G. Sebenta (Carolina Silva)
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G. Sebenta (Carolina Silva)
RESPONSABILIDADE CIVIL
I. GENERALIDADES
1. NOÇÃO
Surge-nos como a grande fonte legal de obrigações, sendo a obrigação de reparação dos
danos causados pelo lesante no lesado, ou seja, quando alguém, preenchidos os restantes
pressupostos, cause dano a outrem, é obrigado ou nasce desse facto lesivo, a obrigação de reparar
esses mesmos danos - deixar o lesado na situação em que estaria sem a existência da respetiva lesão.
Daí que se diga que a responsabilidade civil é fonte de obrigações, e é fonte legal de obrigações - é
a lei que estabelece os pressupostos e os casos em que o lesante é obrigado à respetiva reparação.
Quando falamos em responsabilidade civil, o grande princípio em matéria de repartição de
danos é o chamado princípio do casum sensit dominus - se alguém, por qualquer razão, sofre
um determinado prejuízo, em regra esse prejuízo fica a seu cargo.
Exemplo: Se escorregar nas escadas e partir o salto do sapato só, sofre-se um prejuízo -
tem de ir ao sapateiro ou ir comprar uma sapatos novos -, mas esse prejuízo é da pessoa em
causa, ou seja, será ela que tem que suportar o dano decorrente do acidente que sofreu)
A menos que exista algum fundamento especial para transferir esse dano de quem o sofreu
para outrem.
Retomando o exemplo do sapato, mas em que se cai porque alguém passou uma rasteira -
se estiverem preenchidos os restantes pressupostos, nomeadamente que quem lhe passou a
rasteira fê-lo propositadamente, ou seja não foi porque ia a passar e acidentalmente a empurrou,
agiu com culpa p. ex. -, então aí a culpa, a censurabilidade do comportamento do agente é
justificação suficiente para transportar digamos assim, ou transferir, melhor dizendo, o dano de
quem o sofreu para outrem - nesse caso dizemos que há um lesante e um lesado.
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Portanto, a ideia básica de que devemos partir é se não existir uma razão especial que
justifique a transferência do dano de quem o sofreu para outrem, é quem sofre o dano que o tem de
suportar necessariamente - faz parte dos riscos de estarmos vivos e de convivermos. Quem sofre um
determinado dano é, em última análise, quem tem de o suportar a menos que exista uma razão
especial.
2. CLASSIFICAÇÕES
por isso é que muitas vezes na própria responsabilidade pré-contratual se aplicam as regras da
responsabilidade contratual (nomeadamente quanto à existência da prova da culpa), muito embora
quanto aos prazos da prescrição a lei mande aplicar as regras da responsabilidade extracontratual (a
própria lei no art. 227º CC remete para a responsabilidade extracontratual, e não para a contratual).
unilaterais ou da lei”.
Estamos perante responsabilidade civil contratual quando, antes do facto lesivo, existe entre as
partes uma relação de natureza especial, e portanto é essa relação de natureza especial que liga
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existe a obrigação de um dever jurídico especial) - é porque o devedor não cumpre a obrigação a
que estava adstrito, e com isso causa um prejuízo ao credor, esse facto gera uma responsabilidade
contratual. Nós seríamos levados a pensar que existe responsabilidade contratual quando existe,
como o nome indica, a violação de um contrato, mas nós sabemos que o contrato não é a única
absolutos ou da prática de certos atos que, embora lícitos, causam prejuízo a alguém”.
A responsabilidade extracontratual, também designada também por delitual ou aquiliana -
prevista no art. 483º e ss. CC, também resulta de uma violação de um dever. Sucede que não está
em causa um dever jurídico especial, mas sim de um dever jurídico geral, que é contrapólo dos tais
direitos absolutos – a ideia de que existe responsabilidade extracontratual sempre que se viola a
chamada obrigação passiva universal, o dever que é imposto a todos os membros da coletividade
jurídica para proteção de valores jurídicos de natureza absoluta. Estão em causa quer:
direitos reais;
Ex.1: se A devia 500 a B, não pagou e com isso causou um prejuízo a B, nós estamos no âmbito
da responsabilidade contratual/obrigacional.
Ex. 2: se A atropelou B, e lhe causou um prejuízo de 500 - porque, em virtude dos danos
sofridos na sua integridade física, teve despesas hospitalares, deixou de trabalhar um determinado
número de dias, sofreu determinadas dores, etc. - essa responsabilidade de A não é uma
responsabilidade contratual, é uma responsabilidade delitual/aquiliana, ou seja, violou um chamado
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EM CONCLUSÃO:
Sempre que está em causa a violação de uma obrigação em sentido técnico temos
responsabilidade civil contratual, e sempre que está em causa a violação de um dever jurídico geral
(o tal dever jurídico imposto a todos os membros da coletividade jurídica para proteção de
valores/direitos absolutos), então estamos perante responsabilidade civil de natureza
extracontratual/delitual/aquiliana
Convém referir aqui uma nota relativamente à (falta de) eficácia externa das obrigações
(matéria lecionada no 1º Semestre): a responsabilidade civil extracontratual vem regulada nos arts.
483º e ss. CC, e o art. 483º CC quando fala dos pressupostos, que vamos designar por ilicitude - “1.
Aquele que, com dolo ou mera culpa, violar ilicitamente o direito de outrem (...)” -, aqui o direito de
outrem nós entendemos que apenas se trata de direito absoluto de outrem (se um terceiro,
como nós vimos, de alguma maneira colaborar com o devedor no não cumprimento de uma
obrigação, o seu comportamento pode ser ilícito por outra via, nomeadamente pela via do abuso do
direito que também tem uma vertente delitual, mas não é pela via aqui do 483º/1, na medida em
que nós entendemos que estão apenas previstos/ que o legislador pretendeu aqui incluir não todos
os direitos subjetivos, mas apenas os direitos subjetivos de natureza absoluta). Portanto, a violação
de um direito de natureza absoluta gera responsabilidade civil extracontratual, nos termos do art.
483º CC.
Esta grande divisão entre responsabilidade civil contratual e extracontratual tem
obrigações no art. 483º e ss. CC. Isto não significa que não existam comuns, e desde logo a lei
disciplinou para ambas as responsabilidades o cálculo da chamada indemnização, ou o valor da
reparação. Essas questões relativas ao cálculo da indemnização vêm previstas nos arts. 562º e ss. CC,
que são normas comuns para ambos os tipos de responsabilidade.
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Assim, o art. 562.º e ss. é um lugar de confluência das consequências decorrentes das duas
responsabilidades, como que unificando o seu regime.
tendência, sendo que no Código Civil o legislador seguiu a tendência da unificação dos dois
indemnizar.
Supervenientemente ao Código Civil, há mesmo matérias em que os dois regimes estão
totalmente unificados: por exemplo, a responsabilidade civil do produtor (a partir da década de 60).
Esta responsabilidade do produtor é independente de culpa e da existência ou não de um contrato
a mesma: a obrigação de indemnização. Podemos ter casos em que do mesmo facto nascem das
duas modalidades de responsabilidade civil.
venda.
Outros casos em que isto acontece é na responsabilidade médica em hospitais privados.
(há uma presunção de culpa do devedor). Então se a lei presume, sendo esta uma presunção relativa,
pode ser afastada mediante prova em contrário - se o devedor não quiser ser responsabilizado tem
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que fazer prova de que o incumprimento não resulta de culpa sua, portanto aqui a culpa como
Diz precisamente o art. 799º CC, “1. Incumbe ao devedor provar que a falta de cumprimento ou o
Portanto a lei presume a culpa do devedor, há aqui inversão do ónus da prova e terá de ser o
devedor a fazer prova de que o incumprimento não procede de culpa sua.
A lei di-lo expressamente no art. 487º CC - “1. É ao lesado que incumbe provar a culpa do
autor da lesão, salvo havendo presunção legal de culpa.” - Mas se não o dissesse resultaria das
regras gerais.
Qual é o regime mais favorável para o lesado? É obviamente aquele em que o ónus da prova
cabe ao lesante, ou seja, o da responsabilidade contratual.
Quem alega um determinado direito tem de fazer prova de todos os pressupostos constitutivos
desse mesmo direito, ou seja, todos os factos que conduzem a esse mesmo direito.
que tem de fazer prova da culpa do autor da lesão e do pressuposto da obrigação de indemnização.
Há casos também, como iremos ver infra, no âmbito da responsabilidade civil extracontratual em que
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Repare-se que é muito mais fácil no âmbito da responsabilidade contratual para o credor acabar
por obter a reparação porque não tem de fazer prova da culpa do devedor, o devedor é que tem de
provar que não teve culpa no não cumprimento, do que propriamente para o lesado porque é ele,
no âmbito da responsabilidade civil extracontratual, que tem de fazer prova da culpa do autor da
lesão, a menos que tenha a seu favor uma presunção de culpa (art. 491º, 492º e 493º CC).
delitual diz a lei que se presume inimputabilidade (não podem ser suporte de um juízo de culpa), ou
seja falta da tal capacidade delitual, aos menores de 7 anos, e aos interditos por anomalia psíquica.
Portanto repare-se que a capacidade negocial adquire-se com 18 anos, a capacidade delitual
presume-se a partir dos 7 anos.
Exemplo: se uma criança de 5 anos joga uma pedra e parte um vidro de uma janela, de um
para-brisas, dizemos que a lei presume que ele é inimputável, nem sequer vamos estabelecer um
juízo de culpa, porque não tinha suporte desse juízo porque não tinha capacidade para entender
as consequências dos seus atos, e por isso não tinha também capacidade para determinar a sua
vontade em função desse juízo que fez.
Ou pode até ser, porque aquilo que a lei contém é uma mera presunção de inimputabilidade
Exemplo: pode-se fazer prova de que o miúdo de 5 anos, apesar da tenra idade, já
percebia que ao jogar a pedra ia partir o vidro, ou seja, já percebia que aquilo era uma coisa má,
proibida e que não podia fazê-lo - aí quem tem de fazer prova dessa imputabilidade já é o
lesado, porque a inimputabilidade presume-se; não só tem de fazer prova da culpa, como
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Se se trata de um maior de 7 anos, já a lei não presume a sua inimputabilidade - ele passa a
ser suporte de um juízo de culpa -, e quem quiser provar que ele não percebia as consequências dos
seus atos é que tem de fazer essa mesma prova, porque justamente não há aqui presunção a favor
dessa inimputabilidade. Portanto, num caso não se é responsável contratualmente antes dos 18 anos
(porque até aí não se tinha a capacidade de assumir as tais obrigações, a não ser que sejam já
aqueles atos de gestão corrente), por outro lado no âmbito da responsabilidade delitual não se
ART. 488º CC
“1. Não responde pelas consequências do facto danoso 5 quem, no momento em que o facto
ocorreu, estava, por qualquer causa, incapacitado de entender ou querer, salvo se o agente se
psíquica.”
Quanto às regras da capacidade de exercício de direitos, temos os arts. 123º e 127º CC.
conhecimento do direito que lhe compete. No âmbito da responsabilidade contratual, como não há
fixação de nenhum prazo especial para a prescrição do direito a receber a indemnização, nós
extracontratual, e é condenado a pagar uma indemnização por esse mesmo dano, o direito do
lesado prescreve no prazo de 3 anos a contar do conhecimento do respetivo direito).
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relação existe mais do que um devedor/sujeito. Qual é o regime desta pluralidade? De que forma
são os devedores responsáveis perante o credor?
sua parcela na dívida, isto é, pode ir a A e exigir 250€, pode dirigir-se a B e pedir 250€ e pode
dirigir-se a C e pedir os restantes 250€; se algum dos devedores não puder pagar, quem corre o
risco da falta de cumprimento/pagamento é o próprio credor, que fica como se costuma dizer na
gíria “a arder”).
Se a lei vier a dizer de outra maneira ou se as partes fixarem, então o regime pode ser o da
solidariedade - ou seja, o regime regra é o da conjunção, por força da lei ou da vontade das partes
pode ser o da solidariedade. E existe solidariedade passiva quando o respetivo credor pode exigir a
cada um dos devedores a totalidade da prestação, sendo que o pagamento por um deles libera os
restantes face ao credor.
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dívida for o da solidariedade, sucede que D pode exigir a qualquer deles a totalidade da prestação,
isto é, pode ir a A e exigir os 750€, sendo que A não se pode defender com o benefício da divisão,
porque ele é solidariamente responsável com os outros devedores; é claro que se ele pagar os 750€
ficam os outros devedores liberados perante o credor, D, portanto a dívida fica saldada perante o
credor, embora exista depois direito de regresso no âmbito das relações internas - aquele que
pagou tem direito de regresso, na medida da sua participação na respetiva dívida, contra os
restantes condevedores, isto é, A que pagou a dívida pode depois dirigir-se a ir B e exigir-lhe os
250€ e pode dirigir-se a C e exigir-lhe os seus 250€.
E se um dos devedores não puder pagar? Quem é que corre o risco de não receber? Os
restantes condevedores é que correm o risco de um deles ser insolvente ou não puder efetuar o
respetivo pagamento, porque fica prejudicado o respetivo direito de regresso; o credor não, uma
vez que se pode dirigir a qualquer um deles, tem a possibilidade de receber a totalidade de
qualquer um deles.
No direito comercial, até por uma questão de fluidez da própria atividade negocial, é um regime
amigo do crédito, logo o regime regra é o da solidariedade. Mas o direito civil não. Isto também
significa que, quando a lei quer proteger determinado crédito, mesmo a lei civil, estabelece o regime
da solidariedade - é o que acontece no âmbito da responsabilidade civil extracontratual - por
preocupação com o lesado, e do seu direito à indemnização, vem estabelecer que, em caso de
pluralidade de lesantes, é solidária a sua responsabilidade, e não o regime da conjunção por força da
lei - a lei especialmente o estabelece no art. 497º CC: “1. Se forem várias as pessoas responsáveis
pelos danos, é solidária a sua responsabilidade.”- protegendo o direito à indemnização do lesado
que fica assim com maior possibilidade de vir a satisfazer o seu direito perante os vários lesantes.
No âmbito da responsabilidade contratual, se existirem vários devedores que não cumprem a
obrigação, e que com isso causam um prejuízo ao credor, como a lei nada diz/estabelece (ao
contrário do que sucede no âmbito da responsabilidade extracontratual) vale/aplica-se o regime da
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extracontratual, pois a obrigação fica garantia pelos patrimónios de todos os lesantes, art. 497.º. Na
contratual, cada um responde pelos danos que causarem com a sua própria conduta. Neste aspeto, o
civil delitual, na medida em que elas vêm fixadas no âmbito regulativo da responsabilidade civil
extracontratual (ou delitual). Poderíamos ser levados a pensar “que se o legislador as fixou neste
âmbito, é porque quis a sua aplicação exclusiva ao âmbito da responsabilidade civil extracontratual,
tanto mais que são regras que têm a ver com o cálculo da obrigação de indemnização. E portanto, se
quisesse que fossem comuns a ambos os tipos de responsabilidade, teria regulado essas matérias a
propósito da obrigação de indemnização, nos arts. 562º e ss. CC, e não aqui no âmbito da
respeito à limitação da indemnização quando exista mera culpa - e 496º CC - para a chamada
indemnizabilidade dos chamados danos morais/não patrimoniais.
ANTUNES VARELA respondia da mesma forma a ambas as questões, embora apenas do ponto
de vista formal:
Não podemos pressupor que o legislador tenha querido a aplicação destas duas normas à
responsabilidade contratual, porque se o quisesse ter feito (se quisesse a sua aplicação) deveria ter
colocado estas normas não neste âmbito sistemático, mas antes nos arts. 562º e ss CC a propósito
da obrigação de indemnizar. Ambas as normas referem-se à obrigação de indemnizar, e ANTUNES
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outro tipo de responsabilidade, teria disciplinado estas matérias no âmbito da obrigação de
indemnizar, e não no âmbito da responsabilidade civil extracontratual. Se disciplinou aqui nesta sede,
é porque quis a sua aplicação exclusiva à responsabilidade civil extracontratual.
Ora, este argumento vale o que vale - é um argumento formal -, e nós devemo-nos
preocupar antes em saber se faz sentido ou não, do ponto de vista substancial/material, a aplicação
destas normas também ao âmbito contratual. E pode-se fazê-lo, mesmo que não seja por aplicação
direta ao menos por aplicação analógica dos respetivos princípios. Neste aspeto a resposta é
diferente para cada uma das normas, ou seja, tendo em conta a sua razão de ser/o plano material, a
resposta da aplicação ou não ao âmbito contratual é diferente para o art. 494º CC e para o art. 496º
CC:
(1) O art. 494º CC vem a dizer que pode haver redução do quantum indemnizatório, isto é, do
valor da indemnização, quando o lesante tenha tido culpa pouco grave, ou seja, quando o
comportamento do agente seja pouco censurável (quando tenha agido não com dolo, mas com
mera culpa/negligência), e tendo em conta a situação de cada uma das partes isso se justifique. Isto é
um desvio ao princípio da reparabilidade integral dos respetivos danos – dizemos que o que
fundamenta a responsabilidade civil é a existência de um determinado dano que, por uma razão
especial, é deslocado da pessoa que o sofre para outrem (neste caso a razão especial é a culpa), em
princípio o valor da indemnização corresponde ao valor dos danos (o lesante terá de indemnizar o
lesado de todos os danos sofridos pelo lesado). Esta solução é uma solução excecional que tem a ver
semelhança do que se diz aqui no art. 494º CC, pressupor/permitir a redução do quantum
indemnizatório?
A doutrina é quase unânime em entender que não, ou seja, visto que isso
defraudaria as expectativas do credor resultante de uma relação especial que já existia entre
as partes, ou seja, o credor satisfaz o seu interesse através do cumprimento, e quando, por
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indemnização aparece aqui como um equivalente pecuniário desse mesmo interesse, e
portanto há expectativas fortes do credor que seriam fortemente atingidas. Assim a relação
obrigacional seria fortemente atingida, se nós permitíssemos a redução do quantum
entre as partes surge com a própria lesão, e pode acontecer que o comportamento do lesante
seja de tal forma desprovido de censurabilidade que justifique a repartição do dano (a lei fala
respetivos danos.
É pacífico na doutrina justamente porque o que está em causa é a proteção das
lesado), e há tão só a confiança que todos nós temos de ter nos outros, e não uma confiança
específica numa determinada relação especial que deva ser protegida, e portanto aí quando a
culpa é leve pode, em termos de equidade, o tribunal entender que é mais justo repartir o
dano entre lesante e lesado. Não já no âmbito do não cumprimento - aquilo que justifica a
relação obrigacional, que é o interesse do credor, a não permitir essa redução. Atendendo à
PAULO MOTA PINTO defende a posição de que este artigo, mesmo que não
seja de aplicar sempre em casos de responsabilidade contratual, pode em alguns casos ser
convocado, quando o dano seja desproporcional face à mera culpa do devedor inadimplente.
Não haverá uma objeção de princípio, o valor da indemnização não tem de ser coincidente
com o da indemnização.
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(2) O mesmo já não se diga do art. 496º CC. Este art. refere-se à indemnizabilidade dos danos
não patrimoniais - os danos morais são aqueles que não são suscetíveis de avaliação pecuniária,
não suscetíveis de se traduzirem num montante em dinheiro, tanto que relativamente a estes danos
nem falamos em indemnização, falamos em simples compensação (a ideia de que, por vezes, há
certos prejuízos/condicionalismos que levam a que haja um sofrimento, uma espécie de dor físico-
psicológica por parte do respetivo lesado, mas isso não se traduz ou não se pode traduzir num
respetivo montante em dinheiro -alguém sofre um ataque à sua integridade física, daqui resultam
necessariamente danos patrimoniais, no sentido em que há despesas médicas, há dias
eventualmente de trabalho que não pode exercer, e portanto também não tem a respetiva
remuneração, pode haver objetos destruídos, etc., ou seja, pode haver um sem número de danos
patrimoniais; mas ao lado destes danos patrimoniais nós temos os chamados danos não
patrimoniais, sofreu determinadas dores/vexames que não mensuráveis, não se podem traduzir
numa quantia em dinheiro, por isso é que não se podem reparar, não se podem apagar as dores
através de um equivalente pecuniário; mas podem sem compensadas, a ideia de que se nós
atribuirmos ao lesado uma quantia em dinheiro, não estamos propriamente a apagar a dor, mas
estamos de alguma maneira a permitir-lhe que tenha certos prazeres, que o façam/possam fazer
esquecer, em parte, a dor; está em causa a ideia da compensação dos respetivos danos/ prejuízos, e
não propriamente a ideia de reparação).
grande parte da doutrina vinha dizer que parece que é imoral que se atribua um preço
à dor, que se atribua um preço à honra;
Mas no fundo acabou por se chegar à conclusão de que seria muito mais imoral e
muito mais injusto que o lesado ficasse desprovido de qualquer indemnização, quando
os danos não patrimoniais até pode ser muito mais graves que os patrimoniais, até
podem gerar muito mais prejuízos do que os respetivos danos patrimoniais. Mas veio
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força daquele argumento formal (se o legislador tivesse querido que os danos não
patrimoniais fossem indemnizáveis no âmbito da responsabilidade contratual, teria
próprio legislador atribui a medida e o filtro (dá-nos instrumentos) que nos permitam
reduzir esse número de ações que ANTUNES VARELA dizia que exponencialmente
subiriam. Porquê? Porque nem todos os danos não patrimoniais, quer num âmbito
quer no outro, são indemnizáveis - não pode o credor, “por dá cá uma palha” vir a
exigir a indemnização pelos danos não patrimoniais sofridos, porque a lei vem a dizer
que deve atender-se aos danos não patrimoniais, que pela sua gravidade mereçam a
compensação por pretensos determinados não patrimoniais - têm de ser graves, têm
de ter gravidade ao ponto de merecerem tutela do respetivo direito.
Tem entendido hoje a generalidade da doutrina, e também é hoje essa a nossa opinião
(nomeadamente PINTO MONTEIRO tem uma dissertação de doutoramento em que
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admitir no âmbito extracontratual a indemnizabilidade dos danos não patrimoniais são
ficar sensível a este argumento da inserção sistemática opta pela extensão analógica
deste art. - extrai daqui um princípio que depois aplica também no âmbito contratual.
Coloca-se aqui ainda uma outra questão no âmbito desta distinção, que é a seguinte: por
vezes um mesmo determinado facto lesivo é gerador de ambos os tipos de responsabilidade. E nesse
caso queremos saber que regime aplicar (são regimes em parte diferentes, com normas distintas), se
aplicamos o regime da responsabilidade extracontratual (um regime mais específico que tem em
conta essa relação especial entre as partes), ou se podemos aplicar indistintamente um dos dois
regimes - ou seja, se permitimos o cúmulo das duas responsabilidades (embora entendido de
determinada forma).
momento em que o leva a um determinado local, e durante a viagem, por negligência, causa um
acidente onde o respetivo cliente sofre danos nas coisas que transportava, e na sua integridade
física - o ato gerador do respetivo dano, acaba por se traduzir num facto gerador de
responsabilidade contratual (porque não há cumprimento ou há o cumprimento defeituoso de
uma obrigação em sentido técnico - uma vez que ele se obrigou a levar o cliente em segurança e
comodidade a um determinado destino, e acaba por não cumprir, ou não cumpre de forma
Esta era a orientação francesa e a que era seguida por ALMEIDA COSTA, uma vez que o
legislador estabeleceu um regime que é mais específico para as relações contratuais, quando há
responsabilidade contratual é esse regime, e não o da responsabilidade delitual (mais genérico) que
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Nós temos seguido a orientação alemã, e também italiana, que permite o cúmulo de normas
(e não de responsabilidades), porque esta possibilidade de poder cumular as duas responsabilidades
não significa, de facto, um cúmulo de responsabilidades - existe apenas uma ação que no plano
material corresponde apenas a um único direito, e de alguma maneira esse cúmulo tem como
objetivo único a reparação do dano, não existe cúmulo de ações (não existe uma ação para exigir a
indemnização no âmbito da responsabilidade civil contratual, a que se soma uma outra ação para
que lhe é mais benéfico no respetivo caso concreto (p.ex., se tem dificuldades na prova da respetiva
culpa, obviamente que terá muito mais vantagens no âmbito da responsabilidade civil contratual, e
em apelá-lo; se eventualmente também está em causa a questão da prescrição, tem mais vantagens
no âmbito da responsabilidade civil contratual - tem um prazo bastante mais alargando-se
prescrição; mas já não é vantajoso no caso da pluralidade passiva). Também pode o tribunal
fundamentar numa ou noutra a respetiva solução, conforme entenda mais correto.
Portanto caso a caso tem de se ver qual é o regime mais benéfico, e apelar a cada um desses
regimes em função dos respetivos interesse. Aquilo que nós aceitamos não é um cúmulo de ações,
direito constituído, como é a solução desejável - o facto de o legislador ter previsto um regime mais
específico para a responsabilidade contratual, não significa que, estando preenchidos os requisitos da
responsabilidade extracontratual, não possa haver recurso às respetivas normas para fundamentar a
pretensão do autor, desde que estejam obviamente integrados os respetivos
requisitos/pressupostos).
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do lesante - o lesante teve um comportamento eticamente censurável, deve responder pelos danos
que causou ao lesado; e a culpa é precisamente esse juízo de censura relativamente ao
comportamento do agente. Quando nós dizemos que alguém agiu de forma diferente daquela que
podia e devia ter agido, então dizemos que o seu comportamento foi censurável - se ele agisse de
certa maneira, teria evitado o dano (ex.: o condutor que ultrapassa os limites de velocidade age com
culpa, porque ele podia e devia ter agido de outra maneira, mesmo que não seja uma culpa
responsabilidade subjetiva (tendo de provar ou não, exige-se a culpa do autor da lesão). Só existe
responsabilidade objetiva nos casos especialmente previstos na lei (quer no CC, quer em lei
extravagante), é excecional - a lei diz isso mesmo no art. 483º/2 CC: “Só existe obrigação de
indemnizar independentemente de culpa nos casos especificados na lei.”
independente de culpa/ não assenta na culpa do lesante - o fundamento de imputação é outro que
não a culpa. Aquilo que leva a que alguém responda perante o lesado, nada tem a ver com a
censurabilidade do respetivo comportamento, é outro o motivo. Muitas vezes não está sequer
dependente de um facto do próprio lesante.
