Direito Internacional Privado

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DESCRIÇÃO

O campo de aplicação do Direito Internacional Privado e seus pilares estruturais.

PROPÓSITO
Apresentar o Direito Internacional Privado enquanto sobredireito responsável tanto pela
solução de conflitos de jurisdições e de leis decorrentes de situações conectadas a mais de um
ordenamento jurídico quanto pela viabilização do diálogo entre tais ordenamentos.

PREPARAÇÃO
Antes de iniciar a leitura deste conteúdo, tenha à mão a seguinte legislação para verificar as
referências destacadas:
 Constituição Federal de 1988

 Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (Decreto n. 4.657/1942)

 Código de Processo Civil (Lei n. 13.105/2015)

 Lei de Arbitragem (Lei n. 9.307/1996)

 Convenção sobre o Reconhecimento e a Execução de Sentenças Arbitrais


Estrangeiras (Decreto n. 4.311/2002)

OBJETIVOS

MÓDULO 1

Identificar o propósito e o mecanismo de funcionamento do Direito Internacional Privado

MÓDULO 2

Localizar a aplicação, a prova e a interpretação do direito estrangeiro no Brasil

MÓDULO 3

Distinguir os métodos de solução de controvérsias alternativos à jurisdição estatal e seu


relacionamento com o Direito Internacional Privado
INTRODUÇÃO
Aprenderemos essencialmente o que é, para que serve e como funciona o Direito Internacional
Privado. Comecemos já afastando o equivocado senso comum de que tal ramo do Direito vem
de fora. Afinal, sua principal fonte é justamente a legislação interna de cada Estado.

Isso significa que, salvo por iniciativas multilaterais de harmonização e uniformização, cada
Estado produz as próprias regras de Direito Internacional Privado. Mas por que então ele
possui esse nome? Porque corresponde à projeção do direito interno sobre o plano
internacional. Expliquemos o motivo disso. O Direito Internacional Privado nos fornece as
ferramentas necessárias para que possamos navegar nos casos que estejam, de alguma
forma, conectados a mais de um Estado. Isso pode ocorrer por diversos motivos.

 EXEMPLO

Nacionalidade das partes envolvidas, localização dos bens em jogo ou maneira como
determinada relação se estabelece.

Dessa conexão surge potencialmente uma sobreposição de jurisdições e leis aplicáveis. Cabe
ao Direito Internacional Privado apontar então o caminho para a solução de determinada
questão, muito embora não seja ele próprio quem vai resolvê-la.

Por essa razão, pontua Ramos (2018, p. 24), o consideramos um sobredireito: sua tarefa é
gerir o pluralismo jurídico decorrente da dispersão das atividades e das relações do homem
pelo mundo, oferecendo previsibilidade e uniformidade de resultados.

Recentemente, a disciplina passou a incorporar uma maior preocupação com a justiça material,
substituindo seu olhar originalmente “desprendido” do caso por um cioso em relação à
igualdade, ao acesso à justiça, à tolerância e à diversidade. Essa preocupação com a proteção
da pessoa humana passa, ao fim e ao cabo, a nortear a própria sistemática de aplicação do
Direito Internacional Privado.

MÓDULO 1
 Identificar o propósito e o mecanismo de funcionamento do Direito Internacional
Privado

UNIFORMIZAÇÃO

Duas organizações internacionais, a Conferência da Haia de Direito Internacional Privado


e a UNIDROIT dedicam-se ao estudo e à promoção de métodos para modernizar,
harmonizar e coordenar o direito privado entre os Estados. O Brasil é membro de ambas
(conforme os decretos de n. 3.832/2001, no caso da Conferência da Haia, e de n.
884/1993, para a UNIDROIT). Nas Américas, destacam-se ainda os trabalhos das
Conferências Especializadas Interamericanas sobre Direito Internacional Privado
(CIDIPs).

CADA ESTADO

Exceção feita à União Europeia, que segue uma dinâmica diversa.

INCIDÊNCIA E APLICAÇÃO DO DIREITO


INTERNACIONAL PRIVADO

FATOS JURÍDICOS
O direito se preocupa em regular todos os fatos (acontecimentos, eventos) que impulsionem a
criação de uma relação jurídica, ou seja, que produzam efeitos em seu campo (o do direito).

Esses fatos podem decorrer da ação da:

Foto: Shutterstock.com

Natureza

Neste caso, os fatos podem ser ordinários (nascimentos, mortes etc.) ou extraordinários
(terremotos, tsunamis etc.) de acordo com sua previsibilidade.
Foto: Shutterstock.com

Vontade humana

Chamados de voluntários, os fatos decorrentes da vontade humana podem dar origem a atos
jurídicos lícitos ou ilícitos conforme sejam admitidos (ou não) no ordenamento, como
casamento, assinatura de contrato e constituição de uma empresa.

Qualquer que seja a sua classificação (naturais ou voluntários, ordinários ou extraordinários,


lícitos ou ilícitos), os fatos jurídicos que possuem vínculos com mais de um ordenamento são
denominados fatos transnacionais e correspondem ao campo de aplicação do Direito
Internacional Privado.

É possível identificá-los pela presença de elementos de estraneidade, ou seja, de pontos


fáticos ou jurídicos de contato com dois ou mais ordenamentos. O objetivo do Direito
Internacional Privado é justamente traçar o caminho por meio do qual as controvérsias
decorrentes desses fatos transnacionais poderão ser resolvidas.

Em especial, o Direito Internacional Privado, informa Araújo (2020, p. 193), ocupa-se de


responder, nesta ordem, às seguintes indagações:

 Que jurisdição poderá solucionar casos que envolvam pessoas, bens ou interesses
que extrapolem as fronteiras de um único Estado?

 Com base em que lei essa solução se dará?


 Como proceder se, para que essa solução se aperfeiçoe, for necessário praticar
algum ato no exterior (como coletar provas ou intimar uma parte) ou reconhecer
alguma decisão emanada de autoridade estrangeira?

OBRIGAÇÕES

Da atribuição de personalidade jurídica resultam capacidades específicas a esse sujeito


de direito. A capacidade jurídica corresponde à aptidão de exercer os direitos conferidos
ao sujeito por meio do reconhecimento de sua personalidade jurídica. Em geral, essa
capacidade se traduz no direito de contratar, de adquirir e vender bens e de ingressar em
juízo.

OS SUJEITOS DE DIREITO INTERNACIONAL


PRIVADO

A personalidade jurídica corresponde à atribuição de direitos e deveres a determinado sujeito a


quem o ordenamento reconheça como destinatário de suas normas. Um sujeito de direito é,
assim, titular de direitos e obrigações.

As ordens jurídicas nacionais têm por sujeitos primários os indivíduos que nascem e se
desenvolvem a partir deles e para eles. As pessoas jurídicas (sociedades simples e
empresárias, associações e fundações), por outro lado, são sujeitos secundários. Sua criação é
determinada por razões de conveniência social: elas são reconhecidas como existentes – na
ordem jurídica em que foram criadas e nas demais ordens do tipo em que atuam – apenas para
que a vida econômica e social seja facilitada.

O DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO, INSERIDO QUE


ESTÁ NA ORDEM JURÍDICA NACIONAL, TEM POR
SUJEITOS AS PESSOAS NATURAIS OU JURÍDICAS.

Disso ele difere do Direito Internacional Público, cujos sujeitos são os Estados e as
organizações internacionais – e, mais recentemente, embora não sem controvérsia, os próprios
indivíduos, aponta Cançado Trindade (2005).

A MATÉRIA DE DIREITO INTERNACIONAL


PRIVADO

Como vimos na introdução deste tema, cada Estado tem, em seu ordenamento jurídico, um
conjunto de regras voltado à solução de questões transnacionais denominado Direito
Internacional Privado.

Esse ramo do Direito procura essencialmente determinar em que circunstâncias:

 A autoridade judiciária brasileira tem jurisdição para conhecer um caso


multiconectado.

 O Direito estrangeiro é aplicável em território nacional.

 Atos e decisões estrangeiras podem ser executados em território nacional.

Santos (1998, p. 140) destaca que a escola francesa de Direito Internacional Privado, que
encontra alguma acolhida no Brasil, costuma acrescentar a esse rol a nacionalidade e a
condição jurídica do estrangeiro.

Listaremos a seguir as matérias inseridas na disciplina do Direito Internacional Privado:

CASO MULTICONECTADO

Vinculado a mais de um ordenamento jurídico por força dos elementos de estraneidade


nele presentes.
Conflitos de jurisdições

Imunidade de jurisdição e de execução

Conflitos de leis no espaço

Aplicação de normas

Prova e interpretação do direito estrangeiro

Cooperação jurídica internacional

Nacionalidade

Condição jurídica do estrangeiro

A NORMA: O MÉTODO CONFLITUAL CLÁSSICO


DO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

Parte significativa das normas de Direito Internacional Privado corresponde ao método


conflitual, cujo propósito é a resolução dos conflitos de leis no espaço. Em outras palavras,
esse método pretende resolver a seguinte questão: qual lei deve ser aplicada a um caso
conectado a mais de um ordenamento jurídico.

 VOCÊ SABIA

O método conflitual do Direito Internacional Privado surgiu na Idade Média para dirimir conflitos
oriundos da pluralidade de leis das cidades-Estado italianas. Sua versão clássica se
desenvolveu e se aprimorou na França e na Holanda, tendo assumido novos contornos na
Inglaterra e nos Estados Unidos. Na América Latina e, em particular, no Brasil, vigora o método
clássico, consubstanciado na adoção de regras de conexão por meio das quais se chega à lei
aplicável a determinada questão de direito.

As regras de conexão podem ser classificadas de acordo com sua:

 Fonte

Dada a tradição civilista de nosso ordenamento, a fonte é exclusivamente legislativa, seja ela:
INTERNA
Criada pelo Poder Legislativo do Estado.

INTERNACIONAL
Erigida em coordenação com outros Estados ou no âmbito de organizações internacionais e
fixada em tratados.

TRATADOS

Em outros sistemas, como o norte-americano, as regras de Direito Internacional Privado


têm origem doutrinária (os denominados Restatements of the Law elaborados pelo
American Law Institute, uma organização de caráter privado) e jurisprudencial.

 Natureza

As regras de conexão são indiretas, já que não contêm, elas próprias, a solução do caso,
limitando-se a indicar o Direito (interno ou estrangeiro) a ele aplicável (que então dará a
solução). Elas funcionam como um vetor indicativo da solução, permanecendo sempre as
mesmas, embora a solução por elas apontada possa variar conforme o elemento de conexão
aponte para um ou outro ordenamento.

