Direito Das Obrigações I Luisa Braz Teixeira

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RESUMOS DE DIREITO DAS

OBRIGAÇÕES I

INDÍCE

INTRODUÇÃO (ML) 5
SECÇÃO I: O DIREITO DAS OBRIGAÇÕES E A DEFINIÇÃO GERAL DE OBRIGAÇÃO 5
SECÇÃO II: PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES 7
O PRINCÍPIO DA AUTONOMIA PRIVADA 7
O PRINCÍPIO DO RESSARCIMENTO DOS DANOS 11
O PRINCÍPIO DA RESTITUIÇÃO DO ENRIQUECIMENTO INJUSTIFICADO 12
O PRINCÍPIO DA BOA FÉ 12
O PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL 13
SECÇÃO III: CONCEITO E ESTRUTURA DA OBRIGAÇÃO 14
GENERALIDADES 14
AS TEORIAS PERSONALISTAS 15
AS TEORIAS REALISTAS 15
AS TEORIAS MISTAS 16
AS DOUTRINAS SUSTENTANDO A COMPLEXIDADE DO VÍNCULO OBRIGACIONAL 17
POSIÇÃO ADOTADA PELO ML 17
SECÇÃO IV: CARACTERÍSTICAS DA OBRIGAÇÃO 17
A PATRIMONIALIDADE 17
A MEDIAÇÃO OU COLABORAÇÃO DEVIDA 18
A RELATIVIDADE 18
A AUTONOMIA 19

PARTE III - DOGMÁTICA GERAL (MC) 19


CAPÍTULO II: CARACTERÍSTICAS DAS OBRIGAÇÕES 19
SECÇÃO II - A RELATIVIDADE E A EFICÁCIA PERANTE TERCEIROS 19
27§ A RELATIVIDADE ESTRUTURAL 19
28§ A RELATIVIDADE NA PRODUÇÃO DE EFEITOS 19
115. GENERALIDADES; A OPONIBILIDADE FORTE 19
116. A OPONIBILIDADE MÉDIA: OS CONTRATOS COM PROTEÇÃO DE
TERCEIROS E O TERCEIRO CÚMPLICE 20
117. A OPONIBILIDADE FRACA: O DEVER GERAL DE RESPEITO 20
30§ A RELATIVIDADE NA EXPERIÊNCIA PORTUGUESA 20
SECÇÃO V: DISTINÇÃO ENTRE DIREITOS DE CRÉDITO E DIREITOS REAIS (ML) 21
A DISTINÇÃO ENTRE DIREITOS DE CRÉDITOS E DIREITOS REAIS 21
A QUESTÃO DOS DIREITOS PESSOAIS DE GOZO 21
SECÇÃO VI: OBJETO DA OBRIGAÇÃO: A PRESTAÇÃO 22

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DELIMITAÇÃO DO CONCEITO DE PRESTAÇÃO 22


REQUISITOS LEGAIS DA PRESTAÇÃO 23
SECÇÃO VII: A COMPLEXIDADE INTRA-OBRIGACIONAL E OS DEVERES ACESSÓRIOS DE
CONDUTA 23
SECÇÃO VIII: MODALIDADES DAS OBRIGAÇÕES 25
AS OBRIGAÇÕES NATURAIS. PROBLEMÁTICA DA SUA INSERÇÃO NO CONCEITO DE
OBRIGAÇÃO 25
CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES EM FUNÇÃO DOS TIPO DE PRESTAÇÃO 26
2.2 PRESTAÇÕES DE COISA E PRESTAÇÕES DE FACTO 26
2.3 PRESTAÇÕES FUNGÍVEIS E INFUNGÍVEIS 26
2.4 PRESTAÇÕES INSTANTÂNEAS E PRESTAÇÕES DURADOURAS 27
2.5 PRESTAÇÕES DE RESULTADO E PRESTAÇÕES DE MEIOS 27
2.6 PRESTAÇÕES DETERMINADAS E PRESTAÇÕES INDETERMINADAS 28
2.7 AS OBRIGAÇÕES PECUNIÁRIAS 32
2.8 OBRIGAÇÕES DE JUROS 34
INDETERMINAÇÃO E PLURALIDADE DE PARTES NA RELAÇÃO OBRIGACIONAL 35
3.1 A INDETERMINAÇÃO DO CREDOR NA RELAÇÃO OBRIGACIONAL 35
3.2 A PLURALIDADE DE PARTES NA RELAÇÃO OBRIGACIONAL 35
3.2.1 GENERALIDADES 35
3.2.2 AS OBRIGAÇÕES CONJUNTAS OU PARCIÁRIAS 36
3.2.3 AS OBRIGAÇÕES SOLIDÁRIAS 36
3.2.4 AS OBRIGAÇÕES PLURAIS INDIVISÍVEIS 39
3.2.5 OUTRAS MODALIDADES DE OBRIGAÇÕES PLURAIS 39

PARTE III: DA EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES 40


SECÇÃO III: A IMPOSSIBILIDADE SUPERVENIENTE DA PRESTAÇÃO E O PROBLEMA DO
RISCO NOS CONTRATOS BILATERAIS E NOS CONTRATOS REAIS 40
REGIME DA IMPOSSIBILIDADE CAUSAL DA PRESTAÇÃO 40
SITUAÇÕES EQUIPARÁVEIS À IMPOSSIBILIDADE DA PRESTAÇÃO: A FRUSTRAÇÃO DO
FIM E A REALIZAÇÃO DO INTERESSE DO CREDOR POR OUTRA VIA 40
O RISCO NOS CONTRATOS SINALAGMÁTICOS 41
3.1 A DISTRIBUIÇÃO DO RISCO EM CASO DE VERIFICAÇÃO DA IMPOSSIBILIDADE
DA PRESTAÇÃO 41
3.2 O PROBLEMA DA FRUSTRAÇÃO DO FIM DA PRESTAÇÃO OU DA REALIZAÇÃO
DO INTERESSE DO CREDOR POR OUTRA VIA 41
3.3 O RISCO NOS CONTRATOS REAIS DE ALIENAÇÃO 42
SECÇÃO IV: A ALTERAÇÃO DAS CIRCUNSTÂNCIAS 43
O DEBATE JURÍDICO EM TORNO DA QUESTÃO DA ALTERAÇÃO DAS
CIRCUNSTÂNCIAS E A SUA RECEPÇÃO NO DIREITO PORTUGUÊS 43
REQUISITOS 43
EXCLUSÃO DA APLICAÇÃO DO REGIME DA ALTERAÇÃO DAS CIRCUNSTÂNCIAS EM
CASO DE MORA DA PARTE LESADA 44
EFEITOS DA ALTERAÇÃO DAS CIRCUNSTÂNCIAS 44
SECÇÃO V: O CUMPRIMENTO 45
CONCEITO E IMPORTÂNCIA 45
PRINCÍPIOS GERAIS 45
2.1 PRINCÍPIO DA PONTUALIDADE 45
2.2 PRINCÍPIO DA INTEGRALIDADE 45
2.3 PRINCÍPIO DA BOA-FÉ 45
2.4 PRINCÍPIO DA CONCRETIZAÇÃO 46

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CAPACIDADE PARA O CUMPRIMENTO 46


DISPONIBILIDADE DA COISA DADA EM CUMPRIMENTO 46
LEGITIMIDADE PARA O CUMPRIMENTO 47
5.2 LEGITIMIDADE ATIVA 47
5.3 EFEITOS DO CUMPRIMENTO POR TERCEIRO 47
5.4 LEGITIMIDADE PASSIVA 48
TEMPO DO CUMPRIMENTO 49
6.1 MODALIDADES DAS OBRIGAÇÕES QUANTO AO TEMPO DO CUMPRIMENTO 49
6.2 COLOCAÇÃO DO PRAZO A CRITÉRIO DE UMA DAS PARTES 49
6.3 BENEFÍCIO DO PRAZO 50
6.3.1. GENERALIDADES 50
6.3.2 PRAZO EM BENEFÍCIO DO DEVEDOR 50
6.3.3 PRAZO EM BENEFÍCIO DO CREDOR 50
6.3.4 PRAZO EM BENEFÍCIO DE AMBAS AS PARTES 50
6.3.5 PERDA DO BENEFÍCIO DO PRAZO 51
LUGAR DO CUMPRIMENTO 52
7.1 MODALIDADES DE OBRIGAÇÕES QUANTO AO LUGAR DE CUMPRIMENTO 52
7.2 REGRAS RELATIVAS AO LUGAR DA PRESTAÇÃO 52
7.3 A MUDANÇA DO DOMICÍLIO DAS PARTES 53
7.4 A IMPOSSIBILIDADE DA PRESTAÇÃO NO LUGAR FIXADO 53
IMPUTAÇÃO DO CUMPRIMENTO 54
PROVA DO CUMPRIMENTO 55
DIREITO À RESTITUIÇÃO DO TÍTULO OU À MENÇÃO DO CUMPRIMENTO 56
EFEITOS DO CUMPRIMENTO 56
NATUREZA DO CUMPRIMENTO 56
SECÇÃO VI: DAÇÃO EM CUMPRIMENTO E DAÇÃO PRO SOLVENDO 57
A DAÇÃO EM CUMPRIMENTO 57
1.1 PRESSUPOSTOS DA DAÇÃO EM CUMPRIMENTO 57
1.2 FORMA DA DAÇÃO EM CUMPRIMENTO 58
1.3 REGIME DA DAÇÃO EM CUMPRIMENTO 58
1.3.1 EXTINÇÃO DA OBRIGAÇÃO 58
1.3.2 GARANTIA CONTRA VÍCIOS DA COISA OU DO DIREITO TRANSMITIDO 58
1.3.3 INVALIDADE DA DAÇÃO EM CUMPRIMENTO 58
1.4 NATUREZA JURÍDICA DA DAÇÃO EM CUMPRIMENTO 58
A DAÇÃO PRO SOLVENDO 59
SECÇÃO VII: A CONSIGNAÇÃO EM DEPÓSITO 59
GENERALIDADES 59
PRESSUPOSTOS DA CONSIGNAÇÃO EM DEPÓSITO 60
REGIME DA CONSIGNAÇÃO EM DEPÓSITO 60
SECÇÃO VIII: A COMPENSAÇÃO 62
GENERALIDADES 62
PRESSUPOSTOS DA COMPENSAÇÃO 62
CRÉDITOS NÃO COMPENSÁVEIS 63
REGIME DA COMPENSAÇÃO 64
COMPENSAÇÃO CONVENCIONAL 64
SECÇÃO IX: A NOVAÇÃO 64
CONCEITO E MODALIDADES 64
PRESSUPOSTOS DA NOVAÇÃO 65

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REGIME NA NOVAÇÃO 66
SECÇÃO X: A REMISSÃO 66
CONCEITO DE REMISSÃO 66
PRESSUPOSTOS DA REMISSÃO 66
EFEITOS DA REMISSÃO 66
SECÇÃO XI: A CONFUSÃO 67
CONCEITO DE CONFUSÃO 68
PRESSUPOSTOS DA CONFUSÃO 68
REGIME DA CONFUSÃO 67

PARTE IV: DO NÃO CUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES 68


SECÇÃO I: MODALIDADES DO NÃO CUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES 68
SECÇÃO II: O NÃO CUMPRIMENTO TEMPORÁRIO 69
A MORA DO DEVEDOR 69
1.1 PRESSUPOSTOS DA CONSTITUIÇÃO DO DEVEDOR DA MORA 68
1.2 CONSEQUÊNCIAS DA MORA DO DEVEDOR 71
1.3 EXTINÇÃO DA MORA DO DEVEDOR 71
A MORA DO CREDOR 73
2.1 PRESSUPOSTOS DA MORA DO CREDOR 73
2.2 EFEITOS DA MORA DO CREDOR 73
2.3 EXTINÇÃO DA MORA DO CREDOR 73
SECÇÃO III: O INCUMPRIMENTO DEFINITIVO E OS SEUS EFEITOS. A RESPONSABILIDADE
OBRIGACIONAL 74
INCUMPRIMENTO E RESPONSABILIDADE OBRIGACIONAL 74
1.1 GENERALIDADES 74
1.2 A ILICITUDE NA RESPONSABILIDADE OBRIGACIONAL 74
1.2 A CULPA NA RESPONSABILIDADE OBRIGACIONAL 75
1.4 O DANO NA RESPONSABILIDADE OBRIGACIONAL 75
1.5 O NEXO DE CAUSALIDADE NA RESPONSABILIDADE OBRIGACIONAL 76
1.6 O ÓNUS DA PROVA NA RESPONSABILIDADE OBRIGACIONAL 76
1.7 A RESPONSABILIDADE DO DEVEDOR PELOS ATOS DOS SEUS AUXILIARES OU
REPRESENTANTES 77
O NÃO CUMPRIMENTO NAS OBRIGAÇÕES DE PRESTAÇÕES RECÍPROCAS 78
2.1 GENERALIDADES 78
2.2 EXCEÇÃO DE NÃO CUMPRIMENTO DO CONTRATO 78
2.3 RESOLUÇÃO POR INCUMPRIMENTO 79
2.4 A INDEMNIZAÇÃO POR INCUMPRIMENTO NOS CONTRATOS SINALAGMÁTICOS
79
A IMPOSSIBILIDADE CULPOSA DA PRESTAÇÃO E SUA EQUIPARAÇÃO AO
INCUMPRIMENTO 80
3.1 A INDEMNIZAÇÃO POR INCUMPRIMENTO 80
3.2 O COMMODUM DE REPRESENTAÇÃO 80
3.3 REGIME DA IMPOSSIBILIDADE PARCIAL 81
CUMPRIMENTO DEFEITUOSO DA OBRIGAÇÃO: A VIOLAÇÃO POSITIVA DO CONTRATO
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INTRODUÇÃO (ML)

SECÇÃO I: O DIREITO DAS OBRIGAÇÕES E A DEFINIÇÃO


GERAL DE OBRIGAÇÃO

1. A DEFINIÇÃO DE OBRIGAÇÃO
Obrigação: Situação jurídica que tem por conteúdo a vinculação de uma pessoa em relação
a outra à adoção de uma determinada conduta em benefício desta (art. 397 do CC).

★ Obrigação em sentido amplo: Abrange todos os vínculos jurídicos entre duas


pessoas, como os deveres jurídicos genéricos, os ónus e as sujeições.

○ Sujeição: Necessidade de suportar as consequências jurídicas correspondentes


ao exercício de um direito potestativo - ex: se o meu prédio impede o acesso à
via pública de outro prédio, os moradores desse prédio passam por dentro do
meu para aceder à via pública.

■ MC - considera que é uma obrigação, criando uma categoria de direitos


de crédito potestativos

■ ML - não considera que a sujeição é uma obrigação uma vez que não
existe a possibilidade de violação da sujeição e a obrigação é
eminentemente violável, ainda que o devedor acarrete nesses casos
com uma sanção de indemnização (art. 798) ou de execução do seu
património (art. 817)

○ Ónus: Necessidade de adotar um certo comportamento para beneficiar de


uma situação favorável

■ ML - distingue da obrigação uma vez que esta consiste num dever


jurídico imposto em benefício de outrem, o credor, e no ónus aquele
que está onerado não tem qualquer dever, pelo que se não pode
considerar ilícito o seu não acatamento, traduzindo-se, apenas, na
perda de uma vantagem.

○ Dever jurídico genérico: Situação em que se encontram todos os sujeitos


relativamente aos titulares de direitos absolutos, relativamente a direitos de
personalidade, como a vida, todos os sujeitos estão obrigados a um dever geral
de respeito, cuja infração pode acarretar responsabilidade civil com o
correspondente dever de indemnizar pelos danos sofridos pelo titular

■ ML - não considera uma obrigação pois, a obrigação pressupõe um


vínculo específico, enquanto o dever geral de respeito não passa de
uma expressão do princípio do neminem laedere.

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★ Prestação: Conduta, positiva ou negativa, no interesse de outrem, a que uma


determinada pessoa se encontra adstrita.

2. OBJETO E CARACTERÍSTICAS DO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES


Sujeitos das Relações Obrigacionais: Têm os mesmos poderes e são livres de fazer tudo
o que não se encontre abrangido por uma proibição. A sua atuação insere-se na sua liberdade
de decisão.

Direito das Obrigações: Regula fenómenos futuros (prestação de coisas ou factos),


distinguindo-se do direito das coisas na medida em que este abrange a regulação de situações
jurídicas já existentes. Estatui, assim, sobre as situações que surgem da vinculação de uma
pessoa para com outra à adoção de determinada conduta.

★ MC: Inclui no campo do direito das obrigações a circulação de bens, a prestação de


serviços e as sanções civis.

★ ML: Inclui no campo do direito das obrigações a circulação de bens, a prestação de


serviços, a instituição de organizações, as sanções civis para comportamentos ilícitos
e culposos e a compensação por danos, despesas ou pela obtenção de um
enriquecimento.

○ Circulação de bens: Situações das quais resulte alteração na ordenação


jurídica dos bens através de negócios jurídicos, sendo regulada a transmissão
de direitos reais (art. 408) e os contratos que a desencadeiam - ex: compra e
venda (art. 874 e ss.)

○ Prestação de Serviços: Geralmente surge pela forma de contrato de prestação


de serviços (art. 1154 e ss.) que a lei regula em três modalidades típicas:

■ Mandato (art. 1157 e ss.)

■ Depósito (art. 1185 e ss.)

■ Empreitada (art. 1207 e ss.)

○ Instituição de Obrigações: Temos o contrato de sociedade civil (art. 980 e ss.)


que aparece regulado como a forma comum de associação de pessoas para a
exploração de uma atividade económica lucrativa, sendo as sociedades
comerciais remetidas para o direito comercial e para o próprio código deste.

○ Sanções civis para comportamentos ilícitos e culposos por privados: Estas


sanções consistem, essencialmente, na obrigação de indemnizar os danos
causados (art. 562 e ss.), cuja fonte é genericamente designada de
responsabilidade civil.

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■ Responsabilidade Civil Delitual: Surge da violação de uma situação


jurídica absoluta (art. 483 e ss.)

■ Responsabilidade Civil Obrigacional: Surge da violação de obrigações


(art. 798 e ss.)

○ Compensação por danos, despesas ou pela obtenção de um enriquecimento:

■ Compensação por danos: É abrangida pela responsabilidade pelo


risco (art. 499) que, apesar de também dar origem a uma obrigação de
indemnização, não se apresenta como tendo natureza sancionatória,
visando exclusivamente a compensação dos danos segundo critérios
objetivos.

■ Compensação por despesas: É abrangida pela gestão de negócios (art.


464 e ss.), que visa tutelar as atuações realizadas sem autorização em
benefício de outrem.

■ Compensação do enriquecimento: É abrangida pelo instituto do


enriquecimento sem causa (art. 473 e ss.), que visa determinar a
compensação dos enriquecimentos obtidos injustamente à custa de
outrem.

SECÇÃO II: PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO DAS


OBRIGAÇÕES

1. O PRINCÍPIO DA AUTONOMIA PRIVADA

1.1 A AUTONOMIA PRIVADA E O NEGÓCIO JURÍDICO


Autonomia Privada: Possibilidade de estabelecer os efeitos jurídicos que se irão repercutir
na sua esfera jurídica. Espaço de liberdade em que, desde que sejam respeitados certos
limites, as partes podem livremente desencadear os efeitos jurídicos que pretendem.

★ MC: “Permissão genérica de produção de efeitos jurídicos”

Direito Subjetivo: Pressupõe uma permissão normativa específica porque só o titular do


direito tem a permissão de beneficiar das utilidades que aquele bem produz.

★ Gomes da Silva: “Afetação jurídica de um bem à realização de um ou mais fins de


pessoas individualmente consideradas”

★ MC: Permissão normativa específica de aproveitamento de um bem

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Facto Jurídico: Facto que produz efeitos jurídicos.

★ Facto Jurídico Stricto Sensu: Não decorrem de um comportamento humano


voluntário - ex: morte

★ Ato Jurídico: Pressupõe um comportamento humano em função do qual surgem


efeitos jurídicos

○ Ato Jurídico Simples: Existe apenas liberdade de celebração, pois os seus


efeitos resultam imperativamente da lei.

○ Negócio Jurídico: Existe liberdade de celebração e de estipulação, dado que as


partes podem determinar os efeitos jurídicos da sua prática. Forma
preferencial de exercício da autonomia privada.

■ Negócio Jurídico Unilateral: Só em certos casos legalmente previstos


poderão dar origem a obrigações, uma vez que o 457 refere que a
promessa unilateral de uma prestação só em casos previstos na lei
obriga a uma prestação.

■ Negócio Jurídico Bilateral ou Contrato: Dá origem à grande maioria


das obrigações.

1.2 A LIBERDADE CONTRATUAL E OS SEUS CONTEÚDOS


Liberdade Contratual: Possibilidade conferida pela ordem jurídica a cada uma das partes
de auto regular, através de um acordo mútuo, as suas relações para com a outra por ela
livremente escolhida, em termos vinculativos para ambas (art. 405/1). Parte mais importante
da autonomia privada, enquanto princípio fundamental do direito das obrigações.

★ Liberdade de Celebração: Faculdade atribuída às partes para celebrar, ou não, o


contrato. Esta liberdade não aparece expressamente no art. 405, mas encontra-se
implícita na expressão “celebrar contratos diferentes dos previstos neste código” e
pressuposta no regime da formação do contrato (art. 228 e ss.)

★ Liberdade de Seleção do Tipo Negocial: As partes não estão limitadas aos tipos
negociais reconhecidos pelo legislador, sendo a enumeração dos contratos
meramente exemplificativa.

★ Liberdade de Estipulação: Faculdade de estabelecer os efeitos jurídicos do


contrato, ou seja, a possibilidade conferida pela ordem jurídica às partes de, por
mútuo acordo, determinarem à sua vontade o conteúdo do contrato. Pode ser
exercida quer no momento de celebração do contrato, como posteriormente através
de aditamentos ou modificações a um contrato já celebrado, salvo situações de
natureza excepcional - ex: regime da usura negocial (art. 282 do CC)

★ Liberdade de Extinguir: Por mútuo acordo, pode se dar o distrate ou a revogação


do contrato que pode ser total ou parcial (art. 406 in fine)

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1.3 RESTRIÇÕES À LIBERDADE CONTRATUAL


Igualdade entre as partes: O poder negocial idêntico das partes terem a mesma
possibilidade de ditar as cláusulas contratuais não tem correspondência no plano económico,
dado que a maioria dos membros da sociedade necessita de celebrar contratos para satisfazer
as suas necessidades, sendo que essa dependência não se verifica em relação à contraparte,
daí que a tutela absoluta da autonomia privada seja substituída pela tutela da parte mais
fraca.

★ Larenz: Assume a existência de uma certa ambivalência da liberdade contratual que


pressupõe a livre atuação e iniciativa dos sujeitos económicos, mas que exige que essa
atuação seja disciplinada de modo a proporcionar que cada parte faça uso efetivo da
sua liberdade contratual e não se veja obrigada a renunciá-la.

1.3.2 RESTRIÇÕES À LIBERDADE DE CELEBRAÇÃO


Obrigação de Celebração do Contrato: Uma das partes (ou ambas) pode estar
vinculada, por obrigação contratual ou legal, à celebração do contrato com a outra parte.
Nestes casos, a outra parte pode exigir essa celebração (art. 817) ou obter sentença que
produza os mesmos efeitos que o contrato prometido (art. 830). Assim, a liberdade de
celebração vai existir apenas para a parte que pode exigir, ou renunciar, a celebração do
contrato.

