Tributario 2024

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CAPITULO II: TEORIA GERAL DO IMPOSTO

2.1. Conceito do Imposto

Segundo FREITAS PERREIRA, o imposto é uma prestação pecuniária, coactiva, unilateral, a titulo
definitivo, sem caracter de sanção, devida ao Estado ou outros entes públicos com vista a realização de
fins públicos.

Vejamos cada uma destas de per si.

a) O imposto é uma prestação pecuniária


Significa que o imposto é uma prestação em dinheiro, pese embora que no passado admitia-se o
pagamento de imposto em espécie.

b) O imposto é uma prestação coactiva


A obrigação do imposto é estabelecida na lei ou por forca da lei. Assim, verificado o pressuposto de cuja
ocorrência a lei faz depender o nascimento da obrigação de imposto, esta passa a ser exigida
independentemente da vontade do contribuinte.

c) O imposto é uma prestação unilateral


A prestação do imposto não corresponde qualquer contraprestação por parte da entidade beneficiaria.

d) O imposto é uma prestação a titulo definitivo


A prestação do imposto quando devida, não dá direito a qualquer restituição ou reembolso ulterior a
cargo do ente a quem é feita essa prestação.

e) O imposto é uma prestação sem caracter de sanção


O imposto não tem caracter sancionatório, o que permite distinguir a respectiva prestação das sanções
patrimoniais, como o confisco e a multa.

f) O imposto é uma prestação devida ao estado ou outro ente publico


O imposto é sempre devido a um ente publico (pessoas colectivas do direito publico e entidades que
exercem funções publicas).

g) O imposto é uma prestação com vista a realização de fins públicos


O obejctivo do imposto é arrecadação de receitas para que os entes públicos delas beneficiários possam
realizar as tarefas que lhes estão cometidas.
Segundo art.127/1 CRM o sistema fiscal é estruturado com vista a satisfação as necessidades
financeiras do Estado e das demais entidades publicas, realizar os objectivos da politica económica do
estado e garantir uma justa repartição da riqueza e do rendimento.

2.2. Distinção de outras Figuras Jurídicas afins (Contribuição especial; Taxa; Empréstimo publico
forcado; Contribuição para segurança social).

a) Contribuição especial

assenta num beneficio individualizado reflexamente derivado da actuacao de um sujeito publico (ex:
mais-valias prediais resultantes de uma obra publica que dariam lugar a contribuições de melhorias) ou
na necessidade de compensar um ente publico por maiores despesas ocasionadas pelos particulares
(ex: o maior desgaste nas vias de comunicação provocado por veículos com certo peso e determinadas
características, o que daria lugar a contribuições para maiores despesas).

b) A taxa

o imposto é unilateral

a taxa é bilateral

a taxa caracteriza-se pela sua bilateralidade na medida que há ai lugar a uma determinada
contraprestação por parte do sujeito activo. Esta prestação é de natureza individual, concretizando-se,
em regra, numa utilidade para o sujeito passivo.

c) Empréstimo publico forçado

Não é unilateral (porque dá origem ao pagamento de juros) nem é feito a titulo definitivo (porque é pela
sua própria natureza, reembolsável ou amortizável).

d) Contribuição para segurança social

São tributos parafiscais ou parafiscalidade, para aludir a determinadas prestações colectivas que tem
haver a assunção por parte do Estado moderno de novas funções económicas e sociais. Trata-se de
receitas que fogem, de algum modo, as regras que disciplinam os impostos e que são consignadas as
entidades publicas que prosseguem aquelas finalidades em substituição da accao directa do Estado.

É um prémio de seguro publico.


 Imposto (art.3/2 Lei n°2/2006, 22 de Março) - são as prestações obrigatórias avaliáveis em
dinheiro, exigidas por uma entidade publica, para a prossecução de fins públicos, sem
contraprestação individualizada, e cujo o facto tributário assenta em manifestações de
capacidade contributiva, devendo estar previstos na lei.
 Taxa (art.3/3 Lei n°2/2006, 22 de Março) – são prestações avaliáveis em dinheiro, exigidas por
uma entidade publica, como contrapartida individualizada pela utilizada de um bem do domínio
publico, ou de um serviço publico, ou pela remoção de um limite jurídico a actividade dos
particulares, desde que previstas na lei.
 Contribuições especiais (art.3/4 Lei n°2/2006, 22 de Março) – as prestações efectuadas
como contrapartida de benefícios ou aumento do valor dos bens do sujeito passivo, que
resultem de obras publicas ou da criação ou ampliação de serviços públicos, ou de devidos em
razão do especial desgaste de bens públicos ocasionados pelo exercício de uma actividade,
desde que previstas na lei.

