Resumos 11º Exame Filosofia

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Conhecimento

Etimologicamente, o termo conhecimento tem a sua raiz na palavra


latina cognítio (cum+gnosco), que significa "captação conjunta". Em
termos gerais, refere-se á relação estabelecida entre um sujeito que
conhece (cognoscente) e um objeto que é conhecido. Conhecer é,
assim, tornar presente um objeto (externo ou interno) e formar uma
representação dele.

Conhecimento

Um sujeito apreende um objeto

aquele que conhece aquele que é conhecido

Correlação: o sujeito só é sujeito em relação a um objeto e este só é


objeto em relação a um sujeito.

Interação: o sujeito interage com a realidade, e é desse processo que o


conhecimento emerge.

Representar o objeto é também, em certa medida, construi-lo


Análise fenomenológica do ato de conhecer

O sujeito sai de si

3 2

O sujeito regressa a si, O sujeito está

modificado trazendo uma fora de si e

representação mental do objeto. apreende as

características

do objeto.

Método = caminho para…

Epistemologia = ramo da filosofia que estuda a ciência dos


conhecimentos.

O problema da definição de conhecimento

Saber – prático Saber – que Conhecimento por contacto

(conhecimento por (conhecimento

Aptidão ou saber – como) proposicional)

Conhecimento prático ou conhecimento de conhecimento direto de

Conhecimento de atividade. proposições ou alguma realidade.

pensamentos verdadeiros.

Ex: saber cozinhar Ex: saber que “2+2=4” Ex: conhecer Paris
O saber-que também se designa por conhecimento factual, podendo ser expresso
com outras locuções: por exemplo "sei onde", "sei quando", "sei quem" etc.

Platão

• Tradicionalmente, define-se conhecimento como sendo crença


verdadeira justificada. Conhecida também como:

CVJ

Crença Justificação (prova)

(acredito)

Verdadeira (aquilo

que coincide com

realidade/ facto)

• Estas são as 3 condições necessárias e suficientes, segundo


Platão, para existir conhecimento.

• Nem toda a crença é conhecimento.

• Mas não existe conhecimento sem crença.

Crença e Conhecimento

Possuímos muitas crenças. Admitimos, por exemplo, que existem


outras espécies e outras mentes para além das nossa, que comer
fruta e legumes é importante pra nos mantermos saudáveis.

Uma crença é, assim, um tipo particular de estado mental.

Acreditar que o lince-ibérico é uma espécie protegida é representar


na nossa mente o mundo de uma dada forma.

Todo o conhecimento tem, por isso, de ser crença.

A crença (representação, ideia ou convicção) é uma condição


necessária para o conhecimento.

Saber sem acreditar é uma impossibilidade. Se sei algo, então


represento mentalmente esse algo, ou seja, tenho imagens mentais
ou conceitos, neste caso os conceitos de lince e de espécie protegida,
por exemplo, e acredito que o mundo é de uma dada maneira.
Mas será a crença condição suficiente para o conhecimento?

➢ S acredita que O lince-ibérico é uma ave

• Poderemos nós dizer que S sabe que 0 lince-ibérico é uma ave?


Não, dado que S possuiu uma crença evidentemente falsa. O
lince-ibérico é um mamífero e não uma ave.
• Não há conhecimento sem crença, mas este e outros exemplos
facilmente nos mostram que pode haver crença sem
conhecimento: todo o conhecimento é crença, mas nem toda a
crença é conhecimento.

Verdade e conhecimento

• Para haver conhecimento, é necessário que as nossas crenças


sejam verdadeiras.
• Será verdadeira se, e só se, for um 1 facto que o lince- ibérico é
uma ave. Dado não existir correspondência entre a crença de S
e a realidade, uma vez que o mundo fora das nossas mentes
não é do modo como a crença o descreve, estamos perante
uma crença falsa e não na posse de conhecimento.
• Todo o conhecimento é crença verdadeira.

Justificação e conhecimento

• Nem todas as crenças verdadeiras são conhecimento. Acertar


por acaso, sem que qualquer explicação ou prova sustente a
sua crença verdadeira.
• Além da crença verdadeira, precisamos de ser capazes de
esclarecer como sabemos.
• Por vezes, podemos ter boas razões para acreditar em
falsidades. Contudo, se duas crenças incompatíveis ou
inconsistentes estão justificadas, então, pelo menos uma delas
é falsa.

Os contraexemplos de Gettier

• Gettier não questiona que crença, verdade e justificação sejam


condições necessárias.
• A sua crítica passa por colocar reservas á suficiência das três
componentes básicas da teoria tradicional.
• A crítica de Gettier abriu fendas na definição tradicional.
• Sucede que a resposta ao problema levantando não é tão
simples de resolver como á primeira vista possa parecer.
• Podemos imaginar casos de Gettier, isto é, contraexemplos á
definição tradicional ou tripartida, que não impliquem crenças
falsas.
• Será necessária uma quarta condição?
• O filósofo limitou-se a apresentar contraexemplos, não sugeriu
uma solução.
• Mas os contraexemplos de Gettier adensaram o interesse e a já
longa discussão em torno de conceitos nucleares, como o
conceito de verdade e, sobretudo, o de justificação.

Em síntese…

• O conhecimento proposicional, ou saber-que, é o objeto de


estudo de epistemologia, uma das disciplinas centrais da
filosofia.
• Para definir conhecimento, precisamos de identificar as
condições necessárias e suficientes do conhecimento.
• A crença é condição necessária para o conhecimento: todo o
conhecimento é crença, mas nem todas as crenças são
conhecimento.
• A verdade é condição necessário para o conhecimento: todo o
conhecimento é crença verdadeira, mas nem todas as crenças
verdadeiras são conhecimento
• A justificação é condição necessária para o conhecimento: todo
o conhecimento é crença justificada, mas nem todas as
crenças justificadas são conhecimento
• Desde Platão, crença, verdade e justificação são entendidas
como condições necessárias e cumulativamente suficientes
para o conhecimento
• O ataque mais influente á teoria CVJ, ou definição tripartida,
foi lançado pelo filósofo Gettier, que apresentou um conjunto
de contraexemplos á teoria tradicional do conhecimento
• Os casos de Gettier abrem a possibilidade de crença, verdade e
justificação serem insuficientes para a definição de
conhecimento.

O desafio cético

Principais argumentos

Dogma: verdade/algo que não pode ser questionado.


Ceticismo: aquilo que duvída

Ceticismo

Perspetiva epistemológica que

Nega total ou parcialmente a

Possibilidade do conhecimento

Ceticismo global ou pirrónico Ceticismo localizado

(não há conhecimento) (não podemos conhecer

Algumas categorias)

• O ceticismo é o oposto de dogmatismo

• Ceticismo global: não podemos saber o que quer que seja acerca
do mundo. Nenhuma das nossas crenças até justificada.

• Ceticismo localizado: não podemos ter conhecimento sobre


certas categorias de factos (as outras mentes, Deus ou futuro,
por exemplo).

• Estejamos a falar de ceticismo localizado (moderado ou


mitigado) ou global (radical ou pirrónico), o certo é que o
ceticismo e os argumentos céticos não podem ser ignorados,
pois levantam importantes questões sobre a possibilidade do
conhecimento, um problema central na investigação
epistemológica.

• Enfrentar o problema da possibilidade do conhecimento é, pois,


procurara responder ao desafio cético, investigar se o
conhecimento é possível, se as nossas crenças são
efetivamente justificadas e se a procura de conhecimento irá a
algum dia levar-nos a algum lado.
• Tal como Gettier, os defensores do ceticismo não questionam a
necessidade de três condições da definição concordam que,
para haver conhecimento, tem que existir crença verdadeira
justificada. Limitam-se duvidar da possibilidade de justificação
das nossas crenças.

Clarificação do problema

• Perspetiva cética pode ser resumida nos termos que se seguem:

➢ Se S sabe que P, então não é possível que S esteja


enganado acerca de P
➢ É possível que S esteja enganada acerca de P
➢ Logo, S não sabe P

• Este argumento é válido (modus tollens)


• Mas será o argumento do ceticismo sólido.

Principais argumentos céticos

Argumento da regressão da justificação

• Dizemos que há conhecimento quando as nossas crenças


verdadeiras estio justificadas, isto é, quando temos boas razões
para acreditar que as crenças que temos são verdadeiras.
Acontece que apelar boas razões para justificar uma dada
crença é suporta-la em outras crenças que possuímos.

• Isto levanta um desafio importante, o da regressão da


justificação.

Crença A

(Suportada ou justificada pela) Crença B

(Suportada ou justificada pela) Crença C

(Suportada ou justificada pela) Crença N


Quando pretendemos justificar uma crença por intermédio de outras
crenças estão disponíveis três alternativas mutuamente exclusivas e
igualmente desconcertantes (trilema de Agripa).

➢ Ou regredimos infinitamente na cadeia de justificações.


➢ Ou paramos arbitrariamente numa crença não justificada
➢ Ou raciocinamos em círculo (petição de princípio).

Nenhuma destas três alternativas (as únicas possíveis, afirmam os


céticos) resolve o embaraço da regressão da justificação.

Argumento da ilusão de sentidos

• Estamos cientes de que os sentidos por vezes nos enganam e


que tal pode acontecer em qualquer ocasião e com qualquer
uma das modalidades sensoriais - visão, audição, tato, paladar
e olfato.
• Por isso, nenhum de nós ficará surpreendido com a afirmação
cética de que a nossa perceção dos objetos fora das nossas
mentes pode, por vezes, conduzir-nos à ilusão e ao erro
• Se os sentidos nos enganam algumas vezes, então nunca
podemos ter a certeza de não estarmos a ser iludidos por eles.
Assim sendo, as crenças fundadas nos intermediários
percetuais não estão justificadas.

Argumento do sonho

• Se não nos é possível distinguir o sono da vigília, então existe


a possibilidade engano.
• Não podemos estar seguros de que as nossas perceções atuais
representam adequadamente a realidade.
• Enquanto dormimos, não estamos a ser enganados pelas
representações deste ou daquele sentido particular.
• Todos os nossos sentidos estão, simultaneamente, a ser
iludidos.