★ Fundamentos desta obrigação:

○ Evitar abusos de uma das partes: Corretivo à liberdade contratual, pode vir
em resposta às desigualdades económicas já mencionados, por exemplo

○ Corretivo da economia de mercado: Por exemplo no caso de monopólios e


oligopólios ou de contratos sobre bens essenciais.

○ Meio de direção central da economia: Não aparece apenas a corrigir os


defeitos da economia de mercado, mas antes aparece como forma de dar
execução a um plano económico, estabelecido por um órgão dirigente central.

1.3.2 RESTRIÇÕES À LIBERDADE DE ESTIPULAÇÃO. CONTRATOS SUBMETIDOS A UM


REGIME IMPERATIVO, CLÁUSULAS CONTRATUAIS GERAIS E CONTRATOS
PRÉ-FORMULADOS
A liberdade de celebração pressupõe a liberdade de estipulação, contudo, é possível
ocorrerem restrições à liberdade de estipulação, mantendo a integridade da liberdade de
celebração, geralmente, estas restrições decorrem de uma necessidade de tutela da parte
mais fraca.

A) CONTRATOS SUBMETIDOS A UM REGIME IMPERATIVO


Esta imposição justifica-se em razão da maior relevância de certos contratos para a satisfação
das necessidades sociais elementares, que coloca uma das partes na dependência económica

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da sua celebração, levando a que seja forçada a aceitar condições iníquas se a sua recusa
impedir a celebração do contrato (ex: contrato de trabalho). A única forma de combater esta
situação é a de impor uma disciplina injuntiva para estes contratos que é vedado às partes
afastar (ou que só é permitido afastar em prejuízo da parte mais forte)

B) CLÁUSULAS CONTRATUAIS GERAIS


Cláusulas Contratuais Gerais: Situações atípicas do tráfego negocial de massas em que
as declarações negociais de uma das partes se caracterizam pela pré-elaboração, generalidade
e rigidez, sendo situações em que uma das partes elabora a sua declaração negocial
previamente à entrada em negociações, a qual aplica genericamente a todos os seus
contraentes, sem que a estes seja cedida outra possibilidade que não seja a sua aceitação ou
rejeição, estando-lhes, por isso, vedada a possibilidade de discutir o conteúdo do contrato.

★ Vícios das CCG:

○ MC: Desigualdade entre as partes, complexidade e natureza formulária

○ ML: Uma das partes tem uma posição económica mais favorável, são,
normalmente, completas e exaustivas, apresentam uma complexidade jurídica
não acessível a leigos, natureza formularia e letra reduzida de leitura difícil.

★ Perigos das CCG: Impossibilidade fática de uma das partes exercer a sua liberdade
de estipulação, uma das partes não perceber o conteúdo do contrato que subscreve,
introdução de cláusulas iníquas ou abusivas.

★ Modo de Combate a estes perigos: A lei intervém no sentido de restringir a


liberdade de estipulação.

○ Art. 4º da LCCG: Necessidade de aceitação

○ Art. 5º da LCCG: Comunicação das ccg à outra parte

○ Art. 6º da LCCG: Prestação de informação sobre os aspectos obscuros


compreendidos nas ccg

○ Art. 7º da LCCG: Inexistência de estipulações específicas de conteúdo distinto

○ Art. 10º da LCCG: A lei determina que a sua interpretação e integração ocorra
no contexto de cada contrato singular em que se incluam, o qual pode alterar o
objetivo de quem procedeu à sua separação

○ Art. 15º da LCCG: Proibição de cláusulas contrárias à boa fé, impedindo


cláusulas iníquas ou abusivas

○ Art. 18º da LCCG: Proibição de cláusulas de exclusão ou limitação da


responsabilidade

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○ …

2. O PRINCÍPIO DO RESSARCIMENTO DOS DANOS


Princípio do Ressarcimento dos Danos: “Sempre que exista uma razão de justiça, da
qual resulte que o dano deva ser suportado por outrem, que não o lesado, deve ser aquele e
não este a suportar esse dano.” Todavia, ainda que injustamente, o dano tende a ser
suportado por quem o sofreu, como fazendo parte risco geral da vida.

★ Imputação de danos: A lei considera existir, não apenas um dano injusto para o
lesado, mas também uma razão de justiça que esse dano seja transferido para outrem,
dando azo à responsabilidade civil (art. 483 e ss.). Leva à constituição de uma
obrigação de indemnização.

○ Obrigação de Indemnização: É constituída para que haja a transferência do


dano da parte lesada para outrem de modo a reconstituir a situação que
existiria caso não tivesse ocorrido o evento lesivo.

○ Culpa: Tradicionalmente o lesado não teria direito a qualquer indemnização a


menos que demonstrasse a culpa do lesante (art. 487/1). O rigor do regime foi
atenuado através da consagração de sucessivas presunções de culpa, por meio
das quais o lesado é dispensado desse ónus (art. 491-493). Posteriormente,
chegou-se à ideia de que a imputação de danos poderia mesmo dispensar a
culpa do lesante passando a assentar simplesmente na criação de riscos
específicos de que outrem tira proveito ou que pode controlar, tendo de
indemnizar os danos abrangidos por essa esfera (responsabilidade pelo risco).

Modos de Imputação dos Danos:

★ Imputação por Culpa: A responsabilidade baseia-se numa conduta ilícita e


censurável do agente, que justifica dever ele suportar em lugar do lesado os prejuízos
resultantes dessa conduta, apresentando a responsabilidade civil tanto função
reparatória como sancionatória.

★ Imputação pelo Risco: Baseia-se numa conceção de justiça distributiva.

○ Doutrina do Risco-Proveito: Aquele que tira proveito de uma situação deve


também suportar os riscos dela eventualmente resultantes de harmonia com o
princípio ubi commoda ibi incommoda.

○ Doutrina do Risco Profissional: Aquele que exerce uma atividade ou profissão


que seja eventualmente fonte de riscos deve suportar os prejuízos que dela
resultem para terceiros.

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○ Doutrina do Risco de Autoridade: Sempre que alguém tenha poderes de


autoridade ou direção relativamente a condutas alheias deve suportar também
os prejuízos que daí resultem.

★ Imputação pelo Sacrifício: Situação em que a lei permite, em homenagem a um


valor superior, que seja sacrificado um bem ou direito pertencente a outrem,
atribuindo porém, uma indemnização ao lesado como compensação desse sacrifício.
Esta imputação baseia-se numa ideia de justiça comutativa.

3. O PRINCÍPIO DA RESTITUIÇÃO DO ENRIQUECIMENTO


INJUSTIFICADO
Princípio: Sempre que alguém tenha um enriquecimento à custa de outrem sem causa
justificativa tem que restituir aquilo com que injustamente se locupletou.

★ Origem: Vem do direito romano, uma vez que era considerado injusto que alguém
enriquecesse por ato ilícito ou à custa de outrem.

★ Aplicação: A multiplicidade das disposições que se podem reclamar do princípio da


restituição do enriquecimento injustificado pode implicar um certo casuísmo na sua
aplicação e que conjugado com a vaguidade da formulação do princípio torna
extremamente difícil a sua aplicação aos casos concretos.

4. O PRINCÍPIO DA BOA FÉ
Boa-Fé:

★ Sentido Subjetivo: Ignorância de estar a lesar direitos alheios

★ Sentido Objetivo/Normativo: Regra de conduta

★ No Direito das Obrigações: Regras impostas do exterior, que as partes devem


observar na atuação do vínculo obrigacional, podendo servir para complementação do
regime legal das obrigações, através de uma valoração a efetuar pelo julgador.

Necessidade da Boa Fé no Direito das Obrigações: A lei estabelece deveres de boa fé


para ambos os sujeitos da relação obrigacional que visam permitir o integral aproveitamento
da prestação em termos de satisfação do interesse do credor e por outro lado evitar que a
realização da prestação provoque danos quer ao credor, quer ao devedor.

Os Dois Vetores da boa fé (MC):

★ Tutela da Confiança: Pressupostos para que a confiança tenha tutela jurídica

○ Situação de Confiança: Traduzida numa boa fé subjetiva.

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○ Justificação para essa Confiança: A confiança deve ser fundada em elementos


razoáveis.

○ Investimento de Confiança: A destruição da situação de confiança vai gerar


prejuízos graves para o confiante, pois este desenvolveu atividades jurídicas
em virtude desta situação.

○ Imputação da Situação de Confiança: Alguém pode ser responsabilizado.

★ Primazia da Materialidade Subjacente: Consiste em avaliar as condutas não


apenas pela conformidade com os comandos jurídicos, mas também de acordo com as
suas consequências materiais para efeitos de adequada tutela dos valores em jogo.
Realiza-se de acordo com os seguintes vetores:

○ Conformidade material das condutas

○ Idoneidade valorativa

○ Equilíbrio no exercício das posições

5. O PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL


Princípio: Possibilidade de o credor, em caso de não cumprimento, executar o património
do devedor para obter a satisfação dos seus créditos.

★ Art. 2, nº2 do CPC: Proíbe o recurso à autotutela dos direitos

★ Art. 397 do CC: Ao definir a obrigação como o vínculo jurídico que provoca a
adstrição de uma pessoa à realização de uma prestação, pressupõe-se o recurso aos
tribunais para assegurar a realização da prestação, sem a qual a adstrição do devedor
não ocorreria - ação de cumprimento (art. 817)

★ Direito à indemnização: Caso a realização da prestação já não seja possível, o


credor só poderá reclamar um direito à indemnização. É o que se sucede nos casos de
incumprimento definitivo (art. 798 e 808) e de impossibilidade culposa de
cumprimento (art. 801)

Os Três Postulados da Responsabilidade Patrimonial (MC):

★ Sujeição à execução de todos os bens do devedor (art. 601): Desta norma


resulta o princípio de que a responsabilidade patrimonial é ilimitada, ou seja,
estende-se por todos os bens do devedor.

○ Exceções ao Princípio: Casos de responsabilidade patrimonial limitada. Pode


ser positiva (algum ou alguns dos credores só podem executar alguns dos bens

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Luísa Braz Teixeira TB; 2021/2022
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do devedor) ou negativa (a lei exclui certos bens do devedor do poder de


execução da generalidade dos seus credores, só o permitindo a certos
credores).

■ Os bens do devedor não suscetíveis de penhora: Bens que, por


desempenharem uma função essencial à subsistência ou à dignidade
do devedor, ou em virtude de a função a que estão afetos ser superior à
da garantia patrimonial dos créditos, a lei não autoriza a execução para
fins de satisfação dos direitos de crédito (art. 736 a 739 do CPC)

■ A situação da separação de patrimónios: Situação em que a lei prevê


a sujeição de certos bens do devedor a um regime próprio de
responsabilidade por dívidas - ex: casamento, heranças, mandatário
em mandato de representação. Estabelece-se um património
autónomo na esfera jurídica do devedor, cujas relações com o
património principal podem consistir na atribuição de preferência aos
credores do património autónomo sobre os outros credores do
devedor, no estabelecimento da responsabilidade subsidiária dos bens
do devedor que não entram no património autónomo pelas obrigações
deste património e na consagração da irresponsabilidade dos bens do
devedor que não entram no património autónomo pelas obrigações
que sobre este recaiam.

■ Convenção das partes: Ao abrigo da autonomia privada, as partes


determinam a limitação da responsabilidade patrimonial a alguns bens
do devedor (art. 602 e 603)

★ Sujeição à execução de apenas os bens do devedor (art. 817): Limita o poder


de execução ao património do devedor.

○ Exceções (art. 818): Quando bens do terceiro estão vinculados à garantia do


crédito (ex: fiança) ou quando sejam objeto de ato praticado em prejuízo do
credor que este haja precedentemente impugnado.

★ Os credores estão em pé de igualdade: Não há hierarquização entre os credores,


pelo que no caso de o património do devedor não cobrir tudo, o património do
devedor deve ser rateado para todos se pagarem proporcionalmente (art. 694 do CC)

SECÇÃO III: CONCEITO E ESTRUTURA DA OBRIGAÇÃO

1. GENERALIDADES
Direito de Crédito: É um direito subjetivo, pelo que a definição do seu conceito terá que
ser traçada a partir do seu objeto, que, pelo art. 397, será a prestação, ou seja, o
comportamento a que o devedor está vinculado a adotar em benefício do credor

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Luísa Braz Teixeira TB; 2021/2022
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★ Objeção: Ninguém pode ser coagido fisicamente a realizar uma prestação se decidir
voluntariamente não o fazer, podendo o credor apenas proceder à execução do
património do devedor ou uma indemnização pelos danos sofridos com a não
realização da prestação, questionando-se o verdadeiro objeto do direito de crédito, se
a prestação ou o património do devedor.

2. AS TEORIAS PERSONALISTAS
O direito de crédito é um vínculo pessoal.

2.1 O CRÉDITO COMO UM DIREITO SOBRE A PESSOA DO DEVEDOR


Savigny: O crédito consistiria num domínio sobre uma pessoa, todavia esse domínio não
residiria sobre a pessoa em globo, mas sobre uma atuação sua, a qual seria excluída da
liberdade do devedor.

★ Críticas:

○ Windscheid: A conceção de que o direito de crédito consiste na subordinação


da vontade do credor à vontade do devedor faria recair o objeto do direito de
crédito no exigir, que só seria violado quando o devedor desrespeitasse a
exigência apresentada pelo credor, o que não se encontra no conceito de
direito de crédito.

○ Larenz: O credor só domina a atuação do devedor indiretamente através da


pessoa deste, sendo uma decisão da sua liberdade pessoal realizar a prestação
ou sujeitar-se às consequências do incumprimento, pelo que seria
contraditório admitir a exigência de um domínio direto sobre uma atuação
alheia, já que cada atuação tem na base a liberdade do agente.

2.2 O CRÉDITO COMO UM DIREITO À PRESTAÇÃO (TEORIA CLÁSSICA)1


O direito de crédito consiste na faculdade de exigir de determinada pessoa a realização de
determinada conduta (prestação) em benefício de outrem, conduta que não pode ser
coercivamente exigida, mas como corresponde a um valor patrimonial, permite a execução
do património do devedor para ressarcimento do credor. O direito de crédito, por ser um
direito à conduta do devedor, é um direito exclusivamente pessoal.

3. AS TEORIAS REALISTAS
O direito de crédito é um direito sobre o património do devedor.

3.1 O CRÉDITO COMO UM DIREITO SOBRE OS BENS DO DEVEDOR2


O crédito é, à semelhança do direito real, um direito sobre bens, havendo apenas que
considerar que não recai sobre bens determinados, mas antes sobre todo o património do

1
Apoiada por Windscheid, Guilherme Moreira, Vaz Serra, Manuel de Andrade, Galvão Telles, Antunes Varela,
Almeida Costa, Menezes Cordeiro, Menezes Leitão, Rui de Alarcão e Ribeiro de Faria.
2
Desenvolvida por Brinz, Bekker, Saleilles e Brunetti

15
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devedor. Negando a existência de um direito à prestação, considera que o cumprimento da


obrigação se apresenta como um ato absolutamente livre. Vai ser a faculdade de executar o
património do devedor.

3.2 O CRÉDITO COMO RELAÇÃO ENTRE PATRIMÓNIOS3


O crédito vai ser um vínculo entre patrimónios, sendo as pessoas do credor e do devedor
meros representantes jurídicos dos seus bens. Assim, não seria o devedor que deve ao credor,
mas antes o património do devedor que deve ao património do credor. Este direito seria, à
semelhança do direito real, um direito sobre bens, com a única diferença de não recair sobre
bens determinados, mas antes coletivamente sobre todo o património do devedor.

3.3 O CRÉDITO COMO UM DIREITO À TRANSMISSÃO DOS BENS DO DEVEDOR4


Vê a obrigação como um processo de aquisição de bens, uma vez que coloca o objeto do
direito não na prestação, mas em bens. Assim, o fim da obrigação seria sempre a aquisição da
propriedade, pelo que a diferença entre o direito de crédito e o direito real residiria na
circunstância de este ser exercido diretamente sobre a coisa, enquanto naquele haveria um
fenómeno de “propriedade indireta”, um direito à aquisição dos bens do devedor.

3.4 O CRÉDITO COMO EXPECTATIVA DA PRESTAÇÃO, ACRESCIDA DE UM


DIREITO REAL DE GARANTIA SOBRE O PATRIMÓNIO DO DEVEDOR5
Nega a existência de um direito à prestação. Distingue na obrigação duas relações
fundamentais, o débito e a responsabilidade. A relação de débito corresponderia a um dever
do devedor, entendido como o estado de pressão psicológica em que o devedor se encontra
por existir um preceito que o manda realizar a prestação a determinada pessoa, e a uma
legítima expectativa do credor, entendida como um estado de fidúcia jurídica, de receber a
prestação pelo simples facto de lhe ser juridicamente devida, mas que não corresponde a um
direito que ele possa fazer valer se a prestação não for espontaneamente realizada.

4. AS TEORIAS MISTAS
A obrigação tanto tem por objeto a prestação como o património do devedor. O débito seria o
vínculo principal da obrigação, consistente no dever de efetuar a prestação, enquanto a
responsabilidade consistiria num vínculo de garantia, traduzido num estado de sujeição do
patrimônio do devedor ao credor, que lhe assegura o equivalente patrimonial da prestação
em caso de não cumprimento. O credor teria, assim, dois direitos fundamentais, um direito à
prestação, que seria um direito pessoal, e um direito sobre o património, que seria um direito
real de garantia. O primeiro seria satisfeito mediante o cumprimento voluntário por parte do
devedor, enquanto o segundo se exerceria através da intervenção dos mecanismos coativos.

3
Posição seguida por Eugéne Gaudemet e Boneli
4
Desenvolvida por Cazelles, Savatier, Duranton, Marcadé, Laurenti, Baudry-Lacantinerie, Bonnecase, Filp e
François
5
Suportada por Pacchioni

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5. AS DOUTRINAS SUSTENTANDO A COMPLEXIDADE DO


VÍNCULO OBRIGACIONAL

5.1 A OBRIGAÇÃO COMO ORGANISMO, COMO ESTRUTURA E COMO


PROCESSO
A obrigação seria um organismo que abrangeria tanto um conjunto de créditos individuais,
correspondendo aos deveres de prestação principais e acessórios, como também direitos
potestativos, correspondendo a sujeições, como a resolução e a denúncia. Podemos falar não
apenas em obrigação em sentido estrito enquanto direito de crédito individual, mas também
de obrigação em sentido amplo, definida como a relação causal que existe entre o credor e o
devedor, da qual surge o direito de crédito e a obrigação e ainda outras posições jurídicas de
que o direito de crédito é um mero elemento.

6. POSIÇÃO ADOTADA PELO ML


A obrigação é um vínculo pessoal entre dois sujeitos, através do qual um deles pode exigir
que o outro adote determinado comportamento em seu benefício, sendo esta a conceção
também adotada pelo legislador no art. 397, da teoria clássica.

SECÇÃO IV: CARACTERÍSTICAS DA OBRIGAÇÃO

1. GENERALIDADES
As obrigações vão ter quatro características: a patrimonialidade, a mediação ou colaboração
devida, a relatividade e a autonomia.

2. A PATRIMONIALIDADE
Patrimonialidade: Susceptibilidade de a obrigação ser avaliada em dinheiro, tendo,
portanto, conteúdo económico. A prestação não necessita de ter carácter pecuniário, mas
deve corresponder a um interesse do credor, digno de proteção legal (art. 398/2).

★ Patrimonialidade Tendencial: MC utiliza este termo dado que existe a


possibilidade de obrigações não apresentarem caráter patrimonial, todavia Galvão
Telles considera esta questão como desprovida de interesse prático, dado que a na
esmagadora maioria dos casos a obrigação vai ter esse carácter.

Prestações Excluídas do Âmbito das Obrigações:

★ Antunes Varela: Exclui dois tipos de prestações: as prestações que correspondem a


simples caprichos ou manias do devedor, e as prestações que correspondem a
situações tuteladas por outras ordens normativas, como a religião, a moral ou o trato
social, e que, por isso, não merecem a tutela do direito.

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★ MC: Não exclui as prestações que correspondem a simples caprichos ou manias do


devedor, desde que estas se refiram a situações jurídicas.

★ ML: Concorda com o prof. MC, dado que o interesse do credor corresponder a uma
simples mania ou capricho não exclui a sua eventual importância para o credor.

3. A MEDIAÇÃO OU COLABORAÇÃO DEVIDA


O credor não pode exercer direta e imediatamente o seu direito, necessitando da colaboração
do devedor para obter a satisfação do seu interesse. Este é um dos pontos que permite
distinguir as obrigações dos direitos reais, dado que neles estamos perante um poder direto e
imediato sobre uma coisa.

4. A RELATIVIDADE
Relatividade Estrutural: O direito de crédito estrutura-se com base numa relação entre
credor e devedor.

★ Prof. ML: Considera-a indubitável, dado que o direito de crédito vai ser o direito de
exigir a outrem uma prestação, logo só pode ser exercido pelo seu titular, o credor,
contra outra pessoa que tenha o correlativo de dever prestar, ou sejam o devedor,
estruturando-se, por isso, com base numa relação jurídica entre dois sujeitos.

★ Direitos Reais: Esta característica vai ser um fator de distinção para estes direitos,
pois os direitos reais vão ter um carácter estruturalmente absoluto

Relatividade de Eficácia: O direito de crédito é apenas eficaz contra o devedor, logo só a


ele pode ser oposto ou violado, não podendo a obrigação ter eficácia externa, isto é, perante
terceiros.

★ Doutrina Clássica6: Os direitos de crédito nunca podem ser violados por terceiros
já que, sendo direitos relativos, os terceiros não têm o dever de os respeitar, assim, os
direitos de crédito só podem ser violados pelo devedor, e também não podem, os
terceiros, ser beneficiados por este direito.

★ Posição Intermédia7: Só o devedor deve ser responsabilizado em caso de violação


do direito de crédito, porque é só dele que o credor pode exigir que satisfaça a
prestação, tal não significa, no entanto, que a obrigação não tenha qualquer eficácia
perante terceiros, ou que o terceiro não possa ser responsabilizado quando proceda à
lesão do direito do credor em violação dos vetores fundamentais do ordenamento
jurídico, como os referidos no art. 334.

6
Foi defendida por Cunha Gonçalves
7
Defendida por Manuel de Andrade, Vaz Serra, Antunes Varela, Almeida Costa, Rui de Alarcão, Ribeiro de Faria e
Sinde Monteiro e Menezes Leitão

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5. A AUTONOMIA
O Prof. ML não a considera uma característica, dado que existem situações que, apesar de
reguladas por outros ramos do direito (ex: impostos - Direito Fiscal), têm uma estrutura
obrigacional, uma vez que o ramo do direito em que são inseridas não as faz perder a sua
natureza obrigacional.

PARTE III - DOGMÁTICA GERAL (MC)

CAPÍTULO II: CARACTERÍSTICAS DAS OBRIGAÇÕES

SECÇÃO II - A RELATIVIDADE E A EFICÁCIA PERANTE TERCEIROS

27§ A RELATIVIDADE ESTRUTURAL

112. ACEÇÕES DE RELATIVIDADE


Relatividade das Obrigações: Implica uma relação jurídica entre duas pessoas
determinadas em que o devedor está adstrito à prestação perante o credor

★ Relatividade Estrutural: Os créditos seriam relativos por pressuporem uma


relação jurídica, os reais seriam absolutos por consignarem para o seu titular uma
posição jurídica.

★ Relatividade de Eficácia: Os créditos permitiriam pretensões apenas contra o


devedor e só este estaria obrigado, os reais facultarem pretensões contra quaisquer
pessoas, estando todas obrigadas ao respeito

★ Relatividade de Responsabilidade: O credor apenas poderia pedir contas ao


devedor, só este sendo responsabilizável, enquanto que em direitos reais qualquer
terceiro poderia ser obrigado a indemnizar.

