Livro - Legislação Social e Trabalhista Kls
Livro - Legislação Social e Trabalhista Kls
Livro - Legislação Social e Trabalhista Kls
trabalhista
ISBN 978-85-8482-222-5
CDD 342.6
2015
Editora e Distribuidora Educacional S. A.
Avenida Paris, 675 Parque Residencial Joo Piza
CEP: 86041 100 Londrina PR
e-mail: [email protected]
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Sumrio
Unidade 1 | O Direito Social do Trabalho a Servio da Cidadania
11
23
35
51
67
71
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197
209
221
Palavras do autor
Caro aluno, cara aluna,
Voc iniciar um estudo sobre o Direito Social do Trabalho. um ramo do
Direito muito importante e fundamental para a cidadania e a dignidade da pessoa
humana. Ele trata da vida das pessoas e dos direitos sociais decorrentes das relaes
de trabalho. Esses direitos esto muito prximos a voc e fazem mais parte da
sua vida e do seu quotidiano do que voc pensa. Provavelmente voc j deve ter
assinado um contrato de trabalho na condio de empregado ou empregador, ou
pelo menos conhece algum que j o tenha feito. Talvez voc seja um trabalhador
autnomo ou tenha algum familiar nesta condio. Pois bem, ento pense comigo:
como seria importante saber mais sobre essas relaes de trabalho, direitos e
limites, como as leis funcionam e so aplicadas, e o que fazer para defender e
garantir direitos ou mesmo ampli-los. As respostas a essas indagaes viro no
decorrer desta unidade curricular, acompanhadas de competncias e habilidades
que sero agregadas sua formao e que, com certeza, o ajudaro a se destacar
no mercado de trabalho.
Conhecer o mundo do trabalho, os fundamentos e conceitos jurdicos das
relaes trabalhistas e sua formalizao atravs do contrato de trabalho ser o
objeto de estudo da nossa primeira etapa do curso. Em seguida, voc ver todos
os elementos relacionados ao salrio e remunerao do trabalhador, a razo
de lhe dar proteo, como a equiparao salarial, e as regras para o seu correto
pagamento. Operar tecnicamente a lei e conhecer os limites e os direitos de ambos
os lados significa garantir segurana jurdica s relaes de trabalho.
Nas duas sees seguintes, estudaremos como devemos atuar diante das
ocorrncias que costumam surgir no decorrer da relao trabalhista. Por exemplo,
o que acontece em caso de afastamento ou de interrupo do trabalho, como
devem ser pagas as frias ou mesmo o descanso semanal remunerado, quais so
os direitos coletivos do trabalho e qual deve ser o papel dos sindicatos. As respostas
a essas questes comporo o contedo da nossa disciplina.
Ento vamos iniciar j a sua preparao; No perca tempo. Estude com afinco,
faa os exerccios e as leituras recomendadas, discuta com seus colegas de turma
e, sobretudo, mantenha elevado seu interesse sobre esse assunto. Lembre-se: os
direitos sociais do trabalho so essenciais para a cidadania e a qualificao do
profissional que o mercado de trabalho exige. Tenha um bom curso e aproveite
bem. Bom estudo.
Unidade 1
O DIREITO SOCIAL DO
TRABALHO A SERVIO DA
CIDADANIA
Convite ao estudo
Caro aluno, como voc sabe, a economia e gerao de riqueza de um
pas est diretamente relacionada produo e consumo de bens e servios
e s condies de emprego. O que voc precisa saber que na base dessa
estrutura econmica encontra-se o trabalhador, nas mais variadas reas de
atuao, gerando os produtos e servios, produzindo riqueza e recebendo
em troca uma determinada quantia de dinheiro que lhe possibilita ter acesso
aos bens de consumo. Toda remunerao deve, portanto, ser compatvel ao
esforo empreendido, mas sabemos que nem sempre foi assim. Conhecer
profundamente essa relao, seus fundamentos jurdicos, conceitos e normas,
essencial para operarmos o direito em defesa do trabalho e dos direitos sociais,
alicerces da cidadania.
Competncia de fundamentos de rea
Conhecer os fundamentos jurdicos relacionados s relaes trabalhistas e
previdencirias.
Objetivos especficos de aprendizagem
Identificar os fundamentos jurdicos que estruturam o Direito Social do
Trabalho, suas fontes, princpios, conceitos e instrumentos reguladores da
relao de trabalho.
Para auxiliar no desenvolvimento da competncia anteriormente exposta e
atender aos objetivos especficos do tema em questo, fundamentos jurdicos
que estruturam o Direito do Trabalho, destacamos a seguir alguns trechos de
uma entrevista que ilustram a trajetria do Direito do Trabalho no Brasil. Vejamos:
U1
U1
Agora busque no site do IBGE os dados da pesquisa mensal de emprego no Brasil e
reflita sobre eles. Disponvel em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/
trabalhoerendimento/pme_nova/pme_201501tm_01.shtm>. Acesso em: 24 mar. 2015.
O que podemos observar que o Brasil, pas cuja populao beira os 200 milhes
de habitantes, tem aproximadamente 1/8 de sua populao na faixa das pessoas
economicamente ativas (cerca de 24 milhes de pessoas), mas a riqueza gerada atravs
do trabalho praticamente compartilhada com a totalidade da populao. Alm dos
direitos sociais bsicos garantidos pelo Estado, como educao e sade, como garantir
que 100% da populao tenha acesso aos demais direitos sociais, como habitao e
moradia, alimentao e segurana, e ao prprio trabalho? Segundo dados do IBGE, cerca
de 11,5 milhes de trabalhadores possuem carteira de trabalho assinada. Como ficam os
direitos daqueles que no possuem carteira de trabalho assinada?
A entrevista em destaque nos lembra de que todos os direitos sociais foram adquiridos
como resultado de muita luta por parte dos trabalhadores e que as relaes de trabalho
tm mudado ao longo da histria. Como ficam, portanto, esses direitos com todas essas
mudanas? E quais so essas mudanas? As novas relaes de trabalho no ensejariam
um motivo para revermos essa estrutura legal do trabalho?
Precisamos conhecer, portanto, os fundamentos jurdicos que estruturam as relaes
de trabalho, seus conceitos e princpios para ento apontarmos algumas consideraes
sobre essas questes.
U1
10
U1
Seo 1.1
Conhecendo os fundamentos do direito do trabalho
Dilogo aberto
Caro aluno, vimos no Convite ao Estudo que h uma relao muito prxima entre
a produo de riqueza do pas, a economia e o trabalho. A vida econmica do pas e
das pessoas est diretamente relacionada condio social do indivduo, seu acesso
ao mundo do trabalho, aos bens de consumo e aos direitos. E como est o mundo do
trabalho hoje? Como esto as relaes de trabalho? Por que dizemos que o trabalho
um direito social?
Imagine a seguinte situao: Bianca uma excelente profissional. J trabalhou em
vendas, atendimento, servios auxiliares em escritrio e at mesmo como secretria.
Passou por diversas empresas, mas em nenhuma delas teve um contrato de trabalho
formalizado com o respectivo registro em carteira de trabalho. A alegao a
mesma de sempre: apesar de inteligente e esforada, no possui diploma tcnico
nem universitrio, ou seja, no possui qualificao profissional clara e definida, apenas
experincias de trabalho. Como ela sempre teve emprego e salrio, tambm nunca
se preocupou. Apenas recentemente, quando decidiu comprar sua casa prpria,
descobriu que no possua FGTS. Ao refletir sobre sua vida profissional, lembrou
tambm que nunca recebeu 1/3 de frias ou mesmo o 13 salrio no final do ano, ou
qualquer outra gratificao ou parcela salarial a mais. Os direitos sociais do trabalho
conquistados ao longo do tempo no chegaram at a vida de Bianca.
Como voc a ajudaria a resolver seu problema? Antes de tudo, voc tem que se
conscientizar da importncia dos direitos sociais conquistados a partir do trabalho. So
direitos de todos os que trabalham. Por isso, imprescindvel conhecer os direitos,
seus fundamentos jurdicos, conceitos e princpios. Somente assim que voc poder
refletir sobre casos concretos e apontar direes e solues.
No pode faltar
O Direito do Trabalho, tal qual o conhecemos hoje, nasceu para proteger e
regular as relaes de trabalho e emprego, sendo especialmente voltado pessoa do
11
U1
empregado, que a parte mais frgil da relao empregado-empregador.
O empregado a pessoa despossuda, ou seja, a no detentora dos meios de
produo, portanto, aquele sem propriedade, exceto a sua exclusiva fora de
trabalho. Outrora, nos regimes escravagistas, a fora de trabalho era extrada do
escravo mediante coao e emprego de fora fsica. Com o surgimento da indstria
(Revoluo Industrial e ps-revoluo industrial), a mesma fora de trabalho passou a
ser extrada do empregado mediante condies de trabalho impostas pelo empregador
o novo senhor.
Segundo o professor da FEA/USP, Hlio Zylberstajn, foi justamente o surgimento
da indstria e daquele modelo de trabalho que possibilitou o desenvolvimento dos
direitos trabalhistas, conquistados com lutas entre empregados e empregadores, por
melhores condies de trabalho. A discusso dos direitos dos trabalhadores e dos
limites s imposies dos empregadores forou o Estado a criar leis trabalhistas com o
objetivo de proteger o direito social ao trabalho e os demais direitos dele decorrentes.
Assim se instituiu a relao tripartite para a construo das leis sobre o trabalho, uma
relao entre empregado-empregador-Estado.
Assimile
Este o primeiro conceito que voc deve saber: os direitos do trabalho
foram conquistados pelos trabalhadores atravs de lutas e negociaes
com seus empregadores, com a participao do Estado regulador. Essa
relao tripartite o elemento fundamental do Direito do Trabalho.
Pois bem, foi atravs destas lutas de classe, entre empregado e empregador, que o
Estado veio a assumir o papel de regulador das relaes de trabalho, fixando na lei os
direitos conquistados para que eles no retroagissem mais e no houvesse desrespeito
por parte do empregador.
Para a consolidao desse modelo a Organizao Internacional do Trabalho (OIT),
organismo internacional institudo em 1919, por meio do Tratado de Versalhes, foi
de fundamental importncia. Foi ela quem primeiro contribuiu para assegurar que os
pases signatrios mantivessem em seus ordenamentos jurdicos internos a mnima
proteo ao trabalho e ao trabalhador.
O caso brasileiro no foi uma exceo. A nossa histria de desenvolvimento dos
direitos sociais do trabalho foi semelhante ao que ocorreu no mundo. A escravido
no Brasil foi extinta com a decretao da Lei Imperial n 3.353, em 13 de maio de
1888, a conhecida Lei urea. A Repblica, que veio logo em seguida, em 1891, instituiu
um modelo de Estado cuja base econmica possibilitou o posterior desenvolvimento
industrial. Foi na dcada de 1940, justamente, que grandes mudanas aconteceram
12
U1
no estado brasileiro. Em meio ao processo de industrializao, o Presidente Vargas
publicou o Decreto-Lei n 5.452, de 1 de maio de 1943 a Consolidao das Leis
do Trabalho (CLT), como forma de proteger os trabalhadores, que j se avolumavam.
A CLT passou a ser o marco legal de defesa das relaes de trabalho, consolidando
os principais direitos do trabalho, como a caracterizao do contrato de trabalho, o
registro em carteira, a proteo ao salrio, a forma de seu pagamento, parcelas que se
agregam ao salrio, direito ao salrio mnimo, jornada de trabalho semanal mxima de
44 horas, descanso semanal remunerado, frias, 13 salrio, limite para as horas extras,
entre outros.
Todos esses direitos so resultados das conquistas dos trabalhadores. So direitos
sociais porque dizem respeito s condies sociais de trabalho e qualidade de
vida do trabalhador, decorrente do seu trabalho. Regular as condies de trabalho
garantir direitos sociais.
Reflita
Desde a origem do trabalho no escravo, no Brasil e no mundo, o trabalho
sempre esteve relacionado condio social do indivduo, de modo que
podemos afirmar que o trabalho possui um conceito sociolgico. Ele carrega
um conjunto de conceitos sociais, hoje protegidos por lei. A compreenso
dessa dimenso jurdico-formal sobre o trabalho fundamental.
Regular as relaes de trabalho impor limites ao empregador e dar proteo estatal
ao empregado e ao vnculo trabalhista, por meio da Lei e de uma justia especializada
do trabalho. O objetivo evitar qualquer resqucio daquela histria j conhecida,
dos regimes escravagista e ps-revoluo industrial. Essa proteo visa evitar que
empregador ou qualquer outro tomador do servio o faa semelhantemente queles
regimes. O objetivo afastar toda e qualquer apropriao indevida ou desproporcional
da fora de trabalho sem a justa remunerao, em respeito dimenso social do
trabalho e ao que ele representa na vida das pessoas trabalhadoras: condio humana
e cidadania.
Reflita
A imposio de limites e obrigaes ao empregador nas relaes de
trabalho so a segunda acepo jurdico-formal sobre o trabalho.
Ora, se o Direito do Trabalho tutela direitos sociais que foram conquistados a partir
das lutas sociais ao longo do tempo e transformados em lei por fora do Estado, pode-
13
U1
se dizer que essa relao entre empregado-empregador-Estado que verdadeiramente
cria aquelas leis. Ento, decorre dessa ideia que a relao tripartite a verdadeira
e legtima fonte de criao do Direito do Trabalho. Ou seja, cria materialmente os
direitos e as leis do trabalho.
As leis trabalhistas formam um conjunto de normas jurdico-sociais que protegem,
portanto, esses direitos materialmente criados. O caminho este: o direito material
criado (real e concreto) e depois fixado em lei; ou seja, dado-lhe forma. Esse
caminho de construo e constituio das leis do trabalho muito peculiar e prprio.
