Carlos Wallace - Contestação

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA

COMARCA DE FEIRA DE SANTANA/BA.

PROCESSO N° 050.2010.001.509-3

GLOBEX UTILIDADES S.A (PONTO FRIO), pessoa jurídica de direito privado,


inscrita sob o CNPJ n° 33.041.260/0001-64, com sede e domicilio na Avenida Tenente
Rebelo, nº 675, no bairro de Irajá, na cidade do Rio de Janeiro – Rio de Janeiro,
conforme atos constitutivos em anexo, neste ato representada por seus procuradores
legalmente constituídos, com endereço profissional na Av. Tancredo Neves, n° 1283,
Edifício Ômega Empresarial, sala 702, Caminho das Árvores, Salvador/BA, CEP
41820-020, onde receberão as intimações e notificações necessárias ao regular
andamento do feito, vem, respeitosamente, por suas advogadas infrafirmadas,
apresentar CONTESTAÇÃO quanto aos fatos contra si imputados por CARLOS
WALLACE NASCIMENTO MOURA, já qualificada, de acordo com os fatos e
fundamentos jurídicos a seguir apresentados:

1. REQUERIMENTO INICIAL

Muito embora a parte demandada tenha diversos procuradores constituídos


nos autos, requer de plano que toda e qualquer intimação nos referentes autos seja
feita única e exclusivamente para a pessoa da Bela. MILENA GILA FONTES,
OAB/BA 25.510.
Vale destacar que requerimento desta espécie é plenamente admissível e
desrespeito ao mesmo implica em nulidade da intimação, conforme entendimento
manso e pacífico, e.g.:

Havendo designação prévia e expressa do advogado que receberá as


intimações, o nome deste deverá constar das publicações, sob pena
de nulidade (STJ-RT 779/182).

Requer, assim, que todas as intimações sejam dirigidas única e


exclusivamente para a referida profissional, lançando-se o nome da mesma na capa
do processo.

2. SÍNTESE DA LIDE.

Declara a parte Autora que foi surpreendido com a existência da negativação


dos seus dados junto aos Orgãos de Proteção ao Crédito, por suposto débito existente
com esta Acionada e operadora de cartão de credito Investcred/Pontocred.

Aduz que não firmou contrato, nem teve qualquer relação com as Rés, não
possui qualquer débito com as acionadas, tratando-se de cobrança indevida.

Irresignada ajuizou a presente ação com o fito de compelir as empresas


demandadas a declararem a inexistência do débito em questão, e ainda a indenizar a
parte Autora pelos danos morais que entende sofridos.

Todavia, como se passará a demonstrar com o indispensável rigor, não merece


prosperar o pleito autoral, tendo em vista que não houve a prática de qualquer conduta
ilícita por parte da Ré.

3. DA VERDADE DOS FATOS

Inicialmente, cumpre à 2ª Ré evidenciar que não procedem os pedidos


requeridos na exordial em consonância aos reais fatos ocorridos. Para tanto, faz-se
necessário elencar algumas considerações acerca dos acontecimentos como
efetivamente sucederam, a fim de evitar que este MM. Juízo seja induzido a uma
injusta condenação da empresa Ré.

Da simples analise do caso podemos perceber que, de fato, ocorreu o uso


dos documentos pessoais da Acionante por terceiros em benefício próprio – fraude.

Alega a Demandante na busca de indenização por danos que não são de


responsabilidade da empresa, ora Ré, a má prestação do serviço e desorganização
desta. Entretanto não assume com a sua responsabilidade quanto aos seus
documentos pessoais. Impossível para empresa fazer a cuidadosa análise se os
documentos são verdadeiros ou falsificados, vez que, como é de conhecimento geral,
estelionatários os fazem perto da perfeição!

Até mesmo órgãos públicos são ludibriados com a ação destes meliantes,
como foi no caso em tela a PONTO FRIO. De plano verificamos que a empresa foi tão
vítima quanto o Autor. Ressalte-se que o consumidor especifica que NÃO foi vitima de
assalto ou mesmo que por descuido perdeu seus documentos.

