Direito Agrario
Direito Agrario
Direito Agrario
Direito Ambiental
Direito Agrario
Selma Freitas
Coordenadora Pedagógica
Eleonora Altruda de Faria
de Cursos Ead
Inclui bibliografia
ISBN
CDD 346.0432
Catalogação elaborada por Glaucy dos Santos Silva - CRB8/6353
SUMÁRIO
Capítulo 1 9
O DIREITO AGRÁRIO
Capítulo 2 29
CONTEÚDO DO DIREITO AGRÁRIO
47 Capítulo 3
FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE
79 Capítulo 4
CLASSIFICAÇÃO FUNDIÁRIA
Capítulo 5 103
CONTRATOS AGRÁRIOS
Capítulo 6 143
TÍTULO DE CRÉDITO RURAL
165 BIBLIOGRAFIA
173 GABARITO
Capítulo 1
O DIREITO AGRÁRIO
T
ODOS OS RAMOS JURÍDICOS clamam
por justiça, e o sentido social está implícito
em todos eles. No entanto, quando se fala
em Direito Agrário, relembram-se as questões inci-
dentes sobre a realidade do processo agrícola brasi-
leiro. Se os propósitos do Direito Agrário pudessem
ser aplicados automaticamente, sem manuseios de
interesses políticos e de outros expedientes de fa-
vorecimentos pessoais, ou, ainda, sem a finalidade
de atender a grupos privilegiados detentores da terra
como reserva de valor, o Direito Agrário seria, sem
dúvida, um grande alento para questões sociais em
geral, especialmente, podendo observar a sua relação
estreita com o meio ambiente em geral como a ga-
rantia de sobrevivência do ser humano, e, em parte,
de direitos humanos tidos como essenciais, firmado-
res das necessidades básicas.
No transcorrer da nossa história, cronologi-
camente, as leis foram se fazendo necessárias visan-
9
do fornecer meios legais para a administração públi-
ca planejar e executar programas de longo, médio e
curto prazos para as atividades rurais.
Dessa premissa, passaremos a discorrer so-
bre o que se construiu juridicamente sobre o Direito
Agrário e demonstrar como esse tema recai sobre
os mais diferentes institutos jurídicos, sendo todos
voltados para a melhoria da vida rural, abrangendo
a política fundiária, mecanismos de acesso à terra e
à política agrícola, instrumentos garantidores do uso
do solo de maneira sustentável.
O agrarista busca soluções para o uso da
propriedade rural na perspectiva do bem-estar de to-
dos, onde também observa, na perspectiva de análise
dos direitos difusos e coletivos, os chamados direitos
de terceira geração de onde advém a criação do Di-
reito Ambiental, que tem o objetivo de manter um
perfeito equilíbrio da vida no planeta, disciplinando
as relações entre o homem e o ambiente que o cerca,
incluindo os recursos naturais: a atmosfera, as águas,
os estuários, o mar, o solo, o subsolo, os elementos
da biosfera, a fauna e a flora, os quais possuem re-
gime restrito de uso, sendo protegidos pelo Poder
Público em benefício da coletividade.
As leis agrárias foram construídas por pres-
sões sociais, mas muito pouco do ambicionado foi
cumprido. As leis existem, mas os poderes, poucas
vezes, fazem valer esses preceitos. Por exemplo, há
10
de se fazer valer o que a lei traz sobre a grilagem de
terras, considerando criminosa essa prática; todavia,
os jornais noticiam, diuturnamente, esse expediente.
Podemos dizer que os órgãos dos três pode-
res beneficiam-se com essas práticas. O recente caso
da Irmã Dorothy é um exemplo de luta pela terra,
pelo meio ambiente, contra a grilagem. Tornou-se
um caso de violação de direitos humanos com am-
plitude internacional. Trata-se de um dos muitos e
muitos casos de violação penal, civil, agrária, am-
biental, fiscal, trabalhista; uma violação com grave
desrespeito aos direitos humanos, envolvendo a
máfia do desmatamento, do uso indevido de terra
devolutas, do tráfico ilegal de madeiras, do trabalho
escravo e da destruição ambiental. Revelam-se, as-
sim, as contradições entre o real e o legal.
11
à natureza, se sentido parte dela, tendo na coleta de
frutos a base da sua subsistência. Em um momento
posterior, organizou-se em tribos, visando a sua pro-
teção e sobrevivência, então a partir desse momento
passou a sentir a necessidade de normas reguladoras
da vida em sociedade e, consequentemente, em rela-
ção ao uso dos bens, em especial a terra.
Não obstante a inexistência, nessa época, do
ordenamento jurídico pretendido, já se podia obser-
var a existência de normas de direito consuetudiná-
rio ou escritas, presentes para regular e solucionar os
interesses e conflitos advindos do fato econômico
nos agrupamentos de humanos.
Na história mais recente, as experiências são
bastante diversificadas no que diz respeito à distribui-
ção e uso da terra, e com diferentes concepções sobre
a sua função social. Em uma cronologia antecedente
ao Estatuto da Terra poderíamos nos referenciar a
Moisés que na Bíblia narra sobre a terra prometida,
indicando a existência de regras relacionadas ao ade-
quado cultivo e aproveitamento da terra.
O Decálogo de Moisés, relacionado à terra,
com regras para as doze tribos.
O Código de Hamurábi, do povo babilô-
nico, que data do 18º século a.C., o qual pode ser
considerado primeiro Código Agrário da humanida-
de onde constam 282 cláusulas consideradas artigos
sendo vários dedicados a questões agrárias, como o
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cultivo, a distribuição e a conservação da terra, além
de regras de proteção a agricultores e pastores, e a
proteção do produtor diante de situações de perda
da lavoura, o agricultor não pagava juros no ano res-
pectivo e não pagava o credor naquele ano.
O referido código traz as primeiras normas
na história, correspondentes às normas ainda hoje
existentes, em relação à Posse, Usucapião, Penhor,
Indenização, Locação e Seguro.
Outra importante passagem histórica foi a
elaboração da Lei das XII Tábuas em 450 a.C., nor-
ma resultante da luta de classes entre patrícios e ple-
beus que continha regras de combate à concentra-
ção de terras com conteúdo agrário, entre as quais a
proteção ao Possuidor e a Usucapião, beneficiando,
assim, diversos povos da antiguidade (Hebreus, Ju-
deus e Romanos).
No império Romano, com a Lei Cássia (le-
gislação agrária), dos irmãos Graco e Catilina, abriu-
-se caminho à legislação reformista e social, que
originou, apesar de esparsa, uma legislação voltada
ao disciplinamento do uso e da posse da terra, que
contou com o apoio de Platão figurando ao lado de
Licurgo, Dracon, Sólon e Péricles, tendo sido esses
os responsáveis pela elaboração da legislação da épo-
ca, que previa o acesso dos plebeus ao Senado.
Em 134 a.C., e 123 a.C., os irmãos Tibério e
Caio Graco, eleitos como tribunos, tomaram medi-
13
das favoráveis ao povo, tais como: - projeto de lei li-
mitando à posse de terras públicas que cada cidadão
podia ocupar (Tibério); - A lei do pão, que reformou
a justiça, construiu estradas para abrir frentes de tra-
balho aos desocupados (Caio Graco).
Catilina, por sua vez, encontrou oposição
em Cícero, que não concordava com as tentativas de
reforma agrária, inclusive a dos Graco, e se encar-
regou de promover campanhas negativas na época.
Muitos reis romanos foram mortos por ten-
tarem a reforma agrária, Júlio César garantiu terra
para cidadãos pobres e veteranos de guerra. O mo-
vimento reformista chegou ao fim no ano de 63 a.C.,
quando seus integrantes foram aniquilados pelas
forças legalistas romanas.
A oligarquia dominante da cidade de Roma,
contrária a qualquer transformação social, e não se
atende às rebeliões dos escravos, manteve o regime
latifundiário e escravista, contribuindo com a queda
do Império Romano.
14
de seu descobrimento. É muito importante lembrar
que nossa colonização foi de uma forma explora-
tória desordenada. A situação do Brasil em relação
aos países europeus que baseavam sua economia no
mercantilismo era bem diferente, pois, não havia de-
manda por produtos, visto que não havia relações
econômicas capitalistas nos povos indígenas.
A história do Direito Agrário no Brasil
passa pelo Tratado de Tordesilhas de 07 de Junho
de 1494, que dividiu o novo mundo entre Portugal
e Espanha. Por esse tratado, caberiam a Portugal
as terras situadas à direita da linha imaginária que
demarcava 370 léguas a oeste das ilhas de Cabo
Verde, e à Espanha as terras que ficassem à es-
querda dessa linha.
Com a ocupação do território brasileiro, já
que sendo a Coroa Portuguesa a dona do Brasil pela
conquista, passaram a vigorar por aqui as denomina-
das Ordenações do Reino, as quais vieram por con-
sequência lógica da extensão de poder.
Firmou-se no Brasil o sistema oficial de atri-
buição de direitos reais sobre terras agrícolas, e essa
questão foi, até meados do século passado, o princi-
pal fator de organização da sociedade brasileira. Em
razão desta visão contemporânea, com efeito, desen-
volveu-se quase toda política econômica e de justiça
social redundando, inclusive, em muitos preceitos
básicos a respeito do Direito Ambiental na atuali-
15
dade; matérias atualmente expressas na Constituição
Federal de 1988 em seu artigo 225.
16
colonização. Esta lei determinava a colonização, a
moradia habitual e cultura permanente, o estabeleci-
mento de limites e a cobrança de impostos.
Tratava se da legislação de Portugal aplicada
no Brasil Colônia que visava corrigir as distorções no
uso das terras, forçando os proprietários a trabalhar
a terra, tendo em vista a falta de alimentos na época.
Assim, as terras não aproveitadas seriam confiscadas.
De 1500 a 1822 - Terras brasileiras perten-
ciam à Coroa Portuguesa que as doava e foram cria-
das as Capitanias Hereditárias e Regime de Sesma-
rias. Em 1531 Martim Afonso de Souza em missão
passou a distribuir as terras descobertas para fins de
colonização como defesa do território contra inva-
sões estrangeiras. As terras atendiam às necessidades
da Coroa para exploração.
Entre 1822 e 1850 - Período "Extralegal”
ou “das posses”, onde ocorreram muitas ocupações
desordenadas dos territórios em pequenas e grandes
áreas. Império da força Vigorou o sistema de posse
livre em terras devolutas.
Em 1850 - Aumento da área cultivada com
o café e a Lei Eusébio de Queiros proibiu o tráfico
de escravos, e após a Independência do Brasil surgiu
umas das primeiras leis de terras nº 601, de 18 de
setembro de 1850.
Já na Constituição Republicana de 1891, ve-
rificava em seu artigo 64º, a transferência aos Esta-
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dos as terras devolutas, ficando reservadas à União
apenas as áreas destinadas à defesa das fronteiras,
fortificações, construções militares e estradas de fer-
ro, e terrenos de marinha.
Na década de 30, com a crise econômica
mundial, a economia brasileira basicamente agroex-
portadora, entra em crise. Ocorre o início do proces-
so de industrialização brasileira. Um dos momentos
em que houve aumento dos pequenos e médios pro-
prietários rurais.
Em 1964 – Houve a pretensão de promo-
ver a reforma agrária que tinha como princípio
distribuir terras.
Na década de sessenta, logo após o golpe
militar de 1964, houve novamente um grande movi-
mento de massa populacional devido à propaganda
institucional, que propalava o crescimento do Bra-
sil, e a erradicação da pobreza. A partir dos grandes
centros, com urbanização acelerada e a construção
civil, oferecendo oportunidades de emprego cada
vez maiores à mão de obra não especializada e anal-
fabeta, os migrantes tiveram melhoras salariais e de
condições de vida.
Na década de 70 - Com a constatação da dita-
dura militar a concentração de terras assume propor-
ções assustadoras. O êxodo rural foi a consequência.
Em função desta melhora, os colonos co-
meçaram a mandar dinheiro para as regiões de
18
onde vieram, chamando a atenção dos parentes,
amigos e vizinhos, que se encontravam em condi-
ções precárias nas áreas rurais. Isto ocasionou uma
aceleração do êxodo rural, causando ainda mais in-
chaço nos grandes centros, aumentando ainda mais
os problemas ocasionados pela miséria na periferia
das grandes cidades.
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foram mantidos, embora houvesse algum avanço so-
ciopolítico nas discussões sobre a terra.
Houve um período de Vacância legal sobre a
questão de apropriação do solo. Período de tempo em
que a Lei não entrou em vigor e com os primeiros sinais
da abolição da escravidão, tornou-se necessário para os
grandes proprietários rurais que formavam a nossa eli-
te econômica agrária, a inibição da propriedade da terra
através de apropriação pela posse. Do contrário, quando
os escravos fossem libertados e novos imigrantes che-
gassem, não haveria empregados aos grandes proprie-
tários, pois todos iriam em busca das terras do interior.
