Biletramento 1
Biletramento 1
Biletramento 1
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 3
3 BILETRAMENTO ....................................................................................... 20
4 ALFABETIZAÇÃO ...................................................................................... 22
2
1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao
da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo
hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe
convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida
e prazos definidos para as atividades.
Bons estudos!
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2 A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE BILINGUISMO
Fonte: direcionalescolas.com
Definir o que vem a ser bilinguismo é muito mais complexo do que podemos
inicialmente imaginar. Isso porque são variados os motivos e os contextos que levam
à necessidade de comunicação em mais de uma língua. Esses motivos podem estar
ligados a fatores políticos, sociais, econômicos, religiosos, culturais, educacionais. E
os contextos que levaram e levam ao contato entre línguas na história da civilização
são diversos: invasão militar, urbanização, industrialização, imigração, comunidades
de fronteiras, comunidades indígenas que não estão isoladas, o domínio de
determinadas línguas no mundo, como já foi o caso do grego, do latim, do francês, e
atualmente do inglês etc. Além disso, para complexar ainda mais, diversificados
padrões de bilinguismo podem ser desenvolvidos. Levemos em consideração o
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contexto de imigração –os grupos que entram em contato podem ambos aprender um
a língua do outro grupo; o grupo que imigra aprende a língua da área para onde se
mudou; e ainda, os habitantes originais de uma terra podem adotar a língua de seus
colonizadores (VITOR, 2016).
Em estudos iniciais acerca do tema, por volta dos anos 1950 e 1960,
pesquisadores preocupavam-se em medir graus de bilinguismo objetivamente em
termos quantitativos. Tal fator levou a uma grande concentração de estudos acerca de
aspectos que são mais facilmente medidos, como a quantidade de vocábulos. A partir
desses estudos, termos como bilíngue ideal (ideal bilingual), bilinguismo completo
(fullbilingualism) e bilinguismo equilibrado (balanced bilingualism) foram cunhados.
Entre os leigos, a falta de familiaridade com o tema leva à permanência de mitos acerca
do que caracteriza um indivíduo bilíngue –por exemplo: falantes monolíngues são a
maioria no mundo; indivíduos bilíngues têm controle nativo de ambas as línguas que
falam em todas as quatro habilidades (fala, compreensão, leitura e escrita); indivíduos
bilíngues aprenderam suas línguas durante a infância e não falam com sotaque em
nenhuma delas; para os bilíngues é fácil fazer tradução de uma língua para a outra;
todos os indivíduos bilíngues são também biculturais etc. (VITOR, 2016).
No entanto, segundo o autor, se paramos para dar um pouco mais de atenção à
questão da fluência nativa e ao desempenho proficiente em todas as habilidades, por
exemplo, como qualificamos, então, uma pessoa que sabe o suficiente de uma
segunda língua para se expressar em contexto informal, mas que não consegue se
comunicar com desenvoltura em ambiente acadêmico? Não devemos considerá-la
bilíngue? E o que dizer de pessoas que leem e escrevem bem, mas que não
conseguem se expressar oralmente com naturalidade em uma L2? “Bilinguismo
deveria, então, ser um termo relativo?”
Existem níveis diferentes de bilinguismo? Uma pessoa pode deixar de ser
bilíngue? O que é ser bilíngue afinal? O significado do conceito de bilinguismo foi se
transformando, evoluindo e mudando com o tempo. Na academia, a ideia de “controle
nativo” de uma segunda língua como uma característica que define o conceito foi
perdendo força entre os estudiosos do tema. Outras diversas questões começaram a
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ser levadas em consideração e o termo foi ganhando diferentes acepções quando
passado de um autor a outro, de um contexto a outro. Como nos aponta Benedetta
Bassetti e Vivian Cook (2011), as primeiras definições do conceito de bilinguismo se
dividem na sua maioria em dois grupos. Um primeiro grupo assume que ser bilíngue
significa ter conhecimento de duas línguas e ser capaz de fazer uso delas com o
mesmo alto nível de proficiência em qualquer situação (VITOR, 2016).
Com o desenvolvimento dos estudos acerca do tema, o leque foi se abrindo e
dando espaço ao segundo grupo, para o qual o simples fato de um indivíduo ser capaz
de fazer uso de duas línguas “em qualquer nível” indica sinal de bilinguismo. Bassetti e
Cook (2001) afirmam,
Leonard Bloomfield é dos linguistas que se encaixam no primeiro grupo e foi dos
teóricos que entendiam que um indivíduo só poderia ser considerado bilíngue se
tivesse “o controle nativo de duas línguas”. Para ele, quando o indivíduo alcança um
nível de proficiência na L2 que o torna indistinguível dos falantes originais daquela
língua, e quando isso acontece sem haver perda da sua primeira língua, o resultado é
o bilinguismo. Segundo o linguista, isso acontece ocasionalmente entre adultos e com
mais frequência entre crianças, que fariam a aquisição da L2 com mais facilidade em
contextos propícios, como por exemplo em comunidades em área de fronteira, famílias
com pais de diferentes nacionalidades etc. É interessante notar que o próprio
Bloomfield afirma que “não se pode definir um grau de perfeição que um indivíduo
possa alcançar para se tornar bilíngue: tal distinção é relativa”(1933: 55, 56).A
afirmação de Bloomfield tem força ainda nos dias de hoje. Para o senso comum, é
bilíngue o indivíduo com fluência nativa em dois idiomas (VITOR, 2016).