28§ A RELATIVIDADE NA PRODUÇÃO DE EFEITOS

115. GENERALIDADES; A OPONIBILIDADE FORTE


Oponibilidade Forte: Pretensão que o titular de um direito tem de exigir a alguém algo
valioso que o Direito lhe atribui. Vai ser erga omnes no direitos reais e inter partes no direito
obrigacional

★ Direito das Obrigações: Tendencialmente, neste ramo do direito o credor só pode


exigir o bem, serviço, ou valor a que tenha direito o próprio devedor, pelo que
estamos perante uma oponibilidade forte inter partes, todavia, pode haver exceções.

19
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116. A OPONIBILIDADE MÉDIA: OS CONTRATOS COM PROTEÇÃO DE TERCEIROS E O


TERCEIRO CÚMPLICE
Oponibilidade Média: Possibilidade, reconhecida ao titular, de solicitar o acatamento de
deveres instrumentais que permitam o aproveitamento de algo valioso que lhe compita, ou
um melhor aproveitamento dessa mesma coisa.

Deveres Acessórios: As obrigações são acompanhadas por feixes de deveres acessórios


que acautelam os valores fundamentais do ordenamento jurídico. Estes deveres acessórios
envolvem terceiros, seja protegendo-os, seja obrigando-os.

★ Contratos com Proteção de Terceiros: Certos contratos postulam, pela sua


natureza e pela exigência do sistema, deveres acessórios para defender os interesses
do credor e de terceiros - ex: arrendatário. O devedor tem deveres não só perante o
credor, mas também perante terceiros

○ Larenz: Considera que esta proteção deve derivar da boa fé. O credor vai
liquidar o dano do terceiro, ressarcindo-se depois sobre o devedor

○ Responsabilidade Aquiliana: O problema da proteção de terceiros poderia


resolver-se à luz da responsabilidade aquiliana, dizendo que a
responsabilidade do devedor para com terceiros se teria ficado a dever à
violação culposa de direitos de personalidade, como o direito à integridade
física, por via do art. 483 do CC. Contudo, esta solução não confere uma
proteção tão eficaz como a dos contratos com proteção de terceiros, dado que
estes beneficiam da presunção de culpa/ilicitude do art. 799 do CC.

★ Doutrina do Terceiro Cúmplice: Quando ocorre o incumprimento da obrigação


contratual o credor pode responsabilizar, além do devedor, o terceiro que tenha
provocado o incumprimento, por exemplo ao concluir com o devedor um contrato
incompatível com o estabelecido com o credor inicial. Terceiro que colabore com a
violação dolosa de um contrato, incorre em responsabilidade delitual.

117. A OPONIBILIDADE FRACA: O DEVER GERAL DE RESPEITO


Oponibilidade Fraca: Pretensão geral de respeito.

★ Responsabilidade Aquiliana: É construída em torno de um dever geral de


respeito: o de não contundir com os direitos alheios ou com interesses de terceiros
legalmente protegidos. Não se aplica aos direitos de crédito, pois como dependem de
vínculos específicos não podem ser violados por quem não se inclua em tais vínculos.

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30§ A RELATIVIDADE NA EXPERIÊNCIA PORTUGUESA


Prof. Cunha Gonçalves, Manuel de Andrade e Vaz Serra: Consideram que as
obrigações só podem ser infringidas pelo próprio devedor, sendo que dar eficácia externa das
obrigações criaria uma vasta variedade de situações de responsabilidade.

Prof. Menezes Cordeiro: Considera que o direito civil apresenta duas possíveis soluções

★ Cláusula Geral da Boa Fé (art. 334): No caso da doutrina do terceiro cúmplice é


impossível aplicar o artigo 483, dado que falta a componente da ilicitude. Assim,
estando numa situação de concorrência, aplicam-se as regras desta, pelo que
aplicamos as regras da boa fé.

★ Cláusula Geral da Responsabilidade Civil (art. 483/1): Aplica-se aos créditos


quando tomados pelo prisma da titularidade. Ou seja, quando o terceiro interfira na
ligação credor crédito - ex: terceiro que se faz passar por credor ou que destrói as
condições materiais para o credor exercer o seu direito.

SECÇÃO V: DISTINÇÃO ENTRE DIREITOS DE CRÉDITO E


DIREITOS REAIS (ML)

1. A DISTINÇÃO ENTRE DIREITOS DE CRÉDITOS E DIREITOS


REAIS

Direitos Reais Direitos de Crédito

★ Incidem diretamente sobre coisas ★ São direitos a prestações, ou seja, a


★ Desligado de relações interpessoais uma conduta do devedor
★ A oponibilidade a terceiros é plena ★ Necessita da mediação ou
★ Adere à coisa, estabelecendo uma colaboração do devedor para ser
relação tal que dela não pode ser exercido
separado ★ Assenta numa relação, logo tem de
○ Sequela: O direito real ser exercido contra o devedor
persegue a coisa onde quer ★ A sua oponibilidade a terceiros é
que ela se encontre e pode limitada, só ocorrendo em certas
sempre ser exercido. circunstâncias
★ Prevalência: Prioridade do direito ★ Não apresenta a sequela ou a
real primeiramente constituído aderência do direito real
sobre posteriores, salvo as regras do ★ Não se hierarquizam entre si pela
registo, e a maior força dos direitos ordem de constituição, concorrendo
reais sobre os de crédito. em pé de igualdade sobre o
★ Requisito de legitimidade para a património do devedor (art. 604,
constituição de direitos reais (art. nº1)
892)

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2. A QUESTÃO DOS DIREITOS PESSOAIS DE GOZO


Direitos Pessoais de Gozo (art. 407 e 1682-A): Encontram-se entre os direitos de
crédito e os direitos reais. Incluem o direito do locatário (art. 1022), do comodatário (art.
1129), do parceiro pensador (art. 1121) e do depositário (art. 1185).

★ Galvão Telles, Antunes Varela e Carvalho Fernandes: Qualificam estes


direitos como direitos de crédito

★ Dias Marques e Oliveira Ascensão: Reconhecem natureza real ao direito do


arrendatário

★ Manuel Andrade Mesquita, José Andrade Mesquita, e Nuno Pinto


Oliveira: Posição intermédia em que estes direitos constituem um tertium genus8
entre direitos de crédito e reais

★ Menezes Cordeiro9: Defende uma tese intermédia, que nos diz que estes direitos
são um direito intermédio aos direitos reais e de crédito.

★ Menezes Leitão: Os direitos pessoais de gozo são direitos de crédito, pois através
deles o titular adquire o direito a uma prestação do devedor, que consistem em
assegurar o gozo de uma coisa corpórea, tutelável através da ação de cumprimento. A
satisfação dessa prestação pressupõe, porém, a atribuição ao credor de um direito à
posse das coisas entregues, o que justifica que a lei lhe atribua as ações possessórias
para defesa dessa situação jurídica. A existência de posse neste direitos não implica,
porém, a sua qualificação como direitos reais, pois, neste caso, o direito ao gozo da
coisa é obtido a partir de uma prestação do devedor, resultando, portanto, de um
direito de crédito.

SECÇÃO VI: OBJETO DA OBRIGAÇÃO: A PRESTAÇÃO

1. DELIMITAÇÃO DO CONCEITO DE PRESTAÇÃO


Prestação (art. 397): Conduta que o devedor se obriga a desenvolver em benefício do
credor. Conteúdo deontológico da vinculação assumida pelo devedor. Objeto da obrigação.

★ Cumprimento: Realização da prestação. Importa a extinção da obrigação. (art.


762/1)

★ Conteúdo: Pode consistir numa ação ou numa omissão, sendo o seu conteúdo
determinado dentro dos limites da lei (art. 398/1). A prestação embora não necessite
de ter valor pecuniário10, deve corresponder a um interesse do credor, digno de
proteção legal (art. 398/2).

8
terceira família (?)
9
ver página 606 e 607 do tratado vi
10
ver questão da patrimonialidade na pág. 15 da sebenta

22
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2. REQUISITOS LEGAIS DA PRESTAÇÃO

2.1 GENERALIDADES
As regras do art. 280 relativas ao objeto negocial são plenamente aplicáveis à prestação. Esta
deve, então, ser física e legalmente possível, lícita, conforme à ordem pública e aos bons
costumes e determinável. Estes pressupostos devem ser articulados aos requisitos da
prestação dos art. 400 e 401.

2.2 POSSIBILIDADE FÍSICA E LEGAL


Impossibilidade: Tem que ser absoluta, impedindo a realização da prestação, e não
meramente relativa, tornando-se excessivamente difícil ou onerosa para a sua realização.

★ Impossibilidade Originária (art. 401/1): Produz a nulidade do negócio jurídico.

○ Casos de Validade: É possível que seja celebrado um negócio com uma


prestação à partida impossível, na hipótese de esta se tornar possível, ou em
que o negócio é sujeito a condição suspensiva ou a termo inicial e, no
momento da sua verificação, a prestação já se tornou possível pelo 401/2.

★ Impossibilidade Superveniente: Se a obrigação se torna impossível depois da


constituição do negócio, este não é nulo, a obrigação é que se vai extinguir por força
do art. 790.

★ Impossibilidade Objetiva: Apenas se considera impossível a prestação que o seja


em relação ao objeto e não em relação à pessoa do devedor, uma vez que as prestações
são em princípio fungíveis, logo o seu cumprimento pode ser efetuado por qualquer
pessoa (art. 767/1)

2.3 LICITUDE
O objeto negocial não pode ser contrário a qualquer disposição que tenha carácter injuntivo
(art. 280 e 294). A ilicitude pode ser de resultado ou de meios, conforme o negócio vise um
objeto ilícito ou se proponha a utilizar meios ilícitos para alcançar o objeto. Porém, estas
situações não se devem confundir com as situações de apenas o fim subjetivo ser ilícito (ex:
comprar uma arma para matar alguém).

2.4 DETERMINABILIDADE
Indeterminação: Indeterminável não deve ser confundido com indeterminado, dado que a
obrigação pode constituir-se estando ainda a prestação indeterminada, desde que ela seja
determinável11.

★ Art. 400: Aplica-se em casos de indeterminação da prestação, referindo que a


determinação da prestação pode ser confiada a uma das partes ou a terceiro, mas que

11
ex: obrigações genéricas (art. 539 e ss.) e obrigações alternativas (art. 543 e ss.)

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em qualquer dos casos deve ser feita mediante juízos de equidade se outros critérios
não tiverem sido estabelecidos.

Nulidade: Pelo art. 289, nº1, apenas caso não resulte do negócio qualquer critério que
permita realizar a determinação da prestação.

2.5 NÃO CONTRARIEDADE À ORDEM PÚBLICA E AOS BONS COSTUMES


Bons Costumes: As regras de conduta familiar e sexual, bem como as regras deontológicas
estabelecidas no exercício de certas profissões.

Ordem Pública: Corresponde aos denominados princípios fundamentais do ordenamento


jurídico, cuja contrariedade, mesmo que não constando de uma norma expressa, implica a
invalidade do negócio.

Fim Subjetivo: O negócio só será nulo se o fim ilícito subjetivo das duas for comum (ex: A
vende uma arma a B para que ele cometa homicídio, B compra a arma para matar alguém).

SECÇÃO VII: A COMPLEXIDADE INTRA-OBRIGACIONAL E


OS DEVERES ACESSÓRIOS DE CONDUTA
Realidade da Obrigação: Abrange:

★ Dever de efetuar a prestação principal: Pode ainda ser decomposto em


sub-deveres relativos a diversas condutas materiais ou jurídicas - ex: obrigação de
reparar o automóvel.

★ Deveres secundários de prestação: Correspondem a prestações autónomas,


ainda que especificamente acordadas, com 0 fim de complementar a prestação
principal, sem a qual não fazem sentido ex: obrigação de lavar também o automóvel

★ Deveres acessórios:

★ Poderes ou faculdades: O devedor pode exercer perante o credor

★ Exceções Consistem na faculdade de paralisar eficazmente o direito de crédito - ex:


prescrição (art. 303), exceção de não cumprimento do contrato (art. 428) benefício da
excussão (art. 638) e direito de retenção (art. 754).

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SECÇÃO VIII: MODALIDADES DAS OBRIGAÇÕES

1. AS OBRIGAÇÕES NATURAIS. PROBLEMÁTICA DA SUA


INSERÇÃO NO CONCEITO DE OBRIGAÇÃO
Obrigações Naturais (art. 402 e ss.): Obrigações que se fundam num mero dever de
ordem moral ou social, cujo cumprimento não é judicialmente exigível, mas corresponde a
um dever de justiça. Não podem ser convencionadas livremente pelas partes no exercício da
sua autonomia privada, uma vez que uma convenção nesse sentido equivaleria a uma
renúncia do credor ao direito de exigir o cumprimento (art. 809).

★ Regime Jurídico: A lei manda aplicar às obrigações naturais o regime das


obrigações civis em tudo o que não se relacione com a realização coactiva da
prestação, salvo as exceções da lei (art. 404).

○ Exceções que não se aplicam:

■ Transmissão negocial de obrigações naturais

■ Estipulação de garantias e regime do cumprimento e do não


cumprimento: Devido à exigência da espontaneidade do cumprimento
da obrigação natural

■ Prescrição: As consequências da prescrição correspondem exatamente


em transformar uma obrigação civil em obrigação natural

Qualificação das Obrigações:

★ Galvão Telles e Antunes Varela: A obrigação natural consistiria um dever


oriundo de outras ordens normativas a cujo cumprimento a lei atribuiria efeitos
jurídicos. Relação de facto, embora juridicamente relevante.

★ Manuel de Andrade, Vaz Serra, Almeida Costa, Menezes Cordeiro,


Ribeiro de Faria e Nuno Pinto Oliveira: As obrigações naturais são verdadeiras
obrigações jurídicas, sendo o seu regime apenas diferente das restantes por a lei não
permitir a sua execução.

★ Menezes Leitão: A obrigação natural não é uma verdadeira obrigação jurídica, pois
não contém um vínculo jurídico pelo qual uma pessoa fique adstrita para com outra à
realização da prestação (art. 397). A existência de um dever moral e social, que
corresponda a um dever de justiça, não basta, uma vez que é a própria lei que recusa
ao credor natural a tutela jurídica desse direito ao negar-lhe a faculdade de exigir
judicialmente o cumprimento, e essa faculdade integra o conteúdo do direito de
crédito e não é dele conceptualmente separável. Além disso, na obrigação natural o
direito de crédito não tem conteúdo, não podendo nunca considerar-se como valor
ativo no património do credor, sendo o cumprimento da obrigação um incremento no
património do devedor, o que se leva a que a situação se aproxime da doação

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2. CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES EM FUNÇÃO DOS TIPO DE


PRESTAÇÃO

2.2 PRESTAÇÕES DE COISA E PRESTAÇÕES DE FACTO


Prestações de coisa: São aquelas cujo objeto consiste na entrega de uma coisa. Dizem
respeito ao fornecimento de bens. É possível distinguir a atividade do devedor da própria
coisa que existe independentemente da sua conduta, ainda que, mesmo assim o credor não
tenha qualquer direito sobre a coisa, mas antes direito a uma prestação que consiste na
entrega dessa coisa.

★ Prestação de Coisa Futura: O art. 399 admite genericamente a prestação de


coisas futura, porém, refere a existência de casos em que a lei o proíbe, efetivamente,
bens futuros podem ser objeto da compra e venda (880), mas não da doação (942/1).

○ Coisas Futuras (art. 211): Bens que, não tendo existência, não possuindo
autonomia própria ou não se encontrando na disponibilidade do sujeito, são
objeto de negócio jurídico na perspetiva da aquisição futura destas
características.

Prestações de facto: São aquelas que consistem em realizar uma conduta de outra ordem.
Dizem respeito à realização de serviços. Não é possível distinguir entre a conduta do devedor
e uma realidade que exista independentemente dessa conduta.

★ Prestação de Facto Positivo (Prestação Facere): A prestação tem por objeto


uma ação

○ Prestação de Facto Material: Compromete-se à realização de uma conduta


puramente material não destinada à produção de efeitos jurídicos

○ Prestação de Facto Jurídico: A conduta do devedor destina-se a produzir


efeitos jurídicos (ex: celebrar um contrato)

★ Prestação de Facto Negativo: A prestação tem por objeto uma omissão do


devedor

○ Prestação de non facere: Corresponde a não realizar uma dada conduta

○ Prestação de pati: Corresponde a tolerar a realização de uma dada conduta


por outrem

2.3 PRESTAÇÕES FUNGÍVEIS E INFUNGÍVEIS


Prestações fungíveis (767/1): A prestação pode ser realizada por outrem que não o
devedor, podendo assim este fazer-se substituir no cumprimento. Regra geral as prestações
são fungíveis.

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Prestações não fungíveis (767/2): São aquelas em que só o devedor pode realizar a
prestação, não sendo permitida a sua realização por terceiro

★ Infungibilidade Natural: A substituição do devedor prejudica o credor

★ Infungibilidade Convencional: Acordou-se expressamente que a prestação só


podia ser realizada pelo devedor

2.4 PRESTAÇÕES INSTANTÂNEAS E PRESTAÇÕES DURADOURAS


Prestações Instantâneas: A sua execução ocorre num único momento

★ Prestação Instantânea Integral: É realizada de uma só vez.

★ Prestação Instantânea Fracionada: O seu montante global é dividido em várias


frações a realizar sucessivamente.

Prestações Duradouras: A sua execução prolonga-se no tempo, em virtude de terem por


conteúdo ou um comportamento prolongado no tempo ou uma repetição sucessiva de
prestações isoladas por um período de tempo. A sua realização global depende sempre do
decurso de um período temporal, durante o qual a prestação deve ser continuada ou repetida.
Implicam a atribuição de um regime especial de extinção aos contratos que as incluem, o que
é realizado através do acordo prévio das partes fixando um limite temporal, se forem
celebrados por tempo indeterminado, podem ser denunciados pelas partes.

★ Prestação duradoura continuada: A prestação não sofre qualquer interrupção

★ Prestação duradoura periódica: A prestação é sucessivamente repetida em


certos períodos de tempo. Verifica-se uma pluralidade de obrigações distintas,
embora emergentes de um vínculo fundamental que sucessivamente as origina.

2.5 PRESTAÇÕES DE RESULTADO E PRESTAÇÕES DE MEIOS


Esta distinção releva para o estabelecimento do ónus da prova. Menezes Leitão não distingue
obrigações de meio de obrigações de resultado, pois, mesmo nas obrigações de meios existe
vinculação a um fim, que corresponde ao interesse do credor, e que se o fim não é obtido
presume-se sempre a culpa do devedor.

Prestação de Resultado: O devedor vincula-se a obter um resultado determinado,


respondendo por incumprimento caso o resultado não for obtido.

★ Ónus da Prova: Basta o credor demonstrar a não verificação do resultado para


estabelecer o incumprimento do devedor

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Prestação de Meios: O devedor não está obrigado à obtenção do resultado, mas apenas em
atuar com a diligência necessária para que esse resultado seja obtido.

★ Ónus da Prova: É necessário demonstrar que a conduta do devedor não


corresponde à diligência a que este se tinha vinculado.

2.6 PRESTAÇÕES DETERMINADAS E PRESTAÇÕES INDETERMINADAS

2.6.1 GENERALIDADES
Prestações Determinadas: A prestação encontra-se completamente determinada no
momento de constituição da obrigação.

Prestações Indeterminadas: A determinação da prestação ainda não se encontra


realizada, pelo que essa determinação terá de ocorrer até ao momento do cumprimento.

★ Razões para a Indeterminação da Prestação na Conclusão do Negócio:

○ As partes não julgaram necessário tomar posição: Uma vez que existe uma
regra supletiva aplicável ou porque pretendem aplicar ao negócio as condições
usuais do mercado. Neste caso, a lei remete para esses critérios, procedendo à
determinação da prestação por essa via. Os art. 1158/2 e 883 vão ser
extensíveis a outros contratos onerosos de transmissão de bens ou de
prestação de serviços pelos art. 939 e 1156.

○ As partes conferiram a uma delas a faculdade de efetuar a determinação:


Considera-se que só uma das partes tem os conhecimentos necessários para o
fazer adequadamente. As partes podem acordar que essa informação seja
fornecida à outra parte antes da conclusão do negócio (“solicitação prévia de
orçamento”), mas quando tal não ocorre, fica uma das partes responsável por
determinar o conteúdo da prestação. Todavia, o poder de determinar a
prestação nunca é absoluto, havendo que ocorrer uma conformidade à
equidade, a qual significa uma adequação ao que é comum nesses contratos e
de acordo com as circunstâncias do caso (art. 400)

2.6.2 AS OBRIGAÇÕES GENÉRICAS


Noção: O objeto da prestação encontra-se apenas determinado quanto ao género, assim a
prestação está determinada por referência a uma certa quantidade, peso ou medida de coisas
dentro de um género, mas não está ainda concretamente determinado quais os espécimes
daquele géneros que vão servir para o cumprimento da obrigação (art. 539), pelo que a
escolha vai caber ao devedor. É especialmente comum no comércio em negociação de coisas
fungíveis - ex: 20 garrafas de vinho, que garrafas?.

★ Determinação da Prestação:

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○ MC: Invocando o regime da integração dos negócios jurídicos, segundo os


ditames da boa fé, faz referência ao art. 239 e considera que o devedor deve
entregar uma coisa de classe ou qualidade média12.

○ ML: Apela ao art. 400 que, ao estabelecer que a determinação da prestação


deve ser realizada segundo juízos de equidade, implica que esta deve ser
adequada à satisfação do interesse do credor, o que normalmente não
ocorrerá se a prestação for exclusivamente determinada com coisas de
qualidade inferior.

★ Transferência da Propriedade: Na obrigação genérica, a transferência da


propriedade não pode ocorrer no momento da celebração do contrato conforme
resulta genericamente do art. 408/1, relativamente a coisas determinadas.
Efetivamente, esta transmissão ocorre no momento da concentração da obrigação, ou
seja, quando ela passa de genérica a específica, não se exigindo que a concentração
seja conhecida de ambas as partes.

○ Momento da Concentração da Obrigação:

■ Teoria da Escolha13: A concentração da obrigação genérica ocorre no


momento em que o devedor procede à separação dentro do género das
coisas que pretende usar para o cumprimento da obrigação.
Ocorrendo, posteriormente, o perecimento da coisa, esse risco já
ocorre por conta do credor.
● ART. 542: A escolha compete ao credor ou a terceiro, assim,
uma vez realizada por um destes passa a ser irrevogável,
concentrando imediatamente a obrigação, desde que declarada
respetivamente ao devedor ou a ambas as partes.

■ Teoria do Envio14: O devedor tem de proceder ao envio para o credor


das coisas com que pretende cumprir a obrigação. Assim que as coisas
saem do domicílio do devedor a obrigação concentra-se, pelo que o
risco do seu perecimento durante o transporte ocorre por conta do
devedor.