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dessa responsabilidade é a chamada responsabilidade pelo risco. Baseia-se na ideia de que aquele
que beneficia de uma certa atividade que causa potenciais riscos para terceiros, deve, segundo um
princípio básico de justiça distributiva ibi commoda ubi incommoda, suportar os danos que sejam
concretização desses mesmos riscos/perigos, ou seja, quem queria ou mantém na sua esfera
determinados riscos/perigos relativamente a terceiros, deve responder pelos danos que sejam
concretização desses mesmos riscos/ perigos. E isto porque ele beneficia exatamente da criação
desse mesmo risco. Este é o principal setor da responsabilidade objetiva, mas não esgota a
responsabilidade objetiva - não podemos assimilar os dois conceitos, não podemos dizer que
porque estes casos são sempre excecionais, vem estabelecer a obrigação de indemnizar.
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(1) No caso da apanha de frutos em terreno alheio, que de outra forma ser-lhe-ia vedado. É
comum esta situação, e o nosso CC é muito rural ainda, pressupondo todas estas questões, que
respetivo prédio;
(3) A constituição de uma servidão de passagem por prédio alheio;
(4) A revogação unilateral de certos contratos quando ela é permitida e quando são
contratos remunerados - diz-se que o mandante pode, a todo o tempo, pôr fim ao contrato de
mandato, mesmo que não exista justa causa para tal. A revogação em sentido técnico, em regra, é
um ato bilateral - é o chamado mútuo dissenso (para a formação do contrato é necessário um
mútuo consenso, para a sua destruição é necessário igualmente o consentimento das partes). Se
uma delas não tiver justa causa para pôr fim ao contrato (se tiver, nesse caso até falamos de
remunerado, a revogação vai pôr fim, unilateralmente e sem justa causa, a uma relação, e prejudica
os interesses do respetivo mandatário, que tinha expectativas de receber uma determinada
retribuição pela prática dos atos jurídicos por conta do mandante. Temos aqui então um dos casos
de indemnização por atos/intervenções lícitas - a lei permite a revogação, mas ao mesmo tempo diz
ao mandante que ele tem de indemnizar o mandatário pela retribuição que ele deixou de receber,
em virtude da revogação do mandato (ou seja pelos danos que ele sofreu em virtude desta
revogação). Nem sequer há aqui ilicitude porque se trata de um ato permitido pelo direito - o
direito vem permitir a intervenção numa esfera jurídica alheia, que em princípio estaria
completamente vedada, mas dá possibilidade ao lesado de se ver ressarcido dos respetivos danos
causados por essa mesma intervenção;
(5) O caso do estado de necessidade. Há aqui uma intervenção permitida, no entanto aquele
que aja em estado de necessidade pode ter de ser obrigado a indemnizar os danos que causar ao
respetivo lesado.
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de culpa, e portanto não se lhe pode dirigir uma censura (embora a culpa não seja de todo
irrelevante); o fundamento aqui, segundo a própria lei, é a equidade, fundada na ideia de justiça
material (mas não é o risco), entendendo-se que, havendo capacidade económica do inimputável e
se isso não prejudicar, nomeadamente o seu direito a alimentos, deva ser o próprio inimuptável a
responder, mesmo não seja objeto desse juízo de culpa. Chega-se à conclusão de que, muitas vezes,
sendo o ato praticado por um inimputável, e não sendo possível obter a devida reparação das
pessoas encarregadas da sua vigilância, acha-se injusto que fique o lesado a ter de suportar
totalmente o dano produzido, que só se não se transfere para outrem, porque esse outrem é um
inimputável.
PRODUTOR: O produtor é responsável pelos danos que os defeitos nos respetivos produtos venham
a causar. E quando falamos dos danos indemnizáveis pelo produtor, independentemente de culpa (é
nesse sentido objetiva) é responsável pelos danos que esses produtos venham a causar, vamos
chegar à conclusão que nem todos os danos são indemnizáveis – os danos às pessoas são sempre
indemnizáveis pelo produtor, independentemente de culpa; mas os danos em coisas não são todos
indemnizáveis. Só são indemnizáveis os danos em coisas destinadas a consumo.
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FDUC – DOII 2017/2018
Ex.1: um automóvel novo que sai da fábrica, falha o sistema de travagem e embate numa
montra de um restaurante - o dano causado à montra do restaurante, ainda que haja
responsabilidade objetiva do produtor, não é reparado pelo produtor; pode ser reparado pelo
vendedor do carro, necessariamente pelo detentor do carro naquele momento que depois,
eventualmente, se fará ressarcir também dos prejuízos que lhe foram assacados, mas o produtor
não responde.
Ex.2: o micro-ondas que era defeituoso e que explode na cozinha, e estraga a máquina de
lavar loiça, o frigorífico, etc. - o produtor do micro-ondas, se este for de facto defeituoso, pode ou
não ser responsável por aquelas coisas, dependendo se os móveis estavam numa casa particular
seguramente há responsabilidade; mas se por ex., aqueles mesmos móveis estivessem num
restaurante, ou eventualmente numa cantina de uma determinada fábrica, já não seriam
indemnizáveis, pelo produtor; mas isto não quer dizer que não fossem indemnizáveis, podia ser
diferente o fundamento da respetiva responsabilidade, só não seriam responsabilidade objetiva do
produtor.
risco causado ou o aumento do risco que a utilização dos produtos implica, ou a colocação em
circulação de determinados produtos implica, mas também a proteção do consumidor. Porque se
fosse o risco o fundamento de imputação, à indemnização deveria recair sobre todos os danos
causados, e não apenas sobre os danos causados ao consumidor.
2) Outra característica é o carácter relativo: tendo em conta a posição difícil do lesante, que
responde sem culpa, o legislador compensa este facto por uma circunscrição dos danos ressarcíveis.
Por exemplo, o art. 504.º vai circunscrever os danos ressarcíveis. Por outro lado, o legislador delimita
igualmente o montante indemnizatório (os limites máximos), que é o que sucede no art. 508.º.
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FDUC – DOII 2017/2018
Por vezes, quando o legislador cria um regime de responsabilidade objetiva, impõe a
subscrição de um seguro obrigatório, que se prende com a obrigação de indemnização por danos
causados a terceiro. Está aqui em causa a proteção do lesado, mas também há uma defesa do
lesante: por vezes, os danos causados são de tal ordem que não é possível o lesante pagar a
indemnização. Discutiu-se se os condutores de bicicleta deviam constituir seguro obrigatório: o art.
503.º abrange a responsabilidade por danos causados por veículos não motorizados; no entanto,
não existe seguro obrigatório. Na responsabilidade por danos causados por animais, também não
Por vezes temos também uma tendência a confundir a responsabilidade objetiva, ou seja,
aquela que não depende da culpa, com a chamada responsabilidade assente numa presunção de
lesante que tem de afastar a respetiva presunção. Pode acontecer que alguém venha efetivamente a
responder, e efetivamente não há censurabilidade do seu comportamento, mas isso não quer dizer
que ele responda objetivamente - ele respondeu subjetivamente, ou seja, o fundamento da sua
responsabilidade é a culpa, mas essa culpa presume-se. Se ele não conseguiu afastar a respetiva
agravada com uma presunção. Enquanto que nas situações normais é ao lesado que cabe fazer
prova da culpa do autor da lesão, nos termos do art. 487º CC, nestas situações (do art. 491º-493º
CC) presume-se a culpa do autor da lesão, logo inverte-se o ónus da prova. É ao lesante que cabe
afastar a respetiva presunção. Como é que nós ajuizamos que não se trata de responsabilidade
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FDUC – DOII 2017/2018
O detentor do automóvel que atropela o peão é responsável pelos danos causados ao peão,
independentemente de ter agido com culpa - pode ter atravessado um sinal vermelho ou não, pode
ter ido com velocidade excessiva ou não, pode pura e simplesmente ter perdido o controlo da
viatura porque havia óleo na estrada, e portanto foi ter com o respetivo peão e nesse caso o seu
comportamento não é censurável; mas ainda assim ele é responsável, porque a responsabilidade do
detentor do veículo não depende da culpa, não se fundamenta na culpa; ainda que ele venha a
provar a ausência de culpa, ele responde pelo risco porque a sua responsabilidade é fundada no
risco.
Mas agora imaginemos que era uma pessoa sob a vigilância de outrem - a lei diz que as
pessoas obrigadas à vigilância de outrem respondem pelos danos que esse outrem, o incapacitado,
causar, a terceiros, e só não respondem se fizerem prova que cumpriram o seu dever de vigilância. A
questão é que, ainda que o lesado nada provar pode não ter havido culpa, e ainda assim o vigilante
responde; mas ele tem sempre a possibilidade de fazer prova (de afastar a presunção) de que
cumpriu o seu dever de vigilância. O fundamento da responsabilidade aqui é a culpa, embora seja
culpa presumida - tanto mais que o lesante afasta a sua responsabilidade se afastar a respetiva
presunção, se fizer prova de que agiu sem culpa. E fala-se nos mesmos termos no art. 492º e no art.
493º CC.
O que é mais evidente, para distinguir estes casos de responsabilidade subjetiva agravada dos
casos de responsabilidade objetiva, isso é absolutamente irrelevante (não releva à partida que o
condutor venha dizer “não, eu embati e causei danos a terceiros, eu perdi o controlo do veículo
porque desmaiei”, ou “perdi o controlo do veículo porque derrapei numa mancha de óleo”),
respondendo independentemente de culpa.
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(2) Ilicitude;
(3) Imputação do facto ao agente (quer ao nível do controlo da imputabilidade, quer ao nível da
culpa);
(4) Existência de um dano (sem dano não há responsabilidade civil, uma vez que o objetivo do
direito da responsabilidade é a reparação dos respetivos danos);
(6) Âmbito de proteção na norma para determinada doutrina, mas entre nós acabou-se por
entender que isso se engloba dentro de outros pressupostos de responsabilidade civil, não
fazendo muito sentido autonomizá-lo.
Tem de haver um comportamento humano voluntário, controlável pela vontade, que se pode
consubstanciar numa ação ou numa omissão (facto comissivo e omissivo). Todas as situações que
não são controláveis objetivamente, ou em termos abstratos pela vontade do agente, estão excluídas
dos casos de atos que geram responsabilidade civil.
Quando se alude a facto voluntário, isto não quer dizer que tenha de ser um ato querido:
488.º/1), sendo que a responsabilidade dos inimputáveis não está totalmente excluída (art.
489.º/1).
ENTÃO: “Facto voluntário” significa, assim, “facto objetivamente controlável ou dominável pela
vontade”: basta a possibilidade de controlar o ato omissão. Fora ficam apenas os danos provocados
por causas de força maior ou pela atuação irresistível de circunstâncias fortuitas.
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FDUC – DOII 2017/2018
Se se tratar de uma omissão, é preciso que se preencha o requisito adicional que a lei exige –
tem de haver o incumprimento de um dever jurídico de agir. Assim, o art. 486.º estabelece que as
simples omissões dão lugar à obrigação de reparar os danos quando houvesse, por força da lei ou
A doutrina tem feito um esforço para alargar estas situações em que, fora de norma expressa ou
da existência de um contrato como fonte um dever, a outros casos ou situações onde exista dever de
ação. No âmbito do direito civil não temos os problemas de tipicidade que temos em matéria
direito penal - em direito penal a equiparação da omissão à ação, para efeitos de ilícito criminal,
pode gerar um problema que é o de criação de um ilícito criminal sem existir lei que o autorize
(esbarra com o princípio de não há crime sem lei, “nulla poena sine lege”);
Ora no direito civil não lidamos com o problema da tipicidade, e é muito mais fácil equiparar a
chamada omissão à ação. É muito mais fácil sustentar casos onde a omissão gere responsabilidade
civil, mesmo sem a existência de um contrato, ou mesmo sem a existência de uma norma expressa a
impor um dever de agir.
Que situações são essas que a doutrina tem, de alguma maneira, falado? São desde logo os
chamados casos de deveres gerais de prevenção do perigo - há situações onde quem cria ou
mantém um determinado risco ou um determinado perigo, fica com o dever de agir no sentido de
eliminar esse mesmo perigo/risco, ou tudo fazer para que esse risco/perigo não se concretize em
dano. Note-se que não se está aqui a falar nos casos de responsabilidade objetiva - esses existem e
estão previstos na lei, e muitas vezes não dependem de uma ação -, aquilo que estamos a falar são
perigo. Então, a partir desse momento em que se cria um perigo/risco, em que se mantém a
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O dever de agir no sentido de eliminar, ou de pelo menos fazer com que esse risco ou esse
perigo não se concretizem num dano.
“quando se abre um certo caminho, ou se permite a passagem do tráfego, cria-se uma fonte de
perigo/risco, então deve fazer-se de tudo para eliminar, ou para pelo menos evitar, que esse
risco/perigo se concretize num dano” (ex.: deve-se limpar o respetivo caminho; nas escadas deve-se
colocar corrimões; deve-se iluminar o caminho para que se vejam os riscos/perigos que ele
pressupõe), e portanto nesse sentido estes deveres nasceram como deveres de segurança no
tráfego. Mas logo se transformaram em conceitos mais genéricos, e passamos a falar de deveres de
prevenção do perigo.
Então o que é que justifica aqui o nascimento de um dever de evitar que o risco ou o perigo
se concretize num dano? O que justifica é a ação - é a criação ou a manutenção dessa fonte de
risco/perigo. Se alguém cria ou manter uma fonte de risco/perigo está a agir de um determinado
sentido, logo daí, desta circunstância, nasce um dever - o dever de evitar que esse perigo/risco se
concretize em danos para terceiros. O facto gerador da responsabilidade não é a criação do risco,
não é a manutenção do risco, mas antes é não ter agido no sentido de evitar que esse risco/perigo e
concretize em danos (não ter colocado os reais corrimões nas escadas; não ter procedido à
iluminação do caminho; não ter limpo o respetivo caminho). A criação do risco é o fundamento da
origem/nascimento do respetivo dever de ação, cuja omissão pode gerar responsabilidade civil.
deveres de instrução, a que os outros, terceiros, lidem, de uma forma auto responsável com o
respetivo perigo/risco. Neste primeiro momento este dever cumpre-se avisando da existência de um
perigo, ou avisando da existência de um risco, e pode ser que até seja suficiente para cumprir o
dever de prevenção este aviso/ esta instrução. Muitas vezes não é possível fazer de outra maneira,
esta é a única forma de cumprir, e mesmo que fosse possível fazer de outra maneira, é suficiente por
vezes o aviso/a instrução acerca da forma de como evitar o risco/perigo.
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1 - Alguém que causa um determinado acidente por culpa sua, ainda que o não seja.
Pode não ter causado imediatamente danos a terceiros - o carro despistou-se, foi ali embater
no passeio mas ficou com os pneus completamente furados, e não pode ser removido daquele
local. Com o automóvel ali parado, cria-se uma fonte de perigo/risco para terceiros - para a
retirá-lo imediatamente dali? Em primeiro lugar, é telefonar para o pronto-socorro e pedir que
venha retirá-lo, mas enquanto não consegue retirar o automóvel tem de colocar o triângulo -
precisamente para avisar todos os outros condutores que existe ali um risco/perigo, para que esses
outros condutores possam, de forma auto responsável, ligar com esse risco/perigo. Cumpre o seu
dever de prevenção do perigo, numa primeira fase, o automobilista que tem este comportamento -
ele cria um perigo, mas ao avisar os restantes automobilistas de que esse perigo existe, vai permitir
que eles lidem, de uma forma auto responsável, com esse perigo/risco, podendo evitá-lo (quando
colocamos o triângulo como que transmitimos a mensagem que “cuidado, há um impedimento
qualquer, e portanto há ali um veículo em princípio imobilizado, vamos ter cuidado e temos o
dever de ter esse cuidado”). Nesse sentido, está a cumprir esse dever de prevenção do perigo, que
conter um aviso de que é proibida a entrada no estaleiro a pessoas estranhas, e esse dístico
deve conter a mensagem de que quem lá entrar está sujeita a riscos ou perigos. Portanto, a
não entrada ou a proibição de entrada a estranhos à obra, não tem como finalidade proteger o
próprio estaleiro de eventuais furtos, mas antes tem também como finalidade proteger os
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2. Quando não é suficiente informar, então o lesante ou aquele que cria o risco/perigo tem de
agir de forma direta sobre o foco de perigo, eliminando-o. Muitas vezes não são suficientes ou não
se cumprem estes deveres de prevenção avisando/instruindo, muitas vezes é necessário reagir sobre
o próprio foco de risco/perigo, eliminado esse risco/perigo.
1 - Supra dissemos que primeiro informa que está lá o veículo parado/imobilizado, mas
2 - No caso dos estaleiros, pode acontecer que seja suficiente, em determinados meios,
conter o dístico de que é proibida a entrada, mas noutras situações é necessária fechar mesmo
o próprio estaleiro, insolando-o, evitando assim que lá entrem pessoas que estejam sujeitas
Esta ideia encontra apoio na nossa lei civil, nomeadamente no art. 493º CC (nomeadamente
no que toca a riscos ligados a atividades, e riscos ligados à detenção de determinadas coisas), que
vem estabelecer uma presunção de culpa. A ideia de que há determinados riscos ligados à detenção
de coisas, ou há determinados perigos ligados à detenção de animais que geram responsabilidade,
salvo se o detentor ou o vigilante destas coisas ou dos animais provar que cumpriu o seu dever de
vigilância, ou seja, que tudo fez para evitar que o risco/perigo não se concretizasse num determinado
dano.
E depois também no nº2, que diz respeito a riscos ligados ao exercício de determinadas
atividades consideradas perigosas, e que geram também responsabilidade, a menos que se prive que
se tentou prevenir esses danos.
Portanto este art. 493º CC é precisamente uma consagração daquilo que nós acabámos por
referir - a ideia que muitas vezes nascem deveres de prevenção do perigo que se fundamentam na
criação/manutenção dessa fonte de perigo para terceiros. Quem cria esse perigo deve fazer tudo
para evitar que ele se concretize num determinado dano.
Fora destas situações, depois a doutrina, nomeadamente a doutrina alemã e alguma doutrina
nacional, fala também de outros casos de um nascimento de um dever de ação, cuja omissão é
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consciência de estar a emitir uma declaração negocial, ainda que tácita, cuidar de uma criança.
Ex.: um dos vizinhos vai ao supermercado, e diz para o outro: “podes ficar com o menino 10
minutos” e nós acabamos por ficar os 10 minutos com a criança - não podemos dizer que existe
aqui efetivamente a emissão de uma declaração negocial, que assumimos, mediante um contrato,
um dever de cuidado da criança. Mas durante os tais 10 minutos em que aceitamos ficar com a
criança, temos o dever de fazer de tudo para evitar que ela se venha a magoar, ou que lhe
aconteça algo de menos bom. Falamos aqui na assunção fáctica de uma responsabilidade - o que
está na base da assunção de um dever de agir (de vigiar ou de cuidar da criança) não é a lei, nem
Fala-se ainda naqueles casos, à semelhança do direito penal, em que o dever de agir decorre
pais e filhos, porque aí o dever de ação é um dever que tem por fundamento a própria lei) - entre
namorados, entre noivos, entre marido e mulher, etc. -, em que o dever de solidariedade em caso
de necessidade de um dos membros justifica-se por essa maior relação de proximidade, familiar.
Exemplo2: Também a proximidade existente entre as chamadas comunidades de risco -
por vezes, a participação numa determinada comunidade de risco leva à assunção de certos
deveres de ação, quando um ou vários elementos participantes nessa unidade necessita de auxílio
Note-se que estes são casos marginais, e o que mais nos importa, e que tem reflexos na
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(2) ILICITUDE
O segundo pressuposto da responsabilidade civil é a ilicitude. Para efeitos de responsabilidade
É ilícito quando viola uma norma legal destinada a proteger direitos alheios;
É ilícito quando configura a existência de um abuso de direito.
ANTUNES VARELA diz que os direitos familiares patrimoniais têm eficácia externa, mas esta é uma
questão sem relevância prática; quanto aos pessoais, estes não têm eficácia externa. Por ex., se um
2) Violação de uma disposição legal destinada a proteger interesses alheios: está em causa a
“infração das leis que, embora protejam interesses particulares, não conferem aos respetivos titulares
um direito subjetivo a essa tutela”. Não há verdadeiramente um direito, mas um interesses tutelado.
São raras as disposições em que não há direito mas há interesse, mas encontramos algumas
exceções, de normas de proteção – por ex., normas penais de ordenação social ou normas de
proteção rodoviária. Também podemos ter casos de normas que protegem interesses particulares,
mas sem dar ao respetivo titular um direito subjetivo (é o que sucede no art. 1391.º).
Para que o lesado tenha direito à indemnização nestes casos, é necessário que se verifiquem três
requisitos:
1. Que a lesão dos interesses do particular corresponda à violação de uma norma legal.
2. Que a tutela dos interesses do particular figure entre os fins da norma violada.
3. Que o dano se tenha registado no círculo de interesses privados que a lei visa tutelar.
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Assim, temos de conhecer o âmbito de proteção material (que interesses?) e pessoal (que
pessoas?) destas normas: o caso mais famoso ocorreu com uma criança que subiu a um poste de
eletricidade e ficou eletrocutada. Verificou-se que o poste não tinha a altura regulamentada: qual
o âmbito de proteção da norma que estabelece a altura mínima? É a de permitir a circulação, por
baixo dos postes, e não a de proteger as crianças.
3) Abuso do direito - art. 334.º: há abuso do direito, segundo a conceção objetivista do art.
334.º, sempre que o titular de um direito o exerce com manifesto excesso dos limites impostos pela
boa-fé, pelos bons costumes, ou pelo fim económico ou social desse direito.
Em sede de responsabilidade civil, é particularmente importante não tanto a violação da boa
fé (que carece de uma relação especial), mas sim as outras modalidades: violação dos bons costumes
ou do fim social do direito. Por ex., um autor quer exercer o seu direito de retirada de uma obra, não
por motivos pessoais, mas para prejudicar o editor – viola o fim social do direito de retirada.
de ilicitude:
1. Factos ofensivos do crédito ou bom nome das pessoas, art. 484.º. Independentemente da
questão de saber se existe ou não um direito subjetivo ao bom crédito, consideram-se objetivamente
ilícitas as condutas que ameacem lesá-los. Para que a afirmação ou divulgação de factos seja
considerada ilícita, é necessário que o facto não seja verdadeiro? A doutrina divide-se: para
ANTUNES VARELA, não importa que o facto seja verdadeiro ou não: basta que o facto divulgado ou
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vontade da pessoa para cumprir as suas obrigações ou de abalar o seu prestígio. Para outros autores,
três casos em que há responsabilidade: (1) quando se tenha assumido a responsabilidade pelos
danos; (2) quando haja o dever jurídico de os dar e se tenha agido com culpa; (3) e quando o
procedimento do agente seja criminalmente punível. Quanto ao segundo caso, importa notar que o
dever de informação é uma concretização do art. 227.º (dever de atuar de boa fé).
3. Omissões, art. 486.º. Para que uma omissão seja considerada um facto ilícito, tem de haver
o dever (imposto por lei ou negócio jurídico) de praticar o ato omitido, e este pudesse normalmente
ter evitado a verificação do dano (omissão casual). O dever imposto tanto pode resultar de uma
norma percetiva, que diretamente imponha certa ação (omissão pura), como provir indiretamente da
norma que imponha a colaboração na prevenção de certo resultado, punido ou reprovado pela lei
(comissão por omissão). Destaca-se o dever jurídico de prevenção do perigo: quem criar uma
situação especial de perigo para terceiros deve tomar todas as medidas razoavelmente exigíveis com
vista à prevenção de consumação desse risco.
consentimento do ofendido. No fundo, um comportamento deixa de ser ilícito, mesmo que viole um
direito absoluto de outrem, ou uma norma legal destinada a proteger interesses alheios, quando ele
forma de realização da justiça característica dos sistemas primitivos, que foi gradualmente perdendo
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importância. O Código Civil admite a ação direta em termos genéricos, mas com requisitos
apertados:
Fundamento real: tem de haver um direito próprio, um direito pessoal, que se quer realizar
ou assegurar.
Adequação: o agente não pode exceder o estritamente necessário para evitar o prejuízo. O
n.º3 do artigo 336.º concretiza dizendo que a ação direta não é lícita quando sacrifique
adequação, da proporcionalidade dos meios em relação aos fins (valor relativo dos
interesses em jogo).
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pessoa ou do património, seja do agente, seja de terceiro”. Para que um facto seja lícito ao abrigo da
legítima defesa, é necessário que se verifiquem os seguintes requisitos:
Agressão: tem de haver uma agressão, que se traduz numa ofensa da pessoa ou dos bens de
alguém.
tratar-se de um inimputável.
b. Enquanto que a ação direta é uma forma de auto-tutela, apenas serve para realizar
direito próprio, na legítima defesa podemos agir em defesa da pessoa ou património de terceiro.
Necessidade da reação: não pode ser viável nem eficaz o recurso aos meios normais.
Adequação: o meio usado não pode provocar um dano manifestamente superior ao que se
pretendeu afastar.
O n.º2 acrescenta que o ato considera-se igualmente justificado, ainda que haja excesso de
legítima defesa, se o excesso for devido a perturbação ou medo não culposo do agente.
Na legítima defesa, além de ser lícito o ato de quem se defende e, como tal, não se admitir a
superior, quer do agente, quer do terceiro, destrói ou danifica coisa alheia”. Por maioria de razão,
também se considera lícito o ato de quem usa coisa alheia sem autorização. O estado de
necessidade consiste, assim, na “situação de constrangimento em que age quem sacrifica coisa
alheia, com o fim de afastar o perigo atual de um prejuízo manifestamente superior”. Distingue-
se da legítima defesa na medida em que o perigo provém, não de uma agressão, mas sim de
circunstâncias externas.
