Direito Agrario

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Selma Freitas

Direito Ambiental

Direito Agrario
Selma Freitas

1ª Edição | Outubro |2012


Impressão em São Paulo / Sp
Coordenação Geral Nelson Boni

Coordenação De Projetos Leandro Lousada

Professora Responsável Selma Freitas

Coordenadora Pedagógica
Eleonora Altruda de Faria
de Cursos Ead

Revisão Ortográfica Vanessa Almeida


Projeto Gráfico, Capa e
Erick Genaro
Diagramação

1ª Edição: Outubro de 2012


Impressão em São Paulo/SP

Copyright © EaD KnowHow 2012


Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida por
qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição.

F866d Freitas, Selma.


D ireito agrário. / Selma Freitas. – São Paulo : Know How, 2012.
176 p. : 21 cm.

Inclui bibliografia
ISBN

1. Direito agrário. 2. Propriedade. 3. Classificação


fundiária. 4. Contrato agrário. 5. Títulos de crédito
rural. I. Título.

CDD 346.0432
Catalogação elaborada por Glaucy dos Santos Silva - CRB8/6353
SUMÁRIO

Capítulo 1 9
O DIREITO AGRÁRIO

1.1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO


AGRÁRIO
1.2. DIREITO AGRÁRIO BRASILEIRO
1.3. LEGISLAÇÃO SOBRE TERRAS
AGRÍCOLAS NO BRASIL.
1.4. CONCEITO DE DIREITO AGRÁRIO

Capítulo 2 29
CONTEÚDO DO DIREITO AGRÁRIO

2.1. OBJETO AGRÁRIO


2.2. RELAÇÃO JURÍDICA AGRÁRIA
2.3. FATO JURÍDICO AGRÁRIO
2.4. ATO JURÍDICO AGRÁRIO
2.5. FONTES DO DIREITO AGRÁRIO
2.6. PRINCÍPIOS DE DIREITO AGRÁRIO

47 Capítulo 3
FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE

3.1. TERRAS PÚBLICAS E TERRAS


PARTICULARES
3.2. TERRAS DEVOLUTAS
3.3. REGISTRO PÚBLICO
3.4. HISTÓRICO DOS REGISTROS PÚBLICOS
3.5. CONCEITO DE MATRÍCULA NO
DIREITO BRASILEIRO
3.6. NATUREZA JURÍDICA DA MATRÍCULA
3.7. MATRÍCULA DO IMÓVEL RURAL
DEPOIS DA LEI Nº 10.267/01

79 Capítulo 4
CLASSIFICAÇÃO FUNDIÁRIA

4.1. CADASTRAO RURAL


4.2. ZONEAMENTO DE IMÓVEIS RURAIS
4.3. ELEMENTOS DO ZONEAMENTO RURAL
4.4. OBJETIVOS DO ZONEAMENTO RURAL
4.5. TRIBUTAÇÃO RURAL
4.6. IMPOSTO TERRITORIAL RURAL – ITR
4.7. LANÇAMENTO E ARRECADAÇÃO
4.8. FATO GERADOR

Capítulo 5 103
CONTRATOS AGRÁRIOS

5.1. DA ESSÊNCIA DO CONTRATO


5.2. OS OBJETIVOS E AS PARTES NO
CONTRATO AGRÁRIO
5.3. REQUISITOS DO CONTRATO AGRÁRIO
5.4. CONTRATOS NOMINADOS OU TÍPICOS
5.4.1. DA PARCERIA RURAL
5.4.2. DOS ARRENDAMENTOS RURAIS
5.5. CONTRATOS INOMINADOS OU
ATÍPICOS
5.6. COMODATO
5.7. EMPREITADA
5.8. EXTINÇÃO DOS CONTRATOS
AGRÁRIOS

Capítulo 6 143
TÍTULO DE CRÉDITO RURAL

6.1. DEFINIÇÕES DOS TÍTULOS


6.2. OBJETIVOS DOS TÍTULOS
6.3. REFORMA AGRÁRIA

157 EXERCÍCIOS PROPOSTOS

165 BIBLIOGRAFIA

173 GABARITO
Capítulo 1
O DIREITO AGRÁRIO

T
ODOS OS RAMOS JURÍDICOS clamam
por justiça, e o sentido social está implícito
em todos eles. No entanto, quando se fala
em Direito Agrário, relembram-se as questões inci-
dentes sobre a realidade do processo agrícola brasi-
leiro. Se os propósitos do Direito Agrário pudessem
ser aplicados automaticamente, sem manuseios de
interesses políticos e de outros expedientes de fa-
vorecimentos pessoais, ou, ainda, sem a finalidade
de atender a grupos privilegiados detentores da terra
como reserva de valor, o Direito Agrário seria, sem
dúvida, um grande alento para questões sociais em
geral, especialmente, podendo observar a sua relação
estreita com o meio ambiente em geral como a ga-
rantia de sobrevivência do ser humano, e, em parte,
de direitos humanos tidos como essenciais, firmado-
res das necessidades básicas.
No transcorrer da nossa história, cronologi-
camente, as leis foram se fazendo necessárias visan-

9
do fornecer meios legais para a administração públi-
ca planejar e executar programas de longo, médio e
curto prazos para as atividades rurais.
Dessa premissa, passaremos a discorrer so-
bre o que se construiu juridicamente sobre o Direito
Agrário e demonstrar como esse tema recai sobre
os mais diferentes institutos jurídicos, sendo todos
voltados para a melhoria da vida rural, abrangendo
a política fundiária, mecanismos de acesso à terra e
à política agrícola, instrumentos garantidores do uso
do solo de maneira sustentável.
O agrarista busca soluções para o uso da
propriedade rural na perspectiva do bem-estar de to-
dos, onde também observa, na perspectiva de análise
dos direitos difusos e coletivos, os chamados direitos
de terceira geração de onde advém a criação do Di-
reito Ambiental, que tem o objetivo de manter um
perfeito equilíbrio da vida no planeta, disciplinando
as relações entre o homem e o ambiente que o cerca,
incluindo os recursos naturais: a atmosfera, as águas,
os estuários, o mar, o solo, o subsolo, os elementos
da biosfera, a fauna e a flora, os quais possuem re-
gime restrito de uso, sendo protegidos pelo Poder
Público em benefício da coletividade.
As leis agrárias foram construídas por pres-
sões sociais, mas muito pouco do ambicionado foi
cumprido. As leis existem, mas os poderes, poucas
vezes, fazem valer esses preceitos. Por exemplo, há

10
de se fazer valer o que a lei traz sobre a grilagem de
terras, considerando criminosa essa prática; todavia,
os jornais noticiam, diuturnamente, esse expediente.
Podemos dizer que os órgãos dos três pode-
res beneficiam-se com essas práticas. O recente caso
da Irmã Dorothy é um exemplo de luta pela terra,
pelo meio ambiente, contra a grilagem. Tornou-se
um caso de violação de direitos humanos com am-
plitude internacional. Trata-se de um dos muitos e
muitos casos de violação penal, civil, agrária, am-
biental, fiscal, trabalhista; uma violação com grave
desrespeito aos direitos humanos, envolvendo a
máfia do desmatamento, do uso indevido de terra
devolutas, do tráfico ilegal de madeiras, do trabalho
escravo e da destruição ambiental. Revelam-se, as-
sim, as contradições entre o real e o legal.

1.1. Evolução Histórica do Direito Agrário

A formação histórica do direito agrário re-


monta aos primórdios da civilização humana, isto por-
que, quando o homem deixou de ser nômade, fixou-se
em um determinado local, no qual passou a exercer ati-
vidades sedentárias quanto ao cultivo da terra.
Em um primeiro momento do desenvolvi-
mento histórico, o homem se encontrava integrado

11
à natureza, se sentido parte dela, tendo na coleta de
frutos a base da sua subsistência. Em um momento
posterior, organizou-se em tribos, visando a sua pro-
teção e sobrevivência, então a partir desse momento
passou a sentir a necessidade de normas reguladoras
da vida em sociedade e, consequentemente, em rela-
ção ao uso dos bens, em especial a terra.
Não obstante a inexistência, nessa época, do
ordenamento jurídico pretendido, já se podia obser-
var a existência de normas de direito consuetudiná-
rio ou escritas, presentes para regular e solucionar os
interesses e conflitos advindos do fato econômico
nos agrupamentos de humanos.
Na história mais recente, as experiências são
bastante diversificadas no que diz respeito à distribui-
ção e uso da terra, e com diferentes concepções sobre
a sua função social. Em uma cronologia antecedente
ao Estatuto da Terra poderíamos nos referenciar a
Moisés que na Bíblia narra sobre a terra prometida,
indicando a existência de regras relacionadas ao ade-
quado cultivo e aproveitamento da terra.
O Decálogo de Moisés, relacionado à terra,
com regras para as doze tribos.
O Código de Hamurábi, do povo babilô-
nico, que data do 18º século a.C., o qual pode ser
considerado primeiro Código Agrário da humanida-
de onde constam 282 cláusulas consideradas artigos
sendo vários dedicados a questões agrárias, como o

12
cultivo, a distribuição e a conservação da terra, além
de regras de proteção a agricultores e pastores, e a
proteção do produtor diante de situações de perda
da lavoura, o agricultor não pagava juros no ano res-
pectivo e não pagava o credor naquele ano.
O referido código traz as primeiras normas
na história, correspondentes às normas ainda hoje
existentes, em relação à Posse, Usucapião, Penhor,
Indenização, Locação e Seguro.
Outra importante passagem histórica foi a
elaboração da Lei das XII Tábuas em 450 a.C., nor-
ma resultante da luta de classes entre patrícios e ple-
beus que continha regras de combate à concentra-
ção de terras com conteúdo agrário, entre as quais a
proteção ao Possuidor e a Usucapião, beneficiando,
assim, diversos povos da antiguidade (Hebreus, Ju-
deus e Romanos).
No império Romano, com a Lei Cássia (le-
gislação agrária), dos irmãos Graco e Catilina, abriu-
-se caminho à legislação reformista e social, que
originou, apesar de esparsa, uma legislação voltada
ao disciplinamento do uso e da posse da terra, que
contou com o apoio de Platão figurando ao lado de
Licurgo, Dracon, Sólon e Péricles, tendo sido esses
os responsáveis pela elaboração da legislação da épo-
ca, que previa o acesso dos plebeus ao Senado.
Em 134 a.C., e 123 a.C., os irmãos Tibério e
Caio Graco, eleitos como tribunos, tomaram medi-

13
das favoráveis ao povo, tais como: - projeto de lei li-
mitando à posse de terras públicas que cada cidadão
podia ocupar (Tibério); - A lei do pão, que reformou
a justiça, construiu estradas para abrir frentes de tra-
balho aos desocupados (Caio Graco).
Catilina, por sua vez, encontrou oposição
em Cícero, que não concordava com as tentativas de
reforma agrária, inclusive a dos Graco, e se encar-
regou de promover campanhas negativas na época.
Muitos reis romanos foram mortos por ten-
tarem a reforma agrária, Júlio César garantiu terra
para cidadãos pobres e veteranos de guerra. O mo-
vimento reformista chegou ao fim no ano de 63 a.C.,
quando seus integrantes foram aniquilados pelas
forças legalistas romanas.
A oligarquia dominante da cidade de Roma,
contrária a qualquer transformação social, e não se
atende às rebeliões dos escravos, manteve o regime
latifundiário e escravista, contribuindo com a queda
do Império Romano.

1.2. DIREITO AGRÁRIO BRASILEIRO

Para uma melhor compreensão do Direito


Agrário no Brasil, a formação histórica se deu com
início do regime feudal português no Brasil na época

14
de seu descobrimento. É muito importante lembrar
que nossa colonização foi de uma forma explora-
tória desordenada. A situação do Brasil em relação
aos países europeus que baseavam sua economia no
mercantilismo era bem diferente, pois, não havia de-
manda por produtos, visto que não havia relações
econômicas capitalistas nos povos indígenas.
A história do Direito Agrário no Brasil
passa pelo Tratado de Tordesilhas de 07 de Junho
de 1494, que dividiu o novo mundo entre Portugal
e Espanha. Por esse tratado, caberiam a Portugal
as terras situadas à direita da linha imaginária que
demarcava 370 léguas a oeste das ilhas de Cabo
Verde, e à Espanha as terras que ficassem à es-
querda dessa linha.
Com a ocupação do território brasileiro, já
que sendo a Coroa Portuguesa a dona do Brasil pela
conquista, passaram a vigorar por aqui as denomina-
das Ordenações do Reino, as quais vieram por con-
sequência lógica da extensão de poder.
Firmou-se no Brasil o sistema oficial de atri-
buição de direitos reais sobre terras agrícolas, e essa
questão foi, até meados do século passado, o princi-
pal fator de organização da sociedade brasileira. Em
razão desta visão contemporânea, com efeito, desen-
volveu-se quase toda política econômica e de justiça
social redundando, inclusive, em muitos preceitos
básicos a respeito do Direito Ambiental na atuali-

15
dade; matérias atualmente expressas na Constituição
Federal de 1988 em seu artigo 225.

Art. 225 - Todos têm direito ao meio ambiente


ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo
para as presentes e futuras gerações.

No setor rural, no Brasil, foi implantada a


obediência ao Sistema Sesmarial. Obrigações impos-
tas ao sesmeiro consideradas como “cláusulas reso-
lutivas” que ditavam: - colonizar a terra, ter nela sua
morada habitual e cultura permanente, demarcar os
limites, pagar os tributos. - Instituto do comisso, que
se não cumprisse as obrigações, caía em comisso e as
terras voltavam ao patrimônio da Coroa.
Essa lei foi incorporada nas Ordenações Fi-
lipinas, Manuelinas e Afonsinas.
O regime sesmarial foi instituído por meio
de Lei Régia de 16 de junho de 1375, sob o reinado
de D. Fernando e tinha objetivo primordial obrigar
os senhores de terras a cultivá-las, ou, se não, aforá-
-las ou arrendá-las a quem as cultivasse.
No Brasil, a utilização da mesma legislação
teve um objetivo bem diferente. Visava à ocupação
dos imensos espaços vazios, sendo suporte para a

16
colonização. Esta lei determinava a colonização, a
moradia habitual e cultura permanente, o estabeleci-
mento de limites e a cobrança de impostos.
Tratava se da legislação de Portugal aplicada
no Brasil Colônia que visava corrigir as distorções no
uso das terras, forçando os proprietários a trabalhar
a terra, tendo em vista a falta de alimentos na época.
Assim, as terras não aproveitadas seriam confiscadas.
De 1500 a 1822 - Terras brasileiras perten-
ciam à Coroa Portuguesa que as doava e foram cria-
das as Capitanias Hereditárias e Regime de Sesma-
rias. Em 1531 Martim Afonso de Souza em missão
passou a distribuir as terras descobertas para fins de
colonização como defesa do território contra inva-
sões estrangeiras. As terras atendiam às necessidades
da Coroa para exploração.
Entre 1822 e 1850 - Período "Extralegal”
ou “das posses”, onde ocorreram muitas ocupações
desordenadas dos territórios em pequenas e grandes
áreas. Império da força Vigorou o sistema de posse
livre em terras devolutas.
Em 1850 - Aumento da área cultivada com
o café e a Lei Eusébio de Queiros proibiu o tráfico
de escravos, e após a Independência do Brasil surgiu
umas das primeiras leis de terras nº 601, de 18 de
setembro de 1850.
Já na Constituição Republicana de 1891, ve-
rificava em seu artigo 64º, a transferência aos Esta-

17
dos as terras devolutas, ficando reservadas à União
apenas as áreas destinadas à defesa das fronteiras,
fortificações, construções militares e estradas de fer-
ro, e terrenos de marinha.
Na década de 30, com a crise econômica
mundial, a economia brasileira basicamente agroex-
portadora, entra em crise. Ocorre o início do proces-
so de industrialização brasileira. Um dos momentos
em que houve aumento dos pequenos e médios pro-
prietários rurais.
Em 1964 – Houve a pretensão de promo-
ver a reforma agrária que tinha como princípio
distribuir terras.
Na década de sessenta, logo após o golpe
militar de 1964, houve novamente um grande movi-
mento de massa populacional devido à propaganda
institucional, que propalava o crescimento do Bra-
sil, e a erradicação da pobreza. A partir dos grandes
centros, com urbanização acelerada e a construção
civil, oferecendo oportunidades de emprego cada
vez maiores à mão de obra não especializada e anal-
fabeta, os migrantes tiveram melhoras salariais e de
condições de vida.
Na década de 70 - Com a constatação da dita-
dura militar a concentração de terras assume propor-
ções assustadoras. O êxodo rural foi a consequência.
Em função desta melhora, os colonos co-
meçaram a mandar dinheiro para as regiões de

18
onde vieram, chamando a atenção dos parentes,
amigos e vizinhos, que se encontravam em condi-
ções precárias nas áreas rurais. Isto ocasionou uma
aceleração do êxodo rural, causando ainda mais in-
chaço nos grandes centros, aumentando ainda mais
os problemas ocasionados pela miséria na periferia
das grandes cidades.

1.3. LEGISLAÇÃO SOBRE TERRAS AGRÍ-


COLAS NO BRASIL.

Em 1822, com a independência, deu-se o


fim da distribuição de terras por Sesmarias. Neste
espaço de tempo, até 1850, observa-se a institui-
ção “Posse”, foi um período de maior vazio legal
referente à propriedade, Uso e Posse da terra, onde
se multiplicaram as posses de fato sobre áreas não
pertencentes aos sesmeiros, de forma indiscrimina-
da e desorganizada sem qualquer controle, seja de
pequenas ou grandes áreas de terras. Assim surgi-
ram também as ocupações de sobras de Sesmarias,
resultando em pequenas posses, principalmente nas
proximidades dos povoados, vilas e cidades, o que,
por sua vez, garantiu o abastecimento local.
Na Constituição Brasileira de 1824, os pri-
vilégios e as injustiças em relação à posse de terra

19
foram mantidos, embora houvesse algum avanço so-
ciopolítico nas discussões sobre a terra.
Houve um período de Vacância legal sobre a
questão de apropriação do solo. Período de tempo em
que a Lei não entrou em vigor e com os primeiros sinais
da abolição da escravidão, tornou-se necessário para os
grandes proprietários rurais que formavam a nossa eli-
te econômica agrária, a inibição da propriedade da terra
através de apropriação pela posse. Do contrário, quando
os escravos fossem libertados e novos imigrantes che-
gassem, não haveria empregados aos grandes proprie-
tários, pois todos iriam em busca das terras do interior.
A terra deveria ser vendida pelo Poder
Público a particulares que tivessem meios para
sua aquisição. Se o Estado vendeu, como é que
agora ele quer desapropriá-las. Essa é uma das
questões mais discutidas quando se fala em desa-
propriação de terras. Surge então em 1850 a Lei
de Terras, Lei nº 601, de 18 de setembro de 1850,
tendo como principais objetivos:

- proibir o domínio sobre as terras devolutas, a não ser


pela compra e venda;
- garantir títulos aos detentores de sesmarias não confirmadas,
- garantir títulos aos detentores de terras por concessão
feita no regime anterior;
- transformar a posse mansa e pacífica anterior à lei na
aquisição do domínio.

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Um importante fato no transcorrer deste
período foi o surgimento do Código Civil em 1916,
inclusive regulando as relações jurídicas rurais como
a Posse e os Contratos agrários, lembrando que mes-
mo que de aplicação subsidiária no Direito Agrário,
traz uma orientação nova do Novo Código Civil Lei
nº 10.406/2002 superando a visão individualista e
inserindo em seu conteúdo a função social da pro-
priedade e, igualmente, a função social do contrato,
onde repetiu a redação da Constituição Federal de
1988 nos aspectos referente à Usucapião constitu-
cional de 5 anos em área de terra de até 50 hectares.
Também da época dos militares é a lei 6.383,
de 7 de dezembro de 1976, que dispõe sobre o pro-
cesso discriminatório de terras devolutas da União e
ainda está em vigor.
Constituição (promulgada) de 1934 - Previa
a competência da União para legislar sobre direito
rural, referência histórica importante que tratou do
Usucapião, da colonização e da proteção do traba-
lhador visando à subordinação do direito de proprie-
dade ao interesse social ou coletivo.
Carta (outorgada – imposta) de 1937- Não
mencionou o Direito Agrário, apenas dispôs que seu
conteúdo e seus limites serão definidos nas leis que
regulam seu exercício.
A Constituição Federal de 1946, além da de-
sapropriação por necessidade ou utilidade pública,

21
contemplou, pela primeira vez, a desapropriação por
interesse social.
Leis especificas como o Decreto Lei
3.365/41 e Lei 4.947/66 tratam de desapropriação
e de Direito Agrário. Porém, a lei regulando a de-
sapropriação por interesse social surgiu apenas em
1.962 (Lei nº 4.132). Além disso, outras leis específi-
cas regularam a fauna, florestas, águas.
Entre 1951 e 1964, surgiram inúmeros pro-
jetos de Código Rural, projeto de Reforma Agrária,
com inspiração, sobretudo nos códigos rurais da Ar-
gentina e do Uruguai.
Em 1962 foi criada a SUPRA (Superin-
tendência Nacional de Reforma Agrária). Para-
lelamente a isso, tivemos experiências de organi-
zações camponesas em diversas regiões do país,
o que contribuiu para a aceleração na elaboração
de um conjunto de normas reguladoras das rela-
ções atinentes à atividade agrária, inclusive aten-
dendo a pressões internacionais.
O Direito Agrário é instituído a partir da EC
nº 10 de 09 de novembro de 1964.
A Emenda Constitucional Nº 10, de
9/11/64, modificou a Constituição Federal de 1946
no seu artigo 50, inserindo a competência da União
para legislar sobre Direito Agrário. Desta forma, ins-
titucionalizou o Direito Agrário no Brasil, garantin-
do a sua autonomia legislativa.

22
Em 30 de Novembro de 1964, foi promul-
gado o Estatuto da Terra Lei nº 4.504 referência
do Direito Agrário Brasileiro, ficando estruturado
como ramo autônomo e contemplou a instituição
do “Princípio da função social” na legislação brasi-
leira em seu artigo 2º:

Art.2º. É assegurada a todos a oportunidade de


acesso à propriedade da terra, condicionada pela sua fun-
ção social, na forma prevista nesta Lei.
§1º A propriedade da terra desempenha integral-
mente a sua função social quando, simultaneamente:
a) favorece o bem-estar dos proprietários e dos tra-
balhadores que nela labutam, assim como de suas famílias;
b) mantém níveis satisfatórios de produtividade;
c) assegura a conservação dos recursos naturais;
d) observa as disposições legais que regulam as justas
relações de trabalho entre os que a possuem e a cultivam.

Na Constituição de 1967, a função social da


propriedade alcançou status constitucional.
O Decreto nº 554/69 regulava o procedi-
mento de desapropriação de terras para fins de re-
forma agrária e já foi revogado.
No período histórico que se segue, período da
ditadura militar, apesar da legislação, somente se tratou
de colonização no tocante à distribuição da terra.