Repita-se a empresa além de não ter responsabilidade quanto ao fato, já que


os documentos pessoais são de inteira responsabilidade do Demandante, foi tão
vítima quanto a mesma.

Apenas por amor ao debate, importante frisar que quanto à comunicação ao


consumidor da sua possível inscrição nos órgãos de proteção ao crédito, é de inteira
responsabilidade dos mesmos. Sendo tal matéria já sumulada pelo Superior Tribunal
de Justiça, pelo eu é pacífico seu entendimento.

Ainda acerca deste ponto, segundo os tribunais pátrios, há a necessidade de


demonstração da utilidade prática da comunicação e dos prejuízos causados pela
ausência da mesma. Segundo Gomes de Barros, o credor é parte ilegítima para
responder por dano moral pela falta da comunicação prevista no CDC.

Dessa forma, julgando a conduta realizada pela empresa 2ª Ré, o caso


descrito pelo Autor não pode ser considerado como fomentador de danos de
qualquer natureza, isso porque o Réu, ora contestante, além de ter sido, também
vítima de estelionato, não praticou qualquer conduta capaz de gerar a ocorrência
de danos morais, perfazendo-se assim a não assistência a pretensões autorais.
4. DO NÃO CABIMENTO DA ANTECIPAÇÃO PARCIAL DOS EFEITOS DA TUTELA

A Postulante invoca os auspícios da tutela antecipada, para que se determine


a retirada de seu nome dos cadastros de proteção ao crédito.

Perscrutando os termos do art. 273, do CPC, c/c art. 84, §4º, do CDC, sedes
legais do instituto sob análise, dessume-se que, para a sua concessão devem estar
presentes o relevante fundamento da demanda e fundado receio de dano
irreparável, arrimados em provas inequívocas e na verossimilhança das
alegações.

Insta salientar que conforme restou cabalmente demonstrado, o Demandante


sonega fatos, deduzindo seu pleito com argumentos vãos e insubsistentes que, de
plano, afastam a plausibilidade exigida pelos aludidos dispositivos. Ademais, convém
fazer o seguinte questionamento: qual dano irreparável pode advir o Postulante, pela
legítima inclusão de seu nome nos cadastros de inadimplentes? Vale esclarecer que a
empresa demandada não recebeu a contra-prestação pelo suposto contrato firmado,
tendo para todos os efeitos se tronado credora da parte Acionante.

O próprio Código de Defesa do Consumidor, em seu art. 43, § 4º, legitima a


atuação dos bancos de dados e congêneres, que são considerados entidades de
caráter público, ante o importante papel que exercem na tutela e proteção ao crédito,
elemento de vital importância ao desenvolvimento do comércio e dos setores
produtivos nacionais.

No caso em testilha, há uma discussão sobre a existência do débito,


resultante de um contrato firmado entre as partes, todavia, a Acionante não se dignou
a comprovar nos autos de forma inequívoca a não pactuação do referido contrato,
incutindo ao Demandado o fundado temor de que fora vítima da negligencia da
empresa Ré.

Ressalta-se que, malgrado o Postulante tenha desfrutado do bem adquirido, a


Acionada pode não vir a receber a legítima prestação pelo contrato de compra e
venda, instaurando um profundo desequilíbrio econômico na relação consumerista,
que pode vir a ser por demais potencializado, caso seja mantido a decisão deste
pleito.
Assim é que a antecipação de tutela, nos moldes requeridos pelo Autor,
apresenta-se temerária, ou seja, a partir da exclusão do nome do Demandante
nos Órgãos de Restrição ao Credito, por ordem judicial, o mesmo estará livre
para contrair novos débitos com outras instituições lojistas, haja vista que não
constará nenhum cerceamento ao seu nome.

5. PRELIMINAR

5.1 DA MANIFESTA ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM.

Cumpre ressaltar que a Ré não poderá ser responsabilizada pelos invocados


danos alegados pela Autora, vez que o certame gira em torno de um ato fora do
alcance da responsabilidade das LOJAS PONTO FRIO, sendo tal responsabilidade
única e exclusiva do BANCO INVESTCRED - UNIBANCO.

