Precursores Filogenéticos e Ontogenéticos Da Linguagem

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H UMANAS

Revista de Cincias

COMPORTAMENTO ANIMAL E PSICOLOGIA COMPARATIVA

Revista filiada :

Editora da UFSC

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTACATARINA


Reitor Vice-Reitor Lcio Jos Botelho Ariovaldo Bolzan

CENTRO DE FILOSOFIA E CINCIAS HUMANAS Diretor Vice-Diretor EDITORA DA UFSC Diretor-Executivo Alcides Buss Conselho Editorial Belnice Sueli Nodari (Presidente), Jos Isaac Pilati, Luiz Teixeira do Vale Pereira, Luiz Henrique de Arajo Dutra, Srgio Fernando Torres de Freitas, Tnia Regina Oliveira Ramos e Vera Lcia Bazzo. REVISTA DE CINCIAS HUMANAS Editor Jos Gonalves Medeiros Editor Especial Rogrio F. Guerra Comisso Editorial Cynthia Machado Campos, Hector Ricardo Leis, Jos Gonalves Medeiros (Presidente), Marco Antnio Frangiotti, Maria Juracy FilgueirasTonelli, Norberto Olmiro Horn Filho, Rafael Jos de Menezes Bastos e Tamara Benakouche. Conselho Cientfico Alcir Pcora (UNICAMP); Artur Cesar Isaia (UFSC); Carmen Silvia Rial (UFSC); Ccile Raud Mattedi (UFSC); Cleci Maraschin (UFRGS); Darlei DallAgnoll (UFSC); Edmilson Lopes Junior (UFRN); Erly Euzbio dos Anjos (UFES); Fernando Ponte de Souza (UFSC); Franz Josef Brseke (UFSC); Grauben Assis (UFPA); Jane Russo (UERJ); Joo Cleps Junior (UFU); Jos Carlos Zanelli (UFSC); Leila Christina Duarte Dias (UFSC); Luis Henrique Arajo Dutra (UFSC); Mrcio Lopes da Silva (UFV); Maria Bernardete Ramos (UFSC); Maria Cecilia Maringoni de Carvalho (UNICAMP); Maria Teresa Santos Cunha (UDESC); Mauricio Roque Serva de Oliveira (PUC-PR); Mauro Pereira Porto (UNB); Olga Lucia Castreghini de Freitas Firkowski (UFPR); Oscar Calavia Sez (UFSC); Rafael Raffaelli (UFSC); Silvio Paulo Botom (UFSC); Walquiria Krger Corra (UFSC). Organizao Geral Tiragem Data de circulao Periodicidade Luiz Carlos Cardoso e Allysson Srgio Vieira 500 exemplares Junho de 2004 Semestral Joo Eduardo Pinto Basto Lupi Jos Gonalves Medeiros

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

COMPORTAMENTO ANIMAL E PSICOLOGIA COMPARATIVA

H UMANAS
Revista de Cincias

ISSN 0101-9589

Revista de Cincias Humanas Florianpolis E D U F S C n. 34 p.209-494 Out. 2003

A Revista de Cincias Humanas uma publicao semestral do Centro de Filosofia e Cincias Humanas da Universidade Federal de Santa Catarina. Lanou, em 1982, o seu primeiro nmero e tem sido um importante veculo na disseminao do conhecimento interdisciplinar nas diferentes reas das humanidades. Publica com regularidade dois nmeros por ano com uma tiragem de 500 exemplares por volume, alm de nmeros temticos anuais. Os artigos so revisados por trs relatores ad hoc, preferencialmente vinculados a instituies nacionais. Editorao eletrnica Allysson Srgio Vieira [email protected] Capa Allysson Srgio Vieira Reviso geral Jos Gonalves Medeiros Renato Tapado Ilustrao da Capa Me amamentanto seus filhotes (gerbilo da Monglia, Meriones unguiculatus). Laboratrio de Psicologia Experimental, 2002.

Revista indexada por:


Sociological Abstracts - SA; Linguistics & Language Behavior Abstracts - LLBA; Social Planning / Policy & Development Abstracts - PODA; Public Affairs Information Service, Inc. - PAIS; Nisc Pensylvania Abstracts, inc. - NISC. Qualis/CAPES

(Catalogao na fonte pela Biblioteca Universitria da Universidade Federal de Santa Catarina)


Revista de Cincias Humanas (Temas de Nosso Sculo) / Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de Filosofia e Cincias Humanas.- v.1, n.1 (jan. 1982) - Florianpolis : Editora da UFSC, 1982v.; 21cm Semestral ISSN 0101-9589 I. Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de Filosofia e Cincias Humanas. Endereo para assinatura Mailing address subscriptions Universidade Federal de Santa Catarina Editora da UFSC Campus Universitrio - Trindade Caixa Postal 476 88040-900 - Florianpolis - SC / Brasil Endereo para correspondncia Mailing address Universidade Federal de Santa Catarina Centro de Filosofia e Cincias Humanas Revista de Cincias Humanas 88040-900 - Florianpolis - SC / Brasil

Revista de Cincias

HUMANAS
outubro

(Florianpolis)

nmero 34

2003

Edio Temtica COMPORTAMENTO ANIMAL E PSICOLOGIA COMPARATIVA

Sumrio

Apresentao................................................................................215 Precursores filogenticos e ontogenticos da linguagem: reflexes preliminares Ana M. A. Carvalho Maria Isabel Pedrosa.............................................................219 Princpios morais e a evoluo de um senso moral Dennis Werner........................................................................253 Inato versus adquirido: a persistncia da dicotomia Emma Otta Fernando Leite Ribeiro Vera Slvia Raad Bussab...........................................................283 Bases biolgicas e influncias culturais relacionadas ao comportamento parental Alessandra Bonassoli Prado Mauro Lus Vieira....................................................................313

Sistema monogmico de acasalamento e estratgias reprodutivas dos pequenos primatas neotropicais Cristina Valria Santos.............................................................335 Enriquecimento ambiental, privao social e manipulao neonatal Carlos Roberto de Oliveira Nunes Vera Slvia Raad Bussab Rogerio F. Guerra...................................................................365 Uma anlise evolucionria da parturio e do desenvolvimento infantil em mamferos Rogrio F. Guerra.................................................................395 Contribuies recentes da Neurocincia Psicologia Emlio Takase........................................................................441 Relao dos Consultores ad hoc 2003.....................................459 Normas para publicao..............................................................461 Retrospectiva de ttulos e autores publicados (1982-2003) .....469

Apresentao

ste nmero da Revista de Cincias Humanas (RCH, n.34, referente a outubro de 2003) inteiramente dedicado psicologia comparativa e resultado de reflexes de alguns colegas que trabalham com comportamento humano ou animal, vinculados ao pensamento evolucionrio, com o propsito de trazer informaes sobre temas variados e apresentar proposies originais. Nesse sentido, so abordados temas relacionados com o desenvolvimento ontogentico e filogentico da linguagem, a evoluo da moralidade humana, a persistente dicotomia do inatismo e ambientalismo, os fatores ambientais e evolucionrios que norteiam o investimento parental, estratgias reprodutivas (poliginia e poliandria ou estratgias K e r, por exemplo) em primatas e mamferos de modo geral. Tambm so discutidos os efeitos do enriquecimento ambiental, da privao social e manipulao neonatal sobre a plasticidade cerebral e modulao do comportamento. Em um outro texto so analisados a parturio em diferentes espcies e as teorias que explicam o desenvolvimento infantil em mamferos; aqui, so apontadas as diferenas entre as espcies altriciais e precociais, a modulao da interao me-filhote,

a importncia do choro e do aspecto fsico dos bebs como eliciadores do comportamento parental. Existem poucas anlises evolucionrias sobre a parturio e desenvolvimento do comportamento humano, de forma que estes textos procuram preencher esta lacuna. No ltimo texto apresentado o modo como os avanos da neurocincia auxiliam na compreenso do comportamento e o impacto desse conhecimento para o desenvolvimento da atividade profissional dos psiclogos; os estudos sobre o crebro tm aumentado vertiginosamente, graas s modernas tcnicas de neuroimagem, cujas informaes podero resultar em um conjunto sofisticado de mtodos de tratamento de distrbios comportamentais e neurodegenerativos. Os textos foram construdos de forma mais abrangente possvel, visando permitir que profissionais e estudantes de ps-graduao possam fazer uso deles. Uma leitura atenta permite concluir que os temas mantm uma ligao entre si, pois difcil discorrer sobre a linguagem humana sem esbarrar na dicotomia instinto vs. aprendizagem, da mesma forma que as postulaes tericas sobre o sistema monogmico, cuidados biparentais prole e o suporte emocional s parturientes esto relacionadas e refletem os custos energticos elevados da atividade reprodutiva na espcie humana. Curiosamente, alguns pesquisadores brasileiros utilizam uma estranha palavra de origem grega, doula, para designar a mulher que acompanha as gestantes no momento em que vo dar luz; trata-se de um estrangeirismo desnecessrio, pois a nossa cultura dispe de um vocbulo muito mais rico, do ponto de vista sentimental e etimolgico, que palavra comadre. Quando falamos em comportamento parental sempre vem mente o relacionamento me-filhote, mas nos esquecemos que machos de algumas espcies tambm exibem respostas afiliativas em direo aos filhotes; uma anlise comparativa pode auxiliar a compreenso deste fenmeno, tal como pode ser visto em dois textos arrolados neste nmero especial da Revista de Cincias Humanas. O pensamento evolucionrio no novo, pois suas razes se encontram na obra do naturalista Charles Darwin (1809-1882); a novidade um dos enunciados para a explicao do comportamento humano, podendo contribuir para a compreenso de temas como monogamia e estratgias reprodutivas, investimento parental, origem dos valores morais e assim por diante. Trata-se de uma ousadia intelectual,

mas o pensamento cientfico sempre est associado com inovaes e exploraes de terrenos desconhecidos alm do mais, um leitor mais atento poderia argumentar, com algum grau de razo, que a explicao do comportamento humano luz dos princpios evolucionrios significa apenas o uso de antigas ferramentas para lidar com velhos problemas. Por ltimo, deixamos registrado algo obvio: a publicao de um texto cientfico no Brasil uma proeza de alto significado e deve ser comemorada, por mais modesta que seja. Devido s precrias condies de trabalho e excesso de burocracia (gastamos a maior parte do nosso tempo redigindo relatrios ou participando de reunies), o pensamento original no estimulado nas universidades pblicas; buscando fugir do rtulo da improdutividade, as pessoas tentam vencer os obstculos, mas acabam mergulhando num mar de frustraes. Diuturnamente somos solicitados a justificar sobre a importncia do nosso trabalho, mas, feito isto, nem sempre recebemos o que solicitamos e muitas vezes sequer somos merecedores de ateno das autoridades nesse contexto, tudo parece conspirar contra a atividade cientfica. Deixando as queixas de lado, os autores e o editor especial deste nmero esperam que a comunidade faa bom proveito das reflexes aqui arroladas. Torcemos para que este empreendimento seja til aos espritos inquietos! Que viceje a cincia!

Rogrio F. Guerra Editor especial

Precursores filogenticos e ontogenticos da linguagem: reflexes preliminares*

Ana M. A. Carvalho1
Universidade de So Paulo

Maria Isabel Pedrosa2


Universidade Federal de Pernambuco

Resumo Apresenta-se uma reflexo preliminar sobre precursores filogenticos e ontogenticos da linguagem, como subsdio para um projeto de pesquisa sobre transio ontogentica da comunicao noverbal para a integrao entre comunicao no-verbal e linguagem verbal que caracteriza a comunicao humana. sintetizada uma reviso sobre contextos funcionais da comunicao na natureza e pro__________________________________________________

Abstract This paper presents a preliminary reflection on possible phylogenetic and ontogenetic precursors of language. This reflection is part of an ongoing research project on the ontogenetic transition from exclusively non-verbal to the characteristically human integration of verbal and non-verbal communication. A synthesis of the functional contexts of communication in nature and possible analogues in hu-

* Phylogenetic and ontogenetic precursors of language: a preliminary reflection 1 Endereo para correspondncias: Rua da Invernada, 12, Fazendinha, Carapicuba, SP, 06355340 (E-mail: [email protected]). Apoio CNPq/ FAPESP. 2 Endereo para correspondncias: Laboratrio de Interao Social Humana, Depto. de Psicologia, UFPE, Av. Prof. Moraes Rego, 1235, Cidade Universitria, Recife, PE, 50670901 (E-mail: [email protected]). Revista de Cincias Humanas, Florianpolis: EDUFSC, n.34, p.219-252, outubro de 2003

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cessos anlogos na ontognese humana. Focaliza-se a seguir a literatura sobre imitao, processo essencial na aquisio da linguagem e de outros comportamentos culturalmente mediados, sob trs vertentes: autores interacionistas clssicos, pesquisas a respeito de ateno conjunta e imitao em primatas no humanos, e estudos sobre o papel da imitao na emergncia de aes coordenadas na interao crianacriana. A literatura sugere que os precursores filogenticos que permitiram a diferenciao da cultura e da linguagem humanas se situam no mbito da aprendizagem social, particularmente em uma modalidade especfica de imitao, que produz a cpia fiel das aes de um modelo; pr-adaptaes possibilitadoras dessa imitao so a prioridade motivacional do outro ser humano como foco de ateno e ateno conjunta, relacionada capacidade precoce do ser humano de perceber o outro como agente intencional. Ateno conjunta, imitao e percepo de intencionalidade so focos dos projetos em andamento nesta linha de pesquisa.

man ontogeny is presented. The literature on imitation a fundamental process in the acquisition of language and of other culturally mediated behaviors focuses on three theoretical traditions: classic studies of interactionist scholars, research on joint attention and imitation in non-human primates, and studies on the role of imitation in the emergence of coordinated actions in child-child interactions. This literature suggests that the phylogenetic precursors which enabled the differentiation of human culture and language lie in the realm of social learning, and particularly in a specific modality of imitation that produces faithful copies of a model. The requisite pre-adaptations for this type of imitation are the motivational priority of other human beings as focuses of attention, and joint attention, related to the precocious human capacity for understanding others as intentional agents. Joint attention, imitation and perception of intentionality are the focus of ongoing projects in this line of research.

Palavras-chave: Desenvolvimento, Keywords: Development, imitatiimitao, linguagem, cognio, on- on, language, cognition, ontogenesis, phylogenesis. tognese, filognese.

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Situando a questo o longo dos ltimos vinte e cinco anos, aproximadamente, vimos trabalhando sobre interao criana-criana com um enfoque psicoetolgico (segundo conceituao de ADES, 1986). Esse percurso se caracterizou inicialmente por esforos metodolgicos no sentido de descrever interaes sociais em situaes naturais3 isto , grupos de crianas brincando em ambientes cotidianos em nossa cultura, tais como creches e pr-escolas (cf., por exemplo, CARVALHO e MORAIS, 1987); evoluiu posteriormente para a discusso do prprio conceito de interao social e tentativas de desenvolver uma forma de anlise capaz de apreender sua dinmica (CARVALHO, 1988; BRANCO et al., 1989; CARVALHO et al., 2002) e para o desenvolvimento de conceitos sobre a natureza dos fenmenos interacionais na troca social humana (CARVALHO, 1992, 1994; IMPRIO-HAMBURGER et al., 1996; PEDROSA et al., 1997; CARVALHO et al., 1998). As caractersticas centrais desse percurso, a nosso ver, so, por um lado, o foco nas dimenses sociais do fenmeno da infncia, tomadas como uma instncia dos fenmenos sociais humanos pertinentes ao mbito da Psicologia e, paralelamente, pressupostas como constitutivas do desenvolvimento individual. Este pressuposto caracteriza tanto a perspectiva psicoetolgica quanto as teorizaes contemporneas sobre desenvolvimento usualmente identificadas como interacionistas, construtivistas, scio-histricas ou sciointeracionistas, tais como as de Piaget, Vygotsky e Wallon, que apontaram a interao como fator constitutivo das aquisies mentais, procurando superar vieses inatistas e ambientalistas. Por outro lado, o vis etolgico de nossa perspectiva encaminha nossas perguntas e nossa anlise para os significados funcionais dessas dimenses em termos de adaptaes caractersticas da espcie, mais do que para suas conseqncias em termos de desenvolvimento individual. A confluncia dessas vertentes conduziu ao interesse pelos fenmenos da comunicao nos primeiros anos de vida, o que, por sua vez, encaminhou para o presente interesse por precursores da linguagem, objeto da reflexo preliminar exposta neste texto e dos projetos de pesquisa atualmente em andamento.
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O conceito de situao natural controvertido no caso do ser humano, quando se supe que os processos biolgicos de evoluo esto estacionados para nossa espcie; sem entrar nessa controvrsia, utilizamos aqui a expresso situao natural em sentido operacional, especificado no texto, em contraposio a situaes de laboratrio ou qualquer outra condio de interao criada artificialmente pelo pesquisador.

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O surgimento da questo a partir de um olhar evolutivo Carvalho e Pedrosa (2004a) resumem um olhar comparativo e evolucionrio sobre a comunicao, procurando analis-la em termos de funes adaptativas, processo evolutivo e processo ontogentico. Esse texto constituiu o ponto de partida da presente proposta de trabalho, motivo pelo qual revisto mais detalhadamente a seguir. A definio psicobiolgica de comunicao no consensual, identificando-se freqentemente com uma definio mais ou menos abrangente de interao. De fato, em sentido amplo a comunicao pode ser entendida como uma caracterstica universal dos sistemas vivos, incluindo a comunicao entre abelhas e flores de forma a produzir a polinizao, a comunicao entre machos e fmeas de forma a produzir a reproduo, ou entre animais que caam de maneira cooperativa de forma a produzir o sucesso da caada (HAUSER, 1996). No entanto, tambm consensual o reconhecimento de que a comunicao humana um fenmeno nico na natureza. Rejeitando-se a hiptese simplista de que possa ter evoludo bruscamente, atravs de emergncias ou de mutaes sem nenhuma histria anterior, parece interessante especular sobre suas origens a partir de uma anlise comparativa. Carvalho e Pedrosa (2004a) empreendem essa especulao a partir da considerao dos contextos funcionais da comunicao na natureza. Em um primeiro nvel, consideram as implicaes do acasalamento em termos da funcionalidade dos fenmenos comunicativos, apontando o carter de negociao envolvido nesse contexto funcional. Segundo as anlises clssicas da Etologia, o acasalamento envolve um processo de negociao, atravs do qual indivduos com motivaes semelhantes e ao mesmo tempo conflitantes (atrao e medo, gerando um conflito aproximao-esquiva) administram esse conflito por meio de rituais de comunicao (em geral ritualizados ao longo da filognese) que conduziro (ou no, em caso de fracasso) a um objetivo partilhado: a cpula e suas variadas conseqncias em termos de continuidade de interaes. A sugesto de que, mesmo em outras espcies animais e possivelmente em estgios filogenticos ou ontogenticos em que os recursos comunicativos so pouco flexveis, a comunicao consiste em um processo de negociao.
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Essa sugesto ilustrada, no texto, com exemplos de interaes de crianas pequenas, cuja base motivacional parece ser uma forma de disputa territorial, negociada atravs de recursos comunicativos (cf. tambm CARVALHO e PEDROSA, 2004b; PEDROSA e CARVALHO, 2004). Em um segundo momento, as autoras consideram os contextos funcionais de sobrevivncia no sentido de proteo contra predadores e outros sinais defensivos e de interao social no sentido de troca de informaes sobre recursos ambientais e de estabelecimento e administrao de relaes sociais nos grupos (HAUSER, 1996). O aspecto salientado nesta anlise a passagem da comunicao expressiva para a comunicao referencial, isto , relativa a aspectos do ambiente fsico e social e no apenas a estados emocionais ou disposies comportamentais dos indivduos em interao. So exemplos disso a comunicao de abelhas a respeito da existncia e da localizao de alimento atravs da dana (VON FRISCH, 1967), ou os chamados de alarme de macacos vervet, cujos vrios sinais vocais indicam diferentes tipos de predadores e resultam em diferentes estratgias de defesa (STRUHSAKER, 1967). Trata-se de um tipo de comunicao na qual, pode-se dizer, certos sinais representam certos aspectos do mundo externo. No terceiro momento, analisada a transio entre expresso emocional e comunicao expressiva, atravs do processo filogentico de ritualizao e de seus anlogos ontogenticos (ritualizao ontogentica, abreviao LORENZ, 1966; MONTAGNER, 1978; LYRA e SOUZA, 2003). A essncia do argumento de que a comunicao ritualizada se deriva da manifestao de estados motivacionais, convertendo-se em sinais atravs de processos filogenticos ou ontogenticos que simplificam ou abreviam essas manifestaes. Montagner, descrevendo interaes de crianas pequenas, oferece vrios exemplos de ritualizao ontogentica, que caracteriza como um processo de [...] diferenciao de aes, toques, cheiros ou vocalizaes at adquirirem valor de sinais (1978, p. 252). O termo ritualizao tomado de emprstimo ao processo filogentico atravs do qual certos animais vm a apresentar comportamentos de topografia estereotipada, simplificada e repetitiva, cujas funes/motivaes originais de locomoo, alimentao, defesa, etc. se separam, ao longo da filognese, do ato em si, adquirindo este,
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substitutivamente, valor de sinal um precursor ou pelo menos um anlogo do smbolo na comunicao no-humana (HUXLEY, 1966). Um outro exemplo relativo ontognese a anlise da constituio do gesto de apontar, diferenciado a partir do gesto de tentar alcanar algo, uma diferenciao mediada pelo outro que interpreta o gesto e responde a ele, em um processo de regulao recproca (VYGOTSKY, 1984). O gesto ritualizado representa uma espcie de sntese: um comportamento ou uma seqncia de comportamentos selecionada, fixada, especializada no processo interativo; estes comportamentos se simplificam e se desprendem de seus contextos de origem, adquirindo outro valor funcional, o valor de sinal. Nesse desdobramento da emoo ou da motivao vivida em um gesto passvel de tornar-se comunicativo, Wallon (1942/19794) identifica um desdobramento da realidade em representao e um preldio da funo simblica:
Um gesto ritual no significa nada seno em relao a um prottipo, no tem outro motivo que no seja obter por este intermedirio um resultado, cujas condies e possibilidades no pertencem, totalmente pelo menos, ao campo das circunstncias presentes. menos um ato que figurao de um ato. As conseqncias que se procuram no esto nele, mas nas foras que tende a evocar, isto , no que representa. O rito introduz a representao e a representao, atravs dele, converte-se no intermedirio ou condensador duma eficincia que j no est no simples manejo bruto das coisas nem na simples aco muscular ao contato dos objetos (p. 129).

A analogia entre ritualizao filogentica e ontogentica, evidentemente, no se estende aos seus mecanismos, no primeiro caso mediados por variabilidade gentica e seleo natural, e no outro por interao social e processos culturais. O interesse dessa analogia reside principalmente no que sugere sobre a natureza dos sistemas comunicativos,
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Quando disponvel, informamos o ano da primeira publicao de textos de autores clssicos, seguido pelo ano da edio consultada.

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quer se constituam na filognese quer na ontognese: sua dinmica de constituio e transformao, de desprender-se dos referentes originais, de simplificar-se ou abreviar-se aumentando a estereotipia e maximizando e/ou especializando (por exemplo, restringindo a grupos e subgrupos) sua eficcia comunicativa. A etimologia da linguagem verbal tambm pode ser vista como compartilhando essas propriedades como sistema comunicativo em contnua transformao: Vossa Merc Vosmic Voc C..., um exemplo entre muitos. No quarto momento da anlise, Carvalho e Pedrosa (2004a) discutem a transio entre comunicao expressiva e comunicao referencial (note-se que h diferena entre as duas transies, de expresso a comunicao expressiva, e desta a comunicao referencial). Do ponto de vista adaptativo, a comunicao referencial implica a possibilidade de reagir a situaes nas quais no ocorreu exposio direta, o que especialmente importante em espcies sociais cujos membros vivem relativamente dispersos e tm a oportunidade de se deparar com novos objetos ou eventos potencialmente relevantes para o grupo. Do ponto de vista da filognese, isto , da histria evolutiva, a comunicao referencial exige a existncia de capacidade de associar sinais a aspectos relevantes do ambiente (capacidade associativa), e de mecanismos que permitam a transferncia de informao entre os indivduos e a diversificao de sinais. O primeiro destes (transferncia de informao) envolveria a orientao da ateno para o ambiente mediada pelos parceiros sociais; o segundo (diversificao de sinais) poderia ser baseado em imitao, entendida frouxamente como cpia potencialmente varivel da ao do outro. Essa frouxido potencial resultaria, no caso do ser humano, na exploso lxica ou comunicao representacional em sentido estrito (HAUSER, 1996). Ora, parece estar implcito, nessa seqncia de argumentos, o surgimento, ao longo da filognese, de processos ou mecanismos diferenciados que possibilitariam uma transformao qualitativa, emergente, da comunicao proto-representacional, ilustrada pelos gestos ritualizados, para uma comunicao propriamente representacional, caracterstica da linguagem articulada desde que se admita, como o fazemos, que a linguagem articulada, embora emergente em relao a fenmenos produzidos anteriormente pela filognese, no pode ser desvinculada desta, ou seja, tem nela as suas origens.
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Essa discusso conduziu questo dos precursores filogenticos e ontogenticos da linguagem verbal, que foi introduzida no argumento do captulo que sintetizamos aqui a partir de anlises anteriores sobre o processo interacional (PEDROSA et al., 1997; CARVALHO et al, 1998, 1999) e da discusso corrente na literatura sobre modalidades diferenciadas de imitao em primatas no humanos e em seres humanos (TOMASELLO et al., 1993; ECKERMAN e DIDOW, 1996; ECKERMAN e PETERMAN, 2001). Com base nessa literatura, e na anlise qualitativa de alguns episdios de imitao em crianas nos trs primeiros anos de vida, Carvalho e Pedrosa propem a noo de protolinguagem para designar os atos imitativos como atos comunicativos no estgio pr-verbal, em dois sentidos diferentes, porm compatveis: 1) Como recursos comunicativos que emergem antes da linguagem verbal, tanto na ontognese quanto na filognese. Os critrios para a identificao de certos comportamentos como proto-linguagem neste primeiro sentido so exclusivamente funcionais, baseados na demonstrao de que as aes em questo tm eficcia comunicativa em interaes intra ou inter-especficas (cf., por exemplo, NADEL e FONTAINE, 1989; PEDROSA e CARVALHO, 1995). 2) Como precursores ou requisitos da linguagem verbal. Esta a direo que vem sendo seguida pela pesquisa comparativa e por alguns enfoques sobre desenvolvimento humano, ilustrados pelas referncias acima (TOMASELLO et al., 1993; ECKERMAN et al., 1989). Os objetivos delineados nesta direo de pesquisa so: a) Identificar aes e/ ou processos constituintes de uma seqncia ontogentica que conduz linguagem verbal, de forma a demonstrar possveis elos entre essas aes/ processos e a emergncia do verbal; e b) Examinar a species-specificity desses processos de forma a compreender a singularidade da comunicao humana. Ontognese humana: emoo, expresso e comunicao referencial em crianas pequenas A criana entra no mundo dos significados bem antes de adquirir e utilizar a linguagem verbal. Pedrosa e Carvalho (1995) evidenciam a construo e a reconstruo de sentidos de objetos e de aes no espao interacional de crianas pequenas: gestos ou vocalizaes que adquirem novos significados em contextos interacionais particulares;
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enredos construdos de brincadeiras, sinalizados e difundidos para o grupo; objetos re-significados como componentes de brincadeiras. Nesse texto, Pedrosa e Carvalho analisam a diferenciao de cdigos comunicativos expresses faciais, gestos e outros movimentos corporais, expresses verbais primitivas e a reconstruo de seus significados no decorrer de processos interativos de crianas em atividade ldica livre. Pedrosa e Carvalho (2004) analisam a ocorrncia de aprendizagem sobre eventos fsicos na interao de pares de idade; um dos resultados mais marcantes dessa anlise a evidncia de atribuio de intencionalidade ao parceiro em crianas de menos de trs anos. Pedrosa e Eckerman (2000), observando comportamento de crianas de 6 a 18 meses em uma creche, durante perodos de brincadeira livre, evidenciam que as crianas compartilham significados atravs de aes coletivas (disputa por objetos, aes articuladas e coordenadas, aes de consolo, alternncia de papis), tipicamente mediadas por imitao. O conceito de imitao freqenta, com maior ou menor destaque, praticamente toda a literatura sobre desenvolvimento. Selecionamos trs vertentes dessa literatura para informar nosso argumento a respeito do status da imitao como precursora da linguagem: dois autores interacionistas clssicos que focalizaram a constituio da mente e do sujeito humano, e que destacaram a imitao como elemento central na ontognese da representao, da funo simblica e da linguagem Wallon e Piaget5; a vertente etolgica de pesquisa comparativa sobre imitao; e os trabalhos de Eckerman e colaboradores (1989, 1996, 2001), que hipotetizam uma funo importante da imitao na facilitao do desenvolvimento de meios verbais de consecuo de aes coordenadas. a) Imitao e ontognese da representao: o enfoque de dois autores clssicos da Psicologia do Desenvolvimento A imitao um tema constante entre os autores clssicos que estudaram a ontognese da representao nos primeiros anos de vida (PIAGET, 1946/1975; PIAGET e INHELDER, 1966/1980; WALLON,
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Preservamos nesta reviso termos utilizados pelos autores, tais como mente, representao e funo simblica, mesmo quando sujeitos a crticas em nosso prprio enfoque ou no de outros autores.

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1942/1979, 1949/1971, e os representantes contemporneos de sua tradio de pesquisa, tais como NADEL e BAUDONNIRE, 1981)6. A discusso sobre o processo imitativo e seu papel na constituio da representao comea com a dificuldade de se chegar a um acordo conceitual. Wallon (1942/1979) chama a ateno para duas formas distintas de conceituar a imitao. A primeira concebe imitao como um ato que reproduz um modelo. Conceber deste modo implica admitir a representao do modelo como condio necessria, isto , admitir um poder de representao anterior ao ato imitativo, o que iria de encontro a evidncias de comportamentos imitativos de crianas em idades muito precoces (por exemplo, MELTZOFF e MOORE, 1977), em que o poder de representao no existe de forma manifesta. Outra maneira de definir a imitao pela semelhana entre dois atos, quando seus protagonistas esto em situao de observao mtua. Discriminam-se fenmenos que no seriam imitao, tais como o comportamento de dois animais famintos diante de uma presa, nos quais a semelhana entre os comportamentos se deve ao despertar simultneo da mesma motivao: o que regula o comportamento desses animais a prpria presa, e no o parceiro de espcie. Para ser considerada imitativa, a ao deveria, segundo Wallon, ser regulada pelo alvo que serve de parmetro (o outro animal) para que se possa indicar uma semelhana. Wallon (1942/1979) concebe a imitao como uma atividade onde a representao deve chegar a formular-se. As etapas sucessivas da imitao:
[...] obrigam a reconhecer um estado de movimento, em que este deixa de se confundir com as reaes imediatas e prticas que as circunstncias fazem surgir dos seus automatismos, e um estado da representao em que o movimento a contm j antes de ela saber traduzir-se em imagem ou de explicitar os traos de que deveria ser composta (p. 137-138).
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A exposio feita neste item recupera partes da introduo da tese de Doutorado Interao criana-criana: um lugar de construo do sujeito (Pedrosa, 1989), na qual Wallon foi um autor particularmente focalizado.

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Wallon pensa que o ato imitativo surge da atividade postural e distingue uma imitao espontnea e uma imitao inteligente. Na primeira, o modelo no se impe como algo exterior ao sujeito; apesar de ter surgido sob a forma de percepo, parece-lhe ntimo e o impele ao ato imitativo que complementa e restabelece um acordo psicomotor. Na segunda, o ato imitativo distingue-se do modelo; o sujeito decide-se por imitar, ou no, algo sentido como exterior a si prprio. A passagem da primeira para a segunda modalidade um processo lento e complexo. A imitao inteligente tende a estabelecer uma dissociao entre o que percebido, desejado ou imaginado e o que efetuado. Essa oposio propicia o plano da representao. A representao seria o resultado da duplicao do real, ou seja, o desdobramento do plano do sensvel e do concreto em seu equivalente, formado de imagens, de smbolos e de idias. Como se d esse desdobramento? Segundo a interpretao walloniana, entende-se o processo de imitao como um estado dinmico de fuso e de diferenciao entre o sujeito e o modelo isto , o outro. A criana observa ativamente os outros que a atraem; h uma tendncia de se unir a eles numa espcie de participao efetiva. Formam-se a os ingredientes bsicos do processo imitativo: uma constelao perceptivo-motriz ou uma plasticidade perceptivo-postural. Estes ingredientes se constituem em uma espcie de modelo ntimo, agrupando impresses diversas e esparsas no tempo numa frmula global. Esta frmula, em seguida, tende a transformar-se, a efetivar-se no meio fsico, em termos sucessivos, para compor o desenrolar do ato imitativo. Aparentemente no existe problema nessa transformao, quando se concebe que a ordem dos gestos est implicada no esquema de seu registro. Mas no bem assim que se interpreta o modelo: ele concebido como um conjunto, como algo organizado que corresponde a uma impresso global. Visto desse modo, o problema esmiu-lo em seus termos sucessivos. O xito de uma imitao obtido quando os gestos se articulam com uma topografia e um momento, integrados na realizao de sua totalidade. Comea, ento, a oposio ao modelo: a efetivao dos gestos exige comparao e toda comparao exige desdobramento. Mesmo a imitao imediata, na presena do modelo, implica a confrontao dos termos sucessivos atuais com o seu prottipo, apreendido na totalidade do modelo. O trabalho deve ser dividido entre a execuo e o controle do ato, e nesse trabalho se destaca a noo de semelhana.
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Para indicar uma semelhana e no apenas reconhec-la, parece existir uma figurao que poderia ser considerada uma representao prvia. Mas essa figurao pode estar longe ainda de satisfazer as condies da representao. Quaisquer circunstncias de que resultem uma concomitncia ou outras afinidades podem parecer autntica semelhana. Entretanto, possvel reconhecer a um preldio de representao. A semelhana uma qualidade que se desprende dos objetos, das aes, e que permite uni-los, apesar de serem distintos sob outros aspectos. Na medida em que permite associ-los, a semelhana , em potncia, categoria. Inicialmente ela destacada por uma espcie de participao material; mas a forma ou outra dimenso que se comunica e que se tornar a qualidade a ser classificada. Nas analogias, mesmo nas mais simples, so as aes de resultados semelhantes que se convertem numa espcie de poder simblico. A similitude dos processos de imitao e de representao induz a pensar, tambm, na influncia ou participao do primeiro no segundo. Os dois processos se desenrolam em planos distintos: um, no plano motor, e o outro, no das imagens e smbolos. Mas a fora da analogia devese ao fato de que os dois processos compartilham um problema: transformar uma frmula ntima, resultado de uma condensao de impresses e experincias diversas, em termos sucessivos, devendo, portanto, ser dimensionada no tempo. No referencial walloniano, o pensamento parece corresponder a um sistema no qual as impresses e experincias se delineiam como figuras e unidades de conscincia sobre um campo diverso e difuso. Imagens ou idias, qualquer que seja a complexidade de sua realidade, formam um sistema simplificado, apreendido pela conscincia de uma s vez, instantaneamente. O desenvolvimento do pensamento implica que ele se torne discursivo, para subsistir e ser utilizado em outros momentos, em outras realidades. Enquanto isso no acontece, o pensamento permanece dominado por impresses sucessivas, sem analisar e diferenciar as relaes entre as coisas ou as situaes. um pensamento concreto e sincrtico, impotente para se decompor em partes que possam ser articuladas e reorganizadas de outra forma, e assim possam corresponder a outras experincias. Falta ao pensamento um campo de representaes onde ele possa evoluir (WALLON, 1942/1979; 1963/ 1986).
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H uma suposta similaridade entre mecanismos inerentes imitao e representao: ambas so a reduo de impresses mais ou menos esparsas em uma frmula global e como que atemporal; a ambas cabe transformarem-se em termos sucessivos, ou seja, respectivamente, no ato imitativo e no pensamento discursivo, implicando o aspecto temporal. A imitao imediata, na presena do modelo, supe tambm, segundo Wallon, a intervenincia da formulao ntima do modelo. Neste caso, porm, so mais evidentes os indcios comportamentais de que est havendo regulao recproca no ato imitativo. Na imitao imediata acontecem casos em que a criana imitada no nota que est sendo o modelo da outra, mas, na maioria das vezes, isto percebido e ela prpria se ajusta e se regula por esse fato. o que demonstram Nadel e Baudonnire (1981), ao investigarem o significado da imitao imediata em crianas de 2 a 3 anos, observadas em grupos de duas ou trs crianas em uma sala em que eram oferecidos, em igual nmero, objetos de vrios tipos. Utilizando como critrios para a anlise os comportamentos de oferta de objeto, que freqentemente precediam a imitao, e a imitao do abandono de um objeto, os autores sugerem que a oferta de objetos sinaliza uma expectativa de ser imitado, e que nem o objeto nem a atividade que ele suscita so os alvos privilegiados da imitao intencional, mas antes a prpria semelhana de atitudes entre as crianas. A imitao interpretada como um meio para o estabelecimento de contato social, permitindo um acordo entre as crianas, que ainda no podem obt-lo por meios verbais. A quase simultaneidade das aes facilita um estado de fuso, e s possvel pela antecipao da atitude da outra. O desdobramento inerente representao est implicado na comparao do ato imitativo com seu modelo. Na formulao de Wallon, embora o modelo seja ntimo, foi constitudo a partir da fuso com o outro. Para Wallon, o social a primeira instncia do ser humano, que no concebido como um ser que se socializa, e sim como um ser que se individualiza (embora nunca completamente) a partir da fuso inicial com o outro. no processo de interao social que o eu se diferencia atravs da oposio com o outro (da o papel relevante do desdobramento implicado na imitao) e se constitui como eu.
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Segundo Wallon (1959/1986), o primeiro sistema expressivo-comunicativo organiza-se a partir das relaes com o outro, e constitudo pelas emoes que harmonizam as reaes e os impulsos dos parceiros e os regulam reciprocamente; so as emoes, nesta perspectiva, a origem da atividade representativa, desde as primeiras manifestaes expressivas como o sorriso, as posturas, as mmicas, progressivamente diferenciadas na interao com o outro, mediador essencial da interao da criana com o mundo fsico. Dada essa perspectiva, a interao social est presente no processo como parte integrante, ainda que o outro possa estar concretamente ausente. Em sntese, a imitao apresenta, segundo Wallon, trs facetas relevantes como precursora da linguagem (ou da representao): (a) a segmentao de uma sntese de impresses percepto-motrizes no caso da imitao anloga segmentao de um pensamento global e difuso no caso das imagens/ idias de forma a produzir um desdobramento e um ordenamento no tempo de seus termos sucessivos dos atos, no primeiro caso, e da linguagem verbal, no segundo; (b) o modo preponderante de comunicao entre crianas que no possuem ainda recursos verbais desenvolvidos; (c) a diferenciao eu-outro. Piaget, contemporneo e colega de Wallon e cujas divergncias em relao a este decorrem principalmente da forma de conceber a relao indivduo-social no processo de desenvolvimento7 , tambm ressalta o papel da imitao na ontognese da representao. No contexto de anlise da constituio ontogentica da funo simblica (ou semitica), Piaget e Inhelder (1966/1980) afirmam que, no decorrer do segundo ano de vida, surge:
[...] um conjunto de condutas que supe a evocao representativa de um objeto ou de um acontecimento ausente e envolve, por conseguinte, a construo ou o emprego de significantes diferenados8, visto que devem poder referir-se no s a elementos no atualmente perceptveis mas tambm aos que se acham presentes (p. 47).
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incorreto dizer que Piaget no levou em conta a dimenso social do processo interacional; apenas, no a priorizou da mesma forma que outros autores que devido a isso adotaram a designao scio-interacionistas; e, diferentemente de Wallon, Piaget concebeu o desenvolvimento como um processo de socializao antes que de individuao. Em contraste com significantes perceptivos, ou indcios, que no se descolam de seus significados e sim constituem um aspectos destes (Piaget e Inhelder, 1980).

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Cinco dessas condutas so enumeradas em ordem crescente de complexidade: a imitao diferida (que principia na ausncia do modelo), o jogo simblico, o desenho, a imagem mental e a evocao verbal. As quatro primeiras repousam na imitao, e a prpria linguagem adquirida num contexto necessrio de imitao conduta que:
[...] constitui, ao mesmo tempo, a prefigurao sensrio-motora da representao e, por conseguinte, a passagem do nvel sensrio-motor para o das condutas propriamente representativas (ibid, p. 49).

A imitao concebida como uma espcie de representao em atos (e no ainda em pensamento), que comea por contgio e depois se torna automotivada. No final do perodo sensrio-motor, o domnio da imitao possibilita a imitao diferida, em que a representao em ato j independente da cpia perceptiva e, portanto, em parte, j representao em pensamento, que evoluir para a representao-pensamento do jogo simblico e do desenho, e finalmente para a imagem mental interiorizada9, [...] pronta para tornar-se pensamento [...] (ibid., p.50) e possibilitar a aquisio da linguagem. Nota-se nesta breve sntese que o foco da teorizao piagetiana sobre imitao e seu papel na ontognese da linguagem a diferenciao entre processos perceptivos (intervenientes na imitao imediata, por exemplo) e os que so considerados propriamente representativos: a ausncia do percebido (imitao diferida) condio para se pensar a imitao como caminho para a representao. como se a percepo impedisse a deduo de ocorrncia de processos internos, ou mesmo se desse na ausncia destes, o que quer que se signifique por interno ou mental. A idia walloniana de duplicao do real, ou seja, o desdobramento do plano do sensvel e do concreto em seu equivalente, formado de imagens, de smbolos e de idias quando busca definir o que a funo de representao , equivalente libertao da percepo para Piaget.
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A relao entre interno e externo (e os conceitos decorrentes de interiorizao/ internalizao) parece-nos ser um foco importante de diferenciao entre autores construtivistas, e carente de uma reflexo mais aprofundada, apenas esboada aqui, e que pretendemos empreender em outro texto.

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Entretanto, Wallon no lana mo do conceito de interiorizao para dar conta de uma passagem de fora para dentro (para o interno, para o mental), na medida em que os processos mentais so desdobramentos do que j ocorre no indivduo, na sua biologia, transformando-se em mental pela ao do outro, do parceiro social, que compartilha de um mesmo processo de significao. Assim, o choro, por exemplo, simples descarga fisiolgica, que faz parte do repertrio da criana ao nascer, transforma-se em um sinal comunicativo pela interferncia sucessiva de um parceiro da espcie que tenta minimiz-lo, confortando aquele que chora. A nosso ver, o que mais distancia as concepes walloniana e piagetiana tanto neste como em outros tpicos o lugar do outro, central na primeira e quase ausente na segunda. Tanto Wallon quanto Piaget estudaram o processo de imitao na criana atribuindo a ele um papel na constituio da sua vida mental, especialmente na constituio de sua funo de representao (funo semitica, na linguagem de Piaget). Traaram hipteses, entretanto, de mecanismos diferentes, condizentes com seus aportes tericos: Wallon realou os processos de fuso e diferenciao do sujeito com o outro, inerentes imitao de outra pessoa pela criana, e afirmou que eles propiciam comparaes entre o fazer prprio e o modelo presente ou ausente, comparaes que resultam em desdobramentos conseqentes. Piaget concebeu os processos de assimilao e acomodao como responsveis pela estruturao do pensamento infantil, admitindo que na imitao h um predomnio da acomodao, e na brincadeira de faz-deconta h a sua contrapartida, o predomnio da assimilao, ambos os processos situados no mbito do interno ou do individual. Ao priorizar na imitao (imediata ou diferida) a dinmica entre fuso e diferenciao, ou eu-outro, Wallon oferece um mote que ser retomado (por vias diversas e independentes) na literatura etolgica recente, especialmente a respeito de primatas. b) Natureza e evoluo da imitao no reino animal: algumas novas (?) perguntas. A emergncia, no decorrer do primeiro ano de vida da criana, de diversas habilidades tridicas ateno conjunta em relao a objetos, comunicao intencional de desejo de obteno de objetos ou de ateno conjunta (apontar, mostrar), aprendizagem de novas aes que
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reproduzem no apenas um efeito final, mas tambm a estratgia para obt-los est documentada na literatura desde a dcada de 70. Carpenter e colaboradores (1995) sintetizam essa literatura e sugerem que essa emergncia sincronizada no tempo no acidental: decorre antes do fato de que todas essas habilidades dependem da crescente capacidade da criana de:
[...] compreender as outras pessoas como agentes intencionais cuja ateno e comportamento em relao a objetos podem ser acompanhados, dirigidos e compartilhados (TOMASELLO, 1995)10. [...] Essas habilidades scio-cognitivas tm sido referidas tambm como intersubjetividade secundria (TREVARTHEN, 1979)11 (CARPENTER et al., 1995; p. 218).

Sero essas habilidades sciocognitivas especificamente humanas? A anlise comparativa entre crianas e chimpanzs o primeiro objetivo dos autores em relao a essa questo nesse estudo; o segundo investigar as relaes entre ateno conjunta e aprendizagem por imitao, definida de uma forma que pressupe a primeira: [...] a aprendizagem por imitao de uma ao sobre um objeto requer que o aprendiz preste ateno no s ao efeito final produzido, mas tambm aos meios utilizados pelo demonstrador (ibid, p. 220) em outras palavras, que sua ateno esteja sincronizada com a do parceiro e se alterne entre as aes deste e o objeto sobre ou com o qual atua o que define a ateno conjunta. Antes de rever os resultados desse estudo, convm esmiuar comparativamente a natureza da imitao de que se est tratando. Whiten e Ham (1992) oferecem uma reviso valiosa, e consideraes precisas e relevantes sobre as evidncias comparativas a respeito de imitao desde os primrdios basicamente anedticos da Psicologia Comparativa ps-darwiniana que teria tido sua ateno atrada para
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Tomasello, M. Joint attention as social learning. Em: C. Moore e P. Dunham (Eds.) Joint attention: Its origins and role in development. Hillsdale, N.J.: Erlbaum, 1995. 11 Trevarthen, C. Instinct for human understanding and for cultural cooperation. Em: M. von Cranach; K. Foppa; W. Lepenis e D. Ploog (Editores) Human ethology: Claims and limits of a new discipline. Cambridge: Cambridge University Press, 1979. Revista de Cincias Humanas, Florianpolis: EDUFSC, n.34, p.219-252, outubro de 2003

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esse fenmeno uma vez que a imitao, a despeito de sua importncia bvia na transmisso cultural humana, e na aquisio da linguagem em particular, parecia ocorrer tambm, sob formas mais simples, entre outros animais. Para examinar as evidncias alegadas, os autores buscam inicialmente uma conceituao de imitao em comparao com outros processos psicolgicos que poderiam explicar a semelhana de comportamento entre dois animais (uma preocupao semelhante de Wallon, indicada anteriormente, mas desta vez apoiada em uma enorme quantidade de evidncia e em uma sofisticao conceitual de que aquele autor no podia dispor no incio no sculo XX). Comparando detalhadamente os fenmenos designados, por diferentes autores e tradies de pesquisa, como imitao ou com os inmeros termos relacionados (por exemplo, mimetizao; influncia social; contgio, imitao instintiva, instigao pseudo-vicria, facilitao social, etc.; realce de estmulo ou de local; imitao inteligente, imitao simblica, imitao interna reflexiva, etc.; emulao), Whiten e Ham (1992) propem uma taxonomia de processos mimticos, conceituados como processos que resultam em semelhana de comportamentos entre indivduos, com trs grandes categorias: (a) processos no-sociais, em que a semelhana emerge sem interao social; (b) influncia social, em que ocorre regulao entre indivduos, mas no ocorre aprendizagem: por exemplo, contgio, encorajamento social, aprendizagem da ao do outro como estmulo discriminativo; e (c) aprendizagem social, em que ocorre aprendizagem do comportamento ou de parte do comportamento do indivduo mimetizado: realce de estmulo ou de local; condicionamento por observao (sob certos aspectos igualvel ao primeiro); imitao de parte da topografia do comportamento; emulao de objetivos. Os processos includos no segundo e no terceiro grupo so, segundo os autores, os que tm o potencial de operar na transmisso cultural. Entre eles, parece-nos que os do terceiro grupo so, por sua vez, os que tm sido focalizados, com maior ou menor grau de diferenciao entre si, na literatura sobre imitao e desenvolvimento, e que interessam mais diretamente ao nosso argumento. Realce (enhancement) de estmulo ou de local pode ser diretamente relacionado noo de ateno conjunta; imitao, nesta categorizao,
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refere-se reproduo da forma da ao, o que se aproxima da noo de imitao de meios; e emulao de objetivos corresponde noo de imitao de fins12. Whiten e Ham (op. cit.) concluem, com base nessa taxonomia, que apenas no caso de chimpanzs h alguma evidncia de imitao de meios; essa evidncia principalmente anedtica ou obtida em cativeiro (freqentemente em chimpanzs enculturados, criados por seres humanos). Todos os demais relatos examinados em relao a outros primatas (macaca, cebus, ateles, papio, cercopithecus), e mesmo muitos dos relativos a chimpanzs poderiam ser explicados por outros mecanismos, como realce de estmulo/local, ensaio e erro, e facilitao social; em outros mamferos (ratos, golfinhos) a evidncia ainda mais escassa ou controvertida. Os autores concluem, a ttulo de hipteses de trabalho ainda a serem mais testadas, que chimpanzs podem imitar (grifo nosso: no significa supor que o faam em situaes naturais); o mesmo se aplica, com ainda maior margem de dvida, a golfinhos; e que a imitao est ausente, ou apenas incipiente, em outros primatas13. Essa concluso conduz concepo da imitao como parte de um padro de diferenciao cognitiva peculiar a certas condies evolutivas bem especficas. Entre os possveis elementos nucleares desse padro, destacam a meta-representao ou leitura da mente (mind reading):
[...] a imitao, por B, de um padro de ao de A envolve copiar um padro de ao que foi organizado originalmente a partir do ponto de vista de A (BRUNER, 1972)14. Esse necessariamente um ponto de vista diferente do de B, mas tem que ser re-representado em sua forma original de organizao para que possa ser desempenhado do ponto de vista de B. A expresso re-representado inevitvel e usada de forma cuidadosa:
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interessante apontar que, embora as palavras imitao e emulao tenham a mesma raiz latina Im, que denota semelhana (Ayto, J. Dictionary of word origin. New York: rcade, 1990), a palavra emulao adquiriu um significado perifrico de competio, concorrncia ou esforo de superao, o que talvez esteja relacionado com a desvalorizao ideolgica do imitar como processo inferior do ponto de vista cognitivo, que se reflete em termos pejorativos como to ape, em ingls, ou macaquear, em portugus. 13 Implicando que o ser humano superior aos outros primatas em macaqueao uma implicao no mnimo divertida. 14 Bruner, J.S. Nature and uses of immaturity. American Psychologist, 27: 687-708, 1972. Revista de Cincias Humanas, Florianpolis: EDUFSC, n.34, p.219-252, outubro de 2003

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traduz uma representao de segunda ordem ou meta-representao [...] pode-se dizer que B tem que captar o programa de comportamento na cabea de A: em outras palavras praticar uma espcie de leitura da mente (WHITEN e HAM, 1992, p. 271).

A hiptese testvel: a imitao tornar-se-ia tanto mais difcil quanto mais divergentes fossem os pontos de vista de modelo e imitador (por exemplo, na interao face a face em oposio observao do modelo a partir da mesma orientao espacial). Assim, essa argumentao comparativa, alm de convergente em relao s colocaes de Wallon sobre imitao e diferenciao eu-outro, situa-as em uma nova perspectiva conceitual e emprica. Essa convergncia instigante. A nosso ver, ela recupera um aspecto central da teorizao de Wallon: a inseparabilidade entre afetivo/emocional e cognitivo. A literatura sobre construo da identidade (ou do eu) situa-se em geral no plo do afetivo, desvinculada da literatura sobre formao de conceito, fenmeno cognitivo. Essa distino no tem lugar no pensamento de Wallon, no qual o eu-outro, ou a fuso-diferenciao, conceito estruturante, referente a processos cuja origem est na imitao. Pode-se dizer que ele est implicado ou, melhor dizendo, est mais explicitado conceitual e empiricamente na moderna teoria da mente e em sua interpretao sobre a imitao: para construir o eu, como diria Wallon, preciso poder pensar o outro e supor que o outro tambm pensa o seu parceiro interacional (cf. tambm DUNN, 1988). Carpenter e colaboradores (1995) seguem essa trilha de argumentao explorando comparativamente, por um lado, a correlao entre ateno conjunta e imitao, e por outro a distino entre imitao de meios e de fins (emulao de objetivos). Seus sujeitos foram trs chimpanzs enculturados (criados em ambiente semelhante ao de uma criana, em interao com seres humanos adultos); trs chimpanzs criados por suas mes no ambiente tpico de cativeiro (no qual h mais interao com seres humanos do que teria um chimpanz em ambiente natural); e seis crianas com 18,4 meses de idade em mdia (faixa etria escolhida por ser uma fase em que h uma incidncia significativa de interaes que envolvem ateno conjunta com adultos, mas ainda h pouca verbalizao).
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O procedimento era uma situao de jogo com objetos, em que o experimentador procurava assegurar a ateno dos sujeitos, apresentava modelos de aes sobre os objetos e esperava suas respostas, eventualmente encorajando-as. Foram codificados a ateno visual dos sujeitos (olhar para objeto, olhar para face do experimentador, nenhum dos dois) e seu comportamento em relao aos objetos (reproduo apenas de meios, sem obteno do resultado; reproduo do resultado por outros meios; reproduo de meios e de resultados; e nenhum dos anteriores); foi codificado tambm o comportamento no-verbal dos sujeitos dirigido ao experimentador. Os resultados apontam diferenas entre os trs grupos em diversos aspectos instigantes. Nos dois grupos de chimpanzs, os olhares para o rosto do experimentador eram, em sua maioria, curtos, ao passo que os das crianas eram prolongados. Essa diferena atribuda ao fato de que, na interao de experimentadores e chimpanzs enculturados, h muita nfase na ateno em relao a objetos, faltando-lhe um componente ontogentico caracterstico da histria interacional humana: as prolongadas interaes face-a face, os recursos de captao e manuteno da ateno em relao face e outras formas de proto-conversas (TREVARTHEN, 1979, cit. CARPENTER et al., 1995; p. 233). Por outro lado, chimpanzs enculturados diferiram dos chimpanzs criados pela me quanto forma de atentar para objetos e de interagir com seres humanos a respeito de objetos: olhavam mais tempo para objetos apresentados pelo experimentador, e envolviam-se durante perodos mais longos com o objeto e com o experimentador durante momentos de ateno conjunta. Pode-se dizer que os chimpanzs enculturados apresentaram padres intermedirios entre os das crianas e os dos chimpanzs criados pelas mes. Discutindo esses resultados, os autores sugerem que:
[...] a instruo intencional por parte de adultos (como ocorre com crianas e com os chimpanzs enculturados), a interao com objetos na presena de outros que encorajam a ateno em relao a esses objetos, o reforo pela imitao de aes do adulto, a comunicao com adultos utilizando smbolos convencionais, e ser tratado como agente intencional so todos ingredientes importantes para compreender outras pessoas como agentes intencionais.
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Essa compreenso est na base da ontognese de habilidades de ateno conjunta, imitao e comunicao, tanto para seres humanos quanto para chimpanzs (CARPENTER et al.,1995, p. 235).

Os autores encontram ainda uma relao positiva entre ateno conjunta e aprendizagem por imitao (no sentido de imitao no apenas de fins mas tambm de meios): em todos os sujeitos, a porcentagem de tempo despendida olhando para o objeto durante o perodo em que o modelo de ao era apresentado e o escore total de imitao relacionaram-se positivamente, e olhar pelo menos uma vez para o rosto de experimentador durante esse perodo correlacionou-se positivamente com a reproduo de meios e de fins em chimpanzs enculturados. A hiptese sugerida de que h informao sobre intenes de ao transmitidas pelo rosto dos experimentadores que so teis para a reproduo de suas aes, mas que so utilizadas apenas quando as habilidades de imitao so de um tipo especfico. Conseqentemente:
[...] o fato de que chimpanzs s apresentam habilidades sofisticadas de aprendizagem por imitao quando so criados em ambientes que mimetizam o ambiente cultural humano (humanlike cultural environments) sugere que chimpanzs precisam despender um esforo especial para desempenhar essas tarefas (tal como ocorre com a aprendizagem de signos lingsticos) e que lapsos de ateno resultariam em fracasso com freqncia maior do que a que ocorre com crianas. Resulta da que seria interessante investigar a relao entre ateno conjunta e aprendizagem por imitao em crianas por volta dos nove meses de idade, quando emergem as capacidades de imitao, para verificar se tal esforo exigido tambm das crianas (CARPENTER et al., 1995, p. 235).

Essa expectativa no corresponde ao que encontramos em nossas observaes qualitativas, ilustradas pelo episdio de imitao espontnea descrito a seguir:
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A educadora pergunta a Jef (M; 15 m15): Onde est o cavalinho?. Jef, que brincava com um objeto, olha para cima e levanta o brao, segurando o objeto, na direo dos desenhos pintados no teto da sala. Maya (F; 9 m), que olhava para Jef e estava de costas para a educadora, engatinha na direo de Jef, pega o objeto que ele agora colocou no cho, e segurando-o levanta o brao na direo do teto, sempre olhando para Jef.

Essa possvel diferena evoca o comentrio de Hinde (1987) a respeito do ensino de linguagens simblicas a chimpanzs: eles podem aprender, mas, diferentemente de uma criana, no tm nenhuma motivao para faz-lo e requerem tcnicas muito particulares de treinamento. Esse comentrio, por sua vez, remete a Vygotsky, quando diz que Kurt Lewin define a atividade voluntria como aspecto caracterstico da psicologia humana, e complementa: H razes para acreditar-se que a atividade voluntria, mais do que o intelecto altamente desenvolvido, diferencia os seres humanos dos animais filogeneticamente mais prximos (VYGOTSKY, 1984, p. 42). Mais uma vez, e agora em Vygotsky, parece emergir uma associao entre afetividade/motivao (embora sob o rtulo de vontade, possivelmente implicando conscincia) e cognio/ao. Que vontade ou motivao essa, e que competncias cognitivas (possivelmente includa a a imitao) ela implica? A direo de resposta sugerida por nosso prprio trabalho, e tambm pela literatura, envolve dois termos inseparveis: a prioridade motivacional do outro ser humano como foco de ateno o que est implcito nos conceitos de orientao preferencial de ateno e de ateno conjunta (ver CARVALHO, 1989; CARVALHO et al., 1998; CARPENTER et al.,1995; TOMASELLO et al., 1993) e a percepo dos outros como agentes intencionais claramente diferenciados de objetos inanimados (PEDROSA e CARVALHO, 2004; TOMASELLO et al., 1993):

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15

M/ F = sexo masculino/ feminino; idade em meses

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Crianas no tentam olhar para onde sua boneca est olhando, no tentam utilizar uma cadeira como ponto de referncia social, e no pedem que sua mamadeira realize aes. S fazem essas coisas quando interagem com outras pessoas, porque compreendem o comportamento de outras pessoas em termos de percepes e intenes subjacentes. De fato, argumentamos, esses comportamentos s fazem sentido se a criana tem alguma noo a respeito de agentes intencionais (TOMASELLO et al., 1993; p. 498).