23
Em 1984 e 1985, no Governo do Presidente
José Sarney, o primeiro Plano Nacional de Reforma
Agrária não chegou a ser executado.
Na Constituição Federal de 1998, um capí-
tulo inteiro sobre questão agrária no Brasil, no artigo
5º em seus incisos que veremos mais a frente.
Os artigos 184º a 191º vem tratando da Polí-
tica Agrária, fundiária e reforma agrária, além de um
capítulo referente à questão ambiental.
Como vemos estamos diante de uma consa-
gração de leis, dentre tantos instrumentos que sur-
gem para tratar do tema agrário, como a Leis regu-
lando o Texto Constitucional: Lei nº 8.171/01/91 e
nº 8.174/01/91 (leis sobre Política Agrícola).
A Lei nº 8.257/11/91, tratando do confis-
co de terras que tenham plantação de psicotrópicos,
regulando o artigo 243º da Constituição Federal de
1988, Lei nº 8.629/02/93 e a Lei Complementar nº
76/93 com os seus regulamentos, acréscimos e mo-
dificações posteriores, inclusive por medida provisó-
ria, disciplinam vasta matéria do Direito Agrário, ao
mesmo tempo em que o Estatuto da Terra continua
em vigor naqueles institutos não modificados pela
Constituição Federal de 1988 e legislação posterior.
Essa política durou até a Constituição de
1988, que, enfim, legitimou a desapropriação da ter-
ra para fins de reforma agrária e que foi regulamen-
tada pela lei nº 8.629, de 25 de fevereiro de 1993.

24
A mais recente lei de terras do Brasil é a lei
11.952, de 25 de junho de 2009, que dispõe sobre
a regularização fundiária das ocupações incidentes
em terras situadas em áreas da União, no âmbito da
Amazônia Legal.

1.4. CONCEITO DE DIREITO AGRÁRIO

A necessidade de conceituar o direito agrá-


rio surgiu com sua desvinculação do direito civil, que
foi gradativa, tornando-se ramo especial no sistema
jurídico a partir da edição da Emenda Constitucional
nº 10 de 1964 à Constituição Federal de 1946, que
conferiu foro constitucional. O que foi mantido na
Constituição Federal de 1967 e 1988. Todos os con-
ceitos convergem para um denominador comum,
falam dos princípios ou da atividade agrária que é
seu objeto; e da função social da propriedade que
também é a grande fundamentação dos principais
conceitos de direito agrário, incluindo os conceitos
sobre o homem, a terra, produção, sociedade, digni-
dade da pessoa humana, solidariedade.
O elenco de conceituação que o autor Fernan-
do Pereira Sodeto informa em sua obra, traz que no
Brasil o pioneiro nos estudos e conceituação de Di-
reito Rural foi Joaquim Luiz Osório, que apresentou

25
o projeto de Código ao Congresso e posteriormente
em 1937 ao publicar trabalho intitulado “Direito Ru-
ral”, inicia seu livro conceituando o “Direito Rural ou
Direito Agrário”, usando as palavras em suas duas for-
mas como: “Um conjunto de normas reguladoras dos direitos e
obrigações concernentes às pessoas e aos bens rurais.”
Na obra de Sulaiman Miguel Neto, diversos
autores passam a definir o que vem a ser Direito
agrário, sendo evidente que os conceitos se entre-
laçam, pois guardam muito de comum entre si.
Para efeitos didáticos vale a colocação de algumas
definições sobre direito agrário conforme seguem:
Francisco Malta Cardoso conceitua: “Direito
Rural é um conjunto de normas que asseguram a vida e o de-
senvolvimento econômico da agricultura e das pessoas que a ela se
dedicam profissionalmente.”
Paulo Torminn Borges teceu o seguinte conceito:

Direito Agrário é o conjunto de normas de direi-


to público e de direito privado, que visam disciplinar as
relações do homem com a terra, tendo-se em vista o pro-
gresso econômico e social do rurícola e o enriquecimento
da comunidade.

Restou, na definição acima, corretamente,


evidente que a dicotomia de Direito Público e Di-
reito Privado, encontrou um direito eminentemente

26
social, ou meio termo, mas que caminha rápido para
se transformar em Direito Público devido a sua na-
tureza de disciplina que trata da segurança alimentar
e do uso da fonte de todas as riquezas que é a Terra.
Em sua dimensão normativa, o Direito
Agrário aparece como o conjunto de normas que
regulam todas as relações jurídicas do campo. Essas
normas jurídicas regulatórias poderão tanto se refe-
rir às relações comerciais, quanto às questões fun-
diárias, crediaristas, securitárias, ambientais, traba-
lhistas, dentre outras. Nesse âmbito, tangenciam-se
o Direito Privado e o Direito Público, próprios das
relações jurídicas entre o Estado e os particulares.
Nesse sentido, Fernando Pereira Sodero
conceitua o Direito Agrário da seguinte forma:

conjunto de princípios e normas, de direito público e


de direito privado, que visa disciplinar as relações emergentes
da atividade rural com base na função social da terra. E a
expressão ‘atividade rural’ compreende, além da posse e uso da
terra, a sua exploração em qualquer das várias modalidades,
quer agrícola, quer pecuária, agroindustrial ou extrativa.

Octávio Mello Alvarenga:

é o ramo da ciência jurídica, composto de normas


imperativas e supletivas, que rege as relações emergentes

27
da atividade do homem sobre a terra, observados os prin-
cípios de produtividade e justiça social

Raymundo Laranjeira:

é o conjunto de princípios e normas que, visando a


imprimir função social à terra, regulam relações afeitas à
sua pertença e uso e disciplinam a prática das explorações
agrárias e da conservação dos recursos naturais.

Rafael Augusto de Mendonça Lima:

...o conjunto de princípios e de normas de direito


positivo, relativos a proteção aos recursos naturais reno-
váveis, ao aumento da produção agropecuária, à ativida-
de agrária, à política agrária e à estrutura agrária.

Enfim, pode-se afirmar que Direito Agrário


é o conjunto sistemático de normas jurídicas que vi-
sam disciplinar as relações do homem com a terra,
tendo em vista o progresso social e econômico do
rurícola, o enriquecimento da comunidade e a prote-
ção dos recursos naturais.

28
Capítulo 2
CONTEÚDO DO DIREITO AGRÁRIO

O
CONTEÚDO DO DIREITO AGRÁRIO
abrange as ações decorrentes da própria ati-
vidade agrária, tais como: exploração agríco-
la, extrativa, pecuária e agroindustrial, com vistas às re-
lações estabelecidas entre os sujeitos e os bens agrários.
Entretanto, temos que as normas destinadas
a assegurar o aproveitamento e a conservação dos
recursos naturais renováveis, bem como os contra-
tos de trabalho agrário, a previdência social rural, os
seguros agrícolas e o crédito rural, não fazem parte
do arcabouço legal do direito agrário, embora guar-
dem um inter-relacionamento absoluto.
Dispõe o Estatuto da Terra, em seu arti-
go 92º que:

Art. 92 - A posse ou uso temporário da terra


serão exercidos em virtude de contrato expresso ou tácito,
estabelecido entre o proprietário e os que nela exercem
atividade agrícola ou pecuária, sob forma de arrendamen-

29
to rural, de parceria agrícola, pecuária, agro-industrial e
extrativa, nos termos desta Lei.

O dispositivo legal demonstra que os sujei-


tos agrários são os proprietários dos imóveis rurais e
todos aqueles que exercem atividades agrícolas e ou
pecuária, por meio de arrendamento rural, parceria
agrícola, pecuária, agroindustrial e extrativa.

2.1. OBJETO AGRÁRIO

Os elementos que compõem o objeto agrá-


rio e constituem matéria de fato são: a) as atividades
agrárias, b) a estrutura agrária, c) o fundo agrário.
A atividade agrária não é a única que o agri-
cultor pratica, pois, na maioria das vezes, cabe a ele
beneficiar, transportar e vender sua produção, verifi-
cando uma coexistência de atividades agrárias “típi-
cas” e atividades de indústria, transporte e comércio
“atípicas”, porém conexas da atividade rural.
A estrutura agrária busca o desenvolvimento
social e econômico do meio rural, através de bens,
serviços e obras.
Fundo agrário é sinônimo de empresa rural,
no sentido de empreendimento agrário. É o con-

30
junto de equipamentos materiais e imateriais que o
compõem no processo produtivo agrário.

2.2. RELAÇÃO JURÍDICA AGRÁRIA

A relação jurídica agrária cuida da ordenação


entre afinidade e o interesse, que envolvem as partes
na sua maneira de ser no universo real.
Vale dizer que toda relação pressupõe dois ou
mais seres que mutuamente se referem, formando uma
massa ou um complexo não unificado e exige uma pré-
via individualização dos elementos ou dos componen-
tes que somados constituirão uma relação comum.
Na concretização desses inter-relaciona-
mentos estarão sempre as regras jurídicas agrárias,
algumas dotadas de coercibilidade, para regular a re-
lação dos homens e as coisas na afinidade e execução
de serviços e obras do meio rural.

2.3. FATO JURÍDICO AGRÁRIO

Segundo o Código Civil, fato jurídico é o


acontecimento que produz consequências jurídicas,
podendo se originar da natureza ou da ação humana.

31
O fato jurídico agrário, que em princípio vem
sedimentado no direito objetivo, nas normas de direi-
to agrário, tem forma variada de expressão, tendo a
principal nomenclatura de “Lei especial”, dando ra-
zão a que se criem relações jurídicas capazes de sub-
meter certos objetos ao poder de determinado sujeito
ou instituição; criando um eventual direito subjetivo.
Vale ressaltar que, excepcionalmente, o
direito objetivo independe do foto jurídico para
se concretizar e subjetivar-se, onde por força da
própria disposição normativa e diretamente con-
ferida ao sujeito.
Ganham novos contornos esses conceitos
na esfera agrária, pois se confrontam com temas co-
muns do direito público, em que a disponibilidade é
relativa, observado alguns limites.
O fato jurídico agrário seria o acontecimen-
to, em virtude do qual nasceria uma relação de natu-
reza agrária, modificando ou extinguindo um direito
nesse campo.
Os fatos jurídicos agrários podem ser clas-
sificados em:

a) fatos de ordem natural - os que juridica-


mente não sofrem intervenção da vontade humana,
como consequências climáticas, que influenciam sa-
fras, as disposições geológicas, de larga influência até
na conformação dos imóveis.

32
b) fatos decorrentes da ação humana –
aquele sujeito a arbítrio do agente ou do ocupante, e
ainda das próprias instituições ou órgãos envolvidos
no processo agrário ou ocupacional.
b.1) fatos jurídicos agrários típicos, que
atendem a vontade do agente ou da lei, obedecem
aos critérios de ordem legal, institucional, programá-
tica ou científica.
b.2) fatos jurídicos que independem da von-
tade do agente, que se consagram na prática dos
efeitos previstos na lei.
c.) fatos mistos, que integram outra espécie,
em que tanto existe a intervenção de elementos de or-
dem natural, quanto outro relacionado com arbítrio.

2.4. ATO JURÍDICO AGRÁRIO

Na esteira do Código Civil, temos “todo o ato


lícito, que tenha por fim imediato adquirir, resguardar,
transferir, modificar ou extinguir direitos, se denomi-
na ato jurídico”, portanto, prevalece o raciocínio que
o ato jurídico agrário é conceituado como aquele que
deriva da vontade das partes, como acontece nos con-
tratos de arrendamento e parceria rural e contratos
agrícolas de locação de serviços agropecuários, obser-
vando nessa órbita a capacidade das partes.

33
Os atos jurídicos agrários classificam-se
como sendo: atos inter vivos e causa mortis: os in-
ter vivos são aqueles que não se cogita o destino
das relações examinadas, após o eventual óbito
dos envolvidos (um arrendamento), enquanto o
ato causa mortis regula relações jurídicas de direito
agrário, emergentes após a morte da pessoa (um
legado ou cláusula que disponha sobre sucessão
da relação contratada).

• Atos unilaterais e bilaterais: os unilaterais se-


riam aqueles que comportam manifestação de vontade
de uma só pessoa, atos de vontade unilateral poden-
do ser de vários sujeitos (confissão de dívida), já nos
bilaterais ou sinalagmáticos, são aqueles que requerem
manifestação de vontade de duas ou mais pessoas, que
se contrapõem, celebrando obrigações simultâneas, re-
alizáveis uma em consequência da outra.
• Atos onerosos e gratuitos: os onerosos são
aqueles que contêm obrigações ou vantagens recí-
procas, estabelecidas para as partes ou para terceiro;
e, ainda, os gratuitos ou benéficos são aqueles em
que uma das partes contratantes obtém vantagem
sem se obrigar a nenhuma contraprestação corres-
pondente (comodato).
• Atos simples e complexos: exemplo de ato
simples (compra e venda, ato institucional de uma
cooperativa ou um contrato de sociedade). Já nos

34
atos complexos inexiste sujeito ativo e passivo, e sim
cotitulares de direito.
• Atos formais ou causais: formais são aqueles
cuja existência decorre de uma circunstância especial
para sua existência onde os efeitos se produzem inde-
pendentemente da cogitação da causa (emissão de um
título de crédito), já nos causais é possível cogitar a vin-
culação às respectivas causas, são concretos materiais.
• Atos formais e informais ou nominado
e inominado: nos formais a sua validade depende
de solenidade, circunstâncias prescritas em lei, têm
nominadas as condições específicas de vigência no
universo jurídico, enquanto que nos informais, ou
inominados, a importância da distinção está parti-
cularizada, em face do exame dos requisitos do ato
para reconhecer eventual nulidade.
• Atos comutativos e aleatórios: são comu-
tativos os atos jurídicos agrários em que a presta-
ção seja equivalente e certa, diferente do ato jurídico
aleatório, em que as prestações não são necessaria-
mente equivalentes e depende de um acontecimento
futuro e incerto (contrato de seguro)
• Atos patrimoniais e pessoais: os patrimo-
niais são aqueles que se relacionam com o acervo
dos envolvidos, estão diretamente ligados aos bens
econômicos do sujeito da relação contratual, en-
quanto os pessoais são concernentes exclusivamente
à pessoa como tal considerada.

35
• Atos constitutivos e declarativos: constitutivos
são aqueles cuja eficácia se produz a partir do momento
de sua conclusão. Por sua vez, declarativos são aqueles
que produzem efeitos a partir do momento que se ope-
rou o fato a que se vincula a manifestação da vontade,
uma espécie pertencente a esses atos seria a divisão de
condomínio, pois as partes se consideram proprietárias
de cada quinhão desde a aquisição coletiva.
• Atos de disposição e de simples adminis-
tração: são de disposição aqueles que implicam no
exercício de amplos direito sobre o objeto, ao con-
trário dos atos de simples administração que impli-
cam tão somente o exercício de direitos restritos ao
objeto, de tal modo que não haja alteração substan-
cial, nem a atual, nem potencial, exemplificando,
toda alienação é ato de disposição, enquanto nos ar-
rendamentos há simples administração.

2.5 FONTES DO DIREITO AGRÁRIO

Tradicionalmente, os estudiosos distinguem


as fontes do direito em fontes formais e em fontes
materiais. As primeiras são os processos de criação
das normas jurídicas, enquanto as segundas são os
elementos ou fatores que determinam o conteúdo
das normas jurídicas.

36
Constituem, pois, fontes formais do direito: a)
a lei; b) os costumes; c) a doutrina; d) a jurisprudência.
São mencionados como fontes materiais:

a) a realidade social, isto é, o conjunto de


fatos sociais que contribuem para a formação do
conteúdo do Direito;
b) os valores que o Direito procura reali-
zar, fundamentalmente, sintetizados no conceito
amplo de justiça.

Sobre esta divisão das fontes do direito, Mi-


guel Reale, coerentemente, diz:

Expressão fonte material não é outra coisa senão


o estudo filosófico ou sociológico dos motivos éticos ou de
fato que condicionam o aparecimento e as transformações
das regras de direito. Fácil é perceber que se trate do pro-
blema do fundamento ético social das normas jurídicas,
situando-se por conseguinte que se dê ao termo fonte do
Direito uma única acepção, circunscrita ao campo da ju-
risprudência.

Com relação a esta introdução teórica so-


bre o tema, podemos discorrer sobre quais são
as fontes do Direito Agrário, que, sem dúvida,
são as leis, os costumes, a doutrina e a jurispru-
dência. A corrente majoritária do direito asseve-

37
ra que as Leis e os Costumes são denominados
fontes imediatas, enquanto a Doutrina e a Juris-
prudência são fontes mediatas.
Sobre este assunto, o professor Raymundo
Laranjeira afirma:

Dizemos, assim, primeiro de fontes imediatas,


que geram, de logo, tais regras jurídicas; depois, de fontes
mediatas, as quais são suscetíveis ao provocar, apenas de
modo incidental, o aparecimento daquelas normas. Tra-
ta-se, pois, da clássica divisão bipartite das fontes de Di-
reito, em geral, diante de que a Lei e os costumes ocupam
o lugar prioritário, secundando-se o trabalho da Doutri-
na e da jurisprudência. Aquelas são as que conduzem às
revelações diretas do Direito Agrário - enquanto que a
atividade jurisprudencial e os ensinamentos dos doutrina-
dores funcionam, somente, como adjutórios na elaboração
do novo ramo jurídico, constituindo-se antes, a rigor, em
meros elementos informativos dele.

Logo, as fontes do Direito Agrário podem


ser assim classificadas e estudadas:
A LEI é uma expressão racional e obje-
tiva do direito. Portanto, é uma regra de direito
emanada de um órgão especializado, sancionada
pelo poder público. Daí porque é de todo proce-
dente a afirmação de Clóvis Beviláqua: “A lei é,

38
sem dúvida, como o costume, manifestação da consciência
jurídica, mas é uma forma de manifestação clara (o que
é uma vantagem), precisa (o que é uma vantagem ainda
maior), porém rígida o que é um defeito”.
No contexto legal, as fontes do Direito
Agrário são as nossas Constituições, que estabele-
ceram diretrizes e princípios para a matéria agrá-
ria. Há de se ressaltar que, mesmo as constituições
liberais, que não se preocuparam com uma ordem
econômica e social, mencionaram em seu texto
institutos de Direito Agrário, sem que ainda este
novo ramo do direito tivesse conquistado a sua
autonomia, como ocorreu com as constituições
de 1824 e 1891 e as subsequentes que se filiaram
ao constitucionalismo social, sensível às questões
econômicas e sociais, como as de 1934, 1937,
1946, 1967, emenda de 1969 e a de 1988.
Além dos textos constitucionais, o Estatuto
da Terra, Lei nº 4.504, de 20 de novembro de 1964,
e toda legislação complementar do Estatuto.
Sobre os costumes, poderíamos falar cienti-
ficamente na visão da seara da Sociológica, onde,
para os sociólogos, há uma diferença que reside
na maneira pela qual a referida forma de con-
duta é considerada pelo povo que a pratica. Daí
a razão pela qual os costumes são considerados
essenciais à continuidade da vida do grupo e as
maneiras de agir que caracterizam um povo são

39
as formas de conduta que um povo desenvolveu
durante sua vida; são os costumes que os mem-
bros do grupo consideram menos importantes.
Os costumes podem ser conceituados como
um conjunto de regras uniformes e constantes que
se impõe a todos os membros da coletividade, com
tal autoridade que a infração delas importa uma viva
desaprovação dos outros indivíduos e certo incômo-
do, ou, ainda, um padrão de comportamento sancio-
nado pela sociedade que o adotou, e, por último, um
uso implantado em uma coletividade, considerado
por esta como juridicamente obrigatório. É o direito
nascido consuetudinariamente.
Os costumes assumem as seguintes mo-
dalidades: Costumes contra legem - são os costumes
implicitamente revogatórios dos textos positivos
vigentes. Operam contra a lei vigente. Impõe a de-
saplicação da norma legal pelo desuso. Costumes
secundum legem - são os costumes previstos no texto
escrito que a eles referem, ou mande observá-los
em alguns casos, como direito subsidiário. Costu-
mes praeter legem - são os costumes que substituem
a lei, mesmo nos casos deixados em silêncio, e pre-
enchem as lacunas das normas positivas e servem
também como elemento de hermenêutica.
A jurisprudência é o conjunto de soluções ela-
boradas pelos juízes às questões jurídicas. Ou, uma
forma de revelação do Direito que se processa atra-

40
vés do exercício da jurisdição, em virtude de uma
sucessão harmônica de decisões dos tribunais.
Com referência ao Direito Agrário, no Bra-
sil, não há uma jurisprudência consolidada. Decidin-
do alguns recursos extraordinários, no que concerne
à matéria agrária, o Egrégio Supremo Tribunal Fede-
ral, em outro julgado, tem-se posicionado:

Estatuto da Terra. Módulo. Área mínima. Pro-


messa de Venda celebrada sob condições peculiares.
Estatuto da Terra - Art. 65 - Divisão da Gleba:
1) Ex vi dos arts. 65 da Lei nº 4.504/64,
e 11, do Decreto-Lei nº 57/66, é inadmissível a
divisão da gleba em quinhões, menores do que os
módulos, ainda que para fazer cessar o condomínio
entre os co-proprietários.
2) O fim da lei, no caso, é de evitar a proliferação
de minifúndios antieconômicos, e deve preponderar sobre
a literalidade do dispositivo. (R.T.J. nº 73. p. 860).
Terras devolutas - registro do vigário.
1. O registro da Lei nº 601/1850, pelo regula-
mento da 1854, não tinha finalidade puramente estatís-
tica, mas visava a legalizar a situação de fato das posses
que se multiplicaram nos 3 séculos anteriores.
2. Ressalva-se ação do usucapião pela praescrip-
tio longissimi temporis. (D.J. 23.3.75).

41
Na doutrina, sabido pelos estudiosos, é um
conjunto de soluções às questões de direito agrário,
ministradas pelos jurisconsultos. A atividade doutri-
nária é trabalho de jurista e jurisconsultos que pres-
supõe objetividade, metodização, vez que é trabalho
estritamente científico.

2.6. - PRINCÍPIOS DE DIREITO AGRÁRIO

Os princípios do Direito Agrário atestam


seu método, consequência e sua autonomia científi-
ca; são frutos das lutas reivindicativas e políticas das
classes populares no país, sobretudo no que tange à
posse da terra.
O Estatuto da Terra (Lei nº 4.504/64) traz
em seu Capítulo I do Título I o tema “Princípios
e Definições”, ali tratando, expressamente, dos fins
daquele diploma quanto à promoção da Reforma
Agrária e da Política Agrícola, do condicionamento
do direito de propriedade rural à função social, e das
obrigações do Poder Público para assegurar a terra a
quem nela trabalha.
Essa introdução ao Estatuto da Terra, em-
bora seja um delineamento dos princípios funda-
mentais do Direito Agrário, não exaure todos os
princípios que daqueles decorrem, estão implícitos

42
nos demais artigos, e, principalmente, expressos na
doutrina do Direito Agrário.
Na definição sistemática do autor
Marcelo Dias Varella, que expõe as características
principais do Direito Agrário, sistematizadas pelo ar-
gentino Vivanco, num rol de princípios que podem
ser aqui citados como sendo:

a) a realização da justiça social;


b) a função social da propriedade rural;
c) a preservação da biodiversidade;
d) o crescimento contínuo da produção e da pro-
dutividade, com o fortalecimento da economia nacional;
e) o bem-estar econômico e social do homem do campo;
f) a fixação à terra dos que a tornarem produtiva
com o seu trabalho e de sua família;
g) a liberdade e a igualdade do acesso à terra;
h) a penalização dos que a possuem sem cumprir
sua função social;
i) a destinação produtiva das terras públicas, pre-
ferencialmente para promover o acesso à igualdade social;
j) a proibição do arrendamento das terras públicas;
l) a eliminação de todas as formas antieconômicas
e anti-sociais do uso da terra agricultável, como o mini-
fúndio e o latifúndio;
m) a proteção aos que cultivam a terra, ainda que
arrendatários ou parceiros agrícolas;
n) o fortalecimento do espírito comunitário;

43
o) combate aos mercenários da terra;
p) a imposição constante de novos paradigmas
para a ciência jurídica;
q) ação coordenada da atividade e da legislação
agrária com a ordenação do território.

