Responsabilidade Pelo Risco PDF

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 7

Responsabilidade pelo risco

3.1. O fundamento da imputação pelo risco


O risco consiste num titulo de imputação de danos, que se baseia na delimitação de uma certa esfera
de riscos pela qual deve responder outrem que não o lesado.
Esta esfera de riscos pode ser estabelecida através de diversas concepções:
- Concepção do risco criado: cada pessoa que cria uma situação de perigo deve responder pelos
riscos que resultem dessa situação.
- Concepção do risco-proveito: a pessoa deve responder pelos danos resultantes das atividades que
tira proveito
- Concepção do risco de autoridade: a pessoa deve responder pelos danos resultantes das
atividades que tem sob o seu controle.

3.2. Casos de responsabilidade pelo risco

—> A responsabilidade do comitente


O artigo 500º estabelece a situação de responsabilidade do comitente - comitente é aquele que
encarrega alguém de uma comissão.

A responsabilidade do comitente é uma responsabilidade objetiva pelo que não depende de culpa
sua na escolha do comissário, na sua vigilância ou nas instruções que lhe deu. No entanto, essa
responsabilidade objectiva apenas funciona na relação com o lesado (relação externa) já que
posteriormente o comitente terá na relação com o comissário (relação interna) o direito a exigir a
restituição de tudo quanto pagou ao lesado, salvo se ele próprio tiver culpa, em que se aplicará o
regime da pluralidade de responsáveis pelo dano (art. 500º\3). Pode-se dizer, por isso, que esta
responsabilidade tem por função específica a garantia do pagamento da indemnização ao lesado.

Temos um regime de responsabilidade objectiva do comitente pelos factos danosos praticados pelo
seu comissário que possui os seguintes pressupostos:

A) Existência de uma relação de comissão


A nossa doutrina tem vindo a estabelecer a exigência de algumas características específicas na
relação de comissão tais como:
- A liberdade de escolha do comissário pelo comitente
- A existência de um nexo de subordinação do comissário ao comitente.

No entanto, nenhuma destas características é legalmente exigida para caracterizar o conceito de


comissão, pois tal não faria sentido, uma vez que a responsabilidade do comitente se mantém
mesmo que o comissário desrespeite as sua instruções ou actue intencionalmente, bastando que
esteja no exercicio da função (indo contra o pressuposto do nexo de subordinação).

A responsabilidade do comitente não pode surgir em relação a toda e qualquer prestação de


serviços. É necessário que a função praticada pelo comissário possa ser imputada ao comitente, por
os actos nela compreendidos serem praticados exclusivamente no seu interesse e por sua conta, ou
seja, suportando ele as despesas e os ganhos dessa actividade. Essa situação acontecerá no âmbito
do contrato de trabalho (art.1152º) e noutras situações em que os resultados da função confiada ao
comissário se repercutem directamente na esfera do comitente.
Já não haverá comissão nas situações em que apesar de ser encomendado um serviço a outrem, esse
serviço corresponda a uma função autonomamente exercida pelo devedor a qual não lhe é por isso
delegada por um comitente.

B) Prática de factos danosos pelo comissário no exercicio da função que lhe foi confiada
Se a imputação ao comitente se justifica por ele ter confiado ao comissário uma função que lhe
cabia desempenhar, não deve a sua responsabilidade extravasar da função que foi efectivamente
confiada funcionando esta assim como delimitação da zona de riscos a cargo do comitente.

Divergência doutrinária:
- Doutrina: interpretação restritiva do requisito considerando que a expressão “no exercício das
funções” exclui os danos causados por ocasião da função, com um fim ou interesse que lhe seja
estranho, exigindo-se assim um nexo instrumental entre a função e os danos.
- Menezes Leitão: a lei apenas se refere ao causamento de danos no exercício da função, não
exigindo também que os danos sejam causados por causa desse exercício. Basta, por isso, um
nexo etiológico entre a função e os danos, no sentido de que seja no seu exercício que os danos
sejam originados. Efectivamente, tirando o comitente proveito da função exercida pelo
comissário é justo que responda por todos os danos que o comissário causa a outrem enquanto
exerce essa função. Exemplo: o empregado bancário que resolve burlar os clientes do banco,
naturalmente que se justifica que o banco responda como comitente.
E, por isso, desde que no exercício da função, a responsabilidade do comitente abrange também os
actos intencionais do comissário ou praticados em desrespeito das instruções.