Insta salientar que somente o titular do direito recebe o poder para litigar em
juízo, e figurar de forma legitima na relação processual a ser observada pelo órgão
jurisdicional, sendo assim também somente aquele que realmente é o cumpridor do
dever a ser pleiteado tem legitimidade para figurar no pólo passivo da ação.

Da simples análise dos autos, de plano, resta evidenciado, conforme


documento de juntado na inicial que a negativação foi efetuada pelo BANCO
INVESTCRED-PONTOCRED – UNIBANCO.

Nesse sentido, expresso é o Código de Processo Civil Pátrio, em seu art. 3°, in
verbis:

“Para propor ou contestar ação é necessário ter interesse e


legitimidade”.

Destarte, prescreve este mesmo Compendio Legal, em seu art. 267, VI, a
"sanção processual" de extinção do feito sem apreciação de mérito para a parte que
ajuizar ação sem que seja preenchido o requisito da legitimidade ad causam.

Ocorre que, no caso em tela, o Autor simplesmente ignorou essa condição da


ação, vez que ajuizou ação contra a 2ª Ré – que carece de legitimidade para figurar no
pólo passivo da presente relação processual. Acontece, Emérito Magistrado, que a ora
Ré nenhuma responsabilidade tem com relação ao produto sub judice.

O prestador do serviço - financiamento encontra-se perfeitamente


identificado,qual seja a BANCO INVESTCRED UNIBANCO S/A, detentor do poder
de efetuar o cancelamento do financiamento adquirido, não se justificando o
prosseguimento da demanda em relação à Contestante. Nesse aspecto, não há
que se falar, pois, em qualquer espécie de responsabilidade, seja solidária, seja
subsidiária.

Assim, por essas razões, requer a Contestante que este MM. Juízo se digne a
reconhecer a ilegitimidade passiva ad causam da primeira Ré, determinando, por
conseguinte, a extinção do presente feito, em relação a esta, conforme o disposto no
art. 267, VI do CPC.

6. DO MÉRITO

6.1 DA EXCLUDENTE DE RESPONSABILIDADE – FATO DE TERCEIRO

Conforme depreende-se da inicial o Autor alega ter sido vítima do golpe de


fraude, pelo que teve seus documentos utilizados em diversas operações financeiras,
fraudes estas, realizados por terceiros.

Insta salientar, que a PONTO FRIO, como fornecedora de produtos eletro-


eletrônicos possuem todo um procedimento para firmação dos seus contratos de
compra-venda, devendo o consumidor apresentar os documentos pessoais para tanto.

Ressalte-se que tais documentos pessoais são de inteira responsabilidade do


indivíduo. Não pode a empresa, ora Ré, ser prejudicada ou mesmo condenada por
fato que não deu origem. Ora! A PONTO FRIO foi tão vítima quanto o Autor, e
inclusive, encontra-se em total prejuízo uma vez que realizou a venda e não
recebeu o pagamento da mesma.

Vale ressaltar, que as hipóteses assinaladas no inciso III, § 3° do artigo 12, da


Lei n° 8.078/90 - Código de Defesa do Consumidor, assim como no inciso II, § 2° do
artigo 14, exclui a responsabilidade do fornecedor, se ficar provado que o acidente de
consumo se deu em razão da culpa exclusiva da vítima ou por ação exclusiva de
terceiro, porquanto não haveria nexo de causalidade entre o dano sofrido pelo
consumidor e a atividade do fornecedor do produto ou serviço, conforme segue:

Art. 12 (...)
(...)
§ 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será
responsabilizado quando provar:
I - que não colocou o produto no mercado;
II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito
inexiste; III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

Logo, se a Acionada cumpriu todas as suas obrigações de fornecedora,


sendo-lhes entregues todos os documentos pessoais sem qualquer alteração, sendo
impossível ao homem médio, desconfiar de fraude, não pode ser imputado a este
qualquer tipo de condenação em razão da negativação, uma vez que agiu no exercício
o seu direito de cobrança.

