Relatorio Ceftriaxona Sfilis Final

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Ceftriaxona para tratamento da Sífilis em

gestantes com alergia confirmada à


penicilina

No 153
Outubro/2015

1
2015 Ministério da Saúde.

É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte e que não
seja para venda ou qualquer fim comercial.

A responsabilidade pelos direitos autorais de textos e imagens desta obra é da CONITEC.

Informações:

MINISTÉRIO DA SAÚDE

Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos

Esplanada dos Ministérios, Bloco G, Edifício Sede, 8° andar

CEP: 70058-900, Brasília – DF

E-mail: [email protected]

http://conitec.gov.br
CONTEXTO

Em 28 de abril de 2011, foi publicada a Lei n° 12.401 que dispõe sobre a assistência
terapêutica e a incorporação de tecnologias em saúde no âmbito do SUS. Esta lei é um marco
para o SUS, pois define os critérios e prazos para a incorporação de tecnologias no sistema
público de saúde. Define, ainda, que o Ministério da Saúde, assessorado pela Comissão
Nacional de Incorporação de Tecnologias – CONITEC, tem como atribuições a incorporação,
exclusão ou alteração de novos medicamentos, produtos e procedimentos, bem como a
constituição ou alteração de protocolo clínico ou de diretriz terapêutica.

Tendo em vista maior agilidade, transparência e eficiência na análise dos processos de


incorporação de tecnologias, a nova legislação fixa o prazo de 180 dias (prorrogáveis por mais
90 dias) para a tomada de decisão, bem como inclui a análise baseada em evidências, levando
em consideração aspectos como eficácia, acurácia, efetividade e segurança da tecnologia,
além da avaliação econômica comparativa dos benefícios e dos custos em relação às
tecnologias já existentes.

A nova lei estabelece a exigência do registro prévio do produto na Agência Nacional de


Vigilância Sanitária (ANVISA) para que este possa ser avaliado para a incorporação no SUS.

Para regulamentar a composição, as competências e o funcionamento da CONITEC foi


publicado o Decreto n° 7.646 de 21 de dezembro de 2011. A estrutura de funcionamento da
CONITEC é composta por dois fóruns: Plenário e Secretaria-Executiva.

O Plenário é o fórum responsável pela emissão de recomendações para assessorar o


Ministério da Saúde na incorporação, exclusão ou alteração das tecnologias, no âmbito do
SUS, na constituição ou alteração de protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas e na
atualização da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME), instituída pelo
Decreto n° 7.508, de 28 de junho de 2011. É composto por treze membros, um representante
de cada Secretaria do Ministério da Saúde – sendo o indicado pela Secretaria de Ciência,
Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE) o presidente do Plenário – e um representante de
cada uma das seguintes instituições: ANVISA, Agência Nacional de Saúde Suplementar - ANS,
Conselho Nacional de Saúde - CNS, Conselho Nacional de Secretários de Saúde - CONASS,
Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde - CONASEMS e Conselho Federal de
Medicina - CFM.

i
Cabem à Secretaria-Executiva – exercida pelo Departamento de Gestão e Incorporação
de Tecnologias em Saúde (DGITS/SCTIE) – a gestão e a coordenação das atividades da
CONITEC, bem como a emissão deste relatório final sobre a tecnologia, que leva em
consideração as evidências científicas, a avaliação econômica e o impacto da incorporação da
tecnologia no SUS.

Todas as recomendações emitidas pelo Plenário são submetidas à consulta pública


(CP) pelo prazo de 20 dias, exceto em casos de urgência da matéria, quando a CP terá prazo de
10 dias. As contribuições e sugestões da consulta pública são organizadas e inseridas ao
relatório final da CONITEC, que, posteriormente, é encaminhado para o Secretário de Ciência,
Tecnologia e Insumos Estratégicos para a tomada de decisão. O Secretário da SCTIE pode,
ainda, solicitar a realização de audiência pública antes da sua decisão.

