Responsabilidade Pelo Risco PDF
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A responsabilidade do comitente é uma responsabilidade objetiva pelo que não depende de culpa
sua na escolha do comissário, na sua vigilância ou nas instruções que lhe deu. No entanto, essa
responsabilidade objectiva apenas funciona na relação com o lesado (relação externa) já que
posteriormente o comitente terá na relação com o comissário (relação interna) o direito a exigir a
restituição de tudo quanto pagou ao lesado, salvo se ele próprio tiver culpa, em que se aplicará o
regime da pluralidade de responsáveis pelo dano (art. 500º\3). Pode-se dizer, por isso, que esta
responsabilidade tem por função específica a garantia do pagamento da indemnização ao lesado.
Temos um regime de responsabilidade objectiva do comitente pelos factos danosos praticados pelo
seu comissário que possui os seguintes pressupostos:
B) Prática de factos danosos pelo comissário no exercicio da função que lhe foi confiada
Se a imputação ao comitente se justifica por ele ter confiado ao comissário uma função que lhe
cabia desempenhar, não deve a sua responsabilidade extravasar da função que foi efectivamente
confiada funcionando esta assim como delimitação da zona de riscos a cargo do comitente.
Divergência doutrinária:
- Doutrina: interpretação restritiva do requisito considerando que a expressão “no exercício das
funções” exclui os danos causados por ocasião da função, com um fim ou interesse que lhe seja
estranho, exigindo-se assim um nexo instrumental entre a função e os danos.
- Menezes Leitão: a lei apenas se refere ao causamento de danos no exercício da função, não
exigindo também que os danos sejam causados por causa desse exercício. Basta, por isso, um
nexo etiológico entre a função e os danos, no sentido de que seja no seu exercício que os danos
sejam originados. Efectivamente, tirando o comitente proveito da função exercida pelo
comissário é justo que responda por todos os danos que o comissário causa a outrem enquanto
exerce essa função. Exemplo: o empregado bancário que resolve burlar os clientes do banco,
naturalmente que se justifica que o banco responda como comitente.
E, por isso, desde que no exercício da função, a responsabilidade do comitente abrange também os
actos intencionais do comissário ou praticados em desrespeito das instruções.
Menezes Leitão: a lei não exige uma demonstração efectiva da culpa do comissário, bastando- se o
art. 500º\1 com uma culpa presumida. Parece, porém, duvidosa a possibilidade de aqui serem
abrangidas a responsabilidade pelo risco ou por sacrifício praticado pelo comissário. Efectivamente,
nos casos de responsabilidade pelo risco, a lei quase sempre exige um benefício próprio retirado da
actividade (arts. 502º e 503º), que não pode recair no comitente por intermédio do comissário. Na
verdade, ou esse benefício é retirado pelo comitente e então ele responde logo com base nas
referidas previsões de risco, ou compete antes ao próprio agente.
Para além disso convém recordar que a lei estabelece a responsabilidade do comitente apenas para
garantia do pagamento de indemnização, uma vez que depois cabe ao comitente direito de regresso
integral sobre o autor do dano, a menos que haja concorrência de culpas (art. 500º\3).
Por isso, Menezes Leitão adere à 1ª solução.
Requisitos:
- Utilização dos animais no próprio interesse: abrange o proprietário dos animais, mas também
todos os titulares da faculdade de utilização própria do animal, sendo que a utilização por estes
excluirá a responsabilidade daquele.
- Os danos resultem do perigo especial que envolve a utilização do animal: restringe-se a
responsabilidade a uma zona de riscos normalmente conexos com a sua utilização. Desta zona de
risco não são excluídos os casos de força maior (ex: o cavalo que derruba alguém a fugir de um
incêndio) nem os factos de terceiro (cavalo que é provocado por um terceiro), ainda que nesta
ultima hipótese possa ocorrer também a responsabilidade deste. Ocorrendo culpa do lesado,
aplicar-se-á o regime do art. 570º. Pelo contrário, estarão excluídos os danos que embora
causados pelo animal são exteriores aos perigos da sua utilização. Assim, se alguém sofre uma
queda por se assustar ouvindo ladrar um cão preso, não haverá qualquer responsabilidade do
dono do animal.
- Direção efetiva do veiculo causador do dano: significa ter um poder de facto, ou exercer controlo
sobre o veiculo, independentemente da titularidade ou não de algum direito sobre o mesmo; essa
pessoa tem de ser imputável. Terão assim a direção efetiva do veículo tantos os detentores
legítimos, como os ilegítimos (ladrão). Sempre que falte esse poder de facto, excluir-se-á a
direcção efectiva (ex: aluno da escola de condução).