Os princípios aqui enumerados trazem


a complexidade de um ramo do Direito voltado
para a constituição de uma sociedade justa e so-
cialmente desenvolvida.
Segundo a classificação de Marques, o
Direito Agrário resulta da identificação dos se-
guintes princípios norteadores, em especial para
fins didáticos:

a) O monopólio legislativo da União (art.


22, §1°, CF);
b) A utilização da terra se sobrepõe à titulação
dominial (art. 191 da CF/88);
c) A propriedade da Terra é Garantida, mas
condicionada ao cumprimento da função social (arts.
170, II, III, VI, VII, VIII e 186 da CF/88);
d) O Direito Agrário é dicotômico: Compreende po-
lítica de Reforma (Reforma Agrária) e de Desenvolvimento
Agrário (Política Agrícola) art. 1º da Lei n. 4.504/64;
e) As normas jurídicas primam pela prevalência do
interesse público sobre o particular (art. 184 da CF/88);

44
f) A reformulação da estrutura fundiária é uma
realidade constante;
g) O fortalecimento do espírito comunitário, atra-
vés de cooperativas e associações (art. 5º, XVII a XXI
e art. 146, III, “c” da CF/88);
h) O Combate ao latifúndio, ao minifúndio, ao
êxodo rural, à exploração predatória e aos mercenários
da terra (art. 16 da Lei n. 4.504/64);
i) A privatização dos imóveis rurais públicos
(art. 188 da CF);
j) A proteção à propriedade familiar, à pequena e
à média propriedade (art. 185, art. 5º, XXI da CF/88
e art. 649, VIII do CC);
k) O Fortalecimento da Empresa Agrária;
l) A Proteção da Propriedade Consorcial Indígena;
m) O Dimensionamento Eficaz das Áreas
Exploráveis;
n) A Proteção do trabalhador rural (art. 7º, IV
e art. 187, VIII da CF/88);
o) A Conservação e a Preservação dos recursos na-
turais e a proteção do meio ambiente (art. 225 da CF/88).

45
Capítulo 3
FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE

A
ORIGEM E O FUNDAMENTO JU-
RÍDICO do princípio da função social da
propriedade da terra têm por marco inicial a
Emenda Constitucional nº 10, de Novembro de 1964,
à Constituição Federal de 1946, sendo que logo depois
adveio a legislação ordinária “Estatuto da Terra”, regula-
mentando a alteração constitucional.
Além do ordenamento jurídico, os fatores
sociais e econômicos contribuiriam na evolução
do direito de propriedade, assim, a Constituição de
1988 adotou o novo critério, que era reclamado pe-
los setores mais evolvidos da sociedade, e também
adicionou direito de propriedade e a sua função so-
cial, conforme previsto no artigo 5º, incisos XXII,
XXIII e XXIV, como seguem:

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de


qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito

47
à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e a proprie-
dade, nos termos seguintes:
XXII- é garantido o direito de propriedade;
XXIII- A propriedade atenderá a sua função social;
XXIV- a lei estabelecerá o procedimento para
desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou
por interesse social, mediante justa e prévia indenização em
dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição.

Entre outros; artigo 170º, inciso III o con-


ceito de justiça social foi inserido no conteúdo da
ordem econômica:

Art. 170 - A ordem econômica, fundada na


valorização do trabalho humano e na livre iniciati-
va, tem por fim assegurar a todos existência digna,
conforme os ditames da justiça social, observados os
seguintes princípios:
III - função social da propriedade.

Em se tratando de matéria constitucional,


cabe registrar que se exteriorizaram os limites da
matéria, como segue:
• ficou mantida a função social da propriedade;
• direito de propriedade passou a direito e
garantia individual a direito e garantia fundamental;

48
• foi estabelecida, no caso de desapropria-
ção, a prévia indenização em dinheiro.

Devemos deixar evidente que o inciso XXIV


trouxe a garantia do instituto tradicional do “Bem
de família ao imóvel rural”, ocupado pelo produtor,
onde ele reside com seus familiares e esteja explo-
rando em regime de economia familiar:
• ficou estabelecida a impenhorabilidade da
pequena propriedade rural.

Os requisitos, para o efetivo cumprimento


da função social da propriedade, encontram-se es-
tabelecidos na Constituição Federal, em seu artigo
186º que dispõe:

Art. 186. A função social é cumprida quando a


propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e
graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:
I - aproveitamento racional e adequado;
II - utilização adequada dos recursos naturais
disponíveis e preservação do meio ambiente;
III - observância das disposições que regulam as
relações de trabalho;
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos
proprietários e dos trabalhadores.

49
Comparando o texto constitucional de 1988
com o artigo 2º, parágrafo 1º, do Estatuto da Terra,
não se pode negar alguma similaridade, apenas in-
dicando uma derivação ou influência decorrente de
experiências da legislação ordinária do regime ante-
rior que restou repristinada na nova ordem, como
vemos a seguir:

Artigo 2º, E.T.- É assegurada a todos a opor-


tunidade de acesso à propriedade da terra, condicionada
pela sua função social, na forma prevista nesta Lei
§ 1º A propriedade da terra desempenha inte-
gralmente a sua função social quando, simultaneamente
a) favorece o bem-estar dos proprietários e dos tra-
balhadores que nela labutam, assim como de suas famílias;
b) mantém níveis satisfatórios de produtividade;
c) assegura a conservação dos recursos naturais;
d) observa as disposições legais que regulam as jus-
tas relações de trabalho entre os que a possuem e a cultivem.

A nova visão jurídica redigida é tenua-


mente mais vantajosa em relação à anterior. A
inversão da ordem não implica reordenação da
relevância, porque o requisito da simultaneidade
continua presente.
Referir-se ao aproveitamento racional e ade-
quado se apresenta como mais razoável do que ape-

50
nas demonstrar níveis satisfatórios de produtividade,
pois esta pode existir e o aproveitamento não ser ra-
cional nem adequado.
Mencionar meio ambiente é, de longe, mais
abrangente do que apenas recursos naturais. Embo-
ra a disposição anterior fosse mais conservacionista
que a da Constituição Federal de 1988, o sentido é o
de utilizar adequadamente os recursos naturais ainda
disponíveis, o que pode gerar dúbias interpretações.
Citar apenas “relação de trabalho” é fla-
grante avanço de mentalidade diante da equivoca-
da expressão “justas relações de trabalho”, a qual
implicava num forçado juízo de valor. O favoreci-
mento do bem-estar referido pelo inciso IV do ar-
tigo 186 da Constituição Federal é bem mais amplo
que a expressão contida no artigo 2º do Estatuto
da Terra, a qual se referia apenas aos trabalhadores
daquela propriedade concretamente considerada
“que nela labutam”; essa limitação caiu por terra,
pois agora a referência é aos trabalhadores em ge-
ral, inclusive os que nela labutam.
A Lei 8.629/93, em seus artigos 6º e 9º, re-
gulamentou os critérios e graus de exigência relati-
vos à utilização e eficiência na exploração da terra,
para que se cumpra sua função social, em face dos
requisitos do artigo 186º da Constituição Federal de
1988, como seguem:

51
Artigo 6º- Considera-se propriedade produtiva
aquela que, explorada econômica e racionalmente, atinge,
simultaneamente, graus de utilização da terra e de efici-
ência na exploração, segundo índices fixados pelo órgão
federal competente.
§ 1º O grau de utilização da terra, para efeito
do caput deste artigo, deverá ser igual ou superior a
80% (oitenta por cento), calculado pela relação percen-
tual entre a área efetivamente utilizada e a área apro-
veitável total do imóvel.
§ 2º O grau de eficiência na exploração da terra
deverá ser igual ou superior a 100% (cem por cento), e
será obtido de acordo com a seguinte sistemática:
I - para os produtos vegetais, divide-se a quanti-
dade colhida de cada produto pelos respectivos índices de
rendimento estabelecidos pelo órgão competente do Poder
Executivo, para cada Microrregião Homogênea;
II - para a exploração pecuária, divide-se o nú-
mero total de Unidades Animais (UA) do rebanho, pelo
índice de lotação estabelecido pelo órgão competente do
Poder Executivo, para cada Microrregião Homogênea;
III - a soma dos resultados obtidos na forma dos
incisos I e II deste artigo, dividida pela área efetivamente
utilizada e multiplicada por 100 (cem), determina o grau
de eficiência na exploração.
§ 3º Considera-se efetivamente utilizadas:
I - as áreas plantadas com produtos vegetais;
II - as áreas de pastagens nativas e plantadas,

52
observado o índice de lotação por zona de pecuária, fixa-
do pelo Poder Executivo;
III - as áreas de exploração extrativa vegetal ou
florestal, observados os índices de rendimento estabeleci-
dos pelo órgão competente do Poder Executivo, para cada
Microrregião Homogênea, e a legislação ambiental;
IV - as áreas de exploração de florestas nativas,
de acordo com plano de exploração e nas condições estabe-
lecidas pelo órgão federal competente;
V - as áreas sob processos técnicos de formação
ou recuperação de pastagens ou de culturas permanen-
tes, tecnicamente conduzidas e devidamente comprovadas,
mediante documentação e Anotação de Responsabilida-
de Técnica. (Redação dada pela Medida Provisória nº
2.183-56, de 2001
§ 4º No caso de consórcio ou intercalação de cul-
turas, considera-se efetivamente utilizada a área total do
consórcio ou intercalação.
§ 5º No caso de mais de um cultivo no ano, com
um ou mais produtos, no mesmo espaço, considera-se efeti-
vamente utilizada a maior área usada no ano considerado.
§ 6º Para os produtos que não tenham índices de
rendimentos fixados, adotar-se-á a área utilizada com
esses produtos, com resultado do cálculo previsto no inciso
I do § 2º deste artigo.
§ 7º Não perderá a qualificação de propriedade
produtiva o imóvel que, por razões de força maior, caso
fortuito ou de renovação de pastagens tecnicamente con-

53
duzida, devidamente comprovados pelo órgão competente,
deixar de apresentar, no ano respectivo, os graus de efici-
ência na exploração, exigidos para a espécie.
§ 8º São garantidos os incentivos fiscais referentes
ao Imposto Territorial Rural relacionados com os graus
de utilização e de eficiência na exploração, conforme o
disposto no artigo 49º da Lei nº 4.504, de 30 de novem-
bro de 1964.

Artigo 9º - A função social é cumprida


quando a propriedade rural atende, simultaneamen-
te, segundo graus e critérios estabelecidos nesta lei, os
seguintes requisitos:
I - aproveitamento racional e adequado;
II - utilização adequada dos recursos naturais
disponíveis e preservação do meio ambiente;
III - observância das disposições que regulam as
relações de trabalho;
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos
proprietários e dos trabalhadores.
§ 1º Considera-se racional e adequado o aprovei-
tamento que atinja os graus de utilização da terra e de
eficiência na exploração especificados nos §§ 1º a 7º do
art. 6º desta lei.
§ 2º Considera-se adequada a utilização dos re-
cursos naturais disponíveis quando a exploração se faz
respeitando a vocação natural da terra, de modo a manter
o potencial produtivo da propriedade.

54
§ 3º Considera-se preservação do meio am-
biente a manutenção das características próprias do
meio natural e da qualidade dos recursos ambientais,
na medida adequada à manutenção do equilíbrio eco-
lógico da propriedade e da saúde e qualidade de vida
das comunidades vizinhas.
§ 4º A observância das disposições que regulam
as relações de trabalho implica tanto o respeito às leis
trabalhistas e aos contratos coletivos de trabalho, como às
disposições que disciplinam os contratos de arrendamento
e parceria rurais.
§ 5º A exploração que favorece o bem-estar dos
proprietários e trabalhadores rurais é a que objetiva o
atendimento das necessidades básicas dos que trabalham
a terra, observa as normas de segurança do trabalho e
não provoca conflitos e tensões sociais no imóvel.

Ressalta-se que o descumprimento aos


requisitos dos artigos 186º da Constituição Fe-
deral de 1988 ensejará a aplicação da sanção pre-
vista no artigo 184º da referida Carta Magna e do
artigo 2º, da Lei nº 8.629/93, isto é, a desapro-
priação do imóvel rural que não esteja cumprin-
do sua função social.

55
3.1. TERRAS PÚBLICAS E TERRAS
PARTICULARES

O Código Civil brasileiro conceitua, diferen-


cia e estabelece em seus artigos 98º, caput e incisos
ao artigo 103º, respectivamente, os bens públicos
dos particulares, conforme segue:

Art. 98. São públicos os bens do domínio na-


cional pertencentes às pessoas jurídicas de direito público
interno; todos os outros são particulares, seja qual for a
pessoa a que pertencerem.
Art. 99. São bens públicos:
I - os de uso comum do povo, tais como rios, ma-
res, estradas, ruas e praças;
II - os de uso especial, tais como edifícios ou
terrenos destinados a serviço ou estabelecimento da ad-
ministração federal, estadual, territorial ou municipal,
inclusive os de suas autarquias;
III - os dominicais, que constituem o patrimônio
das pessoas jurídicas de direito público, como objeto de
direito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades.
Parágrafo único. Não dispondo a lei em con-
trário, consideram-se dominicais os bens pertencentes às
pessoas jurídicas de direito público a que se tenha dado
estrutura de direito privado.
Art. 100. Os bens públicos de uso comum do povo
e os de uso especial são inalienáveis, enquanto conservarem

56
a sua qualificação, na forma que a lei determinar.
Art. 101. Os bens públicos dominicais podem ser
alienados, observadas as exigências da lei.
Art. 102. Os bens públicos não estão sujeitos
a usucapião.
Art. 103. O uso comum dos bens públicos pode
ser gratuito ou retribuído, conforme for estabelecido legal-
mente pela entidade a cuja administração pertencerem.

A Constituição Federal de 1988 estabelece


quais são os bens da União e dos Estados em seus
artigos 20º e 26º, respectivamente, como segue:

Art. 20. São bens da União:


I - os que atualmente lhe pertencem e os que lhe
vierem a ser atribuídos;
II - as terras devolutas indispensáveis à defesa
das fronteiras, das fortificações e construções militares,
das vias federais de comunicação e à preservação ambien-
tal, definidas em lei;
III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água
em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um
Estado, sirvam de limites com outros países, ou se es-
tendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem
como os terrenos marginais e as praias fluviais;
IV as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limí-
trofes com outros países; as praias marítimas; as ilhas

57
oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as que conte-
nham a sede de Municípios, exceto aquelas áreas afeta-
das ao serviço público e a unidade ambiental federal, e
as referidas no art. 26, II; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 46, de 2005)
V - os recursos naturais da plataforma continen-
tal e da zona econômica exclusiva;
VI - o mar territorial;
VII - os terrenos de marinha e seus acrescidos;
VIII - os potenciais de energia hidráulica;
IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo;
X - as cavidades naturais subterrâneas e os sítios
arqueológicos e pré-históricos;
XI - as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios.
§ 1º - É assegurada, nos termos da lei, aos Es-
tados, ao Distrito Federal e aos Municípios, bem como a
órgãos da administração direta da União, participação
no resultado da exploração de petróleo ou gás natural, de
recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica
e de outros recursos minerais no respectivo território, pla-
taforma continental, mar territorial ou zona econômica
exclusiva, ou compensação financeira por essa exploração.
§ 2º - A faixa de até cento e cinqüenta quilôme-
tros de largura, ao longo das fronteiras terrestres, desig-
nada como faixa de fronteira, é considerada fundamental
para defesa do território nacional, e sua ocupação e utili-
zação serão reguladas em lei.
Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados:

58
I - as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes,
emergentes e em depósito, ressalvadas, neste caso, na for-
ma da lei, as decorrentes de obras da União;
II - as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que
estiverem no seu domínio, excluídas aquelas sob domínio
da União, Municípios ou terceiros;
III - as ilhas fluviais e lacustres não pertencentes
à União;
IV - as terras devolutas não compreendidas entre
as da União.

Como vimos, as terras públicas pertencem ao


patrimônio público, que se constitui em terras pró-
prias e devolutas. Já as terras particulares são estabele-
cidas por exclusão, como trata o próprio Código Civil.
Não é suficiente o preenchimento de qual-
quer um dos requisitos para que a Propriedade Rural
cumpra a sua Função Social. É imprescindível que
todos os requisitos sejam satisfatoriamente preen-
chidos. Nessa esteira, segue o Código Civil, que em
seu artigo 1.228º e seus parágrafos, disseca os casos
de limitação do direito de propriedade.
Enumerando-se as limitações decorrentes
do interesse social, é possível classificá-las em:

a)Limitações Constitucionais, tais como: de-


sapropriações por necessidade ou utilidade públicas

59
e interesse social (art. 5º, XXV, da Constituição
Federal); jazidas, minas e demais recursos minerais
(art. 176); desapropriação de imóvel rural para Re-
forma Agrária (art. 184, d);
b) Restrições Administrativas, como proteção ao
patrimônio histórico e artístico nacional, através de tom-
bamentos; leis edilícias que limitam o direito à construção
(plano diretor das cidades); etc;
c) Restrições de Natureza Militar, por exem-
plo: requisição de bens móveis e imóveis necessários às
Forças Armadas e à defesa da população (Dec.- lei nº
5.451/43); restrições às transações de imóveis nas faixas
de fronteira (Dec.- lei nº 6.430/44), etc;
d) Restrições destinadas a proteger a lavoura, co-
mércio ou indústria;
e) Limitações decorrentes das leis eleitorais, como
requisições de prédios para instalação de locais de vota-
ção; e limitações baseadas no interesse privado, tais como:
direitos de vizinhança; restrições quanto ao uso da pro-
priedade (arts. 186 e 188 do Código Civil);
f) Limitações similares às servidões; passagem for-
çada; passagem de cabos elétricos e tubulações (art. 1.286
do Código Civil); águas; limites entre prédios; direito de
tapagem (art. 1.297 do CC) e; direito de construir.

Em resumo, as leis já são abundantes e


bastante abrangentes sobre o tema e surgiram

60
justamente em resposta aos clamores do mo-
mento histórico vivido no país.

3.2. TERRAS DEVOLUTAS

No ano de 1822, termina no Brasil o re-


gime das sesmarias, conforme Resolução de 17
de Julho, confirmada por previsão de D. Pedro I,
de 22 de outubro do ano seguinte, e iniciava se o
“regime de posses”.
No primeiro, o sesmeiro recebia o título
para depois trabalhar a terra; pela posse, o pos-
seiro iniciava a exploração da terra e, depois de
fazer as benfeitorias, legalizava a sua ação pelo
reconhecimento estatal da situação. Neste se-
gundo caso, com grande vantagem de conduzir
a exploração agrícola para a propriedade familiar
e não para latifúndio, pois o posseiro cultivava a
terra com seu próprio esforço e o de seus descen-
dentes pudesse realizar. E isto, não por virtude,
mas imposto pela necessidade e falta de recursos.
Essa forma de uso e possessão da terra vi-
gorou até 1850, quando foi promulgada, em 18 de
setembro, a Lei nº 601, a primeira lei de terras do
Brasil e nela veio especificado o que fossem as “ter-
ras devolutas”, deixando bem claro todas as que se

61
situasse dentro dos limites territoriais do Império,
sem cultura, aproveitamento, sem exploração, não
possuída e desabitada.
As demais terras apossadas e não tituladas,
deveriam obter regularização pela forma fixada na
Lei e no Regulamento, sempre provada a exigência
dupla da cultura efetiva e morada habitual.
Um instituto genuinamente brasileiro onde
a definição é por exclusão; Na Constituição de 1891
transferiu aos Estados as terras devolutas, ficando
reservadas à União apenas as áreas destinadas à defe-
sa das fronteiras, fortificações, construções militares
e estradas de ferro, e terrenos de marinha.
O Decreto-lei nº 2.375/87 trouxe o con-
ceito de não serem devolutas as terras que even-
tualmente tenham sido arrecadadas ou discrimina-
das e matriculadas em nome da União por força
do Decreto-Lei nº 1.164 /71 (faixa de 100 km às
margens das rodovias citadas).
Constatamos na atualidade em nossa Cons-
tituição Federal de 1988 em seus artigos 20º e 225º,
parágrafo 5º, o que segue:

Art. 20. São bens da União:


II - as terras devolutas indispensáveis à defesa
das fronteiras, das fortificações e construções militares,
das vias federais de comunicação e à preservação ambien-
tal, definidas em lei;

62
Art. 188. A destinação de terras públicas e de-
volutas será compatibilizada com a política agrícola e com
o plano nacional de reforma agrária.
§ 1º - A alienação ou a concessão, a qualquer
título, de terras públicas com área superior a dois mil e
quinhentos hectares a pessoa física ou jurídica, ainda que
por interposta pessoa, dependerá de prévia aprovação do
Congresso Nacional.
§ 2º - Excetuam-se do disposto no parágrafo an-
terior as alienações ou as concessões de terras públicas
para fins de reforma agrária
Art. 225 § 5º - São indisponíveis as terras de-
volutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações discrimi-
natórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.

No conceito da Lei nº 601/1850, pretendeu-


-se estremar o domínio público do particular; o IN-
CRA é o representante da União conforme constata-
mos no artigo 11º do Estatuto da Terra) como segue:

Artigo 11º - O Instituto Brasileiro de Reforma


Agrária fica investido de poderes de representação da
União, para promover a discriminação das terras devo-
lutas federais, restabelecida a instância administrativa
disciplinada pelo Decreto-Lei nº 9.760, de 5 de setembro
de 1946, e com autoridade para reconhecer as posses le-
gítimas manifestadas através de cultura efetiva e morada

63
habitual, bem como para incorporar ao patrimônio pú-
blico as terras devolutas federais ilegalmente ocupadas e
as que se encontrarem desocupadas
§ 1º Através de convênios, celebrados com os Es-
tados e Municípios, iguais poderes poderão ser atribuídos
ao Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, quanto às
terras devolutas estaduais e municipais, respeitada a le-
gislação local, o regime jurídico próprio das terras situa-
das na faixa da fronteira nacional bem como a atividade
dos órgãos de valorização regional.
§ 2º Tanto quanto possível, o Instituto Brasileiro
de Reforma Agrária imprimirá ao instituto das terras
devolutas orientação tendente a harmonizar as peculiari-
dades regionais com os altos interesses do desbravamento
através da colonização racional visando a erradicar os
males do minifúndio e do latifúndio.