Argumento do cérebro numa cuba

Supõe que, enquanto dormia, um ser humano - tu, por exemplo - foi
sedado e raptado por um cientista malévolo e, seguidamente, levado
para um laboratório. O seu cérebro foi removido e colocado num
reservatório que inclui todos os nutrientes necessários para o
manter vivo. Foi, além disso, ligado a um sofisticado computador que
alimenta diretamente a rede de neurónios com estímulos
eletroquímicos, gerando representações mentais e fazendo-o
acreditar que se move num mundo perfeitamente normal.

Quando a vítima acorda, a sua perceção revela que há pessoas,


árvores, habitações, céu e há até um manual de filosofia que narra
uma experiência mental extravagante de um cérebro mergulhado
numa cuba. Neste cenário ilusório, as experiências sensoriais
simuladas pelo computador - visuais, auditivas, táteis, olfativas e,

inclusive, de paladar - são indistinguíveis das experiências que o teu


cérebro está a receber neste instante.

• Podes estar seguro de não seres um cérebro numa cuba?


• Há boas razões para excluíres como falsa esta possibilidade?
• Se a hipótese, por ínfima que seja, de sermos cérebros numa
cuba não pode ser rejeitada, então parece que não podemos
saber o que quer que seja.
• Se S sabe que P, então S sabe que não é um cérebro numa cuba
• S não sabe que não é um cérebro numa cuba.
• Logo, S não sabe que P.

René Descartes

A resposta Racionalista

A teoria racionalista

Chamamos racionalismo as teorias epistemológicas que identificam


como fonte do conhecimento o pensamento ou razão.

Os racionalistas enfatizam assim O papel do pensamento, afirmando


que este, só por si e sem auxílio da experiência, garante a aquisição
e justificação do conhecimento. Neste sentido, o racionalismo é
comumente contrastado com o empirismo.

A principal fonte de
Racionalismo
aquisição e justificação do
conhecimento é a razão.

Qual é a principal fonte de


aquisição e justificação do
conhecimento

A principal fonte de
Empirismo aquisição e justificação do
conhecimento é a
experiência.
• Para o racionalismo, a razão só por si e sem auxílio da
experiência garante a aquisição e justificação do
conhecimento.
• O racionalismo é comumente contrastado com o empirismo
• O racionalismo despreza o papel dos sentidos e defende que o
conhecimento deve satisfazer dois critérios: necessidade lógica
e universalidade.
• O ideal de conhecimento racionalista pressupõe a natureza
dedutiva do saber a partir de primeiros princípios ou crenças
fundacionais que não são suportadas por quaisquer outras
crenças e que são infalíveis (não podem estar erradas) e
indubitáveis (não podem ser postas em dúvida).
• Dado que estas crenças básicas ou fundacionais são os pilares
sobre os quais se deve erguer todo o conhecimento, afirmamos
que o racionalismo abraça o fundacionalismo.
• Para o racionalismo, uma crença estará justificada, se, e só se,
essa justificação representar uma prova incontestável.

Fundacionalismo

O conhecimento é um sistema unificado de crenças cuja justificação


tem por base crenças básicas ou fundacionais que são
autojustificadas.

Conhecimento a priori: Diz-se do que pode ser conhecido através do


pensamento, com a independência da experiência.

Conhecimento a posteriori: Diz-se do que só pode só pode ser


conhecido com e através da experiência.

• Pensadores racionalista, como Descartes, atribuem ao


conhecimento a priori um papel fundamental.

Da dúvida ao cogito

• Descartes procurou responder aos argumentos céticos e


reabilitar a confiança na razão e, por isso, centra-se numa
questão epistemológica fundamental:
O que posso eu conhecer com certeza?

• Para refutar o ceticismo e mostrar que o conhecimento está ao


nosso alcance, através da razão, Descartes pensa ter
descoberto um método infalível, a dúvida.
• Rejeitar qualquer crença que admita a mais pequena dúvida,
descobrir princípios indubitáveis – crenças básicas - e, a partir
deles, inferir por dedução, de modo a que tudo o que seja
derivado desses princípios seja também absolutamente certo,
eis o caminho que decide seguir Descartes.
• A dúvida cartesiana é distinta da dúvida cética. O objetivo de
Descartes é alcançar certezas e não permanecer na dúvida e
suspender o juízo.

➢ Metódica
➢ Voluntária
➢ Provisória
➢ Universal
➢ Hiperbólica
➢ Sistemática

Crença indubitável Aceite, porque


justificada
(que resiste à dúvida)

Dúvida metódica

(voluntária, provisória,
universal, hiperbólica e
sistemática)

Crença falsa ou
Rejeitada, porque
duvidosa
injustificada
(que não resiste à
dúvida)

Primeiro nível da dúvida – Os sentidos enganam-nos

• Se os nossos sentidos nos enganam, ainda que apenas algumas


vezes - e é um facto incontestável que assim é -, então o
melhor é não confiarmos neles nunca.
• Manda a prudência que não confiemos neles, mesmo que
algumas das crenças que neles fundámos - ou mesmo que em
larga medida - possam ser verdadeiras.
• Os sentidos não são fundamentos infalíveis.

Segundo nível da dúvida – Vigília e sono não se podem distinguir

• Mais uma vez, o exercício da dúvida metódica parece dar razão


aos céticos. Não é possível distinguir o sono da vigília.
• É perfeitamente possível que esteja neste momento a dormir e
a sonhar, ainda que acredite estar acordado. A hipótese de
estar a sonhar não pode ser rejeitada.
• Os sentidos e a experiência não são fonte de verdades
indubitáveis.

Terceiro nível da dúvida - A possibilidade de um génio maligno

• Suponhamos, propõe Descartes, que existe um ser


infinitamente inteligente e poderoso, pleno de maldade um
génio maligno, cujo único propósito é enganar-nos.
• Um tal ser - caso existisse - poderia fazer-nos acreditar em
falsidades, poderia divertir-se, fazendo-nos crer que temos um
corpo não o tendo ou iludir-nos em relação a cálculos
matemáticos simples como a soma de dois mais dois.
• A hipótese de estarmos a ser manipulados por um espírito
maléfico lança agora a desconfiança sobre as crenças que
frequentemente tomamos como certas, tal como as verdades
matemáticas (a priori) e a existência do mundo físico fora das
nossas mentes.
• Não podemos confiar nos nossos sentidos nem nos poderes da
razão enquanto fontes de conhecimento fiáveis.

A descoberta do cogito

• O método cartesiano (a dúvida) faz surgir uma primeira


certeza invulnerável à dúvida: a existência do sujeito que
duvida.
• A dúvida atua sobre todos os objetos do conhecimento, mas
não pode atuar sobre a existência daquele que assim duvida.
• Duvidar e pensar e para pensar e preciso existir.
• Seria racionalmente contraditório pensar e não existir.
• A existência do eu que pensa (ou cogito) é assim uma certeza
inabalável que resiste, inclusivamente, à dúvida hiperbólica, à
extravagante ficção de um génio maligno que deliberadamente
o enganasse.
• Eu, que penso e que me posso enganar ou ser enganado OU
mesmo duvidar da existência do meu corpo e da própria
realidade física, bem como de todas as crenças dos sentidos e
da razão, devo necessariamente ser qualquer coisa e não nada.
• Cogito: substância pensante descoberta por intuição racional a
partir do exercício da dúvida. Primeira verdade indubitável do
sistema cartesiano.

Penso logo existo.


Eu sou, eu existo.

O génio Mas quando


Não há nada
maligno pode afirmo eu sou,
de que eu
fazer-me eu existo, não
possa ter
acreditar em posso estar
certeza.
falsidades. enganado
sobre isso.

O génio
maligno só me
Penso, logo
pode fazer crer
existo.
em falsidades
se eu realmente
existir.

Do cogito á existência de Deus

Por que razão esta Descartes tão seguro da certeza do cogito? O que
faz com que o cogito seja invulnerável à dúvida? Qual é a chave da
indubitabilidade do sujeito que pensa? O filósofo responde: o facto de
o cogito ser percebido com clareza e distinção.

Um critério de verdade - Clareza e distinção

• Porque razão está Descartes tão seguro da certeza do cogito? O


que faz com que o cogito seja invulnerável a dúvida? Qual é a
chave da indubitabilidade do sujeito que pensa? O filósofo
responde: o facto do cogito ser percebido com clareza e
distinção.
• A descoberta da existência do sujeito que pensa, do cogito,
acontece não por inferência a partir de outras crenças ou
conhecimentos, mas por intuição racional ou intelectual, isto
é, por conhecimento direto e imediato, sem qualquer raciocínio
e sem qualquer dúvida.
• O cogito é uma evidência, algo que é presente e manifesto a
qualquer espírito atento e que, à luz da razão, percebemos de
modo preciso, nítido, com toda a clareza e distinção.
• Daqui, Descartes extrai o seu critério de verdade:

É verdade tudo aquilo que concebemos muito clara e distintamente.

➢ O cogito é uma verdade clara e distinta (evidente).


➢ O cogito é uma verdade absolutamente primeira.
➢ O cogito é uma verdade exclusivamente racional.
➢ O cogito é uma verdade autojustificada a priori.
➢ O cogito é uma crença básica ou fundacional
➢ O cogito resiste aos argumentos céticos.
➢ O ceticismo global foi refutado.

Dualismo cartesiano

• Eu sou eu existo, sabe agora o filósofo. Mas o que sou eu? Sou
apenas uma coisa pensante (res cogitans), uma substância
mental, cuja essência é pensar. Sou um intelecto ou uma razão
que duvida, compreende, afirma, nega, quer, não quer, imagina
e sente.

• Pode Descartes, nesta fase da sua indagação, estar certo da


existência do seu corpo como o está da sua mente? Não, pois o
seu corpo, ao contrário da mente, é matéria, faz parte do
mundo fisico, e os argumentos céticos lançaram a suspeita
sobre todas as crenças baseadas nos sentidos e na experiência.

• Esta perspetiva cartesiana é conhecida como dualismo de


substâncias. O nosso corpo e a nossa mente são duas
substâncias radicalmente distintas.

• Por oposição ao cogito, cuja existência é absolutamente


inegável, o seu corpo, a coisa extensa (res extensa), mundo
físico ou substância material continua a ser dubitável.
Mente:

Coisa pensante

Substância mental
(imaterial)

Indubitável

Dualismo de substâncias ou
dualismo cartesiano

Corpo:

Substância física
(material)

Dubitável

Três tipos de verdade

• Ao examinar a sua mente (ou pensamento), Descartes encontra


três tipos distintos de ideias.