Dessa forma, deve este i. Juízo, declarar IMPROCEDENTE o pedido de danos


morais em razão da negativação, uma vez que a empresa foi tão vitima quanto o
Autor, pelo que já suporta os prejuízos de uma venda sem contraprestação ainda mais
pelo fato de não ter dado origem a qualquer ato que tenha atentado a moral do
consumidor.

6.2. DO POSICIONAMENTO PRETORIANO EM CASOS IGUAIS AO PRESENTE

A questão não é escoteira, havendo claro posicionamento pretoriano de


exclusão de responsabilidade.

“não concorre para o evento danoso o banco que honra cheque


administrativo formal e substanciakmente perfeito. O fato de ter sido o
cheque obtido mediante estelionato constitui fato doloso de terceiro,
equiparável ao caso fortuito, excludente do próprio nexo causal.
Tampouco pode ser o portador do cheque utilizado uma identidade falsa no
momento de descontá-lo, se não havia na agência bancária algum elemento
que pudesse levar à percepção de falsidade” (TJRJ Ap. civl. 4542/92, 6ª.
Câmara cível, Rel. Des. Sérgio Cavalieri Filho)
“RESPONSABILIDADE CIVIL – UTILIZAÇÃO DE DOCUMENTOS DE
OUTREM FALSIFICADOS E FURTADOS NA AQUISIÇÃO DE BENS DE
CONSUMO – ENCAMINHAMENTO DO NOME DO DEVEDOR AO SPC –
AUSÊNCIA DE CULPA PELA NEGATIVAÇÃO. Nos casos de perda,
extravio, ou furto de documentos pertencentes a outrem, não
comprovada a falsificação grosseira dos documentos por terceiro na
aquisição de bens a crédito, descabe atribuir-se à loja, tanto com base
no artigo 159 do Código Civil como nos preceitos do Código de Defesa
do Consumidor, a responsabilidade pelo evento, se não provada a
existência de culpa. Inaplicabilidade das normas do Código de Defesa do
Consumidor, por inexistência da relação de consumo ou da prestação de
serviço entre as partes”. (grifamos) (TJRJ – Rel. Des. Paulo Horta)

“(...) A Demandada adotou todas as cautelas na relação comercial e, como


alegou, os dados constantes nos contratos de compra e venda (fls. 36/37 e
192/193) coincidem com os do demandante, constantes do RG e CIC
(fls.06) e na inicial (fls.02), ou seja, seu nome, n° do RG, data e local de
expedição, nome do pai e da mãe (Sildesino Silva Brito e Odete Arcanja
Nascimento – nomes não comuns), n° do CIC e a profissão de faxineiro
(fls.02 – inicial, fls. 33,37 e 192) (...)”. Assim, não tendo a demandada
agido com culpa não se pode cogitar de indenização por dano moral,
pois ausentes os requisitos do art.159 do Código Civil”. (I. Juíza do
Colégio Recursal do Juizado Especial da Comarca de Diadema/SP, Dra.
Maria da Conceição Pinto Vendeiro, no recurso n° 12/02)

Assim, tendo em vistas as razões acima expostas, não deve a demandada ser
condenada a qualquer tipo de reparação à autora, vez que foi igualmente vítima.

6.3 DA INEXISTÊNCIA DE DEVER DE INDENIZAR

Despido de qualquer fundamentação, sem mesmo relatar sequer 01 (um) fato


concreto a título de exemplo, o Autor postula danos morais no elevado valor de R$
18.600,00 (dezoito mil e seiscentos reais). Como é amplamente reconhecido pela
jurisprudência, meros transtornos não são capazes de ensejar responsabilidade civil
em decorrência de dano moral.
Em suma, como se vê, a presente demanda aparenta ser mais uma das
repetidas “aventuras jurídicas” com as quais diariamente – e infelizmente – nos
deparamos no Poder Judiciário, face o atrativo que a proteção aos direitos do
consumidor, a ponto de normalmente ser confundida com patrocínio ao
enriquecimento sem justa causa.