Mas de acordo com o autor, bem nos lembra, se formos considerar bilíngue
somente aqueles capazes de se passarem por monolíngues em cada uma das línguas
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que fala, deveríamos começar a pensar em como rotular todas as pessoas que fazem
uso de duas ou mais línguas regularmente no seu dia a dia, mas que não possuem
fluência nativa, que falam com sotaque. Segundo a definição acima, esse grupo não
poderia ser considerado bilíngue, mas podemos afirmar que monolíngues essas
pessoas também não são, pois vivem suas vidas com mais de uma língua. No segundo
grupo, destacam Einar Haugen, para quem poderia se considerar um indivíduo bilíngue
a partir do momento em que ele fosse “capaz de produzir enunciados com sentido na
outra língua”. Haugen dizia ser praticamente impossível manter puros os padrões de
duas ou mais línguas de forma que uma pessoa falasse e entendesse perfeitamente e
fosse capaz de reproduzir em uma língua o sentido da outra sem violar o uso de
nenhuma delas. Em outras palavras: o bilíngue não é dois monolíngues em uma única
pessoa.
Um pouco mais tarde, Einar Haugen (1974) volta a definir o conceito de
bilinguismo dizendo este ser um termo que cobre pessoas com diversas habilidades
linguísticas, que têm em comum o fato de não serem monolíngues. O autor esclarece
que sua definição não especifica o quanto o falante deve saber de cada língua nem o
quão diferentes são os idiomas, devendo tais fatores serem uma questão de decisão
arbitrária. Ou seja, estariam incluídos na definição um completo bilinguismo passivo –
quando uma pessoa entende, mas não fala um idioma –e dialetos –seria considerado
bilíngue também o indivíduo que falasse dois ou mais dialetos, além de línguas.
Bassetti e Cook (2011) explicitam o fato de que, de uma forma ou de outra, ambos os
grupos definem o conceito de bilinguismo tendo como base falantes nativos
monolíngues. Para o primeiro grupo, o indivíduo bilíngue deve ter a competência
linguística de um falante monolíngue em ambas as línguas. Para o segundo grupo, o
indivíduo bilíngue deve fazer uso de cada uma delas do mesmo jeito que um indivíduo
monolíngue. Os autores sublinham que os teóricos desconsideram o fato de que
falantes de mais de uma língua têm um conhecimento delas e produzem de forma
diferente do falante monolíngue –por exemplo, indivíduos bilíngues fazem uso de code-
switchinge tradução. Concordamos em parte com os autores e vemos como de extrema
importância o fato de que é preciso esse reconhecimento de que falantes bilíngues
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produzem de forma diferente de falantes monolíngues. No entanto, não encontramos
em Haugen provas de que para um indivíduo ser considerado bilíngue ele deva fazer
uso da língua como um monolíngue. Mesmo porque o autor, ele próprio um indivíduo
bilíngue (nascido nos Estados Unidos, filho de noruegueses), tinha consciência da
complexidade do tema (VITOR, 2016).
Assim como Haugen, Uriel Weinreich, o autor afirma que também ultrapassa a
ideia de “controle nativo”, afastando-se da problemática da fluência, para optar pelo
uso da língua como critério para definir o conceito. Para Weinreich, aquele que alterna
habitualmente em duas línguas é bilíngue. O autor apresenta três tipos de bilinguismo:
coordenado, composto e subordinado. Nobilinguismo coordenado, o falante teria
controle do sistema linguístico de cada uma das línguas, mantendo os sinais
linguísticos de ambas separados. No bilinguismo composto, o falante teria controle do
sistema sonoro de cada uma das línguas, porém os significados e as estruturas de uma
língua podem ser aplicados à outra. No bilinguismo subordinado, o falante estrutura a
segunda língua baseando-se na primeira. Desta forma, Haugen e Weinreich tornam a
definição do conceito de bilinguismo mais abrangente. E como bem afirma Grosjean:
O autor vai mais além, dando status de bilíngue a um indivíduo ainda nos
primeiros estágios de aquisição de uma L2. O autor cunha o termo ‘bilinguismo
incipiente’ referindo-se a um estágio embrionário de contato entre duas línguas. Desta
forma, o teórico considera bilíngue mesmo uma pessoa que esteja na fase inicial de
aprendizagem de uma L2, incapaz ainda de produzir enunciados com sentido –
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incluindo nessa ideia as quatro competências linguísticas: fala, audição, leitura e
escrita. Baker aponta para o fato de que ser muito inclusivo é quase tão perigoso quanto
ser muito exclusivo (2002: 6 apud VITOR, 2016).