Nestes ltimos autores encontramos uma sntese particularmente instigante do argumento desenvolvido neste item, e que introduz o prximo. Segundo eles, a enorme diferena observvel entre sociedades humanas e as de outros animais pode ser explicada por pequenas (mas importantes) diferenas em termos de processos:
Colocado de forma simplificada, seres humanos aprendem com o outro atravs de maneiras que animais no-humanos no apresentam. Particularmente, seres humanos transmitem ontogeneticamente comportamentos e informaes adquiridos, tanto intra- quanto inter-geraes, com um grau muito maior de fidelidade [grifo nosso] do que qualquer outra espcie animal. O processo de aprendizagem que garante essa fidelidade serve para evitar perda de informao [...] e, juntamente com a inventividade individual e cooperativa, constitui a base da evoluo cultural. Seres humanos so capazes de aprender uns com os outros desta forma porque tm formas potentes, e talvez incomparavelmente poderosas, de cognio social. Seres humanos compreendem e assumem a perspectiva dos outros de uma maneira e em um grau que lhes permitem participar mais intimamente do que qualquer animal no-humano dos conhecimentos e habilidades de seus coespecficos (TOMASELLO et al., 1993, p. 495).

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Tomasello e colaboradores (1993) comentam ainda que essa perspectiva no nova e que recupera um tema central da obra de Vygotsky, a diferena entre aprendizagem cultural e natural; mas sustentam que o papel fundamental da cultura no desenvolvimento humano, apontado por Vygotsky, pressupe uma capacidade especificamente humana para a aquisio de cultura, ou seja, uma co-evoluo entre cultura e capacidade para sua aquisio, que Vygotsky e seus seguidores teriam negligenciado. E propem buscar essa capacidade em trs situaes interacionais bsicas: a aprendizagem por imitao, a aprendizagem por instruo e a aprendizagem cooperativa entre pares de idade. So a primeira e a ltima que interessam prioritariamente a nosso argumento, e que retomamos no trabalho de Eckerman e colaboradores (1989, 1993, 1996, 2001), no sem antes finalizar este item com uma citao que corrobora todo o raciocnio anterior.
A verdadeira aprendizagem por imitao, em nossa definio, envolve a reproduo, pela criana, das estratgias comportamentais do adulto [grifos nossos, salientando o conceito de imitao de meios; e acrescentaramos e/ou da outra criana, como ocorre na aprendizagem cooperativa] em seus contextos funcionais adequados, o que implica a compreenso de intenes subjacentes ao comportamento (TOMASELLO et al., 1993, p. 497).

c. A teorizao de Eckerman e colaboradores sobre o padro imitativo Eckerman e Peterman (2001) apiam-se na idia de aes cooperativas coordenadas caracterizadas por regulao mtua, semelhana temtica ou semntica, e uso integrado dos modos verbal e no-verbal de comunicao para propor trajetrias de desenvolvimento relacionadas transio do no-verbal para o verbal, iniciando-se com aes coordenadas ritualizadas inicialmente limitadas a rituais praticados com adultos e crianas mais velhas; passando pelo surgimento de aes coordenadas no ritualizadas, que emergem a partir de atos imitativos no-verbais; e chegando a aes coordenadas resultantes de meios noverbais e verbais de comunicao. Eckerman e colaboradores (1989)
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j tinham salientado o papel da imitao no-verbal no desenvolvimento da ao coordenada no segundo ano de vida e, com base nesse resultado, apresentaram a hiptese de que essa atividade imitativa facilitaria o domnio do verbal como meio de atingir a coordenao de aes, uma hiptese confirmada por achados de Eckerman e Didow (1996) sobre aumento de freqncia de tipos de fala facilitadores de aes coordenadas aps a emergncia do que as autoras chamam padro imitativo. Eckerman (1993) sustenta que, embora os seres humanos se envolvam em aes coordenadas com parceiros sociais desde o nascimento, a forma dessas aes e o tipo de contribuio da criana transformam-se acentuadamente no decorrer dos primeiros trs anos de vida, das interaes face a face caractersticas dos primeiros meses para a construo de brincadeiras, o faz-de-conta, e as conversaes e argumentaes verbais das crianas de trs anos. Nesse processo, a participao da criana evolui das pr-adaptaes para a troca social, tais como responsividade a estmulos sociais, contato visual, ateno sustentada, para antecipao de aes do outro e gerao de modalidades novas de troca social. A transio do segundo para o terceiro ano de vida seria particularmente crucial nesse processo. Antes disso, a participao da criana tipicamente se restringiria a rituais de interao j exercitados, como o esconde-esconde, dar e oferecer objetos, indicar partes do corpo rituais propostos e dirigidos basicamente pelo adulto, e gradualmente assumidos e iniciados tambm pela criana. A primeira transio relevante seria para a ao coordenada, cooperativa e no ritualizada, e nessa transio o papel fundamental seria desempenhado pela imitao, tanto de parceiros mais competentes como de pares de idade. O que Eckerman veio a chamar de padro imitativo foi identificado originalmente em um estudo longitudinal com crianas de 16 a 32 meses, relatado em Eckerman e colaboradores (1989). Esse estudo produziu dois achados relevantes: o de que a imitao de atos noverbais explicava praticamente todas as aes cooperativas nesse perodo, e o de que ocorria um aumento acentuadamente escalonado na freqncia de atos imitativos, em mdia entre 20 e 24 meses, mas com ampla variao individual. Essa prontido emergente para imitar, que foi denominada padro imitativo, gerava uma diversidade de formas de ao cooperativa tais como brincadeiras de imitao recproca, brincadeiras de seguir o lder, e outros padres mais complexos.
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Esses resultados foram replicados utilizando um parceiro adulto instrudo para se comportar de formas que possivelmente maximizariam a probabilidade de aes cooperativas; novamente, a maioria das aes cooperativas consistiu de imitao de aes no-verbais (ECKERMAN e DIDOW, 1989). Sintetizando os resultados desses diversos estudos, bem como outros dados da literatura, Eckerman e Peterman (2001) propem que, ao construrem brincadeiras atravs de imitao no-verbal, as crianas geram uma compreenso compartilhada sobre o que esto fazendo em conjunto; essa compreenso as ajudaria a falar a respeito de suas atividades e a compreender e responder de forma significativa s falas do parceiro, e dessa forma desdobrar seus esforos em termos de comunicao verbal com os outros. A seqncia ontogentica proposta pelas autoras acima para essas aquisies bem mais tardia (a partir de 15-18 meses) do que a que vnhamos encontrando na literatura revista anteriormente. As prprias autoras admitem que essa cronologia pode estar distorcida pelo fato de trabalharem com parceiros que no tm familiaridade anterior, e sugerem que parceiros j familiarizados podem apresentar aes coordenadas em idades mais precoces o que corroborado por diversas de nossas observaes (cf., por exemplo, PEDROSA e ECKERMAN, 2000; PEDROSA e CARVALHO, 2004). Concluem indicando que:
[...] a ao coordenada construda por pares propicia experincias peculiares que podem facilitar o desenvolvimento de habilidades sociocognitivas em crianas pequenas. Brincadeiras de imitao recproca, por exemplo, parecem ser um contexto primordial para que crianas pequenas vivenciem tanto sua diferena quanto sua similaridade em relao ao outro, bem como o sucesso de suas inferncias sobre objetivos/ intenes do outro. (ECKEMAN e PETERMAN, 2001, p. 345).

Amarrando os fios Um olhar comparativo sobre os fenmenos de comunicao no reino animal indica diversos mecanismos e processos que podem ser considerados como precursores filogenticos da comunicao humana:
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a negociao, a transformao da expresso em recursos comunicativos, seja na filognese ou na ontognese, e a emergncia de comunicao referencial em grupos filogenticos to distantes quanto abelhas e primatas. Todos esses processos so identificveis tambm na comunicao humana, que no entanto evoluiu para uma forma nica, sem anlogos no reino animal. Da mesma maneira, embora fenmenos culturais ou protoculturais no sentido de serem transmitidos na ontognese atravs de aprendizagem social ocorram em diversos primatas (HUFFMAN, 1996; INOUE-NAKAMURA e MATSUZAWA, 1997; RESENDE e OTTONI, 2002), nenhum primata, exceto o ser humano, biologicamente cultural no sentido de depender da cultura como modo de vida e adaptao. A implicao sugerida pela literatura revista que os precursores filogenticos que permitiram a diferenciao da cultura e da linguagem humana se situam no mbito da aprendizagem social, e particularmente em uma modalidade especfica de imitao, atravs da qual se produz a cpia fiel das aes de um modelo; pr-adaptaes possibilitadoras dessa forma de imitao so a prioridade motivacional do outro ser humano como foco de ateno e a ateno conjunta que podem ser produzidas em outros primatas em certas condies particulares, quando se mimetiza o ambiente cultural humano, mas parecem no ocorrer sistematicamente em condies naturais , e que esto relacionadas capacidade precoce do ser humano de perceber o outro como agente intencional. Essa linha de argumentao sugere direes e perguntas especficas de pesquisa sobre a transio da comunicao exclusivamente noverbal para a comunicao conjuntamente no-verbal e verbal que caracteriza a interao social humana; alm disso, sugere que essa transio apresenta saltos qualitativos (parmetros de controle, na linguagem de teoria de sistemas) a partir da segunda metade do primeiro ano de vida, em torno dos 8-9 meses coincidindo, possivelmente de forma no acidental, com as manifestaes comportamentais do primeiro vnculo afetivo, a relao de apego. Tentar amarrar alguns desses fios o desafio que estamos nos colocando em nossos projetos atuais de pesquisa (SESTINI, 2003; CARVALHO, 2003). Esperamos que nossos resultados possam contribuir para a solidificao e/ou para um detalhamento do argumento de Eckerman sobre o papel do padro imitativo na transio para a comunicao verbal, bem como para a articulao terica entre esse argumento,
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Princpios morais e a evoluo de um senso moral*

Dennis Werner1
Universidade Federal de Santa Catarina

Resumo Estudiosos muitas vezes confundem descries ou explicaes a respeito do que com julgamentos a respeito do que deve ser. As falcias naturalsticas, relativistas e moralsticas que se derivam desta confuso so especialmente comuns nas avaliaes de teorias sobre a evoluo da moralidade. Esta reviso da literatura examina aspectos do nosso senso moral que evoluram do altrusmo comum nos grupos de parentesco e da acomodao s hierarquias de dominncia e reciprocidade mais tpicas em grupos
__________________________________________________
* 1

Abstract Scholars often confuse descriptions or explanations of what is with judgments about what ought to be. The naturalistic, relativistic and moralistic fallacies, which derive from this confusion, have been particularly common when evaluating theories about the evolution of morality. This review examines aspects of our moral sense that evolved from the altruism common to kin groups and from the accommodation to dominance hierarchies and reciprocity typi-

Moral principles and the evolution of a moral sense Endereo para correspondncias: Departamento de Psicologia, CFH, UFSC, Campus Universitrio, 88040-900, Florianpolis, SC (E-mail: [email protected]).

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254 Princpios morais e a evoluo de um senso moral

maiores. Muitos estudos apontam para a necessidade de cautela a respeito do nosso senso moral. Mais especificamente, a nossa indignao moral e o nosso senso de justia refletem principalmente uma preocupao com o nosso lugar nas hierarquias de dominncia, e no preocupaes morais legtimas. Um sistema moral baseado no princpio de aumentar o bem-estar em vez de justia permite aproveitar pesquisas empricas para descobrir as melhores maneiras de aumentar o bem-estar. Tambm evita a dependncia no livre-arbtrio to importante em outros sistemas morais, e assim permite uma viso mais determinista-cientfica da natureza humana. Estes temas de filosofia moral so pelo menos to antigos como a Reforma Protestante. Palavras-chave: Evoluo da moralidade, altrusmo, reciprocidade, justia, Reforma Protestante. Introduo

cal in larger groupings. Many empirical studies show how we need to be wary of our innate sense of morality. In particular, our moral indignation and sense of justice mostly reflect concern with our place in the status hierarchy rather than legitimate moral concerns. A moral system based on the principle of increasing well-being, rather than justice permits us to use empirical research to uncover the best ways to increase wellbeing. It also avoids the dependency on free will important to other moral systems, and so permits a more deterministic-scientific view of human nature. These themes in moral philosophy are at least as old as the Protestant Reformation. Keywords: Evolution of morality, altruism, reciprocity, justice, Protestant Reformation.

ificilmente existe um tema mais polmico na literatura sobre evoluo do que as origens do nosso senso moral. Em A descendncia do homem, Darwin (1998/1874) explicou que:
[...]qualquer animal dotado de instintos sociais bem marcados, incluindo os afetos de pais e filhos, inevitavelmente adquiriria um senso ou conscincia moral, logo que as suas capacidades intelectuais tivessem ficado quase ou igualmente desenvolvidas quanto no homem.
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Dennis Werner 255

J na poca reflexes como estas provocaram protestos veementes. O reverendo Leonard Jenyns afirmou numa carta a Darwin que no podia acreditar que:
[...] as capacidades de raciocnio do homem, e sobretudo o seu senso moral poderia ter sido adquirido de progenitores irracionais, ou da seleo natural... Isto me parece eliminar totalmente a Imagem Divina que constitui a distino intransponvel entre o homem e os brutos (nfase minha, citado em UCHI,1996).

Quase um sculo e meio depois, a polmica continua. Uma busca na internet pela expresso moral evolution resultou em milhares de pginas, a maioria escrita por pessoas indignadas com a tentativa dos evolucionistas em explicar a moralidade. Por exemplo, Raymond Bohlin, Ph.D. em Biologia Molecular, e organizador de Creation, evolution and modern science, argumenta que a idia da evoluo de moralidade pode apenas levar a desespero, negao, ou esperana irracional, uma vez que implica na inexistncia de um significado para a vida fora dos ditames da biologia (BOHLIN, 2003). Na grande maioria das vezes os autores afirmam que s Deus ou uma fora divina poderia dar conta da moralidade. O cerne da polmica gira em torno de um velho tema na filosofia moral resumido por David Hume na idia da intransponibilidade entre is (o que ) e ought (o que deve ser). Como esta distino to importante, vale a pena examinar algumas das suas ramificaes. O que e o que deve ser Em outros trabalhos (WERNER, 1999a; 1999b) distingui trs falcias que resultam da confuso entre o que e o que deve ser. So elas: 1) a falcia naturalstica; 2) a falcia relativista; e 3) a falcia moralstica. Na falcia naturalstica conclui-se que, se alguma coisa de fato existe na natureza ( natural), logo ela tem que ser considerada boa. Esta falcia tem pelo menos duas verses bsicas. Na verso mais simples conclui-se que devemos seguir as leis da natureza, no a artificialidade do que advm do ser humano.
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Normalmente quem adota esta posio acredita que a natureza bondosa e faz o bem. Mas algumas pessoas, mesmo reconhecendo que a natureza muitas vezes cruel, ainda acham que devemos seguir os ditames da natureza. Foi o caso do Marqus de Sade (como stira ou no das idias de pensadores como Rousseau) e, mais recentemente, de grandes empresrios como Andrew Carnegie e John D. Rockefeller. Como Rockefeller pregava nas suas aulas de escola dominical: O crescimento de grandes empresas simplesmente a sobrevivncia do mais apto... Isto no uma tendncia m dos negcios. simplesmente a realizao de uma lei da natureza e de uma lei de Deus (citado em RACHELS, 1991). Em meados do sculo XX intelectuais como Georges Bataille (1949) elogiariam o lado bom das crueldades da natureza. Mas, evidentemente, muitos discordam desta viso. Como comentou Katherine Hepburn no seu papel de missionria no filme clssico Uma aventura na frica (African Queen): A natureza o que fomos colocados na terra para superar (Nature is what we were put on earth to overcome). Numa outra verso da falcia naturalstica, conclui-se que devemos seguir os ditames da nossa prpria natureza humana. Devemos, por exemplo, buscar dentro de ns os fundamentos do bem e da justia. Alguns evolucionistas recentes tm adotado uma ou outra verso deste tipo de argumento. Eles sugerem, como Charles Darwin, que as exigncias de uma vida em grupo tm criado no ser humano um senso moral, mas vo alm desta constatao a respeito do que para concluir que o nosso senso moral deveria ser o que , pelo menos nas suas formas mais evoludas (WILSON, 1998). Por exemplo, Bromberg (2003) sugere que o significado da palavra bom evoluiu de significados mais especficos (concretos) para significados mais gerais (abstratos), e que isto, de fato, e deveria ser a fundamentao da nossa moral. Desta forma acredita que podemos achar na Biologia uma base objetiva para a nossa moralidade. Outros tericos buscam esta fundamentao na concordncia universal entre seres humanos a respeito de um princpio bsico de moral. Para Wilson (1998)
[...] o dever a traduo, no da natureza humana, mas do arbtrio pblico, que pode se tornar cada vez mais sbio e estvel atravs de uma compreenso das necessidades e falhas da natureza humana.
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Wilson v no consenso a fundamentao da nossa moral. Esta viso de Wilson parecida com aquela de Durkheim (1915) para quem tambm encontramos na vida grupal a nica fora maior do que o indivduo que poderia ,fundamentar um sistema moral. Mas enquanto Durkheim enfatizava diferenas culturais e sistemas morais variados, Wilson, como a maioria dos evolucionistas, busca princpios universais. Para ter validade, o consenso de Wilson no poderia ter excees, mas teria que ser realmente universal. Caso contrrio, acabamos entrando no lado negativo da solidariedade grupal a xenofobia. Estas ltimas reflexes remetem distino entre uma moralidade objetiva (ou transcendental), baseada em algo externo ao ser humano (como Deus), e uma moralidade subjetiva (ou emprica), baseada na conscincia humana. Para muitos religiosos, uma moralidade subjetiva vazia, sem ncora, e s um Deus poderia fornecer a fundamentao para uma moralidade objetiva. Na tentativa de tirar da Biologia (e mais especificamente da vida grupal) uma ncora para a moralidade objetiva, os evolucionistas ainda precisam esclarecer por que aceitam os ditames da vida grupal como fundamento para a moral e no outros aspectos da Biologia. Aceitar a concordncia universal como base para a moralidade no resolve o problema, pois todo mundo pode estar moralmente errado, e ainda no est claro quem (quais espcies, por exemplo) seria includo nesta concordncia! (BOHLIN, 2003). As crticas dos religiosos so bem vindas, mas a sua resposta s Deus pode fornecer esta objetividade no resolve o problema, no meu entender. Como muitas pessoas, eu aceitaria como princpio bsico da moralidade fazer o bem (aumentar o bem-estar) por razes que no posso justificar. No caso de um Deus que tem como mandamento principal fazer o bem ou amar a seu vizinho como a si mesmo no haveria problema, mas se Deus queria que as pessoas prejudicassem os outros e premiasse este tipo de comportamento, acho que seria moralmente correto no obedecer esta vontade e fazer tudo no nosso poder para contrari-la. No meu entender, fazer algo simplesmente porque ganharamos um prmio divino ou evitaramos uma punio eterna seria um ato egosta, no um ato moral. No fundo, obedecer as leis da natureza ou as leis de Deus acarreta o mesmo problema. Estas leis devem ser seguidas quando visam ao bem, mas no quando visam ao mal. Considerese o caso de Jac no Velho Testamento. Cometeu extorso,
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falsidade ideolgica, estelionato e quebras unilaterais de acordos de paz todos atos que beneficiavam a ele ou a seu grupo, enquanto prejudicavam os outros. O seu Deus premiava estes comportamentos egostas com um legado de muitos descendentes. Difcil no perceber neste Deus algo muito parecido com a seleo natural no seu nvel mais bruto. A intransponibilidade do que para o que deve ser continua mesmo colocando Deus no meio. No podendo fundamentar a moral na natureza, outros pensadores recorrem falcia relativista, na qual se conclui que as regras e os princpios morais que uma cultura de fato tem, so as regras e osprincpios que a cultura deveria ter. Esta posio ainda mais difcil de sustentar, pois leva a conflitos insolveis entre culturas que possuem sistemas morais diferentes. Alm disso, no consegue lidar com mudanas culturais, nem com diferenas de idias dentro de uma mesma cultura. Para alguns, a dificuldade em achar uma base objetiva para a moralidade leva concluso de que a moral simplesmente no existe. Esta postura de niilismo moral acarreta outros problemas, pois ningum consegue evitar de pensar no que se deve fazer, pois toda deciso depende disto. Parece que temos uma tendncia irresistvel de confundir o que com o que deve ser. Observese, por exemplo, a facilidade com que passamos de uma constatao do que , para uma constatao moral ao pensar na causalidade. Dizemos que A causa B (uma simples constatao do que ), e A responsvel por B, e A culpado por B (uma constatao moral). At o nosso vocabulrio mais elementar confunde o que com o que deve ser. As palavras certo e errado, por exemplo, podem tanto se referir a uma constatao do que (como numa prova de assinalar) como podem se referir a atos que consideramos morais ou imorais. Esta tendncia to forte que fazemos a passagem sem perceber. No de se admirar ento que passamos, sem perceber, tambm de constataes morais (opinies sobre o que deve ser) para constataes do que de fato existe. Esta passagem constitui a falcia moralstica. Percebemos muito esta falcia no mundo acadmico quando pessoas argumentam, por exemplo, que homens e mulheres deveriam ser iguais, e por isso concluem que de fato so iguais (e ai de quem diga o contrrio), ou, no caso de estudos sobre moralidade, pensamos que as pessoas deveriam ser altrustas puras, e ai de quem argumenta que no somos. Precisamos ser lembrados constantemente que explicar no justificar, e vice-versa.
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Em vista da dificuldade em achar uma fundamentao objetiva para a moral, acho melhor encarar as teorias de evoluo da mesma forma como encaramos outras teorias cientficas a respeito da moral (psicolgicas ou sociolgicas, por exemplo) como tentativas de descrever e explicar os nossos sistemas morais, no como tentativas de justificar ou fundamentar estes sistemas. Conceitos bsicos na explicao evolucionista da moralidade Seguindo as idias originais de Darwin, a grande maioria dos evolucionistas tem buscado explicaes para a nossa moral na evoluo da vida em grupo. Dependendo do que querem explicar, pesquisadores tm enfatizado o impacto de 1) grupos de parentes; 2) grupos de no parentes caracterizados pela reciprocidade; e 3) grupos caracterizados por hierarquias de dominncia. Junto com a vida em grupo, Darwin e pesquisadores mais recentes tambm ressaltam a importncia do desenvolvimento de certas capacidades cognitivas. Grupos de parentes altrusmo, empatia e simpatia Na poca de Darwin, um dos maiores enigmas da teoria de seleo natural foi a constatao de que alguns animais estavam dispostos a sacrificar as suas prprias vidas e a sua prpria reproduo para o bem dos outros. Se tais animais no conseguiam se reproduzir, como que as suas caractersticas altrustas poderiam continuar em futuras geraes? A resposta veio com a idia de seleo de parentes ou gene egosta (HAMILTON, 1963; DAWKINS, 1976). O indivduo poderia, sim, ser altrusta, mas os seus genes, presentes tambm nos seus parentes, poderiam bem ser egostas. O que interessa na seleo natural a continuao de genes, no de indivduos (que sempre morrem). Isto explicaria porque alguns insetos se sacrificam para o bem da colmia. Por exemplo, algumas vespas trabalhadoras possuem mais genes em comum com as suas irms do que teriam com os seus prprios filhos. Uma destas vespas passaria mais genes para o futuro ajudando a produzir mais irms (por exemplo, sacrificando-se para salvar a me-rainha) do que tentando se salvar para poder ter filhos prprios (WILSON, 1980, p. 193-196).
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Embora muitas pessoas pudessem classificar tais atos reflexos como amorais, Darwin (1998/1874) argumentou que seria difcil fazer uma distino clara entre atos reflexos e atos que resultam de uma deliberao mais consciente. Definindo um ser moral como aquele [...] capaz de comparar motivaes ou atos passados e futuros e de aprovar ou desaprovar destes atos [...], Darwin (1998/1874) esclareceu que no havia razo para acreditar que algum animal inferior pudesse ter esta capacidade. No entanto, destacou que muitos atos e motivaes humanos no permitem distinguir entre instintos ou reflexos e atos realizados com deliberao. Por exemplo, a capacidade de sentir simpatia em muitas espcies teria se originado nas relaes de pais com filhos, e seria este sentimento que iniciaria o caminho para um senso moral. difcil saber nos seres humanos quanto dos seus atos morais decorrem de uma simpatia pouco refletida, e quanto de uma deliberao mais consciente. De qualquer maneira, pesquisas mais sistemticas tm revelado um vis claro no ser humano de se comportar de forma mais altrusta em situaes que implicam maior probabilidade de passar os seus prprios genes para o futuro. Por exemplo, em muitas situaes as mes sacrificam a satisfao da sua prpria fome para poder cuidar melhor dos seus filhos o que parece ser o caso em muitos animais e no ser humano (DALY e WILSON, 1988; WALLACE, 1979). Alm disso, pesquisas comparativas (Taiwan versus Estados Unidos, por exemplo) mostram que as pessoas do preferncia praticamente igual a parentes prximos quando precisam escolher quem seria salvo em dilemas morais, mesmo quando estes dilemas envolvem outras questes complicadoras, como diferenas no nmero de vtimas, status relativo das vtimas, aceitao contratual de riscos ou possibilidade de no agir (ONEILL e PETRINOVICH, 1998). Mas as previses a respeito de altrusmo podem ser muito mais sutis. Por exemplo, Euler e Weitzel (1999) perguntaram a netos de alemes quais dos seus avs eram mais atenciosos. Independentemente de distncias geogrficas ou idades, os netos tinham maior probabilidade de citar as avs maternas. Os avs paternos foram considerados os menos atenciosos. Os autores argumentam que isto se explica pelo problema de incerteza de paternidade, ou seja, a me sempre sabe quem realmente seu filho, mas o pai fica na dvida. A av materna tem muita certeza de que os seus netos so realmente dela.
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O av paterno pode ter dvidas tanto a respeito do prprio filho quanto do filho deste. Wright (1996) cita inmeras pesquisas demonstrando a conformidade dos dados com diferentes variaes desta mesma lgica de investimento paterno. Para citar apenas um exemplo, o grau de pesar sentido por pais que perdem um filho est estreitamente relacionado ao esforo que investiram nele. A morte de filhos adolescentes, por exemplo, causa mais pesar que a morte de filhos muito menores. Adolescentes j receberam mais investimento dos pais, mas ainda no deram retorno em termos de netos (CRAWFORD et al., 1989, citado em WRIGHT, 1996). Esta mesma lgica de parentesco tambm explica fontes de conflitos entre diferentes pessoas. Por exemplo, embora em geral mes e filhos possuam os mesmos interesses (em termos de passar genes para o futuro), h momentos no ciclo de vida quando os interesses divergem. As divergncias podem comear j com a gestao. Normalmente o enjo das primeiras semanas de gravidez adaptativa, na medida em que evita que as mes comam alimentos com txicos que poderiam prejudicar o feto neste perodo delicado. A prova disso que mes sem enjo sofrem mais abortos espontneos e parem mais filhos deficientes do que mes com enjo (PROFET, 1992). Mas quando a sade da me seriamente prejudicada pelo enjo, surge um conflito de interesse. O feto possui mecanismos de provocar mais enjo do que seria bom para a me. Outros momentos de conflito ocorrem quando nascem novos filhos, quando mes precisam escolher entre cuidar mais de uma criana doente ou de uma criana saudvel, ou quando mes novas se casam com outros homens. Os conflitos entre me e filho diminuem na medida em que envelhecem as mes. Isto porque as mes mais velhas tm menos chances de terem outros filhos e, conseqentemente, saem melhor (em termos de passar mais prole para o futuro) se cuidam melhor dos filhos que j possuem em vez de se resguardar para possveis filhos futuros. Com efeito, Wallace (1979) cita evidncias de que so as mes mais velhas que se dedicam mais aos seus filhos; da mesma forma, Daly e Wilson (1988) mostraram para vrias sociedades que a probabilidade de uma me cometer infanticdio diminui com a sua idade.

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O parentesco tambm importante em explicar atos prejudiciais aos outros. Por exemplo, na sua anlise de violncia, Daly e Wilson (1988) mostraram que em todas as sociedades humanas estudadas um contato com um no parente tem maior probabilidade de levar a um homicdio do que um contato com um parente. Isto tambm se aplica ao caso de madrastas e padrastos em comparao com mes e pais. Dentro das famlias a grande maioria dos homicdios ocorre entre marido e mulher (que podem ter alguns interesses genticos em comum os filhos mas no compartilham tantos genes entre si). Alm disso, embora a probabilidade de um pai matar um filho diminua com a sua idade, no diminui tanto como no caso da me. Isto, segundo os autores, porque os homens mais idosos ainda possuem chances de se reproduzirem, enquanto as mulheres no. Normalmente os filhos mais idosos so mais problemticos para os pais, e de fato sofrem maiores probabilidades de serem mortos por um padrasto ou madrasta do que crianas mais novas. No entanto, para os pais biolgicos os filhos mais idosos representam um maior investimento biolgico do que crianas pequenas. Afinal, filhos maiores receberam muito mais ateno e esto beira de comear a se reproduzir. Seria de esperar que os pais teriam mais inibies em matar um filho maior, pois isto implicaria uma perda biolgica maior. Com efeito, pais biolgicos ( diferena de padrastos) tm maior probabilidade de matar um filho mais jovem do que um filho mais velho. Ainda h outras correlaes: parece que os pais biolgicos se refreiam mais do que os filhos quando se trata de conflitos grandes. Os filhos j adultos (>16 anos) tm uma probabilidade maior de matar os seus pais, do que os pais nestas mesmas faixas etrias matarem os seus filhos. Daly e Wilson (1988) argumentam que, nestes casos, os pais tm muito mais interesse em ver os filhos vivos (e reproduzindo) do que os filhos tm em ver os seus pais vivos (j que os pais tm menos capacidade para reproduo futura). Como nas mesmas faixas etrias a probabilidade do padrasto ser assassinado num conflito no maior do que do enteado, esta diferena nas probabilidades de morrer no poderia ser atribuda a caractersticas etrias dos dois (maior fora fsica ou menor controle emocional dos mais jovens, por exemplo).
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A importncia dada por Darwin simpatia no comportamento moral tambm tem sido confirmada em pesquisas. Na sua reviso da literatura sobre as relaes entre emoes e desenvolvimento moral, Eisenberg (2000) cita as correlaes positivas encontradas entre simpatia e comportamentos pr-sociais (de ajuda). Mas a pesquisadora alerta para a necessidade de distinguir entre empatia (que implica a capacidade de reconhecer sentimentos alheios, mas no a capacidade de distinguir a prpria situao da situao do outro) e simpatia (que exige a capacidade de fazer a distino entre o eu e o outro). Muitas vezes a empatia leva a criana a prejudicar o outro na sua tentativa de aliviar a sua prpria dor. Reciprocidade cooperao, justia Embora Darwin (1998/1874) atribusse as origens dos comportamentos e sentimentos morais s relaes entre parentes, ele reconheceu que diferentes animais (como ces e macacos) s vezes demonstram estes comportamentos e sentimentos para no parentes, e at para membros de outras espcies. Ele atribuiu isto s vantagens da reciprocidade. Nas ltimas dcadas pesquisadores tm dedicado muita ateno a esta questo (AXELROD, 1984; RIDLEY, 1996; ALEXANDER, 1987). Muitos destes pesquisadores tm formao em Economia e usam os modelos desta rea (como teoria de jogos) para esclarecer como a reciprocidade poderia ser adaptativa. Muita ateno tem sido dedicada ao dilema do prisioneiro. Neste jogo os participantes precisam decidir se vo cooperar ou no. Recursos so distribudos de tal forma que a cooperao mtua resulta nos maiores ganhos totais (digamos cinco pontos para cada jogador , dez no total). Se um indivduo passa a perna no outro, ele, pessoalmente, pode ganhar mais (digamos seis pontos), mas o total de recursos diminui (digamos para oito o outro jogador recebendo apenas dois pontos). Se os dois tentam trapacear, o ganho menor (digamos trs pontos para cada). Atravs de simulaes de computador pesquisadores tm tentado inventar regras de comportamento que diriam quando um jogador deve cooperar ou no para maximizar o seu ganho individual. Campeonatos tm sido organizados para ver quem descobre as melhores regras.
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Dependendo dos pressupostos originais (capacidade para lembrar como agiram os outros, por exemplo) as regras otimizantes podem mudar. Por exemplo, quando os grupos so muito grandes, quem no coopera ganha mais pontos; em grupos menores os cooperadores saem melhor. Se existe a possibilidade de cair fora e ficar sozinho, eventualmente se juntando com outros solitrios em grupos menores, o sistema pode vacilar, ora favorecendo cooperadores, ora no cooperadores (HAUERT et al., 2002). Tambm a possibilidade de punir os no cooperadores aumenta a cooperao. A presena de castigadores altrustas (que ao punir no ganham nada) mais vivel que a presena de cooperadores altrustas em grupos maiores (BOYD et al., 2003). Estas simulaes ajudam a esclarecer o que as teorias prevem em termos de reciprocidade entre animais, mas no fornecem dados a respeito do que realmente ocorre. Outros pesquisadores, principalmente da rea de Psicologia (ou Economia Experimental), tm feito experincias para descobrir como animais e humanos realmente agem. Os seus estudos mostram um certo descompasso entre o que os humanos (e animais) realmente fazem e o que as teorias prevem. Por exemplo, uma srie de pesquisas sobre decises de cooperao foram realizadas em 15 sociedades de pequeno porte, incluindo sociedades de forrageiros como os hadza da frica Oriental, agricultores extensivos como os ndios ach e machiguenga da Amrica do Sul, e outras sociedades no ocidentais, como os mongis da sia e agricultores de Zimbbue. Nestes estudos os indivduos participam de um jogo no qual uma quantia X de dinheiro era mostrada para dois jogadores (cujas identidades foram escondidas para garantir anonimato). O primeiro jogador tinha a opo de ficar com todo o dinheiro ou de dar uma parte para o segundo jogador. Se o segundo jogador aceitava a proposta, o dinheiro seria dividido de acordo com a proposta, e o jogo terminaria ali. Caso o segundo jogador recusasse a proposta, ningum receberia o dinheiro, e o jogo terminaria. Segundo a teoria do homo economicus, o primeiro jogador no deveria oferecer muito, mas o segundo jogador deveria aceitar qualquer coisa, pois assim cada um estaria cuidando dos seus prprios interesses econmicos da melhor maneira possvel. Mas em todas as sociedades pesquisadas o segundo jogador recusava propostas consideradas injustas, preferindo ficar sem nada para poder punir a injustia do primeiro jogador (SIGMUND et al., 2002; GINTIS et al., 2003).
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Os autores argumentam que estes dados mostram que o ser humano possui um senso de reciprocidade forte, uma espcie de altrusmo que vai alm do previsto pelas simulaes de computador. Os autores sugerem que este comportamento punitivo altrusta compatvel com a evoluo, desde que reconheamos que as nossas motivaes psicolgicas precisam se adequar s presses da seleo natural, mas no precisam ser perfeitamente adaptadas. Nas condies de vida no grande perodo em que ocorreu a evoluo humana as pessoas reencontrariam os seus parceiros de jogo, e o anonimato de transaes econmicas teria sido rarssimo. Nestas situaes uma motivao para cooperar e para sentir injustia teria sido quase sempre vantajosa, independentemente da situao, o que suficiente para a seleo natural. Uma confirmao da irracionalidade dos sentimentos humanos a respeito da cooperao vem de pesquisas com jogos semelhantes feitos com estudantes (CHAUDHURI et al., 2002). Nesta pesquisa ficou evidente que os cooperadores simplesmente tinham uma personalidade ou disposio maior ou menor para cooperar. O fato dos outros participantes do jogo cooperarem ou no no afetava em nada o seu comportamento. Sentimentos de indignao com comportamentos considerados injustos tambm tm sido observados em animais. Numa experincia realizada com macacos-prego, os animais aprenderam a trocar fichas por pedaos de pepino. As trocas funcionavam bem at que um macaco observava os pesquisadores darem uma uva para outro macaco. Depois de ver isto, o primeiro macaco recusava fazer a troca da ficha apenas por um pedao de pepino. Se o primeiro macaco observava o pesquisador dar uma uva para o segundo sem a necessidade de troca, o primeiro macaco jogava a sua ficha no pesquisador, numa aparente amostra de indignao moral (pesquisa relatada em The Economist, 2003). Outros pesquisadores tm observado chimpanzs intervirem em conflitos de forma desinteressada e mostrarem mais preocupao com vtimas de agresso do que com os que iniciaram o conflito (FLACK e DE WAAL, 2000). Embora estas reaes possam parecer boas no sentido de tentarem resguardar a justia, a indignao nem sempre tem este resultado. Quando um babuno ou um macaco rhesus recebe uma reao agressiva de um animal mais alto na hierarquia de dominncia, a reao no contra o agressor, mas sim contra algum inocente que por acaso esteja perto (CHENEY et al., 1986). Talvez estas reaes possam ser explicadas em termos da manuteno da sua posio nas hierarquias de dominncia dentro do grupo.
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O macaco que recebe a bronca do dominante se encontra numa situao precria, pois o seu status de subordinado fica demonstrado. Nesta situao ele precisa afirmar ainda sua posio superior a outros indivduos, o que faz atacando algum de um status mais baixo ainda. Estes sentimentos de injustia ressaltam o valor dado ao respeito que os animais recebem de outros membros do grupo e a importncia das hierarquias de dominncia. Hierarquias de dominncia indignao moral, respeito autoridade e bem-estar A importncia que Darwin deu memria na evoluo de um senso moral est muito ligada distino que fez entre instintos passageiros, como a fome (que desaparece logo que for satisfeita), e instintos duradouros (que continuam sempre). Um instinto passageiro pode dominar um instinto duradouro por exemplo, o instinto de um pssaro para migrar com os primeiros sinais de outono pode dominar temporariamente o instinto de cuidar da prole. Mas, se um animal possui uma boa memria, logo que o instinto passageiro for satisfeito, podem ocorrer o remorso e o arrependimento, quando voltar a dominar o instinto mais duradouro. Em animais que vivem em grupo, um dos instintos mais duradouros seria o desejo de adquirir a estima e o respeito dos outros (DARWIN, 1998/1874). Este desejo de estima nos remete a um aspecto muito importante da vida em grupo as hierarquias de dominncia. Em todos os animais que vivem em grupo e que reconhecem indivduos e no apenas categorias (como abelha operria) existem hierarquias de dominncia (WILSON, 1980). A convivncia social exige ajustes de comportamento para lidar com estas hierarquias. Por exemplo, Thomas (1993) notou que cachorros passam muito do seu tempo avaliando o status relativo uns dos outros. Dvidas quanto a status levam a brigas, mas uma vez estabelecida a hierarquia, os animais conseguem viver numa paz relativa (como colegas de departamento para usar a analogia da autora). Mas parece que existem algumas regras tcitas. Por exemplo, cachorros dominantes tm mais direitos a ter filhotes, enquanto cadelas mais baixas na hierarquia ficam nervosas na gravidez e dedicam menos ateno aos filhotes, aparentemente devido ao medo dos dominantes.
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Baseando-se em pesquisas com vrios primatas, De Waal (1991) descreve como os animais conseguem manter a paz via rituais de conciliao que seguem as brigas para status, os quais confirmam a aceitao das desigualdades. Muitas vezes estes rituais envolvem atividades sexuais (por exemplo, um animal monta o outro). Olhando as pesquisas realizadas com vrias espcies de primatas, Werner (1998) argumentou que a cooperao passou por vrias etapas na evoluo. Uma cooperao simples consiste na marcao de territrios, que estabelece algumas regras de conduta (ficar fora do territrio do outro implica paz). Onde a cooperao maior e diferentes animais compartem o mesmo territrio, ocorre uma pequena modificao na ritualizao os cheiros usados para marcar territrios so usados para marcar papis de dominao e submisso (o submisso marcado pelo cheiro do dominante e/ou obrigado a prestar homenagem ao dominante ao sentir os seus cheiros). Onde a cooperao se torna ainda mais complexa e animais formam alianas para poder dominar em conjunto, os marcadores de territrio/ status so cooptados para marcar alianas isto , os aliados trocam papis (e cheiros) para simbolizar a disponibilidade tanto para dominar como para ceder s vezes ao parceiro. Parece que a seleo natural segue uma regra simples: em time que est ganhando no se mexe. Na complexificao que ocorre na evoluo de organismos unicelulares para organismos maiores o que mais muda a reorganizao de peas pre-existentes. As peas menores mudam pouco. Por isso os seres vivos so mais semelhantes ao nvel do seu DNA ou RNA (alis, todos se baseiam no DNA ou RNA) do que ao nvel das suas clulas. Clulas so mais parecidas entre diferentes organismos que tecidos, os tecidos mais semelhantes que estruturas maiores. (Um exemplo seriam as molculas como hormnios e neurotransmissores que servem de mensageiros no nosso corpo. Estas molculas so muito parecidas s molculas que servem como mensageiros externos em organismos muito simples como os slime molds (BONNER, 1988)). No caso do comportamento e da cognio, ocorre o mesmo. Por exemplo, os smbolos humanos mais abstratos se baseiam em conceitos mais elementares parecidos com os conceitos de outros animais. As etimologias de palavras ilustram muito este processo. O caso dos marcadores de status humanos ilustrativo. Considere apenas as expresses mais elementares (e chulas) usadas para descrever algum que submisso demais ao seu patro.
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A observao de Thomas (1993) de que a paz entre ces com hierarquias estveis se assemelha convivncia de colegas de departamento pode ser mais do que uma simples analogia. Com efeito, de Waal (1991) sugere que a aceitao de hierarquias necessria para a manuteno da paz e da unio. Mudanas hierrquicas criam conflitos. De Waal chegou a sugerir que a Igreja Catlica conseguiu se manter unida mais tempo que as igrejas protestantes justamente por causa da maior estabilidade hierrquica desta igreja. O impacto da instabilidade de hierarquias pessoais se nota numa srie de experincias realizadas por Mendes (1997). Numa destas experincias estudantes masculinos receberam de forma aleatria uma de duas verses de uma pequena estria em quadrinhos. A estria bsica apresentava uma cena da apresentao de um colega de cela numa penitenciria que os alunos precisavam completar. Um total de 68,5% dos alunos que receberam estrias com hierarquias pessoais instveis (com muitas mudanas de companheiro de cela) completaram a estria com uma cena de estupro (em vez de amizade), enquanto apenas 26,7% dos alunos que receberam estrias com hierarquias pessoais estveis (poucas mudanas) deram esta resposta. Mendes explicou que, onde as hierarquias so estveis, no h necessidade de esclarecer as hierarquias toda hora. Mas quando a posio das pessoas na hierarquia menos clara, surge a necessidade de esclarecer esta questo via relaes homossexuais, nas quais um dos parceiros (o ativo) afirma o seu status dominante sobre o outro (o passivo). Em outra pesquisa Silva (1998) entrevistou presos a respeito da sua atitude quanto ao estupro de outros presos como forma de punio. Silva descobriu que, independentemente do problema de acesso s mulheres, foram justamente aqueles presos que mais se preocupavam com a sua posio nas hierarquias pessoais que se mostravam mais favorveis prtica de estupro contra outros presos. interessante observar que os presos normalmente justificavam este ato como uma maneira de proteger a honra da famlia e da mulher, uma vez que a maioria dos estupros foi praticada contra presos condenados por estupro. Mas no foram os presos mais preocupados com a situao da famlia ou da mulher que mais advogavam o estupro como punio. A sua indignao moral estava mais ligada a problemas de honra e estima pessoal.
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A ligao entre indignao moral e status se revela ainda em pesquisas a respeito do sentimento de ter sido injustiado. Numa reviso da literatura sobre o assunto, Miller (2001) citou vrias pesquisas mostrando que este sentimento est muito ligado ao sentimento de ter sido desrespeitado. Por exemplo, em processos judiciais sobre a guarda de filhos os homens quase sempre perdem, mas a sensao de no ter sido adequadamente escutado pelo juiz que melhor explica a sensao de indignao. Da mesma forma, a propenso para entrar com um processo contra um mdico est mais relacionada percepo de ter sido tratado com desrespeito do que com o mrito do caso em si. Miller argumenta que a sensao de injustia tem mais a ver com o processo de julgamento do que com os resultados (justia processual versus justia distributiva). Mas, mesmo se aceitamos esta explicao, o problema de status continua. Citando Rawls (1971), Miller argumenta que a justia processual considerada mais importante que a justia distributiva, justamente porque no processo de julgamento que os indivduos recebem uma das coisas que mais merecem o direito de ser tratado de uma forma que promove a auto-estima. De qualquer forma, outras pesquisas citadas por Miller (2001) mostram a relao estreita entre raiva e sentimentos de injustia, e muitas vezes a raiva que evoca sentimentos de injustia e no o contrrio. Em outra reviso, Eisenberg (2000) nota que crianas com personalidades mais agressivas tendem a externalizar as suas emoes em geral e a culpar os outros em casos de conflitos. Em contraste, crianas mais medrosas tendem a internalizar as suas emoes e tm maior probabilidade de se sentirem culpadas. Como observa Miller (2001), uma das coisas que mais provoca raiva o insulto, e tanto pesquisas com seres humanos como com animais (Miller cita de Waal aqui) mostram que a retaliao serve principalmente para preservar a imagem e a honra. Mesmo quando a retaliao serve para dar uma lio no outro, esta lio, muitas vezes, consiste em mostrar o status relativo ou o valor moral do outro. Numa reviso da literatura sobre controle de recursos, agressividade e moralidade, Hawley (2003) argumentou que os evolucionistas tm razo em ressaltar a ligao entre hipocrisia moral e dominncia social, uma vez que o que importa na evoluo aparentar ser moral e no necessariamente ser moral. Pesquisas compararam as relaes entre o controle de recursos via atividades pr-sociais (ajuda, persuaso)
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com o controle via agresso (tanto fsica, mais comum nos rapazes, como verbal fofoca e excluso social mais comum nas meninas). Estes estudos mostraram que so aqueles que juntam controle via agresso com controle pr-social que mais sobem na hierarquia social muito mais que aqueles que usam apenas tcnicas agressivas ou apenas tcnicas pr-sociais ou que nem tentam controlar os outros. Estes indivduos dominantes tambm trapaceiam e, segundo relatos dos pares (mas no dos professores), so entre os mais agressivos dos adolescentes. Para os autores, a dominncia exige uma capacidade intelectual maquiavlica, alm de uma disposio para agir de forma agressiva. Isto nos leva importncia das capacidades cognitivas na evoluo do nosso senso moral. Capacidades intelectuais confuso entre o que e o que deve ser Numa comparao entre diferentes espcies de primatas, Byrne (1995) achou uma correlao forte entre o ndice do neocrtex (peso do neocrtex dividido pelo volume total do crebro) e o tamanho do grupo social. Como este ndice tambm muito correlacionado com a capacidade que diferentes espcies tm para engodos, Byrne sugeriu que a inteligncia humana resultou de uma corrida armamentista durante a nossa evoluo entre a capacidade para enganar e a capacidade para detectar engodos. Seria esta inteligncia maquiavlica (BYRNE e WHITEN, 1988) que estaria por trs da maioria das nossas habilidades intelectuais. Vrios pesquisadores mostraram que a nossa capacidade para raciocnio lgico muito relacionada questo de detectar engodos (ver COSMIDES, 1989; GIGERENZER e HUG, 1992; POLITZER e NGUYEN-XUAN, 1992). Segundo uma anlise que fiz sobre o tema (Werner, 1997), ns resolvemos muito melhor problemas lgicos quando estes so apresentados numa forma que levanta suspeitas de trapaa. Parece que buscamos saber no apenas se uma proposio verdadeira ou falsa, mas tambm se a pessoa que est apresentando a proposio verdadeira ou falsa. Parece que o nosso senso de verdadeiro e falso (certo ou errado) teria evoludo deste fenmeno social. No de se admirar, ento, que temos uma tendncia to forte para confundir o que com o que deve ser, o que explica com o que justifica e o que causa com o que culpado por.
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Se o nosso senso de certo e errado moral est to estreitamente relacionado com a nossa capacidade para detectar contradies no comportamento dos outros (para poder detectar engodos), seria de esperar que diferentes indivduos teriam capacidades diferentes para distinguir certo e errado. Com efeito, a Psicologia tem uma longa tradio de examinar diferenas no desenvolvimento do raciocnio moral. Embora no se baseiem nos princpios de evoluo esboados aqui, as teorias de Piaget e Kohlberg sobre raciocnio moral tm sido confirmadas em dezenas de pesquisas em diferentes culturas do mundo (BOYES e WALKER, 1988). Ligaes entre raciocnio moral, inteligncia geral e moralidade tm sido confirmadas em algumas pesquisas. Por exemplo, Eisenberg (2000) revisou vrias pesquisas que mostram que crianas e adolescentes com maiores dificuldades de concentrao so mais anti-sociais e tm mais problemas no raciocnio moral. Wilson e Herrnstein (1985) tambm citam o papel da baixa inteligncia (quando combinada com outros fatores) na gerao de criminalidade. O que est em pauta a capacidade de raciocnio moral, e no necessariamente a capacidade para sentimentos morais. Ningum argumenta que a alta inteligncia sozinha previne a imoralidade (alis a capacidade de engodo aumentaria com a inteligncia) nem que a baixa inteligncia sozinha levaria imoralidade. Mas as diferenas de capacidade para raciocnio moral deveriam nos alertar para um problema bsico na nossa legislao o de que um indivduo pode ser considerado culpado pelos seus atos desde que consegue reconhecer a diferena entre certo e errado. Quando se trata de diferentes graus de raciocnio, este princpio deixa de funcionar. Muitos debates tm surgido a respeito dos esquemas de Piaget e Kohlberg, mas na maioria das vezes trata-se de questionamentos a respeito dos critrios usados para avaliar a moral, e no as descobertas sobre raciocnio moral em si. Por exemplo, Gilligan e Attanucci (1988) distinguem entre orientaes para justia, que seriam medidas pelas etapas de Kohlberg, que so mais tpicas nos homens, e orientaes para cuidado, que seriam medidas por argumentos a respeito das necessidades dos outros e que seriam mais tpicas nas mulheres. No se pode dizer que uma orientao melhor que a outra. Do ponto de vista das teorias de evoluo apresentadas neste trabalho, estas diferenas teriam mais a ver com o tipo de grupo que est em pauta.
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Orientaes morais para diferentes tipos de grupo Olhando o comportamento de chimpanzs e seres humanos de Waal (1991) sugeriu que existem algumas diferenas bsicas nos agrupamentos de machos e fmeas. Os machos tipicamente se associam em grupos maiores, nos quais as hierarquias so mais marcadas e mais volveis. As coalizes dos machos [...] so instrumentos para conseguir e manter um status alto. H pouco espao para simpatia ou antipatia em estratgias to oportunistas (DE WAAL, 1991, p. 51). Os machos esto sempre brigando e se reconciliando. De Waal cita uma frase de Tancredo Neves como ilustrao no caso dos seres humanos. Neves comentou uma vez que [...] nunca fiz um amigo de quem no poderia me separar, e nunca fiz um inimigo que no poderia abordar. Em contraste, as fmeas se restringem a grupos menores, nos quais as hierarquias so mais informais. Nas suas pesquisas com chimpanzs de Waal observou que as alianas entre fmeas eram mais duradouras, e as inimizades, mais irreconciliveis. Estas diferenas poderiam explicar as diferentes orientaes morais de mulheres e homens observadas por Gilligan e seus scios. A simpatia e a preocupao com as necessidades alheias seriam mais adaptadas convivncia em grupos menores (e especialmente de parentes prximos). Embora Gilligan tenha chamado de orientao para justia o que medida pelo esquema de Kohlberg, seria mais correto chamar isto de raciocnio moral, pois justia no necessariamente o princpio por trs deste esquema. A idia bsica de Kohlberg que a criana, ao amadurecer, consegue distinguir cada vez melhor o seu mundo do mundo dos outros e raciocinar de acordo com as necessidades de um mundo cada vez maior. Do ponto de vista das teorias de evoluo apresentadas aqui, o raciocnio moral (derivado da capacidade para detectar engodos) seria mais adaptado convivncia em grupos maiores caracterizados pela reciprocidade e pelas hierarquias de dominncia. Num estudo relacionando orientaes morais com caractersticas de personalidade em homens e mulheres, Ashton e colaboradores (1998) acharam apoio para este argumento e ainda esclareceram que traos de personalidade como estabilidade emocional e capacidade para perdoar esto mais relacionados ao altrusmo recproco, enquanto empatia e apego esto mais relacionados ao altrusmo de parentesco.
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Implicaes para o que devemos fazer Comecei este ensaio argumentando que a teoria de evoluo sozinha no pode nos dizer o que devemos fazer. A sua utilidade consiste essencialmente na sua capacidade de gerar novas idias para serem testadas com o mtodo cientfico. Mas isto no quer dizer que no podemos aproveitar estas idias para ajudarmos a tomar decises sobre o que devemos fazer. Se aceitamos (por outras razes) que o princpio bsico da moral aumentar o bem-estar ou amar o vizinho assim como a si mesmo, podemos usar pesquisas inspiradas na teoria de evoluo (como outras idias testadas pela cincia) para esclarecer o que traz bem-estar. As idias provenientes de uma psicologia evolucionista so especialmente teis em esclarecer o que a natureza humana. Sabendo melhor como lidar com a natureza humana estaremos em melhores condies para elaborar sistemas morais e legais adequados ao ser humano, em vez de sistemas mais adequados para anjos ou para brutos. Ao descartar regras tradicionais inadequadas, substituindo-as com regras melhores, podemos progredir na nossa tentativa de melhorar o bem-estar geral. Por exemplo, considere-se o nosso senso de justia. Chamamos o sistema judicial de um pas de sistema de justia, o que demonstra o quo enraizada est a idia de justia como fundamento para o nosso sistema legal e moral. Mas uma das questes apontadas pelas pesquisas citadas aqui justamente a necessidade de ter cautela com este senso de injustia. Muitas vezes por trs de nossa indignao est um desejo egosta de autopromoo, e no um desejo de melhorar o bemestar geral. Precisamos reconhecer, como disse Martinho Lutero, que [...] o santo aquele que sabe que tudo que faz feito por razes egostas (citado em WRIGHT, 1996), e precisamos questionar se justia merece um papel to importante na fundamentao dos nossos sistemas morais e legais como querem alguns filsofos (RAWLS, 1971). O questionamento da noo de justia como embasamento para a moral e a lei no nada novo na histria. Pelo contrrio, foi um dos temas principais da Reforma Protestante. (Cito a Reforma, no porque este tema s apareceu naquela poca, mas simplesmente porque pessoalmente conheo melhor este perodo devido minha prpria catequese luterana.) Nos ensaios que considerou os seus mais importantes
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Sobre boas obras e O cativeiro do arbtrio Lutero esclareceu as suas opinies a respeito da idia de justia. Como milhes de crianas luteranas aprendem nas suas aulas de catequese, para Lutero, Deus nos ama, no por causa de, seno apesar de. No somos salvos porque merecemos. Somos salvos simplesmente pela graa de Deus. Baseando-se na Epstola de So Paulo aos Romanos (que tanto Lutero como Calvino consideravam a base da Reforma), Lutero, como So Paulo, argumentou que a justia divina no tem nada a ver com qualquer coisa que nos humanos poderamos entender por justia. Deus escolhe alguns para salvar, outros no. uma iluso achar que ns temos um livre-arbtrio, quando as nossas vidas so pre-destinadas por Deus. E iluso, ento, achar que estamos sendo recompensados pelo que merecemos por justia. Como argumentei em outro lugar (ver www.dennis.floripa.com.br), tentar fundamentar um sistema moral e legal na idia de justia acarreta alguns problemas conceituais muito problemticos. Primeiro, diferentes aspectos da noo de justia so contraditrios entre si. A noo de justia implica igualdade. Mas que tipo de igualdade igualdade de bens, igualdade de oportunidades, igualdade perante a lei? Uma vez que os seres humanos so diferentes em suas capacidades e personalidades, igualdade de um tipo necessariamente implica desigualdade de outro tipo. Segundo, a noo de justia implica idia de que devemos colher o que semeamos. Mas como conciliar esta idia com as diferentes idias de igualdade? Finalmente, uma preocupao com a idia de justia nos leva a remoer mgoas do passado num ciclo sem fim, em vez de procurar melhorar o futuro. Em vez de tentar fundamentar a moral na noo de justia, Lutero, como Santo Agostinho e So Paulo antes dele, recorreu resposta de Jesus, quando indagado sobre qual a lei primordial da qual todas as outras leis seriam uma conseqncia: Ame a Deus com todo o seu corao, toda a sua mente, e toda a sua alma e o seu corolrio Ame a seu vizinho assim como a si mesmo. Na minha catequese luterana, aprendi que Lutero resumia isto como Ame a Deus e faa o que quiser. a substituio da idia de justia pela idia de aumentar o bem-estar. Muitos filsofos posteriores (como David Hume e John Stuart Mill) desenvolveriam estas idias. Darwin simplesmente deixou claro que o bemestar no equivalente felicidade como queriam alguns filsofos.
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E outros esclareceram que otimizar o bem-estar no equivalente a otimizar o bem-estar material. (Uma grande rea de pesquisa hoje em dia lida com fatores que predizem bem-estar subjetivo e fsico.) Isto no quer dizer que errado buscar justia. Simplesmente esclarece que se a procura de justia traz mal-estar em vez de bem-estar, a busca do bem-estar que deve nos nortear. Ligada questo de justia a questo do livre-arbtrio, pois sem livre-arbtrio no h como atribuir responsabilidade, e sem atribuio de responsabilidade no h como julgar merecimento com justia. No entanto, um livre-arbtrio no to importante num sistema moral ou legal fundamentado na idia de aumentar o bem-estar. Lutero e Calvino ligavam a falta de livre-arbtrio idia de predestinao Deus fez as escolhas. Muitas pessoas hoje continuam ligando a falta de livre-arbtrio ao equivalente moderno de predestinao o determinismo e temem a perda de um sistema moral se camos no determinismo. Por exemplo, Edelman (1992) busca na aleatoriedade quntica dentro dos neurnios uma sada do determinismo e uma salvao para o livre-arbtrio. Mas o livre-arbtrio no ser salvo pelo acaso. Se no podemos controlar relaes de causa e efeito, muito menos poderemos controlar processos estocsticos. O grande problema do livre-arbtrio no o determinismo a dificuldade de achar um eu. Ren Descartes dizia que o eu est na glndula pineal. Hoje, poucos aceitariam a idia de achar uma parte do crebro onde reside o eu responsvel pelas nossas decises. Com efeito, LeDoux (1996) cita pesquisas mostrando conflitos entre diferentes partes do crebro na hora de tomar uma deciso. Mais claro o caso de pacientes epilpticos que sofreram cirurgias que dividem o crebro e que s vezes descobrem que as diferentes metades do corpo discordam sobre qual a ao que deveriam tomar (ORNSTEIN, 1977). O que pensar, ento, de gmeos siameses? Qual parte do crebro teria que ser compartilhada para decidir que se trata de uma e no duas pessoas? Qual parte ou funo do crebro precisa estar morta para decidir que algum morreu? Eis algumas questes que ilustram o problema. Felizmente, como demonstraram Lutero e Calvino, no precisamos resgatar o livre-arbtrio para ter um sistema moral. O passado e as intenes das pessoas so importantes apenas na medida em que predizem comportamentos futuros. s vezes, tambm,
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podemos influenciar algum para o bem recorrendo iluso do livrearbtrio e a um senso de responsabilidade que muitas pessoas tm. Mas no devemos nos preocupar demais em decidir se atos passados foram certos ou errados. O importante pensar como melhorar o futuro. Por exemplo, o castigo s vlido na medida em que corrige o comportamento do culpado ou serve de exemplo para que outros no errem. Em si s, a idia de justa retribuio no importante. Pode ser necessrio tirar pessoas perigosas da rua, mas no adianta castig-los, se isto no melhora comportamentos futuros (e no caso de muitos crimes, a punio dada atualmente no ajuda grande coisa) (PAEZ DE GIGENA, 1989). Seria melhor tentar criar melhor bem-estar para estas pessoas ao mesmo tempo em que aumentamos o controle sobre elas (cf. WOOTTON, 1959). Falta de liberdade no equivalente a mal-estar, da mesma maneira que liberdade nem sempre implica bem-estar (por exemplo, liberdade para se suicidar). medida que o mundo fica cada vez mais complexo, precisamos reconhecer que conceitos como liberdade, bem-estar e justia nem sempre implicam um no outro. O mais importante esclarecer para diferentes indivduos e diferentes situaes exatamente quais regras ou leis trazem bem-estar, e tomar cuidado com as palavras demaggicas da nossa poca. Pesquisas inspiradas na teoria de evoluo podem nos ajudar muito a desvendar estas questes. Referncias bibliogrficas ALEXANDER, R. D. The biology of moral systems. New York: Dover, 1987. ASHTON, M. C.; PAUNONEN, S. V.; HELMES, E. e JACKSON, D. N. Kin altruism, reciprocal altruism, and the big five personality factors. Evolution and Human Behavior, v. 19, n. 4, p. 243-255, 1998. AXELROD, R. The evolution of cooperation. New York: Basic Books,1984. BARKOW, J. H.; COSMIDES, L. e TOOBY, J. (Orgs.). The adapted mind: evolutionary psychology and the generation of culture. New York: Oxford University Press, 1992. BATAILLE, G. La part maudite, essai dconomie gnrale. Paris: ditions de Minuit, 1949.
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Inato versus adquirido: a persistncia da dicotomia*

Emma Otta Fernando Leite Ribeiro Vera Slvia Raad Bussab1


Universidade de So Paulo

Resumo A histria da dicotomia inato versus adquirido nas cincias do comportamento longa e controversa, o que se deve particularmente s intensas reaes contrrias ao lado inato da oposio. A herana de padres comportamentais tem sido severamente subestimada tanto pelos behavioristas como por outras correntes como a piagetiana. A dicotomia persiste, apesar das tentativas para neg-la, simplesmente porque parece ser real e necessria. No adequado classificar uni__________________________________________________

Abstract The dichotomy innate-acquired has a long and controversial history in the Behavioral Sciences, particularly because of strong reactions against the innate side of the debate. The inheritance of behavior has been severely underestimated by behaviorists and also by other traditions like that initiated by Piaget. In spite of attempts to deny it, the dichotomy persists simply because it seems to be true and necessary. It is not sen-

* Innate vs. acquired: the persistence of the dichotomy 1 Endereo para correspondncias: Departamento de Psicologia Experimental, Instituto de Psicologia, USP, Av. Prof. Mello Moraes, 1721, 05508-900, So Paulo, SP (Emails: [email protected], [email protected] e emmaotta@ usp.br). Trabalho desenvolvido com apoio do CNPq. Revista de Cincias Humanas, Florianpolis: EDUFSC, n.34, p.283-311, outubro de 2003

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dades inteiras de comportamento como inatas ou adquiridas, mas o poder do efeito gentico inquestionvel, mesmo quando o foco da discusso o homem. Emoes e outros fenmenos afetivos so to importantes quanto os comportamentos atravs dos quais se manifestam. So apresentadas evidncias de que impossvel explic-los exclusivamente atravs de processos de aprendizagem. Diferentes reas de investigao incluindo o estudo da cognio tm mostrado a importncia da gentica para a compreenso de fenmenos psicolgicos. Estudos de gmeos monozigticos e dizigticos, criados juntos ou separados, demonstram inequivocamente os efeitos dos genes sobre comportamentos e caractersticas psicolgicas de um modo geral. Estudos de Psicopatologia so particularmente elucidativos da importncia e complexidade dos efeitos genticos. Depois de apresentar evidncias dos efeitos do genes sobre comportamentos e processos psicolgicos, so examinadas concepes equivocadas de determinao gentica, envolvendo justificativa de status quo e situaes de iniqidade social, dominao das mulheres pelos homens e racismo. Palavras-chave: Cultura, aprendizagem, hereditariedade, gmeos, Etologia, Psicologia Evolucionria.

sible to classify whole units of behavior as either innate or acquired, but the powerful genetic effect is unquestionable, even if the discussion is restricted to humans. Emotions and other affective phenomena are just as important as their overt behavioral displays, and available evidence shows that it is impossible to explain them exclusively by learning processes. The importance of genetic determinants of psychological processes including cognition is receiving growing attention in different areas of investigation. Studies of monozygotic and dizygotic twins reared apart and together, have revealed impressive evidence of genetic effects on a wide variety of behavioral and psychological traits. Mental illnesses are substantially heritable. After an examination of evidence on the magnitude and complexity of heritability in behavioral and psychological processes, some misunderstandings were addressed, such as the idea that biological determinism is antithetical to social or political change and justifies sexism and racism. Keywords: Culture, learning, hereditarity, twins, Ethology, Evolutionary Psychology.