Salienta-se que o princípio geral do Direito, informador da teoria da


responsabilidade civil, encontradiço no ordenamento jurídico de todos os povos
civilizados e sem o qual a vida social é quase inconcebível, é aquele que impõe, a
quem causa dano a outrem, o dever de suportar as conseqüências de seu
comportamento.1

É lúcida a lição estampada nos artigos 186 e 927, do Código Civil, no sentido
de que aquele que por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem comete ato ilícito, ficando obrigado a repará-lo.

Assim, pode-se observar que:

A responsabilidade civil consiste na efetivação da reparabilidade abstrata do


prejuízo em relação ao sujeito passivo da relação jurídica que se forma; que
seu fundamento é o restabelecimento do equilíbrio jurídico-econômico
rompido pelo dano, reintegrando, quando possível, a vítima ao status quo
ante; e que deriva da inobservância de um único mandamento, qual seja,
neminem laedere, a obrigação geral de não prejudicar ninguém, imposta a
todo cidadão2.

Dito isto, infere-se que três são os pressupostos obrigatórios da


responsabilidade civil, sem os quais não se pode cogitar a ocorrência de indenização.
São eles: a) conduta contrária ao direito; b) dano indenizável e c) nexo de causalidade
entre a ação e o resultado danoso.

No caso em testilha, vários são os fundamentos a denotar a improcedência


do pleito autoral, eis que não se faz presente os pressupostos suso mencionados. Isto
ficará bastante claro a partir da análise das seguintes considerações.

?
RODRIGUES, Sílvio. Direito Civil. IV volume. São Paulo: Saraiva, 1998, p. 13.
2
SILVA JR., Djalma. Responsabilidade Civil pelos Danos Causados à Propriedade Digital. Salvador: Editora Contexto,
2003, p. 38.
6.3.1. DA AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE DANOS MORAIS

Não mais se refuta a possibilidade de existência de dano não patrimonial,


entendido como ofensa ao lado íntimo da personalidade, atingindo atributos como a
honra, dignidade, reputação, decoro, prestígio etc. Todavia, embora resida no mundo
interior de cada pessoa, o agravo moral precisa, necessariamente, ser
circunstanciado. Não se trata, tão somente, de vir a Juízo alegar-se angústia, dor
emocional e sofrimento, sem ao menos demonstrá-los eficazmente.

Conforme dito acima, mediante afirmações vagas, a Demandante alega ter


sofrido incontáveis infortúnios em sua vida privada, sentindo-se lesado devido a
conduta da Acionada, pretendendo a condenação da mesma, na absurda quantia de
cerca de 40 salários mínimos, como forma de induzir o Reclamado a prezar pela
qualidade dos serviços prestados aos seus clientes, a fim de não expô-los a
constrangimentos desnecessários.

De acordo com WILSON MELLO DA SILVA3: “se o que pede a reparação por
danos morais não tem, a seu favor, a presunção sempre vencível desses mesmos
danos, terá que prová-los”. Além disto, é princípio assente em nosso ordenamento
jurídico a imputação do ônus da prova àquele que deduz a pretensão em juízo. Nestes
termos, resta insofismável que as meras alegações aduzidas na exordial não são
suficientes para consubstanciar o pleito da Demandante.

O mestre AGUIAR DIAS4, festejado pela sua dedicação ao tema e pela


relevante contribuição doutrinária que nos legou, assevera que:

[...] não basta, todavia, que o Autor mostre que o fato de que se queixa, na
ação, seja capaz de produzir dano, seja de natureza prejudicial. É preciso
que prove o dano concreto, assim entendida a realidade do dano que
experimentou, relegando para a liquidação a avaliação do seu montante.

A doutrina é uniforme quanto ao entendimento acerca da necessidade de


comprovação dos danos morais, para que se possa pleitear a respectiva indenização.
De acordo com ZENUN5:

3
SILVA, Wilson Mello da. O Dano Moral e sua Reparação. 2 ed. São Paulo: Forense, 1969, p. 510.
4
DIAS, José Aguiar. Da Responsabilidade Civil. 6ª ed. Vol. I. Rio de Janeiro: Forense, 1979, p.93-94.
5
ZENUN, Augusto. Dano Moral e sua Reparação, 1ª Ed. Rio de Janeiro: Forense, 1994, p. 269.
O dano moral não se dá por ficta suposição que, ao cabo e ao fim tem de
ser rechaçada, pelo magistrado, que não pode estar à mercê de caprichos
edonísticos de emulações de legulelos que se acham nas camadas etéreas
do nada. É lógico que se não indeniza danos hipotéticos, pelo que todos os
danos, quer sejam morais, quer sejam materiais, hão de ser rigorosamente
provados.

