Relatorio Ceftriaxona Sfilis Final
Relatorio Ceftriaxona Sfilis Final
Relatorio Ceftriaxona Sfilis Final
No 153
Outubro/2015
1
2015 Ministério da Saúde.
É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte e que não
seja para venda ou qualquer fim comercial.
Informações:
MINISTÉRIO DA SAÚDE
E-mail: [email protected]
http://conitec.gov.br
CONTEXTO
Em 28 de abril de 2011, foi publicada a Lei n° 12.401 que dispõe sobre a assistência
terapêutica e a incorporação de tecnologias em saúde no âmbito do SUS. Esta lei é um marco
para o SUS, pois define os critérios e prazos para a incorporação de tecnologias no sistema
público de saúde. Define, ainda, que o Ministério da Saúde, assessorado pela Comissão
Nacional de Incorporação de Tecnologias – CONITEC, tem como atribuições a incorporação,
exclusão ou alteração de novos medicamentos, produtos e procedimentos, bem como a
constituição ou alteração de protocolo clínico ou de diretriz terapêutica.
i
Cabem à Secretaria-Executiva – exercida pelo Departamento de Gestão e Incorporação
de Tecnologias em Saúde (DGITS/SCTIE) – a gestão e a coordenação das atividades da
CONITEC, bem como a emissão deste relatório final sobre a tecnologia, que leva em
consideração as evidências científicas, a avaliação econômica e o impacto da incorporação da
tecnologia no SUS.
ii
SUMÁRIO
1
1. RESUMO EXECUTIVO
Tecnologia: ceftriaxona 500mg injetável
Indicação: Tratamento da gestante com sífilis e com alergia confirmada à penicilina, no caso de
total impossibilidade de sua dessensibilização à penicilina.
Contexto: A sífilis é uma doença sexualmente transmissível, causada pela bactéria Treponema
Pallidum, infecciosa e sistêmica, a partir de sua manifestação. A prevalência da sífilis em
parturientes foi de 1,6%, em 2004, e de 1,1%, em 2006. O protocolo clínico e diretrizes
terapêuticas (PCDT) de atenção integral às pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis
(IST) está sendo revisado e dentre as recomendações propostas está o uso de ceftriaxona
500mg injetável, como alternativa ao tratamento da gestante com sífilis e com alergia
confirmada à penicilina, no caso de total impossibilidade de sua dessensibilização à penicilina.
A ceftriaxona, na forma farmacêutica pó para solução injetável e nas concentrações 250mg e
1g, já é disponibilizada pelo SUS. Entretanto, como medida cautelar para mitigar a resistência
bacteriana à ceftriaxona, o novo PCDT de Atenção Integral às Pessoas com IST prevê, em todos
os casos, a substituição da apresentação 250mg pela apresentação 500mg.
Evidências científicas: em busca realizada na literatura científica, foi encontrada uma série de
casos que avaliou a eficácia da ceftriaxona em 11 mulheres grávidas com sífilis primária ou
secundária. Após 3 meses de tratamento, os títulos séricos de anticorpos não treponêmicos
das gestantes diminuíram 4 vezes e não aumentaram em 24 meses de seguimento, chegando a
negativar em 10 casos. Não houve manifestações de sífilis congênita em nenhum dos bebês ao
nascimento e os testes para sífílis realizados nos bebês foram negativos logo após o
nascimento ou 6 meses depois.
2
Decisão: Incorporar a ceftriaxona 500mg injetável para o tratamento de sífilis, conforme
normas técnicas definidas pelo Ministério da Saúde, no âmbito do Sistema Único de Saúde-
SUS. Portaria nº 57 publicada no DOU nº 190, pág. 693, de 05/10/2015.
3
2. APRESENTAÇÃO
3. SOLICITAÇÃO DE INCORPORAÇÃO
4
4. A DOENÇA
4.1. Aspectos clínicos e epidemiológicos da doença
Em 2012, a taxa de detecção de sífilis em gestantes foi de 5,8 por 1.000 nascidos vivos.
Em 2013, foram registrados no SINAN 21.382 casos de sífilis em gestantes, com taxa de
detecção de 7,4 por 1.000 nascidos vivos6.