C) Responsabilidade do comissário (obrigação de indemnizar)


A doutrina diverge sobre se para a responsabilidade objectiva do comitente se exige culpa do
comissário (Antunes Varela, entre outros) ou se basta qualquer imputação ao comitente, mesmo que
a título de responsabilidade pelo risco ou por factos lícitos (Menezes Cordeiro).

Menezes Leitão: a lei não exige uma demonstração efectiva da culpa do comissário, bastando- se o
art. 500º\1 com uma culpa presumida. Parece, porém, duvidosa a possibilidade de aqui serem
abrangidas a responsabilidade pelo risco ou por sacrifício praticado pelo comissário. Efectivamente,
nos casos de responsabilidade pelo risco, a lei quase sempre exige um benefício próprio retirado da
actividade (arts. 502º e 503º), que não pode recair no comitente por intermédio do comissário. Na
verdade, ou esse benefício é retirado pelo comitente e então ele responde logo com base nas
referidas previsões de risco, ou compete antes ao próprio agente.

Para além disso convém recordar que a lei estabelece a responsabilidade do comitente apenas para
garantia do pagamento de indemnização, uma vez que depois cabe ao comitente direito de regresso
integral sobre o autor do dano, a menos que haja concorrência de culpas (art. 500º\3).
Por isso, Menezes Leitão adere à 1ª solução.

—> A responsabilidade do estado e de outras pessoas coletivas públicas


Surge prevista no artigo 501º CC.
Deve aplicar-se igualmente o art. 500º quando o comitente seja o Estado ou outra pessoa colectiva
pública. No entanto, essa remissão é limitada aos actos de gestão privada, ou seja, aqueles em que
as entidades públicas actuam desprovidas de poderes de autoridade, como no exemplo do militar
que conduz um camião. Efectivamente, se a actuação das entidades públicas corresponder ao
exercício de poderes de autoridade (gestão pública), já não será aplicável o art. 501º.
Pressupostos:
1) relação de comissão, que neste caso, pode consistir em o lesante ser um órgão, agente ou
representante do estado ou de outra pessoa coletiva publica.
2) O facto danosos tenha sido praticado no exercício da função que lhe competia, ainda que este
tenha actuado intencionalmente ou desrespeitado as instruções recebidas.
3) O órgão, agente ou representante possa ser responsabilizado a titulo de culpa pelos danos
sofridos pelo lesado.

—> Danos causados por animais


Encontra-se estabelecido no artigo 502º CC.
Neste caso a lei determina a responsabilidade pelo risco do utilizador de animais no seu próprio
interesse, depois de no art. 493º\1 ter estabelecido em relação ao vigilante de animais uma
responsabilidade por culpa presumida. Naturalmente que nada impede a cumulação das 2
responsabilidades, caso em que os dois responderão solidariamente perante o lesado.

Requisitos:
- Utilização dos animais no próprio interesse: abrange o proprietário dos animais, mas também
todos os titulares da faculdade de utilização própria do animal, sendo que a utilização por estes
excluirá a responsabilidade daquele.
- Os danos resultem do perigo especial que envolve a utilização do animal: restringe-se a
responsabilidade a uma zona de riscos normalmente conexos com a sua utilização. Desta zona de
risco não são excluídos os casos de força maior (ex: o cavalo que derruba alguém a fugir de um
incêndio) nem os factos de terceiro (cavalo que é provocado por um terceiro), ainda que nesta
ultima hipótese possa ocorrer também a responsabilidade deste. Ocorrendo culpa do lesado,
aplicar-se-á o regime do art. 570º. Pelo contrário, estarão excluídos os danos que embora
causados pelo animal são exteriores aos perigos da sua utilização. Assim, se alguém sofre uma
queda por se assustar ouvindo ladrar um cão preso, não haverá qualquer responsabilidade do
dono do animal.

—> Danos causados por veículos


1) Danos causados por veículos de circulação terrestre

A) pressupostos da responsabilidade pelo risco


Encontra-se regulado no artigo 503º\1, sendo que deste se extrai uma responsabilidade objetiva do
utilizador de veículos, limitada aos riscos próprios dos veículos.