Muito se aproveita ao caso a manifestação do 1º Tribunal de Alçada Civil de


São Paulo6, por intermédio da sua 4ª Câmara Cível:

[...] mas é necessário que o ofendido justifique essa indenização. De feito.


Não se pode compor o pretium doloris sem que a parte o justifique ou
indique os meios de mitigá-lo. Bem por isso, já reconheceu esta Câmara
ser imprescindível que a parte, na exordial, justifique a indenização do dano
moral, se não para que não fique ao arbítrio do julgador, ao menos para que
possa o requerido contrariar a pretensão com objetividade e eficácia (ênfase
acrescentada).

Excelência, não se pode considerar qualquer contratempo como passível de


ensejar um pleito indenizatório, sob pena de qualquer dissabor, por mínimo que seja,
venha a autorizar sua formulação. Ora, como decorre da análise de sua incoativa, o
Autor fundamenta seu pedido de indenização a título de danos morais em virtude de
“transtornos” que lhe foram causados. Neste sentido, vejamos os precisos
ensinamentos de SÉRGIO CAVALIERI FILHO7:

Nessa linha de princípio, só deve ser reputado como dano moral a dor,
vexame, sofrimento ou humilhação que, fugindo à normalidade, interfira no
comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe aflições, angústias e
desequilíbrio em seu bem-estar. Mero dissabor, aborrecimento, mágoa,
irritação ou sensibilidade exacerbada estão fora da órbita do dano
moral, porquanto, além de fazerem parte da normalidade do nosso dia
a dia, no trabalho, no trânsito, entre amigos e até no ambiente familiar,
tais situações não são intensas e duradouras a ponto de romper o
equilíbrio psicológico do indivíduo. Se assim não se entender
acabaremos por banalizar o dano moral, ensejando ações judiciais em
busca de indenizações pelos mais triviais aborrecimentos (ênfase
acrescentada).

6
Revista de Jurisprudência dos Tribunais de Alçada Civil de São Paulo, nº. 125, p. 206.
7
CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 2ª ed. São Paulo: Malheiros, 2000,
p. 78.
Enfim, à míngua de comprovação de qualquer prejuízo extrapatrimonial
supostamente experimentado, resta inviabilizado o pedido de condenação do Réu ao
pagamento de indenização a título de danos morais, pleito que aqui sofre expressa
objurgação.

5.3.2. DO ABSURDO VALOR PLEITEADO

Salta aos olhos a aberração do valor suscitado pela Demandante em sua


exordial com o intuito de erigir e justificar um suposto direito a uma indenização. Sob a
alegação de que foi acometido por constrangimentos e dissabores em virtude da
inscrição de seu nome nos Órgãos de Restrição ao Crédito, a Acionante vem a juízo
pleitear a quantia de R$18.600,00 (dezoito mil e seiscentos reais).

De acordo com o Egrégio STJ8:

“É de repudiar a pretensão dos que postulam exorbitâncias


inadmissíveis com arrimo no dano moral, que não tem por
escopo favorecer o enriquecimento indevido” (grifos aditados).

Excelência, a condenação do Réu ao pagamento de uma indenização de


tamanha proporção seria absolutamente abusiva, conformando, inclusive, hipótese de
enriquecimento ilícito, o que autoriza a transcrição de algumas considerações
formuladas por SÉRGIO SEVERO9:

A falta de tradição brasileira na reparação dos danos extrapatrimoniais já


tem-se prestado a decisões no mínimo absurdas, como as somas
fantásticas, na ordem de milhões de dólares, atribuídas no Maranhão a
pessoas que tiveram cheques devolvidos caracterizando abalo de crédito.
Ora, de acordo com Geneviève Viney, numa passagem irônica e
delicadamente mal-humorada, deve-se evitar que algum autor americano
venha apelar para a loteria judicial (ênfase acrescentada).