Desta forma, assim como Bloomfield termina por excluir a maior parte dos
indivíduos bilíngues com a sua ideia de “controle nativo” da língua, Diebold
termina por incluir praticamente o mundo inteiro, visto que hoje em dia quase
todos temos algum conhecimento de uma L2, e desta forma pode tornar a
discussão acerca do tema por demais ambígua e imprecisa. Baker define o
indivíduo bilíngue como aquele capaz de usar mais de uma língua (BAKER,
2002 apud VITOR,2016).
O autor afirma que o termo define indivíduos que possuem mais de duas línguas,
devendo-se incluir nesse grupo pessoas com diferentes graus de proficiência, assim
como pessoas que fazem uso de três ou mais línguas. Para Baker (2002) dizer quem
é ou não bilíngue dependerá do propósito da definição, logo, diferenças na
classificação continuarão a existir. Para o autor, focar no uso da língua no seu dia a dia
é a melhor saída. Grosjean afirma que são bilíngues aqueles que fazem “uso de duas
ou mais línguas (ou dialetos) em seu dia a dia”. Para o autor, a maioria dos falantes
bilíngues usam suas línguas para propósitos distintos, em diferentes situações, com
diferentes pessoas. Logo, não precisam ter o mesmo nível de proficiência nas línguas
que falam. Ele completa:
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equilibrada e bilingualidade dominante. A bilingualidade equilibrada refere-se a um
estado de equivalência de competência nas duas línguas, e não deve ser confundida
com um alto nível de competência nas duas línguas. Segundo os autores, ela refere-
se a um “estado de equilíbrio alcançado pelos níveis de competência nas duas línguas
comparado à competência monolíngue”. Já a bilingualidade dominante indica o domínio
da competência em uma língua com relação à outra (VITOR, 2016).
Ainda segundo o autor, com relação à organização cognitiva, chega-se à
distinção entre bilingualidade composta e bilingualidade coordenada. A bilingualidade
composta refere-se a um sistema em que dois signos linguísticos são associados a
somente uma representação cognitiva (ex. Família [signo] e Family [signo] =
Família/Family [uma representação cognitiva]). Por outro lado, em um sistema
coordenado, dois signos linguísticos encontrarão, cada um, duas formas distintas de
representação (ex. Família [signo] = Família [representação linguística] e Family [signo]
= Family [representação cognitiva]). Essa distinção relaciona-se a diferenças de
organização cognitiva. Uma pessoa que tenha aprendido ambas as línguas em um
mesmo contexto quando criança está propícia a ter uma única representação cognitiva
para duas traduções equivalentes. Por outro lado, uma pessoa que tenha aprendido a
L2 em contexto diferente da L1 muito provavelmente terá representações separadas
para cada uma das representações de traduções equivalentes.
De acordo com a idade de aquisição, identifica-se três tipos de bilingualidade:
infantil, adolescente (quando ocorre a aquisição da L2 durante essa fase) e adulta
(aquisição da L2 que ocorre durante a idade adulta). À bilingualidade infantil são
identificadas duas subdivisões: bilingualidade simultânea e bilingualidade sequencial.
A bilingualidade simultânea refere-se à aquisição de duas línguas ao mesmo tempo.
Neste caso, a criança adquire duas línguas maternas, denominadas La e Lb (ex.
crianças filhas de pais falantes de línguas distintas). Identifica-se a bilingualidade
sequencial quando a criança adquire a segunda língua ainda na infância, mas antes de
alcançar a maturidade na língua materna. Neste caso, denomina-se L1 a língua
materna e L2 a segunda língua. A quarta dimensão reporta-se à existência ou não de
comunidades falantes de ambas as línguas no ambiente em questão. Quando uma
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língua é tida como materna em uma comunidade e pode ser usada ou não para
propósitos institucionais, refere-se a essa língua como endógena. Denomina-se
exógena a língua que é tida como oficial, mas é utilizada somente para propósitos
institucionais. De acordo com o status das línguas em uma determinada comunidade,
são identificados diferentes tipos de bilingualidade. Refere-se a bilingualidade aditiva
quando ambas as línguas são valorizadas no desenvolvimento cognitivo do indivíduo
(VITOR, 2016).
Desta forma, a aquisição da língua estrangeira ocorre sem prejuízos para a
língua materna e sem haver a perda desta. Em oposição, encontramos a bilingualidade
subtrativa, em que identifica-se a perda da língua materna ou prejuízos no
desenvolvimento cognitivo da criança com relação à L1 durante a aquisição da L2.