A Lei nº 6.383/76 prevê o procedimento


administrativo e procedimento judicial; sentença ho-
mologatória serve de título de proprietário para o re-
gistro imobiliário competente; tem caráter preferen-
cial e prejudicial em relação às ações em andamento,
que se refiram ao domínio ou à posse de imóveis
situados no todo, ou em parte, na área discriminada.

64
3.3 REGISTROS PÚBLICOS

Em um primeiro momento, na história dos


registros públicos no Brasil, os registros das terras
passaram a ser efetuados no Vigário ou Registro Pa-
roquial, tendo valor até os dias atuais como prova da
posse e não como título de domínio.
A partir daí a aquisição da terra se fazia por
compra e registro. Pela mesma lei foi instituída a
ação discriminatória que trata do processo de sepa-
ração de terras públicas e particulares, que existe até
os dias atuais.
A partir da Lei de terras passamos a ter vá-
rias denominações para os proprietários e possuido-
res de terras, a saber:
• Proprietários legítimos, com seus direitos
oriundos de títulos de sesmarias cedidas e confirmadas;
• Possuidores com títulos de sesmarias, mas
sem confirmação, por inadimplência;
• Possuidores sem título hábil, que eram as
posses anteriores à lei de terras;
• E terras devolutas (devolvidas).

Acerca da criação da matrícula no registro


de imóveis, constatamos com o advento da chamada
Lei de Registros Públicos, Lei Federal nº 6.015, de
31 de dezembro de 1973, e ainda, recentemente, da
entrada em vigor da Lei Federal nº 10.267, de 28

65
de agosto de 2001, com seus dispositivos, e, conse-
quentemente, os efeitos modificativos ocorridos na
matrícula do imóvel rural.
Dentro de um breve histórico sobre a matrí-
cula, seu conceito e sua natureza jurídica no direito
brasileiro, um paralelo da matrícula do imóvel rural
antes e depois da Lei nº 10.267/01 e, obviamente, as
conclusões finais.

3.4. HISTÓRICO DOS REGISTROS


PÚBLICOS

A matrícula nasceu do regime alemão, consi-


derado um sistema seguro, pois os imóveis são todos
cadastrados. Na Alemanha, existe a presunção iuris
et de iure do registro de propriedade do imóvel. No
sistema alemão, uma vez registrada a propriedade,
não se admite prova em contrário.
Tal afirmativa é perfeitamente compreensí-
vel, vez que a segurança no registro já se encontra
perfeitamente adaptada, oferecendo ao usuário dos
serviços a certeza de que quem adquirir um imóvel,
devidamente cadastrado, estará efetivando um negó-
cio insuscetível de ser invalidado posteriormente.
No sistema brasileiro a presunção é iuris
tantum, ou seja, admite-se prova em contrário da ti-

66
tularidade da propriedade, pois, apesar de o imóvel
estar matriculado, o registro poderá ser retificado ou
anulado, conforme artigo 216º da Lei nº 6.015/73,
como segue:

Art. 216 - O registro poderá também ser retificado ou


anulado por sentença em processo contencioso, ou por efeito do
julgado em ação de anulação ou de declaração de nulidade de
ato jurídico, ou de julgado sobre fraude à execução. (Renumera-
do do art. 217 com nova redação pela Lei nº 6.216, de 1975).

No Brasil, antes do advento da Lei nº


6.015/73, não existia a figura da matrícula no Servi-
ço de Registro Imobiliário. Os registros eram feitos
no fólio pessoal, ou seja, todas as transações eram
registradas em nome da pessoa, não havendo separa-
ção quanto à unidade imobiliária em livro de registro
manuscrito por folha. O foco era a pessoa, e não o
imóvel, junto ao Registro Imobiliário.
Depois da Lei de Registros Públicos, passou-
-se a realizar os atos imobiliários no fólio real, que é a
matrícula como sinônimo de fólio real, que encerra as
inscrições a ele endereçadas à unidade predial. O foco
passou a ser o patrimônio devidamente individualizado.
No sistema vigente anterior à Lei nº
6.015/73, transcrevia-se o título e não propriamente
os imóveis. Estes só eram inseridos no Registro de

67
Imóveis por via reflexa, uma vez que os lançamentos
feitos por ordem cronológica e os índices eram orga-
nizados tendo em consideração mais os nomes das
pessoas do que propriamente os imóveis.
Assim, se houvesse em um mesmo título a
transmissão de vários imóveis, o lançamento efetua-
do no registro “a transcrição” era uma só, em nome
da pessoa adquirente, então, efetuava-se um só as-
sentamento, um só registro, apesar de serem vários
imóveis, objeto da transmissão ou da alienação.
Evidentemente, a mudança na técnica regis-
tral teria que ser efetuada tendo por base o imóvel,
daí a razão do princípio da unitariedade, consagra-
do no artigo 176º, parágrafo 1º, inciso I, da Lei nº
6.015/73, de Registros Públicos, como segue: “I -
cada imóvel terá matrícula própria, que será aberta por oca-
sião do primeiro registro a ser feito na vigência desta Lei;”

3.5. CONCEITO DE MATRÍCULA NO


DIREITO BRASILEIRO

Para Walter Ceneviva, em sua obra Lei dos


Registros Públicos a matrícula é: “A inscrição numerada
seqüencialmente do imóvel, praticada sob responsabilidade do
oficial do serviço de registro imobiliário, que o identifica e espe-
cifica, situado no território de sua atribuição legal”.

68
O ilustre professor Afrânio de Carvalho nos
diz o seguinte:

A matrícula recebe um número, correspondente à


sua posição cronológica, com o qual se distingue de qualquer
outra, e deve ter um teor em forma narrativa, mas abreviada,
que satisfaça sua finalidade, que é individualizar o imóvel e
o seu proprietário. Tendo por estremas o objeto e o titular do
direito real, abrange dados individualizadores de um e de
outro. Tanto o imóvel como o proprietário hão de ser descritos
precisamente, sem que reste dúvida sobre a sua identidade,
declinando-se, por fim, o vínculo ou título que prende o pri-
meiro ao segundo, vale dizer, o número de registro anterior.

Deste modo, a matrícula é a representação


minuciosa do imóvel nos livros do Registro de Imó-
veis, descrita de maneira que não se confunda com
nenhuma outra. É ato individualizado com todos os
seus caracteres.

3.6. NATUREZA JURÍDICA DA MATRÍCULA

Sobre o conceito de matrícula nos depara-


mos com as expressões: individualização, caracteres,
representação minuciosa etc. Daí, para verificarmos

69
sua natureza jurídica, podemos nos perguntar se a
matrícula seria apenas um ato puramente cadastral,
pois individualiza, caracteriza e representa minucio-
samente o imóvel ou um ato jurídico.
Novamente, o ilustre professor Afrânio de Car-
valho, em sua obra Registro de Imóveis, definiu a nature-
za jurídica da matrícula, nos dando a seguinte lição:

Como se sabe, a matrícula se transfere do antigo


livro de transmissões (livro nº. 3), onde existe de certo
modo com o nome de transcrição, para o novo livro de
registro geral, onde passa a existir de modo diverso com o
nome de matrícula. Ali o ato se apresentava numa folha
coletiva, destinada a uma pluralidade de imóveis, sendo
os seus dados destacados em colunas, ao passo que aqui
se exibe numa folha individual, dedicada a um só imóvel,
sendo os seus dados reunidos num todo compacto. Ali o
ato se consignava por extrato, aqui em narrativa.

Prosseguindo o mesmo autor:

O ato, que tinha na transcrição certa forma,


assume na matrícula forma diversa. A troca do antigo
sistema de registro pelo sistema do fólio real impôs essa
mudança do feitio externo, sem atingir o cerne ou essência
do ato. Nessa conformidade, a matrícula, como transfe-
rência da transcrição de um para outro livro, continua a

70
ser ato jurídico de aquisição da propriedade.
[...]
Ao entender a matrícula como primeira inscri-
ção, ao invés de deixá-la solta no mundo da irrelevância,
dá-se-lhe o único significado que ela pode assumir para
tornar útil todo o contexto da lei registral. Não há motivo
para duvidar do seu caráter jurídico, porque é ela que de-
fine, em toda a sua extensão, modalidades e limitações, a
situação jurídica do imóvel. Sendo, na essência, a mesma
transcrição, evolvida e atualizada sob nova forma para
adaptação ao livro estruturado pelo sistema real, conserva
a natureza jurídica com que surgiu.

Evidentemente, não podemos negar que, atra-


vés do fólio real, a matrícula seja o primeiro ato jurídico
de aquisição da propriedade, confirmando sua natureza
jurídica e não simplesmente uma forma cadastral, pois
o cadastro é ato puramente administrativo.
O caput do artigo 167º, da Lei nº 6.015/73,
nos confirma a relevância da matrícula,como segue:

Art. 167. No Registro de Imóveis, além da ma-


trícula, serão feitos:
I – o registro:
[...]
II – a averbação:
[...]

71
Podemos verificar que os possíveis registros
e averbações terão como sustentação a matrícula.
Certamente, não foi por acaso que o legislador a
mencionou no caput do artigo ora comentado.

3.7. MATRÍCULA DO IMÓVEL RURAL


DEPOIS DA LEI Nº 10.267/01

Neste ponto já podemos transcrever o arti-


go 176º da Lei nº 6.015/73, com as alterações advin-
das da Lei nº 10.267/01, como segue:

Art. 176 - O Livro nº 2 - Registro Geral - será


destinado, à matrícula dos imóveis e ao registro ou averbação
dos atos relacionados no art. 167 e não atribuídos ao Livro
nº 3 (Renumerado de art. 173 com nova redação, pela Lei nº
6.216, de 30.6.1975)
§ 1º - A escrituração do Livro nº 2 obedecerá às se-
guintes normas: (Parágrafo renumerado do parágrafo único
pela Lei nº6.688, de 1979) I - cada imóvel terá matrícula
própria, que será aberta por ocasião do primeiro registro a ser
feito na vigência desta Lei;
II - são requisitos da matrícula:
1) o número de ordem, que seguirá ao infinito;
2) a data;
3) a identificação do imóvel, que será feita com indica-

72
ção: (Redação dada pela Lei n. 10.267, de 2001)
a - se rural, do código do imóvel, dos dados cons-
tantes do CCIR, da denominação e de suas característi-
cas, confrontações, localização e área; (Incluída pela Lei
n. 10.267, de 2001)
b – [...]
4) o nome, domicílio e nacionalidade do proprie-
tário, bem como:
a) tratando-se de pessoa física, o estado civil, a
profissão, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas
Físicas do Ministério da Fazenda ou do Registro Geral
da cédula de identidade, ou à falta deste, sua filiação;
b) tratando-se de pessoa jurídica, a sede social e o
número de inscrição no Cadastro Geral de Contribuintes
do Ministério da Fazenda;
5) o número do registro anterior;
III - são requisitos do registro no Livro nº 2:
a data;
o nome, domicílio e nacionalidade do transmiten-
te, ou do devedor, e do adquirente, ou credor, bem como:
a) tratando-se de pessoa física, o estado civil, a
profissão e o número de inscrição no Cadastro de Pessoas
Físicas do Ministério da Fazenda ou do Registro Geral
da cédula de identidade, ou, à falta deste, sua filiação;
b) tratando-se de pessoa jurídica, a sede social e o
número de inscrição no Cadastro Geral de Contribuintes
do Ministério da Fazenda;
3) o título da transmissão ou do ônus;

73
4) a forma do título, sua procedência e caracterização;
5) o valor do contrato, da coisa ou da dívida,
prazo desta, condições e mais especificações, inclusive os
juros, se houver.
§ 2º [...]
§ 3o Nos casos de desmembramento, parcela-
mento ou remembramento de imóveis rurais, a identifi-
cação prevista na alínea a do item 3 do inciso II do §
1o será obtida a partir de memorial descritivo, assinado
por profissional habilitado e com a devida Anotação de
Responsabilidade Técnica – ART, contendo as coordena-
das dos vértices definidores dos limites dos imóveis rurais,
geo-referenciadas ao Sistema Geodésico Brasileiro e com
precisão posicional a ser fixada pelo INCRA, garantida
a isenção de custos financeiros aos proprietários de imó-
veis rurais cuja somatória da área não exceda a quatro
módulos fiscais. (Incluído pela Lei nº 10.267, de 2001)
§ 4o A identificação de que trata o § 3o tornar-
-se-á obrigatória para efetivação de registro, em qualquer
situação de transferência de imóvel rural, nos prazos fi-
xados por ato do Poder Executivo. (Incluído pela Lei n.
10.267, de 2001)

O artigo supramencionado estabelece que


a matrícula será feita no livro nº 2 (Registro Geral)
obedecendo algumas normas. Cada imóvel terá ma-
trícula própria, sendo aberta por ocasião do primeiro

74
registro; conterá o número de ordem, que seguirá ao
infinito; a data; a identificação do imóvel; o nome,
domicílio e nacionalidade do proprietário e o núme-
ro do registro anterior.
Também no livro nº 2, os requisitos do re-
gistro são: a data; o nome, domicílio e nacionalidade
do transmitente, ou do devedor, e do adquirente, ou
credor; o título de transmissão ou do ônus; a forma
do título, sua procedência e caracterização; o valor do
contrato, da coisa ou da dívida, prazo desta, condições
e mais especificações, inclusive juros, se houver.
A redação que foi acrescentada ao artigo 176º
da Lei nº 6.015/73, com o advento da Lei nº 10.267/01.
Como requisitos da matrícula, o número 3, letra “a” do
artigo 176º, tratou da identificação do imóvel, que será
feita com indicação:“a) se rural, do código do imóvel, dos dados cons-
tantes do CCIR (Certificado de Cadastro de Imóvel Rural), da denominação
e de suas características, confrontações, localização e área; [...]”
A redação acima nos remete às cautelas que
devem ser tomadas quanto à identificação do imóvel
rural na matrícula, constando código próprio do re-
ferido bem, dados do CCIR, denominação, caracte-
rísticas e confrontações, localização por município,
comarca e a área em hectares e seus submúltiplos.
No parágrafo abaixo, a situação fica ain-
da mais complexa quando trata da identificação do
imóvel rural nos casos de desmembramento, parce-
lamento ou remembramento:

75
§ 3o Nos casos de desmembramento, parcelamento
ou remembramento de imóveis rurais, a identificação pre-
vista na alínea a do item 3 do inciso II do § 1o será obtida
a partir de memorial descritivo, assinado por profissional
habilitado e com a devida Anotação de Responsabilidade
Técnica – ART, contendo as coordenadas dos vértices de-
finidores dos limites dos imóveis rurais, geo-referenciadas
ao Sistema Geodésico Brasileiro e com precisão posicional
a ser fixada pelo INCRA, garantida a isenção de custos
financeiros aos proprietários de imóveis rurais cuja somató-
ria da área não exceda a quatro módulos fiscais.

Assim, o Oficial do Registro Imobiliário,


para os atos acima elencados, ou seja, desmembra-
mento, parcelamento ou remembramento, depende-
rá da apresentação de memorial descritivo, assinado
por profissional habilitado, integrado pela devida
Anotação de Responsabilidade Técnica - ART, de-
vendo oferecer as coordenadas dos vértices defini-
dores dos limites do imóvel e toda a linha perimetral,
georreferenciadas ao Sistema Geodésico Brasileiro e
com precisão posicional a ser fixada pelo INCRA.
É inegável que o novo sistema de identifi-
cação do imóvel rural é bastante avançado e com
certeza, ao longo do tempo, trará segurança incon-
teste aos negócios jurídicos relacionados aos imóveis
matriculados e embasados em tal precisão.

76
Os dados são do INCRA, conforme pode ser
verificado no endereço eletrônico www.incra.gov.br (Sis-
tema Público de Registro de Terras - Lei 10.267/01),
demonstrando que o estado do Mato Grosso é o pio-
neiro em quantidade de imóveis já certificados pelo
novo sistema, seguido de São Paulo e Bahia. Em Mi-
nas Gerais, não consta nenhum lançamento georrefe-
renciado na base de dados do Incra.
Outro dado importante é que se o sistema
visa ao confronto exato dos imóveis certificados e
suas respectivas matrículas, contudo, nos dados infor-
mados pelo Incra, o código correspondente à matrí-
cula encontra-se sem o devido preenchimento, cau-
sando insegurança quanto ao objetivo do sistema.
Quanto à garantia de isenção de custos fi-
nanceiros aos proprietários de imóveis rurais, cuja
somatória da área não exceda a quatro módulos fis-
cais, o legislador, data vênia, não estipulou quem ar-
cará com os custos advindos de tal procedimento.
No parágrafo 4º, quando se atrelou o geore-
ferenciamento a qualquer situação de transferência
do direito real sobre o imóvel rural, a obrigatorie-
dade de sua identificação, com os prazos fixados no
artigo 10 do Decreto Federal nº 4.449/2002, sendo
que o último prazo, previsto no inciso IV, expiraria
em outubro de 2005, obviamente, concluímos que
todos os imóveis deveriam, até tal data, estar devida-
mente identificados pelo novo sistema, sob pena do

77
total engessamento dos negócios jurídicos imobiliá-
rios, junto ao registro competente.
Tal afirmativa pode ser confirmada pela leitura
do texto legal abaixo: “§ 4o A identificação de que trata o §
3o tornar-se-á obrigatória para efetivação de registro, em qualquer
situação de transferência de imóvel rural, nos prazos fixados por
ato do Poder Executivo”

78
Capítulo 4
CLASSIFICAÇÃO FUNDIÁRIA

A
CLASSIFICAÇÃO FUNDIÁRIA de imóveis
passíveis de intervenção para correção do re-
gime de uso e posse da terra veio regularizada
pela Lei n.º 4.504, de 1964, identificando: Minifúndio,
Empresa Rural, Latifúndio por Exploração, Latifúndio
por Dimensão. E o que se observa na atualidade com a
Lei n.º 8.629, de 1993, é a definição de pequena proprie-
dade; média propriedade; propriedade produtiva.
O Estatuto da Terra Lei n.º 4.504/64 em
seu artigo 4.º, inciso II, define como “Propriedade
Familiar” o imóvel rural que, direta e pessoalmente
explorado pelo agricultor e sua família, lhes absorva
toda a força de trabalho, garantindo-lhes a subsistên-
cia e o progresso social e econômico, com área má-
xima fixada para cada região e tipo de exploração e,
eventualmente, trabalhado com a ajuda de terceiros.
Nesse contexto, temos o conceito de mó-
dulo rural que é derivado do conceito de pro-
priedade familiar, e, é uma unidade de medida

79
expressa em hectares, que busca exprimir a in-
terdependência entre a dimensão, a situação geo-
gráfica dos imóveis rurais e a forma e condições
do seu aproveitamento econômico.
O Módulo Rural, atualmente, é utilizado para
definir os limites da dimensão dos imóveis rurais no
caso de aquisição por pessoa física estrangeira, resi-
dente no País. Neste caso, utiliza-se como unidade
de medida o módulo de exploração indefinida.
O Módulo Fiscal é uma unidade de medida
expressa em hectares, fixada para cada município,
considerando os seguintes fatores: tipo de explora-
ção predominante no município; renda obtida com
a exploração predominante; outras explorações exis-
tentes no município que, embora não predominan-
tes, sejam significativas em função da renda ou da
área utilizada; e conceito de propriedade familiar.
Em sua aplicação, serve de parâmetro para
classificação do imóvel rural quanto ao tamanho, na
forma da Lei n.º 8.629, de 25 de fevereiro de 1993. Pe-
quena Propriedade – o imóvel rural de área compre-
endida entre 1(um) e 4(quatro) módulos fiscais; Média
Propriedade - o imóvel rural de área de área superior
a 4 (quatro) e até 15 (quinze) módulos fiscais. Serve
também de parâmetro para definir os beneficiários do
PRONAF (pequenos agricultores de economia fami-
liar, proprietários, meeiros, posseiros, parceiros ou ar-
rendatários de até 4 (quatro) módulos fiscais).

80
A diferença entre Módulo Rural e Módulo
Fiscal, esta que no Módulo Rural é calculado para
cada imóvel rural em separado, e sua área reflete o
tipo de exploração predominante no imóvel rural,
segundo sua região de localização e já no Módulo
Fiscal por sua vez é estabelecido para cada municí-
pio, e procura refletir a área mediana dos Módulos
Rurais dos imóveis rurais do município.
As normas que estabelecem procedimentos
para atualização cadastral de imóveis rurais sob Pro-
cesso de Fiscalização Cadastral são as seguintes:

• a) Decreto n.º 72.106/73, que regulamenta a


Lei n.º 5.868/72, em especial os artigos 4.º, 5.º, 6.º e 43.º;
• b) Instrução Normativa/INCRA/n.º13/94,
que define diretrizes e procedimentos básicos da ativi-
dade de fiscalização cadastral de imóveis rurais;
• c) Ordem de Serviço/INCRA/DC/n.º
02/94, que aprova o Manual de Fiscalização Cadas-
tral com as normas e os procedimentos inerentes ao
Processo de Fiscalização Cadastral;
• d) Ordem de Serviço/INCRA/DC/n.º
02/97, que no item IV determina que toda e qual-
quer inclusão ou atualização cadastral referente a
imóvel rural com área igual ou superior a 10.000,0
ha seja feita com base nos procedimentos previstos
no Manual de Fiscalização Cadastral;
• e) Portaria/INCRA/P/n.º 558/99, em

81
especial seus artigos 1.º e 2.º, que determinam
o cancelamento seguido de recadastramento no
SNCR dos imóveis rurais com área igual ou supe-
rior a 10.000,0 ha. As normas citadas nos itens a),
e e) encontram-se disponíveis no site do INCRA.
Aquelas citadas nos itens b) e c) tratam de pro-
cedimentos internos da Autarquia e possuem dis-
ponibilizadas no site as informações de interesse
direto do público externo sob o título do “Livro
Branco da Grilagem de Terras no Brasil”, onde
se encontra a documentação necessária para reca-
dastramento dos imóveis rurais no SNCR, com as
“Instruções para comprovação de dados” e “Ins-
truções para elaboração do Laudo Técnico”.

Nenhum proprietário de imóvel rural está


obrigado, por força de Lei, a promover, junto ao
Cartório de Registro de Imóveis, a unificação de ma-
trículas de áreas contínuas.
Entretanto, para fins de cadastramento no
Sistema Nacional de Cadastro Rural – SNCR -, o
remembramento das áreas é obrigatório por força
da conceituação de imóvel rural contida no inciso I
do artigo 4.º da Lei n.º 4.504/64, Estatuto da Terra,
conforme estabelece o artigo 2.º da Lei n.º 5.868/72
que cria o SNCR.