Ideias:

• Inatas: Parecem fazer parte desde sempre da sua própria natureza


(ideias de pensamento ou de verdade).
• Adventícias: Aparentam ter sido adquiridas através dos sentidos (ideias
de sol ou de calor).
• Factícias: São invenções forjadas pela imaginação (ideias de sereia e de
hipogrifo).

• Ainda que perceba de forma evidente que possui um corpo e


que o mundo físico é real, que há um Sol e que este é fonte de
calor, que garantia tem de que O que concebe como claro e
distinto é de facto absolutamente verdadeiro.
• Para poder prosseguir, Descartes terá de afastar a possibilidade
de um deus enganador e provar que aquilo que conhece com
clareza e distinção é absolutamente verdadeiro.

• Decidido a encontrar algo ou alguém exterior à sua mente que


possa cumprir o papel de garante da possibilidade de verdades
indubitáveis, Descartes vai procurar um Deus de omnipotente,
omnisciente e inteiramente bom.

• As duas provas que se seguem são baseadas exclusivamente na


razão (a priori, portanto). Ambas têm como ponto de partida
uma mesma premissa: ter em si uma ideia de perfeição ou a
ideia de um ser perfeito.

Argumentos da prova da existência de Deus:

Argumento da marca impressa

• Este e um argumento a priori que se apoia na ideia de


causalidade.
• Deus é ou existe e imprimiu na mente do filósofo a ideia de
perfeição como uma marca inata da ação do artista na sua
obra.

Argumento ontológico

• Este é um argumento a priori que se apoia na definição de


Deus - ser perfeito
• Deus é ou existe

Deus não é enganador

• O que nos autoriza a afirmar que este ser perfeito Deus" não é
enganador? A infinita bondade divina, incluída na sua
perfeição, afirma Descartes.

(P1) Um ser sumamente perfeito tem todas as perfeições.

(P2) A bondade é uma perfeição.

(C) Logo, Deus que é perfeito não pode ser enganador.


Deus como garante epistemológico

• Deus - ideia inata impressa no cogito como uma marca do


criador na criatura e, simultaneamente, entidade exterior à
sua mente, cuja justificação se encontra na clareza e distinção
com que é descoberto - garante que aquilo que é concebido
como evidente, como claro e distinto, é necessariamente.

O cogito existe Deus existe O mundo físico


existe

• Deus suporta todo O sistema cartesiano e garante a


possibilidade de construir conhecimento substancial (crenças
verdadeiras justificadas) sobre o mundo (refutação do
ceticismo).

Objeções ao racionalismo cartesiano

Descartes incorre numa petição de princípio

• Alguns dos seus mais diretos adversários acusam-no, por


exemplo, de ter incorrido na falácia conhecida como petição de
princípio.

• Esta objeção é conhecida como círculo cartesiano.

• Em linhas gerais, a crítica assinala o facto de o filósofo ter


estabelecido que é absolutamente certo tudo o que
concebemos com clareza e distinção, pois Deus existe e não
tem a intenção de nos iludir e, simultaneamente, afirmado que
Deus existe e não é enganador, já que concebemos com toda a
clareza e distinção a sua existência e bondade.

Estou certo de que Estou certo de que


Deus é ou existe e as ideias claras e
não é enganador, distintas são
pois concebo-o verdadeiras, pois
como uma ideia Deus é ou existe e
clara e distinta. não é enganador.
A dúvida cartesiana é impraticável e incurável

• Um dos mais importantes críticos do racionalismo cartesiano


foi David Hume, pensador do século XVIII de cujo pensamento
nos ocuparemos já no próximo capítulo.

• De acordo com David Hume, a dúvida cartesiana é universal e


estende-se, por isso, a todas as nossas crenças e princípios,
mas põe também sob suspeita as faculdades mentais e as
operações do intelecto.

• Assim sendo, a dúvida metódica de Descartes é, para David


Hume, impraticável e incurável.

• Na melhor das alternativas, considera Hume, O filósofo


racionalista estaria apenas em condições de decretar a
existência de estados de dúvida ou pensamentos.

• Não possível progredir na cadeia de raciocínios além disto, diz


Hume.

Em síntese

• Descartes é um filósofo racionalista e, por isso, privilegia o


conhecimento a priori.

• Descartes elege a dúvida como método, mas isto não faz dele
um cético.

• O objetivo de Descartes é descobrir crenças básicas


absolutamente certas.

• A dúvida cartesiana progride através de três níveis de


argumentos céticos.

• Através da dúvida, Descartes descobre, por intuição racional, a


indubitabilidade da sua existência enquanto coisa pensante:
penso, logo existo.

• Da certeza do cogito, Descartes extrai o seu critério de


verdade: clareza e distinção.
• O cogito é uma verdade conhecida a priori, que resiste a todos
os argumentos céticos.

• No cogito, Descartes encontra três tipos de ideias: inatas,


adventícias e factícias.

• A partir do cogito, Descartes conclui uma segunda certeza: a


existência de Deus.

• Deus, que sendo bom não é enganador, é para Descartes o


garante epistemológico.

• Para os críticos, o fundacionalismo cartesiano não responde,


satisfatoriamente ao desafio cético.

David Hume, a resposta empirista

Qual é a principal fonte de aquisição e justificação do conhecimento?

Empirismo Racionalismo

A principal fonte de A principal fonte de


aquisição e justificação aquisição e justificação
do conhecimento é a do conhecimento é a
experiência. razão.

De acordo com a generalidade das teorias empiristas:

o Todo o conhecimento deriva da experiência.


o A mente está, à partida vazia, é uma tábua rasa ou folha de
papel em branco.
o Não existem ideias inatas.
Empirismo

Fundacionalismo Infabilismo

O conhecimento é um
sistema unificado de
crenças cuja
justificação tem por As crenças básicas ou
base crenças básicas ou fundamentais que
fundamentais. suportam todo o
sistema de crenças têm
As crenças básicas são de ser infalíveis e
as fundações indubitáveis.
autojustificadas sobre
as quais assentam,
através de inferência, as
crenças não básicas.

Impressões e ideias

Impressões simples Ideias simples

Cópias Imaginação Ideias complexas


Impressões complexas Ideias complexas
Perceções

Impressões Ideias

• São os objetos da • São representações


experiência presente ou imagens das
ou atual; impressões;
• Dizem respeito ao • Dizem respeito ao
sentir; pensar;
• São mais vívidas e • São menos vívidas e
intensas; intensas;
• Precedem sempre as • São cópias das
ideias. impressões.

Exemplo: Sinto a dor intensa Exemplo: Penso na dor que


de entalar um dedo. senti ao entalar um dedo.
Relações de ideias e questões de facto

Proposições

Relações de ideias Questões de facto

• São proposições que


podemos conhecer • São proposições que
pela simples são conhecidas pela
operação do observação empírica.
pensamento. São São justificadas a
justificadas a priori; posteriori;
• São verdades • São verdades
logicamente logicamente
necessárias. A sua contingentes. A sua
negação implica uma negação não implica
contradição; uma contradição;
• São • Não são
demonstrativamente demonstrativamente
certas; certas;
• São características • São características
de áreas do das ciências naturais,
conhecimento, como como a física;
a matemática; • Fornecem
• Não fornecem conhecimento
conhecimento substancial.
substancial.

Exemplo: Três vezes cinco é Exemplo: O sol há de


igual à metade de trinta. levantar-se amanhã.

Causalidade

• O nosso conhecimento de relações causais baseia-se na


experiência.

• A causalidade consiste apenas na conjunção constante entre


géneros de objetos ou acontecimentos observáveis.
• Nunca observamos qualquer conexão necessária entre causa e
efeito. A ideia de conexão necessária tem origem num
sentimento interno produzido pelo hábito.

Críticas ao ceticismo radical

Todas as formas de ceticismo radical são indefensáveis:

• O ceticismo cartesiano é incurável. Se começarmos por


desconfiar totalmente das nossas faculdades, nunca
conseguiremos estabelecer qualquer conclusão a partir do
cogito.

• O ceticismo pirrónico é impraticável. Deixar de acreditar em


tudo o que não consigamos justificar, vivendo
permanentemente na dúvida, é algo que está fora do nosso
alcance e que tornaria impossível a ação.

Ceticismo mitigado

Devemos adotar um ceticismo mitigado. O ceticismo resulta das


seguintes conclusões:

• Somos incapazes de justificar a crença de que a natureza é


uniforme, a qual subjaz às nossas inferências causais.

• Somos incapazes de justificar a crença de que o mundo


exterior é real, pois não conseguimos mostrar que as nossas
perceções são causadas por objetos reais.

O cético mitigado ou moderado não reage a estas conclusões como o


pirrónico. Não passa a duvidar de tudo aquilo que não consegue
justificar, mas toma consciência dos limites de entendimento
humano. Isso leva-o a não ser dogmático e a evitar questões
demasiado especulativas.
Epistemologia e a filosofia da ciência

Área da filosofia que se ocupa do estudo das questões relativas à


prática e ao conhecimento científicos.

Algumas questões filosóficas:

• O que é a ciência?
• O que distingue uma boa teoria científica de uma má teoria?
• Qual deve ser o método a adotar em ciência?
• Como progride a ciência?
• Será que o conhecimento científico é objetivo?
• O contexto cultural e social tem alguma influência sobre a
atividade científica?

Distinção entre senso comum e conhecimento cientÍfico

Realidade

Pode ser explorada e compreendida de


diferentes modos.

Existência de diferentes níveis de


conhecimento acerca da realidade.

Senso comum ou Conhecimento


conhecimento vulgar científico

Conhecimento vulgar: tipo de conhecimento superficial, não


especializado em qualquer domínio, mas que apresenta respostas
imediatas e funcionais, visando a resolução dos problemas do dia a
dia.

➢ Conhecimento essencialmente prático, orienta o quotidiano.


➢ Resulta da apreensão sensorial espontânea e imediata da
realidade.
➢ É não disciplinar e imetódico (ao invés do conhecimento
científico).
➢ É um tipo de conhecimento superficial e pouco ou nada
aprofundado.
➢ Conjunto de crenças e opiniões subjetivas, suposições,
pressentimentos, preconceitos e ideias feitas que se traduzem
num conhecimento superficial e, por vezes, erróneo da
realidade.

Serve de alavanca à construção de tipos de conhecimento mais


elaborados, como é o científico.