Na lio do professor Amauri Mascaro Nascimento (2011, p. 242), o Direito do
Trabalho:
Leis
Decies
Judiciais
Decies
Judiciais
14
U1
Pesquise mais
Leia na Constituio Federal de 1988 o artigo 7 e todos os seus incisos
para conhecer os principais direitos trabalhistas. Veja o direito de
associao profissional ou sindical (art. 8), o direito de greve (art. 9),
o direito de participao nos colegiados dos rgos pblicos (art. 10) e
o direito de escolher um representante dos trabalhadores para tratar de
seus interesses diretamente com os empregadores, nas empresas em que
houver mais de 200 empregados (art. 11). Esses direitos esto tambm
regulados na CLT e em leis esparsas. O artigo 6 aponta o trabalho como
direito social.
E como esses direitos so formalizados na relao direta entre empregado e
empregador? O instrumento responsvel por isso o contrato individual de trabalho.
Assimile
O Contrato Individual de Trabalho o instrumento pelo qual uma pessoa
natural coloca sua fora de trabalho disposio de outra pessoa natural
ou jurdica, com carter de subordinao e no eventualidade, mediante
uma contraprestao pecuniria.
Vamos destacar os elementos essenciais ao contrato de trabalho e que esto
previstos na CLT.
O primeiro deles diz respeito pessoa do empregado. Segundo a CLT, deve ser
pessoa fsica. Segundo o Cdigo Civil de 2002, sua terminologia atual de pessoa
natural. Pois bem, o contrato de trabalho pessoal, ou seja, para cada empregado
(pessoa natural) corresponde um contrato de trabalho com outra pessoa (natural ou
jurdica). Esse o princpio da pessoalidade.
Pesquise mais
A pessoa natural titular de direitos indivisvel e deve preencher os
requisitos legais estipulados no Cdigo Civil quanto sua capacidade
jurdica. Veja o Ttulo I, do art. 1 ao 21. E sobre a pessoa jurdica, do art.
40 ao 69.
15
U1
o empregador detm sobre o empregado poder de comando, de deliberao e
passagem de ordens e tarefas a serem executadas. Para a CLT, o conceito clssico
de empregado o que possui relao de subordinao. Segundo Amauri Mascaro
(2011, p. 210), o trabalho profissional disciplinado pelo direito do trabalho clssico
o subordinado. O que significa dizer que o empregado no trabalha em atividade ou
negcio prprio, mas sim em empresa cujo risco do empreendimento suportado
pelo empregador. Por isso, existe a figura do profissional liberal, pois ele prprio
quem suporta os riscos da sua atividade, e no outro.
Outro requisito determina que a atividade laborativa seja realizada pela prpria
pessoa, sem intermediao ou terceirizao. O titular do contrato de trabalho o
nico legitimado a cumpri-lo. Esse o princpio do direito civil chamado de intuitu
personae, o que significa dizer que o dever de prestar o servio intransfervel,
infungvel e personalssimo. A prpria CLT atribui, na lei, a expresso individual ao
contrato de trabalho.
Vocabulrio
intuitu personae: expresso latina. o que se refere prpria pessoa.
infungvel, ou seja, que no pode ser substitudo por outro.
16
U1
Figura 1.1 | Contrato Individual de Trabalho
Onerosidade
No
eventualidade
Pessoa
natural
Contrato
Individual de
Trabalho
Subordinao
Pessoalidade
Por fim, cabe lembrar que os contratos de trabalho possuem natureza semelhante
aos contratos do Direito Civil, de modo que lhes so aplicados igualmente dois
importantes princpios: o da boa-f e o da funo social do contrato. A fim de que
haja segurana jurdica nas relaes de trabalho, a boa-f condio essencial para
a efetividade do contrato de trabalho, da mesma forma que a sua finalidade dever
atender s finalidades sociais a que se destina.
Ateno
Pode ocorrer que um trabalhador tenha passado por diversas empresas
sem ter com elas um contrato de trabalho formal e por escrito, com o
respectivo registro em carteira de trabalho. Isso no significa que no
houve relao de trabalho.
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U1
Lembre-se
O Contrato Individual de Trabalho obrigatrio, pois o instrumento
garantidor dos direitos do trabalho. ele que vincula uma pessoa
natural ao tomador de seu servio, com carter de subordinao e no
eventualidade, mediante uma contraprestao pecuniria.
Ateno!
Muitos direitos, como FGTS, 1/3 de frias, 13 salrio, ou qualquer outra
gratificao ou parcela salarial, podem deixar de ser pagos por falta de
conhecimento dos direitos do trabalho.
Lembre-se
Os direitos das relaes de trabalho foram conquistados pelos
trabalhadores atravs de lutas e negociaes com seus empregadores,
com a participao do Estado regulador. Por isso, nada justifica a
negligncia de qualquer direito.
Avanando na prtica
Pratique mais
Instruo
Desafiamos voc a praticar o que aprendeu transferindo seus conhecimentos para novas situaes
que voc pode encontrar no ambiente de trabalho. Realize as atividades e depois as compare com
as de seus colegas.
A greve dos estivadores de 2013
18
1. Competncia de fundamentos
de rea
2. Objetivos de aprendizagem
3. Contedos relacionados
U1
4. Descrio da SP
5. Resoluo da SP
Lembre-se
As leis trabalhistas formam um conjunto de normas jurdico-sociais que
protegem os direitos materialmente criados
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U1
Faa valer a pena
1. possvel haver contrato de trabalho no oneroso?
2. Por que dizemos que o contrato de trabalho intuitu personae?
3. Podemos dizer que as normas que regem o direito do trabalho no so
apenas produtos da atividade legislativa do Estado, mas resultados das
lutas entre os diversos grupos e setores profissionais e econmicos da
sociedade, motivo pelo qual afirmamos que essas normas possuem um
contedo sociojurdico. Desse modo, possvel dizer que:
a) A afirmao est correta porque as instituies e os grupos existentes
na sociedade, como sindicatos dos trabalhadores, ao discutirem direitos,
produzem contedos de verdadeiras normas jurdicas.
b) A afirmao est correta porque tanto empregados quanto
empregadores tm liberdade para contratar, de modo que o contrato
de trabalho faz lei entre as partes, no necessitando de quaisquer outras
normas jurdicas para regular a relao.
c) A afirmao est incorreta porque a produo normativa de leis, em
matria de fontes do direito, atribuio do Estado, pois vivemos no
modelo republicano e democrtico, com diviso dos poderes, e somente
o legislativo pode criar leis.
d) A afirmao est incorreta sob o ponto de vista das lutas sociais porque
os direitos defendidos foram transformados em lei, na CLT, que s foi
reconhecida aps a promulgao da Constituio Federal de 1988.
e) A afirmao est correta porque a funo social das instituies
promover o bem comum, entre eles a assistncia social aos trabalhadores.
4. Um dos princpios basilares do ordenamento jurdico brasileiro, o
princpio da dignidade humana. Nesse aspecto, dentro do que cabe
ao direito do trabalho, essa rea tem por fundamento a dignidade do
trabalhador, isto , a promoo de um trabalho digno e igualitrio a
todos os trabalhadores. Por isso, aclama-se a CLT como um avano, pois
alm de ter regulado as condies de trabalho, ampliando direitos do
trabalhador; imps limites ao empregador, que se afasta da explorao
excessiva, remunerando o trabalho adequadamente.
Tendo o texto acima como base, correto afirmar que:
I - Sero anulveis os atos praticados com o objetivo de impedir ou fraudar
a aplicao dos preceitos contidos na CLT.
II - A todo trabalho de igual valor corresponder salrio igual, sem distino
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U1
de sexo.
III Os preceitos constantes na CLT, salvo quando for o caso,
expressamente determinado em contrrio, no se aplicam, dentre outros,
aos empregados domsticos, assim considerados, de um modo geral, os
que prestam servios de natureza no-econmica pessoa ou famlia,
no mbito residencial destas,
a) Todas as assertivas esto corretas.
b) Apenas as assertivas I e III esto corretas
c) Apenas as assertivas II e III esto corretas.
d) Apenas as assertivas I e II esto corretas.
e) Nenhuma das assertivas esto corretas.
5. A Constituio Federal de 1988 elencou alguns direitos aplicados
relao de trabalho. Quanto a esses direitos, podemos afirmar
corretamente que:
a) So direitos sociais dos trabalhadores apenas aqueles elencados
no artigo 6: educao, sade, alimentao, trabalho, moradia, lazer,
segurana, previdncia social, proteo maternidade e infncia e
assistncia aos desamparados.
b) Os trabalhadores podero fazer uso do direito de associao profissional
ou sindical e do direito de greve desde que autorizados pelo empregador
e quando as condies de trabalho no atenderem s suas necessidades.
c) O salrio um direito garantido no artigo 7 da Constituio, motivo pelo
qual ele devido, mesmo quando se trata de atividade laboral filantrpica
ou benemrita, exercida por meio de entidade sem fins lucrativos, como
tambm aos sacerdotes e religiosos.
d) O direito de participao nos colegiados dos rgos pblicos em que
seus interesses profissionais ou previdencirios sejam objeto de discusso
e deliberao ser exercido por meio de representante eleito, podendo
ser ele deputado estadual ou federal.
e) Os trabalhadores podero escolher um representante para tratar de
seus interesses diretamente com os empregadores nas empresas em que
houver mais de 200 empregados.
6. O contrato individual de trabalho um instrumento que cria relao
jurdica e deve ser celebrado entre empregado e empregador. Dentre
suas principais caractersticas, podemos dizer que requisito do contrato
de trabalho:
21
U1
a) A subordinao entre o empregador e a CLT.
b) A pessoalidade do contrato.
c) A capacidade jurdica do empregado acima de 14 anos.
d) A onerosidade de forma facultativa.
e) A execuo terceirizada do servio, desde que em nome do empregado.
22
U1
Seo 1.2
O que se deve saber sobre o contrato individual de
trabalho
Dilogo aberto
Vimos na aula anterior os princpios do Direito do Trabalho e o quanto eles so
essenciais na relao de trabalho, tanto para o empregado quanto para o empregador.
Lembre-se de que o Direito do Trabalho se estruturou atravs de reivindicaes sociais
dos trabalhadores (empregados) que fizeram com que os direitos se desenvolvessem
e se fixassem em leis que hoje regulam as relaes de trabalho.
Outro aspecto que voc dever lembrar, e que destacamos no Convite ao Estudo,
diz respeito aos atuais desafios do Direito do Trabalho. Na entrevista do professor Hlio
Zylberstajn, ele aponta para uma transformao no mercado de trabalho e no vnculo
empregatcio ao longo dos anos, desde a publicao da CLT, na dcada de 1940. H
uma transformao na forma de contratar trabalhadores. Diante disso, como devem
estar os contratos de trabalho e os direitos sociais to arduamente conquistados? E no
caso dos trabalhadores que esto em atividade sem Contrato de Trabalho ou Carteira
de Trabalho assinada, na informalidade, como esto os seus direitos? Valem para
esses, ainda assim, os requisitos do contrato de trabalho?
Imagine uma diarista que realiza trabalho de faxina em lugares diferentes, seja em
residncia familiar ou em escritrio comercial. Seus contratos de trabalho geralmente
so verbais. Assim sendo, so todos vlidos? Quais seriam as caractersticas ou os
requisitos necessrios para voc identificar a existncia de uma relao de trabalho
de forma a lhe garantir os mesmos direitos que para aquele que possui contrato de
trabalho escrito?
E se a mesma faxineira trabalhasse em um ambiente cuja atividade-fim ilegal,
como uma clnica de aborto. O seu trabalho seria reconhecido pela lei como legal?
Ela teria direitos em razo do seu trabalho? Ento, colocamo-nos diante do desafio de,
alm de reconhecer se h vnculo empregatcio, saber se esse vnculo lcito e se
vlido perante a lei.
O fato que as relaes humanas esto se modificando rapidamente e as
23
U1
relaes de trabalho tm acompanhado essas mudanas, como apontou o professor
Zylberstajn. E ns, como operadores do direito, na rea jurdica ou administrativa,
como empregados ou empregadores, precisamos dos conhecimentos jurdicos e
tcnicos necessrios para enfrentar essas situaes.
Vamos a eles, ento.
No pode faltar
Como vimos, o contrato individual de trabalho requer alguns requisitos para sua
caracterizao e validade, nos termos da CLT. Do ponto de vista da legislao civil, ele
um instrumento dotado de eficcia jurdica, motivo pelo qual deve seguir igualmente
os comandos da lei civil. O direito opera como um conjunto sistmico de normas,
por isso, o Direito Civil se comunica com o Direito do Trabalho e vice-versa, tal como
vimos na seo anterior, em que observamos vrias normas da legislao civil que se
aplicam ao direito trabalhista.
Figura 1.2 | Contrato de trabalho
Princpios
gerais do
contrato
Contrato de
Trabalho: condio
mais benfica ao
empregado
Justia
aristotlica
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U1
a justia aristotlica: tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais. Como
o empregado sempre a parte hipossuficiente da relao de trabalho, o contrato serlhe- sempre mais benfico. o princpio da condio mais benfica ao empregado.
Outro aspecto importante diz respeito a sua validade jurdica, ao que se vincula a
sua efetividade. Para serem juridicamente vlidos, os negcios jurdicos e os contratos
devem atender a determinados requisitos legais, sob pena de nulidade. Sem validade. o
contrato no produzir qualquer efeito no mundo real, ou seja, no gerar obrigaes,
no impor limites s partes nem permitir s partes que o cumpram. O contrato de
trabalho deve estar de acordo com o seguinte comando legal:
Art. 104, Cdigo Civil
Agente capaz
Objeto lcito
A condio de agente capaz est relacionada menoridade, que cessa aos 18 anos
completos, ocasio em que a pessoa se habilita prtica de todos os atos da vida civil;
ou aos 16 anos completos, para aquele que se estabeleceu civil ou comercialmente,
ou tenha relao de emprego, desde que em funo disso tenha economia prpria.