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Como o perigo não provém de uma agressão prévia do lesado, e porque os interesses do titular
da coisa são legitimamente sacrificados mas em proveito de outrem, a obrigação de indemnização
dos danos causados pode não ficar excluída – o agente fica obrigado a indemnizar os danos
sempre que a situação de perigo tenha sido provocada por sua culpa exclusiva, sendo que aqui a
responsabilidade segue as regras gerais. Fora deste caso, o tribunal pode fixar uma indemnização
equitativa e condenar nela não só o agente, como aqueles que tiraram proveito do acto ou
contribuíram para o estado de necessidade.
ao hospital.
3. Um cão ataca uma pessoa, que mata o cão para afastar o perigo, atuando em estado de
necessidade.
4. Para evitar o atropelamento de uma criança quando conduz, alguém conduz o carro para
Neste último caso, quem tem o dever de indemnizar o dono do muro, os pais ou o agente?
CALVÃO DA SILVA acha que a melhor solução era levar os pais da criança, podendo, a indemnizar –
responsabilidade solidária, tendo o agente direito de regresso quanto aos pais da criança,
responsáveis por andar “à solta” Se os pais não tiverem possibilidades, pode o juiz condenar então os
dois: o agente e os pais. A nossa lei dá esta grande margem de apreciação ao julgador.
O dever de indemnizar o dono do muro nos termos da equidade por parte do lesante ou dos
pais é a regra geral. Mas imagine-se que o muro é do próprio lesante: há quem pense que nesta
situação temos uma gestão de negócios, e aplicam o regime desta para justificar a indemnização, o
dever de reparar os danos ao muro. Há divergência doutrinal quanto a se se aplicam as regras da
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A atuação em estado de necessidade é lícita, logo não pode haver legítima defesa contra a
pessoa que atua em estado de necessidade.
que, sem ela, constituiria uma violação desse direito ou uma ofensa da norma tuteladora do
respetivo interesse”.
Trata-se de um consentimento autorizante.
O consentimento do lesado não exclui, porém, a ilicitude do ato, quando este for contrário a
uma proibição legal ou aos bons costumes. Para além disto, há direitos indisponíveis, que não
existência diariamente de uma eutanásia passiva nos hospitais, máquinas que são desligadas a
pessoas em estados vegetativos, deixando a pessoa entregue a si própria para morrer; distingue-se
da ativa, em que é dado um comprimido que provoca a morte da pessoa. É mais uma lacuna
legislativa, neste caso voluntária, do que uma proibição).
Ao lado deste consentimento autorizante legal, que não ofenda a ordem pública e os bons
costumes, há o chamado consentimento presumido (n.º3). Tem-se por existente o consentimento
do lesado nos casos em que esta se deu no interesse do lesado e de acordo com a sua vontade
presumível, ou seja, olha-se ao que a pessoa diria se esta estivesse consciente e convenientemente
informada. Esta presunção tem um campo especial de aplicação no caso das intervenções cirúrgicas
em que o doente não está em condições de dar o seu consentimento.
Finalmente, no caso de certas práticas desportivas mais violentas, como o boxe ou a Fórmula
1, ou no caso do tabaco, tem-se entendido que há uma aceitação tácita e recíproca dos riscos de
acidentes ou lesões que essas atividades envolvem. Ou seja, não pode uma pessoa a morrer de
cancro provocado pelo tabaco propor uma ação de responsabilidade civil contra a indústria
tabaqueira. Consideramos que existe aqui uma assunção ou aceitação do risco, pelo que o ato,
devidamente consentido, deixa de ser ilícito.
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Em primeiro lugar, temos de saber quem é imputável, ou seja, que requisitos são necessários para
que uma pessoa seja suscetível do juízo de culpa.
(3.1) IMPUTABILIDADE
querer (capacidade volitiva). Assim, diz-se inimputável aquela pessoa a quem falta esta dupla
capacidade no momento da prática do facto (art. 488.º/1).
Capacidade intelectual: é a capacidade de entender os seus atos e os efeitos dos seus atos
(em termos éticos e não jurídicos). Está em causa o discernimento ético e social.
Capacidade volitiva: é a capacidade de autodeterminação do sujeito e de se conformar ao
entendimento face à sua atuação. Por vezes, os doentes mentais têm consciência de que não
estão a atuar corretamente mas não se conseguem autodeterminar no sentido de não praticar
o facto.
No n.º 2 do art. 488.º, a lei presume a inimputabilidade dos menores de sete anos e dos
interditos por anomalia psíquica. Para além destes, serão inimputáveis, por exemplo, os que
pratiquem o ato em estado de embriaguez completa, durante o sono, um ataque epilético, um
acesso de febre elevada, etc.
vigilância do agente, salvo se se verificar alguma das circunstâncias previstas no art. 491.º. No caso
em que não haja pessoas obrigadas ou se verifique uma dessas circunstâncias, a lesão fica sem
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vigilância do autor da lesão, o Código Civil admite que a pessoa imputável seja condenada a
indemnizar total ou parcialmente o lesado, quando razões de equidade assim o imponham (art.
489.º): o lesado ficou numa difícil situação económica, haja um grave desequilíbrio económico entre
o lesado e o autor, o montante do prejuízo é elevado, a conduta do agente é particularmente grave,
etc.
Note-se que esta não é uma responsabilidade objetiva, independente de culpa: o agente
responde nos termos em que responderia se fosse imputável e praticasse o mesmo facto. A única
diferença é que responde segundo critérios de equidade. O n.º 2 estabelece, porém, um limite a esta
responsabilidade: não pode prejudicar os alimentos do inimputável nem os deveres legais de
alimentos que recaiam sobre ele.
NOTAS:
1. É uma responsabilidade subsidiária: desde que não seja possível obter a reparação dos
vigilantes.
2. Não é uma responsabilidade absoluta, é relativa por ser segundo os critérios da equidade
(n.º 2): o juiz pode achar que é necessário proteger o lesante. O juiz pode obrigar à reparação total
ou parcialmente.
3. É preciso que o facto, analisado objetivamente, possa ser classificado como facto ilícito e
(3.2) CULPA
3.2.1. NOÇÃO
relativo à conduta do agente, segundo o qual este poderia e deveria ter agido de forma
diferente. O sujeito é culpado porque a sua conduta é censurável. Este juízo de culpa pode revestir
duas formas: o dolo e a negligência.
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Dolo:
Direto;
Necessário ou indireto;
Eventual.
Inconsciente.
1) DOLO
No dolo direto, o agente quer diretamente realizar o facto ilícito, ou seja, representa o efeito
da sua conduta e quer esse efeito como fim da sua atuação, apesar de conhecer a sua ilicitude. O
agente prevê exatamente as consequências do seu ato, os danos que vão ocorrer e tem intenção de
provocar esses mesmos danos.
Exemplo: Alguém que quer provocar a morte de outrem, e desfere um tiro – tem
consciência de que, ao desferir o tiro, vai causar o dano “morte”, e tem intenção de o causar. A
ligação da vontade do agente ao resultado verificado é direta, ele provocou o dano cuja intenção
queria ter provocado.
No dolo necessário, o agente não quer diretamente o facto ilícito, mas prevê-o como uma
consequência necessária da sua conduta e nem por isso deixa de agir. O efeito ilícito e o resultado
Exemplo: A quer destruir uma coisa de B e sabe que, para tal, tem de destruir também uma
coisa de C. Existe dolo direto em relação à primeira coisa e necessário em relação à segunda.
Finalmente, no dolo eventual, o agente prevê o facto ilícito, não como uma consequência
necessária da sua conduta, mas como um efeito apenas possível ou eventual. Não é fácil de aferir
em concreto, sendo que o critério mais seguido pela doutrina e jurisprudência para aferir do dolo
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eventual passa pela resposta à seguinte pergunta: que teria feito o agente se previsse o facto ilícito,
não como mera consequência possível, mas como efeito necessário da sua conduta? Se tivesse
praticado o facto, temos um caso de dolo eventual.
sentido diferente do seu, o condutor não abranda e segue em velocidade excessiva, não se
importando com o risco de um acidente, que vem a ocorrer. As fronteiras entre o dolo eventual e
2) NEGLIGÊNCIA
Na negligência inconsciente, o autor prevê o facto ilícito como possível, mas por desleixo crê
na sua não verificação, e só por isso não toma as providências necessárias para o evitar.
Enquanto que no dolo eventual o sujeito representa a prática do facto mas mostra-se
indiferente, na negligência o sujeito sabe que vai praticar um facto ilícito mas acredita, por
imprudência, que estes não se vão realizar. No dolo eventual há uma indiferença face aos danos
(dupla negativa), na negligência inconsciente o sujeito não prevê mas deveria ter previsto.
de prudência.
Podemos achar que a negligência consciente é sempre mais grave, mas não é
necessariamente assim: VAZ SERRA previa que a inconsciente era mais grave, mas não foi esta que
vingou.
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Na negligência, existe uma ligação da pessoa com o facto menos forte que o dolo, mas
mesmo assim reprovável ou censurável.
tivermos em conta que o conceito de “mera culpa” serve muitas vezes, nomeadamente, no art. 484º
CC para reduzir o montante indemnizatório ao valor dos respetivos danos. Assim podemos utilizar o
distração menos grave. Tem relevo nesse sentido, embora a “mera culpa” seja a simples negligência
(em contraposição do dolo), mas se se tratar de uma negligência grosseira, muito grave, num grave
atentado às regras básicas de convivência, de facto, não podemos retirar daí as consequências que
são normalmente assacadas à ideia de “mera culpa”.
3) RELEVÂNCIA PRÁTICA
mera culpa do agente. A ideia subjacente é a de que, se não houve intenção de causar danos, o
lesante pode pedir ao juiz que reduza a indemnização.
responsáveis, sendo que o montante que vai exigir de cada um é em função do grau de culpa. Se
houver dois lesantes, A e B, e se A atuar com dolo direto e B com negligência, A terá de pagar mais
que B.
3. Montante indemnizatório a título de compensação pelos danos não patrimoniais: o art.
496.º/4 diz que o montante indemnizatório será fixado equitativamente, tendo em conta as
circunstâncias do art. 494.º. O juiz tem diretrizes legais: julga segundo a equidade (não há tabelas
legais), e está condicionada por três fatores: o grau de culpabilidade do agente, a situação
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a. A causa um acidente de viação contra B, de 88 anos, e C, de 8 anos. Age com dolo direto
sofre mais. Deve haver uma certa proporção entre o montante e o grau de culpa.
b. Mas devemos ponderar também outras circunstâncias do caso concreto: quem sofre mais
é C, que tem 8 anos, por causa da duração da lesão (este é um fator a ponderar).
Assim, regra geral a culpa não é o critério que dá a compensação do dano, a não ser no
caso dos danos não patrimoniais. Enquanto que nos danos não patrimoniais, o juiz tem de atender
a várias circunstâncias; nos danos patrimoniais, a indemnização é fixada em função do montante dos
danos. Não existe no nosso sistema a figura dos danos punitivos, que vão para além dos danos reais
e visam sancionar a conduta do agente por esta ter sido censurável. Esta questão está muito próxima
dos danos não patrimoniais: a compensação dos danos não patrimoniais não tem um valor ab initio,
é necessário atender a vários fatores; já nos danos patrimoniais, temos um valor fixo, e perguntamos
se tem sentido dar um valor extra – a resposta é não, o limite máximo da indemnização é o valor do
lesado também tenha concorrido para a produção do respetivo dano -, a lei manda atender não só à
culpa do lesante mas também à culpa do lesado, para saber se a indemnização deve ser totalmente
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necessário saber qual o padrão de conduta a que se recorre, sendo que existem dois critérios
possíveis:
concreto. Também pode ser maleável em função das circunstâncias profissionais (não se pode exigir
a um estagiário advogado o mesmo que a um advogado).
Assim, nos termos do art. 487.º/2, a culpa é apreciada pela diligência do bom pai de
família, nas circunstâncias do caso (fazer remissão recíproca para o art. 789.º/2, que diz que a
culpa é apreciada nos mesmos termos da responsabilidade extracontratual). O bom pai de família é o
homem médio do sector, da atividade em causa; sendo que é necessário ainda um enquadramento
fáctico, nas circunstâncias do caso concreto. Qual a racionalidade da adoção deste critério?
quando tem de parar de operar, pela perda de faculdades que a idade acarreta.
Para além disto, é um critério mais justo do ponto de vista da vítima: não seria justo deixar
uma vítima de um acidente sem indemnização pelo facto de o condutor ser cego.
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DEFICIENTE
esforce para cumprir. E portanto, se tal como é se esforçou para cumprir, agiu sem culpa (agiu com a
tal diligência normal que nós entendemos).
Na culpa como deficiência da conduta, já não basta que a pessoa se esforce para cumprir. É
necessário que tenha as aptidões, o bom senso e a razoabilidade do tal homem médio. Portanto não
basta que ela se esforce para cumprir, é necessário mais do que isso - é necessário que ela tenha as
aptidões para levar a cabo determinada conduta, e se não tiver essas aptidões, que em último termo
Exemplo: Um médico que, depois de uma noite infernal numa urgência, pega num
automóvel e dirige-se para casa, está cansado, não tem quase capacidade para conduzir e ter a
atenção devida. E em virtude desse cansaço provoca um acidente. Ele esforçou-se para cumprir
(ele veio em esforço, a tentar manter a atenção que devia no trânsito), mas não conseguiu, e por
minutos fechou ali os olhos e embateu num peão. Este condutor agiu ou não com culpa?
Somos levados a entender que sim, ou seja, apesar de haver um esforço da vontade (ou
seja, apesar de haver um empenho ao nível da vontade), ele não tinha naquele momento a
aptidão necessária para levar a cabo aquele comportamento. Há aqui a exigência de que o próprio
lesante se auto-avalie, avalie a suas capacidades, em em última análise deixe de praticar os atos
Para ANTUNES VARELA, apesar de a letra da lei apontar sobretudo para o empenho da
vontade, a melhor solução e aquela que melhor se coaduna com o critério da culpa em abstrato é a
que define a mera culpa como uma conduta deficiente e não a restringe a uma simples deficiência na
vontade, pelos mesmos motivos que levam à adoção do critério da culpa em abstrato – é um critério
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mais pedagógico e mais justo do ponto de vista do lesado. Para além disto, quanto às deficiências
mais graves (como cegueira ou surdez), esta orientação terá a vantagem de levar o interessado a
coibir-se dos atos que escapam ao círculo das suas aptidões naturais.
Sendo a culpa do lesante um elemento constitutivo do direito à indemnização, nos termos das
regras gerais incumbe ao lesado fazer a sua prova (art. 342.º/1). Isto é o que consta do art. 487.º: é
ao lesado que incumbe provar a culpa do lesante, salvo quando haja presunção de culpa. O que
nos interessa aqui é a exceção à regra geral, que consta do art. 344.º: quando haja uma presunção
legal, as regras invertem-se, ou seja, o ónus da prova inverte-se. O lesante afastará a sua
responsabilidade provando que a sua conduta foi diligente. As presunções legais de culpa são as que
constam dos arts. 491.º, 492.º, 493.º e 503.º/3.
Também quando haja uma violação de uma norma de proteção (por ex., do direito penal ou
do direito rodoviário) o juiz presume a culpa – temos uma presunção judicial de culpa. Um dos
autores que contribuiu para esta posição foi SINDE MONTEIRO, e tem a ver com a força jurídica das
normas de proteção: quando são violadas, presume-se que os interesses que esta visava proteger
1) Art. 491.º: Responsabilidade das pessoas obrigadas à vigilância de outra – pais, tutores,
enfermeiros, professores, etc.
outrem, por lei ou contrato, por virtude da incapacidade natural das pessoas vigiadas, são
responsáveis pelos danos que os vigiados causarem a terceiros. Há aqui uma presunção legal de
culpa pois no artigo se lê "salvo se mostrarem que cumpriram o dever de vigilância ou se mostrarem
que os danos se teriam produzido à mesma". Estas são, portanto, duas formas de afastar a
responsabilidade:
1. Cumprimento do dever de vigilância – Alegando e mostrando que se cumpriu o dever de
vigilância, neste caso está a afastar-se a culpa, isto é, a ilidir-se a presunção de culpa e afasta-se
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em relevância negativa da causa virtual. A causa virtual, como o próprio nome sugere, é a causa que
levaria ao dano se ele não fosse provocado pela causa real.
NOTAS:
1. Não se podem tratar de danos causados ao próprio vigilante – aí, têm de se ir buscar as
regras gerais do art. 483.º e 489.º, não havendo qualquer inversão do ónus da prova.
2) Art. 492.º: consagra uma presunção de culpa do proprietário ou possuidor de uma obra
que ruir devido a defeito de construção ou conservação (é o mais comum), que responde pelos
danos que causar, salvo se provar que não houve culpa da sua parte ou que, mesmo com a diligência
devida, os danos não se teriam evitado (de novo a relevância negativa da causa virtual). Novamente
temos aqui duas formas de ilidir a presunção de culpa:
NOTAS:
1. Esta solução estende-se a outras obras, sendo consideradas como tais todas as construções
ligadas ao solo ou unidas ao prédio (muros, pontes, colunas, aquedutos, poços, canais, postes, etc.),
mas não as coisas móveis sem tal ligação (ex: vaso) nem os produtos naturais ligados ao solo (como
as árvores).
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2. Pode haver aqui lugar à responsabilidade contratual do empreiteiro por defeito nas obras
de construção e conservação, perante o dono da obra ou por danos causados a terceiro, que é uma
responde, mas sim quem tiver o dever de o conservar (por ex., o usufrutuário, art. 1472.º). Se
também houver culpa do proprietário ou possuidor, respondem ambos solidariamente.
3) Art. 493.º: consagra uma presunção de culpa no caso de danos causados por coisas,
animais ou por atividades perigosas. O n.º 1 abrange as coisas e animais e o n.º 2 o exercício de
atividades perigosas.
N.º 1: quem tiver a seu cargo a vigilância de coisas móveis/imóveis ou de animais responde
pelos danos que estas causarem, salvo se ilidir a presunção através da prova do cumprimento ou da
relevância negativa da causa virtual. Esta também é uma responsabilidade do vigilante, distinguindo-
se do art. 491.º pois este se refere à vigilância de pessoas. Note-se que não é o proprietário que
responde, mas sim o mero detentor (que pode também ser proprietário).
São possíveis duas interpretações deste artigo: ou o legislador quis abranger qualquer dano
que surgisse pela violação da vigilância, ou quis falar de uma falta de vigilância específica. Por outras
palavras, ou está em causa o poder propriamente dito, a retenção da coisa (quem é detentor da
coisa responde pelos danos que esta causar), ou, numa interpretação mais exigente, é necessário ter
o poder sobre a coisa e o dever de a vigiar. Em bom rigor, não há grande diferença prática, uma vez
que o legislador entende que quem tem a coisa tem o dever de a vigiar; porém, por vezes quem tem
o poder material pode não ter o dever de vigilância e vice-versa.
N.º 2: quem causar danos a outrem pelo exercício de atividades perigosas responde por eles,
salvo se mostrar que empregou todas as diligências necessárias. A exclusão da responsabilidade só
se faz pela elisão da culpa, e não pela prova da relevância negativa da causa virtual. O Código
brasileiro e italiano consagram neste âmbito uma responsabilidade objetiva pelo risco, enquanto que
o nosso se ficou pela culpa presumida, admitindo-se o afastamento da culpa pela prova do emprego
de todas as diligências necessárias. Qual é o padrão de apreciação? É à luz do padrão do homem
médio que se vai apreciar se o exercente empregou ou não todas as diligências necessárias.
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Discutiu-se durante muito tempo se este n.º 2 se aplicava ou não à condução de veículos
automóveis: os tribunais divergiam, até que houve um acórdão uniformizador da jurisprudência de
1980 que veio dizer que a responsabilidade objetiva do art. 503.º excluía a aplicação do art. 493.º.
CALVÃO DA SILVA critica esta solução: também na responsabilidade por animais há
responsabilidade objetiva do art. 502.º, mas isso não exclui a aplicação do n.º 1.
expressamente; e, por outro lado, esta é uma posição extremamente onerosa para o lesante.
Imaginemos que, às 3h da manhã, rui um prédio por defeito de conservação; mas às 4h,
por força de um terramoto, caem todos os prédios num raio de 4 km. Para excluir a sua
responsabilidade, o dono do prédio vai alegar a causa hipotética ou virtual: enquanto que a causa
real é a má conservação, o terramoto é apenas uma causa hipotética ou conjetural, que serve para
alegar que teriam eventualmente causados os mesmos danos. Ou seja, ainda que o proprietário
tivesse feito as obras de conservação, o prédio teria ruído na mesma. Outro caso de causa virtual
é o art. 1136.º/2.
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Até que ponto uma causa virtual pode ser admitida em geral? Em abstrato, a causa virtual pode
ter uma relevância positiva ou negativa:
1. Positiva: o autor da causa virtual responde pelo dano provocado pela causa real.
2. Negativa: a causa virtual exclui a responsabilidade do autor da causa real.
A tese maioritária é a da irrelevância, via de regra, da causa virtual, salvo quando a lei
expressamente preveja a sua relevância. Nos casos que vimos, a causa releva mas negativamente,
e positivamente também se passa o mesmo, pois seria um salto brutal admitir em geral a sua
relevância positiva.
(4) DANO
(4.1) NOÇÃO
Não há responsabilidade civil sem dano. O dano é um prejuízo que alguém sofre, na sua pessoa
Exemplo: Imaginemos que um automóvel embateu num outro, partiu-lhe um farol e o para-
brisas - o dano real é a quebra do farol e a quebra do para-brisas, e o dano patrimonial refere-se às
consequências que esse dano real tem no património do respetivo lesado, ou seja, todas as despesas
que resultam do dano em prejuízo do respetivo património (a despesa que decorre do reboque do
automóvel no caso de ele não conseguir circular sozinho, a reparação - a colocação lá da chapa no
respetivo lugar e a colocação do novo vidro e farol). O dano de cálculo obtém-se através da
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por atingirem bens que não integram o património do lesado (por ex., a honra), não são suscetíveis
de avaliação em dinheiro. Antes, aos danos não patrimoniais era dado o nome de danos morais,
porém esta expressão é muito restrita, abrangendo menos danos que os não patrimoniais (existem
danos patrimoniais que não derivam da ofensa à personalidade moral, como os sofrimentos físicos
ou os danos estéticos).
Durante muitos séculos, vigorou a ideia de que os danos morais não eram indemnizáveis:
posteriormente, estabeleceu-se uma compensação por estes danos, visando substituir os valores
perdidos e dando novos horizontes à vítima – o dinheiro poderia compensar os danos, mesmo não
colocando o lesado na situação que estaria sem a lesão. Dentro desta lógica, há danos diretamente
pessoais, sofridos na pessoa, mas que são indiretamente acompanhados de outros danos
patrimoniais – por exemplo, o mesmo acidente pode causar danos pessoais e patrimoniais.
Os lucros cessantes abrangem os benefícios que o lesado deixou de obter por causa
do facto ilícito, mas a que ainda não tinha direito à data da lesão.
Por exemplo, num acidente com um táxi, será um dano emergente o prejuízo causado no
veículo, e lucro cessante o ganho que deixou de obter pelo facto de não ter o veículo disponível
para as viagens que deveria efetuar.
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O art. 564.º/1 diz que o dever de indemnizar compreende não só o prejuízo causado como os
benefícios que o lesado deixou de obter em consequência da lesão. A primeira parte refere-se aos
danos emergentes, e a segunda parte aos lucros cessantes ou frustrados. O n.º 2 diz que o juiz pode
atender aos danos futuros no cálculo dos danos emergentes e dos lucros cessantes, desde que
previsíveis:
1. No processo declarativo, muitas vezes consegue-se provar que há danos mas não se
consegue quantificá-los, pelo que se pode remeter para a execução da sentença o apuramento do
montante indemnizatório.
2. Ou ainda pode haver danos em curso durante o processo declarativo, que são igualmente
remetidos para a execução (podendo-se fixar uma indemnização provisória, art. 565.º, pelos danos já
A doutrina clássica diz que são apenas os danos negativos, traduzidos na violação da
confiança, que são indemnizáveis em sede de rutura injustificada das negociações; no entanto, a
doutrina moderna diz que devem ser todos os danos indemnizados. Os danos negativos são aqueles
que decorrem do facto de o lesado ter acreditado na celebração do contrato e este não se ter
celebrado;
Enquanto que os danos positivos são aqueles que encontramos na responsabilidade
contratual e que decorrem do incumprimento ou da mora. Esta é uma distinção que interessa à
responsabilidade contratual.
OPORTUNIDADE
1) Danos punitivos: é uma figura muito usada no direito anglo-saxónico. Prende-se com a
função da responsabilidade civil: a sua função decisiva é a função ressarcidora, de colocar o lesante
na posição em que estaria sem a lesão (art. 562.º). Mas há ainda uma função secundária, que é uma
função preventiva, punitiva, sancionatória do lesante. A responsabilidade civil exerce uma pressão
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sobre todos nós no sentido de não causar danos, sob pena de responder sobre eles. A figura dos
danos punitivos é aquela figura na qual se pode indemnizar o lesante por danos superiores aos
danos efetivamente causados, de forma a punir o lesante: está a colocar-se a tónica na punição do
No nosso sistema, de origem romanista, não há lugar para os danos punitivos. Isto resulta
da conjugação dos seguintes argumentos:
não superior. É permitido ao juiz fixar uma indemnização inferior em caso de mera culpa, mas não
uma indemnização superior em caso de dolo, pelo que são proibidos os danos punitivos.