2.3. Objectivos do Imposto

Os impostos são criados para satisfação de fins públicos, expressamente ampla que engloba:

 Objectivos fiscais (obtenção de receitas publicas).


 Objectivos extrafiscais (sociais, económicos, etc).

Os obejctivos do imposto são:

a) Objectivos fiscais
Os impostos visam a obtenção de receitas para financiamento das despesas publicas, isto é, a
satisfação das necessidade financeiras do Estado.

b) Objectivos sociais
Os impostos visam a “repartição justa da riqueza e dos rendimentos”, a diminuição das desigualdades,
tendo em conta as necessidades e os rendimentos do agregado social, operando-se assim uma
verdadeira redistribuição da riqueza.

Os impostos podem adaptar a estrutura do consumo a evolução das necessidades de justiça social
(onerando os consumos de luxo, por exemplo).

c) Objectivos económicos
Os impostos podem:

 Combater a inflação (reduzindo o rendimento disponível e, consequentemente, o consumo)


 Obter a selectividade do consumo (tributando mais pesadamente os consumos nocivos e
supérfluos, como: o tabaco, jogo, certas bebidas, etc).
 Proteger as industrias nacionais (estabelecendo direitos aduaneiros protectores durante um
certo período).
 Incentivar a poupança e o investimento (indirectamente através de desagravamentos fiscais).

2.4. Classificação dos Impostos

No art.56 da Lei n°15/2002, de 26 Junho, o legislador classifica os impostos em:

 Nacionais e autárquicas.
 Directas (rendimentos e riqueza) e indirectas (despesas).

No entanto, as classificações dos impostos apresentadas pela doutrina, embora nem todas baseadas em
critérios jurídicos, ultrapassam a classificação pelo legislador.

a) Impostos directos e impostos indirectos


Existe vários critérios de distinção, mas o critério desenvolvido pela doutrina e jurisprudência italiana e
com acolhimento em Moçambique assenta essencialmente na forma por que se revela a manifestação
da capacidade contributiva atingida pelo imposto.

Impostos directos – são os que incidem sobre manifestações imediatas da capacidade


contributiva (obtenção de rendimento, posse de um património). Ex: IRPS; IRPC.
Impostos indirectos – são os que incidem sobre manifestações mediatas dessa capacidade
(utilização da riqueza ou do rendiemnto). Ex: IVA, Imposto sobre o consumo.

b) Impostos estaduais e impostos não estaduais


Esta classificação baseia-se na natureza do titular do direito de exigir impostos.

 Impostos estaduais – os impostos em que o credor, o titular do direito de exigir o imposto é o


Estado. Ex: IRPC, IRPC; imposto de selo, imposto de veículos; SISA.
 impostos não estaduais – os impostos em que o sujeito activo não é o Estado. Ex: IPRA; IPA;
imposto autárquico da SISA; imposto autárquico de veículos.

c) Impostos Nacionais e impostos locais


Baseia-se no âmbito de aplicação territorial do imposto.
Impostos Nacionais – são impostos que no âmbito de aplicação territoria abrangem a totalidade
do território nacional. Ex: IRPC; IRPS;IVA; imposto de veículos.
Impostos locais – aquele que tem aplicação territorial circunscrita a uma parte do território
nacional, independentemente da natureza do sujeito passivo. Ex: IPRA; IPA; imposto autárquico
da SISA e imposto autárquico de veículos.
NB: ao invés de nacionais e locais, o art.56/1 da lei 15/2002, de 26 de junho, classificação os impostos
do sistema tributário moçambicano em nacionais e autárquicos.

d) Impostos Nacionais e impostos locais

 Impostos Nacionais (ou objectivo) – são aqueles que visam a tributação de riqueza sem tomar em
consideração, pelo menos com maior relevo, as condições pessoais e económicos do contribuinte.
Ex: SISA.
 impostos locais (ou subjectivos) – tomam em consideração predominantemente os aspectos
pessoais do contribuinte. Ex: IRPS em que a tributação varia em função da situação pessoal.