No Brasil, vale a lei do país (onde domiciliada a pessoa) que determine as regras sobre:

Começo e fim da personalidade

Nome

Capacidade

Direitos de família
NOTEMOS QUE O ELEMENTO A REALIZAR A
CONEXÃO AQUI É O DOMICÍLIO.

 EXEMPLO

Se a pessoa for domiciliada na Itália, será a lei desse país que regulará sua capacidade civil
(isto é, sua aptidão para adquirir e exercer direitos).

Foto: Shutterstock.com

A regra de conexão (domicílio) será sempre a mesma, mas, conforme a pessoa mude de
domicílio (o elemento de conexão em jogo), a lei aplicável também será alterada.

Mas resta uma dúvida: e se a lei da Itália apontar outra legislação como sendo aplicável às
questões relativas à personalidade, ao nome, à capacidade e aos direitos de família? Uma
solução seria o reenvio, instrumento admitido em alguns ordenamentos e rejeitado em outros.

No Brasil, contudo, ele não é aceito. Segundo a LINDB (2010, art. 16), quando, “nos termos
dos artigos precedentes, se houver de aplicar a lei estrangeira, ter-se-á em vista a disposição
desta sem considerar-se qualquer remissão por ela feita a outra lei”. O juiz brasileiro, portanto,
observa as regras brasileiras de Direito Internacional Privado para determinar qual lei é
aplicável. Encontrada a lei, porém, ele não pode olhar para as que estejam presentes nesse
ramo do Direito. A lei é aplicada diretamente na solução do caso.

O método conflitual clássico tem sido alvo de duras críticas nas últimas décadas em razão de
sua suposta indiferença com o resultado concreto do caso. Por conta disso, vem se
consolidando a tendência de abandonar essa imagem neutra das normas de Direito
Internacional Privado em favor de um comprometimento com a realização dos direitos humanos
e com o respeito aos valores consagrados na Constituição Federal.

JURISDIÇÃO: EXCLUSIVIDADE,
CONCORRÊNCIA E LITISPENDÊNCIA

Ao lado da legislação e da administração, a jurisdição corresponde a uma função fundamental


do Estado. Reflexo do seu poder soberano, o reconhecimento da existência de outros Estados
também dotados de jurisdição leva à necessidade de uma delimitação das causas julgáveis
que sejam do interesse de cada um.

NÃO INTERESSA AO ESTADO, PORÉM, ESTENDER


TÃO ILIMITADAMENTE O ALCANCE ESPACIAL DE SUA
JURISDIÇÃO. ALÉM DE SOBRECARREGAR
INUTILMENTE SEUS ÓRGÃOS JUDICANTES, AINDA SE
ARRISCARIA A ENTRAR EM CONFLITO COM AS
JURISDIÇÕES DE OUTROS ESTADOS, SEM A
POSSIBILIDADE DE TORNAR EFETIVAS AS DECISÕES
DE SEUS MAGISTRADOS.

(MARQUES, 2000)
Cabe a cada Estado determinar sua atuação jurisdicional. Como se pode imaginar, há inúmeros
casos que, justamente em função de seus pontos de contato com mais de um Estado, suscitam
o interesse e a atuação de múltiplos poderes jurisdicionais. Isso é chamado de conflito de
jurisdições.

 COMENTÁRIO

O conceito de jurisdição não se confunde com o de competência, embora muitas vezes esses
termos acabem sendo utilizados indistintamente. Aquela constitui um atributo do Poder
Judiciário como um todo, ao passo que esta consiste na esfera de atribuições deferida por lei a
determinada autoridade do Poder Judiciário para processar e julgar causas específicas.

O Direito Internacional Privado tem no princípio da efetividade um dos principais balizadores


do conflito de jurisdições.

Com efeito, há uma preocupação quase unânime de se evitar a adoção de critérios amplos ou
de interpretações extensivas que levem ao exercício ilimitado de jurisdição.

EFETIVIDADE

Esse princípio instrui que os Estados devem se preocupar em proferir decisões que sejam
eficazes e efetivas nos limites de seus territórios.

POR QUÊ?
Não sobrecarregar o Poder Judiciário com decisões cuja execução posterior não esteja
garantida, já que elas dizem respeito a pessoas ou bens fora do alcance do Estado.

Os limites da jurisdição brasileira estão expressos essencialmente nos artigos 21 a 25 do


Código de Processo Civil (CPC). Os artigos 21 e 22 elencam situações nas quais é
conveniente ao Judiciário brasileiro atuar e em que sua decisão seria dotada de efetividade.

Admite-se, no entanto, a atuação de jurisdição estrangeira por se considerar que ela também
teria interesse e estaria em condições de assegurar a eficácia de suas decisões. Trata-se da
competência internacional concorrente.

Já o artigo 23 do CPC trata das hipóteses nas quais é conveniente ao Judiciário brasileiro atuar
e em que sua decisão seria dotada de efetividade, não podendo ser aceita a atuação de outra
jurisdição”.

COMPETE À AUTORIDADE JUDICIÁRIA BRASILEIRA,


COM EXCLUSÃO DE QUALQUER OUTRA:
I - CONHECER DE AÇÕES RELATIVAS A IMÓVEIS
SITUADOS NO BRASIL;
II - EM MATÉRIA DE SUCESSÃO HEREDITÁRIA,
PROCEDER À CONFIRMAÇÃO DE TESTAMENTO
PARTICULAR E AO INVENTÁRIO E À PARTILHA DE
BENS SITUADOS NO BRASIL, AINDA QUE O AUTOR
DA HERANÇA SEJA DE NACIONALIDADE
ESTRANGEIRA OU TENHA DOMICÍLIO FORA DO
TERRITÓRIO NACIONAL;
III - EM DIVÓRCIO, SEPARAÇÃO JUDICIAL OU
DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL, PROCEDER À
PARTILHA DE BENS SITUADOS NO BRASIL, AINDA
QUE O TITULAR SEJA DE NACIONALIDADE
ESTRANGEIRA OU TENHA DOMICÍLIO FORA DO
TERRITÓRIO NACIONAL.

(LEI 13.105, 2015)

Entende-se que os vínculos com o Brasil são especialmente fortes; assim, sequer é
considerada a posição das autoridades judiciárias estrangeiras a respeito. O nome disso é
competência internacional exclusiva.

No caso específico de disputas relacionadas a contratos internacionais, o atual CPC dispôs no


artigo 25 que a autoridade judiciária brasileira deve se abster de processar e julgar a ação
quando as partes tenham estabelecido um pacto para submeter sua controvérsia à autoridade
estrangeira, havendo a exclusão de qualquer outra. Esse tipo de cláusula é conhecido como
cláusula de eleição de foro, estando muito presente na prática comercial internacional.

Independentemente dessas regras, é preciso saber que as autoridades judiciárias só atuam


quando provocadas por qualquer uma das partes em uma disputa. É possível, assim, que uma
parte decida acionar determinada autoridade ao mesmo tempo que a outra recorra a uma
autoridade diferente. Trata-se, em suma, de um caso de litispendência.

No Brasil, a regra prevista no artigo 24 do CPC é que a pendência de um processo em outro


Estado não impede que a justiça nacional também conheça essa controvérsia:

LITISPENDÊNCIA

Litispendência significa, grosso modo, a existência simultânea de dois processos perante


autoridades judiciárias diversas relativos às mesmas partes e à mesma controvérsia. Já a
litispendência internacional aponta a existência simultânea de dois processos perante
autoridades judiciárias de Estados diversos.

A AÇÃO PROPOSTA PERANTE TRIBUNAL


ESTRANGEIRO NÃO INDUZ LITISPENDÊNCIA E NÃO
OBSTA A QUE A AUTORIDADE JUDICIÁRIA
BRASILEIRA CONHEÇA DA MESMA CAUSA E DAS
QUE LHE SÃO CONEXAS, RESSALVADAS AS
DISPOSIÇÕES EM CONTRÁRIO DE TRATADOS
INTERNACIONAIS E ACORDOS BILATERAIS EM VIGOR
NO BRASIL. PARÁGRAFO ÚNICO. A PENDÊNCIA DE
CAUSA PERANTE A JURISDIÇÃO BRASILEIRA NÃO
IMPEDE A HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA JUDICIAL
ESTRANGEIRA QUANDO EXIGIDA PARA PRODUZIR
EFEITOS NO BRASIL.

(LEI 13.105, 2015)

POUCO IMPORTA QUAL PROCESSO TEVE INÍCIO OU


TERMINOU PRIMEIRAMENTE.

Se uma decisão proferida no Brasil transitar em julgado (Default tooltip) antes que o STJ
defira o pedido de homologação de sentença estrangeira, a proferida no exterior jamais
produzirá efeitos em nosso território.

 COMENTÁRIO

Como veremos no módulo 3, uma decisão pronunciada no exterior não produzirá efeitos no
Brasil enquanto não for homologada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Por outro lado, se a ação de homologação da decisão estrangeira transitar em julgado antes da
ação brasileira, a proveniente do exterior será reconhecida e produzirá efeitos no Brasil,
inviabilizando o prosseguimento da ação brasileira.

APLICAÇÃO DOS ELEMENTOS DE


CONEXÃO DO DIREITO INTERNACIONAL
PRIVADO
Como vimos, as regras de Direito Internacional Privado não respondem às questões advindas
de fatos transnacionais, mas apontam o caminho por meio do qual as respostas podem
ser encontradas.

ESSAS REGRAS SÃO, SOB ESSA ÓTICA, NORMAS


INDIRETAS.

Chamadas de regras de conexão, elas conectam fatos transnacionais às leis a eles aplicáveis
em meio a uma miríade de legislações possivelmente incidentes.

No Brasil, as regras de conexão estão previstas em:

 Decreto-Lei n. 4.657/1942, também conhecido como Lei de Introdução às Normas


do Direito Estrangeiro (LINDB).

 Tratados celebrados pelo país.

As regras de conexão são compostas por dois elementos:

Fato transnacional

O fato transnacional é o bem e as relações a ele concernentes. O elemento de conexão é o


local em que estão situados esses bens.

Elemento de conexão

Trata-se da circunstância que conecta o fato à lei.

 EXEMPLO

O artigo 8º da LINDB (2010) possui a seguinte regra de conexão: “Para qualificar os bens e
regular as relações a eles concernentes, aplicar-se-á a lei do país em que estiverem situados”.

Os elementos de conexão podem ser classificados de acordo com estes aspectos:


NATUREZA
Existem os elementos de:

Direito

Estão baseados em conceitos ou construções jurídicas (como a nacionalidade ou o domicílio).


Fato

Utilizam uma circunstância da vida (por exemplo, a localização geográfica dos bens).