- Utilização no seu próprio interesse: exclui a responsabilidade objectiva daqueles que conduzem o
veículo por conta de outrem (comissário, que o utiliza às ordens do comitente), recaindo a
responsabilidade sobre o próprio comitente. Estão aqui abrangidos todos os veículos de
circulação rodoviária, bem como de circulação ferroviária.
- Danos provenientes dos riscos próprios do veículo: danos resultantes da circulação do veiculo
(quer em via publica, quer em recintos privados – ex: atropelamento, embate, colisão), como os
danos causados pelo veiculo quando imobilizado (ex: curto circuito do motor).
A responsabilidade pelo risco é excluída sempre que o acidente seja imputável ao próprio lesado. A
expressão “imputável” não significará neste caso que seja exigível a culpa do lesado, sendo, porém,
necessário que a sua conduta tenha sido a única causa do dano. Assim comportamento automáticos,
ditados pelo medo ou por reações instintivas serão também determinantes da exclusão da
responsabilidade pelo risco.
A responsabilidade será excluída sempre que o acidente seja imputável a terceiro, levando à
exclusão da responsabilidade do condutor do veiculo. No caso de haver culpa concorrente do
condutor com a responsabilidade do terceiro, ambos responderão solidariamente perante o lesado
(artigo 497º)
Por fim, a responsabilidade pelo risco é excluída sempre que o acidente resulte de causa de força
maior estranha ao funcionamento do veiculo (ou seja, casos em que as consequências não poderiam
ser evitadas, exigindo-se porém que esse acontecimento seja exterior ao funcionamento do veiculo,
ex: inundações).
C) beneficiários da responsabilidade
A lei esclarece que, relativamente aos beneficiários da responsabilidade, está tanto aproveita a
terceiros como às pessoas transportadas, abrangendo assim tanto os que se encontravam fora do
veiculo como dentro dele. No caso de transporte em virtude de contrato, a responsabilidade só
abrange os danos que atinjam a própria pessoa e as coisas por ela transportadas. No caso de
transporte gratuito, a responsabilidade apenas abrange os danos pessoais da pessoa transportada,
excluindo-se os danos nas coisas transportadas com a pessoa.
A doutrina sustentou que a condução de veículos consistia numa atividade perigosa por natureza
própria, o que nos termos do artigo 493º\2 permitia fazer recair sobre o condutor de veículos a
presunção de culpa, caso se verificassem acidentes.
No entanto, mais tarde é fixada a doutrina de que "o disposto no art. 493°, n° 2 do Código Civil não
tem aplicação em matéria de acidentes de circulação terrestre”, interpretação que implica que na
condução de veículos, o lesado só beneficie em geral da responsabilidade pelo risco, já que a
obtenção de uma indemnização com base na culpa dependerá das possibilidade que tenha de provar
a culpa do agente (art. 487°, n° 1).
No entanto, o art. 503°, n° 3, vem estabelecer uma presunção de culpa do comissário pelos danos
causados, o que permite ao comitente, caso o comissário não vier a elidir essa presunção, exercer
contra ele o direito de regresso pela indemnização que tiver pago ao lesado com fundamento na
responsabilidade pelo risco.
F) A colisão de veículos
O artigo 506º regula o regime de acidentes de veículos, neste caso a situação da colisão de veículos.
A solução deste artigo é a de que se apenas um dos condutores tiver culpa no acidente, deve ser ele
a responder exclusivamente pelos danos causados. Se nenhum dos condutores tiver culpa no
acidente, a responsabilidade é repartida na proporção em que o risco de cada um dos veículos
houver contribuído para os danos.
Se os danos forem causados somente por um dos veículos, sem culpa de nenhum dos condutores, só
a pessoa por eles responsável é obrigada a indemnizar, ou seja, se apenas um dos veículos tiver
causado danos (ex: veiculo que bate na traseira do outro), a responsabilidade pelo risco só surge em
relação ao causador dos danos, independentemente da culpa.
—> Em caso de duvida, o artigo 506º\2 estabelece que considera-se igual a contribuição de cada um
dos veículos para os danos, bem como a contribuição da culpa de cada condutor - repartição
igualitária.
Surge uma dúvida na doutrina, entre saber se, ocorrendo a colisão de veículos em que um era
conduzido por um condutor por conta de outrem e outro por um condutor que conduzia no seu
próprio interesse, e não se provasse a culpa de nenhum, se deveria aplicar o critério da contribuição
causal do risco dos veículos para os danos, ou presumir culpado o condutor por conta de outrem, ao
abrigo do 503º\3.
- ML defende a primeira solução, defendendo por isso a não aplicação do art.503º\3.