e) Impostos de prestação fixa e impostos de prestação variável

 Impostos de prestação fixa – a lei estabelece um montante fixo de imposto para todos os sujeitos
passivos.
 impostos de prestação variável – são aqueles em que a tributação, o imposto a pagar por cada
sujeito passivo, varia em função da matéria colectável.
Os impostos de prestação variável pode ser:

 Proporcionais: são impostos em que a taxa é fixa. Nestes o imposto a suportar pelo sujeito
varia proporcionalmente em função da variação da matéria colectável.
 Progressivo: são aqueles em que a taxa aumenta em função do aumento da matéria
colectável.
 Degressivo: são impostos em que a taxa diminui a medida que a matéria colectavel diminui.
 Regressivo: são aqueles impostos cuja taxa diminui a medida que aumenta a matéria
colectavel.
f) Impostos periódicos e impostos obrigação única

 Impostos periódicos – são aqueles em que se pode estabelecer uma presunção de permanência
das faculdades contributivas e, como tal, a tributação tende a repetir-se periodicamente (em regra
anualmente). Ex: acontece com IRPS e IRPC.
 impostos obrigação única – são os que a tributação baseia-se em situações sem continuidade, a
tributação não se renova periodicamente. Ex: acontece na SISA; imposto de selo e imposto sobre as
sucessões e doações.

g) Impostos principais, acessórios e dependentes


Impostos principais- gozam de autonomia, existe por si não dependendo da existência de qualquer
relação tributaria anterior.

Impostos acessórios – também são conhecidos por

2.5. Relação Jurídica Fiscal e Obrigação Fiscal

2.5.1. Contextualização

A percepção de determinados rendimentos, o exercício de determinadas actividades, faz desenvolver


entre as pessoas e o Estado (ou demais pessoas colectivas de direito publico) um vinculo jurídico por via
do qual as primeiras estão adstritas para com o segundo a realização de uma prestação.

▪ A Obrigação fiscal é o vinculo que nasce entre o Estado e o particular obrigado ao imposto
verificados que sejam os pressupostos de facto que integram o “tipo” tributário abstracto
descrito na lei.
▪ A relação jurídico-fiscal – inclui para alem da obrigação fiscal do contribuinte, toda as relações
que aquela obrigação central dá origem, directa ou indirectamente (obrigações de prestar
declarações; de não praticar certos actos) e que obrigam não só o próprio contribuinte, mas
também outras pessoas de algum modo ligados aos pressupostos de facto da tributação.
A RJT compreende a obrigação de imposto e as obrigações ou deveres tributários e acessórios.

2.5.2. Pressupostos da relação jurídico-fiscal

Os pressupostos da relação jurídica correspondem a um conjunto de condições de que a lei faz


depender o nascimento da relação jurídico-fiscal.
Os pressupostos podem clarificar-se em:

i) Quanto a natureza, podem ser subjectivos e objectivos, consoante dizem respeito a qualquer
dos sujeitos da relação ou ao seu objecto.
ii) Quanto ao seu âmbito, podem ser:
Genéricos: são aqueles que são comuns a todas as relações de imposto, a personalidade
jurídica, a capacidade jurídico-fiscal (pressupostos objectivos) e a matéria colectavel
(pressupostos subjectivos).
Específicos: aqueles que respeitam apenas a determinados tipos de impostos, os quais pela
sua própria natureza, são insusceptiveis de uma enumeração geral.

2.5.3. obrigações jurídico-fiscal e obrigações civis

No que respeita a sua estrutura fundamental, a obrigação fiscal não difere da obrigação civil.

Quanto ao regime jurídico há diferença:

a) Aobrigação civil é modelada pela vontade das partes; a obrigação do imposto é uma
obrigação “ex lege”, depende exclusivamente da lei.
b) A obrigação civil, o sujeito activo pode dispor do seu credito, pode renunciar a ele; a obrigação
fiscal é indispensável, é irrenunciável.
c) A administração tributaria goza da presunção de legalidade própria dosa actos administrativos,
goza de privilegio de executoriedade ou privilégio de execução previa, quer coercivamente
exigido ao devedor, sem necessidade de decisão judicial que o confirme.
d) É caracterizador da obrigação fiscal o regime especifico as suas garantias.

2.6.Elementos da Relação Jurídica Fiscal

a) Sujeitos

i) sujeito activo – é o credor, o titular do direito de exigir a prestação tributaria.