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Introduo

noo de herana de caractersticas fsicas e psicolgicas, bem como a de sua aquisio por influncia do ambiente so categorias de pensamento de nossa cultura. Expresses como tal pai, tal filho, dize-me com quem andas [...], de pequenino que se torce o pepino, quem puxa aos seus no degenera, mostram que a idia de classificar aspectos psicolgicos dos indivduos, ora como inatos, ora como adquiridos, faz parte da cultura popular. A observao informal de animais domsticos e de pessoas certamente foi o que deu origem dicotomia, apesar das enormes complexidades, tanto da transmisso gentica, quanto dos efeitos do ambiente. Foram essas mesmas complexidades, no entanto, que impediram que a observao cotidiana, ainda que interessada e intensa, como no caso de criadores de animais, agricultores e educadores, chegasse a algo mais do que alguns conceitos confusos. Por mais que se acumule a experincia ingnua, a trama de semelhanas e diferenas entre pais e filhos um desafio difcil demais para a informalidade. Somente quando o assunto foi examinado com um esforo cientfico formal foi possvel chegar a uma conceituao coerente da vaga idia da herana. E os efeitos do ambiente, no obstante todo o empenho cientfico do sculo XX, ainda no receberam uma organizao conceitual equivalente da gentica. H cerca de 135, anos Francis Galton (1822-1911), a propsito destas questes, cunhou a expresso natureza e criao ou natureza e educao para se referir s duas principais fontes de diferenas individuais gentica e ambiente (PLOMIN E MCCLEARN, 1993). Galton usou os termos da dicotomia, nature versus nurture, parafraseando Shakespeare, que na obra The tempest usou a expresso nature nurture para se referir aos elementos que compem a personalidade, valendose do sugestivo jogo de palavras sugerido pela referida expresso na lngua inglesa2 (RIDLEY, 2003). O tema natureza-criao continua atual na Psicologia; a dicotomia persiste. Em diferentes reas recebe diferentes nomes: a) nativismo vs. empirismo, nas reas de sensao e percepo; b) maturao vs. aprendizagem, na psicologia do desenvolvimento;
A devil, a born devil, on whose nature nurture can never stick, insulto dirigido por Prspero a Calib, no ato 4, cena 1.

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c) aprendizagem geral vs. aprendizagem preparada, nas reas de aprendizagem e cognio; d) hereditariedade vs. ambiente como determinante da variao humana, na psicologia das diferenas individuais (KIMBLE, 1993). No sculo XX deu-se um confronto entre os dois plos da dicotomia, em grande parte devido oposio entre etlogos e psiclogos behavioristas. Os etlogos, por sua formao zoolgica, e entusiasmados com algumas descobertas de grande repercusso, julgaramse proprietrios do comportamento. Afinal, depois do enorme progresso do conhecimento biolgico de anatomia e fisiologia, teoria da evoluo e outros avanos, o comportamento do animal integral era a ltima rea a ser submetida ao pensamento cientfico. Ao chegar a ela, deram-se conta que os psiclogos a tinham invadido, com estratgia de pensamento e mtodo completamente diferentes do que sugeria a vitoriosa tradio biolgica. verdade que o Behaviorismo recebeu do fisiologista russo Ivan P. Pavlov (1849-1936) um impulso conceitual mais forte, a idia de condicionamento. No entanto, Pavlov estava longe do Ocidente, e foi fcil superar esse toque bastardo e considerar a Psicologia como proprietria do comportamento. Acresce que o ambiente filosfico predominante favorecia o empirismo, e, assim, o Behaviorismo procurou acomodar todo seu objeto noo de aquisio, rejeitando, explicitamente, o plo oposto da dicotomia. E de outras reas da Psicologia, alheias ou mesmo avessas ao Behaviorismo, no surgiu nenhum movimento forte de resistncia contra o predomnio do adquirido sobre o inato. Na obra de Piaget, por exemplo, no obstante sua formao biolgica, todo o empenho conceitual e metodolgico voltou-se para a aquisio, e pouco mais do que algumas estruturas gerais foram concedidas ao inato. O confronto era inevitvel. Os psiclogos viram nos etlogos uma certa fragilidade conceitual, em comparao com as discusses internas da Psicologia, e tambm uma lassido metodolgica, em contraste com seus elaborados instrumentos de mensurao e tratamentos estatsticos. E os etlogos denunciavam a ingenuidade ou a pretenso desmesurada de uma Psicologia que no observava a natureza e que se restringia a uma ou duas espcies, colocando-as em ambientes to artificiais que o comportamento parecia reduzido a algumas reaes de preparaes fisiolgicas, sem dar-lhe oportunidade de exibir toda a sua natureza.
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No confronto entre nativistas e ambientalistas, uma parte importante da questo resulta da complexidade da prpria noo de comportamento. No fcil descrev-lo nem medi-lo. No h unidades adequadas. Nossa linguagem, ao dizermos que este comportamento inato ou aquele adquirido, est carregada de imprecises. Ao dar como certo que, se inato, no adquirido, e vice-versa, enorme a probabilidade de estarmos errados a respeito de componentes ou aspectos do comportamento em questo. Em casos especiais, nos quais esto implcitos vrios pressupostos, esse tipo de afirmao pode ser razoavelmente aceito. Ao dizer que o choro de um recm-nascido inato, ou que um urso, ao andar de bicicleta, est fazendo algo adquirido, sentimo-nos razoavelmente seguros de nossa linguagem. Mesmo assim, pelo menos no caso do urso, precisamos dar como subentendido que a afirmao se refere montagem do conjunto todo, e no aos seus componentes (equilbrio, coordenaes, etc.). Contudo, os casos especiais servem apenas como instrumentos de retrica na discusso sobre a dicotomia. Em muitos outros, o que se v que a escolha entre inato e adquirido no pode ser feita para o conjunto completo que estiver sendo estudado. Sempre ser possvel mostrar que este ou aquele componente escapa noo radical de puramente inato ou adquirido. Outra ingenuidade, nessa discusso, atribuir ao inato caractersticas que, teoricamente, ele no precisa ter: inevitabilidade e imutabilidade. E a contrapartida disto que o fato de sofrer alteraes resultantes da experincia no impede que um dado aspecto do comportamento seja inato. As informaes genticas orientam a construo do sistema nervoso central, assim como os outros sistemas, dando-lhe uma organizao que muito mais complexa do que uma simples mquina de aprender. O estudo do comportamento animal mostra abundantemente que possvel nascer j conhecendo um vasto e relevante conjunto de caractersticas ambientais e j sabendo o que fazer diante delas (ALCOCK, 2001). Nas ltimas dcadas do sculo passado, depois de um verdadeiro confronto entre ambientalistas e nativistas, duas concluses importantes, para certos autores, foram: a) a impossibilidade de qualificar o comportamento como inato ou aprendido, na medida em que ele sempre produto complexo das duas fontes de determinao;
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e b) a necessidade de orientar as pesquisas para a identificao do processo pelo qual os fatores inatos e adquiridos se integram (ADES, 1986; HINDE, 1973). Esta concepo ainda atual e vem sendo reiteradamente afirmada. Entretanto, o que se tem assistido desde a sua formulao no tem sido uma assimilao efetiva desta idia, mas sim sucessivos renascimentos da dicotomia. H uma forte resistncia em admitir qualquer controle gentico sobre o comportamento, especialmente o humano, em parte por maus entendimentos do que seja o controle gentico. Mata-se a dicotomia e ela ressurge das cinzas, tal qual Fnix. Os reaquecimentos constantes da polmica so reveladores da necessidade de aprimoramentos conceituais. A nossa tese que a dicotomia persiste porque ela necessria. As tentativas de se abandonar um dos lados, especialmente as tentativas de abandonar o inato, tm se revelado pouco teis. Emoes O terreno das emoes particularmente propcio para a identificao das determinaes genticas sobre o comportamento e para reflexes sobre a dicotomia inato-aprendido. Quem nos ensinou a ficar alegres ou a sentir tristeza? A prpria palavra desperta emoes e remete s emoes reconhecidamente primrias: alegria, tristeza, medo, raiva, surpresa e repugnncia, assim como s consideradas secundrias, vergonha, cime, culpa e orgulho, e ainda s emoes de fundo, como calma ou tenso. Todas elas universais. A emoo nos acompanha em nossa vida cotidiana. Tem inspirado os escritores, os msicos e os poetas, e tambm os etlogos e os psiclogos. No por acaso que as emoes esto presentes nos dois extremos da Etologia, desde sua origem at agora. O nome de Charles Darwin (1809-1882), criador da teoria da evoluo, que foi um etlogo antes mesmo que a palavra tivesse sido inventada, destaca-se por sua influncia em determinar o modo como se pensa hoje a respeito de emoes. A sua obra The expression of the emotions in man and animals, publicada em 1872, um clssico na rea. Darwin sustentou a natureza inata de grande parte da expresso emocional, baseando suas concluses em evidncias que ainda podem ser consideradas atuais: o aparecimento precoce em bebs, antes de haver oportunidade suficiente de aprendizagem; a similaridade de forma,
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contexto e funo entre indivduos com experincias notadamente diferentes entre si, como entre pessoas cegas e com viso normal, e entre diferentes grupos culturais humanos, e, finalmente, as homologias e analogias reveladas pelos estudos comparativos de diferentes espcies animais. Desse modo, o estudo das emoes foi posto no contexto evolutivo, e foi colocada a questo funcional: de que forma uma particular emoo ou um comportamento ajuda na sobrevivncia? Darwin produziu uma srie de hipteses e de observaes que servem de guia para a Etologia at hoje. No entanto, apesar desta origem to nobre e antiga do interesse por emoes, a Etologia, da mesma forma que o Behaviorismo, apegou-se idia de comportamento para definir seu objeto. Outros assuntos, tais como sensao, percepo, emoo, sentimento, cognio, sonhos, que fazem parte indiscutvel desse objeto, ficam na periferia, quando muito, como apndices do ncleo comportamental. Tal distoro se deve, principalmente, a dificuldades metodolgicas. S agora, na ponta mais atual da Etologia e da Psicologia Evolutiva, a emoo reaparece com fora total. H quem diga que o sculo XX foi o sculo da razo e que agora estamos recuperando a emoo (DAMSIO, 1994, 1999). Talvez seja um exagero, porque em certo sentido o sculo XX tambm foi o sculo do apego, da expresso das emoes, do comportamento no-verbal e da redescoberta do valor srio da brincadeira (Ribeiro et al., 2004). Mas, de fato, est em andamento uma releitura das emoes. Novas tentativas de integrao da razo com a emoo tambm esto sendo ensaiadas (MORRIS, BRAMHAM e ROWE, 2003). Na moderna Psicologia Evolucionria as emoes tm sido entendidas como programas superordenados que coordenam muitos outros, ou seja, como solues de problemas adaptativos de mecanismos de orquestrao; organizam percepes, ateno, inferncia, aprendizagem, memria, escolha de objetivos, prioridades motivacionais, estruturas conceituais, categorizaes, reaes fisiolgicas, reflexos, decises comportamentais, processos de comunicao, nveis de energia e de alocao de esforos, colorao afetiva de eventos e de estmulos, avaliaes da situao, valores, variveis reguladoras, como auto-estima, e assim por diante (COSMIDES e TOOBY, 2000).
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Uma emoo no se reduz a uma categoria de efeitos, como alteraes fisiolgicas, inclinaes comportamentais, avaliaes cognitivas, ou sentimentos, pois envolve todos estes nveis, assim como ainda outros mecanismos distribudos atravs da arquitetura fsica e mental. A estrutura da ateno regulada pelas emoes. A preocupao estreita a ateno; as emoes positivas alargam-na. O nvel de ativao depende da emoo. As alteraes fisiolgicas, como mudanas circulatrias, respiratrias, endcrinas, dependem da especificidade da emoo em jogo. Limiares de contrao muscular baixam em certos casos e aumentam em outros, revelando o valor adaptativo da reao. Outro exemplo do ajuste funcional das emoes a alocao de reaes imunolgicas no nojo. Cada emoo atua sobre vrios outros programas adaptativos, desativando alguns, ativando outros e mudando os parmetros de terceiros, permitindo que todo o sistema opere de modo eficaz e harmonioso, toda vez que se defrontar com certos tipos de condies. Conforme anlise de Cosmides e Tooby (2000), numa situao tpica de medo, como quando uma pessoa est sozinha noite em lugar estranho, ativa-se o circuito de deteco da presena de algum ameaador ou de algum animal. Ocorrem mudanas na percepo e na ateno, exemplificveis pela mudana de limiar aos pequenos rudos. H mais deteco de perigos custa do aumento de alarmes falsos. A mudana motivacional notvel; a segurana ganha prioridade mxima. No se tem mais fome, no se pensa mais em conquistar um namorado, ou em treinar nova habilidade. H um redirecionamento de objetivos: onde est meu beb? Minha me? Onde esto meus amigos? Onde esto os que podem me proteger? Ganham prioridade determinadas categorias, como perigoso ou seguro. As reaes fisiolgicas parecem depender da natureza exata da ameaa e da melhor maneira de enfrent-la. Convm notar que estas emoes no so necessariamente conscientes. No curso da evoluo, a lgica funcional das emoes ganhou sua sofisticada elaborao para resolver problemas ancestrais. Nenhuma mquina j desenvolvida pelo homem conseguiu alcanar a complexidade do maquinrio natural. Programas de emoes que levam os indivduos a se engajarem em atividades aparentemente sem sentido em curto prazo, como luto, brincadeira, fascinao, culpa, depresso,
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sentimento de triunfo, devem ser analisados em termos de como modificam a arquitetura psicolgica para benefcios que devem ser avaliados estatisticamente e em longo prazo. A funo destes estados emocionais deve ser compreendida com base na anlise de suas potenciais conseqncias, como ganhos de conhecimentos, modificaes de prioridades motivacionais e reorganizao do conjunto de escolhas de variveis. A hiptese de Cosmides e Tooby (2000) que emoes especficas ativam sistemas especficos. A felicidade, por sua vez, sinaliza oportunidade para brincar e para explorar (FREDERIKSON, 1998). O processo de memorizao afetado pelas emoes. Os eventos mais emocionantes podem ser memorizados em detalhes. A suspeita de traio do marido pode trazer tona uma torrente de lembranas de pequenos detalhes que pareciam sem sentido na ocasio. Mecanismos altamente especializados de aprendizagem podem ser ativados, como no exemplo do desenvolvimento tpico de averso alimentar, notvel por poder ocorrer aps uma nica experincia, mesmo quando os efeitos desagradveis so sentidos apenas muito tempo depois da ingesto (GARCIA, 1990), ou como nos bem conhecidos condicionamentos de medo em primatas, nos quais se verificaram facilidades marcantes para o desenvolvimento de alguns medos, como o de cobras, em contraste com dificuldades para a aprendizagem de outros, como de flores. muito mais fcil aprender a sentir medo de cobras do que de flores (LEDOUX, 1995). A prpria colorao afetiva dos eventos pode ser entendida como uma forma de aprendizagem, ao impregn-los com atributos como perigoso, doloroso ou alegre. Nesse (1990) considera que a funo do humor refletir o quanto certo ambiente propcio para a ao. A suspenso de atividades comportamentais na depresso, acompanhada de intensa atividade cognitiva, sugere esforo de reconstruo de modelos do mundo, eliminando as condies que levaram prpria depresso, muitas vezes associadas a fracassos em investimentos comportamentais intensos, incapacidade de manter contato afetivo com uma determinada pessoa ou conservar uma situao social. Por outro lado, a alegria uma resposta a um acontecimento inesperadamente favorvel que amplia as escolhas e acentua o interesse, permitindo a liberao de novas energias num rumo confivel.
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Culpa, luto, depresso, vergonha, gratido, enternecimento, atrao sexual so promotores de alteraes dos espectros de escolhas e dos graus de interesse. Por exemplo, reelaboraes ps-traumticas tpicas so constitudas por repeties sucessivas das imagens do evento traumtico. Depois de um estupro, tais reelaboraes podem durar de 6 a 18 meses e cessar repentinamente, como se estivessem sendo extradas, durante este tempo, todas as informaes possveis, num processo de aprendizagem complexa e teraputica. Importa notar que h um grande inventrio de sabedoria de alta qualidade includo nestes programas. O crebro foi projetado pela evoluo para usar informaes derivadas do ambiente e do prprio organismo a fim de regular funcionalmente o comportamento e o prprio corpo, e isto rene aspectos cognitivos e emocionais. Como reunir aprendizagem com amor, cime e nojo? O termo cognio s vezes usado para se referir a um tipo de pensamento deliberado, voltado para uma soluo de problema, como na Matemtica ou no jogo de xadrez. Um pensamento frio, isento de paixo. Este uso aparece na Psicologia, quando se separa pensamento de sentimento e emoo. Do ponto de vista da perspectiva evolutiva, o conceito de cognio tem de servir para todas as atividades cognitivas, quentes ou frias, e no para algum subconjunto de operaes. Esta viso da perspectiva evolutiva abre novas possibilidades de investigaes, obscurecidas por outros esquemas. Esta perspectiva vem sendo corroborada de diversas maneiras (por exemplo, MORRIS et al., 2003). Uma descoberta heurstica decorreu da demonstrao de que sem emoo a razo parece no funcionar. A demonstrao clssica veio da descrio do caso de Phineas Gage, atendido pelo mdico Harlow em 1848, cuja anlise foi retomada pelo casal Damsio. Depois de um acidente durante uma etapa de construo de uma estrada de ferro, na Inglaterra, em que uma exploso de plvora fez com que uma barra de ferro trespassasse sua cabea, provocando danos no lobo pr-frontal, este paciente apresentou alteraes de natureza especfica. Surpreendentemente, ele sobreviveu e retomou a conscincia logo depois do acidente. Preservaram-se as capacidades de memria, de linguagem e outras capacidades intelectuais. Porm, ele mostrou profundas mudanas no seu comportamento social, com inesperadas ausncias de emocionalidade, pela falta de cuidados no trato com os outros, antes marcantes em sua personalidade, e pela tremenda dificuldade para tomar decises.
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A reanlise deste caso antigo e de alguns pacientes atuais levou Damsio (1994, 1999) ao desenvolvimento de uma teoria de marcadores somticos, em que considera que no processo bsico de tomada de decises est envolvida uma pr-seleo emocional; ou seja, sem emoo a razo no funciona. Atravs deste raciocnio, cai por terra a idia de que a razo nobre, sem emoes, funciona melhor. Por mais que possamos ter dvidas quanto teoria dos marcadores somticos desenvolvida por Damsio, que, alis, aparentemente, no teve o impacto que seria de esperar nas Neurocincias, parece que o princpio do entendimento das razes da emoo vale a pena. H, de vrias fontes, um entendimento e uma redescoberta do papel da emoo. Tudo isso sem contar com o j bem conhecido papel das emoes na regulao social. Alm de cumprir um papel na organizao dos processos psicolgicos individuais, as emoes tm reconhecida funo na organizao social. A expresso involuntria de emoes uma chave para o entendimento da vida social da espcie, reveladora de sua ecologia social. Pode-se considerar que o entendimento da importncia adaptativa da comunicao animal e do processo filogentico da ritualizao tenha sido uma das principais contribuies da Etologia clssica (ver, por exemplo, CARVALHO, 1998). Expresses especficas anunciam as emoes humanas universais, geradas em contextos semelhantes e associadas a reaes padronizadas, conforme tem sido demonstrado em muitos estudos interculturais (como em EIBL-EIBESFELDT, 1989; EKMAN, 1994). No fcil definir emoes, sentimentos, sensaes, percepes e estados de conscincia. O que se nota, na histria da Psicologia, em particular na sua evoluo recente, que os investigadores que no se deixam deter por dificuldades conceituais tm feito descobertas de valor incontestvel. So contribuies inimaginveis em ambientes acadmicos nos quais, em nome de uma discutvel assepsia conceitual, esterilizase grande parte do prprio objeto da Psicologia. insensato desprezar os problemas de conceituao. No entanto, bem possvel que o melhor caminho para promover o progresso terico seja estudar os fenmenos mal definidos da melhor maneira possvel, em vez de deix-los no limbo, ou negar sua prpria existncia. Tampouco deve levar-nos a ignor-los a ausncia de modelos de aprendizagem que explique sua origem, remetendo-os ao plo inato da dicotomia.
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Os estudos de gmeos e a dicotomia inato x aprendido Os nascimentos de gmeos idnticos nos colocam diante de um arranjo natural especial para o estudo dos efeitos dos genes sobre os comportamentos e sobre as caractersticas psicolgicas de um modo geral. A natureza nos presenteou com um experimento natural raro ao produzir um nascimento de gmeos idnticos a cada 250 partos e um de gmeos fraternos a cada 125 partos. Mesmo entre os animais, isso no comum; como se sabe, uma ninhada de camundongos ou de ces no composta por gmeos idnticos (RIDLEY, 2003). Ao traar a histria da controvrsia inato versus aprendido, Ridley identificou a origem da dicotomia no trabalho clssico de Francis Galton, justamente num estudo de gmeos, em 1864. Apesar das limitaes metodolgicas deste estudo inicial de 35 gmeos idnticos e 23 no idnticos, Galton apresentou todos os fundamentos sobre os quais se assentam as pesquisas atuais. Hoje, se dispe de bases de dados notveis, com tamanhos de amostras que chegam a milhares e com representao de diferentes faixas etrias, da infncia velhice, e de diferentes pases por exemplo: Estados Unidos, Austrlia, Finlndia, Noruega, Sucia, Holanda e Inglaterra (GOLDSMITH, 1993). Estudos de gmeos idnticos e fraternos podem ser complementados por estudos de adoo e gmeos criados em separado. Acumulam-se evidncias empricas (BOUCHARD et al., 1990, MCGUE et al., 1993) de que efeitos genticos estveis explicam aspectos estveis do temperamento na infncia e da personalidade no incio da idade adulta. Os estudos de gmeos parecem preencher todos os requisitos para atender ao raciocnio bsico dos estudos de gentica do comportamento. A comparao de gmeos monozigticos versus gmeos dizigticos, criados juntos ou separados, tendo ainda como parmetro dados de outros irmos, naturais e adotivos, parece permitir a concretizao, em ambiente natural, de todos os controles necessrios para o estudo de efeitos do ambiente e da gentica. Mesmo assim, os estudos de gmeos ficaram relegados at o final da dcada de 70, talvez por causa das possveis falhas metodolgicas e dos provveis desvios ideolgicos, conforme Ridley (2003) assinala em reviso do assunto. Nessa ocasio, um reencontro de irmos gmeos depois de 40 anos de separao, Jim Springer e Jim Lewis, anunciado pela imprensa de Minneapolis, chamou a ateno de Thomas Bouchard.
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O estudo que ele ento realizou com os irmos Jim revelou uma lista impressionante de semelhanas, quanto a aparncia, voz, corpo, histria de sade, dor de cabea, hbito de fumar, presso alta, hemorridas, gostos e preferncias. Ocorreu a Bouchard uma completa inverso do raciocnio vigente, na suposio de que gmeos idnticos criados em separado poderiam ser ainda mais parecidos do que os criados juntos, pois na mesma famlia as diferenas poderiam ser exageradas, tese que depois se confirmou em vrios estudos subseqentes. Os gmeos separados mais cedo eram mais semelhantes entre si que aqueles separados mais tarde. Os primeiros estudos de gmeos feitos por Bouchard, que nos trs anos seguintes conseguiu reunir e examinar 39 pares de gmeos, ainda receberam severas crticas, com acusaes de nfase exagerada nas semelhanas, descuido quanto ao tempo de contato anterior e s semelhanas de educao, o que o levou realizao de pesquisas minuciosas, incluindo tambm gmeos dizigticos criados em separado. Ao fazer isso, Bouchard encontrou uma sada brilhante para a armadilha conceitual que impedia qualquer progresso no entendimento dos efeitos genticos e ambientais; sempre era possvel alegar potenciais semelhanas ambientais para justificar as semelhanas psicolgicas e assim anular qualquer indicao de efeito gentico. As caractersticas dos gmeos monozigticos passaram a ser analisadas com parmetro nas semelhanas de gmeos dizigticos, outros irmos e filhos adotivos. Segundo este raciocnio, as diferenas entre as correlaes de gmeos monozigticos e de gmeos dizigticos, criados separados nos dois casos, assim como as diferenas entre os dois tipos de gmeos criados juntos, podem apontar a magnitude da influncia gentica, bem como a do ambiente, para a variao de cada trao psicolgico investigado. O que estava em jogo na poca era a hiptese nada nos genes; acreditava-se piamente que existiriam enormes diferenas de personalidade entre gmeos idnticos que fossem criados em separado. Os estudos de gmeos produziram uma verdadeira revoluo na compreenso da personalidade. A pesquisa realizada por Bouchard ficou conhecida como o Estudo de Minnesota de gmeos criados em separado (Minnesota Study of Twins Reared Apart - MISTRA), e trouxe tona novas questes e compreenses para o entendimento da dicotomia. Por exemplo, Bouchard (1997)
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reanalisou os dados da aplicao de um teste vocacional; a medida de correlao dos gmeos monozigticos criados em separado da ordem de 0,50, enquanto a medida de correlao dos gmeos dizigticos tambm separados da ordem de 0,07. Considerando-se os dizigticos como um grupo de controle, poder-se-ia dizer que a diferena entre os grupos, da ordem de 0,43, determinada por efeito gentico. Os dados sobre o desenvolvimento de quociente de inteligncia (QI) tambm ilustram os efeitos genticos, ao mesmo tempo em que se prestam problematizao das questes de desenvolvimento. As semelhanas de QI entre os gmeos criados parte no podem ser explicadas por idade de separao, quantidade de contato entre eles ou caractersticas gerais das famlias adotivas. Outra restrio s comuns superestimativas de efeitos ambientais provm de estudos sobre indivduos no aparentados criados juntos, pois medidas feitas na infncia revelam uma influncia ambiental da ordem de 30%, que cai com o passar do tempo, ao invs de crescer. Alm disso, ao rever os resultados da literatura sobre QI de gmeos criados juntos, Bouchard e McGue (1981) mostraram aumento do efeito da heritabilidade em funo da idade. Nos jovens, a influncia do ambiente de 40%, e nos mais velhos decai rapidamente. A influncia dos genes no QI vai crescendo de 20, para 40, 60 e 80%, em faixas etrias sucessivas. A correlao entre inteligncia e tamanho do crebro de 0,40, o que, literalmente, deixa lugar para gnios de cabea pequena; ainda assim, uma boa correlao. Recentemente, com o aprimoramento dos equipamentos de leitura cerebral (scanners), foi facilitado o acesso s medidas da massa cinzenta, e foi constatada uma correlao alta com inteligncia geral, de 0,89. Alm disso, a correlao de variao da massa cinzenta de gmeos idnticos alcana o patamar de 0,95, enquanto a de fraternos de 0,50, o que mostra que a variao deste trao est quase totalmente sob o controle do efeito gentico, deixando muito pouco espao para a influncia ambiental (POSTHUMA et al., 2001). Estes resultados precisam ser bem entendidos e comportam vrias hipteses, embora sugiram um prevalecimento do efeito gentico com o passar da idade. O prprio Bouchard parece levar em conta um conjunto mais geral de indicadores ao apontar, no final do artigo,
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que a concluso no negar a influncia do ambiente nem negar a existncia de ambientes inadequados e debilitadores, e tampouco minimizar os efeitos da aprendizagem, mas supor o ser humano como um organismo criativo dinmico, para o qual a oportunidade de aprender e a experincia em novos ambientes amplificam os efeitos do gentipo no fentipo. Independentemente das consideraes sobre a complexidade do processo de desenvolvimento, deve estar claro que os estudos de gmeos tm produzido uma demonstrao inequvoca dos efeitos da herana (RIBEIRO et al., 2004). A lista de caractersticas psicolgicas nas quais os gmeos monozigticos so significativamente mais semelhantes entre si impressionante, a comear pelas caractersticas relacionadas ao temperamento, como choro, irritabilidade, medo, impulsividade, sorriso e sociabilidade (GOLDSMITH e CAMPOS, 1982; NEWCOMBE, 1996). Para se ter uma idia, mesmo em medidas de traos tidos como prototipicamente culturais como a religiosidade, a correlao entre gmeos idnticos da ordem de 58%, e entre fraternos, de 27%. Em outro estudo, comparando-se as chamadas atitudes de direita, atravs de pesquisa de opinies sobre a pena de morte, sobre os imigrantes e outras, os gmeos idnticos criados separados se correlacionaram em 62%, e os fraternos criados separados, em 21% (BOUCHARD et al., 1999). O mesmo tipo de resultado foi obtido na anlise de uma ampla amostra de gmeos feita na Austrlia (KIRK et al., 1999). Embora no seja de simples compreenso, o efeito dos genes no pode ser desprezado. No se acredita que a religiosidade ou a atitude poltica estejam diretamente representadas nos genes, mas sim que determinadas caractersticas de personalidade mediadas pelos genes estariam correlacionadas a estas atitudes. As pessoas diferem mais em personalidade se tiverem genes diferentes do que se tiverem sido criadas em famlias diferentes (RIDLEY, 2003). Para praticamente todas as medidas de personalidade consideradas, os gmeos monozigticos criados separados mostraram-se mais semelhantes que os dizigticos criados separados (BOUCHARD, 1999). A personalidade foi avaliada em cinco grandes dimenses: abertura, conscincia, extroverso, harmonia e neurose. Os resultados obtidos mostram que a variao devida a fatores genticos da ordem de 40%, a influncia de fatores ambientais partilhados (como a famlia), de 10%, as influncias ambientais nicas vividas pelo indivduo, 25%, finalmente a variao atribuda a erros de medida de 25%.
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Evidentemente a criana tem necessidade de uma famlia para se desenvolver.


Mas desde que tenha uma famlia para se desenvolver, no importa muito se a famlia pequena ou grande, rica ou pobre, gregria ou solitria, velha ou jovem. Uma famlia um pouco como vitamina C: voc precisa dela ou ir adoecer, mas desde que a tome, o consumo extra no vai tornlo mais saudvel (RIDLEY, 2003; p. 86).

Estudos sobre a herana de psicopatologias tambm podem ser elucidativos da importncia e da complexidade dos efeitos genticos (TORREY et al., 1994). A ttulo de ilustrao, vejamos alguns estudos sobre a incidncia de transtorno bipolar e de autismo. A concordncia entre gmeos para transtorno bipolar de 67% para monozigticos versus 16% para dizigticos. Para autismo, as indicaes so ainda mais fortes, pois a correlao da ordem de 96% para monozigticos, enquanto para os dizigticos de 23% (RITVO et al., 1985). Diante de dados deste tipo, deve-se imprimir determinado rumo s pesquisas das sndromes autsticas, levando-se em conta as pesquisas da gentica do comportamento. Uma hiptese que continua sendo investigada a contribuio de vrus para o desenvolvimento de psicopatologias. Sabe-se que os fatores genticos desempenham um papel em determinar se um vrus vai ou no infectar o crebro (ROOS, 1985). Muitos vrus diferentes podem atingir o crebro e permanecer latentes por vrios anos antes de causar infeco sintomtica. Para o vrus da plio, que foi cuidadosamente estudado no SNC, a taxa de concordncia da infeco em gmeos monozigticos de 36%, e em gmeos dizigticos 6%. Os dados para peso tambm so ilustrativos das questes que podem ser suscitadas na compreenso das relaes entre genes e ambiente (RIDLEY, 2003). Em primeiro lugar, h uma forte indicao da influncia do componente hereditrio: gmeos monozigticos criados juntos apresentam correlao da ordem de 80%, e os criados em separado, a correlao tambm considervel de 72%. O efeito da herana gentica fica ainda mais salientado na comparao com as correlaes entre gmeos dizigticos criados juntos, que cai para 43%,
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e entre pais e filhos adotivos, que de apenas 4%. Conforme Ridley comenta, embora estes ndices sejam notveis, isto no significa que as dietas devam ser jogadas fora nem que o ambiente no importe. O estudo no diz nada diretamente sobre a causa do peso. Apenas revela causas das diferenas de peso numa famlia particular. Dado o mesmo acesso a alimento, algumas pessoas vo ganhar mais peso do que outras. Deve-se notar tambm que o efeito do ambiente no linear quando so examinadas, por exemplo, pessoas de diversos nveis socioeconmicos. Num dos extremos, o ambiente pode ter efeito drstico, assim como, no outro, pode prevalecer o efeito gentico. Do mesmo modo, investigando amostra de 350 pares de gmeos, Turkheimer e colaboradores (2001) descobriram que a heritabilidade do QI depende do status socioeconmico. Nas crianas mais pobres, constatou-se efeito mais pronunciado do ambiente, ao contrrio do verificado no outro extremo da distribuio. As principais concluses dos estudos de gmeos so contra-intuitivas. Natureza e cultura no competem. Por causa da alimentao, as novas geraes esto cada vez mais altas, mas ningum acha que isso mostra que a estatura mais determinada por fatores ambientais do que por fatores hereditrios. Ao contrrio, porque mais pessoas esto agora alcanando seu potencial mximo de estatura, a heritabilidade da sua variao est provavelmente aumentando (RIDLEY, 2003). H complexidades adicionais nos entendimentos conceituais propiciados pelos estudos de gmeos. Em certos casos, ao contrrio do que seria de esperar por uma lgica simplista, quanto mais parecido for o ambiente de criao, mais vo aparecer a herana e a variabilidade gentica. Por exemplo, se meninos e meninas tm jeitos diferentes de aprender e interesses diversos, como tem sido evidenciado nos estudos de desenvolvimento (como em BJORKLUND e PELLEGRINI, 2000), uma escola que no levar em conta estas diferenas e oferecer a mesma estratgia pedaggica para ambos poder ser inadequada para um deles, e promover uma diferena maior no desempenho escolar de meninas e de meninos do que promoveria se respeitasse as diferenas. Conforme Ridley (2003) observa, importa menos saber se a natureza humana mais inata ou mais aprendida e sim entender o modo preciso pelo qual a natureza humana ambas as coisas. Entretanto, convm salientar que ambos os fatores envolvidos na dicotomia realmente importam.
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Os resultados das comparaes de gmeos apontam a inquestionvel magnitude dos efeitos genticos. preciso perceber que estes efeitos no devem ser escamoteados pela constatao de efeitos ambientais, dos quais ningum duvida, nem pela constatao da interao complexa entre os fatores, mesmo porque a ao do ambiente tambm controlada pela ao dos genes. Por outro lado, mesmo quando as variaes podem ser totalmente explicadas pela ao dos genes, isto no significa que o ambiente no importa. Propositadamente, ora relativizamos o efeito do ambiente, ora o dos genes. melhor manter viva a dicotomia do que, precipitada e inadequadamente, descartar qualquer um de seus opostos. Melhor ainda o aprimoramento das concepes sobre o efeito gentico e ambiental, com quebra genuna das concepes estanques. Os genes podem ser considerados como agentes da criao, assim como agentes da natureza. No sensato perder a idia da definio da origem, que pode dirigir de modo heurstico os questionamentos. Por que temer a dicotomia? Encontra-se, especialmente nas Cincias Humanas, resistncia em reconhecer a importncia dos determinantes inatos do comportamento humano. Uma razo importante ideolgica, fundada no receio de que a noo de determinismo biolgico seja usada em defesa do status quo. Edward Hagen, do Instituto de Biologia Terica, em Berlim, no stio www.anth.ucsb.edu, apresenta perguntas freqentes a respeito da Psicologia Evolucionria. Na base da rejeio de algumas pessoas, diz ele, est suposio de que o determinismo biolgico seja contrrio reforma social ou poltica.
Eu [o crtico] desejo mudana poltica. Mudana poltica requer mudar pessoas. Os psiclogos evolucionrios argumentam que as pessoas tm naturezas inatas e imutveis. Os psiclogos evolutivos opem-se, portanto, mudana social ou poltica, e esto meramente tentando justificar o status quo.

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No seu livro intitulado Blank slate: the modern denial of human nature, Steven Pinker (2002) argumenta que o conceito de tabula rasa est na base do Construcionismo Social (MALLON e STICH, 2000) ou Modelo Padro das Cincias Sociais (TOOBY e COSMIDES, 1992). Este conceito foi formulado pelo filsofo ingls John Locke (1632-1704); ele postulava que, no nascimento, a mente vazia de conhecimento e que as diferenas entre as pessoas so inteiramente devidas s diferentes experincias (LOCKE, 1690/1947). O empirismo apresentou-se como uma teoria epistemolgica e filosfica sobre o funcionamento da mente. Tendo-a como base, os psiclogos buscaram explicar todo o comportamento, a cognio e a emoo atravs de um mecanismo simples de aprendizagem. O empirismo tambm se apresentou como uma filosofia poltica, que fundamentou a democracia liberal, uma arma contra a igreja e as monarquias tirnicas. Locke opunha-se a justificativas dogmticas para a autoridade da igreja, para a realeza e a aristocracia hereditrias e para a escravido. Os escravos no eram inatamente inferiores, assim como os reis no tinham sabedoria ou mritos inatos. Suas mentes eram igualmente vazias de conhecimento de partida e teriam o mesmo potencial de desenvolvimento se tivessem as mesmas oportunidades. Tendo por base o empirismo, as Cincias Sociais buscaram explicar todos os costumes e arranjos sociais como produto da socializao diferencial das crianas. Os psiclogos interpretaram as diferenas entre os indivduos, entre as raas e entre os sexos, como invenes ou construes sociais. Isto fica claro no Behaviorismo proposto pelo psiclogo norte-americano John Watson (1878-1958). Esta escola psicolgica baniu da Psicologia talentos, habilidades, desejos e sentimentos. John Watson (1924/1998) tem uma declarao, que se tornou muito conhecida, na qual diz claramente que, se lhe dessem uma dzia de bebs saudveis e a possibilidade de especificar o ambiente de criao, ele seria capaz de transformar qualquer um deles tomado ao acaso no que quisesse: mdico, advogado, artista, comerciante e at mendigo e ladro, independentemente dos seus talentos, habilidades e da raa dos seus antepassados.

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Diferena no justifica desigualdade As diferenas entre os sexos so uma arena de discusso acirrada, e muitas feministas condenam pesquisas sobre as bases biolgicas das diferenas sexuais. Dois tipos de feminismo podem ser diferenciados: de eqidade e de gnero (JAGGAR, 1983; SOMMERS, 1994; PINKER, 2002). O feminismo de eqidade se ope a qualquer forma de discriminao contra a mulher, mas no se compromete com questes empricas na Psicologia ou na Biologia. O feminismo de gnero uma doutrina emprica sobre a natureza humana, segundo a qual as diferenas psicolgicas entre homens e mulheres so todas socialmente construdas. Bebs so bissexuais e so transformados, ao longo do processo de socializao, em personalidades distintas, uma destinada a mandar, e a outra, a obedecer. O poder o principal motivo social, e as interaes humanas so compreendidas como interaes de grupos e no de pessoas lidando umas com as outras como indivduos. O grupo das mulheres dominado pelo grupo dos homens. O conceito de tabula rasa parece primeira vista favorecer as mulheres. Se nada inato, as diferenas entre os sexos no so inatas. A desigualdade sexual pode ser mudada pela mudana das instituies. No entanto, homens e mulheres no so psicologicamente idnticos. As diferenas entre meninos e meninas aparecem cedo no desenvolvimento; sua fora e precocidade levam Matt Ridley (2003) a dizer que o papel dos pais no desenvolvimento da diferena de gnero dos seus filhos mais reativo do que causal. Um desenho em quadrinhos de Bill Griffith ilustrativo. Um personagem comenta com outro o fascnio de um garoto de dois anos diante de um caminho de lixo, enquanto sua irm gmea mal levanta os olhos de sua boneca. E explica que os homens so programados para certas funes. O menino de hoje reage do mesmo jeito que seu ancestral remoto. O caminho de lixo provavelmente era um mastodonte para o crebro das cavernas do menino. Jennifer Connellan e colaboradores (2000) encontraram diferenas entre recm-nascidos de um dia de vida quanto ao interesse por faces e objetos. As meninas olharam mais para faces do que para os objetos. Os meninos, por sua vez, interessaram-se mais por objetos. Svetlana Lutchmaya e colaboradores (2002) verificaram que, com um ano,
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os bebs de sexo feminino olhavam mais para o rosto das mes que os bebs de sexo masculino. As pesquisadoras dispunham de amostras de lquido amnitico extradas no primeiro trimestre de gravidez. Analisando estas amostras, encontraram uma correlao surpreendente. Quanto maior o nvel de testosterona durante o perodo fetal, menor o contato visual de meninos de um ano com suas mes. Esta diferena precoce de gnero pode transformar-se mais tarde numa preferncia diferencial por relaes sociais. Baron-Cohen (2002) desenvolveu uma hiptese segundo a qual o autismo seria uma verso extrema do crebro masculino. A masculinizao do crebro pode ter ido longe demais nos autistas. Crianas com Sndrome de Asperger, uma forma menos severa de autismo, tm dificuldade de ter empatia com o pensamento das pessoas, mas so fascinadas pelo funcionamento de objetos (BARON-COHEN, 1995). Esta sndrome atinge predominantemente os meninos (razo menino/ menina 4:1) (OZBAYRAK, 2004). Um volume crescente de pesquisas vm documentando diferenas sexuais que certamente se originam na biologia humana. Contrariam, portanto, a suposio das feministas de gnero de que todas as diferenas sexuais que no so anatmicas resultam de expectativas dos pais e da sociedade. Como diz Pinker (2002), as diferenas sexuais no so caractersticas arbitrrias da cultura ocidental. Em todas as culturas humanas, as mulheres so mais responsveis pelo cuidado das crianas, e os homens, por atividades que pertencem ao domnio pblico. Isto tambm ocorre nos kibutzim israelenses, apesar do comprometimento ideolgico dos seus membros com a eliminao das diferenas sexuais (VAN DEN BERGHE, 1974). Os homens tm uma maior tendncia a se expor a risco, a agir violentamente e, conseqentemente, tm uma chance maior de morrer jovens (RIDLEY, 2003). H diferenas anatmicas visveis em estruturas cerebrais entre os sexos (GEARY, 1998; KIMURA, 1999). No crebro masculino os ncleos intersticiais e o ncleo do stria terminalis no hipotlamo so maiores. Estas regies esto implicadas em comportamento sexual e agresso. As comissuras que ligam os hemisfrios cerebrais so maiores nas mulheres.
Do ponto de vista de um gene, estar no corpo de um homem e estar no corpo de uma mulher so estratgias igualmente boas [...] melhor para um babuno ter o tamanho de um macho e ter
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dentes caninos com seis polegadas ou ter o tamanho de uma fmea e no os possuir? A pergunta no tem sentido. Um bilogo diria que melhor ter adaptaes masculinas para lidar com problemas masculinos e adaptaes femininas para lidar com problemas femininos. Assim, os homens no so de Marte, nem as mulheres so de Vnus. Homens e mulheres so da frica, o bero da nossa evoluo, onde evoluram juntos como uma nica espcie (Pinker, 2002, p. 343-344).

Raa e racismo A Biologia poderia servir como justificativa para o racismo, receiam os crticos da Etologia e da Psicologia Evolutiva. Racismo um sistema de crenas ou ideologia, estruturado em torno de trs idias bsicas (MARGER, 1994): a) os seres humanos dividem-se naturalmente em diferentes tipos fsicos; b) estas caractersticas fsicas esto intrinsecamente relacionadas com sua cultura, personalidade e inteligncia; c) com base na sua herana gentica, alguns grupos so inatamente superiores a outros. Usando o prprio grupo como padro, os outros so julgados inferiores. O racismo manifestao de uma sndrome mais ampla: a xenofobia ou medo/dio em relao aos que so estrangeiros ou diferentes (CAVALLI-SFORZA e CAVALLI-SFORZA, 1993; QUEIROZ, 1996; QUEIROZ e SCHWARCZ, 1996). Pode ter uma motivao utilitria, quando um trabalhador teme que seu emprego seja ameaado pela chegada de imigrantes, ou assumir uma forma irracional (Cashmore, 1994). Em vrios pases europeus encontra-se hoje uma intensificao de aes xenofbicas, com uma motivao racista subjacente, que se manifesta contra a imigrao de pessoas de outros grupos raciais ou tnicos. Segundo Cavalli-Sforza e Cavalli-Sforza (1993), os seres humanos tm uma tendncia inata a considerar o grupo a que pertencem como uma entidade (NS) em oposio aos que no pertencem ao grupo (ELES). Ns pode ser a famlia, o time de futebol ou o grupo racial/tnico. Ns uma extenso do eu e ajuda a construir uma barreira protetora ao nosso redor.
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O conde de Gobineau (1816-1882), diplomata francs, desenvolveu uma teoria racista que inspirou o nazismo. De acordo com essa teoria, os alemes, descendentes de um povo mtico, os arianos, eram a raa suprema. Mesclas tnicas seriam responsveis pela decadncia das civilizaes. Hoje, sabemos que no existem raas puras. Qualquer sistema gentico apresenta um grau elevado de polimorfismo ou variao gentica; ou seja, um gene encontrado em diferentes formas. De maneira geral, as diferenas entre indivduos so mais importantes que as diferenas entre grupos raciais. Criadores de animais que, almejando um resultado mais puro, exagerem no cruzamento de animais com parentesco muito prximo correm o risco de perder a raa, por aumento de esterilidade e queda de vitalidade. Diferenas externas visveis de cor da pele entre as raas podem nos levar a supor que por baixo da superfcie existem diferenas de igual magnitude na nossa constituio gentica. Isto no verdade. As diferenas que existem so limitadas, e mais quantitativas que qualitativas em diferentes continentes e em regies distantes de um mesmo continente. A Tabela 1 mostra a freqncia de um gene (GC) que codifica uma protena que regula a distribuio de vitamina D no corpo. Este gene aparece em duas formas principais: GC1 e GC2. A similaridade notvel. Portanto, quem v cor da pele no v GC. Tabela 1 Distribuio (%) dos genes GC1 e GC2 em diferentes regies do mundo

Regio Europa frica ndia Extremo Oriente Amrica do Sul Austrlia

GC1 72 88 75 76 73 83

GC2 28 12 25 24 27 17

Fonte: Baseado em Cavalli-Sforza e Cavalli-Sforza, 1993. Revista de Cincias Humanas, Florianpolis: EDUFSC, n.34, p.283-311, outubro de 2003

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A despeito de diferenas de cor de pele, somos muito parecidos de forma geral no nosso patrimnio gentico. Cavalli-Sforza e CavalliSforza (1993) comentam, a partir deste prisma e inspirados em Macbeth, personagem criado por William Shakespeare, que a misria e a crueldade causadas pelas diferenas raciais entre os homens so uma histria contada por um idiota, cheia de som e fria, que nada significa. Concluso Conclumos citando Ernst Mayr ( 1963):
Igualdade apesar de evidente falta de identidade um conceito algo sofisticado que requer uma estatura moral que muitos indivduos parecem incapazes de atingir. Eles negam a variabilidade humana e equiparam igualdade com identidade. Ou afirmam que a espcie humana excepcional no mundo orgnico, na medida em que consideram que apenas caracteres morfolgicos so controlados por genes e todas as outras caractersticas da mente ou da personalidade so devidas a condicionamento ou outros fatores no genticos. Estes autores convenientemente ignoram os resultados de estudos com gmeos e das anlises genticas de traos no morfolgicos em animais. Uma ideologia baseada em premissas to evidentemente erradas s pode ser desastrosa. Sua defesa da igualdade humana baseia-se numa afirmao de identidade humana. Assim que se prove que a identidade no existe, o suporte para a igualdade se perde (p. 649).

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Bases biolgicas e influncias culturais relacionadas ao comportamento parental*

Alessandra Bonassoli Prado1 Mauro Lus Vieira2


Universidade Federal de Santa Catarina

Resumo Pai e me interagem de forma diferente com seus filhos e filhas. Com o objetivo de identificar fatores que modulam o comportamento parental e a repercusso deste na dinmica familiar, foi realizada uma reviso de pesquisas tericas e empricas sobre o assunto, com nfase na teoria da Evoluo. Constata-se que: a) existem diferenas de gnero em relao aos papis dos genitores no cuida__________________________________________________
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Abstract Mothers and fathers interact in different ways in relation to sons and daughters. With the aim of identifying which factors modulate parental behaviors and their repercussions in family dynamics, a review of theoretical and empirical studies on the subject was carried out, with emphasis on the Theory of Evolution. Critical reflections on published debates make it clear: a) that gender di-

Biological basis and culture factors underlying parental behavior Mestranda do Programa de Ps-Graduao em Psicologia, Universidade Federal de Santa Catarina. Professor do Departamento de Psicologia. Endereo para correspondncias: Departamento de Psicologia, CFH, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianpolis, SC, 88040-900 (E-mail: [email protected]).

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do dos filhos e que podem ser considerados complementares; b) o pai tem papel relevante no desenvolvimento infantil; c) existe relao entre sistemas de acasalamento e investimento parental (o cuidado dos descendentes em mamferos de modo geral est interligado com a possibilidade de vinculao afetiva e sexual com a fmea); e por fim; e) h necessidade de criar e definir termos que procurem refletir diferentes dimenses do comportamento parental. Conclui-se que o comportamento parental um sistema motivacional multideterminado e que a abordagem evolucionista pode trazer contribuies significativas para se ter uma compreenso mais holstica e heurstica sobre o assunto. Palavras-chave: Comportamento parental, sistema de acasalamento, Psicologia Evolucionista, investimento parental, responsividade parental. Introduo

fferences in the care of children exist and the role of parents can be considered complementary; b) that the father has an important role in child development; c) that there exists a relationship between mating systems and parental investment (mammalian care for descendants is generally linked to the possibility of emotional and sexual bonding with the female) and finally, e) that it is necessary to create and to define terms that reflect different dimensions of parental behavior. In conclusion, parental behavior is a multi-determined motivational system and an evolutionary perspective can bring significant contributions toward a more holistic and heuristic understanding of the subject. Keywords: Parental behavior, mating system, Evolutionary Psychology, parental investment, parental responsiveness.

discusso natureza versus cultura vem de longa data e clssica em diferentes disciplinas como Psicologia, Sociologia, Antropologia, Biologia, entre outras; esta discusso pode adquirir um tom ideolgico, poltico, filosfico, mas dificilmente conclusivo. Um dos motivos a dificuldade em atribuir a um elemento da personalidade uma causa que seja unicamente biolgica ou aprendida. A principal razo que mesmo o mais simples reflexo necessita de um contexto para se manifestar, que apresenta conseqncias positivas ou negativas que vo estabelecer diferentes relaes condicionadas para um organismo e,
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igualmente, qualquer habilidade socialmente aprendida possui uma base biolgica. Dessa forma, no se pretende esgotar o tema ou buscar todas as facetas desta contenda e sim apresentar os principais pontos e princpios relacionados aos cuidados parentais e ao desenvolvimento infantil congruentes com a perspectiva terica da Psicologia Evolucionista. A perspectiva evolucionista admite a complexidade do comportamento humano como resultado do desenvolvimento histrico que se iniciou na filognese e na ontognese, que para o ser humano se desenvolveu do mesmo modo na histria da cultura (LORENZ, 1973). A cultura se apresenta assim como usos e costumes que so transmitidos pelos ancestrais (ambiente social) ou pela educao institucional e que procura tambm sua melhor forma, ou seja, o incremento cultural resultado de uma tentativa de adaptao do ser humano s dificuldades do meio. Skinner (1998) nos auxilia neste sentido quando afirma que:
Assim como as caractersticas genticas que surgem como mutaes so selecionadas ou rejeitadas por suas conseqncias, tambm as novas formas de comportamento so selecionadas ou rejeitadas pelo reforo. [...] O grupo adota um dado procedimento um costume, um uso, um instrumento controlador seja planejadamente ou atravs de algum evento que, na medida em que se refira ao efeito sobre o grupo, pode ser inteiramente acidental. Como caractersticas do ambiente social essa prtica pode afetar o sucesso do grupo na competio com outros grupos ou com o ambiente no social (Skinner, 1998, p. 467-468).