Finalmente, no que remete à identidade cultural, são identificados quatro tipos
diferentes de bilingualidade segundo o autor:
1) bicultural, 2) monocultural em L1, 3) bilingualidade aculturada em L2 e 4)
bilingualidade descultural. No caso da bilingualidade bicultural, inclui-se o indivíduo que
se identifica com a cultura das duas línguas que fala e é aceito por ambos os grupos
culturais. No segundo tipo, o indivíduo se identifica e é aceito por apenas um grupo
cultural –o da sua língua materna. Esse fator não sugere que o indivíduo não faça uso
de duas línguas no seu dia a dia – ele é considerado bilíngue, mas não bicultural. O
tipo de bilingualidade aculturada em L2 aponta para um indivíduo que renunciou a sua
identidade cultural relacionada à língua materna e passou a adotar os valores culturais
referentes ao grupo de falantes da L2. Por último, identifica-se bilingualidade
descultural quando um indivíduo renuncia sua própria identidade cultural e falha ao
tentar adotar a cultura dos falantes da língua estrangeira (VITOR, 2016).
14
Fonte: VITOR, 2016
15
Megale (2012) nos apresenta a visão de Dias e Salgado (2010) que
complementa que cada indivíduo possui um grau de bilingualidade. Tal grau de
bilingualidade “é mutável e dinâmico de acordo com as situações de bilinguismo que
lhes são apresentadas, assim, significando que a manifestação da bilingualidade está
diretamente relacionada às necessidades apresentadas pelos contextos.” (VITOR,
2016).
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autores nomeiam e separam claramente as duas línguas em L1, referindo-se à língua
materna, e L2, referindo-se à língua estrangeira. Mas para além desta separação de
início óbvia, García (2009) julga necessário repensar o conceito de bilinguismo e o
sujeito bilíngue para melhor se ajustar às exigências comunicativas do século XXI.
Desta forma, a autora considera imprescindível desviar-se da ideia de bilinguismo como
duas línguas separadas. Os tipos de bilinguismo apresentados até então partem de
uma visão monoglóssica. No entanto, como bem atesta García (2009), para dar conta
da complexidade linguística atual é necessário definir os tipos de bilinguismo partindo
de práticas linguísticas heteroglóssicas. Partindo dessa ideia, García (2009) nos
abastece com os conceitos de linguar (languaging) e translinguar (translanguaging)
(VITOR, 2016).
Com uma obra extensa e uma vida de pesquisa voltada para o campo da
educação bilíngue, a autora vê como necessárias mudanças conceituais no nosso
entendimento de língua, mudanças essas que deem suporte às práticas linguísticas
das crianças em sala de aula –tendo sempre em mente que a língua, além de uma
disciplina importante, é também o meio como as disciplinas são ensinadas na escola.
García atribui a linguaro que entendemos como práticas linguísticas, ou seja, a forma
como usamos a língua para nos expressarmos, para interagirmos etc. O termo não é
usado para focar na língua em si, mas nas múltiplas práticas discursivas. Já o termo
translinguar, a autora pega emprestado de Cen Williams (citado em BAKER, 2002),
para quem o termo nomeava uma prática pedagógica que consiste na alternância das
línguas em salas de aula bilíngues. Quando, por exemplo, a leitura é feita em uma
língua e a escrita, em outra; ou os alunos fazem uma atividade em que ouvem algo em
uma língua e devem discutir sobre o que acabaram de ouvir, na outra língua. García
aplica o termo para indicar o engajamento de indivíduos em “práticas discursivas
bilíngues ou plurilíngues” (2009: parte II, cap. 3, p. 6). Para ela, translinguar é uma
“abordagem ao bilinguismo centrada não apenas nas línguas, como é o caso
normalmente, mas em práticas bilíngues” (2009: parte II, cap. 3, p. 6). Indivíduos e
comunidades bilíngues precisam translinguar para construir significados, para incluir-
se e incluir outros em uma conversa, para facilitar a comunicação, assim como também
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para “construir significados mais profundos e dar sentido aos seus mundos bilíngues”
(2009: parte II, cap. 3, p. 14) (VITOR, 2016).
De acordo com o autor, observemos os exemplos que a autora nos oferece: 1)
uma família bilíngue, que pode ser composta com indivíduos bilíngues em diferentes
graus e por indivíduos monolíngues, fazendo refeição à mesa –os indivíduos precisam
translinguar para que haja a inclusão de todos os membros; 2) crianças de origem
hispânica, bilíngues em espanhol e inglês, nos Estados Unidos, que têm que optar por
livros infantis em inglês por não haver opção de livros em espanhol –elas translinguam
ao usar suas línguas para diferentes modalidades. Indivíduos bilíngues linguam de
forma bilíngue, ou seja, eles translinguam. Desta forma, considerando as práticas
discursivas das comunidades linguísticas, o seu translinguar, García (2009) expande
os modelos de bilinguismo. E vê como essencial partir do bilinguismo em si, e não do
monolinguismo. A autora nos aponta para Baker (2001: 4) que declarou que “possuir
duas línguas não é tão simples como ter duas rodas ou dois olhos”, e completa que
não podemos pensar o bilinguismo como as duas rodas de uma bicicleta que funcionam
juntas em perfeita concordância, mas sim em rodas que se expandam, se contraiam,
que se sustentem uma à outra, mas também que girem em diversas direções. Isto
posto, a autora cita Cummins (1984) e sua proposta do que veio a chamar de Common
Underlying Proficiency –a ideia de que as línguas não são armazenadas
separadamente, e que, além disso, elas interagem entre si (VITOR, 2016).