SUJEITOS ENVOLVIDOS
Há, neste caso, os elementos:

Pessoais

Apoiam-se em conceitos relacionados às pessoas (nacionalidade, domicílio e autonomia da


vontade).


Reais

Baseiam-se em dados objetivos relacionados aos bens em jogo (local em que estão localizados
ou onde ocorreu o dano).

POSSIBILIDADE DE MODIFICAÇÃO DE SEU


CONTEÚDO
Há os elementos:

Móveis

Seu conteúdo pode ser alterado com o tempo (nacionalidade, domicílio ou residência).

Imóveis

Não sofrem qualquer alteração com a passagem do tempo (local em que estão localizados os
bens imóveis ou o local do dano).

Veja que um mesmo elemento de conexão pode ser classificado de diversas formas. A
aplicação da regra de conexão é feita de acordo com a lei do foro que foi provocado e que
considerou, afinal, ter jurisdição para conhecer da causa.

Em outras palavras, a autoridade judiciária acionada recorre ao próprio Direito Internacional


Privado para saber que lei aplicar a fim de decidir uma causa. Ao fazê-lo, ela conceituará o
elemento de conexão presente na regra de conexão de acordo com o próprio ordenamento
jurídico. Por exemplo: se, pelo Direito Internacional Privado do Brasil, a capacidade for
regulada pela lei do domicílio da pessoa, será no direito brasileiro que procuraremos a
definição dele.

A regra de conexão pode gerar duas aplicações distintas:

 Aplicação do próprio direito interno.

 Aplicação de um direito estrangeiro. Neste caso, ele só seria afastado se fosse


comprovado que sua aplicação no caso concreto ofenderia a ordem pública
brasileira.

 COMENTÁRIO

Falaremos sobre a aplicação de um direito estrangeiro no próximo módulo.

Antes de aplicar o método conflitual, porém, o juiz da causa precisa verificar se não incide
sobre a questão nenhuma norma de caráter imperativo do foro.

As normas de caráter imperativo são de aplicação imediata e imprescindíveis à manutenção


da coerência do ordenamento. Os interesses em jogo são tão caros ao foro que se considera
justificável preterir o recurso ao Direito Internacional Privado.
A distinção entre norma imperativa e ordem pública é tênue, ainda mais porque ambas não
dispõem de definição precisa. Não obstante, existe nos dois casos uma limitação à utilização
do método conflitual. A diferença está quando a limitação se dá:

MÉTODO CONFLITUAL

Observar as regras de conexão previstas em Direito Internacional Privado a fim de


identificar a lei aplicável à determinada questão.

CARÁTER IMPERATIVO

Essas normas são conhecidas pela terminologia cunhada na França: lois de police.

Normas de caráter imperativo

Intervêm antes da utilização do método conflitual, obstando a aplicação das regras de conexão.


Ordem pública

Intervém após a utilização desse método, impedindo que a lei estrangeira por ele apontada
seja aplicada ao caso.

OS ELEMENTOS DE CONEXÃO NO DIREITO


INTERNACIONAL PRIVADO
Neste vídeo, o professor abordará o os elementos de conexão e seu papel.

FONTES DO DIP E A LEI DE INTRODUÇÃO


ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO:
APLICABILIDADE

FONTES DO DIP

O Direito Internacional Privado conta com uma pluralidade de fontes. Como vimos, sua
principal fonte é interna:

Lei

Doutrina

Jurisprudência de cada Estado

 COMENTÁRIO

No caso da doutrina e da jurisprudência, há muitos debates para saber se isso é possível. Isso
faz com que tenhamos tantos Direitos Internacionais Privados quanto Estados, ocorrendo da
mesma forma que nos demais ramos do Direito.
A corporificação do Direito Internacional Privado em leis tomou forma com as iniciativas de
codificação do século XIX, tendo encontrado acolhida pela primeira vez na França por
intermédio da criação do Código de Napoleão.

 SAIBA MAIS

Outros exemplos notórios são o Código italiano, de 1865, e o Código Germânico, de 1896. O
Brasil se inspirou no germânico, tendo corporificado o Direito Internacional Privado pela
primeira vez na Introdução ao Código Civil de 1916 (artigos 1 a 21).

Como veremos a seguir, a Introdução ao Código Civil de 2016 cedeu lugar à atual LINDB. Ao
lado dela, os outros dois pilares da disciplina (o conflito de jurisdições e a cooperação jurídica
nacional) são regulados no CPC (artigos 21 a 41).

DOUTRINA
Costuma servir de intérprete das decisões dos tribunais em matéria de Direito Internacional
Privado, contribuindo para o desenvolvimento dos princípios que norteiam a disciplina.

JURISPRUDÊNCIA
Se encarrega de preencher as lacunas deixadas pelo legislador e se apoia na doutrina para
solucionar as controvérsias decorrentes da aplicação desse ramo do direito.

Ao lado das fontes internas, existem as de origem regional e internacional, que gradualmente
têm ganhado expressividade. A principal fonte são os tratados celebrados com vistas a
aproximar as soluções manejadas individualmente pelo Estado, especialmente aquelas no
campo do conflito de leis.

 COMENTÁRIO

Vale mencionar as iniciativas das já citadas CIDIPs e Conferência de Haia de Direito


Internacional Privado, já que ambas propiciaram a celebração de diversos tratados.
Também se procurou regular no plano internacional os outros dois pilares da disciplina (o
exercício da jurisdição pelos Estados e a cooperação jurídica internacional) para facilitar a
prática de atos jurisdicionais no estrangeiro. Nessa seara, em especial, despontam os tratados
bilaterais de cooperação. Por exemplo: citação, intimação e coleta de provas.

A elaboração de um tratado e a sua incorporação no direito interno brasileiro observam o


seguinte passo a passo:

A Constituição (artigo 84, VIII) atribui exclusivamente ao presidente da República, enquanto


chefe de Estado, a função de manter relações com outros Estados, o que inclui a negociação e
a celebração de tratados.

Negociado um tratado, o presidente o envia ao Congresso Nacional para aprovação (artigo 49,
I, da Constituição). Não cabe a ele propor qualquer alteração ao texto, apenas aprová-lo ou
não. Se aprovado, o presidente do Congresso Nacional promulga um decreto legislativo.

O presidente da República ratifica ou adere ao tratado no plano internacional. A partir daqui se


considera que ele está em vigor para o Brasil no plano internacional.

O presidente da República promulga um decreto divulgando o texto do tratado e o publica no


Diário Oficial. A partir daqui se considera que ele entra em vigor para o Brasil no plano interno.
ADERE

A ratificação ocorre quando o Brasil assina o texto original do tratado que está em vias de
ser celebrado internacionalmente. Já a adesão é concretizada quando existe um tratado
celebrado do qual o Brasil pretende ser parte.

Um tratado ratificado ou aderido pelo Brasil pode ser posteriormente revogado por meio do
instrumento da denúncia. Ela é feita pelo presidente da República no plano internacional.

CONFLITO ENTRE AS FONTES DE DIP

Não são raras as vezes em que as disposições de uma lei interna se chocam com as de um
tratado (e vice-versa).

Esses choques personificam o conhecido debate em Direito Internacional entre duas correntes:

Dualista

Liderada por Heinrich Triepel e Dionisio Anzilotti, ela enxerga o os direitos interno e
internacional como sistemas jurídicos autônomos e distintos, ou seja, como dois círculos que
não se sobrepõem.


Monista

Liderada por Hans Kelsen, ela prega a unidade da ordem jurídica, considerando o direito
interno e o internacional dois círculos superpostos. Obviamente, sendo ambos círculos do tipo,
questiona-se qual deles tem primazia.

Despontam nessa corrente três escolas nas quais se considera:


 Prevalecer o Direito Internacional.

 Preponderar o Direito Interno.

 Equiparar os dois direitos, fazendo com que uma fonte prevaleça sobre a outra em
função da ordem cronológica em que for criada.

De origem estrangeira, as correntes dualista e monista ressoaram também no Brasil,


provocando um intenso debate doutrinário e jurisprudencial. Em sua maioria, a doutrina
defendeu a monista, considerando o Direito internacional hierarquicamente superior ao
interno.

A jurisprudência sempre se posicionou pacificamente pela prevalência da Constituição Federal


sobre os tratados. Caso houvesse um conflito entre eles e as leis ordinárias, contudo, tanto o
Supremo Tribunal Federal (STF) quanto o STJ entenderam que ambos são hierarquicamente
equivalentes.

A prevalência de um sobre o outro dependeria, portanto, da:

CRONOLOGIA
Posterior prevalece sobre anterior.

ESPECIFICIDADE
Norma especifica prevalece sobre a genérica, mesmo que ela seja posterior.

Durante muito tempo, a doutrina enxergou nesse posicionamento da jurisprudência uma opção
pelo monismo sem conseguir enxergar o fato de que os tratados, para vigorarem no Brasil,
precisam passar, conforme destacamos, por um rito procedimental próprio.

 EXEMPLO

Esse ponto foi captado pelo STF no julgamento da ADIN 1.480-3-DF, o que muitos estudiosos
consideram evidenciar uma inclinação para a corrente dualista.
LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO
BRASILEIRO

A principal fonte interna de Direito Internacional Privado no Brasil é a LINDB. Até 2010, quando
recebeu nova denominação (Default tooltip) , ela era intitulada Lei de Introdução ao Código
Civil Brasileiro. Ela foi promulgada em 1942 (Default tooltip) , quando ainda era vigente o
Código Civil de 1916.

O objetivo da LINDB é substituir os artigos 1 a 21 do Código Civil de 1916 responsáveis por


apresentar as linhas mestras de funcionamento do sistema jurídico brasileiro. Ela se preocupa
basicamente em resolver conflitos de leis no tempo e no espaço.

SEUS DISPOSITIVOS PODEM SER AGRUPADOS EM


DOIS GRANDES GRUPOS:

DIREITO INTERTEMPORAL
Normas que definem a partir de quando as leis entram em vigor e como elas incidem sobre
situações constituídas prévia, concomitante ou posteriormente à sua entrada.

REGRAS DE CONEXÃO
Normas que apontam as leis aplicáveis às situações que possuam vínculos com mais de um
ordenamento jurídico. Inseridas no campo do Direito Internacional Privado.

No que concerne ao Direito Internacional Privado, portanto, a LINDB regula um dos temas da
disciplina (o tema do conflito de leis). Já os temas da jurisdição e da cooperação jurídica
internacional estão previstos no CPC (Default tooltip) .