Para a garantia da disponibilização das tecnologias incorporadas no SUS, o decreto


estipula um prazo de 180 dias para a efetivação de sua oferta à população brasileira.

ii
SUMÁRIO

1. RESUMO EXECUTIVO ......................................................................................................... 2


2. APRESENTAÇÃO................................................................................................................. 4
3. SOLICITAÇÃO DE INCORPORAÇÃO..................................................................................... 4
4. A DOENÇA.......................................................................................................................... 5

4.1. ASPECTOS CLÍNICOS E EPIDEMIOLÓGICOS DA DOENÇA ................................................... 5


4.2. TRATAMENTO RECOMENDADO ........................................................................................ 5
5. EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS ................................................................................................... 6
6. IMPACTO ORÇAMENTÁRIO ............................................................................................... 7
7. FINANCIAMENTO/IMPLEMENTAÇÃO................................................................................ 9
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................. 10
9. DELIBERAÇÃO FINAL ........................................................................................................ 10
10. DECISÃO .......................................................................................................................... 10
11. REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 12

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1. RESUMO EXECUTIVO
Tecnologia: ceftriaxona 500mg injetável

Indicação: Tratamento da gestante com sífilis e com alergia confirmada à penicilina, no caso de
total impossibilidade de sua dessensibilização à penicilina.

Demandante: Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS)

Contexto: A sífilis é uma doença sexualmente transmissível, causada pela bactéria Treponema
Pallidum, infecciosa e sistêmica, a partir de sua manifestação. A prevalência da sífilis em
parturientes foi de 1,6%, em 2004, e de 1,1%, em 2006. O protocolo clínico e diretrizes
terapêuticas (PCDT) de atenção integral às pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis
(IST) está sendo revisado e dentre as recomendações propostas está o uso de ceftriaxona
500mg injetável, como alternativa ao tratamento da gestante com sífilis e com alergia
confirmada à penicilina, no caso de total impossibilidade de sua dessensibilização à penicilina.
A ceftriaxona, na forma farmacêutica pó para solução injetável e nas concentrações 250mg e
1g, já é disponibilizada pelo SUS. Entretanto, como medida cautelar para mitigar a resistência
bacteriana à ceftriaxona, o novo PCDT de Atenção Integral às Pessoas com IST prevê, em todos
os casos, a substituição da apresentação 250mg pela apresentação 500mg.

Evidências científicas: em busca realizada na literatura científica, foi encontrada uma série de
casos que avaliou a eficácia da ceftriaxona em 11 mulheres grávidas com sífilis primária ou
secundária. Após 3 meses de tratamento, os títulos séricos de anticorpos não treponêmicos
das gestantes diminuíram 4 vezes e não aumentaram em 24 meses de seguimento, chegando a
negativar em 10 casos. Não houve manifestações de sífilis congênita em nenhum dos bebês ao
nascimento e os testes para sífílis realizados nos bebês foram negativos logo após o
nascimento ou 6 meses depois.

Impacto Orçamentário: A substituição da ceftriaxona de 250mg, pela apresentação de 500mg,


para o tratamento de gestantes com sífilis e com alergia confirmada à penicilina, atinge uma
economia de 73%.

Deliberação final: Os membros da CONITEC deliberaram, por unanimidade, recomendar a


incorporação da ceftriaxona 500mg injetável para tratamento da sífilis em gestantes com
alergia confirmada à penicilina.

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Decisão: Incorporar a ceftriaxona 500mg injetável para o tratamento de sífilis, conforme
normas técnicas definidas pelo Ministério da Saúde, no âmbito do Sistema Único de Saúde-
SUS. Portaria nº 57 publicada no DOU nº 190, pág. 693, de 05/10/2015.