Tendo isso em mente, a autora nomeia e acrescenta dois modelos de
bilinguismo: recursivo e dinâmico. O modelo recursivo refere-se a casos em que há
revitalização das práticas linguísticas de uma comunidade que haviam sido suprimidas.
Logo, não parte-se aqui de uma estaca zero. Não parte-se aqui de um ponto de vista
monolíngue, como no caso do bilinguismo aditivo. O que se vê não é apenas a adição
de uma outra língua, uma vez que essa língua ainda era usada em cerimônias
tradicionais e por membros da comunidade em diferentes graus, mas uma
reconstituição de práticas linguísticas ancestrais. Para García (2009), esse modelo de
bilinguismo é recursivo pois vai buscar no passado fragmentos de práticas linguísticas
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ancestrais que serão reconstituídas com o objetivo de dar conta de novas funções,
ganhando assim um impulso para serem projetadas no futuro (VITOR, 2016).
Ainda segundo Vitor (2016) o modelo de bilinguismo dinâmico vem dar conta de
um bilinguismo que se desenha a partir dos diferentes contextos em que se desenvolve
e funciona. Refere-se a práticas linguísticas que são múltiplas e que se ajustam a uma
esfera multilíngue e multimodal do ato comunicativo.
A autora usa o termo ‘bilinguismo dinâmico’ de forma similar ao termo
‘plurilinguismo’ usado por pesquisadores europeus. O plurilinguismo diz respeito à
compreensão de que os cidadãos europeus do século XXI devem dispor de um variado
repertório de práticas linguísticas para dar conta de diferentes propósitos. Segundo os
pesquisadores, a atualidade requer habilidades diferenciadas e usos de múltiplas
línguas, pois os indivíduos cruzam fronteiras físicas e virtuais a todo momento. Além
de serem estimulados a desenvolverem competência plurilíngue, os cidadãos europeus
aprendem a valorizar práticas linguísticas diferentes das suas, desenvolvendo, assim,
tolerância linguística.
3 BILETRAMENTO
Fonte: direcionalescolas.com
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Atualmente, os estudos sobre biletramento têm ganhado cada vez mais atenção,
principalmente pela visibilidade que o bilinguismo infantil tem recebido em todo o
mundo (FINGER et al, 2019).
De acordo com o autor, há um real interesse em elucidar como se dá o
desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita quando essas ocorrem
simultaneamente em duas línguas, bem como mensurar os impactos que tal
experiência ocasiona não só na cognição, mas, principalmente, na competência
linguística das crianças bilíngues. Entretanto, as pesquisas sobre educação bilíngue
com foco na realidade brasileira ainda são ainda incipientes. Além disso, no Brasil essa
modalidade educativa está ancorada principalmente nos princípios do bilinguismo de
prestígio (duas línguas valorizadas na escola e na comunidade) e não na realidade de
países em que uma das línguas é a língua minoritária necessitando, portanto, de
espaço para ser respeitada e valorizada no ambiente escolar e social. Apesar dessa
lacuna nas pesquisas, estudos desenvolvidos em outros países têm servido de
embasamento teórico para as discussões em relação ao bilinguismo, ao biletramento
e à educação bilíngue no Brasil.
Nesse sentido, para que possamos aprofundar a discussão sobre biletramento,
torna-se necessário abordar alguns conceitos relacionados à temática do aprendizado
da escrita em duas línguas, como também do contexto das crianças que se constituem
bilíngues. Para isso, iremos discutir brevemente o conceito de alfabetização para, a
seguir, tratarmos das definições atualizadas de bilinguismo e de biletramento (FINGER
et al, 2019).
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4 ALFABETIZAÇÃO
Fonte: wreducacional.com
Fonte: clil.eadbox.com
Hoje vivemos em um mundo cada vez mais multilíngue e sabemos que, na maior
parte do planeta, várias línguas diferentes coexistem em um mesmo espaço geográfico.
Apesar disso, os termos ‘bilinguismo’ e ‘multilinguismo’ têm sido definidos de forma
muito variada (e ainda equivocada) na literatura e principalmente na mídia. O que é
considerado consenso na literatura atual é que o conceito de Bloomfield (1935) de
bilinguismo como controle nativo de duas línguas não se encaixa mais na perspectiva
atual e dinâmica de bilinguismo empregada nos estudos da área (FINGER et al, 2019).
Sabemos também, que o falante bilíngue/multilíngue4adquire e usa suas línguas
com diferentes propósitos, em diversos domínios da vida e com pessoas e contextos
25
distintos, porque aspectos da vida e contextos diferem e exigem o uso de diferentes
línguas.