A terra deveria ser vendida pelo Poder
Público a particulares que tivessem meios para
sua aquisição. Se o Estado vendeu, como é que
agora ele quer desapropriá-las. Essa é uma das
questões mais discutidas quando se fala em desa-
propriação de terras. Surge então em 1850 a Lei
de Terras, Lei nº 601, de 18 de setembro de 1850,
tendo como principais objetivos:
20
Um importante fato no transcorrer deste
período foi o surgimento do Código Civil em 1916,
inclusive regulando as relações jurídicas rurais como
a Posse e os Contratos agrários, lembrando que mes-
mo que de aplicação subsidiária no Direito Agrário,
traz uma orientação nova do Novo Código Civil Lei
nº 10.406/2002 superando a visão individualista e
inserindo em seu conteúdo a função social da pro-
priedade e, igualmente, a função social do contrato,
onde repetiu a redação da Constituição Federal de
1988 nos aspectos referente à Usucapião constitu-
cional de 5 anos em área de terra de até 50 hectares.
Também da época dos militares é a lei 6.383,
de 7 de dezembro de 1976, que dispõe sobre o pro-
cesso discriminatório de terras devolutas da União e
ainda está em vigor.
Constituição (promulgada) de 1934 - Previa
a competência da União para legislar sobre direito
rural, referência histórica importante que tratou do
Usucapião, da colonização e da proteção do traba-
lhador visando à subordinação do direito de proprie-
dade ao interesse social ou coletivo.
Carta (outorgada – imposta) de 1937- Não
mencionou o Direito Agrário, apenas dispôs que seu
conteúdo e seus limites serão definidos nas leis que
regulam seu exercício.
A Constituição Federal de 1946, além da de-
sapropriação por necessidade ou utilidade pública,
21
contemplou, pela primeira vez, a desapropriação por
interesse social.
Leis especificas como o Decreto Lei
3.365/41 e Lei 4.947/66 tratam de desapropriação
e de Direito Agrário. Porém, a lei regulando a de-
sapropriação por interesse social surgiu apenas em
1.962 (Lei nº 4.132). Além disso, outras leis específi-
cas regularam a fauna, florestas, águas.
Entre 1951 e 1964, surgiram inúmeros pro-
jetos de Código Rural, projeto de Reforma Agrária,
com inspiração, sobretudo nos códigos rurais da Ar-
gentina e do Uruguai.
Em 1962 foi criada a SUPRA (Superin-
tendência Nacional de Reforma Agrária). Para-
lelamente a isso, tivemos experiências de organi-
zações camponesas em diversas regiões do país,
o que contribuiu para a aceleração na elaboração
de um conjunto de normas reguladoras das rela-
ções atinentes à atividade agrária, inclusive aten-
dendo a pressões internacionais.
O Direito Agrário é instituído a partir da EC
nº 10 de 09 de novembro de 1964.
A Emenda Constitucional Nº 10, de
9/11/64, modificou a Constituição Federal de 1946
no seu artigo 50, inserindo a competência da União
para legislar sobre Direito Agrário. Desta forma, ins-
titucionalizou o Direito Agrário no Brasil, garantin-
do a sua autonomia legislativa.
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Em 30 de Novembro de 1964, foi promul-
gado o Estatuto da Terra Lei nº 4.504 referência
do Direito Agrário Brasileiro, ficando estruturado
como ramo autônomo e contemplou a instituição
do “Princípio da função social” na legislação brasi-
leira em seu artigo 2º:
23
Em 1984 e 1985, no Governo do Presidente
José Sarney, o primeiro Plano Nacional de Reforma
Agrária não chegou a ser executado.
Na Constituição Federal de 1998, um capí-
tulo inteiro sobre questão agrária no Brasil, no artigo
5º em seus incisos que veremos mais a frente.
Os artigos 184º a 191º vem tratando da Polí-
tica Agrária, fundiária e reforma agrária, além de um
capítulo referente à questão ambiental.
Como vemos estamos diante de uma consa-
gração de leis, dentre tantos instrumentos que sur-
gem para tratar do tema agrário, como a Leis regu-
lando o Texto Constitucional: Lei nº 8.171/01/91 e
nº 8.174/01/91 (leis sobre Política Agrícola).
A Lei nº 8.257/11/91, tratando do confis-
co de terras que tenham plantação de psicotrópicos,
regulando o artigo 243º da Constituição Federal de
1988, Lei nº 8.629/02/93 e a Lei Complementar nº
76/93 com os seus regulamentos, acréscimos e mo-
dificações posteriores, inclusive por medida provisó-
ria, disciplinam vasta matéria do Direito Agrário, ao
mesmo tempo em que o Estatuto da Terra continua
em vigor naqueles institutos não modificados pela
Constituição Federal de 1988 e legislação posterior.
Essa política durou até a Constituição de
1988, que, enfim, legitimou a desapropriação da ter-
ra para fins de reforma agrária e que foi regulamen-
tada pela lei nº 8.629, de 25 de fevereiro de 1993.
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A mais recente lei de terras do Brasil é a lei
11.952, de 25 de junho de 2009, que dispõe sobre
a regularização fundiária das ocupações incidentes
em terras situadas em áreas da União, no âmbito da
Amazônia Legal.
25
o projeto de Código ao Congresso e posteriormente
em 1937 ao publicar trabalho intitulado “Direito Ru-
ral”, inicia seu livro conceituando o “Direito Rural ou
Direito Agrário”, usando as palavras em suas duas for-
mas como: “Um conjunto de normas reguladoras dos direitos e
obrigações concernentes às pessoas e aos bens rurais.”
Na obra de Sulaiman Miguel Neto, diversos
autores passam a definir o que vem a ser Direito
agrário, sendo evidente que os conceitos se entre-
laçam, pois guardam muito de comum entre si.
Para efeitos didáticos vale a colocação de algumas
definições sobre direito agrário conforme seguem:
Francisco Malta Cardoso conceitua: “Direito
Rural é um conjunto de normas que asseguram a vida e o de-
senvolvimento econômico da agricultura e das pessoas que a ela se
dedicam profissionalmente.”
Paulo Torminn Borges teceu o seguinte conceito:
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social, ou meio termo, mas que caminha rápido para
se transformar em Direito Público devido a sua na-
tureza de disciplina que trata da segurança alimentar
e do uso da fonte de todas as riquezas que é a Terra.
Em sua dimensão normativa, o Direito
Agrário aparece como o conjunto de normas que
regulam todas as relações jurídicas do campo. Essas
normas jurídicas regulatórias poderão tanto se refe-
rir às relações comerciais, quanto às questões fun-
diárias, crediaristas, securitárias, ambientais, traba-
lhistas, dentre outras. Nesse âmbito, tangenciam-se
o Direito Privado e o Direito Público, próprios das
relações jurídicas entre o Estado e os particulares.
Nesse sentido, Fernando Pereira Sodero
conceitua o Direito Agrário da seguinte forma:
27
da atividade do homem sobre a terra, observados os prin-
cípios de produtividade e justiça social
Raymundo Laranjeira:
28
Capítulo 2
CONTEÚDO DO DIREITO AGRÁRIO
O
CONTEÚDO DO DIREITO AGRÁRIO
abrange as ações decorrentes da própria ati-
vidade agrária, tais como: exploração agríco-
la, extrativa, pecuária e agroindustrial, com vistas às re-
lações estabelecidas entre os sujeitos e os bens agrários.
Entretanto, temos que as normas destinadas
a assegurar o aproveitamento e a conservação dos
recursos naturais renováveis, bem como os contra-
tos de trabalho agrário, a previdência social rural, os
seguros agrícolas e o crédito rural, não fazem parte
do arcabouço legal do direito agrário, embora guar-
dem um inter-relacionamento absoluto.
Dispõe o Estatuto da Terra, em seu arti-
go 92º que:
29
to rural, de parceria agrícola, pecuária, agro-industrial e
extrativa, nos termos desta Lei.
30
junto de equipamentos materiais e imateriais que o
compõem no processo produtivo agrário.
31
O fato jurídico agrário, que em princípio vem
sedimentado no direito objetivo, nas normas de direi-
to agrário, tem forma variada de expressão, tendo a
principal nomenclatura de “Lei especial”, dando ra-
zão a que se criem relações jurídicas capazes de sub-
meter certos objetos ao poder de determinado sujeito
ou instituição; criando um eventual direito subjetivo.
Vale ressaltar que, excepcionalmente, o
direito objetivo independe do foto jurídico para
se concretizar e subjetivar-se, onde por força da
própria disposição normativa e diretamente con-
ferida ao sujeito.
Ganham novos contornos esses conceitos
na esfera agrária, pois se confrontam com temas co-
muns do direito público, em que a disponibilidade é
relativa, observado alguns limites.
O fato jurídico agrário seria o acontecimen-
to, em virtude do qual nasceria uma relação de natu-
reza agrária, modificando ou extinguindo um direito
nesse campo.
Os fatos jurídicos agrários podem ser clas-
sificados em:
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b) fatos decorrentes da ação humana –
aquele sujeito a arbítrio do agente ou do ocupante, e
ainda das próprias instituições ou órgãos envolvidos
no processo agrário ou ocupacional.
b.1) fatos jurídicos agrários típicos, que
atendem a vontade do agente ou da lei, obedecem
aos critérios de ordem legal, institucional, programá-
tica ou científica.
b.2) fatos jurídicos que independem da von-
tade do agente, que se consagram na prática dos
efeitos previstos na lei.
c.) fatos mistos, que integram outra espécie,
em que tanto existe a intervenção de elementos de or-
dem natural, quanto outro relacionado com arbítrio.
33
Os atos jurídicos agrários classificam-se
como sendo: atos inter vivos e causa mortis: os in-
ter vivos são aqueles que não se cogita o destino
das relações examinadas, após o eventual óbito
dos envolvidos (um arrendamento), enquanto o
ato causa mortis regula relações jurídicas de direito
agrário, emergentes após a morte da pessoa (um
legado ou cláusula que disponha sobre sucessão
da relação contratada).
34
atos complexos inexiste sujeito ativo e passivo, e sim
cotitulares de direito.
• Atos formais ou causais: formais são aqueles
cuja existência decorre de uma circunstância especial
para sua existência onde os efeitos se produzem inde-
pendentemente da cogitação da causa (emissão de um
título de crédito), já nos causais é possível cogitar a vin-
culação às respectivas causas, são concretos materiais.
• Atos formais e informais ou nominado
e inominado: nos formais a sua validade depende
de solenidade, circunstâncias prescritas em lei, têm
nominadas as condições específicas de vigência no
universo jurídico, enquanto que nos informais, ou
inominados, a importância da distinção está parti-
cularizada, em face do exame dos requisitos do ato
para reconhecer eventual nulidade.
• Atos comutativos e aleatórios: são comu-
tativos os atos jurídicos agrários em que a presta-
ção seja equivalente e certa, diferente do ato jurídico
aleatório, em que as prestações não são necessaria-
mente equivalentes e depende de um acontecimento
futuro e incerto (contrato de seguro)
• Atos patrimoniais e pessoais: os patrimo-
niais são aqueles que se relacionam com o acervo
dos envolvidos, estão diretamente ligados aos bens
econômicos do sujeito da relação contratual, en-
quanto os pessoais são concernentes exclusivamente
à pessoa como tal considerada.
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• Atos constitutivos e declarativos: constitutivos
são aqueles cuja eficácia se produz a partir do momento
de sua conclusão. Por sua vez, declarativos são aqueles
que produzem efeitos a partir do momento que se ope-
rou o fato a que se vincula a manifestação da vontade,
uma espécie pertencente a esses atos seria a divisão de
condomínio, pois as partes se consideram proprietárias
de cada quinhão desde a aquisição coletiva.
• Atos de disposição e de simples adminis-
tração: são de disposição aqueles que implicam no
exercício de amplos direito sobre o objeto, ao con-
trário dos atos de simples administração que impli-
cam tão somente o exercício de direitos restritos ao
objeto, de tal modo que não haja alteração substan-
cial, nem a atual, nem potencial, exemplificando,
toda alienação é ato de disposição, enquanto nos ar-
rendamentos há simples administração.
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Constituem, pois, fontes formais do direito: a)
a lei; b) os costumes; c) a doutrina; d) a jurisprudência.
São mencionados como fontes materiais:
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ra que as Leis e os Costumes são denominados
fontes imediatas, enquanto a Doutrina e a Juris-
prudência são fontes mediatas.
Sobre este assunto, o professor Raymundo
Laranjeira afirma:
38
sem dúvida, como o costume, manifestação da consciência
jurídica, mas é uma forma de manifestação clara (o que
é uma vantagem), precisa (o que é uma vantagem ainda
maior), porém rígida o que é um defeito”.
No contexto legal, as fontes do Direito
Agrário são as nossas Constituições, que estabele-
ceram diretrizes e princípios para a matéria agrá-
ria. Há de se ressaltar que, mesmo as constituições
liberais, que não se preocuparam com uma ordem
econômica e social, mencionaram em seu texto
institutos de Direito Agrário, sem que ainda este
novo ramo do direito tivesse conquistado a sua
autonomia, como ocorreu com as constituições
de 1824 e 1891 e as subsequentes que se filiaram
ao constitucionalismo social, sensível às questões
econômicas e sociais, como as de 1934, 1937,
1946, 1967, emenda de 1969 e a de 1988.