A principal inovação trazida pela LINDB foi a substituição do elemento de conexão da


nacionalidade pelo de conexão do domicílio para reger o estatuto pessoal dos indivíduos, isto
é, para determinar a lei aplicável a questões sobre nome, capacidade e direito de família.
A alteração colocou o Brasil em linha com os demais países das Américas que são
destinatários de um intenso fluxo de mão de obra migrante. Como podemos imaginar, o antigo
elemento da nacionalidade levava à maior aplicação do direito estrangeiro, o que, segundo
Ramos (2018, p. 361), interessava às ambições nacionalistas do Governo Vargas de que se
privilegiasse a lei territorial, ou seja, a brasileira.

Além da regra de conexão relativa ao estatuto pessoal, a LINDB estabelece para:

A REGULAÇÃO DOS BENS, O LOCAL ONDE ESTÃO


SITUADOS (ART. 8º);


OS CONTRATOS, O LOCAL DE SUA CELEBRAÇÃO
(ART. 9º);


A SUCESSÃO, O ÚLTIMO DOMICÍLIO DO FALECIDO
(ART. 10);


A REGULAÇÃO DAS PESSOAS JURÍDICAS, O LOCAL
EM QUE SE CONSTITUÍRAM (ART. 11).

VERIFICANDO O APRENDIZADO

1. (2011 – NC-UFPR – ITAIPU BINACIONAL – ADVOGADO – ADAPTADA)


COM RELAÇÃO AO OBJETO DO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO,
IDENTIFIQUE AS AFIRMATIVAS A SEGUIR COMO VERDADEIRAS (V) OU
FALSAS (F):

(__) O DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO NÃO MAIS SE RESTRINGE,


COMO SE SUSTENTOU NO PASSADO, A INSTITUIÇÕES DE DIREITO
PRIVADO, ATUANDO TAMBÉM NO CAMPO DO PÚBLICO.
(__) ASSIM COMO NO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO, A PRINCIPAL
FONTE DO PRIVADO É O TRATADO.
(__) O DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO TRATA PRINCIPALMENTE DO
CONFLITO DE LEIS ORIGINÁRIAS DE ESTADOS DIFERENTES,
ESTABELECENDO AS REGRAS PARA A OPÇÃO ENTRE AQUELAS EM
CONFLITO, SENDO, POR ISSO, UM DIREITO EMINENTEMENTE
NACIONAL.
(__) HÁ VÁRIAS CONCEPÇÕES SOBRE O OBJETO DO DIREITO
INTERNACIONAL PRIVADO. AS CONCEPÇÕES MAIS AMPLAS INCLUEM
NA DISCIPLINA, ALÉM DO CONFLITO DE LEIS E DO CONFLITO DE
JURISDIÇÕES, A NACIONALIDADE E A CONDIÇÃO JURÍDICA DO
ESTRANGEIRO.
(__) DIANTE DE UMA SITUAÇÃO JURÍDICA CONEXA COM DUAS OU MAIS
LEGISLAÇÕES QUE CONTENHAM NORMAS DIVERSAS E
CONFLITANTES, AO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO NÃO CABE
SOLUCIONAR O CONFLITO DAS NORMAS MATERIAIS INTERNAS, MAS
TÃO SOMENTE INDICAR QUAL SISTEMA JURÍDICO DEVE SER APLICADO
DENTRE AS VÁRIAS LEGISLAÇÕES CONECTADAS COM A HIPÓTESE
JURÍDICA.

ASSINALE A ALTERNATIVA COM A SEQUÊNCIA CORRETA DE CIMA PARA


BAIXO.

A) F-F-V-F-V

B) V-F-V-V-V

C) V-V-F-V-F

D) F-V-F-F-F

E) V-V-V-F-F

2. CONSIDERANDO AS FONTES DO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO


E SUA METODOLOGIA CLÁSSICA, LEIA O TRECHO A SEGUIR E
ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA.
"ATRAVÉS DE NORMAS JURÍDICAS COM UMA NATUREZA ESPECIAL,
QUE ESTABELECEM OS CRITÉRIOS ATRAVÉS DOS QUAIS EM CADA
CASO CONCRETO SE DETERMINA A LEI COMPETENTE PARA RESOLVER
AS QUESTÕES JURÍDICAS SUSCITADAS PELAS RELAÇÕES
ABSOLUTAMENTE INTERNACIONAIS. SÃO NORMAS QUE NÃO
REGULAM DIRETAMENTE RELAÇÕES MATERIAIS, MAS DETERMINAM
OS CRITÉRIOS PARA, NOS CASOS CONCRETOS, SE DETERMINAREM AS
NORMAS COMPETENTES PARA O FAZER."
(RIBEIRO, 2000)

A) O Direito Internacional Privado precipuamente é formado por normas indiretas ou de


sobredireito que indicam, entre as normas internas do país, aquela aplicável às situações
jurídicas plurilocalizadas.

B) O Direito Internacional Privado precipuamente é formado por normas diretas que


apresentam soluções às situações jurídicas plurilocalizadas.

C) O Direito Internacional Privado precipuamente é formado por normas indiretas ou de


sobredireito que indicam, entre as leis estrangeiras em conflito, aquela aplicável às situações
jurídicas plurilocalizadas.
D) O Direito Internacional Privado precipuamente é formado por normas diretas que indicam,
entre as leis estrangeiras em conflito, aquela aplicável às situações jurídicas plurilocalizadas.

E) O Direito Internacional Privado precipuamente é formado por normas indiretas ou de


sobredireito que indicam, entre as convenções das quais o país é parte, aquela aplicável às
situações jurídicas plurilocalizadas.

GABARITO

1. (2011 – NC-UFPR – Itaipu Binacional – Advogado – adaptada) Com relação ao objeto


do Direito Internacional Privado, identifique as afirmativas a seguir como verdadeiras (V)
ou falsas (F):

(__) O Direito Internacional Privado não mais se restringe, como se sustentou no


passado, a instituições de direito privado, atuando também no campo do público.
(__) Assim como no Direito Internacional Público, a principal fonte do Privado é o
tratado.
(__) O Direito Internacional Privado trata principalmente do conflito de leis originárias de
Estados diferentes, estabelecendo as regras para a opção entre aquelas em conflito,
sendo, por isso, um direito eminentemente nacional.
(__) Há várias concepções sobre o objeto do Direito Internacional Privado. As
concepções mais amplas incluem na disciplina, além do conflito de leis e do conflito de
jurisdições, a nacionalidade e a condição jurídica do estrangeiro.
(__) Diante de uma situação jurídica conexa com duas ou mais legislações que
contenham normas diversas e conflitantes, ao Direito Internacional Privado não cabe
solucionar o conflito das normas materiais internas, mas tão somente indicar qual
sistema jurídico deve ser aplicado dentre as várias legislações conectadas com a
hipótese jurídica.

Assinale a alternativa com a sequência correta de cima para baixo.

A alternativa "B " está correta.

O Direito Internacional Privado tem por fonte não só os tratados, mas também o próprio direito
interno de cada país, prevendo um conjunto de normas de conexão responsável por indicar o
direito aplicável à situação jurídica plurilocalizada.
2. Considerando as fontes do Direito Internacional Privado e sua metodologia clássica,
leia o trecho a seguir e assinale a alternativa correta.
"Através de normas jurídicas com uma natureza especial, que estabelecem os critérios
através dos quais em cada caso concreto se determina a lei competente para resolver as
questões jurídicas suscitadas pelas relações absolutamente internacionais. São normas
que não regulam diretamente relações materiais, mas determinam os critérios para, nos
casos concretos, se determinarem as normas competentes para o fazer."
(RIBEIRO, 2000)

A alternativa "C " está correta.

As regras de Direito Internacional Privado não dão respostas às questões advindas de fatos
transnacionais, mas apontam o caminho por meio do qual as respostas podem ser
encontradas. Elas são, sob essa ótica, normas indiretas, já que não solucionam a questão de
fundo, apenas indicando o caminho para a lei que o fará. Chamadas de regras de conexão,
elas conectam fatos transnacionais às leis aplicáveis em meio a uma miríade de outras
possivelmente incidentes.

MÓDULO 2

 Localizar a aplicação, a prova e a interpretação do direito estrangeiro no Brasil

A APLICAÇÃO DA LEI ESTRANGEIRA NO


BRASIL
Imagem: Shutterstock.com

SOBERANIA, ORDEM PÚBLICA E BONS


COSTUMES

 RELEMBRANDO

Como vimos, as regras de conexão previstas no Direito Internacional Privado brasileiro podem
indicar qual lei estrangeira deve ser aplicada para regular determinado fato transnacional. A
referência a essa lei abarca todo o sistema normativo estrangeiro e todas as suas fontes, sejam
elas internas ou internacionais. Também verificamos que é possível atribuir eficácia, no
território nacional, a uma decisão emanada de autoridade estrangeira, contanto que ela não
verse sobre uma hipótese de jurisdição exclusiva de nossos tribunais. O reconhecimento da
eficácia de decisões estrangeiras no Brasil se dá no âmbito da cooperação jurídica
internacional.

INTERNAS
Atos promulgados pelo poder competente local, além do costume e da doutrina, caso eles
sejam aceitos como vinculantes no Estado estrangeiro.

INTERNACIONAIS

Tratados ratificados ou aderidos pelo Estado estrangeiro, costume internacional e


princípios gerais de Direito Internacional.

O artigo 17 da LINDB (2010) prevê, contudo, que “leis, atos e sentenças de outro país, bem
como quaisquer declarações de vontade, não terão eficácia no Brasil quando ofenderem a
soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes”. Esse comando é similar ao
constante no artigo 963, VI, do CPC, segundo o qual constitui um requisito indispensável à
homologação da decisão estrangeira que ela não ofenda à nossa ordem pública.

 ATENÇÃO

Será feito, portanto, um controle posterior ao manejo das regras de conexão, obstando-se a
aplicação da lei estrangeira apontada pelo Direito Internacional Privado se ela for de encontro
aos valores essenciais do foro, especialmente aqueles relativos aos direitos humanos
salvaguardados pela Constituição Federal e aos tratados de direitos humanos dos quais o
Brasil seja signatário.

Embora a LINDB se refira a três rubricas aparentemente autônomas (a soberania nacional, a


ordem pública e os bons costumes) que teriam o condão de obstar a aplicação da lei
estrangeira, a doutrina é pacífica neste caso: o reconhecimento da possibilidade de se unir as
três sob a alcunha única de ordem pública.

Analisaremos agora o que ocorre na ofensa à:

SOBERANIA NACIONAL
A ofensa é clara na hipótese de se pretender reconhecer, no Brasil, uma sentença estrangeira
que verse sobre uma das hipóteses de competência exclusiva – estudadas anteriormente – da
autoridade judiciária nacional.

ORDEM PÚBLICA
Ela tem contornos mais subjetivos, já que a ordem pública, na hipótese de se aferir a
compatibilização da lei estrangeira, corresponde ao conjunto de princípios tidos como
fundamentais e inderrogáveis do ordenamento jurídico brasileiro.