Como vimos, o empregado deve ser a pessoa natural e o empregador a pessoa
natural ou jurdica, desde que seja a pessoa que assume os riscos da atividade
econmica, admite, assalaria e dirige a prestao pessoal de servio. Esses so os
requisitos bsicos quanto capacidade dos agentes para que o contrato de trabalho
seja juridicamente vlido.
Quanto ao objeto, a prestao do servio em si deve ser atividade laboral lcita.
Nenhum contrato de trabalho ter validade jurdica caso o servio a ser prestado seja
contrrio lei. como se voc contratasse algum para cultivar plantas psicotrpicas
ilegais ou para praticar aborto, por exemplo.
J a forma prescrita ou no defesa (proibida) em lei diz respeito forma como se
deu a contratao. A CLT caracteriza como havido o contrato de trabalho mediante
qualquer estipulao ou acordo realizado entre as partes. Por isso, admite a CLT que
ele possa ser explcito ou tcito, por escrito ou verbal. O princpio vigente o da boaf, esteja presente o nimo ou a vontade de se ver realizado determinado servio
mediante uma contraprestao.
Assimile
O contrato individual de trabalho o acordo tcito ou expresso, escrito
ou verbal, correspondente relao de trabalho e emprego.
25
U1
Informe-se mais sobre a teoria dos contratos.
Pesquise mais
Sobre este assunto, leia os artigos correspondentes na CLT: artigos 442 e
443. E sobre as hipteses de ilicitude dos contratos, veja o artigo 166 do
Cdigo Civil.
Agora podemos nos perguntar o que aconteceria se o contrato individual de
trabalho deixasse de atender aos requisitos legais anteriormente apontados. Vejamos:
Exemplificando
Tcia, uma diarista profissional, faz faxina uma vez por semana
numa determinada clnica mdica. Sabe-se que esta clnica atua na
clandestinidade na prtica de aborto, que uma atividade ilcita perante
a legislao brasileira. Pois bem, o art. 166 do Cdigo Civil determina que
todo ato ilcito nulo de pleno direito. Ora, o trabalho de Tcia nesta clnica
ser considerado igualmente ilcito e, portanto, nulo? Isso significa que ela
no ter acesso a seus direitos trabalhistas? A atividade de faxina no se
comunica diretamente com a atividade-fim e ilcita da clnica, portanto,
seu trabalho vlido e seu contrato de trabalho surtir todos os efeitos
na esfera trabalhista. No entanto, caso Tcia atue de qualquer forma, ainda
que meramente em auxlio, na prtica de aborto, esta atividade ser ilcita
e nulo ser seu contrato de trabalho, porque nulo ser o objeto.
A nulidade do objeto contratual torna nulo o prprio contrato, bem como todos
os efeitos dele decorrentes. A nulidade opera eficcia ex tunc, ou seja, a nulidade
retroagir at a data de origem do contrato a fim de alcanar todos os atos praticados
em funo daquele contrato nulo.
Vocabulrio
Ex tunc: do latim, significa desde o incio; aplicado no direito, significa
dizer que uma coisa valer ou no valer desde sua origem.
Ex nunc: do latim, significa a partir de agora; aplicado no direito, significa
dizer que uma coisa valer ou no valer daquele momento em diante.
No entanto, pode acontecer que determinado ato ou contrato no seja nulo, mas
26
U1
apenas anulvel. Isso ocorre quando o contrato versar no sobre matria ilcita, mas
sobre matria apenas proibida por lei. Neste caso, o contrato ser anulvel e os efeitos
operaro eficcia ex nunc. O que significa dizer que todos os atos praticados at a
declarao da sua anulao devero ser considerados como se vlidos fossem.
Assimile
So trs as hipteses de contrato de trabalho por prazo determinado (art.
443, 2, da CLT):
a) De servio cuja natureza ou transitoriedade justifique a predeterminao
do prazo;
27
U1
b) De atividades empresariais de carter transitrio;
c) De contrato de experincia.
Essas hipteses possuem eficcia jurdica de dar validade condio ou termo que
estipula o prazo determinado no contrato de trabalho. Por isso, a sua no observncia
implicar apenas a nulidade da sua clusula contratual, e no do contrato como um todo.
Merece destaque o contrato de trabalho temporrio, regido pela Lei n 6.019/1974.
Nessa modalidade o prazo previamente sabido como determinado, mas seu termo
final incerto, o que diferente das outras modalidades de contrato por prazo
determinado.
Figura 1.3 | Modalidades de contratos de trabalho
Modalidades de contratos por prazo determinado:
Contrato de experincia
Lei de estmulo aos novos empregos (Lei n 9.601/1998)
Obra certa (Lei n 2.959/1956) e Safra (art. 14, Lei n 5.889/1973)
Artista (Lei n 6.533/1978) e Atleta profissional (Lei n 9.615/1998)
Contratado ou transferido para trabalho no exterior (Lei n 7.064/1982)
Fonte: Elaborada pelo autor (2015).
28
U1
Reflita
O direito nada mais faz do que resguardar o acrscimo trazido pelo
empregado empresa, da mesma forma que, inversamente, resguarda o
empregador quanto ao seu uso. sabido que o invento facilitado pelo
acesso do empregado s tecnologias e equipamentos de propriedade do
empregador. O princpio do direito de proteger a propriedade e equilibrar
as foras entre as partes, donde se depreende que natural tambm que
o empregador tenha garantias de que seu negcio possa continuar em
atividade, sem perigo de ver seu segredo profissional devassado ou revelado.
Ateno!
Um dos princpios que rege o contrato de trabalho o da boa-f. As
manifestaes de vontade das pessoas, inclusive ao contratar verbalmente,
tm a presuno da boa-f.
Lembre-se
O contrato individual de trabalho o acordo tcito ou expresso, escrito ou
29
U1
verbal, correspondente relao de trabalho e emprego. o que afirmam
os artigos 442 e 443 da CLT.
Ateno!
essencial que a relao trabalhista estabelecida e contida no contrato
de trabalho seja empenhada por pessoas com capacidade jurdica, tenha
objeto lcito e forma contratual prescrita ou no defesa em lei.
Lembre-se
Os requisitos de validade do contrato esto previstos no art. 104 do Cdigo
Civil, que deve ser entendido juntamente com outros dispositivos da CLT,
a fim de se identificar, na relao trabalhista, a figura do empregador,
do empregado, quais as atividades laborais contratadas, a forma desse
contrato e suas clusulas, bem como o prazo de durao do contrato.
Avanando na prtica
Pratique mais
Instruo
Desafiamos voc a praticar o que aprendeu transferindo seus conhecimentos para novas situaes
que voc pode encontrar no ambiente de trabalho. Realize as atividades e depois as compare com
as de seus colegas.
Trabalho sazonal
30
1. Competncia de fundamentos
de rea
2. Objetivos de aprendizagem
3. Contedos relacionados
U1
4. Descrio da SP
5. Resoluo da SP
Lembre-se
A forma privilegiada do contrato de trabalho na CLT por prazo
indeterminado, mas admitida a possibilidade de contratao por prazo
determinado quando se conhece o prazo fim.
31
U1
a) Contrato por prazo indeterminado, pois a Faculdade no sabe ao certo
se o professor ficar fora apenas durante os dois semestres ou por mais
tempo;
b) Contrato por prazo determinado, pois que se conhece o prazo final
e justifica-se a temporalidade por aplicao do 2 do art. 443 da CLT;
c) Contrato por prazo determinado, pois que o conhecimento do prazo
final irrelevante, importando apenas que seja realizado por intermediao
de empresa prestadora de servio;
d) Contrato por prazo indeterminado, porque os dois semestres letivos
correspondero exatamente ao perodo de experincia;
e) Contrato temporrio, porque a necessidade de intermediao de
empresa prestadora de mo de obra imprescindvel nessa modalidade.
32
U1
II permitido pela CLT que o contrato de trabalho seja tcito ou verbal,
sem que isso contrarie o disposto no Cdigo Civil quanto necessidade
da forma prescrita ou no defesa em lei.
III O empregador poder se estabelecer a partir dos 16 anos, desde que
tenha economia prpria.
IV O maior de 18 anos est habilitado para todos os atos da vida civil,
inclusive contratar empregados.
a) As alternativas I e III esto corretas, apenas.
b) As alternativas II e IV esto corretas, apenas.
c) As alternativas I, II e III esto corretas.
d) As alternativas II, III e IV esto corretas.
e) Todas as alternativas esto corretas.
33
U1
b) Por prazo determinado.
c) Por prazo indeterminado.
d) Avulso.
e) Verbal.
6. O Contrato de Trabalho vige sob o princpio da boa-f e da funo social.
Assim, o empregador ter garantida a inviolabilidade da sua propriedade
e de seu segredo profissional, fazendo constar no contrato este princpio.
Nesse sentido, a colocao da clusula de no concorrncia no contrato
serviria para:
a) Impedir que outros empregadores contratem os mesmos empregados.
b) Proibir o empregado de se demitir para trabalhar em outra empresa.
c) Impedir que o empregado revele segredo industrial.
d) Forar o empregador a manter sigilo sobre o segredo de seus produtos.
e) Proteger a propriedade do empregado.
34
U1
Seo 1.3
A pessoa do empregado
Dilogo aberto
J estudamos a formao do Direito do Trabalho, suas fontes de criao de normas
e os fundamentos jurdicos da relao de trabalho, as modalidades de contratao,
os limites impostos ao empregador e os principais direitos dos trabalhadores
empregados. Vimos que o contrato individual de trabalho o instrumento essencial
para a caracterizao da relao trabalhista, sendo ele escrito ou verbal, expresso ou
tcito.
Sobre a validade dos contratos, estabelecemos uma relao com o direito
civil, do qual emprestamos alguns princpios e conceitos sobre a teoria geral dos
contratos, especialmente quanto sua validade jurdica e causas de nulidade ou
anulabilidade, que juntamente com os requisitos essenciais do contrato individual de
trabalho, previstos na CLT, alm de formalizar a relao jurdica entre empregado e
empregador, caracterizam o modelo de relao de trabalho, imprescindvel para a
identificao e defesa dos seus direitos e deveres. Vale lembrar que o empregado a
parte hipossuficiente da relao, motivo pelo qual ele recebe proteo especial da lei.
Pois bem, assim como vimos as modalidades de contrato de trabalho, precisamos
estudar agora a figura do empregado e conhecer suas caractersticas. Voc vai
descobrir que h formas diferentes da pessoa se constituir como empregado e de
prestar seus servios.
Por exemplo, pense na seguinte situao hipottica: Marco Tlio engenheiro de
materiais e trabalha para uma empresa elaborando laudos tcnicos sobre estruturas
de ligas metlicas. Ele tem a obrigao de visitar as obras de construo civil da
empresa e a linha de produo dos materiais que utiliza, que prpria, alm de fazer
medies e testes com materiais, mas todo o resto do trabalho a elaborao dos
laudos propriamente dita Marco Tlio faz de sua casa. Ao final da semana, envia os
referidos laudos por e-mail ao seu chefe. Ele possui contrato de trabalho expresso e
recebe sua remunerao regularmente. Como isso juridicamente possvel? Ele um
empregado comum? H algo de especial em seu vnculo?
Vamos agora verificar quais so as modalidades de empregado permitidas em lei e
35
U1
as respectivas formas de prestao do servio. Lembre-se: o mundo est mudando, e
rpido. Voc precisa saber cada vez mais.
No pode faltar
O conceito de empregado dado pelo artigo 3 da CLT. Vamos analis-lo.
Reflita
Art. 3 Considera-se empregado toda pessoa fsica que prestar servios
de natureza no eventual a empregador, sob a dependncia deste e
mediante salrio.
Pargrafo nico. No haver distines relativas espcie de emprego
e condio de trabalhador, nem entre o trabalho intelectual, tcnico e
manual.
Primeiramente, destaca-se que o novo Cdigo Civil de 2002 alterou a nomenclatura
de pessoa fsica para pessoa natural. Essa alterao no foi feita na CLT. O empregado
, portanto, pessoa natural.
A segunda observao a ser feita diz respeito expresso servios de natureza
no eventual. Mas, a prpria lei criou a figura do trabalho eventual, portanto, a
modalidade de trabalho e de empregado eventual existe. Vamos entend-la como
excepcionalidade.
A expresso dependncia genrica, pois pode se aplicar a vrios aspectos da vida
das pessoas, seja na dependncia econmica ou financeira, emotiva ou psicolgica,
material ou intelectual, moral ou social etc. Para a relao de trabalho, devemos fixar o
seu contedo com a ideia de subordinao econmica, ou seja, a existncia de salrio
condio essencial para a definio de empregado. No prprio artigo encontramos
a expresso mediante salrio.
Agora, pensando num conceito mais amplo figura do empregado, recorremos
aos conceitos dos professores Amauri Mascaro (2011, p. 645) e Srgio Pinto Martins
(2009, p. 134), respectivamente.
Assimile
Empregado a pessoa fsica que com pessoalidade e nimo de emprego
trabalha subordinadamente e de modo no eventual para outrem, de
quem recebe salrio.
36
U1
Pessoa fsica que presta servios de natureza contnua a empregador, sob
subordinao deste, mediante pagamento de salrio e pessoalmente.
E quais seriam as suas modalidades? Vejamos.
Assimile
O nome dado ao cargo pouco importa, o que importa mesmo
a condio a que ele [o trabalhador] est submetido e qual a sua
autonomia em relao empresa (MARTINS, 2009, p. 147).
O empregado em domiclio e o teletrabalho
O trabalho em domiclio aquele realizado por uma pessoa em sua prpria casa
ou em local da sua escolha, conforme conceito expresso na Conveno 177 da OIT.
Este tipo de trabalho parece manter caractersticas remanescentes do trabalho
artesanal e caseiro, daquele em razo de arte ou ofcio. Para sua caracterizao
necessrio que o trabalho produza alguma remunerao e o esforo resulte em
produto ou servio, conforme solicitado pelo empregador, independentemente
37
U1
de quem lhe fornea os equipamentos, materiais ou outros insumos. No entanto,
caso esse trabalhador desenvolva atividade de forma que lhe possibilite certo grau
de autonomia e independncia econmica, ele ser considerado trabalhador
independente, autnomo, na conformidade da legislao vigente.