2) Perda de chance ou perda de oportunidade: não há razão para autonomizar esta figura,
porém nos últimos anos tem sido desenvolvida em várias doutrinas, designadamente em França. Este
problema resolve-se em sede de nexo de causalidade: por ex., tomemos o caso real em que um
advogado não envia os papéis a tempo para o recurso e este é dado como deserto, e o cliente
intenta uma ação para indemnização por perda de chance. Podemos aplicar aqui o nexo de
causalidade: é necessário ver a probabilidade de ganhar o recurso. Se a doutrina fosse unânime no
sentido da solução da primeira instância, a probabilidade de ganhar seria muito baixa, ainda que haja
sempre uma probabilidade ínfima de o acórdão inverter a jurisprudência. Assim, pelo nexo de
causalidade, apenas havendo uma probabilidade ínfima de ganhar recurso, o juiz não deve conceder
a indemnização. Em suma, CALVÃO DA SILVA não vê qualquer motivo para autonomizar esta
figura e não se resolver este problema pelas regras gerais do nexo de causalidade. A teoria da
causalidade adequada implica que a probabilidade seja séria, adequada.
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FDUC – DOII 2017/2018
argumentos:
1. Natureza irreparável dos danos.
2. Impossibilidade de fixar, sem uma larga margem de arbítrio, a compensação. Porém, a estes
argumentos tem-se replicado com a afirmação de que a prestação pecuniária a cargo do lesante,
além de constituir uma sanção adequada, pode contribuir para atenuar e compensar os danos
sofridos pelo lesado: “entre a solução de nenhuma indemnização atribuir ao lesado, a pretexto de
que o dinheiro não consegue apagar dano, e a de se lhe conceder uma compensação, reparação ou
satisfação adequada, ainda que com certa margem de discricionariedade na sua fixação, é
tendo adotado no n.º 1 a indemnização dos danos não patrimoniais em geral, ao contrário dos
outros Códigos, que apenas consagravam a admissibilidade da compensação dos danos não
ressarcibilidade dos danos não patrimoniais aos casos expressamente previstos na lei, o art. 496.º
consagra a sua ressarcibilidade em geral mas limitada aos danos graves. O termo “gravidade” dá
uma grande margem de discricionariedade ao juiz, que lhe permite ter em conta a nova sociedade
tecnológica, ou seja, permite uma interpretação atualista muito forte que não é possível na solução
1. A gravidade do dano mede-se por um padrão objetivo, não relevando fatores subjetivos
(como uma hipersensibilidade).
2. Para além disto, a gravidade aprecia-se em função da tutela do direito, ou seja, o dano
deve ser de tal modo grave que justifique a concessão de uma satisfação de ordem pecuniária ao
lesado.
lesado e lesante, aos padrões de indemnização geralmente adotados na jurisprudência, etc. O facto
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de a lei mandar atender à culpa do lesante e à situação económica do lesado revela que esta
compensação tem uma natureza mista: por um lado, visa reparar os danos sofridos, por outro, tem
uma função sancionatória.
morte da vítima, sendo que esta referência especial se justifica pela necessidade de designar o
titular do direito à indemnização. Isto porque se coloca o problema de saber se a própria perda da
vida, em si mesma considerada, conta ou não como um dano autónomo, cuja reparação confere aos
herdeiros, por sucessão mortis causa, um direito a indemnização. Este problema foi resolvido em
sentidos diferentes por dois acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça, de 1969 e 1971:
pela vítima e aos danos sofridos pelo cônjuge ou parentes. No entanto, ANTUNES VARELA
argumenta que o facto de o art. 496.º/2 reconhecer um direito próprio, por danos não patrimoniais,
ao cônjuge e parentes não exclui a possibilidade de lhes reconhecer, ao mesmo tempo, um direito à
indemnização pelos danos morais causados à vítima e de neles se incluir o dano da perda da vida.
integrando o seu património e transmitindo-se aos herdeiros por sucessão mortis causa. No fundo,
há como que uma ficção.
CALVÃO DA SILVA adota esta última tese, de que o direito à indemnização constitui um
direito que se transmite iure hereditario, e não um direito próprio das pessoas enumeradas no
art. 496.º/2.
Já ANTUNES VARELA considera que este é um direito próprio do cônjuge e parentes mais
próximos da vítima, uma vez que "a morte é um dano que, pela própria natureza das coisas,
se não verifica já na esfera jurídica do seu titular". Para tal, convoca ainda os seguintes
argumentos:
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FDUC – DOII 2017/2018
O dano traduzido na perda de vida do lesado ocorre num momento em que, deixando
ele de existir, o direito à reparação já não se pode constituir na sua esfera jurídica.
O facto de se atribuir como direito próprio às pessoas do art. 496.º/2 a faculdade de
exigir a reparação por um dano relativo a um bem pertencente a outra pessoa nada
tem de anómalo – basta pensar, por ex., no art. 71.º.
Em suma, na indemnização pelo facto da morte da vítima, são ressarcíveis três tipos de danos:
1. Dano da perda da vida em si. Este dano passou a ser ressarcível com o acórdão do Supremo
3. Danos não patrimoniais sofridos por alguns familiares ou outras pessoas, definidos como
titulares pelo legislador.
aos pais e outros ascendentes; e, na falta de uns e outros; aos irmãos e sobrinhos com direito de
representação. O n.º 3 veio acrescentar os unidos de facto.
O Código Civil não se refere expressamente a este problema, salvo no art. 563.º (relativo à
obrigação de indemnização), onde se diz que a obrigação de indemnização só existe em relação aos
danos que o lesado provavelmente não teria sofrido. Esta é a palavra-chave: o nexo de causalidade
todas as circunstâncias que interferem no respetivo processo causal são causas do resultado; dentro
do processo causal, são causas todas as condições sem as quais o resultado não se teria produzido.
Porém, rapidamente esta doutrina começou a ser criticada por conduzir a resultados que
repugnam ao sentimento comum de justiça.
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Imaginemos que A tem um acidente, é levado para o hospital, tem de levar uma transfusão
Se apenas se aceitasse a teoria da condição sine qua non, teríamos aqui uma responsabilidade
conjunta de inúmeros agentes – da pessoa que causou o acidente, da pessoa que levou A para o
causalidade, tendo entretanto surgido teorias mais seletivas para dar resposta ao problema da
causalidade. Ainda hoje, em França, é seguida a doutrina da condição sine qua non, pois esta dá
responsáveis vários, em regime de solidariedade, em relação à vítima, que depois se devem entender
em sede de ação de regresso.
Assim, tornou-se necessário apurar melhor, no processo causal, onde se deve localizar o
verdadeiro causador do dano. Partindo da teoria da condição sine qua non como ponto de partida,
surgiu a doutrina da causalidade adequada: não basta que o facto praticado pelo agente tenha
sido, no caso concreto, condição do dano; é ainda necessário que, em abstrato o facto seja uma
fazer um juízo abstrato, o que significa que se devem tomar em consideração as circunstâncias
cognoscíveis à data do facto por um observador experiente, mais as circunstâncias efetivamente
conhecidas do lesante.
NOTAS:
1. Para que haja causa adequada, não é necessário que o facto, só por si, sem a colaboração
de outros, tenha produzido o dano. Nada obsta a que o facto seja apenas uma das condições do
dano.
2. Para que um dano seja considerado como efeito adequado de certo facto não é necessário
que ele seja previsível para o autor desse facto, basta que seja objetivamente adequada.
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1. Formulação positiva: o facto é causa adequada do dano sempre que constitua uma
consequência normal ou típica deste. Assim, segundo esta formulação, é necessário provar a conditio
sine qua non mais a causa adequada, em abstrato, em geral, do dano; logo é o lesado, que invoca o
direito à indemnização, que tem de fazer a prova de que o facto do agente é condição sine qua non
e causa adequada do seu dano, em geral e em abstrato.
2. Formulação negativa: o facto que atuou como condição do dano só deixa de ser
considerado como causa adequada se se mostrar indiferente para a verificação do dano, ou seja, se o
tiver provocado por virtude de circunstâncias excecionais ou anómalas. A conditio sine qua non tem
de ser provada pelo lesado, mas presume-se causa adequada do dano, pelo que se inverte o ónus da
prova, cabendo ao lesante provar a não adequação. Vale dizer que cabe ao lesante provar que o
dano se deve a circunstâncias extraordinárias, anormais, excecionais, ou seja, que no caso concreto
aquele dano foi anormalmente causado por ele. Esta é uma posição mais favorável ao lesado.
considerado causa dos danos que constituam uma consequência típica dele; todos os outros devem
ser suportados pelo titular dos interesses afetados.
sobre este.
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O facto ilícito só deixará de ser considerado causa adequada quando tenham concorrido
decisivamente circunstâncias extraordinárias, fortuitas e excecionais.
O art. 563.º, apesar de não ser claro, consagra a teoria da causalidade adequada, o que
resulta também dos trabalhos preparatórios do Código. Quanto à opção por uma das formulações,
não faz qualquer referencia, pelo que é deixada margem ao intérprete – sendo a doutrina mais
defensável a da formulação negativa, “será essa a posição que, em princípio, deve reputar-se
recentemente tem sido posto em causa na doutrina alemã, por autores que defendem a teoria do
fim da norma na responsabilidade por factos ilícitos. Segundo esta teoria, se o dano se subsume no
fim da norma, no seu âmbito de proteção, esse dano deve ser indemnizado. A doutrina alemã
moderna tem transferido o fim da norma para a causalidade adequada, defendendo que o fim da
ANTUNES VARELA diz que uma coisa não impede a outra: se o dano se subsume no fim da
norma, é ilícito, mas ainda assim o facto ilícito pode não ser adequado a produzir o dano . Por
outro lado, em certos casos não se torna necessário recorrer à teoria do fim da norma para delimitar
a responsabilidade do agente, pois esta falha logo no requisito da ilicitude – por exemplo, na
segunda modalidade da ilicitude, se o dano não cair no âmbito da disposição legal, o facto não é
ilícito. O fim da norma não prescinde do apuramento do nexo da causalidade. O art. 483.º é claro na
distinção: fala do dano resultante, logo há necessidade de apurar se o dano resultante foi causado
adequadamente pelo autor.
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extracontratual.
A obrigação de indemnização tem como função principal, nos termos do art. 562.º, a
reconstituição da situação que existiria se o facto não tivesse sido praticado (situação hipotética
atual). Deve abranger todos os danos, e só esses, de que o facto foi causa adequada (art. 563.º).
punitivos).
A questão que se coloca é: como se procede à reparação dos danos? O art. 566.º/1 dá-nos a
a remoção direta do dano real à custa do responsável, pois este será o meio mais eficaz de garantir o
interessa da integridade das pessoas, dos bens, ou dos direitos sobre estes. Assim, se o dano consistir
ou é insuficiente para cobrir todos os danos. A impossibilidade de reconstituição pode ser material
(por ex., morte da pessoa ou destruição de coisa infungível) ou jurídica (por ex., alienação
consecutiva do mesmo imóvel a duas pessoas, a última das quais registou a aquisição a seu favor). Já
a insuficiência dá-se quando a reconstituição não cobre todos os danos (por ex., naquele caso do
veículo, a reparação não cobre o dano da privação do seu uso durante o período do conserto), ou
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ainda quando não abrange todos os aspetos em que o dano se desdobra (por ex., o tratamento
reconstituição natural, esta pode não ser possível por força da natureza do dano (danos não
patrimoniais). Aqui, nem sequer falamos numa indemnização, mas sim em compensação.
sofrido. É isto que decorre expressamente do art. 566.º/2. Na determinação desta diferença, deve-se
ter em conta não só os danos emergentes, mas também os lucros cessantes (art. 564.º/1).
NOTAS:
1. Como já vimos, no cálculo da indemnização o legislador manda atender aos danos futuros
(art. 564.º/2), desde que previsíveis. A fixação do montante destes danos, assim como dos danos
presentes mais ainda não determináveis, é remetida para a execução da sentença (art. 564.º/2).
2. Por outro lado, o art. 569.º não só dispensa o autor da ação de indemnização de indicar na
petição o montante exato do valor dos danos, como também lhe permite reclamar indemnização
mais elevada, sempre que se venham a revelar danos maiores do que os inicialmente previstos.
vítima do acidente), o art. 566.º/3 manda que o tribunal julgue segundo critérios de equidade,
dentro dos limites provados (se os houver).
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Porém, a teoria da diferença é um critério subsidiário, como o indica expressamente o artigo
("sem prejuízo do preceituado noutras disposições"). De entre as ressalvas ao critério da teoria da
1. Graduação da indemnização quando haja mera culpa do lesante: segundo o art. 494.º, o
tribunal pode fixar uma indemnização inferior ao valor do dano quando haja mera culpa do lesante,
pelo credor (cláusula penal, art. 810.º). Apesar de nada se dizer quando à exclusão da
responsabilidade, nada impede que as partes fixem um montante pequeno para a indemnização ou
que excluam do seu cálculo determinadas categorias de prejuízos. Para além desta possibilidade,
existem disposições legais que excluem ou limitam a responsabilidade de alguns contraentes, pela
natureza especial do contrato (na doação, art. 956.º e 957.º, e no comodato, art. 1134.º). Na
responsabilidade extracontratual, também nada impede que os interessados limitem ou excluam a
responsabilidade quando os danos resultem de negligência, dentro dos limites da lei (arts. 280.º/2,
3. Culpa do próprio lesado: quando o facto do próprio lesado tenha contribuído para a
produção ou agravamento do dano, a indemnização pode ser reduzida ou mesmo excluída (art.
570.º).
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exemplo, no caso das seguradoras que pagam a indemnização que o lesante deve ao lesado: por lei,
estas têm o direito de se sub-rogar ao lesado no direito à indemnização, isto é, exigir ao lesado que
lucro com o dano: quando o facto determinante da responsabilidade, ao mesmo tempo que causa
um dano, proporciona ao lesado a aquisição de uma vantagem, terá de se deduzir o valor desta ao
montante da indemnização. Ao montante dos danos desconta-se o montante dos lucros, pois só
assim se cumpre o disposto no art. 566.º (confronto entre a situação real patrimonial do lesado e
aquele que ele estaria se não fosse a lesão). Para além disto, a função da indemnização é a de
reparar danos, não podendo ser uma fonte de enriquecimento sem fundamento.
Por ex.: uma pessoa sofre um acidente de viação e fica internada duas semanas no hospital – é
necessário deduzir ao montante dos danos o dinheiro que gastaria em comida se não tivesse no
hospital. Note-se que, para que esta dedução se posse fazer, é necessário que entre o facto danoso
e a vantagem obtida para o lesado haja um verdadeiro nexo de causalidade e não uma simples
do lesado. Esta ponderação pode levar à manutenção da indemnização, à sua redução, ou mesmo à
sua exclusão, de acordo com a gravidade das culpas de ambas as partes e as consequências que
delas resultaram.
O art. 570.º/2 consagra uma regra excecional para quando haja uma presunção de culpa do
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do lesado, exclui-se o direito de indemnizar. Porquê? O legislador pensa que, havendo presunção de
culpa, isto não significa que o lesante tenha mesmo culpa, mas que não conseguiu afastar a
presunção. No fundo, temos dúvidas quanto à culpa do lesante; em contrapartida, temos da parte do
extensiva, para admitir não só o concurso da culpa do lesado com a presunção de culpa do lesante,
como o concurso da culpa do lesado com o risco do lesante. Em que termos? Através do nexo de
CALVÃO DA SILVA lê o artigo desta forma: a culpa do lesado exclui o direito de indemnizar
se a culpa do lesado for causa exclusiva do dano; ou, se for um dolo um culpa grave, por causa do
Assim, temos:
1. Se o lesado atuar com dolo, mesmo que haja um caso de culpa presumida, percebe-se que
o juiz na ponderação entre um dolo e uma culpa presumida exclua o dever de indemnizar.
2. Isto também deve acontecer quando o dano for exclusivamente causado pelo lesado.
Desta lógica podemos retirar um grande princípio: o próprio lesado deve comportar-se em
termos de não agravar o dano e até de o diminuir, dentro da razoabilidade. A sua
autorresponsabilidade não diminui depois de o lesante lhe causar o dano, podendo ser
responsabilizado por não ter atuado, como devia, para atenuar ou minorar o dano.
Note-se que a doutrina da culpa do lesado vale ainda, por força do disposto no art. 571.º, para a
hipótese de a conduta culposa provir dos seus representantes legais ou das pessoas que quem ele se
tenha utilizado.
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2.4 SOLIDARIEDADE
Na produção do mesmo dano podem comparticipar, de múltiplas formas, várias pessoas. Esta
comparticipação pode assumir várias formas:
Causas subsequentes: o facto praticado por uma pessoa é causa adequada do facto
praticado por outra (ex: o depositário deixa a coisa abandonada num local que propicia
nexo de causalidade entre elas (ex: A embate numa casa, deixando-a em estado
precário, e logo a seguir B também embate nela, deitando-a abaixo).
prévia combinação entre si, deitam veneno na bebida de C, sendo qualquer das doses
de eficácia mortal).
Simples coincidência: o dano pode produzir-se numa zona simultaneamente coberta
pela sanção contra o facto ilícito de uma pessoa e pelo risco a cargo de outra (ex: um
Em qualquer destes casos, qualquer dos responsáveis é obrigado a reparar todo o dano, em
regime de solidariedade, art. 497.º/1.
data do facto ilícito, art. 498.º/1 in fine e 309.º), o direito à indemnização fundada na
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teve conhecimento do direito que lhe compete, art. 498.º/1. Este prazo conta-se a partir da data em
responsável.
Porém, este preceito tem de ser entendido em termos hábeis: o prazo de prescrição pode
acabar sem o lesado conhecer a pessoa do responsável, pelo que, para colmatar esta falha do
legislador, vamos buscar o art. 321.º, sendo que o prazo de prescrição se suspende três meses antes
de findar.
NOTAS:
Porém, se o facto criminoso tiver sido praticado pelo comissário, o prazo alargado não é aplicável ao
comitente, apesar do regime de solidariedade que une as duas obrigações (art. 497.º/1), pelo
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lesante, uma vez que não seria justo a solução de obrigar as pessoas a responder perante outrem
por atos de que não são culpadas. Porém, a teoria da culpa nem sempre conduziu aos melhores
considerações de justiça. A responsabilidade objetiva surgiu, pela primeira vez, no domínio dos
acidentes de trabalho, durante a primeira revolução industrial inglesa: o recurso mais frequente à
máquina aumentou o número e a gravidade dos riscos de acidente a que os operários estavam
sujeitos; ao mesmo tempo, a diferença de poder económico entre a entidade patronal e os
trabalhadores tornou mais difícil a estes exigir uma indemnização, por não lhes ser cómodo
demandar o empresário nem fácil fazer a prova da culpa.
Numa primeira fase, tentou-se resolver o problema através de uma presunção de culpa da
entidade patronal – no entanto, esta presunção era facilmente ilidível. O problema era outro: a
utilização de máquinas envolve riscos inevitáveis de acidentes que, mesmo não sendo imputáveis a
culpa da entidade patronal, se considera justo que sejam suportado por ela.
Surgiu, assim, a teoria do risco: quem cria ou mantém um risco em proveito próprio deve
suportar as consequências prejudiciais dessa atividade, já que colheu dela o principal benefício.
Por outro lado, a imposição desta responsabilidade constitui um estímulo eficaz ao aperfeiçoamento
das empresas no sentido de diminuir os acidentes de trabalho, bem como a segurar os empregados
contra os acidentes.
igualmente com base no critério de justiça distributiva (ubi commoda, ibi incommoda). Hoje, assiste-
se mesmo a uma certa tendência de socialização do risco, ou seja, assegurar a indemnização ao
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lesado não só quando o acidente seja devido a circunstâncias de força maior, mas também quando o
responsável seja desconhecido ou não tenha meios para cobrir a sua responsabilidade.
Isto não significou, porém, um abandono da tese da responsabilidade subjetiva, que continua a ser a
regra.
previstos na lei (art. 483.º/2). Esta excecionalidade deriva não só de a responsabilidade objetiva
prescindir da culpa, como também da ilicitude.
O nosso Código Civil regula alguns casos de responsabilidade objetiva, para além de outros
regulados em leis avulsas.
A responsabilidade objetiva está regulada nos arts. 499.º e segs. A regra é a de que à
responsabilidade por risco se aplicam as regras da responsabilidade por factos ilícitos, ou seja,
onde não haja uma regra especial, vamos buscar as regras gerais. Mas isto apenas na parte
aplicável: tudo aquilo que tenha a ver com a culpa não se aplica, logicamente, pois se prescinde da
culpa. Por outro lado, nenhum caso de responsabilidade objetiva criado por lei, nas normas que a
prevêem, regula a causalidade, logo vamos buscar o regime da causalidade à responsabilidade
subjetiva.
O comissário é aquele que está ao serviço de outrem e atua sob direção e controlo do comitente.
O comitente que encarrega outrem de certo serviço (comissão) responde pelos danos que o
comissário causa, desde que sobre ele incida também o dever de indemnizar (desde que haja culpa
responsabilidade por facto próprio do comitente, uma vez que responde independentemente de
culpa. E é uma responsabilidade por facto próprio independentemente de culpa própria: aliás, como
é que o comitente pode ter culpa num ato que não é seu? O comitente pode ter culpa na escolha
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Mas o que a lei quis não foi isto: mesmo que tenha havido boa escolha, instruções e vigilância do
comitente, a lei quer que o comitente responda. Porquê? No fundo, o comissário é o seu ajudante, o
comitente tem no comissário uma longa manus; e, se dos atos do comissário retira benefícios
enormes, deve suportar os inconvenientes que daí advenham. Por isso, o comitente deve responder
pelos danos que causar o comissário, por forma a evitar que a vítima fique sem indemnização –
geralmente, o comissário terá menos possibilidades económicas, será um mero trabalhador.
económica, maior garantia económica. Há uma ampliação ao nível dos sujeitos contra quem se
intenta a ação.
Apesar de a culpa não ser requisito da responsabilidade, pode ter influência no seu regime:
1. Se houver culpa, tanto do comitente (culpa na escolha, instruções ou vigilância), como do
comissário, qualquer um deles responde solidariamente perante o lesado (este pode exigir a
indemnização a qualquer um deles), sendo que o encargo da indemnização será depois repartido
entre eles na proporção das respetivas culpas (art. 497.º/2, por remissão do art. 500.º/3).
2. Havendo apenas culpa do comitente, apenas ele será obrigado a indemnizar, nos termos
entra subsidiariamente a responder pelos danos; se for o comissário a pagar, depois poderá
exigir o reembolso nas relações internas. Para CALVÃO DA SILVA, aqui a palavra "reembolso" é
mais correta que "regresso" (art. 497.º/2), pois não temos aqui em rigor uma responsabilidade
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solidária, mas sim uma garantia. No caso de haver somente culpa do comissário, o que há
verdadeiramente é uma subrogação: o comitente paga em vez do comissário.
PRESSUPOSTOS
comitente, é necessário que haja comissão (ART. 500.º/1). O termo comissão tem aqui um sentido
amplo de serviço ou atividade realizada por conta e sob a direção de outrem, podendo traduzir-se
num ato isolado ou numa função duradoura, ter carácter gratuito ou oneroso, etc. Tem de haver uma
relação de dependência entre comitente e comissário, que autorize aquele a dar ordens e instruções
a este.
2) PRÁTICA DO FACTO NO ÂMBITO DAS SUAS FUNÇÕES: o comissário tem de ter agido no
exercício das suas funções e por causa delas, ou seja, não basta um nexo de mera ocasionalidade
entre a relação da comissão e a prática do facto, mesmo que o comissário aja dolosamente ou contra
as instruções do comitente.
âmbito das funções, porém temos aqui um quadro formal de aparência eficaz: as pessoas podem
confiar legitimamente que o funcionário ao balcão do banco irá depositar o dinheiro e não desviá-lo.
A aparência eficaz deve ser tutelada, pelo que haverá responsabilidade do comitente. Ficam
abrangidos os atos que estão ligados à função por um nexo meramente instrumental, que
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FDUC – DOII 2017/2018
responsabilidade civil em relação ao comissário (art. 500.º/1, parte final). Assim, é necessário que
haja culpa do comissário. A consequência é que o comitente vai pagar e se o fizer pode exigir ao
comissário tudo quanto haja pago, exceto se também houver culpa sua.
Nos termos do art. 501.º, é aplicável ao Estado e às restantes pessoas coletivas públicas,
quanto aos danos causados pelos seus órgãos, agentes ou representantes no exercício de
incorrido em responsabilidade.
2. Gozam do direito ao reembolso de tudo quanto tiverem pago, exceto se também houver
culpa da sua parte. Esta exceção só tem sentido em relação aos atos praticados por agentes ou
representantes, pois aí é concebível a existência de culpa por parte dos órgãos que lhes confiaram a
Os atos de gestão privada são aqueles atos em que o Estado ou a pessoa coletiva pública
intervém como um simples particular, despido do seu poder de autoridade, e que estão
sujeitos às mesmas regras que estariam se fossem praticados por particulares.
Já os atos de gestão pública são os que, visando a satisfação de interesses coletivos, realizam
fins específicos do Estado e assentam mais das vezes sobre o ius imperium.
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Vimos que existia igualmente uma responsabilidade subjetiva agravada por danos causados por
animais (art. 493.º): como se explica esta diversidade de regime? O art. 493.º refere-se às pessoas
que assumiram o encargo da vigilância dos animais, enquanto que o art. 502.º é aplicável
aqueles que utilizam os animais no seu próprio interesses. É em relação a estas pessoas que tem
cabimento a teoria do risco: quem utiliza em seu proveito animais, que são uma fonte de perigos,
tem de suportar as consequências do risco especial que acarreta a sua utilização.
2. O dono do animal pede a alguém para o guardar: esta pessoa já não responderá.
3. O animal é alugado: a sua utilização passa a fazer-se no interesse quer do locador, quer do
as duas responsabilidades (art. 493.º e 502.º), no caso de o facto danoso provir da presuntiva culpa
do vigilante; não havendo culpa do vigilante, a obrigação de indemnizar recairá apenas sobre o
Porém, nem todos os danos causados pelo animal obrigam o utente a indemnizar, como
resulta da parte final do art. 502.º: apenas aqueles que resultem do perigo especial que envolve a
utilização do animal. Os danos têm de resultar do perigo próprio da utilização desse animal, e não
quando a causa próxima seja um caso fortuito, um facto de terceiro, ou não tenha qualquer ligação
com ele.