Além dos textos constitucionais, o Estatuto
da Terra, Lei nº 4.504, de 20 de novembro de 1964,
e toda legislação complementar do Estatuto.
Sobre os costumes, poderíamos falar cienti-
ficamente na visão da seara da Sociológica, onde,
para os sociólogos, há uma diferença que reside
na maneira pela qual a referida forma de con-
duta é considerada pelo povo que a pratica. Daí
a razão pela qual os costumes são considerados
essenciais à continuidade da vida do grupo e as
maneiras de agir que caracterizam um povo são
39
as formas de conduta que um povo desenvolveu
durante sua vida; são os costumes que os mem-
bros do grupo consideram menos importantes.
Os costumes podem ser conceituados como
um conjunto de regras uniformes e constantes que
se impõe a todos os membros da coletividade, com
tal autoridade que a infração delas importa uma viva
desaprovação dos outros indivíduos e certo incômo-
do, ou, ainda, um padrão de comportamento sancio-
nado pela sociedade que o adotou, e, por último, um
uso implantado em uma coletividade, considerado
por esta como juridicamente obrigatório. É o direito
nascido consuetudinariamente.
Os costumes assumem as seguintes mo-
dalidades: Costumes contra legem - são os costumes
implicitamente revogatórios dos textos positivos
vigentes. Operam contra a lei vigente. Impõe a de-
saplicação da norma legal pelo desuso. Costumes
secundum legem - são os costumes previstos no texto
escrito que a eles referem, ou mande observá-los
em alguns casos, como direito subsidiário. Costu-
mes praeter legem - são os costumes que substituem
a lei, mesmo nos casos deixados em silêncio, e pre-
enchem as lacunas das normas positivas e servem
também como elemento de hermenêutica.
A jurisprudência é o conjunto de soluções ela-
boradas pelos juízes às questões jurídicas. Ou, uma
forma de revelação do Direito que se processa atra-
40
vés do exercício da jurisdição, em virtude de uma
sucessão harmônica de decisões dos tribunais.
Com referência ao Direito Agrário, no Bra-
sil, não há uma jurisprudência consolidada. Decidin-
do alguns recursos extraordinários, no que concerne
à matéria agrária, o Egrégio Supremo Tribunal Fede-
ral, em outro julgado, tem-se posicionado:
41
Na doutrina, sabido pelos estudiosos, é um
conjunto de soluções às questões de direito agrário,
ministradas pelos jurisconsultos. A atividade doutri-
nária é trabalho de jurista e jurisconsultos que pres-
supõe objetividade, metodização, vez que é trabalho
estritamente científico.
42
nos demais artigos, e, principalmente, expressos na
doutrina do Direito Agrário.
Na definição sistemática do autor
Marcelo Dias Varella, que expõe as características
principais do Direito Agrário, sistematizadas pelo ar-
gentino Vivanco, num rol de princípios que podem
ser aqui citados como sendo:
43
o) combate aos mercenários da terra;
p) a imposição constante de novos paradigmas
para a ciência jurídica;
q) ação coordenada da atividade e da legislação
agrária com a ordenação do território.
44
f) A reformulação da estrutura fundiária é uma
realidade constante;
g) O fortalecimento do espírito comunitário, atra-
vés de cooperativas e associações (art. 5º, XVII a XXI
e art. 146, III, “c” da CF/88);
h) O Combate ao latifúndio, ao minifúndio, ao
êxodo rural, à exploração predatória e aos mercenários
da terra (art. 16 da Lei n. 4.504/64);
i) A privatização dos imóveis rurais públicos
(art. 188 da CF);
j) A proteção à propriedade familiar, à pequena e
à média propriedade (art. 185, art. 5º, XXI da CF/88
e art. 649, VIII do CC);
k) O Fortalecimento da Empresa Agrária;
l) A Proteção da Propriedade Consorcial Indígena;
m) O Dimensionamento Eficaz das Áreas
Exploráveis;
n) A Proteção do trabalhador rural (art. 7º, IV
e art. 187, VIII da CF/88);
o) A Conservação e a Preservação dos recursos na-
turais e a proteção do meio ambiente (art. 225 da CF/88).
45
Capítulo 3
FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE
A
ORIGEM E O FUNDAMENTO JU-
RÍDICO do princípio da função social da
propriedade da terra têm por marco inicial a
Emenda Constitucional nº 10, de Novembro de 1964,
à Constituição Federal de 1946, sendo que logo depois
adveio a legislação ordinária “Estatuto da Terra”, regula-
mentando a alteração constitucional.
Além do ordenamento jurídico, os fatores
sociais e econômicos contribuiriam na evolução
do direito de propriedade, assim, a Constituição de
1988 adotou o novo critério, que era reclamado pe-
los setores mais evolvidos da sociedade, e também
adicionou direito de propriedade e a sua função so-
cial, conforme previsto no artigo 5º, incisos XXII,
XXIII e XXIV, como seguem:
47
à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e a proprie-
dade, nos termos seguintes:
XXII- é garantido o direito de propriedade;
XXIII- A propriedade atenderá a sua função social;
XXIV- a lei estabelecerá o procedimento para
desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou
por interesse social, mediante justa e prévia indenização em
dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição.
48
• foi estabelecida, no caso de desapropria-
ção, a prévia indenização em dinheiro.
49
Comparando o texto constitucional de 1988
com o artigo 2º, parágrafo 1º, do Estatuto da Terra,
não se pode negar alguma similaridade, apenas in-
dicando uma derivação ou influência decorrente de
experiências da legislação ordinária do regime ante-
rior que restou repristinada na nova ordem, como
vemos a seguir:
50
nas demonstrar níveis satisfatórios de produtividade,
pois esta pode existir e o aproveitamento não ser ra-
cional nem adequado.
Mencionar meio ambiente é, de longe, mais
abrangente do que apenas recursos naturais. Embo-
ra a disposição anterior fosse mais conservacionista
que a da Constituição Federal de 1988, o sentido é o
de utilizar adequadamente os recursos naturais ainda
disponíveis, o que pode gerar dúbias interpretações.
Citar apenas “relação de trabalho” é fla-
grante avanço de mentalidade diante da equivoca-
da expressão “justas relações de trabalho”, a qual
implicava num forçado juízo de valor. O favoreci-
mento do bem-estar referido pelo inciso IV do ar-
tigo 186 da Constituição Federal é bem mais amplo
que a expressão contida no artigo 2º do Estatuto
da Terra, a qual se referia apenas aos trabalhadores
daquela propriedade concretamente considerada
“que nela labutam”; essa limitação caiu por terra,
pois agora a referência é aos trabalhadores em ge-
ral, inclusive os que nela labutam.
A Lei 8.629/93, em seus artigos 6º e 9º, re-
gulamentou os critérios e graus de exigência relati-
vos à utilização e eficiência na exploração da terra,
para que se cumpra sua função social, em face dos
requisitos do artigo 186º da Constituição Federal de
1988, como seguem:
51
Artigo 6º- Considera-se propriedade produtiva
aquela que, explorada econômica e racionalmente, atinge,
simultaneamente, graus de utilização da terra e de efici-
ência na exploração, segundo índices fixados pelo órgão
federal competente.
§ 1º O grau de utilização da terra, para efeito
do caput deste artigo, deverá ser igual ou superior a
80% (oitenta por cento), calculado pela relação percen-
tual entre a área efetivamente utilizada e a área apro-
veitável total do imóvel.
§ 2º O grau de eficiência na exploração da terra
deverá ser igual ou superior a 100% (cem por cento), e
será obtido de acordo com a seguinte sistemática:
I - para os produtos vegetais, divide-se a quanti-
dade colhida de cada produto pelos respectivos índices de
rendimento estabelecidos pelo órgão competente do Poder
Executivo, para cada Microrregião Homogênea;
II - para a exploração pecuária, divide-se o nú-
mero total de Unidades Animais (UA) do rebanho, pelo
índice de lotação estabelecido pelo órgão competente do
Poder Executivo, para cada Microrregião Homogênea;
III - a soma dos resultados obtidos na forma dos
incisos I e II deste artigo, dividida pela área efetivamente
utilizada e multiplicada por 100 (cem), determina o grau
de eficiência na exploração.
§ 3º Considera-se efetivamente utilizadas:
I - as áreas plantadas com produtos vegetais;
II - as áreas de pastagens nativas e plantadas,
52
observado o índice de lotação por zona de pecuária, fixa-
do pelo Poder Executivo;
III - as áreas de exploração extrativa vegetal ou
florestal, observados os índices de rendimento estabeleci-
dos pelo órgão competente do Poder Executivo, para cada
Microrregião Homogênea, e a legislação ambiental;
IV - as áreas de exploração de florestas nativas,
de acordo com plano de exploração e nas condições estabe-
lecidas pelo órgão federal competente;
V - as áreas sob processos técnicos de formação
ou recuperação de pastagens ou de culturas permanen-
tes, tecnicamente conduzidas e devidamente comprovadas,
mediante documentação e Anotação de Responsabilida-
de Técnica. (Redação dada pela Medida Provisória nº
2.183-56, de 2001
§ 4º No caso de consórcio ou intercalação de cul-
turas, considera-se efetivamente utilizada a área total do
consórcio ou intercalação.
§ 5º No caso de mais de um cultivo no ano, com
um ou mais produtos, no mesmo espaço, considera-se efeti-
vamente utilizada a maior área usada no ano considerado.
§ 6º Para os produtos que não tenham índices de
rendimentos fixados, adotar-se-á a área utilizada com
esses produtos, com resultado do cálculo previsto no inciso
I do § 2º deste artigo.
§ 7º Não perderá a qualificação de propriedade
produtiva o imóvel que, por razões de força maior, caso
fortuito ou de renovação de pastagens tecnicamente con-
53
duzida, devidamente comprovados pelo órgão competente,
deixar de apresentar, no ano respectivo, os graus de efici-
ência na exploração, exigidos para a espécie.
§ 8º São garantidos os incentivos fiscais referentes
ao Imposto Territorial Rural relacionados com os graus
de utilização e de eficiência na exploração, conforme o
disposto no artigo 49º da Lei nº 4.504, de 30 de novem-
bro de 1964.
54
§ 3º Considera-se preservação do meio am-
biente a manutenção das características próprias do
meio natural e da qualidade dos recursos ambientais,
na medida adequada à manutenção do equilíbrio eco-
lógico da propriedade e da saúde e qualidade de vida
das comunidades vizinhas.
§ 4º A observância das disposições que regulam
as relações de trabalho implica tanto o respeito às leis
trabalhistas e aos contratos coletivos de trabalho, como às
disposições que disciplinam os contratos de arrendamento
e parceria rurais.
§ 5º A exploração que favorece o bem-estar dos
proprietários e trabalhadores rurais é a que objetiva o
atendimento das necessidades básicas dos que trabalham
a terra, observa as normas de segurança do trabalho e
não provoca conflitos e tensões sociais no imóvel.
55
3.1. TERRAS PÚBLICAS E TERRAS
PARTICULARES
56
a sua qualificação, na forma que a lei determinar.
Art. 101. Os bens públicos dominicais podem ser
alienados, observadas as exigências da lei.
Art. 102. Os bens públicos não estão sujeitos
a usucapião.
Art. 103. O uso comum dos bens públicos pode
ser gratuito ou retribuído, conforme for estabelecido legal-
mente pela entidade a cuja administração pertencerem.
57
oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as que conte-
nham a sede de Municípios, exceto aquelas áreas afeta-
das ao serviço público e a unidade ambiental federal, e
as referidas no art. 26, II; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 46, de 2005)
V - os recursos naturais da plataforma continen-
tal e da zona econômica exclusiva;
VI - o mar territorial;
VII - os terrenos de marinha e seus acrescidos;
VIII - os potenciais de energia hidráulica;
IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo;
X - as cavidades naturais subterrâneas e os sítios
arqueológicos e pré-históricos;
XI - as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios.
§ 1º - É assegurada, nos termos da lei, aos Es-
tados, ao Distrito Federal e aos Municípios, bem como a
órgãos da administração direta da União, participação
no resultado da exploração de petróleo ou gás natural, de
recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica
e de outros recursos minerais no respectivo território, pla-
taforma continental, mar territorial ou zona econômica
exclusiva, ou compensação financeira por essa exploração.
§ 2º - A faixa de até cento e cinqüenta quilôme-
tros de largura, ao longo das fronteiras terrestres, desig-
nada como faixa de fronteira, é considerada fundamental
para defesa do território nacional, e sua ocupação e utili-
zação serão reguladas em lei.
Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados:
58
I - as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes,
emergentes e em depósito, ressalvadas, neste caso, na for-
ma da lei, as decorrentes de obras da União;
II - as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que
estiverem no seu domínio, excluídas aquelas sob domínio
da União, Municípios ou terceiros;
III - as ilhas fluviais e lacustres não pertencentes
à União;
IV - as terras devolutas não compreendidas entre
as da União.