Alguns autores concordam que o bilinguismo é um contínuo com domínio e
desenvolvimento variado ao longo da história pessoal de cada um e, exatamente por
isso, o bilinguismo deixa de ser visto como um fenômeno de linguagem para ser visto
como uma habilidade com relação direta ao seu uso. Ou seja, é a quantidade e
intensidade de uso das línguas que vai determinar o nível de proficiência atingido pelo
bilíngue em cada uma de suas línguas (FINGER et al, 2019).
A partir da divulgação de evidências que comprovam que o bilinguismo gera
diversos benefícios sociais e cognitivos, nas últimas décadas tem havido um
crescimento significativo no número de escolas ofertando currículos ou programas
bilíngues no Brasil. Nesse contexto em expansão, as dúvidas acerca do melhor tipo de
metodologia de ensino a ser empregada nas escolas bilíngues se tornam cada vez
mais frequentes. De fato, como a educação bilíngue já é comprovada como uma
proposta educacional alinhada às competências necessárias para o século 21, muitas
escolas começam a vislumbrar esse tipo de educação, o que justifica o aquecimento
no mercado do ensino bilíngue.
As evidências científicas sugerem que uma educação mais colaborativa,
multilíngue e compatível com os cérebros da nova geração torna-se necessária;
entretanto, o trabalho pedagógico frente a esses novos paradigmas também se tornou
mais complexo, exigindo maior conhecimento sobre os processos de aprendizado em
contextos bilíngues. Reyes (2012) reconhece que há diversas comunidades no mundo
nas quais as crianças estão crescendo bilíngues e biletradas e isso tem contribuído
para dar ainda mais visibilidade ao interesse pelo biletramento. Da mesma forma, as
pesquisas na área têm crescido consideravelmente devido à necessidade de se
compreender e aperfeiçoar as experiências de aprendizagem de crianças de diferentes
origens linguísticas em idade escolar. É interessante notar que, ao contrário do que se
pensa hoje, do início do século XIX até aproximadamente 1960, a crença vigente era
de que o bilinguismo acarretava efeitos cognitivos prejudiciais ao falante de duas
línguas. Baker e Wright (2017), acompanhando essa trajetória, relatam que até os anos
26
1960 acreditava-se que, em termos cognitivos, os bilíngues eram inferiores aos
monolíngues. Essa crença baseava-se no pressuposto de que, quanto mais informação
e proficiência os bilíngues adquiriam na L2, menor seria sua proficiência na L1, ou seja,
o desenvolvimento linguístico em uma língua acontecia em detrimento do domínio da
outra língua. Supunha-se ainda que o cérebro dos bilíngues podia ser representado
através de dois balões, sendo um para cada língua. No início das suas pesquisas,
atribuiu a esse modelo o nome de Modelo de Proficiência Subjacente Separada
(Separate Underlying Proficiency Model – SUP). Segundo essa proposta, as duas
línguas operariam separadamente no cérebro do bilíngue, sem que houvesse qualquer
tipo de transferência de conhecimento entre as suas línguas, supondo-se que o cérebro
teria uma quantidade restrita de “compartimentos” para armazenar as línguas.
(FINGER et al, 2019).
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os atributos linguísticos não são separados no sistema cognitivo, e sim prontamente
transferidos de forma interativa ((FINGER et al, 2019).
Além disso, aideia de que uma língua pudesse vir a “sofrerprejuízos” em
benefício de outra deixou de ser aceita, principalmente porque dados das pesquisas
que foram realizadas depois de 1960 mostraram que os conceitos aprendidos em uma
língua poderiam ser rapidamente transferidos para a outra, independentemente da
língua. Essa mudança de paradigmas levou Cummins (1979) a desenvolver uma
proposta alternativa, que recebeu o nome de Modelo de Proficiência Subjacente
Comum (Common Underlying Proficiency Model–CUP (FINGER et al, 2019).
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sistema de processamento central, ou seja, as habilidades que acompanham o falar, o
ler, oescrever e o escutar são originadas em ummesmo “repositório” centralcomum.
Além da questão da transferência, um outro aspecto importante que foi sendo
evidenciado nas pesquisas dizia respeito à compreensão sobre o nível de proficiência
exigido para que uma língua pudesse se beneficiar dos conhecimentos adquiridos na
primeira. A fim de dar conta dessa questão, Cummins e Mulcahy (1978) criaram a
Hipótese da Interdependência do Desenvolvimento (Developmental Interdependence
Hypothesis), que sugere que a competênciada criança na L2 é parcialmente
dependente da competência já alcançada na L1. Portanto, quando a competência
linguística na L1 está num estágio muito inicial, é mais difícil a criança alcançar a
competência na L2 e,por consequência, obter sucesso em situação debiletramento.
Cummins (1979) encontrou evidências para sua hipótese a partir de pesquisas
realizadas com imigrantes e descendentes de imigrantes de vários países que se
tornavam rapidamente fluentes em um período de cerca de dois anos, se expostos a
situações de interação conversacional na língua dominante na sociedade anfitriã.
As pesquisas realizadas pelo autor, entretanto, revelaram que, para que o
indivíduo desenvolvesse um nível de proficiência acadêmico nessa língua dominante
que pudesse ser comparado ao de um estudante monolíngue, era necessário um
período de cinco a sete anos de exposição intensa à L2 (FINGER et al, 2019).