Conhecimento científico: tipo de conhecimento aprofundado e


especializado em diferentes domínios, construindo explicação dos
fenómenos e tendo por base uma organização teórica e um método.
(metódico e sistemático).

• Desconfia dos sentidos;


• É problematizador e racional;
• Manifesta-se numa atitude crítica;
• É explicativo;

➢ Resulta de uma leitura dos fenómenos diferente da do


conhecimento vulgar e de uma atitude diferente face ao real.
➢ É um nível mais aprofundado do conhecimento da realidade.
➢ Baseia-se em pesquisas e apoiadas em procedimentos
(métodos) coerentes e consistentes relativamente a um
conjunto de pressupostos teóricos.
➢ Faz-se acompanhar de instrumentos de medida (Construção de
conceitos e teorias e Recurso a uma linguagem específica e
rigorosa, geralmente de carácter matemático).

Procura descrever, explicar e prever os fenómenos e as suas relações,


apontando as leis que presidem a tais fenómenos.

• Estes dois tipos de conhecimento distinguem-se através dos


seus objetos de estudo e métodos de estudo.
Subjetividade: É o caráter daquilo que é subjetivo, isto é, que depende
do sujeito cognoscente. Neste sentido, é o representado pelo sujeito
e não o real tal qual ele é.

Senso-comum

Objetividade: designa o caráter do que é objetivo, isto é,


independente e autónomo do sujeito cognoscente. Uma realidade
objetiva é algo que pode valer para todos os sujeitos e tornar-se,
pois, universal.

Conhecimento científico

O problema da demarcação e da verificação

O problema na demarcação trata de perceber e distinguir as ciências


das pseudo-ciências "falsas ciência".

• O que distingue ciência da não-ciência Ou da pseudociência?


Será possível delimitar ciência e outras atividades humanas?
Procurar responder a estas questões é investigar O problema da
demarcação do conhecimento científico.
• As expressões "problema da demarcação" e "critério de
demarcação" foram introduzidas, pelo filósofo Karl Popper.
• A época de Popper foi dominada pelo positivismo lógico do
círculo de Viena.
• Popper conhecia as suas respostas para o problema da
demarcação: a ciência distingue-se da não-ciência e da
pseudociência pelo seu método empírico, que é essencialmente
experimental e indutivo.

Falsificabilidade como critério de demarcação

• Um conceito nuclear da abordagem indutivista é a


confirmação ou verificação das hipóteses.
• Como critério de demarcação o positivismo lógico propõe a
verificabilidade.
• Uma teoria é científica se for empiricamente verificável, isto é,
se a observação e a experimentação puderem fornecer provas
relevantes a favor da sua verdade.
• Para Popper, nem a indução nem a verificabilidade satisfaz
como critério da demarcação.
• Em alternativa, propõe a falsificabilidade, que nos diz que uma
teoria é científica se for empiricamente falsificável, isto é, se
puder ser sujeita á critica e a rigorosas tentativas de
refutação, os testes experimentais que ponham á prova as suas
previsões.

Positivismo lógico Karl Popper

Critério de demarcação: verificabilidade Critério de demarcação:

falsificabilidade

Uma teoria é científica se for

empiricamente verificável. Uma teoria é científica se for

empiricamente falsificável.

O raciocínio é indutivo.

O papel da observação da O raciocínio é dedutivo. O

experimentação é confirmar papel observação da

os enunciados científicos. experimentação é refutar ou

falsificar os enunciados

científicos.

• Por que razão a física de Einstein é uma ciência e a astrologia não?

• Popper responde: porque a física de Einstein, ao contrário da


astrologia, é falsificável, ou seja, e suscetível de ser submetida a
testes pelos quais pode concebivelmente ser refutada.

• Só a falsidade da teoria, diz Popper, pode ser inferida de provas


empíricas. E essa inferência é dedutiva. O método da ciência não é
indutivo mas dedutivo: a falsificação ou refutação de teorias é,
claramente, uma inferência válida, pois obedece à forma
argumentativa A->B, -B ..-A (modus tollens)

Exemplo:

Se a teoria for uma boa explicação da realidade, então ocorre o que a


teoria prevê.

• Não ocorre o que a teoria prevê.


Logo, a teoria não é uma boa explicação da realidade.

A->B, -B..-A (modus tollens)

Teorias falsificáveis e teorias falsificadas

• Usámos as expressões teoria falsificável e teoria falsificada.


• Qual é a diferença entre uma e outra?
• Todas as teorias científicas são falsificáveis.
• Uma teoria que não seja falsificável (testável ou refutável) por
nenhum acontecimento concebível será uma teoria não
científica.
• Uma teoria considera-se falsificada, ou parcialmente
falsificada (refutada ou parcialmente refutada), quando os
indícios contradizem a teoria e o que ela prevê, OU seja,
quando esta não resiste aos rigorosos testes que foi submetida
e se revela parcial OU totalmente errada, ou, dito de outra
forma, quando a teoria não corresponde aos factos.
• Algumas teorias científicas são falsificáveis em maior grau do
que outras.
• As teorias falsificáveis em maior grau são as cientificamente
mais interessantes.
• Quanto mais informação ou maior for o conteúdo empírico de
uma teoria, quanto mais preciso e audacioso for um
enunciado, maior será o seu grau de falsificabilidade.

Maior grau de falsificabilidade Menor grau de falsificabilidade


Quanto mais precisa e mais audaciosa for Quanto menos precisa e menos audaciosa
uma teoria, mais arrisca e mais for uma teoria, menos arrisca e menos
interessante é. interessante é.
Mais informação ou maior conteúdo Menos informação ou menor conteúdo
empírico. empírico.
Menor probabilidade Maior probabilidade.
Maior exposição à refutação. Menor exposição à refutação.
Exemplo: Exemplo:
Os kiwis são aves de cor Os kiwis são aves.
cinzento-acastanhada, com um longo
bico estreito e asas camufladas sob as
penas.
O método científico

Diferentes conceções do método

Método indutivo Método hipotético Método das conjunturas

e refutações

Etapas

Observação–hipótese– Facto/problema-hipótese- Problema-

Experimentação– dedução das consequências da hipótese-dedução

Generalização hipótese- das

verificação/experimentação- consequências da

generalização-teoria/lei hipótese- teste de

previsão empíricas

deduzidas das

hipóteses-

falsificação ou

corroboração

Perspetivas indutivas do método científico

Observação Lei ou teoria


Recolha e registo de Generalização (enunciado
dados, de forma imparcial universal)
e isenta de preconceitos.

Raciocínio indutivo Raciocínio indutivo

Hipótese Hipótese

Suposição ou teoria Suposição ou teoria


explicativa suportada explicativa suportada
pela observação pela observação
São três os aspetos que caracterizam esta forma de entender a
metodologia e a prática dos cientistas:

• O ponto de partida da ciência é a observação.


• A indução é a única forma de produzir ciência.
• A experimentação tem como papel confirmar ou verificar
hipóteses.

Críticas aos positivistas do círculo de Vienna

Popper e outros científicos do indutivismo consideram por:

• O ponto de partida da ciência não é a observação.


• A indução não é a única forma de produzir ciência
• A experimentação não tem como papel confirma ou verificar
hipóteses.

Thomas Kuhn

Destaca o papel que a história da ciência tem na construção da


própria ciência.

Reflete sobre o processo de produção da ciência.

A construção de teorias
Ao contrário da tradição A produção científicas está sempre
positivista, Kuhn não vê o científica dependente de um
cientista como um sujeito depende de conjunto de factos, de
neutro ou isolado, mas sim um paradigma crenças e conhecimentos,
condicionado e científico. regras, técnicas e valores
contextualizado. compartilhados e aceites
pela maioria dos cientistas.

O paradigma funciona como um modelo de referência na descoberta


e resolução de problemas, no interior da comunidade científica.
• Tal como Popper, Kuhn foi um crítico das teorias indutivistas e
da sua perspetiva de progresso na ciência, mas foi-o também
de Popper e do falsificacionismo.

• Na perspetiva de Kuhn, as transformou no conhecimento


científico ocorrem por meio de situações de confronto ou de
rutura, de batalhas, ou, mais precisamente, por meio de
revoluções científicas.

• Uma revolução científica supõe, para Kuhn, o abandono de uma


estrutura teórica e prática (a que chama paradigma), isto é, de
um certo modo de ver o mundo e de praticar ciência, que é
substituída por uma outra incompatível e incomparável com
ela.

• Para Kuhn existe um corte de paradigmas

• O paradigma é um conjunto de coisas sobre o qual os


cientistas trabalham.

• A forma que cada um observa o mundo interfere na maneira


que é feita a ciência/ produz ciência.

Principais Temas que devemos responder segundo os autores

(Popper e kuhn)

✓ Questão da demarcação
✓ Questão da objetividade/ verdade
✓ Como conhecer o conhecimento científico?

• Quando abordamos o problema da evolução do conhecimento


científico, procuramos saber se as teorias que defendemos na
atualidade estão mais próximas da verdade do que as
anteriores, ou seja, investigamos se a ciência evolui de uma
maneira progressiva, se há em ciência progresso cumulativo.

• A refletirmos sobre o problema da objetividade do


conhecimento científico questionamos se a mudança na
ciência é guiada por princípios puramente racionais ou se, em
contrapartida, na escolha entre teorias rivais interferem
fatores de outra ordem, como, por exemplo, as pressões a que a
comunidade científica está sujeita por parte das autoridades
políticas, religiosas ou da sociedade em geral.

• Enquanto o racionalismo crítico de Karl Popper defende que as


mudanças em ciência são guiadas por princípios racionais e
representam um progresso efetivo e gradual aproximação á
verdade, o historicismo de Thomas Kuhn defende que a escolha
de uma teoria é influenciada por fatores psicológicos,
sociológicos, políticos e históricos, que afetam a racionalidade
do processo de mudança e que tornam impossível a
comparação entre teorias rivais.

A resposta do racionalismo crítico de Karl Popper

Há progresso em ciência?

• As teorias científicas, diz Popper, permanecem para sempre


injustificadas e injustificáveis.

• Somos guiados pela procura de teorias verdadeiras e por isso


nos esforçamos tanto por eliminar erros. Contudo, é apenas
isto que está ao nosso alcance: discutir criticamente teorias,
na esperança de eliminar erros e de substituir teorias piores
(mais fracas) por teorias melhores (mais fortes).