Do contrrio, o trabalhador em domiclio estar subordinado ao empregador, de
quem receber salrio, por tarefa ou mensalmente, e executar atividade conforme
estabelecido no contrato de trabalho. Ou seja, presentes os elementos do contrato de
trabalho, temos a figura do trabalhador em domiclio, e no do autnomo.
Assimile
No se distingue entre o trabalho realizado no estabelecimento do
empregador, o executado no domiclio do empregado e o realizado a
distncia, desde que estejam caracterizados os pressupostos da relao
de emprego (CLT, art. 6).
devido o salrio mnimo ao trabalhador em domiclio, considerado este
trabalho como o executado na habitao do empregado ou em oficina
de famlia, por conta de empregador que o remunere (CLT, art. 83).
Reflita
No teletrabalho, a prestao de servio a distncia faz com que se evitem
deslocamentos do empregado at a empresa, poupando tempo e
aumentando a flexibilidade na execuo das atividades. Para o empregador,
representa reduo de custos com infraestrutura e diminuio dos riscos
de deslocamento do seu empregado, alm de ampliar, pelo uso da
internet, o alcance a novos mercados e clientes. O teletrabalho pode ser
um fator decisivo para o aumento da produtividade.
Fique atento para o pargrafo nico do art. 6 da CLT, pois os meios telemticos e
informatizados de comando, controle e superviso tambm se equiparam aos meios
pessoais e diretos de comando, controle e superviso do trabalho alheio, ou seja,
mantm-se a subordinao.
38
U1
O empregado aprendiz
A principal caracterstica do empregado aprendiz a sua vinculao com a
escola e sua inscrio em programa de aprendizagem tcnico-profissional na
indstria, comrcio ou trabalho rural. Suas atividades laborais devem respeitar o seu
desenvolvimento fsico, moral e psicolgico. O aprendiz deve executar com zelo e
diligncia as tarefas necessrias sua formao.
Quadro 1.2 | Critrio de idade
Idade mnima: 14 anos
(art. 7, inciso XXXIII, CF/88)
Critrio de idade
Idade mxima: 24 anos
(art. 428, CLT)
Fonte: Elaborado pelo autor (2015).
O empregado aprendiz
A principal caracterstica do empregado aprendiz a sua vinculao com a
escola e sua inscrio em programa de aprendizagem tcnico-profissional na
indstria, comrcio ou trabalho rural. Suas atividades laborais devem respeitar o seu
desenvolvimento fsico, moral e psicolgico. O aprendiz deve executar com zelo e
diligncia as tarefas necessrias sua formao.
Outra caracterstica que o contrato de trabalho deve ser realizado por escrito
e por prazo mximo de dois anos. A validade do contrato de empregado aprendiz
depende de anotao na CTPS, de matrcula em instituio de ensino e de frequncia
na escola. O empregador dever cuidar para que o aprendiz tenha acesso escola,
no podendo sobrepesar seu horrio de trabalho nem lhe atribuir atividade diversa
do seu aprendizado ou condio fsica. O empregado aprendiz faz jus ao salrio
mnimo.
O trabalhador avulso
considerado trabalhador avulso aquele que, sindicalizado ou no, presta servios
de natureza urbana ou rural a diversas empresas, sem vnculo empregatcio e com a
intermediao obrigatria de um gestor de mo de obra (Decreto n 3.048/1999, art.
9, inciso VI). Ele se diferencia do trabalhador eventual e, segundo Instruo Normativa
da Receita Federal do Brasil IN RFB n 971/2009, pode ser porturio ou no porturio.
39
U1
Figura 1.4 | O trabalhador avulso
Sindicato ou
OGMO
Contrato
Mo de obra
Empresa
Avulso
Ausncia
de vnculo
Pesquise mais
Conhea mais sobre o trabalhador avulso: CF/1988, art. 7, inciso XXXIV;
Lei n 12.815/2013; Lei n 9.719/1998 (pagamento e intervalo de 11 horas
entre jornadas); Lei n 7.002/1982 (jornada noturna de 6 horas com
adicional de 50%); Lei n 8.036/1990 (FGTS); Decreto n 53.153/1963
(salrio-famlia); Decreto n 80.271/1977 (frias) e Decreto n 63.912/1968
(13 salrio).
40
U1
O estagirio
O estagirio a pessoa em processo de formao que integrada ao ambiente
de trabalho para complementar sua formao escolar. Ele no empregado nem se
confunde com o aprendiz.
Assimile
Estgio o ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no
ambiente de trabalho, que visa preparao para o trabalho produtivo de
educandos (art. 1 da Lei n 11.788/2008).
41
U1
como limite ao nmero de estagirios que ela poder contratar, de acordo com o
nmero de empregados.
Quadro 1.4 | Obrigaes da IE e da empresa
Da instituio de ensino
Da empresa
Elaborar plano de
atividades.
Indicar professor
orientador.
Verificar se a empresa
possui instalaes
adequadas.
Elaborar normas de
avaliao do estgio
e cobrar relatrios do
estagirio.
Nmero de
estagirios
1a5
6 a 10
11 a 25
26 ou mais
20%
42
U1
O trabalhador autnomo
a pessoa natural que exerce por conta prpria atividade econmica com ou sem
fins lucrativos.
A lei no exige que o trabalhador autnomo tenha diploma de curso tcnico ou
superior, diferentemente do profissional liberal. Ele pode atuar no interesse de um
tomador de servios sem, contudo, a ele se subordinar. A atividade deve ser habitual,
caso contrrio, poder-se- dizer que se trata de trabalhador avulso.
Exemplificando
Veja o caso do vendedor (ou do representante comercial autnomo).
O primeiro requisito caracterizador do autnomo a ausncia de
subordinao, prestando ele o servio a um nico empregador ou a
vrios ao mesmo tempo. Ele deve ser independente e assumir os riscos
da sua atividade, ou seja, comprometer-se diretamente com o prprio
resultado da atividade. Como ele faz a intermediao entre o produtor
e o consumidor final, sua remunerao proveniente de honorrios ou
comisso de venda. E como assume os riscos da atividade, faculta-lhe
fixar o preo final do produto, embutir comisso, dar desconto e negociar
prazo para pagamento esse o exerccio da sua autonomia.
43
U1
O trabalhador eventual
a pessoa natural que presta servios de natureza urbana ou rural, de carter
espordico, ocasional ou fortuito, em que h intervalos temporais, no necessariamente
uniformes, entre um e outro. A atividade no gera vnculo e pode ser realizada para
uma ou mais empresas. Est prevista no inciso V do art. 12 da Lei n 9.212/1991.
o caso, por exemplo, do pintor de parede, encanador ou eletricista, ou seja,
daquele profissional que realiza atividade diversa da atividade-fim da empresa para
a qual presta o servio. No h relao de continuidade nem habitualidade fato
distintivo entre ele e o trabalhador autnomo. Seu contrato vige enquanto durar o
servio. Na maioria dos casos o contrato verbal, dada a fungibilidade da atividade e o
curto espao de tempo em que ela geralmente realizada.
Ateno!
O trabalhador autnomo atua no interesse de um tomador de servios
sem, contudo, a ele se subordinar.
Lembre-se
O autnomo no possui relao de subordinao. Ele presta servio ao
empregador de forma independente, assumindo os riscos da sua atividade,
ou seja, compromete-se diretamente com o resultado da atividade.
Ateno!
Advogados, mdicos, engenheiros, contadores, economistas, artistas etc.,
so considerados como profissionais liberais. A caracterstica distintiva
44
U1
que esses profissionais necessitam de habilitao profissional.
Lembre-se
A lei no exige que se tenha diploma de curso tcnico ou superior,
diferentemente do profissional liberal.
Ateno!
O trabalhador em domiclio pode estar subordinado ao empregador, de
quem receber salrio por tarefa ou mensalmente, e executar atividade
conforme estabelecido no contrato de trabalho.
Lembre-se
Os meios telemticos e informatizados de comando, controle e superviso
se equiparam aos meios pessoais e diretos de comando, controle e
superviso do trabalho, configurando a relao de subordinao. o que
preceitua o pargrafo nico do art. 6 da CLT.
Avanando na prtica
Pratique mais
Instruo
Desafiamos voc a praticar o que aprendeu transferindo seus conhecimentos para novas situaes
que voc pode encontrar no ambiente de trabalho. Realize as atividades e depois as compare com
as de seus colegas.
O estagirio
1. Competncia de fundamentos
de rea
2. Objetivos de aprendizagem
3. Contedos relacionados
45
U1
4. Descrio da SP
5. Resoluo da SP
Lembre-se
Empregado a pessoa fsica que, com pessoalidade e nimo de emprego,
trabalha subordinadamente e de modo no eventual para outrem, de
quem recebe salrio. Empregado diretor aquele que, eleito para ocupar
cargo de diretor, tem o respectivo contrato de trabalho suspenso, o que
significa dizer que estar sujeito s ordens do Conselho da Administrao,
Presidncia ou qualquer outra instncia superior. Neste caso, permanece o
vnculo de subordinao e o trabalhador juridicamente um empregado,
pois seu cargo de diretor no possui autonomia.
46
U1
Faa valer a pena
1. Jos da Silva, engenheiro de produo e profissional autnomo, foi
contratado pela empresa Frigorficos Abaixo de Zero para ocupar o
cargo de Diretor de Relacionamento e Vendas. Celebrou contrato de
natureza de prestao de servios. Ao iniciar suas atividades, foi orientado
pelo proprietrio da empresa que ele deveria cumprir a mesma jornada
de trabalho que seus subordinados, para dar exemplo de disciplina
e dedicao, inclusive com marcao de ponto em relgio de ponto
eletrnico. Fixou no contrato o reajuste salarial na mesma data-base dos
funcionrios e est impedido de demitir qualquer funcionrio, pelo fato da
empresa ser administrada pelo grupo familiar, com decises centralizadas.
Diante desse cenrio, podemos afirmar que Jos da Silva prestador de
servios ou empregado?
47
U1
4. Segundo a lei, o trabalhador avulso aquele que, sindicalizado ou no,
presta servios de natureza urbana ou rural a diversas empresas, sem
vnculo empregatcio e com a intermediao obrigatria de um gestor de
mo de obra. Nesse caso, podem ser considerados trabalhadores avulsos:
a) Advogados e contadores.
b) Estivadores e peritos judiciais.
c) Engenheiros e produtores agrcolas.
d) Porturios e conferentes de cargas.
e) Ensacadores de caf e vendedores.
48
U1
7. Tcio Grego empregado de uma empresa de engenharia e construo.
Seu cargo de engenheiro civil. Aps 5 anos de dedicao, foi promovido
e passar a trabalhar fora da sede da empresa. Sua nova funo prev
a visita e fiscalizao dos canteiros de obra para distribuir ordens aos
subordinados, conforme planos executivos determinados pela Diretoria, a
realizao de pagamentos diversos e a elaborao de relatrios dirios, que
devero ser enviados ao final do expediente, por e-mail. No entanto, ele
poder fazer seu prprio horrio de trabalho, pois a empresa o fiscalizar
por sua produo diria. Podemos afirmar corretamente que seu novo
contrato de trabalho, aps a promoo, dever ser de profissional:
a) Liberal.
b) Em domiclio.
c) Empregado.
d) Avulso.
e) Porturio.
49
U1
50
U1
Seo 1.4
A pessoa do empregador
Dilogo aberto
Vamos finalizar nossa primeira unidade de estudo sobre os direitos sociais do
trabalho fechando o ciclo sobre os elementos bsicos da legislao trabalhista, que
visa proteger a relao de trabalho e seu vnculo, o contrato de trabalho, o empregado
e o empregador, que , agora, o nosso objeto de estudo.
Se o mundo do trabalho est mudando e alterando as relaes de trabalho e a
modalidade dos trabalhadores, certo que estas mudanas afetam tambm os
empregadores. Veremos que os empregadores tambm mudam e se atualizam
para atenderem s necessidades econmicas e de mercado, para se manterem
competitivos e sempre oferecendo o melhor produto.
O empregador, muitas vezes, j foi chamado de patro, patrono, dador de trabalho
ou mesmo de entidade patronal, de protetor ou defensor como o caso de
outros sistemas jurdicos (NASCIMENTO, 2011, p. 668). No direito interno brasileiro,
convencionamos cham-lo simplesmente de empregador.
E quem essa figura do empregador? Imagine um conglomerado de empresas,
nacionais e multinacionais, ou mesmo com sistema gerencial administrativo difuso:
imagine que voc trabalha num determinado local, mas a sede fica em outra cidade, o
pessoal de TI no exterior e parte do pessoal est distribuda em todo o territrio nacional.
Imagine tambm que em cada unidade, cada parte tenha um empregador diferente.
Estaramos falando da mesma empresa? Seria este conglomerado um consrcio,
grupo ou o qu? A forma como se arranjam comercialmente, se estruturam e se
organizam para desempenharem seu papel empresarial, na produo de produtos e
na prestao de servios, influencia na forma de contratao de empregados? Poderia
haver alguma espcie de empregado e empregador ao mesmo tempo?
Como j sabemos, a lei corre atrs dos avanos sociais das relaes de trabalho
para manter o equilbrio dos direitos de ambas as partes. Lembre-se: a fonte material
do direito do trabalho nasce efetivamente da relao entre empregado e empregador.
Veremos que a figura do empregador poder ser de uma associao de vrias
personalidades jurdicas ou mesmo em forma de cooperativa. E que a depender da
51
U1
sua forma de constituio poder trazer caractersticas especficas e fundamentais ao
vnculo de trabalho.
Vamos ento conhecer melhor esta ltima figura do empregador.