SEU CONCEITO SE APRESENTA, ASSIM, MUTÁVEL.


MAS COMO SABER SE A APLICAÇÃO DA LEI
ESTRANGEIRA VIOLA A ORDEM PÚBLICA SE NÃO
TEMOS UMA DEFINIÇÃO PRECISA SOBRE ELA?

VEJA AQUI A RESPOSTA


Realizada a cada caso, essa apuração tem por referência a sensibilidade média da sociedade
brasileira em determinada época.

Segundo Valladão (1977, p. 475), utiliza-se o critério da essencialidade: tudo o que for
reputado indispensável ao foro integra a ordem pública. A ofensa aos bons costumes, por fim,
corresponderia à afronta aos princípios éticos contemporâneos próprios do Estado e de seu
povo.

NACIONALIDADE, REGISTROS CONSULARES E


CRITÉRIOS PARA A DETERMINAÇÃO DA
NACIONALIDADE BRASILEIRA

A nacionalidade corresponde ao vínculo jurídico que une um indivíduo ao Estado e do qual


resultam direitos e obrigações. Nacionais são aqueles que a adquiriram de determinado Estado
de acordo com as suas leis internas, ao passo que, por exclusão, estrangeiros são os não
nacionais.

A nacionalidade, segundo Vargas (2006, p. 290), é “o ponto de partida da cidadania”, haja vista
que os direitos políticos e a proteção diplomática não são geralmente estendidos a
estrangeiros. Os efeitos da nacionalidade se irradiam para o plano internacional, impondo-se a
todos os Estados o dever de reconhecer a que seja conferida a um indivíduo, completam
Battifol e Lagarde (1993, p. 104).

Foto: Shutterstock.com

 EXEMPLO

A convenção relativa às questões de conflito de lei sobre a nacionalidade assinada em Haia,


em 1930, foi incorporada ao ordenamento jurídico brasileiro por meio do Decreto n.
21.798/1932.

O reconhecimento e o respeito às nacionalidades estrangeiras dependem do seguinte fator:


que as legislações por meio das quais os Estados determinam seus nacionais sejam
compatíveis com as convenções internacionais, o costume e os princípios gerais de direito
reconhecidos em matéria de nacionalidade.
 EXEMPLO

É por essa razão que a Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948 estabeleceu a
nacionalidade como um direito fundamental. No mesmo sentido, a Convenção Americana de
Direitos Humanos prescreve que a ninguém se deve privar arbitrariamente dela nem do direito
de mudá-la.

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A nacionalidade é usualmente classificada em originária e derivada, pois o pertencimento do


indivíduo ao Estado decorre naturalmente de seu nascimento ou lhe é atribuído em momento
posterior.

Em linhas gerais, a nacionalidade originária pode ter por fundamento o local de nascimento (ius
soli) ou a filiação (ius sanguinis). Já a derivada, também conhecida como naturalização,
decorre da manifestação de vontade do indivíduo em pertencer ao Estado, o que pode implicar
a perda de sua nacionalidade originária.

Cabe a cada Estado determinar os termos e as condições para que os indivíduos sejam
reconhecidos como seus nacionais tanto em caráter originário quanto pela via derivada da
naturalização. Os dois itens a serem determinados costumam constar de suas constituições.

No Brasil, adota-se o critério do ius soli como regra geral de determinação da nacionalidade
brasileira: todos aqueles nascidos no país, independentemente de sua filiação, são
reputados nacionais brasileiros.

No entanto, o ius sanguinis pode ser aplicado subsidiariamente, assegurando-se a


nacionalidade brasileira a filhos de nacionais que tenham nascido no exterior desde que sejam
preenchidos determinados requisitos – alvos, aliás, de alteração ao longo dos anos.

Em sua redação original, o artigo 12 da Constituição Federal de 1988 assim dispunha:

SÃO BRASILEIROS:
I - NATOS:
A) OS NASCIDOS NA REPÚBLICA FEDERATIVA DO
BRASIL, AINDA QUE DE PAIS ESTRANGEIROS, DESDE
QUE ESTES NÃO ESTEJAM A SERVIÇO DE SEU PAÍS;
B) OS NASCIDOS NO ESTRANGEIRO, DE PAI
BRASILEIRO OU MÃE BRASILEIRA, DESDE QUE
QUALQUER DELES ESTEJA A SERVIÇO DA
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL;
C) OS NASCIDOS NO ESTRANGEIRO, DE PAI
BRASILEIRO OU DE MÃE BRASILEIRA, DESDE QUE
SEJAM REGISTRADOS EM REPARTIÇÃO BRASILEIRA
COMPETENTE, OU VENHAM A RESIDIR NA
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL ANTES DA
MAIORIDADE E, ALCANÇADA ESTA, OPTEM, EM
QUALQUER TEMPO, PELA NACIONALIDADE
BRASILEIRA.

(CONSTITUIÇÃO FEDERAL , 1988)


Todas as três hipóteses cuidam da nacionalidade originária: daí a referência, no inciso I do
artigo, a brasileiros natos. A alínea “a” corresponde ao critério ius soli, ao passo que as alíneas
“b” e “c” abordam a aquisição subsidiária pelo ius sanguinis.

 ATENÇÃO

A primeira hipótese de aquisição originária pelo ius sanguinis (alínea “b”) decorre de o indivíduo
ter nascido no exterior em função de qualquer de seus pais estarem a serviço do país. Neste
caso, a ele se estende de maneira automática a nacionalidade brasileira. Já em sua segunda
hipótese (alínea “c”), a extensão dessa nacionalidade a filhos de brasileiros nascidos fora do
país não é automática: ela depende do preenchimento de determinados requisitos.

Originalmente, essa extensão dependia de que o nascimento ocorrido no exterior fosse


registrado no consulado competente. Na falta de registro, era necessário que o indivíduo
ativamente optasse por adquirir a nacionalidade brasileira, exigindo-se, para tal, que fixasse
residência no território nacional antes de atingir a maioridade. Em 1994, a Emenda
Constitucional n. 3 suprimiu a aquisição de nacionalidade pelo registro consular que constava
da redação original do artigo 12, “c”, da Constituição Federal, causando uma grande comoção
na comunidade brasileira residente no exterior.

ESSA EMENDA (1994) TAMBÉM DEIXOU DE


CONDICIONAR O EXERCÍCIO DA OPÇÃO PELA
NACIONALIDADE À RESIDÊNCIA NO PAÍS ANTES DE A
MAIORIDADE SER ATINGIDA.

Com isso, passaram a ser considerados brasileiros natos “os nascidos no estrangeiro, de pai
brasileiro ou mãe brasileira, desde que venham a residir na República Federativa do
Brasil e optem, em qualquer tempo, pela nacionalidade brasileira”.

Posteriormente, em 2007, a Emenda Constitucional n. 54 voltou a prever a aquisição da


nacionalidade por meio do registro consular. Em contrapartida, a aquisição por aqueles que
não tiverem registro consular permaneceu vinculada à residência no território nacional (sem
que fosse necessário fixá-la antes da maioridade) e ao exercício da opção.
Em sua atual redação, o artigo 12, I, “c”, da Constituição Federal (1988) considera brasileiros
natos “os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam
registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa
do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade
brasileira”.

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Cabe destacar que o nascimento ocorrido no exterior pode ser levado a conhecimento da
repartição consular competente a qualquer tempo. A opção da nacionalidade brasileira por
aqueles que não dispõem de registro consular pode ser exercida a qualquer tempo, sendo
condicionada apenas à residência no território nacional.

O registro do nascimento ocorrido no exterior funciona como se o indivíduo houvesse nascido


no Brasil e tivesse seu nascimento registrado em cartório local, não se sujeitando ao exercício
de opção e tampouco à fixação de residência em território nacional. Afinal, conforme prescreve
a Convenção de Viena sobre as relações consulares (promulgada no Brasil graças ao Decreto
n. 61.078/1967), os agentes consulares têm qualidade de notário e oficial de registro civil.

Uma vez registrado o nascimento ocorrido no exterior na repartição consular, a Lei n.


6.015/1973 exige, para a produção de seus efeitos no Brasil, que a certidão emitida pelo
consulado seja então transcrita no registro civil de pessoas naturais (artigo 32). Nessa hipótese
de registro em repartição consular, dispensa-se a opção pela nacionalidade.
Foto: Shutterstock.com

Contudo, se o nascimento ocorrido no exterior não for registrado em repartição consular,


entrará em cena a opção pela nacionalidade brasileira. Caso a certidão de nascimento
estrangeira tenha sido transcrita diretamente em cartório no Brasil (o que não é um pré-
requisito para o exercício da opção), isso terá por efeito declarar o indivíduo brasileiro nato,
mas sob condição suspensiva.

 DICA

A condição suspensiva constitui justamente a confirmação de sua opção pela nacionalidade por
meio de processo próprio.

Em linha com a atual redação do artigo 12 da Constituição Federal, o artigo 63 da Lei de


Migração, promulgada em 2017, estabelece que “o filho de pai ou de mãe brasileiro nascido
no exterior e que não tenha sido registrado em repartição consular poderá, a qualquer
tempo, promover ação de opção de nacionalidade”.

Coube ao Decreto n. 9.199/2017 regulamentar a Lei de Migração e, com ela, o exercício da


opção pela nacionalidade brasileira. As principais características da opção por essa
nacionalidade são as seguintes:
Só pode ser exercida por quem tem o direito à nacionalidade, não sendo possível aos pais a
exercerem por seus filhos (razão pela qual é preciso aguardar a maioridade).

É exercida por meio de um processo judicial proposto perante a justiça federal a qualquer
tempo depois da maioridade.

É declaratória e não constitutiva do direito à nacionalidade (razão pela qual se fala que a opção
confirma a nacionalidade).

No interregno entre a maioridade e o exercício da opção pela nacionalidade, o indivíduo


nascido no estrangeiro fica com a sua condição de brasileiro nato suspensa para todos os
efeitos até que seja proferida sentença homologatória pela Justiça Federal, dispõe o artigo 215,
§2º, do Decreto n. 9.199/2017.

A DETERMINAÇÃO DA NACIONALIDADE
Neste vídeo, a professora abordará os principais aspectos sobre a atribuição da nacionalidade.

