Por Que o Sexo e Divertido e Divertido de Ler

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"Por que o sexo é divertido?" é divertido de ler

Article in Estudos de Psicologia (Natal) · June 2000


DOI: 10.1590/S1413-294X2000000100013 · Source: DOAJ

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Maria Emilia Yamamoto


Universidade Federal do Rio Grande do Norte
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Estudos de Psicologia
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
[email protected]
ISSN: 1413-294X
BRASIL

2000
Maria Emília Yamamoto
“POR QUE O SEXO É DIVERTIDO?” É DIVERTIDO DE LER
Estudos de Psicologia, enero-junio, año/vol. 5, número 001
Universidad Federal do Rio Grande do Norte
Natal, Brasil
pp. 261-265
Estudos de Psicologia 2000, Resenha 261
5(1), 261-265

R E S E N H A
“Por que o sexo é divertido?” é
divertido de ler
1
Por que o sexo é divertido?, de Jared Diamond

Maria Emília Yamamoto


Universidade Federal do Rio Grande do Norte

A
Psicologia Evolutiva vem ganhando espaço nas rodas de
discussão dentro e fora da academia, especialmente no que
diz respeito aos seus desdobramentos para o comportamen-
to humano. Há, no entanto, uma escassez de bibliografia em portugu-
ês que trate este assunto de forma científica e ao mesmo tempo aces-
sível. O livro “Por que o sexo é divertido?” de Jared Diamond vem
preencher esta lacuna.
O autor aborda vários aspectos da sexualidade humana, tais como
a privacidade do sexo, a batalha dos sexos, a lactação exclusivamente
feminina, o sexo como diversão, os papéis masculinos, a evolução da
menopausa e dos sinais físicos. Ao abordar estes aspectos, Jared
Diamond explora como e porque a vida sexual da espécie humana
difere, em vários aspectos radicalmente, da de outros animais. Para
explicar estas características distintas o autor apela para razões
evolutivas, recorrendo freqüentemente a estudos realizados com ani-
mais e relatos antropológicos da cultura e costumes de sociedades
primitivas.
O autor inicia o livro com uma descrição do que denomina de
“comportamento sexual bizarro dos seres humanos”: a reunião de
pares em um longo relacionamento, o cuidado dos filhos pelos dois
262 Resenha

parceiros, a vida em território comum a outros casais e membros avul-


sos dos dois sexos, o sexo privado, a ovulação oculta, a ocorrência da
menopausa e a atividade sexual constante, sem relação com períodos
de fertilidade. Diamond chama a atenção para a diferença entre estas
características do comportamento humano e o de outras espécies ani-
mais. Lembra, é claro, que este comportamento, em vários de seus
aspectos, é semelhante em alguns poucos animais, e também que,
embora estes padrões representem a norma, todos conhecemos as
freqüentes transgressões a ela. Embora exagerando na singularidade
do comportamento sexual humano, Diamond lembra que o desenvol-
vimento de determinadas estratégias sexuais é o resultado de pres-
sões ecológicas e restrições biológicas em qualquer espécie.
No capítulo seguinte, o autor examina o que chama de a guerra
dos sexos, e usa como motivo, o tema em que, talvez, machos e fêmeas
mais divergem: o cuidado à prole. Tomando a precaução de lembrar
que o cuidado à prole, como qualquer outro comportamento, está
sujeito às leis da seleção natural, Diamond discute a influência de três
aspectos da reprodução sobre o conflito entre machos e fêmeas: o
investimento no ovo ou embrião, a existência de novas oportunida-
des de reprodução e a confiança na paternidade/maternidade. Vários
exemplos desse conflito em animais são discutidos e também exce-
ções à norma mais freqüente que é a do cuidado pela fêmea. Finalmen-
te examina a guerra dos sexos no ser humano, com ênfase na diferença
no potencial reprodutivo dos dois sexos. Faltaria, aqui, uma discus-
são mais ampla dos mecanismos adaptativos desenvolvidos por ho-
mens e mulheres para lidar com essa questão, hoje em dia relativamen-
te bem conhecidos, como os descritos por Baker e Bellis (1989, 1993a,
1993b) que poderia enriquecer bastante esta seção.
O capítulo seguinte é talvez o mais instigante, embora, provavel-
mente, o que apresenta a fundamentação menos consistente. Diamond
lembra que a ausência de lactação em machos não é estrita - e já foi
descrita sob estimulação hormonal em algumas espécies de mamífe-
ros, o homem inclusive, e espontaneamente, em outras espécies. Po-
rém, há um salto enorme, que as evidências disponíveis não supor-
tam, para a conclusão de que nossa espécie é candidata a desenvol-
Resenha 263