No pode faltar
A CLT define a figura do empregador, em seu artigo 2, como sendo a empresa,
individual ou coletiva que, assumindo os riscos da atividade econmica, admite,
assalaria e dirige a prestao pessoal de servio. equiparado ao empregador, para
os efeitos exclusivos da relao de emprego, o profissional liberal, a instituio de
beneficncia, a associao recreativa ou outra instituio sem fins lucrativos, que
admite trabalhadores como empregados e, nos termos do Cdigo Civil, as instituies
despersonalizadas, como a massa falida, o esplio ou o condomnio.
H outros tipos de empregadores presentes na Constituio Federal de 1988,
includos especialmente aps a Emenda Constitucional n 19/1998, que modificou o
regime da Administrao Pblica na contratao de servidores, como mostrado no
Quadro 1.6.
Quadro 1.6 | Administrao pblica e indireta
Administrao Pblica Direta
Unio
Estados
Distrito Federal
Municpios
Administrao Pblica Indireta
Autarquias
Fundaes
Empresas Pblicas
Sociedades de Economia Mista
Agncias Reguladoras e Executoras
Fonte: Elaborado pelo autor (2015).
52
U1
Sociedade em comandita simples (arts. 1.045 a 1.051);
Sociedade limitada (arts. 1.052 a 1.087);
Sociedade annima (arts. 1.088 e 1.089);
Sociedade em comandita por aes (arts. 1.090 a 1.092);
Sociedade cooperativa (arts. 1.093 a 1.096);
Sociedades coligadas (arts. 1.097 a 1.101).
Assimile
O ponto crucial para a identificao do empregador, segundo a CLT, a
relao de causa, ou seja, ser empregador a pessoa pblica ou privada,
individual ou coletiva, que assume os riscos da atividade econmica,
admite, assalaria e dirige a prestao do servio. Possui um centro ou
unidade de decises.
Figura 1.5 | Unidade de deciso
pessoa
natural
unidade de
deciso
pessoa jurdica
(ente abstrato)
Uma das questes mais intrigantes do Direito e que diz respeito pessoa jurdica a
imprescindibilidade quanto ao seu centro ou unidade de deciso. Assim, quando se diz
que o empregador assume os riscos da atividade econmica, admite, assalaria e dirige
a prestao do servio, dizemos que essas aes so resultados decisrios de algum,
de um ente. No entanto, este ente na pessoa jurdica um conceito abstrato. Quem
lhe d vida, na realidade, quem de fato toma a deciso e dirige a empresa ao seu fim
e objetivos, de modo a obter resultados e responder pelos eventuais prejuzos da sua
atividade, sempre uma pessoa natural.
O instrumento que dispe sobre os limites das responsabilidades de cada scio
ou diretor, ou ainda a forma de manifestao e exerccio da unidade de deciso, o
estatuto social ou o ato constitutivo da empresa. No caso das empresas individuais
(os profissionais autnomos) que possurem empregados, a unidade de comando se
53
U1
confundir com a prpria pessoa natural empregadora. Isso tambm ocorrer com os
profissionais liberais e com todos aqueles que se enquadrarem neste modelo.
Exemplificando
Conhecer os limites de uma empresa fundamental. Imagine, por
exemplo, determinada empresa, cujo capital social seja de R$ 10.000,00,
sem qualquer patrimnio mvel ou imvel. Aps sucessivas tomadas de
decises que desvirtuaram sua finalidade, restou empresa, aps algum
tempo, uma dvida com fornecedores da ordem de R$ 20.000,00, uma
dvida para com seus scios de R$ 15.000,00, e um passivo trabalhista
(entre salrios atrasados, depsitos de FGTS no realizados, contribuies
sociais do INSS atrasadas e indenizaes a pagar a seus empregados)
da ordem de R$ 80.000,00. A dvida bancria, oriunda de emprstimos
anteriores, da ordem de R$ 12.000,00. Pergunta-se: como essa empresa
honrar com os seus compromissos, se seu capital social de apenas dez
mil reais?
54
U1
O desvio de finalidade e a fraude contra os direitos trabalhistas so motivos
suficientes para o juzo do trabalho determinar que os bens particulares de seus scios
respondam solidariamente pela dvida da empresa, na medida da cota-parte de cada
scio.
Reflita
Voc sabia que a Justia do Trabalho uma instituio federal? diferente
da justia comum, por exemplo, que estadual. Isso permite que ela tenha
jurisdio para julgar todos os casos relacionados relao trabalhista,
no importando a esfera administrativa do Estado (se federal, estadual ou
municipal) ou a abrangncia da empresa individual ou coletiva.
Mas, e se no caso anterior, em vez de uma empresa, tivssemos vrias empresas,
cada uma delas com sua prpria unidade de deciso? Estaremos diante de um
conglomerado empresarial ou de um Grupo Empresarial. Como, ento, se resolveria
esse problema?
Pois bem, cada empresa uma unidade autnoma. O que significa dizer que a
atividade-fim por ela suportada e perseguida. No caso do Grupo Empresarial, ser
necessrio identificar a unidade de deciso e direo do grupo, que poder ser
atribuda a apenas uma nica pessoa jurdica ou a um conjunto de pessoas jurdicas.
Assimile
Mesmo em se tratando de Grupo Empresarial, haver uma unidade ou
centralidade de direo econmica.
H vrias figuras de grupos no mundo empresarial. So figuras surgidas
principalmente aps a dcada de 1980 e que, na verdade, so arranjos empresariais
que visam exclusivamente ao mundo dos negcios, ampliao da possibilidade de
lucro e reduo dos custos operacionais. So exemplos a Holding e a Joint Venture.
Vocabulrio
Holding: caracterizada pela existncia de uma empresa gestora de
carteira de participaes do capital social de um conglomerado de
empresas, com o objetivo de manter o controle administrativo e poltico
do grupo.
Joint Venture: nada mais do que uma modalidade de cooperao
55
U1
interempresarial, de carter temporrio ou definitivo, na qual as empresas
buscam resultados negociais positivos, sem perder sua personalidade
jurdica. Exemplos:
BRF Brasil Foods + DCH Dah Chong Hong Holdings Limited =
Joint Venture para comercializao de alimentos brasileiros in natura e
processados na China, alm de difundir a marca Sadia.
No dizer de Amauri Mascaro (2011, p. 681), h que se observar, no entanto, que no
existe uma definio legal exata que permita abranger todas as situaes. Podemos
identificar algumas caractersticas relevantes para o mundo do direito, que so os
grupos de direito ou grupos de fato; grupos orgnicos, de base institucional, e grupos
contratuais, de base contratual, grupos de base societria, com efetiva participao
dos scios, grupos de base contratual, como os acordos entre empresas, grupos
de base pessoal, com a identificao dos administradores, grupos de subordinao,
quando uma controladora exerce poder de comando sobre as controladas, impondo
direo unificada, e grupos de coordenao, quando as empresas so independentes.
Reflita
Imagine a Holding Grupo Silvio Santos, que controla o Sistema Brasileiro
de Televiso (SBT), Jequiti e o Banco Panamericano, ou ento a Holding
Grupo Po de Acar, que controla o Ponto Frio, o Supermercado Extra e
o Supermercado Po de Acar: quem responderia, juridicamente, pelos
direitos trabalhistas de um empregado de uma empresa do grupo?
Independentemente da natureza do grupo, da sua caracterstica relevante ou
preponderante, a CLT no impe limites ao modo de exerccio do controle de gesto
da empresa. Ela parte da concepo de existncia de um Grupo e de que h algum
centro de comando sobre os trabalhadores, regime de subordinao, regimes ou
condies de trabalho similares, enfim, caractersticas que apontem para uma empresa
distinta das demais e que representa o Grupo e ser, portanto, a responsvel pela
obrigao sobre os direitos trabalhistas. Sua existncia comprovada por contrato ou
por presuno. Sua caracterstica fundamental a direo unitria.
Assimile
o que dispe o 2 do art. 2 da CLT: sempre que uma ou mais
empresas, tendo, embora, cada uma delas, personalidade jurdica prpria,
56
U1
estiverem sob a direo, controle ou administrao de outra, constituindo
grupo industrial, comercial ou de qualquer outra atividade econmica,
sero, para os efeitos da relao de emprego, solidariamente responsveis
a empresa principal e cada uma das subordinadas.
Quadro 1.7 | Consrcio de trabalhadores rurais
O Consrcio de Trabalhadores Rurais dever conter, obrigatoriamente:
Identificao de cada produtor, seu endereo pessoal e o de sua propriedade rural;
Registro no Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria - INCRA ou informaes relativas a parceria, arrendamento ou equivalente;
Matrcula no Instituto Nacional do Seguro Social INSS de cada um dos produtores rurais.
Ser matriculado no INSS em nome do empregador.
Fonte: Elaborado pelo autor (2015).
57
U1
Apesar de dispensar a obrigatoriedade de capital social para a sua criao, garante
a cada cooperado uma cota-parte, que intransfervel. O centro de deciso da
cooperativa a assembleia, cujo quorum necessrio o dos presentes sesso. Ela
pode contar com um conselho de administrao ou diretoria. Outras vantagens da
cooperativa so a sua no sujeio falncia e a ausncia de relao de subordinao
ou vnculo entre os cooperados e destes em relao aos tomadores de servios da
cooperativa.
Pesquise mais
Qualquer que seja o ramo de atividade da sociedade cooperativa, no
existe vnculo empregatcio entre ela e seus associados, nem entre estes e
os tomadores de servios daquela ( nico do art. 442 da CLT).
A mesma disposio encontra-se no art. 90 da Lei Federal n 5.764/1971,
que instituiu a Poltica Nacional do Cooperativismo.
Leia tambm o 2 do art. 174 da CF/1988 e o Decreto n 60.597/1967.
So esses os instrumentos legais que regem as cooperativas.
Outro ponto a ser estudado o que diz respeito sucesso nas relaes de trabalho.
o caso, por exemplo, de compra e venda de uma empresa ou arrematao em hasta
pblica (e incidncia do art. 60 da Lei n 11.101/2005), ou de simples transferncia de
titularidade, como na sucesso hereditria.
Nesse aspecto, a CLT (arts. 10 e 448) j preconiza que qualquer alterao na
estrutura jurdica da empresa no afetar os direitos adquiridos por seus empregados,
bem como a mudana na propriedade ou na estrutura jurdica da empresa no poder
afetar os contratos de trabalho dos empregados.
58
U1
conglomerado seria esse? A forma como as empresas se arranjam comercialmente,
estruturam-se e se organizam para desempenharem seu papel empresarial, na
produo de produtos e na prestao de servios, influencia na forma de contratao
de empregados de modo a determinar diferentes empregadores?
Ateno!
Para cada relao de trabalho ou contrato de trabalho haver um
empregado e um empregador.
Lembre-se
Segundo a CLT, ser empregador a pessoa pblica ou privada, individual
ou coletiva, que assume os riscos da atividade econmica, admite, assalaria
e dirige a prestao do servio. Deve possuir um centro ou unidade de
decises.
Ateno!
Cada empresa corresponde a uma unidade autnoma. O que significa
dizer que a atividade-fim por ela suportada e perseguida.
Lembre-se
Mesmo em se tratando de Grupo Empresarial haver uma unidade ou
centralidade de direo econmica, que poder ser atribuda a apenas
uma nica pessoa jurdica ou a um conjunto de pessoas jurdicas.
Ateno!
H vrias figuras de grupos no mundo empresarial que, na verdade, so
arranjos empresariais que visam exclusivamente ao mundo dos negcios,
ampliao da possibilidade de lucro e reduo dos custos operacionais.
Lembre-se
Em todo caso, dever-se- aplicar o disposto no 2 do art. 2 da CLT:
sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora, cada uma delas,
59
U1
personalidade jurdica prpria, estiverem sob a direo, controle ou
administrao de outra, constituindo grupo industrial, comercial ou de
qualquer outra atividade econmica, sero, para os efeitos da relao de
emprego, solidariamente responsveis a empresa principal e cada uma
das subordinadas.
Avanando na prtica
Pratique mais
Instruo
Desafiamos voc a praticar o que aprendeu transferindo seus conhecimentos para novas situaes
que voc pode encontrar no ambiente de trabalho. Realize as atividades e depois as compare com
as de seus colegas.
Associao de trabalhadores
60
1. Competncia de fundamentos
de rea
2. Objetivos de aprendizagem
3. Contedos relacionados
4. Descrio da SP
5. Resoluo da SP
U1
Lembre-se
O art. 25-A da Lei n 8.212/1991 equipara ao empregador rural pessoa
fsica o consrcio simplificado de produtores rurais, formado pela unio
de produtores rurais pessoas fsicas, que outorgar a um deles poderes
para contratar, gerir e demitir trabalhadores para prestao de servios,
exclusivamente, aos seus integrantes, mediante documento registrado
em cartrio de ttulos e documentos. A cooperativa outra modalidade
de pessoa jurdica empregadora formada pela reunio de trabalhadores.
Faa voc mesmo
Romualdo Silva obteve sucesso na vida vendendo pregos. Com
fabricao prpria e utilizao de insumos corretos, chegou a levantar
um patrimnio empresarial de meio milho de reais. Como ele solteiro
e no possui herdeiros, resolveu vender a empresa. Instigado por um
grupo de funcionrios mais antigos, aceitou a proposta de vender a
empresa para a cooperativa de funcionrios criada legalmente para esse
fim. Essa operao juridicamente possvel?