5
tetraciclina, doxiciclina e estolato de eritromicina é contra-indicado na gestação4. O
tratamento da sífilis materna com outro medicamento, que não seja a penicilina, é
considerado tratamento inadequado para o feto e, portanto, não previne a sífilis congênita4.
5. EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS
Foi encontrada somente uma série de casos, na qual a eficácia da ceftriaxona foi
avaliada em 11 mulheres grávidas chinesas com sífilis primária (n=3) ou secundária (n=8), com
história de alergia à penicilina e teste cutâneo positivo para alergia à penicilina. Todas as
mulheres apresentavam lesões na pele resultantes da sífilis. A ceftriaxona, na dose de 250mg
uma vez ao dia, foi administrada via intramuscular, por 7 dias nas grávidas com sífilis primária
e por 10 dias nas grávidas com sífilis secundária. Um segundo curso de tratamento foi
administrado na 28ª semana da gestação. As lesões na pele desapareceram após 1 mês do
primeiro curso de tratamento e não houve recaídas em 24 meses de seguimento. Em 3 meses
de tratamento, os títulos séricos de anticorpos não treponêmicos (reaginas) das gestantes
diminuíram 4 vezes e não aumentaram em 24 meses de seguimento, chegando a negativar em
10 casos. Não houve manifestações de sífilis congênita em nenhum dos bebês ao nascimento,
6
nem durante os 24 meses de seguimento; os testes para sífílis realizados nos bebês foram
negativos logo após o nascimento ou 6 meses depois8.
6. IMPACTO ORÇAMENTÁRIO
Para se estimar a quantidade anual de gestantes no Brasil, foi feita uma pesquisa no
Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC) na base de dados Tabnet/DATASUS do
Ministério da Saúde9. O último ano com dados disponíveis de nascidos vivos foi o ano de 2012
(Quadro 3).
Quadro 2: Total de nascidos vivos no Brasil por ano (de 2002 a 2012)
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
3.059.402 3.038.251 3.026.548 3.035.096 2.944.928 2.891.328 2.934.828 2.881.581 2.861.868 2.913.160 2.905.789
Para estimar o número de gestantes com sífilis e com alergia à penicilina, foram
utilizados os dados da Revisão Sistemática de Galvão et al. (2013)11, que teve como objetivo
avaliar a incidência de reações adversas graves à penicilina benzatina em mulheres grávidas.
Como nos estudos que avaliaram a segurança da administração da penicilina não foram
incluídas mulheres grávidas, os autores da revisão avaliaram o risco de reações adversas à
penicilina na população geral. O risco de anafilaxia, combinado em metanálise, em todos os
pacientes tratados com penicilina foi de 0,002% (IC 95%: 0% ─ 0,003%; I2 = 12%). Entre
3.465.322 pacientes tratados com penicilina, foram observados 6.377 casos de reações
adversas de qualquer tipo; o risco combinado de qualquer reação adversa à penicilina foi de
0,169% (IC 95%: 0,073% a 0,265%; I2 = 97%. As reações adversas consideradas nos estudos
7
foram anafilaxia, urticária, edema (incluindo angioedema e edema dos lábios), asma, prurido,
anafilaxia, doença do soro, eventos adversos graves (não especificados), náusea, vômito,
tétano, desmaios, tonturas, artralgia, necrólise epidérmica tóxica, eritema multiforme,
respiração ofegante11.
8
município pode sofrer variações conforme a modalidade de compra, o quantitativo adquirido e
o fornecedor.
De acordo com o PCDT em elaboração, a dose de ceftriaxona que será utilizada para o
tratamento será 500 mg, uma vez ao dia, por 10 dias. Portanto, serão utilizados 10 frascos-
ampola de ceftriaxona de 500mg, por tratamento, ao custo de R$ 31,90. De acordo com a dose
da ceftriaxona utilizada no estudo de Zhou, 250mg uma vez ao dia, por 10 dias, serão utilizados
e 10 frascos-ampola de ceftriaxona de 250mg, por tratamento, ao custo de R$ 117,80.