• A verosimilhança ou proximidade á verdade, á medida que


comparamos e substituímos teorias, é o mais longe que
podemos ambicionar. Sabemos que nos aproximamos
progressivamente da verdade. Quando e se alcançamos, não
podemos saber.

• O erro é, por isso, para Popper, o motor do progresso na ciência.


Se uma teoria ou tentativa de resposta ao problema não
resiste á falsificação, é abandonada é substituída por outra ou
modificada.

A ciência é objetiva?

Para Popper, o conhecimento científico, enquanto sistema de


enunciados (proposições) que podem ser comparados, submetidos á
discussão crítica e a um método baseado numa forma de inferência
valida, é- ainda que agora e sempre hipotético e conjetural- racional
e objetivo.
Críticas à perspetiva de Popper

• O racionalismo crítico é historicamente incorreto, já que nem


sempre descreve com rigor os desenvolvimentos científicos
mais importantes nem se ajusta à realidade da história da
ciência.

• O facto de o falsificacionismo sobrevalorizar o papel do erro e


desprezar as previsões bem-sucedidas, bem como o seu papel
no desenvolvimento da ciência.

Progresso de desenvolvimento da ciência

Fase da atividade científica que


ocorre no âmbito de um dado
paradigma aceite pela comunidade
Ciência normal:
científica. Consiste essencialmente
na resolução de enigmas (quebra-
cabeças) de acordo com a aplicação
dos princípios, regras, conceitos do
paradigma vigente.

Anomalias: Enigmas persistentes, factos a que o


paradigma não é capaz de responder.

Fase de tomada de consciência da


insuficiência do paradigma vigente
Crise: para explicar todos os factos ou
anomalias. Vive-se um clima de
insatisfação e insegurança.

Fase de questionamento dos


Ciência pressupostos e fundamentos do
paradigma vigente. Gera-se o debate
extraordinária: sobre a manutenção do paradigma
(velho) ou a escolha de um novo
paradigma.
Revolução Fase de mudança e aceitação de um
novo paradigma pela comunidade
científica: científica.

Paradigma: conjunto de crenças,


regras, técnicas e valores
compartilhados e aceites por uma
comunidade científica e que orientam
Novo paradigma: a sua atividade. Corresponde a um
modo de fazer ciência de perceber,
abordar e resolver problemas, que se
institui no seio dessa comunidade.

Dois momentos fundamentais de progresso no interior da ciência

Durante o período de ciência normal: O cientista, sem se desviar do


paradigma de referência, faz um estudo cada vez mais específico e
aprofundado dos fenómenos. A resolução de novos enigmas significa
a possibilidade de validar novos resultados sem pôr em causa as
teorias do paradigma vigente.

No período das revoluções científicas: Nesta altura, ocorrem novas


descobertas, que obrigam a mudanças revolucionárias, porque não se
ajustam ao paradigma anterior.

• Os paradigmas são incomensuráveis, isto é, são incomparáveis e


incompatíveis. Não podemos comparar objetivamente aquilo que
cada paradigma defende, pois correspondem a formas totalmente
diferentes de explicar e prever os fenómenos.

Interpretação diferente do progresso da ciência

O progresso científico não pode ser entendido como um


processo contínuo e cumulativo de teorias ou paradigmas cada
vez melhores em direção a uma meta ou fim.
Se não podemos afirmar que um paradigma é melhor que o
antecessor, também não podemos afirmar que, ao ocorrer uma
mudança de paradigma, há uma evolução da ciência para melhor:
não podemos dizer que o novo paradigma descreve melhor a
realidade que o antecessor.

A ciência não progride As mudanças de paradigmas

de forma cumulativa e não implicam a aproximação

contínua. à verdade.

Recusa da ideia de que a Recusa da visão teleológica da

ciência é o único meio evolução da ciência: a verdade

para alcançar a verdade não é a meta para a qual ela

(cientifismo Ingénuo) se orienta.

A escolha de um novo paradigma é marcada por fatores de ordem


histórica, sociológica e psicológica.

Quando a comunidade científica tem de escolher entre dois

paradigmas rivais, gera-se o debate.

A atividade do cientista não se reduz à resolução de enigmas, ao


recurso à lógica e à experimentação, mas está dependente da
argumentação.

Na obra A Tensão Essencial, Kuhn define os critérios a partir dos


quais, regra geral, os cientistas escolhem determinadas teorias e
abandonam outras.
A escolha entre teorias rivais obedece a critérios objetivos e
subjetivos

Objetivos Subjetivos

São partilhados por toda a São individuais, dependentes de

comunidade científica, sendo fatores subjetivos, relativos ao que

dependentes de fatores objetivos, individualmente cada cientista sente e

isto é, princípios, regras e até pensa -de acordo com a sua história
valores
de vida e a sua personalidade-em
comummente adotados.
relação à teoria que elege.

Princípios ou critérios objetivos de escolha das teorias

• Exatidão;
• Consciência;
• Alcance;
• Simplicidade;
• Fecundidade;

Críticas à concessão Kuhniana de ciência

Incomensurabilidade dos paradigmas Adoção de um novo paradigma

O facto de os paradigmas serem O critério para justificar a


adoção de um
incomensuráveis implica a
impossibilidade de os novo paradigma é considerado
<irracional>
comparar e avaliar
objetivamente por alguns autores.
Cada paradigma representa A adesão a um novo
um modo totalmente paradigma ocorre por

diferente de encarar os conversão (quase religiosa) de


problemas e propor todos os cientistas - como se
se tratasse de
soluções, não havendo
hipótese de partilha, uma questão de fé - ao novo
paradigma.
cooperação ou diálogo entre
eles…

Este processo traduz a ideia de


Assim, alguns críticos acusam
que a atividade
Kuhn de ser relativista.
científica é irracional (o que
põe em causa o valor da

ciência).

Respostas de Popper e Kuhn ao problema da objetividade

Popper Kuhn

Destaca o papel que os cientistas,


O cientista é um sujeito ativo, inseridos na
criativo e crítico,
comunidade científica, partilhando
mas comprometido com ideias, valores e
valores e princípios que
funcionam como um quadro crenças, têm sobre a construção do
teórico de referência. conhecimento.

Mas as teorias científicas,


sendo corroboradas, A ciência e o conhecimento que dela
resulta só podem ser compreendidos
correspondem a uma leitura
em função do paradigma que orienta
objetiva da realidade.
a atividade científica.

Uma teoria objetiva propõe Rejeita o critério falsificacionista. O


uma explicação dos cientista não
fenómenos que pode ser
confrontada com a põe em causa o paradigma, a não ser
num período
experiência, sendo falsificável
e testável de crise, se se esgotarem todas as
possibilidades de o paradigma
universalmente. responder a anomalias persistentes.
Tanto Popper como Kuhn compreendem que a ciência não é o tipo de
conhecimento absolutamente certo e indubitável. Segundo Popper, a
ciência evolui progressivamente em direção à verdade, através da
eliminação de erros ou da refutação de teorias; para Kuhn, ela evolui
dentro de cada paradigma e também nas mudanças de paradigma. No
entanto, não podemos dizer que se aproxima da verdade.

Será a ciência objetiva

Popper Kuhn

Sim Não

Popper defende que o Kuhn defende que o processo


científico pode ser conduzido
processo científico é
pela:
linear, cumulativo,
convergente.

Ciência revolucionária, deteta


O processo científico é Ciência normal, define-se pela
motivado pela ideia no anterior paradigma
relação com paradigmas, têm
de verdade objetiva anomalias que levam a uma
(uma teoria é recursos para solucionar
verdadeira apenas no mudança de paradigma
caso de corresponder enigmas que conduzem a um
envolve uma redefinição de
refinamento da ciência.
conceitos.

Qualquer teoria deve


ser sujeita a testes
experimentais: se for
refutada, a teoria
revela-se Não existe uma aproximação à
verdade objetiva, mas uma
errada, se resistir a melhoria do ajustamento da
teoria está mais prática científica.
corroborada.

Existe uma
aproximação gradual à
verdade objetiva.
A criação artística e a obra de arte

Estética

• Estética, também chamada de Filosofia da Arte, é uma das


áreas do conhecimento da filosofia. Tem a sua origem na
palavra grega aisthesis, que significa "apreensão pelos
sentidos", "perceção". É uma forma de conhecer (apreender) o
mundo através dos cinco sentidos (visão, audição, paladar,
olfato e tato).
Importante saber que O estudo da estética, tal como é
concebido hoje, tem sua origem na Grécia antiga.
Entretanto, desde sua origem, os seres humanos mostram
possuir um cuidado estético em suas produções.

• A estética dedica-se maioritariamente aos problemas e


experiências ligadas à relação do Homem com os objetos belos,
sejam naturais ou artísticos.
Assim, acaba por se diferenciar da filosofia da arte, que se
ocupa do âmbito artístico.

Experiência estética

• Podemos nos conecta com diferentes formas de representação


do sofrimento dos seus autores por exemplo…

• Chamamos a este tipo de experiência, experiência estética e


aos objetos capazes de a suscitar objetos estéticos. A
experiência estética é um estado afetivo de agrado e de prazer
suscitado pela apropriação subjetiva de um objeto, seja a
contemplação da natureza, seja a criação ou a contemplação
de uma obra de arte.
Elementos que nos ajudam a entender a experiência estética:

Experiência estética

Artista e espectador; Contemplação dos seres e das


- Obra de arte e natureza; coisas da natureza;

- Emoção estética; - Contemplação da obra de


arte;
- Criação artística;
- Processo de criação
- Contexto cultural artística.

Podemos ter uma experiência estética

• O conteúdo da experiência pode ser material (experiência


sensorial) ou não material (experiência não sensorial).

• A par da experiência sensível, existem outros tipos de


experiências intelectuais, morais, religiosas, amorosas,
estéticas, etc.

• Toda a experiência é sempre experiência de um sujeito: pode


ser comunicada outrem (mediante vários tipos de linguagem),
mas não pode ser transferida, uma vez que pertence apenas
àquele que a vivência.

• Seja como for toda a experiência é situada, o que significa que


o sujeito procede à organização dos dados do real com que
entra em contacto, fazendo-o sempre no âmbito de um
determinado contexto cultural.