59
e interesse social (art. 5º, XXV, da Constituição
Federal); jazidas, minas e demais recursos minerais
(art. 176); desapropriação de imóvel rural para Re-
forma Agrária (art. 184, d);
b) Restrições Administrativas, como proteção ao
patrimônio histórico e artístico nacional, através de tom-
bamentos; leis edilícias que limitam o direito à construção
(plano diretor das cidades); etc;
c) Restrições de Natureza Militar, por exem-
plo: requisição de bens móveis e imóveis necessários às
Forças Armadas e à defesa da população (Dec.- lei nº
5.451/43); restrições às transações de imóveis nas faixas
de fronteira (Dec.- lei nº 6.430/44), etc;
d) Restrições destinadas a proteger a lavoura, co-
mércio ou indústria;
e) Limitações decorrentes das leis eleitorais, como
requisições de prédios para instalação de locais de vota-
ção; e limitações baseadas no interesse privado, tais como:
direitos de vizinhança; restrições quanto ao uso da pro-
priedade (arts. 186 e 188 do Código Civil);
f) Limitações similares às servidões; passagem for-
çada; passagem de cabos elétricos e tubulações (art. 1.286
do Código Civil); águas; limites entre prédios; direito de
tapagem (art. 1.297 do CC) e; direito de construir.
60
justamente em resposta aos clamores do mo-
mento histórico vivido no país.
61
situasse dentro dos limites territoriais do Império,
sem cultura, aproveitamento, sem exploração, não
possuída e desabitada.
As demais terras apossadas e não tituladas,
deveriam obter regularização pela forma fixada na
Lei e no Regulamento, sempre provada a exigência
dupla da cultura efetiva e morada habitual.
Um instituto genuinamente brasileiro onde
a definição é por exclusão; Na Constituição de 1891
transferiu aos Estados as terras devolutas, ficando
reservadas à União apenas as áreas destinadas à defe-
sa das fronteiras, fortificações, construções militares
e estradas de ferro, e terrenos de marinha.
O Decreto-lei nº 2.375/87 trouxe o con-
ceito de não serem devolutas as terras que even-
tualmente tenham sido arrecadadas ou discrimina-
das e matriculadas em nome da União por força
do Decreto-Lei nº 1.164 /71 (faixa de 100 km às
margens das rodovias citadas).
Constatamos na atualidade em nossa Cons-
tituição Federal de 1988 em seus artigos 20º e 225º,
parágrafo 5º, o que segue:
62
Art. 188. A destinação de terras públicas e de-
volutas será compatibilizada com a política agrícola e com
o plano nacional de reforma agrária.
§ 1º - A alienação ou a concessão, a qualquer
título, de terras públicas com área superior a dois mil e
quinhentos hectares a pessoa física ou jurídica, ainda que
por interposta pessoa, dependerá de prévia aprovação do
Congresso Nacional.
§ 2º - Excetuam-se do disposto no parágrafo an-
terior as alienações ou as concessões de terras públicas
para fins de reforma agrária
Art. 225 § 5º - São indisponíveis as terras de-
volutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações discrimi-
natórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.
63
habitual, bem como para incorporar ao patrimônio pú-
blico as terras devolutas federais ilegalmente ocupadas e
as que se encontrarem desocupadas
§ 1º Através de convênios, celebrados com os Es-
tados e Municípios, iguais poderes poderão ser atribuídos
ao Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, quanto às
terras devolutas estaduais e municipais, respeitada a le-
gislação local, o regime jurídico próprio das terras situa-
das na faixa da fronteira nacional bem como a atividade
dos órgãos de valorização regional.
§ 2º Tanto quanto possível, o Instituto Brasileiro
de Reforma Agrária imprimirá ao instituto das terras
devolutas orientação tendente a harmonizar as peculiari-
dades regionais com os altos interesses do desbravamento
através da colonização racional visando a erradicar os
males do minifúndio e do latifúndio.
64
3.3 REGISTROS PÚBLICOS
65
de agosto de 2001, com seus dispositivos, e, conse-
quentemente, os efeitos modificativos ocorridos na
matrícula do imóvel rural.
Dentro de um breve histórico sobre a matrí-
cula, seu conceito e sua natureza jurídica no direito
brasileiro, um paralelo da matrícula do imóvel rural
antes e depois da Lei nº 10.267/01 e, obviamente, as
conclusões finais.
66
tularidade da propriedade, pois, apesar de o imóvel
estar matriculado, o registro poderá ser retificado ou
anulado, conforme artigo 216º da Lei nº 6.015/73,
como segue:
67
Imóveis por via reflexa, uma vez que os lançamentos
feitos por ordem cronológica e os índices eram orga-
nizados tendo em consideração mais os nomes das
pessoas do que propriamente os imóveis.
Assim, se houvesse em um mesmo título a
transmissão de vários imóveis, o lançamento efetua-
do no registro “a transcrição” era uma só, em nome
da pessoa adquirente, então, efetuava-se um só as-
sentamento, um só registro, apesar de serem vários
imóveis, objeto da transmissão ou da alienação.
Evidentemente, a mudança na técnica regis-
tral teria que ser efetuada tendo por base o imóvel,
daí a razão do princípio da unitariedade, consagra-
do no artigo 176º, parágrafo 1º, inciso I, da Lei nº
6.015/73, de Registros Públicos, como segue: “I -
cada imóvel terá matrícula própria, que será aberta por oca-
sião do primeiro registro a ser feito na vigência desta Lei;”
68
O ilustre professor Afrânio de Carvalho nos
diz o seguinte:
69
sua natureza jurídica, podemos nos perguntar se a
matrícula seria apenas um ato puramente cadastral,
pois individualiza, caracteriza e representa minucio-
samente o imóvel ou um ato jurídico.
Novamente, o ilustre professor Afrânio de Car-
valho, em sua obra Registro de Imóveis, definiu a nature-
za jurídica da matrícula, nos dando a seguinte lição:
70
ser ato jurídico de aquisição da propriedade.
[...]
Ao entender a matrícula como primeira inscri-
ção, ao invés de deixá-la solta no mundo da irrelevância,
dá-se-lhe o único significado que ela pode assumir para
tornar útil todo o contexto da lei registral. Não há motivo
para duvidar do seu caráter jurídico, porque é ela que de-
fine, em toda a sua extensão, modalidades e limitações, a
situação jurídica do imóvel. Sendo, na essência, a mesma
transcrição, evolvida e atualizada sob nova forma para
adaptação ao livro estruturado pelo sistema real, conserva
a natureza jurídica com que surgiu.
71
Podemos verificar que os possíveis registros
e averbações terão como sustentação a matrícula.
Certamente, não foi por acaso que o legislador a
mencionou no caput do artigo ora comentado.
72
ção: (Redação dada pela Lei n. 10.267, de 2001)
a - se rural, do código do imóvel, dos dados cons-
tantes do CCIR, da denominação e de suas característi-
cas, confrontações, localização e área; (Incluída pela Lei
n. 10.267, de 2001)
b – [...]
4) o nome, domicílio e nacionalidade do proprie-
tário, bem como:
a) tratando-se de pessoa física, o estado civil, a
profissão, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas
Físicas do Ministério da Fazenda ou do Registro Geral
da cédula de identidade, ou à falta deste, sua filiação;
b) tratando-se de pessoa jurídica, a sede social e o
número de inscrição no Cadastro Geral de Contribuintes
do Ministério da Fazenda;
5) o número do registro anterior;
III - são requisitos do registro no Livro nº 2:
a data;
o nome, domicílio e nacionalidade do transmiten-
te, ou do devedor, e do adquirente, ou credor, bem como:
a) tratando-se de pessoa física, o estado civil, a
profissão e o número de inscrição no Cadastro de Pessoas
Físicas do Ministério da Fazenda ou do Registro Geral
da cédula de identidade, ou, à falta deste, sua filiação;
b) tratando-se de pessoa jurídica, a sede social e o
número de inscrição no Cadastro Geral de Contribuintes
do Ministério da Fazenda;
3) o título da transmissão ou do ônus;
73
4) a forma do título, sua procedência e caracterização;
5) o valor do contrato, da coisa ou da dívida,
prazo desta, condições e mais especificações, inclusive os
juros, se houver.
§ 2º [...]
§ 3o Nos casos de desmembramento, parcela-
mento ou remembramento de imóveis rurais, a identifi-
cação prevista na alínea a do item 3 do inciso II do §
1o será obtida a partir de memorial descritivo, assinado
por profissional habilitado e com a devida Anotação de
Responsabilidade Técnica – ART, contendo as coordena-
das dos vértices definidores dos limites dos imóveis rurais,
geo-referenciadas ao Sistema Geodésico Brasileiro e com
precisão posicional a ser fixada pelo INCRA, garantida
a isenção de custos financeiros aos proprietários de imó-
veis rurais cuja somatória da área não exceda a quatro
módulos fiscais. (Incluído pela Lei nº 10.267, de 2001)
§ 4o A identificação de que trata o § 3o tornar-
-se-á obrigatória para efetivação de registro, em qualquer
situação de transferência de imóvel rural, nos prazos fi-
xados por ato do Poder Executivo. (Incluído pela Lei n.
10.267, de 2001)
74
registro; conterá o número de ordem, que seguirá ao
infinito; a data; a identificação do imóvel; o nome,
domicílio e nacionalidade do proprietário e o núme-
ro do registro anterior.
Também no livro nº 2, os requisitos do re-
gistro são: a data; o nome, domicílio e nacionalidade
do transmitente, ou do devedor, e do adquirente, ou
credor; o título de transmissão ou do ônus; a forma
do título, sua procedência e caracterização; o valor do
contrato, da coisa ou da dívida, prazo desta, condições
e mais especificações, inclusive juros, se houver.
A redação que foi acrescentada ao artigo 176º
da Lei nº 6.015/73, com o advento da Lei nº 10.267/01.
Como requisitos da matrícula, o número 3, letra “a” do
artigo 176º, tratou da identificação do imóvel, que será
feita com indicação:“a) se rural, do código do imóvel, dos dados cons-
tantes do CCIR (Certificado de Cadastro de Imóvel Rural), da denominação
e de suas características, confrontações, localização e área; [...]”
A redação acima nos remete às cautelas que
devem ser tomadas quanto à identificação do imóvel
rural na matrícula, constando código próprio do re-
ferido bem, dados do CCIR, denominação, caracte-
rísticas e confrontações, localização por município,
comarca e a área em hectares e seus submúltiplos.
No parágrafo abaixo, a situação fica ain-
da mais complexa quando trata da identificação do
imóvel rural nos casos de desmembramento, parce-
lamento ou remembramento:
75
§ 3o Nos casos de desmembramento, parcelamento
ou remembramento de imóveis rurais, a identificação pre-
vista na alínea a do item 3 do inciso II do § 1o será obtida
a partir de memorial descritivo, assinado por profissional
habilitado e com a devida Anotação de Responsabilidade
Técnica – ART, contendo as coordenadas dos vértices de-
finidores dos limites dos imóveis rurais, geo-referenciadas
ao Sistema Geodésico Brasileiro e com precisão posicional
a ser fixada pelo INCRA, garantida a isenção de custos
financeiros aos proprietários de imóveis rurais cuja somató-
ria da área não exceda a quatro módulos fiscais.
76
Os dados são do INCRA, conforme pode ser
verificado no endereço eletrônico www.incra.gov.br (Sis-
tema Público de Registro de Terras - Lei 10.267/01),
demonstrando que o estado do Mato Grosso é o pio-
neiro em quantidade de imóveis já certificados pelo
novo sistema, seguido de São Paulo e Bahia. Em Mi-
nas Gerais, não consta nenhum lançamento georrefe-
renciado na base de dados do Incra.
Outro dado importante é que se o sistema
visa ao confronto exato dos imóveis certificados e
suas respectivas matrículas, contudo, nos dados infor-
mados pelo Incra, o código correspondente à matrí-
cula encontra-se sem o devido preenchimento, cau-
sando insegurança quanto ao objetivo do sistema.
Quanto à garantia de isenção de custos fi-
nanceiros aos proprietários de imóveis rurais, cuja
somatória da área não exceda a quatro módulos fis-
cais, o legislador, data vênia, não estipulou quem ar-
cará com os custos advindos de tal procedimento.
No parágrafo 4º, quando se atrelou o geore-
ferenciamento a qualquer situação de transferência
do direito real sobre o imóvel rural, a obrigatorie-
dade de sua identificação, com os prazos fixados no
artigo 10 do Decreto Federal nº 4.449/2002, sendo
que o último prazo, previsto no inciso IV, expiraria
em outubro de 2005, obviamente, concluímos que
todos os imóveis deveriam, até tal data, estar devida-
mente identificados pelo novo sistema, sob pena do
77
total engessamento dos negócios jurídicos imobiliá-
rios, junto ao registro competente.