Para este renomado pesquisador do comportamento animal e humano, a cultura composta de todas as variveis que afetam o indivduo e que so dispostas pelas outras pessoas. O ambiente social, em parte, o resultado dos procedimentos do grupo para solucionar dificuldades do ambiente inanimado e social que geram comportamento tico, e a extenso destes aos usos e costumes. O indivduo, ao entrar em contato com grupos ou instituies (escolas, governos e religies, por exemplo) que reproduzem estes procedimentos, passa a desempenh-los, uma vez que os padres comportamentais de uma dada comunidade so mais provveis de serem reforados, se deixarem passar
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sem reforo ou serem punidos. Dessa forma, o efeito de um ambiente social no comportamento pode ser inferido por meio da anlise do contexto em que o indivduo se encontra. A famlia, em geral, o primeiro ambiente social em que uma pessoa inserida, e muitas vezes atravs dela que a criana, inicialmente, entra em contato com diferentes grupos e instituies sociais. Durante o desenvolvimento fsico e psicolgico, para atingir a idade adulta, o ser humano, por ser dependente e imaturo em seu estgio inicial, necessita de cuidados e da presena de adultos que forneam as condies de sobrevivncia. Isto geralmente propiciado pela famlia, que pode apresentar diferentes disposies, sendo que cada membro daquela apresenta peculiaridades no modo de agir. Comparados com outros primatas, o ser humano leva uma quantidade desproporcional de tempo para atingir a maturidade reprodutiva. Passa mais tempo sendo dependente dos adultos do que qualquer outro animal e a nica espcie que continua a cuidar da alimentao de seus descendentes at mesmo aps o perodo de imaturidade, como por exemplo, durante a adolescncia (BJORKLUND, 1997). O benefcio associado com o alto custo de um longo perodo de imaturidade pode ser um artifcio necessrio para o efetivo domnio das complexidades da comunidade social humana. medida que a durao e a quantidade dos cuidados parentais aumentam, o comportamento pode ser cada vez mais desenvolvido por meio da aprendizagem. No perodo de infncia, em que a criana no possui grandes responsabilidades e tutelada por um adulto, ela tem a liberdade para explorar o ambiente, experimentar papis, adquirir habilidades e conhecimentos que a auxiliar quando no houver ningum para observ-la ou ajud-la. Este conhecimento e a experincia adquiridos podem representar o quo adaptada e hbil a criana ser para interagir em uma sociedade complexa (LINTON, 1976; BJORKLUND, 1997). Na sociedade ocidental do final do sculo XX e incio do sculo XXI ocorreram grandes modificaes na organizao familiar. Alm da famlia nuclear, constituda de me, pai e filhos, os membros desta passaram a assumir diferentes atribuies e responsabilidades que antes eram compreendidas como normativas do comportamento de um dos progenitores somente, como o cuidado com higiene e alimentao, atividade exercida essencialmente pela me. Em termos de legislao,
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a partir de 11 de janeiro de 2003 entrou em vigor no Brasil o novo Cdigo Civil, que procura adequar a legislao s transformaes sociais e polticas. A compreenso de famlia presente no novo Cdigo modificou-se significativamente, o objetivo destas alteraes foram no sentido de refletir a igualdade entre homens e mulheres, o que j vem ocorrendo no cotidiano. Por exemplo, no novo Cdigo a mulher no ter prioridade para ficar com a guarda dos filhos em caso de separao ou divrcio; a custdia dos filhos ser atribuda ao membro do casal que revelar melhores condies de exerc-la. Contudo, esta igualdade de direitos por vezes entendida como igualdade de papis. Fica subentendido que o pai deveria agir da mesma forma que a me e vice e versa no papel de cuidador. Exigem-se dos progenitores comportamentos e responsividade semelhantes em relao aos filhos. No entanto, a modificao de uma lei no altera a forma de interao entre as pessoas e a compreenso que elas possuem sobre a dinmica familiar. Segundo Klaus e colaboradores (2000), seria errneo pensar que pais e mes possuem papis iguais. Apesar das mudanas em nossa sociedade, as atribuies de pai e me so distintas. Os esforos dos progenitores teriam que ser no sentido de combinar responsabilidades em relao aos filhos buscando uma co-paternidade. Ou seja, as diferenas deveriam ser encaradas como complementares. O pai merece ateno especial para investigao cientfica, no como reflexo ou substituio da me, mas sim como relevante para o desenvolvimento da criana. Nessa perspectiva, o que se espera do estudo do comportamento parental uma anlise da complementaridade entre pai e me, pois sem esta precauo no ser obtida uma imagem adequada da dinmica familiar. Pai, me e desenvolvimento infantil O estudo sobre a importncia do pai no desenvolvimento da criana teve um impulso especial com a publicao do livro de Michael E. Lamb, em 1976, intitulado: Papel do pai no desenvolvimento infantil3.
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Traduo do ttulo do livro organizado por Michael E. Lamb The role of the father in child development publicado pela primeira vez nos Estados Unidos em 1976 e que foi reeditado mais duas vezes, sendo a ltima em 1997, na qual conta com novas pesquisas sobre a atuao do pai no desenvolvimento infantil e na dinmica familiar.

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Os autores que participaram da primeira edio do livro abordaram a relao pai-criana e a influncia paterna no desenvolvimento infantil. Quando o livro foi publicado, segundo Lamb (1997a), cientistas sociais em geral, e alguns psiclogos do desenvolvimento, em particular, duvidavam que o pai tivesse um papel significativo para as experincias e o desenvolvimento da criana, especialmente para as filhas. At ento o pai era considerado somente relevante como modelo do papel de gnero4 para o filho homem (LAMB, 1997a; ROHNER e VENEZIANO, 2001), o que poderia ser substitudo por modelos sociais apresentados na mdia ou na observao do outros homens adultos. O objetivo dos autores do livro era demonstrar que o pai: a) tem papel importante no desenvolvimento infantil; b) freqentemente relevante na vida das crianas; e c) afeta o curso do desenvolvimento de suas crianas tanto de forma positiva como negativa (Lamb, 1997a). A segunda edio do livro, publicada em 1981, possui como principal contribuio o reconhecimento da complexidade do comportamento do pai, ser este multideterminado, e de muitos dos modelos de influncia paterna serem indiretos alm da construo social da paternidade variar entre pocas histricas, contextos e subculturas. A terceira edio se diferencia das anteriores quando procura, alm de estudar a dade paicriana, investigar o lugar do pai no contexto do sistema familiar e nos subsistemas no qual este se relaciona, como sua atitude com a me e parentes, que so tambm de importncia crucial para o desenvolvimento infantil (LAMB, 1997a). O pai pode atuar em mltiplos papis significativos para sua criana, assim como para o sistema familiar por meio de funes como: companheiro, cuidador, provedor financeiro, cnjuge, modelo, guia moral e professor. Em todos estes papis o pai possui uma relativa importncia e impacto sobre o desenvolvimento infantil. Contudo, ao longo da histria o pai assumiu, a cada perodo ou poca, um papel proeminente (LAMB, 1997a). No incio, o pai era visto como o patriarca que exercia enorme poder sobre a famlia e vestgios desta noo tm sobrevivido at muito
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O ser humano, de modo geral, adquire um firme senso de si mesmo como sendo homem ou mulher; este desenvolvimento chamado de identidade de gnero. Na maioria das culturas existe um conceito sobre a diferena biolgica entre masculino e feminino, que expandido por uma srie de crenas e prticas de como devem se comportar homens e mulheres, que papis devem assumir, ou caractersticas de personalidade devem possuir apropriadamente. Estas caractersticas so adquiridas por identificao, segundo a Psicanlise, ou por recompensas e punies, segundo a teoria da aprendizagem social (ATKINSON et al., 1995).

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recentemente (PLECK e PLECK 1997). De acordo com esses autores, durante a fase colonial da histria da Amrica do Norte, o pai era percebido, principalmente, como guia moral (professor). No senso comum, o pai era responsvel por assegurar que suas crianas crescessem com um senso apropriado de valores, adquirissem o estudo da Bblia ou outros textos espirituais. Com a industrializao, entretanto, o primeiro foco de mudana, do original chefe da moral, foi para o de suporte econmico da famlia. Por conseguinte, talvez como resultado da Grande Depresso ou quebra da bolsa de valores nos Estados Unidos, que causou grande recesso econmica o qual mostrou que muitos homens poderiam ser provedores pobres , os cientistas sociais passaram a descrever o pai como modelo do papel sexual. Da em diante passou-se, tambm, a expressar interesse sobre a falha de muitos homens como modelo de comportamento masculino para seus filhos. Durante todo sculo XX os pais eram questionados a serem mais envolvidos com suas crianas. Assim, no segmento feminista que estudava sobre masculinidade e feminilidade emergiu, na dcada de 1970, uma nova atribuio para o pai, o de educador que teria um papel ativo na vida, tanto de filhas como de filhos (LAMB 1997a,b). Cada papel est associado com um ou mais modos distintos de influncia sobre a criana. Seguramente, o suporte financeiro visto como elemento-chave e como o principal papel atribudo ao pai em muitos segmentos sociais (BARNETT e BARUCH, 1998); mesmo onde os dois progenitores contribuem financeiramente para o sustento da famlia, ele percebido como o principal provedor, o que confirmado ao constatarmos a contnua disparidade entre o salrio de trabalhadores homens e mulheres. O suporte econmico da famlia constitui um indireto, porm importante meio no qual o pai contribui para a criao e sade emocional de suas crianas (LAMB 1997a). Uma segunda, mas importante, fonte indireta de interferncia o papel do pai como suporte emocional para outras pessoas, principalmente a me, que se mantm envolvida no cuidado direto com a criana (PARKE et al., 1979 apud LAMB, 1997a,b). Quando o pai funciona como fonte de suporte emocional, ele tende a aumentar a qualidade de relao me-criana e, dessa forma, facilitar o ajustamento social positivo em oposio, quando o pai no atua como suporte, e h alto grau de conflito conjugal, as crianas podem sofrer de desajuste social (CUMMINGS e OREILLY, 1997).
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A disponibilidade fsica do pai pode, segundo Veneziano (2003), servir para a proximidade e a qualidade da relao pai-criana. Contudo, o comportamento caloroso que vai influenciar de forma diferenciada o desenvolvimento infantil. O autor investigou diferentes culturas ocidentais, e, ainda que a socializao para agresso estivesse significativamente relacionada como baixo nvel de afeto e calor paterno, houve uma correlao negativa quando havia interao afetuosa e calorosa do pai com a criana, e a expresso de comportamentos agressivos e delinqentes. O envolvimento paterno ou a participao do pai no desenvolvimento infantil no somente definido em termos de contato fsico direto, mas conceituado em termos de: (1) interao, ou seja, o tempo que o pai gasta com suas crianas; (2) acessibilidade, que o tempo gasto em atividades que possuam implicaes para a criana, como trabalho domstico; (3) responsabilidade, ou seja, o quanto o pai se envolve e assume o encargo de atividades que fazem parte da rotina da criana, como levar ou buscar na escola (LAMB, 1997b; PLECK, 1997; LEWIS e DESSEN, 1999). O desenvolvimento do conceito de envolvimento paterno esteve relacionado com sua operacionalizao, elaborao e divulgao metodolgica e conceitual, o qual refletiu as mudanas sociais e metodolgicas que ocorreram durante sua elaborao. As mudanas sociais se referem s presses sobre a paternidade que emergiram nos anos de 1980 e contextualizaram pesquisas que tinham como propsito verificar se crianas estavam obtendo suficiente paternagem5 e se pais estavam reduzindo suficientemente a sobrecarga do cuidado das crianas sobre as mes trabalhadoras. As mudanas metodolgicas eram fornecidas pela disponibilidade de um novo tipo de dado: provenientes de dirios no qual a coleta de informaes se restringe passagem do tempo ou a uma amostra de extenso de um tempo provvel. Esta metodologia caiu em desuso e outros pesquisadores comearam a coletar informaes do uso do tempo simplesmente solicitando aos respondentes para estimarem o seu tempo em cuidado das crianas e outras atividades (PLECK, 1997).
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O conceito de paternagem pode ser definido como um conjunto de respostas dos pais diante da solicitao da criana; so respostas carregadas de afeio, como conduzir a criana escola ou conduzi-la para a cama na hora de dormir.

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Os estudos sobre a estimativa de engajamento e disponibilidade variam amplamente porque cada um destes componentes pode ser operacionalizado de forma minuciosa ou ampla, mensurar a relao existente entre o envolvimento do paterno e o envolvimento materno ou o envolvimento paterno em termos absolutos e, ainda, distinguir as horas nas quais o pai est disponvel ou engajado em dias de semana e de final de semana (PLECK, 1997). Segundo este autor, os estudos apontam que os pais so mais engajados e disponveis com crianas pequenas do que com adolescentes, sendo as horas de final de semana privilegiadas para a interao pai-criana. A responsabilidade compreendida como disposio para cuidar da criana ao compartilhar as tarefas como: cuidados centrados na criana e tarefas pr-escolares, atividades de cuidado da casa, etc. Os estudos sobre responsabilidade indicam que o pai tem baixos nveis de responsabilidade comparados com a me, e quando esta exerce atividade remunerada, o pai apresenta maior disposio para o cuidado, sendo mais provavelmente eleito para assumir a responsabilidade pelas crianas quando comparado com os avs (PLECK, 1997). O estudo do envolvimento paterno tem demonstrado que diferentes comportamentos expressos pelo progenitor masculino tm benefcios diferenciados para o desenvolvimento infantil e para o sistema familiar como um todo. O engajamento paterno positivo tem benefcios para a criana e o pai, enquanto a disponibilidade e a responsabilidade oferecem benefcios para a me, principalmente aquelas que exercem atividade remunerada fora do domiclio (LAMB, 1997b; PLECK, 1997). Assim sendo, ao propor investigar como pais e mes avaliam o comportamento de fato expresso de paternagem e aquele que desejado que ocorra, estaremos investigando tambm em quais aspectos os progenitores sentem maior satisfao ao engajar-se no cuidado e na participao no desenvolvimento da criana, no caso do pai, e maior suporte, no caso da me. Em funo dessa relao dinmica entre a me e o pai, e a influncia de um sobre o outro, pode-se supor que, em termos evolucionrios, surgiram alguns mecanismos para fazer com que ambos os genitores participassem do cuidado das crianas, uma vez que existem diferentes interesses entre estes genitores ou cuidadores. Para a mulher, o dispndio para gerar novos descendentes bem maior do que o homem,
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em funo da gestao interna e da amamentao. Alm disso, o perodo frtil da mulher est centrado na juventude, enquanto no homem no existe um perodo to demarcado. O prximo item procura explicar as conseqncias dessa situao para os cuidados parentais. Estratgias reprodutivas e investimento parental Charles Darwin (1809-1882) props, por meio de seu livro A origem das espcies, publicado pela primeira vez em 1871, a teoria da descendncia com modificao atravs da seleo natural, ou seja, que os organismos vivos apresentam variaes. Essa variabilidade transmissvel por herana gentica e selecionada pelas presses ambientais, o que resulta na sobrevivncia dos organismos mais bem preparados para interagir com o lugar onde vivem. Segundo o criador da teoria da evoluo: A luta pela existncia, [...] resultado determina a preservao de cada desvio de estrutura ou de instinto que seja til para seu possuidor (DARWIN, 1871/1985; p.347). Essa situao tem como conseqncia a busca constante por transmitir a carga gentica para o maior nmero de descendentes possveis e a luta pela sobrevivncia da espcie. Uma das formas de sobrevivncia e de garantia de perpetuao da espcie gerar descendentes. As estratgias que o organismo utiliza para esta tarefa so descritas tambm por Darwin quando este estabelece a dinmica da reproduo sexual entre as espcies. A seleo sexual, ao contrrio da seleo natural, em que os indivduos lutam pela sobrevivncia em si, vai depender das vantagens que certos indivduos tm sobre outros indivduos da mesma espcie e sexo em restringir as relaes para a reproduo. Assim, a seleo sexual restrita s caractersticas que esto diretamente ligadas e influenciadas pela escolha por acasalamentos competio entre coespecficos, sendo as mais discutidas a competio macho-macho e a escolha da fmea por parceiros para acasalar (GEARY, 2000). Contudo, gerar descendentes no sinnimo de sucesso reprodutivo, pois, para garantir que um certo nmero de descendentes sobreviva para a prxima gerao, necessrio algum dispndio de energia, ou investimento de tempo, dedicao, recursos materiais, fsicos e psicolgicos dos progenitores no cuidado e desenvolvimento da prole.
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O nvel de desenvolvimento da prole ao nascer e o quanto esta exigir de energia durante o estgio inicial de seus progenitores so uma relao complexa que foi analisada e discutida por Trivers (1972) em sua teoria do investimento parental. O autor fundamentou suas idias na teoria da seleo sexual de Charles Darwin. A principal idia presente na teoria que machos e fmeas se comportam de maneira distinta quanto ao investimento na prognie ou na procura por parceiros, com o objetivo de promover seu sucesso reprodutivo individual, dependendo de caractersticas fsicas da dinmica sexual reprodutiva de casa espcie como: tempo para incio e trmino de um ciclo reprodutivo, nmero e tamanho das clulas reprodutivas, postura dos ovos, tempo de gestao ou incubao, nmero de embries por gestao, etc. Deste modo, existiria um equilbrio entre investimento parental e estado inicial de desenvolvimento, assim como entre o esforo no acasalamento, que compreende todo dispndio de tempo na procura de oportunidades reprodutivas e, esforo no cuidado da prole, ou seja, toda forma de cuidado direcionada para a descendncia, o qual exige um custo energtico aos progenitores (TRIVERS, 1972; BJORKLUND, 1997; MARLOWE, 2000; HRDY, 2001). O investimento parental subtrai energia disponvel de outro foco, inclusive uma gestao futura, sendo que tal dispndio de energia no desenvolvimento dos filhotes subtrai do esforo no acasalamento. Assim sendo, o quanto investido no acasalamento versus cuidado parental ir variar entre espcies e entre fmeas e machos dentro de cada espcie, dependendo das caractersticas de desenvolvimento dos filhotes, das condies ecolgicas presentes no ambiente. (TRIVERS, 1972; BJORKLUND, 1997; MARLOWE, 2000; HRDY, 2001). Quando um animal apresenta maior investimento de energia no cuidado da sua prole, possui uma estratgia reprodutiva chamada de esforo no cuidado da prole ou investimento parental. Por outro lado, se os gastos energticos forem alocados somente na procura por um parceiro, este chamado esforo no acasalamento. O comportamento parental inicia-se no momento da fertilizao, sendo seqncia do comportamento reprodutivo, que inclui estabelecer e definir territrio, o cortejamento e a cpula, e continua na gestao, segue com o nascimento, modifica-se ao longo do desenvolvimento e inclui vrios comportamentos como: produo de gametas (com reservas nutritivas),
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transferncia de nutrientes aos embries, preparao de locais apropriados para postura, defesa contra predadores, regulao trmica, alimentao (antes e aps o nascimento), e cuidados durante a infncia e a adolescncia, como a defesa contra membros da mesma espcie e garantir aos filhotes acesso a fontes de alimentos (BROWN, 1998; TOKUMARU, 1998). Dessa forma, o cuidado parental pode ser realizado por qualquer um ou ambos os pais, e vai variar de acordo com o sistema de acasalamento de cada espcie. A estratgia reprodutiva de um indivduo e como este procura sobreviver s presses ambientais evolvem diferentes elementos que devem estar em equilbrio. Para compreender este ponto de equilbrio se deve, segundo os tericos evolucionistas, buscar os fundamentados na teoria da evoluo (DARWIN, 1871/1985). Estes consistem em: a) ganhar acesso e controle de recursos que sustentam a vida, ou seja, garantir a integridade fsica6 por meio do esforo somtico, que compreende todo investimento de um organismo para seu crescimento, desenvolvimento e manuteno e, deste modo, acumular potencial reprodutivo; b) a procura e a disputa por parceiros reprodutivos aptos a procriar em um esforo no acasalamento7; e ainda c) o esforo parental necessrio para a prognie atingir a maturidade suficiente para sobreviver sozinha, o que est relacionado com o tamanho da prole, j que uma prognie grande aumentaria o sucesso reprodutivo, desde que no esteja acima das condies fsicas do progenitor ou dos recursos oferecidos pelo ambiente; uma prole pequena e de boa qualidade seria mais adequada quando as condies do progenitor e os recursos do ambiente fossem limitadas (VOLAND, 1998; GEARY e FLINN, 2001; HRDY, 2001). Todos estes aspectos recaem sobre a boa forma (fitness) e o sucesso reprodutivo de um indivduo, que por vezes deve realizar trocas, ou seja, avaliar o custo e o benefcio de investir maior energia em um aspecto do que em outro para manter o equilbrio e sobreviver s presses ambientais (falta de recursos, processo degenerativo do organismo, variaes climticas, variaes sociais, etc.).
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Princpio da seleo natural sobrevivncia do melhor adaptado s presses ambientais atuais. Princpio da seleo sexual consiste em o quanto certos indivduos obtm vantagens sobre outros da mesma espcie e sexo, seja atravs de dominncia, seja da competio, cujo objetivo restringir as relaes para a reproduo.

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O principal benefcio de muitas formas de cuidado parental para o progenitor que cuida consiste na criao, no crescimento e na sobrevivncia da prole. Entre os mamferos existe uma grande variedade de padres de comportamento parental, que podem ser classificados em funo do grau de desenvolvimento dos filhotes ao nascer (ROSENBLATT, 1992). Em algumas espcies de mamferos o perodo de gestao curto, e o filhote nasce bastante prematuro, com o sistema termo-regulador e sensorial pouco desenvolvido, sendo incapaz de se alimentar sozinho. Essas espcies so chamadas de altriciais e incluem roedores, primatas e marsupiais. Nestes casos, os cuidados parentais so de vital importncia para a sobrevivncia dos filhotes. Por outro lado, h espcies em que o perodo de gestao longo e os filhotes nascem com viso, audio, sistema termo-regulador e motor bem desenvolvidos (por exemplo, eqinos e bovinos), sendo chamados de precociais. Nestes, os cuidados parentais so importantes, embora com menor dispndio de energia do que em relao ao grupo anterior. O nvel de desenvolvimento do filhote ao nascer (altricial ou precocial) pode tambm estar correlacionado com diferentes sistemas de acasalamento (ZEVELOFF e BOYCE, 1980). Para estes autores, a monogamia, em mamferos, estaria correlacionada como o modelo altricial por apresentar maiores oportunidades de o macho investir em indivduos aparentados geneticamente. Neste sistema de acasalamento o macho poderia contribuir para a sobrevivncia da prole por desenvolver sua habilidade nesta tarefa. Por outro lado, a poliginia estaria correlacionada ao modelo precoce e alto investimento maternal. Os autores argumentam que, no caso do ser humano, embora o sistema matrimonial no seja claramente definido, decorrente da grande variedade de costumes, do dimorfismo sexual e da grande variedade do sucesso reprodutivo do macho, eles o classificam como monogmico e altricial. Isso pode ser devido tentativa de equiparar investimento parental do homem e da mulher, assim como o esforo para garantir a paternidade. O investimento parental tem sido considerado responsvel pela evoluo do casamento monogmico (MARLOWE, 2000). Contudo, preservar o acasalamento pode ser uma varivel importante para a expresso do investimento paterno, o que resulta, por sua vez, em um sistema monogmico socialmente imposto. Para espcies de mamferos,
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a gestao interna e o perodo de amamentao resultam em uma menor taxa reprodutiva para fmeas comparadas com os machos. As fmeas nem sempre esto sexualmente disponveis ou aptas para uma gestao. Logo, os machos podem se beneficiar, reprodutivamente, procurando e obtendo acasalamentos adicionais. O esforo no acasalamento envolve competio fsica para o estabelecimento da dominncia social e, atravs desta, o acesso a mltiplos parceiros. Deste modo, o macho mais dominante aumenta seu sucesso reprodutivo comparado com um subordinado. O tamanho fsico um indicador de competio macho-macho e de um sistema de acasalamentos polignico, no qual um macho monopoliza o maior nmero de fmeas possveis. O reduzido ou moderado dimorfismo sexual sugere mudanas na natureza da competio macho-macho (por exemplo: competio entre coligaes relacionadas atravs de laos de parentesco), decrscimo em acasalamentos polignicos e correspondente aumento no investimento paterno (GEARY, 2000; MARLOWE, 2000; GEARY e FLINN, 2001). O panorama evolucionista apresentado sobre estratgias reprodutivas e investimento parental indica que existe algum grau de determinao biolgica nesses sistemas motivacionais para que pudessem ser selecionados. Alm da influncia gentica, mecanismos neuroendcrinos tambm esto presentes no comportamento parental, sem, no entanto, deconsiderar o ambiente onde o animal ou o ser humano est inserido. Regulao neuroendcrina e ambiental do cuidado parental Os mecanismos envolvidos no comportamento paterno, segundo Brown (1993), podem envolver mudanas neuroendcrinas ativadas por estmulos vindos da fmea e dos filhotes. Segundo o autor citado anteriormente, estudos com roedores sugerem que a cpula pode induzir mudanas hormonais que alteram respostas do macho aos filhotes, mesmo na ausncia da fmea. Se o macho coabita com a fmea que acasalou durante a gestao, os odores e o comportamento agressivos advindos dela podem produzir mudanas neuroendcrinas que inibem a agresso do macho aos filhotes e facilitam o comportamento paterno. No parto, a ativao do cuidado paterno pode ser estimulada pela copulao com fmeas durante o estro ps-parto e continuada exposio a estmulos olfativos da fmea e dos filhotes.
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Gray e colaboradores (2002) estudaram correlatos hormonais do ajuste entre esforo no acasalamento e no cuidado parental em homens. Os autores examinaram o nvel de testosterona na saliva e investigaram, por meio de questionrio, aspectos sobre moradia, relaes conjugais e organizao do cuidado parental, de 58 homens divididos em trs grupos: solteiros, casados sem filhos e casados com filhos. No foram encontradas diferenas significativas entre os trs grupos estudados. Entretanto, verificou-se que homens que despendiam mais tempo investindo nas esposas, ao final do dia de trabalho, tinham baixos nveis de testosterona. Assim, os autores sugerem que o baixo nvel de testosterona pode facilitar o cuidado paternal humano e diminuir a probabilidade que homens se engajem em comportamentos de acasalamento competitivo. Storey e colaboradores (2000) procuraram verificar se a proximidade fsica de casais grvidos poderia preparar o homem para a paternidade, j que sintomas de gravidez em homens (couvade) so comuns em culturas que apresentam cuidado parental e alto nvel de intimidade entre casais. Os autores mediram, em pais recentes e candidatos a pai que viviam com suas parceiras, a concentrao hormonal e as respostas a figuras de bebs e pistas auditivas, visuais e olfativas de bebs recm-nascidos (teste de estimulao de reatividade). Foi notado que homens e mulheres tinham diferenas similares em nveis hormonais, incluindo aumento da concentrao de prolactina e diminuio na concentrao de esterides sexuais (testosterona e estradiol). Do mesmo modo, os homens que apresentavam mais sintomas grvidos (couvade) e os homens que eram mais afetados pelo teste de reatividade a bebs tinham alto nvel de prolactina e redues maiores de testosterona. A influncia exercida pela proximidade com uma mulher foi estudada por Anderson e colaboradores (1999), que investigaram se existe correlao entre a situao conjugal atual de homens e a quantidade de investimento paterno. Os autores sugerem que fornecer cuidado para a criana pode ser considerado uma forma de esforo no acasalamento, se aumentar a probabilidade que o homem tem de permanecer com a me das crianas ou aumentar a qualidade de seu relacionamento. No estudo foi mensurado o investimento em educao formal, mesadas e horas semanais em contato com a criana. Os testes realizados foram, segundo os autores, consistentes com o papel do esforo na relao atual para o cuidado paterno. Os homens investiram mais em crianas de seu casamento atual.
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Hrdy (2001) apresenta uma srie de estudos culturais e comparativos para demonstrar que o comportamento parental no automaticamente desencadeado. Assim sendo, o contexto histrico e ecolgico tem uma importante implicao sobre o modo como as mes avaliam quais as perspectivas de seus bebs e as alternativas que ela deve escolher.
O abandono est, antes, num dos extremos de um contnuo que se estende entre o fim do investimento e o compromisso total de uma me que carrega seu beb para todo o lado e o amamenta toda vez que ele pede. O abandono , por assim dizer, o modo de uma me terminar o seu investimento por omisso ou desero (HRDY, 2001, p.317).

Apesar dos aspectos biolgicos do cuidado parental, assinalado durante o sculo XIX e comeo do sculo XX como um instinto natural de dedicao dos pais ser apresentado, em alguns momentos, como um discurso coercivo para cuidar dos seus bebs, a autora anteriormente citada argumenta que entender as bases biolgicas da ativao do comportamento parental essencial para compreender a expresso ou a desero deste. Por outro lado, embora existam diferentes orientaes terico-metodolgicas para explicar o comportamento parental, uma das necessidades bsicas na rea de estudo a definio de termos. Responsividade parental e outros termos O conceito de responsividade tem sido destaque na Psicologia principalmente, para o estudo do desenvolvimento infantil, e , em geral, associado ao estilo de cuidado materno. O termo responsividade no consenso entre os autores. Ribas e colaboradores (2003), com o propsito de apresentar um panorama de como este conceito apresentado, realizaram um levantamento bibliogrfico com base em dados nacionais e internacionais. Os autores verificaram que este tema vem sendo investigado principalmente nos campos da Psicologia do Desenvolvimento e da Psicobiologia, e 38% dos estudos foram conduzidos com animais e procuraram avaliar aspectos biolgicos (nveis hormonais, leses celebrais e efeito de drogas, etc.) e da experincia anterior (efeitos do contato e da separao me-filhote e gestaes anteriores);
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os outros 62% foram realizados com seres humanos e vinculados ao estudo de diferentes aspectos que podem intervir na responsividade materna, entre eles, apego e cultura. A teoria de apego tem sido freqentemente associada ao estudo sobre responsividade (RIBAS et al., 2003). BOWLBY (1990) postulou que os primatas, mais especificamente os bebs humanos, possuem uma necessidade inata de apegar-se a uma figura primria nos trs primeiros anos de vida, da qual o beb se esfora para permanecer perto o tempo todo. O apego seguro, necessrio para um adequado desenvolvimento, ir depender da responsividade (ou sensibilidade) contingente dos pais em relao ao beb, que compreendida como a capacidade de o adulto cuidar e mostrar-se sensvel aos sinais e gestos do beb. Hrdy (2001) questiona a natureza inata da formao do apego e a incondicional disponibilidade da me em fornecer os cuidados primrios, apresentando aspectos da teoria evolucionista referentes s leis de Hamilton, e o potencial conflito entre os interesses entre investimento paterno e o investimento reprodutivo proposto por Trivers, como foi apresentado anteriormente. A discusso sobre responsividade inclui, dessa forma, alguns aspectos como a ao das crianas, a ao dos pais e o reflexo desta sobre a criana. O que envolve, segundo Ribas e colaboradores (2003), duas principais dimenses, uma temporal e outra qualitativa. Na primeira considerada a contingncia de resposta, ou seja, o quanto as aes do beb vo ser contingentes da resposta de cuidado apresentada pelos pais. No caso da dimenso qualitativa esto includas caractersticas como calor afetivo, proximidade e intimidade, as quais em geral remetem ao afeto. Os autores ressaltam que estas duas dimenses podem ser retratadas tanto como dependentes quanto independentes. A independncia entre os diferentes comportamentos parentais, o que define responsividade, pode, segundo Keller e colaboradores (1999, apud RIBAS et al., 2003), favorecer uma melhor compreenso das variaes transculturais e individuais do comportamento parental. Os pesquisadores de abordagem evolucionista apresentam especial ateno ao estudar a estrutura de um comportamento para a forma como este apresentado e a sua funo. Assim, os cuidados parentais podem estar diretamente relacionados com a ao da criana (por exemplo, em resposta ao choro), ou ainda, no estar diretamente relacionados ao comportamento da criana, mas promover o seu bem-estar (por exemplo,
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atentar para o ambiente fsico em que ela se encontra colocando um anteparo para proteg-la do Sol). Alm disso, diferir de uma outra classe de comportamentos que caracterizam como interao social, que pode ser ldica, carinhosa, instrutiva, entre outras. Entretanto, necessrio esclarecer a diferena entre cuidado parental e investimento parental. O primeiro se refere s aes especificamente a [...] qualquer comportamento que aumente a aptido dos filhotes (CLUTTON-BROCK, 1991), sendo aptido entendida por aumento da sobrevida dos filhotes. Ao passo que o investimento parental considerado todo dispndio de energia na reproduo, considerando no apenas o comportamento, mas todos os custos para o organismo (TOKUMARU, 1998). A sensibilidade e a responsividade para os sinais da criana se apresentam de forma distinta entre homens e mulheres. Esta diferena, segundo Lamb (1997), no se explica exclusivamente com base nas diferenas biolgicas, mas emerge das presses e expectativas sociais. Principalmente aquelas advindas da me, uma vez que os pais so considerados mais envolvidos na interao com seus bebs quando eles so altamente engajados na interao com seus pares. O envolvimento do pai com o cuidado da criana depende de como o conflito de interesses, ou as expectativas entre pais e mes so coincidentes ou no. O estudo de como pais e mes avaliam o cuidado paterno pode auxiliar na compreenso do que homens e mulheres atribuem ser caracterstico do papel do pai e de onde se apresentam mais evidentes as divergncias deste. Consideraes finais Atravs do que foi apresentado ao longo desse texto, procurouse apresentar evidncias cientficas sobre a multideterminao dos cuidados parentais, de modo geral e, do comportamento paterno, de modo especfico. Tanto as influncias histricas e sociais como as bases biolgicas (estas devem ser entendidas como predisposies ou manifestaes fsicas de um comportamento) so importantes para modular o comportamento do pai em relao aos seus filhos, em curto e em longo prazo. importante salientar que no estamos propondo criar um modelo de pai com base nas evidncias apresentadas e discutidas.
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Na perspectiva evolucionista pode-se argumentar que natural o distanciamento do pai e da criana, pelo fato de que nem sempre possvel determinar com exatido quem pai. Tambm em termos histricos poder-se-ia argumentar que o papel mais preponderante do pai o de provedor da famlia e que a vinculao afetiva teria papel secundrio. No entanto, por meio dos estudos mencionados aqui, constata-se que o pai pode ter papel decisivo no desenvolvimento infantil e que existe relao entre o comportamento materno e o paterno. Um modelo para explicar como ocorre essa dinmica entre me, pai e filhotes em roedores apresentado por Vieira (2003). A modulao do comportamento materno est mais vinculada com as pistas somatossensoriais advindas dos filhotes. O comportamento do pai em relao aos filhotes sofre interferncia da me, o que comprova a ligao entre cuidados parentais e vinculao sexual com a fmea. No caso do ser humano, essa relao foi apresentada no item sobre sistemas de acasalamento e investimento parental. Esse raciocnio tem como pressuposto bsico a teoria da evoluo, que explica a sobrevivncia diferencial dos indivduos e, conseqentemente, da espcie. Contudo, fatores psicolgicos e socioculturais tambm devem ser considerados para explicar diferenas individuais no cuidado em relao aos filhos. Portanto, o mrito da abordagem evolucionista apresentar uma proposta original e diferente em comparao com a tradio em Psicologia (que est centrada no indivduo localizado num momento histrico, social e cultural). Ao considerar a espcie, no est se negando o indivduo. Pelo contrrio. A espcie tem sua expresso concreta no indivduo. A integrao entre as predisposies filogenticas e as experincias individuais o caminho que deve ser percorrido para que tenhamos uma compreenso mais ampla sobre por que e como o comportamento parental se manifesta. Referncias bibliogrficas ANDERSON, K.; KAPLAN, H. e LANCASTER, J. Parental care by genetic fathers and stepfather I: reports from Albuquerque men. Evolution and Human Behavior, v. 20, p. 405-431, 1999. ATKINSON, R. L.; ATKINSON, R. C.; SMITH, E.E. e BEM, D. J. Introduo Psicologia. 11. ed. Porto Alegre: Artes Mdicas, 1995. 727p.
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Sistema monogmico de acasalamento e estratgias reprodutivas dos pequenos primatas neotropicais*

Cristina Valria Santos1


Universidade do Sul de Santa Catarina

Resumo O sistema monogmico de acasalamento raro entre os mamferos. Entretanto, os calitriqudeos tm sido considerados mongamos devido exibio de um conjunto de comportamentos que caracterizam este sistema social. Vrios estudos descritos neste artigo mostram que os comportamentos exibidos pelo casal modificam-se diante de trs situaes: tempo de pareamento, perodo periovulatrio da fmea e nascimento dos filhotes. Essas alteraes comportamentais tm sido interpretadas como formas alternativas de asse__________________________________________________

Abstract Monogamy is not common in mammals, but some callithrichd species are regarded as monogamous due to behavioral displays of animals. In fact, many findings reveal that the behavior of male and female changes in accordance to the pair-bond time, ovulation and parturition. The increased frequency of affiliative and sexual behavioral displays by recently paired animals and between male and female during the periovulatory phase are essential for the formation of

* Monogamous mating system and reproductive strategies of small Neotropical primates 1 Endereo para correspondncias: Rod. Haroldo Soares Glavan, 3522, casa 20, Cacup, 88050-005, Florianpolis, SC (E-mail: [email protected]). Revista de Cincias Humanas, Florianpolis: EDUFSC, n.34, p.335-363, outubro de 2003

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gurar o sucesso reprodutivo do casal. A alta freqncia na exibio de comportamentos afiliativos e sexuais em casais recm-formados e durante a fase periovulatria essencial para a formao da ligao do par e garantir a fecundao da fmea. As relaes sociossexuais modificam-se tambm no final da gestao e imediatamente aps o nascimento dos filhotes. O estreitamento das relaes afiliativas durante estas fases pode assegurar a permanncia e a assistncia do macho no cuidado parental, enquanto os machos aumentariam suas chances de uma nova reproduo com sua parceira reprodutiva. Como vrios estudos tm sugerido que diferentes situaes reprodutivas podem influenciar na expresso do comportamento do casal. proposto que tais variveis devam ser consideradas e controladas, principalmente naquelas pesquisas realizadas com primatas criados em cativeiro. Palavras-chave: Monogamia, comportamento reprodutivo, cuidado cooperativo, calitriqudeos. Introduo

monogamous pairs and fecundation. Sociosexual relations change at the end of gestation and immediately after parturition. The consolidation of the pair-bond relations makes males more susceptible to exhibit parental care; monogamous pair bond also favors males, since their reproductive performances may be increased due to new copulatory opportunities. On the whole, may studies have been demonstrated that the behavior of male and female may be affected by many types of variables; it has bee argued that such factors should be taken in consideration in the studies of the behavior or primates in captivity.

Keywords: Monogamy, reproductive behavior, cooperative infant care, callitrichids.

sistema monogmico de acasalamento ou o acasalamento entre um macho e uma fmea durante uma ou vrias estaes reprodutivas extremamente raro entre os mamferos. A observao de casais mongamos foi registrada em apenas algumas espcies de roedores, candeos e primatas (SNOWDON, 1990; CARTER et al., 1993; ASA, 1997).

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Nas espcies de mamferos nas quais a monogamia ocorre, determinadas caractersticas comportamentais so normalmente observadas (KLEIMAN, 1977a). Podem ser citadas: a) constante proximidade espacial do par, independente da condio reprodutiva da fmea; b) preferncia por determinado (a) parceiro (a) durante a estao de acasalamento; c) ausncia de adultos no parentes no territrio defendido pelo casal; d) exibio de agresso do par direcionado a adultos que tentam imigrar para o grupo; d) reproduo de apenas um casal no grupo familiar, resultando em muitos casos em famlias estendidas; e) exibio da corte envolvendo pouco gasto energtico do macho; f) pouco ou nenhum dimorfismo sexual; g) participao ativa do macho reprodutor no cuidado com a prole. Entretanto, Dewsbury (1987) apontou dificuldades na definio e nacaracterizao da monogamia entre os vertebrados, sugerindo que dificilmente poderamos provar sua existncia nos animais. Para Dewsbury (op. cit.) a monogamia pode ser identificada a partir de trs critrios: a exclusividade no acasalamento, a associao do par e a unio dos esforos do casal no cuidado parental. Entretanto, para Dewsbury (op. cit.), a exclusividade no acasalamento abrange dois aspectos difceis de serem investigados. O primeiro a certeza de que o par investigado mantm exclusividade sexual, pois cpulas furtivas muitas vezes deixam de ser registradas, devido s dificuldades na observao de determinadas espcies tanto na natureza como no semicativeiro. O segundo aspecto refere-se certeza da paternidade em relao prole. Quando se tem a possibilidade de utilizar marcadores genticos, muitas vezes o macho identificado como parceiro constante da fmea no o pai gentico de todos os filhotes. O segundo critrio, que define a monogamia a associao prediz a existncia de prolongada co-habitao entre um macho e uma fmea em particular, na qual ambos so normalmente observados utilizando o mesmo ninho ou toca, deslocam-se juntos e defendem o territrio de forma conjunta. O terceiro e ltimo critrio prev que a unio do par no cuidado parental ocorre quando a criao dos filhotes se d pelo casal. Estudos com um pequeno roedor descrito como mongamo o vole-da-pradaria (Microtus ochrogaster) tm mostrado, atravs da utilizao de testes de DNA, que em casais observados utilizando a mesma rea e com ativa participao do macho na criao dos filhotes,
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o macho muitas vezes no o pai gentico de todos os filhotes da ninhada (CARTER e GETZ, 1993). Assim, estudos que investigaram o comportamento sociossexual de espcies mongamas tm considerado a cohabitao do par (ou a exclusividade social) como critrio mais importante para a caracterizao da monogamia, em vez da exclusividade no acasalamento (CARTER e GETZ, 1993; DIXSON, 1997). Entre os primatas do Velho Mundo o acasalamento de um nico par durante a estao de acasalamento parece se restringir s espcies do gnero Hylobates (gibes e siamangos) e s espcies Cercopithecus neglectus e Presbytis potenziani (macaco-de-Brazza e macacodo-peito-vermelho, respectivamente) (EVANS e POOLE, 1984; VAN SCHAIK e DUNBAR, 1990; PALOMBIT, 1996). J pequenos primatas neotropicais os calitriqudeos2 alm de alguns Cebidae (Aotus spp: macaco-da-noite e Callicebus spp: saus), tm sido considerados mongamos em funo da exibio de um conjunto de comportamentos caractersticos do sistema monogmico de acasalamento. Por exemplo, exibio de um padro de ligao sociossexual de longo prazo (EVANS e POOLE, 1984; SAVAGE et al., 1988; SNOWDON, 1990; SCHAFFNER et al., 1995); cuidado cooperativo dos filhotes, com participao ativa do macho reprodutivo (TARDIF et al., 1990; PRICE, 1992; TARDIF, 1994; SANTOS et al., 1997; SANTOS, 1998); agressividade dos dominantes em relao aos demais membros do grupo, especialmente entre fmeas ou indivduos que imigram para o grupo (FRENCH e SNOWDON, 1981; ANZENBERGER, 1985; FRENCH e INGLETT, 1989, 1991; EPPLE, 1990). A ligao do casal na manuteno do bem estarsocial do par Se, por um lado, a co-habitao favorece a ligao sociossexual do casal, a separao proporciona mudanas drsticas, tanto comportamentais como fisiolgicas. Por exemplo, Smith e colaboradores (1998) observaram que o estresse causado pela separao fsica do casal no sagi-de-tufo-preto-de-Wied (Callithrix kuhlii) poderia ser menor caso um dos parceiros mantivesse contato visual com o outro.
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A famlia dos primatas calitriqudeos compe os menores representantes dos primatas neotropicais e possui quatro gneros: Leontopithecus (os micos-lees), Saguinus (os micos Amaznicos), Callithrix (os sagis) e o Cebuella (o saguizinho-leozinho-da-Amaznia).

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Quando um dos sagis era colocado em uma gaiola menor, mas com visualizao total do parceiro, os nveis de cortisol (hormnio utilizado para medir o estresse) e de agitao do animal separado eram menores que do animal colocado numa outra sala (em um novo ambiente e sem a visualizao do parceiro). Aps a reunio, os casais que foram privados do contato visual exibiram freqncias mais altas de contato fsico que aqueles que mantiveram contato visual durante a separao. Resultados semelhantes foram obtidos por Hennessy e colaboradores (1995) em um experimento bastante similar com Callicebus moloch (macaco-do-crepsculo). Alm do aumento dos nveis de cortisol, foi observado, ainda, que a separao fsica dos parceiros no macaco-do-crepsculo pode causar o aumento dos batimentos cardacos no animal separado (CUBICCIOTTI e MASON, 1975). Esses estudos sugerem a participao de mecanismos fisiolgicos e comportamentais, que so disparados em funo de alteraes no ambiente social separao e reunio do casal o que poder estar diretamente relacionado com a manuteno da ligao do par aps situaes de estresse (ANZENBERGER, 1992; SMITH et al., 1998). Os mecanismos fisiolgicos e comportamentais para a manuteno da reproduo de uma nica fmea no grupo Estudos com primatas calitriqudeos tm tentado estabelecer uma relao entre os altos custos reprodutivos da fmea e aos fatores que permitiram a evoluo da monogamia. A grande proporo de nascimentos de gmeos, a alta relao de peso filhote/me (podendo chegar a 21% o peso dos gmeos do sagi-do-Nordeste , C. jacchus), e a ausncia de supresso da ovulao durante a lactao (que possibilita uma nova gravidez poucos dias aps o nascimento dos filhotes) so alguns fatores que contribuem para os altos custos da reproduo nos calitriqudeos (LEUTENEGGER, 1973, 1979; HEARN, 1983; TARDIF et al., 1984; SNOWDON et al., 1985; TARDIF, 1994). Nos calitriqudeos, por exemplo, a fmea reprodutiva amamenta mais freqentemente seus filhotes comparado s mes dos gneros Aotus (macaco-da-noite), Callicebus (sau) e Callimico (macaco-de-Goeldi), devido ao rpido desenvolvimento das crias, o que,
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conseqentemente, acarreta um aumento das taxas de transporte por ela (TARDIF, 1994; GARBER e LEIGH, 1997). Estes autores propem que o rpido crescimento dos filhotes, em relao ao tamanho e ao peso da me, tenha propiciado a evoluo de um sistema social, no qual vrios indivduos participariam na alimentao e no transporte da prole. Assim, provvel que o sistema monogmico de acasalamento e o cuidado cooperativo dos filhotes (pelo pai e demais indivduos do grupo) tenham co-evoludo a partir do elevado custo energtico dos cuidados parentais. O sistema cooperativo propicia uma diminuio gradual do transporte dos filhotes pela fmea e na partilha de alimento pelos diferentes indivduos do grupo (SANTOS et al., 1997; observao pessoal). A contribuio no cuidado dos filhotes pelos ajudantes tem sido explicada com base na aptido abrangente e seleo de parentesco (HAMILTON, 1964). Quando um indivduo auxilia seus pais no cuidado parental de um irmo mais jovem, este pode estar garantindo tanto a sobrevivncia como o sucesso reprodutivo de indivduos que possuem metade de seus prprios genes, o que representaria um ganho indireto. Por outro lado, quando um indivduo passa pela experincia da aprendizagem do cuidado, h um beneficio que pode ser medido pelo seu prprio sucesso reprodutivo ou um ganho direto (CLEVELAND e SNOWDON, 1984; TARDIF et al., 1984; SANTOS et al., 1997). Enquanto permanece no grupo, o ajudante tem a chance de participar do cuidado dos filhotes em sucessivas parturies. A presena de filhotes recm-nascidos tambm parece ser responsvel por provocar estimulao hormonal no macho reprodutivo, que, por sua vez, influencia na expresso do cuidado parental (DIXSON e GEORGE, 1982; ZIEGLER et al., 1996; SOUSA e MOTA, 1998; NUNES et al., 2000, 2001; ZIEGLER e SNOWDON, 2000). Entretanto, quais mecanismos estariam atuando no adiamento da reproduo das demais fmeas do grupo? Ou quais estratgias so utilizadas pela fmea reprodutiva para garantir apenas sua prpria reproduo? Uma caracterstica marcante dos primatas calitriqudeos a supresso hormonal ou inibio da reproduo das demais fmeas do grupo imposta pela fmea reprodutora. A inibio da ovulao ou a exibio de ciclos ovarianos irregulares parece ser importante fator para a manuteno de uma nica fmea reprodutiva no grupo. A supresso da fertilidade das fmeas filhas ou subordinadas j foi observada, por exemplo,
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em alguns gneros de calitriqudeos: Saguinus oedipus (FRENCH et al., 1984; ZIEGLER et al., 1987; SAVAGE et al., 1988), S. fuscicollis (EPPLE e KATZ, 1983), S. labiatus (KUDERLING et al., 1995), Callithrix jacchus (ABBOTT e HEARN, 1978; ABBOTT 1984, 1987; ABBOTT et al., 1981; ABBOTT e GEORGE, 1991; ABBOTT et al., 1992; SMITH et al., 1995), C. kuhlii (SMITH et al., 1997) e Cebuella pygmaea (CARLSON et al., 1997). Entretanto, em grupos estritamente familiares de espcies do gnero Callithrix existem evidncias de que uma das fmeas, geralmente a filha mais velha, exiba ciclos ovarianos (ABBOTT e GEORGE, 1991; SALTZMAN et al., 1997; SMITH et al., 1997). Embora a filha mais velha ovule, ela no interage sexualmente com os machos adultos do grupo. Vrias hipteses tm sido formuladas a respeito dos mecanismos pelos quais a fmea dominante poderia provocar mudanas fisiolgicas nas demais fmeas, tendo sido citada na literatura a influncia de fatores feromonais3, sociais e a barreira da endogamia. Entretanto, no poderamos descartar a possibilidade de esses fatores atuarem conjuntamente. Um dos mecanismos que poderia atuar na supresso da fertilidade das fmeas do grupo seria resultado das pistas qumicas emitidas pela dominante (ou reprodutiva). Existem evidncias de que estmulos feromonais, emitidos atravs de marcaes anogenitais ou circungenitais de cheiro, poderiam resultar em mudanas drsticas na fertilidade das demais fmeas. No caso do sagi-do-Nordeste (Callithrix jacchus), a falha reprodutiva nas fmeas subordinadas parece ser resultado de uma insuficincia de hormnios produzidos pelo hipotlamo e pela hipfise (ABBOTT et al., 1990). Esta espcie possui vestgios do rgo vomeronasal, e odores recebidos atravs das marcaes de cheiro podem ser importantes na regulao da fisiologia reprodutiva das fmeas (KEVERNE, 1987; ZIEGLER et al., 1990; SMITH et al., 1994; TANAGUCHI et al., 1992). Alm dos mecanismos fisiolgicos citados acima, contatos fsicos e visuais, com a fmea dominante ou o estresse social tambm tm sido apontados como responsveis pela inibio da atividade reprodutiva das demais fmeas e a manuteno de uma nica fmea reprodutiva.
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Feromnios so mensagens qumicas volteis que agem em outros indivduos, normalmente da mesma espcie, atravs de receptores olfativos ou gustativos, alterando o comportamento ou o sistema neuroendcrino (BROWN, 1994).