• A educação, a aprendizagem, as heranças culturais influenciam


e configuram a experiência individual.
Como caracterizar a experiência estética

Que diferenças existem entre ler um romance de Saramago, observar


uma pintura de Picasso ou ouvir um relato desportivo?

A diferença decorre dos próprios objetos e não da experiência que


deles temos.

Uns serão obras de arte, o romance de Saramago e a pintura de


Picasso, o outro não, uns serão objetos belos, outro não.

O filósofo alemão Immanuel Kant foi dos primeiros a interessar-se


pelo problema da natureza da experiência estética:

Kant afirma que o belo é o que agrada universalmente sem conceito.

Sabemos que o conceito é o que nos permite identificar sem


qualquer equívoco alguma coisa e posteriormente construir um juízo
sobre ela.

• O que Kant quer dizer é que o belo não está nas coisas, ele é
subjetivo, depende do gosto individual do sujeito e, como tal,
não existe uma regra que determine que um poema ou uma
flor sejam belos. Se é certo que o belo é um sentimento do
sujeito, a experiência estética é, no entanto, desinteressada.

• Ao afirmar que a experiência estética é marcada pelo


desinteresse, Kant pretende dizer que nela não se procura
satisfazer uma qualquer necessidade prática, como acontece
com as experiências não estéticas, mas sim que a experiência
estética é um prazer meramente contemplativo.

• É uma experiência desinteressada e independente da existência


real do objeto representado nessa experiência.

• Para Kant, a experiência estética está ligada ao juízo estético e


uma e outro são subjetivos.

A experiência estética pode ser caracterizada como:

➢ sendo marcada pelo desinteresse utilitário;


➢ não está ao serviço de resultados práticos;
➢ traduz um prazer puramente contemplativo;
➢ possui uma finalidade e um valor em si mesma;
➢ não está dependente da existência real do objeto representado

O juízo estético

Os juízos estéticos, como por exemplo;

“As pinturas de Leonardo da Vinci são belas”,

“O Porto é uma cidade bonita”,

“O bailado O Lago dos Cisnes é fantástico”

Indicam juízos emitidos com base naquilo que se sente e que não é
suscetível de ser inteiramente motivado por uma explicação lógica.
Neste sentido, como diz Kant, é um juízo de gosto, pois depende
unicamente do agrado ou desagrado do sujeito.

Assim, para Kant, o prazer estético é puramente contemplativo e,


por isso, desinteressado. uma vez que não possui qualquer interesse
prático, não se funda em conceitos; não depende do representado.

Os juízos estéticos devem fazer-se na base de uma experiência de


prazer. No entanto, como os juízos descrevem uma propriedade, eles
estabelecem uma afirmação com a qual se espera que concordem
outros indivíduos. São, pois, uma avaliação subjetiva que pretende
ser universal.

Podemos então definir...

O juízo estético, ou juízo de gosto, desinteressa-se pela existência do


seu objeto e, como tal, não requer a posse nem o consumo, a
utilidade ou a bondade do objeto contemplado. Por outro lado, na
perspetiva de Kant, deve pretender o consenso de cada um, sendo
assim subjetivamente universal.
Experiência estética

Juízo estético

Juízo de valor ou de apreciação relativamente ao belo ou às categorias afins.

ás

Categorias estéticas: belo, sublime, poético, grandioso, imponente,


dramático, fantástico, trágico, gracioso, bonito, cómico, deprimente,
grotesco, irónico, ridículo, feio, horrível, etc.

Objetivismo Subjetivismo
lógico Natureza do belo lógico

Subjetivismo estético Objetivismo estético


➢ Perspetiva na qual se integra ➢ Perspetiva onde podemos
a teoria Kantiana e que situar Platão (século IV a.C.)
afirma que um objeto é belo e que defende que um objeto
em virtude do que sentimos é belo em virtude das suas
quando o observamos como propriedades intrínsecas, isto
tal, a beleza depende daquilo é, das propriedades que se
que o sujeito espectador encontram no objeto e só no
sente. objeto. Como tal, a sua
beleza é independente
➢ 0 belo ou a beleza é uma daquilo que o sujeito sente.
questão de gosto ou
preferência pessoal, sendo ➢ Independentemente de
que as propriedades dos conseguirmos ou não captar
objetos nada contam para a essas propriedades que
sua apreciação. determinam a beleza dos
objetos, elas existem de
facto no objeto e
constituem-se como o
critério objetivo de
caracterização do belo.
Clarificação do problema

O problema da definição da arte não é a única preocupação da


filosofia da arte, mas é um problema que está no centro do debate.

• O que é a arte?
• O que é que todas as obras ou ações a que chamamos arte têm
em comum?
• O que é que distingue a arte da não arte?
• Será importante definir arte?

Teorias essencialistas da arte

• Chamamos teorias essencialistas da arte a todas as teorias da


arte que afirmam que existem propriedades ou características
essenciais - intrínsecas - comuns a todas as obras de arte e
que só nas obras de arte as podemos encontrar.

• São propriedades da estrutura interna de um objeto que


permitem não só classificar algo como arte, mas também
distinguir esse algo de tudo o que não é arte.

Teoria da arte como Imitação

É na Antiguidade grega, e em filósofos como Platão e Aristóteles, que


encontramos as primeiras reflexões conhecidas sobre a arte
ocidental. Tanto Platão como Aristóteles defendem que aquilo que as
atividades a que hoje chamamos artísticas é a imitação ou mimese.
Ser imitação - reproduzir ou copiar a aparência das coisas -é, para
Platão e Aristóteles, uma condição necessária da arte.

X só é uma obra de arte se for uma imitação.


A teoria mimética da arte:

• Por um lado, não distingue arte do que não é arte: a


imitação é apenas apresentada como uma condição
necessária, mas não suficiente para que algo seja
classificado como arte.
• Por outro lado, é demasiado exclusiva: algo pode ser arte
sem ser uma imitação, sem que haja a intenção de copiar
ou de reproduzir uma pessoa, um lugar, um objeto, uma
ação ou acontecimento.

Uma forma de procurar ultrapassar estas limitações e de salvar a


teoria imitativa da arte passou por falar em representação em vez de
imitação.

X só é uma obra de arte se for uma representação.

Toda a imitação é representação, mas nem toda a representação é


imitação.

A pequena bailarina, de
A bailarina ll, de Joan
Degas reproduz e Miró. Representa (mas

simula, com realismo, não imita) uma

bailarina. O quadro faz


um original. É, além de
intencionalmente as
representação, uma
vezes de uma bailarina.
imitação.

Imitação

Imitação
Críticas a teoria da arte como representação

• A representação não é condição necessária da arte. A teoria da


arte como representação é demasiado exclusiva ou restritiva e
não apresenta uma propriedade comum a todas as obras de
arte.
• A representação não é condição suficiente da arte. Ainda que
toda a arte fosse representação, nem toda a representação é
arte. A teoria da arte como representação é demasiado
inclusiva.

TEOPIA DA ARTE COMO EXPRESSÃO

Algo é arte se for expressão de emoções

abandonado vou pelo caminho


Capa de O Medo (1987),
de sinuosas cidades, sozinho,
procuro o fio de néon que me retratando o autor, o poeta
indica a saída, eis a deriva pela Al Berto (1948-1997),
insónia de quem se mantém pseudónimo de Alberto
vivo num túnel de noite, os Raposo Pidwell Tavares. A
corpos de Alberto e Al Berto fotografia desta capa foi
vergados a coincidência encenada por Paulo
suicidária das cidades, eis a Nozolino (n. 1955), em
travessia deste coração de homenagem ao pintor
múltiplos nomes: vento, fogo, Caravaggio (1571-1610).
areia, metamorfose, água, fúria,
lucidez, cinzas.

Al Berto

• Se te perguntarmos por que razão os poemas de Alberto


merecem a classificação de arte, é provável que a resposta
passe pela ideia de que são arte porque expressam ou
transmitem emoções.

• Os poemas de Al Berto são arte, poderás dizer, porque exploram


os sentimentos e as experiências subjetivas do seu autor,
transmitindo esse estado interior do artista ao público.
• ideia de que algo é arte se for expressão de emoções -, cuja
génese podemos encontrar num movimento cultural conhecido
por Romantismo, opõe-se teoria da arte como representação e
dá origem a um conjunto diverso de teorias que podem ser
reunidas naquilo a que chamamos teoria da arte como
expressão ou teoria expressivista da arte.

Representação Expressão

Atenção dirigida para o Atenção dirigida para o


observável e para as inobservável e para as
propriedades objetivas do experiências subjetivas do
mundo exterior. mundo interior do artista.

• As duas posições clássicas mais difundidas da teoria


expressivista da arte são a do escritor russo Lev Tolstoi (1828-
1910) e a que foi apresentada pelo filósofo britânico Robin
George Collingwood (1889-1943).

• Tolstói e Collingwood veem a arte como algo intimamente


ligado à expressão de emoções e concordam que toda a obra de
arte implica, necessariamente, clarificação deliberada de um
estado que o artista experimentou.

Lev Tólstói

Teoria transmissionista da arte

O artista O artista exprime O artista suscita


experimenta um intencionalmente esse o mesmo tipo de
estado emocional estado emocional estado
particular. particular através de emocional no
uma configuração. público.

Robin George Collingwood

Teoria da expressão a solo

• A intencionalidade da transferência não é uma condição


necessária.
• Toda a arte é expressão e clarificação de emoções, mas é
possível expressar e clarificar estados emocionais, criar arte
em sentido próprio, sem que haja, por parte do artista, o
propósito de os comunicar a um público.

• Um aspeto comum a todas as teorias expressivistas da arte é a


crença de que existe uma conexão essencial entre arte e
expressão das emoções.

X só é uma obra de arte se for exeressão clarificada de uma emoção


do artista.

Pormenor de serigrafia sobre papel da Série


Terra Quente (2001), de Graça Morais. Nas
obras de Graça Morais (n. 1948), a
transfiguração, distorção, sobreposição ou
metamorfose da realidade é expressão
clarificada e transmissão deliberada das
suas emoções.

Pormenor de As duas Fridas (1939), da


pintora mexicana Frida Khalo (1907-1954).
Trata-se de um duplo autorretrato da
artista pintado no ano em que se divorciou
do pintor Diego Rivera.

• A teoria expressivista da arte vai ao encontro daquilo que,


ainda hoje, muitas pessoas - artistas e apreciadores
consideram ser a natureza da arte.

