059 BJD
059 BJD
059 BJD
ISSN: 2525-8761
RESUMO
Os efeitos do adensamento sempre foram um desafio para a Engenharia Civil, uma vez
que os recalques gerados por esse fenômeno podem produzir inúmeros problemas para a
obra. Para o presente trabalho, foi escolhido o caso do Aterro Experimental II
implementado sobre uma camada de argila mole do Sarapuí, na Baixada Fluminense/RJ.
A partir dos ensaios oedométricos realizados, é possível calcular o recalque primário ao
final do processo. Além disso, pelo fato de a extensão do aterro ser muito maior do que a
camada compressível, o adensamento pode ser modelado através da equação do
adensamento unidimensional (Equação Diferencial Parcial linear), cuja solução é dada
por meio de Séries de Fourier. Através dela, é gerado um ábaco relacionando a
porcentagem de adensamento já ocorrido versus o tempo. Contendo os valores de
recalque primário final e porcentagem de adensamento, pode-se plotar gráficos de
recalque ao longo do tempo. Por fim, com base na coleta das leituras das placas de
recalque instaladas no local, é realizada uma comparação entre os valores teóricos e
experimentais, mostrando que os valores inicialmente estimados para o coeficiente de
ABSTRACT
The effects of densification have always been a challenge for Civil Engineering, since the
settlements generated by this phenomenon can produce numerous problems for the work.
For the present work, the case of the Experimental Landfill II implemented on a layer of
soft clay from Sarapuí, in Baixada Fluminense/RJ, was chosen. From the oedometric tests
carried out, it is possible to calculate the primary settlement at the end of the process.
Furthermore, because the landfill extension is much greater than the compressible layer,
consolidation can be modeled using the one-dimensional consolidation equation (linear
Partial Differential Equation), whose solution is given through Fourier Series. Through
it, an abacus is generated relating the percentage of densification that has already occurred
versus time. Containing the values of final primary settlement and percentage of
consolidation, settlement graphs can be plotted over time. Finally, based on the collection
of readings from the pressure plates installed at the site, a comparison is made between
theoretical and experimental values, showing that the values initially estimated for the
densification coefficient were not in accordance with the reality of the site and that
secondary compression must be taken into consideration in this case.
1 INTRODUÇÃO
1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
De acordo com ALMEIDA e MARQUES (2014), os solos moles são compostos
por sedimentos argilosos com valores de SPT ≤ 4, ou seja, argilas moles ou areias
argilosas fofas de deposição recente. Esses tipos de solo têm origem fluvial e estão
presentes em todo o mundo, com maior intensidade no Brasil e outros países com costas
litorâneas extensas.
Apesar de bastante comuns, os solos moles têm algumas características
desfavoráveis como alta compressibilidade e baixa resistência ao cisalhamento, tornando
necessário um maior cuidado ao se executar estruturas sobre esse tipo de solo. Esta alta
compressibilidade dos solos moles faz com que surjam recalques de grande magnitude,
gerando efeitos indesejáveis a longo prazo.
Esses recalques são, em geral, causados pelo adensamento do solo, que é o
incremento de deformação devido a saída de água do sistema, com a redução do índice
de vazios. No adensamento primário esse fenômeno ocorre devido à poropressão
provocada por um acréscimo de tensão no solo. Dessa forma, a velocidade com que
1.2 OBJETIVO
O objetivo desse trabalho é efetuar uma análise dos recalques em um aterro
experimental real executado na Baixada Fluminense, Rio de Janeiro. Todos os dados
sobre o aterro e a instrumentação utilizada está em TERRA (1988).
1.3 METODOLOGIA
Os recalques são calculados por meio de TERZAGHI (1943) apud TERRA (1988)
e, posteriormente, comparados com os valores da instrumentação através do gráfico
recalques vs tempo.
2 CASO ESTUDADO
O Instituto de Pesquisas Rodoviárias (IPR) patrocinou a construção de dois aterros
experimentais para fins de pesquisa no depósito de argila mole, situado no Rio de Janeiro,
Baixada Fluminense, km-16 da BR-040 (Rio-Petrópolis). O caso estudado no presente
trabalho refere-se ao aterro experimental II executado no local. A área também foi
conhecida como “Área Experimental do Sarapuí”.