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O estresse social parece ser um importante mecanismo para inibio da reproduo de fmeas de mico-leo-dourado. Nesta espcie a supresso de hormnios ovarianos das filhas adultas ou subordinadas parece estar ausente (FRENCH, 1997). No apenas no mico-leo-dourado, mas tambm em outras espcies de primatas calitriqudeos, o estresse social resultado da constante e incansvel agressividade emitida pela fmea reprodutiva do grupo (FRENCH, 1997). Tanto em grupos alojados em cativeiro como os observados em seu ambiente natural, praticamente impossvel a entrada de uma fmea adulta desconhecida, devido alta agressividade emitida pela dominante atravs de comportamentos especficos (perseguio e vocalizao). Anzenberger e colaboradores (1996) levantaram uma terceira hiptese para a manuteno da fertilidade de uma nica fmea no grupo, que seria a evitao da procriao consangnea entre parentes ou a barreira da endogamia. Por exemplo, estes autores formaram dois grupos de fmeas de sagi-do-Nordeste . No primeiro elas foram separadas do grupo e alojadas com o irmo ou com o pai. No segundo grupo as fmeas foram alojadas com um macho no parente. Os resultados revelaram que nenhuma das fmeas pareada com machos parentes exibiu ciclos ovarianos normais, enquanto cinco das sete pareadas com machos desconhecidos ovularam e conceberam em apenas dez dias. Anzenberger e colaboradores (op. cit.) sugerem que, dentro do grupo familiar, o reconhecimento do odor dos machos parentes pode contribuir para a supresso da fertilidade das fmeas no dominantes. Esses resultados tendem a concordar com outros estudos em que fmeas anovulatrias iniciaram ciclos ovarianos normais e copularam ativamente logo aps terem sido separadas do grupo familiar e pareadas com machos no parentes (S. oedipus: FRENCH et al., 1984; WIDOWSKI et al., 1990; C. jacchus: ABBOTT e GEORGE, 1991). Identificao de outras formas mais flexveis de acasalamento nos calitriqudeos Se, por um lado, monogamia freqentemente observada em calitriqudeos criados em cativeiro, na natureza formas mais flexveis de acasalamento, como a poliginia (acasalamento de um macho com duas ou trs fmeas) e a poliandria (acasalamento da fmea com dois ou trs machos),
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j foram identificadas. Digby e Ferrari (1994), por exemplo, identificaram a poliginia em trs grupos de sagi-do-Nordeste na Estao Florestal Experimental em Nsia Floresta (RN). O grau de parentesco entre machos e fmeas que foram observados copulando no foi identificado. Para estes autores fatores, demogrficos como a alta densidade populacional na rea estudada e grupos com muitos indivduos, alm do fatores ecolgicos como a alta disponibilidade de alimento, especialmente gomas e exsudatos, poderiam ter colaborado para o surgimento e manuteno da poliginia. Goldizen e colaboradores (1996), aps treze anos de pesquisas com onze grupos de S. fuscicollis na Amaznia peruana, sugeriram que o mais comum na rea estudada era a reproduo de uma nica fmea durante as estaes de acasalamento. Entretanto, estes autores confirmaram a ocorrncia de reproduo simultnea de duas fmeas (em alguns casos me e filha) em seis situaes diferentes. Dessas seis situaes, em quatro casos em que uma segunda fmea conseguiu se reproduzir (geralmente mais nova que a dominante) elas desapareceram ou deixaram o grupo cerca de um ano aps o nascimento da sua cria. possvel que a tentativa da reproduo tenha resultado na possvel emigrao ou expulso da fmea de menor status social. Na Amaznia colombiana Savage e colaboradores (1997) realizaram dosagens hormonais em fmeas S. oedipus na tentativa de correlacionar a emigrao de fmeas com possveis mudanas hormonais. Foi verificado que, em um dos grupos, a expulso de uma das fmeas (filha) pela fmea dominante ocorreu quando a filha engravidou. As dosagens hormonais realizadas neste estudo revelaram, ainda, que todas as fmeas filhas do grupo no exibiam ciclo ovariano. Ao que parece, assim como tem sido descrito nos trabalhos realizados com calitriqudeos criados no cativeiro, fatores que podem estar relacionados com o baixo sucesso reprodutivo das fmeas no dominantes, tais como a reduo da expresso dos hormnios ovarianos e a agressividade da fmea dominante direcionada s demais fmeas podem tambm ser disparados em grupos selvagens. No mico-leo-dourado a poliginia foi registrada em cerca de 10% dos grupos estudados ao longo de oito anos de pesquisas na Reserva Biolgica de Poo das Antas, RJ (DIETZ e BAKER, 1993).
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Os nascimentos, em sua grande maioria, ocorreram em grupos em que as fmeas eram aparentadas (me e filha, ou entre irms). Entretanto, em apenas poucos grupos houve sobrevida dos filhotes da fmea no dominante. O baixo sucesso reprodutivo destas fmeas poderia estar associado inexperincia reprodutiva. Outros aspectos, tais como, a saturao de micos e o isolamento da mata, seriam fatores que tenderiam a reduzir a disperso e aumentar a incidncia de poliginia. Dietz e Baker (op. cit.) especularam que a reproduo de fmeas parentes com um macho sem parentesco pode ser positiva para o grupo, uma vez que proporciona um aumento da aptido abrangente. Em cativeiro a ocorrncia de acasalamentos de duas fmeas de calitriqudeos com um mesmo macho tambm foi registrada em C. jacchus, C. kuhlii e S. oedipus, e estaria relacionada, principalmente, com a introduo de um macho no aparentado no grupo (KOENIG e ROTHE, 1991; PRICE e MCGREW, 1991; ALONSO e PORFRIO, 1993). Saltzman e colaboradores (1996) realizaram um experimento testando esta hiptese. O objetivo desta pesquisa foi o de investigar a relao entre a retirada do pai e a introduo de um macho estranho ao grupo com mudanas hormonais em filhas adultas de C. jacchus. Os resultados das dosagens da progesterona no plasma sangneo mostraram que, em todos os grupos estudados, uma das filhas comeou a ovular logo aps a introduo do macho estranho. Paralelamente ao incio da atividade ovariana, as filhas se tornaram dominantes em relao me. Estas fmeas tambm interagiram sexualmente com os machos introduzidos, e a concepo foi identificada na maior parte das filhas estudadas. Algumas pesquisas de campo tm revelado que dois ou trs machos podem copular com a fmea reprodutiva do grupo, mostrando que em algumas situaes os calitriqudeos podem exibir o sistema polindrico de acasalamento. Estudos com aves tm sugerido uma correlao positiva entre a ocorrncia da poliandria e os altos custos da criao dos filhotes (EMLEN e ORING, 1977). Em algumas espcies de calitriqudeos, esta parece ser tambm uma possvel explicao para o surgimento da poliandria. O alto custo do transporte dos filhotes, normalmente gmeos, e os grandes deslocamentos para o forrageamento parecem ser as principais presses para o surgimento de um sistema de acasalamento polindrico (GOLDIZEN et al., 1996).
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Sussman e Garber (1987) apontam que, na Amaznia, dificilmente casais sozinhos de S. fuscicollis e S. mystax se reproduzem ou alcanam sucesso reprodutivo, sugerindo que a taxa de sobrevivncia dos filhotes parece se tornar maior a partir da imigrao de mais um macho para o grupo. Freqentemente, os machos dos grupos polindricos exibem uma alta participao no transporte dos filhotes (SUSSMAN e GARBER, 1987). A ocorrncia da poliandria, somada a uma maior taxa da sobrevivncia dos filhotes, em situaes nas quais no existem ainda ajudantes presentes (animais nascidos ou que tenham imigrado para o grupo), beneficiaria tanto os machos como a fmea (TERBORGH e GOLDIZEN, 1985; GARBER et al., 1993; GOLDIZEN et al., 1996). Com o aumento do nmero de indivduos no grupo, proveniente do nascimento de proles sucessivas, a monogamia tornar-se-ia, ento, um sistema de acasalamento vivel, para que o sucesso reprodutivo pudesse ser igualmente alcanado (GOLDIZEN, 1987). Em um estudo de campo, com C. humeralifer, Rylands (1985) verificou que, apesar de os trs machos do grupo estudado terem montado na fmea reprodutiva, no foi possvel confirmar se dois deles exibiram intromisso e ejaculao. Entretanto, o transporte dos trs pares de filhotes nascidos durante a pesquisa foi principalmente observado por dois dos trs machos que foram vistos montando a fmea. Rylands (1985), e Terborgh e Goldizen (1985) apresentaram a hiptese de que a incerteza da paternidade, gerada pelo sistema polindrico de acasalamento, poderia induzir uma participao ativa destes machos no cuidado dos filhotes. Nos calitriqudeos, os gmeos gerados so dizigticos, o que possibilita a paternidade gentica de um ou dois machos (BERNIRSCHKE e LAYTON, 1969, apud SUSSMAN e KINZEY, 1984). Um padro diferente de poliandria foi observado por Baker (1991) em L. rosalia na natureza. Em grupos com dois ou trs machos adultos, apenas um dos machos foi observado copulando com a fmea reprodutiva. Este macho era tambm bastante agressivo com os demais machos do grupo, monopolizando a fmea durante os perodos de cpula. Passado o perodo em que um dos machos adultos a monopolizava, os outros, ento, copulavam com ela. Neste caso, a monopolizao da fmea parece estar intimamente ligada ao seu momento reprodutivo, o que poderia resultar na fertilizao dos vulos por apenas um macho. Dietz e Baker (1996) apontam que estes grupos podem ser caracterizados como socialmente polindricos, mas geneticamente monogmicos.
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Schaffner (1996) investigou como a poliandria poderia afetar as relaes entre machos e fmeas de C. kuhlii. Grupos contendo dois machos e uma fmea foram artificialmente formados e monitorados. Os resultados revelaram que a fmea no exibiu preferncia entre os machos na manuteno do contato e demais interaes sociais. Alm disso, ambos os machos foram observados exibindo comportamentos sociais e sexuais com a fmea. A autora sugere que a fmea Callithrix seria capaz de exibir comportamentos afiliativos com mais de um macho no grupo. Tal comportamento poderia lhe conferir vantagens, uma vez que ambos os machos poderiam ser os pais das crias e participarem ativamente no cuidado parental. Alteraes no repertrio comportamental do par em funo de variveis sociais e biolgicas Estudos mais detalhados sobre o repertrio comportamental de casais de calitriqudeos, realizados em cativeiro, tm revelado que as relaes afiliativas (sociais e sociossexuais) podem ser influenciadas por trs fatores: durao da formao do casal ou do acasalamento, momento do ciclo ovariano da fmea e nascimento dos filhotes. a) A influncia do tempo de pareamento Estudos que compararam casais recm-formados com aqueles acasalados j h algumas semanas ou meses mostraram que casais que esto h pouco tempo vivendo juntos exibem altos nveis de interao sexual durante as primeiras semanas aps o pareamento. Nesses casais as cpulas so mais freqentes, e as iniciativas do macho em manter proximidade espacial com a fmea tambm so maiores (C. jacchus: WOODCOCK, 1982; EVANS e POOLE, 1984; L. rosalia: STRIBLEY et al., 1987; C. kuhlii: SCHAFFNER et al., 1995; C. geoffroyi: YOUNG, 1994). Comparaes feitas em pares de calitriqudeos acasalados por poucas semanas ou meses com aqueles acasalados h mais de um ano revelaram que as fmeas cujos casais tinham menor tempo de pareamento, ficavam mais tempo em contato e catavam mais seus parceiros (SAVAGE et al., 1988; RUIZ, 1990).
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A exibio de comportamentos afiliativos e sexuais em casais recm-formados tem sido descrita como essencial para a formao da ligao do par (KLEIMAN, 1977b; EPPLE, 1977). Schaffner e colaboradores (1995) sugerem, ainda, que as altas freqncias de interaes sexuais combinadas com uma maior responsabilidade do macho nas aproximaes, logo aps o pareamento, so padres comportamentais que demonstram uma possvel estratgia reprodutiva que resultaria em maiores chances de fertilizao da fmea. Em situaes em que os acasalamentos so feitos de forma artificial, ou seja, quando a escolha do macho e da fmea para o pareamento feita por quem os maneja, possvel que haja certa variabilidade comportamental possibilitando a ocorrncia de casais com diferentes caractersticas. Assim, para Silva e Sousa (1997) um maior investimento do macho e da fmea na exibio dos comportamentos afiliativos em casais recm-pareados pode ser um indicativo do futuro sucesso reprodutivo do casal. Em um estudo com C. kuhlii, Santos (1998) observou que casais com at seis meses de pareamento realizavam mais marcaes de cheiro (glndulas localizadas nas reas anogenitais) e monitoravam mais os substratos do viveiro (cheirar e/ou lamber os poleiros) que aqueles pareados h mais de sete meses. Estudos j realizados com vrias espcies de calitriqudeos tm mostrado que os indivduos do grupo que mais realizam marcaes de cheiro so o casal reprodutivo do grupo (EPPLE et al., 1993). Baseando-se na premissa de que casais realizam mais marcaes de cheiro que os demais indivduos do grupo e que os sinais qumicos emitidos por eles podem ter importante papel comunicativo, h a possibilidade de o casal ser capaz de discriminar vrios aspectos individuais do grupo atravs de informaes qumicas. Assim, possvel que a maior manifestao da marcao de cheiro em casais recm-pareados possa ser importante tanto na ligao do par como no reconhecimento interespecfico. b) A influncia do ciclo ovariano As fmeas de calitriqudeos no menstruam nem exibem sinais visuais na genitlia que indiquem seu momento de receptividade sexual. Entretanto, muitas pesquisas tm mostrado a ocorrncia de alteraes no comportamento afiliativo e sexual entre o casal ao longo do ciclo ovariano.
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Kendrick e Dixson (1983), por exemplo, observaram que, durante a fase periovulatria (dias que circundam a ovulao), machos e fmeas de C. jacchus exibiram com maior freqncia expresses faciais especficas (projeo da lngua para fora e para dentro, interpretada como convite sexual) antes (proceptive tongue-flicks) e durante (receptive tongueflicks) a cpula. Coincidindo com as expresses faciais, as montas e cpulas tambm foram mais freqentes durante a fase periovulatria que na fase no ovulatria. Estudos com C. jacchus e C. kuhlii (ROTHE, 1975; KENDRICK e DIXSON, 1983; SANTOS, 1998) e S. oedipus (BRAND e MARTIN, 1983) sugerem que os convites sexuais exibidos entre machos e fmeas, durante o perodo periovulatrio, estariam associados com o aumento do nmero de cpulas. Schaffner e colaboradores (1995) verificaram que em C. kuhlii a cpula (interao sexual bem-sucedida), a monta e a tentativa de monta (interaes sexuais malsucedidas) estavam associadas com a exibio de convites sexuais. Assim, as interaes sexuais bem-sucedidas as cpulas ocorreram sempre com maiores freqncias quando precedidas pelo convite sexual, enquanto as interaes sexuais malsucedidas (tentativas de monta e monta) estavam associadas com a ausncia de convite sexual entre macho e fmea. Fmeas tambm foram observadas emitindo mais convites sexuais que os machos. Assim, parece que a exibio de convites sexuais pelas fmeas, especificamente durante o perodo periovulatrio, poderia estar associada motivao da fmea em interagir sexualmente com seu parceiro. O papel das informaes qumicas tambm parece ser responsvel pelo aumento das interaes sociossexuais. As fmeas so mais atrativas para os machos durante o perodo periovulatrio que durante o no ovulatrio. Em um estudo realizado com casais de C. pygmaea, criados em cativeiro, foi observado que os machos lamberam e cheiraram mais a regio anogenital das fmeas e suas marcaes de cheiro durante este perodo. As montas tambm ocorreram com maior freqncia durante a fase periovulatria em comparao com a no ovulatria (CONVERSE et al., 1995; SANTOS, 1998). A fim de testar a capacidade de ambos os sexos em discriminar possveis sinais feromonais emitidos pelas fmeas ao longo do ciclo ovariano, Ziegler e colaboradores (1993) delinearam um interessante experimento com S. oedipus. Amostras de marcaes de cheiro e de urina de fmeas desconhecidas foram coletadas no interior dos viveiros,
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e atravs de dosagens do hormnio luteinizante (LH) foram determinados os perodos no ovulatrios e periovulatrio. Neste estudo foi estipulado que a fase periovulatria seriam os trs dias que circundaram o pico de secreo do LH, o que caracteriza a ovulao. Os autores observaram diferentes reaes comportamentais do par, quando as amostras coletadas de marcao de cheiro foram introduzidas em locais estratgicos dentro dos viveiros. As amostras contendo informaes do perodo periovulatrio de uma fmea desconhecida foram significativamente mais investigadas pelas fmeas que as amostras provenientes de outros dias do ciclo ovariano. Os machos, por sua vez, copularam com suas parceiras e exibiram erees do pnis quando estiveram expostos a marcaes de cheiro e urina provenientes dessas amostras periovulatrias. Atravs desse experimento, Ziegler e colaboradores propuseram que a fmea poderia ser capaz de emitir pistas olfativas, atravs de feromnios produzidos durante a ovulao, que informariam ao macho sua condio reprodutiva. Ao que tudo indica, a estimulao dos hormnios ovariano e hipotalmico pode possibilitar a emisso de pistas comportamentais e feromonais pelas fmeas. Juntas essas pistas poderiam tornar a fmea mais atrativa para o macho, resultando em um aumento na freqncia das montas e cpulas. Por outro lado, o perodo periovulatrio da fmea tambm pode ser caracterizado por uma maior intensidade na performance das interaes afiliativas pelo macho. Em C. kuhlii, por exemplo, o macho o principal responsvel pela proximidade espacial do casal, resultando em maiores perodos de contato fsico durante o perodo de fertilidade mxima da fmea (SANTOS, 1998). A manuteno da proximidade espacial exibida pelo parceiro, durante o perodo periovulatrio da fmea, estaria de acordo com a estratgia reprodutiva do macho, no que diz respeito a guard-la e monopoliz-la. O comportamento do macho, em associao com o aumento do nmero de cpulas, poderia maximizar as chances de fertilizao da parceira. c) A influncia do nascimento dos filhotes As relaes afiliativas e sociossexuais do casal podem, ainda, modificar-se em funo de dois perodos: no final da gestao e imediatamente aps o nascimento dos filhotes. Price (1992), baseando-se na perspectiva evolutiva, props que diferentes formas de investimento,
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tanto do macho como da fmea, poucas semanas antes e aps o parto, poderiam promover o estreitamento das relaes do par. Segundo esta autora, esse estreitamento beneficiaria a fmea no sentido de assegurar a permanncia e, conseqentemente, a assistncia do macho no cuidado parental, enquanto os machos aumentariam suas chances de reproduzir novamente com a fmea. Price (op. cit.) chegou a esta concluso observando casais de S. oedipus durante 24 semanas, doze semanas antes e doze aps o parto. Os resultados de seu estudo mostraram que as fmeas foram as principais responsveis pela manuteno da proximidade espacial, alm de catarem mais o parceiro antes do nascimento dos filhotes. Os machos, por outro lado, foram os responsveis pela manuteno da proximidade espacial e exibio de comportamentos afiliativos (cheirar e lamber o plo da fmea) durante o primeiro ms aps o parto. Mota e colaboradores (1995) obtiveram resultados semelhantes aos de Price em estudos com casais de C. jacchus no que diz respeito s aproximaes do macho e da fmea e s cataes exibidas pelas fmeas antes do parto. Observaes realizadas por Santos (1998) com casais de C. kuhlii revelaram que as relaes tanto sociais como sociossexuais do par tornaram-se mais intensas aps o nascimento dos filhotes. Machos e fmeas ficaram significativamente mais em contato fsico durante as semanas aps o parto. Durante esse mesmo perodo, o macho tambm seguiu e copulou com a fmea significativamente mais, enquanto as fmeas exibiram mais o convite sexual. Antes do nascimento dos filhotes, a fmea foi responsvel pela manuteno da proximidade espacial entre parceiros, enquanto que aps o parto o macho foi o principal responsvel. A estratgia reprodutiva do par poderia estar intimamente relacionada ao fato de a fmea gerar gmeos e da fundamental participao do macho no transporte dos filhotes (PRICE, 1992). Sendo assim, com o investimento da fmea no estreitamento das relaes do par antes do nascimento dos filhotes, provvel que haja um aumento na tendncia de o macho permanecer e cuidar dos filhotes. O macho, por outro lado, alm de exibir cuidado paterno, tenderia a investir mais na fmea durante o perodo ps-parto (perodo, tambm, da provvel ovulao), maximizando, assim, suas chances de ser o pai da prxima gerao de filhotes.
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Consideraes finais Resultados obtidos atravs de experimentaes em cativeiro tm revelado que vrios mecanismos podem estar envolvidos na manuteno da reproduo de uma nica fmea no grupo. Entretanto, at o momento, esses estudos tm se concentrado em poucas espcies. Por outro lado, o aumento do nmero de trabalhos realizados em ambiente natural, especialmente na ltima dcada, tem revelado que o sistema monogmico de acasalamento no uma regra. Entretanto, embora existam estudos revelando a possibilidade de diferentes sistemas de acasalamento, investigaes com mais espcies de primatas calitriqudeos ainda so necessrias. Tambm foram apresentados resultados que demonstram a flexibilidade do comportamento reprodutivo, sugerindo que tanto o macho como a fmea exibem estratgias comportamentais que tendem a resultar no sucesso reprodutivo do casal. Foi exposto que as relaes sociossexuais do casal podem se modificar diante de trs situaes: o tempo de pareamento do casal, a ovulao da fmea e o nascimento dos filhotes. Assim, estudos, principalmente os realizados em primatas criados em cativeiro, devem dispor de mecanismos para controlar tais variveis. Dentre as variveis citadas acima, o tempo de pareamento e a presena de filhotes seriam as de mais fcil controle por parte do pesquisador, uma vez que a determinao do perodo periovulatrio da fmea exige a coleta de material biolgico e dosagens hormonais. Entretanto, sabendo-se a durao da gestao e da mdia em dias da ovulao psparto da espcie estudada, muitos pesquisadores tm utilizado o intervalo entre os partos para obteno do provvel perodo da ovulao. Uma vez que vrios estudos tm sugerido que a experincia reprodutiva prvia e a durao da co-habitao do par podem influenciar a expresso do comportamento do casal, tais variveis devem ser consideradas quando se pretende realizar uma pesquisa que envolve a compreenso de comportamentos sociossexuais. possvel que mudanas comportamentais especficas, como as cpulas e a proximidade espacial, cuja funo est relacionada com a formao da ligao do par, ocorram com maiores freqncias durante as primeiras semanas aps o pareamento. Aps vrios meses de acasalamento, o comportamento social ou sociossexual pode se estabilizar,
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e a elevao das respostas pode estar relacionada com a ovulao das fmeas. Assim, para que se identifiquem possveis modificaes entre os comportamentos a serem estudados, necessrio o acompanhamento dos pares desde os primeiros dias de co-habitao, envolvendo ainda, quando possvel, a determinao dos perodos periovulatrios das fmeas. Comparaes entre casais que esto acasalados h semanas ou meses com casais recm-pareados, sem que haja o controle destas variveis, podem levar obteno de resultados no conclusivos sobre a expresso de comportamentos sociais e sexuais. Estudos que enfocam o comportamento afiliativo de casais recmpareados devem tambm levar em considerao que os acasalamentos em cativeiro so realizados pelo pesquisador, nos quais no h nenhuma participao dos primatas na escolha pelo parceiro(a). Acasalamentos artificiais podem, em muitas situaes, resultar na demora da reproduo, visto que muitas vezes h pouca expresso de comportamentos afiliativos e sexuais pelo casal (observao pessoal). De maneira geral, a privao do contato social por um longo perodo resulta, em muitos casos, na ativao da secreo de cortisol pela hipfise, propiciando o surgimento de vrias conseqncias deletrias sade do primata. Assim, importante considerar que a garantia do bemestar resultado do conhecimento das caractersticas da espcie e de um manejo adequado. Agradecimentos Parte dos resultados apresentados so de pesquisas realizadas pela autora no Centro de Primatologia do Rio de Janeiro/CPRJ-FEEMA, com financiamentos concedidos pela CAPES, pelo CNPq e pela FAPESP. Agradeo ao Prof. Adelmar Faria Coimbra-Filho e ao Dr. Alcides Pissinatti pelo apoio e no fornecimento de condies logsticas, o que tornou possvel a coleta de dados comportamentais e material biolgico dos calitriqudeos. Referncias bibliogrficas ABBOTT, D. H. Behavioral and physiological suppression of fertility in subordinate marmoset monkeys. American Journal Primatology, v. 6, p.169-186, 1984.
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Enriquecimento ambiental, privao social e manipulao neonatal*

Carlos Roberto de Oliveira Nunes1


Universidade Regional de Blumenau

Rogrio F. Guerra2
Universidade Federal de Santa Catarina

Vera Slvia Raad Bussab3


Universidade de So Paulo

Resumo Muitos estudos tm demonstrado os efeitos do enriquecimento ambiental, privao social e manipulao neonatal sobre o desenvolvimento do comportamento e aquisio de habilidades cognitivas. De fato, as intervenes precoces podem afetar a sociabilidade, aprendizagem, desenvolvimento fsico e neurognese em algumas espcies de roedores. A despeito das difi__________________________________________________
* 1

Abstract Many studies have demonstrated the effects of environmental enrichment, social deprivation and neonatal handling on behavioral development and acquisition of cognitive skills. In fact, early manipulations may affect sociability, learning performances, physical development and neurogenesis in some rodent species. Despite the methodolo-

Environmental enrichment, social deprivation and neonatal handling Endereo para correspondncias: Departamento de Psicologia, Universidade Regional de Blumenau, Blumenau, SC, 89010-971 (E-mail: [email protected]). Endereo para correspondncias: Departamento de Psicologia, CFH, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianpolis, SC, 88040-900 (E-mail: [email protected]). Endereo para correspondncias: Departamento de Psicologia Experimental, Instituto de Psicologia, USP, So Paulo, SP, 05508-900 (E-mail: [email protected]).

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366 Enriquecimento ambiental, privao social e manipulao neonatal

culdades metodolgicas nos procedimentos experimentais, estes estudos promovem uma nova compreenso a respeito da organizao do comportamento e plasticidade cerebral. Foram analisados os papis de diferentes tipos de estimulao ambiental para a compreenso da organizao cerebral e comportamento humano. Palavras-chave: Enriquecimento ambiental, manipulao neonatal, privao social, plasticidade cerebral. Introduo

gical difficulties in the experimental procedures, these studies provide a new comprehension about the organization of behavior and brain plasticity. In this review, it has been analyzed the role of different types of environmental stimulation for understanding brain organization and human behavior. Keywords: Environmental enrichment, neonatal handling, social deprivation, brain plasticity.

o que se refere aos mamferos e s aves, as presses cotidianas enfrentadas pelos indivduos so to diferenciadas, que seria impossvel, por mecanismos de seleo natural, o pre-estabelecimento de um repertrio comportamental adaptativo e completo, capaz de garantir a sobrevivncia e a reproduo. Parece que a seleo natural favoreceu a plasticidade cognitiva e comportamental, tornando os indivduos funcionalmente adaptados s contingncias ambientais que enfrentam durante o desenvolvimento ontogentico. Este pressuposto leva s dedues de que a experincia interfere sobre o comportamento futuro e de que a variabilidade nos tipos de situaes enfrentadas por animais, incluindose os humanos, acarreta diferenas psicolgicas intra e interespecficas. De fato, as experincias precoces de um animal podem influenciar seu comportamento adulto em uma srie de tarefas; por exemplo, ratos criados em ambientes grandes e complexos apresentam habilidades superiores de resoluo de problemas em relao a conspecficos criados em condies mais restritas (ROSENZWEIG, 1966). A maior parte dos padres comportamentais emitidos pelos animais acarreta consequncias que podem interferir sobre (a) as probabilidades futuras de emisses dos padres de comportamento e (b) as propriedades do ambiente no qual esto submetidos.

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Neste sentido, os animais no so passivos em relao s presses do ambiente. De qualquer modo, elas fazem parte dos fatores determinantes do comportamento, principalmente do perodo do nascimento at o incio da vida adulta, quando o sistema nervoso parece mais sensvel adaptao s presses ambientais. Por esta razo, as pesquisas sobre enriquecimento ambiental freqentemente tm sido focadas no sentido de investigar os impactos de diferentes condies ambientais de criao sobre a organizao comportamental e/ou do sistema nervoso dos animais estudados (FERNNDEZ-TERUEL et al., 2002, NAKA et al., 2002). Os objetivos deste trabalho so: a) expor evidncias experimentais que especificam as conseqncias de trs diferentes modelos de estimulao ambiental aplicados em pesquisas comportamentais e neurocientficas, desenvolvidos para elucidar os mecanismos subjacentes variabilidade do desenvolvimento do comportamento; e b) sugerir indicaes de como a aplicao destes modelos - o enriquecimento ambiental, a manipulao neonatal e a privao social pode contribuir para a compreenso do comportamento humano e de seus processos subjacentes. Implicaes do ambiente de criao sobre o comportamento Nos estudos com animais, os efeitos das variveis ambientais sobre a aprendizagem, isto , as mudanas durveis do comportamento decorrentes de experincias especficas, tm sido feitos atravs de diversos mtodos, como a privao materna (ANISMAN et al., 1998), os condicionamentos operante e respondente (CATANIA, 1999), o enriquecimento ambiental, a manipulao neonatal (FERNNDEZ-TERUEL et al., 2002) e o isolamento social (WRBEL, 2001), e cada um destes modelos de estimulao tem implicaes diferentes sobre o comportamento, a fisiologia e a qualidade de vida dos sujeitos. O enriquecimento ambiental consiste na exposio de animais cativos jovens e adultos a ambientes ricos em estimulao sensorial, gerada por alimento escondido, objetos inanimados, como rodas de atividades, canos e brinquedos, e/ou caixas com infra-estrutura mais complexas, contendo tocas, galerias de tneis e/ou plataformas com diferentes nveis de acesso (ver Chamove, 1989; ZIMMERMANN et al., 2001; MELLEN e MACPHEE, 2001). A manipulao neonatal a forma mais comum de estimulao precoce (FERNNDEZ-TERUEL et al., 2002),
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368 Enriquecimento ambiental, privao social e manipulao neonatal

e tipicamente consiste, em ratos, por exemplo, no manuseio cuidadoso do filhote pelos experimentadores, diariamente, por alguns minutos, durante as primeiras duas semanas de vida (ver LUCION et al., 2003). Os efeitos da estimulao social tm sido investigados atravs da comparao, em diversos tipos de testes, entre sujeitos criados em grupos de conspecficos e outros criados isoladamente (ver WRBEL, 2001); apesar de que diversas pesquisas tm trabalhado conjuntamente com os efeitos do enriquecimento ambiental e social, em contraposio privao de estmulos inanimados e sociais (ver ROSENZWEIG et al., 1978; SMITH et al., 2003). O psiclogo canadense Donald O. Hebb foi, nos anos 40 do sculo passado, o primeiro pesquisador a se interessar pelos efeitos do enriquecimento ambiental sobre o comportamento. Ele descobriu que animais criados em ambientes maiores e com mais variedade de objetos e configuraes espaciais do que aqueles ento normalmente impostos em criadouros e laboratrios posteriormente apresentavam habilidade superior de aprendizagem, comparativamente em relao a outros animais criados em ambientes menores e no enriquecidos (FERNNDEZ-TERUEL et al., 2002). Krech e colaboradores (1962) submeteram ratos por um perodo de um ms a ambientes enriquecidos ou no enriquecidos, depois testaram-nos numa seqncia de reverses de problemas de discriminao. No procedimento de discriminao de luz-escuro, os grupos no diferiram, mas quando foram realizadas as reverses, e o problema tornou-se mais complexo, os animais criados em ambiente enriquecido passaram a desempenhar de forma bastante superior aos demais. Os ambientes enriquecidos, isto , aqueles que provm ao animal mais oportunidades para experincias perceptuais e padres comportamentais variados (SCHWARTZ, 1964), habilitam-nos a desempenhar melhor sobre uma variedade de tarefas, quando comparados a animais criados em ambientes mais pobres (ROSENZWEIG, 1966). Em ratos, o enriquecimento ambiental, independentemente das experincias sociais anteriores, melhora principalmente a aprendizagem e a memria espacial (VAN PRAAG, 2000; SCHRIJVER et al., 2002), e acelera a habituao novidade (ZIMMERMANN et al., 2001), sem necessariamente gerar potencializao de comportamento exploratrio (SCHRIJVER et al., 2002). Em sntese, aparentemente os animais criados em ambientes enriquecidos parecem apresentar uma organizao do comportamento exploratrio mais complexa e diversificada do que os animais criados em ambientes no enriquecidos (FERNNDEZ-TERUEL et al., 2002).
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Num procedimento de teste de discriminao, camundongos eram inseridos num labirinto aqutico e deviam nadar at um estmulo no discriminativo (SD) ou um discriminativo (SD) indicados por padres de tela escolhidos pelos experimentadores e apresentados em dois monitores de computador. As apresentaes de SD e SD, entre os dois monitores, eram aleatoriamente alternadas, e cada monitor, por tentativa, apresentava apenas um dos padres. SD indicava a existncia, prxima do monitor em questo, de uma plataforma invisvel ao nvel da gua, onde os sujeitos podiam subir. Foi verificado que, em geral, os camundongos criados em ambiente enriquecido e no enriquecido aprenderam a discriminar os padres, nadando at o monitor com o estmulo discriminativo. Porm, uma vez alcanado um nvel equivalente e assinttico de acertos entre os grupos, os experimentadores comearam a aproximar, ao longo das tentativas, a gradao de diferena entre os padres de estmulos, e verificaram que os camundongos criados sob condio enriquecida foram capazes de responder funcionalmente a estmulos discriminativos e no discriminativos mais semelhantes entre si do que os sujeitos do grupo-controle, criados em ambientes no enriquecidos, sugerindo que o enriquecimento ambiental pode desenvolver as funes visuais dos camundongos (PRUSKY et al., 2002). O labirinto de Hebb e Williams um recurso utilizado para testar as habilidades de aprendizagem e memria espacial. Por exemplo, podem ser colocados alimentos em partes especficas, que os sujeitos experimentais aprendem a encontrar para comer. Pode-se tambm modificar os caminhos do labirinto para acesso aos reforadores, abrindo-se e fechando-se passagens. Os ratos criados em ambientes enriquecidos tm melhor desempenho do que os criados em ambiente no enriquecido, alcanando mais rapidamente o alimento e entrando menos freqentemente em braos errados do labirinto. Os animais com crebro intacto apresentam melhor desempenho do que os que sofreram leso cerebral ps-natal. Alm disso, os animais lesionados criados em ambiente enriquecido apresentam desempenho superior aos lesionados criados em ambiente-padro, e o efeito potencializador do enriquecimento sobre o desempenho no labirinto dos animais lesionados proporcionalmente superior ao efeito potencializador exercido sobre os animais no lesionados (SCHWARTZ, 1964).
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O enriquecimento ambiental influencia o desempenho de ratos em tarefas de condicionamento aversivo. Os animais criados em ambientes enriquecidos, quando submetidos a situaes estressantes, apresentam-se menos sensveis s condies aversivas impostas do que animais criados em ambientes-padro de laboratrio, exibindo maior capacidade de adaptar-se e responder funcionalmente a estas situaes (ESCORIHUELA et al., 1994). Uma exceo interessante foi encontrada por Klein e colaboradores (1994), cujos sujeitos experimentais, ratos criados em ambientes enriquecidos, expunham-se mais freqentemente aos potenciais predadores apresentados, uma condio normalmente aversiva, do que os sujeitos do grupo controle. O cuidado parental influencia o desenvolvimento cognitivo. Ratos que receberam altos nveis de cuidado materno avaliado atravs da limpeza de filhotes e da permanncia em agachamento sobre a ninhada exibem, posteriormente, melhor desempenho em testes de aprendizagem e memria espacial do que outros sujeitos que receberam baixos nveis de cuidado (LIU et al., 2000). Entretanto, atravs da exposio dos sujeitos que receberam poucos cuidados maternais a ambientes enriquecidos, do perodo de desmame, 21 dias, at 70 dias, as diferenas de desempenho entre os dois grupos de sujeitos, pouco cuidados e muito cuidados, podem ser minimizadas a ponto de tornarem-se equivalentes (BREDY et al., 2003). Alm disso, parece no haver efeito cumulativo entre o enriquecimento ambiental e os nveis altos de cuidado maternal. Os estudos dos efeitos do enriquecimento ambiental sobre a emocionalidade de ratos parecem obter resultados inconsistentes (FERNNDEZ-TERUEL et al., 2002); ainda assim, os efeitos constatados dos vrios tipos de ambiente sobre esta caracterstica so sugestivos, e convidam considerao de que os efeitos gerais da experincia no desenvolvimento subseqente podem, pelo menos parcialmente, se processar via alteraes na reatividade emocional. Ratos criados em ambientes enriquecidos defecam menos em testes em campo aberto (FERNNDEZ-TERUEL et al., 1992) e entram mais freqentemente em braos abertos de labirintos em cruz elevado do que os sujeitos controle, criados em ambientes no enriquecidos, isto , contendo apenas material de ninho, alimento e gua (FERNNDEZ-TERUEL et al., 1997). De outro lado, enquanto Huck e Price (1975)
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apontam que ratos criados em ambientes enriquecidos so mais ativos em campo aberto, Pham e colaboradores (1999) no encontraram diferenas destes em relao aos sujeitos criados em ambiente no enriquecido. Chamove (1989) deduziu que os camundongos seriam menos reativos ou menos emocionveis, se fossem criados em caixas que se assemelhassem a tocas, isto , ambientes que exibem caractersticas prximas do ambiente natural e parecendo psicologicamente maiores, em funo da maior complexidade de estmulos presentes, e requerendo mais atividades locomotoras para que o animal se deslocasse dentro delas. Neste sentido, o autor criou diferentes quantidades de parties transparentes, horizontais e verticais, dentro das caixas dos diferentes grupos experimentais, variando entre zero (controle) e dez parties, com vias de acesso entre elas. Atravs dos testes comportamentais e fisiolgicos, o autor concluiu que a presena de parties na caixas de camundongos reduziu a estressabilidade dos animais, o que foi inferido em funo de que aqueles criados em caixas com as parties se locomoveram mais em suas caixas do que o grupo-controle caixa sem parties , ganharam mais peso corporal, apresentaram glndulas adrenais menores, exploraram mais o ambiente novo em teste de campo aberto, e ainda, neste teste, defecaram e limparam-se menos. Em condies naturais, gerbilos da Monglia (Meriones unguiculatus) so bastante esquivos, evitando a aproximao de humanos, alm de poderem tornar-se agressivos e eriarem os plos quando capturados. De outro lado, os animais criados em cativeiro so extremamente dceis e de fcil manipulao. Clark e Galef (1977) desenvolveram uma seqncia de seis experimentos tentando identificar as variveis ambientais que causariam a feralizao dos gerbilos isto , a alta emocionalidade observada em espcimes selvagens quando manipulados por seres humanos, e acabaram estudando efeitos de enriquecimento ambiental sobre o comportamento. Os autores descobriram que, para animais muito pouco manipulados, apenas a presena de uma cobertura em parte da caixa-viveiro durante o perodo de desenvolvimento dos filhotes, que os permitisse se esconder espontaneamente, poderia produzir as mesmas caractersticas comportamentais geradas pelo crescimento em tocas. Alm disso, os gerbilos criados com acesso a um abrigo apresentaram glndulas adrenais proporcionalmente maiores,
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menores rgos reprodutivos e glndulas pituitrias mais pesadas do que animais criados em ambiente-padro de laboratrio, que continha apenas material de ninho, alimento e gua, o que sugere maior estressabilidade. No primeiro experimento descrito no artigo de Clark e Galef (1977), os autores acondicionaram casais de sujeitos adultos em viveiros fechados cheios de terra, onde eles puderam construir galerias de tneis. De acordo com Galef (1999), estes animais se mantiveram dceis e de fcil captura, inclusive saindo para os acessos das galerias quando pessoas entravam no biotrio; porm, os filhotes nascidos neste ambiente se tornaram difceis de manuseio. Quando eles estavam com aproximadamente 60 dias de vida, Clark e Galef (1977) os colocaram num ambiente aberto onde havia um abrigo num dos cantos da caixa. Depois da habituao dos sujeitos ao ambiente, foram realizados testes, atravs de apresentao sbita de um estmulo semelhante a uma face humana. Os filhotes criados nos viveiros fechados com tneis fugiam mais rapidamente para os abrigos do que os sujeitos-controle criados em caixas-padro; alm disso, aps a apresentao do estmulo, permaneciam mais tempo nos abrigos. Em ratos, a manipulao neonatal parece gerar seus principais efeitos sobre os limiares de excitao emocional dos sujeitos experimentais. Os animais manipulados no perodo neonatal adaptam-se mais eficientemente a condies estressantes e desafiadoras em diversos testes experimentais (FERNNDEZ-TERUEL et al., 2002). Por exemplo, em testes de campo aberto, apresentam freqncias mais altas de comportamento exploratrio e mais baixas de defecao (FERNNDEZ-TERUEL et al., 1992), sendo estes critrios de avaliao de reatividade emocional. Alm disso, ratos submetidos manipulao neonatal, quando adultos, exibem desempenho superior em testes de esquiva condicionada, em relao a outros no submetidos manipulao (FERNNDEZ-TERUEL et al., 2002). Provavelmente esta superioridade no desempenho relacionada, pelo menos em sua fase inicial, ao melhor controle das respostas emocionais de ansiedade pelos sujeitos pr-manipulados (ver Aguilar et al., 2002). A criao em isolamento social, a partir do perodo de desmame at a fase adulta, gera diversas alteraes comportamentais nos sujeitos de pesquisa, quando comparados a outros que foram criados em grupos de conspecficos. Por exemplo, ratos criados em isolamento exibem diversos tipos de estereotipias comportamentais (SCHRIJVER et al., 2002),
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exibem menos atividades nos braos abertos de labirintos em cruz elevada (PARKER e MORINAN, 1986), e demoram mais tempo para entrar em ambientes novos (ZIMMERMANN et al., 2001). Alm disso, os animais criados isolados tornam-se hiperativos em ambientes novos e demoram mais tempo para se habituarem (SCHRIJVER et al., 2002). Entretanto, em relao a estas duas ltimas afirmaes, h estudos que chegaram a resultados contraditrios, isto , com os ratos criados isolados apresentando-se menos ativos em campo aberto (GENTSCH et al., 1981), ou no se diferenciando quanto ao tempo necessrio para habituao em ambientes novos (ZIMMERMANN et al., 2001). A privao social parece afetar as respostas novidade atravs de fatores emocionais, isto , ela parece ter efeito ansiognico (SCHRIJVER et al., 2002), gerando prejuzos no controle inibitrio do comportamento, e, em especial, na seleo de estmulos de ateno (WRBEL, 2001; ZIMMERMANN et al., 2001). Deve-se ter em mente que os efeitos das variveis sociais sobre o comportamento transcendem os resultados obtidos nas manipulaes de privao social, em funo: a) dos fatores motivacionais e dos processos de aprendizagem relacionados s interaes com diferentes parceiros; e b) das competies por recursos. Filhotes de hamster-dourado (Mesocricetus auratus) que so agudamente privados de contato fsico e brincadeira com outros indivduos, isto , por 48 horas, exibem nveis de brincadeira e locomoo mais elevados quando so colocados juntos de parceiros com mesma idade, quando comparados a indivduos no privados. Entretanto, se um filhote de hamster criado sozinho pela me, sem parceiros de mesma idade, mas sem passar por um perodo de privao de contato fsico com um conspecfico, ele tambm apresenta aumento no tempo despendido em brincadeira quando colocado com outro filhote. Em qualquer dos casos, se mantidos juntos, as freqncias de brincadeira das dades tendem a retornar a nveis similares aos apresentados por dades de animais que no foram privados de brincadeira (GUERRA et al., 1999). Estes resultados sugerem que os filhotes que so criados pela me, sem irmos na ninhada, apesar de no serem privados de vrios tipos de interao social, incluindo vrios tipos de contatos fsicos, parecem crescer privados cronicamente de brincadeira.
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O meio social tambm est associado disponibilidade de recursos. Os filhotes de hamster-dourado so bastante dependentes de leite materno no dcimo quinto dia de vida. Neste perodo, os filhotes de ninhadas muito grandes (nove filhotes) e muito pequenas (um filhote) so mais leves do que os filhotes de ninhadas intermedirias (trs e seis filhotes) (GUERRA e NUNES, 2001). Este padro de resultados indica menor transferncia de nutrientes da me para o filhote. Provavelmente isto ocorre por razes diferentes para as ninhadas grandes e as pequenas, o que deve ter conseqncias sobre os padres comportamentais a serem emitidos pelos filhotes no futuro. No primeiro caso, de ninhadas muito pequenas, provavelmente um nico filhote precisa esforar-se muito na suco para gerar a ejeo de leite e manter sua produo. No segundo caso, de ninhadas muito grandes, alm de provavelmente haver menor disponibilidade de leite por filhote, eles precisam competir muito entre si para terem acesso s melhores tetas. Os modelos de estimulao ambiental discutidos geram, independentemente, alteraes de longo prazo no comportamento (ZIMMERMANN et al., 2001; WRBEL, 2001; FERNNDEZ-TERUEL et al., 2002). As diferenas de repertrio comportamental implicam, necessariamente, e diferenas das estruturas fisiolgicas subjacentes, pois o crebro se adapta anatmica e quimicamente s exigncias de diferentes ambientes. Da surge a necessidade de identificar as propriedades do ambiente que seriam responsveis pelas adaptaes do SNC, bem como os detalhes anatmicos e fisiolgicos relacionados. Neste sentido, as manipulaes ambientais tm sido tradicionalmente utilizadas como ferramentas para a identificao das modificaes bioqumicas e estruturais associadas s mudanas comportamentais (SCHRIJVER et al., 2002). Plasticidade cerebral e modelos de experincia M. V. Malacarne, entre o final do sculo XVIII e incio do sculo XIX, foi o primeiro pesquisador que investigou a influncia do enriquecimento ambiental sobre o sistema nervoso, tendo descoberto que pssaros treinados sobre condies enriquecidas apresentaram aumentos de volume do sistema nervoso central, principalmente no cerebelo, em relao a outros pssaros que no experienciaram a situao de enriquecimento (RENNER e ROSENZWEIG, 1987, apud FERNNDEZ-TERUEL et al., 2002).
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Lashley (1929, apud SMITH, 1959), analisando os efeitos de leses cerebrais sobre os comportamentos emitidos por ratos em labirintos, concluiu que, nos processos de aprendizagem dos caminhos, o crebro dos sujeitos experimentais seguia o princpio de ao global de massa, isto , quanto maior a quantidade de tecido cerebral destrudo, maior era o prejuzo no desempenho observado, e a variao do local da leso no manto cerebral parecia no modificar de modo significativo os resultados obtidos. Lansdell (1953), por sua vez, relatou que as leses no crtex posterior resultam em padres diferentes de respostas no labirinto de Hebb e Williams, em relao a sujeitos com leso no crtex anterior. Smith (1959), tambm analisando os desempenhos no labirinto de sujeitos experimentais com leses cerebrais nas regies anterior e posterior do crtex, verificou que os sujeitos criados em ambiente-padro, que apresentavam leso na parte anterior, tiveram desempenho ligeiramente inferior queles com leso na parte posterior, e entre os sujeitos criados em ambiente enriquecido ocorreu um efeito inverso e mais potente. A exposio de ratos criados em grupo a ambientes enriquecidos com escadas, rodas de atividade, caixas, plataformas e outros tipos mais de estmulos resulta em aumento do peso cerebral. Em especial, os ratos criados em ambientes enriquecidos desenvolvem mais massa cortical do que seus irmos criados em ambientes pobres isto , um ambiente contendo apenas alimento, gua e material de ninho (ROSENZWEIG et al., 1962). Os crtices dos ratos criados em ambientes enriquecidos tm seu peso aumentado em torno de 4% mais do que aqueles criados restritos, e quatro quintos dos pares de irmos comparados apresentam tendncia nesta direo (ROSENZWEIG, 1966). Ratos criados em ambientes enriquecidos exibem maior volume do crtex cerebral, mas apresentam em torno de 7% menos massa corporal do que os criados em ambientes-padro, de modo que, se os resultados forem comparados em termos de proporo de peso do crebro em relao ao peso corporal, os efeitos so mais evidentes. Se for considerada a razo do peso do crtex em relao ao peso do resto do crebro, os animais criados em ambiente enriquecido apresentam crtices proporcionalmente maiores do que os criados em ambiente-padro. O peso maior do crtex dos ratos estimulados reflete maior espessura da camada cortical. Alm disso, tambm o hipocampo dos ratos parece tornar-se mais espesso como conseqncia da experincia enriquecida (ROSENZWEIG, 1966).
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As regies do crtex no reagem igualmente em relao a diferentes padres de experincias. As situaes de enriquecimento e empobrecimento ambiental resultam em diferenas superiores no crtex occipital em relao rea somestsica. No entanto, Rosenzweig (1966) aponta que possvel modificar seletivamente uma ou outra regio do crtex, dependendo do programa utilizado de estimulao. Por exemplo, ratos criados em ambientes escuros apresentam reduo considervel do crtex visual, mas de outro lado desenvolvem as reas somestsicas de forma mais pronunciada do que irmos criados em ambiente iluminado, gerando efeitos opostos entre os crtices visual e somestsico em relao aos procedimentos de enriquecimento ambiental (ROSENZWEIG, 1966). A vascularizao cerebral tambm pode responder adaptativamente demanda aumentada de estimulao, pois os dimetros dos capilares do crtex de ratos criados em ambientes enriquecidos so maiores do que aqueles dos ratos criados em ambientes no enriquecidos (DIAMOND et al., 1964). Rosenzweig (1966) acreditava que o nmero de neurnios que um indivduo tinha era fixado ao nascimento, ou pouco tempo depois, e que as diferenas anatmicas encontradas entre os crebros de sujeitos criados em diferentes ambientes se deviam migrao de neurnios e proliferao de clulas da glia. Ele sabia da necessidade de investigao da regulao bioqumica do crebro para a identificao dos fatores subjacentes plasticidade comportamental associada aos ambientes de criao. Neste sentido, ele investigou as atividades das enzimas acetilcolinesterase e colinesterase nos crebros de ratos criados em ambientes enriquecidos e no enriquecidos. Seus resultados no foram conclusivos, mas ele sugeriu que as diferenas nos crebros daqueles indivduos devem estar relacionadas s atividades destas enzimas. Os animais criados em extremo empobrecimento, isto , ambiente empobrecido e isolamento social, diferem mais dos animais criados em grupo em ambientes enriquecidos do que os criados em ambientes empobrecidos e em grupo. Ou seja, quanto maiores as diferenas entre os ambientes, maiores as diferenas resultantes na anatomia e na qumica do crebro. Alm disso, o crtex cerebral do rato adulto capaz de crescimento adaptativo, como o crtex dos animais jovens, e estas mudanas cerebrais devem refletir aprendizagem e acmulo de informaes na memria (ROSENZWEIG, 1966).
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As primeiras publicaes de mudanas mensurveis no crebro, como conseqncia da experincia, foram recebidas com certo ceticismo (ROSENZWEIG, 1966). Entretanto, atualmente j se sabe que o enriquecimento ambiental aprimora a cognio atravs da plasticidade neuronal. Os ambientes enriquecidos de estimulao sensorial e de situaes que exigem solues de problemas, como localizao de alimentos, so associados a grandes mudanas morfolgicas nas vias sensoriais primrias, nas reas de associao e no hipocampo (ROSENZWEIG et al., 1972). Animais expostos a ambientes enriquecidos apresentam razes mais altas de neurnios para clulas de glia, botes pr-sinpticos maiores (ver ROSENZWEIG et al., 1972; SCHROTT, 1997; NAKA et al., 2002), aumento da densidade de ramos dendrticos e sinapses (RAMPON et al., 2000), diminuio de mortes de neurnios por apoptose (YOUNG et al., 1999) e mais formaes de novos neurnios, isto , neurognese, inclusive em indivduos adultos (GROSS, 2000). A ao dos genes nas modificaes fenotpicas relacionadas plasticidade cerebral tem importncia, por exemplo, na produo dos fatores neurotrficos. Estes so protenas que regulam o crescimento e a maturao dos neurnios, bem como as conexes entre eles. Animais expostos a ambientes enriquecidos apresentam nveis elevados de fatores neurotrficos, como o fator neurotrfico derivado do crebro (BDNF, brain derived neurotrophic factor), um fator implicado na sobrevivncia e no crescimento de neurnios, na regulao das conexes neuronais e na plasticidade cerebral (FALKENBERG et al., 1992). O ambiente enriquecido tambm est relacionado com o aumento da atividade do fator de crescimento neuronal (NGF, nerve growth factor), fator provavelmente associado s alteraes plsticas do sistema nervoso central (PINAUD et al., 2002). Em ratos adultos, a aprendizagem e a memria espacial dependem da integridade das funes do hipocampo (MORRIS et al., 1982). O hipocampo de ratos expostos a ambientes enriquecidos exibe nveis aumentados de NGF e acentuada expresso de RNA mensageiro do gene NGFI-A, um fator de transcrio dependente de atividade (PHAM et al., 1999); isto , o fator de transcrio responsvel pela produo do NGF, cuja expresso regulada pelo nvel de ativao dos neurnios (PINAUD et al., 2002). Alm disso, o enriquecimento ambiental tambm potencializa a proliferao de neurnios no giro dentado do hipocampo em ratos e camundongos (NILSSON et al., 1999).
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Em ratos, os filhotes das mes que exibiram freqncias mais altas de limpeza de filhotes e permaneceram grandes propores de tempo em postura de agachamento sobre eles (crouching over pups) exibem, posteriormente, como resultado dos nveis de cuidado recebidos, memria e aprendizagem espacial potencializadas, bem como alteraes no hipocampo caracterizadas por elevada expresso dos RNAs mensageiros para a codificao dos subtipos NR1, NR2A e NR2B de receptores NMDA (N-methyl-aspartato), e aumento de receptores NMDA (LIU et al., 2000). Os ratos que receberam poucos cuidados maternos, mas que permaneceram em ambiente enriquecido do desmame at 70 dias, exibem nveis equivalentes de respostas nos testes de reconhecimento de objetos, e de memria e aprendizagem espacial, em relao aos sujeitos que receberam nveis altos de cuidados maternais (BREDY et al., 2003). Os mecanismos fisiolgicos subjacentes aos padres equivalentes de respostas dos sujeitos muito cuidados e dos sujeitos pouco cuidados, mas enriquecidos, parecem diferir; isto , o enriquecimento ambiental no reverte os efeitos do baixo cuidado maternal sobre os receptores de NMDA, mas, como forma compensativa, parece alterar os nveis de resposta dos animais enriquecidos atravs da atividade dos receptores de AMPA (cido a-amino-3-hydroxy-5-methyl-4-isoxazolepropinico) (BREDY et al., 2003). Alm disso, estes autores tambm consideraram a possibilidade de atuao do sistema serotonrgico no hipocampo, como participante desta compensao. Em sntese, os resultados combinados de Bredy e colaboradores (2003), e Liu e colaboradores (2000) sugerem a possibilidade de padres de respostas equivalentes associadas a mecanismos fisiolgicos distintos. As experincias precoces podem alterar o desenvolvimento das respostas do eixo hipotalmico - hipofisrio - supra-renal aos eventos estressores (LUCION et al., 2003). O nmero de receptores de glucorticides no hipotlamo aumenta como resultado da manipulao neonatal, acarretando respostas mais eficientes e estveis em relao aos estressores (MEANEY et al., 1993). Por conseqncia, os sistemas imunolgicos destes ratos manipulados ficariam protegidos dos efeitos deletrios dos esterides supra-renais (HUFF et al., 2003).
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A criao em isolamento tem sido principalmente associada potencializao da funo dopaminrgica no estriato (ver HALL et al., 1998). Aparentemente, a privao social precoce tambm potencializa a ao das vias dopaminrgicas de ligao do crtex prfrontal com o estriato (WRBEL, 2001). Por conseguinte, estas alteraes do sistema dopaminrgico no crebro dos ratos isolados tm acarretado o desenvolvimento de pesquisas visando ao aprimoramento da compreenso de desordens psiquitricas em humanos, nas quais assumido paralelismo entre os sintomas apresentados por aqueles animais e os apresentados por pacientes esquizofrnicos (SCHRIJVER et al., 2002). A manipulao neonatal parece tambm estar associada reduo de neurnios no locus coerulus (LUCION et al., 2003), que um agrupamento de neurnios noradrenrgicos que possuem ao excitatria sobre o eixo hipotalmico-hipofisrio-supra-renal. Provavelmente esta a razo que faz com que ratos expostos manipulao neonatal apresentem reduo das secrees de corticosterona, ACTH e prolactina diante de diversos estressores, e tambm apresentem retorno mais rpido aos nveis hormonais basais presentes antes da situao estressora (FERNNDEZ-TERUEL et al., 2002). Implicaes dos tipos de ambiente de criao sobre os resultados das pesquisas Os procedimentos de enriquecimento ambiental para a criao/ manuteno de animais tm sido utilizados com os objetivos de: a) desenvolvimento de repertrio comportamental mais natural, com a manuteno de padres comportamentais tpicos da espcies, como as taxas de reproduo, e reduo de comportamentos anormais, como a supresso de padres comportamentais autodestrutivos e estereotipias; b) a melhora das condies de sade dos animais, com aumento da resistncia dos organismos a doenas, aumento de longevidade e reduo de nveis de cortisol; c) e aprimoramento do bem-estar psicolgico dos animais, atravs da possibilidade de busca de presas, da imprevisibilidade e novidade no ambiente, das oportunidades para explorar e ganhar informaes sobre o ambiente, bem como das oportunidades para interao social (GALEF , 1999).
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Os padres de estimulao oferecidos pelos ambientes nos quais os animais so mantidos geram alteraes nas respostas observadas em testes de aprendizagem, memria, ansiedade e outros. Por esta razo, Wrbel (2001) chegou a questionar a validade externa das pesquisas sobre as funes cerebrais complexas nas quais os animais so mantidos em ambientes empobrecidos, sugerindo que pelo menos parte dos resultados obtidos nestes experimentos poderia representar idiossincrasias associadas s situaes empobrecidas, mas no generalizveis para outras mais complexas. Nas pesquisas com roedores submetidos a ambientes enriquecidos, h grande variao nos padres de ambiente, incluindo-se a as diferenas nas composies dos grupos de animais. O ambiente enriquecido normalmente contm: a) objetos, que os autores chamam de brinquedos, que serviriam para manipulao pelos animais (PRUSKY et al., 2000); b) tneis e abrigos, que serviriam como locais seguros para descanso, locomoo, alimentao e interaes sociais (CHAMOVE, 1989; CLARK e GALEF , 1977; ZIMMERMANN et al., 2001); rampas de acesso, ou objetos equivalentes, que serviriam para locomoo tridimensional (ver CHAMOVE, 1989); e rodas de atividade. Alm disto: a) as caixasviveiro tm tamanhos diferentes em diferentes estudos; b) os brinquedos podem ser ciclicamente substitudos ou mantidos durante todo o perodo em que os animais esto em investigao; c) a quantidade e os tipos de brinquedos podem variar, apesar de que eles normalmente no so bem descritos na literatura; d) os tneis e abrigos apresentados tm diferentes formas e tamanhos em diferentes estudos; e e) as rodas de atividade podem ter diferentes dimetros, larguras e ainda exigir diferentes intensidades de fora para se movimentarem. As diferenas ambientais indicadas podem gerar importantes diferenas nos resultados obtidos por pesquisas sobre enriquecimento ambiental, como foi observado por Zimmermann e colaboradores (2001), porm evitam os riscos das idiossincrasias. Neste sentido, estes autores defendem que, medida que evolurem as teorias explicativas dos efeitos do enriquecimento ambiental sobre o comportamento e a fisiologia, estas devero se tornar capazes de explicar as diferenas observadas entre os estudos. Os modelos de enriquecimento hoje apresentados tm sido eficazes para o desenvolvimento terico do campo de pesquisas, apesar de que uma parte considervel deles construda sob bases intuitivas
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e econmicas, sem testes experimentais da funcionalidade dos estmulos de enriquecimento (WRBEL, 2001). Neste sentido, seria interessante a produo de modelos de enriquecimento fundamentados em critrios biolgicos vlidos para as espcies cativas, o que aprimoraria a validade externa dos estudos, e provavelmente melhoraria a qualidade de vida dos animais. Implicaes dos tipos de ambiente de criao sobre a qualidade de vida dos animais A importncia dos efeitos dos ambientes fsicos e sociais, bem como dos procedimentos de manejo, sobre o bem-estar dos animais cativos foi reconhecida pela primeira vez pelo psiclogo Robert M. Yerkes (1876-1956), em 1925. O campo de pesquisas sobre enriquecimento ambiental tem sido influenciado, principalmente, pela Etologia, pela Zoologia e pela Psicologia, no sentido da identificao de propriedades dos ambientes de cativeiro que podem ter influncia sobre as motivaes dos animais, a incidncia de estereotipias e a emisso de comportamentos adequados para a espcie (MELLEN e MACPHEE, 2001). O trabalho clssico de Breland e Breland (1961) indica limitaes dos procedimentos de condicionamento operante para a obteno de padres comportamentais desejados pelos experimentadores, e aponta para a necessidade de reconhecimento da histria natural das espcies dos animais cativos na implementao de programas de pesquisa comportamental, de manejo e de enriquecimento ambiental. Ou seja, as pesquisas sobre enriquecimento ambiental desenvolvidas tendo-se por base os conhecimentos da histria natural da espcie podem mais facilmente prover os animais com adequadas oportunidades espcie especficas de interao com o ambiente e, conseqentemente, contribuir para seu bemestar (MELLEN e MACPHEE, 2001). Os animais cativos podem, muitas vezes, apresentar necessidades inesperadas para os profissionais que os manejam, de modo que a insero de um animal num ambiente adequadamente construdo sob um olhar humano pode no ser to adequado para as exigncias dos animais da respectiva espcie (ver MELLEN e MACPHEE, 2001). Alm disso, diferentes espcies de animais cativos possuem diferentes necessidades.
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No que se refere aos roedores de laboratrio, h, espontaneamente, seleo de traos de docilidade, que de fato deve ser considerada como um vis necessrio, pois os espcimes selvagens, das espcies normalmente manipuladas, exibem nveis elevados de estresse em procedimentos comuns nestes ambientes, alm de mostrarem-se perigosos e difceis de manuseio, pois mordem, urinam, vocalizam e defecam muito (GALEF , 1999). No h acordo sobre as medidas de avaliao de sade psicolgica de roedores, visto que: a) a menos que os animais se tornem agressivos, difcil a identificao de perturbao psicolgica; b) eles apresentam uma taxa reprodutiva normalmente superior a de outras espcies mantidas em cativeiro; e c) difcil a determinao de quais mudanas no ambiente de manuteno dos animais contribuem para sua qualidade de vida, pois eles no apresentam expresses faciais, vocalizaes ou posturas indicativas de estados psicolgicos positivos. Em sntese, h as necessidades de medidas e critrios objetivos de sade psicolgica para a implementao de programas de enriquecimento para roedores, bem como do desenvolvimento de pesquisas investigando os efeitos de diferentes procedimentos de enriquecimento sobre sua qualidade de vida (GALEF , 1999). Galef (1999) questiona a funcionalidade do aumento das caixasviveiro como estratgia de enriquecimento ambiental para criao de roedores, relatando que alguns anos antes de escrever seu artigo, o Canadian Council on Animal Care determinou um aumento do padro da altura das caixas para ratos de 16,8 cm para 20 cm, o que geraria grandes custos financeiros. Entretanto, uma questo-chave persistia: os ratos ficariam mais confortveis nas caixas novas ou nas antigas? Os ratos noruegueses selvagens vivem em galerias formadas por tneis com 7,5 cm de altura em mdia, que conectam cmaras de ninho com 14,5 cm de altura (CALHOUN, 1962; apud GALEF, 1999). Galef (1999) argumentou que os ratos de laboratrio derivam de ratos selvagens, e que, portanto, talvez as caixas de 16,8cm de altura fossem demasiado altas para o bem-estar psicolgico dos animais, e no baixas, como supunham os membros do conselho canadense. Assim, Galef e Clark, citados por Galef (1999), produziram um experimento que permitiu aos ratos escolherem a proporo de tempo que permaneciam em cada uma das caixas. Os autores simplesmente ligaram as duas caixas comparadas por um tnel de 7,5cm de dimetro,
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esperaram cinco a seis dias para que os sujeitos se habituassem ao ambiente e depois filmaram as caixas para testar em quais eles prefeririam permanecer. A distribuio de permanncia foi similar ao acaso. Galef (1999) inseriu tubos de PVC de 15 cm de comprimento por 7,5cm de dimetro em caixas com ratos acondicionados sozinhos ou em pares. De 125 observaes dos ratos isolados, apenas cinco animais estavam nos tubos de PVC; de 76 observaes de sujeitos colocados em pares, apenas em 13 havia animais nos tubos. A partir dos resultados de seu pequeno experimento, ele concluiu que a freqncia de observaes dos animais nos tubos foi bastante inferior ao que seria esperado pela distribuio casual dos animais nas vrias partes das caixas. Aparentemente eles esquivavam-se do abrigo, e o uso mais freqente dos canos pelos animais colocados em duplas foi interpretado como uma tentativa dos subordinados de permanecerem distantes dos focos de ateno dos dominantes. O autor apontou que no h argumentos e evidncias consistentes de que roedores acondicionados com conespecficos estariam sempre em condies melhores do que outros acondicionados sozinhos. Ele tambm argumenta que, quando dois ratos so colocados juntos, formam uma hierarquia de dominncia na qual um ser o dominante, e o outro, o subordinado, e o dominante provavelmente estaria numa condio melhor do que se estivesse sozinho, porm o mesmo no poderia ser dito em relao ao subordinado. Mesmo que a hiptese do uso do cano com instrumento de esquiva pelos animais, sugerida por Galef (1999), esteja correta, no pode ser considerada como um argumento de que o isolamento social seria uma opo melhor de acondicionamento de roedores. O resultado sugere que, na melhor das opes, os ambientes de acondicionamento deveriam possibilitar aos animais subordinados a opo de controle da proximidade fsica e do contato sensorial com os dominantes, pois, em ambiente natural, os ratos vivem em grupos, em territrios com sistemas de galerias, onde h esta possibilidade. Alm disso, a criao em isolamento social gera uma srie de alteraes comportamentais em ratos, que podem ser inferidas como associadas reduo de qualidade de vida. O enriquecimento social pode gerar diferentes efeitos entre espcies, sexos e idades dos animais. Em condies de laboratrio, o acondicionamento em grupos formados somente por machos ou fmeas no prejudica o sistema imunolgico de indivduos da espcie
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Microtus ochrogaster, nem de fmeas de M. pennsylvanicus, porm gera prejuzos para os machos desta ltima (KLEIN e NELSON, 1999). Gerbilos da Monglia (Meriones unguiculatus) formam, em ambiente natural, agrupamentos familiares (GREN et al., 1989), de modo que, se so mantidos neste tipo de agrupamento no laboratrio, as agresses intra-especficas so muito raras. Em comparao com gerbilos mantidos em famlia, os animais mantidos solitrios apresentam aumento da freqncia cardaca, da massa e volume das glndulas adrenais, e dos nveis circulantes de glucorticides, o que indica que a situao solitria estressante para eles (GATTERMANN e WEINANDY, 1997). Deste modo, a composio dos grupos em laboratrio deve ser feita de acordo com critrios ecologicamente vlidos para a espcie, sob risco, no caso de no considerao da sua histria natural, de impor-lhes condies de sofrimento. Os gerbilos so sensveis aos padres de estimulao sensorial oferecidos nos laboratrios. Eles tendem a permanecer mais tempo em caixas mais escuras, se tiverem a possibilidade de escolher entre caixas idnticas com diferentes nveis de luminosidade, variando entre 0 e 75% de escurecimento da rea da caixa, isto , 375, 175, 120 e 40 lux na altura do ninho (VAN DEN BROEK et al., 1995). Estes estudos auxiliam na identificao das propriedades do ambiente que seriam associadas ao aprimoramento da qualidade de vida dos sujeitos experimentais. Gerbilos criados sob condies-padro de laboratrio crescem e se desenvolvem mais rapidamente, alcanam maturidade sexual mais cedo, so menos reativos estimulao isto , novidade, apresentam glndulas adrenais mais leves, e glndulas pituitrias e rgos reprodutivos mais pesados do que gerbilos criados em ambientes que permitem acesso a sistemas de abrigo tipo tnel. As taxas de desenvolvimento, e os pesos dos rgos reprodutivos e da glndula pituitria so resultados da reduo de iluminao, enquanto os pesos corporais e das glndulas adrenais parecem resultar da combinao da reduo de exposio luz e do acesso ao tnel (CLARK e GALEF, 1981). O enriquecimento ambiental imposto aos gerbilos (incluso de sistemas de tneis) aumenta o nvel de perturbao psicolgica exibido pelos filhotes quando estes precisaram ser manipulados pelos experimentadores, de forma que este procedimento pode ter efeitos negativos, contrrio ao que poderamos esperar primeira vista (GALEF, 1999).
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O efeito ansiognico provocado pelo sistema de galerias de tneis em gerbilos um bom exemplo do desafio imposto quando equipes de pesquisa propem criar condies de enriquecimento a seus animais. Primeiramente por causa das diferenas inter-especficas, pois camundongos mantidos em ambientes que se assemelhavam mais s condies naturais das tocas se tornam menos excitveis (CHAMOVE, 1989). Em segundo lugar, com a alterao da infra-estrutura ambiental podem surgir efeitos colaterais inesperados, que a equipe ter de administrar. Em terceiro lugar, este um exemplo de que a situao de escolha livre pelos animais pode gerar problemas, no sendo critrio suficiente para seleo do modelo de enriquecimento. A manipulao neonatal apresenta efeitos mais complexos do que aparentam. A reduo da reatividade emocional dos sujeitos experimentais deveria resultar em aumento da resistncia imunolgica, pela reduo da estressabilidade. Entretanto, a manipulao, dependendo dos procedimentos especficos utilizados, pode estar associada reduo de resistncia a doenas (MOYNIHAN et al., 1992). Alm disso, ela associada reduo do potencial reprodutivo das fmeas adultas que durante o incio de seu desenvolvimento neonatal foram submetidas a este procedimento, porque elas apresentam mais ciclos estrais anovulatrios (LUCION et al., 2003), sem contar ainda que a manipulao neonatal um mtodo completamente artificial de estimulao dos filhotes, porque, em ambiente natural, eles muito dificilmente seriam submetidos a intervenes deste tipo por humanos. Diante das dificuldades de definio operacional exata do que enriquecimento ambiental, Mellen e MacPhee (2001) sugerem que os ambientes impostos aos animais cativos, respeitadas as caractersticas comportamentais e fisiolgicas das diversas espcies e ordens, devem: a) oferecer condies adequadas para a reproduo isto , acasalamento e cuidados parentais ; b) minimizar o estresse crnico; c) permitir que os animais lidem adequadamente com situaes geradoras de estresse agudo; e d) proporcionar condies para que os animais exibam padres comportamentais tpicos da espcie e menos freqentemente possvel as respostas aberrantes. O pressuposto dos autores de que estas diretrizes, conduzidas em conjunto, deveriam elevar a qualidade de vida dos animais cativos.
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Em relao aos roedores de laboratrio, um conjunto mais especfico de critrios, a serem observados conjuntamente pode ser definido: a) o nvel de excitabilidade dos animais diante dos procedimentos de manipulao no laboratrio (GALEF, 1999); b) as condies gerais de sade; c) os nveis de agresso intra-especfica; d) os nveis circulantes de hormnios supra-renais associados a estresse; d) a freqncia de comportamentos estereotipados; e) a incidncia de perda de filhotes por infanticdio, canibalismo e negligncia; f) as taxas de sucesso de acasalamento; e g) a freqncia de comportamentos espcie-especficos. Todos os critrios apresentados aqui e por Mellen e MacPhee (2001) so viveis nas rotinas de laboratrio, porm exigem o incremento de pesquisas sobre comportamento e fisiologia animal, j que a adoo inadequada de critrios antropomrficos mais propensa a gerar ambientes imprprios de criao. Consideraes Finais O enriquecimento ambiental tem a vantagem de possibilitar o estudo da plasticidade do sistema nervoso central sem o uso de tcnicas de produo de leses (PINAUD et al., 2002); o mesmo pode ser dito da manipulao neonatal e da privao social. Deste modo, a aplicao dos trs modelos de estimulao ambiental aqui discutidos tem sido til na ampliao da compreenso do comportamento e de seus processos subjacentes nas espcies animais estudadas. Analisando-se especificamente o caso dos mamferos, a seleo natural fez com que cada espcie tenha muitas caractersticas comportamentais distintas; porm h caractersticas homlogas e/ou anlogas que permanecem, como: a) a organizao do comportamento atravs de um sistema nervoso o que bastante similar do ponto de vista estrutural, e composto por diversos tipos de neurnios e clulas da glia ; b) diversos tipos de hormnios com estrutura qumica muito semelhante ao longo de diversas espcies (ADLER, 1974); modificabilidade do comportamento atravs de condicionamentos operante e respondente (CATANIA, 1999), e outras. So as similaridades interespecficas que, quando tratadas adequadamente, podem permitir inferncias a respeito da organizao do comportamento e do sistema nervoso central de seres humanos, a partir de experimentos com animais.
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As pesquisas sobre estes modelos de estimulao ambiental mostram como exemplo de similaridade entre humanos e outros animais o fato de que os programas de enriquecimento ambiental parecem ter efeito potencializado naqueles sujeitos que, por alguma razo, tiveram atrasos no desenvolvimento, em relao a outros que no sofreram nenhum atraso. Este padro de resultados foi encontrado por Eickmann e colaboradores (2002) com crianas brasileiras de 24 meses, comparando o desenvolvimento mental e motor daquelas que nasceram com peso normal com outras que nasceram com baixo peso, e por Bredy e colaboradores (2003) com ratos, como j descrito. Neste sentido, a pesquisa com animais permite, tanto do ponto de vista tico, como do ponto de vista tcnico, maior controle de variveis estranhas, o que poder permitir, como j est em processo, a identificao das propriedades ambientais associadas com a potencializao da plasticidade neuronal. Atualmente, reconhece-se que a plasticidade neuronal mais ampla do que se pensou durante a maior parte do sculo passado. A partir de experimentos pioneiros realizados com animais, como os de Altmann e Das (1965; 1966), foram iniciadas pesquisas sobre o fenmeno da neurognese, isto , a produo e proliferao de novos neurnios no crebro, inclusive de indivduos adultos. Esta descoberta, somada s outras modificaes fenotpicas do sistema nervoso associadas a mecanismos de plasticidade, poder ter importantes implicaes sobre a preveno e o tratamento de doenas neurodegenerativas, como o parkinsonismo ou doena de Alzheimer, assim como proporcionaro uma melhor compreenso dos efeitos de leses cerebrais sobre o comportamento e a habilidade cognitiva de pessoas idosas (ver GROSS, 2000). Por ltimo, conclumos que os estudos sobre neurognese em indivduos adultos so de grande relevncia para o desenvolvimento de procedimentos teraputicos inerentes ao tratamento de leses cerebrais e doenas neurodegenerativas. Os avanos neste campo de conhecimento tero, indubitavelmente, um enorme impacto para a integrao de diversas especialidades (Medicina, Psicologia e Fisioterapia, por exemplo).