A QUESTÃO DA IRRETROATIVIDADE DAS


LEIS NO BRASIL E DEMAIS CONCEITOS

IRRETROATIVIDADE DAS LEIS


 ATENÇÃO

Como já mencionamos, a LINDB contém disposições de Direito Intertemporal e Internacional


Privado. No campo do Intertemporal, ela estabelece que as leis começam a vigorar em todo o
país 45 dias depois de oficialmente publicadas no Diário Oficial. No exterior, contudo, esse
prazo é estendido: elas passam a valer três meses depois de publicadas. Essa previsão é
importante, já que ninguém pode se escusar de cumprir uma lei alegando não a conhecer.

Por mais artificial que possa parecer, a publicação é justamente a ferramenta de que dispõe o
Estado para garantir que todos a conheçam. Salvo se já constar da lei um prazo de vigência
específico, presume-se sua validade até que outra, modificando-a ou revogando-a, venha a ser
promulgada.

MAS QUANDO SE CONSIDERA QUE UMA LEI REVOGA


OUTRA?

A lei posterior revoga a anterior quando:

Expressamente o declara.

É com ela incompatível.

Regula inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.

Por outro lado, se uma lei vier a estabelecer disposições gerais ou especiais além daquelas já
existentes em outra, não são consideradas a remoção e a revogação da anterior.

 ATENÇÃO

O que ocorre se a lei que tiver revogado outra vier a perder a sua vigência? Neste caso, a que
havia sido revogada não é restaurada.
ATO JURÍDICO PERFEITO, COISA JULGADA E
DIREITO ADQUIRIDO

Caio Mario da Silva Pereira (2012, p. 115) diz que:

Foto: Domínio público / Acervo Arquivo Nacional/ Wikimedia Commons

QUANDO UMA LEI ENTRA EM VIGOR, SUA APLICAÇÃO


É PARA O PRESENTE E PARA O FUTURO.

PROMULGADA, PUBLICADA E PASSADO O PRAZO


PARA QUE DELA SE TOME CONHECIMENTO, A LEI
ENTRA EM VIGOR DE IMEDIATO E PARA TODOS.
A lei anterior, até perder sua eficácia, regulava todos os fatos jurídicos. Sob o seu império
nasceram direitos, criaram-se obrigações e regularam-se situações jurídicas. Alguns desses
direitos, obrigações e situações se exaurem ainda no curso da lei que os criou. Outros, no
entanto, perduram e adentram o império da nova. Eis que surge a questão:

ENTRANDO EM VIGOR A LEI NOVA, O QUE ACONTECE


COM OS DIREITOS E AS SITUAÇÕES JURÍDICAS
CRIADOS SOB O AMPARO DAQUELA ANTERIOR?

O artigo 6º da LINDB prescreve que se mantêm inatingidos pela entrada em vigor de nova lei:

Ato jurídico perfeito

Direito adquirido

Coisa julgada

Mas o que eles são? A própria lei dá a resposta:

[...] REPUTA-SE ATO JURÍDICO PERFEITO O JÁ


CONSUMADO SEGUNDO A LEI VIGENTE AO TEMPO
QUE SE EFETUOU”; “CONSIDERAM-SE ADQUIRIDOS
ASSIM OS DIREITOS QUE O SEU TITULAR, OU
ALGUÉM POR ELE, POSSA EXERCER, COMO
AQUELES CUJO COMEÇO DO EXERCÍCIO TENHA
TERMO PRÉ-FIXO, OU CONDIÇÃO PRÉ-
ESTABELECIDA INALTERÁVEL, A ARBÍTRIO DE
OUTREM.

(LEI 12.376, 2010)


Os três constituem, portanto, os direitos já incorporados ao patrimônio do seu titular, restando
pendente apenas o seu exercício. Eles não se confundem com a mera expectativa de direito:
“chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso”, frisa a
LINDB (2010).

É importante ter em mente que as situações legalmente constituídas de acordo com o direito
estrangeiro (Default tooltip) serão reconhecidas internamente – a menos que elas ofendam a
soberania nacional, a ordem pública ou os bons costumes.

 EXEMPLO

Duas pessoas que se casam na Espanha e venham residir no Brasil recebem, em nosso país,
o status de pessoas casadas. Não cabe à justiça brasileira questionar a validade de seu
casamento.

Imagem: Shutterstock.com

CLÁUSULA PÉTREA
Cláusulas pétreas são disposições de nossa Constituição Federal insuscetíveis de alteração.
Nenhuma lei pode alterá-las, assim como a própria Constituição em si não pode ser modificada
com o intuito de suprimi-las.

 ATENÇÃO

A única forma de alterar essas cláusulas é promulgar uma nova Carta Magna. As
cláusulas pétreas recebem esse tratamento porque constituem o núcleo duro do nosso
ordenamento.

Elas estão previstas no artigo 60, §4º, da Constituição Federal (1988): “Não será objeto de
deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I - a forma federativa de Estado; II - o voto
direto, secreto, universal e periódico; III - a separação dos Poderes; IV - os direitos e garantias
individuais”.

APLICAÇÃO DA LEI ESTRANGEIRA NO BRASIL

Como pontuamos, as regras de conexão previstas na LINDB têm por finalidade apontar a lei
aplicável a determinado fato transnacional.

A primeira pergunta com que nos deparamos é a seguinte: se a regra de conexão incidente em
determinada hipótese apontasse a lei estrangeira, essa lei deveria ser encarada como um fato
(precisando ser invocado pelas partes a fim de que o juiz possa se pronunciar a respeito) ou
um direito (que ele tem a obrigação de conhecer)? Essa pergunta foi objeto de um grande
debate doutrinário no Brasil e no exterior.

EM NOSSO PAÍS, TRATA-SE A LEI ESTRANGEIRA


COMO DIREITO – E NÃO COMO FATO.

O artigo 376 do CPC inclusive se refere à lei estrangeira ao lado das leis municipal, estadual e
costumeira. Sua aplicação é feita de ofício, ou seja, a despeito de invocação pelas partes e a
qualquer tempo.
 ATENÇÃO

O juiz, porém, pode exigir das partes a prova de seu texto e a vigência caso não os conheça.

O Código Bustamante (Default tooltip) oferece alguns mecanismos de prova do direito


estrangeiro:

 Certidão legalizada de dois advogados atuantes no Estado cuja legislação se


pretende aplicar.

 Informação prestada pelo Estado estrangeiro por meio da via diplomática.

 SAIBA MAIS

O Código Bustamante foi internalizado no Brasil por meio do Decreto n. 18.871/1929.

Ao aplicar a lei estrangeira, o juízo nacional precisa respeitar a interpretação jurisprudencial e


doutrinária que dela se faz no seu Estado de origem.

VERIFICANDO O APRENDIZADO

1. "A NACIONALIDADE ORIGINÁRIA SE MATERIALIZA POR MEIO DE DOIS


CRITÉRIOS QUE INCIDEM NO MOMENTO DO NASCIMENTO: O IUS SOLI –
AQUISIÇÃO DE NACIONALIDADE DO PAÍS ONDE SE NASCE – E O IUS
SANGUINIS – AQUISIÇÃO DA NACIONALIDADE DOS PAIS À ÉPOCA DO
NASCIMENTO –, E QUE ÀS VEZES SÃO OBSERVADAS
CONCOMITANTEMENTE, EM CRITÉRIO ECLÉTICO, OCORRENDO
TAMBÉM A HIPÓTESE DO IUS SANGUINIS COMBINADO COM O
ELEMENTO FUNCIONAL, QUANDO SE TRATA DE FILHO DE PESSOAS A
SERVIÇO DO PAÍS NO EXTERIOR."
(DOLINGER, 2018)
CONSIDERANDO O TRECHO TRANSCRITO E A LEGISLAÇÃO
PERTINENTE, REFLITA: AMÉRICO DE SOUZA É BRASILEIRO E RESIDE
NA ALEMANHA, ONDE ATUALMENTE CURSA O DOUTORADO EM
ECONOMIA E ONDE NASCEU SEU FILHO, HELMUT, CUJA MÃE É ALEMÃ.
SOBRE A POSSIBILIDADE DE HELMUT ADQUIRIR A NACIONALIDADE
BRASILEIRA ORIGINÁRIA, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA.

A) Helmut poderá adquirir a nacionalidade brasileira desde que seja registrado em repartição
brasileira competente ou que venha a residir na República Federativa do Brasil antes de
atingida a maioridade – e, uma vez atingida, que opte, até quatro anos depois, pela
nacionalidade brasileira.

B) Helmut poderá adquirir a nacionalidade brasileira desde que seja registrado em embaixada
brasileira ou que venha a residir na República Federativa do Brasil antes de atingida a
maioridade e opte, a qualquer tempo, pela nacionalidade brasileira.

C) Helmut poderá adquirir a nacionalidade brasileira, ainda que não tenha sido registrado em
repartição consular, a qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, por meio da ação de
opção de nacionalidade.

D) Helmut não poderá adquirir a nacionalidade brasileira, pois só existe a hipótese de aquisição
de nacionalidade brasileira originária para filho de brasileiro ou brasileira nascido em solo
estrangeiro quando o pai ou a mãe está no exterior a serviço da República Federativa do Brasil.

E) Helmut poderá adquirir a nacionalidade brasileira a partir de registro consular desde que sua
mãe venha a se tornar brasileira por meio de aquisição derivada de nacionalidade.

2. EM DETERMINADAS HIPÓTESES, O MAGISTRADO NÃO RECORRERÁ


À SOLUÇÃO ENCONTRADA PELO MÉTODO CONFLITUAL, AINDA QUE
ELA SE TRATE DE UMA SITUAÇÃO JURÍDICA PLURILOCALIZADA.
SOBRE ESSA HIPÓTESE E O MÉTODO DO DIREITO INTERNACIONAL
PRIVADO, APONTE A ALTERNATIVA CORRETA:

A) Trata-se de hipótese em que o magistrado se vale de sua discricionariedade para aplicar a


lei que julgar mais compatível com o caso.
B) Trata-se de hipótese de competência internacional concorrente, na qual o magistrado
poderá utilizar a norma brasileira ou estrangeira para dirimir o litígio.

C) Trata-se de hipótese de competência exclusiva brasileira para julgar o caso de acordo com a
lei brasileira.

D) Trata-se de hipótese de reenvio, em que o direito estrangeiro determina a aplicação, na


solução de uma questão internacional, do ordenamento jurídico brasileiro.

E) Trata-se de hipótese de afastamento da norma estrangeira, já que seu conteúdo viola a


ordem pública interna.