• A teoria expressivista da arte fornece um critério classificativo


(o que é que distingue arte de não arte?) mais abrangente do
que o representacionalista.
• A teoria expressivista da arte fornece um critério avaliativo (o
que é que distingue a boa arte da má arte?) que nos permite
julgar a qualidade da arte.

Críticas à teoria da arte como expressão

• A expressão de uma emoção particularizada não é condição


necessária da arte. A teoria da arte como expressão é
demasiado exclusiva ou restritiva e não apresenta uma
propriedade comum a todas as obras de arte.

• A expressão de uma emoção particularizada não é condição


necessária da arte.

• A expressão de uma emoção particularizada não é condição


suficiente da arte. Oferece-nos uma definição demasiado
inclusiva ou abrangente, na qual cabem objetos e ações que
dificilmente consideraríamos arte.

TEORIA DA ARTE COMO FORMA

• Nem a representação nem a expressão são boas candidatas a


condição necessária para que algo conte como arte.

• Há obras que consideramos arte e que não são representação


ou expressão.

• Nem a representação nem a expressão são boas candidatas a


condição suficiente da arte.

• Há objetos e ações que não consideramos arte e que são, ainda


assim, representação ou expressão.

• É neste contexto que, em 1914, o crítico de arte e filósofo


inglês Clive Bell (1881-1964) propôs aquela que é conhecida
como teoria da arte como forma ou teoria formalista da arte.

• Resumidamente esta teoria diz-nos que:

X é uma obra de arte se, e só se, x for concebido principalmente para


possuir e exibir forma significante.
• Todas as obras que classificamos como arte são objetos criados
por seres humanos - artefactos-que têm o poder de despertar
em nós - público- uma emoção estética.

• A qualidade essencial comum a todos os artefactos que têm


esse poder é a forma ou, mais precisamente, a forma
significante.

• Por forma significante, o autor entende a configuração ou


estrutura formal organizada e unificada de linhas, cores,
formas, volumes, ou outros, que suscita no público emoções
estéticas.

Cegos de Madrid (1957), de Júlio Pomar (1926-


2018). A forma artística é, sem dúvida, uma
característica importante para muitas obras
que classificamos como arte. A teoria
formalista da arte é a resposta essencialista
que mais próximo terá chegado de uma
definição de arte e de, através dela, estabelecer
tanto um critério classificativo como um
critério avaliativo de arte.

Críticas à teoria da arte como forma

• A teoria formalista não define de modo satisfatório forma


significante. Bell e os formalistas são, frequentemente,
acusados de argumentar em círculos, de cometer uma petição
de princípio que compromete a teoria.

A forma A emoção estética


significante é a é a emoção
combinação de sentida na
linhas e cores que presença de uma
despertam as configuração
nossas emoções formalmente
estéticas significante.
• A principal função de muitos objetos artísticos não é exibir
uma forma significante. A função primeira de muitos dos
objetos que estamos dispostos a classificar como arte não é
exibir uma configuração formalmente significante.

Teorias não essencialistas da arte

• Com o insucesso das teorias essencialistas e com o surgimento


e desenvolvimento de novas e surpreendentes experiências
artísticas, a filosofia da arte passa a concentrar a sua atenção
em aspetos contextuais.

• As condições necessárias e suficientes da arte não dependem


das características internas dos objetos.

• Como é que um qualquer objeto adquire o estatuto de obra de


arte?

• Tentam encontrar fora das obras de arte, nas suas propriedades


relacionais, as condições para algo poder ser classificado como
arte, independentemente do seu valor artístico.

• Não importa se a(s) Caixa(s) Brillo, de Warhol, ou O trenó, de


Beuys são boa ou má arte. O que é relevante descobrir é o que
faz delas arte.

• Procura-se, portanto, um critério classificativo e não um


critério avaliativo de arte.

Teoria institucional da arte

Aos aspetos contextuais e práticas sociais que tornam possível - e,


por vezes, mesmo inevitável - que algo adquira o estatuto de
candidato a arte, a teoria institucional chama mundo da arte.

Mundo da arte
Instituição/ prática estabelecida que inclui, entre outros,
artistas, produtores, agentes, galeristas, colecionadores
conservadores ou curadores de museus, mercadores, críticos
dinamizadores, investigadores, jornalistas, historiadores,
filósofos da arte e, claro está, o público.
• Em 1964, através de uma comunicação intitulada O mundo da
arte, o filósofo Arthur Danto (1924-2013) lançou os
fundamentos da teoria institucional da arte, mas é a George
Dickie (n. 1926) que devemos a formulação mais conhecida e
discutida desta teoria.

X é uma obra de arte no sentido classificatório se, e só se, X for um


artefacto sobre o qual alguém age em nome de uma determinada
instituição (o mundo da arte), conferindo-lhe o estatuto de candidato à
apreciação.

• A teoria institucional fornece um critério classificatório de


arte capaz de ultrapassar as limitações das teorias tradicionais
e suficientemente abrangente para não excluir qualquer
possível candidatura a obra de arte.

• Teremos nós, finalmente, com esta teoria, estabelecido as


condições necessárias e suficientes que nos permitam definir
arte e distingui-la da não arte?

Críticas à teoria institucional da arte

1. A teoria institucional admite demasiados objetos na categoria arte.

• As noções de “artefacto”, “candidato à apreciação” e “mundo da


arte” são suficientemente generosas para não excluir a
criatividade ou qualquer forma imaginável de experimentação
artística.

• A teoria é, contudo, demasiado inclusiva, correndo o risco de


não nos permitir distinguir arte de não arte.

2. A teoria institucional é contraditória

• Por que razão ou conjunto de razões os membros do mundo da


arte decidem que um dado artefacto é bom candidato à
apreciação e suscetível de se tornar arte?

• Se a sua decisão se baseou em razões, e é razoável acreditar


que sim, a teoria institucional enfrenta dificuldades.
3. Há a possibilidade lógica de arte solitária

• De facto, a maioria da arte acontece no âmbito de relações


sociais. Contudo, podemos imaginar situações em que não e
assim.

Teoria Histórica da Arte

• Teoria desenvolvida por Jerrold Levinson (n. 1948, EUA).

• Pretende ser uma alternativa à teoria institucional e


ultrapassar as suas limitações, nomeadamente no que diz
respeito à arte solitária.

X é uma obra de arte se, e só se, x for um objeto acerca do qual


alguém, que tem direito à propriedade de X, tiver a intenção não
transitória de que X seja encarado da mesma forma (ou formas) como o
foram outros objetos já abrangidos pelo conceito de obra de arte.

Visão com bons precedentes históricos

• Esta condição significa que um objeto só será arte se o


pudermos correlacionar com outros objetos até agora
classificados - pelo mundo da arte - como arte, isto é, caso vá
ao encontro do que a arte foi em algum momento.

• Tudo o que é arte agora envolve o que a arte foi antes, mas o
agora não tem de coincidir, para Levinson, com a génese da
obra.

Titularidade ou propriedade

• O artista não pode "artificar" - transformar em artefactos


artísticos - objetos que não lhe pertençam ou em relação aos
quais não esteja devidamente autorizado a agir pelos seus
legítimos proprietários.
Críticas à teoria histórica da arte

1. A teoria histórica não resolve o problema da arte primordial

• Se regredirmos na história da atividade artística,


encontraremos um primeiro ser humano e uma primeira obra
de arte. Essa obra original, primeira, não pode ser
correlacionada retrospetivamente com qualquer outra obra
Então, se assim é, como poderão sê-lo todas as outras que se
lhe seguiram?

2. A condição de titularidade exclui obras que encaramos como arte

• Muitos artistas, pelo mundo fora, optam hoje por permanecer


no anonimato, pintando grafitis na propriedade de outras
pessoas, sem a sua autorização, em vez de pintarem quadros
ou murais num estúdio ou num suporte próprio. Estes artistas
não detêm a propriedade física ou intelectual sobre os
artefactos que criam e a transgressão faz parte da natureza da
sua atividade. Deve assim uma boa parte da arte urbana deixar
de ser classificada como arte?

3. A condição de visão com bons precedentes é excessivamente


inclusiva

• Do mesmo modo que a definição exclui obras que classificamos


como arte, como os artefactos dos artistas urbanos ou de rua,
também parece poder incluir qualquer objeto realizado com a
intenção não transitória de reforçar alguma visão da arte com
bons precedentes, como uma fotografia ou um video amador
publicado numa rede social.

Definir ou não definir arte?

• Foram vários os filósofos que declararam a impossibilidade


lógica de determinar, por meio de uma definição, que objetos
incluir ou excluir da categoria arte. A prática artística é
mudança, expansão e novidade e isso é incompatível com a
possibilidade de uma definição.

• O filósofo Morris Weitz (1916-1981) encontra-se entre os


pensadores que defenderam esta perspetiva e que o
conceito de arte e indefinível.
• Weitz afirmou que toda e qualquer tentativa de submeter a
arte a uma definição está, forçosamente, condenada ao
fracasso.

• De acordo com Weitz, o conceito de arte é um conceito aberto,


que não pode ser encerrado ou fechado numa definição.

• A natureza expansiva e revolucionária da arte, sempre em


mutação, torna logicamente impossível estabelecer condições
necessárias e suficientes. O esforço para encerrar a arte numa
definição é, por isso, inútil e absurdo.
Se algo é, como a arte, possibilidade de mudança, expansão e
inovação, então esse algo não pode ser definido.

• As teorias institucional e histórica da arte surgiram, em larga


medida, como reação a esta tese de impossibilidade de
definição.

Religião, razão e fé

O problema da existência de Deus

• A religião é um fenómeno universal e trans-histórico, e


corresponde a uma necessidade natural de dar sentido ao
nascimento, à morte, à nossa existência, ao Universo; algo
superior concebeu tudo isto com um propósito.
• A filosofia está interessada nos argumentos acerca das crenças
religiosas fundamentais em geral, como a existência de Deus
ou a de uma alma que perdura para lá da morte.

O conceito teísta de Deus

• A maioria dos filósofos da tradição ocidental discutiu a


concessão teísta de Deus, o “Deus dos filósofos”, que reúne um
subconjunto de propriedades fundamentais das divindades
cristã, judaica e muçulmana: um ser único e perfeito, logo,
omnipotente, omnisciente e supremamente bom.
Argumentos sobre a existência de Deus

O argumento cosmológico (Aquino): Se tudo o que conhecemos parece


ser efeito de causas anteriores, então o Universo, no seu conjunto,
também deve ter uma causa. Poderão as causas recuar numa
sequência infinita, ou há um início da cadeia de causas e efeitos,
uma primeira causa?