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Uma anlise evolucionria da parturio e do desenvolvimento infantil em mamferos*

Rogrio F. Guerra1
Universidade Federal de Santa Catarina

Resumo Comportamento materno e desenvolvimento dos filhotes so temas centrais dentro da Psicologia Comparativa, mas a maior parte dos estudos se limita anlise dos mecanismos fisiolgicos e comportamentais subjacentes responsividade parental. O objetivo principal desta discusso terica demonstrar a importncia de uma abordagem evolucionria para uma nova compreenso de velhos problemas (i.e., a atividade reprodutiva em mamferos, com nfase especial em humanos).
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* 1

Abstract Maternal behavior and infant development are central topics in comparative psychology, but most studies have been limited to the physiological and behavioral mechanisms underlying parental responsiveness. The purpose of this theoretical discussion is to show the value of a broader evolutionary approach in shedding new light on these old problems (i.e., reproductive activity in mammals, with a special emphasis on humans). Thus, the

An evolutionary analysis of parturition and infant development in mammals Endereo para correspondncia: Departamento de Psicologia, CFH, UFSC, 88040-900, Florianpolis, SC (E-mail: [email protected]).

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396 Uma anlise evolucionria da parturio e do desenvolvimento infantil em mamferos

Assim sendo, o comportamento dos animais durante a parturio, a multiparidade, os intervalos entre os partos, a proporo cefaloplvica e algumas caractersticas do filhotes (massa corporal, demanda por leite e atrao fsica, por exemplo) foram considerados como parmetros para a mensurao dos custos da gravidez e lactao. Palavras-chave: Parturio, comportamento parental, desenvolvimento, mamferos. Algumas descries de partos Introduo

behavior of animals during parturition, multiparity, birth intervals, cephalopelvic proportions and some characteristics of infants (body mass, milk demand and physical attractiveness, for example) were taken as parameters for measuring the costs of pregnancy and lactation.

Keywords: Parturition, parental behavior, development, mammals.

m vrias espcies de insetos, rpteis e peixes, os animais s se reproduzem uma nica vez na vida (semelparidade), e as fmeas morrem logo aps a oviposio; em mamferos, os animais se acasalam vrias vezes ao longo da vida (iteroparidade), mas as fmeas igualmente vivem pouco tempo aps a cessao da capacidade reprodutiva notvel exceo o que ocorre com a espcie humana, em que as mulheres idosas auxiliam diretamente na criao dos netos e ultrapassam a longevidade masculina. O tamanho da prole pode ser analisado em termos longitudinais (i.e., nmero de gestaes durante o perodo de vida) ou em funo do nmero de filhotes produzidos a cada gestao; as fmeas podem dar luz apenas um filhote (uniparidade) ou pode ter mltiplos filhotes por gestao (multiparidade), tal como vrias espcies de primatas ou roedores, respectivamente. Os dicionrios da lngua portuguesa e da inglesa descrevem as fmeas multparas como aquelas que do luz mltiplos filhotes ou fmeas que j passaram por mais de uma parturio durante a vida. No primeiro caso, a palavra multpara est correta, pois se refere ao nmero de fetos produzidos; no segundo caso, a palavra

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Rogrio F. Guerra 397

que melhor designa as mltiplas parturies iteroparidade, pois vrias espcies produzem ninhadas, e as fmeas se reproduzem vrias vezes ao longo do perodo de vida (candeos, feldeos e roedores). O nascimento visto como um marco delimitador, momento em que a criana ou o filhote animal ganha o status de ser completo ou quase completo. Entretanto, muitas evidncias mostram que muitas espcies j apresentam razovel capacidade motora e cognitiva nos momentos finais da vida intra-uterina, principalmente em espcies precociais ou semiprecociais. Existem poucas descries da interao mefilhote nos primeiros momentos aps o parto, devido s dificuldades metodolgicas inerentes a este tipo de estudo. Comumente, a parturio um evento rpido e discreto; quando esto prestes a dar luz, as mes procuram um refgio, e, na maioria das vezes, no h nada que sinalize algum acontecimento especial, o que sem dvida alguma est relacionado com a minimizao dos riscos de predao. A parturio geralmente um evento solitrio, e as mes no exibem sinais de alguma dificuldade especial; as fmeas mudam muito de posio, mas geralmente do luz agachadas, e no recebem ajuda dos outros indivduos do grupo elas mesmas puxam a placenta ou deixam-na cair quando se deslocam. Logo aps o parto, as fmeas limpam os filhotes e deixam o local onde ocorreu o parto as lambidas removem pistas olfativas que atraem predadores, e o contato ventro-ventral permite o mtuo reconhecimento entre me e filhote, ao mesmo tempo em que ocorre a transferncia de calor. Em primatas, os filhotes nascem cobertos com os restos da placenta, lquido amnitico e secrees vaginais da me; o contato fsico com o filhote, a limpeza de seu corpo e o consumo dos produtos do parto proporcionam pistas olfativas e gustativas que permitem o rpido estabelecimento do vnculo parental. O parto um evento discreto, e geralmente as mes no contam com a ajuda de outros indivduos. Durante e aps o nascimento dos filhotes, as mes exibem uma seqncia complexa de comportamentos e necessrio que elas saibam exatamente o que fazer neste momento; isto muito interessante, se considerarmos que o parto envolve um breve espao de tempo na vida dos animais e que muitas vezes as mes no tiveram oportunidade de ensaiar o comportamento.

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398 Uma anlise evolucionria da parturio e do desenvolvimento infantil em mamferos

A parturio foi bem documentada em sagis-de-tufo-branco (Callithrix jacchus). Estes animais so primatas de pequeno porte, nativos das Regies Norte e Nordeste do Brasil e vivem em sistema familiar. Stevenson (1976) revelou que machos e fmeas subadultas auxiliam as mes, principalmente no que diz respeito ao transporte e limpeza corporal dos filhotes. Geralmente, as mes do luz dois filhotes a cada gestao e no exibem infanticdio seletivo quando nascem trigmeos, mas o ltimo filhote fica em ntida desvantagem em relao aos dois primeiros irmos. Aps a completa expulso dos filhotes, eles escalam o corpo da me e se atracam fortemente regio ventral, iniciando a amamentao. Durante a amamentao, as mes inspecionam e limpam cuidadosamente os filhotes, e estes no interrompem a processo. Os contatos ventrais e o atracamento s mamas impedem que o ltimo filhote venha a ter acesso a uma das mamas, permanecendo agarrado a uma das patas traseiras da me em certas circunstncias, o macho se aproxima e limpa o corpo do filhote, mas, aps certo tempo, ele acaba caindo no solo e l permanece at a chegada da morte. Tais descries revelam que as mes tm dificuldades em criar trs filhotes simultaneamente; as mes no praticam infanticdio seletivo e tampouco consomem a carcaa de filhotes mortos, mas simplesmente negligenciam ou abandonam indivduos fracos e debilitados. Em babunos-amarelos (Papio cynocephalus cynocephalus), os membros do grupo exibem interesse pelo parto, mas as mes evitam a proximidade fsica e exibem vocalizaes de medo quando um conspecfico se aproxima. Os partos tambm ocorrem noite ou no final de tarde, no momento em que o grupo j se instalou em seu local de repouso noturno; num episdio descrito, o parto durou cerca de 45 minutos, a me limpou os filhotes, e ingeriu a placenta e o lquido amnitico (CONDIT e SMITH, 1994). Os partos so difceis de serem observados em marsupiais, pois os filhotes so diminutos em relao ao tamanho das mes, e estas no exibem sinais visveis de gravidez. Os filhotes nascem imaturos, as mes do luz um ou at quatro filhotes; no momento do parto, elas se apiam nas quatro patas e, logo em seguida, dobram o corpo de forma a facilitar o acesso dos filhotes bolsa marsupial. Os filhotes escalam a superfcie ventral da me, exibindo meneios da cabea para os lados e movimentos coordenados das patas; as mes podem adotar diferentes posies durante o evento. O volume da placenta (menos de 100mg)
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Rogrio F. Guerra 399

e da ninhada pequeno, de forma que a parturio dura de dois a quatro minutos (RENFREE e SHAW, 1996; GEMMELL et al., 2002). Os resultados da pesquisa bsica revelam que o momento e os fatores que iniciam a parturio em animais e humanos so importantes, pois auxiliam na preveno de nascimentos de bebs prematuros. Partos em humanos Algumas vezes jornais e TV exibem notcias sobre partos que ocorrem em condies precrias (dentro de txis, nibus ou em banheiros pblicos, por exemplo); s vezes as mulheres do luz sem algum tipo de assistncia, mas comumente elas contam com algum tipo de ajuda durante a parturio. Um caso interessante ocorrido em Moambique, em maro/2000, ilustra bem a importncia do suporte emocional s gestantes. Com efeito, aps uma terrvel enchente, a grvida Sophia Pedro teve que, junto com a sogra, buscar abrigo nos galhos de uma rvore. A catstrofe ceifou a vida de 700 pessoas naquele pas, mas, com o auxlio da sogra, Sophia teve o seu beb em condies satisfatrias. Me e beb sobreviveram quatro dias empoleirados na rvore; as imagens do resgate por helicptero despertaram o interesse dos jornais e TV de vrios pases (ver ROSENBERG e TREVATHAN, 2001). O episdio acima bastante ilustrativo, mas nada se compara dramtica experincia vivida por uma mulher mexicana que, diante da falta de assistncia mdica, resolveu realizar uma cesariana nela prpria. A mulher tinha 40 anos de idade e, uma vez que j havia perdido um beb, devido s dificuldades do parto vaginal, ela decidira enfrentar o problema de outro modo. A experincia com abate de animais ajudou um pouco, mas a mulher teve que buscar coragem tomando trs copos de um licor forte antes de realizar a cirurgia; ela seccionou o ventre com o auxlio de uma modesta faca de cozinha, e ambos, a me e o beb (um menino), sobreviveram terrvel experincia. Antes de perder a conscincia, ela solicitara a um dos filhos que fosse em busca de socorro; no hospital, os mdicos conseguiram reparar os estragos causados pelos procedimentos adotados pela me (ver MOLINA-SOSA et al., 2004). O episdio causa espanto e revela a forte ligao da me com o beb; por mais dramtica que seja a experincia, os riscos seriam maiores, caso a mulher no tivesse tomado tal iniciativa.
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400 Uma anlise evolucionria da parturio e do desenvolvimento infantil em mamferos

Relatos histricos e hagiogrficos mencionam nascimentos de bebs, mas geralmente no descrevem detalhes dos eventos. Alguns episdios relacionados com a gravidez so descritos na Bblia, mas nada se equipara em nvel de detalhamento s descries sobre a morte de Eudxia (404 a.C.), esposa do imperador bizantino Arcadius. Eudxia tivera problemas em dar luz ao seu beb e lutou com a morte por alguns dias; vrios mdicos foram convocados corte, mas, aps muito tempo gasto para que o beb nascesse naturalmente, eles constaram que o beb estava morto no ventre de Eudxia. Os cronistas da poca do conta de que a desafortunada imperatriz tivera hemorragia abundante, sofrera de dores terrveis, vomitara abundantemente, os intestinos j no mais funcionavam, e isto impedia a defecao, a vagina liberava um odor ftido que o mais potente perfume da poca no conseguia esconder, a febre era intensa e contnua. Eudxia no conseguia ter sono adequado, devido febre e s dores no corpo; no final, ela tinha delrios, alucinaes e distrbios cognitivos. Os documentos revelam que a imperatriz trouxera consigo o feto morto por quatro dias seguidos, o que terminou por afetar irreversivelmente a sua sade. Em um texto curto, mas muito interessante, Lascaratos e colaboradores (2002) fazem uma anlise ex post facto dos sinais e sintomas exibidos por Eudxia; a decomposio do feto provocou uma endometrite, parametrite, peritonite, septicemia (febre persistente e alteraes da conscincia) e, por fim, a morte da imperatriz. Curiosamente, os mdicos da poca tinham domnio sobre como efetuar a embriotomia, mas relutaram muito em realizar a cirurgia. Parece que o paradigma da medicina hipocrtica e helnica impediu que os mdicos deliberassem por efetuar a cirurgia o mais rapidamente possvel, ocasionando a deteriorao da sade da imperatriz. Contudo, os relatos tambm revelam que Arcadius era um homem violento e, dessa forma, possvel que os mdicos tenham ficado amedrontados com a possibilidade de serem julgados incompetentes diante da morte da imperatriz. Mauad (1999) faz um relato sobre o contentamento e a ansiedade que cercaram a gravidez de Maria Isabel, filha de D. Carlota Joaquina, imperatriz do Brasil. Desde o momento em que soube que estava grvida at o nascimento da filha (janeiro a 21 de agosto de 1817), Maria Isabel mantivera correspondncia regular com a me.
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Rogrio F. Guerra 401

A criana fora descrita como huma rapariga forte e saudvel, e a princesa relatara que tinha leite em abundncia. O melhor parteiro fora convocado para atender a parturiente e, aps dois dias de insucesso, ele concluiu que a criana estava morta e chegou a trazer os ferros para remover o feto (embriotomia) do ventre da princesa. D. Fernando VII, irmo de Carlota Joaquina e, portanto, marido da prpria sobrinha, no permitiu a cirurgia e chamou um outro parteiro para ter maior segurana. O novo parteiro foi mais competente e logo concluiu que huma membrana estava tapando a cabea do beb; sob seus cuidados, Maria Isabel deu luz um beb saudvel duas horas e meia aps a sua chegada a criana sobreviveu fase mais crtica do parto, mas faleceu aos seis meses de idade, provavelmente por ter contrado varola. Os relatos mostram que os partos representavam riscos de morte mesmo para as mulheres da realeza. O conhecimento cientfico era bastante precrio poca de Maria Isabel, de modo que as mulheres eram vtimas de erros de diagnsticos ou impercia mdica. Um outro caso mais grave de complicaes obsttricas foi o da jovem princesa Charlotte Augusta de Gales (1796-1817), que resultou em sua morte e a de seu beb. A desafortunada princesa Charlotte provavelmente era vtima de porfria, herdada de seu pai, o Rei George IV (1762-1830); a princesa havia tido dois abortos espontneos, e o ltimo beb nascera morto. Durante a parturio, ela tivera dores no peito e abdmen, tinha convulses e respirao ofegante. O sofrimento de Charlotte durou cerca de 50 horas, e veio a falecer por hemorragia; os historiadores postulam que ela fora atendida por um mdico inexperiente, pois, caso tivesse utilizado instrumentos mais adequados, como o frceps, Charlotte teria sobrevivido, e a histria mundial seria radicalmente diferente. Ela teria herdado a coroa real, invs de seu irmo mais novo e, sete anos mais tarde, a sua prima Victoria em outras palavras, o mundo no passaria pelo florescimento do imprio britnico, e ns no conheceramos o que se convencionou chamar de perodo vitoriano (CHUDLEY e HAWORTH, 1999; BURKMAN, 2001). O livro Sobre as epidemias2, uma coletnea do pensamento de Hipcrates, o pai da Medicina, apresenta vrios casos de mulheres que tiveram problemas durante os partos. As descries dos sintomas so
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Hippocratic writings. Great books of the Western world, volume 10. Chicago: Encyclopdia Britannica, 1996.

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detalhadas e servem para ilustrar o modo como os mdicos lidavam com tais problemas. Os partos representavam srios riscos para as mulheres, e os aforismas hipocrticos lanam conselhos prticos acerca de diagnsticos do sexo dos bebs, a sade das mes e sobre como evitar os abortos involuntrios, pois a medicina hipocrtica era contra a interrupo voluntria da gravidez. Parteiras, aparadeiras e comadres Os partos constituem uma experincia potencialmente perigosa para a espcie humana e, com efeito, o curso da evoluo parece ter contribudo para aumentar os riscos, tanto para as mes quanto para os bebs, invs de diminu-los (TREVATHAN, 1987; ABITBOL, 1996; ELLISON, 2001). As nativas de Zmbia contam com o suporte emocional de outras mulheres da comunidade (mbusas, equivalente s comadres e doulas) quando vo dar luz; estas mulheres acompanham os partos, do conselhos sobre alimentos que a gestante pode consumir, falam sobre as regras relacionadas com a fidelidade, a conduta sexual e o destino da placenta (ela deve ser enterrada prxima residncia da gestante, evitando que bruxas faam uso dela para lanar feitios contra a me e o beb). Quando o parto no transcorre a contento, essas mulheres acompanham as gestantes at a maternidade; as gestantes contam com o suporte emocional dos parentes e das parteiras, elas preferem ter os filhos em casa, movimentam-se bastante e tem livre escolha da posio mais conveniente durante a parturio (MAIMBOLWA et al., 2003). As mulheres que no contam com servios de sade freqentemente recorrem s comadres, aparadeiras e parteiras da comunidade quando vo ter seus bebs; o parto no um evento solitrio, descomplicado e socialmente irrelevante. As parteiras e comadres foram injustamente consideradas verdadeiras propagadoras de germes (SANTOSFILHO, 1947) ou mesmo terrveis bruxas devotadas ao mal (TOSI, 1985), mas alguns relatos bblicos revelam que elas eram mulheres estimadas pela comunidade (ver xodo, 1: 17-21), e, com efeito, o prprio nascimento de Jesus fora acompanhado por duas parteiras, Zebel e Salom. Os nascimentos so comemorados intensamente pelos cristos, e tanto as parturientes quanto as parteiras contam com um santo protetor, So Raimundo Nonato nonato porque ele fora extrado do corpo da me que falecera em decorrncia dos trabalhos de parto.
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Alguns pesquisadores descrevem que as ndias brasileiras do luz com naturalidade, sem maiores esforos e no interrompem seus afazeres durante todo o processo. Com efeito, Santos Filho (1947) relata que os partos se realizam com a mulher de ccoras, postura realmente mais adequada, raramente nascem gmeos, e a prpria mulher se encarrega de secionar o cordo umbilical. Darcy Ribeiro (1996) tambm relata que as mulheres indgenas do luz na posio vertical (agachadas); os maridos prestam algum auxlio s gestantes, mas, aps o trmino da parturio, eles se deitam numa rede, e a prpria mulher se encarrega de remover e enterrar a placenta e secionar o cordo umbilical com a ponta de uma flecha. Os homens parece que se dedicam mais aos preparativos do parto; quando se aproxima o momento crtico da parturio, as mulheres se agacham sobre um buraco (um palmo de profundidade por dois de dimetro) e esperam que os bebs caiam, sendo amortecidos com uma cobertura de folhas de bananeira. O mdico brasileiro Moyss Paciornik (1997) chegou a postular que em menos de 10% dos partos as mes necessitam da ajuda de uma parteira, e deste montante, somente na metade dos casos faz-se necessria a presena de um mdico [...] assim foi, em todos os tempos e ainda nos povos primitivos (p. 15). Estes relatos so inverossmeis, pois diversos estudos apontam que a parturio um evento especialmente complicado na nossa espcie. Com efeito, raramente as mulheres do luz sem a assistncia de uma outra pessoa; mesmo em condies mais adversas (dentro de nibus, txi, ambulncias ou mesmo em casa), as mes contam com a ajuda e a assistncia de uma pessoa, geralmente uma mulher que proporciona suporte emocional s mes durante e nos primeiros dias aps o parto (doula). s vezes, as pessoas que do assistncia no tm treinamento algum, mas a simples proximidade fsica proporciona conforto psicolgico s mes. Quando as mes do luz sem alguma assistncia, o parto pode representar um enorme risco para a mulher e o seu beb. Em tempos relativamente recentes, os partos ocorriam dentro do ambiente domstico, e os prprios familiares ou membros da comunidade se encarregavam de auxiliar as mes. Atualmente, os partos ocorrem em hospitais, em alas especializadas e, muito freqentemente, as mes s contam com a ajuda de estranhos o processo demora cerca de trs a quatro vezes o tempo despendido por fmeas de outras espcies de primatas.
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Por que a parturio de bebs mais complicada? O parto um evento especialmente complicado para as mes e seus filhos devido a certas peculiaridades. Com efeito, a cabea do recm-nascido tem um comprimento mdio de 10 cm, da fronte nuca, e a distncia entre os ombros de cerca de 12 cm. Alm disso, devido ao tamanho da plvis feminina e nossa adaptao para o bipedalismo, o beb tem o corpo rotacionado em torno de 90o e emerge do canal vaginiano com a face voltada para as costas da me (TREVATHAN, 1987; DAY, 1992; ABITBOL, 1996; ROSENBERG e TREVATHAN, 2002). O crebro grande do recm-nascido e a plvis humana adaptada para o bipedalismo tornam o parto extremamente arriscado sem a presena de ajudantes; em primatas no humanos, o parto um evento discreto e solitrio, e dura bem menos. De acordo com Ellison (2001), os bebs esto expostos a srios riscos de morte durante as primeiras 96 horas, a partir do incio dos trabalhos de parto; este perodo a fase mais perigosa na vida de uma pessoa, e a evoluo intensificou os riscos, ao invs de diminu-los. A parturio representa riscos considerveis para a vida das mes e de seus bebs. Entretanto, alguns animais tambm exibem dificuldades na parturio, pois o tamanho da caixa craniana do filhote quase o dimetro da plvis materna. Levando em conta este parmetro, as espcies de primatas no humanos que exibem mais dificuldades obsttricas so as pertencentes aos gneros Ateles, Nasalis, Macaca e Hylobates o tamanho da caixa craniana de Pongo, Pan e Gorilla relativamente menor, e, portanto, os partos ocorrem de modo menos complicado. Por outro lado, a caixa craniana dos bebs apresenta uma peculiaridade: ela ocupa quase todo o espao da plvis materna, mas a dimenso anterior-posterior maior que o correspondente plvis materna; esta peculiaridade torna necessrio que o beb sofra uma rotao do seu corpo, permitindo o encaixe da cabea no espao livre da plvis materna (SCHULTZ, 1949; TREVATHAN, 1987; DAY, 1992; ROSENBERG e TREVATHAN, 2001; ROSENBERG e TREVATHAN, 2002). Do ponto de vista fisiolgico e anatmico, os partos na posio vertical (me agachada ou de ccoras) parecem ser mais adequados que os partos realizados com a gestante deitada numa cama (GUPTA e NIKODEM, 2002). As mulheres mudam a posio do corpo em funo do desconforto e para facilitar o trabalho da musculatura.
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A posio de ccoras mais vantajosa, pois facilita o aumento do dimetro da plvis, e as presses intra-abdominais facilitam a expulso do feto, mas poucas mulheres tm condies fsicas para manter-se nessa posio pelo tempo necessrio para o parto (ROSENBERG e TREVATHAN, 2002). Os prprios relatos da Bblia contm elementos que permitem deduzir que a posio agachada ou de ccoras era a forma mais usual durante os partos (I Samuel, 4: 19). O tamanho da caixa craniana do beb o principal problema para a longa travessia atravs da plvis materna; para resolver este problema, se tornou imperiosa a consolidao de trs caractersticas inerentes a parturio humana: 1) os bebs nascem com a caixa craniana malevel, pois as placas cranianas ainda no foram solidificadas; 2) as mes devem adotar posturas corporais que permitem o aumento do dimetro interno da plvis (i.e., de ccoras ou agachadas) e, ao mesmo tempo, o afrouxamento das ligaes entre as duas metades da plvis; e 3) assistncia e suporte emocional de doulas ou comadres s mes durante todo o processo. Primatas no humanos do luz sem maiores problemas, as mes no contam com a ajuda de outros indivduos, e os filhotes nascem com a face voltada para o ventre materno; os bebs, por seu turno, nascem com a face voltada para as costas da me, e as mes contam com o auxlio e o suporte emocional proporcionado por outras mulheres. A melhoria das condies de vida adicionou um outro risco para as mulheres: o tamanho dos recm-nascidos aumentou com o acesso facilitado aos alimentos e ao conforto da modernidade. Com efeito, medidas do peso corporal de recm-nascidos indicam que eles esto nascendo mais pesados, devido ao sedentarismo das mes e ao conforto da vida moderna (melhor alimentao e acesso facilitado aos servios de sade). Um estudo realizado na Dinamarca revelou que, de 1990 a 1999, os recm-nascidos (n = 34.561) ganharam em mdia 45 g (passaram de 3.474 para 3.519 g) nos que nasceram no devido tempo o acrscimo foi de 62 g. A porcentagem de bebs com peso corporal acima de 4.000 g pulou de 16,7 para 20%; tambm foram constatados uma diminuio da idade gestacional (280,3 para 278,9 dias) e, simultaneamente, um aumento do nmero de partos induzidos (13 para 18,8% dos casos) (RSKAN et al., 2001).

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Em primatas de hbitos diurnos, o parto geralmente ocorre noite, e isto vantajoso sob vrios aspectos. Com efeito, o grupo social se encontra recolhido e acomodado, comumente no alto das rvores, o que torna a dade me-filhote pouco suscetvel ao de predadores; alm disso, a situao de repouso e de relativa tranqilidade permite que a me tenha mais tempo para se recuperar dos trabalhos de parto e possa dedicar mais tempo ao seu filhote recm-nascido, justamente nos momentos mais crticos de sua vida (ver as descries de JAY, 1963; DEVORE, 1963; JOLLY, 1972; DUNBAR e DUNBAR, 1974; MARTIN, 1990; KUMMER, 1995). A espcie humana ainda exibe esta primitiva caracterstica, pois os partos geralmente ocorrem noite, mais freqentemente entre 1 e 3 horas (KAISER e HALBERG, 1962; TREVATHAN, 1987; MARTIN, 1990); as mes que do luz durante o perodo claro do dia relatam mais freqentemente desconforto (estresse e dores), ocasionando maior debilitamento postpartum (HARKNESS e GIJBERS, 1989). O estresse materno pode prolongar os trabalhos de parto, e parece que o problema mais grave quando as mes do luz sob os cuidados de obstetras, em hospitais. O ambiente nada acolhedor, a presena de pessoas estranhas e os aparelhos utilizados para monitorar o estado fisiolgico das mes e dos bebs causam desconforto psicolgico; nessas condies, os partos so mais prolongados e, conseqentemente, interferem nos horrios dos nascimentos. Com efeito, um estudo realizado na Holanda revelou que as mulheres que davam luz com a assistncia de parteiras (n = 57.871) e obstetras (n = 31.999) exibiam diferenas nos horrios dos partos cerca de 5,43 e 3,34 horas, para as gestantes primparas e multparas, respectivamente (HERES et al., 2000). As placas cranianas do beb no esto solidificadas, de modo que a cabea do neonato pode suportar uma presso para se ajustar ao tamanho da plvis da me. Durante o parto, a cabea do neonato pode sofrer uma deformao em sua circunferncia, mas isto no afeta o crebro. Aps o nascimento, ocorre um aumento substancial do crebro, mas a flexibilidade da caixa craniana permite que o beb venha ao mundo j com um crebro relativamente grande em outras espcies de primatas, os filhotes nascem com as placas cranianas razoavelmente bem solidificadas, o que constitui uma presso contrria para um aumento maior do volume cerebral aps o parto.
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Alm disso, os msculos mastigatrios esto pouco desenvolvidos no nascimento, de modo que as placas cranianas no sofrem presso de baixo para cima; os bebs digerem facilmente o colostro e o leite materno, mas eles no possuem enzimas que permitem a digesto de alimento slido. Ns dispomos de poucos estudos sobre o comportamento de recm-nascidos logo aps o parto, mas as filmagens em cmera lenta revelam que bebs com cerca de seis horas de vida exibem movimentos coordenados, precisos e eficientes quando expostos ao seio materno. Eles abrem a boca quando se aproximam do seio, abocanham e puxamno para trs, e voltam ao incio do processo, ao mesmo tempo em que ingerem o leite; toda a seqncia deve ser sincronizada, pois o beb pode facilmente engasgar se a boca for aberta num momento inadequado (KOEPKE e BIGELOW, 1997). O parto um evento importante na vida da mulher; se ele for executado sem os devidos cuidados, por pessoas inexperientes, a me e o beb correm risco de morte. As mulheres exibem um forte contentamento quando tomam conhecimento da gravidez, mas, simultaneamente, sentem-se temerosas com a parturio; o suporte emocional oferecido pelos familiares fundamental e atenua o temor vivenciado pelas mulheres quando vo dar luz. Alguns estudos revelam que o sentimento de controle e a assistncia prestada por uma parteira esto associados com a vivncia positiva da maternidade; por outro lado, a ansiedade, dores, necessidade de cesariana, uso de anestsicos ou instrumentos cirrgicos durante os partos vaginais ou o prolongamento dos partos esto relacionados com sentimentos negativos (WALDENSTRM, 1999). Ninhos, refgios, capacidade motora e transporte dos filhotes Os filhotes podem ser agrupados em quatro categorias distintas, de acordo com o padro de desenvolvimento fsico e a capacidade motora no momento do nascimento: filhotes que nascem e se desenvolvem em ninhos (roedores, por exemplo), filhotes que acompanham os pais quase que imediatamente aps o nascimento (eqinos e bovinos, por exemplo), filhotes que passam a maior parte do tempo abrigados em tocas ou refgios (felinos e candeos, por exemplo) e os que so transportados continuamente. Alm dos custos energticos da amamentao, as mes e seus filhotes correm riscos de predao, devido ao debilitamento fsico;
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no obstante isso, as mes mostram-se atentas e exibem respostas parentais dirigidas aos filhotes (agrupamento e aquecimento dos filhotes, remoo da placenta e de restos do lquido amnitico, principalmente da face dos filhotes, por exemplo). Os partos so rpidos e discretos, geralmente ocorrem noite; e as mes passam por um perodo de inatividade, abrigadas em ninhos ou refgios. Os filhotes exibem diferenas morfolgicas e comportamentais, e podem ser agrupados conforme descrio a seguir. a) Animais que constroem ninhos Em roedores, os indivduos constroem ninhos e estocam uma quantidade considervel de alimento o hamster-dourado, por exemplo, dispe de bolsas bucais que facilitam o transporte da carga para o ninho. O armazenamento de alimento permite que o animal despenda a maior parte do tempo num lugar seguro, principalmente nos momentos que antecedem o parto ou no perodo de amamentao. Animais que constroem ninhos geralmente so espcies de pequeno porte e de hbitos noturnos, de modo que o ninho est associado a evitao de predadores. Os filhotes so altriciais e exibem baixa capacidade motora logo aps o nascimento. Independentemente da atividade reprodutiva, estes animais vivem em ninhos e freqentemente se engajam na arrumao de sua estrutura, tal como muitas espcies de roedores; a construo de ninhos um comportamento tpico em aves, devido gestao externa. O ninho de roedores tem vrias funes, pois proporciona: 1) segurana contra a ao de predadores e conforto diante da luminosidade do ambiente; 2) ajuste das funes termorregulatrias, permitindo enfrentar as variaes climticas dirias ou sazonais; 3) funciona como uma reserva biolgica, principalmente para os animais que estocam alimento; 4) proporciona um centro de referncia necessrio para avaliaes dos custos energticos da obteno dos recursos; e 5) o ninho um local seguro e confortvel, til em momentos crticos, como a parturio e amamentao (ver GUERRA e ADES, 2002). Os filhotes passam muito tempo sozinhos, e a perda de calor e gua minimizada pelo agrupamento da ninhada. Os filhotes so silenciosos e emitem vocalizaes ultra-snicas para sinalizar o desconforto (frio ou fome, por exemplo). Em diversas espcies de roedores,
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as mes limpam a regio anogenital dos filhotes e ingerem a urina expelida; como eles no urinam espontaneamente, este comportamento tem duplo significado: ao mesmo tempo em que as lambidas vigorosas da me proporcionam uma massagem vigorosa que estimula o funcionamento do sistema digestrio, o consumo da urina permite que as mes recomponham o equilbrio hdrico, de sais minerais e eletrlitos; as mes tambm ingerem as fezes dos filhotes, pois estas ainda tm alto valor nutritivo. O consumo da urina e das fezes importante, levando em conta o alto dispndio de energia durante a amamentao, as dificuldades na mobilidade e o acesso limitado s fontes de alimento. Os filhotes fracos ou doentes podem ser consumidos imediatamente aps o parto, junto com a placenta e o lquido amnitico (infanticdio e canibalismo), ou os indivduos consomem a carcaa de um indivduo (a me ou um irmo) que morreu espontaneamente (canibalismo). O consumo das fezes ou da urina, da placenta ou da carcaa de um conspecfico importante por trs motivos: 1) remove as pistas que possam atrair predadores; 2) elimina focos causadores de doenas patognicas; e, principalmente, 3) proporciona uma fonte energtica de baixo custo de obteno (GUERRA, 2000). Os animais constroem ninhos em locais de difcil acesso, como galerias subterrneas (aves geralmente constroem o ninho no topo das rvores), o que proporciona segurana, conforto e segurana s mes em momentos crticos, como a parturio e a amamentao. Os partos geralmente ocorrem noite, muito rpido e discreto; as mes imediatamente ingerem a placenta e o lquido amnitico, o que proporciona uma refeio de alto valor energtico e, ao mesmo tempo, remove focos potencialmente patognicos e chamarizes de predadores. b) Animais que crescem em refgios ou tocas Os animais que vivem em tocas ou refgios (parking offspring) geralmente so predadores de mdio ou grande porte, e dispem de armas naturais. As espcies de grande porte tendem a ter hbitos diurnos ou vespertinos (lees, ursos e tigres, por exemplo), e as de mdio porte, hbitos noturnos (lobos, hienas e raposas, por exemplo), mas ambas exibem notvel flexibilidade comportamental quando caam suas presas.
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No momento em que a parturio se aproxima, as fmeas deste grupo despendem algum tempo procurando refgios limpos e seguros, protegidos da luz, sem umidade e com substrato macio; os refgios se localizam prximos s fontes de alimento e gua, permitindo que as mes economizem energia e passem mais tempo prximas aos seus filhotes. Tal como nas espcies que constroem ninhos, os filhotes que so abrigados em tocas e refgios tm desenvolvimento lento, exibem baixa capacidade motora e podem ser alvos de infanticdio devido competio intra-especfica. Os animais geralmente so carnvoros de grande porte, produzem ninhadas menores e os intervalos entre os contatos da me com os filhotes so maiores em relao s espcies que deixam os filhotes em ninhos (hamsters, ratos, camundongos e gerbilos, por exemplo). Os filhotes deste grupo tambm so crpticos, silenciosos (s vezes emitem vocalizaes ultra-snicas que somente os membros de sua espcie escutam); as mes exibem placentofagia e ingerem a urina e as fezes expelidas pelos filhotes, pois eles podem ser mortos por predadores oportunistas de menor porte durante os longos perodos de ausncia da me, e alm disso este material ainda contm elementos de grande valor nutritivo. Devido aos longos perodos de ausncia materna, as mes que constroem ninhos ou usam tocas e refgios tendem a produzir leite mais rico em protenas e gordura, em relao s mes que transportam continuamente os filhotes. Diferentemente dos filhotes do primeiro grupo, a termo-regulao no constitui um problema muito srio, pois os filhotes nascem com uma camada de plos e a temperatura do ambiente no to baixa quanto do ambiente dos animais que constroem ninhos. Alguns animais de pequeno porte, como o hamster-dourado, vivem em desertos quentes, mas quando saem noite a temperatura comumente baixssima, e isto explica o acmulo de tecido adiposo marrom e os plos densos dos indivduos adultos. Os animais que abrigam os filhotes em tocas ou refgios escavam o solo ou amontoam o substrato, tornando o local de repouso mais confortvel. Enquanto os ninhos construdos por aves e roedores so mais elaborados e os animais usam material diversificado em sua elaborao, as tocas e os refgios so mais espaosos, e os usurios apenas escolhem ou moldam o local de acordo com suas convenincias. Em sistema de reproduo cooperativa (cooperative breeding), os animais compartilham o mesmo espao fsico, como marmotas ou gerbilos da Monglia, mas eles ocupam locais definidos e interagem de modo oportunstico.
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c) Filhotes que seguem os pais Os filhotes deste grupo exibem razovel capacidade motora e seguem as mes logo aps o nascimento. No momento do parto, as fmeas se afastam do bando ou mantm-se ligeiramente margem da aglomerao principal, parecendo evitar a proximidade fsica, mas, ao mesmo tempo, no abdicando da segurana proporcionada pelos conspecficos. Os filhotes nascem com boa capacidade motora, so de grande porte e acompanham os deslocamentos da me ou dos membros do bando quase que imediatamente aps o nascimento (leading-following pattern), tal como ocorre em muitas espcies de eqinos e bovinos. Diferentemente dos filhotes que so abrigados em ninhos ou refgios, animais deste grupo tm um nmero reduzido de filhotes por gestao geralmente um por gestao e estes no teriam problemas termo-regulatrios, pois a prpria locomoo gera calor, e os filhotes j nascem com um revestimento piloso. Os filhotes tm independncia locomotora, mas, assim como os animais velhos, fracos ou doentes, eles podem ser deixados para trs durante uma fuga do grupo. Quando eles se extraviam da me, eles emitem sinais claros (choros e splicas) que sinalizam sua posio; o reconhecimento rpido e imediato da figura materna fundamental para a sua sobrevivncia. Os animais deste grupo so herbvoros de grande porte; como no dispem de armas naturais, eles so alvos preferenciais de grandes felinos, mas minimizam os efeitos da predao atravs da mtua atrao entre os conspecficos e reproduo sincronizada (efeito de Frazer Darling). Os animais que exibem este padro de vida so diurnos e exploram um espao geogrfico bastante extenso (home-range). Os deslocamentos so constantes, pois os animais necessitam de uma enorme quantidade de alimento, mas alimento de baixo valor energtico e calrico em contraste com o consumo alimentar de felinos de grande porte, que ingerem alimentos de grande valor energtico, mas os intervalos entre as refeies podem ser de vrios dias; os filhotes exibem elevado peso corporal no nascimento, o desenvolvimento rpido e isto explica porque eles nascem um por vez e necessitam reconhecer o mais rapidamente possvel a figura materna dentro do grupo social.
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Algumas espcies deste grupo exibem notvel agilidade nos deslocamentos, como eqinos e cervdeos, o que por si s os torna menos vulnerveis a predao; outras espcies exibem uma enorme massa corporal (bises, elefantes e hipoptamos, por exemplo), o que dificulta a ao dominadora de grandes felinos. d) Filhotes que so transportados continuamente Os filhotes so semi-altriciais ou semiprecociais, pois eles exibem uma boa capacidade de apreenso e se atracam superfcie ventral do corpo da me logo aps o nascimento (clinging-carrying pattern). Os animais deste grupo produzem apenas um filhote por vez, como os primatas, pois o transporte de mltiplos filhotes dificultaria consideravelmente os deslocamentos da me calitriqudeos do luz dois ou trs filhotes por vez, mas os machos e os filhotes mais velhos auxiliam no transporte dos irmos mais novos. As mes marsupiais tm mais de um filhote por gestao e transportam continuamente a ninhada, mas eles so um caso parte devido ao fato de que os filhotes so extremamente diminutos em relao ao tamanho da me, exibem um padro de desenvolvimento neuromotor bastante diferenciado e so acomodados na bolsa marsupial, algo que poderamos chamar de gestao extra-uterina (ver RENFREE e SHAW, 1996; GEMMELL et al., 2002). O sistema termorregulatrio ainda no est plenamente desenvolvido, de modo que os filhotes podem se esfriar facilmente, mas o contato fsico constante com o corpo da me permite o aquecimento corporal e o acesso ao seio materno sempre que o filhote tiver fome. Diferentemente dos animais que permanecem em ninhos ou em refgios, o leite das mes que transportam os filhotes pobre em gordura e protenas, mas os intervalos entre as mamadas so menores, e os filhotes se desenvolvem mais lentamente. As espcies que deixam os filhotes em ninhos ou em tocas ou refgios do luz mltiplos filhotes, e as dificuldades no transporte da prole, seja devido ao prprio peso da carga, seja por dificuldades de manuseio, constituiriam por si s uma presso evolucionria para que os filhotes fossem acomodados em um local especfico. As mes transportam continuamente os filhotes e acompanham os deslocamentos do grupo. Os animais deste grupo comumente so oportunistas e consomem folhas, frutas e pequenos animais que encontram
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pela frente (insetos, rpteis e anfbios), tal como os primatas de pequeno e mdio portes (sagis, micos e macacos-prego, por exemplo). Animais deste grupo tambm exibem atrao mtua entre os indivduos do grupo e reproduo sincronizada, tal como em ungulados sociais. Entretanto, eles tm menor massa corporal, geralmente so arborcolas e exibem notvel plasticidade comportamental e exploram mais eficientemente os recursos do ambiente. Os custos energticos da amamentao se somam aos custos inerentes ao transporte dos filhotes, de forma que as mes geralmente perdem peso medida que os filhotes ganham massa corporal (transferncia de recursos energticos). As fmeas do luz um filhote a cada gestao; em outros casos, nascem mais de um filhote por vez, mas eles so extremamente diminutos em relao ao tamanho do corpo das mes (como os marsupiais) ou as mes contam com a ajuda de outros membros da famlia (machos consortes ou filhas mais velhas, como em calitriqudeos). e) Os bebs pertenceriam a que grupo? Inmeras evidncias indicam que o gnero Homo emergiu a partir de um sistema social e de caa-e-coleta. Com efeito, os bebs nascem, na grande maioria das vezes, individualmente, a sua precria capacidade termorregulatria no permite que passem muito tempo longe de uma fonte de calor (i.e., o corpo de um conspecfico adulto), necessitam ser alimentados vrias vezes ao dia, so extremamente vulnerveis predao e exibem certas respostas que atraem os adultos, como o sorriso e o choro. Com efeito, presume-se que o sorriso tenha surgido como um elemento para o estabelecimento do vnculo me-filhote e que o choro seja uma estratgia importante para sinalizar o desconforto trmico, a fome ou uma situao de risco. Atualmente, vrias culturas ainda vivem em sistema de caa-coleta; as mes transportam continuamente os filhos e amamentam por at quatro anos, fenmeno que funciona como um mtodo anticoncepcional natural. A composio do leite e os intervalos entre as amamentaes so indicadores importantes para a classificao dos animais nos grupos acima analisados. Em espcies que constroem ninhos ou que vivem em abrigos ou refgios, os filhotes tendem a se desenvolver mais rapidamente; como os intervalos entre as amamentaes so mais longos, o leite materno tende a ser mais concentrado e rico em gordura.
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Em humanos, o leite materno muito diludo (4,2% de gua e 0,9% de protena), o que sugere que os bebs devem ser amamentados de forma contnua, ou os intervalos entre os episdios devem ser bem menores (ver EWER, 1968). Em espcies que nascem com razovel capacidade motora, os filhotes acompanham os deslocamentos da me logo aps o parto e o leite materno tem um nvel de concentrao intermedirio entre o leite de animais que constroem ninhos ou que deixam os filhotes em abrigos ou aqueles que transportam continuamente os filhotes (primatas). De acordo com Martin (1990), a imagem de imaturidade do beb ilusria e est mais relacionada com o seu baixo desenvolvimento locomotor e a ausncia de plos, o que sugere imediatamente que a espcie humana exibe um desenvolvimento tpico de espcies altriciais. Esta classificao inadequada, pois os bebs j nascem com os olhos e ouvidos abertos, e vocalizam excessivamente quando necessitam de cuidados parentais; alm disso, eles exibem uma cobertura de plos durante a fase de desenvolvimento intra-uterino (lanugo), mas perdem-na medida que a gravidez avana bebs prematuros s vezes nascem com esta cobertura intacta, o que assusta as mes! , sugerindo que a espcie humana exibe uma forma de especializao derivada do padro de desenvolvimento precocial. Os pais comumente embalam os bebs no momento em que estes choram. Segundo o notvel psiclogo John Bowlby (1984), o ritmo dos movimentos da me deve ser o mais prximo possvel da marcha normal (i.e., igual ou ligeiramente acima de 60 ciclos/minuto), parecendo indicar um resqucio do padro caador-coletor de nossos ancestrais homindeos. Durante os transportes, os bebs so amamentados continuamente; nos dias atuais, a freqncia de amamentao varivel, indo desde a amamentao em esquema ad libitum (indgenas e caadores-coletores) ou pode variar desde 5,7 (Alemanha) at 8,6 vezes (Portugal) ao dia (MANZ et al., 1999). As mes indgenas so uma espcie de bero ambulante, fenmeno que provoca o envelhecimento precoce, diminuio da longevidade e baixas taxas reprodutivas (ver FREYRE, 1933/1999; CHAGNON, 1992). Em comunidades de caadores-coletores os intervalos entre as gestaes so freqentemente superiores a quatro anos, e as taxas de mortalidade infantil se elevam em funo dos custos de obteno do alimento (i.e.,
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quando h necessidade de percorrerem distncias maiores ou quando transportam cargas mais pesadas) ou em funo da diminuio dos intervalos entre as parturies (BLURTON-JONES, 1986, 1987). As mulheres ocidentais diferem, portanto, das indgenas no que diz respeito forma como do luz (decbito dorsal, no de ccoras), amamentam menos tempo, deixam os bebs sob os cuidados de outras pessoas e tambm quase nunca transportam os bebs, em comparao com o modo de vida das mulheres indgenas. Na nossa cultura, o parto muitas vezes realizado na presena de pessoas estranhas e as mes s tm acesso ao neonato algum tempo depois em condies crticas, como nas intervenes cesarianas, as mes so submetidas a uma cirurgia, e os efeitos da anestesia s permitem que elas tenham acesso ao beb no dia seguinte ou mesmo depois. Como na espcie que transporta o filhote, o contato me-beb imediatamente aps o parto importante, pois permite o estabelecimento de um vnculo emocional entre os dois; ao mesmo tempo, o corpo da me proporciona conforto trmico ao beb. As mes exploram muito o corpo do beb, principalmente se este for menino, acariciam-no, e isto proporciona uma espcie de massageamento. Atualmente, os profissionais que lidam com recm-nascidos (obstetras e enfermeiros) valorizam muito o relacionamento inicial entre as mes e seus bebs, influenciados pelas descobertas da Etologia e Psicologia Infantil. Outras evidncias mostram a importncia dos contatos fsicos entre a me e o beb, sugerindo que estes devem ser transportados continuamente. A tcnica denominada me-canguru utilizada em algumas maternidades, como alternativa ao uso de incubadoras para a preservao da vida de bebs prematuros. Esta tcnica permite que os bebs prematuros (com peso inferior a 2.000 g) tenham contato direto com a pele da me, sem que haja queda na temperatura (axilar) ou que o manuseio interfira no repouso do beb (medies dos movimentos corporais) (CONSTANTINOU et al., 1999; TESSIER et al., 2003). Os efeitos da tcnica me-canguru ainda so pouco conhecidos, pois um estudo revelou que a estabilidade da freqncia cardaca, da respirao e da saturao de oxignio (oximetria) de bebs prematuros (de ambos os sexos, com 25-32 semanas de gestao e peso corporal variando de 760-1.610 g) no exibiram variaes significantes antes, durante e aps os cuidados de mes-cangurus (FISCHER et al., 1998).
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Alguns resultados indicam que o contato ntimo com o beb facilita a formao do apego mtuo, mas os bebs prematuros podem exibir um pequeno aumento da temperatura retal (36,9o para 37,3o C), uma diminuio do fluxo respiratrio regular (14%), associado com maior incidncia de bradicardia e hipoxemia, provavelmente devido ao estresse trmico (BOHNHORST et al., 2001). Do ponto de vista psicolgico, a tcnica me-canguru facilita o vnculo afiliativo entre os indivduos da trade (me, pai e beb), pois os casais se tocam mais e exibem olhares direcionados, entre eles ou em direo ao beb, e a trade permanece mais tempo em proximidade fsica (FELDMAN et al., 2003). Entretanto, a fragilidade e a susceptibilidade dos bebs prematuros a choques trmicos so fatores que devem ser considerados quanto adotamos tais procedimentos, principalmente quando realizados no ambiente domstico. Cuidados aloparentais e a funo do marspio social Animais de pequeno porte geralmente vivem menos e procriam o ano inteiro, como roedores; os custos da procriao recaem integralmente sobre as mes, mas em algumas espcies os machos auxiliam a fmea, seja direta (transferncia de calor ou recuperao de filhotes quando estes se afastam do ninho, por exemplo), seja indiretamente (afastamento de predadores e arrumao do ninho, por exemplo). Todavia, em primatas sociais, os partos ocorrem em perodos delimitados do ano e vrios membros do grupo exibem interesse pelo evento. Os filhotes exibem baixa capacidade motora, as mes no permitem que eles saiam de seus braos, e ambos passam a maior parte do tempo em contato fsico; os filhotes dependem do leite materno, e um afastamento longo pode causar prejuzo ao seu desenvolvimento. Com poucas semanas de vida, eles gradativamente comeam a explorar o ambiente ao seu redor, sempre encontrando um indivduo adulto que o acolhe, principalmente fmeas jovens e nulparas; o filhote pare que cresce numa espcie de marspio social. Entre os mamferos que do luz simultaneamente, as fmeas se ajudam mutuamente na criao dos filhotes, e outros indivduos adultos ou subadultos transportam, limpam e proporcionam segurana aos indivduos mais jovens do grupo. Em chacais (Canis mesomelas), a fmea e o macho caam juntos e deixam para trs os filhotes, sob os cuidados de outros indivduos adultos; a taxa de sobrevivncia dos filhotes est positivamente correlacionada com o nmero de ajudantes (MOEHLMAN, 1989).
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Em primatas, indivduos adultos despendem ateno e cuidados aos filhotes, mas os cuidados aloparentais podem proporcionar algumas vantagens aos adultos, pois os filhotes podem servir como uma espcie de passaporte para o acesso a outros animais ou fontes de alimento. Em mangustos africanos (Suricata suricatta), adultos de ambos os sexos contribuem para a defesa e a alimentao dos filhotes, e as taxas de mortalidade infantil so mais baixas em grupos numerosos curiosamente, as fmeas lactantes expulsam as subordinadas, provavelmente devido aos riscos de infanticdios, mas elas retornam algum tempo depois e auxiliam as mes nos cuidados aos filhotes (CLUTTON-BROCK et al., 1998; DOOLAN e MACDONALD, 1999). Os cuidados cooperativos tm algum custo para os indivduos que montam guarda nas ninhadas (babysitting), pois eles chegam a perder entre 1 a 2% da massa corporal (CLUTTON-BROCK et al., 1999). Alm disso, a estratgia facilita a transmisso de ectoparasitos dentro da colnia, eleva os riscos de infanticdios, e, claro, dificulta a disperso no ambiente. Parece que o sistema cooperativo est relacionado com as adversidades ambientais, tais como dificuldades para obteno de alimento, riscos de predao e baixas temperaturas (BLUMSTEIN e ARMITAGE, 1999). Os benefcios do vnculo entre as fmeas so difceis de serem aferidos, mas uma avaliao das taxas de mortalidade infantil de babunos (Papio cynocephalus), durante um perodo de 16 anos, revelou que a ligao social entre as fmeas estava positivamente relacionada com o decrscimo da mortalidade infantil (SILK et al., 2003). Em algumas espcies de mamferos, os filhotes vivem num sistema familiar e so criados numa creche comunitria. Em uma espcie de morcego que habita os EUA e o Mxico (Tadarida brasiliensis mexicana), a creche chega a conter 4.000 filhotes/m2, e a colnia, milhes de indivduos. As mes conseguem reconhecer seus prprios filhotes dentro do aglomerado de indivduos, pois o exame de certas enzimas contidas em amostras de sangue de fmeas e filhotes lactentes (um exame parecido com os testes de DNA) mostrou que elas amamentam outros filhotes (altrusmo recproco), mas cerca de 80% das vezes elas foram encontradas amamentando seus prprios filhotes (MCCRAKEN, 1984). Tal como ocorre com agrupamentos de animais sociais, as mes e os filhotes se reconhecem mutuamente,
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e exibem respostas parentais e afiliativas de modo seletivo. O roubo de leite pouco freqente, mas as altas taxas de filhotes que chegam fase de desmame sugerem que as adoes so pouco freqentes dentro das creches (MCCRAKEN e GUSTIN, 1991). Na creche comunitria vivem filhotes de diferentes idades, e ela um refgio seguro para os animais. Um estudo realizado com um morcego indiano (Megaderma lyra) revelou que as mes saem para caar com o filhote atracado ao seu corpo, permitindo que o filhote seja amamentado durante o vo. Aps o stimo dia de vida, o filhote deixado nos abrigos; quando retornam dos vos, as mes dirigem seletivamente suas atenes para o prprio filhote (BALASINGH et al., 1998). Em alguns casos os filhotes tentam roubar leite de outras fmeas, mas raramente so bem sucedidos estima-se que os filhotes de morcego vermelho (Nyctalus noctula) tm apenas 14% de chances de serem amamentados por outras mes (KOZHURINA, 1993). As creches comunitrias no so apenas um aglomerado de morcegos; as adoes so praticamente inexistentes, pois as fmeas reconhecem seus filhotes e os rfos somente poderiam ser adotados em condies excepcionais (por exemplo, no momento em que uma fmea lactante perde o seu filhote e encontra um rfo no mesmo estgio de desenvolvimento). Em primatas, as tias ou fmeas subadultas auxiliam as mes. Embora as adoes completas sejam fenmenos raros, elas foram documentadas em algumas espcies (ver GUERRA, 1989; 2000). Em certas circunstncias, uma fmea chega a amamentar filhotes de outras fmeas ou mesmo filhotes de uma outra espcie (cross-fostering, ver GUERRA et al., 1998), o que surpreendente devido aos custos energticos da amamentao. Em uma reviso sobre este tema, Roulin (2002) sugere que as fmeas agem desse modo devido a trs fatores: erros na identificao de seus prprios filhotes, seleo parental, pois os filhotes da colnia provavelmente tm algum parentesco com as fmeas, e, portanto, a alocao de leite no representa um desperdcio, ou as fmeas amamentam outros filhotes simplesmente para se verem livres do desconforto causado pelas mamas repletas de leite. A presena de ajudantes depende dos benefcios auferidos pelo investimento numa prole alheia, tanto para as ajudantes quanto para as mes e seus filhotes. No momento em que os benefcios auferidos so assimtricos, favorecendo mais as mes, o comportamento de ajuda circunstancial e mais praticado por indivduos jovens e inexperientes;
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com o surgimento da maturidade sexual, torna-se mais importante que o investimento parental dos ajudantes seja alocado para os seus prprios filhotes. Quando os filhotes so muito pesados em relao ao peso das mes, ou quando as fmeas do luz vrios filhotes simultaneamente, os indivduos do grupo podem auxiliar nos cuidados prole, dando surgimento ao sistema biparental e maternidade comunitria (em algumas espcies, as fmeas do luz simultaneamente e isto pode favorecer o surgimento da ajuda mtua entre as mes), e a reciprocidade e a alternncia de papis entre as fmeas (como a parturio sazonal, uma fmea no lactante pode auxiliar uma me, e em outra estao pode ocorrer uma troca de papis). A reproduo cooperativa mais freqente em grupos compostos por indivduos aparentados (kin selection) e que vivem em sistema familiar. Padres de desenvolvimento dos filhotes a) Complexo altricial Espcies altriciais nascem com os olhos e os ouvidos fechados, exibem pouca capacidade fsica e motora, so completamente dependentes da me para a aquisio de alimento, proteo contra predao e manuteno da temperatura corporal. Devido s peculiaridades dos mamferos, a maior parte do desenvolvimento do SNC ocorre no perodo fetal e nos primeiros estgios aps o parto, indicando que o fornecimento alimentar oferecido pelas mes de vital importncia para o desenvolvimento normal dos filhotes. Se levarmos em considerao as caractersticas de um adulto, o peso do crebro de filhotes consideravelmente maior nas espcies precociais. Uma comparao entre as espcies que exibem a mesma massa corporal revela que os filhotes mamferos precociais exibem peso cerebral 4,5 vezes maior que o de espcies altriciais; por outro lado, o crebro dos indivduos adultos precociais cerca de 2,5 maior que o de um recm-nascido, enquanto nas espcies altriciais cerca de 7,5 maior. Espcies precociais exibem capacidade reprodutiva limitada, os filhotes passam por um perodo de gestao maior, as fmeas exibem ciclos estrais longos e no apresentam estro postpartum, os filhotes so amamentados por mais tempo e se desenvolvem mais lentamente que filhotes altriciais (MARTIN, 1990, 2003; CLUTTON-BROCK, 1991;
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SIKES e YLONEN, 1998). Estas diferenas revelam claramente que o crebro de um filhote altricial menor no momento do nascimento, mas aumenta substancialmente de volume na fase postnatal. Filhotes altriciais nascem de olhos e ouvidos selados por uma membrana, so desprovidos de plos e, portanto, mais vulnerveis s diminuies da temperatura do ambiente para minimizar os efeitos da hipotermia, os filhotes passam muito tempo em contato fsico com a me e com os irmos. As espcies altriciais exibem alto potencial reprodutivo, em contraposio s espcies precociais, que exibem limitada capacidade reprodutiva, longo perodo de gestao, longo perodo estral, ausncia de estro postpartum e desenvolvimento postnatal lento (por exemplo, roedores e primatas, respectivamente). As mes que produzem ninhadas compostas por trs ou mais filhotes, e estes somente abrem os olhos aps o quinto dia de vida, so classificadas como espcies altriciais. Mes que do luz ninhadas compostas por, em mdia, 1,5 filhotes, e estes j exibem abertura dos olhos desde o primeiro dia de vida, so classificadas como espcies precociais. Por outro lado, as espcies intermedirias so aquelas em que as mes do luz ninhadas compostas por 1,5 a 3 filhotes, e estes abrem os olhos entre o primeiro e o quinto dia de vida (MARTIN, 1990, 2003). Espcies altriciais geralmente constroem ninhos e este padro de desenvolvimento ocorre na maioria das espcies de aves. As espcies que produzem ninhadas geralmente constroem ninhos ou vivem em tocas e refgios. O contato fsico com a me ou com os irmos permite a transferncia de calor e a preservao da temperatura corporal. As mes recuperam os filhotes que saem do ninho, proporcionam estimulao somatossensorial, por meio de vigorosas lambidas no corpo, ingerem a urina e as fezes dos filhotes, e exibem agresso postpartum dirigidas aos invasores do ninho. O complexo altricial comumente est relacionado com a estratgia reprodutiva r, pois os filhotes nascem em ninhadas e morrem com facilidade. A composio do leite materno depende da disponibilidade das mes, pois elas podem ter contato contnuo com os filhotes (primatas e marsupiais, por exemplo), ou os intervalos entre os contatos maternos podem variar muito ao longo do dia (duas a 24 horas, como em roedores, candeos e ovdeos, por exemplo).
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As mes que permanecem continuamente em contato fsico com os filhotes geralmente produzem leite bastante diludo (i.e., mais gua e menos gordura e protena). Em mamferos aquticos (golfinhos, focas e baleias, por exemplo), as mes e os filhotes vivem em ambiente frio, e no existe a possibilidade de transferncia de calor; o leite materno mais concentrado (i.e., menos gua, mais gordura e protena). Nos animais que amamentam em intervalos regulares a composio do leite depende do tempo em que o filhote permanece sozinho no ninho ou em abrigos. b) Complexo precocial Em mamferos precociais, os filhotes exibem uma mudana rpida na seqncia de desenvolvimento cerebral. Na fase intra-uterina o crebro cresce mais rapidamente, em relao ao desenvolvimento do restante do corpo, mas, logo aps o nascimento, ocorre uma brusca desacelerao. Por outro lado, esta seqncia de desenvolvimento continua por um bom tempo em filhotes altriciais, o que torna o desenvolvimento cerebral mais lento nestas espcies. Bebs humanos diferem de outros mamferos placentrios, na medida em que a seqncia de desenvolvimento cerebral continua por cerca de 12 meses aps o nascimento. Somente a partir do momento em que completam o primeiro ano de vida que os bebs passam a exibir uma taxa de desenvolvimento cerebral semelhante ao de um primata precocial tpico. O desenvolvimento postnatal dos bebs permite que o crebro humano aumente cerca de 3,5 vezes, desde o nascimento at a vida adulta, enquanto em outras espcies este crescimento de apenas 2,3 vezes. O aumento substancial do peso cerebral s foi possvel a partir de uma espcie de gestao extra-uterina, desde o nascimento at o final do primeiro ano de vida. Devido ao longo tempo de gestao, s baixas taxas reprodutivas (um beb por gestao, na maioria dos casos), ao lado do fato de que os bebs nascem com olhos e ouvidos abertos, chegou-se concluso de que ns seguimos o padro altricial secundrio (ver MARTIN, 1990, 2003). Os filhotes precociais exibem boa capacidade motora imediatamente aps o parto, so capazes de emitir vocalizaes e seguem as mes em seus deslocamentos. Eles nascem com um revestimento piloso,
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so menos vulnerveis s diminuies da temperatura do ambiente e geralmente pertencem s espcies sociais de grande porte, como os mamferos das ordens Artiodactyla e Perissodactyla. Diferentemente das espcies altriciais, que vivem em ninhos ou em abrigos, os animais precociais so nmades primatas tambm se deslocam muito durante o dia, mas os filhotes so transportados pelas mes e no exibem padres comportamentais tpicos de espcies predadoras. O sistema biparental e a monogamia tambm esto relacionados com o nvel de maturidade do filhote recm-nascido, pois tais estratgias reprodutivas esto presentes em algumas espcies altriciais, inexistindo nas precociais. O complexo precocial geralmente est relacionado com estratgias reprodutivas K, pois os filhotes nascem um por vez, so abrigados em refgios e acompanham as mes durante os deslocamentos dirios (ver discusso logo abaixo). Animais deste grupo geralmente so de grande porte, necessitam percorrer longas distncias em busca de alimento (cervdeos, eqdeos e bovdeos, por exemplo); em mamferos aquticos, os filhotes acompanham os movimentos das mes; calcula-se que 10% das aves sejam compostas por espcies precociais, mas exibem um estgio abreviado de vida altricial os filhotes ganham independncia termorregulatria muito cedo, mas mantm-se prximos me, seguindo-a em seus movimentos. Mecanismos reprodutivos: estratgias K e r Os organismos exibem diferentes estratgias de acasalamento, e as taxas reprodutivas esto relacionadas com a longevidade, amassa corporal e o aproveitamento dos recursos do ambiente. Animais de grande porte so mais vulnerveis ao empobrecimento dos recursos do ambiente, seja devido especializao, seja ao montante de alimento necessrio sobrevivncia; para enfrentar tais adversidades, mamferos de grande porte exibem maior plasticidade comportamental durante as atividades de caa ou de forrageio, e esto no topo da cadeia alimentar. Em contraposio, organismos de pequeno porte so susceptveis a predao, geram um nmero enorme de descendentes, vivem menos tempo, exibem estereotipia comportamental e habitam mundos diferentes (s vezes dentro do corpo de um organismo maior). Os primeiros aproveitam ao mximo os recursos oferecidos pelo ambiente, mas o desperdcio enorme entre os animais do segundo grupo (ver GUERRA, 2000).
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Os organismos podem ser agrupados de acordo com as taxas reprodutivas e a forma como eles aproveitam os recursos ambientais. De acordo com a obra clssica de MacArthur e Wilson (1967), algumas espcies de pequeno porte exibem taxas reprodutivas elevadas, desperdiam muito os recursos e a evoluo parece ter favorecido o fator produo (estrategistas r). Por outro lado, espcies de grande porte so mais susceptveis aos efeitos da superpopulao, produzem poucos filhotes e vivem mais tempo (estrategistas K), de forma que a evoluo parece que favoreceu a eficincia no momento da converso de alimento em filhotes, com pouco desperdcio neste processo. Primatas de modo geral so estrategistas K, e isto facilmente comprovado na medida em que estes animais exibem alto investimento parental e interao social complexa, as taxas de mortalidade infantil so razoavelmente baixas e so direcionadas a certos indivduos (filhotes doentes e fracos ou indivduos velhos), os animais exibem baixa taxa de reproduo (usualmente proles de um ou, como no caso de calitriqudeos, dois filhotes) e longo perodo de vida (normalmente mais de um ano). Os estrategistas K exibem maior nvel de plasticidade comportamental e grande capacidade de aprendizagem e imitao. A taxa de reproduo baixa e, grosso modo, a nfase na eficincia e no na produtividade, como no caso de animais estrategistas r (insetos ou roedores). Em alguns casos, os animais adotam uma estratgia intermediria entre a seleo K e r, ou podem ser classificados como semiprecociais. De modo geral, roedores adotam a estratgia r, e os filhotes so classificados como altriciais, mas algumas evidncias apontam que espcies muito prximas podem exibir padres comportamentais muito diferentes, tal como ocorre com duas espcies de ratos silvestres pertencentes ao mesmo grupo zoolgico, Microtus pennsylvanicus e Microtus ochrogaster. Com efeito, parece que os primeiros adotam a seleo r, pois os machos copulam com vrias fmeas, vivem num ambiente instvel, a populao s vezes decai abruptamente, e a ninhada geralmente composta por 4,9 a 5,1 filhotes. Por outro lado, M. ochrogaster adotam a seleo K, pois os animais vivem num sistema monogmico, seu ambiente mais estvel, os filhotes crescem mais lentamente, a longevidade maior, e as ninhadas so compostas por 3,5 a 3,6 filhotes (WANG e INSEL, 1996).
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Em espcies que do luz muitos filhotes a cada gestao, as mes despendem menos tempo amamentando os filhotes, mas tendem a produzir leite mais concentrado, e os filhotes se desenvolvem mais rapidamente, em relao s espcies que produzem poucos filhotes por gestao e que exibem intervalos curtos entre as amamentaes (MARTIN, 1990, 2003; CLUTTON-BROCK, 1991). Um outro exemplo diz respeito s diferenas entre o hamster-siberiano (Phodopus sungorus) e o hamster-djungariano (Phodopus campbelli), duas espcies tambm pertencentes ao mesmo gnero. Os primeiros so solitrios e polignicos, mas hamster-djungarianos so monogmicos, coabitam com as fmeas num sistema biparental, ajudam-nas durante o nascimento dos filhotes, limpam e proporcionam conforto trmico aos filhotes recm-nascidos, e ingerem a placenta e o lquido amnitico durante o parto (JONES e WYNNE-EDWARDS, 2000; REBURN e WYNNE-EDWARDS, 1999). Alguns insetos vivem num sistema social bastante complexo, envolvendo diviso de tarefas, reproduo monogmica, como espcies da ordem Hymenoptera. Em trmites, o zango e a rainha podem viver juntos por muitos anos; a rainha s vezes capaz de produzir cerca de 36.000 ovos por dia, e uma vez que pode viver cerca de 60 a 70 anos, ela produz milhes e milhes de descendentes ao longo da vida. Nessas condies inimaginvel que os pais possam despender cuidados parentais a um nico indivduo, tal como ocorre entre os mamferos estrategistas K. Dessa forma, a anlise comparativa e a utilizao dos postulados que levam em conta os custos energticos do investimento parental podem auxiliar a entender melhor o valor funcional do comportamento, no momento em que espcies prximas exibem comportamentos dspares ou quando espcies distantes exibem comportamentos similares. Por que os filhotes so atraentes? A maior parte dos filhotes de mamferos tm um aspecto bastante atraente e os traos infantis despertam respostas afiliativas em adultos e crianas, principalmente entre indivduos do sexo feminino; indivduos imaturos pertencentes a outras classes, como Reptilia, Insecta ou Pisces, por exemplo, no exibem esta caracterstica exceto as figuras antropomrficas dos cartoons e histrias infantis.
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Animais tipicamente predadores e ferozes so utilizados como modelos em desenhos animados, histrias em quadrinhos ou artefatos para crianas (bichos de pelcia, bonecos e figuras decorativas). Animais como ursos, lees, tigres, gorilas ou elefantes no pertencem ao nosso mundo real, e, com efeito, so poucos as pessoas que sequer tiveram oportunidade de ver in loco um animal desses ao longo da vida, seja em zoolgicos, seja em circos tocar fisicamente altamente improvvel. muito importante para os filhotes altriciais ou semi-altriciais que os parentes e indivduos adultos exibam um forte interesse por eles, pois eles no tm uma capacidade motora que os capacite autodefesa ou obteno de recursos por meios prprios e so alvos fceis de predao e vulnerveis s variaes climticas. Assim como os filhotes de ursos, gatos ou lobos, o beb exerce um fascnio nas pessoas e este fenmeno est relacionado com certas caractersticas fsicas e comportamentais. Devido seqncia de desenvolvimento cfalo-caudal, os filhotes nascem com um crebro razoavelmente bem desenvolvido, a cabea muito grande em relao ao restante do corpo se um adulto tivesse uma cabea com a mesma proporo que a de um beb, ele seria visto como uma pessoa portadora de uma grave anomalia fsica e os olhos bem desenvolvidos do-lhes um aspecto de vivacidade. No que diz respeito ao comportamento, certas respostas emitidas pelos bebs tm a capacidade de eliciar o comportamento afiliativo dos adultos, principalmente certos tipos de vocalizaes, o abocanhamento do seio materno ou mesmo a sua expresso facial (o sorriso, em humanos). A cabea desproporcionalmente grande, mas com pouco prognatismo mandibular e nasal, olhos bem desenvolvidos em relao cabea, movimentos corporais desajeitados e membros curtos e grossos funcionariam como um estmulo-sinal que ativaria um hipottico mecanismo contido no Sistema Nervoso Central, o mecanismo liberador inato. O interesse humano por filhotes mamferos mostra a fora de nossa herana filogentica, pois indivduos jovens pertencentes a outras classes (por exemplo, insetos, anfbios e peixes) no exibem tais caractersticas e, portanto, no eliciam respostas afiliativas nas pessoas adultas.
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Os bebs so atraentes e comumente utilizados como passaportes para as interaes sociais entre pessoas estranhas. Por outro lado, bebs que desafortunadamente exibem alguma anomalia (deformidades do crnio ou da face, por exemplo) geralmente so negligenciados ou vtimas de maus-tratos. Com efeito, mes de crianas com tais deformidades conversam menos com os filhos (ALLEN et al., 1990); embora as mes relatem uma satisfao com os filhos portadores de anomalias craniofaciais, mais que as mes de crianas normais, elas conversam ou sorriem menos para os filhos, assim como so menos responsivas, suas aes no so contingentes com os apelos da criana, e imitam pouco os filhos portadores dessas deformidades (FIELD e VEJALHR, 1984; BORDEN et al., 1989). Mes de bebs bonitos e atraentes brincam ou exibem mais afeio aos filhos (i.e., beijam, embalam, exibem brinquedos como estmulos brincadeira e falam mais com os bebs) que as mes de crianas pouco atraentes os bebs foram fotografados inicialmente e as imagens foram apresentadas a um grupo de homens e mulheres, para determinar o grau de beleza e permitir uma anlise correlacional entre este fator e o tempo despendido pelas mes em diferentes atividades (LANGLOIS et al., 1995). As caractersticas que tornam os bebs atraentes so as mesmas que indicam sade e vitalidade. Com efeito, estes indicadores esto relacionados com a sade e a viabilidade da prole, tais como o acmulo de gordura no corpo, cabea e olhos bem desenvolvidos, em relao ao restante do corpo, colorao e brilho da pele e dos olhos, reflexos e movimentos corporais vigorosos e, principalmente, exibio de respostas afiliativas contingentes ao comportamento dos pais (vocalizaes, sorrisos, fitao e imitao de certas expresses faciais dos adultos, indicadores de uma boa capacidade perceptiva). Bebs subnutridos, portadores de anomalias craniofaciais ou alguma paralisia do corpo em decorrncia de leses cerebrais no exibem tais habilidades e so mais susceptveis negligncia parental ou so simplesmente abandonados. Profissionais que trabalham com crianas (pediatras, enfermeiras, educadores ou psiclogos) devem ter um treinamento especial para julgar a capacidade motora e cognitiva de bebs, pois eles crescem rapidamente e exibem mudanas comportamentais importantes quase que da noite para o dia. Um estudo revelou que profissionais experientes julgam a capacidade fsica e intelectual de bebs levando em conta a aparncia fsica (oito fotografias do rosto de bebs de seis meses de vida,
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de ambos os sexos, previamente classificadas por um grupo de pessoas como atraentes ou pouco atraentes). Em relao aos bebs atraentes, eles julgam os bebs pouco atraentes como mais velhos, com menos habilidades sociais, fsicas e intelectuais. Meninos atraentes so vistos como intelectualmente superiores s meninas atraentes; quando os dois so pouco atraentes, as meninas venciam os meninos neste quesito. Tambm foi notado que o conhecimento prvio das idades dos bebs interfere nos julgamentos, pois os profissionais eram mais severos quando julgavam bebs pouco atraentes e com idade conhecida (CASEY e RITTER, 1996). A aparncia fsica tem efeitos importantes para a auto-imagem, o julgamento das pessoas e a ascenso profissional. Crianas atraentes so vistas como tendo maior capacidade intelectual (CLIFFORD e WALSTER, 1973; CASEY e RITTER, 1996) e mais talentosas ou aptas para estudos acadmicos (LANDY e SIGALL, 1974; ZAHR, 1985). A beleza de indivduos adultos tambm interfere no sucesso profissional, e os anncios de oferta de empregos veiculados em jornais brasileiros, fornecem amplas evidncias dessa importncia, quando exigem que os candidatos tenham boa aparncia. Um estudo feito com bebs prematuros mostrou a existncia de uma correlao negativa significante entre o aspecto fsico pouco atraente com o tempo de hospitalizao (p < 0,002) e os escores de riscos neurobiolgicos (p < 0,001) dos bebs. Por outro lado, foi notada uma correlao positiva entre o aspecto fsico atraente e o ganho de peso final quando os bebs saam do hospital (p < 0,03), indicando que o baixo nvel de atrao pode ter efeitos malficos para a sade dos bebs e que mesmo profissionais bem treinados podem exibir tais vieses (BADR e ABDALLAH, 2001). A beleza fsica uma caracterstica valiosa, pois os indivduos mais bonitos so beneficiados desde os primeiros dias de vida, so mais bem remunerados (veja os exemplos de atores, modelos da alta costura e polticos que exibem tais caractersticas), e as pessoas inconscientemente associam certos traos morfolgicos (simetria facial, baixa proporo cintura/quadril das mulheres, ausncia de deformidades sseas e qualidade da pele, por exemplo) com sade e potencial reprodutivo. Dependendo das circunstncias, as pessoas tambm relacionam rostos bonitos com honestidade, inteligncia, integridade moral e apego familiar.
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O rosto o nosso carto de visita, pois ele oferece vrias informaes importantes no primeiro contato; antes do surgimento da linguagem ou mesmo da escrita, tais informaes eram importantes para o relacionamento dos antigos homindeos. Moduladores infantis do comportamento parental: choros e splicas A literatura descreve o filhote primata como imaturo, inerte e pouco responsivo, o que parcialmente verdadeiro, mas ele desempenha um papel importante para a modulao do comportamento materno. Os bebs so muito ativos logo aps o parto, imediatamente abrem os olhos, vocalizam muito durante a parturio, orientam a cabea e abrem a boca, de forma sincronizada, em direo s mamas. Eles nascem com os olhos e ouvidos abertos e sinalizam eficientemente o desconforto fsico; com poucos dias de vida, eles j interagem com os pais, reconhecem seus rostos e exibem sorrisos e olhares de interesse ou sinalizam o desconforto fsico atravs de choros, revelando algum tipo de controle sobre os adultos familiares. Em espcies que do luz vrios filhotes ao mesmo tempo e estes so abrigados em ninhos ou em tocas e refgios, os filhotes competem entre si pelo acesso ao leite materno e, portanto, devem emitir sinais aos pais acerca de suas necessidades. Tal como o choro do beb e as vocalizaes dos filhotes de algumas espcies de primatas, o comportamento de splica (begging behavior) tem um custo energtico considervel e expe os filhotes ao de predadores, mas, ao mesmo tempo, serve para sinalizar que o filhote necessita de alimento ou est exposto ao frio, por exemplo. O naturalista Charles Darwin (1809-1882) j notara a importncia do choro em bebs e em outras espcies de mamferos; George Romanes (1848-1894), entusiasta das idias de Darwin e autor do primeiro livro sistemtico sobre Psicologia Comparativa, j mencionava que gatos exibem este comportamento quando tm fome e cita-o como exemplo revelador da inteligncia desses animais. Choros e splicas so moduladores do comportamento parental ou resultam da competio entre irmos, principalmente entre filhotes que nascem em ninhadas. O nmero de mamas geralmente o dobro do tamanho mdio das ninhadas (ver GUERRA e NUNES, 2001),