82
4.1. CADASTRO RURAL

Durante a vigência da Carta de 1946 que surgiu


o INIC, Instituto Nacional de Imigração e Colonização,
através da Lei n.º 2.163/54, predecessor do INCRA - O
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária,
criado como uma autarquia federal vinculada ao MDA -
Ministério do Desenvolvimento Agrário, criada pelo De-
creto Lei n.º 1.110, de 9 de julho de 1970, teve sua estru-
tura regimental aprovada pelo Decreto n.º 5.735, de 27
de março de 2006, com nova redação dada pelo Decreto
n.º 6.812, de 03 de abril de 2009, criada pelo Decreto n.º
1.110, de 9 de julho de 1970, com a missão prioritária de
realizar a reforma agrária, manter o cadastro nacional de
imóveis rurais e administrar as terras públicas da União.
Está implantado em todo o território nacional.
O Cadastro de Imóveis Rurais foi criado
pela Lei n.º 4.504, de 30 de novembro de 1964,
Estatuto da Terra. Com o advento da Lei n.º
5.868, de 12 de dezembro de 1972, foi instituído o
SNCR - Sistema Nacional de Cadastro Rural, que
teve como finalidade primordial a integração e
sistematização da coleta pesquisa e tratamento de
dados e informações sobre o uso e posse da terra.
O SNCR é composto pelo Cadastro de Imóveis
Rurais, pelo Cadastro de Proprietários de Imóveis
Rurais, pelo Cadastro de Arrendatários e Parcei-
ros e pelo Cadastro de Terras Públicas.

83
O Estatuto da Terra que deu ensejo a
criação do Cadastro de Imóveis Rurais, onde o
primeiro levantamento foi feito em 1966 com
foco no zoneamento agrário, Políticas de Refor-
ma e desenvolvimento agrário visualizando a tri-
butação da terra.
Diante das necessidades que foram surgindo
para o controle agrário, surge ainda a Lei n.º. 5.868,
de 12 de dezembro de 1972 que cria o Sistema Na-
cional Cadastro Rural, sendo seus primeiros recadas-
tramentos feitos em 1972, 1978 e 1992 e o ponto
primordial Focado na Tributação da Terra até 1990,
seguido das implementações nas políticas de Refor-
ma Agrária, após 1984.
A Lei n.º. 10.267, de 28 de agosto de 2001,
cria a integração entre Cadastros Públicos de Imó-
veis Rurais – CNIR, com vinculação ao Serviço
de Registro Imobiliário, onde há troca de infor-
mações entre o Incra e Cartórios para o controle
sobre os imóveis públicos e privados, observando
a sobreposição e legalidade dos documentos ini-
bindo os fraudadores (grilagem).
A Lei citada que cria o Sistema Público de
Registro de Terras, estreitando o vínculo entre o ca-
dastro nacional de imóveis rurais (Incra) e o registro
imobiliário (sistema cartório), exige a apresentação
de planta georreferenciada do imóvel rural, para que
qualquer transação imobiliária possa ser efetivada

84
pelo sistema cartorário, plantas essas elaboradas se-
gundo padrão estabelecido pelo Incra.
Os objetivos sempre foram os de caracteri-
zação do domínio e uso da terra, incluindo títulos
de domínio, natureza da posse, localização geográfi-
ca, área com descrição das linhas de divisas e nome
dos respectivos confrontantes, dentre outras medi-
das necessárias para a demarcação, identificando, em
alguns casos, grupamento dos vários imóveis rurais
que pertenciam a um único proprietário. Este Cer-
tificado de Cadastro de Imóveis Rurais (documento
expedido pelo INCRA e que não faz prova de pro-
priedade ou de direitos a ela relativos).

4.2. ZONEAMENTO DE IMÓVEIS RURAIS

O zoneamento refere-se a uma divisão di-


nâmica das áreas propícias à exploração agrária,
permitindo que se coletem os dados necessários à
elaboração de uma política propícia aos relevantes
interesses do setor.
À medida que se constitui um ponto valio-
so, dadas as peculiaridades de cada região do país,
delimitadas geograficamente as diversas regiões do
zoneamento, podem ser estabelecidas as diretrizes a
serem adotadas para cada tipo de região.

85
Cabe ao Instituto Brasileiro de Reforma
Agrária, atualmente Instituto Nacional de Colo-
nização e Reforma Agrária – INCRA, promover
estudos para o zoneamento do Brasil, em regiões
homogêneas, precisamente quanto às caracterís-
ticas da estrutura agrária e socioeconômica, onde
o Estatuto da Terra, em seu artigo 43.º, vem vi-
sando definir como segue:

Art. 43. O Instituto Brasileiro de Reforma


Agrária promoverá a realização de estudos para o zone-
amento do país em regiões homogêneas do ponto de vista
sócio-econômico e das características da estrutura agrária,
visando a definir:
I - as regiões críticas que estão exigindo refor-
ma agrária com progressiva eliminação dos minifún-
dios e dos latifúndios;
II - as regiões em estágio mais avançado de desen-
volvimento social e econômico, em que não ocorram tenções
nas estruturas demográficas e agrárias;
III - as regiões já economicamente ocupadas em
que predomine economia de subsistência e cujos lavrado-
res e pecuaristas careçam de assistência adequada;
IV - as regiões ainda em fase de ocupação econô-
mica, carentes de programa de desbravamento, povoamen-
to e colonização de áreas pioneiras.

86
4.3. ELEMENTOS DO ZONEAMENTO
RURAL

Os elementos essenciais à elaboração do zo-


neamento e caracterização das áreas prioritárias, con-
forme o próprio artigo 43.º do Estatuto da Terra são:

a) a posição geográfica das áreas, em relação aos


centros econômicos de várias ordens, existentes no país;
b) o grau de intensidade de ocorrência de
áreas em imóveis rurais acima de mil hectares e abai-
xo de cinquenta hectares;
c) o número médio de hectares por pes-
soa ocupada;
d) as populações rurais, seu incremento anu-
al e a densidade específica da população agrícola;
e) “a relação entre o número de proprietá-
rios e o número de rendeiros, parceiros e assalaria-
dos em cada área.

4.4. OBJETIVOS E O CADASTRO DO


ZONEAMENTO RURAL

Os objetivos do zoneamento rural, de acor-


do com artigo 44.º, do Estatuto da Terra, são:

87
I - estabelecer as diretrizes da política agrária a
ser adotada em cada tipo de região;
II - programar a ação dos órgãos governamentais,
para desenvolvimento do setor rural, nas regiões delimita-
das como de maior significação econômica e social.

O Decreto n.º 55.891/65, em seu capítulo


II, ao regulamentar os artigos 43.º a 45.º, da Lei n.º
4.504/64, não os alterou.
Os cadastros são os registros levados a fei-
to por autoridades administrativas sobre os imóveis,
com caráter de senso, para através deles ser orientado
o lançamento dos impostos atribuídos aos proprie-
tários ou detentores dos bens passíveis de tributação.
Nesses registros são anotados os imóveis,
conforme a finalidade e o tipo de cadastro, com os
pormenores necessários, tais como o valor ou esti-
mativa, a situação, forma de posse, áreas e tipos de
culturas, forma de uso da terra, meios de acesso a
ela, de comercialização de produção e outros dados
julgados necessários à execução da política da área.
As informações necessárias à elaboração do
cadastro rural indicam dados à caracterização do
respectivo imóvel, conforme artigo 46.º, I e III do
Estatuto da Terra, como segue:

I - dados para caracterização dos imóveis rurais


com indicação:

88
a) do proprietário e de sua família;
b) dos títulos de domínio, da natureza da posse e
da forma de administração;
c) da localização geográfica;
d) da área com descrição das linhas de divisas e
nome dos respectivos confrontantes;
e) das dimensões das testadas para vias públicas;
f) do valor das terras, das benfeitorias, dos equi-
pamentos e das instalações existentes discriminadamente;
[...]
III - condições da exploração e do uso da ter-
ra, indicando:
a) as percentagens da superfície total em cerrados,
matas, pastagens, glebas de cultivo (especificadamente em
exploração e inexplorados) e em áreas inaproveitáveis;
b) os tipos de cultivo e de criação, as formas de
proteção e comercialização dos produtos;
c) os sistemas de contrato de trabalho, com
discriminação de arrendatários, parceiros e traba-
lhadores rurais;
d) as práticas conservacionistas empregadas e o
grau de mecanização;
e) os volumes e os índices médios relativos à pro-
dução obtida;
f) as condições para o beneficiamento dos pro-
dutos agropecuários.

89
Lembrando que se deve observar a forma
indicada no regulamento (Decreto n.º 55.891/65).
A obrigatoriedade da atualização do cadas-
tro se dá pela inclusão de novos imóveis rurais e pela
alteração das condições físicas e de exploração dos
referidos imóveis rurais a cada 5 anos.
Os certificados serão emitidos com a de-
claração de “Provisório” ou “ Definitivo”, res-
pectivamente nos casos em que tenha ou não
havido exigência de documentação adicional aos
dados fornecidos.
Aquele que se utilizar, de forma fraudulen-
ta do certificado de cadastro expedido pelo INCRA
será punido, segundo a Lei n.º 4.947/66, que em seu
artigo 19.º defini o que segue:

Art. 19 - Utilizar, como prova de propriedade


ou de direitos a ela relativos, documento expedido pelo
IBRA para fins cadastrais ou tributários, em prejuízo
de outrem ou em proveito próprio ou alheio:
Pena: Reclusão de 2 a 6 anos.
Parágrafo único. Se o agente é funcionário público
e comete o crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a
pena de sexta parte.

90
4.5. - TRIBUTAÇÃO RURAL

A tributação das terras teve origem no Im-


pério Romano, ao tempo da República, criada para
atingir as províncias conquistadas por meio de tribu-
to que era cobrado daqueles que permaneciam culti-
vando a terra, e que, a partir da conquista, a possuíam
não mais como seu senhor, mas como usufrutuário.
O pagamento consistia em uma cota da renda
da terra, ou então uma tributação fixa, paga em natura
ou dinheiro, prevalecendo neste momento da história
o poder do mais forte pelo direito da conquista.
No Brasil, a tributação da terra foi instituída
pela Constituição Federal de 1946, cuja competên-
cia era estadual. Posteriormente, a Emenda Consti-
tucional n.º5/61 transferiu referida competência ao
município. Já as Emendas Constitucionais n.º 10/64
e 18/65 estabeleceram a competência à União para
tributar o repasse da receita tributária da situação
dos imóveis aos municípios.

4.6. IMPOSTO TERRITORIAL RURAL – ITR

O imposto territorial rural foi instituído pelo


estatuto da terra, Lei n.º 4.504/64, sendo que a Lei
n.º 6.746/79 modificou a redação dos artigos 49.º e

91
50.º do referido Estatuto e foi regulamentada pelo
Decreto n.º 84.685/80, como segue:

Art. 49. As normas gerais para a fixação do


imposto sobre a propriedade territorial rural obedecerão
a critérios de progressividade e regressividade, levando-se
em conta os seguintes fatores: (Redação dada pela Lei n.º
6.746, de 1979)
Art. 50. Para cálculo do imposto, aplicar-se-á
sobre o valor da terra nua, constante da declaração para
cadastro, e não impugnado pelo órgão competente, ou re-
sultante de avaliação, a alíquota correspondente ao nú-
mero de módulos fiscais do imóvel, de acordo com a tabela
adiante: (Redação dada pela Lei n.º 6.746, de 1979)

A Constituição Federal de 1988 manteve a


competência para instituir o imposto sobre a pro-
priedade rural em seu artigo 153..º inciso VI e pará-
grafo 4..º, como segue:

Artigo 153. Compete à União instituir impostos


sobre:
...VI - propriedade territorial rural...
...
§ 4..º O imposto previsto no inciso VI do
caput:(Redação dada pela Emenda Constitucional n.º
42, de 19.12.2003)

92
I - será progressivo e terá suas alíquotas fixadas
de forma a desestimular a manutenção de propriedades
improdutivas; (Incluído pela Emenda Constitucional n.º
42, de 19.12.2003)
II - não incidirá sobre pequenas glebas rurais,
definidas em lei, quando as explore o proprietário que
não possua outro imóvel; (Incluído pela Emenda Consti-
tucional n.º 42, de 19.12.2003)
III - será fiscalizado e cobrado pelos Municípios
que assim optarem, na forma da lei, desde que não im-
plique redução do imposto ou qualquer outra forma de
renúncia fiscal.(Incluído pela Emenda Constitucional n.º
42, de 19.12.2003) (Regulamento)

4.7. LANÇAMENTO E ARRECADAÇÃO

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo


158 inciso II, determina o repasse da receita tributária
do Imposto Territorial Rural – ITR aos municípios da
situação do imóvel, no percentual de 50%.
Atualmente, o lançamento do ITR esta a car-
go da Secretaria da Receita Federal, e a arrecadação
incumbe à Procuradoria Geral da Fazenda Nacional,
com fundamentos:
• artigo 29.º parágrafo 5.º, do ADCT da
Constituição Federal de 1988;

93
Art. 29-A. O total da despesa do Poder Legislativo
Municipal, incluídos os subsídios dos Vereadores e excluídos
os gastos com inativos, não poderá ultrapassar os seguintes
percentuais, relativos ao somatório da receita tributária e das
transferências previstas no § 5o do art. 153 e nos arts. 158
e 159, efetivamente realizado no exercício anterior. (Incluído
pela Emenda Constitucional n.º 25, de 2000)

• artigo 1.º da Lei n.º 8.022/90:

Art. 1° É transferida para a Secretaria da Re-


ceita Federal a competência de administração das receitas
arrecadadas pelo Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária (Incra), e para a Procuradoria-Geral
da Fazenda Nacional a competência para a apuração,
inscrição e cobrança da respectiva dívida ativa.

• artigo 67.º da Lei n.º 8.383/91:

Art. 67. A competência de que trata o art. 1°


da Lei n° 8.022, de 12 de abril de 1990, relativa à
apuração, inscrição e cobrança da Dívida Ativa oriunda
das receitas arrecadadas pelo Instituto Nacional de Co-
lonização e Reforma Agrária (Incra), bem como a repre-
sentação judicial nas respectivas execuções fiscais, cabe à
Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional.

94
Retroagindo, quando o lançamento e a arre-
cadação do ITR estavam a cargo do INCRA, o re-
passe aos municípios da situação do imóvel era de
80%, sendo que o órgão arrecadador retinha 20% do
produto para ressarcir as despesas.

4.8. FATO GERADOR

Tem tríplice fato gerador o Imposto Terri-


torial Rural, que é a propriedade, o domínio útil ou
a posse de imóvel rural, segundo o artigo 29.º do
Código Tributário Nacional, como segue:

Artigo 29. O imposto, de competência da União,


sobre a propriedade territorial rural tem como fato gera-
dor a propriedade, o domicílio útil ou a posse de imóvel
por natureza, como definido na lei civil, localização fora
da zona urbana do Município.

Face ao tríplice fato gerador do imposto ter-


ritorial rural, não se trata de mera negativa de tribu-
tar, e sim de tributar em conformidade com a lei. Por
tais razões, a Receita Federal não pode se omitir, no
caso do ITR, de verificar e comprovar a verdadeira
ocorrência do fato gerador, fazendo constar dos do-

95
cumentos que expede se a tributação sobre a terra
esta sendo feita a título de propriedade, ou domínio
útil, ou posse a qualquer título e face ao interesse
público e social subjacente decorrente dos seus efei-
tos extrafiscais e fazer incidir em todas as suas con-
sequências as normas contidas na Lei n.º 4.947/66,
artigo 22.º e do Decreto n.º 56.792/65, artigo 55.º.
É contribuinte do Imposto Territorial Ru-
ral “elemento pessoal, subjetivo”, o proprietário do
imóvel, o titular do seu domínio útil, ou o seu pos-
suidor a qualquer título.
Para que se estabeleça a relação jurídica tri-
butária é necessário que ocorram todos os aspectos
ou elementos objetivos ou subjetivos que a lei define
de forma expressa ou implícita.
Quanto ao direito tributário e financeiro, há
institutos com os quais o agrarista trabalha, o capítulo
sobre tributação da terra, estabelecido no artigo 47.º
do Estatuto, o lançamento e cobrança dos tributos.
O Imposto Territorial Rural (ITR), de com-
petência da União, incidente sobre imóvel, por natu-
reza, fora da zona urbana do município, tem como
base de cálculo o valor fundiário. Este tributo cons-
titui objeto de estudo do tributarista e do estudioso
do Direito Agrário, visto como as normas para a sua
fixação estão previstas no Estatuto da Terra.
A propósito, preceitua o artigo 49.º caput e
seus incisos, I, II, III, IV, V, VI, VII, como segue:

96
Art. 49 - As normas gerais para a fixação do
imposto sobre a propriedade territorial rural obedecerão
a critérios de progressividade e regressividade, levando-se
em conta os seguintes fatores:
I - os valores da terra e das benfeitorias do imóvel;
II - a área e dimensões do imóvel e das glebas de
diferentes usos;
III - a situação do imóvel em relação aos elemen-
tos do inciso II do art. 46;
IV - as condições técnicas e econômicas de explo-
ração agropecuária industrial;
V - a natureza de posse e as condições de contra-
tos e arrendatários, parceiros e assalariados;
VI - a classificação das aterras e suas formas de
uso e rentabilidade;
VII - a área total agricultável do conjunto de
imóveis rurais de um mesmo proprietário no País.

Além disso, a parte específica referente ao ITR


(Imposto Territorial Rural) foi modificada por lei nova
Lei n.º 9.393/96, que atualmente regulamenta a matéria.
A referida Lei n.º 9.393/96, dispõe a res-
peito do fato gerador do Imposto Territorial Rural
(ITR), e no caput do artigo 1.º, segue:

O Imposto sobre a Propriedade Terri-


torial Rural – ITR, de apuração anual, tem como

97
fato gerador a propriedade, o domínio útil ou
a posse de imóvel por natureza, localizado fora da
zona urbana do município, em 1.º de janeiro de cada ano.

Embora o Imposto Territorial Rural (ITR) te-


nha como fato gerador a propriedade localizada fora
da zona urbana do município, existem situações de-
terminadas pela Constituição Federal (art. 153, § 4.º, in
fine), disciplinadas pelo artigo 2.º da Lei n.º 9.393/96,
que trata da imunidade tributária, como segue:

Art. 2.º - Nos termos do art. 153, § 4.º, in fine,


da Constituição, o imposto não incide sobre pequenas gle-
bas rurais, quando as explore, só ou com sua família, o
proprietário que não possua outro imóvel.
Parágrafo único. Para os efeitos deste artigo,
pequenas glebas rurais são os imóveis com área igual
ou inferior a:
I - 100 ha, se localizado em município compre-
endido na Amazônia Ocidental ou no Pantanal mato-
-grossense e sul-mato-grossense;
II - 50 ha, se localizado em município compreen-
dido no Polígono das Secas ou na Amazônia Oriental;
III - 30 ha, se localizado em qualquer outro
município.

98
Da mesma forma, existem situações que di-
zem respeito não à imunidade, mas à isenção tribu-
tária do Imposto Territorial Rural (ITR). Essas situa-
ções encontram-se relacionadas nos incisos I e II do
artigo 3.º da Lei n.º 9.393 /96, como segue:

Art. 3.º São isentos do imposto:


I - o imóvel rural compreendido em programa ofi-
cial de reforma agrária, caracterizado pelas autoridades
competentes como assentamento, que, cumulativamente,
atenda aos seguintes requisitos:
a) seja explorado por associação ou cooperativa
de produção;
b) a fração ideal por família assentada não ultra-
passe os limites estabelecidos no artigo anterior;
c) o assentado não possua outro imóvel.
II - o conjunto de imóveis rurais de um mesmo
proprietário, cuja área total observe os limites fixados no
parágrafo único do artigo anterior, desde que, cumulati-
vamente, o proprietário:
a) o explore só ou com sua família, admitida aju-
da eventual de terceiros;
b) não possua imóvel urbano.

Contudo, apesar da discriminação das con-


dições em que se dará a isenção do ITR, ao se tratar
da apuração e do pagamento do tributo, em alguns

99
incisos do artigo 10.º da referida Lei, que se consti-
tuem em condições relativas à exclusão da base de
cálculo do Imposto Territorial Rural (ITR).
Nesse sentido, as alíneas “a”, “b”, “c”, “d”,
e “e”, do inciso II, do art. 10 da Lei n.º 9.393/96 di-
zem respeito à proteção ambiental. Como pode ser
observado, apenas uma das alíneas, ou seja, a alínea
“f ”, não diz respeito, diretamente, à proteção am-
biental. Tudo, em consonância com o que dispõe o
inciso II, do artigo 186.º da Constituição Federal.
Considerando a referida exclusão da base de
cálculo, podemos observar que se trata de um pri-
vilégio aos contribuintes desse tributo. Trata-se de
um direito não apenas do contribuinte, mas de todos
os brasileiros, uma vez que, efetivamente cumprida
a destinação dessas áreas, o meio ambiente poderá
ser protegido.
Exemplos referentes a esse tema são as deno-
minadas Áreas de Preservação Permanente (APPs) e
da denominada Reserva Legal Florestal (RLF).
Da mesma forma que para as Áreas de Pre-
servação Permanente (APPs), basta existir a proprie-
dade rural para que se tenha a Reserva Legal Flores-
tal; muito embora exista, nesse caso, a necessidade
de que o proprietário rural faça a respectiva averba-
ção dessa RLF na matrícula do imóvel.
Qualquer que seja a situação, Área de Pre-
servação Permanente (APP) ou Reserva Legal Flo-

100
restal (RLF), tem-se uma limitação ao direito de pro-
priedade ditada única e tão somente pela Lei.
Assim, uma vez que o proprietário não
terá condições de se utilizar de tais áreas, o legisla-
dor os isenta da incidência do Imposto Territorial
Rural (ITR), tanto para não onerá-lo, como para
ser efetivamente possível proteger os recursos
ambientais lá existentes.

101
Selma Freitas

Direito Ambiental

Direito Agrario
Capítulo 5
CONTRATOS AGRÁRIOS

O
DIREITO CIVIL tem um relacionamen-
to distante com o Direito Agrário, tendo
em vista os enfoques ontologicamente di-
ferentes, no que toca ao direito de propriedade.
É público e notório que a função social da
propriedade é um dos dogmas do Direito Agrário, e
o Direito Civil se limita a um tratamento liberal da
propriedade, acolhendo a teoria de que a propriedade
é um direito subjetivo de usar, fruir da coisa. Esta po-
sição não é totalmente acolhida pelo Direito Agrário.
Além do Direito de Propriedade, há certos
institutos regulamentados pelo Direito Civil que in-
terferem na ordem rural. Como o da servidão, o da
hipoteca, o do condomínio e outros tantos.
Sobre o Direito de Propriedade, afirma o
professor Paulo Torminn Borges:

Também no direito brasileiro (...) houve uma ní-


tida evolução do conceito de propriedade: evolução porque

103
a fórmula jurídica original cristianizou-se, humanizan-
do-se e pondo-se, simultaneamente, a serviço do homem e
da comunidade.
O direito agrário, quanto ao imóvel rural, senti-
mos ser o direito de propriedade a faculdade que a pes-
soa tem de possuí-lo como próprio, com deve correto de
utilizá-lo conforme o exigir o bem-estar da comunidade.