7. FINANCIAMENTO/IMPLEMENTAÇÃO
9
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A ceftriaxona é uma opção de tratamento de gestantes com sífilis e que não podem ser
utilizar o tratamento de primeira escolha com penicilina. A substituição da ceftriaxona de
250mg, pela apresentação de 500mg, para o tratamento de gestantes com sífilis e com alergia
confirmada à penicilina, atinge uma economia de 73%.
9. DELIBERAÇÃO FINAL
10. DECISÃO
PORTARIA Nº 57, DE 1º DE OUTUBRO DE 2015
Art. 1º Fica incorporada a ceftriaxona 500mg injetável para tratamento de sífilis, conforme
normas técnicas definidas pelo Ministério da Saúde, no âmbito do Sistema Único de Saúde -
SUS.
10
Art. 2º O relatório de recomendação da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no
SUS (CONITEC) sobre a tecnologia estará disponível no endereço eletrônico:
http://conitec.gov. br/ index. php/ decisoes- sobre- incorporacoes.
11
11. REFERÊNCIAS
1. Brasil. Ministério da Saúde. Relação Nacional de Medicamentos Essenciais – RENAME 2014.
Elenco de medicamentos e insumos da RENAME 2014. Disponível em:
http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2015/janeiro/13/Rename-2014.pdf. Acesso em
25/02/2015.
2. Sonda EC et al. Sífilis Congênita: uma revisão da literatura. Rev Epidemiol Control Infect.
2013;3(1):28-30.
3. Damasceno ABA et al. Sífilis na gravidez. Revista HUPE, Rio de Janeiro, 2014;13(3):88-94
4. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST e Aids.
Protocolo para a prevenção de transmissão vertical de HIV e sífilis: manual de bolso. 2007.
Disponível em:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/protocolo_prevencao_transmissao_verticalhivsifili
s_manualbolso.pdf.
5. Szwarcwald CL, Barbosa Jr. A, Miranda AE, Paz LC. Resultados do Estudo Sentinela-Parturiente,
2006: Desafios para o controle da Sífilis Congênita no Brasil. DST-J Bras Doenças Sex Transm.
2007; 19(3-4):128-133.
6. Ministério da Saúde. Transmissão vertical do HIV e Sífilis: estratégias para redução e
eliminação. Brasília, DF, 2014. Disponível em:
http://www.aids.gov.br/sites/default/files/anexos/publicacao/2014/56610/folder_transmissao
_vertical_hiv_sifilis_web_pd_60085.pdf. Acesso em: 02/01/2015.
7. Centers for Disease Control and Prevention. Sexually transmitted diseases treatment
guidelines, 2010. MMWR. Recommendations and Reports. December 17, 2010; 59(Nº RR-
12):26-36 Disponível em: http://www.cdc.gov/mmwr/pdf/rr/rr5912.pdf
8. Zhou P et al. A Study Evaluating Ceftriaxone as a Treatment Agent for Primary and Secondary
Syphilis in Pregnancy. Sexually Transmitted Diseases, August 2005, Vol. 32, No. 8, p.495–498.
9. Ministério da Saúde. DATASUS. TabNet Win32 3.0: Nascidos Vivos – Brasil. Disponível em:
http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?sinasc/cnv/nvuf.def. Acesso em 10/03/2015.
10. Estudo com dados compilados pelo Departamento DST, Aids e Hepatites Virais/SVS/MS,
disponível por meio de solicitação ao DDAHV/SVS/MS.
11. Galvao TF, Silva MT, Serruya SJ, Newman LM, Klausner JD, et al. (2013) Safety of Benzathine
Penicillin for Preventing Congenital Syphilis: A Systematic Review. PLoS ONE 8(2): e56463.
doi:10.1371/journal.pone.0056463.
12. Ministério da Saúde. DATASUS. Banco de Preços em Saúde. Secretaria Executiva .
Departamento de Economia da Saúde, Investimentos e Desenvolvimento. Coordenação Geral
de Economia da Saúde. Disponível em: http://bps.saude.gov.br. Acesso em: 12/03/2015.
12