O sujeito activo não é a entidade que cria o imposto, não é também a entidade que realiza as operações
de lançamento e cobrança do imposto, mas aquela pessoa colectia de direito publico em beneficio da
qual é estabelecido o imposto e que tem o poder de exigir ou pretender o seu pagamento.

O estado é o sujeito activo da maior parte dos impostos.

ii) sujeito passivo – é a pessoa a quem pode ser exigido o cumprimento da prestação tributaria.

Por vezes “ab initio”, a lei obriga ao pagamento do imposto pessoas diferentes daquelas em relação as
quais se verificam os pressupostos da tributação.
▪ Sucessão fiscal: outro individuo ocupa o lugar do sujeito passivo.
▪ Responsabilidade fiscal: visa reforçar a garantia de pagamento.
▪ Substituição fiscal:
b) Objecto

É a prestação a que o devedor do imposto está adstrito para com o sujeito activo.

A prestação é em regra precedida de uma actividade para a sua concretização (lançamento) e é


determinada pela aplicação de uma taxa a matéria colectável (liquidação).

c) Facto Jurídico
É a ocorrência de elementos (obtenção de rendimentos ou aquisição de bens) que hipoteticamente
previstos na lei como criadores de relações jurídico-fiscais fazem nascer a obrigação do imposto.

A obrigação fiscal constitui, no momento da verificação de tais factos ou situações e não no momento
da liquidação do imposto.

d) Garantia

É o conjunto de mecanismos legais que conferem ao sujeito activo a faculdade de obter coercivamente
do sujeito passivo o cumprimento da respectiva prestação.

A garantia geral das obrigações fiscais (como das obrigações civis) é o património do devedor, o
conjunto dos valores activos que o devedor possui.

As garantias especiais consistem na afectação do património de outras pessoas responsabilizadas pelo


cumprimento da obrigação (garantias pessoais) ou privilégios creditórios que consistem na afectação de
determinada espécie de bens (garantia real).

▪ Garantia pessoais – é a responsabilidade fiscal.


▪ Garantias reais – o privilegio creditório é a faculdade que a lei, em atenção a causa do credito,
concede a certos credores, independentemente do registo, de serem pagos com preferência a
outros.

A hipoteca confere ao credor o direito de ser pago pelo valor de certas coisas imoveis pertencentes ao
devedor. A hipoteca para produzir efeitos, tem de ser registada.
▪ Prestação de caução – é uma garantia facultativa, que se destina a assegurar o cumprimento
da obrigação fiscal através do deposito de dinheiro.
Este destina-se a suspensão da execução fiscal, ou atribuição de efeitos suspensivos aos recursos em
execução ou impugnação judicial.

2.7. Fases da Vida do Imposto


Caracterizado o imposto, importa analisar os seus elementos constitutivos, a sua estrutura e bem assim
o conjunto de operações que permitem a sua aplicação aos casos concretos, a sua dinâmica:

a) Incidência
É a fase do imposto em que é feita, pela lei, a definição geral e abstracta dos actos ou situações sujeitos
a imposto e das pessoas sobre quem recai a respectiva prestação [art.100; 127/2; 179/2 al. O) CRM].

▪ Incidência real/objectiva – o que está sujeito a imposto, isto é, aquilo sobre que o imposto vai
recair.
▪ Incidência pessoal/subjectiva – quem está sujeito a imposto, isto é, a pessoa sobre quem
recai a obrigação de imposto.

Em abstracto, se definem os pressupostos tributários que fazem nascer a obrigação de imposto, em


abstracto, se define a matéria colectável do imposto e identificam os sujeitos passivos da relação
jurídico-fiscal a que o mesmo dará lugar.

É a fase, em suma, em que a lei determina o que vai estar sujeito a imposto (incidência real) e quem
vai estar sujeito a imposto (incidência pessoal).

b) Lançamento
É a fase do imposto que consta de um conjunto de operações administrativas que visam a identificação
do sujeito passivo do imposto e a determinação da matéria colectável.

Corresponde ao momento do inicio da aplicação da lei. É a fase em que, do geral e abstracto da


incidência, se passa ao individual e concreto; é a fase em que se processam as operações conducentes
a identificação particular dos sujeitos passivos e a determinação concreta da matéria sobre que vai
incidir o imposto.
Actualmente no sistema fiscal moçambicano (IRPS; IRPC; IVA) as operações de lançamento são
efectuadas pelo próprio contribuinte, por isso é que se fala de auto lançamento do imposto.

c) Liquidação
É a fase que consiste na aplicação da taxa do imposto a matéria colectável para determinação da
colecta.