Com o Estatuto da Terra Lei n.º 4504/64 e


o Decreto n.º 59.566/66 o avanço das práticas ru-
rais ficaram evidentes e nossa legislação tornou-se
insuficiente para regular as complexas relações so-
ciais modernas e os diversos contratos agrários que
se faziam necessários nessas relações.
A ausência de regulamentação específica, no
que diz respeito a uma multiplicidade de negócios
jurídicos agrários atípicos e a inadequação da legisla-
ção agrária à conjuntura atual, traz à tona uma plu-
ralidade de dúvidas às partes nestes contratos sob a
ótica do direito.

5.1. DA ESSÊNCIA DO CONTRATO

Conforme cita Álvaro Villaça Azevedo, a


utilização da nomenclatura de contratos atípicos pa-

104
rece ser mais adequada do que contratos inomina-
dos, uma vez que se referem a contratos que não
possuem referência na lei, mas possuem, de fato,
nomes próprios.
O Direito Agrário, por ser um ramo autônomo
da ciência jurídica, possui características próprias que se
distinguem do Direito Civil comum. Enquanto este tem
por base o liberalismo e o individualismo nas relações,
com ampla autonomia de vontade, aquele possui um ca-
ráter público, com normas obrigatórias e irrenunciáveis.
Os contratos agrários podem ser expressos
ou tácitos, escritos ou verbais, sendo admitidas teste-
munhas como prova do contrato, qualquer que seja
seu valor, no Estatuto da Terra, artigo 92.º, caput, pa-
rágrafo 8.º e no Decreto n.º 59.566/66, nos artigos
11.º e 14.º, conforme seguem:

Artigo 92.º, E.T.- A posse ou uso temporário


da terra serão exercidos em virtude de contrato expresso
ou tácito, estabelecido entre o proprietário e os que nela
exercem atividade agrícola ou pecuária, sob forma de ar-
rendamento rural, de parceria agrícola, pecuária, agro-
-industrial e extrativa, nos termos desta Lei.
...§ 8.º Para prova dos contratos previstos
neste artigo, será permitida a produção de testemu-
nhas. A ausência de contrato não poderá elidir a
aplicação dos princípios estabelecidos neste Capítulo
e nas normas regulamentares.

105
Artigo 11.º, Decreto 59.566/66 - Os contratos de
arrendamento e de parceria poderão ser escritos ou verbais.
Nos contratos verbais presumem-se como ajustadas as cláu-
sulas obrigatórias estabelecidas no artigo deste Regulamento.
§ 1.º O arrendador ou o parceiro-outorgante de-
verá encontrar-se na posse do imóvel rural e dos bens, a
qualquer título que lhes dê o direito de exploração e de
destinação aos fins contratuais.
§ 2.º Cada parte contratante poderá exigir da
outra a celebração do ajuste por escrito, correndo as des-
pesas pelo modo que convencionarem.
Artigo 14.º, Decreto 59.566/66 - Os contratos
agrários, qualquer que seja o seu valor e sua forma, po-
derão ser provados por testemunhas (Art. 92, § 8.º, do
Estatuto da Terra).

Assim, a própria lei traz que a prova teste-


munhal tem valor especial, e de ordem material, para
os contratos agrários. E que supera os requisitos
mínimos de ordem procedimental, assimilados no
artigo 401.º do Código de Processo Civil, em que o
valor da causa assume uma relevante condição. Na
espécie, é determinante a relação de ordem material
e decorrente da natureza da relação.
Não há que cogitar um conflito aparente de
normas, uma vez que a seara é diversa da outra. Uma
relação é substantiva e outra adjetiva, sendo prepon-

106
derante inclusive a especialidade da norma agrária em
face da regra procedimental comum.

5.2. OS OBJETIVOS E AS PARTES NO


CONTRATO AGRÁRIO

Os contratos agrários têm por objetivo o uso


e a posse da terra, fixando obrigatoriamente regras do
Regulamento estabelecido pelo Decreto n.º 59.566/66,
sob pena de nulidade das cláusulas que as contrariem.
Os outorgantes podem ser o proprietário do
imóvel rural, o detentor da posse com justo título e
de boa-fé e o administrador com poderes para tanto,
e ainda, de outro lado, os outorgados que são todos
aqueles que na terra exercem atividade agrícola, pe-
cuária, agroindustrial, extrativa ou mista. É proibida
a renúncia de direitos.

5.3. REQUISITOS DO CONTRATO


AGRÁRIO

Na doutrina, observa-se claramente a di-


vergência acentuada entre os princípios do Direito
Civil e os de Direito Agrário. A legislação agrária

107
possui, ao mesmo tempo, normas de caráter públi-
co e privado.
A legislação acerca do Direito Agrário está
assentada sobre três grandes princípios, quais sejam:
Função Social da Propriedade, Justiça Social e Preva-
lência do Interesse Público, fundamentadas nos ar-
tigos 186.º da Constituição Federal de 1988 e artigo
2.º do Estatuto da Terra, como seguem:

Art. 186.º C.F- A função social é cumprida


quando a propriedade rural atende, simultaneamente,
segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei,
aos seguintes requisitos:
I - aproveitamento racional e adequado;
II - utilização adequada dos recursos naturais
disponíveis e preservação do meio ambiente;
III - observância das disposições que regulam as
relações de trabalho;
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos
proprietários e dos trabalhadores.
Art. 2° E.T.- É assegurada a todos a oportuni-
dade de acesso à propriedade da terra, condicionada pela
sua função social, na forma prevista nesta Lei

Para o direito agrário, a agricultura como


uma atividade econômica, não pode ser analisada
sem que estejam inseridos ao seu conceito os aspec-

108
tos sociais que a circundam. Haja vista que há nor-
mas que protegem o interesse social em detrimento
do individual.
O Decreto n.º 59.566/66, consi-
derando as especificações contidas, vem recomen-
dando em seu artigo 12.º os requisitos mínimos dos
contratos agrários, como segue:

Artigo 12.º E.T.- Os contratos escritos deverão


conter as seguintes indicações:
I - lugar e data da assinatura do contrato;
II - nome completo e endereço dos contratantes;
II - características do arrendador ou do parceiro-
-outorgante (espécie, capital registrado e data da consti-
tuição, se pessoa jurídica, e, tipo e número de registro do
documento de identidade, nacionalidade e estado civil, se
pessoa física e sua qualidade (proprietário, usufrutuário,
usuário ou possuidor);
IV - característica do arrendatário ou do parcei-
ro-outorgado (pessoa física ou conjunto familiar);
V - objeto do contrato (arrendamento ou par-
ceria), tipo de atividade de exploração e destinação do
imóvel ou dos bens;
VI - identificação do imóvel e número do seu
registro no Cadastro de imóveis rurais do IBRA (cons-
tante do Recibo de Entrega da Declaração do Certificado
de Cadastro e do Recibo do Imposto Territorial Rural);
VII - descrição da gleba (localização no imóvel, li-

109
mites e confrontações e área em hectares e fração),
enumeração das benfeitorias (inclusive edificações
e instalações), dos equipamentos especiais, dos veí-
culos, máquinas, implementos e animais de traba-
lho e, ainda, dos demais bens e ou facilidades com
que concorre o arrendador ou o parceiro-outorgante;
VIII - prazo de duração, preço do arrendamento ou con-
dições de partilha dos frutos, produtos ou lucros havidos,
com expressa menção dos modos, formas e épocas desse
pagamento ou partilha;
IX - cláusulas obrigatórias com as condições enu-
meradas no art. 13 do presente Regulamento, nos artigos
93 a 96 do Estatuto da Terra e no art. 13 da Lei n.º
4.947, de 6 de abril de 1966;
X - foro do contrato;
XI - assinatura dos contratantes ou de pessoa a
seu rogo e de 4 (quatro) testemunhas idôneas, se analfa-
betos ou não puderem assinar.
Parágrafo único. As partes poderão ajustar ou-
tras estipulações que julguem convenientes aos seus in-
teresses, desde que não infrinjam o Estatuto da Terra,
a Lei n.º 4.947, de 6 de abril de 1966, e o presente
Regulamento.

No artigo 2.º, e seu parágrafo único do De-


creto n.º 59.566/66, fica bem clara a restrição da au-
tonomia de vontade entre as partes, vejamos:

110
Art. 2.º - Todos os contratos agrários reger-se-ão
pelas normas do presente Regulamento, as quais serão
de obrigatória aplicação em todo o território nacional e
irrenunciáveis os direitos e vantagens nelas instituídos
(art.13, inciso IV da Lei n.º 4.947-66).
Parágrafo único. Qualquer estipulação contratual
que contrarie as normas estabelecidas neste artigo, será
nula de pleno direito e de nenhum efeito.

Desta forma, uma vez constatada a aplicação


da legislação agrária ao contrato, as partes não pode-
rão estipular a renúncia de qualquer dos direitos ali
garantidos, como indenização de benfeitorias, pra-
zos mínimos de cumprimento dos contratos, direito
de preferência na aquisição do imóvel, entre outros.
Outra característica importante dos con-
tratos agrários é referente ao meio de prova usado
para a comprovação de sua existência. O contrato
agrário pode ser provado exclusivamente com tes-
temunhas, independentemente do valor alcança-
do, como trata o artigo 14.º do Estatuto da Terra:
“Art. 14- Os contratos agrários, qualquer que seja o seu
valor e sua forma poderão ser provados por testemunhas
(artigo 92 § 8.º, do Estatuto da Terra).”
Nos contratos de natureza civil, a prova tes-
temunhal só será admitida se o contrato não ultra-
passar o valor do décuplo do maior salário mínimo

111
vigente no país conforme versa no nosso Código de
Processo Civil: “Art. 401- A prova exclusivamente tes-
temunhal só se admite nos contratos cujo valor não exceda o
décuplo do maior salário mínimo vigente no país, ao tempo em
que foram celebrados.”
Diante dessas diferenças, é de fundamental
importância saber definir quando um contrato, em
um eventual conflito entre as partes, será regulado
pelo Estatuto da Terra e o Decreto n.º 59.566/66
ou exclusivamente pelo Código Civil, pois as normas
e princípios aplicados não só serão diferentes, mas
também serão, muitas vezes, opostos.
O Estatuto da Terra e o regulamento trazido
pelo Decreto silenciam a respeito do tema, não há uma
clara definição do que seja contrato agrário e, consequen-
temente, quando serão aplicados os princípios exclusivos
do Direito Agrário e suas normas de ordem pública.
Importante salientar que não se pode levar
em conta a localização como fator diferenciador,
pois é possível que se tenha um contrato de loca-
ção regido pela Lei n.º 8.245/91 em uma área não
urbana, e, de mesma forma, não será impossível um
Contrato Agrário em meio à cidade. Tal recurso é
usado apenas para fins de tributação, como dita o
artigo 29.º do Código Tributário Nacional:

Art. 29. O imposto, de competência da União,


sobre a propriedade territorial rural tem como fato gera-

112
dor a propriedade, o domínio útil ou a posse de imóvel por
natureza, como definido na lei civil, localização fora da
zona urbana do Município.

Nossa Jurisprudência se debate entre as inú-


meras lides que lhe são apresentadas envolvendo
este tema. A solução adequada no caso concreto é
decorrência direta da aplicação das normas agrárias
ou do Código Civil.
Existem diversas demandas em que uma
parte procura munir-se da legislação agrarista, afir-
mando que esta seria aplicável ao contrato em litígio.
A outra parte, todavia, defende-se argumentando
que o contrato celebrado teria natureza civil. Esta
situação é ainda mais recorrente nos contratos agrá-
rios atípicos, pois não há nenhuma regulamentação
específica sobre os mesmos, como vemos no Códi-
go Civil: “Art. 425. É lícito às partes estipular contratos
atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste Código.”
O contrato de pastoreio ou invernagem ilustra
bem a questão dessa natureza, é quando o objeto do
contrato atípico pode não se coadunar com as normas
aplicáveis ao arrendamento ou a parceria. Trata-se de
pacto onde o proprietário ou possuidor recebe animais
para engorda em troca de um pagamento mensal.
Utilizado normalmente nos períodos entre
safras, como característica próprias de sua exígua du-

113
ração, não ultrapassando o período de 1 ano. Deste
modo, nota-se que os prazos mínimos de 3, 5 ou 7
anos, obrigatórios nos contratos agrários, são inaplicá-
veis na realidade dos negócios jurídicos de pastoreio.
Observemos o Decreto n.º 59.566/66, como segue:

Art. 38. A exploração da terra, nas formas e


tipos regulamentados por este Decreto, somente é consi-
derada como adequada a permitir ao arrendatário e ao
parceiro-outorgado gozar dos benefícios aqui estabeleci-
dos, quando for realizada de maneira:
I - eficiente, quando satisfizer as seguintes condi-
ções, especificadas no art. 25 do Decreto n.º 55.891, de
1965 e as contidas nos parágrafos daquele artigo:
a) que a área utilizada nas várias explotações re-
presente porcentagem igual ou superior a 50% (cinqüenta
por cento) de sua área agricultável, equiparando-se, para
esse fim, as áreas cultivadas, as pastagens, as matas na-
turais e artificiais e as áreas ocupadas com benfeitorias;
b) que obtenha rendimento médio, nas várias
atividades de exploração, igual ou superior aos mínimos
fixados em tabela própria, periodicamente.
II - Direta e pessoal, nos termos do art. 8.º deste
Regulamento estendido o conceito ao parceiro-outorgado;
III - correta, quando atender às seguintes disposi-
ções estaduais no mencionado art. 25 do Decreto número
55.891, de 1965:
a) adote práticas conservacionistas e empregue

114
no mínimo, a tecnologia de uso corrente nas zonas em
que se situe;
b) mantenha as condições de administração e as
formas de exploração social estabelecidas como mínimas
para cada região.
Art. 39- Quando o uso ou posse temporária da
terra for exercido por qualquer outra modalidade contra-
tual, diversa dos contratos de Arrendamento e Parceria,
serão observadas pelo proprietário do imóvel as mesmas
regras aplicáveis a arrendatários e parceiros, e, em espe-
cial a condição estabelecida no art. 38 supra.

Assim, está demonstrado que os contratos


agrários atípicos representam um todo uno e indivi-
sível de obrigações que necessitam de um tratamen-
to específico na legislação agrária, na busca de um
ordenamento jurídico que satisfaça as necessidades
das sociedades regionalizadas e complexas.
A confusão existente na legislação aplicá-
vel aos contratos agrários atípicos é perceptível no
Agravo de Instrumento n.º 70001937853, julgado
na 18.ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio
Grande do Sul. A decisão manteve liminar que con-
cedeu reintegração de posse em virtude de esbulho
em imóvel objeto de comodato rural. No caso con-
creto, o desembargador afirmou que não se tratava
de contrato agrário:

115
Não se está em sede de contrato agrário e por isto
não aplicáveis, salvo melhor juízo, seus princípios, a não
ser os gerais aplicáveis a todos os contratos, pois a pre-
ocupação do legislador, segundo Paulo Torminn Borges,
foi a de: 1. “Delinear cada um dos principais institutos
de direito agrário, precisamente, evitando perda de tempo
futuro nas construções doutrinárias e jurisprudenciais.

O eminente desembargador entendeu não ser


aplicável o prazo de 6 meses do artigo 95, inciso V, do
Estatuto da Terra após a notificação para o comoda-
tário retirar-se do imóvel, pois não seriam aplicáveis as
normas agrárias no negócio jurídico em análise.
O julgado também declara que o fato de
o comodatário ter colheitas pendentes no imóvel
não é motivo suficiente para impedir a reintegração
liminar, desconsiderando o artigo 95, inciso I da
Lei n.º 4504/64.
O referido recurso considera um contrato
de comodato rural como sendo regulado exclusiva-
mente pelo Código Civil. O referido entendimento
não pertence à corrente majoritária.
Destacamos ser a jurisprudência um elemen-
to preponderante nesse sentido, através dos arestos
emanados dos Tribunais, que vem dando certos con-
tornos nas interpretações dos contratos de arrenda-
mento, parceria rural, e aos atípicos, pois, se o legis-

116
lativo não institui o novo Estatuto da Terra, pelos
inúmeros entraves políticos, cabe ao judiciário “não
legislar”, mas efetivamente estabelecer procedimen-
tos e soluções equitativas nas composições das lides
agrárias, principalmente na relação contratual.
Vemos que o fator determinante para a ca-
racterização do contrato agrário é a sua finalidade.
A destinação do pacto feito em contrato é o critério
adequado para determinar se a relação se insere en-
tre os contratos agrários ou outro ramo do Direito
Civil, independente da localização do imóvel situado
no negócio jurídico, percebe-se então que é perfeita-
mente possível existirem contratos agrários no meio
urbano e contratos civis ou de locação (regidos pela
Lei do Inquilinato) no meio rural.
O Estatuto da Terra e o Decreto n.º
59.566/66, ambos com mais de quarenta anos, re-
presentam grande avanço na legislação brasileira; e
sem pretensão de esgotar o tema, finalizamos com
as considerações de que a regulamentação do Direi-
to Agrário, de forma inadequada, só pode ser alte-
rada por Lei Federal, no entanto, evidenciamos que
as relações no meio rural são norteadas por usos e
costumes regionais, normalmente no caso dos con-
tratos agrários atípicos ou inominados, de forma
que, ante a extensão do território brasileiro, torna-se
impossível o devido tratamento.

117
5.4. CONTRATOS NOMINADOS OU
TÍPICOS

São contratos cujas características e requisi-


tos estão definidos e justificados em lei.

5.4.1. DA PARCERIA RURAL

Antes de comentarmos a respeito da par-


ceria rural, importante se faz relatar que o contrato
agrário e o arrendamento rural, anterior ao advento
do Estatuto da Terra, foram regrados pelo Código
Civil brasileiro, tendo havido derrogação de algumas
de suas normas, em face da disposição contida no
artigo 92.º caput, § 9.º do próprio Estatuto da Terra
como segue:

Artigo 92.º - A posse ou uso temporário da terra


serão exercidos em virtude de contrato expresso ou tácito,
estabelecido entre o proprietário e os que nela exercem
atividade agrícola ou pecuária, sob forma de arrendamen-
to rural, de parceria agrícola, pecuária, agro-industrial e
extrativa, nos termos desta Lei.
...§ 9.º Para solução dos casos omissos na presen-
te Lei, prevalecerá o disposto no Código Civil.

118
Diferentemente do arrendamento, a parceria
rural é a modalidade contratual pela qual o parceiro
proprietário cede ao parceiro produtor o uso da ter-
ra, partilhando com este os riscos do caso fortuito
e da força maior e os frutos do produto da colheita
ou da venda dos animais, conforme artigo 4.º e 5.º
do Decreto n.º 59.566/66 e § 1.º do artigo 96.º do
Estatuto da Terra, com a nova redação dada pela Lei
11.443/07), como segue:

Art. 4.º - Parceria rural é o contrato agrário pelo


qual uma pessoa se obriga a ceder à outra, por tempo
determinado ou não, o uso especifico de imóvel rural, de
parte ou partes do mesmo, incluindo, ou não, benfeito-
rias, outros bens e ou facilidades, com o objetivo de nele
ser exercida atividade de exploração agrícola, pecuária,
agro-industrial, extrativa vegetal ou mista; e ou lhe en-
trega animais para cria, recria, invernagem, engorda ou
extração de matérias primas de origem animal, mediante
partilha de riscos do caso fortuito e da força maior do em-
preendimento rural, e dos frutos, produtos ou lucros havi-
dos nas proporções que estipularem, observados os limites
percentuais da lei (artigo 96, VI do Estatuto da Terra).
Parágrafo único. para os fins deste Regulamento deno-
mina-se parceiro outorgante, o cedente, proprietário ou não, que
entrega os bens; e parceiro-outorgado, a pessoa ou o conjunto
familiar, representado pelo seu chefe, que os recebe para os fins
próprios das modalidades de parcerias definidas no art. 5.º.

119
Art. 5.º Dá-se a parceria:
I - agrícola, quando o objeto da cessão for o uso de
imóvel rural, de parte ou partes do mesmo, com o objetivo
de nele ser exercida a atividade de produção vegetal;
II - pecuária, quando o objetivo da cessão forem
animais para cria, recria, invernagem ou engorda;
III - agro-industrial, quando o objeto da ses-
são for o uso do imóvel rural, de parte ou partes do
mesmo, ou maquinaria e implementos, com o objetivo
de ser exercida atividade de transformação de produto
agrícola, pecuário ou florestal;
IV - extrativa, quando o objeto da cessão for
o uso de imóvel rural, de parte ou partes do mesmo,
e ou animais de qualquer espécie, com o objetivo de
ser exercida atividade extrativa de produto agrícola,
animal ou florestal;
V - mista, quando o objeto da cessão abranger
mais de uma das modalidades de parceria definidas nos
incisos anteriores.

E no Estatuto da Terra, como segue:

Art. 96. Na parceria agrícola, pecuária, agro-


-industrial e extrativa, observar-se-ão os seguintes prin-
cípios:
§ 1o Parceria rural é o contrato agrário pelo qual
uma pessoa se obriga a ceder à outra, por tempo determi-

120
nado ou não, o uso específico de imóvel rural, de parte ou
partes dele, incluindo, ou não, benfeitorias, outros bens
e/ou facilidades, com o objetivo de nele ser exercida ati-
vidade de exploração agrícola, pecuária, agroindustrial,
extrativa vegetal ou mista; e/ou lhe entrega animais para
cria, recria, invernagem, engorda ou extração de maté-
rias-primas de origem animal, mediante partilha, isolada
ou cumulativamente, dos seguintes riscos: (Incluído pela
Lei n.º 11.443, de 2007).
I - caso fortuito e de força maior do empreendi-
mento rural; (Incluído pela Lei n.º 11.443, de 2007).
II - dos frutos, produtos ou lucros havidos nas
proporções que estipularem, observados os limites percen-
tuais estabelecidos no inciso VI do caput deste artigo;
(Incluído pela Lei n.º 11.443, de 2007).
III - variações de preço dos frutos obtidos na ex-
ploração do empreendimento rural. (Incluído pela Lei n.º
11.443, de 2007).

É preponderante, nesse tipo de relação, a


comunhão das forças e dos resultados, sendo que
a partilha dos frutos deve obedecer a proporções
compatíveis com os meios de produção disponibili-
zados por cada um dos parceiros.
O Estatuto da Terra prevê, ainda, sem que
fique descaracterizada a parceria, que o parceiro pro-
prietário poderá concorrer com a terra nua, com a

121
terra preparada, com benfeitorias, máquinas e até
com animais, variando em função disso o limite má-
ximo da sua participação nos frutos.
É oportuno ressaltar que nas parcerias, além
das normas do Decreto em referência, aplicam-se as
regras do contrato de sociedade, desde que não haja
regulação diversa ou específica no Estatuto da Terra.
A exploração da terra, por meio de parcerias
e arrendamentos, demonstra um fenômeno antigo
e que constantemente se atualiza de acordo com as
novas realidades. Atualmente, a cessão do uso da ter-
ra é importante ferramenta para o aumento da efici-
ência dos produtores rurais.
O parceiro e o arrendatário deixaram de de-
pender da terra alheia para a subsistência. São, na
atualidade, os empreendedores do agronegócio que
investem na produção profissional e na adequada
utilização do solo, pois os proprietários não têm,
muitas vezes, capacitação ou recursos.
A cessão do uso da propriedade rural para
exploração de atividades agrícolas ou pastoris é re-
gulada pelo Estatuto da Terra e pode receber a for-
ma jurídica de Arrendamento ou de Parceria Rural.
Há diferença entre o arrendamento e a parce-
ria rural e essa diferença estrutural implica em impor-
tantes consequências jurídicas, no âmbito civil e fiscal.