- Direção efetiva do veiculo causador do dano: significa ter um poder de facto, ou exercer controlo
sobre o veiculo, independentemente da titularidade ou não de algum direito sobre o mesmo; essa
pessoa tem de ser imputável. Terão assim a direção efetiva do veículo tantos os detentores
legítimos, como os ilegítimos (ladrão). Sempre que falte esse poder de facto, excluir-se-á a
direcção efectiva (ex: aluno da escola de condução).
- Utilização no seu próprio interesse: exclui a responsabilidade objectiva daqueles que conduzem o
veículo por conta de outrem (comissário, que o utiliza às ordens do comitente), recaindo a
responsabilidade sobre o próprio comitente. Estão aqui abrangidos todos os veículos de
circulação rodoviária, bem como de circulação ferroviária.
- Danos provenientes dos riscos próprios do veículo: danos resultantes da circulação do veiculo
(quer em via publica, quer em recintos privados – ex: atropelamento, embate, colisão), como os
danos causados pelo veiculo quando imobilizado (ex: curto circuito do motor).

B) Casos de exclusão da responsabilidade


Resulta do artigo 505º CC, que além de se manter a aplicação do regime da culpa do lesado, a
responsabilidade pelo risco é excluída sempre que o acidente seja “imputável ao próprio lesado, ou
a terceiro ou quando resulte de causa de força maior estranha ao funcionamento do veiculo.

A responsabilidade pelo risco é excluída sempre que o acidente seja imputável ao próprio lesado. A
expressão “imputável” não significará neste caso que seja exigível a culpa do lesado, sendo, porém,
necessário que a sua conduta tenha sido a única causa do dano. Assim comportamento automáticos,
ditados pelo medo ou por reações instintivas serão também determinantes da exclusão da
responsabilidade pelo risco.

Concorrência de causalidade em relação ao dano, entre:


Facto do lesado e a condução do veículo:
- Culpa não do lesado: lesado não responde, mas sim o condutor
- Culpa do lesado e do condutor: 570º
- Culpa do lesado concorrer com risco próprio do veiculo: 570º\2 – é excluída a responsabilidade
do condutor do veiculo, se não se demonstrar a culpa do condutor.

A responsabilidade será excluída sempre que o acidente seja imputável a terceiro, levando à
exclusão da responsabilidade do condutor do veiculo. No caso de haver culpa concorrente do
condutor com a responsabilidade do terceiro, ambos responderão solidariamente perante o lesado
(artigo 497º)

Por fim, a responsabilidade pelo risco é excluída sempre que o acidente resulte de causa de força
maior estranha ao funcionamento do veiculo (ou seja, casos em que as consequências não poderiam
ser evitadas, exigindo-se porém que esse acontecimento seja exterior ao funcionamento do veiculo,
ex: inundações).

C) beneficiários da responsabilidade
A lei esclarece que, relativamente aos beneficiários da responsabilidade, está tanto aproveita a
terceiros como às pessoas transportadas, abrangendo assim tanto os que se encontravam fora do
veiculo como dentro dele. No caso de transporte em virtude de contrato, a responsabilidade só
abrange os danos que atinjam a própria pessoa e as coisas por ela transportadas. No caso de
transporte gratuito, a responsabilidade apenas abrange os danos pessoais da pessoa transportada,
excluindo-se os danos nas coisas transportadas com a pessoa.

D) Limites da responsabilidade pelo risco


A responsabilidade pelo risco encontra-se sujeita a limites máximos de indemnização como dispõe
o artigo 508º CC.

E) A hipótese de ocorrência de responsabilidade por culpa


É necessário averiguar se existe ou não culpa do condutor do veiculo.
Regras gerais: artigo 483º CC.
A responsabilidade tem que ser provocada pelo lesado (artigo 487º\1), a menos que se possa
considerar a condução de veículos inserida nalguma das situações que origine a presunção de culpa
do agente.

A doutrina sustentou que a condução de veículos consistia numa atividade perigosa por natureza
própria, o que nos termos do artigo 493º\2 permitia fazer recair sobre o condutor de veículos a
presunção de culpa, caso se verificassem acidentes.
No entanto, mais tarde é fixada a doutrina de que "o disposto no art. 493°, n° 2 do Código Civil não
tem aplicação em matéria de acidentes de circulação terrestre”, interpretação que implica que na
condução de veículos, o lesado só beneficie em geral da responsabilidade pelo risco, já que a
obtenção de uma indemnização com base na culpa dependerá das possibilidade que tenha de provar
a culpa do agente (art. 487°, n° 1).