É a operação aritmética de aplicação de uma taxa a matéria colectável apurada na fase do lançamento,
para determinação do momento exacto de imposto devido pelo sujeito (colecta).

d) Cobrança
É a fase que consiste na entrada do momento do imposto nos cofres do Estado.

É a fase final da vida do imposto, para que tende toda a relação jurídico-fiscal com a cobrança
(pagamento) os valores correspondentes ao imposto vão dar entrada nos cofres do Estado e com isso a
relação jurídico-fiscal, normalmente extinguir-se-á.

A cobrança pode ser:

 Cobrança voluntaria – quando é efectuada nos prazos estabelecidos nas leis tributárias.
 Cobrança coerciva – quando o pagamento nãoé realizado nos prazos estabelecidos, havendo
lugar a instauração de um processo de execução fiscal e ao pagamento de juros de mora.

2.7. Extinção da Obrigação Tributária (pagamento; compensação; dação em cumprimento;


confusão; falência/insolvência e prescrição).
a) Pagamento (art.43 LGT)
O pagamento pontual do imposto pelo sujeito passivo é a forma normal de extinção da obrigação do
imposto.

No pagamento voluntario, distingue-se 2 fases:

 Pagamento à boca do cofre – é efectuado durante um certo prazo de vencimento, fixado para
cada imposto, em regra 1 mês.
 Pagamento com juros de mora – é realizado após este período e durante os prazos que
presidem o relaxe.
No pagamento coercivo insere-se no processo da execução fiscal. Instaurado o processo executivo
devedor pode optar pelo pagamento na totalidade ou em prestações, pela dação em cumprimento ou
pela nomeação d bens a penhora.

b) Compensação (art.44 LGT)


Nos termos do art.44 LGT as dívidas tributárias podem extinguir-se, total ou parcialmente por
compensação.

Quando o sujeito activo e passivo forem reciprocamente credor e devedor aquele pode livrar-se da sua
obrigação por meio da compensação e em relação a créditos reconhecidos por acto administrativo ou
decisão judicial, a que tenha direito o sujeito passivo em razão de pagamentos indevidos de tributos.

Conforme se depreende e como dispõe o ar.3/1 Regulamento de compensação das dívidas


tributárias (RCDT), aprovado pelo Decreto n°56/2010, de 2 Novembro, a compensação materializa-se
através do encontro de contas procedentes de debito ou credito fiscal.

De acordo com o disposto nos art.150 e 151 a compensação pode ocorrer por iniciativa do sujeito activo
e do sujeito passivo.

Nos casos e que o sujeito passivo tenha efectuado pagamento de imposto superior ao devido a AT
pode tomar a iniciativa de compensar qualquer outra divida tributaria (presente do sujeito passivo, ou
com consentimento deste, compensar qualquer divida tributária futura).

A compensação por iniciativa do propósito sujeito passivo de dívidas tributárias presentes ou futuros
deve ser requerida ao Ministério da Economia e Finanças antes d instauração do processo executivo.

Segundo o art.5 RCDT a compensação efectua-se observando a seguinte ordem de preferência:

 Com dívidas da mesma natureza se respeitam a impostos periódicos, em primeiro lugar as


relativas ao mesmo período de tributação, e só depois as respeitantes a diferentes períodos de
tributação.
 Com devidas provenientes de impostos retidos na fonte ou legalmente repercutidos a terceiros e
não entregues; e
 Com dívidas provenientes de outros impostos.

Sendo o credito do sujeito passivo insuficiente para cobrir a totalidade da divida tributaria, segue-se a
seguinte ordem de compensação:
juros de mora;
 Outros encargos legais;
 Multas; e
 Divida tributária, incluindo juros compensatórios.

Dentro da mesma hierarquia (por ex: juros de mora) a compensação segue a seguinte ordem:

 As dívidas mais antigas.


 Sendo a mesma antiguidade, as de maior valor; e
 Sedo igual a antiguidade e o valor, qualquer delas.

c) Dação em cumprimento (art.45 LGT)


Prevista nos termos gerais nos art.837 e seguintes código civil e no que respeita ao direito fiscal no
art.45.