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2. APRESENTAÇÃO

Algumas propostas de incorporação tecnológica no SUS são avaliadas pela CONITEC de


forma simplificada, não sendo submetidas à consulta pública e/ou audiência pública. São
propostas de relevante interesse público que tratam de ampliação de uso de tecnologias, nova
apresentação de medicamentos ou incorporação de medicamentos com tradicionalidade de
uso. Todas essas demandas envolvem tecnologias de baixo custo e baixo impacto
orçamentário para o SUS e estão relacionadas à elaboração ou revisão de protocolos clínicos e
diretrizes terapêuticas (PCDT).

3. SOLICITAÇÃO DE INCORPORAÇÃO

Demandante: Secretaria de Vigilância em Saúde – SVS

Nome genérico da tecnologia: ceftriaxona 500mg injetável

O Departamento de DST/Aids e Hepatites Virais (DDAHV), Secretaria de Vigilância em


Saúde (SVS) do Ministério da Saúde, está em processo de revisão do protocolo clínico e
diretrizes terapêuticas (PCDT) de atenção integral às pessoas com Infecções Sexualmente
Transmissíveis (IST). Dentre as recomendações propostas pelo PCDT para IST em discussão
está o uso de ceftriaxona 500mg injetável, como alternativa ao tratamento da gestante com
sífilis e com alergia confirmada à penicilina, no caso de total impossibilidade de sua
dessensibilização à penicilina.

A ceftriaxona, na forma farmacêutica pó para solução injetável e nas concentrações


250mg e 1g, já é disponibilizada pelo SUS, através do Componente Básico da Assistência
Farmacêutica1. Entretanto, como medida cautelar para mitigar a resistência bacteriana à
ceftriaxona, o novo PCDT de Atenção Integral às Pessoas com IST prevê, em todos os casos, a
substituição da apresentação 250mg pela apresentação 500mg.

Este relatório tem o objetivo de avaliar a incorporação no SUS da nova apresentação


de ceftriaxona, na concentração de 500mg injetável, como alternativa ao tratamento da
gestante com sífilis e com alergia confirmada à penicilina, no caso de total impossibilidade de
sua dessensibilização à penicilina.

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4. A DOENÇA
4.1. Aspectos clínicos e epidemiológicos da doença

A sífilis é uma doença sexualmente transmissível, causada pela bactéria Treponema


Pallidum, infecciosa e sistêmica, a partir de sua manifestação. A infecção pode ser classificada
como congênita (transmitida da mãe para o bebê ainda no útero) ou adquirida (através de
sexo ou transfusão sanguínea)2,3.

A sífilis adquirida pode ser classificada em recente (com menos de um ano de


evolução) ou tardia (com mais de um ano de evolução). A sífilis adquirida recente pode se
apresentar nas formas primária, secundária ou latente recente e a tardia, nas formas latente
tardia ou terciária4.

O quadro clínico, o diagnóstico e o tratamento da sífilis na gestação não diferem do


período não gestacional4.

No Estudo Sentinela Parturiente, que teve como finalidade estimar a taxa de


prevalência de sífilis na gestação no Brasil, a partir de informações coletadas nas maternidades
do SUS, a prevalência da sífilis em parturientes foi de 1,6%, em 2004, e de 1,1%, em 20065.

Em 2012, a taxa de detecção de sífilis em gestantes foi de 5,8 por 1.000 nascidos vivos.
Em 2013, foram registrados no SINAN 21.382 casos de sífilis em gestantes, com taxa de
detecção de 7,4 por 1.000 nascidos vivos6.

4.2. Tratamento recomendado

A penicilina G, administrada via parenteral, é a única terapia com eficácia


documentada no tratamento de gestantes com sífilis e na prevenção da transmissão vertical
da doença para o bebê, apresentando 98% de taxa de sucesso nessa prevenção7.