Segundo TERRA (1988), as características a respeito do depósito de argila estão
descritas a seguir:
• Espessura de aproximadamente 10 m sobrejacente à uma camada arenosa;
• Nível d’água coincidente com o nível do terreno durante todo o processo
de adensamento;
• Consiste em um sedimento flúvio-marinho, com teor de matéria orgânica
variando de 4,0 a 6,5%;
• Considerado recente do ponto de vista geológico (6.000 a 10.000 anos);
• O principal argilomineral presente é a caulinita, possuindo, ainda, ilita e
montmorilonita;
• Tensão de sobreadensamento média (σ’vm) da argila igual a 10,5 + 3,9z,
sendo z a profundidade;
• Resistência não drenada (Su) variando de 8 kPa a 18 kPa;
• Para amostras retiradas a menos de 2,0 m de profundidade: c’ = 15 kPa e
ϕ' = 30°;
Figura 1: Planta e corte longitudinal projetados para o aterro experimental II (TORRES, 1988).
Fonte: Autor
Fonte: Autor
Fonte: Autor
Onde:
Figura 4: Gráfico para auxílio do cálculo do recalque inicial (GIROUD, 1972 apud TERRA, 1988).
Fonte: Autor
Fonte: Autor
final pode ser estimada através da Equação (2), cujos parâmetros provêm do ensaio
oedométrico. Para espessuras de solo compressível maiores do que 3 metros, recomenda-
se dividi-la em camadas de 1m ou 2m de espessura (MARTINS e ABREU, 2002).
Onde:
r = recalque primário;
hi = espessura da camada i de solo compressível;
e0i = índice de vazios inicial da camada i de solo compressível;
Cri = índice de recompressão da camada i de solo compressível;
Cci = índice de compressão da camada i de solo compressível;
σ′vmi = tensão de sobreadensamento da camada i de solo compressível;
σ′v0 = tensão vertical efetiva inicial, antes da construção do aterro, na metade da camada i de solo
compressível; σ′vfi = tensão vertical efetiva final, após a construção do aterro, na metade da camada i de
solo compressível.
Tabela 3: Parâmetros da argila de Sarapuí com base nos ensaios oedométricos – Seção A.
Camada esp (m) z méd (m) γsat (kN/m³) σ'v0 (kN/m²) σ'vm (kN/m²) Cr Cc e0 OCR
1 1,0 0,5 12,74 1,37 12,20 0,22 1,49 4,38 8,91
2 1,0 1,5 12,74 4,11 16,02 0,22 1,49 4,38 3,90
3 1,0 2,5 12,74 6,85 19,85 0,22 1,49 4,38 2,90
4 1,0 3,5 12,74 9,59 23,67 0,22 1,49 4,38 2,47
5 1,0 4,5 12,75 12,38 27,49 0,19 1,27 3,9 2,22
6 1,0 5,5 12,93 16,12 31,31 0,18 1,18 3,69 1,95
7 1,0 6,5 13,10 20,15 35,13 0,16 1,09 3,48 1,74
8 1,0 7,5 13,28 24,60 38,96 0,15 1,00 3,27 1,58
9 1,0 8,5 13,46 29,41 42,78 0,14 0,90 3,06 1,46
10 1,0 9,5 13,63 34,49 46,60 0,12 0,81 2,85 1,35
11 1,0 10,5 13,81 40,01 50,42 0,11 0,72 2,64 1,26
Fonte: Autor
Tabela 4: Parâmetros da argila de Sarapuí com base nos ensaios oedométricos – Seção G.
Camada esp (m) z méd (m) γsat (kN/m³) σ'v0 (kN/m²) σ'vm (kN/m²) Cr Cc e0 OCR
1 1,0 0,5 12,74 1,37 12,20 0,22 1,49 4,38 8,91
2 1,0 1,5 12,74 4,11 16,02 0,22 1,49 4,38 3,90
3 1,0 2,5 12,74 6,85 19,85 0,22 1,49 4,38 2,90
4 1,0 3,5 12,74 9,59 23,67 0,22 1,49 4,38 2,47
5 1,0 4,5 12,75 12,38 27,49 0,19 1,27 3,90 2,22
6 1,0 5,5 12,93 16,12 31,31 0,18 1,18 3,69 1,95
7 1,0 6,5 13,10 20,15 35,13 0,16 1,09 3,48 1,74
8 1,0 7,5 13,28 24,60 38,96 0,15 1,00 3,27 1,58
9 1,0 8,5 13,46 29,41 42,78 0,14 0,90 3,06 1,46
10 1,0 9,5 13,63 34,49 46,60 0,17 0,76 2,85 1,35
Fonte: Autor
Fonte: Autor
Ou seja:
U é igual a 0% no intante de aplicação do carregamento e gradualmente aumenta atpe 100% a medida que
o índice de vazios decai de e0 para ef.