Discute-se se esta responsabilidade do utente ou utilizador dos animais admite ou não
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ANTUNES VARELA não exclui essa responsabilidade porque o artigo nada diz. Quem usa o
animal deve suportar os danos, nada se dizendo acerca de causas de exclusão da responsabilidade,
responsabilidade pelo risco estes fatores que venham excluir a responsabilidade. No fundo, retira um
princípio geral do art. 505.º, aplicável ao art. 502.º.
O art. 503.º diz que aquele que tiver direção efetiva de qualquer veículo de circulação
terrestre e o utilizar no seu próprio interesse, ainda que a pedido do comissário, responde pelos
danos que causar em resultado dos riscos próprios do veículo, mesmo que este não se encontre em
circulação.
DETENTOR DO VEÍCULO
Em regra, o responsável será o dono do veículo, visto ser ele quem aproveita as vantagens
especiais do meio de transporte. Porém, temos outras hipóteses em que a responsabilidade objetiva
do dono do veículo já não se justifica (por exemplo, se tiver alugado o veículo), pelo que a lei fixou
um critério geral, segundo o qual responsável por este danos será o detentor do veículo, que
2. Utilizar o veículo no seu próprio interesse: este requisito visa afastar a responsabilidade
objetiva daqueles que, como o comissário, utilizam o veículo, não no seu próprio interesse, mas em
proveito ou às ordens de outrem. Assim, pode estar em causa qualquer interesse, o de obter uma
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vantagem económica ou altruísta (por ex: emprestar o carro). Isto ainda que por intermédio do
comissário: muitas vezes, o detentor não é a pessoa que conduz porque está a ser conduzido pelo
comissário.
“A fórmula, aparentemente estranha, usada na lei – ter a direção efetiva do veículo – destina-se a
abranger todos aqueles casos (proprietário, usufrutuário, locatário, comodatário, adquirente com
reserva de propriedade, autor do furto do veículo, pessoa que o utiliza abusivamente, etc.) em que,
com ou sem domínio jurídico, parece justo impor a responsabilidade objetiva a quem usa o veículo
ou dele dispõe”.
Por vezes, os veículos são conduzidos por inimputáveis. Nos termos do art. 503.º/2, as
pessoas não imputáveis respondem nos termos do art. 489.º: podem responder, mas é uma
responsabilidade excecional. Uma pessoa imputável pode ter também momentos de
1) EXERCÍCIO DAS SUAS FUNÇÕES: a primeira parte do artigo diz respeito às situações em que
o comissário atua no exercício das suas funções. No caso de o veículo ser conduzido por um
comissário, presume-se a culpa; no caso de a viatura ser conduzida pelo próprio dono, a prova da
culpa incumbe ao lesado. Qual é a ratio deste sistema?
Normalmente, os condutores por contra de outrem conduzem veículos pesados, que dão origem
a acidentes mais propensos e mais graves.
Para além disto, não tem uma relação com o veículo, pelo que não sente as deficiências dele.
Também se diz que à partida tem-se menos cuidado com os veículos de outro: há
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princípio da igualdade, discriminando os condutores por conta de outrem face aos restantes.
Entendeu que este não é um tratamento discricionário pois há razões objetivas. Em relação aos
condutores normais, há quem na doutrina portuguesa entenda que se aplica a presunção de culpa
de atividades perigosas: por ex., SINDE MONTEIRO e SOUSA RIBEIRO.
A perigosidade depende da natureza da atividade ou dos meios: para certos autores, como há
muitos acidentes, isto permitiria classificar como uma atividade perigosa. Esta posição é demasiado
exigente e foi afastada pelo Assento 21/11/79, que hoje é um acórdão de uniformização de
jurisprudência. CALVÃO DA SILVA discorda, assim como a jurisprudência, salvo em certos casos em
que o veículo possa ser classificado como perigoso – por ex., se o veículo transportar material
inflamável.
Quem responde?
Se o condutor por conta de outrem estava no exercício das suas funções e houver culpa
este também responde. Responde o comitente, nos termos do art. 500.º, e o comissário, nos termos
do art. 483.º. Ou seja: o condutor tem culpa, respondendo nos termos gerais, e por causa disso
também responde o comitente. Não aplicamos o art. 503.º/1.
veículo, mas este é do dono – ambos têm a direção efetiva, um pelo poder de facto e outro pelo
dever de controlar. Porém, quem utiliza o veículo no seu próprio interesse é o comitente – tem
direção efetiva e o veículo é utilizado no seu próprio interesse, ainda que por intermédio do
comissário. Responde o detentor do veículo, que é o comitente mas não enquanto tal. Aplicamos o
art. 503.º/1.
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Se o comitente responde, responde porque o comissário agiu com culpa, logo responde em
função da responsabilidade do comissário, em função dos danos causados por ele.
Se responder nos termos do art. 500.º, o limite da indemnização está nos danos causados
(não há limites indemnizatórios). Se responder como detentor, aplica-se o art. 508.º e aí estão
fixados limites máximos. É mais vantajoso responder como comitente ou detentor? Pela última
hipótese, é como detentor. Note-se que são a mesma pessoa, mas respondem a título
diferente.
Esta presunção foi alvo de divergência doutrinal: é apenas nas relações internas ou também nas
relações externas? Foi ao STJ depois de várias divisões da doutrina, e foi resolvido por um acórdão
uniformizador (na altura um assento, Assento de 14 de Abril de 1983): a primeira parte do n.º 3
estabelece uma presunção de culpa do condutor (comissário) do veículo por conta de outrem pelos
danos que causar, aplicável nas relações entre ele e o lesante e o titular ou titulares à indemnização.
Ou seja, a presunção só funciona nas relações externas perante a vítima, perante o lesado: este é que
teve culpa, tentando ilidir a presunção. Conseguindo, é absolvido pelo juiz, mantendo como
responsável apenas o detentor do veículo. Mas a presunção apenas beneficia o lesado: na relação
interna, na ação de regresso entre o detentor do veículo e o condutor, o detentor não pode servir-
se da presunção de culpa do art. 503.º, esta não funciona nestas relações internas. Apenas funciona
em benefício do lesado nas relações externas.
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funções. Não podemos aplicar o art. 500.º. Quem responde, então? É o próprio, o condutor,
Se não tiver culpa, temos de saber mais uma vez quem é o detentor de um veículo, com os
dois requisitos: direção efetiva e utilizar o seu próprio interesse. O condutor por conta de
Note-se que o legislador apenas prevê a segunda hipótese ("responde nos termos do n.º 1), mas
também temos de equacionar a hipótese de não ter culpa.
Verificam-se os Responde o
pressupostos da comitente, art.
responsabilidade 500.º
O comissário não do comitente (há
afasta a presunção culpa do Responde o
comissário; no comissário, art.
No exercício das exercício das 483.º
Presunção de culpa
funções funções)
Não se verificam os
Responde o
pressupostos da
O comissário detentor, que é o
responsabilidade
consegue afastar a comitente mas não
do comitente (não
presunção enquanto tal, art.
há culpa do
503.º/1
comissário)
Não se verificam os
pressupostos da
responsabilidade Responde o comissário nos termos gerais,
Com culpa efetiva
Fora do exercício do comitente art. 483.º
das suas funções (não é no exercício
das funções)
Responde o detentor, que é neste caso o comissário por força
Sem culpa
do art. 503.º/3, parte final, nos termos do art. 503.º/1
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RESPONSABILIDADE DO LADRÃO
do art. 503.º.
Todavia, temos de conjugar esta norma com o art. 8.º/2 do Decreto-lei 522/85 (seguro
obrigatório automóvel), segundo o qual o seguro cobre as indemnizações devidas pelos autores de
furto do veículo.
Portanto, se um carro for roubado e no curso de uma viagem do ladrão este tiver um grave
acidente, obviamente que este continua a ser responsável subjetivamente, mas imagine-se que ele
não tem bens para pagar à vítima: entra o seguro. Assim, o proprietário que segura, como lhe
incumbe, a responsabilidade civil automóvel, acaba por responder pelos danos provenientes de
uma figura através da qual o tomador do seguro transfere a responsabilidade para outro sujeito, a
seguradora, com vista a, mediante pagamento de preço, se salvaguardar no futuro, havendo
acidente, não tendo que pagar uma indemnização volumosa. O legislador mantém o seguro na
hipótese do ladrão em nome da proteção das vítimas.
No caso de aluguer, sendo o veículo conduzido pelo locatário ou às suas ordens, o veículo é
utilizado tanto no interesse do locatário como no interesse do locador, e qualquer um deles tem a
tiver sido feito em condições, nomeadamente de tempo, de o comodatário tomar sobre si o encargo
de cuidar da conservação e bom funcionamento do veículo. Se este dever continuar a cargo do dono
(como sucede se o empréstimo se destinar a uma viagem isolada ou a um passeio de curta duração,
a responsabilidade objetiva recai simultaneamente sobre comodante e comodatário.
Esta é uma solução que se aceita como forma indireta de obrigar o dono do veículo a ser
prudente na sua cedência. Poderá objetar-se que o veículo não é utilizado no interesse do
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comodante: porém, a finalidade deste requisito é afastar a responsabilidade daqueles que conduzem
Os danos que a pessoa responsável é obriga a indemnizar são os que tiveram como causa o
acidente.
Porém, encontramos quanto aos danos causados por veículos uma regra especial: fala-se em
“danos provenientes dos riscos próprios do veículo”. Assim, este regime está pensado em função da
existência de danos que resultem dos riscos próprios do veículo: temos vários tipos de "riscos
conduz).
3. Riscos relacionados com o meio de circulação (por ex., nevoeiro, óleo na estrada, etc.).
2.4.3 BENEFICIÁRIOS
também as pessoas transportadas. Terceiros são pessoas que estão no exterior do veículo, mas a
doutrina também entende que são terceiros os que estão no interior a exercer funções (ex: revisor
dos bilhetes no comboio). Não há limites quanto aos danos pessoais ressarcíveis, mas os números
seguintes estabelecem certos limites:
danos materiais em relação às coisas transportadas pela pessoa. Ficam de fora os danos
relativos às coisas transportadas mas não acompanhadas pela pessoa.
danos pessoais.
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O DL 14/96 veio alterar a redação anterior do artigo 504.º, a que se refere ANTUNES VARELA:
inicialmente, no caso de transporte gratuito apenas era possível pedir indemnização nos termos
gerais, se houvesse culpa (dizia-se que “o transportador responde apenas, nos termos gerais, pelos
danos que culposamente causar”). Isto era assim porque se entendia que seria injusto impor a
determinar que o seguro de responsabilidade civil atinente à circulação de veículos automóveis deve
cobrir a responsabilidade por danos pessoais de todos os passageiros, com exceção dos sofridos
pelo condutor.
Não se compreenderia que a responsabilidade do segurado não tivesse extensão equivalente à
do seguro.
Assim, hoje pode-se pedir uma indemnização nos termos da responsabilidade objetiva em caso
de transporte gratuito, mas apenas pelos danos pessoais. Porque é que se excluem os danos
materiais? Isto tem a ver com a falta de correspetividade económica: a responsabilidade objetiva não
Facto imputável ao lesado: quer-se abranger aqui qualquer facto do próprio lesado, culposo
ou não.
Facto imputável a terceiro: o terceiro tanto pode ser um peão, como o condutor de outro
veículo, como o passageiro.
Causa de força maior: trata-se aqui de casos de força maior, quando estranhos ao
funcionamento do veículo. É um acontecimento imprevisível, cujo efeito danoso é inevitável
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Ora, o art. 505.º considera que que a responsabilidade objetiva apenas é excluída quando o
acidente é imputável ao próprio lesado ou a terceiro (note-se que, aqui, “imputável” tem o sentido
de que o acidente devido ao lesado). Para ANTUNES VARELA, GALVÃO TELES e RUI ALARCÃO,
objetiva do art. 503.º, bastando para tal haver culpa leve do lesado concorrente para o acidente.
Estes autores partem do princípio de que a responsabilidade pelo risco é muito excecional, sendo
grave alguém responder não sendo censurável o seu comportamento: assim, se a vítima tem culpa
no acidente o risco deve ser excluído e não deve ser responsabilizado objetivamente. Entre um risco
e uma culpa, ainda que leve, a censura é merecida: toda e qualquer culpa exclui o risco. Para estes
autores, o art. 570.º apenas se aplica no caso de haver culpa de ambas as partes: se o acidente tiver
simultaneamente como causa um facto culposo do condutor e um facto da vítima, cabe ao tribunal
determinar, com base na gravidade relativa e nas consequências que deles resultaram, se a
indemnização deve ser totalmente concedida, reduzida ou mesmo excluída.
maior estranha ao funcionamento do veículo. Equivale isto a admitir o concurso da culpa da vítima
com o risco próprio do veículo, sempre que ambos colaborem na produção do dano, sem quebra ou
interrupção do nexo de causalidade entre este e o risco pela conduta da vítima como causa exclusiva
do evento lesivo”. Assim, o art. 570.º não se refere às hipóteses em que há culpa de ambas as partes.
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É lógico que o art. 570.º se refere ao concurso da culpa: a ressalva feita no art. 505.º aplica-se
à responsabilidade fixada no art. 503.º, que é uma responsabilidade objetiva, logo temos aqui
uma concorrência entre a culpa do lesado (art. 570.º) e o risco da utilização do veículo (art.
503.º).
A parte final do art. 505.º favorece esta interpretação – a causa de força maior só pode
excluir a responsabilidade quando este resulte única e exclusivamente dessa causa (caso em
que os danos não são provenientes do risco próprio do veículo e seu condutor).
Não faz sentido interpretar a ressalva para o art. 570.º como aplicável havendo culpa de
ambas as partes, uma vez que a responsabilidade fixada no art. 503.º/1 não assenta na culpa
do detentor e o concurso da culpa do detentor do veículo com um facto culposo do lesado já
estar previsto no art. 570.º, ficando sem sentido a remissão. Só através desta interpretação é
Assim, o art. 505.º deve ser lido da seguinte forma: “Sem prejuízo do art. 570.º (leia-se, sem
é excluída quando o acidente for devido (com culpa ou sem culpa) unicamente ao próprio lesado
funcionamento do veículo”.
Para além destas críticas apontadas à tese clássica, “a aceitação do concurso da culpa do lesado
com o risco próprio do veículo, permitindo ao juiz sopesar as suas gravidades e contributos causais e
As condições do tempo moderno exigem que se aceite com grande abertura o princípio da
solidariedade e justiça que enforma a responsabilidade pelo risco, bem como a
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Passados poucos anos depois de um artigo publicado por CALVÃO DA SILVA, sai um acórdão do
STJ que confirma este entendimento. Subsequentemente, têm surgido muitos acórdãos em que o
princípio do concurso do risco com a culpa da vitima é admitido. Hoje, o entendimento dominante é
este.
correspondentes ao facto que praticou. Se se der por assente a culpa de ambos, mas não se
conseguir determinar a medida em que cada um deles contribuiu para a produção dos danos
o Apenas um veículo causou danos aos outros (ex: um veículo cujos travões se partiram
embate num outro estacionado). Apenas o detentor do veículo causador dos danos é obrigado a
indemnizar, na sequência da teoria do risco.
o Ambos os veículos concorreram para o acidente: quer os danos se estendam aos dois
veículos, quer se estendam a um só, e não havendo culpa de nenhum dos condutores, o Código
Civil (art. 506.º/1) manda somar todos os danos resultantes da colisão e repartir a
responsabilidade (total) na proporção em que cada um dos veículos houver contribuído para a
O texto do art. 506.º refere-se apenas aos danos causados pela colisão nos próprios veículos,
razão pela qual VAZ SERRA sustenta que este regime aproveita apenas a estes danos. Porém, não há
qualquer razão para distinguir os tipos de danos: desde que os danos sofridos, seja pelos
condutores, seja por coisas transportadas ou não nos veículos, provêm da colisão, aplica-se o art.
506.º/1.
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se, não de forma imediata, mas sim por analogia, o art. 506.º/1.
(como ficou estabelecido no Assento de 26 de Janeiro de 1994). Assim, ocorrendo uma colisão entre
dois veículos, um conduzido por um comissário, e o outro conduzido pelo seu proprietário, presume-
se a culpa do primeiro.
Isto com base nos seguintes argumentos:
A unidade do sistema jurídico reclama uma uniformidade de critérios, pelo que se deve
entender que o art. 503.º/3 estabelece uma presunção de culpa do condutor por conta de
outrem em termos gerais, que tanto valem para os danos causados pelo simples
atropelamento, como para os danos provenientes da colisão de veículos.
O art. 506.º/1 não distingue culpa efetivamente provada e culpa presumida não ilidida.
Assim, no caso de colisão de veículos, um guiado pelo comissário e outro pelo proprietário, para
que se aplique o art. 506.º/1 (“nenhum dos condutores tiver culpa no acidente”), tem de ser ilidida a
dano (ainda que com o limite do art. 494.º), na responsabilidade objetiva vale o princípio da
limitação do ressarcimento, por causa daquela velha ideia segundo a qual a responsabilidade
objetiva é excecional.
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CALVÃO DA SILVA entende que, na responsabilidade objetiva, não tem aplicação do art.
494.º, tendo em conta a teleologia da responsabilidade pelo risco, independente de culpa e ilicitude,
Porém, é preciso conciliar o art. 508.º com a legislação sobre seguro obrigatório automóvel e
os montantes mínimos nela fixados. O seguro obrigatório de responsabilidade automóvel foi
instituído pelo DL 408/79, revogado pelo DL 522/85 (ainda em vigor). Nesse ano, o DL 190/85 veio
alterar a primitiva versão do art. 508.º, por considerar que os limites nele fixado eram muito baixos,
obrigatoriamente seguro, fixado pelo DL 408/79 em valores muito baixos. O DL 5322/85 foi sofrendo
várias alterações com vista à harmonização da nossa legislação do seguro automóvel com as
diretivas europeias, sendo que a certo ponto o limite máximo da responsabilidade fixado no art.
508.º era muito inferior ao limite mínimo de seguro obrigatório.
CALVÃO DA SILVA publicou um artigo criticando esta situação: o seguro obrigatório surge
em cumprimento do dever de segurar a responsabilidade civil resultante da circulação rodoviária,
com o objetivo de proteção das vítimas. Os montantes mínimos de seguro obrigatório visam garantir
uma indemnização suficiente à vítima, ou seja, “estabelecer montantes mínimos de seguro
obrigatório equivale a garantir à vítima o ressarcimento integral dos danos por si sofridos até àquele
tecto”. Pelo que não faz sentido fixar limites máximos de indemnização inferiores aos montantes
mínimos de seguro obrigatório: a primeira subverteria o sentido e fim dos segundos como
montantes mínimos. Os montantes mínimos reputados suficientes de seguro obrigatório são também
argumentando para tal que os diplomas que estabelecem os montantes mínimos de seguro
automóvel revestem natureza de normas materiais de responsabilidade civil automóvel. Assim, o art.
508.º devia considerar-se parcialmente revogado, atualizado pelo art. 6.º do DL 522/85: a
indemnização pela responsabilidade objetiva tem como limite máximo o montante mínimo do
seguro obrigatório.
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pelo art. 6.º do DL 522/85. Ainda em 2004, o DL 59/2004 veio dar nova redação ao art. 508.º: “a
indemnização fundada em acidente de viação ... tem como limite máximo o capital mínimo de
1.000.000€ em caso de danos pessoais – art. 12.º do DL 291/2007, que consagra a Lei da
Responsabilidade Civil do Seguro Automóvel.
Muitas das pessoas que obtiveram indemnizações escassas antes de 2004 reagiram contra o
Estado Português, sendo que existe jurisprudência favorável a esta condenação.
O art. 509.º consagra a responsabilidade objetiva por danos causados por instalações de
energia elétrica ou gás. Aquele que tiver a direção efetiva da instalação destinada à condução ou
entrega da energia elétrica ou gás, e a utilizar no seu interesse, responde pelos prejuízos que
resultarem da própria instalação, condução ou transporte.
À semelhança do que sucede nos acidentes de viação, o art. 509.º consagra certas causas de
exclusão de responsabilidade:
Quanto à instalação, a responsabilidade pode ser afastada mediante prova de que ela se
encontrava, ao tempo do acidente, de acordo com as regras técnicas em vigor e em perfeito
Note-se que esta responsabilidade objetiva não se aplica a danos causados por utensílios de uso
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Esta responsabilidade está prevista no DL n.º 383/89, de 6 de Novembro, alterado pelo DL n.º
131/2001, de 24 de Abril.
Vivemos num mundo em que há liberdade de iniciativa privada (pessoal e empresarial), que existe
na medida em que respeitamos a economia de mercado. Por haver liberdade de escolha, temos
aquilo a que se chama sociedade de consumo (bens e serviços oferecidos em grande abundância):
porém, se o ideal da abundância não for seguido do ideal da segurança, esta sociedade de consumo
que o mesmo lança no mercado? Se houvesse um contrato direto celebrado entre consumidor e
produtor, podíamos lançar mão da responsabilidade contratual e sendo vendedor era presumido
culpado. Mas normalmente não há esse contrato, mas sim uma cadeia de transmissão de produtos:
entre o produtor e o consumidor teremos grossistas e retalhistas. Esta cadeia gera dificuldades e
dificulta soluções, sendo que a regra é a da culpa provada: o lesado tem de provar que o produto é
defeituoso e indicar quem o produziu, que ilicitude que comete. Isto não era fácil.
produtor, pelos danos causados pelos seus produtos defeituosos lançados no mercado. O DL de
1989 transpôs a Diretiva de 1985.
O art. 2.º da Lei da Responsabilidade Civil do Produtor define produtor como o fabricante de
produto acabado, de uma parte componente ou de matéria-prima, e ainda quem se apresente como
PRODUTOR REAL
O produtor real é aquele que de facto produz o produto, a pessoa humana ou jurídica que
sob a sua própria responsabilidade participa na criação do mesmo, seja o fabricante do produto
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acabado, de uma parte componente ou de matéria prima. A opção do legislador foi responsabilizar
não só o produtor final, como todos os fabricantes a jusante: havendo vários responsáveis, gera-se
responsabilidade solidária.
Porém, enquanto que o fabricante de uma peça pode excluir a sua responsabilidade,
provando que cumpriu rigorosamente a encomenda que lhe foi feita (art. 5.º), não é possível ao
PRODUTOR APARENTE
O produtor aparente é quem se apresente como tal pela aposição no produto do seu nome,
marca ou outro sinal distintivo. Há muitos produtos que não se sabe quem os fabrica porque o real
fabricante é omitido e nos produtos é aposto o nome de uma grande marca. A lei trata o produtor
geralmente o produtor real não passa de uma pequena empresa sem capacidade económica, e ainda
por uma função preventiva.
Mais: a lei não concede ao produtor aparente a possibilidade de fazer prova de que não é ele
o produtor efetivo do produto defeituoso, como forma de excluir responsabilidade, o que poderá
levar a que o produtor aparente e o real respondam ambos em regime de responsabilidade solidária.
PRODUTOR PRESUMIDO
O art. 2.º/2/a) considera também produtor aquele que importar de fora da União Europeia
produtos: o produtor presumido é, assim, aquele que importar produtos para distribuição. Trata-se
de uma presunção absoluta e que, portanto, não admite prova em contrário. Existe por razões
europeu.
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A lei considera ainda produtor qualquer fornecedor de produtos cujo importados não esteja
identificado (n.º 2, al. b)). Trata-se de uma responsabilidade subsidiária, como meio de pressionar o
fornecedor de
produto anónimo a indicar ao lesado quem é o importador europeu – se o fizer, não responde.
importante no sector da construção civil, uma vez que os produtores dos bens móveis (materiais de
construção ou partes componentes defeituosas, como cimento, tijolos, etc.) utilizados na edificação
de imóveis ficam submetidos ao novo regime de responsabilidade. Isto acresce às regras sobre
responsabilidade de empreiteiros, engenheiros e arquitetos resultante do art. 492.ºdo Código Civil.
O mesmo se diga na responsabilidade por acidentes causados por veículos, que existe sempre,
mesmo quando o acidente tenha ocorrido por um grave defeito na produção do veículo. Há uma
Produtor, umas vezes encontram-se e outras não. No Código Civil (ex: art. 913.º), um produto é
defeituoso na medida em que não tenha as qualidades necessárias e adequadas para realizar o
seu fim. Uma TV que não funcione ou um carro que não ande é um produto gravemente defeituoso,
que não permite realizar o objetivo pretendido.
Mas não é por causa desta funcionalidade que a responsabilidade civil do produtor surgiu,
mas sim para a segurança. Na sociedade de consumo, o ideal de abundância dos produtos e a
inerente liberdade de escolha tinham de ser acompanhados do ideal de segurança, para que nos
possamos sentir seguros. Isto vai muito para além do âmbito tradicional do art. 913.º e outros do
CC. Assim, um produto é defeituoso quando não oferece a segurança legitimamente esperada tendo
em conta todas as circunstâncias, nomeadamente a utilização que dele possa ser esperada,
apresentação e o tempo que é posto no mercado – art. 4.º da Lei da Responsabilidade Civil do
Produtor. Esta noção é mais ampla que a do Código Civil, pois muitas vezes os produtos causam
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danos na realização da específica função para que foram concebidos, ou ainda na utilização razoável
que dele se pode esperar: é expectável que alguém que use uma esferográfica a leve à boca, logo
uma caneta que tenha um revestimento tóxico e cause uma intoxicação é um produto defeituoso
absoluta, mas apenas a segurança com que se possa legitimamente contar. Está em causa a
segurança que o homem médio possa esperar, sendo que aqui o homem médio é o consumidor
Utilização razoável do produto: o juiz não deve ter em conta apenas o uso específico a que
o produto se destina, mas também outros usos razoavelmente previsíveis que do mesmo
possam ser feitos. Por exemplo, o fim pretendido da caneta é escrever, logo uma caneta que
escreva não é defeituosa à luz do Código Civil. Mas é expectável que alguém que use uma
esferográfica a leve à boca, logo uma caneta que tenha um revestimento tóxico e cause uma
evoluíram muito do ponto de vista da segurança. Se houve um acidente com um carro que
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não tinha airbag, o juiz tem de olhar ao momento do lançamento desse carro para ver se
nesse tempo era seguro, e não para os carros de hoje, com todos os aperfeiçoamentos.