■ Teoria da Entrega15: A concentração da obrigação genérica só ocorre


com o cumprimento da obrigação, só nesse momento se efetua a
transferência do risco para o credor, pelo que qualquer perecimento da
coisa que ocorra antes desse momento ocorre por conta do devedor.
Teoria que a nossa lei consagra no art. 540.
● ART. 541: Consagra exceções à teoria da entrega
○ MC - considera que esta norma documenta cedências
do legislador às teorias da escolha ou do envio, e, por
isso, desvios da teoria da entrega

12
Segue a linha de pensamento do BGB
13
Thöl
14
Puntschart
15
Jhering

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○ ML - Discorda de MC, defendendo que a concentração


da obrigação genérica só se dá no momento do
cumprimento, podendo até lá o devedor revogar
escolhas que anteriormente tenha realizado, não
havendo desvios à teoria da entrega. Considera que:
■ “acordo das partes”: constitui um contrato
modificativo da obrigação, através do qual as
partes substituem uma obrigação genérica por
uma específica, e que por isso a questão da
concentração se deixa de colocar.
■ “quando o género se extinguir a ponto de restar
apenas uma das coisas compreendidas”: a
concentração ocorre por mero facto da natureza,
mas não se está perante um desvio à regra do
540, dado que se as coisas sobrantes também
desaparecessem, deixaria a prestação de ser
possível com coisas do género estipulado, pelo
que o devedor estaria sempre exonerado em
virtude da impossibilidade da prestação (art.
790).
■ “credor incorrer em mora”: nesta situação em
que o credor se recusa a receber a prestação, a
lei determina que a obrigação se concentra,
contudo, isso não passa de uma ficção
estabelecida para estender a aplicação às
obrigações genéricas do regime do art. 814/1,
fazendo recair sobre o credor em mora os riscos
do perecimento superveniente das coisas com
que o devedor se dispunha a prestar, mas a
obrigação permanece genérica.
■ promessa de envio do “art. 797”: Não consiste
sequer uma possibilidade a concentração da
obrigação genérica antes do cumprimento , pois
esta norma refere-se às dívidas de envio ou
remessa, em que o devedor não se compromete
a transportar a coisa para o local do
cumprimento, mas apenas a colocar a coisa num
meio de transporte destinado a outro local,
assim, estas obrigações cumprem-se no próprio
local do envio, ficando a obrigação extinta nesse
momento em virtude do cumprimento, sendo o
facto do credor ainda não ter recebido a
prestação irrelevante.

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2.6.3 AS OBRIGAÇÕES ALTERNATIVAS. DISTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES COM


FACULDADE ALTERNATIVA
Obrigações Alternativas: Modalidades de prestações indeterminadas em que existem
duas ou mais prestações de natureza diferente, mas em que o devedor se exonera com a mera
realização de uma delas que, por escolha, vier a ser designada (art. 543)

★ Escolha: A escolha tem de que se verificar entre uma ou outra das prestações, não
sendo permitido que aquele a quem incumbe a escolha decida realizar apenas parte
de cada uma das prestações possíveis (art. 544). Se uma das partes não realizar a
escolha no tempo devido, a lei prevê a devolução desta faculdade à outra parte (art.
542/2 ex vi do art. 549 e 548)

○ Devedor (art. 543/2): É a escolha do devedor que, desde o momento em que


fica conhecida pela outra parte, determina a prestação devida (art. 543/1 in
fine e art. 548). Não é permitido ao devedor a posterior revogação da escolha,
pois, após a realização da mesma, o devedor só se exonera efetuando a
prestação

○ Credor ou Terceiro (art. 549)

★ Impossibilidade da Prestação:

○ Impossibilidade Causal (art. 545): Não é imputável a nenhuma das partes.


Como a prestação ainda está indeterminada, o risco do perecimento causal de
alguma das partes ocorre por conta do devedor, assim, em virtude desta
impossibilidade, vai se dar um fenómeno de redução da obrigação alternativa
à prestação que ainda é possível.

○ Impossibilidade Imputável a uma das Partes:

■ Impossibilidade Imputável ao Devedor (art. 546):


● ESCOLHA COMPETIA AO DEVEDOR: o devedor deve efetuar
uma das prestações ainda possíveis, pois a faculdade de
escolha da outra parte não é afetada.
● ESCOLHA COMPETIA AO CREDOR: o credor pode exigir uma
das prestações ainda possíveis, ou então a indemnização pelos
danos de não ter sido realizada a prestação que se tornou
impossível, ou resolver o contrato nos termos gerais
● ESCOLHA COMPETIA A TERCEIRO:
○ AV - cabe ao terceiro a escolha entre realizar uma das
prestações ou pedir a indemnização pelos danos
resultantes de não ter sido realizada a prestação que se
tornou impossível, porém a opção de resolução do
contrato fica reservada apenas para o credor
○ MC e ML - quando a obrigação se torna impossível, o
terceiro perde a faculdade de realizar a escolha, pois ele
só pode escolher entre as prestações possíveis, e não
entre uma prestação e uma indemnização, logo passa a

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ser o credor a optar entre a indemnização, a prestação


possível e a resolução do contrato

■ Impossibilidade Imputável ao Credor (art. 547):


● ESCOLHA COMPETIA AO CREDOR: considera-se que a
obrigação está cumprida, pois o devedor não tinha a faculdade
de escolher e a atitude do credor, ao impossibilitar
culposamente uma das prestações, deve ser equiparada à
situação de ele a escolher.
● ESCOLHA COMPETIA AO DEVEDOR: considera-se que a
obrigação está cumprida, a menos que o devedor prefira
realizar a outra prestação e ser indemnizado pelos danos que
tenha sofrido, pois a atitude do credor impossibilita a escolha
pelo devedor.
● ESCOLHA COMPETIA A TERCEIRO:
○ AV - cabe ao terceiro a escolha entre considerar a
obrigação cumprida ou determinar que o devedor
realize a prestação possível e peça indemnização pelos
danos resultantes de não ter sido realizada a prestação
tornada impossível
○ MC e ML - quando a obrigação se torna impossível, o
terceiro perde a faculdade de realizar a escolha, pois ele
só pode escolher entre as prestações possíveis, e não
entre uma prestação e uma indemnização, logo passa a
ser o devedor a optar entre considerar a obrigação
cumprida ou realizar a outra prestação exigindo
simultaneamente uma indemnização.

Obrigações com faculdade alternativa: Convenciona-se que se pode substituir a


prestação através de outra prestação que não a convencionada; prestação determinada mas
devedor tem a faculdade de substituir o objeto da prestação por outro

2.7 AS OBRIGAÇÕES PECUNIÁRIAS

2.7.1 GENERALIDADES
Obrigações Pecuniárias: Obrigações que têm dois requisitos cumulativos: o de ter por
objeto dinheiro e o de procurar proporcionar ao credor o valor que as espécies monetárias
possuem.

★ Possíveis Funções do Dinheiro:

○ Meio Geral de Trocas: O dinheiro, em função do seu poder de compra, é


utilizado para efeitos de aquisição e alienação de bens e serviços, funcionando
como meio intermediador da circulação desses bens.

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○ Meio Legal de Pagamento: Por força de uma disposição legal ser atribuída
eficácia liberatória à entrega de espécies monetárias em pagamento das
obrigações pecuniárias, vinculando-se o credor à sua aceitação

○ Unidade de Conta: Sendo o valor da moeda relativamente estável, pode ser


utilizado como medida do valor dos bens e serviços de qualquer tipo.

★ Modalidades das Obrigações Pecuniárias:

○ Obrigações de quantidade

○ Obrigações em Moeda Específica

○ Obrigações em Moeda Estrangeira

2.7.2 OBRIGAÇÕES DE QUANTIDADE


Noção: Obrigações que têm por objeto uma quantidade de moeda com curso legal no país.
Atualmente, essa moeda em Portugal é o euro.

★ Art. 550: Refere dois princípios reguladores destes obrigações:

○ Princípio do Curso Legal: O cumprimento das obrigações deve-se realizar


apenas com espécies monetárias a que o Estado reconheça função liberatória e
genérica, cuja aceitação é obrigatória para os particulares.

○ Princípio do Nominalismo Monetário: Deve-se tomar, somente, em conta o


valor nominal da moeda para efeitos do cumprimento, independentemente do
seu valor de troca no momento do cumprimento, do que resulta que, a longo
prazo, esta obrigação acarreta um risco de desvalorização da moeda, com a
inerente perda do seu poder de compra, risco suportado pelo credor.

■ Exceções: Permitem atualizar o valor


● Convenção entre as partes
● A própria lei prevê - casos de prestações periódicas (ex: renda
no arrendamento urbano) ou de obrigações restitutórias em
que a restituição ocorra passado um grande lapso de tempo

2.7.3 OBRIGAÇÕES EM MOEDA ESPECÍFICA


Noção: A obrigação pecuniária é convencionalmente limitada em espécies metálicas, ou ao
valor delas, afastando-se a possibilidade de pagamento em notas (art. 552). Relaciona-se com
o facto destas moedas possuírem um valor intrínseco, (valor das ligas metálicas).

★ Modalidades:

○ Obrigações em Certa Espécie Monetária: Se não foi estipulado um


quantitativo expresso em moeda corrente, considera-se que a obrigação tem

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que ser efetuada na espécie monetária estipulada, desde que ela exista, ainda
que tenha variado de valor após a data em que foi constituída (art. 553)

○ Obrigações em Valor de uma Espécie Monetária: Se foi estipulado um


quantitativo expresso em moeda corrente, a estipulação do pagamento em
moeda específica é considerada como pretendendo estabelecer uma
vinculação ao valor corrente que a moeda ou metal escolhido tinha à data da
estipulação (art. 554).

2.7.3 OBRIGAÇÕES EM MOEDA ESTRANGEIRA


Noção: A prestação é estipulada em relação a espécies monetárias que têm curso legal
apenas no estrangeiro (art. 558).

★ Modalidades:

○ Obrigações Valutárias Próprias ou Puras: O cumprimento da obrigação só


pode ser realizado em moeda estrangeira, não podendo o credor exigir o
pagamento em moeda nacional nem o devedor entregar nesta moeda.

○ Obrigações Valutárias Impróprias ou Impuras: A estipulação da moeda


estrangeira funciona apenas como unidade de referência para determinar,
através do câmbio de determinada data, a quantidade de moeda nacional
devida, devendo um cumprimento ser realizado em moeda nacional.

○ Obrigações Valutárias Mistas: O cumprimento é estipulado em espécies


monetárias que possuem curso legal apenas no estrangeiro, admitindo-se a
possibilidade de o devedor realizar o pagamento na moeda nacional, com base
no câmbio da data de cumprimento, sendo esta possibilidade restrita ao
devedor, já que o credor apenas pode exigir o cumprimento na moeda
estipulada.

2.8 OBRIGAÇÕES DE JUROS


Juros: Prestação devida como compensação ou indemnização pela privação temporária de
uma quantidade de coisas fungíveis e pelo risco. A lei caracteriza-os como frutos civis (art.
212/2), pois são frutos de coisas fungíveis, produzidos periodicamente em virtude de uma
relação jurídica.

★ Modalidades:

○ Juros Legais ou Convencionais:

■ Legais: A fixação da taxa é feita por um diploma avulso (art. 559/1)

■ Convencionais: A taxa é fixada pelas partes

○ Juros Remuneratórios, Compensatórios, Moratórios e Indemnizatórios:

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■ Remuneratórios: Têm uma finalidade remuneratória que corresponde


ao preço de empréstimo do dinheiro (art. 1145/1)

■ Compensatórios: Destinam-se a proporcionar ao credor um


pagamento que compense a temporária privação de capital que ele não
deveria ter suportado (v.g. art. 480 e 1167, c))

■ Moratórios: Têm uma natureza indemnizatória dos danos causados


pela mora, visando recompensar o credor pelos prejuízos sofridos, em
virtude do retardamento no cumprimento da obrigação pelo devedor
(art. 806)

■ Indemnizatórios: Destinam-se a indemnizar os danos sofridos por


outro facto praticado pelo devedor

Obrigação de Juros: Pressupõe a existência de um outra obrigação de capital, cujo


conteúdo e extensão se encontram delimitados em função do tempo.

★ Anatocismo: Cobrança de juros sobre juros (proibida no art. 560/1, apesar de haver
exceções).

3. INDETERMINAÇÃO E PLURALIDADE DE PARTES NA


RELAÇÃO OBRIGACIONAL

3.1 A INDETERMINAÇÃO DO CREDOR NA RELAÇÃO OBRIGACIONAL


Art. 511: O credor pode não ficar determinado no momento em que a obrigação é
constituída, embora deva ser determinável, sob pena de ser nulo o negócio jurídico de que
resulta a obrigação. No entanto, o devedor é obrigatoriamente determinado logo no
momento em que a obrigação é constituída. A indeterminação temporária pode resultar de se
aguardar a verificação de um facto futuro e incerto, ou porque a ligação entre o credor e a
relação obrigacional se apresenta como indireta ou mediata (ex: promessa pública do art.
459)

3.2 A PLURALIDADE DE PARTES NA RELAÇÃO OBRIGACIONAL

3.2.1 GENERALIDADES
Obrigação Singular: Abrange apenas dois sujeitos, o devedor e o credor (art. 397).

Obrigação Plural: Abrange uma pluralidade de credores ou devedores, colocando o


problema de determinar como se processa a contribuição dos diversos devedores para a
realização da prestação a que estão vinculados e em que termos pode cada um dos credores
exigir a prestação.

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★ Pluralidade Passiva: Várias pessoas vinculam-se perante outra

★ Pluralidade Ativa: Uma pessoa vincula-se perante várias

★ Pluralidade Mista: Várias pessoas vinculam-se perante várias pessoas.

3.2.2 AS OBRIGAÇÕES CONJUNTAS OU PARCIÁRIAS


Cada um dos devedores só está vinculado a prestar ao credor, ou credores, a sua parte na
prestação, e cada um dos credores só pode exigir do devedor, ou dos devedores, a parte que
lhes cabe. A prestação é realizada por partes.

3.2.3 AS OBRIGAÇÕES SOLIDÁRIAS

3.2.3.1 GENERALIDADES
As obrigações solidárias estão previstas nos art. 512 e ss.

Características da Solidariedade:

★ Identidade da prestação em relação a todos os sujeitos da obrigação

★ Extensão integral do dever de prestar ou do direito à prestação em relação a,


respetivamente, todos os devedores ou credores

★ Efeito extintivo comum da obrigação, caso se verifique a realização do cumprimento


por um dos devedores

★ Só existe quando resulte da lei ou da vontade das partes

Modalidades:

★ Solidariedade Passiva: Qualquer um dos devedores está obrigado a realizar,


perante o credor, a prestação integral, sendo que a realização da prestação integral
por um dos devedores libera todos em relação ao credor, e faz com que este adquira
um direito de regresso perante os restantes devedores

★ Solidariedade Ativa: Qualquer um dos credores está obrigado a exigir do devedor


a prestação integral, sendo que a realização da prestação integral a um dos credores
libera o devedor do confronto com os outros, e faz com que o credor que recebeu mais
fique obrigado a satisfazer aos outros a parte que lhes cabe no crédito comum.

★ Solidariedade Mista: Qualquer um dos credores pode exigir a qualquer um dos


devedores a prestação devida por todos os devedores a todos os credores. A realização
da prestação integral por um dos devedores a um dos credores libera todos os outros
em relação a todos os credores, e faz com que o devedor que realizou a prestação
adquira um direito de regresso perante os restantes devedores e que o credor que

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recebeu mais fique obrigado a satisfazer aos outros a parte que lhes cabe no crédito
comum.

3.2.3.2 O REGIME DA SOLIDARIEDADE PASSIVA


Nas Relações Externas:

★ Em relação ao credor:

○ Oponibilidade: A solidariedade caracteriza-se por uma maior eficácia do seu


direito que pode ser exercido integralmente contra qualquer um dos
devedores (art. 512/1 e 519/1), não podendo estes invocar o benefício da
divisão (art. 518), pelo que terão de satisfazer a prestação integral.

○ Renúncia à Solidariedade:

■ Caso o credor opte por demandar conjuntamente todos os devedores


(art. 517)
■ É possível renunciar a solidariedade apenas a favor de algum dos
devedores, sendo que se conserva o direito à prestação por inteiro
sobre os restantes (art. 527)

★ Em relação ao devedor:

○ Exoneração: A satisfação do direito do credor, por cumprimento, dação em


cumprimento, novação, consignação em depósito ou compensação, mesmo
que desencadeada por apenas um dos devedores, exonera igualmente os
restantes (art. 523)

○ Extinção Parcial da Dívida: A dívida extingue-se apenas em relação a um dos


devedores, como sucede na transmissão concedida a apenas um dos obrigados
(art. 864/1), ou na confusão com a dívida deste (art. 869/1)

○ Não Cumprimento por Facto Imputável a um dos Devedores: Todos os


devedores são responsáveis pelo seu valor, mas apenas o devedor a quem o
facto é imputável é responsável por danos acima desse valor (art. 520)

○ Meio de Defesa: O devedor pode opor ao credor os meios de defesa que lhe são
próprios e os que são comuns aos outros devedores, mas não pode utilizar
meios pessoais dos outros devedores (art. 514/1)

Nas Relações Internas:

★ Direito de Regresso do Devedor: O devedor que satisfizer a prestação acima da


parte que lhe compete, adquire este direito de regresso sobre os outros devedores,
pela parte que lhes competia (art. 524)

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○ Risco de Insolvência ou Impossibilidade Subjetiva: O devedor que pagou não


suporta integralmente o risco de cada um dos devedores, já que a lei prevê que
nesses casos a quota-parte do devedor que não cumpra seja dividida pelos
restantes (art. 526/1)

○ Meios de Defesa: Podem ser opostos ao credor de regresso (art. 525/1)

3.2.3.3 O REGIME DA SOLIDARIEDADE ATIVA


Nas Relações Externas:

★ Em relação ao credor:

○ Exigência da Prestação: Apenas um dos devedores pode exigir a prestação


integral, liberando-se o devedor perante todos com a realização da prestação a
qualquer um dos credores (art. 512/1 in fine)

○ Escolha do Devedor: O devedor pode escolher o credor solidário a quem


realiza a prestação enquanto não tiver sido judicialmente citado por um
credor cujo crédito se encontre vencido (art. 528/1)

★ Em relação ao devedor:

○ Exoneração: A satisfação do direito de um dos credores, por cumprimento,


dação em cumprimento, novação, consignação em depósito ou compensação,
mesmo que desencadeada por apenas um dos devedores, exonera igualmente
o devedor perante os restantes (art. 532)

○ Extinção Parcial da Dívida: Se a dívida se extinguir apenas em relação a um


dos credores, como sucede na remissão concedida a apenas um dos obrigados
(art. 864/3), ou na confusão apenas com o crédito deste (art. 869/2)

○ Não Cumprimento por Facto Imputável aos Devedores: A solidariedade


mantém-se em relação ao crédito da indemnização (art. 529/1)

○ Meio de Defesa: O devedor pode opor ao credor solidário os meios de defesa


que lhe respeitem e os que são comuns aos outros credores, mas não pode
utilizar meios que respeitem exclusivamente os outros credores (art. 514/1)

Nas Relações Internas:

★ Obrigação de Regresso do Credor: O credor que receber a prestação acima da


parte que lhe compete, adquire uma obrigação de regresso sobre os outros credores,
pela parte que lhes competia (art. 523)

○ Igualdade: A lei assume que as partes dos credores são iguais (art. 516), salvo
estipulação em contrário.

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Luísa Braz Teixeira TB; 2021/2022
Prof. Regente Paula Costa e Silva

3.2.4 AS OBRIGAÇÕES PLURAIS INDIVISÍVEIS


Art. 535: Se a prestação for indivisível e vários os devedores, só de todos eles pode o credor
exigir o cumprimento da obrigação, salvo se tiver sido estipulada a solidariedade, ou se esta
resultar da lei. Contudo, há algumas exceções em alguns pontos:

★ Extinção da obrigação em relação a algum ou alguns dos devedores: O


credor não fica inibido de exigir a prestação dos restantes obrigados, contanto que
lhes entregue o valor da parte que cabia ao devedor ou devedores exonerados (art.
536)

★ Impossibilidade da prestação por facto imputável a algum ou alguns dos


devedores: a lei dispõe que os outros ficam exonerados (art. 537), pois se apenas um
dos devedores impossibilita a prestação, só ele deve ser sujeito a indemnização por
impossibilidade culposa (art. 801/1), para os outros a impossibilidade deriva de uma
causa que não lhes é imputável.

★ Obrigação indivisível com pluralidade de credores: A lei refere que qualquer


deles tem direito de exigir a prestação por inteiro, mas que o devedor, enquanto não
for judicialmente citado, só relativamente a todos os credores se pode exonerar (art.
538)

○ MC: Defende que a citação judicial do devedor por um dos credores


transforma a obrigação conjunta em solidária

3.2.5 OUTRAS MODALIDADES DE OBRIGAÇÕES PLURAIS


Obrigações Correais: Embora haja uma pluralidade de devedores ou de credores, quer a
obrigação, quer o direito de crédito se apresentam como unos, o crédito não se pode
extinguir apenas em relação a um dos credores ou devedores. Obrigação só se pode extinguir
globalmente.

Obrigações Disjuntas: Obrigações de sujeito alternativo em que existe uma pluralidade de


devedores ou credores, mas apenas um virá, por escolha, a ser designado sujeito da relação
obrigacional.

Obrigações em Mão Comum: Situações em que, apesar de ocorrer uma pluralidade de


partes na relação obrigacional, essa pluralidade resulta da pertença da obrigação a um
património de mão comum autonomizado do restante património das partes, o que leva a
que o vínculo se estabeleça com o dever de prestar ou o conjunto de credores com o direito à
prestação

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Luísa Braz Teixeira TB; 2021/2022
Prof. Regente Paula Costa e Silva

PARTE III: DA EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES

SECÇÃO III: A IMPOSSIBILIDADE SUPERVENIENTE DA


PRESTAÇÃO E O PROBLEMA DO RISCO NOS CONTRATOS
BILATERAIS E NOS CONTRATOS REAIS

1. REGIME DA IMPOSSIBILIDADE CAUSAL DA PRESTAÇÃO


Extinção do Vínculo Obrigacional: Para que a impossibilidade da prestação possa
acarretar a extinção da obrigação ela tem que ser superveniente, objetiva, absoluta e
definitiva (art. 790 e ss.). O devedor fica exonerado e o risco passa para a esfera do credor.

★ Superveniente: Ocorre após a constituição da dívida, pois se a impossibilidade for


originária, o negócio considera-se nulo por impossibilidade do objeto (art. 401/1 e
280/1), pelo que a obrigação nem sequer se chega a constituir.

★ Objetiva: A impossibilidade tem de dizer respeito à prestação em si,


independentemente da pessoa que a realizar, pois, se a impossibilidade for subjetiva,
ou seja, se disser respeito ao devedor, por apenas este estar impossibilitado de
prestar, não ocorre a extinção da obrigação, devendo o devedor fazer-se substituir
(art. 767/1), excepto se estivermos perante uma prestação infungível (art. 767/2),
nesse caso vai ocorrer extinção da obrigação.

★ Absoluta: A prestação tem de ser efetivamente irrealizável, não bastando uma


impossibilidade relativa, correspondente à maior dificuldade de realização da
prestação.

★ Definitiva: Se se verificar uma situação de impossibilidade temporária, o devedor


não responde pelo atraso no cumprimento (art. 792/1), mas continua adstrito à
realização da prestação. Todavia, se o credor perder o interesse na prestação, a
impossibilidade passa a ser definitiva (art. 792/2).

2. SITUAÇÕES EQUIPARÁVEIS À IMPOSSIBILIDADE DA


PRESTAÇÃO: A FRUSTRAÇÃO DO FIM E A REALIZAÇÃO DO
INTERESSE DO CREDOR POR OUTRA VIA
Problema: Ainda é possível realizar a conduta a que o devedor se vinculou, mas já não é
possível através desta satisfazer o interesse do credor.