O Ministério da Saúde recomenda o uso da penicilina no tratamento da sífilis materna


durante a gestação. As gestantes com alergia comprovada à penicilina, após testes de
sensibilidade, devem ser dessensibilizadas e posteriormente tratadas com penicilina, em
ambiente hospitalar. Na impossibilidade de tratamento com penicilina, as gestantes devem ser
tratadas com eritromicina (estearato) 500 mg, por via oral; entretanto, essa gestante não será
considerada adequadamente tratada para fins de transmissão fetal, sendo obrigatória a
investigação e o tratamento adequado da criança logo após seu nascimento. O uso de

5
tetraciclina, doxiciclina e estolato de eritromicina é contra-indicado na gestação4. O
tratamento da sífilis materna com outro medicamento, que não seja a penicilina, é
considerado tratamento inadequado para o feto e, portanto, não previne a sífilis congênita4.

5. EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS

Com o objetivo de avaliar a eficácia e a segurança do uso da ceftriaxona 500mg


injetável, como alternativa ao tratamento da gestante com sífilis, foi realizada uma pesquisa
por artigos científicos nas bases Medline (via Pubmed), Biblioteca Cochrane (via Bireme) e
Centre for Reviews and Dissemination (CRD), em março de 2015, com o objetivo de localizar
evidências sobre o tema. As estratégias de busca e os números de estudos encontrados,
selecionados e utilizados encontram-se no quadro abaixo (Quadro 1).

Quadro 1: Estratégia de busca


Bases de Referências Referências Referências
Estratégia de busca
dados encontradas selecionadas utilizadas
Cochrane
Ceftriaxone and Syphilis 0 0 0
(via Bireme)
CRD (ceftriaxone) AND (Syphilis) IN DARE, HTA 0 0 0
Medline (via "Pregnancy"[Mesh] AND ceftriaxone AND
12 1 1
Pubmed) Syphilis

Foram selecionados somente os estudos que avaliaram a eficácia e a segurança do uso


da ceftriaxona no tratamento da sífilis em mulheres grávidas.

Foi encontrada somente uma série de casos, na qual a eficácia da ceftriaxona foi
avaliada em 11 mulheres grávidas chinesas com sífilis primária (n=3) ou secundária (n=8), com
história de alergia à penicilina e teste cutâneo positivo para alergia à penicilina. Todas as
mulheres apresentavam lesões na pele resultantes da sífilis. A ceftriaxona, na dose de 250mg
uma vez ao dia, foi administrada via intramuscular, por 7 dias nas grávidas com sífilis primária
e por 10 dias nas grávidas com sífilis secundária. Um segundo curso de tratamento foi
administrado na 28ª semana da gestação. As lesões na pele desapareceram após 1 mês do
primeiro curso de tratamento e não houve recaídas em 24 meses de seguimento. Em 3 meses
de tratamento, os títulos séricos de anticorpos não treponêmicos (reaginas) das gestantes
diminuíram 4 vezes e não aumentaram em 24 meses de seguimento, chegando a negativar em
10 casos. Não houve manifestações de sífilis congênita em nenhum dos bebês ao nascimento,

6
nem durante os 24 meses de seguimento; os testes para sífílis realizados nos bebês foram
negativos logo após o nascimento ou 6 meses depois8.

6. IMPACTO ORÇAMENTÁRIO

Atualmente, a aquisição dos medicamentos para IST são de responsabilidade dos


estados e dos municípios, cabendo ao Ministério da Saúde a normatização, registro e avaliação
dos produtos disponíveis no mercado.

Para se estimar a quantidade anual de gestantes no Brasil, foi feita uma pesquisa no
Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC) na base de dados Tabnet/DATASUS do
Ministério da Saúde9. O último ano com dados disponíveis de nascidos vivos foi o ano de 2012
(Quadro 3).