61
U1
62
U1
5. Uma empresa de comrcio de cosmticos obteve nos ltimos
meses lucros de 200% acima da sua meta esperada. Seu proprietrio,
um jovem empreendedor, vendo esse resultado, tratou de simular
ganhos mais modestos e razoveis, pedindo falncia meses depois,
com o intuito de encerrar as atividades da empresa e fruir o dinheiro
arduamente conquistado. Para tanto, a concordata contribuiria para que
ele se desobrigasse de cumprir seus compromissos com fornecedores
e empregados. Os empregados ajuizaram reclamao trabalhista
coletiva, alegando fraude e o dever do empregador de honrar salrios
e indenizaes do trmino dos contratos de trabalho. Com base nos
conhecimentos adquiridos sobre a matria, a alternativa provvel que:
a) O juiz do trabalho indefira o pedido dos trabalhadores, porque uma vez
falida a empresa, desconstitui-se a sua pessoa jurdica.
b) O juiz do trabalho determine que a empresa continue operando at
que se reverta seu quadro, a fim de garantir o pagamento dos seus
compromissos com fornecedores e empregados.
c) O juiz do trabalho poder aplicar o instituto desregard entity para
garantir que o empregador cumpra com as obrigaes trabalhistas, caso
confirme o abuso da personalidade jurdica.
d) O juiz do trabalho determinar a aplicao do instituto desregard entity,
independentemente de configurao de fraude e to somente porque o
empregador se nega a pagar aos empregados.
e) O juiz do trabalho tomar providncias junto Vara Cvel porque o
direito de empresa de competncia da justia comum, conforme
disciplinado no Cdigo Civil.
6. O advento da Lei n 10.256, de 9 de julho de 2001, que alterou a Lei
n 8.212/1991, acrescentando-lhe o art. 25-A, equiparou figura do
empregador rural o consrcio simplificado de produtores rurais, formado
pela unio de produtores rurais pessoas fsicas. Quanto a essa figura de
empregador correto afirmar que:
a) Outorgar-se- a um deles poderes para contratar, gerir e demitir
trabalhadores para prestao de servios.
b) Os servios sero executados de forma no exclusiva e independente
de identificao desses trabalhadores rurais.
c) Competir ao INCA a fiscalizao de suas terras durante a prestao de
servios.
d) O consrcio dever conter, obrigatoriamente, a identificao de cada
produtor, seu endereo pessoal e o de sua propriedade rural, bem como
o respectivo registro no Instituto Nacional de Colonizao e Reforma
Agrria INCRA.
63
U1
e) A matrcula de cada um dos produtores rurais no Instituto Nacional do
Seguro Social INSS passou a ser dispensada, como forma de facilitar sua
empregabilidade e prestao de servios, principalmente na entressafra
agrcola.
64
U1
Referncias
CASSAR, Vlia Bomfim. Direito do trabalho. 9. ed. rev. e atual. So Paulo: Mtodo,
2014. (Obra completa e didtica, com jurisprudncia e caso prticos, sobre o Direito do
Trabalho e os tpicos estudados nesta unidade)
HUBERMAN, Leo. Histria da riqueza do homem: do Feudalismo ao Sculo XXI. 22.
ed. So Paulo: LTC, 2011. (Obra fundamental e clssica sobre o valor do homem e do
trabalho na sociedade contempornea)
JORGE NETO, Francisco Ferreira. Curso de direito do trabalho. 2. ed. So Paulo: Atlas,
2011. (Obra fundamental sobre o Direito do Trabalho e os principais tpicos aplicados a
esta unidade de ensino)
MARTINS, Srgio Pinto. Direito do trabalho. 25. ed. So Paulo: Atlas, 2009. (Obra clssica
sobre o Direito do Trabalho e fundamental em seu estudo)
MARX, Karl. Manuscritos econmico-filosficos e outros textos escolhidos. So Paulo:
Abril Cultural, 1978. (Coleo Os Pensadores). (Obra de fundamental importncia e de
cultura geral para conhecer a luta dos trabalhadores e sua relevncia econmica)
NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho. 26. ed. So Paulo: Saraiva,
2011. (Obra clssica sobre o Direito do Trabalho e fundamental em seu estudo)
LEGISLAO
CONSTITUIO FEDERAL DA REPBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988.
CONSOLIDAO DAS LEIS DO TRABALHO, Decreto-Lei n 5.452/1943.
CDIGO CIVIL, Lei n 10.406/2002.
LEI DE INTRODUO AO CDIGO CIVIL, Decreto-Lei n 4.657/1942.
FILME
O HOMEM DE MRMORE (1977), de Andrzej Wajda. A fora do trabalho humano e a
sua explorao no foi privilgio apenas dos Estados capitalistas. Esse filme, considerado
o Cidado Kane do leste europeu, conta a histria de uma jovem cineasta russa,
Agnieszka (Krystyna Janda), que est produzindo seu trabalho de concluso de curso,
que um documentrio sobre o operrio Mateusz Birkut (Jerzy Radziwilowicz). Birkut
65
U1
era um pedreiro que na dcada de 1950 tornou-se heri do proletariado e acabou
ganhando uma esttua de mrmore em sua homenagem. Com acesso a imagens da
poca e entrevistas com outros personagens e testemunhas, ela consegue vrias novas
informaes sobre o caso. O contedo do filme chama ateno do governo socialista,
que logo passa a ameaar o desenvolvimento do projeto, porque a pesquisa comea
a revelar as fragilidades de um regime de trabalho mais prximo do regime escravo do
que do modelo que temos hoje.
66
Unidade 2
O MUNDO DO EMPREGADO:
SALRIO, EQUIPARAO
SALARIAL E REMUNERAO
Convite ao estudo
Caro aluno, cara aluna, voc j deve ter percebido que o salrio o bem
jurdico mais valioso da relao trabalhista; a contraprestao do trabalho
realizado.
Sendo assim, a primeira coisa que voc deve saber que o salrio um direito
constitucional. O seu valor mnimo fixado em lei, nacionalmente unificado e
deve ser capaz de atender s necessidades vitais bsicas do trabalhador e s de
sua famlia.
Veremos, nesta unidade, as formas de contraprestao do salrio, quais so
seus elementos integradores, o conceito de remunerao e as suas protees
legais como, por exemplo, a equiparao salarial. Estudaremos tambm as
causas de suspenso e de interrupo do contrato de trabalho e, por fim, as
regras do Servio de Engenharia em Segurana e Medicina do Trabalho, que
visam proteger das condies de trabalho.
Avanaremos agora nossa ateno para o estudo de institutos importantes
que fazem parte da rotina do trabalho, do exerccio dos direitos e da sade do
trabalhador; vejamos as competncias e objetivos mobilizados nesta unidade.
Competncias gerais e tcnicas
Conhecer os fundamentos jurdicos relacionados s relaes trabalhistas e
previdencirias.
Objetivos especficos de aprendizagem
Identificar os fundamentos jurdicos do salrio e da remunerao;
U2
68
U2
69
U2
70
U2
Seo 2.1
O salrio e seus elementos constitutivos
Dilogo aberto
Caro aluno, como foi visto na unidade 1, h uma relao muito prxima entre
a produo de riqueza do pas, a economia e o trabalho. Vimos que o salrio foi
uma conquista dos trabalhadores e representa a contraprestao pelo trabalho
desenvolvido. Porm voc sabia que a discusso que envolve a questo do salrio
to antiga que remonta Revoluo Industrial?
Na Sesso do Conselho Geral da Associao Internacional dos Trabalhadores,
realizada em Londres durante o vero do ano de 1865, Karl Marx (1978, p. 75) lanou
o informe, posteriormente publicado sob o ttulo Salrio, Preo e Lucro, no qual
apresentou a seguinte ideia: os produtos ou mercadorias produzidas possuem uma
quantidade maior ou menor de esforo laboral, o que, em tese, no justificaria para
dimensionar a quantidade da contraprestao, a quantidade do salrio devido. Por
qu? Porque o trabalho tem uma dimenso social e os salrios achar-se-o limitados
pelos valores dos produtos, mas os valores de seus produtos no se acharo limitados
pelos salrios. Essa concepo uma das bases do capitalismo e marca a tenso
entre empregador que visa ao seu maior lucro e o empregado assalariado que
quer o seu maior salrio.
Em nossa unidade, no estudaremos a questo do ponto de vista sociolgico, mas
jurdico. Pensando na quantidade de trabalho e na quantidade de salrio, qual deve ser
a relao entre eles? Ou seja, qual o critrio de fixao do valor do salrio? Qual o
critrio para pagamento de salrios aos empregados do mesmo empregador? Tudo
o que o empregador paga ao seu empregado pode ser considerado salrio? Ento,
o que remunerao? Como h diferentes tipos de profissionais, haver tambm
diferentes formas de remunerao?
Veremos que h parcelas de natureza salarial e parcelas de natureza no salarial.
Lembre-se do caso de Vander dos Santos, ser que todos os profissionais daquela
empresa no deveriam ter os mesmos benefcios que ele? Ou ento, quem faria
(ou deveria fazer) jus queles benefcios? Nesse caso, qual o conceito jurdico de
benefcios, comisses, percentagens, gratificaes, dcimo terceiro salrio, prmios,
abonos, enfim, h muito ainda o que saber.
71
U2
Vamos estudar agora, portanto, quais so os elementos constituidores do salrio
e da remunerao do trabalhador, suas principais caractersticas e suporte legal, luz
da CLT e da Constituio Federal de 1988. So muitas perguntas que no podem ficar
sem respostas.
No pode faltar
Desde que o trabalho ganhou essa dimenso social, a onerosidade sempre foi
o ponto crucial na relao trabalhista e nos vnculos contratuais. Segundo Marx (op.
cit.), a substncia social comum a todas as mercadorias o trabalho, de tal modo
que para produzir uma mercadoria tem-se que inverter nela, ou a ela incorporar,
uma determinada quantidade de trabalho. Mas alerta para que no confundamos
quantidade de trabalho com retribuio do trabalho. No entanto, para toda quantidade
de trabalho, haver uma retribuio desse mesmo trabalho. Essa caracterstica
essencial ao capitalismo. o modelo vigente at os nossos dias. A retribuio do
trabalho (a contraprestao) historicamente foi associada ideia de salrio.
Vocabulrio
Segundo o dicionrio etimolgico (Disponvel em: http://www.
dicionarioetimologico.com.br. Acesso em 07 jul. 2015), a palavra salrio
vem do latim salarium, significando sal. Na Roma Antiga, utilizava-se o sal
para pagamento de servios prestados, como se moeda fosse. Na poca,
o sal era uma mercadoria de difcil obteno e era usado na conservao
de alimentos; por isso a sua importncia.
Figura 2.1 | Salrio e suas nomenclaturas
Honorrios
(Prof. Liberais)
Subsdio
(Agente Poltico)
Vencimento
(Servidor Pblico)
Soldada
(Martimos)
Salrio
(e suas denominaes)
72
Soldo
(Militares)
Provento
(Aposentados)
U2
Portanto, podemos definir salrio como a contraprestao pelo servio ou trabalho
realizado, incorporado no mundo jurdico sob uma concepo socio-jurdica. Seu
pagamento realizado na forma de pecnia (em dinheiro). , sobretudo, um direito
constitucional (art. 7, CF/88).
O avano das conquistas trabalhistas ampliaram as vantagens recebidas pelos
empregados para outras espcies de contraprestao e valores para alm daquele
mnimo fixado nacionalmente. A este conjunto de vantagens recebidas pelos
empregados, damos o nome de remunerao.
Assimile
Segundo Amauri Mascaro Nascimento (2011, p. 212), remunerao o
conjunto de prestaes recebidas habitualmente pelo empregado pela
prestao de servio, seja em dinheiro ou em utilidades, provenientes do
empregador ou de terceiros, mas decorrentes do contrato de trabalho, de
modo a satisfazer suas necessidades bsicas e de sua famlia.
Gorjeta a importncia
espontaneamente
dada
pelo cliente ao empregado
como tambm aquela que
cobrada pela empresa ao
cliente, como adicional nas
contas, a qualquer ttulo, e
destinada distribuio aos
empregados.
73
U2
As gratificaes
so parcelas espontneas pagas pelo empregador ao empregado
Por funo ou atividade
desempenhada durante
um perodo de tempo, ou
enquanto perdurar a causa
motivadora .
74
U2
Vejamos agora as comisses. uma contraprestao devida ao empregado em
decorrncia do desempenho, ou resultado obtido durante determinado perodo, ou
por meta alcanada, bem como mediante entrega de determinado servio ou parte
dele. Como regra geral, possui natureza salarial. mais comum no caso de vendedores.
pago de forma habitual ou peridica e seu valor poder corresponder a um valor fixo
ou a percentual (percentagem), ou ainda a ambas as modalidades, compondo o que
se chama de comisso mista. Qualquer que seja a sua modalidade, precisa tambm
ser previamente ajustada.
Caso o trabalhador receba apenas comisso varivel, a Constituio Federal de
1988 garante-lhe que seu valor mensal no seja abaixo do valor do salrio mnimo.
Por sua vez, se ele a recebe de forma mista, a somatria de ambas no poder ser
inferior ao salrio mnimo. Contudo, se a parte fixa for maior que o mnimo estar-se-
cumprida a exigncia legal. Nesse caso, mesmo que a comisso de determinado ms
seja nula, nada impedir que o empregado fique sem receber a comisso varivel.
importante salientar que, sobre a parte fixa, incidir o reajuste salarial e ser
considerada para todos os efeitos no clculo de frias e 13 salrio, por exemplo.
Agora, se ele receber apenas comisso pura, suas frias e 13 sero calculados tendo
por base a mdia mensal dos ltimos 12 meses recebidos.
Admite a lei que a comisso possa ser paga de forma bimestral, semestral ou
anual, ou seja, deve ser sempre peridica. Ela no se vincula s relaes operacionais
e comerciais do negcio. obrigao compulsria e independente do fato do cliente
pagar ou no pela mercadoria ou servio recebido. O pagamento da comisso
independe, inclusive, dos prazos praticados no comrcio para pagamento.
Exemplificando
Um vendedor realizou a venda de uma mquina operatriz para usinagem
de peas de grande porte. O cliente far o pagamento a prazo, em 10
parcelas de 20 mil reais. O pagamento do empregado comissionado
dever ocorrer independentemente do pagamento do cliente empresa.
O prazo para o empregador pagar a comisso (fixa ou percentual) ao
empregado deve ser ajustado em contrato e no deve exceder a 30 dias.
Se o pagamento da operao for a prazo, a comisso poder ser paga em
mesmo nmero das parcelas avenadas. A no vinculao do pagamento
da comisso ao recebimento do valor pelo empregador obedincia ao
princpio da no submisso do empregado ao risco do negcio que deve
ser suportado pelo empregador nos termos da CLT.