Tal afirmativa pode ser confirmada pela leitura
do texto legal abaixo: “§ 4o A identificação de que trata o §
3o tornar-se-á obrigatória para efetivação de registro, em qualquer
situação de transferência de imóvel rural, nos prazos fixados por
ato do Poder Executivo”
78
Capítulo 4
CLASSIFICAÇÃO FUNDIÁRIA
A
CLASSIFICAÇÃO FUNDIÁRIA de imóveis
passíveis de intervenção para correção do re-
gime de uso e posse da terra veio regularizada
pela Lei n.º 4.504, de 1964, identificando: Minifúndio,
Empresa Rural, Latifúndio por Exploração, Latifúndio
por Dimensão. E o que se observa na atualidade com a
Lei n.º 8.629, de 1993, é a definição de pequena proprie-
dade; média propriedade; propriedade produtiva.
O Estatuto da Terra Lei n.º 4.504/64 em
seu artigo 4.º, inciso II, define como “Propriedade
Familiar” o imóvel rural que, direta e pessoalmente
explorado pelo agricultor e sua família, lhes absorva
toda a força de trabalho, garantindo-lhes a subsistên-
cia e o progresso social e econômico, com área má-
xima fixada para cada região e tipo de exploração e,
eventualmente, trabalhado com a ajuda de terceiros.
Nesse contexto, temos o conceito de mó-
dulo rural que é derivado do conceito de pro-
priedade familiar, e, é uma unidade de medida
79
expressa em hectares, que busca exprimir a in-
terdependência entre a dimensão, a situação geo-
gráfica dos imóveis rurais e a forma e condições
do seu aproveitamento econômico.
O Módulo Rural, atualmente, é utilizado para
definir os limites da dimensão dos imóveis rurais no
caso de aquisição por pessoa física estrangeira, resi-
dente no País. Neste caso, utiliza-se como unidade
de medida o módulo de exploração indefinida.
O Módulo Fiscal é uma unidade de medida
expressa em hectares, fixada para cada município,
considerando os seguintes fatores: tipo de explora-
ção predominante no município; renda obtida com
a exploração predominante; outras explorações exis-
tentes no município que, embora não predominan-
tes, sejam significativas em função da renda ou da
área utilizada; e conceito de propriedade familiar.
Em sua aplicação, serve de parâmetro para
classificação do imóvel rural quanto ao tamanho, na
forma da Lei n.º 8.629, de 25 de fevereiro de 1993. Pe-
quena Propriedade – o imóvel rural de área compre-
endida entre 1(um) e 4(quatro) módulos fiscais; Média
Propriedade - o imóvel rural de área de área superior
a 4 (quatro) e até 15 (quinze) módulos fiscais. Serve
também de parâmetro para definir os beneficiários do
PRONAF (pequenos agricultores de economia fami-
liar, proprietários, meeiros, posseiros, parceiros ou ar-
rendatários de até 4 (quatro) módulos fiscais).
80
A diferença entre Módulo Rural e Módulo
Fiscal, esta que no Módulo Rural é calculado para
cada imóvel rural em separado, e sua área reflete o
tipo de exploração predominante no imóvel rural,
segundo sua região de localização e já no Módulo
Fiscal por sua vez é estabelecido para cada municí-
pio, e procura refletir a área mediana dos Módulos
Rurais dos imóveis rurais do município.
As normas que estabelecem procedimentos
para atualização cadastral de imóveis rurais sob Pro-
cesso de Fiscalização Cadastral são as seguintes:
81
especial seus artigos 1.º e 2.º, que determinam
o cancelamento seguido de recadastramento no
SNCR dos imóveis rurais com área igual ou supe-
rior a 10.000,0 ha. As normas citadas nos itens a),
e e) encontram-se disponíveis no site do INCRA.
Aquelas citadas nos itens b) e c) tratam de pro-
cedimentos internos da Autarquia e possuem dis-
ponibilizadas no site as informações de interesse
direto do público externo sob o título do “Livro
Branco da Grilagem de Terras no Brasil”, onde
se encontra a documentação necessária para reca-
dastramento dos imóveis rurais no SNCR, com as
“Instruções para comprovação de dados” e “Ins-
truções para elaboração do Laudo Técnico”.
82
4.1. CADASTRO RURAL
83
O Estatuto da Terra que deu ensejo a
criação do Cadastro de Imóveis Rurais, onde o
primeiro levantamento foi feito em 1966 com
foco no zoneamento agrário, Políticas de Refor-
ma e desenvolvimento agrário visualizando a tri-
butação da terra.
Diante das necessidades que foram surgindo
para o controle agrário, surge ainda a Lei n.º. 5.868,
de 12 de dezembro de 1972 que cria o Sistema Na-
cional Cadastro Rural, sendo seus primeiros recadas-
tramentos feitos em 1972, 1978 e 1992 e o ponto
primordial Focado na Tributação da Terra até 1990,
seguido das implementações nas políticas de Refor-
ma Agrária, após 1984.
A Lei n.º. 10.267, de 28 de agosto de 2001,
cria a integração entre Cadastros Públicos de Imó-
veis Rurais – CNIR, com vinculação ao Serviço
de Registro Imobiliário, onde há troca de infor-
mações entre o Incra e Cartórios para o controle
sobre os imóveis públicos e privados, observando
a sobreposição e legalidade dos documentos ini-
bindo os fraudadores (grilagem).
A Lei citada que cria o Sistema Público de
Registro de Terras, estreitando o vínculo entre o ca-
dastro nacional de imóveis rurais (Incra) e o registro
imobiliário (sistema cartório), exige a apresentação
de planta georreferenciada do imóvel rural, para que
qualquer transação imobiliária possa ser efetivada
84
pelo sistema cartorário, plantas essas elaboradas se-
gundo padrão estabelecido pelo Incra.
Os objetivos sempre foram os de caracteri-
zação do domínio e uso da terra, incluindo títulos
de domínio, natureza da posse, localização geográfi-
ca, área com descrição das linhas de divisas e nome
dos respectivos confrontantes, dentre outras medi-
das necessárias para a demarcação, identificando, em
alguns casos, grupamento dos vários imóveis rurais
que pertenciam a um único proprietário. Este Cer-
tificado de Cadastro de Imóveis Rurais (documento
expedido pelo INCRA e que não faz prova de pro-
priedade ou de direitos a ela relativos).
85
Cabe ao Instituto Brasileiro de Reforma
Agrária, atualmente Instituto Nacional de Colo-
nização e Reforma Agrária – INCRA, promover
estudos para o zoneamento do Brasil, em regiões
homogêneas, precisamente quanto às caracterís-
ticas da estrutura agrária e socioeconômica, onde
o Estatuto da Terra, em seu artigo 43.º, vem vi-
sando definir como segue:
86
4.3. ELEMENTOS DO ZONEAMENTO
RURAL
87
I - estabelecer as diretrizes da política agrária a
ser adotada em cada tipo de região;
II - programar a ação dos órgãos governamentais,
para desenvolvimento do setor rural, nas regiões delimita-
das como de maior significação econômica e social.
88
a) do proprietário e de sua família;
b) dos títulos de domínio, da natureza da posse e
da forma de administração;
c) da localização geográfica;
d) da área com descrição das linhas de divisas e
nome dos respectivos confrontantes;
e) das dimensões das testadas para vias públicas;
f) do valor das terras, das benfeitorias, dos equi-
pamentos e das instalações existentes discriminadamente;
[...]
III - condições da exploração e do uso da ter-
ra, indicando:
a) as percentagens da superfície total em cerrados,
matas, pastagens, glebas de cultivo (especificadamente em
exploração e inexplorados) e em áreas inaproveitáveis;
b) os tipos de cultivo e de criação, as formas de
proteção e comercialização dos produtos;
c) os sistemas de contrato de trabalho, com
discriminação de arrendatários, parceiros e traba-
lhadores rurais;
d) as práticas conservacionistas empregadas e o
grau de mecanização;
e) os volumes e os índices médios relativos à pro-
dução obtida;
f) as condições para o beneficiamento dos pro-
dutos agropecuários.
89
Lembrando que se deve observar a forma
indicada no regulamento (Decreto n.º 55.891/65).
A obrigatoriedade da atualização do cadas-
tro se dá pela inclusão de novos imóveis rurais e pela
alteração das condições físicas e de exploração dos
referidos imóveis rurais a cada 5 anos.
Os certificados serão emitidos com a de-
claração de “Provisório” ou “ Definitivo”, res-
pectivamente nos casos em que tenha ou não
havido exigência de documentação adicional aos
dados fornecidos.
Aquele que se utilizar, de forma fraudulen-
ta do certificado de cadastro expedido pelo INCRA
será punido, segundo a Lei n.º 4.947/66, que em seu
artigo 19.º defini o que segue:
90
4.5. - TRIBUTAÇÃO RURAL
91
50.º do referido Estatuto e foi regulamentada pelo
Decreto n.º 84.685/80, como segue:
92
I - será progressivo e terá suas alíquotas fixadas
de forma a desestimular a manutenção de propriedades
improdutivas; (Incluído pela Emenda Constitucional n.º
42, de 19.12.2003)
II - não incidirá sobre pequenas glebas rurais,
definidas em lei, quando as explore o proprietário que
não possua outro imóvel; (Incluído pela Emenda Consti-
tucional n.º 42, de 19.12.2003)
III - será fiscalizado e cobrado pelos Municípios
que assim optarem, na forma da lei, desde que não im-
plique redução do imposto ou qualquer outra forma de
renúncia fiscal.(Incluído pela Emenda Constitucional n.º
42, de 19.12.2003) (Regulamento)
93
Art. 29-A. O total da despesa do Poder Legislativo
Municipal, incluídos os subsídios dos Vereadores e excluídos
os gastos com inativos, não poderá ultrapassar os seguintes
percentuais, relativos ao somatório da receita tributária e das
transferências previstas no § 5o do art. 153 e nos arts. 158
e 159, efetivamente realizado no exercício anterior. (Incluído
pela Emenda Constitucional n.º 25, de 2000)
94
Retroagindo, quando o lançamento e a arre-
cadação do ITR estavam a cargo do INCRA, o re-
passe aos municípios da situação do imóvel era de
80%, sendo que o órgão arrecadador retinha 20% do
produto para ressarcir as despesas.
95
cumentos que expede se a tributação sobre a terra
esta sendo feita a título de propriedade, ou domínio
útil, ou posse a qualquer título e face ao interesse
público e social subjacente decorrente dos seus efei-
tos extrafiscais e fazer incidir em todas as suas con-
sequências as normas contidas na Lei n.º 4.947/66,
artigo 22.º e do Decreto n.º 56.792/65, artigo 55.º.
É contribuinte do Imposto Territorial Ru-
ral “elemento pessoal, subjetivo”, o proprietário do
imóvel, o titular do seu domínio útil, ou o seu pos-
suidor a qualquer título.
Para que se estabeleça a relação jurídica tri-
butária é necessário que ocorram todos os aspectos
ou elementos objetivos ou subjetivos que a lei define
de forma expressa ou implícita.
Quanto ao direito tributário e financeiro, há
institutos com os quais o agrarista trabalha, o capítulo
sobre tributação da terra, estabelecido no artigo 47.º
do Estatuto, o lançamento e cobrança dos tributos.
O Imposto Territorial Rural (ITR), de com-
petência da União, incidente sobre imóvel, por natu-
reza, fora da zona urbana do município, tem como
base de cálculo o valor fundiário. Este tributo cons-
titui objeto de estudo do tributarista e do estudioso
do Direito Agrário, visto como as normas para a sua
fixação estão previstas no Estatuto da Terra.
A propósito, preceitua o artigo 49.º caput e
seus incisos, I, II, III, IV, V, VI, VII, como segue:
96
Art. 49 - As normas gerais para a fixação do
imposto sobre a propriedade territorial rural obedecerão
a critérios de progressividade e regressividade, levando-se
em conta os seguintes fatores:
I - os valores da terra e das benfeitorias do imóvel;
II - a área e dimensões do imóvel e das glebas de
diferentes usos;
III - a situação do imóvel em relação aos elemen-
tos do inciso II do art. 46;
IV - as condições técnicas e econômicas de explo-
ração agropecuária industrial;
V - a natureza de posse e as condições de contra-
tos e arrendatários, parceiros e assalariados;
VI - a classificação das aterras e suas formas de
uso e rentabilidade;
VII - a área total agricultável do conjunto de
imóveis rurais de um mesmo proprietário no País.
97
fato gerador a propriedade, o domínio útil ou
a posse de imóvel por natureza, localizado fora da
zona urbana do município, em 1.º de janeiro de cada ano.
98
Da mesma forma, existem situações que di-
zem respeito não à imunidade, mas à isenção tribu-
tária do Imposto Territorial Rural (ITR). Essas situa-
ções encontram-se relacionadas nos incisos I e II do
artigo 3.º da Lei n.º 9.393 /96, como segue:
99
incisos do artigo 10.º da referida Lei, que se consti-
tuem em condições relativas à exclusão da base de
cálculo do Imposto Territorial Rural (ITR).