Outros elementos: para além disto, o juiz deve atender a todas as circunstâncias do caso.
Desta noção geral decorrem algumas noções ou classificações de defeitos. O defeito por falta de
segurança legitimamente esperada pode ser:
Defeito de conceção: o produto foi mal desenhado. Toda a série do produto sai defeituosa,
gerando defeitos em série.
Defeito de fabrico: apesar de bem desenhado, saem alguns exemplares da mesma série com
defeito, devido a falhas mecânicas e/ou humanas na fase de produção ou fabrico. Foi a partir
tinham defeitos, aceitavam esse risco e colocavam os produtos no mercado, para não suportar
os custos de produzir uma nova série.
Quanto ao risco do desenvolvimento, a diretiva europeia deu a opção aos países de a incluir ou
não na responsabilidade objetiva. A opção portuguesa foi a de deixar este risco fora do âmbito da
responsabilidade objetiva, consagrando-a como causa de exclusão da responsabilidade - alínea e)
do art. 5.º. Esta foi, de resto, a opção da maioria dos países, e isto em nome da proteção das
indústrias, nomeadamente a farmacêutica e automobilística.
CALVÃO DA SILVA foi um dos responsáveis por ter deixado de fora o risco de
desenvolvimento, e com que fundamento? Esta é uma opção do legislador, que não pode estar
capturado pela indústria, nomeadamente a farmacêutica. É preciso outro fundamento que não a
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indústria: assim, temos de pensar qual é a solução que, em geral e abstrato, mais incentiva o
científico e técnico.
O art. 5.º consagra outras causas de exclusão da responsabilidade.
Podemos ter uma pluralidade de responsáveis pelos danos, como vimos – produtor do
produto acabado e produtor da parte componente, produtor real e produtor aparente, etc. Havendo
vários responsáveis, a responsabilidade é solidária nos termos do art. 6.º, uma vez que a
solidariedade passiva representa uma garantia concedida ao credor pelo reforço da consistência
impulsionado à redução do risco conexo com a sua atividade e o produtor final impelido à escolha
de produtores-fornecedores competentes e de confiança; e esta regra apresenta-se conforme com
as regras tradicionais da responsabilidade civil, uma vez que as atividades de ambos são concausas
do dano.
Muitas vezes, à vítima nem sempre é fácil ou mesmo possível identificar o responsável a
demandar na ação da responsabilidade. Nestes casos, considera-se suficiente a prova da razoável
probabilidade de o demandado ser o responsável no caso concreto – solução que vai ao encontro da
formulação negativa da causalidade adequada. Se várias pessoas forem prováveis responsáveis pelos
danos decorrentes de produto genérico, não se podendo saber quem, entre os vários produtores, os
causou real e especificamente, deve entender-se que respondem solidariamente.
Sendo uma obrigação solidária, o credor pode exigir toda a prestação de qualquer dos
devedores (art. 519.º do Código Civil), sendo que o cumprimento por parte deste libera os demais
devedores, ficando o solvens que haja cumprido do direito de regresso contra cada um dos
condevedores pela quota respetiva (art. 524.º). O legislador veio regular especificamente o direito de
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regresso no n.º 2 e 3 do art. 6.º: deve atender-se ao risco criado por cada responsável, à gravidade
da culpa e à sua contribuição para o dano; em caso de dúvida, a repartição faz-se em partes iguais.
apenas os especificados no art. 8.º, com o limite mínimo previsto no art. 9.º, sem prejuízo da
aplicação das normas de direito comum (art. 13.º). Notas:
No caso de morte ou lesão pessoal, são ressarcíveis todos os danos, sejam patrimoniais ou
não patrimoniais.
Porém, tratando-se de danos causados em coisas (danos patrimoniais), a lei protege apenas o
consumidor, ou seja, aquele que utilizava a coisa destruída ou deteriorada pelo produto
defeituoso para um fim privado e não pessoal. Isto evidencia o objetivo de proteção dos
consumidores e não dos profissionais. Assim ao abrigo deste regime, só são indemnizáveis os
danos causados por produtos defeituosos em coisas de uso privada (ex: A compra uma
televisão para sua casa que, em virtude de defeito grave, explode e destrói o recheio da casa).
O art. 7.º veio consagrar, de modo direto e aberto, a possibilidade do concurso do risco do
produtor com a culpa do lesado, pelo que não temos de ir para o art. 570.º do Código Civil. Isto
pode levar à redução ou mesmo à exclusão do dever de indemnizar, sendo que o juiz atenderá à
gravidade da culpa do lesado e sua contribuição para o dano: se se tratar de mera negligência,
poderá admitir que a indemnização seja totalmente concedida; se se tratar de dolo, excluirá a
responsabilidade.
distribuidor, que agrave a responsabilidade do produtor, isto não releva: a partir do momento em
que se prova o defeito na esfera produtiva, mesmo que haja uma agravante na esfera distributiva,
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isto não exclui a responsabilidade do produtor. O distribuidor só responde por culpa própria nos
termos gerais (embora haja, como vimos, certos distribuidores que se presumem produtores).
2.6.9 PRESCRIÇÃO
Nos termos do art. 11.º, o direito ao ressarcimento prescreve no prazo de três anos a contar
da data em que o lesado teve ou deveria ter tido conhecimento do dano, do defeito e da identidade
para propor a ação, mas dentro de um prazo de dez anos de caducidade. O prazo de caducidade
visa proteger o produtor. Após a expiração deste prazo, resta ao lesado pedir uma indemnização
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geral, o credor tem o direito de exigir judicialmente o cumprimento das obrigações (art. 817.º), e
tudo o que for prestado com intenção de cumprir pode ser repetido (art. 476.º/1). Porém, isto não
sucede nas obrigações naturais: o credor não pode exigir judicialmente o seu cumprimento e, se o
devedor cumprir espontaneamente, a prestação não pode ser repetida. Estas obrigações estão
reguladas no Código Civil, nos arts. 402.º e seguintes. Já se levantaram dúvidas quanto a saber se
esta seria ou não uma figura de carácter geral, sendo hoje isto unanimemente aceite.
Não pode ser repetido o que for prestado espontaneamente em cumprimento de obrigação
natural (art. 403.º). Mais do que excluir a repitibilidade da prestação, este preceito visa tratar o
ato espontâneo do devedor como cumprimento (não dando lugar à obrigação de restituir e
nem sequer sendo tratada como objeto de uma liberalidade).
uma juridicidade. No fundo, para que haja obrigação natural, “é necessário que exista, como
fundamento de uma prestação, um dever moral ou social específico entre pessoas
determinadas, cujo cumprimento seja imposto por uma reta composição de interesses”.
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ser repetida.
Dívidas provenientes de jogo ou aposta: o jogo e a aposta não são contratos válidos;
porém, as dívidas provenientes de jogo ou apostas, quando sejam lícitas e não haja sobre elas
legislação especial, são fontes de obrigações naturais (art. 1245.º). Porém, no caso de haver
legislação especial sobre jogo (art. 1247.º), o contrato de jogo não só é válido, como é fonte
de obrigações civis.
pessoas que não têm direito a exigir alimentos mas que os recebem em virtude de obrigações
naturais.
ANTUNES VARELA menciona o caso (já datado) em que um homem sustentava uma
mulher, mas em que não eram casados: o convívio dava origem à obrigação de assistência,
Para além destes casos, podemos ter outros. Exemplo real: uma senhora falece, era casada, e o
marido não permite que os pais dela visitem a urna. O STJ viu aqui uma obrigação natural, um dever
social.
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REGIME
Para além das regras especiais do art. 402.º e 403.º, o art. 404.º dispõe que “as obrigações
naturais estão sujeitas ao regime das obrigações civis em tudo o que não se relacione com a
realização coativa da prestação, salvas as disposições especiais na lei”. A regra é, assim, a da
equiparação das obrigações naturais às obrigações civis, com duas ressalvas: as disposições que se
referem especialmente a e a inaplicabilidade das normas que pressuponham a realização coativa da
prestação.
Disposições que se referem especialmente às obrigações naturais: é exemplo o art. 615.º
incapacidade do ofendido, concede-se o direito à indemnização não só aqueles que podiam exigir
alimentos ao lesado, como aqueles a quem ele os prestava no cumprimento de uma obrigação
natural) e o art. 403.º/1 (admite a repetição do indevido quando o devedor seja incapaz).
NATUREZA JURÍDICA
Por último, releva referir a natureza jurídica das obrigações naturais. Aqui, encontramos três
teorias/doutrinas:
1. OBRIGAÇÃO JURÍDICA IMPERFEITA: apesar de ser uma obrigação jurídica, falta-lhe o vinculo
no seu sentido pleno, ou seja, a possibilidade de reagir contra o incumprimento do devedor.
2. PURA SITUAÇÃO DE FACTO: foi a posição defendida por CARNELUTTI. Segundo este, a
obrigação natural é uma situação material sem relevância jurídica mas, quando cumprida, é
tida como uma obrigação de facto, para todos os efeitos jurídica. Só releva se cumprida, antes
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não há obrigações jurídicas. Esta é a teoria da juridicidade póstuma, facilmente afastada: há
4. DEVER MORAL OU SOCIAL JURIDICAMENTE RELEVANTE: foi defendida por autores como
OPPO e, entre nós, ANTUNES VARELA. As obrigações naturais prendem-se com deveres de
validamente sem ficar determinada a pessoa do credor, desde que ela seja determinável.
A indeterminação do sujeito ativo pode resultar de duas circunstâncias:
pessoa que terceiro nomeará entre as designadas pelo testador (art. 2182.º/2).
A identificação do credor faz-se mediante a ligação do vínculo obrigacional com outra
relação: é o caso típico dos títulos do portador, em que o credor da obrigação se determina
pela posse do documento; e dos títulos à ordem, livremente transmissíveis por endosso e nos
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cada um dos sujeitos compete apenas uma parte do crédito comum. No fundo, as prestações dos
devedores ou dos credores conjuntos resultam do fracionamento da prestação global, distinguindo-
se desta forma daquelas relações obrigacionais que, ligadas por um nexo de complementaridade,
nascem logo como obrigações separadas.. A conjunção tanto pode ser originária como
superveniente.
A regra, quando temos uma obrigação plural, é a da conjunção: isto resulta do art. 513.º, a
contrario.
A solidariedade ativa ou passiva só existe se for determinada por lei ou estipulada pelos
interessados: há certas normas que impõem a solidariedade, como o art. 497.º. Porém, no ramo do
direito comercial, a regra é a da solidariedade, art. 101.º e 102.º do Código Comercial.
Por via de regra, a parte de cada um dos credores ou devedores no crédito ou débito comum
é igual à dos restantes, logo a sua prestação determina-se dividindo a prestação global pelo
número de sujeitos do lado plural da obrigação. Porém, nem sempre assim acontece.
Cada vínculo é autónomo, podendo cada sujeito dispor livremente do seu direito. Os factos
relativos a cada um dos credores ou devedores (ex: se uma das obrigações for declarada nula)
não exerce nenhum efeito sobre as restantes obrigações.
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quando o credor pode exigir a prestação integral a qualquer dos devedores e a prestação efetuada
por um destes os libera a todos perante o credor comum (art. 512.º/1). Assim, são duas as notas
O efeito extintivo recíproco da satisfação dada por qualquer deles ao direito do credor.
Isto no plano das relações externas; no plano das relações internas, cada um dos obrigados deve
apenas uma quota ou uma parte da prestação, em regra proporcional ao seu número. Este é, porém,
um aspeto secundário, uma vez que pode acontecer que toda a prestação deva recair sobre um só
ou apenas alguns dos devedores (ex: acidente provocado por culpa do comissário).
A solidariedade nas obrigações justifica-se, não só para facilitar a exigência do crédito, mas
sobretudo para acautelar o credor contra o risco da insolvência de algum dos obrigados (por ex., na
responsabilidade extracontratual, art. 497.º, por forma a melhor acautelar os interesses da vítima).
Como vimos, sendo a conjunção a regra geral, a solidariedade só é admissível quando resulte
da lei ou vontade das partes (art. 513.º). Porém, a nossa lei não foi ao ponto de exigir, para a sua
estipulação entre as partes, uma declaração expressa: qualquer expressão (todos por um, um só por
todos, um pelos outros) que mostre a intenção de as partes consagrarem a solidariedade basta para
de aplicação da solidariedade passiva: em matéria de responsabilidade civil, quer por factos ilícitos,
quer objetiva é solidária a obrigação dos vários responsáveis (art. 497.º/1 e 507.º/1 e 2).
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devedores, podendo fazê-lo extrajudicialmente ou, se for caso disso, judicialmente (art. 519.º/1).
Porém, o credor pode prescindir deste benefício, exigindo de qualquer dos obrigados uma parte
apenas da prestação.
Notas:
Se o credor tiver demandado judicialmente um dos devedores e tiver obtido condenação, fica
inibido de proceder judicialmente contra os outros, salvo se houver entretanto insolvência ou
O interpelado pode, querendo, realizar a prestação por inteiro (art. 763.º/2); caso o credor se
recuse a recebê-la, incorrerá em mora.
Sendo demandado pela totalidade da prestação, ou por uma parte dela superior à quota que
lhe compete nas relações internas, o devedor tem a faculdade de chamar os outros à
realização da prestação: qualquer um deles pode cumprir, desde que realize a prestação por
inteiro.
2) MEIOS DE DEFESA DOS DEVEDORES: uma das questões mais importantes é saber em que
medida os factos relativos a um dos devedores se repercutem na posição jurídica dos outros. O art.
514.º diz que o devedor solidário demandado pode invocar:
Meios de defesa comuns: são aqueles que podem ser invocados contra o credor por qualquer
devedor demandado, uma vez que afetam a relação obrigacional no seu todo. Ex.: o credor retende
seu todo.
101
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Meios de defesa pessoais: são factos que apenas podem ser invocados pelo devedor a que
digam respeito, podendo tornar impossível a realização da prestação a título temporário ou
definitivo. Enquanto que os meios de defesa comuns atingem a relação obrigacional complexa no
seu todo, os meios pessoais atingem apenas uma das várias relações obrigacionais através das quais
o credor pode exigir de cada um dos devedores a prestação integral a que tem direito.
Os efeitos pessoais dos meios de defesa variam consoante a natureza do facto em que assentam:
Meios de defesa que, apesar de apenas poderem ser invocados pelo devedor a que se
Meios de defesa que prejudicam os outros devedores, pois não só não libertam os outros
devedores do dever de efetuar toda a prestação, como os prejudicam no seu direito de regresso. É o
incapacidade por ser um meio de defesa pessoal. A quota-parte de B é repartida pelos restantes
credores. É um meio que prejudica: nas externas tem de pagar tudo, e nas internas a sua quota-parte
fica acrescida. É ainda o caso da insolvência de um dos devedores: se um dos devedores ficar
insolvente, os outros arcam com a sua quota, pagando a deles mais a do outro devedor solidário –
art. 526.º. Este é um meio de defesa pessoal que os vai prejudicar, pois a nível de relações internas
não podem exigir nada ao devedor insolvente.
Meios de defesa que não prejudicam os outros devedores, embora também não lhes
aproveitem – neutros. São factos que liberam o devedor perante o credor, mas não em face dos
outros devedores que contra ele exerçam o direito de regresso. É o caso da prescrição e da remissão
concedida a um devedor, quando o credor reserve para si o seu direito por inteiro contra os outros
devedores.
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FDUC – DOII 2017/2018
devido, desde que haja acordo entre o credor e o devedor. Há uma figura muito próxima, a
dação pro solvendo (art. 840.º): aqui, o efeito de entrega de uma prestação diferente não é
obrigação invocando um crédito que tenha face ao seu credor. Temos aqui duas relações
obrigacionais: o credor e o devedor são simultaneamente credores e devedores um do outro.
O crédito tem de ser exigível judicialmente, o que não sucede, como vimos, nas
obrigações naturais. O credor desta obrigação não pode pedir compensação, o seu
intervenção legislativa.
As duas obrigações têm de ter por objeto coisas fungíveis, em regra dinheiro. Note-
Novação (art. 857.º e segs.): traduz-se na criação de uma obrigação nova para substituir a
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FDUC – DOII 2017/2018
Remissão da dívida (art. 863.º e segs.): trata-se de um acordo, com natureza contratual,
entre credor e devedor, que permite a renúncia do direito a exigir a prestação. A ideia geral é
que, havendo uma obrigação solidária e perdoando o credor apenas a um deles, os outros
beneficiam, por a dívida passa a ser menor, a pare perdoada é descontada no valor total da
dívida. Releva porque os outros devedores descontam sua parte na dívida – meio de defesa
pessoal relevante.
Confusão (art. 868.º e segs.): ocorre sempre que na mesma pessoa se reúnem devedor e
credor. Funciona de imediato, ope leges, art. 868.º. O que acontece quando há confusão no
caso de uma obrigação solidária= Se por alguma razão na mesma pessoa, B, temos as
qualidades de credor e devedor, aqui há a questão de a obrigação não ser singular: temos
tem um crédito de 100€ contra A. B pode invocar a compensação (meio de defesa pessoal),
extinguindo-se a dívida. A extinção da dívida aproveita igualmente a C e D, ou seja, estes
ficam desonerados perante o credor nas relações externas. E nas relações internas? B tem o
direito de regresso contra C e D, que vão ter de pagar sua quota parte, 5.000€ (o legislador
presume, quando as partes nada dizer, que as quotas são iguais, art. 516.º). Este é um meio
de defesa que aproveita a todos os devedores: C e D ficam desonerados face ao credor, e
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FDUC – DOII 2017/2018
Quer nas relações externas, quer nas relações internas, ficam beneficiados: é um meio que
Remissão:
864.º/1). Este é um meio de defesa pessoal que favorece os outros devedores, que vêem
seu direito por inteiro contra os outros devedores (art. 864.º/2). Apesar de C e D
continuarem a dever 15.000€, nas relações externas conservam o seu direito de regresso
por inteiro contra B, ou seja, o devedor desonerado continua a ter de suportar a sua
ação contra B, B invoca a prescrição (é um meio pessoal). Nas relações externas, nada se
altera, os devedores têm de pagar tudo; nas relações internas, C e D não saem
prejudicados porque B tem de pagar, art. 521.º. É, à semelhança da remissão com reserva,
um meio neutro.
Outro meio de defesa possível é o caso julgado – imaginemos que há uma ação prévia entre o
credor em relação aquela dívida. Será que o credor pode, com aquela ação, exigir aos demais a
prestação ou não? O art. 522.º proíbe a oponibilidade deste caso julgado: o credor apenas pode
intentar uma ação de execução contra o devedor condenado, ou demandar e pedir a condenação
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FDUC – DOII 2017/2018
dos restantes devedores. Esta solução justifica-se para permitir a todos os devedores a arguição de
julgado entre o credor e um dos devedores? Sim, o caso julgado desfavorável ao credor pode ser
oposto, mas desde que não se baseie em fundamento que respeite pessoalmente aquele
devedor. Ou seja, em princípio, o caso julgado pode ser convocado, mas apenas se se tiver baseado
num meio de defesa comum, como a invalidade do contrato. Se se baseou num meio de defesa
competia goza do direito de regresso contra os outros devedores pela quota respetiva, art. 524.º. Na
falta de convenção ou disposição em contrário, as quotas de cada um dos devedores solidários
contra ele, quando exerça o direito de regresso, os meios de defesa que lhes seria lícito opor ao
credor – art. 525.º.
Ou seja, os meios que vimos podem também ser invocados nas relações internas.
obrigações, ligadas entre si por um certo nexo – a comunhão de fim (colaboração na satisfação do
interesse do credor). Esta é a visão mais conforme a certos aspetos do regime das obrigações
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devedor a prestação por inteiro, e a prestação efetuada pelo devedor a qualquer deles libera-o em
face de todos os outros credores. O devedor tem a liberdade de escolher o credor a quem quer
parte do crédito comum. O credor cujo direito foi satisfeito além da parte que lhe competia tem de
satisfazer aos outros credores a parte que lhes cabe nesse crédito (art. 533.º).
3. QUANTO AO OBJETO:
estipulação das partes) não comporta fracionamento, ainda que sejam vários os credores ou
os devedores.
O problema surge nas obrigações indivisíveis em que há uma pluralidade de devedores: o credor
não pode exigir a cada um dos obrigados uma quota da prestação global, pois a tal se opõe o
carácter indivisível da prestação debitória. O credor reclama de todos os devedores a prestação
devida ou pode exigi-la, por inteiro, de um só deles? O art. 535.º consagra a primeira solução, salvo
se houver entre os devedores um vínculo de solidariedade.
NOÇÃO
As obrigações genéricas são aquelas obrigações cujo objeto está apenas determinado pelo
seu género (mediante a indicação das notas ou características que o distinguem) e pela sua
quantidade. Estão previstas no art. 539.º (que menciona apenas o género, pelo que devemos
acrescentar a quantidade).
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entrega de 100 kg de maçãs é uma obrigação genérica, por não indicar a sua qualidade.
A determinação do objeto da obrigação genérica pressupõe mais das vezes uma operação de
escolha, quando as coisas compreendidas no género fixado não tenham todas a mesma qualidade.
Outras vezes é a própria lei que concentra a prestação num dos objetos compreendidos no género;
outras ainda, quando os objetos compreendidos no género têm todos a mesma qualidade, a
determinação faz-se por meio de especificação, que pode constar de uma simples operação de
REGIME
determinada dentro do género. São quatro as causas de concentração previstas na lei (art. 541.º):
Acordo das partes: a escolha, na falta de estipulação em contrário, compete ao
devedor (art. 539.º) – isto porque a maior parte das normas do regime das obrigações
genéricas visa a proteção do devedor. As partes podem, porém, confiá-la a terceiro
Extinção parcial do género: o género extingue-se ao ponto de restar apenas uma das
coisas nele compreendidas. A concentração dá-se logo que não haja margem para a
deva ser enviada para local diferente do lugar do cumprimento, a concentração dá-se
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FDUC – DOII 2017/2018
logo com a entrega ao transportados ou expedidor da coisa ou à pessoa designada
EXONERAÇÃO DO DEVEDOR: enquanto houver coisas dentro do género fixado, mesmo que
as coisas perecidas ou inutilizadas sejam aquelas com que o devedor pensava cumprir, continua
adstrito ao vínculo obrigacional (art. 540.º). Só poderá ser exonerado quando, sem culpa sua, se
extinguir todo o género dentro do qual aprestação está compreendida.
RISCO: aqui, os princípios fundamentais são os de que o risco corre por conta do proprietário
(art. 796.º) e de que o domínio nas obrigações genéricas só se transfere com a concentração da
obrigação (art. 1317.º/a) e 408.º). A partir da concentração, há lugar à transferência do domínio, que
devedor, quer ele continue ainda vinculado, quer fique exonerado por ter desaparecido todo o
género.
NOÇÃO
As obrigações alternativas são obrigações que compreendem duas ou mais prestações,
exonerando-se o devedor mediante a realização de uma delas. O vínculo abrange várias prestações,
mas o cumprimento fixa-se apenas em uma delas. Estão previstas no art. 543.º e segs. e distinguem-
se facilmente das obrigações genéricas: enquanto que nas obrigações alternativas as partes têm em
vista os diversos objetos da prestação na sua individualidade própria; nas obrigações genéricas, têm
em vista apenas o género em que a prestação se integra, as qualidades comuns das múltiplas
prestações em que a obrigação se pode concentrar no momento do cumprimento.
109
FDUC – DOII 2017/2018
REGIME
Aspetos principais do regime das obrigações alternativas:
Escolha: a escolha é o ato pelo qual se opera a concentração da obrigação numa das
prestações em alternativa a que o devedor se encontra adstrito. O poder de escolha tanto pode
pertencer a uma das partes como a um terceiro (art. 400.º, 543.º e 549.º). Na falta de convenção em
contrário, é ao devedor que a escolha compete (art. 543.º/2). Ver arts. 548.º e 549.º (que remete
para o art. 542.º: se a escolha compete ao devedor e este não escolhe, a escolha passa a competir
ao credor).
legis, art. 545.º). Se se dá depois da escolha estar feita, uma vez que a escolha
converte a obrigação alternativa numa obrigação simples, temos duas hipóteses: se
supervenientes das obrigações simples por causa não imputável às partes (art.
790.º e segs.).
Por causa imputável ao devedor: aqui, temos várias hipóteses (art. 546.º).
o Se o direito de escolha for do devedor, a obrigação reduz-se às
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FDUC – DOII 2017/2018
indemnização pelos danos provenientes de não ser efetuada a prestação
igualmente por cumprida. Porém, este pode optar pela prestação possível
e exigir, simultaneamente, a indemnização pelos danos que haja sofrido.
prestação possível, com os efeitos previstos na parte final do art. 547.º. Se for
imputável ao devedor, o terceiro poderá optar por qualquer das prestações
As obrigações com faculdade alternativa são aquelas obrigações que têm por objeto apenas
uma prestação, mas em que o devedor tem a faculdade de se desonerar mediante a realização de
uma outra, sem necessidade da aquiescência posterior do credor. O credor não pode exigir a
prestação alternativa, mas terá de a aceitar se o devedor optar por ela, sob pena de incorrer em
mora.
Distinguem-se:
Das obrigações alternativas: enquanto nestas há na sua génese uma opção, nas obrigações
com faculdade alternativa apenas há uma obrigação, mas mediante determinadas
prestação.