Consiste em o devedor do imposto cumprir a obrigação de imposto mediante a entrega de bens móveis
e imóveis.

Esta forma de cumprimento da divida tributaria encontra-se consagrada por exemplo no 9 da Lei
n°12/2007, de 27 de Junho que refere que o imposto sobre a produção do petróleo pode ser pago em
espécie por opção do Estado.

d) Confusão (art.46 LGT)


Trata-se também de mais uma forma de extinção da obrigação de imposto prevista na nossa legislação.

Segundo o art.46 LGT, a confusão ocorre quando se reúnem as qualidades de credor e devedor de
uma mesma obrigação de imposto na mesma entidade publica.

O instituto da confusão, que no direito fiscal moçambicano não encontra nenhuma particularidade em
relação ao direito civil, encontra-se desenvolvido nos art.868 e seguintes, sendo de aplicação
subsidiária por forca do art.2/3 a) LGT.

e) Falência/Insolvência
Pode caracterizar-se como estado do devedor impossibilitado de solver as suas dívidas vencidas,
podendo ser uma mera situação de facto ainda não judicialmente reconhecida ou um estado
judicialmente declarado.

De acordo com art.47 LGT a falência ou insolvência judicialmente declarada determina a extinção
provisória das dívidas tributárias que não tenham podido tornar-se efectivas no processo executivo. A
extinção só se torna definitiva se no prazo de prescrição o sujeito passivo judicialmente falido ou
insolvente não se reabilitar.

f) Prescrição (art.48/1 LGT)


Como resulta do art.394 CC, a prescrição traduz-se na faculdade concedida ao devedor de, após ter
decorrido determinado prazo, previsto na lei, recusar o cumprimento da prescrição e opor-se ao seu
exercício coercivo, com a consequente extinção do direito de o devedor proceder a cobrança (a
prescrição não implica uma extinção da obrigação).

A propósito, JORGE LOPES DE SOUSA, refere que decorrido o prazo de prescrição, a obrigação deixa
de existir como obrigação coercivamente exigível substituindo apenas como obrigação natural. Segundo
o art.402 CC a obrigação natural “se funda num mero dever de ordem moral ou social, cujo o
cumprimento não é judicialmente exigível, mas corresponde a um dever de justiça”.

Portanto, decorrido o prazo de prescrição, a obrigação espontaneamente realizada (ainda que com
ignorância da prescrição) não pode ser repetida e a realização é considerada como cumprimento.

Segundo o art.48/1 LGT as dívidas tributarias prescrevem no prazo de 10 anos.

CAPITULO III: GARANTIAS GERAIS E MEIOS DE DEFESA DO CONTRIBUINTE

3.1. GARANTIAS DO SUJEITO ACTIVO

a) Garantia geral

Conforme resulta do art.161/1 LGT o património do devedor é a garantia geral que o credor do imposto
dispõe. O mesmo decorre dos arts. 601 e 817 CC.

Porem, nos termos dos artigos supra-mencionados, não serve de garantia os bens impenhoráveis.

b) Garantias especiais do sujeito activo

Essa garantia pode ser de natureza pessoal ou real.

 A garantia especial de natureza pessoal – materializa-se através do instituto da


responsabilidade tributária, ou seja, quando o pagamento de uma divida tributaria de outrem, que
não foi antepadamente paga, é exigido ao responsável tributário.
 A garantia especial de natureza real – o credor do imposto para além de beneficiar de um
processo executivo próprio (processo de execução fiscal), goza de privilégios creditórios; direito
de restituição de penhor ou hipoteca legal; direito de retenção de quaisquer mercadorias sujeitas
a acção fiscal; prestação de caução (sobretudo para obter o efeito suspensivo nos casos de
reclamação, recurso hierárquico ou recurso contenciosos; garantia bancária, seguro-caução ou
qualquer outro meio susceptível de assegurar as dividas do sujeito passivo.

Outros meios são as providências cautelares (arresto e arrolamento) que são meios judiciais a favor
da administração tributária, usadas em caso de fundado receio de diminuição das garantias de cobrança,
frustração de execução da divida ou extravio ou deterioração de documentos conexos com obrigações
tributarias.

3.2. GARANTIAS DO SUJEITO PASSIVO

3.2.1. GARANTIA GERAL

O procedimento tributário pode desenvolver-se de forma patológica ou anormal, violando direitos e


interesses legalmente protegidos dos particulares.