122
5.4.2. DOS ARRENDAMENTOS RURAIS

O Contrato de Arrendamento Rural é uma


forma de locação de imóvel rural, para cultivo de de-
terminada cultura, por exemplo, a de cana de açúcar,
soja, entre outros, fica destacado que o proprietá-
rio cede ao arrendatário, por tempo determinado ou
não, o uso e gozo de seu imóvel rural, no todo ou em
parte, com ou sem benfeitorias e outros bens, para
que o arrendatário exerça atividade extrativa, agro-
pecuária, agroindustrial ou mista, mediante retribui-
ção certa ou aluguel conforme trata o artigo 3.º, caput
do Decreto n.º 59.566/66 como segue:

Artigo 3.º Decreto 59.566/66 - Arrendamento


rural é o contrato agrário pelo qual uma pessoa se obriga
a ceder à outra, por tempo determinado ou não, o uso e
gozo de imóvel rural, parte ou partes do mesmo, incluin-
do, ou não, outros bens, benfeitorias e ou facilidades, com
o objetivo de nele ser exercida atividade de exploração
agrícola, pecuária, agro-industrial, extrativa ou mista,
mediante certa retribuição ou aluguel, observados os limi-
tes percentuais da Lei.

Característica importante a ressaltar é que o


arrendatário cobre todos os riscos da atividade agrí-
cola e se obriga a pagar quantia líquida e certa para o

123
arrendador. Este, por sua vez, tem segurada em con-
trapartida, uma obrigação de pagar do arrendatário,
independentemente da produção.
Fica evidenciado o isolamento dos riscos
em um dos polos da relação jurídica, e isso sempre
distanciou a interpretação dos contratos de arrenda-
mento de uma postura imparcial.
Nesse tipo de contrato não se considera a
totalidade de igualdade no sentido “paritário”. Pelo
contrário, sempre preponderou a percepção de que
o arrendatário teria que ser protegido como a parte
mais fraca do negócio e de que a liberdade contratu-
al seria submetida aos princípios da “função social”
que o arrendamento exerce.
O Estatuto da Terra traz em seu escopo uma
forma de fazer equivaler o jogo de forças no contra-
to, concedendo proteção ao arrendatário por meio
de normas cogentes, capazes de amenizar o império
do proprietário sobre a fraqueza do produtor.
Ressalta-se que, por serem normas de direi-
to público, as condições do arrendamento rural não
podem deixar de ser observadas, nem ser afastadas,
por disposição contratual.
As partes interessadas em contratar mere-
cem dar bastante atenção as principais limitações
impostas pela legislação agrária, tais como:
a) prazo mínimo de 3 anos para a vigência
do contrato;

124
b) direito de preferência na aquisição do imóvel;
c) direito a indenização das benfeitorias ne-
cessárias e úteis feitas no imóvel;
d) limitação do preço do aluguel em função
do valor cadastral do imóvel e
e) direito à renovação do contrato de ar-
rendamento.
Temas esses elencados no artigo 95.º do
Estatuto da Terra e artigo 13.º do Decreto n.º
59.566/66, como segue:

Artigo 95. Quanto ao arrendamento rural, ob-


servar-se-ão os seguintes princípios:
I - os prazos de arrendamento terminarão sempre
depois de ultimada a colheita, inclusive a de plantas for-
rageiras temporárias cultiváveis. No caso de retardamen-
to da colheita por motivo de força maior, considerar-se-ão
esses prazos prorrogados nas mesmas condições, até sua
ultimação;
II - presume-se feito, no prazo mínimo de três
anos, o arrendamento por tempo indeterminado, observa-
da a regra do item anterior;
III - o arrendatário, para iniciar qualquer cultu-
ra cujos frutos não possam ser recolhidos antes de termi-
nado o prazo de arrendamento, deverá ajustar, previa-
mente, com o arrendador a forma de pagamento do uso da
terra por esse prazo excedente; (Redação dada pela Lei
n.º 011.443, de 2007).

125
O direito de renovação que trata o artigo
95.º inciso IV estabelecia a redação do Estatuto da
Terra que o proprietário arrendador deveria notificar
o arrendatário, com antecedência de 6 meses do fim
do contrato, das propostas de arrendamento exis-
tentes, oferecendo-lhe a oportunidade de exercer o
direito de preferência.
Após esse prazo, deferia-se a oportunidade
do arrendatário “locatário” declinar do arrendamen-
to ou fazer outra proposta; se não houvesse novo
ajuste, o contrato restaria prorrogado automatica-
mente por tempo indeterminado. Pela letra da lei, o
arrendador quase não tinha, por conseguinte, opção
para desvencilhar-se do arrendatário.
Com a nova redação do inciso IV do Artigo
95.º, no entanto, restabeleceu-se o domínio do ar-
rendador sobre o contrato.
Com efeito, é este agora que tem a faculdade
de desistir do arrendamento ou fazer nova propos-
ta, afastando a prorrogação automática do contrato.
Veja-se, o texto da lei:

IV - em igualdade de condições com estranhos,


o arrendatário terá preferência à renovação do arrenda-
mento, devendo o proprietário, até 6 (seis) meses antes do
vencimento do contrato, fazer-lhe a competente notificação
extrajudicial das propostas existentes. Não se verificando a
notificação extrajudicial, o contrato considera-se automati-

126
camente renovado, desde que o arrendador, nos 30 (trinta)
dias seguintes, não manifeste sua desistência ou formule
nova proposta, tudo mediante simples registro de suas de-
clarações no competente Registro de Títulos e Documentos;
(Redação dada pela Lei n.º 11.443, de 2007).

Além disso, continua valendo o inciso V do


mesmo Artigo 95.º, cuja redação foi alterada somen-
te na forma, no sentido de que pode o arrendador
retomar, mediante notificação prévia de 6 meses,
o imóvel para uso próprio ou de descendente seu,
afastando completamente o direito de preferência
do arrendatário.

V - os direitos assegurados no inciso IV do


caput deste artigo não prevalecerão se, no prazo de 6
(seis) meses antes do vencimento do contrato, o proprie-
tário, por via de notificação extrajudicial, declarar sua
intenção de retomar o imóvel para explorá-lo direta-
mente ou por intermédio de descendente seu; (Redação
dada pela Lei n.º 11.443, de 2007).

E como seguem os demais incisos do artigo 95.º:

...VI - sem expresso consentimento do proprietá-


rio é vedado o subarrendamento;

127
VII - poderá ser acertada, entre o proprietário e
arrendatário, cláusula que permita a substituição de área
arrendada por outra equivalente no mesmo imóvel rural,
desde que respeitadas as condições de arrendamento e os
direitos do arrendatário.

Na retenção por benfeitorias que trata o in-


ciso VIII do artigo 95.º, continua o arrendatário a ter
o direito à indenização das benfeitorias úteis e ne-
cessárias que fizer no imóvel arrendado, bem como
das voluptuárias, se estas forem autorizadas pelo
arrendador-proprietário, como demonstra o inciso:

VIII - o arrendatário, ao termo do contrato, tem


direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis;
será indenizado das benfeitorias voluptuárias quando au-
torizadas pelo proprietário do solo; e, enquanto o arren-
datário não for indenizado das benfeitorias necessárias
e úteis, poderá permanecer no imóvel, no uso e gozo das
vantagens por ele oferecidas, nos termos do contrato de
arrendamento e das disposições do inciso I deste artigo;
(Redação dada pela Lei n.º 11.443, de 2007).

Na hipótese do não pagamento dessas ben-


feitorias, o arrendatário poderá permanecer na posse
e no gozo da terra até que lhe sejam indenizados os

128
investimentos, na forma de uma prorrogação obri-
gatória do Contrato de Arrendamento, que conti-
nua, portanto, sendo devido o “aluguel”.
Essa permanência depende da impetração
de medida judicial adequada, qual seja, embargos
de retenção por benfeitorias com evidentemente da
boa-fé do arrendatário, regida pelo artigo 744.º do
Código de Processo Civil, como segue:

Artigo 744..º C.P.C.- (Impugnação, pelo deve-


dor, da existência do crédito)
1. Se o devedor impugnar a existência do crédito,
são notificados o exequente, o executado e o devedor para
comparecerem no tribunal em dia designado, a fim de
serem ouvidos.
2. Insistindo o devedor na impugnação, deve o
exequente declarar se mantém a penhora ou desiste dela.
3. Se o exequente mantiver a penhora, o crédito
passa a considerar-se litigioso e como tal será adjudicado
ou transmitido.

Deve-se salientar que, para que se possa funda-


mentar o pedido de retenção, as benfeitorias feitas pelo
arrendatário devem ter ligação com a função social do
contrato. Os melhoramentos devem, portanto, estar di-
retamente relacionados com a atividade agropecuária.
E como seguem os demais incisos do artigo 95.º:

129
...IX - constando do contrato de arrenda-
mento animais de cria, de corte ou de trabalho, cuja
forma de restituição não tenha sido expressamente
regulada, o arrendatário é obrigado, findo ou res-
cindido o contrato, a restituí-los em igual número,
espécie e valor;
X - o arrendatário não responderá por qualquer
deterioração ou prejuízo a que não tiver dado causa;
XI - na regulamentação desta Lei, serão com-
plementadas as seguintes condições que, obrigatoriamente,
constarão dos contratos de arrendamento:
a) limites da remuneração e formas de pagamento
em dinheiro ou no seu equivalente em produtos; (Redação
dada pela Lei n.º 11.443, de 2007).
b) prazos mínimos de arrendamento e limites de
vigência para os vários tipos de atividades agrícolas; (Re-
dação dada pela Lei n.º 11.443, de 2007).
c) bases para as renovações convencionadas;
d) formas de extinção ou rescisão;
e) direito e formas de indenização ajustadas
quanto às benfeitorias realizadas;...

No limite máximo do valor do arrendamen-


to que trata o artigo 95.º inciso XII, o valor do alu-
guel pago ao arrendador pelo arrendatário, não pode
ultrapassar 15% do valor cadastral do imóvel, a me-
nos que a cessão seja parcial, em glebas selecionadas

130
exclusivamente para exploração de alta rentabilida-
de, caso em que o limite é aumentado para 30%.
O valor cadastral considerado para o limite
estipulado por esse dispositivo, consoante a juris-
prudência pacífica do Superior Tribunal de Justiça,
é aquele constante da declaração do Imposto Terri-
torial Rural (ITR), incluídos os valores referentes à
Terra Nua e às suas benfeitorias, como segue:

...XII - a remuneração do arrendamento, sob


qualquer forma de pagamento, não poderá ser superior
a 15% (quinze por cento) do valor cadastral do imó-
vel, incluídas as benfeitorias que entrarem na composição
do contrato, salvo se o arrendamento for parcial e recair
apenas em glebas selecionadas para fins de exploração in-
tensiva de alta rentabilidade, caso em que a remuneração
poderá ir até o limite de 30% (trinta por cento) (Redação
dada pela Lei n.º 11.443, de 2007).
XIII - a todo aquele que ocupar, sob qualquer
forma de arrendamento, por mais de cinco anos, um imó-
vel rural desapropriado, em área prioritária de Reforma
Agrária, é assegurado o direito preferencial de acesso à
terra..Vetado...
Art. 95-A. Fica instituído o Programa de
Arrendamento Rural, destinado ao atendimento com-
plementar de acesso à terra por parte dos trabalhadores
rurais qualificados para participar do Programa Nacio-
nal de Reforma Agrária, na forma estabelecida em regu-

131
lamento.(Incluído pela Medida Provisória n.º 2.183-56,
de 2001) (Regulamento)
Parágrafo único. Os imóveis que integrarem o
Programa de Arrendamento Rural não serão objeto de
desapropriação para fins de reforma agrária enquanto se
mantiverem arrendados, desde que atendam aos requisi-
tos estabelecidos em regulamento. (Incluído pela Medida
Provisória n.º 2.183-56, de 2001).

Constando no referido artigo do Decreto


supracitado, vejamos como segue:

Artigo 13. Nos contratos agrários, qualquer que


seja a sua forma, contarão obrigatoriamente, clausulas que
assegurem a conservação dos recursos naturais e a proteção
social e econômica dos arrendatários e dos parceiros-outorga-
dos a saber (Art. 13, incisos III e V da Lei n.º 4.947-66);
I - Proibição de renúncia dos direitos ou vanta-
gens estabelecidas em Leis ou Regulamentos, por parte
dos arrendatários e parceiros-outorgados (art.13, inciso
IV da Lei número 4.947-66);
II - Observância das seguintes normas, visando a
conservação dos recursos naturais:
a) prazos mínimos, na forma da alínea “ b “, do
inciso XI, do art. 95 e da alínea “ b “, do inciso V, do
art. 96 do Estatuto da Terra:
- de 3 (três), anos nos casos de arrendamento em

132
que ocorra atividade de exploração de lavoura temporária
e ou de pecuária de pequeno e médio porte; ou em todos
os casos de parceria;
- de 5 (cinco), anos nos casos de arrendamento em
que ocorra atividade de exploração de lavoura permanen-
te e ou de pecuária de grande porte para cria, recria, en-
gorda ou extração de matérias primas de origem animal;
- de 7 (sete), anos nos casos em que ocorra ativi-
dade de exploração florestal;
b) observância, quando couberem, das normas es-
tabelecidas pela Lei número 4.771, de 15 de setembro de
1965, Código Florestal, e de seu Regulamento constante
do Decreto 58.016 de 18 de março de 1966;
c) observância de práticas agrícolas admitidas
para os vários tipos de exportação intensiva e extensiva
para as diversas zonas típicas do país, fixados nos Decre-
tos número 55.891, de 31 de março de 1965 e 56.792
de 26 de agosto de 1965.
III - Fixação, em quantia certa, do preço do ar-
rendamento, a ser pago em dinheiro ou no seu equivalente
em frutos ou produtos, na forma do art. 95, inciso XII,
do Estatuto da Terra e do art. 17 deste Regulamento, e
das condições de partilha dos frutos, produtos ou lucros
havidos na parceria, conforme preceitua o art.96 do Es-
tatuto da Terra e o art. 39 deste Regulamento.
IV - Bases para as renovações convencionadas
seguido o disposto no artigo 95, incisos IV e V do Esta-
tuto da Terra e art. 22 deste Regulamento.

133
V - Causas de extinção e rescisão, de acordo com
o determinado nos artigos 26 a 34 deste Regulamento;
VI - Direito e formas de indenização quanto às
benfeitorias realizadas, ajustadas no contrato de arren-
damento; e, direitos e obrigações quanto às benfeitorias
realizadas, com consentimento do parceiro-outorgante, e
quanto aos danos substanciais causados pelo parceiro-ou-
torgado por práticas predatórias na área de exploração
ou nas benfeitorias, instalações e equipamentos especiais,
veículos, máquinas, implementos ou ferramentas a ele ce-
didos (art. 95, inciso XI, letra “ c “ e art.96, inciso V,
letra “ e “ do Estatuto da Terra);
VII - observância das seguintes normas, visando
à proteção social e econômica dos arrendatários e parcei-
ros-outorgados (art.13, inciso V, da Lei n.º 4.974-66):
a) concordância do arrendador ou do parceiro-
-outorgante, à solicitação de crédito rural feita pelos ar-
rendatários ou parceiros-outorgados (artigo 13, inciso V
da Lei n.º 4.947-66);
b) cumprimento das proibições fixadas no art. 93
do Estatuto da Terra, a saber:
- prestação do serviço gratuito pelo arrendatário
ou parceiro-outorgado;
- exclusividade da venda dos frutos ou produtos
ao arrendador ou ao parceiro-outorgante;
- obrigatoriedade do beneficiamento da produção
em estabelecimento determinado pelo arrendador ou pelo
parceiro-outorgante:

134
- obrigatoriedade da aquisição de gêneros e utili-
dades em armazéns ou barracões determinados pelo ar-
rendador ou pelo parceiro-outorgante;
- aceitação pelo parceiro-outorgado, do pagamento
de sua parte em ordens, vales, borós, ou qualquer outra
forma regional substitutiva da moeda;
c) direito e oportunidade de dispor dos frutos ou
produtos repartidos da seguinte forma (art.96, inciso V,
letra “ f “ do Estatuto da Terra):
- nenhuma das partes poderá dispor dos frutos ou
dos frutos ou produtos havidos antes de efetuada a par-
tilha, devendo o parceiro-outorgado avisar o parceiro-ou-
torgante, com a necessária antecedência, da data em que
iniciará a colheita ou repartição dos produtos pecuários;
- ao parceiro-outorgado será garantido o direito
de dispor livremente dos frutos e produtos que lhe cabem
por força do contrato;
- em nenhum caso será dado em pagamento ao
credor do cedente ou do parceiro-outorgado, o produto da
parceria, antes de efetuada a partilha.

Esses direitos, já amplamente conhecidos,


sofreram recentemente, com a Lei n.º 11.443, de 5
de Janeiro de 2.007, leves modificações, que também
merecem ser objeto de atenção.
No direito de preferência da aquisição do
imóvel, conforme artigo 92.º, §§ 2.º e 3.º, como já é

135
bastante difundido, o arrendatário, no caso de alie-
nação do imóvel, terá direito a adquiri-lo, em igual-
dade de condições, devendo o proprietário notificá-
-lo das propostas recebidas para que, no prazo de 30
dias, exerça ou não essa opção.
Quando não ocorrer a notificação do arren-
datário, impossibilitando a parte de cobrir a oferta
de terceiro, a lei lhe dá, ainda, o prazo de 6 meses, a
contar do registro da alienação no Registro de Imó-
veis, para depositar o valor da venda e pedir a adju-
dicação do imóvel arrendado.
Importante ressaltar que, embora não seja
pacífico o entendimento, existem julgados determi-
nando que o direito de preferência valha em relação
à totalidade do imóvel, ainda que só uma parte seja
objeto do arrendamento.

5.5. CONTRATOS AGRÁRIOS INOMI-


NADOS OU ATÍPICOS

São contratos que resultam de um acordo de


vontades entre as partes, não tendo suas caracterís-
ticas e requisitos definidos e, para que sejam válidos,
basta o consenso, que as partes sejam livres e capa-
zes, que seu objeto seja lícito, possível, determiná-
vel e suscetível de valoração econômica. Além disso,

136
exige-se que este contrato especifique minuciosa-
mente os direitos e obrigações de cada parte. Acerca
dos contratos atípicos, o artigo 39.º do Decreto n.º
59.566/66, assim dispõe:
Art. 39. Quando o uso ou posse temporário da
terra for exercido por qualquer outra modalidade contra-
tual, diversa dos contratos de arrendamento e parceria,
serão observadas pelo proprietário do imóvel as mesmas
regras aplicáveis a arrendatários e parceiros, e, em espe-
cial a condição estabelecida no art. 38, supra.”A doutri-
na entende que são exemplos de contratos agrários atípi-
cos os contratos de comodato, de empreitada.

A doutrina entende que são exemplos de


contratos atípicos, os Contratos de Comodato e o
Contrato de Empreitada.

5.6. COMODATO

Segundo Washington de Barros (2008),


“comodato é contrato unilateral, gratuito, pelo qual alguém
entrega a outrem coisa infungível, para ser usada tempora-
riamente e depois restituída”, portanto, é um contrato
unilateral porque obriga tão somente o comodatá-
rio; gratuito, porque somente o comodatário é fa-

137
vorecido; real porque se realiza pela tradição, ou
seja, entrega da coisa; e não solene, pois a lei não
exige forma especial para sua validade, podendo ser
utilizada até a forma verbal.
Quem entrega a coisa infungível é o como-
dante, quem a usa é o comodatário. Assim, o como-
datário rural poderá ser um pequeno agricultor ou
pecuarista, um agregado, ex-trabalhador rural que,
embora gratuitamente, exerce uma atividade labo-
rativa, com o plantio de certas culturas, criação de
gado, até mesmo para o sustento próprio e de sua
família, onde o prazo de restituição do bem imóvel
rural deverá pelas circunstâncias, obedecer a prazos
mínimos, ou, até mesmo,quando for o caso, a ulti-
mação e término da colheita.
Desta forma, o comodato rural deve ser
visto como uma alternativa de evitar a ociosida-
de da terra, em caso de ausência de arrendamento
ou parceria rural, evitando até mesmo invasões e a
própria desapropriação por interesse social para fins
de reforma agrária, pois o comodatário poderá, em
um campo degradado, realizar o plantio de milho, e,
após devolvê-lo semeado, ou até mesmo, receber um
campo sujo para pecuária, e o restituir roçado. Dessa
forma, está caracterizado um comodato rural e vem
a ser um contrato atípico.

138
5.7. EMPREITADA

Empreitada é o contrato mediante o qual


uma das partes “o empreiteiro” se obriga a realizar
uma obra específica, pessoalmente ou por intermé-
dio de terceiros, cobrando uma remuneração a ser
paga pela outra parte “proprietária da obra”, sem
vínculo de subordinação.
A direção do trabalho é do próprio empreitei-
ro, assumindo este os riscos da obra. Na empreitada
não importa o rigor do tempo de duração da obra, o
objeto não é a simples prestação de serviços, mas a
obra em si. Assim, neste tipo de contrato, a remune-
ração não está vinculada ao tempo, mas à conclusão
da obra. São exemplos de empreitada agrícola o des-
matamento de determinada área, a construção de um
açude, a gramagem ou revitalização de um pasto.

5.8. EXTINÇÃO DOS CONTRATOS


AGRÁRIOS

A extinção do contrato agrário se dá pelo


término do prazo contratual. Onde a lei não distin-
gue, ao intérprete não cabe distinguir.
O artigo 22 do Estatuto da Terra prevê a
exigência de prévia notificação nos casos de arren-

139
damento rural, posto que o artigo 95 do Decreto n.º
59.566/66, disciplina o arrendamento rural, e ainda
trata da não exigibilidade preliminar de notificação
em parceria agrícola, conforme segue:

Art. 22. Em igualdade de condições com tercei-


ros, o arrendatário terá preferência à renovação do arren-
damento, devendo o arrendador até 6 (seis) meses antes
do vencimento do contrato, notificá-lo das propostas rece-
bidas, instruindo a respectiva notificação com cópia au-
têntica das mesmas (art. 95, IV do Estatuto da Terra).
§ 1.º Na ausência de notificação, o contrato
considera-se automaticamente renovado, salvo se o
arrendatário, nos 30 (trinta) dias seguintes ao do
término do prazo para a notificação manifestar sua
desistência ou formular nova proposta (art. 95, IV,
do Estatuto da Terra).
§ 2.º Os direitos assegurados neste artigo, não
prevalecerão se, até o prazo 6 (seis meses antes do ven-
cimento do contrato, o arrendador por via de notificação,
declarar sua intenção de retomar o imóvel para explorá-lo
diretamente, ou para cultivo direto e pessoal, na forma
dos artigos 7.º e 8.º deste Regulamento, ou através de
descendente seu (art. 95, V, do Estatuto da Terra).
§ 3.º As notificações, desistência ou proposta, de-
verão ser feitas por carta através do Cartório de Registro
de Títulos e documentos da comarca da situação do imó-
vel, ou por requerimento judicial.