Soluções da Doutrina Portuguesa:

★ Prof. Vaz Serra: Integra estes casos no âmbito da alteração das circunstâncias

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Luísa Braz Teixeira TB; 2021/2022
Prof. Regente Paula Costa e Silva

★ Prof. Antunes Varela: Embora sustente que o conceito de prestação não pode
abranger o interesse do credor, defende que a prestação pode ser igualmente aferida
em relação a condicionalismos externos à conduta do devedor, cuja falta geraria uma
verdadeira situação de impossibilidade.

★ Prof. Ribeiro Faria: Defende que os casos de frustração do fim da prestação e de


obtenção do interesse do credor por outra via significam sempre, ou trazem em si
contida, a impossibilidade da prestação (art. 790)

★ Prof. ML: Embora não considere que estes sejam casos de impossibilidade de
prestação, como o credor não retira qualquer benefício da prestação, e esta deve
corresponder a um interesse do credor (art. 398/2), equipara estas situações às de
impossibilidade para efeitos de exoneração do devedor.

3. O RISCO NOS CONTRATOS SINALAGMÁTICOS

3.1 A DISTRIBUIÇÃO DO RISCO EM CASO DE VERIFICAÇÃO DA


IMPOSSIBILIDADE DA PRESTAÇÃO
Impossibilidade de uma das Prestações: Nos contratos sinalagmáticos a
impossibilidade de uma das prestações causa a extinção de todo o contrato, sendo distribuído
o risco por ambas as partes através da extinção das suas obrigações (art. 795)

★ Se uma das prestações já tiver sido realizada: Pode ser pedida a restituição
por enriquecimento sem causa, com fundamento no desaparecimento superveniente
da causa para a receção da prestação (condictio ob causam finitam art. 473/2)

★ Commodum de Representação: Se a impossibilidade determinar o surgimento


de Commodum de Representação (art. 794), e o credor pretender exercer esse direito,
como se mantém a vinculação do devedor, ainda que com diferente objeto, não se
pode considerar que o credor fique exonerado da contraprestação

★ Impossibilidade Imputável ao Credor: Este não fica desobrigado da


contraprestação, sucedendo apenas que, se o devedor tiver algum benefício com a
exoneração, pode esse vir a ser descontado na contraprestação (art. 795/2)

3.2 O PROBLEMA DA FRUSTRAÇÃO DO FIM DA PRESTAÇÃO OU DA


REALIZAÇÃO DO INTERESSE DO CREDOR POR OUTRA VIA
Problema: Impossibilidade de obtenção do fim visado com a prestação, ou a satisfação do
credor por outra via - ex: pintor é contratado para pintar a casa e esta vem a ruir.

Soluções da Doutrina Portuguesa:

★ Prof. Antunes Varela: Aplicação analógica do regime da gestão de negócios,


reconhecendo ao devedor da prestação de serviços que, sem culpa sua, se tornou

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Luísa Braz Teixeira TB; 2021/2022
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impossível o direito a ser indemnizado, quer das despesas que fez, quer do prejuízo
que sofreu (art. 468)

★ Prof. Baptista Machado e Ribeiro Faria: Enquadram esta situação no art. 1227
com a solução de que o devedor suporta a perda da sua remuneração, mas tem direito
a ser indemnizado pelo trabalho efetuado e despesas realizadas.

★ Prof. ML: Considera esta situação uma lacuna da lei, aplicando, analogicamente, o
art. 1227 da gestão de negócios

3.3 O RISCO NOS CONTRATOS REAIS DE ALIENAÇÃO


Res Perit Domino: Regra geral de que o risco pelo perecimento ou deterioração da coisa
cabe ao que for proprietário dela, no momento em que tal evento se verifica

★ Transmissão da Propriedade sobre o Objeto da Prestação: Se já se deu esta


transmissão, o perecimento da coisa não importa a extinção do direito à
contraprestação (art. 796/1). O devedor está já onerado da sua obrigação, sendo o
credor quem suporta o risco, daí continuar onerado com a contraprestação.

Transferência da Propriedade: Acarreta a transferência do risco

★ De Coisas Determinadas: Ocorre com a celebração do contrato (art. 408/1)

★ De Coisas Futuras: Ocorre com a aquisição da coisa pelo alienante (art. 408/2)

★ De Coisas Indeterminadas: Ocorre com a determinação da coisa com


conhecimento de ambas as partes (art. 408/2)

○ Obrigações Genéricas: A transferência ocorre com a concentração da


obrigação (art. 540 3 541)

★ De Frutos Naturais ou Partes Componentes ou Integrantes: Ocorre no


momento da colheita ou da separação (art. 408/2)

Regras Especiais de Transferência do Risco:

★ Alienante Continua a Retirar Proveito (art. 796/2): Se, apesar da


transferência da propriedade, o alienante ainda se encontrar a retirar proveito da
coisa, o risco corre pela sua conta.

○ Tranferência do Risco para o Adquirente:

■ Vencimento do prazo: O alienante deixa de beneficiar do prazo para


funcionar como mero depositário da coisa

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Luísa Braz Teixeira TB; 2021/2022
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■ Entrega da coisa: Passa a ser o adquirente a utilizar a coisa.

○ Inversão do Risco: Se o alienante constituir em mora quanto à obrigação de


entrega (art. 807)

★ Contrato sob Condição Resolutiva (art. 796/3): O risco corre por conta do
adquirente, pois a eficácia retroativa desta condição (art. 276) não impede a
transmissão da propriedade durante a pendência da mesma (art. 1307/1), o que,
associado à entrega da coisa, faz supor que é o adquirente quem se encontra a tirar
benefício dela.

★ Contrato sob Condição Suspensiva (art. 796/3): O risco corre por conta do
alienante, dado que a aposição desta condição ao contrato significa que a propriedade
não se transmitiu, sendo apenas eventual a possibilidade de transmissão

★ Promessa de Envio (art. 797): Norma apenas aplicável às obrigações genéricas,


dispondo que, quando o devedor se obriga a enviar a coisa para local diferente do
local do cumprimento (dívida de envio), a transferência do risco ocorre com a entrega
da coisa ao transportador.

SECÇÃO IV: A ALTERAÇÃO DAS CIRCUNSTÂNCIAS

1. O DEBATE JURÍDICO EM TORNO DA QUESTÃO DA


ALTERAÇÃO DAS CIRCUNSTÂNCIAS E A SUA RECEPÇÃO NO
DIREITO PORTUGUÊS
Alteração das Circunstâncias: Situação em que se verifica a contradição entre dois
princípios jurídicos: o da autonomia privada, que exige o pontual cumprimento dos contratos
livremente celebrados, e o da boa fé, nos termos do qual não será lícito a uma das partes
exigir da outra o cumprimento das suas obrigações sempre que uma alteração do estado de
coisas posterior à celebração do contrato tenha levado a um desequilíbrio das prestações
gravemente lesivo para essa parte.

★ Solução do Código Civil: Atribui, à parte lesada, o direito à resolução do contrato,


ou à modificação dele, segundo juízos de equidade (art. 437/1)

2. REQUISITOS
Requisitos para a Aplicação da Alteração das Circunstâncias do 437:

★ Alteração das circunstâncias em que se fundou a decisão de contratar: As


circunstâncias que se alteram são aquelas que tinham motivado o contrato

★ Carácter anormal dessa alteração: A alteração era totalmente imprevisível

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★ A alteração provoca lesão a uma das partes: Tem de surgir um desequilíbrio


nas prestações contratuais

★ A alteração é de tal ordem que se a Pode-se considerar que a alteração das


circunstâncias se apresenta como uma modalidade específica de abuso de direito (art.
334), dado que, por força da boa fé, se torna ilegítimo ao credor a exigência da
prestação, consequentemente, a alteração das circunstâncias não se pode aplicar a
contratos já executados, pois, depois da troca das prestações, já passa a ser um risco
do recetor da prestação alterações do valor que ela venha a sofrer.

★ A alteração não está coberta pelos riscos do contrato: Daqui resulta que a
alteração das circunstâncias se apresenta como subsidiária em relação às regras de
distribuição do risco, cessando a sua aplicação sempre que exista uma regra que
atribua aquele risco a alguma das partes.

3. EXCLUSÃO DA APLICAÇÃO DO REGIME DA ALTERAÇÃO DAS


CIRCUNSTÂNCIAS EM CASO DE MORA DA PARTE LESADA
Mora da Parte Lesada: Uma vez que a mora do devedor provoca uma inversão do risco da
prestação (art. 807), se o devedor, por causa que lhe é imputável, não cumprir na data fixada,
entende-se que assume o risco de verificação de posteriores desequilíbrios contratuais, não
podendo impor uma distribuição de risco distinta (art. 438).

★ Exceção: Na ação de execução específica, a sentença pode, a requerimento do


faltoso, determinar a modificação do contrato (não a resolução), nos termos do art.
437, ainda que a alteração das circunstâncias seja posterior à mora (art. 830/3)

4. EFEITOS DA ALTERAÇÃO DAS CIRCUNSTÂNCIAS


Consequências da Aplicação do art. 437:

★ Modificação do Contrato Segundo Juízos de Equidade

★ Resolução do Contrato:

○ Tem de ser requerida em juízo?

■ Sim: Prof. Almeida Costa


■ Não: Prof. Vaz Serra e Menezes Leitão, contudo o último diz que, se a
contraparte decidir contestar, aí sim terá de recorrer a juízo

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SECÇÃO V: O CUMPRIMENTO

1. CONCEITO E IMPORTÂNCIA
Cumprimento: Realização da prestação devida (art. 762/1 do CC)

2. PRINCÍPIOS GERAIS

2.1 PRINCÍPIO DA PONTUALIDADE


Noção: Exigência de uma correspondência integral em todos os aspetos entre a prestação
efetivamente realizada e aquela a que o devedor se encontra vinculado. Se este princípio não
for cumprido vai se verificar uma situação de incumprimento ou cumprimento defeituoso

★ Base Legal: Art. 406/1 do CC

★ Consequências:

○ Proibição de qualquer alteração à prestação devida: O devedor tem de prestar


a coisa exatamente nos mesmos termos em que se vinculou.

○ Irrelevância da situação económica do devedor: O devedor não pode solicitar a


redução da sua prestação ou a obtenção de qualquer outro benefício, como a
dilação do prazo para pagamento ou o seu escalonamento em prestações

2.2 PRINCÍPIO DA INTEGRALIDADE


Noção: O devedor deve realizar a prestação de uma só vez

★ Base Legal: Art. 406/1 e 763/1 do CC

★ Exceções: É admitida a estipulação de convenção em contrário, ou desobedecer a


este princípio caso tal resulte da lei ou dos usos

2.3 PRINCÍPIO DA BOA-FÉ


Noção: Tanto no cumprimento como no exercício do direito correspondente, as partes
devem proceder de boa-fé.

★ Base Legal: Art. 762/2 do CC

★ Deveres Acessórios de Conduta: Os deveres de proteção, informação e lealdade


que surgem no âmbito das relações específicas aplicam-se na fase do cumprimento
das obrigações, sendo que o seu desrespeito pode gerar uma situação de
responsabilidade civil.

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2.4 PRINCÍPIO DA CONCRETIZAÇÃO


Noção: A vinculação do devedor deve ser concretizada numa conduta real e efetiva,
implicando, assim, o cumprimento a transposição do plano deontológico da vinculação do
devedor para o plano ontológico de um comportamento efetivamente realizado.

4. CAPACIDADE PARA O CUMPRIMENTO


Capacidade do Devedor:

★ Fora de Atos de Disposição: A capacidade do devedor não é exigida (art. 764),


assim, tendo sido validamente celebrado o negócio jurídico, a prestação poderá,
normalmente, ser realizada pelo devedor incapaz.

★ Em Atos de Disposição: A capacidade do devedor já é exigida, se o ato de


disposição não está ao alcance do incapaz, deve ser realizado pelo seu representante
legal.

○ Prestação Realizada por Terceiro: No caso da prestação ser realizada por


terceiro, ela vai consistir num ato de disposição, uma vez que o terceiro não se
encontra vinculado à sua realização por um negócio jurídico anterior, pelo que
a sua capacidade vai sempre ser exigida

○ Prestação Realizada por Incapaz: Caso o incapaz realize pessoalmente a


prestação, o credor pode recusar a prestação, dado que se a aceitar, pode ser
sujeito a um pedido de anulação do cumprimento (art. 125). Todavia, o credor
pode se opor ao pedido de anulação se demonstrar que o devedor não sofreu
qualquer prejuízo com a prestação (art. 764/1)

Capacidade do Credor: O credor deve ter capacidade para receber a prestação, uma vez
que, no caso contrário, ele poderia destruir o objeto da prestação ou não tirar qualquer
proveito do cumprimento.

★ Prestação Realizada a Credor Incapaz: O seu representante legal pode solicitar


a sua anulação e a realização de nova prestação pelo devedor (art. 125). Todavia, o
devedor pode se opor ao pedido de anulação, na medida em que tiver sido recebido
pelo representante ou do seu enriquecimento (art. 764/2)

5. DISPONIBILIDADE DA COISA DADA EM CUMPRIMENTO


O devedor, para realizar eficazmente o cumprimento no âmbito das prestações de coisa, tem
que ser titular da coisa dada em prestação e ter capacidade e legitimidade para proceder à
sua alienação, de outro modo não pode impugnar o cumprimento (art. 765/1)

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6. LEGITIMIDADE PARA O CUMPRIMENTO

5.2 LEGITIMIDADE ATIVA


Princípio da Legitimidade Ativa: A lei atribui-o a todas as pessoas, tendo estas, ou não,
interesse direto no cumprimento da obrigação (art. 767/1). Assim, ainda que o credor só
possa exigir a prestação do devedor, esta pode ser prestada por terceiro, sem que o credor se
possa opor, a menos que estejamos perante uma prestação fungível, por natureza ou
convenção das partes (art.767/2).

★ Recusa do Credor: Tendo o terceiro legitimidade, se o credor recusar a prestação,


incorre em mora perante o devedor como se tivesse recusado a prestação deste (art.
768/1 e 813). A lei apenas admite esta recusa se o devedor se opuser ao cumprimento
e o terceiro não tiver interesse direto na satisfação do crédito (art. 768/2 e 592), pois
se o terceiro for diretamente interessado, o credor não pode recusar o cumprimento,
dado que isso resultaria em prejuízo para o terceiro.

5.3 EFEITOS DO CUMPRIMENTO POR TERCEIRO


Consequências Jurídicas: O prof. ML considera que o terceiro que cumpre a obrigação
apenas pode intentar a ação de enriquecimento contra o devedor

★ Extinção da Obrigação: E consequente liberação do devedor

★ Doação Indireta do Terceiro ao Devedor: Quando o cumprimento da obrigação


é realizado num espírito de liberalidade (art. 940), sendo uma situação de doação
indireta

★ Transmissão do Crédito para o Terceiro: Ocorre em todas as hipóteses de


sub-rogação (art. 589 e ss.). O pagamento é visto como um facto determinante na
transmissão do crédito, adquirindo o terceiro o memso crédito que o credor possuía
(art. 593/1)

★ Obtenção de um Direito ao Reembolso de Despesas: Em caso de gestão de


negócios ou mandato (art. 464 e ss. e 1157 e ss.), dado que o pagamento é considerado
um ato jurídico alheio.

★ Restituição do Enriquecimento por Prestação: Se o terceiro julgar


erroneamente estar a efetuar uma prestação ao credor (art. 477) ou ao devedor (art.
478). Como não existe causa jurídica para a prestação, a lei determina a sua
restituição.

★ Restituição do Enriquecimento por Despesas: No caso de pagamento de


dívida alheia, sem se verificar qualquer das situações acima referidas.

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5.4 LEGITIMIDADE PASSIVA


Legitimidade para Receber a Prestação: A prestação deve ser efetuada ao credor ou ao
seu representante (art. 769).

★ Representante:

○ Representante Legal: O prof. ML considera que existe um dever de efetuar a


prestação ao representante do devedor (art. 764/2), dado que embora o credor
tenha legitimidade para receber a prestação, carece de capacidade de exercício
para o fazer.

○ Representante Voluntário: O devedor não é obrigado a satisfazer a prestação


ao representante voluntário do credor nem à pessoa por este autorizada a
recebê-la, se não houver convenção nesse sentido (art. 771).

★ Prestação Realizada a Terceiro: Todas as outras pessoas são consideradas


terceiros, pelo que a prestação que a estes for realizada não resultará na extinção da
obrigação (art. 770, proémio), podendo o devedor ser condenado a realizá-la uma
segunda vez (art. 476/2)

○ Situações em que o terceiro adquire legitimidade:

■ Estipulação ou consentimento do credor (art. 770/a): O terceiro


possui originalmente legitimidade para a recepção da prestação, tudo
se passando como se esta tivesse sido realizada ao credor, vai
corresponder, por isso, a um verdadeiro cumprimento da obrigação
(art. 762/1)

■ Ratificação do cumprimento pelo credor (art. 770/b): A concessão


superveniente ao terceiro de legitimidade para a receção da prestação
vai ter eficácia retroativa (art. 268/2), tornando-se a situação
equivalente à da alínea acima

■ O terceiro adquire posteriormente o crédito (art. 770/c): A prestação é


realizada indevidamente a terceiro, o que permite ao devedor exigir a
sua repetição (art. 476/2), para depois tornar a realizar ao verdadeiro
credor. Todavia, pode suceder que, posteriormente, se reúnem na
mesma pessoas as qualidades de devedor dessa restituição e de credor
da prestação originária.

■ O credor vier a aproveitar-se do cumprimento (art. 770/d): Como o


credor vem, posteriormente a aproveitar-se dela, não tem interesse
fundado em não considerar que é efetuada a si próprio

■ O credor é herdeiro de quem recebe a prestação (art. 770/e): A


prestação é realizada indevidamente a terceiro, o que permite ao
devedor exigir a sua repetição (art. 476/2), para depois tornar a
realizar ao verdadeiro credor. Todavia, pode suceder que,

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posteriormente, se reúnem na mesma pessoa as qualidades de devedor


dessa restituição e de credor da prestação originária.

■ Se a lei considerar, por outro motivo, a prestação liberatória (art.


770/f)

7. TEMPO DO CUMPRIMENTO

6.1 MODALIDADES DAS OBRIGAÇÕES QUANTO AO TEMPO DO CUMPRIMENTO


Momentos do Cumprimento:

★ Pagabilidade do Débito: Momento em que o devedor pode cumprir a prestação,


obrigando o credor a receber a prestação, sob pena do credor entrar em mora

★ Exigibilidade ou Vencimento do Débito: Momento em que o credor pode exigir


do devedor a realização da prestação, sob pena do devedor entrar em mora.

Regime do Prazo da Prestação (art. 777 e ss.): Centra-se na distinção entre obrigações
puras e obrigações a prazo.

★ Obrigações Puras: Aquelas cujo cumprimento pode ser exigido ou realizado a todo
o tempo (art. 777/1). Regra geral, as obrigações tendem a ser puras.

○ Mora do Devedor: O devedor apenas pode entrar em mora através de uma


interpelação pelo credor (art. 805/1)

★ Obrigações a Prazo: A exigibilidade do cumprimento ou a possibilidade da sua


realização é diferida para um momento posterior.

○ Obrigações com Prazo Certo: As partes ou a lei estabelecem um prazo de


cumprimento (art. 777/1 proémio)

■ Mora do Devedor: Ocorre com o decurso do prazo (art. 805/2a)

○ Obrigações em que o Prazo Advém da Natureza da Prestação: Torna-se


necessário um prazo pela própria natureza da prestação, pelas circunstâncias
que a determinaram ou por força dos usos, cabendo a sua fixação ao tribunal
na falta de acordo entre as partes (art. 777/2)

6.2 COLOCAÇÃO DO PRAZO A CRITÉRIO DE UMA DAS PARTES


Determinação do Prazo: Pode ser deixada ao critério de uma das partes, ao credor ou ao
devedor.

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★ Critério do Credor: Quando este não usar da faculdade que lhe foi concedida,
compete ao tribunal fixar o prazo, a requerimento do devedor (art. 777/3)

★ Critério do Devedor:

○ Obrigações cum potuerit (art. 778/1): Depende de um fator objetivo que será a
existência dos meios económicos nesse momento para o devedor realizar a
prestação. O credor só pode exigir o cumprimento se demonstrar que o
devedor tem a possibilidade de cumprir, não podendo fazer essa
demonstração, o credor apenas poderá, após a morte do devedor, exigir dos
seus herdeiros que realizem a prestação.

○ Obrigações cum voluerit (art. 778/2): Depende de um fator subjetivo que será
a vontade do devedor realizar a prestação nesse momento. A prestação só
pode ser exigida dos seus herdeiros após os falecimento do devedor, ou seja,
existe um prazo incerto que coincide com a vida do devedor

6.3 BENEFÍCIO DO PRAZO

6.3.1. GENERALIDADES
Benefício: Possibilidade da prestação ser realizada ou exigida em momento posterior.

★ Renúncia: A parte a quem é atribuído o benefício pode renunciá-lo, exige-se, porém,


que essa renúncia seja efetiva, ou seja, que a prestação não seja antecipadamente
realizada por erro desculpável, caso em que o devedor teria direito a que o credor lhe
restituísse o seu enriquecimento (art. 476/3)

6.3.2 PRAZO EM BENEFÍCIO DO DEVEDOR


Regra geral, o prazo é estabelecido em benefício do devedor (art. 779), o que significa que o
credor não pode exigir a prestação antes do fim do prazo, mas que o devedor tem o direito de
proceder à sua realização a todo o tempo, consequentemente, o devedor pode cumprir
antecipadamente a sua obrigação, sem que o credor a tal se possa impor, sob pena de entrar
em mora (art. 813)

6.3.3 PRAZO EM BENEFÍCIO DO CREDOR


As partes podem estabelecer que o prazo corre em benefício do credor, tendo este a faculdade
de exigir a prestação a todo o tempo, enquanto o devedor só tem a possibilidade de cumprir
no fim do prazo - ex: obrigação de restituição da coisa pelo depositário (art. 1194)

6.3.4 PRAZO EM BENEFÍCIO DE AMBAS AS PARTES


Nenhuma das partes tem a faculdade de determinar a antecipação do cumprimento, o
decurso do prazo funcionará tanto para determinar a pagabilidade como a exigibilidade da
dívida. Trata-se de uma solução que se tem por estranha por contrariar o princípio da
pontualidade do cumprimento (art. 406) - ex: mútuo oneroso (art. 1147)

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6.3.5 PERDA DO BENEFÍCIO DO PRAZO

6.3.5.2 INSOLVÊNCIA DO DEVEDOR


Verificada a impossibilidade do devedor solver as suas obrigações, deixa de fazer sentido a
manutenção do prazo da prestação, pelo que se justifica a sua imediata exigibilidade (art.
780). A lei exige a verificação de uma efetiva insolvência, não bastando o justo receio da
mesma.

6.3.5.3 A DIMINUIÇÃO DE GARANTIAS


Se diminuírem as garantias do crédito, ou não forem prestadas as garantias prometidas, o
credor pode exigir o cumprimento imediato da obrigação ou a substituição e reforço das
garantias (art. 780/2), mesmo que as garantias ainda existentes sejam suficientes para
assegurar a execução da obrigação. Exige-se, contudo, que o perecimento das garantias
resulte da culpa do devedor, uma vez que o seu comportamento vai pôr em causa a confiança
que o credor tinha. É necessário que a redução das garantias apresente um mínimo de
relevância, de outro modo a exigência de cumprimento imediato será contrária à boa fé.