De forma e evitar ou sancionar tais violações, a nossa legislação consagra um conjunto de garantias que
podem ser agrupadas em 2 grandes grupos:

A) GARANTIAS NÃO IMPUGNATÓRIAS

O legislador consagrou um conjunto de garantias não litigiosas dos particulares, nomeadamente:

O direito a informação sobre a sua concreta situação tributaria e a informações vinculativas [art.50
al. d) e art.101 LGT].
O direito de esclarecimento acerca da interpretação das leis tributarias e do modo mais cómodo e
seguro de as cumprir [art.50 al. c) e art.99 e 100 LGT.
Direito a notificação e fundamentação dos actos do procedimento tributário que interfiram com
direitos e interesses legalmente protegidos (art.53 LGT).
Direito a audição prévia (art.58 LGT).
Direito a caducidade da liquidação (art.86 LGT).
Direito a prescrição da divida tributária (art.48 LGT)
Direito ao reembolso de prestações indevidas (art.167 LGT)
Direito a juros indemnizatórios (art.170 LGT).

B) GARANTIAS IMPUGNATÓRIAS

São meios através dos quais um sujeito poe em crise a conformidade de um determinado acto da
administração tributária com o ordenamento jurídico e tem como objectivo proceder a sindicância ou
controle desse acto.
Estas garantis podem ser:

i) Garantias impugnatórias graciosas/administrativas


 Reclamação: consiste na reapreciação de um determinado acto de natureza administrativa junto
da própria entidade que o praticou e caracteriza-se por analisar motivos respeitantes a
legalidade do acto sindicado.

Nos termos do art.126 LGT a reclamação graciosa visa a anulação total ou parcial dos actos da
administração tributaria, é dirigido ao serviço que aprovou o acto e depende da iniciativa do sujeito
passivo ou interessado, quando se verifiquem quaisquer ilegalidades excepto a nulidade e a existência
jurídica, pois estes, conforme disposto no art.125/4 LGT, só podem ser declarados em recurso
hierárquico ou contencioso.

Fundamentos da reclamação gracioso- qualquer ilegalidade, nomeadamente:

 Errónea qualificação e quantificação dos rendimentos, lucros, valores patrimoniais e outros factos
tributários, incluindo a inexistência total ou parcial do acto tributário;
 Incompetência;
 Ausência ou vício da fundamentação legalmente exigida;
 Preterição de formalidades legais.

Prazo da reclamação graciosa – art.128 LGT a reclamação é apresentada no prazo de 60 dias,


contados apartir dos seguintes factos: termo do prazo para pagamento das prestações tributarias
legalmente notificadas ao sujeito passivo,; notificação dos restantes actos, mesmo quando não dê
origem a qualquer liquidação e excluindo a fixação da matéria tributável por métodos indirectos; citação
dos responsáveis subsidiários em processo de execução fiscal; formação da presunção de indeferimento
tácito; e conhecimento dos actos lesivos dos interesses legalmente protegidos.

Porem, se o fundamento consistir em preterição de formalidades essenciais o prazo de apresentação da


reclamação graciosa é de 1 ano.

Prazo para decidir – uma vez apresentada a reclamação deve ser decidida dentro de 60 dias (art.132/3
LGT).

Impedimentos de interpor reclamação graciosa – nos termos do art.127/2 LGT não pode ser dirigida
reclamação graciosa quanto tiver sido apresentado recurso contencioso sobre a mesma matéria.

Efeitos jurídicos – em regra dispõe o art.129 LGT a reclamação graciosa não tem efeito suspensivo,
isto é, não suspende a execução do acto objecto da reclamação, salvo se for prestada garantia
adequada. Conforme o art.161/4 LGT a garantia pode ser bancaria, caução, seguro-caução ou qualquer
outro meio susceptível de assegurar as dividas.

Cumulação de pedidos e coligação – segundo o art.130 LGT na reclamação graciosa pode haver
cumulação de pedidos e coligação de reclamantes, desde que não seja prejudicial para a celeridade da
decisão, haja identidade do tributo e do órgão competente para a decisão, bem como dos fundamentos
de facto e de direito.

 Recurso hierárquico – traduz-se na posibiidade de impugnação do acto junto do superior


hierárquico do agente que praticou o acto.

Fundamentos- segundo o art.138/1 LGT constitui fundamento o indeferimento total ou parcial da


reclamação graciosa e a decisão da revisão oficiosa ou da fixação da matéria colectável.