Voc entendeu esse conceito?
75
U2
Faa voc mesmo
Suponha que um vendedor receba R$ 800,00 de valor fixo mais
comisses. Nos ltimos quatro meses, recebeu cerca de R$ 2.800,00
mensais de comisso varivel e nos nove meses anteriores recebeu R$
2.200,00. Qual dever ser o seu valor de 13 salrio? Como ele recebe
valores de forma mista (fixo + comisso varivel), o 13 salrio ser o
resultado da soma da parte fixa paga no ms de dezembro mais a mdia
dos ltimos 12 meses da renda varivel, da seguinte forma: 13S = 800 +
( (2.800x4) + (2.200x8) )/12 = R$ 3.200,00.
Com relao ao prmio, esse no possui obrigatoriedade de pagamento na
forma de pecnia. Sua natureza jurdica recompensatria desde que pago de forma
espordica, por mera liberalidade e sem compromisso de repetio futura. Caso
contrrio, poder vir a ser reconhecido como gratificao e integrado ao salrio. Ele
tem o condo de agraciar o empregado por uma situao incomum ou especial,
conforme Smula 209 do STF e as Smulas 115, 202, 203 e 225 do TST.
E, finalizando esse estudo, temos o abono, que nada mais do que o adiantamento
de salrio que o empregador faz geralmente para antecipar pagamento de reajuste
salarial at a ocorrncia da data base. Ele no se confunde com gratificao ou
comisso.
Vamos estudar as parcelas sem natureza salarial.
O abono PIS-Pasep (Programa de Integrao Social Programa de Formao do
Patrimnio do Servidor Pblico, criados respectivamente pelas Leis Complementares
n 7 e n 8, de 1970, e integradas pela Lei Complementar n 26/75), aplica-se a todos
os trabalhadores cadastrados no PIS at o dia 4 de outubro de 1988. Ao trabalhador
cadastrado, que tiver saldo de quotas, ter direito ao rendimento anual de 3% do valor
das quotas, alm do Resultado Lquido Adicional (RLA).
Esse fundo, gerido pelo Governo Federal, formado pela contribuio das
empresas sobre o seu faturamento, motivo pelo qual no se confunde com a parcela
de participao nos lucros.
Informa o site da Caixa
Econmica Federal
que o trabalhador
beneficirio do
Abono-PIS pode saclo na forma de crdito
em conta corrente,
se for correntista
individual da Caixa
76
pode solicitar o
crdito na folha de
pagamento, caso seu
empregador tenha
celebrado o convnio
CAIXA PIS-Empresa
ou sac-lo nos
terminais de
autoatendimento
das agncias da
Caixa ou de seus
Correspondentes, ou
tambm nas Casas
Lotricas.
U2
Outra modalidade de parcela sem natureza salarial so as participaes nos Lucros
da Empresa (PL), tambm chamadas de gratificao de balano ou de gratificao
nos lucros. Est prevista no inciso XI, do art. 7, da Constituio Federal de 1988 e
na Lei n 10.101/00. Seu pagamento semestral ou anual, conforme ajuste com o
empregador. Possui natureza jurdica de ser parcela espontnea e sui generis, ou seja,
no se incorpora ao salrio, tampouco torna o empregado scio do empregador.
Quanto ajuda de custo e s dirias de viagem, essas possuem natureza jurdica
de parcela indenizatria e no se incorporam ao salrio. A ajuda de custo, nos
termos dos arts. 469 e 470 da CLT, devida quando o empregado encontra-se em
transferncia, mudando sua residncia para novo local de prestao de servio, desde
que determinado pelo empregador. J as dirias de viagem, de carter indenizatrio,
ato espontneo do empregador. Deve ser ajustado antecipadamente e seu valor no
poder ultrapassar 50% do salrio do empregado. Seu pagamento deve ser mensal.
Reflita
O art. 468 da CLT informa que nos contratos individuais de trabalho s
lcita a alterao das respectivas condies por mtuo consentimento, e
ainda assim desde que no resultem, direta ou indiretamente, prejuzos ao
empregado, sob pena de nulidade da clusula infringente desta garantia.
Assim, qualquer pagamento de parcelas de natureza salarial, bem como
daquelas sem natureza salarial, devero ser sempre pactuadas entre
empregador e empregado, atravs do contrato individual de trabalho.
Na vigncia do contrato, nenhuma alterao sobre parcelas de natureza
salarial ou no salarial poder prejudicar o direito adquirido do empregado.
Ateno!
comum que empregados recebam smartphones corporativos, carro
e combustvel por conta da empresa, vales alimentao, refeio ou
qualquer outro benefcio pecunirio ou em espcie, que reflita em
vantagem econmica.
77
U2
Lembre-se
Segundo os arts. 457 e 458 da CLT, alm do pagamento em dinheiro,
compreende-se no salrio, para todos os efeitos legais, a alimentao,
habitao, vesturio ou outras prestaes in natura que a empresa, por
fora do contrato ou do costume, fornecer habitualmente ao empregado.
Ateno!
Os vales para compras livres que ele geralmente utiliza para compra de
roupas, para estar sempre alinhado, e para os jantares e passeios com
clientes tambm assumem natureza salarial.
Lembre-se
Os vesturios, equipamentos e outros acessrios fornecidos aos
empregados e utilizados no local de trabalho, para a prestao do servio,
so benefcios de natureza no salarial.
Avanando na prtica
Pratique mais
Instruo
Desafiamos voc a praticar o que aprendeu transferindo seus conhecimentos para novas situaes
que pode encontrar no ambiente de trabalho. Realize as atividades e depois as compare com a de
seus colegas.
A participao nos lucros e resultados
78
1. Competncia de fundamentos
de rea
2. Objetivos de aprendizagem
3. Contedos relacionados
4. Descrio da SP
U2
5. Resoluo da SP
Lembre-se
A participao nos Lucros e Resultados da Empresa (PLR), tambm
chamadas de gratificao de balano ou de gratificao nos lucros, est
prevista no inciso XI, do art. 7, da Constituio Federal de 1988 e na Lei
n 10.101/00. Seu pagamento semestral ou anual, conforme ajuste
com o empregador. Possui natureza jurdica de ser parcela espontnea
e sui generis, ou seja, no se incorpora ao salrio, tampouco torna o
empregado scio do empregador.
Faa voc mesmo
Max gerente de uma rede de lojas e sua funo visitar diariamente, pelo
menos, quatro lojas, com o objetivo de ouvir os vendedores e gerentes
de lojas para monitorar o clima organizacional e a motivao da equipe.
Ele recebe salrio fixo e carro da empresa, com o objetivo de utilizlo em sua atividade profissional. Contudo o combustvel ele deve pagar
de seu prprio bolso. Apesar de j ter apresentado sua discordncia em
relao a esse modelo, a empresa continua entendendo que se trata de
benefcio de natureza salarial. Apresente um posicionamento para ajudar
Max a resolver definitivamente seu problema.
79
U2
desprestigiados e exigiram do empregador o mesmo presente,
alegando tratar-se, na verdade, gratificao por tempo de servio. O
Direito acolhe o desejo dos demais funcionrios?
80
U2
b) Se o funcionrio receber gratificao por funo de confiana, dever
receb-la sempre, mesmo aps substitudo dessa funo ou dela
simplesmente destitudo.
c) Se o funcionrio receber gratificao por funo de confiana, essa
gratificao incorporar ao salrio aps transcorridos 10 anos de efetivo
exerccio.
d) Se o funcionrio receber gratificao por funo de confiana, dever
receb-la sempre se estiver incorporada ao salrio, devendo, para tanto,
permanecer na funo.
e) Se o funcionrio receber gratificao por funo de confiana, no
dever receb-la sempre, pois sua validade de at 10 anos.
81
U2
6. Sobre as comisses, sua natureza de contraprestao e decorre de
desempenho ou resultado previamente definido como satisfatrio pelo
empregador. Sobre as comisses, avalie os enunciados a seguir.
I Possui natureza jurdica de salrio.
II pago de forma habitual ou peridica.
III Seu valor poder corresponder a um valor fixo ou a percentagem.
IV possvel haver parcela fixa.
V No precisa ser previamente ajustada.
Est incorreto o que se afirma em:
a) I.
b) II.
c) III.
d) IV.
e) V.
a) 1 4 3 2
b) 3 2 1 4
c) 2 4 1 3
d) 1 3 2 4
e) 4 2 3 1
82
U2
Seo 2.2
Remunerao: tempo, local, forma e garantias
Dilogo aberto
Caro aluno, voc se lembra da ideia de Marx da nossa seo anterior? Sobre a
dimenso social do trabalho e sobre as quantidades de trabalho necessrias fabricao
das mercadorias? Pois bem, em outro momento daquele texto citado, ele menciona o
seguinte sobre as quantidades de trabalho entre uma mercadoria e outra: consideradas
desse modo, s pode distinguir-se umas das outras enquanto representem quantidades
maiores ou menores de trabalho; assim, por exemplo, num leno de seda pode encerrarse uma quantidade maior de trabalho do que em um tijolo.
J sabemos que a quantidade de trabalho a medida pela qual o empregador
remunera o empregado, pagando-lhe por quantidades equivalentes do mesmo salrio.
E vimos as diferentes modalidades de parcelas de natureza salarial e de natureza no
salarial que completam a contraprestao remuneratria do empregado.
Precisamos ver agora outras parcelas que, ao lado daquelas, compem a
remunerao do trabalhador. Vamos estudar o conceito de salrio utilidade e o que
so essas utilidades. Voc sabe quando, de que forma e onde o salrio deve ser pago?
Voc sabia que tudo isso regulado pelo Direito do Trabalho, como tambm a garantia
de equiparao salarial entre empregados com a mesma funo?
No nosso caso hipottico, Vander dos Santos, alm de receber seu salrio, recebe
graciosamente mercadorias (pedras ou joias) produzidas pela prpria empresa,
que apresentam pequenos defeitos e por isso foram excludas do comrcio. Alm
disso, o nico executivo pleno que recebe prmios semestrais em dinheiro por
metas atingidas. Junto a esses prmios, ganha bebidas e charutos diretamente dos
presidentes da empresa.
Essa a situao problema que nortear nossos estudos nesta seo, ento
devemos nos perguntar: qual a natureza do recebimento dessas mercadorias? E
as bebidas e charutos que recebe diretamente dos presidentes da empresa? Esses
benefcios in natura incorporam ou incorporam-se ao o salrio? So legais?
o que veremos nesta seo de estudo que se inicia agora.
Vamos a ela, ento.
83
U2
No pode faltar
O trabalho est associado condio social e humana do trabalhador. Uma quantidade
de trabalho corresponde a uma quantidade de remunerao que, por sua vez, deve ser
digna e capaz de garantir ao trabalhador condio de atender s suas necessidades vitais
bsicas. Tal disposio do inc. IV, do art. 7, da CF/88, sobre o salrio mnimo: fixado
em lei, nacionalmente unificado capaz de atender a suas necessidades vitais bsicas e
s de sua famlia com moradia alimentao, educao, sade, lazer, vesturio, higiene,
transporte e previdncia social, com reajustes peridicos que lhe preservem o poder
aquisitivo, sendo vedada sua vinculao para qualquer fim.
Respectivo conceito da norma constitucional reforado pelo art. 81 da CLT que
apresenta a seguinte frmula para clculo do salrio mnimo:
SM = a + b + c + d + e
onde "a", "b", "c", "d" e "e" representam os seguintes bens necessrios vida de um
trabalhador adulto, respectivamente:
Figura 2.2 | Composio do salrio mnimo
Alimentao
Habitao
Vesturio
Higiene
Transporte
84
U2
recompensatria pelo trabalho prestado, e que deve se caracterizar como
benefcio e proporcionar uma economia em seus recursos financeiros. Se
essa forma de remunerao tiver estas caractersticas, ser considerado
salrio-utilidade.
O benefcio poder ser concedido desde a admisso do empregado e mediante
sua participao, com desconto sobre seu salrio que dever ser economicamente
vivel, de baixo impacto financeiro e nos limites determinados pela lei. Veja o que
dispe a CLT a respeito.
Assimile
Art. 468 - Nos contratos individuais de trabalho s lcita a alterao das
respectivas condies por mtuo consentimento, e ainda assim desde
que no resultem, direta ou indiretamente, prejuzos ao empregado, sob
pena de nulidade da clusula infringente desta garantia.
So exemplos de salrio-utilidade ou salrio in natura, segundo a CLT (art. 458):
Habitao. O valor mximo do desconto do benefcio no poder exceder a
25% (vinte e cinco por cento) do salrio contratual do empregado. Caso o aluguel do
imvel seja maior, caber ao empregador suportar a diferena. necessrio que para
cada unidade habitacional corresponda uma nica famlia de empregado.
Alimentao. Para que seja considerado salrio-utilidade, preciso que seja
pago com habitualidade e na forma in natura, (o vale uma forma), como benefcio,
ou seja, em funo ou em razo do trabalho (e no para o trabalho) e que importe
em economia dos recursos financeiros do empregado, ao empregado no aderido
ao PAT (Programa de Alimentao a Trabalhador). O valor do benefcio no poder
ultrapassar 20% (vinte por cento) do salrio contratual do empregado.
Reflita
Leia com ateno o art. 458 da CLT, seus incisos e pargrafos. Segue o
caput para voc entender melhor os conceitos que estamos tratando:
Alm do pagamento em dinheiro, compreende-se no salrio, para todos
os efeitos legais, a alimentao, habitao, vesturio ou outras prestaes
in natura que a empresa, por fora do contrato ou do costume, fornecer
habitualmente ao empregado. Em caso algum ser permitido o pagamento
com bebidas alcolicas ou drogas nocivas.