6.3.5.4 A NÃO REALIZAÇÃO DE UMA PRESTAÇÃO, NAS DÍVIDAS A PRESTAÇÕES


Nas dívidas a prestações, caso o devedor falte ao pagamento de uma das prestações,
admite-se que o credor possa exigir antecipadamente as prestações que ainda não se
venceram (art. 781). Esta disposição aplica-se apenas às prestações instantâneas
fraccionadas, e não às prestações periódicas. A perda do benefício do prazo ocorre em virtude
da má fé demonstrada pelo devedor, ou em virtude das suspeitas de insolvência. O Prof. ML
considera que, apesar da lei descrever a situação como de vencimento antecipado, parece
tratar-se antes de perda do benefício do prazo, já que, se o credor não exigir as prestações,
não parece que fique logo constituído em mora pela totalidade da obrigação.

6.3.5.5. CARÁCTER PESSOAL DA PERDA DO BENEFÍCIO DO PRAZO


A perda do benefício do prazo tem carácter pessoal, pelo que não pode afetar nem os
conservadores, nem os terceiros garantes. Assim, em caso de perda do benefício do prazo, o
credor poderá exigir ao devedor o cumprimento imediato da obrigação, mas terá que esperar
o seu vencimento normal para exigir o cumprimento aos condevedores ou a terceiros
garantes da obrigação (art. 782).

Restrições:

★ Obrigação Solidária: Pode dar-se o caso de insolvência ou a responsabilidade pela


diminuição de garantias se verificar, em mais de um dos devedores, o que legitimará o
credor a exigir imediatamente o cumprimento aos outros condevedores em relação
aos quais também se verifiquem essas circunstâncias (art. 526)

★ Terceiros Garantes através de Hipoteca ou Penhor: Sendo o devedor


estranho à constituição da garantia, a diminuição desta seja devida a culpa do terceiro
garante. Neste caso, o credor poderá exigir dele a substituição ou reforço da garantia
ou o cumprimento imediato da obrigação (art. 701/2, 2ª parte e 678).

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8. LUGAR DO CUMPRIMENTO

7.1 MODALIDADES DE OBRIGAÇÕES QUANTO AO LUGAR DE CUMPRIMENTO


Local do Cumprimento (art. 772 e ss.): Onde deve ser realizada a prestação.

★ Obrigações de colocação: O devedor deve apenas colocar a prestação à disposição


do credor no seu próprio domicílio ou noutro lugar, cabendo ao credor o ónus de ir
levantar a prestação fora do seu domicílio. O devedor não pode ser responsabilizado
se o credor não for levantar a prestação, sendo essa situação considerada mora do
próprio credor (art. 813). O lugar da prestação coincide com o lugar do resultado.

★ Obrigações de entrega: O devedor tem que entregar a coisa ao credor no domicílio


deste, ou no lugar com este acordado. A prestação só se considera adequadamente
realizada se chega ao domicílio do credor dentro do prazo acordado, havendo mora do
devedor no caso contrário (art. 804). O lugar da prestação coincide com o lugar do
resultado.

★ Obrigações de envio: Situação intermédia em relação às duas anteriores, já que o


devedor está apenas obrigado a enviar a coisa para o domicílio do credor, sendo o
transporte da conta e risco deste. Assim, o local de cumprimento é aquele onde o
devedor procede à entrega ao transportador. Se o transporte se atrasar ou a coisa se
perder ou deteriorar no seu curso, o risco correrá por conta do credor (art. 797)

7.2 REGRAS RELATIVAS AO LUGAR DA PRESTAÇÃO


Determinação do Lugar de Cumprimento:

★ Existência de Convenção: Em princípio, a determinação do lugar de cumprimento


cabe às partes (art. 772/1, proémio). Nesse âmbito, as partes podem livremente
estipular obrigações de colocação, entrega ou envio.

★ Não Existência de Convenção:

○ Regra Geral: O lugar de cumprimento fica o domicílio (art. 772/1) - obrigação


de colocação

○ Obrigação tem por Objeto a Entrega de Coisa Móvel (art. 773): A obrigação
deve ser cumprida no lugar onde a coisa se encontrava ao tempo da conclusão
do negócio - obrigação de colocação dado que o credor tem que se deslocar ao
sítio onde se encontrava a coisa para receber o cumprimento, tendo o devedor
de, apenas, disponibilizar a coisa nesse local.

○ Obrigação Pecuniária: A obrigação deve ser cumprida no domicílio que o


devedor tiver ao tempo do cumprimento (art. 774) - obrigação de entrega,
sendo que, durante o transporte e até à entrega ao credor, o risco da perda do
dinheiro ocorre sempre por conta do devedor.

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7.3 A MUDANÇA DO DOMICÍLIO DAS PARTES


Obrigação de Colocação: Se ocorrer mudança de domicílio do devedor após a
constituição da obrigação, o cumprimento é realizado no novo domicílio, salvo se a mudança
acarretar prejuízo para o credor, nesse caso o cumprimento deverá ser efetuado no domicílio
primitivo (art. 772/2)

Obrigação de Entrega: Se ocorrer mudança de domicílio do credor após a constituição da


obrigação, a obrigação passa a poder ser realizada no domicílio do devedor, convertendo-se a
obrigação de entrega numa obrigação de colocação. Tal só não sucederá se o credor se
comprometer a indemnizar o devedor do prejuízo que este sofrer com a mudança (art. 775)

7.4 A IMPOSSIBILIDADE DA PRESTAÇÃO NO LUGAR FIXADO


Impossibilidade: Tendo as partes fixado um lugar para o cumprimento, pode ser ou
tornar-se impossível realizar a prestação nesse lugar. Em grande parte dos casos, o local do
cumprimento aparece como essencial em relação à própria prestação, pelo que a
impossibilidade de realizar a prestação naquele local equivale à impossibilidade da sua
realização em absoluto.

★ Lugar do Cumprimento Importa para a Realização da Prestação: Em


grande parte dos casos, o local do cumprimento aparece como essencial em relação à
própria prestação, pelo que a impossibilidade de realizar a prestação naquele local
equivale à impossibilidade da sua realização em absoluto.

○ Impossibilidade Preexistente: A impossibilidade já existia no momento da


conclusão do negócio, logo este é nulo (art. 401 e 280/1).

○ Impossibilidade Superveniente: A impossibilidade surge depois da celebração


do negócio e determina a extinção da obrigação (art. 790) e,
consequentemente, com a perda do direito à contraprestação nos contratos
bilaterais.

★ Lugar do Cumprimento Não Importa para a Realização da Prestação: O


facto de ser ou se tornar impossível realizar a prestação no lugar fixado para o
cumprimento não é motivo para considerar a obrigação extinta, pelo que deverá antes
a prestação ser realizada noutro lugar (art. 776).

○ Determinação do Novo Lugar: Pode ser efetuada de duas maneiras:

■ Considerando a situação como lacuna negocial: O local do


cumprimento é fixado com a vontade hipotética das partes, se não for
outra a solução imposta pelos ditames da boa-fé (art. 239)

■ Recorrendo às regras supletivas dos art. 772 e ss.: Estas regras seriam
aplicáveis, não apenas à ausência de estipulação das partes, mas ainda

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perante a situação de impossibilidade de realização da prestação no


lugar fixado.
● A nossa lei opta por esta solução no art. 779, todavia, isso não
veda a aplicação do 239 aos casos que não estão cobertos pelas
regras supletivas

9. IMPUTAÇÃO DO CUMPRIMENTO
Imputação do Cumprimento: Operação pela qual se relaciona a prestação realizada com
uma determinada obrigação, quando existam várias dívidas entre as partes e a prestação
efetuada não chegue para as extinguir todas, sendo necessário estabelecer a relação entre a
dívida e a prestação correspondente. A lei considera que esta é uma faculdade do devedor
que, todavia, apresenta certas restrições, são estas situações em que é necessário que o credor
dê o seu assentimento

★ Situações em que Existem estas Restrições:

○ Se o prazo tiver sido estabelecido em benefício do credor (art. 783/2): Se o


prazo for estabelecido em benefício do credor, ele pode recusar a antecipação
do cumprimento, pelo que também não será permitido ao devedor, sem o
acordo do credor, efetuar a imputação antes do vencimento da dívida

■ ML: Também aplica aos casos em que o prazo é estipulado em


benefício de ambas as partes, pois também aí o credor tem a mesma
faculdade de recusar a prestação antecipada

○ Se o credor tiver a faculdade de recusar o pagamento parcial (art. 783/2): Em


sede do cumprimento vigora o princípio da integralidade da prestação, pelo
que não é permitido que o devedor realize a prestação por partes (art. 763/1),
nem que impute o cumprimento a uma dívida de montante superior à
prestação efetuada.

○ Se o devedor estiver obrigado a pagar despesas, indemnização moratória ou


juros (art. 785/2): O devedor não pode imputar o cumprimento a uma dívida
de capital enquanto estiver obrigado a pagar despesas, indemnização
moratória ou juros, dado que tal amortização da dívida implicaria uma
redução ou extinção de juros futuros.

■ Em caso de ausência de designação: A prestação tem se por


sucessivamente feita por conta das despesas, da indemnização, dos
juros e do capital (art. 785/1)

★ Caso o devedor não efetue a designação: O credor não é livre de efetuar ele
mesmo a imputação, havendo que aplicar as regras supletivas do 784:

○ A imputação do cumprimento efetua-se em primeiro lugar na dívida vencida

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○ Se existirem várias dívidas vencidas, opta-se pela que oferecer menor garantia
para o credor

○ Se as dívidas tiverem garantias idênticas opta-se pela que for mais onerosa
para o devedor

○ Se as dívidas forem igualmente onerosas opta-se pela que primeiro tenha


vencido

○ Se as dívidas tiverem vencido simultaneamente, imputa-se o cumprimento na


dívida que se constituiu em primeiro lugar

○ Se nenhuma dessas regras for aplicável, considera-se que a prestação foi feita
por todas as dívidas, pelo que irá ser rateada

10. PROVA DO CUMPRIMENTO


Prova do Cumprimento: Compete ao devedor, dado que o cumprimento constitui um
facto extintivo do direito do credor que deve ser demonstrado pela parte contra quem o
crédito é invocado (art. 343/2), sendo que testemunhas não servem como prova (art. 395).

★ Quitação: Direito atribuído por lei a qualquer pessoa que cumpre a obrigação, e não
apenas ao devedor, devendo constar de um documento autêntico ou autenticado ou
ser provida de reconhecimento notarial se aquele cumpriu tiver nisso interesse
legítimo (art. 787/1). O credor exprime que o devedor se encontra “quite” com ele

○ Recibo: Nome que costuma ser dado ao documento em causa. Se o credor se


recusar a apresentar o recibo o cumprimento pode ser legitimamente recusado
(art. 787/2) e o recibo pode igualmente ser exigido depois da prestação já ter
sido efetuada (art. 787/2)

Presunção do Cumprimento: A lei dispensa o devedor de provar que cumpriu a


obrigação (art. 786)

★ Se o credor prestou quitação do capital sem ter em conta que faltava pagar juros e
prestações periódicas (art. 786/1)

★ Se forem devidos juros ou outras prestações periódicas e o credor der quitação sem
reserva de uma dessas prestações, presumem-se realizadas as prestações anteriores
(art. 786/2)

★ Se o credor entregar voluntariamente ao devedor o título original do crédito, a lei faz


presumir a liberação do devedor e dos seus condevedores, solidários ou conjuntos,
bem como do fiador e do devedor principal (art. 786/3)

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★ Prescrição Presuntiva (art. 312 e ss.): A lei presume que já ocorreu o


cumprimento da obrigação, em virtude de já ter decorrido o prazo sobre a sua
constituição. Esta presunção de cumprimento só pode ser ilidida por confissão do
devedor de que ainda não cumpriu a obrigação.

11. DIREITO À RESTITUIÇÃO DO TÍTULO OU À MENÇÃO DO


CUMPRIMENTO
Título: A emissão do título de uma obrigação destina-se a uma causa jurídica específica que
é a de possibilitar a cobrança da dívida, pelo que uma vez extinta a dívida, o credor deixa de
ter causa jurídica para a sua retenção, devendo assim proceder à sua restituição.

★ Direito à Restituição do Título: Se a obrigação aparece referida a determinado


documento, quando o devedor realiza o cumprimento tem o direito de exigir a
restituição desse documento (art. 788/1).

○ Conservação do Documento: O credor pode ter interesse legítimo em


conservar o documento, como no caso deste título lhe conferir outros direitos,
podendo o devedor exigir que o credor mencione o cumprimento efetuado no
título, inviabilizando que o devedor o use novamente para cobrança daquela
obrigação, de outro modo o devedor pode se recusar legitimamente a efetuar a
prestação (art. 788/3)

○ Impossibilidade de Restituir o Documento: O devedor pode exigir quitação


passada em documento autêntico ou autenticado ou reconhecimento notarial,
correndo o encargo por conta do credor (art. 789)

12.EFEITOS DO CUMPRIMENTO
Extinção do crédito e liberação da obrigação, a menos nos casos em que o crédito, em vez de
se extinguir, é transferido para o terceiro que realiza pelo devedor a obrigação (art. 589 e ss.)

13.NATUREZA DO CUMPRIMENTO
Teoria da Realização Real da Prestação: Para o cumprimento é suficiente, na maior
parte dos casos, a obtenção do resultado da prestação através do ato de prestar do devedor,
que, de uma forma objetivamente reconhecida, corresponda à prestação devida (art. 762/1).

ML: O cumprimento consiste num ato real de liquidação que não exige qualquer declaração
negocial de aceitação da prestação pelo credor “como cumprimento”, nem sequer a
exteriorização do animus solvendi, bastando-se com a simples realização material da
prestação pelo devedor.

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SECÇÃO VI: DAÇÃO EM CUMPRIMENTO E DAÇÃO PRO


SOLVENDO

1. A DAÇÃO EM CUMPRIMENTO

1.1 PRESSUPOSTOS DA DAÇÃO EM CUMPRIMENTO


Art. 837: Pressupostos da dação em cumprimento

★ Realização de uma prestação diferente da que for devida

★ Acordo do credor relativo à exoneração do devedor com essa prestação

1.1.1 REALIZAÇÃO DE UMA PRESTAÇÃO DIFERENTE DA QUE FOR DEVIDA


Primeiro Pressuposto da Dação em Cumprimento: A prestação que o devedor realiza
não coincide com aquela a que está vinculado e, por isso, não fica exonerado ao abrigo do art.
762/1.

★ Elemento Essencial da Dação em Cumprimento: A prestação tem de ser


definitivamente realizada, não sendo suficiente a mera celebração de acordo
transmissivo do direito, pois ainda que o art. 408/1 determine que a transmissão do
direito se dá com a mera celebração do contrato, o art. 837 exige a efetiva realização
da prestação.

Prestações que Podem ser Objeto de Dação em Cumprimento: A atual doutrina tem
entendido que nela podem ser incluídas tanto prestações de coisa específica como de coisa
fungível ou de um facere. Todavia, essa prestação não pode corresponder a uma nova
obrigação assumida perante o credor, pois nesse caso estaríamos perante a novação.

1.1.2. O ACORDO DO CREDOR RELATIVO À EXONERAÇÃO DO DEVEDOR COM ESSA


PRESTAÇÃO
Segundo Pressuposto da Dação em Cumprimento: Tem de existir acordo
relativamente à exoneração do devedor com a realização da prestação diferente da devida,
algo justificável dado que a prestação de valor superior pode não corresponder ao interesse
do credor.

Obrigação Solidária: A dação em cumprimento pode ser realizada apenas por um dos
devedores (art. 523) e/ou apenas um dos credores (art. 532), bastando o consentimento das
partes. Todavia, posteriormente, nas relações internas, a diferença de valor não pode ser
oposta aos outros participantes que não tenham dado o seu assentimento à dação.

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1.2 FORMA DA DAÇÃO EM CUMPRIMENTO


A dação em cumprimento não exige forma especial (art. 219), a menos se abranger bens
imóveis, caso em que terá de ser celebrada por escritura pública ou documento particular
autenticado

1.3 REGIME DA DAÇÃO EM CUMPRIMENTO

1.3.1 EXTINÇÃO DA OBRIGAÇÃO


A dação em cumprimento determina a extinção da obrigação que visou satisfazer, com a
consequente exoneração do devedor (art. 837). Sendo a obrigação solidária, a dação em
cumprimento realizada por um dos devedores solidários (art. 523) ou a um dos credores
solidários (art. 532) produz igualmente a extinção da obrigação. Se a dívida que a dação visou
extinguir não existir, o seu autor tem direito a recorrer à repetição do indevido (art. 476/1)

1.3.2 GARANTIA CONTRA VÍCIOS DA COISA OU DO DIREITO TRANSMITIDO


Garantia contra os vícios (art. 838):

★ Compra e Venda: Sempre que a dação em cumprimento tenha conteúdo


translativo, o seu autor responderá pela evicção (art. 892 e ss.), pelo ónus e limitações
existentes (art. 905 e ss.) e pelos vícios da coisa (art. 913 e ss.).

★ Cessão de créditos: Se nos estivermos a referir a uma cessão de créditos, o


alienante não tem de garantir a solvência do credor (art. 587).

Alternativa à Garantia contra os vícios: O credor pode optar pela prestação primitiva e
pela reparação dos danos sofridos, o que implica o renascimento da obrigação, com todas as
suas garantias e acessórios

1.3.3 INVALIDADE DA DAÇÃO EM CUMPRIMENTO


Verificando-se a invalidade da dação em cumprimento, a relação obrigacional primitiva
continua a subsistir com todas as suas garantias, salvo se, entretanto, se tiver verificado um
facto extintivo, como a prescrição do crédito. No entanto, se a invalidade resultar de causa
imputável ao credor, não renascem as garantias prestadas por terceiros, a menos que estes, à
data, soubessem do vício (art. 839), dado que não se justifica lesar a confiança dos terceiros
garantes que já não contavam com a eventualidade de responder pela garantia.

1.4 NATUREZA JURÍDICA DA DAÇÃO EM CUMPRIMENTO


Prof. Guilherme Moreira: A dação em cumprimento corresponderia uma compra e
venda ou a uma troca.

Prof. Pessoa Jorge: Sustenta que existe na dação em cumprimento um acordo


modificativo da obrigação e um ato executivo, e que estes dois elementos estão
essencialmente interligados. A realização da dação em cumprimento não produziria a

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substituição da obrigação antiga por uma nova, mas limitar-se-ia a alterar o objeto daquela
obrigação, extinguindo-se depois a obrigação por cumprimento.

Prof. Antunes Varela: A dação em cumprimento corresponderia a uma contrato de


cumprimento, já que se realizaria por acordo entre o devedor e o credor uma prestação
diferente da devida, com o fim de extinção da obrigação. O objeto desse contrato seria que a
prestação entregue valesse como cumprimento, podendo assim ser qualificado como um
contrato de cumprimento.

Prof. MC e Prof. ML: Recusam a integração da dação em cumprimento noutras categorias,


limitando-se a qualificá-la como uma forma convencional de extinção das obrigações através
da realização de uma prestação diversa da devida.

2. A DAÇÃO PRO SOLVENDO


Dação Pro Solvendo ou Dação em Função do Cumprimento (art. 840): Consiste
na execução de uma prestação diversa da devida para que o credor proceda à realização do
valor dela e obtenha a satisfação do seu crédito por virtude dessa realização, daí que nesta
dação o crédito subsista até que o credor venha a realizar o valor dele. O momento de
extinção da obrigação é posterior ao do 837.

★ Dação em Cumprimento ★ Dação Pro Solvendo

- A realização da prestação visa - A realização da prestação visa


obter a imediata exoneração do proporcionar ao credor uma forma mais
devedor. fácil de obter a satisfação do seu crédito.
- Verifica-se uma causa distinta - A causa de extinção mantém-se
de extinção das obrigações - É a atuação do credor que vem provocar
- É a atuação do devedor que vem a extinção da obrigação, daí poder ser
provocar a extinção da obrigação qualificada como um mandato para
proceder à liquidação da prestação
realizada

SECÇÃO VII: A CONSIGNAÇÃO EM DEPÓSITO

1. GENERALIDADES
Consignação em Depósito: Possibilidade reconhecida ao devedor nas obrigações de
prestação de coisa de extinguir a obrigação através do depósito judicial da coisa devida,
sempre que não possa realizar a prestação com segurança por qualquer motivo relacionado
com a pessoa do credor, ou quando o credor se encontra em mora (art. 841/1). É um meio de
produzir a extinção da obrigação sem a colaboração do credor, contudo esta é uma faculdade
do devedor que ele não é obrigado a exercer (art. 841/2).

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2. PRESSUPOSTOS DA CONSIGNAÇÃO EM DEPÓSITO


Objeto da Prestação é uma Prestação de Coisa: Resulta da própria natureza das
coisas, já que as prestações de facto positivo são insuscetíveis de depósito (art. 916/1 do CPC)

Não ser Possível ao Devedor Realizar a Prestação por Motivo Relativo ao Credor
(art. 841/1):

★ Impossibilidade não Imputável ao Devedor: Por algum motivo relacionado


com o credor, o devedor não consegue realizar a prestação, ou realizá-la com
segurança - ex: ignorar-se o paradeiro do credor, credor incapaz sem representante,...

★ Mora do Credor: Recusa do credor em receber a prestação ou praticar os atos


necessários ao cumprimento (art. 813)

3. REGIME DA CONSIGNAÇÃO EM DEPÓSITO

3.1 GENERALIDADES
Eficácia: A consignação em depósito apresenta uma eficácia complexa por implicar o
surgimento de um processo judicial entre o consignante e o credor que institui uma nova
relação substantiva, dado que o depósito da coisa vendida implica o surgimento de
obrigações a cargo do consignatário (art. 916 e ss. do CPC)

★ Três Tipos de Efeitos da Consignação:

○ Instituição de uma relação processual entre o consignante e o credor

○ Instituição de uma relação substantiva triangular entre o consignante, o


consignatário da coisa devida e o credor

○ Eficácia da consignação sobre a obrigação

3.2 INSTITUIÇÃO DE UMA RELAÇÃO PROCESSUAL ENTRE O CONSIGNANTE E


O CREDOR
Judicialidade: A consignação em depósito é necessariamente judicial, operando-se através
do processo referido nos art. 916 e ss. do CPC. através do qual se avaliará da justificação da
consignação em depósito e da sua idoneidade para extinção da obrigação.

Processo Judicial: É competente o tribunal do lugar do cumprimento da obrigação

★ Início do Processo: Petição inicial, onde o devedor tem de mencionar o motivo


pelo qual requer o depósito (art. 916/1 do CPC)

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★ Local do Depósito: Caixa Geral de Depósitos, salve se a coisa não puder aí ser
depositada, nomeando o juiz um depositário nos termos aplicáveis ao depósito das
coisas penhoradas (art. 916/2 e 756 do CPC)

★ Contestação: Após efetuado o depósito, o credor é citado para contestar (art. 917 do
CPC), levando a falta de contestação, se a revelia for operante, a que o Tribunal julgue
extinta a obrigação (art. 918/1 do CPC)

★ Impugnação: Se a impugnação improceder, é declarada extinta a obrigação com o


depósito, mas se proceder, o depósito é considerado ineficaz para a extinção da
obrigação

○ Únicos 3 Possíveis fundamentos (art. 919 do CPC)

■ Ser inexato o motivo invocado (art. 920 do CPC)


■ Ser maior ou diversa a quantia ou a coisa devida (art. 920 do CPC)
■ Ter o credor qualquer outro fundamento legítimo para recusar o
cumprimento (art. 921 do CPC)

3.4 EFICÁCIA DA CONSIGNAÇÃO SOBRE A OBRIGAÇÃO


Durante o Decurso do Processo: A obrigação persiste, recaindo, no entanto, sobre o
credor o risco da perda ou deterioração da coisa, e deixando a dívida de vencer juros, sempre
que se verifique ter o devedor motivo legítimo para proceder à consignação, caso contrário, a
consignação não será eficaz e não deverá alterar as regras relativas à distribuição do risco.