Prazo – art.139 LGT o recurso é apresentado no prazo de 90 dias a contar da notificação da decisão.

Decisão – art.140 LGT deve ser decidido no prazo de 60 dias a contar da data da entrega do recurso.

Efeitos jurídicos – art.138, n2 e 3 conjugado com art.129 LGT, o recurso hierárquico tem efeito
devolutivo, não suspende a execução do acto objecto de recurso, salvo se for prestada garantia
adequada. Segundo o art.161/4 LGT a garantia pode ser bancaria, caução, seguro-caução ou qualquer
outro meio susceptível de assegurar as dividas.

ii) Garantias impugnatórias contenciosas


 Tutela jurisdicional – são actos violadores de direitos estabelecidos na constituição e nas demais
leis.

Ensina SALDANHA SANCHES, o poder tributário envolve uma extensiva intromissão do Estado na
esfera pessoal do contribuinte, pois implica alterações no seu património, por isso, se toda a actividade
publica deve ser submetida ao controlo jurisdicional, mester é, fortiriori, que a atribuição seja um domínio
onde a tutela dos direitos dos contribuintes seja tratada com particular relevo.

No mesmo sentido, DIOGO LEITE DE CAMPOS, BENJAMIM SILVA RODRIGUES, a actividade da


administração é uma actividade essencialmente agressiva dos direitos e interesses legalmente
protegidos dos cidadãos e não uma actividade de prestação e em que essa agressão é levada a cabo,
por via de regra, através de actos de conteúdo positivo desfavorável para o contribuinte (liquidação de
tributos) ou de conteúdo negativo igualmente desfavoravelmente (não reconhecimento de benefícios
fiscais).
O legislador constitucional consagrou a possibilidade de existência de tribunais específicos em matérias
de impostos, os tribunais fiscais.

Apesar de constitucionalmente previsto a existência de tribunais fiscais e ainda a pesar de competência,


composição, organização e funcionamento ter sido estabelecido em 2004, assistimos em Moçambique
ate 2009, uma “promiscuidade entre as tarefas de administrar e de julgar”, o Juiz “doméstico”, pois ate
então os litígios resultantes da relação jurídico-fiscal e as infracções fiscais eram julgados em 1ª
instância por agentes da administração tributaria ao abrigo do regulamento do contencioso das
contribuições e impostos (RCCI), aprovado pelo diploma ministerial n°783, de 18 de Abril de 1942.

 Recurso contencioso (impugnação judicial) – visa a anulação total ou parcial dos actos
tributários.

Alem da anulação visa a obtenção da declaração de nulidade ou declaração de inexistência do acto


tributário.

Prazo – 30 dias apos a ratificação no caso de indeferimento da reclamação graciosa, revisão dos actos
da liquidação, revisão da matéria tributável por métodos indirectos e revogação dos actos (art.128/7 e
art.127/2 LGT) e 90 dias a notificação da decisão sobre o recurso hierárquico (141 LGT).

iii) Acções

Art.177 LGT prevê:

 Acção para reconhecimento de um direito ou interesse legalmente protegido em matéria


tributara

Tem haver com as omissões lesivas da administração tributaria.

Essas acções podem ser propostas por quem invoque a titularidade de um direito ou interesses
legalmente protegido a reconhecer e, apenas quando este meio processual se mostre ser o mais
adequado para assegurar a tutela do direito ou interesse legalmente protegido.

Isto significa que se o interessado puder utilizar outro meio como recurso contencioso, deverá faze-lo, na
medida em que este será o meio adequado para tutelar a sua posição jurídica.

 Acção para intimação para um comportamento


Esta acção pode ser intentada em caso de emissão do dever de qualquer prestação tributaria, por parte
da administração tributaria, susceptível de lesar direitos ou interesses legalmente protegidos.

Nestas situações o interessado pode, em requerimento dirigido ao tribunal, requerer a intimação da


administração tributaria para o cumprimento de um dever.

Ex: prestações de informações; passagem de certidões; consulta de processos.

Estas intimações representam como diz SOFIA DAVID, a consagração de uma tutela de urgência de
natureza não cautelar, que encontra a sua principal justificação na própria natureza dos bens jurídicos a
necessitar de prestação: direitos, liberdades e garantias ou direitos fundamentais de natureza análoga.

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