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mas os filhotes competem entre si pelo acesso s mamas que produzem mais leite; em aves, os pais alimentam os filhotes um por vez e, com efeito, a competio maior. De acordo com Kilner e Johnstone (1997), este fenmeno ocorre em insetos, aves, anfbios e algumas espcies de mamferos (camundongos, porcos e focas). Os animais devem emitir sinais honestos de splica, indicando uma necessidade, pois, caso contrrio, os pais podem ignorar os apelos dos filhotes. Com efeito, presume-se que este mecanismo tenha surgido da seguinte forma: inicialmente, os filhotes comearam a emitir sinais de splica de baixo custo energtico; no momento em que os pais comearam a alocar mais alimento aos filhotes suplicantes, cada vez mais as presses evolucionrias atuariam em favor dessa estratgia e, alm do mais, os filhotes que passaram a exibir sinais mais intensos e vigorosos de choros e splicas passaram a receber mais ateno dos pais. Uma vez que os custos energticos deste comportamento se elevaram em funo da freqncia e da intensidade, os pais passaram a ser mais seletivos, ignorando os sinais de menor intensidade; devido ao fato de que os custos crescentes desta estratgia comportamental nem sempre ultrapassam os benefcios energticos auferidos e as pistas lanadas pelos filhotes tambm servem como chamarizes para predadores, no difcil concluir que, do ponto de vista evolucionrio, os choros e splicas so sinais honestos que indicam algum problema dos filhotes (KILNER e JOHNSTONE, 1997; SMISETH et al., 2001; ROYLE et al. 2002). A comunicao me-beb (ou filhote) deve ser a mais eficiente possvel, permitindo o mtuo reconhecimento. Os bebs facilmente eliciam respostas afiliativas num adulto, seja fitando-o mais tempo que o normal, seja exibindo um sorriso direcionado. O choro um importante componente da interao me-beb, pois as mes respondem prontamente aos apelos do beb na cultura brasileira, existe uma frase popular que revela a importncia e o valor instrumental do choro infantil: quem no chora no mama. A qualidade do choro, em termos de suas propriedades acsticas e durao, um indicador da sade e do vigor da criana, pois envolve atividade muscular e um aumento no dispndio de energia de cerca de 13%. Lummaa e colaboradores (1998) argumentam que infanticdios e, algumas vezes, canibalismo eram freqentes em grupos de homindeos no Paleoltico Superior. O infanticdio ocorria quando nasciam gmeos,
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em caso de m-formao do beb, quando os partos eram pouco espaados, em situaes ecolgicas adversas ou quando havia pouca disponibilidade de alimento. Dentro dessa perspectiva, o choro seria uma adaptao ao infanticdio e indicaria um beb de boa qualidade; quanto mais vigoroso o choro, mais os pais investiriam no beb, e a amamentao prolongada aumentaria os intervalos entre as gestaes, beneficiando a me e o prprio beb. O choro sinaliza desconforto fsico (dor, fome ou queda da temperatura corporal, por exemplo), e os filhotes provavelmente foram selecionados para chorarem o menos possvel principalmente os filhotes que so abrigados em ninhos ou refgios (parking offspring) e que passam longos perodos sozinhos. Por seu turno, as mes devem responder o mais rapidamente possvel aos apelos dos filhotes, visando preservao da prole e minimizao de sinais que possam atrair predadores. O choro no deve ser lanado no vcuo, pois tem um custo energtico elevado; ele deve ser dirigido aos potenciais cuidadores (a me, o pai ou aloparentes, dentro de um sistema de reproduo cooperativa). As vocalizaes altas e contnuas sinalizam a presena de indivduos vulnerveis (fmeas lactantes e filhotes) e chamam a ateno de predadores; os filhotes que permanecem muito tempo sozinhos geralmente so crpticos ou sinalizam o desconforto atravs de vocalizaes ultrassnicas. Em espcies que transportam continuamente os filhotes, o choro praticamente inexistente ou so vocalizaes baixas e sutis, associadas a pistas no-verbais. O choro uma resposta instrumental til para sinalizar algum desconforto do beb, mas extremamente antiadaptativo quando ocorre de forma alta e contnua, pois geralmente est associado a maustratos ou at mesmo infanticdio (sufocamento ou estrangulamento, na maioria das vezes). Em condies normais, o choro do beb baixo, espordico e um sinal honesto de desconforto fsico, medo ou estresse; caso contrrio, ele pode se revelar uma forma de negligncia parental ou pode ser um indicador de algum distrbio psicopatolgico no relacionamento parental. Alguns estudos mostram que o choro excessivo no eficaz para a modulao de respostas afiliativas e, alm do mais, ele interfere negativamente no relacionamento do casal (RIH et al., 2002).

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Concluses A parturio um fenmeno pouco investigado, do ponto de vista evolucionrio. Em animais, os partos so eventos rpidos e discretos, ocorrem em tocas, ninhos ou refgios; eles ocorrem geralmente no perodo escuro do dia, e bastante difcil estabelecer o momento exato em que as fmeas tero seus filhotes. Em humanos, no muito tempo atrs, os partos eram circunscritos ao universo feminino, pois somente as comadres e parteiras tinham permisso para acompanhar pari passu o nascimento de bebs. Com o surgimento de novas tcnicas (anestsicos, frceps e procedimentos anti-spticos), os partos tornaram-se mais seguros, mas as comadres e parteiras perderam o domnio sobre o corpo das parturientes. A medicalizao do processo reprodutivo trouxe muitos benefcios para a mulher, pois reduziu as taxas de mortalidade materna e infantil, mas a rica tradio das parteiras e o envolvimento dos familiares e/ou da comunidade com os assuntos reprodutivos perderam-se com o tempo. Os pesquisadores que adotam o pensamento evolucionrio fazem uso de expresses como investimento parental, potencial reprodutivo, estratgias de acasalamento e outras. Os filhotes so vistos como commodities, e o comportamento dos organismos analisado de acordo com uma equao envolvendo custos e benefcios, revelando a influncia do pensamento macroeconmico sobre as concepes tericas neste campo de estudo. As razes da Ecologia Comportamental ou da moderna Sociobiologia podem ser localizadas nas obras de Charles Darwin (18091882), mas a rvore s comeou a dar frutos realmente a partir da segunda metade do sculo XX. A atividade reprodutiva e a interao mefilhote foram temas dominantes da Psicologia Comparativa, mas os investigadores se detinham mais na anlise dos processos comportamentais e fisiolgicos subjacentes ao fenmeno estudado. O uso de teorias e hipteses de natureza evolucionria trouxe uma nova compreenso acerca de problemas antigos ou deram surgimento a estudos comparativos mais sofisticados. As predies da seleo K e r so teis para a compreenso das estratgias reprodutivas, e, por outro lado, a anlise sobre as diferenas entre os complexos altricial e precocial pode clarificar alguns aspectos do desenvolvimento dos filhotes. Em ambos os casos, os conceitos no so absolutos e devem ser empregados apenas para fins de uma anlise comparativa.
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Rogrio F. Guerra 439

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Contribuies recentes da Neurocincia Psicologia*

Emlio Takase1
Universidade Federal de Santa Catarina

Resumo O crebro j foi visto como um rgo esttico, uma caixa-preta, sem relevncia para a compreenso do comportamento humano. Porm, nas ltimas dcadas as pesquisas sobre o crebro esto mostrando um papel significativo na compreenso do comportamento humano, indicando que a neuroplasticidade influenciada por vrios fatores: hormnios, ambiente, drogas, idade, nutrio, entre outros. No se trata somente de compreender como estes fatores afetam o crebro e o comportamento, mas importante entender como melhorar e
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Abstract The brain has usually been seen as a static organ, or a black box of no importance for understanding human behavior. However, in recent decades many findings in the neuroscience field have changed this perception. For example, studies of the brain are useful for understanding the effects of hormones, drugs, age and nutrition on the behavior of many organisms. These findings help improve theories about aging and neuroplasticity, and have practical appli-

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Recent contributions of neuroscience to psychology Endereo para correspondncias: Laboratrio de Neurocincia do Comportamento, Departamento de Psicologia, CFH, UFSC, 88040-900, Florianpolis, SC (Email: [email protected]).

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manter a sade. O presente artigo tem por objetivo apresentar as contribuies recentes de pesquisas da Neurocincia Cognitiva e Comportamental para a Psicologia. Palavras-Chave: Neurocincia, Psicologia, sade, desenvolvimento. Introduo

cations for health services. The purpose of this article is to discuss the recent contributions of cognitive and behavioral neuroscience for psychology. Keywords: Neuroscience, Psychology, health, development.

ps a dcada do crebro (1990-2000), as pesquisas em Neurocincia cresceram muito. Podemos observar pesquisadores de diversas reas estudando o crebro, desde o neurocientista que estuda os aspectos sociais (DECETY e SOMMERVILLE, 2003; DECETY e CHAMINADE, 2003; HARMON-JONES e DEVINE, 2003; HARRIS, 2003), engenheiros que desenvolvem modelos computacionais (DESOLNEUX et al., 2003) ou um psiclogo que pesquisa a relao entre f/crena e crebro (GALLAGHER et al. 2002; BOYER, 2003). Trata-se de investigaes multidisciplinares, nos quais cada profissional busca investigar a dinmica do crebro. Este trabalho multidisciplinar, atravs das pesquisas em Neurocincia, tem contribudo significativamente para a compreenso do homem nas suas diversas interaes com o meio e consigo mesmo, principalmente atravs do mapeamento cerebral. Por outro lado, ainda existe uma grande dificuldade dos profissionais da sade em compreender que o nosso comportamento orquestrado pelo crebro. Assim, com a crescente divulgao sobre as pesquisas sobre o crebro, j podemos sinalizar um movimento destes profissionais buscando uma integrao com a sua rea de conhecimento e a Neurocincia (MILLER e KELLER, 2000). A partir de uma reviso bibliogrfica, pretendo mostrar as contribuies recentes da Neurocincia para a cincia psicolgica e o quanto importante aos psiclogos compreenderem a Neurocincia Cognitiva e Comportamental (NCC)2. O objetivo explorar o conhecimento
As reas da Neurocincia Cognitiva e Comportamental que esto contribuindo na compreenso da dinmica do crebro para a Psicologia.

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que temos sobre o crebro, ressaltando a importncia desse conhecimento para a compreenso do ser humano e, dessa forma, contribuir para o avano da cincia psicolgica. Negligenciar os avanos da Neurocincia e a enorme quantidade de artigos publicados sobre o crebro significa impedir que as teorias psicolgicas ganhem maior status cientfico. espantoso o nmero de peridicos e livros existentes na rea do crebro. Desde a ltima dcada, foram editados vrios peridicos especializados sobre o crebro, como podemos verificar na base de dados da ScienceDirect3, alm de outras bases de dados que publicam revistas especializadas na rea da Neurocincia, como a The Gale Group e Ovid Technologies, ambas disponveis via o portal da CAPES (www.periodicos.capes.gov.br). O que presenciamos, ento, um grande volume de artigos publicados anualmente, comparado como de dez anos atrs sobre o crebro. Diante do nmero de artigos publicados em Neurocincia e reas afins (Psiquiatria, Neurologia, entre outras), o psiclogo de hoje no pode mais ignorar os resultados das pesquisas nessas disciplinas. Alm disso, a tecnologia de rede de comunicao e divulgao tem facilitado significativamente na socializao e na construo do conhecimento, permitindo a compreenso maior do homem na sua dimenso psicolgica/mental, fsica e ambiental. Esta tecnologia de rede, a internet por exemplo, tem publicado as pesquisas realizadas sobre o crebro atravs de reportagens/matrias, como a da American Association for the Advancement of Science (http://www.eurekalert.org/) e publicao de livros. Desde o surgimento da internet, as reportagens publicadas tm contribudo significativamente na socializao do conhecimento, cada vez mais acessveis aos usurios para a compreenso do crebro. Da mesma forma, livros como o de Herculano-Houzel (2002), Crebro nosso de cada dia, no qual a autora escreve de forma compreensvel para o pblico leigo, so outro meio de divulgao sobre o crebro que tem crescido muito nos ltimos anos. Na verdade so inmeros os livros publicados por diversos autores com linguagem acessvel, como os livros de Damsio (1996), LeDoux (1998), Ramachandran e Blakeslee (2002), Horgan (2002), entre outros, sobre a Neurocincia.
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Disponvel em: <http://www.sciencedirect.com>.

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Apesar das recentes publicaes, ainda pequena a participao dos psiclogos nos avanos cientficos da Neurocincia, principalmente no Brasil. Para estimular a participao da Psicologia nessa rea, em dezembro de 2003 foi publicado no Portal da American Psychology Association (APA) um programa para o treinamento em Neurocincia para os estudantes de Psicologia norte-americanos (www.apa.org). um incio que pode contribuir nas mudanas de conceitos e teorias psicolgicas em relao ao homem. Muitas dessas mudanas so os resultados das pesquisas em NCC que tm um papel significativo para a compreenso da mente e do comportamento humano, comparadas a outras reas da sade (DAVIS et al., 1988; KOLB e WHISHAW, 1998; KEIL et al., 2000; DECETY e SOMMERVILLE, 2003; BAARS et al., 2003). Pelo volume de artigos publicados na NCC, podemos sugerir que a Neurocincia est mais para a cincia psicolgica do que qualquer outra cincia da sade. Alm disso, nos ltimos anos tem aumentado o nmero de laboratrios de Psicologia em Neurocincia, assim como a participao de psiclogos em eventos cientficos. Isso mostra a conscientizao cada vez mais da importncia da NCC na compreenso psicolgica do homem. Podemos, ento, observar que nos ltimos anos h um esforo grande dos cientistas em compreender melhor o crebro humano, com seus 100 bilhes de neurnios e mais de 100 trilhes de conexes sinpticas. Em termos comparativos, a nossa espcie um organismo mais complexo, exibindo suas particularidades no modo de pensar, sentir, agir, sonhar e outras particularidades. Mas o que torna a nossa espcie mais complexa a conscincia humana? Desde que Wundt (1873-1874) escreveu o livro Principles of Physiological Psychology, e William James (1890), Principles of Psychology, a compreenso da conscincia/mente ainda tem desafiado os cientistas. Abaixo, quando a palavra consciusness e mind so inseridas em uma pesquisa bibliogrfica na SciencDirect, observa-se que mais de 2.000 artigos j foram publicados (Tabela 1).

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Tabela 1 Relao entre a palavra-chave e o nmero de artigos publicados na ScienceDirect

De qualquer forma, o desafio de desvendar o mistrio da conscincia/mente ainda continua. Ser, ento, que a dificuldade est no nmero de neurnios e suas conexes sinpticas na compreenso da conscincia ou o fato de que o que eu/self percebe uma realidade, enquanto que o crebro percebe de outra forma? Ser que as respostas podero vir a partir das pesquisas da Fsica Quntica? As pesquisas sobre a conscincia com enfoque em Fsica Quntica referem-se s questes sobre como os processos qunticos podem apresentar um papel decisivo na compreenso das atividades cerebrais (WOOLF e HAMEROFF, 2001; HAMEROFF, 2002). Alguns Palavras-chaves Nmero de artigos publica eventos tm focado estas questes como, por exemplo, as Confern4 cias de Tucson que so realizadas anualmente e discutem a conscincia Consciousness 2.284 a partir de vrias abordagens. Nessas discusses a nfase principal Mind 4.631 se a indeterminao da Mecnica Quntica, especialmente no curso do processo de medio, pode abrir a porta para a ao de uma conscincia da funo fisiolgica do crebro. Nesse sentido, dito muito pouco sobre a estrutura complexa do crebro, no qual os processos qunticos poderiam efetivamente atuar. Os estudos que esto sendo realizados por cientistas das reas biolgica, fsica e de computao sugerem que podemos compreender o funcionamento do crebro atravs dos conhecimentos/princpios que a Fsica Quntica est desenvolvendo. Por exemplo, as pesquisas realizadas na computao por Gerstein e Levitt (1998), Gershenfeld e Chuang (1998) e Adleman (1998) mostram que, simulando as propriedades da gua, podem afetar a estruturao/organizao das molculas biolgicas dos seres vivos (DNA, protenas, etc.).
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Disponvel em: TOWARD A SCIENTIFIC BASIS FOR CONSCIOUSNESS, Tucson, AZ de 1994 a 2003. <http://www.consciousness.arizona.edu>.

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Estes estudos indicam que h grande probabilidade de que processos qunticos sejam a linguagem utilizada pelos organismos eucariontes (clulas com ncleo e membrana plasmtica: plantas e animais) estariam utilizando processos qunticos na evoluo. Porm, na compreenso do crebro e seus processos qunticos, podemos enfatizar que toda questo poderia ser dividida em dois aspectos. O primeiro aspecto epistemolgico, ao qual est relacionada a interpretao da Mecnica Quntica (POPPER, 1992), ou seja, as teorias atuais que esto sendo estudadas na Fsica moderna (teoria da relatividade, Mecnica Quntica e mecnica estatstica). O segundo aspecto est na busca para um entendimento dos mecanismos das aes sinpticas e suas relaes microscpicas, ou seja, atravs de uma grande escala dessas aes nos quais os processos qunticos poderiam ser importantes para os estudos atuais da teoria quntica e do crebro. Certamente, sobre este ltimo as pesquisas podem ser realizadas sem muitas dificuldades, o que no aconteceria para o primeiro aspecto. Para o segundo aspecto, alguns autores tm realizado pesquisas relacionando as atividades cerebrais com a Fsica Quntica (ECCLES, 1986, 1989, 1990, 1992, 1994; BECK e ECCLES, 1992; CRICK e KOCH, 1992; JIBU e YASUE, 1995; PENROSE, 1991 e 1995; REDMAN, 1990; WALMSLEY, 1993). Por exemplo, os estudos que foram realizados em colaborao com Eccles so baseados nos processos de exocitoses das substncias neurotransmissoras na sinapse do neocrtex. Os resultados mostraram que a exocitose um processo no qual so respondidas por impulsos nervosos com probabilidade menor que uma unidade (SAYER et al., 1989). A partir destes estudos pode-se concluir que os processos qunticos podem apresentar aes controladas por microstios (nas fendas sinpticas) envolvendo um ou poucos tomos de hidrognio na membrana. Acredito que enquanto no houver avanos significativos na Fsica moderna, os estudos sobre a conscincia e a Mecnica Quntica podem estar mostrando uma viso newtoniana/cartesiana e no quntica; ou seja, ainda muito cedo para explicar os fenmenos psicobiolgicos a partir dos resultados obtidos da Mecnica Quntica. No s porque a Fsica moderna est mostrando e desvendando o mistrio do universo que possvel fazer um paralelo com os mistrios da mente/conscincia.
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Devemos ter cuidado na nossa linguagem, que um instrumento de comunicao e temporal. Talvez nas pesquisas a conscincia demore a ser desvendada, pois acredito que o problema est na nossa linguagem, um instrumento de comunicao. Se a evoluo dos organismos vivos (plantas e animais) teve a influncia das propriedades eletromagnticas e gravitacionais, acredito que podemos entender a conscincia quando compreendermos os princpios da Fsica Quntica. Apesar de um certo modismo em relao Fsica Quntica, os cientistas esto percebendo que ela pode contribuir para o avano cientfico das cincias psicobiolgicas. Um dos temas diz respeito ao livrearbtrio e conscincia. Para os neurocientistas, consenso de que o livre-arbtrio no existe, j que o nosso comportamento controlado/ decidido pelo crebro milissegundos antes da nossa ao consciente (GOLDBERG, 2002). No livro O crebro emocional, de LeDoux, o autor tambm escreve sobre os nossos comportamentos inconscientes, que so levados por emoes que no conseguimos controlar de forma voluntria das nossas aes, na verdade tudo controlado pelo crebro. Uma pesquisa realizada por Sirigu e colaboradores (2003) mostra que o nosso comportamento motor, a nossa ao, por exemplo, ao estar digitando uma letra, seria um movimento voluntrio e consciente. Na verdade, os neurnios respondem/ativam milissegundos antes de voc pensar em teclar. At que ponto as bases neurais do comportamento tm influncia na nossa vida cotidiana? Uma velha questo o aprendido X biolgico (nurture X nature). Os estudos da Neurocincia sobre as diferenas individuais cognitivas, emocionais e comportamentais tm mostrado a influncia das bases biolgicas. Os estudos com os gmeos univitelinos, por exemplo, mostram que eles tm suas diferenas individuais que os tornam nicos (LOSOYA, 1997; DE GEUS e BOOMSMA, 2001). As pesquisas tm revelado que h uma forte influncia da gentica no comportamento (PLOMIN e COLLEDGE, 2001), evidenciando que o ambiente tem pouca influncia. Outro estudo, apesar de ter identificado os genes para o autismo, mostra que h muitas diferenas individuais (HAPP, 1999; BARON-COHEN, 2002). O autismo uma complexa interao entre os genes, o ambiente e as conexes sinpticas (SEQUEIRA, 2001). H autistas que conseguem cursar uma universidade e outros que no, como o caso dos Savants.
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Um outro tema que pode contribuir nesta questo do aprendido X biolgico em relao aos canhotos. A porcentagem de canhotos na populao de 10% (BRYDEN, 1977). Apesar dessa porcentagem pequena na populao mundial, os canhotos tm se destacado no decorrer da histria, influenciando significativamente na nossa sociedade. Podemos citar, por exemplo, Napoleo Bonaparte, Leonardo DaVinci, Albert Einstein, Mahatma Gandhi, Pel, Ayrton Senna e Bill Gates. O que tm de diferente as pessoas canhotos? No universo do esporte, freqente encontrarmos canhotos entre os primeiros do ranking mundial. No tnis de mesa, por exemplo, tanto no masculino e no feminino, freqente encontrarmos canhotos entre os dez melhores classificados no ranking mundial (ver http://www.ittf.com). No diferente em relao ao tnis. A justificativa tem sido que os destros levam desvantagem, porque no esto habituados a jogar com um canhoto, pois os movimentos so ao contrrio em relao ao jogador destro. No o que as pesquisas tm mostrado, e, alm disso, os atletas destros de alto rendimento treinam ou esto habituados a jogar com um canhoto. Pugol e colaboradores (1999) estudaram 50 destros e 50 canhotos, atravs de Ressonncia Magntica de Imagem Funcional. Eles verificaram que, durante a gerao de palavras, 96 % dos destros apresentaram ativao maior no hemisfrio esquerdo e 4 % bilateralizao. Nos canhotos, houve 76 % de ativao maior no hemisfrio esquerdo, 14 % de bilateralizao e 10% de ativao no hemisfrio direito. Nesse estudo, somente um sujeito canhoto mostrou ativao maior no hemisfrio direito. Por outro lado, o estudo de Basic e colaboradores (2004), atravs do doppler transcraniano, verificou que os canhotos apresentaram uma significncia maior da linguagem no hemisfrio direito em relao aos destros. Novas tecnologias e mtodos, novos resultados. No decorrer da histria existem registros de pessoas e fatos que determinaram grandes mudanas, por exemplo, o naturalista Charles Darwin, ou os aventureiros que percorriam quilmetros ou aqueles que navegaram pelos mares para descobrir outros continentes. Estas pessoas no podem ser consideradas conservadoras, mas sim motivadas na busca por novidades, pelo enfrentamento de desafios, por adrenalina, pelo desafio de desvendar os mistrios, entre outros estmulos motivacionais que os levaram a ter uma participao significativa na construo da histria.
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Nesse sentido, o ser humano no diferente de outras espcies, pois muitas espcies so atradas por novidades (MISHKIN e PRIBAM, 1955). Apesar dessa atrao por novidades, no somos aventureiros, revolucionrios, criadores de novos paradigmas, pois somos conservadores, sempre escolhendo e buscando o que familiar, principalmente com a evoluo da cultura e o acmulo do conhecimento. Sugere, ento, que para a natureza, adaptativo ser conservador. A pesquisa conduzida por Goldberg e colaboradores (1994), por exemplo, mostrou que os canhotos escolheram os alvos que diferiam, e no os semelhantes. Este estudo sugere, ento, que os homens canhotos so motivados para a busca de novidades (novidades cognitivas). freqente, ento, encontrarmos canhotos no meio artstico e esportivo, onde eles tm uma participao de destaque no mundo dos destros (rotinas cognitivas). importante realar que o ambiente tem um papel importante no desenvolvimento cognitivo dessas pessoas, ou seja, s o fato de ser canhoto no quer dizer que sero bemsucedidos e, alm disso, em relao lateralidade, muitas pessoas no so 100% destros ou canhotos. Por outro lado, um outro fator que pode contribuir no conservadorismo ou na inovao o papel da dopamina D4 (EBSTEIN et al., 1996). Uma das funes do neurotransmissor dopamina exercer as atividades do lobo frontal. Ser que em canhotos h uma presena maior da dopamina D4 do que os destros? E nos destros que buscam novidades, h mais dopamina D4 no lobo frontal? Apesar de os canhotos terem suas particularidades e diferenas hemisfricas em relao aos destros, o lobo frontal uma rea que pode contribuir no desempenho cognitivo. Em pontos diferenciados do lobo frontal, encontraremos funes que comandam as atividades de outras regies do crebro, como equilbrio, movimento, respostas emocionais, entre outras. O lobo frontal uma rea que tem chamado a ateno dos neurocientistas, j que hoje se exige cada vez mais desta rea para obter resultados significativos na sociedade da informao e tecnolgica. Alm disso, as pesquisas sobre o lobo frontal esto permitindo compreender melhor o transtorno de dficit de ateno e hiperatividade (PANKSEPP et al., 2003), autismo (HILL, 2004), social (DECETY e SOMMERVILLE, 2003; DECETY e CHAMINADE, 2003) entre outras.
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At recentemente, os estudos que envolviam o lobo frontal eram pequenos, comparados a outras regies do crebro. Muito desses estudos vm a partir da utilizao de animais, principalmente roedores, e de pessoas que tiveram alguma leso (RAMACHANDRAN e BLAKESKL, 2002; DAMSIO, 1996). Uma rea que tem crescido nas pesquisas na regio do lobo frontal est relacionada aos estudos sobre a prtica da meditao (PENG et al., 1999; KUBOTA et al., 2001; DIETRICH, 2003; NEWBERG e IVERSEN, 2003). Por exemplo, a pesquisa de Dietrich (2003) sugere que os estados alterados da conscincia so ativados pela regio do crtex pr-frontal do crebro. J a pesquisa conduzida por Peng e colaboradores (1999), mostra que a amplitude da freqncia cardaca durante a meditao aumenta significativamente uma resposta autnoma. Por exemplo, as pesquisas com os praticantes de ioga vm com o interesse dos neurocientistas de compreender o crebro e o os benefcios que a ioga pode trazer s pessoas. O nosso dia-a-dia uma soma de sentimentos sobre os quais no temos controle, e, quando aparece uma doena, pode ser tarde para reverter o quadro clnico, como o cncer. Assim, as pesquisas sobre a atividade fsica como a ioga tm mostrado que importante aos praticantes estarem conscientes (concentrados) no momento dos exerccios na obteno de resultados. Esse enunciado sustentado por investigaes da Neurocincia, tal como o trabalho realizado por Brigman e Cherry (2002), no qual sujeitos jovens e idosos foram investigados. Os sujeitos foram separados em dois grupos, quanto sua faixa etria, com o objetivo de analisar as capacidades de memria operacional, avelocidade de processamento de dados e o desenvolvimento no desempenho qualificado aps trs dias de treinamento. O estudo concluiu que ambos os grupos apresentaram melhora em seus desempenhos cognitivos, reforando a hiptese de que pessoas idosas, quando estimuladas, tambm so capazes de apresentar melhoras nas variveis investigadas. Os efeitos da manuteno e do treinamento das exigncias orgnicas so to benficos ao sistema nervoso que em muitos casos possvel que doenas conhecidas, como doenas mentais derivadas do envelhecimento, possam ser retardadas ou at mesmo se manifestar de forma insignificante em idosos que se mantm ativos durante toda sua velhice (DUSTMAN et al., 1984; SUTOO e AKIYAMA, 2003; SMITH e ZIGMOND, 2003).
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Entre os fatores responsveis pelo aumento da eficincia do sistema nervoso, est a maior capacidade da produo de neurotransmissores. O efeito desse fator bem documentado em estudos com animais, como o realizado por Dey e colaboradores (1992), e Dey (1994), que investigou as alteraes de metabolismo do neurotransmissor serotonina induzidas pelo exerccio fsico no sistema nervoso de ratos e suas possveis relaes com o efeito antidepressivo. Os resultados sugeriram que a atividade de metabolismo da serotonina aumenta, principalmente pelo aumento dos seus receptores, e esses efeitos podem durar at uma semana aps o trmino das atividades fsicas. Assim, o autor concluiu que a prtica de esportes pode aumentar os nveis do neurotransmissor serotonina, exercendo um papel importante na preveno e no auxlio de tratamento da depresso. Concluso A partir dos avanos tecnolgicos, como a tomografia computadorizada, esto sendo registradas as respostas dos neurnios em tempo real. Da mesma forma, atravs dos estudos da Gentica, estamos podendo compreender melhor a dinmica do crebro e o comportamento humano. Acredito que essas duas reas de conhecimento permitiro uma mudana significativa na maneira de ver e compreender os aspectos cognitivos, emocionais e sociais do homem. Atravs dos avanos cientficos e tecnolgicos, ser possvel ao homem realizar algumas atividades ao mesmo tempo, e a sade mental ser resolvida com poucas sesses (PAQUETTE et al., 2003). Assim, os psiclogos precisam se adaptar aos novos resultados neurocientficos para o avano cientfico e tecnolgico da cincia psicolgica. No de hoje, ento, que os pensadores e cientistas dizem que a sade fsica e mental vem do crebro (DAMSIO, 1996). Vivemos numa poca na qual no podemos mais negar o papel que o crebro tem sobre a nossa vida. Como foi apresentado acima, podemos compreender melhor o nosso comportamento a partir da dinmica cerebral e o seu meio. O trabalho, ento, interdisciplinar, mo qual os profissionais com o conhecimento em NCC podero contribuir na sade e na educao das pessoas. Dessa forma, os psiclogos tero que aceitar os novos resultados das pesquisas da NCC para compreender melhor o processo natural do desenvolvimento cognitivo, emocional e social do ser humano.
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Sem dvida que no fcil mudar uma viso vigente e assimilar e adotar uma nova que est surgindo e crescendo de forma rpida e exponencial. Precisamos, cada vez mais, buscar formas de nos atualizar-mos e produzir-mos novas tcnicas de interveno fsica e mental. Finalizando, atravs das pesquisas em Neurocincia, do desenvolvimento de tecnologias cada vez mais inteligentes e dos avanos em Biotecnologia, importante estar acompanhando as pesquisas e aplicar aquilo que foi aprendido e produzido em Neurocincia Cognitiva e Comportamental. Referncias bibliogrficas ADLEMAN, L. M. Computing with DNA. Scientific American, v. 279, n. 2, p. 34-41, 1998. BAARS, B. J.; RAMSEY, T.Z. e LAUREYS, S. Brain, conscious experience and the observing self. Trends in Neuroscience, v. 26, n. 12, p. 671-675, 2003. BARON-COHEN, S. The extreme male brain theory of autism. Trends in Cognitive Sciences, v. 6, n. 6, p. 248-254, 2002. BASIC, S.; HAJNSEK, S; POLJAKOVIC, Z; BASIC, M; CULIC, V. e ZADRO, I. Determination of cortical language dominance using functional transcranial Doppler sonography in left-handers. Clinical Neurophysiology, v. 115, n. 1, p. 154-160, 2004. BECK, F. e ECCLES, J. C. Quantum aspects of brain activity and the role of consciousness. Proc. Natl. Acad. Sci., USA, v. 89, p. 1135711361, 1992. BOYER, P. Religious thought and behaviour as by-products of brain function. Trends in Cognitive Sciences, v. 7, n. 3, p. 119-124, 2003. BRIGMAN, S. e CHERRY, K. E. Age and skilled performance: contributions of working memory and processing speed. Brain and Cognition, v. 50, p. 242256, 2002. BRYDEN, M. P. Measuring handedness with questionnaires. Neuropsychologia, v. 15, n. 4-5, p. 617-624, 1977.
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CRICK, F. e KOCH, C. The problem of consciousness. Scientific American, September, p. 153-159, 1992. DAMSIO, A. R. Os sete erros de Descartes. So Paulo: Companhia das Letras, 1996. DAVIS, H. P.; ROSENZWEIG, M. R.; BECKER, L. e SATHER, K. J. Biological psychologys relationships to psychology and neuroscience. American Psychologist, v. 5, p. 359-371, 1988. DeGEUS, E. J. C. e BOOMSMA, D. I. A Genetic neuroscience approach to human cognition. European Psychologist, v. 6, n. 4, p. 241-253, 2001. DECETY, J. e CHAMINADE, T. When the self represents the other: a new cognitive neuroscience view on psychological identification. Consciousness and Cognition, v. 12, n. 4, p. 577-596, 2003. DECETY, J. e SOMMERVILLE, J. A. Shared representations between self and other: a social cognitive neuroscience view. Trends in Cognitive Sciences, v. 7, n. 12, p. 527-533, 2003. DESOLNEUX, A.; MOISAN, L. e MOREL, J. M. Computational gestalts and perception thresholds, Journal of Physiology-Paris,v.97, n.23, p. 311-324, 2003. DEY, S. Physical exercise as a novel antidepressant agent: possible role of serotonin receptor subtypes. Physiology e Behavior, v. 55, n. 2, p. 323-329, 1994. DEY, S.; SINGH, R. H. e DEY, P. K. Exercise training: significance of regional alterations in serotonin metabolism of rat brain in relation to antidepressant effect of exercise. Physiology e Behavior, v. 52, n. 6, p. 1095-1099, 1992. DIETRICH, A. Functional neuroanatomy of altered states of consciousness: The transient hypofrontality hypothesis. Consciousness and Cognition, v. 12, n. 2, p. 231-256, 2003.

Revista de Cincias Humanas, Florianpolis: EDUFSC, n.34, p.441-458, outubro de 2003

454 Contribuies recentes da Neurocincia Psicologia

DUSTMAN, R. E.; RUHLING, R. O.; RUSSELL, E. M.; SHEARER, D. E.; BONEKAT, H. W.; SHIGEOKA, J. W.; WOOD, J. S.; BRADFORD, D. C. Aerobic exercise training and improved neuropsychological function of older individuals. Neurobiol. Aging, v. 5, n. 1, p. 35-42, 1984. EBSTEIN, R. P.; NOVICK, O.; UMANSKY, R.; PRIEL, B.; OSHER, Y.; BLAINE, D.; BENNETT, E. R.; NEMANOV, L.; KATZ, M. e BELMAKER, R. H. Dopamine D4 receptor (D4DR) exon III polymorphism associated with the human personality trait of Novelty Seeking. Nat. Genet., v. 12, p. 7880, 1996. ECCLES, J. C. Do mental events cause neural events analogously to the probability fields of quantum mechanics? Proc. R. Soc. Lond. B, v. 227, p. 411-428, 1986. ECCLES, J. C. Evolution of the brain creation of the self. London and New York: Routledge, 1989. ECCLES, J. C. A unitary hypothesis of mind-brain interaction in the cerebral cortex. Proc. R. Soc. Lond. B, v. 240, p. 433-451, 1990. ECCLES, J. C. Evolution of consciousness. Proc. Natl. Acad. Sci. (USA), v. 89, p. 7320-7324, 1992. ECCLES, J. C. How the self controls its brain. Springer-Verlag, Berlin, 1994. GALLAGHER, E. B.; WADSWORTH, A. L. e STRATTON, T. D. Religion, spirituality and mental health. Journal of Nervous e Mental Disease, v. 190, n. 10, p. 697-704, 2002. GERSHENFERLD, N. e CHUANG, I. L. Quantum computing with molecules. Scientific American, v. 278, n. 6, p. 50-55, 1998. GERSTEIN, M. e LEVITT, M. Simulating water and the molecules of life. Scientific American, v. 279, n. 5, p. 75-79, 1998. GOLDBERG, E. O crebro executivo: lobos frontais e a mente civilizada. Rio de Janeiro: Imago, 2002.

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Emlio Takase 455

GOLDBERG, E.; PODELL, K.; HARNER, R.; RIGGIO, S. e LOWELL, M. Cognitive bias, functional cortical geometry, and the frontal lobes: laterality, sex, and handedness. J. Cognit. Neurosci., v. 6, p. 276296, 1994. HAMEROFF, S.; NIP, A.; PORTER, M. e TUSZYNSKI, J. Conduction pathways in microtubules, biological quantum computation, and consciousness. Biosystems, v. 64, n. 1-3, p. 149-168, 2002. HAPP, H. Autism: cognitive deficit or cognitive style? Trends in Cognitive Sciences, v. 3, n. 6, p. 216-222, 1999. HARMON-JONES, E. e DEVINE, P.G. Introduction to the special section on social neuroscience: promise and caveats. Journal of Personality and Social Psychology, v. 85, n. 4, p. 589-593, 2003. HARRIS, J. C. Social neuroscience, empathy, brain integration, and neurodevelopmental disorders. Physiology e Behavior, v. 79, n. 3, p. 525-531, 2003. HERCULANO-HOUZEL, S. Crebro nosso de cada dia. Rio de Janeiro: Vieira e Lent, 2002. HILL, E. L. Executive dysfunction in autism. Trends in Cognitive Sciences, v. 8, n. 1, p. 26-32, 2004. HORGAN, J. A mente desconhecida. So Paulo: Companhia das Letras, 2002. JIBU, M. e YASUE, K. Quantum brain dynamics and consciousness. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing Company, 1995. KEIL, D.; HOLMES, P.; BENNETT, S.; DAVIDS, K. e SMITH, N. Theory and practice in sport psychology and motor behaviour needs to be constrained by integrative modeling of brain and behaviour. Journal of Sports and Sciences, v. 18, p. 433-443, 2000. KOLB, B. e WHISHAW, I. Q. Brain plasticity and behavior. Annual Review of Psychology, v. 49, p. 43-64, 1998.