A jurisprudência pátria está sempre atenta a casos semelhantes ao que se


discute na presente ação, sempre exortando o equilíbrio, eqüidade e o bom-senso:

8
AGA 108923/SP, 4ª Turma, DJ 29/10/96.
9
SEVERO, Sérgio. Os Danos Extrapatrimoniais. São Paulo: Saraiva, 1996, p. 197.
É de entendimento jurisprudencial que o valor dos danos morais arbitrado
deve ser retificado quando, por erro, extrapolando dos limites do
razoável, a falta de ponderação na sua fixação viola certos princípios
jurídicos, tais como o de justiça e o de equilíbrio que deve subsistir entre
a capacidade econômica daquele que deve indenizar e o padrão sócio-
econômico da vítima ou daqueles a quem prestava assistência 10 (ênfase
acrescentada).

O arbitramento da condenação a título de dano moral deve operar-se com


moderação, proporcionalmente ao grau de culpa, ao porte empresarial das
partes, suas atividades comerciais, e, ainda, ao valor do negócio,
orientando-se o juiz pelos critérios sugeridos pela doutrina e pela
jurisprudência, com razoabilidade, valendo-se de sua experiência e do bom
senso, atento à realidade da vida, notadamente à situação econômica atual,
e às peculiaridades de cada caso11 (grifos aditados).

Neste esteio, o eminente Des. Paulo Furtado, ciente desses verdadeiros


acidentes, proferiu decisão de forma a obstar que o pleito de indenização a título de
danos morais enseje enriquecimento ilícito, o que, a seu ver, desmoraliza o instituto.
Segundo o Desembargador:

DANO MORAL – QUANTUM INDENIZATÓRIO – CRITÉRIOS –


NECESSIDADE DE PRUDÊNCIA DO MAGISTRADO NA FIXAÇÃO. A
reparação do dano moral deve significar uma compensação eqüitativa da
perda ocasionada pelo réu. Não pode, evidentemente, dar causa a um
enriquecimento ilícito. O que se percebe atualmente é que os exageros
estão desmoralizando o instituto. É necessário ter-se mais prudência na
fixação dos danos morais, para que o judiciário não sirva como meio de
enriquecimento sem causa. Os juizes precisam estar atentos aos exageros
e devem agir com cuidado na fixação do quantum12 (ênfase acrescentada).

A indenização por dano moral, é bom frisar, não deve ser pleiteada a torto e a
direito, sob qualquer fundamento. O objetivo de tal instituto é o de tentar compensar,
monetariamente, sob a égide de um Estado capitalista, o efetivo dano que a parte
sofreu, visto que é impossível a retirada, de sua psique, do seu mal-estar emocional.

10
Recurso Especial nº. 155.363-DF, Relator Min. Waldemar Zveiter, 3ª Turma do STJ, julgado em 14.12.1999.
11
Agravo Regimental no Agravo de Instrumento n. AGA 244708-MG, Relator Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, 4ª
Turma do STJ, julgado em 14.12.1999.
12
Ementa do Acórdão da Apelação Cível nº. 45.256-4, TJ/BA.
Ora, é flagrante a total irrazoabilidade do pedido do Demandante. A posição
adotada pelo mesmo condiz com a denúncia da doutrina da existência de uma
verdadeira indústria do dano moral, baseada em uma sociedade na qual
praticamente tudo dá ensejo à angústia e abalo emocional, alegações estas que são
levadas, temerariamente, à apreciação do Judiciário.

Na visão da doutrina:

Outra causa incentivadora para o ingresso de novas demandas pleiteando


indenização por danos morais é o grande número de julgados deferindo
indenizações verdadeiramente astronômicas para este tipo de lesão
alegada, o que permite projeções extremamente favoráveis aos litigantes,
que chegam a sonhar acordados com similares ganhos também em suas
demandas [...] Por fim, o crescimento de pleitos absurdos buscando
indenização por danos morais é realidade já bem conhecida e
dominada. Impõe-se, no momento, o aprofundamento do debate sobre
suas causas de ocorrência e a tomada de providências para conter este
indevido crescimento, que mereceu receber o desonroso título de
“indústria do dano moral13” (ênfase acrescentada).