Encontra-se, no entanto, consagrado na lei um caso de responsabilidade por culpa presumida no


domínio da condução de veículos, que corresponde a condução de veículo por conta doutrem.
Efectivamente, refere-nos o art. 303, n° 3, que "aquele que conduzir o veículo por conta doutrem
responde pelos danos que causar, salvo se provar que não houve culpa da sua parte. Se, porém, o
conduzir fora das suas funções de comissário responde nos termos do nº1". Desta norma resulta, em
primeiro lugar, que o comissário só é responsável pelo risco, nos termos do art. 503º\1, se conduzir
o veículo fora das suas funções de comissário, uma vez que só nessa situação se encontra
preenchido o requisito da utilização do veículo no interesse próprio.

No entanto, o art. 503°, n° 3, vem estabelecer uma presunção de culpa do comissário pelos danos
causados, o que permite ao comitente, caso o comissário não vier a elidir essa presunção, exercer
contra ele o direito de regresso pela indemnização que tiver pago ao lesado com fundamento na
responsabilidade pelo risco.

A aplicação da presunção de culpa depende:


—> Da demonstração da existência de uma relação de comissão entre o condutor do veículo e o seu
proprietário, não se presumindo como comissário qualquer condutor não proprietário do veículo.

F) A colisão de veículos
O artigo 506º regula o regime de acidentes de veículos, neste caso a situação da colisão de veículos.
A solução deste artigo é a de que se apenas um dos condutores tiver culpa no acidente, deve ser ele
a responder exclusivamente pelos danos causados. Se nenhum dos condutores tiver culpa no
acidente, a responsabilidade é repartida na proporção em que o risco de cada um dos veículos
houver contribuído para os danos.

Se os danos forem causados somente por um dos veículos, sem culpa de nenhum dos condutores, só
a pessoa por eles responsável é obrigada a indemnizar, ou seja, se apenas um dos veículos tiver
causado danos (ex: veiculo que bate na traseira do outro), a responsabilidade pelo risco só surge em
relação ao causador dos danos, independentemente da culpa.
—> Em caso de duvida, o artigo 506º\2 estabelece que considera-se igual a contribuição de cada um
dos veículos para os danos, bem como a contribuição da culpa de cada condutor - repartição
igualitária.

Surge uma dúvida na doutrina, entre saber se, ocorrendo a colisão de veículos em que um era
conduzido por um condutor por conta de outrem e outro por um condutor que conduzia no seu
próprio interesse, e não se provasse a culpa de nenhum, se deveria aplicar o critério da contribuição
causal do risco dos veículos para os danos, ou presumir culpado o condutor por conta de outrem, ao
abrigo do 503º\3.
- ML defende a primeira solução, defendendo por isso a não aplicação do art.503º\3.
- O supremo tribunal de justiça adotou a segunda posição, posição maioritaria da doutrina.

Assim, no caso de ocorrer uma colisão de veículos em que um dos condutores conduz o veículo por
conta de outrem, já não se aplicará a solução do art. 506°, n° 2, presumindo-se a culpa do
comissário na verificação do acidente, nos termos do art. 503°, n° 3. Já no caso de ambos os
condutores conduzirem o veículo por conta doutrem, haverá uma concorrência de presunções de
culpa, pelo que, na ausência de outros elementos de prova, se deverá considerar como igual a
medida da culpa de ambos os condutores na verificação do acidente

G) Pluralidade de responsáveis pelo dano


Pode suceder que no âmbito de um acidente de viação surjam vários responsáveis pelo dano, quer
quando o acidente é causado por vários veículos, quer quando, sendo causado por um, concorram
vários tipos de imputação no caso concreto.

A lei vem resolver essa questão estabelecendo a solidariedade dos vários responsáveis pelo dano, ao
referir no art. 507º\1. Neste caso, o art. 507º\2, determina que a repartição da responsabilidade no
âmbito das relações internas estabelece-se, sendo todos apenas responsáveis pelo risco, "de
harmonia com o interesse de cada um na utilização do veículo". Se, no entanto, "houver culpa de
algum ou alguns apenas os culpados respondem, sendo aplicável quanto ao direito de regresso, entre
eles, ou em relação a eles, o disposto no n° 2 do art. 497.

