6521. http://dx.doi.org/10.1590/1982-
pseudopalavras, que estão mais relacionadas à rota fonológica, 0216/20222436521s.
verificou-se aumento no tempo de ambos os grupos sendo este 5. Schoenel ASP, Escarce AG, Araujo LL, Lemos SMA. Influência do
mais expressivo, uma vez mais, no GP. Sendo assim, as alterações processamento fonológico no mau desempenho escolar: revisão sistemática
de literatura. CoDAS. 2020;32(5):e20180255. http://dx.doi.org/10.1590/2317-
verificadas nas habilidades de decodificação das crianças com 1782/20192018255. PMid:33174983.
TDL deste estudo reforçam a hipótese de que as dificuldades de 6. Snowling MJ, Moll K, Hulme C. Language difficulties are a shared risk
processamento fonológico presente nesta população descritas factor for both reading disorder and mathematics disorder. J Exp Child
em diferentes pesquisas(3-5), e que não foram objeto do presente Psychol. 2021;202(20):105009. http://dx.doi.org/10.1016/j.jecp.2020.105009.
estudo, podem interferir em seu processo de alfabetização. PMid:33126134.
Dessa maneira, sugere-se, em pesquisas futuras, investigação 7. Snowling MJ, Hayiou-Thomas ME, Nash HM, Hulme C. Dyslexia and
mais aprofundada sobre tais aspectos. Developmental Language Disorder: comorbid disorders with distinct effects
on reading comprehension. J Child Psychol Psychiatry. 2020;61(6):672-80.
Sabe-se que, quando o indivíduo se utiliza da rota http://dx.doi.org/10.1111/jcpp.13140. PMid:31631348.
fonológica para ler, o tempo de decodificação tende a ser maior 8. Soares AJC, Sassi FC, Fortunato-Tavares T, Andrade CRF, Befi-Lopes
e a decodificação apresenta-se menos fluente(4). Conforme DM. How word/non-word length influence reading acquisition in a
mencionado, as crianças com TDL apresentam dificuldades transparent language: implications for children’s literacy and development.

Soares et al. CoDAS 2024;36(1):e20220318 DOI: 10.1590/2317-1782/20232022318pt 5/6


Children. 2022;10(1):49. http://dx.doi.org/10.3390/children10010049. 12. Macchi L, Casalis S, Schelstraete MA. Phonological and orthographic
PMid:36670600. reading routes in French-speaking children with severe developmental
9. Batista AO, Cervera-Merida JF, Ygual-Fernandez A, Capellini SAA. Pró- language disorder. J Commun Disord. 2019;81(10):105909. http://dx.doi.
Ortografia: protocolo de avaliação da ortografia para escolares do segundo org/10.1016/j.jcomdis.2019.05.002. PMid:31176997.
ao quinto ano do ensino fundamental. Barueri: Pró-Fono, 2014 13. Miranda ARM, Pachalski L, Richetti LS. The Brazilian Portuguese
10. Pedott PR. Habilidades de processamento fonológico e de escrita em digraphs in the spelling of students of the years of elementary school.
crianças com distúrbio específico de linguagem: um estudo comparativo Forum Linguistic. 2023;20(1):8727-45.
com a normalidade [dissertação]. São Paulo: Faculdade de Medicina,
Universidade de São Paulo; 2016. http://dx.doi.org/10.11606/D.5.2016.
tde-06062016-122759. Contribuição dos autores
11. Choi D, Hatcher RC, Dulong-Langley S, Liu X, Bray MA, Courville AJCS participou da concepção do estudo, coleta e análise de dados, redação e
T, et al. What do phonological processing errors tell about students’ skills revisão do manuscrito: GHCS participou da coleta de dados e redação inicial
in reading, writing, and oral language? J Psychoed Assess. 2017;35(1- do manuscrito; DMBL participou da concepção do estudo, análise dos dados
2):24-46. http://dx.doi.org/10.1177/0734282916669018. e revisão final do manuscrito.

Soares et al. CoDAS 2024;36(1):e20220318 DOI: 10.1590/2317-1782/20232022318pt 6/6

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