★ Exceção Dilatória: A pendência do processo de consignação atribui ao devedor


uma exceção dilatória que lhe permite recusar a prestação enquanto não for julgada
definitivamente a ação

★ Liberação do Devedor: Sendo a consignação aceite pelo credor ou declarada


válida por decisão judicial, libera o devedor como se ele tivesse realizado a prestação
na data do depósito (art. 846). O credor vê o seu direito de crédito extinto, mas
adquire outro direito à entrega da coisa por parte do depositário. A eficácia extintiva
da consignação em depósito retroage ao momento do depósito.

SECÇÃO VIII: A COMPENSAÇÃO

1. GENERALIDADES
Compensação (art. 847): Modo de extinção das obrigações que surge quando duas
pessoas estão reciprocamente obrigadas a entregar coisas fungíveis da mesma natureza,
sendo admissível que as respetivas obrigações sejam extintas, total ou parcialmente, pela
dispensa de ambas de realizar as suas prestações ou pela dedução a uma das prestações da
prestação devida pela outra parte.

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★ Vantagens:

○ Facilitação dos Pagamentos: A compensação produz a extinção das


obrigações, dispensando a realização efetiva da prestação

○ Garantia dos Créditos: A compensação permite ao seu declarante extinguir a


sua obrigação, mesmo que não tenha qualquer possibilidade de receber o seu
próprio crédito por insolvência do seu devedor

2. PRESSUPOSTOS DA COMPENSAÇÃO

★ Existência de créditos recíprocos

★ Fungibilidade das coisas objeto das prestações e identidade do seu género

★ Exigibilidade do crédito que se pretende compensar

2.1 EXISTÊNCIA DE CRÉDITOS RECÍPROCOS


Cada uma das partes tem que possuir, na sua esfera jurídica, um crédito sobre a outra parte,
só podendo operar a compensação para extinguir a própria dívida, ou seja, não é permitido o
uso de créditos alheios para suprir a própria dívida ou a de outrem (art. 851).

2.2 FUNGIBILIDADE DAS COISAS OBJETO DAS PRESTAÇÕES E IDENTIDADE


DO SEU GÉNERO E QUALIDADE
Fungibilidade das Coisas Objeto das Prestações: As duas obrigações devem ter por
objeto coisas fungíveis da mesma espécie e qualidade, não sendo admissível a compensação
relativamente a prestações de facto, ainda que a atividade seja idêntica.

Identidade do Género e Qualidade das Coisas Objeto das Prestações: Cabendo a


uma das partes determinar o objeto da prestação (como nas obrigações genéricas e
alternativas), só se poderá recorrer à compensação se a escolha implicar prestações de coisas
fungíveis homogéneas para ambos os créditos.

★ Quantidade: Se as dívidas não tiverem igual montante, a compensação será apenas


parcial (art. 847/2)

2.3 EXISTÊNCIA VALIDADE E EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO DO DECLARANTE


O crédito do declarante tem de ser judicialmente exigível, não lhe podendo o devedor opor
qualquer exceção, peremptória ou dilatória, de direito material (art. 847/1a), ou seja, só
podem ser compensados os créditos em relação aos quais o declarante esteja em condições de
obter a realização coactiva da prestação.

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2.4 EXISTÊNCIA VALIDADE E POSSIBILIDADE DE CUMPRIMENTO DO


CRÉDITO DO DECLARATÁRIO
O declaratário tem que ser titular de um crédito válido que tem de estar na situação de poder
ser cumprido pelo devedor, uma vez que só nesse caso é legítimo ao declarante invocar a
compensação. Não constitui, porém, pressuposto da compensação que o declarante esteja em
condições de poder exigir judicialmente o cumprimento, pelo que nada impede o declarante
de compensar dívidas ainda não vencidas se o prazo correr em seu benefício, por exemplo.

3. CRÉDITOS NÃO COMPENSÁVEIS


Art. 853:

★ Créditos provenientes de factos ilícitos dolosos: Uma vez que a lei pretende
reprimir este tipo de comportamentos e retirar benefícios que deles poderiam resultar

★ Créditos impenhoráveis, excepto quando ambos forem de idêntica


natureza: Justifica-se por razões humanitárias
★ Créditos do Estado ou de outras pessoas colectivas públicas, excepto
quando a lei autorize: Por causa das dificuldades que a compensação poderia
provocar na contabilidade pública

★ Créditos cuja compensação envolve lesão de direitos de terceiro: Se o


crédito tiver sido arrestado, penhorado ou objeto de usufruto ou penhor de créditos, a
compensação lesaria o terceiro que tinha adquirido aquele direito sobre o crédito,
pelo que a compensação só é admitida se os créditos se tiverem tornados
compensáveis antes da constituição desse crédito

★ Créditos cujo devedor haja renunciado à compensação: Se as partes


expressamente afastarem a possibilidade de compensação ou se comprometerem a
realizar um efetivo pagamento ou um pagamento em dinheiro, ou a entregar
imperativamente a mercadoria num lugar e tempo determinados, a compensação será
excluída, devendo o cumprimento ser realizado

4. REGIME DA COMPENSAÇÃO
Declaração: A compensação torna-se efetiva mediante declaração de uma das partes à
outra (art. 848/1), que pode tanto ser feita judicialmente como extrajudicialmente, sendo que
será ineficaz se for feita sobre termo ou condição (art. 848/2).

★ Retroatividade: Uma vez efetuada essa declaração, os créditos consideram-se


extintos desde o momento em que se tornaram compensáveis (art. 854),
consequentemente, se após essa data um dos créditos for cedido a terceiro, arrestado
ou penhorado, o declarante pode invocar a compensação (art. 853/2 a contrario).

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★ Escolha dos Créditos: Se existirem vários créditos compensáveis, a escolha dos


créditos que ficam extintos pertence ao declarante (855/1), vigorando na ausência de
escolha as regras relativas à imputação do cumprimento reguladas nos art. 784 e 785.

5. COMPENSAÇÃO CONVENCIONAL
Compensação Convencional ou Contratual: Compensação que, em vez de ocorrer
através de uma declaração unilateral, resulta de um acordo celebrado entre as partes
(contrato de compensação) ao abrigo da autonomia privada, pelo que as partes não vão estar
submetidas a tantos limites e exigências como na compensação legal.

★ Pressupostos: Ambas as partes disponham de créditos que pretendam extinguir


através do contrato, não sendo necessário que se trate de créditos recíprocos, nem
que tenham por objeto prestações homogéneas.

★ Limites: Compensação convencional de créditos impenhoráveis (art. 853/1b) ou de


créditos cuja compensação envolva prejuízo para os direitos de terceiro.

Natureza: Tipo contratual autónomo que suprime reciprocamente o cumprimento de duas


obrigações

SECÇÃO IX: A NOVAÇÃO

1. CONCEITO E MODALIDADES
Novação: Consiste na extinção de uma obrigação em virtude da constituição de uma nova
que a substitui. Existe a constituição de um novo vínculo que, embora se identifique
economicamente com a obrigação extinta, tem fonte jurídica diferente. Pressupõe a intenção
das partes de extinguir a anterior obrigação e de criar uma nova em substituição, fazendo
com que o facto jurídico que desencadeia a extinção da obrigação antiga seja,
simultaneamente, o facto jurídico que constitui a nova.

★ Novação Objetiva (art. 857): A nova obrigação constitui-se entre os mesmos


credores e devedores da obrigação antiga. Pode representar tanto uma mudança no
objeto da obrigação como uma alteração na sua fonte.

★ Novação Subjetiva (art. 858): Verifica-se a mudança de algum dos sujeitos da


obrigação. Pode ocorrer tanto por substituição do credor, vinculando-se o devedor
para com ele por uma nova obrigação, ou por uma substituição do devedor, em que
este é substituído pelo antigo, que é exonerado pelo credor.

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2. PRESSUPOSTOS DA NOVAÇÃO

2.1 DECLARAÇÃO EXPRESSA DA INTENÇÃO DE CONSTITUIR UMA NOVA


OBRIGAÇÃO EM LUGAR DA ANTIGA
A novação tem de resultar de declaração expressa a determinar a contração de uma nova
obrigação em substituição da antiga (art. 859). Ou seja, só há novação se as partes
exteriorizarem diretamente o animus novandi, o que implica não se admitirem presunções
de novação, nem poder resultar essa declaração tacitamente através de factos concludentes.

2.2 EXISTÊNCIA E VALIDADE DA OBRIGAÇÃO PRIMITIVA


Existência de uma Obrigação Antiga: O negócio de constituição de uma nova obrigação
tem como pressuposto fundamental a existência de uma obrigação antiga, que as partes
visam extinguir e substituir por uma nova.

★ Ineficácia da Novação: A novação torna-se ineficaz sempre que se verifique que a


referida obrigação não existia ou estava extinta ao tempo em que a segunda foi
constituída.

○ Ainda não se verificou o cumprimento: O devedor pode recusar a realização da


prestação, invocando apenas a ineficácia da novação

○ Já se verificou o cumprimento: O devedor terá direito a uma pretensão


restitutória, cuja fundamentação varia consoante a natureza da falta da
obrigação primitiva

■ Inexistência: Aplica-se o regime da repetição do indevido (art. 476/1)

■ Invalidade: Aplica-se o regime respectivo (art. 289 e ss.)

2.3 CONSTITUIÇÃO VÁLIDA DA NOVA OBRIGAÇÃO


A nova obrigação tem de ser validamente constituída, uma vez que, se tal não ocorrer, não se
pode verificar a novação, subsistindo assim a obrigação primitiva (art. 860/2), já que a sua
extinção apenas tinha sido determinada em razão da constituição de uma nova obrigação.
Contudo, sempre que a invalidade da nova obrigação seja imputável ao credor, não renascem
as garantias prestadas por terceiro.

3. REGIME NA NOVAÇÃO
Garantias: Salvo declaração expressa em contrário, o novo crédito não recebe as garantias
relativas à obrigação antiga, quer estas tenham sido prestadas pelo devedor, por terceiro ou
resultem da lei (art. 861), uma vez que a garantia é sempre concedida tendo em atenção uma
concreta obrigação, pelo que, verificando-se a sua substituição por uma nova, não se
compreenderia que a garantia se pudesse manter.

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Meios de Defesa: A lei determina a extinção dos meios de defesa em consequência da


novação, a menos que as partes estipulem o contrário (art. 862), o que se justifica pela
natureza própria da novação que, ao extinguir a dívida anterior, extingue os meios de defesa
que a ela respeitavam.

SECÇÃO X: A REMISSÃO

1. CONCEITO DE REMISSÃO
Acordo entre o credor e o devedor, pelo qual aquele prescinde de receber a deste a prestação
devida (art. 863 e ss.)

2. PRESSUPOSTOS DA REMISSÃO
Existência Prévia de uma Obrigação: Como a remissão consiste num negócio extintivo
de obrigações, a sua celebração depende da existência da obrigação que se visou extinguir

Contrato entre o Credor e Devedor de Abdicação da Prestação: A remissão reveste


necessariamente carácter contratual, exigindo-se tanto uma declaração do credor a abdicar
da prestação, como uma do devedor a aceitar a abdicação.

★ Liberalidade: No caso de ser realizada a título de liberalidade, a remissão é havida


como doação (art. 863/2), e sujeita ao regime dos art. 940 e ss.

3. EFEITOS DA REMISSÃO
Extinção da Obrigação: O devedor fica liberado e o credor perde, definitivamente, o seu
direito de crédito.

Caso de Pluralidade da Partes:

★ Remissão in rem: Refere-se a toda a dívida, produzindo a extinção definitiva do


crédito em relação a todos os sujeitos

★ Remissão in personam: A remissão é apenas concedida por um ou em benefício


de pessoas específicas, pelo que a remissão apenas produzirá efeitos em relação a
estas, mantendo-se a obrigação para as restantes.

○ Regime da Conjunção ou da Parciariedade: Extinguem-se as frações da


obrigação em relação às quais ocorreu remissão, não sendo afetada a
obrigação quanto aos restantes sujeitos.

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○ Regime da Solidariedade Passiva: Extingue-se apenas a obrigação para um


dos devedores, mantendo-se para os restantes que ficam exonerados da parte
relativa a esse devedor (art. 864/1).

○ Regime da Solidariedade Ativa: O devedor fica exonerado apenas na parte


relativa a esse credor (art. 864/3)

○ Regime da Obrigação Plural Indivisível: O credor só pode exigir dos restantes


se lhes entregar o valor da parte que competia ao devedor exonerado (art. 865
e 536)

SECÇÃO XI: A CONFUSÃO

1. CONCEITO DE CONFUSÃO
Extinção simultânea do crédito e da dívida em consequência de reunião, na mesma pessoa,
das qualidades de credor e de devedor (art. 868), pois deixa de haver qualquer necessidade
jurídica para manter a obrigação.

2. PRESSUPOSTOS DA CONFUSÃO
Reunião das Qualidades de Devedor e Credor na Mesma Pessoa: Ocorrerá em
virtude da aquisição, por uma das partes, da posição que a outra ocupava no crédito ou
débito, ou em virtude da aquisição conjunta por um terceiro das posições que ambas as
partes ocupavam na obrigação.

Não Pertença do Crédito e da Dívida a Patrimónios Separados (art. 872): A


separação de patrimónios tem por consequência impossibilidade de verificação da confusão.

Inexistência de Prejuízo para os Direitos de Terceiro (art. 871/1): Se o vínculo


obrigacional se encontrar igualmente em benefício de terceiro, esse vínculo subsiste, na justa
medida em que o justifique o interesse do usufrutuário ou do credor pignoratício (art. 871/2)

3. REGIME DA CONFUSÃO
Extinção da Obrigação: Vem provocar a extinção de todos os acessórios do crédito (sinal,
cláusula penal, obrigação de juros) e de todas as garantias que asseguravam o seu
cumprimento.

★ Renascimento da Obrigação: Na hipótese da confusão se desfazer, renasce a


obrigação com os seus acessórios, mesmo em relação a terceiros, quando o facto que a
destrói é anterior à própria confusão (art. 873/1)

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○ Garantias Prestadas por Terceiros: Por razões de tutela e de confiança deles,


mantém-se extintas no caso da confusão se desfazer por causa imputável ao
credor, salvo se o responsável pela garantia conhecia o vício na data em que
teve notícia da confusão (art. 873/2)

Caso de Pluralidade da Partes:

★ Regime da Conjunção ou da Parciariedade: Extinguem-se as frações da


obrigação em relação às quais ocorreu confusão, não sendo afetada a obrigação
quanto aos restantes sujeitos.

★ Regime da Solidariedade Passiva: Vindo a ser reunidas na mesma pessoa as


qualidades de devedor solidário e credor, os restantes devedores ficam, nesse âmbito,
exonerados, mas respondem solidariamente pelo resto da prestação (art. 869/1)

★ Regime da Solidariedade Ativa: Se reunirem as posições de devedor e credor


solidário, o devedor fica exonerado, mas apenas na parte relativa a esse credor (art.
869/2)

★ Regime da Obrigação Plural Indivisível: Na reunião na mesma pessoas das


posições de condevedor e credor, este só pode exigir dos restantes se lhes entregar o
valor da parte que competia ao devedor exonerado (art. 870/2 e 865/2)

PARTE IV: DO NÃO CUMPRIMENTO DAS


OBRIGAÇÕES

SECÇÃO I: MODALIDADES DO NÃO CUMPRIMENTO DAS


OBRIGAÇÕES
Não Cumprimento: Não realização da prestação devida por causa imputável ao devedor,
sem que se verifique qualquer causa de extinção da obrigação.

★ Abrange:

○ Situações em que o devedor falta culposamente ao cumprimento (art. 798 ss.):


A realização da prestação ainda é possível no momento do cumprimento, mas
não vem a ocorrer por culpa do devedor

○ Situações em que o devedor impossibilita culposamente o cumprimento (art.


801 e ss.): Já não é possível realizar a prestação no momento do cumprimento

★ Definitivo ou Temporário:

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○ Definitivo: Já não é concebível a realização da prestação. O credor vai ver o


seu direito à prestação frustrado, podendo apenas pedir indemnização por
incumprimento

■ Impossibilidade de Cumprimento: A prestação impossibilitou-se

■ Incumprimento Definitivo: O credor perdeu o interesse na prestação

○ Temporário: A prestação não foi realizada no momento devido, mas ainda é


possível a sua realização, através de um cumprimento retardado

■ Mora do Devedor: O atraso na realização da prestação é imputável ao


devedor, podendo o credor exigir indemnização, mas apenas pelo
atraso da prestação, o direito à prestação mantém-se

■ Mora do Credor: O atraso na realização da prestação é imputável ao


credor, pelo que lhe vai caber suportar os riscos e as despesas da não
realização atempada

★ Cumprimento Defeituoso: Existe a realização de uma prestação, mas em termos


tais que não permitem uma adequada satisfação do credor.

SECÇÃO II: O NÃO CUMPRIMENTO TEMPORÁRIO

1. A MORA DO DEVEDOR

1.1 PRESSUPOSTOS DA CONSTITUIÇÃO DO DEVEDOR DA MORA


Mora do Devedor: Situação em que a prestação, embora ainda possível, não foi realizada
no tempo devido, por facto imputável ao devedor (art. 804/2)

★ Obrigações que não admitem a ocorrência de mora (art. 808): A violação


do vínculo obrigacional leva diretamente ao incumprimento definitivo. Estão em
causa situações de obrigações de conteúdo negativo que são violadas com a realização
de qualquer ação proibida e as obrigações em relação às quais seja estipulado um
prazo essencial de cumprimento que não possa ser ultrapassado sem perda do
interesse do credor.

★ Pressupostos:

○ A obrigação ainda é possível (art. 804/2)

○ A prestação não foi realizada no tempo devido (art. 804/2)

○ A obrigação ser líquida (art. 805/3), ou seja, que o seu quantitativo esteja
determinado, a menos que a falta de liquidez seja imputável ao devedor ou
que se trate de uma situação de responsabilidade por facto ilícito ou pelo risco

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Tempo do Cumprimento:

★ Mora ex persona (art. 805/1): Depende de um ato jurídico de natureza não


negocial (a interpelação) a praticar pelo credor.

○ Obrigações Puras: Não têm prazo certo estipulado, cabendo a qualquer das
partes determinar o momento do cumprimento (art. 777/1). O devedor só fica
constituído em mora depois de ser interpelado para cumprir judicialmente ou
extrajudicialmente.

■ Interpelação: Comunicação pelo credor ao devedor da sua decisão de


lhe exigir o cumprimento da obrigação. A lei admite que essa
comunicação possa ser efetuada por via judicial ou extrajudicial, tendo
como efeito constituir o devedor em mora a partir da sua receção.

★ Mora ex re (art. 805/2): Casos em que a mora apenas depende de fatores


objetivos, sendo irrelevante a existência de interpelação pelo credor

○ Obrigação com Prazo Certo: O decurso do prazo acarreta o vencimento da


obrigação. Porém, nas obrigações de colocação, o simples decurso do prazo
não basta para constituir o devedor em mora, pois o cumprimento pressupõe
uma atividade do credor, que tem de se deslocar ao local em que deveria
receber a prestação. Apenas nas obrigações de entrega ou envio é que a
simples omissão da prestação pelo devedor no decurso do prazo determina a
constituição em mora (art. 805/2a).

○ Obrigação Proveniente de Facto Ilícito: Se o devedor tiver praticado um ilícito,


a regra é de que deve imediatamente proceder à reparação das suas
consequências, independentemente de interpelação, contando-se a mora
desde a data da prática do facto ilícito (art. 805/2b).

○ O Devedor Impede a Interpelação: Na situação em que o devedor impede a


interpelação, evitando, por exemplo, receber a comunicação que o credor lhe
dirige, para evitar que que o devedor beneficie com o seu comportamento
incorreto, a lei determina que o devedor se considera interpelado na data em
que normalmente o teria sido (art. 805/2c).

○ O Devedor Declara que Não Pretende Cumprir a Obrigação: Esta declaração


do devedor torna a interpelação pelo credor absolutamente inútil,
considerando-se que aquela declaração do devedor acarreta, como efeito, a
sua constituição imediata em mora, independentemente de que a obrigação
tenha prazo certo. Uma declaração deste teor acarreta a perda do benefício do
prazo.

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1.2 CONSEQUÊNCIAS DA MORA DO DEVEDOR


Obrigação de Indemnizar os Danos Causados ao Credor (art. 804/1): O credor
tem direito a uma indemnização pelos danos sofridos com o atraso na prestação que podem
advir de despesas, lucros cessantes ou prejuízos sofridos. A concessão de uma indemnização
moratória depende da demonstração de que a não realização da prestação no tempo devido
causou prejuízos ao credor, cabendo a este demonstrar esses danos.

★ Obrigações Pecuniárias: Neste caso, a lei fixa legalmente uma tarifa


indemnizatória por considerar o dano como necessariamente equivalente à perda da
remuneração habitual do capital durante esse período, ou seja, o juro.

○ Juros Moratórios (art. 806): A indemnização corresponde ao juros desde a


data da constituição em mora, não se permitindo ao credor a exigência de
qualquer outra indemnização, e dispensando-o da prova dos requisitos do
dano e do nexo de causalidade entre o facto e o dano.

Inversão do Risco pela Perda ou Deterioração da Coisa Devida: Se o devedor


estiver em mora quando se verifica a impossibilidade superveniente da obrigação, corre por
sua conta o correspondente risco (art. 807/1), a menos que o devedor demonstre que o dano
se teria continuado a verificar mesmo que a obrigação tivesse sido cumprida a tempo (art.
807/2).

★ Responsabilidade do Devedor: Resulta da consideração que a mora do devedor


funcionou como causa indireta dos danos sofridos pelo credor, pelo que, embora se
trate de um caso de responsabilidade objetiva, esta pressupõe uma culpa anterior do
devedor na verificação da mora.

1.3 EXTINÇÃO DA MORA DO DEVEDOR


Moratória: Acordo através do qual as partes podem diferir para momento posterior o
vencimento da obrigação, com a correspondente extinção da mora.

★ Definido com Eficácia Retroativa: A mora considera-se retroativamente não


verificada

★ Definido sem Eficácia Retroativa: A extinção da mora vigora apenas para o


futuro, conservando o credor o direito à indemnização moratória devida até esse
momento.

Purgação da Mora: O devedor apresenta tardiamente ao credor a prestação devida e a


correspondente indemnização moratória. Esta oferta extingue para o futuro a situação de
mora do devedor, mesmo que se verifique a não aceitação pelo credor. Essa recusa vai
produzir uma inversão da mora, que deixa de ser considerada mora do devedor para ser
qualificada mora do credor.

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Transformação da Mora em Incumprimento Definitivo (art. 808/1): O credor


perde o interesse objetivo na prestação, ou esta não é realizada num prazo suplementar que
seja razoavelmente definido pelo credor, transformando-se a mora em incumprimento
definitivo.

2. A MORA DO CREDOR

2.1 PRESSUPOSTOS DA MORA DO CREDOR


Pressupostos (art. 813):

★ Recusa ou Não Realização pelo Credor da Colaboração Necessária para o


Cumprimento: Nas situações em que o cumprimento da obrigação pressupõe a
colaboração do credor, a não realização dessa colaboração por parte dele importa a
constituição do credor em mora, uma vez que a não realização da prestação pelo
devedor nessas circunstâncias não lhe pode ser imputada

★ Ausência de Motivo Justificado para a Recusa ou Omissão: A recusa da


colaboração deve ocorrer sem motivo justificado, pois em certos casos o credor pode
ter motivos para recusar a prestação, como quando esta não coincide plenamente com
a obrigação a que o devedor se vinculou.