Onde:
Sendo,
Ou
(12)
Cuja solução é g(t) = C3e−A2cvt
As constantes C1, C2 e C3 deverão ser determinadas com o auxílio das condições
de contorno do problema.
Como u(z,t) = f(z).g(t), então a solução da equação diferencial é:
nπ
Ou seja, 2AH = nπ, ou ainda A = para n = 1, 2, 3, ...
2H
− 2 22cvt
nπz nπ , n = 1,2, 3 … (18) u(z, t) = C5sen
e 4H 2H
E chamando: (2m + 1) =M
A função u(z, t) pode ser reescrita como:
A partir do somatório acima, foi feito um gráfico (u⁄u0)x(z⁄H) para valores fixos de
T e variando z/H de zero até 2. Com os valores de T e z/H definidos foi feito o cálculo do
somatório dos n primeiros termos, seguido da soma dos n+1 primeiros termos, e assim
estimado o erro relativo entre eles da seguinte forma:
Fonte: Autor
A expressão (25) permite que sejam criados, a partir dos mesmos critérios de
parada já descritos, a tabela e gráfico a seguir:
Fonte: Autor
Onde:
Fonte: Autor
4 RESULTADOS
4.1 SEÇÃO A
A seção A indicada no aterro de Sarapuí foi construída em duas etapas, como
indicado na Figura 9, essas etapas foram consideradas para a adequação da curva obtida
no gráfico de recalques no tempo, apresentada na Figura 10.
Fonte: Autor
Fonte: Autor
Fonte: Autor
4.2 SEÇÃO G
A seção G indicada no aterro de Sarapuí foi construída em três etapas, como
indicado na Figura 12, essas etapas foram consideradas para a adequação da curva obtida
no gráfico de recalques no tempo, apresentada na Figura 13.
Fonte: Autor
Figura 13: Curva recalque x tempo (cv=20x10-4cm2/s (fase 1) e cv=10x10-4cm2/s (fase 2)).
Fonte: Autor
Fonte: Autor
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na seção A, os recalques medidos e calculados têm valores próximos apenas até
aproximadamente os 300 dias, quando são adicionadas novas cargas. A partir da curva
resultante de recalques no tempo também foi possível notar que aproximadamente no dia
1000, os recalques calculados são inferiores aos registrados em campo, e a provável causa
é a contribuição da compressão secundária aos recalques.
Com o ajuste das curvas na seção A, nota-se que o cv= 20 x 10-4 cm2/s, estimado
em um primeiro momento, não é o que melhor corresponde ao comportamento do solo
local. O coeficiente de adensamento de 12 x 10-4 cm2/s é o que resulta em menores erros
no trecho final da curva, enquanto o de 9,5 x 10-4 cm2/s é o que tem a melhor aproximação
da instrumentação no trecho inicial.
Para a seção G, o ajuste das curvas mostrou que o coeficiente de adensamento de
5,5 x 10-4 cm2/s para as duas fases é o que resulta em menores erros no trecho inicial da
curva, enquento o de 9 x 10-4 cm2/s na fase 1 é o que apresenta a curva com melhor
aproximação da instrumentação no trecho do intermediário. De modo geral, para essa
REFERÊNCIAS
GIROUD, J. P. Tables pour le calcul de fondations. Paris, PUNOD, Vol. IV, 1972.
ORTIGÃO, José Alberto Ramalho. Aterro experimental levado à ruptura sobre argila
cinza do Rio de Janeiro. 1980. Tese (Doutorado em Engenharia Civil)-Faculdade de
Engenharia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1980.
TERZAGHI, K. Theorical Soil Mechanics. John Wiley & Sons. New York, Chichester,
Brisbane, Toronto, Singapure, 1943.