140
§ 4.º A insinceridade do arrendador eu poderá
ser provada por qualquer meio em direito permitido, im-
portará na obrigação de responder pelas perdas e danos
causados ao arrendatário.

141
Capítulo 6
TÍTULO DE CRÉDITO RURAL

C
OM AS INOVAÇÕES trazidas pelo Estatuto
da Terra, uma nova conformação rural se apre-
sentou no Brasil. Criou-se uma reestruturação
em quase todos os campos da atividade rural, segundo
a nova política agrária introduzida pelo governo federal.
Os instrumentos utilizados para a formali-
zação do crédito rural, de acordo com o Decreto n.º
167, de 14.02.67, podem ser realizados por meio dos
seguintes títulos:
• Cédula Rural Pignoratícia (CRP), compro-
va a existência de um penhor rural;
• Cédula Rural Hipotecária (CRH), repre-
senta o crédito e a garantia hipotecária;
• Cédula Rural Pignoratícia e Hipotecária (CRPH);
• Cédula de produto rural é uma promessa
de entrega de produtos rurais, com ou sem garantia.
Tem previsão na Lei n.º 8.929/94. É título líquido e
certo, exigível pela qualidade e quantidade do produ-
to nela previsto;

143
• Nota de Crédito Rural contém financia-
mento, gozando de privilégio especial, representa
empréstimo em dinheiro.

Faculta-se a formalização do crédito rural


por meio de contrato, no caso de peculiaridades in-
suscetíveis de adequação aos títulos mencionados.
Esses títulos de crédito são promessas de
pagamento “sem” ou “com” garantia real, cedular-
mente constituída, isto é, feita no próprio título, dis-
pensando documento à parte.
A garantia pode ser ofertada pelo próprio fi-
nanciado, ou por um terceiro. Embora seja conside-
rada um título civil, é evidente sua comerciabilidade,
por sujeitar-se à disciplina do direito cambiário.
Segundo a natureza das garantias, os títulos
de crédito rural devem ser utilizados “com garantia
real”, das seguintes formas:
• penhor: Cédula Rural Pignoratícia;
• hipoteca: Cédula Rural Hipotecária;
• penhor e hipoteca: Cédula Rural Pignoratí-
cia e Hipotecária.

E ainda, “sem garantia real” da seguinte forma:


• Nota de Crédito Rural.

As garantias são livremente acertadas entre


o financiado e o financiador, que devem ajustar de

144
acordo com a natureza e o prazo do crédito e podem
se constituir de:
• penhor agrícola, pecuário, mercantil ou cedular;
• alienação fiduciária;
• hipoteca comum ou cedular;
• aval ou fiança;
• outros bens que o Conselho Monetário
Nacional admitir.

Quanto à eficácia contra terceiros o título de


crédito rural é valido entre as partes desde a emissão,
mas só adquire eficácia contra terceiros depois de regis-
trada no Cartório de Registro de Imóveis competente.

6.1. DEFINIÇÕES DOS TÍTULOS

Como já vimos, a cédula de Crédito Rural é


promessa de pagamento em dinheiro, com ou sem
garantia real cedularmente constituída.
A Nota Promissória Rural é um título de
crédito, utilizado nas vendas a prazo de bens de na-
tureza agrícola, extrativa ou pastoril, quando efetu-
adas diretamente por produtores rurais ou por suas
cooperativas; nos recebimentos, pelas cooperativas,
de produtos da mesma natureza entregues pelos seus
cooperados, e nas entregas de bens de produção ou

145
de consumo, feitas pelas cooperativas aos seus asso-
ciados. O devedor é, geralmente, pessoa física.
A Duplicata Rural é utilizada nas vendas a
prazo de quaisquer bens de natureza agrícola, extra-
tiva ou pastoril, quando efetuadas diretamente por
produtores rurais ou por suas cooperativas, poderá
ser utilizada também, como título do crédito. Emitida
pelo vendedor, este ficará obrigado a entregá-la ou a
remetê-la ao comprador, que a devolverá depois de
assiná-la. O devedor é, geralmente, pessoa jurídica.

6.2. OBJETIVOS DOS TÍTULOS

Os objetivos do crédito rural são, em con-


formidade legal, uma forma de estimular os inves-
timentos rurais feitos pelos produtores ou por suas
associações (cooperativas, condomínios, parcerias
etc.), tais como:
• favorecer o oportuno e adequado cus-
teio da produção e a comercialização de produ-
tos agropecuários;
• fortalecer o setor rural;
• incentivar a introdução de métodos racionais
no sistema de produção, visando ao aumento de produ-
tividade, à melhoria do padrão de vida das populações
rurais e à utilização adequada dos recursos naturais.

146
As atividades que podem ser financiadas
pelo crédito rural são:
• custeio das despesas normais de cada
ciclo produtivo;
• investimento em bens ou serviços cujo apro-
veitamento se estenda por vários ciclos produtivos;
• comercialização da produção.

As exigências essenciais para concessão de


crédito rural são:
• idoneidade do tomador;
• apresentação de orçamento, plano ou pro-
jeto, exceto em operações de desconto de Nota Pro-
missória Rural ou de Duplicata Rural;
• oportunidade, suficiência e adequação
de recursos;
• observância de cronograma de utilização e
de reembolso;
• fiscalização pelo financiador.

O Crédito de custeio se classifica em: custeio


agrícola, custeio pecuário, custeio de beneficiamento
ou industrialização, e pode se destinar às despesas
normais, tais como:
• do ciclo produtivo de lavouras periódi-
cas, de entressafra de lavouras permanentes ou
da extração de produtos vegetais espontâneos,
incluindo o beneficiamento primário da produ-

147
ção obtida e seu armazenamento no imóvel rural
ou em cooperativa;
• de exploração pecuária;
• de beneficiamento ou industrialização de
produtos agropecuários.

Na constatação legal de quem pode se utili-


zar do crédito rural, temos o produtor rural (pessoa
física ou jurídica) e suas associações (cooperativas,
condomínios, parcerias), que se dedique a uma das
seguintes atividades:
a) pesquisa ou produção de mudas ou se-
mentes fiscalizadas ou certificadas;
b) pesquisa ou produção de sêmen para in-
seminação artificial;
c) prestação de serviços mecanizados de
natureza agropecuária, em imóveis rurais, inclusive
para a proteção do solo;
d) prestação de serviços de inseminação ar-
tificial, em imóveis rurais;
e) exploração de pesca, com fins comerciais.

A instituição financeira deve, obrigatoria-


mente, fiscalizar toda operação, sendo facultada a re-
alização de fiscalização por amostragem em créditos
de até R$ 60 mil. Essa amostragem consiste na obri-
gatoriedade de fiscalizar diretamente até 10% desses
créditos, e deve ser efetuada da seguinte forma:

148
• crédito de custeio agrícola: pelo menos
uma vez no curso da operação antes da época pre-
vista para liberação da última parcela ou até sessenta
dias após a utilização do crédito, no caso de libera-
ção em parcela única;
• Empréstimo do Governo Federal (EGF),
conforme previsto no Manual de Operações de Pre-
ços Mínimos; demais financiamentos: até sessenta
dias após cada utilização, para comprovar a realiza-
ção das obras, serviços ou aquisições. Essa fiscaliza-
ção é para verificar a correta aplicação dos recursos
orçamentários, o desenvolvimento das atividades fi-
nanciadas e a situação das garantias, se houver.

6.3. REFORMA AGRÁRIA

Alguns doutrinadores defendem que a ques-


tão fundiária está para a República, assim como a
escravidão estava para a Monarquia, de tamanha re-
levância a questão fundiária no Brasil.
Para elaborar o conceito de Reforma Agrá-
ria, é necessário, em primeiro lugar, nos remetermos
no contexto dos Direitos Reais, como Função Social
e Econômica e, ainda, como um meio hábil para al-
cançar a almejada Justiça Social, que é um dos obje-
tivos fundamentais do Estado, que se encontra no

149
bojo do artigo 3.º da Constituição Federal de 1988,
como segue:

Art. 3.º Constituem objetivos fundamentais da


República Federativa do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e
reduzir as desigualdades sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos
de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras for-
mas de discriminação.

No Brasil, o conceito de Reforma Agrária


foi estabelecido no artigo 1.º, parágrafo 1.º, da Lei n.º
4.504/64, o Estatuto da Terra, que traz como segue:

Art. 1° Esta Lei regula os direitos e obrigações


concernentes aos bens imóveis rurais, para os fins de execu-
ção da Reforma Agrária e promoção da Política Agrícola.
§ 1° Considera-se Reforma Agrária o conjunto
de medidas que visem a promover melhor distribuição da
terra, mediante modificações no regime de sua posse e uso,
a fim de atender aos princípios de justiça social e ao au-
mento de produtividade.
§ 2.º Entende-se por Política Agrícola o conjunto
de providências de amparo à propriedade da terra, que

150
se destinem a orientar, no interesse da economia rural, as
atividades agropecuárias, seja no sentido de garantir-lhes
o pleno emprego, seja no de harmonizá-las com o processo
de industrialização do país.

Para COUTINHO CAVALCANTI, refor-


ma agrária se define como segue:

Reforma agrária é a revisão e o reajustamento


das normas jurídico-sociais e econômico-financeiras que
regem a estrutura agrária do País, visando à valorização
do trabalhador do campo e ao incremento da produção,
mediante a distribuição, utilização, exploração sociais e
racionais da propriedade agrícola e ao melhoramento das
condições de vida da população rural.

Os objetivos traçados pelo legislador, ao tra-


çar a política de reforma do campo, foi a promoção
da justiça social, o progresso e o bem-estar do rurí-
cola e o incentivo à produção de riqueza, por meio
da redistribuição de terras.
A luta pela terra tem origem longínqua. A
violência no campo é um fato de presença constante
em nossa história.
A História registra movimentos populares,
liderados por pessoas do povo, como a reação indí-

151
gena, os quilombos negros, as revoltas nos períodos
regencial e imperial.
Em 1835, a “Cabanagem”, no Pará, fez com
que cerca de quarenta por cento da população fosse
dizimada pelo governo imperial.
A “Revolta de Canudos”, ocorrida na Bahia,
em 1896, e a “Campanha do Contestado”, empreen-
dida entre o Paraná e Santa Catarina, em 1912, tam-
bém têm sua origem na posse da terra.
Nos tempos atuais, o conflito de Eldorado
dos Carajás (1996), é um exemplo gritante da tragé-
dia gerada na luta pela terra.
A Reforma Agrária é uma necessidade, já
que contribui decisivamente para a consecução dos
Objetivos Fundamentais, inseridos no artigo 3.º, da
nossa Constituição Federal.
O Direito Agrário, consolidado na Constitui-
ção da República, no Estatuto da Terra e na Lei Agrá-
ria, contém mecanismos suficientes para promover a
Reforma Agrária, através da desconcentração fundiá-
ria, do incremento da produção e a justiça social.
Na prática não é o que acontece. O Brasil é
conhecido como um dos países de maiores contras-
tes sociais do planeta. E estes contrastes aparecem de
um modo mais que evidente na estrutura fundiária:
2,8% das propriedades rurais ocupam 56,7% de todas
as terras cadastradas, enquanto que 62,2% das pro-
priedades ocupam 7,9% das terras. Além disso, um

152
número em torno a 4 milhões de famílias ainda é sem
terra - são parceiros, meeiros, arrendatários, assalaria-
dos rurais, ou possuem uma terra tão insignificante
da qual não conseguem tirar o sustento para a família.
São também pessoas que hoje estão na ci-
dade, mas desejariam voltar ao campo caso tivessem
um pedaço de terra para cultivar. Estes dados dos
possíveis clientes para assentamento, que varia entre
4 e 6 milhões, são de um estudo feito pelo IPEA,
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, órgão li-
gado ao governo federal.
FERREIRA resume fielmente a situação vi-
gente, merecendo a transcrição:

A toda evidência, a Reforma Agrária no Brasil


ainda caminha a passos lentos, não obstante a evolução
no pensamento, refletida na legislação, principalmente a
partir de 1964. De um lado, existem vastidões de áreas
improdutivas, ou mal exploradas, sem cumprir sua Fun-
ção Social; de outro, um enorme contingente de pessoas
que querem e necessitam nelas trabalhar, a fim de garan-
tir o seu sustento e crescer econômica e socialmente. Am-
bas esperam por iniciativa do Governo Federal, sempre
às voltas com os problemas econômicos, com os superávites
primários, com o déficit fiscal, com os saldos comerciais,
enfim, com a mais variada gama de argumentos e razões
que estariam a impedir a realização da Reforma Agrá-
ria em sua plenitude.

153
Como visto, muito há de se fazer no Brasil
para que essa história tenha um final feliz.
Muito embora seja uma questão extrema-
mente polêmica, cumpre destacarem-se três posições
ideológicas dominantes a respeito da questão fundiá-
ria no Brasil: o Assistencialismo Agrário, o Radicalis-
mo Agrário e a Reforma Agrária Gradualista.
Para aqueles estudiosos que defendem o As-
sistencialismo Agrário, uma política de simples as-
sistência agrária deve ser implementada. Essa visão
parece falha, na medida em que a mera divisão de
terras não resolve o problema agrário no país.
Além de uma reorganização da agricultura na-
cional, deve existir maior equipe de técnicos, agrôno-
mos, veterinários, meios de comercialização de produ-
tos e educação voltada a preparar o homem do campo.
Pelo Radicalismo Agrário, pretende-se rom-
per a situação atual, que é a de grande concentração
de terras nas mãos de poucos, eis que a posse da
terra é o elemento decisivo para resolver o problema
agrário no País.
O centro do problema está na posse da terra e
o essencial é a distribuição, imediata e a qualquer custo,
de terras rurais. Essa é a ideia defendida pelo MST –
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terras.
Se de um lado traz a intranquilidade e a inse-
gurança à sociedade, de outro, são inegáveis os avan-
ços conquistados através da pressão ao poder público.

154
A Reforma Agrária Gradualista é a que de-
veria ser feita, por meio de lenta e objetiva trans-
formação na estrutura agrária. Tem como objetivo,
além da descentralização da propriedade agrária,
medidas concretas de consolidação da reforma na
estrutura agrária.
O planejamento da Reforma Agrária deve
ser efetivado de modo experimental, para unir a
tradição com o progresso. Objetiva-se atingir uma
reforma agrária cientificamente planejada, que distri-
bua as terras e aumente a produtividade pela técnica
e pela ciência.
Embora não seja a única solução, ou tal-
vez nem a mais acertada, para o abrandamento das
questões sociais no país, a transformação gradativa
da estrutura agrária brasileira não pode dispensar a
utilização das terras públicas, diminuindo-se, conse-
quentemente, a tensão agrária.
Em nosso país, grande parte das terras na-
cionais é pública e está desocupada. O povo brasilei-
ro precisa sair da costa do Atlântico e rumar para o
interior. Grandes são as extensões de terras desocu-
padas e o nosso Oeste deve ser ocupado.

155
EXERCÍCIOS PROPOSTOS

1 - A alternativa INCORRETA:
Compõe o sujeito passivo do ITR:

a) o proprietário do imóvel.
b) o possuidor a qualquer título.
c) a União.
d) o titular do domínio útil.
e) todas as alternativas estão corretas.

2 - A base de cálculo do Imposto sobre a Pro-


priedade Territorial Rural é:

a) valor mercado, ou seja, valor da terra nua.


b) valor venal, ou seja, valor da terra nua.
c) valor fundiário, ou seja, valor da terra nua.
d) valor venal, ou seja, valor do imóvel por natureza.
e) nenhuma das alternativas anteriores.

157
3- Considera-se pequena gleba rural aquela
não excedente a:

a) 50 hectares.
b) 100 hectares.
c) 30 hectares.
d) 130 hectares.
e) 70 hectares.

4 - Analise e assinale a assertiva correta.

I - A produção e distribuição de sementes e mu-


das, inclusive de novas variedades, poderão também
ser feitas por organizações particulares, dentro do
sistema de certificação de material de plantio, sob
a fiscalização, controle e amparo do Poder Público.
II - A melhoria dos rebanhos e plantéis será feita
através de criação, venda de reprodutores e uso da
inseminação artificial, devendo os órgãos competen-
tes, ampliar para esse fim, a sua rede de postos es-
pecializados. A criação de reprodutores e o emprego
da inseminação artificial poderão ser feitos por en-
tidades privadas, sob fiscalização, controle e amparo
do Poder Público.
III - Os planos de mecanização agrícola, elabo-
rados pelos órgãos competentes, levarão em conta o
mercado de mão de obra regional, as necessidades

158
de preparação e capacitação de pessoal, para utiliza-
ção e manutenção de maquinaria. Esses planos serão
dimensionados em função do grau de produtivida-
de que se pretende alcançar em cada uma das áreas
geoeconômica do país, e deverão ser condicionados
ao nível tecnológico já existente e à composição da
força de trabalho ocorrente. Nos mesmos planos
poderão ser incluídos serviços adequados de manu-
tenção e de orientação técnica para o uso econômico
das máquinas e implementos, os quais, sempre que
possível deverão ser realizados por entidades priva-
das especializadas.

a) Apenas a afirmação III está correta.


b) As afirmações I, II e III estão corretas.
c) As afirmações I e II estão corretas.
d) As afirmações I, II e III estão incorretas.
e) Apenas a afirmação I está correta.

5 - Assinale a assertiva INCORRETA.

a) A Cooperativa Integral de Reforma Agrária


(CIRA) contará com a contribuição financeira do
Poder Público, através do Instituto Brasileiro de Re-
forma Agrária, durante o período de implantação
dos respectivos projetos.
b) A Cooperativa Integral de Reforma Agrária terá

159
um Delegado indicado pelo Instituto Brasileiro de
Reforma Agrária, integrante do Conselho de Admi-
nistração, sem direito a voto, com a função de pres-
tar assistência técnico-administrativa à Diretoria e
de orientar e fiscalizar a aplicação de recursos que o
Instituto Brasileiro de Reforma Agrária tiver desti-
nado à entidade cooperativa.
c) A participação direta do Instituto Brasileiro de
Reforma Agrária na constituição, instalação e de-
senvolvimento da Cooperativa Integral de Reforma
Agrária, quando constituir contribuição financeira,
será feita com recursos do Banco Nacional de Crédi-
to, na forma de investimentos sem recuperação dire-
ta, considerada a finalidade social e econômica des-
ses investimentos. Quando se tratar de assistência
creditícia, tal participação será feita por intermédio
do Fundo Nacional de Reforma Agrária, de acordo
com normas traçadas pela entidade coordenadora
do crédito rural.
d) A Contribuição do Estado será feita pela Coope-
rativa Integral de Reforma Agrária, levada à conta de
um Fundo de Implantação da própria cooperativa.
e) O Estatuto da Cooperativa integral de Reforma
Agrária deverá determinar a incorporação ao Banco
Nacional de Crédito Cooperativo do remanescente
patrimonial, no caso de dissolução da sociedade.

160
6 - Assinale a assertiva INCORRETA.

a) A posse ou uso temporário da terra serão exerci-


dos em virtude de contrato expresso ou tácito, esta-
belecido entre o proprietário e os que nela exercem
atividade agrícola ou pecuária, sob forma de arren-
damento rural, de parceria agrícola, pecuária, agroin-
dustrial e extrativa, nos termos do Estatuto da Terra.
b) No caso de alienação do imóvel arrendado, o ar-
rendatário terá preferência para adquiri-lo em igual-
dade de condições, devendo o proprietário dar-lhe
conhecimento da venda, a fim de que possa exerci-
tar o direito de perempção dentro de trinta dias, a
contar da notificação judicial ou comprovadamente
efetuada, mediante recibo.
c) O arrendatário a quem não se notificar a ven-
da poderá, depositando o preço, haver para si o
imóvel arrendado, se o requerer no prazo de seis
meses, a contar da transcrição do ato de alienação
no Registro de Imóveis.
d) A alienação ou a imposição de ônus real ao imó-
vel interrompe a vigência dos contratos de arrenda-
mento ou de parceria.
e) A ausência de contrato não poderá elidir a apli-
cação dos princípios estabelecidos no Estatuto da
Terra e nas normas regulamentares.

161
7 - Assinale a assertiva

É vedado contrato de arrendamento ou parceria na


exploração de terras de propriedade pública. Contu-
do, excepcionalmente, poderão ser arrendadas ou da-
das em parceria terras de propriedade púbica, quando:

I - razões de segurança nacional o determinarem.


II - áreas de núcleos de colonização pioneira, na
sua fase de implantação, forem organizadas para fins
de demonstração
III - forem motivo de posse pacífica e a justo
título, reconhecida pelo Poder Público, antes da vi-
gência do Estatuto da Terra .

a) I.
b) II e III.
c) I, II e III.
d) I e III.
e) I e II.

8 - Complete a lacuna.

_____________________ foi criado (a) para o


atendimento complementar de acesso à terra por
parte dos trabalhadores rurais qualificados para par-
ticipar do Programa Nacional de Reforma Agrária,

162
na forma estabelecida em regulamento.

a) O Serviço Social Rural (S.S.R.).


b) O Programa de Arrendamento Rural.
c) O Fundo Nacional de Reforma Agrária.
d) O Fundo Agroindustrial de Reconversão.

9 - Complete corretamente a lacuna.

_____________________ foi criado (a) para fornecer


os meios necessários para o financiamento da Reforma
Agrária e dos órgãos incumbidos da sua execução

a) A Cooperativa Integral de Reforma Agrária (C.I.R.A.).


b) O Fundo Nacional de Reforma Agrária.
c) A Superintendência do Desenvolvimento Econô-
mico do Nordeste (SUDENE).
d) O Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária – INCRA.
e) A Superintendência de Política Agrária (SUPRA).

10 - Assinale a alternativa correta.

I - O imóvel rural não é divisível em áreas de di-


mensão inferior à constitutiva do módulo de pro-
priedade rural.

163
II - Em caso de sucessão causa mortis e nas par-
tilhas judiciais ou amigáveis, não se poderão dividir
imóveis em áreas inferiores às da dimensão do mó-
dulo de propriedade rural.
III - Os herdeiros ou os legatários, que adquiri-
rem por sucessão o domínio de imóveis rurais, não
poderão dividi-los em outros de dimensão inferior
ao módulo de propriedade rural.
IV - No caso de um ou mais herdeiros ou legatá-
rios desejar explorar as terras assim havidas, o Ins-
tituto Brasileiro de Reforma Agrária poderá prover
no sentido de o requerente ou requerentes obterem
financiamentos que lhes facultem o numerário para
indenizar os demais condôminos.

a) Apenas a afirmação IV está correta.


b) As afirmações I e IV estão corretas.
c) As afirmações I, II e III estão corretas.
d) Apenas a afirmação I está correta.
e) Todas as afirmações estão corretas.

164
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