Culpa: Os efeitos da mora do credor são independentes de culpa, já que como não se impõe
ao credor um dever de colaborar no cumprimento, a omissão de colaboração não deve ser
censurável com um juízo de culpa. Assim, caso se torne impossível ao credor prestar a
colaboração necessária, aplica-se o regime da mora do credor em vez do regime da
impossibilidade da prestação.

★ Mora do Credor vs. Regime da Impossibilidade da Prestação: O prof. ML


considera que deve ser aplicado o regime da mora do credor e não da impossibilidade
a todos os casos em que o credor omita a prática dos atos necessários ao
cumprimento, independentemente do motivo por que o faz, pois o devedor, ao se
obrigar a prestar, não assume o risco da sua prestação não se realizar por ausência de
colaboração do credor, mesmo que não derivada da culpa deste.

2.2 EFEITOS DA MORA DO CREDOR


Obrigação de Indemnizar por Parte do Credor (art. 816): A mora obriga a
indemnizar o devedor das maiores despesas que este esteja obrigado a fazer com o
oferecimento infrutífero da prestação e a guarda e conservação do respetivo objeto.

★ Natureza da Obrigação: Como não se pode considerar que o credor tenha o dever
de aceitar a prestação, a obrigação de indemnização não tem por fonte um facto
ilícito, sendo uma responsabilidade por ato lícito ou sacrifício, pois, ao entrar em

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mora, o credor provoca o sacrifício de interesses do devedor, sujeitando-o a maiores


despesas do que aquelas que ele se vinculou a suportar ao assumir a obrigação.

Atenuação da Responsabilidade do Devedor: Quando o credor entra em mora, a


responsabilidade do devedor atenua-se.

★ Em relação ao objeto da prestação: O devedor apenas responde pelo seu dolo

★ Em relação aos proventos da coisa: O devedor apenas responde pelos que


efetivamente tenha percebido (art. 814/1), excluindo-se quaisquer frutos
percipiendos, sejam aqueles que o próprio devedor poderia perceber, sejam aqueles
que um proprietário diligente poderia ter obtido (art. 1271).

★ Dívida: Deixa de vencer juros, quer legais, quer convencionados (art. 814/2)

★ Presunção de Culpa do 799: Deixa de se aplicar, cabendo ao credor em mora


demonstrar que o devedor atuou intencionalmente na destruição ou deterioração do
objeto da prestação.

Inversão do Risco pela Perda ou Deterioração da Coisa (art. 815): Ocorrendo a


situação da mora do credor, o risco da prestação inverte-se, passando a correr sempre por
conta do credor, mesmo que a lei anteriormente o atribuísse ao devedor. Além disso, o risco
da prestação alarga-se, na medida em que, por força da atenuação da responsabilidade do
devedor anteriormente referida, passa a ser considerado como risco da prestação, a correr
por conta do credor, as situações em que a impossibilidade superveniente da prestação
resulta de negligência do devedor.

2.3 EXTINÇÃO DA MORA DO CREDOR


Credor Vier a Prestar Colaboração: A mora do credor pode extinguir-se por o credor,
ainda que tardiamente, vir a prestar a colaboração necessária para o cumprimento. Nesse
caso, o devedor deve realizar imediatamente a prestação, sem o que se verificará uma
inversão da mora.

Consignação em Depósito: A obrigação considera-se extinta a partir da data do depósito,


se este não for impugnado em tribunal ou o tribunal julgar a impugnação improcedente

★ Prof. ML: Não sendo possível a consignação em depósito e não dando o credor
indícios de alterar a sua posição de não colaboração no cumprimento, o devedor não
deverá ficar eternamente vinculado à prestação, pois, por analogia com o art. 808 e
com o art. 411, deve-se admitir que o devedor possa requerer ao tribunal que fixe um
prazo para o credor colaborar no cumprimento, sob pena da obrigação se considerar
extinta. Porém, nos casos em que a realização da prestação está determinada
impreterivelmente a uma certa localização temporal, a mora do credor deve acarretar

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a automática extinção da obrigação, mantendo o devedor o seu direito à


contraprestação ao abrigo do art. 815/2.

SECÇÃO III: O INCUMPRIMENTO DEFINITIVO E OS SEUS


EFEITOS. A RESPONSABILIDADE OBRIGACIONAL

1. INCUMPRIMENTO E RESPONSABILIDADE OBRIGACIONAL

1.1 GENERALIDADES
Incumprimento Definitivo da Obrigação: O devedor não realiza a prestação no tempo
devido por facto que lhe é imputável, mas já não lhe é permitida a sua realização posterior,
em virtude de o credor ter perdido o interesse na prestação ou ter fixado, após a mora, um
prazo suplementar de cumprimento que o devedor desrespeitou (art. 808)

★ Consequência: Constituição do devedor em responsabilidade obrigacional pelos


danos causados ao credor (art. 798). Verifica-se a extinção superveniente do dever de
prestar, mas constitui-se uma nova obrigação, a obrigação de indemnização, que tem
como fonte a responsabilidade obrigacional.

○ Pressupostos da Responsabilidade Obrigacional (art. 798):

■ Facto Ilícito: Violação de uma obrigação através da não execução pelo


devedor da prestação a que estava obrigado

■ Culpa: A não execução da prestação debitória tem que ser imputável


ao devedor

■ Dano: Exige-se que o credor tenha sofrido prejuízos em virtude da não


realização da prestação a que o devedor se tenha vinculado

■ Nexo de Causalidade entre o Facto e o Dano: Os danos sofridos pelo


credor tenham sido consequência da falta de cumprimento por parte
do devedor

1.2 A ILICITUDE NA RESPONSABILIDADE OBRIGACIONAL


Na responsabilidade obrigacional, a ilicitude consiste na não execução da obrigação, ou seja,
na falta de cumprimento, sendo que o cumprimento consistiria na realização, pelo devedor,
da prestação a que está vinculado (art. 762/1). Será ilícito sempre que se verifique qualquer
situação de desconformidade entre a sua conduta e o conteúdo do programa obrigacional.

Causas de Exclusão da Ilicitude: A lei confere ao devedor uma causa legítima para não
cumprir a sua obrigação, excluindo a ilicitude que resultaria do não cumprimento. A doutrina
tem apontado a exceção de não cumprimento do contrato (art. 428 e ss.) e o direito de
retenção (art. 754 e ss.)

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1.2 A CULPA NA RESPONSABILIDADE OBRIGACIONAL


Culpa: Para que o devedor se constitua em responsabilidade, a sua falta de cumprimento
tem que ser culposa, sendo que a culpa do devedor se presume (art. 799/1). Caberá, portanto,
ao devedor demonstrar que não teve culpa na violação do vínculo obrigacional, ou seja que
não lhe pode ser pessoalmente censurável o facto de não ter adotado o comportamento
devido.

★ Dolo:

○ Dolo Direto: Se o devedor visar intencionalmente o incumprimento -


motorista do taxi recusa-se transportar o cliente que o tinha chamado

○ Dolo Necessário: Se o devedor não visar diretamente o incumprimento, mas


souber que ele será uma consequência necessária da sua conduta - motorista
do táxi aceita dois serviços em simultâneo, sabendo que só consegue um

○ Dolo Eventual: Se o devedor atuar conformando-se com a possibilidade da


verificação incumprimento - motorista do táxi opta por partir mais tarde,
ciente do risco de não conseguir cumprir o serviço

★ Negligência:

○ Negligência Consciente: Se o devedor representar a possibilidade de


ocorrência do incumprimento, mas atuar sem se conformar com a sua
verificação - motorista do táxi, apesar da partida tardia, achar que chega a
tempo

○ Negligência Inconsciente: Se o devedor nem chegar a representar a


possibilidade de ocorrência do incumprimento, atuando sem se conformar
com a sua verificação - motorista do táxi nem tem noção que não está a partir
a tempo

1.4 O DANO NA RESPONSABILIDADE OBRIGACIONAL


Danos: Para existir responsabilidade obrigacional é necessário que o incumprimento da
obrigação provoque danos ao credor, assim, se o devedor incumpriu o comando obrigatório,
mas tal incumprimento não provocou danos ao credor, não fica sujeito a responsabilidade.

★ Modalidades dos Danos:

○ Danos Emergentes: Como os lucros cessantes (art. 564/1)

○ Danos Futuros: Se forem previsíveis, devendo o tribunal remeter a fixação da


indemnização para decisão ulterior sempre que não sejam determináveis (art.
564/2)

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Indemnização:

★ Reconstituição: Deve-se efetuar primariamente a reconstituição natural (art. 562),


apenas se realizando a indemnização em dinheiro quando a reconstituição natural
não for possível, não repare integralmente os danos ou for excessivamente onerosa
para o devedor (art. 566).

★ Interesse Contratual Positivo ou de Cumprimento: Na responsabilidade


obrigacional, a indemnização deve levar em conta todas as unidades que se
frustrarem em virtude da não realização da prestação, de modo a colocar o credor na
situação em que estaria se a obrigação tivesse sido voluntariamente cumprida.

★ Transposição de Disposições Relativas ao Cálculo de Danos na R. Delitual

○ Limitação da Indemnização com Base na Mera Culpa (art. 494): O prof. ML


considera que este artigo contraria um dos princípios fundamentais da
responsabilidade civil subjetiva que é o princípio do ressarcimento integral
dos danos sofridos pelo lesado, daí que a faculdade reconhecida por esta
disposição só deva ser utilizada em situações excepcionais, como quando o
grau de culpabilidade do agente, a sua condição económica ou as
circunstâncias do caso o justificam. Assim, serão raros os casos de aplicação
desta disposição, todavia é uma possibilidade.

○ Ressarcibilidade dos Danos Morais (art. 496): A maioria da doutrina, entre ela
o Prof. ML, bem como a atual jurisprudência, é favorável à ressarcibilidade do
dano moral no âmbito da responsabilidade contratual.

1.5 O NEXO DE CAUSALIDADE NA RESPONSABILIDADE OBRIGACIONAL


O devedor só responde pelos danos que causa ao credor. As regras para o estabelecimento do
nexo de causalidade são as mesmas que vigoram no âmbito da responsabilidade delitual (art.
563).

1.6 O ÓNUS DA PROVA NA RESPONSABILIDADE OBRIGACIONAL


Prova da Existência de um Crédito (art. 342/1): Tendo a responsabilidade
obrigacional como pressuposto a violação de uma obrigação, esta não pode ocorrer sem a
existência prévia de um direito de crédito, cuja existência tem de ser provada pelo credor.

Prova da Inexecução da Obrigação (art. 342/2): Se o facto ilícito não for a mera
inexecução da obrigação, resultante da abstenção do devedor, mas uma sua conduta positiva,
como o cumprimento defeituoso da obrigação de prestação de facto negativo, será o credor a
responsável por provar essa conduta, uma vez que nesses casos a prova da inexecução da
obrigação não pode ser dispensada (art. 342/2)

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★ Presunção de Culpa (art. 799): Incumbe ao devedor provar que a falta de


cumprimento ou o cumprimento defeituoso da obrigação não procede de culpa sua,
sendo a prova da inexecução da obrigação dispensada ao credor.

1.7 A RESPONSABILIDADE DO DEVEDOR PELOS ATOS DOS SEUS AUXILIARES


OU REPRESENTANTES
Responsabilidade do Devedor: Cessa sempre que o facto é imputável a terceiro, uma vez
que nesse caso não se pode considerar que ele tenha atuado com culpa na violação da sua
obrigação (art. 799/1)

Pressuposto da Aplicação do art. 800: Vínculo da representação legal ou mera


utilização do terceiro para a realização da prestação debitória

★ Atuação de Auxiliares ou Representantes: A atuação do terceiro em benefício


ou sob controlo do devedor é equiparada à conduta do próprio devedor, por forma a
evitar que este se pudesse exonerar da sua responsabilidade, imputando àqueles o
comportamento que conduziu à violação da obrigação. O risco resultante da atuação
dos representantes legais ou dos auxiliares do cumprimento é atribuído ao próprio
devedor (art. 800) - situação de responsabilidade objetiva do devedor

○ Situação do Representante Legal: Atos de incumprimento determinados pelo


representante legal equivalem a atos determinados pelo próprio devedor,
respondendo o património deste pelo incumprimento das obrigações.

○ Situação do Auxiliar de Cumprimento: O devedor recorre, por determinação


própria, a terceiros, que podem ou não ser investidos de poderes de
representação. Os auxiliares do cumprimento não são devedores, pelo que não
podem ser responsabilizados pelo credor e ou pelo incumprimento das
obrigações do devedor, a menos que tenham concomitantemente praticado
um ilícito delitual. A utilização de auxiliares estende a capacidade de prestação
por parte do devedor e deve, por isso mesmo, ser considerada como um risco
dessa atividade, estabelecendo-se um dever de garantia por parte do devedor
em relação à atividade dos auxiliares de cumprimento.

★ Limitação ou Exclusão da Responsabilidade (art. 800/2): A


responsabilidade do devedor por atos dos seus representantes legais ou auxiliares
pode ser convencionalmente limitada ou excluída mediante acordo prévio dos
interessados, desde que a exclusão ou limitação não compreenda actos que
representem a violação de deveres impostos por normas de ordem pública.

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2. O NÃO CUMPRIMENTO NAS OBRIGAÇÕES DE PRESTAÇÕES


RECÍPROCAS

2.1 GENERALIDADES
Nos contratos sinalagmáticos verifica-se reciprocidade entre as prestações de ambas as
partes, o que implica que não se deva permitir a execução de uma das prestações sem que a
outra também o seja

2.2 EXCEÇÃO DE NÃO CUMPRIMENTO DO CONTRATO


Exceção de Não Cumprimento (art. 428/1): Nos contratos sinalagmáticos, a lei
permite a qualquer dos contraentes recusar a realização da prestação da contraparte, ou a
oferta do seu cumprimento simultâneo, o que impede a aplicação do regime da mora e do
incumprimento definitivo, mesmo que tenha havido interpelação da outra parte.

★ Obrigações Puras: Se as duas obrigações forem puras a exceção de não


cumprimento é sempre invocável, nem sequer podendo ser afastada mediante a
prestação de garantias (art. 428/2)

★ Obrigações a Prazo: Se um dos contratantes se obriga a cumprir em primeiro lugar


a prestação, está a renunciar, da sua parte, a exceção de não cumprimento do
contrato. Todavia, a contraparte, continua a poder usar a exceção, não tendo de
realizar a sua prestação enquanto a contraprestação não for realizada

○ Perda de Benefício do Prazo (art. 429): Apesar de existirem prazos diferentes,


a lei permite a utilização da exceção de não cumprimento do contrato, mesmo
ao contraente que esteja obrigado a cumprir em primeiro lugar, na hipótese de
se verificar, em relação à outra parte, alguma das circunstâncias que
importam a perda do benefício do prazo. No entanto, esta exceção pode ser
afastada mediante a prestação de garantias de cumprimento

★ Aceitação da Prestação: Constitui presunção da inexistência de defeitos na


obrigação, para a parte sustentar um cumprimento defeituoso efetuado pela
contraparte tem de que demonstra que os defeitos da prestação a tornam inadequada.

Exigências para a Exceção Ocorrer em Boa-Fé:

★ Relação de Sucessão: Quem invoca a exceção não tenha sido o primeiro a cair em
incumprimento, uma vez que a recusa em cumprir deve ser posterior e não anterior
ao incumprimento da contraparte

★ Relação de Causalidade: A invocação da exceção o, sendo ilegítima se a


exceção for motivada por outros fins

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★ Relação de Proporcionalidade: A invocação da exceção deve ser proporcional ao


incumprimento que legítima, não sendo admitido o recurso à exceção sempre que
esse incumprimento for de escassa importância

2.3 RESOLUÇÃO POR INCUMPRIMENTO


Resolução por Não Cumprimento (art. 801/2): A outra consequência das obrigações a
de prestações recíprocas é a possibilidade de resolução do contrato por incumprimento, no
entanto, a resolução não prejudica o direito de indemnização.

★ Indemnização:

○ Doutrina Tradicional16: Perante o incumprimento de uma das partes no


contrato sinalagmático, a contraparte pode:

■ Exigir uma indemnização por incumprimento que abrangerá todos os


danos suportados em virtude da não realização da prestação pela outra
parte, mantendo, porém, a sua própria obrigação - interesse
contratual positivo
■ Obter a resolução do contrato, cuja eficácia retroativa lhe permite
liberar-se da sua obrigação, pedindo, eventualmente, a restituição da
prestação já realizada, acrescida de uma indemnização que se limita
aos danos derivados da não conclusão do contrato - interesse
contratual negativo

○ Contra a Doutrina Tradicional17: Considera que, se a resolução do contrato


libera o seu autor do dever de efetuar a contraprestação, não pode, porém,
prejudicá-lo em termos de indemnização, pelo que ela deve continuar a
abranger o interesse contratual positivo, dado que este setor da doutrina
também contesta o caráter retroativo da resolução por incumprimento.

2.4 A INDEMNIZAÇÃO POR INCUMPRIMENTO NOS CONTRATOS


SINALAGMÁTICOS
Conteúdo da Indemnização por Incumprimento nos Contratos Sinalagmáticos:
O credor deve ser colocado na mesma situação que existiria se não se tivesse verificado o
evento que obriga à reparação, ou seja, se, em lugar do não cumprimento, tivesse ocorrido o
cumprimento do contrato (art. 562).

★ Indemnização do Credor que não Realizou a Própria Prestação18:

16
Galvão Telles, Antunes Varela, Almeida Costa, Carlos Mota Pinto, Pessoa Jorge, Brandão Proença, Calvão da
Silva e Menezes Leitão
17
Vaz Serra, Batista Machado, Ana Prata, Ribeiro de Faria, Romano Martinez, Paulo Mota Pinto e Menezes
Cordeiro
18
Teorias que surgiram da jurisprudência alemã

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○ Teoria da Sub-Rogação: O não cumprimento de uma das prestações nos


contratos sinalagmáticos obriga o faltoso a indemnizar a outra parte, todavia,
ele mantém o seu direito a exigir contraprestação da contraparte

○ Teoria da Diferença: O credor não tem que realizar a sua própria prestação,
uma vez que as obrigações recíprocas de ambas as partes se convertem num
único direito à indemnização pelo montante da diferença de valor entre ambas
as prestações. A indemnização é fixada tomando em consideração o valor da
prestação não cumprida, deduzido do montante correspondente à poupança
de despesas pela não realização da própria prestação.

■ Teoria da Diferença Atenuada: Na maioria dos casos o credor tem


vantagem em não realizar a sua prestação e limitar-se a reclamar a
indemnização pelo valor entre as duas, pelo que deverá ser essa a
solução prevalecente. Todavia, por vezes, pode haver vantagem para o
credor em continuar a realizar a sua prestação, devendo-se admitir a
possibilidade de ser o credor a escolher entre realizar a prestação ou
reclamar a diferença ou valor da prestação incumprida, caso em que
teria de realizar a sua própria prestação.
● O Prof. ML defende a teoria da diferença atenuada

3. A IMPOSSIBILIDADE CULPOSA DA PRESTAÇÃO E SUA


EQUIPARAÇÃO AO INCUMPRIMENTO

3.1 A INDEMNIZAÇÃO POR INCUMPRIMENTO


Impossibilidade da Obrigação por Facto Imputável ao Devedor (art. 801/1): Se a
impossibilidade da obrigação é devida a facto imputável ao devedor, a extinção da obrigação
em virtude da impossibilidade constitui o devedor na obrigação de indemnizar o credor pelos
danos causados, como se fosse ele que faltasse culposamente ao cumprimento da obrigação

★ Consequência: Em termos de responsabilidade é idêntico o devedor não realizar


culposamente uma prestação possível ou não realizar uma prestação que
culposamente tornou impossível, sendo assim, o devedor ficará, da mesma forma,
obrigado a indemnizar o credor pelos danos correspondentes à frustração das
utilidades proporcionadas com a prestação, desde que se verifiquem os pressupostos
da responsabilidade obrigacional

3.2 O COMMODUM DE REPRESENTAÇÃO


O commodum de representação (art. 803/2) consiste na possibilidade de exigir a prestação
da coisa ou do direito que o devedor obteve contra terceiro em substituição do objeto da
contraprestação. Se o credor exercer este direito, terá que manter a sua contraprestação. No
entanto, no caso de haver impossibilidade culposa da prestação, que permite ao credor exigir
do devedor indemnização pelo interesse positivo, se ele optar pelo commodum de
representação, a indemnização será reduzida na medida do correspondente ao valor do
commodum.

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3.3 REGIME DA IMPOSSIBILIDADE PARCIAL


Impossibilidade Parcial: Pode ocorrer nas obrigações divisíveis - ex: tenho de entregar
duas chávenas e parto uma

★ Consequências:

○ Extinção parcial do direito à prestação: A indemnização não é integralmente


substituída por um direito à indemnização.

○ No contrato sinalagmático: O nexo de reciprocidade entre as prestações


implica que a extinção parcial de uma das prestações acarreta a redução da
outra, sem que o credor perca o direito à indemnização que abrangerá o
interesse contratual positivo.

■ Resolução do Contrato: O credor pode optar pela não realização da


sua prestação, recorrendo à resolução do contrato, que destrói
retroativamente o negócio (art. 433), pelo que ambas as partes ficam
liberadas de qualquer prestação, ficando apenas o credor com o direito
de exigir indemnização pelo interesse contratual negativo, todavia,
esta opção não será permitida no não cumprimento parcial.

4. CUMPRIMENTO DEFEITUOSO DA OBRIGAÇÃO: A VIOLAÇÃO


POSITIVA DO CONTRATO
Cumprimento Defeituoso: O devedor, embora realizando uma prestação, essa não
corresponde integralmente à obrigação a que se vinculou, não permitindo, assim, a satisfação
adequada do interesse do credor, pelo que não se poderá considerar existir cumprimento da
obrigação (art. 762/1), nem liberação do devedor. Aplica-se a presunção de culpa do art. 799

★ Consequências:

○ O devedor constitui-se em mora (art. 804): O credor conserva interesse na


prestação, pelo que caberá ao devedor reparar o defeito, ou substituir a
prestação defeituosa por uma outra em condições.

○ Verifica-se o incumprimento definitivo da obrigação (art. 808): O credor


perde o interesse na prestação pelo que a obrigação se terá por
definitivamente incumprida, cabendo então ao devedor pagar ao credor a
indemnização por incumprimento definitivo

○ Reparação dos Defeitos ou Substituição da Prestação: O devedor repara os


defeitos ou substitui a prestação antes do seu vencimento

○ Responsabilidade Obrigacional: Se o cumprimento defeituoso resultar da


violação de deveres secundários de prestação ou de deveres acessórios de
conduta, que acompanham o dever de prestação principal.

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★ Danos:

○ Frustração das Utilidades Causadas pela Prestação (Interesse do


Cumprimento): O credor terá direito a uma indemnização por
incumprimento, podendo, no caso de se tratar de um contrato sinalagmático,
exercer ainda as alternativas conferidas ao credor nesses contratos (exceção
de não cumprimento do contrato e resolução por incumprimento)

○ Danos Exteriores: A indemnização por esses danos é completamente exterior


ao dever de efetuar a prestação, pelo que parece que poderá ser cumulada com
a ação de cumprimento.

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