Regras de Dedução Natural
Regras de Dedução Natural
Regras de Dedução Natural
Desidério Murcho
1 (2 p 1
) E∧
Pre (2
q
m )
(3 p∧ 1,2
1,2
) q I∧
(2 p∧ 1,1
1
) p I∧
(2 1
1 p
) E¬
(3
2 p 2 E∧
)
(4 1,3
1,2 q
) E→
(5
2 ¬q 2 E∧
)
(6
1,2 q ∧ ¬q 4,5 I∧
)
(7 ¬(p ∧
1 2,6 I¬
) ¬q)
Pre (2
¬p
m )
(3
Sup ¬q
)
(4 p∧ 1,2
1,2
) ¬p I∧
(5 3,4
1,2 ¬¬q
) I¬
Pre (2
¬p
m )
(3
Sup ¬q
)
(4 1,2
1,2 p ∧ ¬p
) I∧
1,2, (6
p ∧ ¬p 5 E∧
3 )
(7 3,6
1,2 ¬¬q
) I¬
1,2 (8 q 7 E¬
)
Pre (2 p→
m ) q
(3 1,2
1,2 q
) E→
(2
Sup p
)
(3 1,2
1,2 p∧q
) I∧
(4 p→ 2,3
1
) (p ∧ q) I→
Dado que o passo (3) depende de (2), podemos concluir que a fórmula do
passo (2) implica a fórmula do passo (3). A nossa nova fórmula já não depende
de (2), mas apenas de (1).
Esta regra é muito usada nas derivações cuja conclusão seja uma
condicional. Repare-se que o sequente demonstrado acima é o seguinte: q
p → (p ∧ q). A conclusão do sequente é uma condicional cuja antecedente foi
introduzida na derivação anterior como uma suposição que depois eliminámos
através da regra I→.
(2
Sup p∧q
)
(3
2 q 2, E∧
)
(4
Sup q∧r
)
(5
4 q 4, E∧
)
(6 1,2,3,4,5
1 q
) E∨
(2 p∨ 1
1
) q I∨
(2 (p → q) ∧
1 1 E↔
) (q → p)
Pre (2
q→p
m )
(3
1,2 p↔q 1,2 I↔
)
Dada uma fórmula da forma ∀x Ax, podemos inferir At. t tanto pode ser um
nome arbitrário, a, como um nome próprio, n; mas, em qualquer caso, tem de
substituir todas as ocorrências de x em Ax. Por exemplo:
Pre (1
∀x Fxm
m )
Pre (2
∀y (Gy ∧ Fy)
m )
(3
1 Fnm 1 E∀
)
(4
2 Gn ∧ Fn 2 E∀
)
Pre (2
∀x Fx
m )
(3
1 Fa → Ga 1 E∀
)
(4
2 Fa 2 E∀
)
(5 3,4
1,2 Ga
) E→
(5
1,2 ∀x Gx 5 I∀
)
(3
1 ∃ x Fx 1 I∃
)
(4
2 ∃y Gy 2 I∃
)
(5 ∃x Fx ∧ ∃y 3,4
1,2
) Gy I∧
(2
Sup Fa ∧ Ga
)
(3
2 Fa 2 E∧
)
2 (4 ∃x Fx 3 I∃
)
(5 1,2,4
1 ∃ x Fx
) E∃
(2
Sup ∃x ¬Fx
)
(3
Sup ¬Fa
)
(4
1 Fa 1 E∀
)
(5
1,3 Fa ∧ ¬Fa 3,4 I∧
)
(6
3 ¬∀x Fx 1,5 I¬
)
(7 2,3,6
2 ¬∀x Fx
) E∃
(8 ∀x Fx ∧
1,2 1,7 I∧
) ¬∀x Fx
(9
1 ¬∃x ¬Fx 2,8 I¬
)
(2
n=n I=
)
(3 1,2
1 Fn ∧ n = n
) I∧
(4 Fn → 1,3
) (Fn ∧n = n) I→
Pre (2
Fm
m )
(3 1,2
1,2 Fn
) E=
Esta regra corresponde à nossa intuição de que se for verdade que António
Gedeão é Rómulo de Carvalho, tudo o que for verdade de António Gedeão
será verdade de Rómulo de Carvalho.
Apesar de esta regra ser de uma clareza irrepreensível há contextos nos
quais a sua aplicação dá origem a falácias. Chamam-se intensionais a esses
contextos.
Concluímos assim a apresentação das regras primitivas de dedução
natural para a lógica clássica. Com estas regras apenas é possível gerar
demonstrações económicas de alguns dos teoremas mais importantes da lógica
e de algumas das formas mais comuns de argumentos dedutivos. No entanto,
podemos acrescentar a estas regras primitivas uma regra de inserção de
teoremas que nos permitirá introduzir em qualquer derivação qualquer
teorema da lógica clássica, o que permitirá obter resultados ainda mais
económicos. Podemos também introduzir uma regra de introdução de
sequentes que nos permitirá introduzir qualquer sequente derivável no
decurso de uma derivação.
Além de oferecer demonstrações geralmente bastante mais económicas
do que as demonstrações dos sistemas axiomáticos, os sistemas de dedução
natural têm outras vantagens. Uma das mais importantes é o facto de tornar
evidente que a lógica não consiste (ou, pelo menos, não consiste apenas) no
estudo das verdades lógicas, mas antes no estudo da inferência dedutiva. A
sua importância filosófica torna-se assim irrecusável, uma vez que grande
parte dos argumentos dos filósofos são dedutivos.
Para terminar, resta-nos referir algumas variações no estilo de
demonstrações em dedução natural. Alguns autores indicam as dependências,
na coluna 1, entre colchetes, {}, transmitindo assim a ideia de que estão a
apresentar o conjunto de dependências. Esta prática tem a vantagem de
tornar ainda mais claro o facto de na dedução natural cada passo de uma
demonstração exibir um sequente válido, uma vez que um sequente
como p, p → q q é constituído por um conjunto de premissas: {p, p → q}.
Outra variação menor diz respeito à indicação das suposições e
premissas. Alguns autores não distinguem premissas de suposições. Outros
autores indicam a presença de premissas não na coluna 1, como nós, mas na
coluna 4. Na coluna 1 colocam o número do passo no qual estamos a
introduzir a própria premissa ou suposição. Este método tem vantagens na
exposição das regras.
Os enquadramentos usados nas regras E∃ e E∨ não são usados por muitos
autores, mas são uma ajuda preciosa para o estudante. Por outro lado, alguns
autores suprimem a coluna 1, substituindo-a por traços verticais que indicam
as dependências em causa. Outros ainda fazem todas as derivações dentro de
caixas, de modo que as dependências são imediatamente visíveis. Qualquer
que seja a variação, o método de dedução natural revela-se um instrumento
filosófico flexível e imprescindível.
Desidério Murcho
Retirado de Enciclopédia de Termos Lógico-Filosóficos, org. João Branquinho e Desidério Murcho
(Gradiva, 2001)