Pela análise do caso em testilha, constata-se ser impossível medir a extensão


dos danos eventualmente sofridos pelo Acionante, já que este sequer os menciona.
Logo, à míngua de prova, caso eles sejam presumidos, a respectiva indenização, caso
por absurdo deferida, deve ser mínima!

O aplaudido Calmon de Passos14, em seu brilhante intelecto, condena a


banalização do dano moral. Nas palavras do autor:

Nada mais suscetível de subjetivizar-se que a dor nem nada mais fácil de
ser objeto de mistificação. Assim como já existiram carpideiras que
choravam a dor dos que eram incapazes de chorá-la, porque não a
experimentavam, também nos tornamos extremamente hábeis em nos
fazermos carpideiras de nós mesmos, chorando, para o espetáculo diante
dos outros, a dor que em verdade não experimentamos. A possibilidade,
inclusive, de retiramos proveitos financeiros dessa nossa dor oculta,
fez-nos atores excepcionais e meliantes extremamente hábeis, quer

13
HERMES, Gustavo. Combatendo a indústria do dano moral: a busca pela razoabilidade material e processual. 2003.
Disponível em: http://www.augure.com.br/content/artigos_detalhe.php?artigo_id=4. Acesso em: 30.11.06.
14
PASSOS, J. J. Calmon de. O imoral nas indenizações por dano moral. Jus Navigandi, Teresina, ano 6, n. 57, jul.
2002. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2989>. Acesso em: 26 fev. 2007.
como vitimas, quer como advogados ou magistrados. Para se ressarcir
esses danos, deveríamos ter ao menos a decência ou a cautela de
exigir a prova da efetiva dor do beneficiário, desocultando-a.
Hipocritamente descartamos essa exigência, precisamente porque,
quando real a dor, repugna ao que sofre pelo que é insubstituível
substituí-lo pelo encorpamento de sua conta bancária... Vale dizer, o
dano moral é significativo não para reparar a ofensa à honra e a outros
valores éticos, sim para acrescer alguns trocados ao patrimônio do
felizardo que foi moralmente enxovalhado (ênfase acrescentada).

O Poder Judiciário está sempre atento a estas tentativas de enriquecimento


ilícito, combatendo-a, com veemência, sempre que o quantum indenizatório se mostra
excessivo, notadamente em cotejo com a extensão do dano e as condições pessoais
dos envolvidos.

Destarte, sendo flagrante a abusividade e até mesmo imoralidade da


pretensão do Autor, em especial no que tange ao exorbitante valor postulado,
indenização eventualmente deferida, no que não se acredita, deve atentar à extensão
dos prejuízos, condição pessoal da Acionante.

7. DOS PEDIDOS

Assim, com base no que foi exposto, e na certeza do bom direito aplicado por
este i. Juízo, requer:

a) Que seja acatada a preliminar de ilegitimidade passiva ad causam,


pelo fato de não ser a empresa Ponto Frio a responsável pela
negativação do nome da Acionante;

b) Caso não seja acolhida a preliminar em comento o que não acredita.


que sejam julgados totalmente improcedentes os pedidos autorais, em
razão da inexistência de culpa do Réu, e, pela inexistência de qualquer tipo
de dano;

c) Que não seja deferida a liminar que proíbe a empresa Ré de solicitar a


negativação do nome do Acionante nos Órgãos de Proteção ao Credito;
d) Por fim, que toda e qualquer intimação seja feita única e exclusivamente
para a pessoa da Bela. MILENA GILA FONTES, OAB/BA 25.510.

Protesta por todos os meios de prova em direito admitidos, notadamente pelo


depoimento pessoal da parte autora e do réu, juntada de novos documentos, tudo o
que desde já requer.

Nestes termos;
Pede deferimento.
Salvador, 15 de março de 2010.

PEDRO ABDON LEMOS PINHO


OAB/BA 29.495

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