Quadro 2: Total de nascidos vivos no Brasil por ano (de 2002 a 2012)

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
3.059.402 3.038.251 3.026.548 3.035.096 2.944.928 2.891.328 2.934.828 2.881.581 2.861.868 2.913.160 2.905.789

A partir do número de nascidos vivos no Brasil de 2002 a 2012, observou-se que em


alguns anos esse número cresce e, em outros, decresce e, por isso, para estimar a média anual
de nascidos vivos, foi calculada a média dos últimos 10 anos disponíveis (2002 a 2012). O valor
obtido, 2.953.889, foi considerado o número atual de gestantes no Brasil por ano. Sobre esse
valor, foi aplicada a prevalência de sífilis em gestantes de 0,85%, obtida no estudo Sentinela
Parturiente 201010, obtendo-se o número de 25.108 gestantes com sífilis no Brasil

Para estimar o número de gestantes com sífilis e com alergia à penicilina, foram
utilizados os dados da Revisão Sistemática de Galvão et al. (2013)11, que teve como objetivo
avaliar a incidência de reações adversas graves à penicilina benzatina em mulheres grávidas.
Como nos estudos que avaliaram a segurança da administração da penicilina não foram
incluídas mulheres grávidas, os autores da revisão avaliaram o risco de reações adversas à
penicilina na população geral. O risco de anafilaxia, combinado em metanálise, em todos os
pacientes tratados com penicilina foi de 0,002% (IC 95%: 0% ─ 0,003%; I2 = 12%). Entre
3.465.322 pacientes tratados com penicilina, foram observados 6.377 casos de reações
adversas de qualquer tipo; o risco combinado de qualquer reação adversa à penicilina foi de
0,169% (IC 95%: 0,073% a 0,265%; I2 = 97%. As reações adversas consideradas nos estudos

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foram anafilaxia, urticária, edema (incluindo angioedema e edema dos lábios), asma, prurido,
anafilaxia, doença do soro, eventos adversos graves (não especificados), náusea, vômito,
tétano, desmaios, tonturas, artralgia, necrólise epidérmica tóxica, eritema multiforme,
respiração ofegante11.

Utilizando o pressuposto de que qualquer tipo de reação adversa à penicilina descrita


no estudo de Galvão et al. (2013)11 impossibilitaria seu uso, para estimar o número de
mulheres grávidas com alergia à penicilina e que, por isso, teriam que utilizar outro
medicamento, como a ceftriaxona, a prevalência de qualquer tipo de reação adversa à
penicilina, de 0,169%, obtida no estudo de Galvão (2013), foi aplicada ao número de gestantes
com sífilis estimado anteriormente. Dessa forma, uma estimativa anual de 42 mulheres
grávidas com sífilis não poderiam utilizar a penicilina.

Para avaliar o impacto orçamentário da incorporação da ceftriaxona de 500mg para


tratamento de gestantes com sífilis, considerou-se que as gestantes impossibilitadas de usar
penicilina estão sendo tratadas atualmente, no SUS, com a ceftriaxona de 250mg, visto que o
medicamento recomendado pelo Ministério da Saúde neste caso é o estearato de
eritromicina, que não está sendo comercializado no Brasil. A ceftriaxona de 250mg, no Manual
de Controle das DST, é recomendada para o tratamento de gestantes com cancro mole e para
profilaxia das DST em gestantes. A dose utilizada para o cálculo do custo de tratamento com a
ceftriaxona de 250mg foi a utilizada no estudo de Zhou et al. 2005, descrito no item 5
(Evidências Científicas) deste relatório: 250mg uma vez ao dia, via intramuscular, por 10 dias
nas grávidas com sífilis secundária.

Para calcular o preço da ceftriaxona 500mg e de 250mg, foram considerados os valores


obtidos nas compras públicas realizadas nos anos de 2013 e 2014, registradas no Comprasnet.
Não fazem parte do cálculo os custos indiretos relacionados a impostos, encargos sociais e
inflação. Para obtenção do preço médio unitário de cada medicamento, após o cálculo do
desvio padrão e da média aritmética do preço unitário de todas as aquisições, foram
eliminados valores abaixo do limite inferior e acima do limite superior, obtidos pela subtração
e soma, respectivamente, do desvio padrão da média calculada. Feitas as eliminações, foi
calculada nova média conforme metodologia empregada pelo Departamento de Logística em
Saúde, Secretaria Executiva do MS. Tendo em vista que as aquisições deste medicamento são
realizadas por diferentes órgãos da administração pública, o gasto real em cada estado ou

8
município pode sofrer variações conforme a modalidade de compra, o quantitativo adquirido e
o fornecedor.