Tal descoberta levou Cummins (1986) a defender a distinção entre “proficiência
linguística conversacional” e “proficiência linguística voltada para fins acadêmicos”. Isso
porque é evidente que os recursos linguísticos utilizadospara brincar no playground
sãomuito distintosdalinguagemusadapelas mesmas crianças em uma aula de
ciênciasou de geografia, porexemplo, pois aproficiência na língua necessária para dar
conta das demandas cognitivas e acadêmicas de aulas ministradas em uma L2 é muito
maior. O autormostrou essa distinção através dos termos “habilidades comunicativas
interpessoais básicas” (Basic interpersonal communicative skills–BICS) e “proficiência
linguística acadêmico/cognitiva” (Cognitive/Academic language proficiency–CALP).
Essa diferenciação entre BICSe CALP também é representada pos Cummins (1986)
através de um iceberg (FINGER et al, 2019).
29
Acima da superfície, estão as habilidades na língua chamadas de“habilidades
comunicativas interpessoais básicas” como, por exemplo, a compreensão, a fala e o
domínio da pronúncia, do vocabulário e da gramática. Abaixo da superfície, por outro
lado, encontram-se as habilidades mais profundas, chamadas de“proficiêncialinguística
acadêmico/cognitiva” como, por exemplo, a análise, a síntese e a avaliação (FINGER
et al, 2019).
30
Em ambos oscasos, a relação entre os sistemas de escrita nas duas línguas
determina a semelhança nas habilidades cognitivas necessárias para a leiturae
também pode determinar até que ponto o bilinguismo afeta a alfabetização.
Jasińska e Petitto (2013) e Jasińska et. al. (2017) não apenas concordam com os
pesquisadores acima ao afirmar que os bilíngues desenvolvem habilidades diferentes
dos monolíngues, como também apresentam evidências de estudos com neuroimagem
que sugerem que a exposição bilíngue precoce e sistemática pode resultar em uma
“assinatura neural” do bilinguismo. Em outras palavras, segundo as autoras, a
experiência de uso intenso em duas ou mais línguas acarreta mudanças na estrutura e
funcionamento do cérebro bilíngue.Da mesma forma, Reyes (2012) afirmaque quando
é dada às crianças oportunidade de usar ambas as línguas nas modalidades oral e
escrita elas se tornarão bilíngues e biletradas, desenvolvendo uma gama maior de
recursos para dar conta das demandas cognitivas e sociais em todos os contextos em
que estão inseridas, tais como na escola, em casa, na comunidade e possivelmente
em suas carreiras futuras.
Na mesma linha de raciocínio, também expandem a ideia antiga de dois
sistemas separados para uma conceituação mais atualizada do bilinguismo, que vai
além da noção de duas línguas autônomas, ou deuma L1 e uma L2 e de um bilinguismo
aditivo ou subtrativo. Em vez disso, reforçam a ideia do bilinguismo dinâmico, que vê
as práticas linguísticas dos bilíngues como complexas e inter-relacionadas e que não
emergem de maneira linear e nem funcionam separadamente. Finalmente, tanto Yaden
e Tsai (2012) quanto Bialystok et. al (2005) concordam com a necessidade de se olhar
para as línguas envolvidas no currículo, ou para as línguas trazidas para a sala de aula,
como reflexo da pluralidade linguística que caracteriza a comunidade na qual as
crianças estão inseridas. O entendimento dos efeitos do biletramento na sala de aula e
no desenvolvimento social e cognitivo das crianças é fundamental para evoluirmos no
desenvolvimento de práticas pedagógicas apropriadas ao contexto de educação
bilíngue (FINGER et al, 2019).
Assim, estudos com essa temática se tornam fundamentais para que haja mais
conhecimento sobre o processo de ensino-aprendizagem e possíveis resultados da
31
educação bilíngue em diferentes contextos. A seguir, faremos uma breve revisão de
algumas pesquisas recentes que investigam como se dá o aprendizado simultâneo de
duas línguas quando ele ocorre em contexto escolar (FINGER et al, 2019).
Fonte: educacaoinfantil.aix.com
Fonte: blog.lyceum.com
40
seja vinculado a práticas extraclasse. Como já dito anteriormente, as tarefas
colaborativas enfatizam a importância do foco no sentido.
No entanto, de acordo com o autor, as tarefas podem ainda ser consideradas
colaborativas mesmo quando o foco está na forma, pois o foco na forma se dá na
tentativa que os aprendizes fazem de expressar seus significados da forma mais
precisa e coerente possível. Construída colaborativamente, a tarefa guia o aprendiz
para o foco na forma, uma vez que a construção do sentido é requerida pela tarefa. Por
fim, conforme os princípios socioculturais, o conhecimento está sempre em
reconstrução, calçado nas relações dialógicas estabelecidas pelos indivíduos e seus
pares, de modo que a colaboração, por meio das tarefas, torna-se uma oportunidade
de aprendizagem de línguas.