GABARITO

1. "A nacionalidade originária se materializa por meio de dois critérios que incidem no
momento do nascimento: o ius soli – aquisição de nacionalidade do país onde se nasce
– e o ius sanguinis – aquisição da nacionalidade dos pais à época do nascimento –, e
que às vezes são observadas concomitantemente, em critério eclético, ocorrendo
também a hipótese do ius sanguinis combinado com o elemento funcional, quando se
trata de filho de pessoas a serviço do país no exterior."
(DOLINGER, 2018)

Considerando o trecho transcrito e a legislação pertinente, reflita: Américo de Souza é


brasileiro e reside na Alemanha, onde atualmente cursa o doutorado em Economia e
onde nasceu seu filho, Helmut, cuja mãe é alemã. Sobre a possibilidade de Helmut
adquirir a nacionalidade brasileira originária, assinale a alternativa correta.

A alternativa "C " está correta.

Helmut poderá adquirir a nacionalidade brasileira a qualquer tempo por meio de registro em
repartição consular ou, após atingida a maioridade, de ação de opção de nacionalidade –
desde que, no último caso, ele possua residência no Brasil (conforme artigo 12, I, c, da
Constituição Federal).

2. Em determinadas hipóteses, o magistrado não recorrerá à solução encontrada pelo


método conflitual, ainda que ela se trate de uma situação jurídica plurilocalizada. Sobre
essa hipótese e o método do Direito Internacional Privado, aponte a alternativa correta:

A alternativa "E " está correta.


Será feito um controle posterior ao manejo das regras de conexão, obstando-se a aplicação da
lei estrangeira apontada pelo Direito Internacional Privado se ela for de encontro aos valores
essenciais do foro, especialmente aqueles relativos aos direitos humanos salvaguardados pela
Constituição Federal e aos tratados de direitos humanos dos quais o Brasil seja signatário.
Esses valores substanciais são incorporados ao conceito de ordem pública.

MÓDULO 3

 Distinguir os métodos de solução de controvérsias alternativos à jurisdição estatal e


seu relacionamento com o Direito Internacional Privado

ARBITRAGEM INTERNACIONAL
A arbitragem é um meio de solução de controvérsias alternativo à via judicial. Seu fundamento
é o princípio da autonomia da vontade: as partes estabelecem livremente um pacto a fim de,
em substituição ao Poder Judiciário, submeter suas disputas ao crivo de uma pessoa privada
ou de painel composto por pessoas privadas.

A liberdade conferida às partes é entendida de maneira bastante ampla. Esse entendimento


passa por:

Escolha do foro

Regras procedimentais

Lei material aplicável

Árbitros

Todas as opções das partes em relação à arbitragem respiram discricionariedade e autonomia.


Tendo a escolhido, contudo, as partes a ela se vinculam.

O instituto da arbitragem encontrou especial acolhida no comércio internacional, já que


parceiros comerciais de diferentes nacionalidades relutavam em se submeter ao Poder
Judiciário alheio. A arbitragem despontou, desse modo, como uma solução mais neutra.
 SAIBA MAIS

A arbitragem é reconhecida no direito brasileiro desde os tempos de Império. O Código


Comercial de 1850 chegou a prever sua obrigatoriedade para a resolução de determinadas
questões.

Após a Proclamação da República, ela recebeu um endereçamento no CPC de 1939 e, depois,


no de 1973, mas só veio a ganhar credibilidade e expressão com a promulgação da Lei n.
9.307/1996. Pela dinâmica dos antigos Códigos de Processo Civil, a decisão proferida pela
entidade privada tinha necessariamente de ser confirmada pelo Poder Judiciário, o que tornava
o recurso ao procedimento sem sentido.

 EXEMPLO

Exigia-se até mesmo que as decisões proferidas em arbitragens internacionais fossem


homologadas pela justiça estrangeira antes de passarem pelo processo de homologação
(sobre a qual se falará abaixo).

DE QUE ADIANTAVA ESCOLHER A ARBITRAGEM SE,


AO FINAL, A QUESTÃO TERIA DE SER
FORÇOSAMENTE SUBMETIDA AO PODER
JUDICIÁRIO?

VEJA AQUI A RESPOSTA


A Lei n. 9.307/1996 (Lei de Arbitragem) alterou essa dinâmica, simplificando o procedimento:
não seria mais necessário submeter a sentença arbitral à sua chancela. Apesar de bem-vinda
tal mudança do ponto de vista prático, a Lei de Arbitragem teve sua constitucionalidade
questionada justamente por conta dessa alteração. O motivo para tal era a garantia de acesso
à justiça prevista no art. 5º, XXXV, da Constituição Federal: “a lei não excluirá da apreciação do
Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”.
A sombra da inconstitucionalidade foi devidamente afastada pelo STF (Default tooltip) nos
anos 2000. O atual CPC reconhece, em seu artigo 515, que a sentença arbitral é título
executivo judicial.

A Lei de Arbitragem se aplica à resolução de litígios de natureza patrimonial disponível,


diferenciando as arbitragens nacionais das internacionais de acordo com o local em que sua
decisão é proferida: a estrangeira, em suma, é aquela cuja sentença tenha sido proferida fora
do território brasileiro.

Usualmente, divide-se a arbitragem internacional em três tipos:

Arbitragem internacional de direito internacional público: Tem como partes os


próprios Estados.

Arbitragem de investimentos: É feita entre Estados e investidores estrangeiros.

Arbitragem comercial internacional: Ela é definida por exclusão. As arbitragens que


não se enquadrarem nos dois tipos anteriores serão reputadas arbitragens comerciais
internacionais.

 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal

ARBITRAGEM DE INVESTIMENTOS

A arbitragem de investimentos se processa perante o International Centre for Settlement


of Investment Disputes (ICSID). Vinculado ao Banco Mundial, o ICSID é uma organização
internacional criada pela Convenção de Washington. O Brasil não é parte desse sistema
de solução de controvérsias.
 ATENÇÃO

A Lei de Arbitragem se aplica apenas às arbitragens comerciais internacionais.

ARBITRAGEM INTERNACIONAL
Neste vídeo, a professora abordará os principais aspectos sobre a arbitragem internacional.

HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA
ESTRANGEIRA NO BRASIL
O artigo 961 do CPC prescreve que qualquer decisão proferida por autoridade judiciária
estrangeira precisa ser reconhecida pelo STJ para que possa ser recepcionada em nosso
ordenamento jurídico e produzir efeitos, constituindo, desse modo, um título executivo judicial.
Foto: Diego Grandi / Shutterstock.com

O processo por meio do qual as decisões estrangeiras são recepcionadas pelo ordenamento
jurídico brasileiro é chamado de homologação. No artigo 105, I, a Constituição Federal atribui
ao STJ a competência originária para homologar sentenças estrangeiras.

O processo de homologação envolve o que se entende por juízo de delibação: o STJ não
avalia o mérito, limitando-se a verificar o preenchimento dos requisitos necessários para que a
decisão estrangeira possa ser recepcionada.

 SAIBA MAIS

Leia a Homologação de decisão estrangeira n. 120 (2019), relatada pela ministra do STJ Nancy
Andrighi.

São examinadas apenas as formalidades da sentença à luz de:

Princípios fundamentais do contraditório e da ampla defesa

Legalidade dos atos processuais

Respeito aos direitos humanos

Adequação aos bons costumes e à ordem pública

Consequentemente, a contestação do pedido de homologação é limitada a questões formais


previstas no artigo 963 do CPC. Trata-se da contenciosidade limitada.

Listaremos os requisitos para que a decisão estrangeira possa ser homologada pelo STJ:

 Ser proferida por autoridade competente.


 Ser precedida de citação regular, ainda que verificada à revelia.

 Ser eficaz no país em que proferida.

 Não ofender a coisa julgada brasileira.

 Estar acompanhada de tradução oficial, salvo disposição que a dispense prevista


em tratado.

 Não conter manifesta ofensa à ordem pública.

O artigo 961, §1º, do CPC autoriza a homologação de decisões proferidas por autoridades não
judiciárias, ainda que elas, aos olhos da lei brasileira, exerçam função jurisdicional. Uma
decisão proferida por uma autoridade estrangeira que não seja integrante do Poder Judiciário
poderá ser reconhecida no Brasil desde que ela exerça no exterior uma função que, em nosso
país, assuma uma natureza jurisdicional. Por exemplo: divórcios decretados por autoridades
administrativas estrangeiras.

As sentenças arbitrais estrangeiras são igualmente passíveis de homologação. Os árbitros,


embora não integrem o Poder Judiciário de um Estado, claramente exercem uma atividade
jurisdicional.

Além do CPC, incide sobre o reconhecimento e a execução de sentenças arbitrais estrangeiras


este regramento específico: a Convenção sobre o Reconhecimento e a Execução de
Sentenças Arbitrais Estrangeiras (mais conhecida como Convenção de Nova York). A
Convenção de Nova York foi ratificada por mais de 160 Estados, corporificando um direito
uniforme em matéria de reconhecimento e execução de sentenças arbitrais estrangeiras,
ressaltam Dolinger e Tiburcio (2020, p. 642).

O Brasil a ratificou e a internalizou por meio do Decreto n. 4.311/2002. Em nosso país, ela se
aplica para o reconhecimento de sentenças arbitrais estrangeiras provenientes de qualquer
Estado signatário da convenção.

 ATENÇÃO
Os requisitos previstos na Convenção de Nova York são essencialmente os mesmos do nosso
CPC.

MÉTODOS NÃO ADVERSARIAIS DE


SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS:
MEDIAÇÃO E CONCILIAÇÃO
Diferentemente da via judicial e da arbitral, a mediação e a conciliação despontam como
métodos não adversariais de solução de controvérsias ou – para usar a terminologia do CPC –
de solução consensual de conflitos.

Ambas configuram, afinal, métodos de autocomposição. As próprias partes resolvem a


controvérsia – ainda que com o auxílio de uma figura intermediária (o mediador ou conciliador)
para manejar as técnicas negociais.

A mediação e a conciliação visam a um acordo. É a vontade das partes que deve emergir do
processo, e não uma sentença vinculante, o que ocorre nas vias judicial e arbitral.

Assim como a arbitragem, ambas têm fundamento no princípio da autonomia da vontade. Elas
ainda são informadas ainda pelos princípios da:

Independência

Imparcialidade

Confidencialidade

Oralidade

Informalidade

Decisão informada (Default tooltip)

A mediação e a conciliação não dispõem, contudo, de qualquer força impositiva. Elas só se


sustentarão enquanto as partes concordarem em se submeter a esse procedimento. Além
disso, o acordo obtido ao final precisa ser homologado em juízo para se tornar um título dotado
de força executiva.
 VOCÊ SABIA

Em 2015, a mediação recebeu uma regulamentação própria com a promulgação da Lei n.


13.140/2015.