• Preço médio calculado para Ceftriaxona 500mg: R$ 3,19

• Preço médio calculado para Ceftriaxona 250mg: R$ 11,78

De acordo com o PCDT em elaboração, a dose de ceftriaxona que será utilizada para o
tratamento será 500 mg, uma vez ao dia, por 10 dias. Portanto, serão utilizados 10 frascos-
ampola de ceftriaxona de 500mg, por tratamento, ao custo de R$ 31,90. De acordo com a dose
da ceftriaxona utilizada no estudo de Zhou, 250mg uma vez ao dia, por 10 dias, serão utilizados
e 10 frascos-ampola de ceftriaxona de 250mg, por tratamento, ao custo de R$ 117,80.

Portanto, a substituição da ceftriaxona de 250mg, pela apresentação de 500mg, para o


tratamento de gestantes com sífilis e com alergia confirmada à penicilina, atinge uma
economia de 73%. (Quadro 4)

Quadro 4: Cálculo do impacto orçamentário resultante da incorporação da ceftriaxona 500mg


para tratamento de gestantes com sífilis e com alergia comprovada à penicilina

Média anual do número de gestantes no Brasil (SINASC 2002-2012) 2.953.889


Número de grávidas com sífilis considerando a prevalência de 0,85% de sífilis
25.108
em gestantes
Estimativa do número de gestantes com sífilis que não podem usar a
penicilina, considerando a prevalência de qualquer tipo de reação adversa à 42
penicilina, de 0,169%
Preço da Ceftriaxona sódica injetável de 500 mg (Comprasnet) R$ 3,19
Preço de 10 frascos-ampola de Ceftriaxona sódica, 500 mg (tratamento) R$ 31,90
Preço da Ceftriaxona sódica injetável de 250 mg (Comprasnet) R$ 11,78
Preço de 10 frascos-ampola de Ceftriaxona sódica, 250 mg (tratamento) R$ 117,80
Impacto orçamentário anual com o uso da Ceftriaxona 500mg R$ 1.339,80
Impacto orçamentário anual com o uso da Ceftriaxona 250mg R$ 4.947,60
Diferença - R$ 3.607,80

7. FINANCIAMENTO/IMPLEMENTAÇÃO

A aquisição dos medicamentos para as IST é de responsabilidade dos estados e


municípios, cabendo a cada ente pactuar na Comissão Intergestora Bipartite (CIB) as
necessidades, segundo a situação epidemiológica de cada Região de Saúde. As dificuldades
existentes na gestão compartilhada devem ser solucionadas para que o controle das IST seja
efetivo em toda a extensão da rede de atenção.

9
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A ceftriaxona é uma opção de tratamento de gestantes com sífilis e que não podem ser
utilizar o tratamento de primeira escolha com penicilina. A substituição da ceftriaxona de
250mg, pela apresentação de 500mg, para o tratamento de gestantes com sífilis e com alergia
confirmada à penicilina, atinge uma economia de 73%.

9. DELIBERAÇÃO FINAL

Os membros da CONITEC presentes na reunião do plenário do dia 02/04/2015


deliberaram, por unanimidade, recomendar a incorporação da ceftriaxona 500mg injetável
para tratamento da sífilis em gestantes com alergia confirmada à penicilina.

Foi assinado o Registro de Deliberação nº 109/2015.

10. DECISÃO
PORTARIA Nº 57, DE 1º DE OUTUBRO DE 2015

Torna pública a decisão de incorporar a


ceftriaxona 500mg injetável para o tratamento
de sífilis, conforme normas técnicas
definidas pelo Ministério da Saúde, no âmbito
do Sistema Único de Saúde - SUS.