44
8 EDUCAÇÃO BILÍNGUE
Fonte: megacidade.com
48
instrumento de aprendizagem de conteúdos do currículo. Estas escolas geralmente
estão situadas em sociedades onde a maioria da população já é bilíngue ou multilíngue
(Singapura ou Luxemburgo), ou onde há um número expressivo de falantes querendo
se tornar bilíngues. A título de exemplo, na Alemanha, o alemão é desenvolvido com o
francês, inglês ou espanhol. Nesse contexto educacional, o aprendiz desenvolve
competências linguísticas na L2 no domínio acadêmico e social. Por último, a educação
bilíngue de imersão caracteriza-se pela orientação aditiva de línguas. Objetiva-se, com
este modelo educacional, o desenvolvimento linguístico e acadêmico nas línguas
minoritárias e majoritárias das crianças. Os programas bilíngues de imersão variam em
termos de proporção de instrução em uma língua ou em outra, a duração do programa
e o conteúdo que é ensinado por meio das línguas (GONÇALVES, 2015).
Com relação ao tempo disponibilizado para cada língua, Baker (2006) explica
que a imersão pode ser total ou parcial. A imersão total inicia com 100% do tempo na
L2, no 2º ou 3º ano passa a ser 80% e conclui com 50% do tempo na L2. Na imersão
parcial, 50% do tempo é disponibilizado para cada língua, do início ao final do
programa. No Canadá, na década de 1960, o termo imersão foi usado para referir a
uma nova forma de educação bilíngue, cujo objetivo era a valorização da língua e
cultura francesa, promovendo uma educação que tornasse os indivíduos capazes de
falar, ler e escrever em francês, alcançar os objetivos acadêmicos do currículo regular,
e apreciar as tradições e cultura dos falantes canadenses de francês e inglês
(GONÇALVES, 2015).
Segundo o autor, a educação de imersão ocorria desde os anos iniciais, para
ensinar disciplinas regulares do currículo, tais como matemática e ciências, além da
própria língua. Objetivava-se proporcionar condições para uma aprendizagem de L2 na
medida em que a criança progredia linguística e academicamente. Malakoff e Hakuta
(1990) explicam que o programa de imersão canadense desenvolvia primeiramente o
francês e o inglês era introduzido no segundo ou terceiro ano. No sexto ano, as línguas
eram trabalhadas na mesma proporção de tempo. A educação de imersão espalhou-
se rapidamente pelo Canadá e, posteriormente, para os países da Europa. Na
atualidade, os programas de imersão ocorrem internacionalmente. Os motivos que
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contribuíram para o crescimento desse modelo de educação no contexto canadense,
em consonância com Baker (2006), referem-se à promoção do bilinguismo de duas
línguas de prestígio – o francês e o inglês. Ademais, o ensino bilíngue tinha orientação
aditiva de línguas, com o objetivo de integrar as comunidades linguístico e
culturalmente distintas, ao passo que, nos Estados Unidos, a perspectiva da educação
bilíngue era subtrativa, assimilando uma cultura em detrimento de outra. Além disso, o
ensino bilíngue o Canadá era opcional e não compulsório, as crianças podiam usar a
sua L1 no primeiro ano de imersão para comunicar-se em sala de aula, os professores
eram bilíngues competentes, a comunicação por meio da L2 era usada com o objetivo
de ser significativa, autêntica e relevante para as necessidades das crianças, evitando
a correção insistente de erros gramaticais. A ênfase dada nos primeiros anos era a
compreensão e não a produção na L2, pois os alunos eram monolíngues e iniciavam o
programa com a mesma falta de experiência na L2.
Segundo Gonçalves (2015), a educação bilíngue surgiu no contexto canadense
como uma resposta às demandas sociais das minorias linguísticas, da mesma forma
que os Estados Unidos buscaram solucionar os problemas educacionais das crianças
que chegavam na escola falando uma língua diferente daquela usada como meio de
instrução escolar. Contudo, diferentemente da educação bilíngue de enriquecimento
proposta no Canadá, o ensino bilíngue americano tinha cunho compensatório e seu
objetivo era desenvolver a habilidade linguística dessas crianças no inglês, a fim de
que elas pudessem ser colocadas nos programas regulares de ensino. Nesse contexto,
a educação bilíngue foi associada ao fracasso escolar, dando espaço a inúmeros mitos
acerca do bilinguismo e da educação bilíngue. Embora outros tipos de propostas
educacionais bilíngues tenham sido criadas, como o de manutenção e de
enriquecimento, a maioria delas continua sendo transicional nos Estados Unidos. Após
a apresentação dos modelos de educação bilíngue, bem como os seus objetivos e
peculiaridades, seguimos tratando do modelo de proposta bilíngue de enriquecimento
no contexto brasileiro, o qual é o contexto de investigação deste trabalho (GONÇAVES,
2015).
50
8.1 Educação Bilíngue de Enriquecimento no Contexto Brasileiro
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