ver, no futuro distante, a lactação masculina. Embora o autor elabore


um caso em favor dos benefícios da lactação masculina humana, ele
não explora os dados de, ao menos, um grupo animal por ele citado, os
sagüis, que certamente são candidatos muito mais adequados ao de-
senvolvimento da lactação pelo macho, pois este se envolve no cui-
dado de forma intensa e tem seus níveis de prolactina (hormônio que
na fêmea induz e sustenta a lactação) aumentados durante o cuidado
e até mesmo antes do nascimento dos filhotes quanto é um pai expe-
riente (Mota & Sousa, 2000; Ziegler & Snowdon, 1997). Nem por isso
há qualquer evidência de que esses machos estejam a caminho de
começar a ajudar suas parceiras a amamentar os filhotes. Parece-me,
pois, que Diamond, com seu entusiasmo, leva a especulação além do
que os dados lhe permitem.
A evolução do sexo como diversão é o que o autor discute em
seguida. A ovulação oculta e a receptividade constante das fêmeas
humanas são apontadas como o mecanismo que a evolução selecio-
nou para a ocorrência de sexo freqüente e sem relação necessária com a
reprodução. Mas, por que isto seria vantajoso do ponto de vista evo-
lutivo? Duas teorias são discutidas, a do “papai-em-casa” e a dos “mui-
tos-pais”, optando o autor pela primeira, após uma longa discussão da
evolução da ovulação oculta em mulheres e fêmeas de grandes primatas.
Os homens não apreciarão muito o capítulo seguinte que tem
como título “Para que servem os homens?”. Nele, Diamond discute os
papéis femininos e masculinos na criação e provisão dos filhos e
chega a conclusão que a contribuição da mulher é a que sustenta a
família e a do homem é a que sustenta sua vaidade ou seus privilégios.
A maior parte das evidências vem de estudos antropológicos e os
Aché, como em todas as outras discussões deste tema, estão entre os
mais citados. No final do capítulo, o autor faz uma discussão da soci-
edade moderna e destaca alguns aspectos que do seu ponto de vista
aproximam os homens Aché dos homens ocidentais modernos. Tal-
vez, aqui, uma discussão sobre o descompasso entre o ambiente da
evolução desses comportamentos e o ambiente no qual ocorrem hoje
pudesse ajudar a esclarecer a questão. A evolução da menopausa e
dos sinais físicos completa o livro.
264 Resenha

Este não é um livro científico e o autor certamente não se propõe


a tanto. Por isso, ficará desapontado quem for procurar por um livro
que cite referências, que mostre uma linguagem precisa e que se pre-
ocupe em fundamentar claramente cada uma de suas conclusões. O
livro não serve e nem pretende servir a este objetivo. Ele é dirigido ao
leitor leigo, ao profissional ou aluno de graduação e pós-graduação,
que quer ter uma introdução ao tema. É com este espírito que ele deve
ser lido. Porém, mesmo assim, alguns cuidados poderiam ser tomados.
Primeiro, com a tradução, louvando porém a editora Rocco pelo provi-
mento de uma revisão técnica e lembrando que esta tradução está
melhor que a da maioria dos outros livros da área. Mesmo assim, há
alguns deslizes: “cópula de pares-extra” para extra-pair copulation
(cópula extra-par), “poliandria de inversão de papel sexual”, que tal-
vez poderia ser melhor traduzido por “poliandria com inversão dos
papéis sexuais”, investimento parenteral no índice remissivo em lu-
gar de investimento parental tal como aparece no corpo do texto,
“polígena” em vez de “polígina” - e alguns poucos outros termos.
Embora menores, essas imprecisões podem ser bastante prejudiciais
para o leigo ou para quem se inicia. Entre os livros recomendados,
foram mantidas as referências inglesas e americanas quando, pelo
menos três deles, já foram traduzidos para o português. A indicação
poderia ajudar o leitor que não lê inglês.
Mas, tudo isso considerado, este é um livro que vale a pena ler.
Pelo menos para descobrir que há outras atividades, além do sexo,
que são divertidas. Como, por exemplo, ler o livro.

Referências
Baker, R. R., & Bellis, M. A. (1989). Number of sperm in human ejaculates
varies in accordance with sperm competition theory. Animal Behaviour,
37(5): 867-869.
Baker, R. R., & Bellis, M. A. (1993a). Human sperm competition – ejaculate
adjustment by males and the function of masturbation. Animal Behaviour,
46(5): 861-885.
Baker, R. R., & Bellis, M. A. (1993b). Human sperm competition – ejaculate
manipulation by females and a function for the female orgasm. Animal
Behaviour, 46(5): 887-909.
Resenha 265

Mota, M. T., & Sousa, M. B. C. (2000). Prolactin levels of fathers and


helpers related to alloparental care in common marmosets, Callithrix
jacchus. Folia Primatologica, 71(1/2): 22-26.
Ziegler, T. E., & Snowdon, C. T. (1997). Role of prolactin in paternal care in
a monogamous New World primate, Saguinus oedipus. Annals of the New
York Academy of Sciences, 807, 599-601.

Nota 1
Por que o sexo é divertido?, de Jared
Diamond (Traduzido de Why is sex fun?,
London, Phoenix, 1998, por Talita M.
Rodrigues com revisão técnica de Rui
Cerqueira.Rio de Janeiro, Rocco, 1999,
ISBN 85-325-0978-9, 149 páginas,
15,5 x 23 cm, R$21,00).

Maria Emilia Yamamoto, dou- Sobre o autor


tora em Psicobiologia pela Escola
Paulista de Medicina, é Professora
Titular do Departamento de Fisio-
logia, Universidade Federal do Rio
Grande do Norte. Endereço para
correspondência: Caixa Postal
1511, 59072-970, Natal, RN. E-
mail: [email protected].

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