111
FDUC – DOII 2017/2018
4. OBRIGAÇÕES PECUNIÁRIAS
4.1 NOÇÃO
Aparecem reguladas nos arts. 550.º e segs. As obrigações pecuniárias são aquelas obrigações
que, tendo por objeto uma prestação em dinheiro, visam proporcionar ao credor o valor que as
respetivas espécies possuam como tal. Para termos uma obrigação pecuniária, não basta que esta
verse sobre um montante em dinheiro: o dinheiro tem de ser visto na ótica do seu valor. Não se tem
representado por essas espécies pecuniárias. Podemos ter obrigações cujo objeto é um montante em
dinheiro mas não são obrigações pecuniárias:
Se entregamos a um colega uma moeda para que este a guarde e amanha a entregue
(depósito singular), a obrigação de entregar a moeda não é uma obrigação pecuniária, mas
sim de entrega de uma coisa certa e determinada. Não está em causa o dinheiro enquanto
valor.
quantitativo, mas aquelas espécies que foram expostas. Esta é uma obrigação que não é
pecuniária, pois o que a caracteriza e que e vista tendo em conta o valor das espécies
Valor nominal: é aquele com que as espécies monetárias são postas a circular. Quando se diz
que uma moeda vale 1€, este é o seu valor nominal.
Valor metálico ou intrínseco: é o valor do metal ou liga metálica contida em cada espécie
Valor aquisitivo: traduz-se no conjunto de bens que se pode adquirir com aquele conjunto
de moedas. Quando os preços aumentam, o valor aquisitivo diminui.
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FDUC – DOII 2017/2018
valor aquisitivo pode variar. Será que o valor nominal a entregar ao credor é o mesmo do momento
do cumprimento ou a obrigação deve ser atualizada em termos de facultar ao credor um poder
aquisitivo real semelhante ao que a prestação lhe proporcionaria no momento em qua obrigação foi
constituída? O legislador, no art. 550.º, opta pela primeira hipótese: o valor nominal deve ser o
mesmo, salvo estipulação em contrário. Isto significa que as partes podem defender o poder
aquisitivo da prestações através da inserção de cláusulas de atualização ou indexação adequadas,
é paga tendo em conta o seu valor nominal. Mas o que justifica este princípio, que é uma regra
supletiva?
O critério do art. 550.º é um critério mais cómodo, pois as atualizações e indexações não são
muito seguras.
Por outro lado, a atualização das prestações poderia levar a certas injustiças. Por exemplo,
não é seguro que o credor tivesse conseguido colocar o dinheiro numa aplicação segura e
rentável se o tivesse logo recebido.
Para além da hipótese de as partes inserirem cláusulas de indexação ou atualização, muitas vezes
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FDUC – DOII 2017/2018
tem direito a um dado montante em dinheiro, tem direito a reparação dos prejuízos que
sofreu. No momento do cumprimento, quando a reparação natural não é possível, vai ficar
Relativamente a estas dívidas de valor, não vale o princípio nominalista. Nestas dívidas de
valor, o princípio nominalista só passa a valer a partir do momento em que é fixado o montante em
dinheiro, pois a partir desse momento o objeto é esse dado montante. Por ex., no caso da obrigação
da indemnização, o momento que se deve atender para a fixação dos danos (art. 566.º/2) é a data
mais recente possível.
As obrigações de moeda específica são aquelas obrigações em que se estipula que o cumprimento
tem de ser feito em determinada espécie monetária, estando previstas no art. 552.º e segs. Isto é
revestir:
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FDUC – DOII 2017/2018
O art. 553.º vem dizer que, se for estipulado que o cumprimento deve ser feito numa espécie
monetária, o cumprimento deve ser feito nessa espécie, ainda que tenha variado de valor. Se se
convencionou que a divida era de 50 libras de ouro, o devedor terá de entregar 50 libras de ouro
independentemente de o seu valor tiver variado entre a data da constituição e a data do respetivo
cumprimento. Já o art. 554.º prevê a hipótese de se fixar a quantia devida em dinheiro corrente e
estipular-se ao mesmo tempo que o cumprimento será feito em certa espécie monetária.
Mas pode acontecer que não haja moedas para fazer o cumprimento: tem de fazer prova da
impossibilidade de arranjar o metal, e o pagamento pode ser feito, na parte da divida que não se
conseguir cumprir, em moeda corrente que perfaça o valor dela segundo a cotação que a moeda
3) OBRIGAÇÕES VALUTÁRIAS: são obrigações cujo cumprimento se estipula que seja feito em
moeda estrangeira (art. 558.º). Quanto à moeda convencionada, o pagamento obedecerá em regra
ao princípio nominalista.
O art. 558.º reconhece ao devedor a possibilidade de cumprir com moeda nacional, calculando-
se o câmbio no dia do cumprimento. Estas são as obrigações valutárias impróprias: é valutária por
ser fixada em moeda estrangeira, mas imprópria por ser cumprida na moeda com curso legal. As
obrigações valutárias impróprias são obrigações de faculdade alternativa. Note-se que as partes têm
a possibilidade de estabelecer que o cumprimento tem de ser feito na moeda estrangeira sem a
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FDUC – DOII 2017/2018
Os juros são os frutos civis, constituídos por coisas fungíveis, que constituem o
rendimento de uma obrigação de capital; ou seja, são a remuneração do capital. Podem ser
convencionais ou legais: convencionais quando a taxa é fixada pelas partes aquando da celebração
do respetivo negócio, e legais quando está fixada na lei. Quando as partes não fixam uma taxa,
pago pelos danos moratórios. Quando o devedor não paga, no prazo previsto, a respetiva obrigação,
e esses atraso lhe é imputável, dizemos que o devedor está em mora. Esse atraso, só por si, causa
danos ao respetivo credor. Nas obrigações pecuniárias, o legislador presume a existência desses
danos: enquanto nas restantes o credor deve fazer prova que o atraso lhe causou prejuízos, nas
O legislador fixa limites para a taxa de juro: a proibição da usura (antes, proibia-se mesmo o
mútuo civil). Para prevenir a usura, o legislador fixa limites para as taxas de juro: mesmo as taxas
semestre normalmente através de aviso do Ministério das Finanças e da Economia. Para este ano, as
taxas de juros são as seguintes:
A taxa de juros comerciais para a generalidade das obrigações pecuniárias é de 7.25%; e, para
as dívidas comerciais resultantes de certas transações, é de 8.25%. Isto resulta do Decreto-lei
62/2013.
A taxa de juro civil é de 4% (mútuo civil e pagamento de juros de mora).
Porquê o valor de 7.25%? O Decreto-lei 62/2013 é a transposição de uma diretiva que visava
transações comerciais entre empresas, estando de fora os débitos dos consumidores e, nas relações
entre empresas, as dívidas não resultantes de transações comerciais. Este Decreto-lei veio modificar o
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FDUC – DOII 2017/2018
art. 102.º do Código Comercial, acrescentando o parágrafo 5: o art. 102. contém o critério de
fixação das taxas de juro, relativamente à generalidade das dívidas, tendo em conta a taxa do Banco
Central Europeu acrescida de 7 pontos percentuais. Esta taxa é de 0.25%, que mais 7 pontos
percentuais dá aquela taxa de 7.25%. Para as outras transações, é a taxa de referência do Banco mais
8 pontos percentuais, que dá a taxa de 8.25%. A Portaria 277/2013 repete o critério do 102.º do
Código Comercial.
As partes não podem convencionar taxas de juro superiores. Mas vemos que os bancos cobram
taxas de juro muito superiores. Isto porque a lei não limita o mútuo bancário, vigorando a lei da
concorrência.
Além de limitar o montante, a lei estabelece a proibição do anatocismo, art. 560.º O anatocismo
traduz-se no vencimento de juros sobre juros, sendo que o legislador proíbe isto, uma vez que tal
resultaria em subversão das regras que impõem limites aos juros (permitir que os próprios juros
vencessem juros seria aumentar a taxa). Isto a menos que essa convenção acerca da capitalização
seja posterior ao próprio vencimento: por ex., os juros de mora são 4% por cada mês de atraso. Só
ao cabo do vencimento desses mesmos juros é que se podem recapitalizar.
Os juros pressupõem uma obrigação de capital, mas a lei dá-lhes uma certa autonomia, que
consiste na possibilidade de serem cedidos. O credor pode ceder o seu direito ao capital e continuar
com o crédito de juros, ou pode ceder o seu crédito de juros e continuar com o seu direito ao
capital. Há uma certa independência, prevista no art. 561.º. Esta independência reflete-se também a
nível da prescrição, art. 307.º e 310.º. Do art. 307.º resulta que os juros são prestações periódicas e a
obrigação de capital não. Por outro lado, a dívida de juros tem um prazo de prescrição de 5 anos e o
capital, não se dizendo mais nada, vigora o prazo geral da prescrição (art. 310.º). Assim, pode haver
extinção da obrigação de pagar juros e manter-se a obrigação de devolver o capital.
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FDUC – DOII 2017/2018
O credor tem direito à prestação, e aqui prestação aparece com vários significados, que são
pressupostos em normas diferentes. Quando falamos em prestação, podemos supor que estamos a
realização do interesse do respetivo credor. A prestação debitória pode ser possível mas pode não
ter o valor do cumprimento, por não satisfazer o interesse e por essa perda de interesse ter sido
E se a prestação debitória for realizada por outrem que não o devedor? É possível, quando se
trata de prestação de natureza fungível, um terceiro realizar a respetiva prestação. E o credor nem
sequer se pode recusar a receber se for fungível, não prejudicando o interesse do credor a satisfação
de terceiro. Quando é o terceiro que cumpre ou realize os factos, será que podemos falar em
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FDUC – DOII 2017/2018
credor, como um direito à prestação. Dentro dos vários poderes que o direito de crédito comporta,
destaca-se o poder ou a faculdade de o credor exigir do devedor a atuação ou realização da
prestação que lhe é devida – é neste sentido que a obrigação pode ser vista como direito ao
cumprimento. Esta é a mesma realidade mas em momentos diferentes: o momento genético, com a
ordem jurídica a conferir ao credor o direito à prestação e a impor ao devedor o dever de prestar; e
o momento funcional, de realização do direito, com a lei a conferir ao credor o poder de exigir o
cumprimento da prestação.
Apesar de serem a mesma realidade vista em momentos distintos, não se confundem:
O direito à prestação ou direito de crédito existe logo que a prestação é devida, enquanto que
para poder exigir-se o cumprimento a obrigação tem de estar vencida.
O direito à prestação não se esgota no poder de exigir o cumprimento, encerra em si, no seu
conteúdo, outros poderes ou faculdades (por exemplo, o poder de dispor do crédito).
Se o cumprimento da prestação não for possível, pode surgir, em seu lugar, o direito de o
credor reclamar o ressarcimento dos danos causados (que pode, no caso de mora, cumular-se
1.2 PRINCÍPIOS
1) PRINCÍPIO DA BOA FÉ: o art. 762.º/2 estipula que, tanto o cumprimento da obrigação,
como no exercício do respetivo direito de crédito, as partes devem proceder de boa fé. Este princípio
assume aqui o sentido de princípio norteador de comportamento, que exige que o devedor e credor
ajam de forma honesta, correta e leal. Note-se que esta regra aplica-se tanto ao credor como o
devedor: o devedor não pode ficar à mercê do credor, apesar de a relação obrigacional se constituir
no interesse deste.
O princípio da boa fé é fonte de vários deveres de conduta: apesar de ser a prestação
principal que realiza o interesse do credor, acaba por nascer um conjunto significativo de deveres de
conduta necessários para o concreto processamento da relação. Apesar de estes deveres não serem,
pela sua natureza, ser objeto da ação de cumprimento a que se refere o art. 817.º/2, a sua
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FDUC – DOII 2017/2018
inobservância pode dar lugar a um cumprimento defeituoso (art. 762.º/2), obrigando o devedor a
dificultar o cumprimento, mas é mesmo necessário que pratique atos que facilitem o cumprimento.
Por ex., um contrato de empreitada em que o credor (dono da obra) tem de facultar ao devedor o
substrato material da respetiva prestação- dar acesso ao local, fazer trabalhos preparatórios quando
convencionados, entregar o objeto da prestação onde recai o trabalho do empreiteiro, etc. Há um
conjunto de atos preparatórios que o credor tem de cumprir, sob pena de incorrer em mora.
servanda, art. 406.º. Quando falamos em pontualidade, não nos referimos apenas ao cumprimento a
tempo e horas; isto significa que o cumprimento deve coincidir, ponto por ponto, em toda a linha,
2.1) Primeiro corolário: cumprimento integral. A prestação debitória deve ser realizada
integralmente e não por partes, não podendo ser o credor forçado a aceitar o cumprimento parcial
(art. 763.º). A prestação deve ser realiza integralmente, exceto se for outro o regime convencionado.
Quando o devedor oferece a prestação, tem de ser oferecida na totalidade; caso contrário, o credor
pode recusar a prestação em partes e o devedor incorre em mora relativamente a toda a prestação.
Porém, o credor, se assim o entender, pode aceitar o cumprimento parcial; ou, renunciando ao
benefício, pode exigir apenas uma parte do crédito (art. 763.º/2). Note-se que nem sequer é
necessário averiguar se o cumprimento parcial prejudica ou não o interesse do credor: porém, se o
não cumprimento de uma obrigação de uma parcela da prestação não tem relevo jurídico e o credor
a recusa, podemos convocar a má fé para ilegitimar o comportamento do credor.
No caso de impossibilidade parcial, não imputável ao devedor, pode acontecer que o credor
tenha de aceitar o cumprimento parcial a menos que isso prejudique o seu interesse.
O art. 763.º ressalva a possibilidade de ser outro o regime convencionado ou imposto por lei
ou pelos usos – por exemplo, nas obrigações fracionadas.
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2.2) Segundo corolário: o devedor não goza do chamado do benefício competentiae. Isto
significa que, ainda que o cumprimento da obrigação coloque o devedor em dificuldades
económicas tais que ele fica numa situação miserável, ele não deixa de estar obrigado ao respetivo
cumprimento. A doutrina, sobretudo a alemã, durante a fase da segunda grande guerra, falou muito
da chamada impossibilidade económica, do limite do sacrifício: quando o cumprimento colocasse o
devedor em circunstância económicas tais que o colocasse uma situação miserável, deixaria de ser
exigível o cumprimento. Porém, a nossa lei não acolheu a doutrina do limite do sacrifício, ainda que o
2.3) Terceiro corolário: o devedor não se pode desonerar ou liberar, entregando coisa
diferente da prevista no título constitutivo da obrigação, ainda que essa coisa diferente tenha
maior valor. Isto a menos que exista consentimento do respetivo credor. Quando alguém entrega
coisa diferente da que foi convencionada, temos uma dação em cumprimento, que é uma forma de
extinção para além do cumprimento. Esta só é eficaz se houver consentimento, art. 837.º.
obter a prestação originária a que tem direito, pedindo assim a condenação in natura do devedor.
Isto implica considerar-se o devedor em atraso ou morar, mas não em incumprimento definitivo.
Diferentemente, quanto o credor recorre à ação de reparação do dano causado pelo incumprimento,
está a renunciar ao cumprimento, passando a obrigação do devedor a ter por objeto o ressarcimento
do dano.
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Enquanto que são pressupostos da ação de responsabilidade civil do devedor por incumprimento a
culpa do devedor e a existência de dano resultante de facto ilícito (arts. 798.º e 483.º), a ação de
cumprimento não pressupõe a culpa do devedor, nem a existência de dano proveniente do atraso na
realização da prestação. Pode haver danos moratórios, mas o objetivo desta ação não é repará-los.
sucedânea da prestação principal. Falamos em prioridade natural da ação de cumprimento pois esta
visa que o tribunal condene o devedor à realização da prestação, ou seja, tem os mesmos efeitos que
o cumprimento. A prioridade da ação de cumprimento justifica-se perante a indemnização, seja em
forma específica, seja por equivalente: esta já não realiza o interesse primário do devedor, é um
primário: daí a prioridade natural da ação de cumprimento, que realiza o interesse do credor,
O princípio geral está no art. 772.º: na falta de estipulação, a prestação deve ser efetuada no
domicílio do devedor. Esta seria uma regra geral, que se compreende pois o regime do cumprimento
e do incumprimento tem um cunho de proteção do devedor, a parte mais fraca. Mas esta é uma
regra que tem inúmeras exceções, a principal das quais tem a ver com as obrigações pecuniárias: o
art. 774.º diz que, se a obrigação tiver por objeto certa quantia em dinheiro, deve a prestação ser
efetuada no lugar do domicílio do réu. Esta é a maior exceção. O art. 773.º refere-se à entrega de
coisas móveis.
Note-se que estas são normas supletivas; porém, alguns contratos têm normas mandatórias
quando ao lugar.
122
FDUC – DOII 2017/2018
PRAZO
Quanto ao prazo, podemos ter obrigações puras, em que não existe fixação do prazo; ou
obrigações com prazo. As primeiras são válidas, não são indeterminadas, pois quando as partes não
fixam um prazo o credor tem o direito de exigir a todo o tempo o cumprimento da obrigação, assim
como o devedor pode a qualquer tempo exonerar-se (art. 777.º). Ou seja, se não for fixado prazo,
pode ser exigido o cumprimento a todo o tempo. Apesar de a obrigação ser imediatamente exigível,
tem de haver um ato do credor, a interpelação (ato pelo qual pede o cumprimento da prestação);
porém, o devedor pode, se tiver interesse, realizar a prestação quando quiser, mesmo sem
interpelação.
O problema que surgiu foi o de saber se o devedor e credor são protegidos durante o
decurso do prazo.
Quem tem o benefício do prazo? Isto está previsto no art. 779.º: o prazo tem-se por
estabelecido a favor do devedor, quando se não mostre que o foi a favor do credor ou de ambos.
Se temos um benefício do prazo a favor do devedor, isto significa que, até ao decurso do
Há situações em que o devedor perde o benefício do prazo, como sucede nas obrigações a
prestações: a regra geral é a do art. 781.º, segundo o qual o não pagamento de uma prestação
implica a perda do benefício do prazo (com a regra especial do art. 934.º). O art. 780.º estabelece a
regra geral da perda do benefício do prazo: há quem entenda que esta norma é inconstitucional. Se
uma pessoa se torna insolvente e tem créditos ainda não vencidos, esses credores podem logo exigir
o cumprimento: a vantagem para o credor é a de que pode imediatamente acionar as garantias que
tenha. Também há perda do benefício se diminui as garantias (por ex., se não pagar caução).
123
FDUC – DOII 2017/2018
Obrigações com cláusulas cum potuerit, art. 778.º/1: se tiver sido estabelecido que o
devedor cumpre quando puder, a prestação só é exigível tendo este possibilidade de cumprir. Como
se distinguem das obrigações naturais? Nestas últimas não há uma exigibilidade; nas obrigações cum
potuerit, o credor pode exigir o cumprimento quando haja possibilidade de cumprimento por parte
do devedor. O legislador estabelece uma regra para o falecimento do devedor: a prestação é exigível
aos herdeiros, independentemente da prova dessa possibilidade. Isto significa que, com o
falecimento do devedor, a obrigação torna-se exigível e deixa de ser cum potuerit, há uma conversão
da obrigação ope legis.
Obrigações com cláusulas cum voluerit, art. 778.º/2: o devedor cumpre quando quiser. Não
existe qualquer possibilidade de interpelar; se falecer, os seus herdeiros têm de cumprir.
2. A COERÇÃO AO CUMPRIMENTO
A coerção privada visa compelir o devedor ao cumprimento, ou seja, fazer pressão sobre a
destinada a obter o cumprimento, pressupõe que o devedor possa cumprir a obrigação válida
e eficazmente.
eventuais abusos).
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FDUC – DOII 2017/2018
Meios defensivos.
obrigacional defender o seu direito utilizando determinados meios ao seu dispor. Ou seja, o credor
atua passivamente, limitando-se a responder ao não cumprimento pontual do devedor, para defesa
e garantia do seu direito. O credor atua na defensiva e esta sua atuação pode revelar-se um meio
coercitivo eficaz que determine o devedor a cumprir. É o caso da exceção de não cumprimento e do
direito de retenção.
1) CLÁUSULA PENAL
Noção e função
Podemos definir cláusula penal como a estipulação negocial segundo a qual o devedor, se
não cumprir a obrigação ou não a cumprir exatamente nos termos devidos (maxime no tempo
fixado), será obrigado, a título de indemnização sancionatória, ao pagamento de uma quantia
Cláusula penal moratória, que visa estabelecer o montante indemnizatório no caso de não
cumprimento no prazo estabelecido;
Ou, mais frequente, compensatória, que visa indemnizar ou liquidar os danos resultantes do
incumprimento definitivo. Podemos ter uma, outra, ou ambas no mesmo contrato.
125
FDUC – DOII 2017/2018
de eventual não cumprimento ou cumprimento inexato. Isto significa que o devedor, vinculado à
cláusula penal, não será obrigado ao ressarcimento do dano que efetivamente causar ao credor, mas
ao ressarcimento do dano fixado antecipadamente, sempre que não tenha sido convencionada a
ressarcibilidade do dano excedente (art. 811.º/2). Desta forma, a cláusula penal simplifica a fase
Função coerciva: para além da função ressarcidora, a cláusula penal desempenha igualmente
uma função coerciva, que resulta do facto de, ao se estabelecer o montante apagar em caso de
cumprimento (que tende a ser muito mais elevado do que aquele que resulta dos danos sofridos), o
devedor sentir-se-á compelido ao cumprimento. O carácter elevado da pena constrange
Alguns autores vêem na função coercitiva a finalidade principal da cláusula penal, e na função
ressarcidora uma finalidade secundária (sendo que outros autores ainda vêem a função ressarcidora
como principal). CALVÃO DA SILVA considera serem as duas funções essenciais à caracterização do
instituto: se tivesse apenas uma função coercitiva, isto teria duas consequências (que a nossa lei
O art. 811.º estipula que o credor não pode exigir o cumprimento coercivo e a
indemnização pela cláusula penal. Note-se que esta incompatibilidade só existe quando a cláusula
penal é compensatória; já é possível cumular a ação de cumprimento e a cláusula penal moratória. Se
a obrigação principal foi cumprida, não há dano a compensar, logo a cláusula penal não pode
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FDUC – DOII 2017/2018
funcionar. Porém, se o dever de prestar é cumprido tardiamente, o dever de indemnizar o dano
cláusula penal compensatória – aumentaria o papel coercitivo da cláusula penal, mas seria contra a
sua função ressarcidora.
exija indemnização pelos danos excedentes. Proíbe-se, assim, o cúmulo da cláusula penal com a
indemnização segundo as regras gerais, ainda que o dano real seja substancialmente superior. Caso
contrário, sendo possível o cúmulo, isto significaria uma de duas coisas: ou admitir uma cláusula
penal puramente compulsória, ou admitir duas vezes a indemnização do credor.
mínimo indemnizatório.
Este regime explica-se por considerações de certeza e de segurança do direito, alcançadas
pela fixação antecipada do montante da indemnização. Porém, CALVÃO DA SILVA considera que,
de iure condendo, deveria ser permitida a indemnização pelo dano excedente:
Esta regra estaria mais em conformidade com o objetivo da cláusula penal, que é o de
defender e não prejudicar o credor.
Não violaria a função indemnizatória, embora esta ficasse limitada à fixação de um mínimo
indemnizatório.
Potenciaria a função coercitiva, pois o devedor sabe que terá de responder pela totalidade do
dano resultante do incumprimento.
Evitaria que a cláusula funcionasse como uma cláusula limitativa de responsabilidade, o que
subverte este instituto.
A não se alterar o art. 811.º/2, o autor defende que deveria pelo menos facultar-se ao juiz o
que lhe é facultado hoje de reduzir a cláusula manifestamente excessiva (art. 812.º/1).
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FDUC – DOII 2017/2018
à letra, parece que a cláusula penal nunca pode ser de montante superior ao dano real: ora, isto não
faz sentido nenhum.
Qual é, assim, a interpretação que devemos fazer deste preceito? O legislador terá querido
reforçar a ideia de que não é admissível o cúmulo da cláusula penal e da indemnização, ou seja, não
se admite uma cláusula penal puramente sancionatória. Este artigo terá alguma utilidade, ainda que
redundante, quando haja convenção no sentido da possibilidade de indemnização dos danos
excedentes: aí, esta indemnização não pode exceder os danos reais. Se assim não fosse, ou seja, se a
cláusula penal nunca pudesse ser de montante superior ao dano real, também não faria sentido o
art. 812.º, que ficaria sem utilidade: este permite precisamente um a redução da cláusula penal
quando manifestamente excessiva.
Para além disto, se existir uma convenção de cúmulo da cláusula penal e da indemnização,
deve, por redução teleológica, valer como cláusula de ressarcibilidade do dano excedente.
Fica, assim, definido o sentido do art. 811.º/3: o credor não pode em caso algum, mesmo que
o tenha convencionado expressamente, exigir uma indemnização que exceda o valor do prejuízo
cumprimento. Isto pode levar a abusos e iniquidades, pelo que o nosso Código consagrou, no art.
812.º, o poder judicial de redução equitativa das cláusulas penais. Este poder tem, porém, de ser
excecional e limitado à correção de abusos, sob pena de aniquilar a função sancionatória da cláusula
penal. O requisito estabelecido por lei para a intervenção do tribunal é a existência de uma cláusula
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FDUC – DOII 2017/2018
manifestamente excessiva, ou seja, de uma cláusula cujo montante desmesurado e desproporcional
ao dano seja clamoroso. Na apreciação do carácter excessivo da cláusula penal, o juiz deverá atende
às condições de formação do contrato, à situação económica das partes, aos seus interesses
legítimos, etc.
Isto não significa, porém, que o juiz deva reduzir a cláusula penal manifestamente excessiva ao
montante do dano real, pois aí estaria a desrespeitar-se o seu valor coercitivo. A redução deve
manter a cláusula penal num montante razoavelmente superior ao dano efetivamente causado.
2) SINAL
Já vimos no último semestre. Aspetos a relembrar:
incumprimento.
São duas formas de constituição:
Convenção;
Caso funcione a presunção do art. 441.º, já não é necessário a convenção das partes
incumprimento. Nesse caso, havendo incumprimento do devedor mas com culpa de ambos
os sujeitos, aplica-se o art. 570.º: é preciso analisar o grau de culpa de ambas as partes (não
mais.