O SECRETÁRIO SUBSTITUTO DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INSUMOS ESTRATÉGICOS DO


MINISTÉRIO DA SAÚDE, no uso de suas atribuições legais e com base nos termos dos art. 20 e
art. 23 do Decreto 7.646, de 21 de dezembro de 2011, resolve:

Art. 1º Fica incorporada a ceftriaxona 500mg injetável para tratamento de sífilis, conforme
normas técnicas definidas pelo Ministério da Saúde, no âmbito do Sistema Único de Saúde -
SUS.

10
Art. 2º O relatório de recomendação da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no
SUS (CONITEC) sobre a tecnologia estará disponível no endereço eletrônico:
http://conitec.gov. br/ index. php/ decisoes- sobre- incorporacoes.

Art. 3º Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.

LUIZ ARMANDO ERTHAL

Publicação no DOU nº 190, pág. 693, em 05/10/2015.

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11. REFERÊNCIAS
1. Brasil. Ministério da Saúde. Relação Nacional de Medicamentos Essenciais – RENAME 2014.
Elenco de medicamentos e insumos da RENAME 2014. Disponível em:
http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2015/janeiro/13/Rename-2014.pdf. Acesso em
25/02/2015.
2. Sonda EC et al. Sífilis Congênita: uma revisão da literatura. Rev Epidemiol Control Infect.
2013;3(1):28-30.
3. Damasceno ABA et al. Sífilis na gravidez. Revista HUPE, Rio de Janeiro, 2014;13(3):88-94
4. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST e Aids.
Protocolo para a prevenção de transmissão vertical de HIV e sífilis: manual de bolso. 2007.
Disponível em:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/protocolo_prevencao_transmissao_verticalhivsifili
s_manualbolso.pdf.
5. Szwarcwald CL, Barbosa Jr. A, Miranda AE, Paz LC. Resultados do Estudo Sentinela-Parturiente,
2006: Desafios para o controle da Sífilis Congênita no Brasil. DST-J Bras Doenças Sex Transm.
2007; 19(3-4):128-133.
6. Ministério da Saúde. Transmissão vertical do HIV e Sífilis: estratégias para redução e
eliminação. Brasília, DF, 2014. Disponível em:
http://www.aids.gov.br/sites/default/files/anexos/publicacao/2014/56610/folder_transmissao
_vertical_hiv_sifilis_web_pd_60085.pdf. Acesso em: 02/01/2015.
7. Centers for Disease Control and Prevention. Sexually transmitted diseases treatment
guidelines, 2010. MMWR. Recommendations and Reports. December 17, 2010; 59(Nº RR-
12):26-36 Disponível em: http://www.cdc.gov/mmwr/pdf/rr/rr5912.pdf
8. Zhou P et al. A Study Evaluating Ceftriaxone as a Treatment Agent for Primary and Secondary
Syphilis in Pregnancy. Sexually Transmitted Diseases, August 2005, Vol. 32, No. 8, p.495–498.
9. Ministério da Saúde. DATASUS. TabNet Win32 3.0: Nascidos Vivos – Brasil. Disponível em:
http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?sinasc/cnv/nvuf.def. Acesso em 10/03/2015.
10. Estudo com dados compilados pelo Departamento DST, Aids e Hepatites Virais/SVS/MS,
disponível por meio de solicitação ao DDAHV/SVS/MS.
11. Galvao TF, Silva MT, Serruya SJ, Newman LM, Klausner JD, et al. (2013) Safety of Benzathine
Penicillin for Preventing Congenital Syphilis: A Systematic Review. PLoS ONE 8(2): e56463.
doi:10.1371/journal.pone.0056463.
12. Ministério da Saúde. DATASUS. Banco de Preços em Saúde. Secretaria Executiva .
Departamento de Economia da Saúde, Investimentos e Desenvolvimento. Coordenação Geral
de Economia da Saúde. Disponível em: http://bps.saude.gov.br. Acesso em: 12/03/2015.

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