Nesse sentido, as alíneas “a”, “b”, “c”, “d”,
e “e”, do inciso II, do art. 10 da Lei n.º 9.393/96 di-
zem respeito à proteção ambiental. Como pode ser
observado, apenas uma das alíneas, ou seja, a alínea
“f ”, não diz respeito, diretamente, à proteção am-
biental. Tudo, em consonância com o que dispõe o
inciso II, do artigo 186.º da Constituição Federal.
Considerando a referida exclusão da base de
cálculo, podemos observar que se trata de um pri-
vilégio aos contribuintes desse tributo. Trata-se de
um direito não apenas do contribuinte, mas de todos
os brasileiros, uma vez que, efetivamente cumprida
a destinação dessas áreas, o meio ambiente poderá
ser protegido.
Exemplos referentes a esse tema são as deno-
minadas Áreas de Preservação Permanente (APPs) e
da denominada Reserva Legal Florestal (RLF).
Da mesma forma que para as Áreas de Pre-
servação Permanente (APPs), basta existir a proprie-
dade rural para que se tenha a Reserva Legal Flores-
tal; muito embora exista, nesse caso, a necessidade
de que o proprietário rural faça a respectiva averba-
ção dessa RLF na matrícula do imóvel.
Qualquer que seja a situação, Área de Pre-
servação Permanente (APP) ou Reserva Legal Flo-
100
restal (RLF), tem-se uma limitação ao direito de pro-
priedade ditada única e tão somente pela Lei.
Assim, uma vez que o proprietário não
terá condições de se utilizar de tais áreas, o legisla-
dor os isenta da incidência do Imposto Territorial
Rural (ITR), tanto para não onerá-lo, como para
ser efetivamente possível proteger os recursos
ambientais lá existentes.
101
Selma Freitas
Direito Ambiental
Direito Agrario
Capítulo 5
CONTRATOS AGRÁRIOS
O
DIREITO CIVIL tem um relacionamen-
to distante com o Direito Agrário, tendo
em vista os enfoques ontologicamente di-
ferentes, no que toca ao direito de propriedade.
É público e notório que a função social da
propriedade é um dos dogmas do Direito Agrário, e
o Direito Civil se limita a um tratamento liberal da
propriedade, acolhendo a teoria de que a propriedade
é um direito subjetivo de usar, fruir da coisa. Esta po-
sição não é totalmente acolhida pelo Direito Agrário.
Além do Direito de Propriedade, há certos
institutos regulamentados pelo Direito Civil que in-
terferem na ordem rural. Como o da servidão, o da
hipoteca, o do condomínio e outros tantos.
Sobre o Direito de Propriedade, afirma o
professor Paulo Torminn Borges:
103
a fórmula jurídica original cristianizou-se, humanizan-
do-se e pondo-se, simultaneamente, a serviço do homem e
da comunidade.
O direito agrário, quanto ao imóvel rural, senti-
mos ser o direito de propriedade a faculdade que a pes-
soa tem de possuí-lo como próprio, com deve correto de
utilizá-lo conforme o exigir o bem-estar da comunidade.
104
rece ser mais adequada do que contratos inomina-
dos, uma vez que se referem a contratos que não
possuem referência na lei, mas possuem, de fato,
nomes próprios.
O Direito Agrário, por ser um ramo autônomo
da ciência jurídica, possui características próprias que se
distinguem do Direito Civil comum. Enquanto este tem
por base o liberalismo e o individualismo nas relações,
com ampla autonomia de vontade, aquele possui um ca-
ráter público, com normas obrigatórias e irrenunciáveis.
Os contratos agrários podem ser expressos
ou tácitos, escritos ou verbais, sendo admitidas teste-
munhas como prova do contrato, qualquer que seja
seu valor, no Estatuto da Terra, artigo 92.º, caput, pa-
rágrafo 8.º e no Decreto n.º 59.566/66, nos artigos
11.º e 14.º, conforme seguem:
105
Artigo 11.º, Decreto 59.566/66 - Os contratos de
arrendamento e de parceria poderão ser escritos ou verbais.
Nos contratos verbais presumem-se como ajustadas as cláu-
sulas obrigatórias estabelecidas no artigo deste Regulamento.
§ 1.º O arrendador ou o parceiro-outorgante de-
verá encontrar-se na posse do imóvel rural e dos bens, a
qualquer título que lhes dê o direito de exploração e de
destinação aos fins contratuais.
§ 2.º Cada parte contratante poderá exigir da
outra a celebração do ajuste por escrito, correndo as des-
pesas pelo modo que convencionarem.
Artigo 14.º, Decreto 59.566/66 - Os contratos
agrários, qualquer que seja o seu valor e sua forma, po-
derão ser provados por testemunhas (Art. 92, § 8.º, do
Estatuto da Terra).
106
derante inclusive a especialidade da norma agrária em
face da regra procedimental comum.
107
possui, ao mesmo tempo, normas de caráter públi-
co e privado.
A legislação acerca do Direito Agrário está
assentada sobre três grandes princípios, quais sejam:
Função Social da Propriedade, Justiça Social e Preva-
lência do Interesse Público, fundamentadas nos ar-
tigos 186.º da Constituição Federal de 1988 e artigo
2.º do Estatuto da Terra, como seguem:
108
tos sociais que a circundam. Haja vista que há nor-
mas que protegem o interesse social em detrimento
do individual.
O Decreto n.º 59.566/66, consi-
derando as especificações contidas, vem recomen-
dando em seu artigo 12.º os requisitos mínimos dos
contratos agrários, como segue:
109
mites e confrontações e área em hectares e fração),
enumeração das benfeitorias (inclusive edificações
e instalações), dos equipamentos especiais, dos veí-
culos, máquinas, implementos e animais de traba-
lho e, ainda, dos demais bens e ou facilidades com
que concorre o arrendador ou o parceiro-outorgante;
VIII - prazo de duração, preço do arrendamento ou con-
dições de partilha dos frutos, produtos ou lucros havidos,
com expressa menção dos modos, formas e épocas desse
pagamento ou partilha;
IX - cláusulas obrigatórias com as condições enu-
meradas no art. 13 do presente Regulamento, nos artigos
93 a 96 do Estatuto da Terra e no art. 13 da Lei n.º
4.947, de 6 de abril de 1966;
X - foro do contrato;
XI - assinatura dos contratantes ou de pessoa a
seu rogo e de 4 (quatro) testemunhas idôneas, se analfa-
betos ou não puderem assinar.
Parágrafo único. As partes poderão ajustar ou-
tras estipulações que julguem convenientes aos seus in-
teresses, desde que não infrinjam o Estatuto da Terra,
a Lei n.º 4.947, de 6 de abril de 1966, e o presente
Regulamento.
110
Art. 2.º - Todos os contratos agrários reger-se-ão
pelas normas do presente Regulamento, as quais serão
de obrigatória aplicação em todo o território nacional e
irrenunciáveis os direitos e vantagens nelas instituídos
(art.13, inciso IV da Lei n.º 4.947-66).
Parágrafo único. Qualquer estipulação contratual
que contrarie as normas estabelecidas neste artigo, será
nula de pleno direito e de nenhum efeito.
111
vigente no país conforme versa no nosso Código de
Processo Civil: “Art. 401- A prova exclusivamente tes-
temunhal só se admite nos contratos cujo valor não exceda o
décuplo do maior salário mínimo vigente no país, ao tempo em
que foram celebrados.”
Diante dessas diferenças, é de fundamental
importância saber definir quando um contrato, em
um eventual conflito entre as partes, será regulado
pelo Estatuto da Terra e o Decreto n.º 59.566/66
ou exclusivamente pelo Código Civil, pois as normas
e princípios aplicados não só serão diferentes, mas
também serão, muitas vezes, opostos.
O Estatuto da Terra e o regulamento trazido
pelo Decreto silenciam a respeito do tema, não há uma
clara definição do que seja contrato agrário e, consequen-
temente, quando serão aplicados os princípios exclusivos
do Direito Agrário e suas normas de ordem pública.
Importante salientar que não se pode levar
em conta a localização como fator diferenciador,
pois é possível que se tenha um contrato de loca-
ção regido pela Lei n.º 8.245/91 em uma área não
urbana, e, de mesma forma, não será impossível um
Contrato Agrário em meio à cidade. Tal recurso é
usado apenas para fins de tributação, como dita o
artigo 29.º do Código Tributário Nacional:
112
dor a propriedade, o domínio útil ou a posse de imóvel por
natureza, como definido na lei civil, localização fora da
zona urbana do Município.
113
ração, não ultrapassando o período de 1 ano. Deste
modo, nota-se que os prazos mínimos de 3, 5 ou 7
anos, obrigatórios nos contratos agrários, são inaplicá-
veis na realidade dos negócios jurídicos de pastoreio.
Observemos o Decreto n.º 59.566/66, como segue:
114
no mínimo, a tecnologia de uso corrente nas zonas em
que se situe;
b) mantenha as condições de administração e as
formas de exploração social estabelecidas como mínimas
para cada região.
Art. 39- Quando o uso ou posse temporária da
terra for exercido por qualquer outra modalidade contra-
tual, diversa dos contratos de Arrendamento e Parceria,
serão observadas pelo proprietário do imóvel as mesmas
regras aplicáveis a arrendatários e parceiros, e, em espe-
cial a condição estabelecida no art. 38 supra.
115
Não se está em sede de contrato agrário e por isto
não aplicáveis, salvo melhor juízo, seus princípios, a não
ser os gerais aplicáveis a todos os contratos, pois a pre-
ocupação do legislador, segundo Paulo Torminn Borges,
foi a de: 1. “Delinear cada um dos principais institutos
de direito agrário, precisamente, evitando perda de tempo
futuro nas construções doutrinárias e jurisprudenciais.
116
lativo não institui o novo Estatuto da Terra, pelos
inúmeros entraves políticos, cabe ao judiciário “não
legislar”, mas efetivamente estabelecer procedimen-
tos e soluções equitativas nas composições das lides
agrárias, principalmente na relação contratual.
Vemos que o fator determinante para a ca-
racterização do contrato agrário é a sua finalidade.
A destinação do pacto feito em contrato é o critério
adequado para determinar se a relação se insere en-
tre os contratos agrários ou outro ramo do Direito
Civil, independente da localização do imóvel situado
no negócio jurídico, percebe-se então que é perfeita-
mente possível existirem contratos agrários no meio
urbano e contratos civis ou de locação (regidos pela
Lei do Inquilinato) no meio rural.
O Estatuto da Terra e o Decreto n.º
59.566/66, ambos com mais de quarenta anos, re-
presentam grande avanço na legislação brasileira; e
sem pretensão de esgotar o tema, finalizamos com
as considerações de que a regulamentação do Direi-
to Agrário, de forma inadequada, só pode ser alte-
rada por Lei Federal, no entanto, evidenciamos que
as relações no meio rural são norteadas por usos e
costumes regionais, normalmente no caso dos con-
tratos agrários atípicos ou inominados, de forma
que, ante a extensão do território brasileiro, torna-se
impossível o devido tratamento.
117
5.4. CONTRATOS NOMINADOS OU
TÍPICOS
118
Diferentemente do arrendamento, a parceria
rural é a modalidade contratual pela qual o parceiro
proprietário cede ao parceiro produtor o uso da ter-
ra, partilhando com este os riscos do caso fortuito
e da força maior e os frutos do produto da colheita
ou da venda dos animais, conforme artigo 4.º e 5.º
do Decreto n.º 59.566/66 e § 1.º do artigo 96.º do
Estatuto da Terra, com a nova redação dada pela Lei
11.443/07), como segue:
119
Art. 5.º Dá-se a parceria:
I - agrícola, quando o objeto da cessão for o uso de
imóvel rural, de parte ou partes do mesmo, com o objetivo
de nele ser exercida a atividade de produção vegetal;
II - pecuária, quando o objetivo da cessão forem
animais para cria, recria, invernagem ou engorda;
III - agro-industrial, quando o objeto da ses-
são for o uso do imóvel rural, de parte ou partes do
mesmo, ou maquinaria e implementos, com o objetivo
de ser exercida atividade de transformação de produto
agrícola, pecuário ou florestal;
IV - extrativa, quando o objeto da cessão for
o uso de imóvel rural, de parte ou partes do mesmo,
e ou animais de qualquer espécie, com o objetivo de
ser exercida atividade extrativa de produto agrícola,
animal ou florestal;
V - mista, quando o objeto da cessão abranger
mais de uma das modalidades de parceria definidas nos
incisos anteriores.
120
nado ou não, o uso específico de imóvel rural, de parte ou
partes dele, incluindo, ou não, benfeitorias, outros bens
e/ou facilidades, com o objetivo de nele ser exercida ati-
vidade de exploração agrícola, pecuária, agroindustrial,
extrativa vegetal ou mista; e/ou lhe entrega animais para
cria, recria, invernagem, engorda ou extração de maté-
rias-primas de origem animal, mediante partilha, isolada
ou cumulativamente, dos seguintes riscos: (Incluído pela
Lei n.º 11.443, de 2007).
I - caso fortuito e de força maior do empreendi-
mento rural; (Incluído pela Lei n.º 11.443, de 2007).