- O supremo tribunal de justiça adotou a segunda posição, posição maioritaria da doutrina.
Assim, no caso de ocorrer uma colisão de veículos em que um dos condutores conduz o veículo por
conta de outrem, já não se aplicará a solução do art. 506°, n° 2, presumindo-se a culpa do
comissário na verificação do acidente, nos termos do art. 503°, n° 3. Já no caso de ambos os
condutores conduzirem o veículo por conta doutrem, haverá uma concorrência de presunções de
culpa, pelo que, na ausência de outros elementos de prova, se deverá considerar como igual a
medida da culpa de ambos os condutores na verificação do acidente
A lei vem resolver essa questão estabelecendo a solidariedade dos vários responsáveis pelo dano, ao
referir no art. 507º\1. Neste caso, o art. 507º\2, determina que a repartição da responsabilidade no
âmbito das relações internas estabelece-se, sendo todos apenas responsáveis pelo risco, "de
harmonia com o interesse de cada um na utilização do veículo". Se, no entanto, "houver culpa de
algum ou alguns apenas os culpados respondem, sendo aplicável quanto ao direito de regresso, entre
eles, ou em relação a eles, o disposto no n° 2 do art. 497.
—> Danos causados pela utilização efetiva de instalações de energia elétrica ou de gás
Está previsto no artigo 509º\1.
A responsabilidade pelo risco é assim atribuída a quem tiver a direção efetiva de uma instalação
destinada à condução de energia elétrica ou do gás e utilizar essa instalação no seu próprio
interesse.
Discussão doutrinária:
- Antunes Varela e Almeida Costa: estende-se a todo o tipo de atividades a que se destinam as
instalações de energia, o que permite abranger, quer a produção e armazenamento, quer a
condução ou transporte, quer a entrega ou distribuição.
- Ribeiro de Faria e Menezes Leitão: responsabilidade pelos risco restringe-se à condução ou
entrega, pelo que não abrange os riscos derivados da própria produção de energia, uma vez que a
instalação destinada à produção de gás ou energia elétrica não envolve maiores riscos do que
outras instalações industriais, noa devendo assim o seu regime ser diferenciado.
É de notar que esta responsabilidade pelo risco é afastada se, ao tempo do acidente, a instalação se
encontrar a funcionar de acordo com as regras técnicas em vigor e em perfeito estado de
conservação.
Da mesma forma, a responsabilidade é afastada se os danos forem devidos a causa de força maior,
considerando-se como tal "toda a causa exterior independente do funcionamento e utilização da
coisa" (art. 509°, n° 2). Considera-se, assim, força maior não apenas factos naturais externos (por
exemplo, um ciclone), mas também factos do próprio lesado (electrocussão derivada de o lesado ter
decidido subir ao poste) ou de terceiro (derrube do poste eléctrico em virtude de escavações).
Também os danos causados por utensílios de uso de energia, como eletrodomésticos ou máquinas
industriais, não são abrangidos por esta categoria de responsabilidade (art. 509°, n° 3).
Produtor —> fabricante do produto acabado, de uma parte componente ou de matéria prima e ainda
quem se apresente como tal pela aposição no produto do seu nome, marca ou sinal distintivo.
Efectivamente, segundo o modelo do Código Civil o consumidor que viesse a ser lesado por esses
produtos ver-se-ia forçado a provar todos os pressupostos da responsabilidade civil, ou seja o facto
ilícito, a culpa, o dano e o nexo de causalidade entre o facto e o dano (art. 483° do Código Civil).
Desta forma, nunca seria possivel provar todos os pressupostos, nunca conseguindo o lesado obter a
sua indemnização.
Para alem disto, pelo disposto no artigo 5º do DL 131\2001, o produtor pode ser isento de
responsabilidade se provar:
a) que não pôs o produto em circulação
b) que, tendo em conta as circunstâncias, se pode razoavelmente admitir a inexistência do defeito
no momento da entrada do produto em circulação;
c) que não fabricou o produto para venda ou qualquer outra forma de distribuição com um
objectivo económico, nem o produziu ou distribuiu no âmbito da sua actividade profissional;
d) Que o defeito é devido à conformidade do produto com as normas imperativas estabelecidas
pelas autoridades públicas;
e) que o estado dos conhecimentos científicos e técnicos, no momento em que pôs o produto em
circulação não permitia detectar a existência do defeito; ML não concorda com esta alínea, pois
considera que aproxima esta à responsabilidade por culpa.
f) que, no caso de parte componente, o defeito é imputável à concepção do produto em que foi
incorporada ou às instruções dadas pelo fabricante do mesmo.