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456 Contribuies recentes da Neurocincia Psicologia

KUBOTA, Y.; SATO, W.; TOICHI, M.; MURAI, T.; OKADA, T.; HAYASHI, A. e SENGOKU, A. Frontal midline theta rhythm is correlated with cardiac autonomic activities during the performance of an attention demanding meditation procedure. Cognitive Brain Research, v. 11, n. 2, p. 281-287, 2001. LeDOUX, J. O crebro emocional: os mistrios alicerces da vida emocional. So Paulo: Objetiva, 1998. LOSOYA, S. H.; CALLOR, S.; ROWE, D.C.; GOLDSMITH, H. H. Origins of familial similarity in parenting: a study of twins and adoptive siblings. Developmental Psychology, v. 33, n. 6, p. 10121023, 1997. MILLER, G. A. e KELLER, J. Psychology and neuroscience: making peace. Current Directions in Psychological Science, v. 9, n. 6, p. 212215, 2000. MISHKIN, M. e PRIBAM, K. H. Analysis of the effects of frontal lesions in monkeys: variations of delayed alterations. J. Comp. Physiol. Psychol., v. 48, p. 492-495, 1955. NEWBERG, A. B. e IVERSEN, J. The neural basis of the complex mental task of meditation: neurotransmitter and neurochemical considerations. Medical Hypotheses, v. 61, n. 2, p. 282-291, 2003. PAQUETTE, V.; LVESQUE, J.; MENSOUR, B.; LEROUX, J. M.; BEAUDOIN, G.; BOURGOUIN, P. e BEAUREGARD, M. Change the mind and you change the brain: effects of cognitive-behavioral therapy on the neural correlates of spider phobia. NeuroImage, v. 18, n. 2, p. 401-409, 2003. PANKSEPP, J.; BURGDORF, J.; TURNER, C. e GORDON, N. Modeling ADHD-type arousal with unilateral frontal cortex damage in rats and beneficial effects of play therapy. Brain and Cognition, v. 52, n. 1, p. 97-105, 2003. PENG, C. K.; MIETUS, J. E.; YANHUI, L.; GURUCHARAN, K.; PAMELA, S. D.; BENSON, H. e GOLDBERGER, A.L. Exaggerated heart rate oscillations during two meditation techniques. International Journal of Cardiology, v. 70, p. 101-107, 1999.
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Emlio Takase 457

PENROSE, R. A mente nova do rei. Rio de Janeiro: Campus, 1991. PENROSE, R. Shadows of the mind: a search for the missing science of consciousness. Oxford: University Press. Reprinted with corrections, 1995. PLOMIN, R. e COLLEDGE, E. Genetics and psychology: beyond heritability. European Psychologist, v. 6, n. 4, p. 229-240, 2001. POPPER, K. A teoria dos quanta e o cisma na Fsica. Lisboa: Dom Quixote, 1992 [1956]. PUGOL, J.; DEUS, J.; LOSILLA, J. M. e CAPDEVILA, A. Cerebral lateralization of language in normal left-handed people studied by functional MRI. Neurology, v. 52, n. 5, p. 038-1043, 1999. RAMACHANDRAN, V. S. e BLAKESLEE, S. Fantasmas no crebro: uma investigao dos mistrios da mente humana. Rio de Janeiro: Record, 2002. REDMAN, S. Quantal analysis of synaptic potentials in neuron of the central nervous systems. Physiological Reviews, v. 70, n. 1, p. 165-198, 1990. SAYER, R. J., REDMAN, S. J. e ANDERSEN, P. Amplitude fluctuations in small EPSPs recorded from CA1 pyramidal cells in the guinea pig hippocampal slice. Journal of Neuroscience, v. 9, n. 3, p. 840-850, 1989. SEQUEIRA, S. A complex role for genetics in autism. Trends in Neurosciences, v. 24, n. 11, p. 634-635, 2001. SIRIGU, A.; DAPRATI, E.; CIANCIA, S.; GIRAUX, P.; NIGHOGHOSSIAN, N.; POSADA, A. e HAGGARD, P. Altered awareness of voluntary action after damage to the parietal cortex. Nature Neuroscience, v. 7, n. 1, p. 80-4, 2004. SMITH, A. D. e ZIGMOND, M. J. Can the brain be protected through exercise? Lessons from an animal model of Parkinsonism. Experimental Neurology, v. 184, n. 1, p. 31-39, 2003.

Revista de Cincias Humanas, Florianpolis: EDUFSC, n.34, p.441-458, outubro de 2003

458 Contribuies recentes da Neurocincia Psicologia

SUTOO, D. e AKIYAMA, K. Regulation of brain function by exercise. Neurobiology of Disease, v. 13, n. 1, p. 1-14, 2003. WALMSLEY, B. Quantal analysis of synaptic transmission. In: WALLIS, D.I. (Editor). Electrophysiology: a practical approach. The Practical Approach Series, New York: Oxford University1993. WOOLF, N. J. e HAMEROFF, S. R. A quantum approach to visual consciousness. Trends in Cognitive Sciences, v. 5, n. 11, p. 472-478, 2001. (Recebido em outubro de 2003 e aceito para publicao em maro de 2004)

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RELAO DOS CONSULTORES AD HOC 2003


Revistas nmeros 33 e 34 lvaro Luiz Heidrich (UFRGS) Ana Amlia da Silva (PUC-SP) Ana Flvia Machado (UFMG) Ana Lcia Gomes Medeiros (UFSC) Anete Brito Leal Ivo (UFBa) ngela Maria Mendes de Almeida (UFRJ) Antnio Carlos Walkmer (UFSC) Antnio Jos Lopes Alves (UFMG) Antnio Virgilio Bittencourt Bastos (UFBa) Benilde Maria Lenzi Motim (UFPR) Carlos Alberto Franco da Silva (UFF) Carolina Palermo Szucs (UFSC) Dennis Warren Werner (UFSC) Dora Orth (UFSC) Fernando Ponte de Sousa (UFSC) Joo Pinto Basto Lupi (UFSC) Jos Baus (UFSC) Lecila Duarte Barbosa Oliviera (UFSC) Maria Aparecida Ciavatta P. Franco (UFF) Maria Jos de Rezende (UEL) Paula Montagner (SEAD) Paulo Jos Durval da Silva Krischke (UFSC) Rogrio F. Guerra (UFSC) Silvia Maria Pereira de Arajo (UFPR) Waldir Jos Rampinelli (UFSC)

NORMAS PARA PUBLICAO

Revista de Cincias Humanas (RCH), um peridico interdisciplinar, publica artigos inditos, em especial aqueles relativos a resultados de pesquisa de carter terico e/ou emprico, revises da literatura de pesquisa e reflexes crticas sobre experincias realizadas nas diferentes reas das Cincias Humanas. indexada internacionalmente por Sociological Abstracts - AS; Linguistics & Language Behavior Abstracts - LLBA; Social Planning / Policy & Development Abstracts - PODA; Public Affairs Information Service, Inc. - PAIS; e, Nisc Pennsylvania Abstracts, Inc. - NISC. A RCH no aceita trabalhos encaminhados simultaneamente para publicao em livros ou em outros peridicos, seja no pas, seja no exterior. Os manuscritos podem ser apresentados em portugus ou espanhol. Eventuais modificaes sugeridas sero efetuadas em consenso com o autor. No segundo fascculo de cada ano sero publicados os nomes dos pareceristas que contriburam para a edio daquele volume. Com periodicidade semestral, publica, tambm, um nmero temtico anual relativo a uma das reas das humanidades. Todos os manuscritos devem seguir as Normas da ABNT (NBR 6023 / 2000). Para submeter um manuscrito 1) Os originais devero ser encaminhados por correio, em 3 (trs) vias, digitadas em espao duplo, com 20 a 25 pginas, incluindo figuras, tabelas, fotos e bibliografia. Cada pgina dever ter 20 linhas com 80 caracteres. Somente a verso final dever ser encaminhada em disquete, em processador de texto Word ou compatvel. 2) Todos os manuscritos devem ser acompanhados de uma carta de encaminhamento assinada por todos os autores. 3) O processo de reviso editorial s ter incio se o encaminhamento do manuscrito obedecer s condies acima. Caso contrrio, ser devolvido para adequao s normas. 4) Os autores sero comunicados, imediatamente, sobre o recebimento do manuscrito pelo Editor. 5) Os manuscritos devero seguir a seguinte ordem: Folha de rosto identificada 1) Ttulo em portugus e em ingls (mximo de 15 palavras). 2) Sugesto de ttulo abreviado para cabealho (com cinco palavras, no mximo). 3) Nome de cada autor, seguido por vnculo institucional.

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4) Endereo do(s) autor(es) e a quem a correspondncia deve ser enviada, com o endereo completo, incluindo CEP, telefone, fax e e-mail. 5) Notas dos autores e agradecimentos (pessoas ou instituies financiadoras, caso o artigo tenha se originado de projetos de pesquisa). NOTA: como a reviso dos manuscritos cega (blind review) quanto identidade dos autores, esta pgina deve ser o nico local onde a autoria aparece. responsabilidade dos autores verificar se no existem elementos capazes de identific-los. Esta folha no ser encaminhada aos consultores ad hoc. Folha de rosto sem identificao 1) Ttulo em portugus e em ingls (mximo de 15 palavras). 2) Ttulo abreviado para cabealho (com cinco palavras, no mximo). Resumos 1) Resumo, em portugus, com, no mximo, 150 palavras, ressaltando o tema, objetivo, mtodo, resultados e concluses do trabalho. 2) Palavras-chave, em portugus, com, no mnimo, trs e, no mximo, cinco. 3) Abstract, em ingls, compatvel com o texto em portugus. 4) Keywords, em ingls, compatveis com as palavras-chave. Texto O texto comea na pgina trs (3) com o ttulo centrado. Cada pgina subseqente deve estar numerada. No inicie pginas novas a cada subttulo, porm d um espao antes de iniciar o prximo. Quando o manuscrito for um relato de pesquisa, o texto dever apresentar, alm das pginas de rosto e Resumos, Introduo, Mtodo, Resultados, Discusso e Referncias Bibliogrficas. Se necessrio, outros subttulos podem ser acrescentados. Em alguns casos pode ser conveniente apresentar Resultados e Discusso juntos, embora essa estratgia no seja recomendvel. Utilize o mnimo possvel as notas de rodap. Quando existirem, devero ser colocadas no rodap, ordenadas por algarismos arbicos e devero aparecer imediatamente aps o segmento do texto ao qual se refere a nota. Os locais sugeridos para insero de Figuras e Tabelas devero ser indicados no texto. Anexos, quando contiverem informao original importante, ou detalhamento indispensvel para a compreenso de alguma seo do trabalho, devero acompanhar o texto, porm colocados no final.

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Acrescente, no final do texto, aps as Referncias Bibliogrficas, a data em que o manuscrito foi submetido. Citaes no corpo do texto (ABNT / NBR 10520) Todos os nomes de autores cujos trabalhos forem citados devem ser seguidos da data de publicao na primeira vez em que aparecerem. Evite fazer citaes indiretas quando o original pode ser recuperado com facilidade. Neste ltimo caso, deve-se citar nas Referncias Bibliogrficas apenas a obra consultada e, no corpo do texto, indicar autores e datas dos dois artigos, conforme o exemplo: Piaget (1932, apud FLAVELL, 1996). Quando o autor ou a instituio responsvel estiver includa na sentena, indica-se o autor em caixa baixa, exceto a primeira letra, e a data e a pgina entre parnteses: Segundo Morais (1955, p.32) assinala [...] a presena de concrees de bauxita no Rio Cricon. Em Teatro Aberto (1963, p.79) relata-se a emergncia do teatro do absurdo. Quando o autor estiver entre parnteses, deve vir em maisculas, seguido por ano e pgina: Apesar das aparncias, a desconstruo do logocentrismo no uma psicanlise da filosofia. (DERRIDA, 1967, p. 293). Especificar no texto a pgina, o volume, o tomo ou a seo da fonte consultada, se houver: A produo de ltio comea em Searles Lake, Califrnia, em 1928 (MUMFORD, 1949, p. 513). Oliveira e Leonardos (1943, p.146) dizem que a [...]relao da srie So Roque com os granitos porfirides pequenos muito clara. Freud (1974, v.21, p. 81-171) define a dualidade [...]. As transcries no texto de at trs linhas devem estar encerradas entre aspas duplas. As aspas simples so utilizadas para indicar citao no interior da citao: Barbour (1971, p. 35) descreve: o estudo da morfologia dos terrenos [...] ativos. No se mova, faa de conta que est morta (CLARAC; BONNIN, 1985, p.72). Segundo Pereira de S (1995, p. 27): [...] por meio da mesma arte da conversao que abrange to extensa e significativa parte de nossa existncia cotidiana. As transcries no texto com mais de trs linhas devem ser destacadas com recuo de 4 cm da margem esquerda, com letra menor que a do texto utilizado e sem aspas:
A teleconferncia permite ao indivduo participar de um encontro nacional ou regional sem a necessidade de deixar seu local de origem. Tipos comuns de teleconferncia incluem o uso da televiso, telefone e computador. Atravs de audioconferncia, utilizando a companhia local de telefone, um sinal de rdio pode ser emitido em um salo de qualquer dimenso (NICHOLS, 1993, p.181).

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Quando se tratar de comunicaes pessoais (cartas, palestras, debates, comunicaes conversas telefnicas ou pessoais mensagens, etc.) no devem ser includas nas Referncias Bibliogrficas; nesses casos, indicar entre parnteses a expresso informao verbal, mencionando-se os dados disponveis somente em nota de rodap: Tricart constatou que na bacia do Resende, no Vale do Paraba, h indcios de cones de dejeco (informao verbal). Para enfatizar trechos da citao, deve-se destac-los indicando esta alterao com a expresso grifo nosso entre parnteses, aps a idealizao da citao. [...] para que no tenha lugar a produo de degenerados, quer physicos quer moraes, misrias, verdadeiras ameaas sociedade (SOUTO, 1916, p. 46, grifo nosso). Caso o destaque seja do autor consultado, usa-se a expresso grifo do autor. Na primeira citao de um artigo deve-se mencionar do nome de todos os autores e a respectiva data. Nas subseqentes citaes do mesmo artigo devem-se mencionar o primeiro autor, seguido da expresso et al.. Deve-se usar, quando for o caso, expresses latinas no corpo do texto. Exemplos: Apud (citado por, conforme, segundo): Segundo Silva (apud ABREU, 1999, p.3) diz ser [...]. Idem ou Id. (mesmo autor): ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS, 1989, p.9. Id., 2000, p.19. Ibidem ou Ibid. (na mesma obra): Durkheim, 1925, p. 176. Ibid., p.190 Opus citatum, opere citato ou op.cit. (obra citada): Adorno, 1996, p.38. Adorno, op. cit., p.40 Loco citato ou loc. cit. (no lugar citado): Tomaselli; Porter, 1992, p.33-46. Tomaselli; Porter, 1992, loc. cit. Cf. (confira, confronte): Cf. Caldeira, 1992. Sequentia ou et seq. (seguinte ou que se segue): Foucault, 1994, p.17 et seq. Referncias bibliogrficas Inicie uma nova pgina para a seo de Referncias bibliogrficas, que devem ser digitadas usando espao simples entre as linhas e espao duplo para separ-las. A palavra da segunda linha de cada referncia inicia-se embaixo da primeira letra da palavra da linha superior, no sendo, portanto, mais deslocada. O sinal, na forma de travesso, colocado em uma referncia cujo autor seja o mesmo da anterior no deve mais ser colocado. As Referncias bibliogrficas devem ser colocadas em ordem alfabtica e, em ordem crescente de data, para referenciar dois ou mais artigos de um mesmo autor.

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Exemplos de Referncias bibliogrficas Livros HARVEY, D. The condition of postmodernity. Oxford: Brasil Blackwell, 1989. 378 p. Captulos de livros CLAVAL, P. Rseaux territoriaux anracinement. In: DUPUY, G. (Org.) Rseaux territoriaux. Caen: Paradigme, 1988, p.17-161. Artigos em peridicos MOURA, A. S. de. Direito de habitao s classes de baixa renda. Cincias & Trpico, Recife, v. 11, n.1, p.71-78, jan./jun. 1983. Artigos em jornais COUTINHO, W. O pao da cidade retorna ao seu brilho barroco. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 6 mar. 1985. Caderno B, p.6. Arquivos em disquete KRAEMER, L.L.B. Apostila.doc. Curitiba, 13 de maio de 1995. 1 arquivo (605 bytes). Disquete 3 . Word for Windows 6.0. Base de dados em CD-ROM INSTITUTO BRASILEIRO DE INFORMAO EM CINCIA E TECNOLOGIA - IBICT. Bases de dados em Cincia e Tecnologia. Braslia: IBICT, n.1, 1996. CD-ROM. E-mail MARINO, A. M. TOEFL brienfieng number [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por [email protected] em 12 de maio de 2000. FTP BRAGA, H. Deus no se agradou dele e de sua oferta. Disponvel em: [email protected] em: 22 de maio de 2000.

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Artigos de peridicos (on-line) MALOFF, J. A internet e o valor da internetizao. Cincia da Informao, Braslia, v. 26, n.3, 1997. Disponvel em: http://www.ibict.br/cionline/. Acesso em: 18 maio 1998. Trabalhos em eventos CONGRESSO INTERNACIONAL DE FONOAUDIOLOGIA, 4.; ENCONTRO IBERO-AMERICANO DE FONOAUDIOLOIA, 3., 1999, So Paulo. Anais... So Paulo: [s.n.], 1999. 562 p. BRAYNER, A. R. A.; MEDEIROS, C. B. Incorporao do tempo em SGBD orientado a objetos. In: SIMPSIO BRASILEIRO DE BANCO DE DADOS, 9., 1994, So Paulo. Anais... So Paulo: USP, 1994. p. 16-29. ANDRADE, C. R. F.; SASSI, F. C. Eletromiografia e gagueira: tenso mnima e mxima para produo do som /p/. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FONOAUDIOLOGIA, 8., 2000, Recife. Resumos... So Paulo: [s.n.], 2000. p.85. ANDRADE, C. R. F. Avaliao das gagueiras: diagnstico diferencial das disfluncias infantis. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE FONOAUDIOLOGIA, 4.; ENCONTRO IBERO-AMERICANO DE FONOAUDIOLOGIA, 3., 1999, So Paulo. Anais... So Paulo [s.n.], 1999. p.470. Mesa redonda. Dissertaes e Teses AMBONI, N. F. Estratgias organizacionais: um estudo de multicasos em sistemas universitrios federais das capitais da Regio do Sul do pas. 1995. 143 f. Dissertao (Mestrado em Administrao) Curso de Ps-Graduao em Administrao, Universidade Federal de Santa Catarina. Florianpolis. LOPES, H. S. Analogia e aprendizado evolucionrio: aplicao em diagnstico clnico. 1996. 179f. Tese (Doutorado em Engenharia Eltrica) - Curso de Ps-Graduao em Engenharia Eltrica, Universidade Federal de Santa Catarina. Florianpolis. Figuras e Tabelas Figuras e Tabelas devem ser apresentadas com as respectivas legendas e ttulos, uma em cada pgina. Ttulos de Figuras devem ser colocados na parte inferior, e Ttulos de Tabelas devem ser colocados na parte superior.

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Abreviaturas mais comumente utilizadas (ABNT / NBR 10522):

janeiro fevereiro maro abril maio junho julho agosto

jan. fev. mar. abr.

jan./fev.

captulo citao, citado co-edio co-editor

cap. cit. co-ed. co-ed.

ibidem isto nota do autor nota do editor nmero

ib i. N N n

(*) Usar no incio de uma indicao e antes de algarismos romanos.

maio maio/dez. colaborador colab.

Apreciao pela Comisso Editorial / Conselho Editorial o jun. confira cf. obra citada

jul. Os trabalhos sero,outros e primeiramente, apreciados pelo Editor / Comisso Editoel al. organizador o

rial, que solicitar pareceres de Consultores ad hoc, cujos nomes sero mantiago. e seguintes et seq. pgina p dos em sigilo. Para esses os manuscritos sero encaminhados sem identificao. Os autores seroedio, notificados da aceitao ou recusa de seus manuscried. sem data s. setembro tos, sendo-lhes enviadas cpias do contedo dos pareceres. Os originais, set. editor mesmo quando no aproveitados, no sero devolvidos.

outubro novembro dezembro

out. nov. dez.

exemplo

ex.

tabela (s) tomo veja tambm volume (s)

ta t. v v V

por exemplo p. ex. fascculo Idem fasc. id.

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Pequenas modificaes no manuscrito podero ser feitas pelo Editor/ Comisso Editorial da Revista. Quando forem necessrias modificaes substanciais, o autor ser notificado e encarregado de realiz-las, devolvendo o trabalho reformulado no prazo mximo de dez dias, sendo duas cpias em papel e uma em disquete, com carta de encaminhamento informando sobre as reformulaes realizadas. Caso os autores tenham decidido no realizar algumas das modificaes sugeridas, devem justificar essa deciso. Esta carta e o manuscrito reformulado sero encaminhados a um dos Conselheiros Editoriais, juntamente com os pareceres iniciais dos consultores ad hoc e a verso inicial do manuscrito para uma anlise final. Nesta etapa do procedimento, o Conselheiro Editorial ter conhecimento das identidades dos autores e dos consultores. Antes de enviar os manuscritos para impresso, o Editor enviar uma prova para a reviso dos autores. Esta reviso dever ser feita em cinco dias teis e devolvida revista. Caso os autores no devolvam indicando correes, o manuscrito ser publicado conforme a prova. A deciso final acerca da publicao ou no do manuscrito sempre da Comisso Editorial. Direitos autorais Os direitos autorais das matrias publicadas so da Revista de Cincias Humanas. A reproduo total ou parcial (mais de 500 palavras do artigo) requerer autorizao por escrito do Editor. Os autores da matria recebero, cada um, dois exemplares da edio em que esta foi publicada.

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RETROSPECTIVA DE TTULOS E AUTORES PUBLICADOS (1982-2003)


Nmero 34 - Outubro de 2003 - Comportamento animal e Psicologia Comparativa 1. Precursores filogenticos e ontogenticos da linguagem: reflexes preliminares. Ana M. A. Carvalho e Maria Isabel Pedrosa 2. Princpios morais e a evoluo de um senso moral. Dennis Werner 3. Inato versus Adquirido: a persistncia da dicotomia. Vera Silvia Raad Bussab, Fernando Leite Ribeiro e Emma Otta 4. Bases biolgicas e influncias culturais relacionadas ao comportamento parental. Alessandra Bonassoli Prado e Mauro Lus Vieira 5. Sistema monogmico de acasalamento e estratgias reprodutivas dos pequenos primatas neotropicais. Cristina Valria Santos 6. Enriquecimento ambiental, privao social e manipulao neonatal. Carlos Roberto de Oliveira Nunes, Vera Silvia Raad Bussab e Rogerio F. Guerra 7. Uma anlise evolucionria da parturio e do desenvolvimento infantil em mamferos. Rogrio F. Guerra 8. Contribuies recentes da Neurocincia Psicologia. Emlio Takase Nmero 33 - Abril de 2003 1. O desafio de uma construo livre e responsvel do futuro. Caroline Morais Kunzler 2. Progresso e impureza: viajantes europeus descrevem a ocidentalizao de cidades muulmanas. Vera Chacham 3. A socialidade da estrutura espacial da casa: processo histrico de diferenciao social por meio e atravs da habitao. Maria Ins Gasparetto Higuchi 4. Reestruturao produtiva e mercado de trabalho na indstria txtil catarinense. Isabella Jinkings 5. Por um esclarecimento de conceitos. Iigo Pedrueza Carranza 6. Josu de Castro e a combinao das perspectivas multidirecionais e cclicas da mudana social. Maria Jos de Rezende

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7. Questes sobre a categoria ontolgica do trabalho. Mnica Mota Tassigny 8. Estruturalismo - histria, definies, problemas. La Silveira Sales Resenha 1. LER: uma aprendizagem de dor e excluso. Clarissa Giuliani Scherer e Jos Gonalves Medeiros Nmero 32 - Outubro de 2002 1. Representaes sociais sobre o meio ambiente entre ecologistas ligados a ONGS no Brasil. Edson A. de Souza Filho 2. O papel da imprensa na poltica ambiental. Klaus Frey 3. Sartre e a psicanlise. Rafael Raffaelli 4. Pulso e cognio: categorias da motivao na aprendizagem. Christiane Kleinbing Godoi 5. Teorias da mudana social: as perspectivas lineares e as cclicas. Maria Jos de Rezende 6. Conflitos scio-ambientais e o papel do Ministrio Pblico: o caso de Blumenau, SC, Brasil. Agripa Faria Alexandre; Marjor Andreata e Mrcio Minatti

7. Processo democrtico e vises da democracia no Brasil. Luzia Helena Herrmann de Oliveira 8. O mundo de Comenius: entre conflitos e guerras uma luz para a prtica pedaggica. Alvori Ahlert 9. Partidos Polticos Brasileiros e Desemprego. Leonardo Secchi Resenha 1. Histria apologtica. Paula Oliveira e Silva Nmero 31 - Abril de 2002 Agricultura Familiar e Sustentabilidade 1. Rural, rulalidad, nueva ruralidad y contraurbanizacin. Un estado de la cuestin. Hugo E. Ratier 2. Leite: produo familiar, mercado e sade pblica. Maria Ignez Silveira Paulilo 3. A agroecologia e o desenvolvimento sustentvel: uma construo terica para a anlise da agricultura familiar. Maria Jaqueline Elicher 4. Agricultura familiar e agroecologia no municpio de Praia Grande (SC). Josane Moreira de Costa 5. A produo familiar e os desafios do mercado. Walquria Krger Corra e Lcia H. de O. Gerardi

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6. Uma concepo de agroindstria rural de pequeno porte. Leomar Luiz Prezotto 7. Agroecologia: um processo que favorece ou desfavorece a legitimao do saber tradicional? Janine Moreira 8. A pluriatividade como fator de desenvolvimento do espao rural do Mdio Vale do Itaja. Srgio Roberto Maestrelli 9. A modernizao da agricultura familiar e as transformaes no espao agrrio em Turvo (SC). Joo Marcos Minatto 10. Agricultura familiar: desequilbrio ambiental e riscos sociais no municpio de So Ludgero/ SC. Maurcio Alves Nmero 30 - Outubro de 2001 - Religiosidade e Cultura 1. No mapa das religies, h lugar para a religiosidade? Pierre Sanchis 2. Palavra e imagem: a reforma religiosa do sculo XVI e a arte. Martin N. Dreher 3. Religiosidade e civismo entrelaados: os congressos de brasilidade. Neide Almeida Fiori

4. Hierarquia catlica e religies medinicas no Brasil da primeira metade do sculo XX. Artur Csar Isaia 5. A igreja do Brasil e o plano de emergncia - 1952/1962. Euclides Marchi 6. A ao da Igreja Catlica na redefinio da cultura do trabalho rural. Rogrio Luiz de Souza 7. Ascetismo jesutico e disciplina escolar. Norberto Dallabrida 8. Histria e historiografia da romanizao: reflexes provisrias. Jrri Roberto Marin 9. O crime do padre: do mito ao esquecimento. Eliane Lucia Colussi N. 29 - abr. 2001 1. A otimizao do passado e a idealizao da mudana social em Gilberto Freyre. Maria Jos de Rezende 2. Histria urbana: uma rea de conhecimento. Lus Octvio da Silva 3. A medicalizao do sexo ou o amor perfeito. Maria Bernardete Ramos Flores 4. A misso da Filosofia. Jos Maurcio de Carvalho 5. Estado autoritrio e tecnocracia. Ricardo Silva

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6. O discurso catlico latino-americano aps a II Guerra Mundial. Rogrio Luiz de Souza 7. possvel uma histria da histeria? Rafael Andrs Villari 8. A pesca artesanal na praia do Pntano do Sul, Brasil. Rodrigo Luiz Simas de Aguiar, Joo B. S. de Aguiar e Paulo Csar Simes Lopes N. 28 - out. 2000 1. Desenvolvimento da inteligncia: aspectos envolvidos. Vladimir Stolzenberg Torres 2. Trabalho e subjetividade. Tania Mara Galli Fonseca 3. Aspectos psicolgicos associados lombalgia e lombocitica. Jamir Joo Sard Jr., Emil Kupek e Roberto Moraes Cruz 4. Orientao Profissional: liberdade e determinantes da escolha profissional. Irene F. Ehrlich, Fernando de Castro e Dulce Helena Penna Soares 5. Re-orientao profissional, orientao e o processo de escolha: notas sobre experincias vividas. Edite Krawulski, Mrcia C. B. Siqueira, Snia S. Caetano, Carla T. Cascaes e Dulce H. P. Soares

6. O grupo do corpo e o corpo do grupo. Lazslo A. vila 7. Ecomarxismo e capitalismo. Gilberto Montibeller Filho 8. Sobre o Poder. Kleber Prado Filho Resenha 1. Cultura dos trabalhadores e crise poltica. Paulo J. Krischke N. 27 - abr./ 2000 Palestras 1. A histria como fico, a fico como histria. Jos Saramago 2. A cincia no prximo milnio. Luiz Bevilacqua Artigos 1. Uma histria de despedidas. A emigrao portuguesa para o Brasil (1822 1914). Ana Silvia Volpi Scott 2. Mudana social no Brasil: as convergncias no interior do iderio conservador. Maria Jos Rezende 3. Mares agitados: interpretaes sobre os processos polticos latinoamericanos. Brasil e Argentina em perspectiva comparada (parte II). Vicente Palermo

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4. Implantao de um processo de triagem no Servio de Atendimento Psicolgico da UFSC SAPSI. Edite Krawulski & Beatriz Gomes Molinos 5. Repercusses da introduo do sistema de leitura ptica sobre o trabalho do operador de caixa de supermercado. Roberto Moraes Cruz, Arthur Mller, Beatriz Soares, Daniela Mondardo & Renata Pereira 6. Notas recolhidas sobre a transferncia em Freud. Fernando Aguiar Crnica 1. Entre Viena e Londres: Uma visita casa de Sigmund Freud. Rafael Andrs Villari N. 26 - out. 99 1. Reflexos de processos e smbolos do imaginrio tnico em Moambique. Maria Antnia Rocha de Fonseca Lopes 2. A (re)construo da identidade masculina. Berenice Alves de Melo Bento 3. Os jovens, as polticas sociais e a formao educativa. Janice Tirelli Ponte de Sousa 4. Atores e conflitos scioambientais na esfera jurdico-estatal de Florianpolis-SC. Agripa Faria Alexandre

5. Associativismo civil em Florianpolis: evoluo e tendncias. Ilse Scherer-Warren 6. Lintgration europenne par les confrences inter-citoyennes. Jean Rossiaud 7. Interpretaes sobre os processos polticos latino-americanos. Brasil e Argentina em perspectiva comparada. Vicente Palermo N. 25 - abr. 99 1. A teoria de Pierre Bourdieu aplicada s pesquisas sobre a grande burguesia: uma metodologia plural para uma abordagem pluridisciplinar. Michel Pinon et Monique Pinon-Charlot 2. Algunas aproximaciones al tema inmigratorio: notas sobre la produccin bibliogrfica espaola. Elda Gonzlez Martnez y Ma. Asuncin Merino 3. Interfaces e aporias nos estudos da democratizao: anlises do regime vs. estudos culturais. Paulo J. Krischke 4. A apologia do turismo em Florianpolis-SC: mitos e contradies. Helton Ricardo Ouriques 5. Marxismo e meio ambiente. Guillermo Foladori

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6. Operao anti-cangao: as tticas e estratgias de combate ao banditismo de Virgulino Ferreira, Lampio. Jorge Luiz Mattar Villela N. 24 - out./ 98 1. De misioneros y etnografos, equvocos, superticiones y dilemas frente a la diferencia cultural. Alejandra Siffredi & Ana Maria Spadafora 2. Catolicismo versus umbanda: lutas de representao e identidade nacional (senzala delenda est). Artur Cesar Isaia 3. O nativismo, os teuto-brasileiros catlicos e luteranos no Rio Grande do Sul. Ren E. Gertz 4. Dilemas de naturalizao do protestantismo tnico: a igreja luterana no Brasil. Paul Freston 5. Pecadores de rostro maya. Manuela Cantn Delgado 6. Poltica, etnia e ritual (o rio das rs como remanescente de quilombos). Carlos Alberto Steil 7. Confessionalidade e etnicidade em Santa Catarina: tenses entre luteranos e catlicos. Joo Klug 8. Reconstruindo a tradio: milenarismo e fronteiras tnicas. Maria Amlia S. Dickie

9. Joo de Camargo: sincretismos e identidade. scar Calavia Sez N. 23 - abr./ 98 1. O imaginrio nacionalista em Silvio Romero. Cynthia Machado Campos 2. Clivagens geracionais nos valores scio-polticos. Fbian E., Paulo Krischke e Aluir Toso 3. Representaes de self entre os psicoterapeutas. Ercy Soar 4. O objeto em Bertrand e Salgado. Alcebades Muniz Neto 5. Crise civilizatria & ambientalismo transetorial. Srgio Lus Boeira 6. Desenvolvimento & Agroindstria. Fernando Sousa, Larcio Pereira e Mrcio Vilarouca 7. Aquisio da linguagem e formao de vnculo. Srgio Scotti 8. Lagoa da Conceio: um ecossistema lagunar. Usos e legislao ambiental. Tereza Cristina Pereira Barbosa e Ana Cristina Jos N. 22 - out. /97 1. Profisses no passado - profisses no futuro. Bernardete Wrublevski Aued

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2. Entre lo normal y lo peligroso. Sandra Caponi 3. O trabalho em questo. Snia M. G. Larangeira 4. Neoliberalismo e flexibilizao. Oswaldo Miqueluzzi 5. Acumulao flexvel & Direito do Trabalho. Alexandre Luiz Ramos 6. Qualidade de vida no trabalho. Carla Cristina Dutra Brigo 7. O fim do trabalho numa economia globalizada. Clarilton Ribas 8. Educao no mundo do trabalho. Edna Garcia Maciel Fiod 9. Centralidade do trabalho: qual centralidade? Srgio Lessa N. 21 - abr./97 1. Aspectos histricos da luta sufrgica feminina no Brasil. Gisela Maria Bester 2. Homem e mulher na dcada de 30: tenses sociais e vida cotidiana. Maria de Ftima Salum Moreira 3. Gnero e poder no discurso jurdico. Dbora de Carvalho Figueiredo

4. As mulheres narradoras em A Sibila: experincias e memria. Simone Pereira Schmidt 5. Articulando gnero, sexualidade e subjetividade. Laura Helena Chaves Nunes Vieira 6. Relaes de gnero e violncia nos seringais do Alto Juru - Acre. Cristina Scheibe Wolff 7. Violncia e representao. Snia Terezinha Felipe 8. Violncia sexual na cadeia: honra e masculinidade. Enleo Alcides da Silva 9. Relaes de gnero: silncio e posies de identidade. Pedro de Souza 10. O estupro suave. Euthalia Xavier 11. Morar S. Roseli Buffon 12. Se for mulher na banca, eu t ferrado. Tnia Regina de Oliveira Ramos 13. Representaes femininas sobre a expe-rincia da esterilizao. Luzinete Simes Minella N. 20 - out./96 1. Marxismo analtico & funcionalismo. Srgio Lus Boeira

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2. A questo agrria e as relaes sociedade-natureza. Messias Modesto dos Passos 3. O anarquismo tico de Robert Nozick (uma crtica ao utilitarismo especiezista que predomina na relao dos homens com os animais). Sonia T. Felipe 4. A identidade Catarinense nos discursos do Instituto Histrico e Geogrfico de Santa Catarina. lio Cantalcio Serpa 5. Os desejos familiares e a escolha profissional dos filhos. Dulce Helena Soares-Luchiari 6. A normatividade metodolgica. Jos Norberto Muniz e Vera Lcia Travenolo Muniz Convidados especiais 1. Las Universidades y la formacin ambiental. Enrique Leff 2. Brasil: a retirada dos direitos sociais e trabalhistas. James Petras 3. Globalizao e transculturao. Octvio Ianni 4. A universidade e a civilizao. Joo Lupi Resenha 1. Redes de Movimentos Sociais. Iara Maria Chaves

N. 19 - mar./96 1. Contribuio para uma teoria das prticas do ambientalismo. Hctor Ricardo Leis e Jos Luiz DAmato 2. A tica profissional e o esprito do capitalismo: uma questo ambiental. Paula Brgger 3. A construo social da questo ecolgica: um questionamento de final de sculo. Alejandro Olivieri e Luciano Florit 4. Os geossistemas como elemento de integrao na sntese geogrfica e fator de promoo interdisciplinar na compreenso do ambiente. Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro 5. O futuro se define agora. Jos Paulo Teixeira e Luiz Scheibe 6. O sistema mdico guarani. Aldo Litaiff 7. Consideraes sobre os limites energticos do crescimento econmico. Ivo Marcos Theis 8. Por um ecodesenvolvimento integral. Sueli Amlia de Andrade 9. Teses sobre a Justia Social. Agnes Heller

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Ns. 17/18 - nov./95 1. Cidadania perversa. Andr Marenco dos Santos 2. Pesquisas pr-eleitorais em questo: teoria, tcnica e tica e sua relao com o processo democrtico. Lcia Avelar 3. A dimenso direita-esquerda na definio do voto: o caso das eleies de 1994 em Porto Alegre. Marcelo Baquero, Snia Ranincheski, thon F. Pereira, Henrique C. de Oliveira de Castro, Rodrigo S. Gonzlez e Grson Rodrigues 4. A imprensa e a cmara municipal de S. Paulo. Vera Chaia 5. Cultura sindical e identidade nos anos 80/90. Marco Aurlio Santana 6. Gneros de comunicao de massa e discernimento poltico: possveis relaes. Danilo Rothberg 7. Um estudo de comportamento poltico entre eleitores florianopolitanos na campanha eleitoral de 1994: a representao social de FHC e Lula. Louise A. Lhullier e A. A. Toso

8. Identidade, simbologia e movimento social. Joo Pinto Furtado 9. As oligarquias dos partidos Cricima/SC: 1945-1992. Janete Triches 10. Crise do estado e gesto municipal: a poltica ambiental em Santos e Curitiba. Klaus Frey 11. As eleies de 1994 em Santa Catarina. Yan de Souza Carreiro N. 16 - out.94 1. Relao escola-famlia. Nadir Zago 2. Modos de vida e escolaridade. Mara Lago 3. A psicologia de Vygotsky. Andra Zanella 4. A linguagem e os processos mentais. Srgio Scott 5. Psicanlise e percepo. Rafael Raffaelli 6. As inscries pulsionais e a constituio do aparelho psquico. Tania Mascarello 7. Sintoma: a fala enigmtica do inconsciente. Ivanir Garcia 8. Epifania Sinthoma. Ivanir Garcia

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9. Os testes esto sujeitos s leis do mercado? Suzana Tolfo 10. Psicologia, conhecimento e profisso. Jos G. Medeiros Resenha 1. Approaches to the development of moral reasoning. Louise A. Lhullier N. 15 - mar./94 1. A escola de Alexandria como ncleo do helenismo cristo. Joo Eduardo Pinto Basto Lupi 2. Estoicismo e helenizao do cristianismo. Selvino Jos Assmann 3. Epicuro no contexto do helenismo. Luiz Felipe Bellintani Ribeiro 4. A possibilidade de viver o ceticismo. Luiz Henrique de Arajo Dutra 5. O ceticismo antigo: pirronismo e nova academia. Danilo Marcondes de Souza Filho 6. Hume acerca da vida e da felicidade. Sara Albieri N. 14 - set. 93 1. Uma sociologia do trabalho sem o trabalho? Fernando Ponte de Sousa

2. Algumas notas sobre as complexas relaes entre movimentos sociais, educao e cidadania. Lgia Luchmann 3. Sujeitos plurais assessorando em movimento popular em Florianpolis: estudo de caso de uma organizao no governamental. Tnia Raitz 4. Simulao por computador na pesquisa e no planejamento de sistemas ecossociais. Paulo Freire Vieira 5. A la sombra de la razn iluminista. Sandra Caponi 6. Materia y forma de la razn popperiana. Gustavo Caponi 7. Herana aoriana e turismo na ilha de Santa Catarina. Hoydo Nunes Lins Seo especial: A decadncia do futuro e a construo do presente 1. Por um debate...! Erni Jos Seibel 2. A insegurana do presente provocada pela decadncia do futuro. Selvino J. Assmann 3. Jean Baudrillard, conformismo e resistncia. Srgio Luiz Prado Bellei

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4. O Brasil e a ps-modernidade. Carmen Rial N. 13 - 1. sem./93 1. Carta do presidente de Cuba, Fidel Castro Ruz, UFSC por ocasio da conceso do ttulo doutor honoris causa. 2. La educacin susperior y la construccin de una sociedad justa y democratica. Carlos G. Borroto 3. Discurso do representante do Conselho Universitrio. Luiz Fernando Scheibe 4. Los movimientos sociales en el Ecuador Contemporaneo: el caso del movimiento indigena. Augustin Cueva 5. As condies subjetivas da democracia: a lio de Rousseau para nossa poca. Hctor Ricardo Leis 6. Las dimensiones y los alcances de la obra de Fernand Braudel. Carlos Antonio Aguirre Rojas Comunicao 1. Assentamentos: permanncia ou mudana? Alcia Castells e Maria Ignez S. Paulilo Resenha 1. O contrato social, ontem e hoje. Nelson A. Garcia Santos

N. 12 - 1. sem./ 92 1. O trabalhador e a mquina na indstria metal-mecnica. Mrcia de Paula Leite 2. A reforma agrria no cotidiano dos trabalhadores. Maria Conceio DIncao 3. O movimento de Bairro ligado s CEBs de Florianpolis: a dimenso participativa. Paulo J. Krischke 4. A reincorporao dos sindicatos txteis no cenrio poltico uruguaio. Francisco Pucci 5. O tema dos direitos humanos no Uruguai: o caso do grupo de familiares de presos e desaparecidos. Carmen Midaglia 6. Prticas de democratizao social durante perodos de democratizao poltica. Juan Carlos Gorlier N. 11 1. sem./92 1. O movimento operrio argentino em transio: a U. O. M. Quilmes, da ditadura democracia. Pablo Pozzi 2. De vtimas a sujeitos: as mes da Plaza de Mayo. Ins Gonzles Bombal

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3. O movimento estudantil na transio democracia (estudo de uma agrupao da universidade de Buenos Aires. Mrio Toer e Juan Carlos Gorlier N. 10 - 1. semestre/91 1. Pertence mulher: mulher e trabalho em comunidades pesqueiras do litoral de Santa Catarina. Anamaria Beck 2. Reflexes sobre a construo do papel feminino. Grace Mary Dias 3. A contracepo no dizer feminista. Izabel Regis 4. Inferioridade feminina: o (des)enredo da violncia. Joana Sueli de Lazari 5. Trabalho de mulher - discriminao profissional e realizao pessoal. Llia Pereira da Silva Nunes Resenha 1. Roberto Cardoso de Oliveira e a etnografia da cincia. Mara Coelho de S. Lago 2. Algumas dificuldades na definio da identidade feminina. Reinhard Hesse 3. A outra face da modernidade: a obscuridade do projeto moderno. Valmir Pereira da Silva

N. 9 - dez. 90 1. Comportamento do eleitorado brasileiro na eleio presidencial de 1989. David Fleisher 2. Redes e mediaes nos movimentos populares (um breve resumo). Ilse Scherer-Warren 3. Moralidade e comportamento eleitoral. Luciana B. Cavalcante, Santos Camino e L. Camino 4. O crescimento dos pequenos partidos e a ascenso das alternativas conservadoras nas eleies municipais de 1989. Maria das Graas Rua e Carlos R. P. da Costa Filho 5. A direita poltica: discurso e comportamento, 1987-1990. Timothy J. Power Comunicaes 1. Aproximaces al discuso de la ciencia. Alicia Beatriz Kostenbaum 2. Pesquisa social e suas relaes com a ao social e o compromisso poltico do pesquisador. Louise Amaral Lhullier Resenha 1. Poltica e natureza humana. Paulo J. Krischke

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N. 8 - dez./86 1. A mentalidade antipartidria no Brasil. Ayrton Capela 2. Motricidade humana e esporte convencional. Ubirajara Oro 3. Notas sobre a teoria marxista da renda da terra. Silvio Antnio Ferraz Cario e Edemar Buzanelo 4. Os limites do amor. Rafael Raffaelli 5. Os termos tericos nas relaes entre teoria e observao. Marco Antonio Frangiotti 6. Reflexes sobre a pobreza brasileira. Nelson A. Bonassi 7. Representao popular. Carlos Lindomar Andrade 8. Trabalho feminino, trabalho improdutivo? Mara Coelho de Souza Lago 9. Psicologia geral em Karl Jaspers. Pedro Bertolino e Rui de Souza Lopes N. 7 - mar./85 1. Mulher, singular e plural. Suzana M. Ducls 2. Mulher e acumulao. Maria Ignez S. Paulilo

3. Vico, um gnio solitrio e renovador. Selvino Jos Assmann 4. Para pensar a psicologia. Rosa Cristina Monteiro 5. A mentalidade antipartidria no Brasil. Ayrton Capella Notas e comentrios 1. Sobre o conceito de ensino superior e o papel da disciplina metodologia cientfica. Renato Machado 2. Uma proposta pedaggica para o ensino da Metodologia Cientfica. Ncleo de Metodologia e Filosofia da Cincia N. 6 - ago./84 1. Acesso a recursos durante as enchentes em Itaja - SC. Dennis Werner e Olga Paz 2. Escola de Frankfurt: uma superao do materialismo histrico? Selvino Jos Assmann 3. A revoluo como meio de transformao na moral crist. Nelson Antnio Bonassi 4. Marxistas e cristos (ontologia e dilogo). Pedro Bertolino 5. O conceito de utopia na proposta paulofreiriana. Snia Teresinha Felipe

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6. Reflexes sobre o ensino da filosofia da cincia. Alberto Cupani 7. Geo-histria, geografia poltica e geopoltica - uma questo de sinonmia? Arlene M. Maykot Prates 8. A disciplina estudos de problemas brasileiros na UFSC. Accio G. S. Thiago, Nilson Borges Filho e Dante Martorano 9. Mundos e verses: correspondncia, coerncia e correo. Rejane Machado Carrion Notas e comentrios

4. Abordagem semntica de problemas filosficos. Renato Machado 5. A situao epistemolgica da epistemologia. Roberto de Andrade Martins 6. Referncia: uma funo do uso lingstico. Ins Lacerda Arajo 7. Foucault e a histria. Helga Blaschke de Almeida 8. Associao Catarinense das Fundaes Educacionais - exemplo de associativismo municipal. Dante Martorano N. 4 - ago. / 83

1. As condies para a volta da Filosofia aos cursos de 2. grau - o parecer dos diretores. Snia Terezinha Felipe 2. Fontes para a Histria catarinense: os documentos biogrficos. documentos Walter F. Piazza N. 5- mar./84 1. Descaminhos e caminhos da pesquisa social. Bernardete Wrublewski Aued 2. YHWH - Linguagem. Alroino B. Eble 3. Geopoltica e expanso: Matthew F. Maury e a expedio de Herndon e Gibbon ao rio amazonas (18511852). Ernesto Anbal Ruiz

1. Uma universidade nova? Paulo Fernando Lago 2. Sobre o ensino da Sociologia. Ilse Scherer-Warren e Maria Luiza de Carvalho Proena 3. Consideraes sobre o ensino de metodologia cientfica. Alvaci Rogria P. Niehus e In Machado Campos 4. Estudo de problemas brasileiros no ensino do direito. Dante Martorano 5. O Instituto Polytechnico de Florianpolis. Amazile de Hollanda Vieira

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6. Consideraes sobre a questo do eu em Moreno. Suzana M. Ducls, Carmen Silvia Andal e Pedro Bertolino N. 3 - dez./ 82 1. A geografia: o espao e o tempo. Hlio Romito de Almeida 2. Governo Amin - um voto de desconfiana. Remy Fontana 3. A importncia da habitao na sade e na reproduo do trabalhador (brasileiro). Graziela de Oliveira 4. Consideraes sobre os movimentos partidrios brasileiros durante a repblica velha. Ayrton Capella 5. O pensamento de Gaston Bachelard e a concepo tradicional da cincia. Alberto Cupani 6. Olhar de Medusa. Maria Jos Faustino 7. De um ponto de vista extralgico. Jlio Cabrera N. 2 - 2. sem/82 1. Educao experiencial: um mtodo de pesquisa vinculado realidade social. Miriam Carvalho Alles

2. Sartre: transcendncia e constituio do ego. Pedro Bertolino 3. Tecnologia e desenvolvimento desigual no centro do sistema capitalista. Armen Mamigonian 4. Renovao de recursos aquticos: o exemplo japons. Paulo Fernando Lago 5. O primeiro cirurgio de Santa Catarina. Walter F. Piazza Notas e comentrios 1. Cultura e linguagem. Alroino B. Eble 2. Proposta de reintroduo da Filosofia no 2o. grau - algumas informaes e alguns resultados de uma enquete. Snia T. F. Feij 3. As barragens e os grupos indgenas - G.T. Silvio Coelho dos Santos 4. Recomendaes do II Encontro Catarinense de Professores de EPB. Dante Martorano Resenha 1. Acesso ao ensino superior; articulao entre ensino superior e ensino de 2o. grau. Neide Almeida Fiori

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N. 1 - (Edio esgotada) 1o. sem.82 1. A radicalizao das desigualdades de classe e a produo da violncia. Remy Fontana 2. Pobreza urbana. Hlio Romito de Almeida 3. A liceidade do emprego da violncia contra a tirania institucionalizada, segundo a doutrina catlica, a partir de Toms de Aquino. Nelson Antnio Bonassi 4. Behaviorismo, quantificao e Histria. Evoluo terica e metodolgica da nova Histria Poltica. Ernesto A. Ruiz 5. Funo social do psiclogo. Tereza Adada Sell 6. Utilizao e conservao de recursos Naturais. Paulo Fernando Lago 7. A pesquisa histrica em Santa Catarina. Walter F. Piazza 8. Nota sobre a Filosofia e o esprito crtico. Alberto Cupani

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Especiais Temticas

N. 1 - Psicologia Social - 1999 1. Cincia e poder: perspectivas da psicologia social contempornea. Marisa Faermann Eizirik e Tania Mara Galli Fonseca 2. Narrativas avaliativas como categorias autopoiticas do conhecimento. Margarete Axt e Cleci Maraschin 3. Subjetividade, linguagem e insero social: examinando processos de sujeitos surdos. Maria Ceclia Rafael de Ges 4. Subjetividade, poder e diferena: marcas de mulheres-professoras em escola especial. Cludia Rodrigues de Freitas 5. Trabalho, tempo, subjetividade e a constituio do sujeito contemporneo. Carmem Ligia Iochins Grisci 6. Dilogos entre o capital e os sexos. Tania Mara Galli Fonseca 7. Corpo feminino e estratgias de poder: contribuies a partir de Foucault. Maria Juracy Toneli Siqueira

8. Aprendendo a tecer a renda que o tece: apropriao da atividade e constituio do sujeito na perspectiva histrico-cultural. Andra Vieira Zanella N. 2 - Polticas pblicas e democracia institucional - 1999 1. Estado, descentralizao, polticas pblicas e novas instncias participativas: o caso da agricultura em Santa Catarina. Eros Marion Mussoi 2. Duas tenses na teoria democrtica. Ricardo Silva 3. Os dilemas da teoria poltica contempornea no conflito entre burocracia e democracia. Julian Borba 4. Gesto participativa e agricultura familiar. Erni J. Seibel e Oscar J. Rover 5. Conselhos de gesto de polticas pblicas: instituies e/ou espaos polticos. Clio Vanderlei Moraes 6. Proposta para elaborao de planos de ao para Conselhos de Trabalho e Emprego. Roberto Lopes Fonseca N. 3 - Representaes sociais e interdisciplinaridade - 2000 1. O estudo das representaes sociais no Brasil. Celso Pereira de S e Angela Arruda

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2. Representaes e ideologia. Pedrinho Guareschi 3. Representaes sociais e sade pblica: a subjetividade como partcipe do cotidiano. Denize Cristina de Oliveira 4. Representaes da natureza e do meio ambiente. Cllia Maria Nascimento-Schlze 5. Representaes de meio ambiente entre estudantes e profissionais de diferentes reas. Edmundo Carlos de Moraes, Enio Lima Jr. e Fbio Antonio Schaberle 6. Sexualidade e representaes sociais da AIDS. Brgido Vizeu Camargo 7. Representaes sobre a velhice e sobre o self. Maria Cristina Triguero Veloz Teixeira 8. Representaes sociais na escolha profissional. Alexandre Cidral N. 4 - Sade mental: uma perspectiva crtica - 2000 1. Controle e subjetividade: revisitando as mquinas de vigiar e digitar. Paulo Cesar Volpato 2. A fadiga psquica na indstria. Rosngela Vernica dos Santos

3. O processo sade/doena das empregadas domsticas: gnero, trabalho e sofrimento. Marlene Tamanini 4. Dependncia de lcool: o amargo sabor. Lcia Goreti Gobatto Junkes 5. Dizem que sou louco: um estudo sobre identidade e instituio psiquitrica. Tnia Maris Grigolo 6. Balano da produo acadmica brasileira no campo da sade mental 1990/97. der Braulio Leone N. 5 - Psicologia e reestruturao produtiva - 2000 1. Prefcio. Kleber Prado Filho 2. Organizaes: uma viso romntica e ingnua? Francisco Antonio Fialho e Gustavo Fialho 3. Dilemas que as concepes de sujeito engendram teoria administrativa e psicologia. Suzana da Rosa Tolfo 4. Constituio do sujeito, socializao/apropriao do conhecimento e formao em servio. Andra Vieira Zanella e Slvia Z. Da Ros 5. Novas formas organizacionais e o modelo burocrtico de organizaes. Eloise H. Livramento Dellagnelo e Clvis Machado da Silva

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6. A cultura como elemento das estratgias de uma organizao do ramo hoteleiro. Narbal Silva 7. Comprometimento do empregado e contextos organizacionais em mudana: o caso do Banco do Brasil. Antnio Virglio Bitencourt Bastos 8. Avaliao da carga cognitiva de trabalho. Roberto Moraes Cruz e Fbio de Paula Corra 9. O programa de preparao para aposentadoria como um processo de interveno ao final de uma carreira. Jos Carlos Zanelli N. 6 - Representaes sociais: questes metodolgicas - 2002 1. As representaes sociais: desafios de pesquisa (Palestra). Angela Arruda. 2. Imaginrio e representaes sociais. Joo Eduardo Coin de Carvalho 3. Representaes sociais e relaes intergrupais de duas categorias profissionais. Rosa Cristina Ferreira de Souza e Brigido Vizeu Camargo 4. Avaliao de infraes por adolescentes: valores como representaes sociais. Maria Suzana de Stefano Menin

5. Ps-modernidade e morte no entrecruzamento entre os discursos religioso e cientfico . Alexsandro M. do Nascimento, Denise Rego e Jorge T. Falco 6. O descobrimento do Brasil nos livros didticos de histria. Denize C. de Oliveira, Celso P. de S, Mara C. Lewin e Denis G. M. Naiff 7. Representaes sociais da sexualidade: um estudo com mulheres da terceira idade. Elizabeth Flor e Cllia M. NascimentoSchulze 8. O sentido do trabalho na era virtual. Denise Macedo Ziliotto 9. Produo de conhecimento em representaes sociais na enfermagem. Antnia R. F. Furegato, Mrcia N. Ogata e Maria Jsia Vieira 10. Representaes sociais da velhice em instituies pblicas de sade. Neusa Eiras 11. A morte e suas imagens. Alexsandro Medeiros do Nascimento e Antonio Roazzi 12. Representaes sociais da Sndrome de Down. Rita C. P. Lima, Victor E. F. Ferraz, Hernane F. Oliveira, Alexandre M. Fazzito, Lvia M. Lelis e Tiago Domingues

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13. Capricho ou orculo: representaes na imprensa sobre adolescentes. Camila Vital Menegaz1 e Clary Milnitsky-Sapiro 14. Socialite linha-dura: uma anlise de representaes sociais. Leonora Corsini e Edson de Souza Filho 15. A dialtica obesidade/magreza: um estudo em representaes sociais com adolescentes. Lucia Marques Stenzel e Pedrinho Arcides Guareschi 16. Representaes sociais de atividades fsicas. Horacio Accioly Junior 17. Estudos de representaes sociais sobre meio ambiente. Edson A. de Souza Filho 18. Atitudes frente ao novo paradigma ambiental. Um estudo no contexto turstico de Fpolis. Cllia M. Nascimento-Schulze, Elisienia Fragnani, Liliane R. Carboni e Maurcio E. Maliska 19. Ocupao do espao, condies de vida e representaes sociais. Eduardo A. Tomanik 20. Representaes de educao ambiental e meio ambiente. Snia Maria Marchiorato Carneiro

21. As representaes sociais sobre legislao ambiental. Mrcio de Oliveira 22. O texto literrio e as representaes sociais. Valdo Hermes de Lima Barcelos e Cllia M. Nascimento Schulze 23. Representaes sociais do diretor de escola. Margot Campos Madeira e Vicente de Paulo Carvalho Madeira 24. Representaes sociais e avaliao institucional. Eloiza da Silva Gomes de Oliveira 25. Representaes sociais da disciplina escolar. Viviane M. Moraes Villela, Adonia A. Prado e Luiz Fernando R. Tura 26. Representaes sociais de poder. Rosane Immig, Cllia M. Nascimento-Schulze e Brgido Vizeu Camargo 27. As professoras e as representaes sociais do aprender. Maria de Lourdes Rangel Tura e Maria Ins Marcondes 28. Representaes sociais sobre a profisso docente. Magali de Castro 29. Informtica educativa para professores do ensino fundamental. Margot Madeira, Luiz

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FernandoTura e Heloisa Ferreira 30. Prdios escolares: representaes sociais das escolas. Lus Carlos Sales 31. Escola e migrao: o que dizem as professoras? Maria Isabel Antunes Rocha e M Rosalina Soares 32. Representaes sociais de professores sobre o adolescente problema. Tania M J. A. Vaisberg e Christiane Isabelle C. de M. Camps 33. A representao da Psicologia pelo alunado das licenciaturas da UFRPE. Lcia Arajo, Alexsandro Nascimento, Eliana Almeida e Antonio Roazzi 34. Representaes sociais na nutrio. Ada Bezerra, Edgard R. Fernndez, M Luiza G. Ibarra e Ricardo Abalo 35. Campo semntico e classificaes mltiplas no estudo das representaes sociais. rika dos Reis G. Andrade, M do Rosrio Carvalho e Antonio Roazzi

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