II - dos frutos, produtos ou lucros havidos nas
proporções que estipularem, observados os limites percen-
tuais estabelecidos no inciso VI do caput deste artigo;
(Incluído pela Lei n.º 11.443, de 2007).
III - variações de preço dos frutos obtidos na ex-
ploração do empreendimento rural. (Incluído pela Lei n.º
11.443, de 2007).
121
terra preparada, com benfeitorias, máquinas e até
com animais, variando em função disso o limite má-
ximo da sua participação nos frutos.
É oportuno ressaltar que nas parcerias, além
das normas do Decreto em referência, aplicam-se as
regras do contrato de sociedade, desde que não haja
regulação diversa ou específica no Estatuto da Terra.
A exploração da terra, por meio de parcerias
e arrendamentos, demonstra um fenômeno antigo
e que constantemente se atualiza de acordo com as
novas realidades. Atualmente, a cessão do uso da ter-
ra é importante ferramenta para o aumento da efici-
ência dos produtores rurais.
O parceiro e o arrendatário deixaram de de-
pender da terra alheia para a subsistência. São, na
atualidade, os empreendedores do agronegócio que
investem na produção profissional e na adequada
utilização do solo, pois os proprietários não têm,
muitas vezes, capacitação ou recursos.
A cessão do uso da propriedade rural para
exploração de atividades agrícolas ou pastoris é re-
gulada pelo Estatuto da Terra e pode receber a for-
ma jurídica de Arrendamento ou de Parceria Rural.
Há diferença entre o arrendamento e a parce-
ria rural e essa diferença estrutural implica em impor-
tantes consequências jurídicas, no âmbito civil e fiscal.
122
5.4.2. DOS ARRENDAMENTOS RURAIS
123
arrendador. Este, por sua vez, tem segurada em con-
trapartida, uma obrigação de pagar do arrendatário,
independentemente da produção.
Fica evidenciado o isolamento dos riscos
em um dos polos da relação jurídica, e isso sempre
distanciou a interpretação dos contratos de arrenda-
mento de uma postura imparcial.
Nesse tipo de contrato não se considera a
totalidade de igualdade no sentido “paritário”. Pelo
contrário, sempre preponderou a percepção de que
o arrendatário teria que ser protegido como a parte
mais fraca do negócio e de que a liberdade contratu-
al seria submetida aos princípios da “função social”
que o arrendamento exerce.
O Estatuto da Terra traz em seu escopo uma
forma de fazer equivaler o jogo de forças no contra-
to, concedendo proteção ao arrendatário por meio
de normas cogentes, capazes de amenizar o império
do proprietário sobre a fraqueza do produtor.
Ressalta-se que, por serem normas de direi-
to público, as condições do arrendamento rural não
podem deixar de ser observadas, nem ser afastadas,
por disposição contratual.
As partes interessadas em contratar mere-
cem dar bastante atenção as principais limitações
impostas pela legislação agrária, tais como:
a) prazo mínimo de 3 anos para a vigência
do contrato;
124
b) direito de preferência na aquisição do imóvel;
c) direito a indenização das benfeitorias ne-
cessárias e úteis feitas no imóvel;
d) limitação do preço do aluguel em função
do valor cadastral do imóvel e
e) direito à renovação do contrato de ar-
rendamento.
Temas esses elencados no artigo 95.º do
Estatuto da Terra e artigo 13.º do Decreto n.º
59.566/66, como segue:
125
O direito de renovação que trata o artigo
95.º inciso IV estabelecia a redação do Estatuto da
Terra que o proprietário arrendador deveria notificar
o arrendatário, com antecedência de 6 meses do fim
do contrato, das propostas de arrendamento exis-
tentes, oferecendo-lhe a oportunidade de exercer o
direito de preferência.
Após esse prazo, deferia-se a oportunidade
do arrendatário “locatário” declinar do arrendamen-
to ou fazer outra proposta; se não houvesse novo
ajuste, o contrato restaria prorrogado automatica-
mente por tempo indeterminado. Pela letra da lei, o
arrendador quase não tinha, por conseguinte, opção
para desvencilhar-se do arrendatário.
Com a nova redação do inciso IV do Artigo
95.º, no entanto, restabeleceu-se o domínio do ar-
rendador sobre o contrato.
Com efeito, é este agora que tem a faculdade
de desistir do arrendamento ou fazer nova propos-
ta, afastando a prorrogação automática do contrato.
Veja-se, o texto da lei:
126
camente renovado, desde que o arrendador, nos 30 (trinta)
dias seguintes, não manifeste sua desistência ou formule
nova proposta, tudo mediante simples registro de suas de-
clarações no competente Registro de Títulos e Documentos;
(Redação dada pela Lei n.º 11.443, de 2007).
127
VII - poderá ser acertada, entre o proprietário e
arrendatário, cláusula que permita a substituição de área
arrendada por outra equivalente no mesmo imóvel rural,
desde que respeitadas as condições de arrendamento e os
direitos do arrendatário.
128
investimentos, na forma de uma prorrogação obri-
gatória do Contrato de Arrendamento, que conti-
nua, portanto, sendo devido o “aluguel”.
Essa permanência depende da impetração
de medida judicial adequada, qual seja, embargos
de retenção por benfeitorias com evidentemente da
boa-fé do arrendatário, regida pelo artigo 744.º do
Código de Processo Civil, como segue:
129
...IX - constando do contrato de arrenda-
mento animais de cria, de corte ou de trabalho, cuja
forma de restituição não tenha sido expressamente
regulada, o arrendatário é obrigado, findo ou res-
cindido o contrato, a restituí-los em igual número,
espécie e valor;
X - o arrendatário não responderá por qualquer
deterioração ou prejuízo a que não tiver dado causa;
XI - na regulamentação desta Lei, serão com-
plementadas as seguintes condições que, obrigatoriamente,
constarão dos contratos de arrendamento:
a) limites da remuneração e formas de pagamento
em dinheiro ou no seu equivalente em produtos; (Redação
dada pela Lei n.º 11.443, de 2007).
b) prazos mínimos de arrendamento e limites de
vigência para os vários tipos de atividades agrícolas; (Re-
dação dada pela Lei n.º 11.443, de 2007).
c) bases para as renovações convencionadas;
d) formas de extinção ou rescisão;
e) direito e formas de indenização ajustadas
quanto às benfeitorias realizadas;...
130
exclusivamente para exploração de alta rentabilida-
de, caso em que o limite é aumentado para 30%.
O valor cadastral considerado para o limite
estipulado por esse dispositivo, consoante a juris-
prudência pacífica do Superior Tribunal de Justiça,
é aquele constante da declaração do Imposto Terri-
torial Rural (ITR), incluídos os valores referentes à
Terra Nua e às suas benfeitorias, como segue:
131
lamento.(Incluído pela Medida Provisória n.º 2.183-56,
de 2001) (Regulamento)
Parágrafo único. Os imóveis que integrarem o
Programa de Arrendamento Rural não serão objeto de
desapropriação para fins de reforma agrária enquanto se
mantiverem arrendados, desde que atendam aos requisi-
tos estabelecidos em regulamento. (Incluído pela Medida
Provisória n.º 2.183-56, de 2001).
132
que ocorra atividade de exploração de lavoura temporária
e ou de pecuária de pequeno e médio porte; ou em todos
os casos de parceria;
- de 5 (cinco), anos nos casos de arrendamento em
que ocorra atividade de exploração de lavoura permanen-
te e ou de pecuária de grande porte para cria, recria, en-
gorda ou extração de matérias primas de origem animal;
- de 7 (sete), anos nos casos em que ocorra ativi-
dade de exploração florestal;
b) observância, quando couberem, das normas es-
tabelecidas pela Lei número 4.771, de 15 de setembro de
1965, Código Florestal, e de seu Regulamento constante
do Decreto 58.016 de 18 de março de 1966;
c) observância de práticas agrícolas admitidas
para os vários tipos de exportação intensiva e extensiva
para as diversas zonas típicas do país, fixados nos Decre-
tos número 55.891, de 31 de março de 1965 e 56.792
de 26 de agosto de 1965.
III - Fixação, em quantia certa, do preço do ar-
rendamento, a ser pago em dinheiro ou no seu equivalente
em frutos ou produtos, na forma do art. 95, inciso XII,
do Estatuto da Terra e do art. 17 deste Regulamento, e
das condições de partilha dos frutos, produtos ou lucros
havidos na parceria, conforme preceitua o art.96 do Es-
tatuto da Terra e o art. 39 deste Regulamento.
IV - Bases para as renovações convencionadas
seguido o disposto no artigo 95, incisos IV e V do Esta-
tuto da Terra e art. 22 deste Regulamento.
133
V - Causas de extinção e rescisão, de acordo com
o determinado nos artigos 26 a 34 deste Regulamento;
VI - Direito e formas de indenização quanto às
benfeitorias realizadas, ajustadas no contrato de arren-
damento; e, direitos e obrigações quanto às benfeitorias
realizadas, com consentimento do parceiro-outorgante, e
quanto aos danos substanciais causados pelo parceiro-ou-
torgado por práticas predatórias na área de exploração
ou nas benfeitorias, instalações e equipamentos especiais,
veículos, máquinas, implementos ou ferramentas a ele ce-
didos (art. 95, inciso XI, letra “ c “ e art.96, inciso V,
letra “ e “ do Estatuto da Terra);
VII - observância das seguintes normas, visando
à proteção social e econômica dos arrendatários e parcei-
ros-outorgados (art.13, inciso V, da Lei n.º 4.974-66):
a) concordância do arrendador ou do parceiro-
-outorgante, à solicitação de crédito rural feita pelos ar-
rendatários ou parceiros-outorgados (artigo 13, inciso V
da Lei n.º 4.947-66);
b) cumprimento das proibições fixadas no art. 93
do Estatuto da Terra, a saber:
- prestação do serviço gratuito pelo arrendatário
ou parceiro-outorgado;
- exclusividade da venda dos frutos ou produtos
ao arrendador ou ao parceiro-outorgante;
- obrigatoriedade do beneficiamento da produção
em estabelecimento determinado pelo arrendador ou pelo
parceiro-outorgante:
134
- obrigatoriedade da aquisição de gêneros e utili-
dades em armazéns ou barracões determinados pelo ar-
rendador ou pelo parceiro-outorgante;
- aceitação pelo parceiro-outorgado, do pagamento
de sua parte em ordens, vales, borós, ou qualquer outra
forma regional substitutiva da moeda;
c) direito e oportunidade de dispor dos frutos ou
produtos repartidos da seguinte forma (art.96, inciso V,
letra “ f “ do Estatuto da Terra):
- nenhuma das partes poderá dispor dos frutos ou
dos frutos ou produtos havidos antes de efetuada a par-
tilha, devendo o parceiro-outorgado avisar o parceiro-ou-
torgante, com a necessária antecedência, da data em que
iniciará a colheita ou repartição dos produtos pecuários;
- ao parceiro-outorgado será garantido o direito
de dispor livremente dos frutos e produtos que lhe cabem
por força do contrato;
- em nenhum caso será dado em pagamento ao
credor do cedente ou do parceiro-outorgado, o produto da
parceria, antes de efetuada a partilha.
135
bastante difundido, o arrendatário, no caso de alie-
nação do imóvel, terá direito a adquiri-lo, em igual-
dade de condições, devendo o proprietário notificá-
-lo das propostas recebidas para que, no prazo de 30
dias, exerça ou não essa opção.
Quando não ocorrer a notificação do arren-
datário, impossibilitando a parte de cobrir a oferta
de terceiro, a lei lhe dá, ainda, o prazo de 6 meses, a
contar do registro da alienação no Registro de Imó-
veis, para depositar o valor da venda e pedir a adju-
dicação do imóvel arrendado.
Importante ressaltar que, embora não seja
pacífico o entendimento, existem julgados determi-
nando que o direito de preferência valha em relação
à totalidade do imóvel, ainda que só uma parte seja
objeto do arrendamento.
136
exige-se que este contrato especifique minuciosa-
mente os direitos e obrigações de cada parte. Acerca
dos contratos atípicos, o artigo 39.º do Decreto n.º
59.566/66, assim dispõe:
Art. 39. Quando o uso ou posse temporário da
terra for exercido por qualquer outra modalidade contra-
tual, diversa dos contratos de arrendamento e parceria,
serão observadas pelo proprietário do imóvel as mesmas
regras aplicáveis a arrendatários e parceiros, e, em espe-
cial a condição estabelecida no art. 38, supra.”A doutri-
na entende que são exemplos de contratos agrários atípi-
cos os contratos de comodato, de empreitada.
5.6. COMODATO
137
vorecido; real porque se realiza pela tradição, ou
seja, entrega da coisa; e não solene, pois a lei não
exige forma especial para sua validade, podendo ser
utilizada até a forma verbal.
Quem entrega a coisa infungível é o como-
dante, quem a usa é o comodatário. Assim, o como-
datário rural poderá ser um pequeno agricultor ou
pecuarista, um agregado, ex-trabalhador rural que,
embora gratuitamente, exerce uma atividade labo-
rativa, com o plantio de certas culturas, criação de
gado, até mesmo para o sustento próprio e de sua
família, onde o prazo de restituição do bem imóvel
rural deverá pelas circunstâncias, obedecer a prazos
mínimos, ou, até mesmo,quando for o caso, a ulti-
mação e término da colheita.