—> Danos causados pela utilização efetiva de instalações de energia elétrica ou de gás
Está previsto no artigo 509º\1.
A responsabilidade pelo risco é assim atribuída a quem tiver a direção efetiva de uma instalação
destinada à condução de energia elétrica ou do gás e utilizar essa instalação no seu próprio
interesse.

Discussão doutrinária:
- Antunes Varela e Almeida Costa: estende-se a todo o tipo de atividades a que se destinam as
instalações de energia, o que permite abranger, quer a produção e armazenamento, quer a
condução ou transporte, quer a entrega ou distribuição.
- Ribeiro de Faria e Menezes Leitão: responsabilidade pelos risco restringe-se à condução ou
entrega, pelo que não abrange os riscos derivados da própria produção de energia, uma vez que a
instalação destinada à produção de gás ou energia elétrica não envolve maiores riscos do que
outras instalações industriais, noa devendo assim o seu regime ser diferenciado.

É de notar que esta responsabilidade pelo risco é afastada se, ao tempo do acidente, a instalação se
encontrar a funcionar de acordo com as regras técnicas em vigor e em perfeito estado de
conservação.
Da mesma forma, a responsabilidade é afastada se os danos forem devidos a causa de força maior,
considerando-se como tal "toda a causa exterior independente do funcionamento e utilização da
coisa" (art. 509°, n° 2). Considera-se, assim, força maior não apenas factos naturais externos (por
exemplo, um ciclone), mas também factos do próprio lesado (electrocussão derivada de o lesado ter
decidido subir ao poste) ou de terceiro (derrube do poste eléctrico em virtude de escavações).
Também os danos causados por utensílios de uso de energia, como eletrodomésticos ou máquinas
industriais, não são abrangidos por esta categoria de responsabilidade (art. 509°, n° 3).

—> A responsabilidade do produtor


Outro campo em que se verificou um grande alargamento da responsabilidade pelo risco reside na
responsabilidade do produtor pelos danos causados por produtos defeituosos, cuja multiplicação na
actual sociedade tem demonstrado a inadequação da sua reparação através da responsabilidade
baseada na culpa.

Produtor —> fabricante do produto acabado, de uma parte componente ou de matéria prima e ainda
quem se apresente como tal pela aposição no produto do seu nome, marca ou sinal distintivo.

Efectivamente, segundo o modelo do Código Civil o consumidor que viesse a ser lesado por esses
produtos ver-se-ia forçado a provar todos os pressupostos da responsabilidade civil, ou seja o facto
ilícito, a culpa, o dano e o nexo de causalidade entre o facto e o dano (art. 483° do Código Civil).
Desta forma, nunca seria possivel provar todos os pressupostos, nunca conseguindo o lesado obter a
sua indemnização.

Uma outra forma de equacionar a responsabilidade do produtor através do regime da


responsabilidade delitual consiste na invocação da responsabilidade dos comitentes, a que se refere
o arts. 500° do Código Civil. Só que essa responsabilidade depende da prova da culpa do
comissário, dado que se o comissário não for responsável o comitente também não o será, o que
levanta precisamente ao lesado as mesmas dificuldades de prova do modelo geral da
responsabilidade civil.

A tendência moderna relativamente à responsabilidade civil do produtor consiste, porém, em


admitir uma responsabilidade objectiva, ou seja, independente da demonstração da culpa do lesante.

Para alem disto, pelo disposto no artigo 5º do DL 131\2001, o produtor pode ser isento de
responsabilidade se provar:
a) que não pôs o produto em circulação
b) que, tendo em conta as circunstâncias, se pode razoavelmente admitir a inexistência do defeito
no momento da entrada do produto em circulação;
c) que não fabricou o produto para venda ou qualquer outra forma de distribuição com um
objectivo económico, nem o produziu ou distribuiu no âmbito da sua actividade profissional;
d) Que o defeito é devido à conformidade do produto com as normas imperativas estabelecidas
pelas autoridades públicas;
e) que o estado dos conhecimentos científicos e técnicos, no momento em que pôs o produto em
circulação não permitia detectar a existência do defeito; ML não concorda com esta alínea, pois
considera que aproxima esta à responsabilidade por culpa.
f) que, no caso de parte componente, o defeito é imputável à concepção do produto em que foi
incorporada ou às instruções dadas pelo fabricante do mesmo.

Você também pode gostar