Se o incumprimento for um incumprimento não culposo, a obrigação principal extingue-se e
não há fundamento jurídico para uma indemnização calculada nos termos do sinal (esta é
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FDUC – DOII 2017/2018
Noção e pressupostos
O art. 432.º dispõe que é admitida a resolução do contrato com fundamento na lei ou
convenção. Assim, este artigo admite a resolução convencional, facultando às partes, de acordo com
o princípio da autonomia da vontade, o poder de atribuir a ambas ou a uma delas o direito de
resolver o contrato quando ocorra certo e determinado facto (por exemplo, não cumprimento ou
não cumprimento nos termos devidos). A esta estipulação negocial dá-se o nome de cláusula
resolutiva expressa.
Para que haja cláusula resolutiva expressa, esta não pode ter um conteúdo meramente
genérico: as partes têm de fazer uma referência explícita e precisa às obrigações cujo cumprimento
dá direito à resolução, identificando-as. Ocorrendo a inadimplência da obrigação especificamente
prevista, o credor tem o poder jurídico de, por um simples ato livro de vontade e por si só (sem
necessidade de intervenção judicial e sem ter de recorrer ao art. 808.º), produzir a resolução.
emergentes do contrato, isto não passa de uma referência à condição resolutiva tácita. A condição
resolutiva tácita é a possibilidade que qualquer credor tem de resolver o contrato com base no
incumprimento, estando prevista no art. 801.º/2. Note-se que as partes não precisam de mencionar
este artigo para resolver o contrato com base no incumprimento, e a sua existência não é perturbada
Valor coercitivo
A cláusula resolutiva expressa tem uma certa força coercitiva: a ameaça nela contida de
resolver imediatamente, de pleno direito, o contrato por simples declaração à parte inadimplente,
uma vez verificada a inadimplência prevista, é um poderoso incentivo para o devedor cumprir as suas
obrigações.
eficácia retroativa.
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FDUC – DOII 2017/2018
A condição resolutiva clássica também tem este valor coercitivo, que também pode operar por
simples declaração à outra parte (art. 436.º). A diferença é que este é um meio legal e não
convencional.
Noção
A exceção de não cumprimento está prevista no art. 428.º e segs., e legitima a recusa do
credor a cumprir a prestação enquanto o devedor não cumprir a sua ou não oferecer o seu
um das prestações constitui o pressuposto e correspetivo lógico da outra. Assim, a exceção de não
cumprimento é exclusiva dos contratos bilaterais, não se aplicando sequer aos contratos bilaterais
imperfeitos.
Porém, o princípio da simultaneidade do cumprimento de obrigações recíprocas pode não
existir por convenção das partes (ex: o comprador beneficia de um prazo para o pagamento do
preço), da lei, da boa fé, dos usos ou da própria natureza da obrigação. Neste caso, a exceptio non
adimpleti contractus não pode ser invocada pela parte que está obrigada a cumprir em primeiro
lugar, mas já o pode ser por aquela cuja prestação deva ser realizada em segundo lugar. Porém, se
faculdade de recusar a respetiva prestação, enquanto o outro não cumprir ou não der garantias de
cumprimento (art. 429.º).
131
FDUC – DOII 2017/2018
sinalagmaticidade.
Será que a exceção pode ser invocada no caso de incumprimento parcial? Não pode, a não
ser que haja a possibilidade de redução parcial da contraprestação. O credor pode não pagar
uma parte da sua contraprestação.
Esta figura é extremamente forte, uma vez que não é possível afastar a sua aplicação através da
a impotência do devedor. É preferível para o credor não cumprir a sua obrigação, recíproca da
obrigação não cumprida pelo devedor, a estar a cumprir e a sofrer as consequências da
É possível afastar a exceção? Em bom rigor, trata-se de um instituto que defende ambas as
partes do contrato. O legislador pretendeu que este instituto fosse uma solução meramente
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FDUC – DOII 2017/2018
Assim, as partes não podem afastar os direitos do credor, mas apenas “aqueles que se situam
na secção anterior” – que não é o caso da exceção. Porém, a opinião da doutrina e jurisprudência
maioritária diz que se deve alargar o art. 809.º e incluir a exceção. Esta é uma opinião não unânime,
pelo que há decisões dos tribunais que permitem o afastamento.
2) DIREITO DE RETENÇÃO
Noção
Nos termos do art. 754.º, o devedor que disponha de um crédito contra o seu credor goza do
direito de retenção se, estando obrigado a entregar uma coisa, o seu crédito resultar de despesas
feitas por causa da coisa ou de danos por ela causados. É um direito real de garantia, mas tem
sentido aqui convocá-lo pois garante uma obrigação. São três os pressupostos necessários para que
a)).
Que o devedor seja simultaneamente credor da pessoa a quem deve entregar a coisa
legitimamente detida.
Que o direito de crédito da pessoa obrigada a entregar a coisa detida tenha estreita conexão
causal com essa mesma coisa, resultante de despesas feitas por causa dela ou de danos por
ela causados.
Notas:
Ao lado do direito de retenção, previsto com carácter geral no art. 754.º, o legislador regula
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FDUC – DOII 2017/2018
existe); e, no direito de retenção, há fundamento para não se entregar uma coisa quando se
devia.
O direito de retenção pode ser afastado mediante caução (art. 756.º/d)) mas não a exceção
(há aqui uma maior proteção).
O direito de retenção aplica-se a mais casos: não se exige um contrato bilateral, que haja uma
sinalagmaticidade em relação aquela prestação. Apenas se exige que haja despesas ou danos
com a coisa.
sobre coisa móvel, o seu titular goza dos direitos do credor pignoratício, salvo no que respeita à
substituição ou reforço da garantia (art. 758.º) – nomeadamente, goza do direito de preferência
sobre os demais credores (art. 666.º/1) e pode executar a coisa retida (art. 675.º). Recaindo o direito
de retenção sobre coisa imóvel, o respetivo titular tem a faculdade de a executar, nos mesmos
termos em que o pode fazer o credor hipotecário, e de ser pago com preferência sobre os demais
credores (art. 759/1 e 2).
sobre o devedor para este pagar as despesas feitas por causa da coisa ou por causa dos danos por
ela causados. Este meio de pressão pode revelar-se de grande eficácia, sobretudo se a coisa retida é
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FDUC – DOII 2017/2018
A sanção pecuniária compulsória vem prevista no art. 829.º-A, podendo ser definida como a
condenação pecuniária decretada pelo juiz para constranger o devedor a cumprir a sua obrigação. É,
pois, um meio de defesa judicial, que visa exercer pressão sobre o devedor para cumprir a sua
obrigação, sob a ameaça de uma sanção pecuniária. Apesar de ser um meio judicial, não pode ser
decretada ex officio, mas apenas a requerimento do credor (algo que CALVÃO DA SILVA critica).
prestado por outrem à custa do devedor (art. 828.º). Este é um caso de execução específica da
obrigação, com o credor a conseguir o resultado prático da prestação e a satisfazer plenamente o
seu interesse.
atividade do devedor. A impossibilidade de execução específica das prestações de facto não impede
o credor de pedir o cumprimento, tal como não impede o juiz de condenar o devedor no pedido
(art. 817.º). Na hipótese de o devedor continuar a não cumprir a prestação, a lei criou o mecanismo
da sanção pecuniária compulsória para garantir a efetividade da condenação, coagindo o devedor ao
cumprimento.
Assim, a sanção pecuniária compulsória é, numa primeira fase, uma medida coercitiva, de
carácter patrimonial, seguida de sanção pecuniária na hipótese de a condenação principal não ser
obedecida e cumprida.
Como CALVÃO DA SILVA nota, a sanção pecuniária não é nenhuma forma de execução
específica, ou seja, não é uma medida executiva mas sim um meio de constrangimento do devedor.
Isto significa que a sua colocação sistemática no Código Civil é errónea: devia estar na ação de
cumprimento de execução.
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FDUC – DOII 2017/2018
razoabilidade (n.º 2), decretar uma sanção que possa ser eficaz na consecução dos seus objetivos.
Nos termos do n.º 1, o juiz pode optar entre duas modalidades de fixação da sanção (sem prejuízo
Quais são os critérios que o juiz deve ter em conta para saber qual o montante a fixar? O juiz
vai apreciar o montante em falta, o conteúdo da prestação, mas não só – deve também ter em conta
pecuniária compulsória decretada começa a produzir efeitos. No caso de silêncio do juiz, o termo a
quo deve ser a data do trânsito em julgado da sentença.
Quanto ao termo final, este não tem de ser fixado pelo juiz, o que se compreende tendo em
conta as finalidades da sanção pecuniária compulsória. Quando o juiz ordena uma sanção pecuniária
compulsória sem duração, o devedor sabe que ela valerá e produzirá efeitos até ao momento do
cumprimento da obrigação principal.
2.2.5 DESTINO
No n.º 3, diz-se que o montante da sanção se destina em partes iguais ao credor e ao Estado.
A participação do Estado explica-se por um motivo individual – está a facultar ao credor meios de
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FDUC – DOII 2017/2018
que houver lugar. A sanção pecuniária compulsória não tem, pois, natureza indemnizatória, sendo
independente da existência e da extensão do dano resultante do não cumprimento. Assim, deve ser
decretada mesmo que o devedor não faça prova da ausência de dano sofrido pelo credor, e o seu
quantum não é fixado em função da extensão do dano. Sem esta autonomia e independência, a
sanção pecuniária compulsória não desempenharia a sua função coercitiva.
Porque independentes, a sanção pecuniária compulsória e a indemnização são cumuláveis.
Assim, se a sanção não é eficaz e o incumprimento se tem por definitivo, o credor tem direito à
indemnização compensatória e à sanção pecuniária compulsória, ambas suscetíveis de execução.
O n.º 4 fixa uma sanção pecuniária legal para as obrigações pecuniárias, estipulando que são
automaticamente devidos 5% de juros ao ano, a contar da data do trânsito em julgado da sentença
de condenação. CALVÃO DA SILVA critica este preceito, que vai contra o carácter subsidiário da
sanção pecuniária compulsória afirmado no n.º 1: a ser assim, mais coerente seria consagrar o
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FDUC – DOII 2017/2018
1.1 NOÇÃO
O incumprimento (ou não cumprimento, expressão mais correta) é a situação objetiva de não
1.2 MODALIDADES
As modalidades do cumprimento distinguem-se tipicamente quanto a:
Causa;
Efeitos.
Culpa de um terceiro.
Causa de força maior.
Note-se que, quando estamos perante uma situação de incumprimento, podemos dizer que
esse incumprimento é culposo pois se presume a culpa do devedor – art. 799.º/1. É o devedor que
tem de provar que agiu sem culpa. Em Coimbra, entendemos que esta presunção é restrita à culpa.
No entanto, seguindo a escola de MENEZES CORDEIRO e outros, há quem entenda que o que está
aqui em causa é não só uma presunção de culpa, mas de ilicitude.
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FDUC – DOII 2017/2018
Mora;
Esta última figura é a mais complexa: há cumprimento do contrato, há um ato do devedor, mas
não é conforme às expectativas – daí se chamar “violação positiva”. No direito das obrigações, não
temos uma norma geral, um regime, que se aplique ao cumprimento defeituoso. Temos de analisar
se eventualmente algumas regras se aplicam por analogia (ex: incumprimento parcial); ou, se
tivermos perante um contrato tipificado na lei, se há normas especiais (ex: compra e venda e
empreitada) O próprio artigo 799.º menciona cumprimento defeituoso, o legislador não se esqueceu
uma impossibilidade definitiva. Note-se que estamos a falar de uma impossibilidade superveniente e
não originária, uma vez que esta resulta na nulidade do contrato.
tem, por conseguinte, o direito à indemnização pelos danos provenientes do não cumprimento.
Efeito que se verifica, quer a impossibilidade provenha de facto do credor ou de terceiro, quer resulte
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FDUC – DOII 2017/2018
de caso fortuito ou da própria lei. Nada obsta também que a impossibilidade proceda de um facto
da autoria do devedor e a obrigação se extinga de igual modo: basta que este afaste a presunção de
culpa do art. 799.º.
Para que a obrigação se extinga, basta que a prestação seja impossível para o devedor, ou é
ainda necessário que a impossibilidade se estenda a toda e qualquer pessoa? O art. 791.º responde a
Assim, os efeitos são diferentes consoante estivermos perante uma impossibilidade objetiva
ou subjetiva:
Ocorrendo uma impossibilidade objetiva, extingue-se a obrigação, art. 790.º. O credor não
pode exigir a prestação, o devedor invoca que a prestação não é exigível porque a obrigação
se extinguiu.
e uma obrigação de meios quando o devedor promete apenas realizar determinado esforço ou
diligência para que tal resultado se obtenha. Nas primeiras, diz-se que só a impossibilidade objetiva
exoneraria o credor, ao passo que, as outras, tanto a impossibilidade objetiva como a subjetiva
constituiriam causa liberatória do obrigado.
ANTUNES VARELA recusa este critério, afirmando que aqui se aplicam à mesma as regras
gerais.
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FDUC – DOII 2017/2018
Commodum de representação
Está previsto no art. 794.º, e refere-se aquelas situações em que ocorre uma interferência de
um terceiro, que impossibilita a realização da prestação. Se o devedor, em virtude do facto que
enquanto proprietário, é o credor que reage. Por este motivo, o commodum de representação
ocorre de forma residual: a regra, entre nós, é o princípio da consensualidade (a transferência da
Commodum de representação
Num contrato bilateral, tornando-se uma das prestações impossível por causa não imputável
ao credor, o art. 795.º/1 diz-nos que a contraprestação se extingue. Se o credor já tiver realizado a
sua prestação, tem direito a pedir de volta a sua prestação nos termos do enriquecimento sem causa:
em bom rigor o credor, que já realizou a sua prestação, não pode exigir tudo aquilo quanto prestou,
mas apenas aquilo com o qual o devedor se enriqueceu.
E se o próprio credor tiver contribuído para a impossibilidade, ou seja, se esta for por
causa imputável ao credor? Neste caso, não se justifica que fique desobrigado – é esta situação
particular que o legislador regula no n.º 2. O credor tem de realizar a contraprestação; porém, se o
devedor tiver algum benefício com a desoneração, o valor de benefício será descontado na
contraprestação.
O problema do risco
Nos contratos com efeitos reais, não aplicamos o art. 795.º, mas sim o art. 796.º: é nesta
medida que se diz que o art. 796.º tem prevalência sobre o art. 795.º. Se a prestação se torna
impossível, temos de saber se o outro sujeito vai ou não ter de realizar a contraprestação: se
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FDUC – DOII 2017/2018
aplicássemos o art. 795.º, diríamos que a outra prestação deixaria de ser exigida; porém, temos de
saber quem é o proprietário, para saber sobre quem corre o risco do perecimento da coisa.
O art. 796.º/1 estipula que, nos contratos com efeitos reais, o perecimento ou deterioração da
coisa por causa não imputável ao alienante corre por conta do adquirente.
Por exemplo, A vende a B certa coisa móvel, que é destruída por um incêndio não
Assim, o credor não goza dos benefícios do art. 795.º/1, tendo de entregar o preço à
mesma. Isto resulta da aplicação do princípio geral res perit domino, ou seja, o risco segue a
propriedade.
O n.º 2 diz que, se o alienante tiver a coisa em seu poder por força de termo a seu favor, o
risco corre por força deste. Por exemplo, A vende um barco a B mas constituem um termo a favor
de A, por força do qual A pode ficar com o bem durante 15 dias para uma exposição. Nestes casos,
quem sofre o risco não é o proprietário, mas sim o alienante.
o risco. “O risco do perecimento, durante a condição, corre por conta do adquirente” – mas
isto só se a coisa lhe tiver sido entregue, pois caso contrário há uma certa fragilidade da
posição do adquirente, que não só não tem a coisa, como tem a propriedade.
Se a condição for suspensiva, os efeitos do contrato não se produzem e o proprietário
continua a ser o vendedor, logo o risco corre sobre o próprio alienante (n.º 3, in fine).
Numa última nota, o que acontece quando está em causa um contrato com cláusula de reserva
142
FDUC – DOII 2017/2018
Porém, todos os outros efeitos produzem-se: o vendedor tem de entregar a coisa e o comprador
tem de pagar o preço. O proprietário continua a ser o alienante, logo talvez se justifique que seja ele
a suportar o risco. O legislador não se pronunciou sobre isto, mas podemos fazer uma analogia: se
para lugar diferente do cumprimento. Neste caso, quando se trate de coisa transportada, a
transferência do risco corre por conta do transportador. O alienante não é a pessoa que sofre o risco
diz-nos que, se a impossibilidade for temporária, não há indemnização porque não há culpa do
devedor (n.º 1), mas este não fica desonerado da obrigação, visto ser apenas temporário o obstáculo
efeitos estão suspensos. Isto pode não interessar ao credor, pelo que o legislador, no n.º 2,
determina a impossibilidade só se considera temporária quando o interesse do credor se mantiver.
Em suma, nunca há lugar à indemnização e mantém o dever de realizar a prestação, mas apenas
caso de ser cumprida parte apenas da prestação devida, por virtude da impossibilidade da restante, a
princípio nas obrigações é o cumprimento integral. Se tal suceder, o n.º 2 estabelece uma situação
excecional, de resolução do contrato (excecional porque a resolução assenta, normalmente, num
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incumprimento com culpa do devedor, e aqui não há culpa). Por exemplo, alguém compra um cavalo
a um criador alemão e um material acessório; e surge uma lei que impede o comércio desses cavalos
mas não do material. Não interessa ao comprador apenas receber o material acessório e não o
CREDOR
A impossibilidade pode igualmente resultar de:
dava aulas de canto, ensurdece por completo. Estas situações cabem dentro do conceito de
impossibilidade.
Realização da prestação por outra via: por exemplo, A mandou vir um reboque, com o fim
de retirar o veículo que obstruía a saída da sua garagem, mas entretanto apareceu o dono da viatura,
que a retirou. Enquanto que nos casos normais de impossibilidade o interesse do credor fica
definitivamente por satisfazer, aqui este foi preenchido por outra via que não o cumprimento. Isto
torna a prestação impossível (o rebocador já não pode retirar o caso), caindo igualmente dentro do
conceito de impossibilidade.
Não exercício definitivo do direito, por causa imputável ao credor: diferente destes casos é
o de não exercício definitivo do direito, por causa imputável ao credor. Por exemplo, A reserva
passagem num cruzeiro turístico mas, a caminho do barco, sofre um acidente que o impossibilitou de
partir. A prestação não só era possível no momento aprazado, como foi inclusivamente realizada: o
que não houve foi o exercício do direito por parte do credor. Este não é um caso de verdadeira
impossibilidade.
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A violação do dever de prestar, por causa imputável ao devedor, pode assumir uma dupla
forma: ou a impossibilidade culposa, ou o não cumprimento definitivo. O incumprimento definitivo
808.º.
Prova da perda do interesse na prestação;
diferenças.
1) ILICITUDE: a ilicitude resulta, no domínio da responsabilidade contratual, da relação de
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2) CULPA: o art. 799.º/2 determina que a culpa é apreciada nos termos aplicáveis à
responsabilidade civil.
Isto significa que também aqui a culpa é apreciada em abstrato, tendo por padrão a diligência
típica de um bom pai de família (art. 497.º/2). Também aqui se distingue entre os diferentes graus
de culpa (dolo e negligência), apesar de esta distinção não assumir tanto relevo como na
prática, o afastamento desta presunção faz-se com base na prova de que houve cumprimento.
pelos atos dos seus representantes legais e auxiliares. Se o devedor utilizar auxiliares, ele próprio é
contrato com uma clínica e o médico que a opera causa danos à pessoa, o médico não assume
nenhuma obrigação; mas pode-se intentar uma ação contra este nos termos da responsabilidade
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emergente, como o lucro cessante. O cálculo da indemnização faz-se nos termos gerais, com a única
diferença da inaplicabilidade do art. 494.º.
cumprida, se a obrigação se inserir num contrato bilateral tem o credor direito à resolução do
compra e venda do cavalo, o credor iria comprar o cavalo por 10.000 e vender por 20.000. Se
houvesse cumprimento do contrato, teria um benefício de 10.000.
estaria se não tivesse sido celebrado o contrato. Por exemplo, no caso de compra e venda do cavalo,
o credor tinha arrendado um estábulo para o receber – vai pedir uma indemnização para cobrir estas
Se o credor optar pela resolução do contrato, apenas pode pedir a indemnização pela violação
do interesse contratual negativo: se a resolução goza de eficácia retroativa, visando colocar o
sujeito na situação em que estaria se tivesse sido celebrado o contrato, apenas faz sentido que peça
uma indemnização pela violação do interesse contratual negativo, que visa igualmente a reposição
do estado anterior ao contrato. Se pedir uma indemnização pela violação do interesse contratual
positivo, pretende ser colocado na situação que estaria se houvesse cumprimento, logo é ilógico que
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Esta é a posição tradicional, seguida pela doutrina e jurisprudência maioritária: porém, há quem
entenda (PAULO MOTA PINTO) que não há nenhum limite legal a este pedido indemnizatório.
contratual positivo.
Opta pela resolução do contrato e pede uma indemnização pela violação do interesse
contratual negativo.
indemnização devida pelo devedor será reduzido. Diferentemente daquilo que sucede no art. 794.º,
o credor reage contra terceiro e contra o devedor; assim, não pode pedir uma indemnização
cumulativa.
contraprestação.
Em qualquer dos casos, tem direito a uma indemnização.
Note-se que a possibilidade de resolução só ocorre se o não cumprimento parcial tiver relevância,
art. 802.º/2.
4. MORA DO DEVEDOR
4.1 NOÇÃO
ser ainda possível (art. 804.º/2). Assim, são três as notas definidoras da mora:
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Atraso na prestação;
Imputável ao devedor (senão, temos uma impossibilidade temporária);
Note-se que, se a prestação for negativa, nunca há mora: se a obrigação for violada através de
um comportamento positivo, o devedor incorre em incumprimento. Também há casos em que,
tendo a prestação um prazo certo, o facto de ela não ser realizada no tempo previsto implica desde
logo o incumprimento definitivo, pela perda do interesse para o credor (art. 808.º/1).
Mora ex persona, art. 805.º/1: só há mora depois de o devedor ser interpelado para cumprir,
ou seja, a mora está dependente da interpelação feita pelo credor, que tanto pode ser efetuada
judicial como extrajudicialmente. Ocorre nas obrigações puras.
Mora ex re, art. 805.º/2/a): tendo a obrigação prazo certo, não é necessária a interpelação
para que haja mora, esta verifica-se logo que, vencida a obrigação, o devedor não cumpra. Ao lado
das obrigações com prazo certo, há mais dois casos em que a mora prescinde da interpelação:
quando a interpelação tiver sido impedida pelo devedor e quando a obrigação provir de facto ilícito
Por um lado, obriga o devedor a reparar os danos que causa o credor o atraso culposo no
cumprimento (art. 804.º/1);
Assim, a mora faz surgir na esfera do credor o direito à indemnização pelos danos moratórios,
entre os quais avultam as despesas que o credor seja forçado a realizar para satisfazer, entretanto, o
interesse a que achava adstrita a prestação em falta e os benefícios ou lucros que ele deixou de obter
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em virtude da falta do devedor. Nas obrigações pecuniárias, a lei presume que há sempre danos
causados pela mora e fixa o seu montante (art. 806.º/1, corresponde aos juros legais).
Por outro lado, o art. 807.º determina que, com a mora, se inverte o riso: o devedor torna-se
responsável pelo prejuízo que o credor tiver em consequência da perda ou deterioração daquilo que
deveria entregar, mesmo que estes factos lhe não sejam imputáveis.
cumprida. Esta sanção refere-se especialmente às obrigações de prestação da coisa, nos casos em
que tenha havido transferência do domínio ou de outro direito sobre a coisa: pelas regras gerais, o
risco correria por conta do credor; porém, a lei estabelece uma inversão do risco como forma de
sanção.
prestação. Quando assim seja, a mora equivale desde logo ao incumprimento da prestação; porém,
nos termos do n.º 2, esta perda de interesse é apreciada de forma objetiva.
ser um prazo razoável, e fixado com a cominação de uma sanção, a do incumprimento definitivo.
5. CUMPRIMENTO DEFEITUOSO
5.1 NOÇÃO
Ao lado da falta de cumprimento e da mora, a doutrina alemã desde há muito reconhece uma
terceira forma de violação do dever de prestar – o cumprimento defeituoso ou violação contratual
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prevê qualquer regime geral: assim, o seu regime encontra-se disperso pelas normas reguladoras de
contratos especiais – nomeadamente, a compra e venda, locação e empreitada. A consequência mais
O direito de exigir a eliminação dos defeitos, quando a coisa seja material e economicamente
viável (art. 1221.º).
6. MORA DO CREDOR
6.1 NOÇÃO
Diz-se que há mora o credor sempre que a obrigação não foi cumprida no momento próprio,
porque o credor, sem causa justificativa, recusou a prestação que lhe foi regularmente oferecida ou
6.2 REGIME
São três os efeitos fundamentais da mora do credor:
de restituir os frutos percebidos e não os percipiendos (art. 1271.º); e as somas devidas deixam de
vencer juros.
Especial oneração do credor, em matéria de risco: o risco passa a correr por conta do
credor, pelo que não ficará desonerado da contraprestação mesmo que se perca, parcial ou
totalmente, o seu crédito por impossibilidade superveniente da prestação. Isto com duas limitações:
se o devedor obtiver alguma vantagem com a extinção da obrigação, o benefício será descontado no
valor da contraprestação a que o credor continua vinculado (art. 815.º/2, 2ª parte); e, se a prestação
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impossibilitada for divisível, a contraprestação a que o credor fica adstrito terá apenas o valor
acarrete: o credor fica obrigado a indemnizar o devedor das despesas que este fez com o
oferecimento infrutífero da prestação e com a guarda e conservação do respetivo objeto (art. 816.º).
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