Desta forma, o comodato rural deve ser
visto como uma alternativa de evitar a ociosida-
de da terra, em caso de ausência de arrendamento
ou parceria rural, evitando até mesmo invasões e a
própria desapropriação por interesse social para fins
de reforma agrária, pois o comodatário poderá, em
um campo degradado, realizar o plantio de milho, e,
após devolvê-lo semeado, ou até mesmo, receber um
campo sujo para pecuária, e o restituir roçado. Dessa
forma, está caracterizado um comodato rural e vem
a ser um contrato atípico.
138
5.7. EMPREITADA
139
damento rural, posto que o artigo 95 do Decreto n.º
59.566/66, disciplina o arrendamento rural, e ainda
trata da não exigibilidade preliminar de notificação
em parceria agrícola, conforme segue:
140
§ 4.º A insinceridade do arrendador eu poderá
ser provada por qualquer meio em direito permitido, im-
portará na obrigação de responder pelas perdas e danos
causados ao arrendatário.
141
Capítulo 6
TÍTULO DE CRÉDITO RURAL
C
OM AS INOVAÇÕES trazidas pelo Estatuto
da Terra, uma nova conformação rural se apre-
sentou no Brasil. Criou-se uma reestruturação
em quase todos os campos da atividade rural, segundo
a nova política agrária introduzida pelo governo federal.
Os instrumentos utilizados para a formali-
zação do crédito rural, de acordo com o Decreto n.º
167, de 14.02.67, podem ser realizados por meio dos
seguintes títulos:
• Cédula Rural Pignoratícia (CRP), compro-
va a existência de um penhor rural;
• Cédula Rural Hipotecária (CRH), repre-
senta o crédito e a garantia hipotecária;
• Cédula Rural Pignoratícia e Hipotecária (CRPH);
• Cédula de produto rural é uma promessa
de entrega de produtos rurais, com ou sem garantia.
Tem previsão na Lei n.º 8.929/94. É título líquido e
certo, exigível pela qualidade e quantidade do produ-
to nela previsto;
143
• Nota de Crédito Rural contém financia-
mento, gozando de privilégio especial, representa
empréstimo em dinheiro.
144
acordo com a natureza e o prazo do crédito e podem
se constituir de:
• penhor agrícola, pecuário, mercantil ou cedular;
• alienação fiduciária;
• hipoteca comum ou cedular;
• aval ou fiança;
• outros bens que o Conselho Monetário
Nacional admitir.
145
de consumo, feitas pelas cooperativas aos seus asso-
ciados. O devedor é, geralmente, pessoa física.
A Duplicata Rural é utilizada nas vendas a
prazo de quaisquer bens de natureza agrícola, extra-
tiva ou pastoril, quando efetuadas diretamente por
produtores rurais ou por suas cooperativas, poderá
ser utilizada também, como título do crédito. Emitida
pelo vendedor, este ficará obrigado a entregá-la ou a
remetê-la ao comprador, que a devolverá depois de
assiná-la. O devedor é, geralmente, pessoa jurídica.
146
As atividades que podem ser financiadas
pelo crédito rural são:
• custeio das despesas normais de cada
ciclo produtivo;
• investimento em bens ou serviços cujo apro-
veitamento se estenda por vários ciclos produtivos;
• comercialização da produção.
147
ção obtida e seu armazenamento no imóvel rural
ou em cooperativa;
• de exploração pecuária;
• de beneficiamento ou industrialização de
produtos agropecuários.
148
• crédito de custeio agrícola: pelo menos
uma vez no curso da operação antes da época pre-
vista para liberação da última parcela ou até sessenta
dias após a utilização do crédito, no caso de libera-
ção em parcela única;
• Empréstimo do Governo Federal (EGF),
conforme previsto no Manual de Operações de Pre-
ços Mínimos; demais financiamentos: até sessenta
dias após cada utilização, para comprovar a realiza-
ção das obras, serviços ou aquisições. Essa fiscaliza-
ção é para verificar a correta aplicação dos recursos
orçamentários, o desenvolvimento das atividades fi-
nanciadas e a situação das garantias, se houver.
149
bojo do artigo 3.º da Constituição Federal de 1988,
como segue:
150
se destinem a orientar, no interesse da economia rural, as
atividades agropecuárias, seja no sentido de garantir-lhes
o pleno emprego, seja no de harmonizá-las com o processo
de industrialização do país.
151
gena, os quilombos negros, as revoltas nos períodos
regencial e imperial.
Em 1835, a “Cabanagem”, no Pará, fez com
que cerca de quarenta por cento da população fosse
dizimada pelo governo imperial.
A “Revolta de Canudos”, ocorrida na Bahia,
em 1896, e a “Campanha do Contestado”, empreen-
dida entre o Paraná e Santa Catarina, em 1912, tam-
bém têm sua origem na posse da terra.
Nos tempos atuais, o conflito de Eldorado
dos Carajás (1996), é um exemplo gritante da tragé-
dia gerada na luta pela terra.
A Reforma Agrária é uma necessidade, já
que contribui decisivamente para a consecução dos
Objetivos Fundamentais, inseridos no artigo 3.º, da
nossa Constituição Federal.
O Direito Agrário, consolidado na Constitui-
ção da República, no Estatuto da Terra e na Lei Agrá-
ria, contém mecanismos suficientes para promover a
Reforma Agrária, através da desconcentração fundiá-
ria, do incremento da produção e a justiça social.
Na prática não é o que acontece. O Brasil é
conhecido como um dos países de maiores contras-
tes sociais do planeta. E estes contrastes aparecem de
um modo mais que evidente na estrutura fundiária:
2,8% das propriedades rurais ocupam 56,7% de todas
as terras cadastradas, enquanto que 62,2% das pro-
priedades ocupam 7,9% das terras. Além disso, um
152
número em torno a 4 milhões de famílias ainda é sem
terra - são parceiros, meeiros, arrendatários, assalaria-
dos rurais, ou possuem uma terra tão insignificante
da qual não conseguem tirar o sustento para a família.
São também pessoas que hoje estão na ci-
dade, mas desejariam voltar ao campo caso tivessem
um pedaço de terra para cultivar. Estes dados dos
possíveis clientes para assentamento, que varia entre
4 e 6 milhões, são de um estudo feito pelo IPEA,
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, órgão li-
gado ao governo federal.
FERREIRA resume fielmente a situação vi-
gente, merecendo a transcrição:
153
Como visto, muito há de se fazer no Brasil
para que essa história tenha um final feliz.
Muito embora seja uma questão extrema-
mente polêmica, cumpre destacarem-se três posições
ideológicas dominantes a respeito da questão fundiá-
ria no Brasil: o Assistencialismo Agrário, o Radicalis-
mo Agrário e a Reforma Agrária Gradualista.
Para aqueles estudiosos que defendem o As-
sistencialismo Agrário, uma política de simples as-
sistência agrária deve ser implementada. Essa visão
parece falha, na medida em que a mera divisão de
terras não resolve o problema agrário no país.
Além de uma reorganização da agricultura na-
cional, deve existir maior equipe de técnicos, agrôno-
mos, veterinários, meios de comercialização de produ-
tos e educação voltada a preparar o homem do campo.
Pelo Radicalismo Agrário, pretende-se rom-
per a situação atual, que é a de grande concentração
de terras nas mãos de poucos, eis que a posse da
terra é o elemento decisivo para resolver o problema
agrário no País.
O centro do problema está na posse da terra e
o essencial é a distribuição, imediata e a qualquer custo,
de terras rurais. Essa é a ideia defendida pelo MST –
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terras.
Se de um lado traz a intranquilidade e a inse-
gurança à sociedade, de outro, são inegáveis os avan-
ços conquistados através da pressão ao poder público.
154
A Reforma Agrária Gradualista é a que de-
veria ser feita, por meio de lenta e objetiva trans-
formação na estrutura agrária. Tem como objetivo,
além da descentralização da propriedade agrária,
medidas concretas de consolidação da reforma na
estrutura agrária.
O planejamento da Reforma Agrária deve
ser efetivado de modo experimental, para unir a
tradição com o progresso. Objetiva-se atingir uma
reforma agrária cientificamente planejada, que distri-
bua as terras e aumente a produtividade pela técnica
e pela ciência.
Embora não seja a única solução, ou tal-
vez nem a mais acertada, para o abrandamento das
questões sociais no país, a transformação gradativa
da estrutura agrária brasileira não pode dispensar a
utilização das terras públicas, diminuindo-se, conse-
quentemente, a tensão agrária.
Em nosso país, grande parte das terras na-
cionais é pública e está desocupada. O povo brasilei-
ro precisa sair da costa do Atlântico e rumar para o
interior. Grandes são as extensões de terras desocu-
padas e o nosso Oeste deve ser ocupado.
155
EXERCÍCIOS PROPOSTOS
1 - A alternativa INCORRETA:
Compõe o sujeito passivo do ITR:
a) o proprietário do imóvel.
b) o possuidor a qualquer título.
c) a União.
d) o titular do domínio útil.
e) todas as alternativas estão corretas.
157
3- Considera-se pequena gleba rural aquela
não excedente a:
a) 50 hectares.
b) 100 hectares.
c) 30 hectares.
d) 130 hectares.
e) 70 hectares.
158
de preparação e capacitação de pessoal, para utiliza-
ção e manutenção de maquinaria. Esses planos serão
dimensionados em função do grau de produtivida-
de que se pretende alcançar em cada uma das áreas
geoeconômica do país, e deverão ser condicionados
ao nível tecnológico já existente e à composição da
força de trabalho ocorrente. Nos mesmos planos
poderão ser incluídos serviços adequados de manu-
tenção e de orientação técnica para o uso econômico
das máquinas e implementos, os quais, sempre que
possível deverão ser realizados por entidades priva-
das especializadas.
159
um Delegado indicado pelo Instituto Brasileiro de
Reforma Agrária, integrante do Conselho de Admi-
nistração, sem direito a voto, com a função de pres-
tar assistência técnico-administrativa à Diretoria e
de orientar e fiscalizar a aplicação de recursos que o
Instituto Brasileiro de Reforma Agrária tiver desti-
nado à entidade cooperativa.
c) A participação direta do Instituto Brasileiro de
Reforma Agrária na constituição, instalação e de-
senvolvimento da Cooperativa Integral de Reforma
Agrária, quando constituir contribuição financeira,
será feita com recursos do Banco Nacional de Crédi-
to, na forma de investimentos sem recuperação dire-
ta, considerada a finalidade social e econômica des-
ses investimentos. Quando se tratar de assistência
creditícia, tal participação será feita por intermédio
do Fundo Nacional de Reforma Agrária, de acordo
com normas traçadas pela entidade coordenadora
do crédito rural.
d) A Contribuição do Estado será feita pela Coope-
rativa Integral de Reforma Agrária, levada à conta de
um Fundo de Implantação da própria cooperativa.
e) O Estatuto da Cooperativa integral de Reforma
Agrária deverá determinar a incorporação ao Banco
Nacional de Crédito Cooperativo do remanescente
patrimonial, no caso de dissolução da sociedade.
160
6 - Assinale a assertiva INCORRETA.
161
7 - Assinale a assertiva
a) I.
b) II e III.
c) I, II e III.
d) I e III.
e) I e II.
8 - Complete a lacuna.
162
na forma estabelecida em regulamento.
163
II - Em caso de sucessão causa mortis e nas par-
tilhas judiciais ou amigáveis, não se poderão dividir
imóveis em áreas inferiores às da dimensão do mó-
dulo de propriedade rural.
III - Os herdeiros ou os legatários, que adquiri-
rem por sucessão o domínio de imóveis rurais, não
poderão dividi-los em outros de dimensão inferior
ao módulo de propriedade rural.
IV - No caso de um ou mais herdeiros ou legatá-
rios desejar explorar as terras assim havidas, o Ins-
tituto Brasileiro de Reforma Agrária poderá prover
no sentido de o requerente ou requerentes obterem
financiamentos que lhes facultem o numerário para
indenizar os demais condôminos.
164
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
165
BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitu-
cional. 19. ed. São Paulo: Malheiros, 2006.
166
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São Paulo. Empresa agrária e estabelecimento agrá-
rio. Revista de Direito Civil Imobiliário, Agrário e
Empresarial (São Paulo), v.19, n.72, abr./jun. 1995.
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GIANELLA JUNIOR, Fúlvio. Os ralos agrícolas.
Revista Família Cristã, ano 48, n.10, p.15-22, out. 2002.
168
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tão agrária no Brasil. Rio de Janeiro: Campus, 1999.
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http://www.planalto.gov.br
http://www.portaldoagronegocio.com.br
http://www.pt.wikopedia.org
http://www.reformaagraria.net
http://www.www.tjrs.jus.br
172
GABARITO
1 - c 2-c
3 - a 4-b
5 - c 6-d
7 - c 8-b
9 - b 10 - e
173