VERIFICANDO O APRENDIZADO

1. CONSIDERANDO O TRECHO TRANSCRITO, O SISTEMA LEGAL


BRASILEIRO E, EM ESPECÍFICO, O PROCEDIMENTO DE HOMOLOGAÇÃO
DE SENTENÇA ARBITRAL ESTRANGEIRA, INDIQUE A OPÇÃO CORRETA:
"MEDIANTE A HOMOLOGAÇÃO, A SENTENÇA ESTRANGEIRA ADQUIRE
IDONEIDADE PARA SURTIR NO BRASIL OS EFEITOS QUE LHE SÃO
CARACTERÍSTICOS. NÃO É A HOMOLOGAÇÃO, NOTE-SE, QUE LHE
CONFERE A EFICÁCIA PRÓPRIA DO ATO DECISÓRIO: ELA SOMENTE
PERMITE QUE ESSA EFICÁCIA SE MANIFESTE EM NOSSO TERRITÓRIO;
ISTO É, IMPORTA-A."
(MOREIRA, 2006, P. 46-54)

A) Para ser considerada um título executivo judicial, a sentença arbitral proferida fora do
território nacional deverá se submeter ao processo de reconhecimento, que é de competência
da Justiça Federal.

B) Para ser considerada um título executivo judicial, a sentença arbitral proferida fora do
território nacional deverá se submeter ao processo de reconhecimento, que é de competência
do Supremo Tribunal Federal.

C) Para ser considerada um título executivo judicial, a sentença arbitral proferida fora do
território nacional deverá se submeter ao processo de reconhecimento, que é de competência
do Superior Tribunal de Justiça.

D) Para ser considerada um título executivo judicial, a sentença arbitral proferida fora do
território nacional deverá se submeter ao processo de reconhecimento, que é de competência
da justiça comum.
E) Para ser considerada um título executivo judicial, a sentença arbitral proferida no território
nacional deverá se submeter ao processo de reconhecimento, que é de competência da Justiça
Federal.

2. (TRF – 4ª REGIÃO – 2010 – JUIZ FEDERAL – ADAPTADA) DADA AS


ASSERTIVAS ABAIXO, APONTE A ALTERNATIVA CORRETA.

I – A DELIBAÇÃO É UM SISTEMA JURÍDICO DE HOMOLOGAÇÃO DE


SENTENÇA ESTRANGEIRA QUE TEM FUNDAMENTO NA CORTESIA
INTERNACIONAL PELA QUAL A SENTENÇA ESTRANGEIRA É
REAPRECIADA E EXAMINADA QUANTO AO MÉRITO E À SUA FORMA.
II – O PROCEDIMENTO A SER SEGUIDO PARA A HOMOLOGAÇÃO DE
SENTENÇA ESTRANGEIRA OBSERVA O CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL E
O DO REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
III – SEGUNDO O ENTENDIMENTO MAJORITÁRIO DO TRIBUNAL
COMPETENTE PARA A HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA,
CONTRA ELA É PASSÍVEL DE ARGUIÇÃO COMO DEFESA APENAS A
QUESTÃO RELATIVA À OBSERVÂNCIA DOS REQUISITOS PARA A
HOMOLOGAÇÃO, SENDO VEDADO À ARGUIÇÃO VERSAR SOBRE
OUTRAS QUESTÕES.
IV – É POSSÍVEL A HOMOLOGAÇÃO DE DECISÕES ESTRANGEIRAS QUE
NÃO TENHAM SIDO PROFERIDAS POR AUTORIDADES INTEGRANTES
DO PODER JUDICIÁRIO, CONTANTO QUE TAIS AUTORIDADES TENHAM
EXERCIDO FUNÇÃO JURISDICIONAL, COMO NO CASO DE DECISÕES
ARBITRAIS.

A) Está correta apenas a assertiva III.

B) Está correta apenas a assertiva IV.

C) Estão corretas apenas as assertivas I e II.

D) Estão corretas apenas as assertivas I e IV.

E) Estão corretas apenas as assertivas III e IV.

GABARITO
1. Considerando o trecho transcrito, o sistema legal brasileiro e, em específico, o
procedimento de homologação de sentença arbitral estrangeira, indique a opção correta:
"Mediante a homologação, a sentença estrangeira adquire idoneidade para surtir no
Brasil os efeitos que lhe são característicos. Não é a homologação, note-se, que lhe
confere a eficácia própria do ato decisório: ela somente permite que essa eficácia se
manifeste em nosso território; isto é, importa-a."
(MOREIRA, 2006, p. 46-54)

A alternativa "C " está correta.

A sentença arbitral estrangeira – proferida fora do território nacional de acordo com o artigo 34,
parágrafo único, da Lei n. 9.307/1996 – somente será equiparada a um título executivo judicial
após sua homologação. Ela atualmente é de competência do STJ, informa o artigo 105, I, i, da
Constituição Federal.

2. (TRF – 4ª Região – 2010 – Juiz Federal – adaptada) Dada as assertivas abaixo, aponte a
alternativa correta.

I – A delibação é um sistema jurídico de homologação de sentença estrangeira que tem


fundamento na cortesia internacional pela qual a sentença estrangeira é reapreciada e
examinada quanto ao mérito e à sua forma.
II – O procedimento a ser seguido para a homologação de sentença estrangeira observa
o Código de Processo Civil e o do regimento interno do Supremo Tribunal Federal.
III – Segundo o entendimento majoritário do tribunal competente para a homologação de
sentença estrangeira, contra ela é passível de arguição como defesa apenas a questão
relativa à observância dos requisitos para a homologação, sendo vedado à arguição
versar sobre outras questões.
IV – É possível a homologação de decisões estrangeiras que não tenham sido proferidas
por autoridades integrantes do Poder Judiciário, contanto que tais autoridades tenham
exercido função jurisdicional, como no caso de decisões arbitrais.

A alternativa "B " está correta.

O Art. 961, §1, do CPC autoriza a homologação de decisões não judiciais que, pela lei
brasileira, teriam natureza jurisdicional. Isso significa que uma decisão proferida por uma
autoridade estrangeira que não seja integrante do Poder Judiciário poderá ser reconhecida no
Brasil desde que essa autoridade exerça no exterior uma função que, em nosso país, assuma
uma natureza jurisdicional. Já os árbitros, embora não integrem o Poder Judiciário de um
Estado, claramente exercem uma atividade jurisdicional.

CONCLUSÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Visitamos as linhas mestras do Direito Internacional Privado, disciplina que tem o importante
papel de conciliar o indivíduo na ordem jurídica em que ele está inserido e no próprio mundo.
Vimos como a nomenclatura dessa disciplina esconde sua principal fonte e a diversidade de
matérias por ela abarcadas. Aprendemos ainda em profundidade a dinâmica de funcionamento
da principal delas: o conflito de leis.

O Direito Internacional Privado é, antes de tudo, o direito da tolerância e da diversidade. Por


isso, destacamos que uma de suas incumbências é a tarefa de coordenar a diversidade de
sistemas jurídicos existentes a fim de preservar a segurança jurídica das relações e assegurar
a uniformidade de resultados.

Demonstramos, por fim, que, à medida que as fronteiras entre os países perdem seus
contornos, mais imbricados são os problemas jurídicos que surgem e mais desafiadoras são as
suas soluções. Isso eleva o estudo Direito Internacional Privado à ordem do dia.
AVALIAÇÃO DO TEMA:

REFERÊNCIAS
ANDRIGHI, N. Homologação de decisão estrangeira n. 120. In: HDE 0317356-
19.2016.3.00.0000 EX 2016/0317356-0. Publicado em: 12 mar. 2019.

ARAUJO, N. Direito Internacional Privado: teoria e prática brasileira. 9. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2020.

BASSO, M. Curso de Direito Internacional Privado. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2016.

BATTIFOL, H.; LAGARDE, P. Traité de droit internationale privé. v. 1. 8. ed. Paris: LGDT,
1993.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, 1988.

BRASIL. Emenda Constitucional de Revisão n. 3, de 7 de junho de 1994. Altera a alínea "c"


do inciso I, a alínea "b" do inciso II, o §1º e o inciso II do §4º do art. 12 da Constituição Federal.
Brasília, 1994.

BRASIL. Lei n. 12.376, de 30 de dezembro de 2010. Altera a ementa do Decreto-Lei n. 4.657,


de 4 de setembro de 1942. Brasília, 2010.

BRASIL. Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, 2015.

BRASIL. Lei n. 13.445, de 24 de maio de 2017. Institui a Lei de Migração. Brasília, 2017.

CANÇADO TRINDADE, A. A. International law for humankind: towards a new jus gentium (I).
In: Collected courses of the Hague Academy of International Law. v. 316. Boston: Martinus
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DEL’OLMO, F. S. Curso de Direito Privado. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.

DOLINGER, J. Direito Internacional Privado. 14. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2018.

DOLINGER, J.; TIBURCIO, C. Direito Internacional Privado. 15. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2020.

MARQUES, J. F. Instituições de Direito Processual Civil. v. 1. Campinas: Millenium, 2000.


MOREIRA, J. C. B. Breves observações sobre a execução de sentença estrangeira à luz
das recentes reformas do CPC. In: Revista IOB – Direito Civil e Processual Civil. v. 7. n. 42.
jul./ago. 2006. p. 46-54.

PEREIRA, C. M. S. Instituições de Direito Civil. 25. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012.

RAMOS, A. C. Curso de Direito Internacional Privado. São Paulo: Saraiva, 2018.

RIBEIRO, M. A. Introdução ao Direito Internacional Privado. Coimbra: Almedina, 2000.

SANTOS, A. M. do. Defesa e ilustração do Direito Internacional Privado. In: Suplemento.


1998.

VALLADÃO, H. Direito Internacional Privado. v. 1. 2. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1977.

VARGAS, D. A nacionalidade brasileira dos filhos brasileiros nascidos no exterior, após a


emenda constitucional de revisão n. 3. In: TIBURCIO, C.; BARROSO, L. R. (Org.). O direito
internacional contemporâneo. Rio de Janeiro: Renovar, 2006.

EXPLORE+

Acesse o site da Conferência da Haia de Direito Internacional Privado para saber mais
sobre as iniciativas de harmonização desse ramo do direito promovidas por tal
organização internacional.

Assista, no YouTube, ao seguinte documentário interativo a respeito do famoso caso que


envolveu o tema da condição jurídica do estrangeiro: Ronald Biggs e o assalto ao trem pagador
– Nerdologia Criminosos. Publicado em: 30 abr. 2019.

Para um relato histórico mais aprofundado e uma análise crítica a respeito do real
posicionamento da jurisprudência brasileira, leia este texto:

BINENBJOM, G. Monismo e dualismo no Brasil: uma dicotomia afinal irrelevante. In: Revista
da EMERJ. v. 3. n. 9. 2000. p. 180-195.
CONTEUDISTA
Carolina França de Noronha

 CURRÍCULO LATTES

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