É impossível que a cadeia de causas e efeitos recue infinitamente na


direção do passado, sem se poder parar algures no passado, ainda que
muito distante. Assim, tem de existir uma primeira causa do
Universo (Deus).

Críticas ao argumento cosmológico

• Qual foi a causa de Deus? Se tudo o que existe teve de ter uma
causa, Deus, caso exista, também a teve. Se algo é causa da
sua existência, esse algo precedeu a existência de Deus, vem
antes de Deus na sequência causal. Logo, Deus não é a primeira
causa.
• Poderia Deus ser causa única de si mesmo? Para isso, teria de
existir já antes do ato de geração. Mas se já existe, não
precisaria de depois se gerar.
• O universo poderia incriado e eterno. O princípio de que tudo o
que existe tem uma causa não significa necessariamente que
existe uma primeira causa de tudo; ele é compatível com um
mundo que exista desde sempre. A série causal pode entender-
se sem fim no tempo, na direção do futuro e do passado
(exemplo de série infinita: os números).

O argumento teleológico ou do desígnio (Aquino)

• Baseia-se na analogia entre o Universo, em particular, os seres


vivos, e uma máquina. Nesses seres a grande organização de
partes e suas funções, concorrendo para a sobrevivência e
multiplicação dos organismos, sugere que também eles foram
concebidos por uma força inteligente, Deus, com um propósito.
• Trata-se de um argumento por analogia, que, nunca sendo
infalível (válido), procura dar-nos boas razões para acreditar
numa alta probabilidade da conclusão.
Críticas ao argumento teleológico ou de desígnio

• Outra explicação para a organicidade: a teoria da evolução das


espécies é uma explicação alternativa e científica para
propriedades dos seres vivos que fundamentam a analogia. A
natureza produz variações, das quais as mal-sucedidas
desaparecem, deixando as bem-sucedidas com suas as
qualidades de adaptação que parecem propositadas.
• Limitações da prova: mesmo aceitando o argumento, ele não
prova a existência do Deus no teísmo – omnipotente,
omnisciente e bondoso, eterno e único.

O argumento ontológico (Anselmo)

• É um argumento a priori (não apela à experiência, apenas à


análise do conceito de Deus) e por redução ao absurdo (mostra
que uma proposição é verdadeira – Deus existe – mostrando
que admitir a sua negação como verdadeira gera uma
contradição).
• Anselmo define Deus como o ser maior do que o qual nenhum
outro é possível, ou seja, um ser que acumula em si todas as
propriedades positivas, e nenhuma negativa, de tal modo que
seja o máximo possível da perfeição (“maior” significa “com o
maior número de qualidades, poderes, propriedades positivas,
etc.”).
• A estrutura do argumento:
- Deus (o ser maior do que o qual nenhum outro é possível =
que possui todas as qualidades no grau máximo e nenhum
defeito) existe no pensamento (pode ser pensado). Algo que
exista só no pensamento pode ser maior do que é – se existisse
também na realidade.
- Suponha-se que Deus não existe na realidade; então é
possível um ser maior do que ele – um Deus igual, mas que
exista na realidade.
• Contradição: há na nossa mente um ser que é o maior que se
pode pensar, e, ao mesmo tempo, um ser maior que ele – igual
a ele em tudo, mas existente na realidade.
Críticas ao argumento ontológico

• A existência não é uma propriedade; não está na lista das


propriedades que as coisas reais têm. Dizer que X tem Y não é
dizer que algo é um X, tem Y e existe. Se a existência não é
uma propriedade, não “aumentamos” o conceito de Deus
juntando-lhe mais uma, a da existência. Não podemos derivar
a existência de X apelando apenas ao conceito que temos de X.
• Absurdos gerados pela aplicação do argumento: se pendi na ilha
mais perfeita que é possível conceber, ela tem de existir, senão
não seria realmente o que pensei, por lhe faltar uma perfeição,
a existência. Seríamos forçados a admitir que todo e qualquer
conceito de uma entidade que consigamos imaginar no seu
grau mais perfeito nos prova que essa entidade existe.

Fideísmo

O fideísmo é a oposição que defende que razão e fé religiosa se


opõem, e que só a fé que sentimos nos deve levar à crença em Deus
(Pascal, Kierkegaard).

Críticas ao fideísmo

• Se o sentimento interior é o nosso único guia em matéria


religiosa, todas as religiões estão corretas acerca daquilo em
que os seus crentes acreditam/sentem. Mas como pode isso ser,
se as religiões sustentam crenças contraditórias entre si?
• Algumas versões recomendam que se creia na existência de
Deus sem apelo à razão, ou mesmo contra ela. Isto é
problemático porque, se a razão não mostrar que Deus existe,
mesmo assim devemos acreditar que ele existe. Mas escolher
em que acreditamos, forçar a mente a acreditar em algo, é
muito provavelmente impossível.
• Geralmente, seguir o sentimento para identificar a verdade
contra a razão e os factos, a fé cega e o ignorar da avaliação
de razões e argumentos levam as pessoas ao fanatismo, ao
ódio e à violência contra as outras perspetivas sobre a religião.
A aposta de Pascal

• Não é um argumento acerca da existência de Deus. Procura


concluir que é preferível acreditar nela.
• Analogia entre situação da pessoa sem razões convincentes
para acreditar nem para não acreditar em Deus, e a do
apostador, calculando o que é mais vantajoso fazer em termos
de possibilidades de ganhos e perdas. Se apostarmos na
existência de Deus e ele existir, temos o maior ganho possível,
enquanto se ele não existir, perdemos apenas algum tempo que
dedicámos ao culto e evitámos alguns prazeres condenados
pela religião. Se apostarmos que Deus não existe e ele existir,
corremos o risco de sofrer as penalizações que as religiões
reservam para os descrentes; se ele não existir, pouco
ganhamos (não desperdiçamos tempo e oportunidades por
causa da religião).
• O saldo é fortemente favorável à aposta na existência de Deus.
Se se acertar, obtém-se o “prémio” máximo, e se se perder, são
perdas pouco significativas; mas a aposta contrária tem quase
tudo a perder e muito pouco a ganhar.

Críticas:

• Não podemos decidir ou obrigar-nos a acreditar.


• Não dá razões para seguir uma fé teísta em vez de outra.
• Deus pode decidir em função do comportamento e não da
crença e do culto; ou pode perdoar a todos.
• Acreditar em função da contabilização de lucros e prejuízos
parece imoral e hipócrita, podendo desagradar a Deus.

Deus e o argumento do mal

• O problema do mal: incompatibilidade entre a existência do


mal e a de um Deus omnipotente, omnisciente e sumamente
bom. Um Deus omnisciente sabe necessariamente a total
dimensão do mal no Universo. Sendo omnipotente, teria criado
um mundo onde não houvesse mal e sofrimento (ou não tanto).
Se é sumamente bom, não pode desejar que o mal exista.
Conclusão: dado que o mal existe, ou Deus não possui pelo
menos um dos três atributos em causa, ou não existe.

• Uma teodiceia procura negar a incompatibilidade.


A justificação do mal moral: livre-arbítrio

• O mal moral pode ser necessário para termos livre-arbítrio.


Sem ele, não seríamos livres nem bons (ou maus). Faríamos o
bem, não por escolhermos ações boas sobre as más, mas
porque Deus suprimiu o mal.

Críticas:

• O livre-arbítrio exigirá a possibilidade do mal moral?

• Suponhamos que Deus nos cria de modo a podermos escolher


entre diferentes ações, só que nenhuma delas origina o mal. As
nossas ações morais estão sempre entre a máxima bondade e a
neutralidade, e temos o poder de escolher, mas sem nunca
originar o mal.

• Deus podia ter-nos dotado de livre-arbítrio e possibilidade de


escolher o mal, mas criando-nos de modo a pensarmos sempre
corretamente em termos morais. Se quiséssemos fazer o mal,
Deus não nos impediria. No entanto, nunca aconteceria de
facto querermos fazê-lo. (Réplica possível: em ambas as
situações, não há livre-arbítrio genuíno.)

• Esta justificação do mal moral pressupõe que um mundo com


mal moral e livre-arbítrio é melhor que um mundo sem um
nem outro. Mas podemos pensar que a ausência de livre-
arbítrio seria um preço pequeno a pagar por um mundo sem o
imenso sofrimento causado pela maldade humana.

• Deus poderia ter criado um mundo sem possibilidade de mal


moral, e criado os seres humanos de tal modo que tivessem a
ilusão de serem livres.

• Finalmente, a justificação pressupõe que o livre-arbítrio é


compatível com a existência de um Deus omnisciente. Mas sê-
lo-á de facto? Se Deus já sabe todas as opções que vamos
tomar na vida antes de as tomarmos, seremos mesmo assim
realmente livres?

A justificação do mal natural

• Leibniz: este é o melhor Universo possível, e qualquer estado de


coisas alternativo a este teria a mesma quantidade de mal, ou
mais, do que aquele que Deus efetivamente originou.
• Parece implicar que Deus não é omnipotente, mas o que diz é
que uma alternativa melhor simplesmente não faz parte do
campo das possibilidades, nem mesmo para Deus, tal como
fazer que 2+2 dê 5 ou criar quadrados redondos. Não ser capaz
de fazer isso não põe em causa a sua omnipotência porque não
há tais possibilidades das quais dizermos que Deus não as
consegue realizar.

• Um mundo com menos mal do que este pode ser impossível,


talvez porque, se Deus evitasse alguns males, teria de criar, ou
apareceriam, outros piores. Pode haver leis naturais ou
metafísicas que determinam que, entre todos os mundos
alternativos que essas leis permitem, este é aquele em que o
equilíbrio de bens e males é mais favorável.

Crítica:

• Justificação é mera suposição. Não dá razões para aceitar uma


hipótese especulativa, complexa e rebuscada, como é a de que
este é o melhor dos mundos possíveis, apesar de conter tanto
mal.

• Deveria dar pelo menos alguns fundamentos para percebermos


por que razões um mundo com menos mal seria impossível, e
esses fundamentos não podem recorrer à mera hipótese de que
Deus é bom e omnipotente.

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