85
U2
A ausncia de qualquer um dos elementos constituidores do salrio-utilidade
poder ensejar a sua descaracterizao e a utilidade passar a ser considerada apenas
como utilidade de natureza no salarial. o que ocorre com as utilidades, como por
exemplo, de vesturio, equipamentos ou outros acessrios quando fornecidos aos
empregados e destinados para serem utilizados no local de trabalho, para a prestao
do servio (Lei n 10.243/02). Neste caso, dada a natureza da utilidade, de no ser
uma contraprestao, no correspondente, portanto, ao salrio, sero, para todos os
efeitos legais, utilidades de natureza no salarial.
Exemplificando
Tcia, empregada de uma confeco de roupas, recebe costumeiramente,
mas sem habitualidade, roupas que produz como forma de pagamento
de salrio, ora porque assim o deseja, ora porque imposto por sua
empregadora. Por ser imigrante, reside nos fundos da confeco e essa
moradia contabilizada pela empregadora como parcela salarial. Ela
quer mudar de emprego, mas no conseguir outro com os mesmos
benefcios. Voc capaz de identificar quais so verdadeiramente
benefcios ou utilidades e a natureza de cada um deles?
O salrio-utilidade o pagamento in natura feito ao empregado de
forma graciosa e habitual pelo empregador, com o nimo e inteno
recompensatria pelo trabalho prestado, e que deve se caracterizar como
benefcio e proporcionar uma economia em seus recursos financeiros.
Diante desse conceito, as roupas que Tcia recebe sem habitualidade no
pode se configurar como salrio-utilidade, sendo apenas utilidades. Ou
seja, poder receb-las desde que no abatam sobre o valor do salrio. E
quanto moradia? Agora com voc.
86
U2
a habitao preenchem aqueles requisitos legais e se a moradia est
destinada a um nico grupo familiar. Observe bem que no poder
ser moradia coletiva, tipo cortio. Caso contrrio, haver abuso da
empregadora e esta clusula contratual ser nula.
Tcia precisa ser esclarecida sobre a forma de concesso de benefcios e
utilidades salariais para poder avaliar novas propostas de emprego.
Vejamos outros exemplos de utilidades que no configuram salrio:
Figura 2.3 | Salrios utilidade
EDUCAO em estabelecimento prprio ou de terceiros,
referentes matrcula, mensalidades, livros e material didtico.
87
U2
As regras para sua concesso esto disciplinadas no art. 294, da IN 45/10, do
INSS, que, em suma, estabelece a concesso deste benefcio s seguradas durante
120 dias, com incio at 28 dias antes do parto e trmino 91 dias depois dele. Em
casos excepcionais, os perodos de repouso anterior e posterior ao parto podem ser
aumentados de mais duas semanas, mediante atestado mdico especfico.
Figura 2.4 | Licena gestante
Aborto
espontneo
Parto
Concesso
do benefcio
Morte
da genitora
Assimile
As utilidades salariais ou no salariais devem ser ajustadas entre empregado
e empregador, de preferncia, desde a contratao, e constar em contrato
de trabalho. Lembre-se do que j mencionamos: o salrio um direito
social indisponvel.
Periodicidade, local e forma de pagamento so obrigaes impostas ao empregador
e visam proteger o empregado contra eventuais abusos.
Tal a previso do art. 459, da CLT. Exceo regra so as comisses e gratificaes
88
U2
que podero ter outros prazos, mas nunca superiores ao trimestre. O pagamento
realizado no local de trabalho deve ser em dia til, mediante recibo do empregado.
No caso de crdito em conta, o empregado dever ficar isento de cobranas de taxas
bancrias ou tributos, como IOF. Fonte: O autor (2015)
Alm dessas obrigaes, outras vedaes se impem ao empregador, como
aplicar descontos ou reteno de salrio ou pag-lo com vales ou tickets.
Figura 2.5 | Obrigaes salariais
Periodicidade
* mensal
* at 5 dia til
* pago pessoalmente
Forma
* local de trabalho
* dinheiro ou cheque
* crdito em conta-salrio
Descontos
ou reteno
Vales
ou tickets
caso o empregado
recuse rececer
seu salrio, o
empregador poder
pag-lo mediante
consignao em
pagamento
89
U2
Por fim, proibida a cesso, doao ou qualquer outro ato de alienao sobre o
salrio. O que no significa dizer, por exemplo, que sobre ele se aplique descontos
legais como os alimentos. Por outro lado, a cesso do empregado do seu crdito
salarial em processo de execuo converte-o em credor quirografrio, perdendo a
vantagem de preferncia na execuo da empresa-empregadora.
Vocabulrio
Credor quirografrio aquele no possui garantia real de pagamento. O
credor preferencial, num processo de execuo, pago primeiro, antes
do quirografrio.
Ateno!
comum que empregados recebam, graciosamente, mercadorias ou
produtos da prpria empresa, seja porque apresentam pequenos defeitos
e por isso esto excludos do comrcio, seja por mera liberalidade. Essa
prtica permitida em lei.
Lembre-se
Segundo o art. 458, da CLT, compreendem-se no salrio, para todos os
efeitos legais, as prestaes "in natura" que a empresa fornecer habitualmente
ao empregado. preciso, no entanto, verificar o contrato ou o costume.
Ateno!
O recebimento de prmios totalmente legal, inclusive os que forem
recebidos por pessoas que representem o empregador.
90
U2
Lembre-se
Segundo o mesmo art. 458, da CLT, em caso algum ser permitido o
pagamento com bebidas alcolicas ou drogas nocivas sade do trabalhador.
Avanando na prtica
Pratique mais
Instruo
Desafiamos voc a praticar o que aprendeu transferindo seus conhecimentos para novas situaes
que pode encontrar no ambiente de trabalho. Realize as atividades e depois as compare com a de
seus colegas.
Remunerao: tempo, local, forma e garantias
1. Competncia de fundamentos
de rea
2. Objetivos de aprendizagem
3. Contedos relacionados
4. Descrio da SP
5. Resoluo da SP
Lembre-se
O salrio-utilidade e a utilidade so benefcios que devero, em tese, ser
concedidos desde a admisso do empregado e mediante sua participao,
com desconto sobre seu salrio. Esse desconto dever ser economicamente
vivel, de baixo impacto e nos limites determinados pela lei.
91
U2
Faa voc mesmo
Ulisses trabalha na empresa X-Alimentos e recebe vale alimentao
e vale refeio do empregador, como todos os funcionrios. Porm,
quando da sua contratao, os funcionrios almoavam na sede da
empresa. Aps uma alterao contratual, todos os funcionrios passaram
a receber vales que somente so aceitos nos restaurantes e mercados do
prprio grupo comercial, que no possui uma rede de fcil acessibilidade
a todos os funcionrios. Ulisses suspeita de prtica de truck system e
requer a anulao do contrato de trabalho e ressarcimento por perdas e
danos. Quais direitos assistem a Ulisses a esse respeito?
92
U2
aquisitivo, sendo vedada sua vinculao para qualquer fim. O art. 81, da
CLT, apresenta a seguinte frmula para fixao do salrio mnimo:
Sm = a + b + c + d + e
em que "a", "b", "c", "d" e "e" representam, respectivamente, o valor das
despesas dirias com:
a) alimentao, habitao, vesturio, higiene e transporte.
b) alimentao, habitao, educao, higiene e moradia.
c) alimentao, educao, sade e previdncia privada.
d) habitao, higiene, transporte e vesturio.
e) habitao, educao, sade, esporte, lazer e cultura.
93
U2
5. A habitao e alimentao so espcies de salrio in natura. A
concesso de ambos est vinculada aos seguintes quesitos bsicos.
a) O benefcio habitao no poder exceder a metade do salrio
contratual do empregado e cada unidade habitacional corresponder
uma nica famlia de empregado. Caso a despesa seja superior quele
limite, ficar a cargo do empregador arcar com o custo que o extrapolar.
Quanto alimentao, para que seja considerado salrio-utilidade,
preciso que seja pago com habitualidade e limitado a 20% (vinte por
cento) do salrio contratual do empregado.
b) O benefcio habitao no poder exceder a 25% (vinte e cinco por
cento) do salrio contratual do empregado e cada unidade habitacional
corresponder uma nica famlia de empregado. Caso a despesa seja
superior quele limite, ficar a cargo do empregador arcar com o custo
que o extrapolar. Quanto alimentao, para que seja considerado
salrio-utilidade, preciso que seja pago com habitualidade e limitado a
metade do salrio contratual do empregado.
c) O benefcio habitao no poder exceder a 25% (vinte e cinco por
cento) do salrio contratual do empregado e cada unidade habitacional
corresponder uma nica famlia de empregado. Caso a despesa seja
superior quele limite, ficar a cargo do empregador arcar com o custo
que o extrapolar. Quanto alimentao, para que seja considerado
salrio-utilidade, preciso que seja pago com habitualidade e limitado a
20% (vinte por cento) do salrio contratual do empregado.
d) O benefcio habitao no poder exceder a 25% (vinte e cinco por
cento) do salrio contratual do empregado e cada unidade habitacional
corresponder uma nica famlia de empregado. Caso a despesa seja
superior quele limite, ficar a cargo do empregado arcar com o custo
que o extrapolar. Quanto alimentao, para que seja considerado
salrio-utilidade, preciso que seja pago com habitualidade e limitado a
20% (vinte por cento) do salrio contratual do empregado.
e) O benefcio habitao no poder exceder a 25% (vinte e cinco por
cento) do salrio contratual do empregado e cada unidade habitacional
corresponder uma nica famlia de empregado. Caso a despesa seja
superior quele limite, ficar o empregador dispensado da obrigao.
Quanto alimentao, para que seja considerado salrio-utilidade,
preciso que seja pago com habitualidade e limitado a 20% (vinte por
cento) do salrio contratual do empregado.
94
U2
a) Deve ser pago mensalmente, at o dia 5 de cada ms e de pessoalmente
pelo empregador, devendo ser realizado no local de trabalho.
b) O pagamento pode ser em dinheiro ou cheque pessoalmente ao
empregado e em dia til, quando pago no local de trabalho.
c) O pagamento poder ser feito mediante crdito em conta bancria,
onde o empregado j seja correntista, arcando este com eventuais
despesas de taxas bancrias ou de pagamento de tributos financeiros,
como IOF, quando o caso.
d) vedado ao empregador aplicar descontos sobre o salrio ou de
ret-lo, mesmo em se tratando de alimentos de ordem judicial.
e) Com relao ao pagamento mediante vales ou bnus, vedada a
prtica de truck system.
95
U2
96
U2
Seo 2.3
Proteo ao salrio: a equiparao salarial
Dilogo aberto
Caro aluno, vimos na aula anterior o conceito de salrio in natura, ou seja, aquelas
utilidades ou benefcios que se acrescem ao salrio, proporcionando algumas
vantagens ao trabalhador, que podem ser de natureza salarial (salrioutilidade) e de
natureza no salarial.
Assim, aprendemos que salrio-utilidade o pagamento realizado in natura
ao empregado de forma graciosa e habitual pelo empregador, com finalidade
recompensatria pelo trabalho prestado. Deve se caracterizar como benefcio,
proporcionando economia ao empregado. Ao lado disso, vimos os limites impostos
ao empregador referentes ao salrio, tais como a proibio de aplicar desconto, atraslo ou de ret-lo, ou ainda de dar-lhe natureza conhecida como truck system.
Devemos estudar agora outros mecanismos de proteo ao salrio sob a gide do
princpio legal da equiparao salarial. Lembrando-se de nosso caso concreto. Santos,
alm de receber salrio equiparado aos dos demais executivos de seu nvel, possui
smartphone corporativo, carro com quilometragem livre e combustvel por conta da
empresa entre outros benefcios, como as despesas de alimentao e hospedagem,
quando em viagens de negcios, so custeadas integralmente pela empresa,
independente de comprovao por Nota ou Cupom Fiscal. Porm, estes privilgios
so exclusivos dele, pois nenhum outro executivo daquele nvel os possui.
Mas o que significa receber salrio equiparado? Somente o salrio deve ser
equiparado? E os demais benefcios, os salrios-utilidade, no deveriam ser
equiparados? E quando no se consegue equiparar?
Voc vai descobrir que h mecanismos que protegem a equiparao quando da
ocorrncia de simultaneidade na prestao de servios, a aplicao da analogia e de
equivalncias da prestao do servio. Por fim, estudaremos o instituto da terceirizao.
Vale lembrar que, com relao terceirizao, essa discusso associa-se outra que
envolve, por exemplo, a flexibilizao das relaes do trabalho. Os posicionamentos
sobre essa matria so vrios e diversos, a depender dos diferentes grupos que
97
U2
participam da arena tripartite de discusso sobre os direitos trabalhistas. o Direito
Social do Trabalho em movimento e em construo. Vamos estudar ento mais estes
contedos que faro parte da sua formao sobre legislao social e do trabalho.
Vamos l, ento.
No pode faltar
Caro aluno, voc se lembra da ideia de Marx sobre a dimenso social do trabalho
e sobre as quantidades de trabalho necessrias fabricao das mercadorias? Pois
bem, segundo Marx, as quantidades de trabalho entre uma mercadoria e outra se
distinguem entre si enquanto representam quantidades maiores ou menores de
trabalho. E exemplifica utilizando a figura de um leno de seda e de um tijolo, que
podem representar quantidades maiores ou menores de trabalho.
Figura 2.7 | Tese de Karl Marx
Naquele texto de 1865, Salrio, Preo e Lucro, Karl Marx (1978, p. 75) revolucionou
o pensamento capitalista ao desvendar essa ideia de que as mercadorias produzidas
possuem uma quantidade maior ou menor de esforo laboral e que isso no se
justifica para dimensionar a quantidade da contraprestao, o valor do salrio devido.
So conceitos distintos: o trabalho tem uma dimenso social, mas os salrios
podero ser limitados pelos valores dos produtos, mas os valores dos produtos no
sero limitados pelos valores dos salrios. Uma coisa a quantidade de trabalho e
a remunerao devida; outra a quantidade de trabalho necessria produo da
mercadoria. A primeira deve respeitar a dimenso social do trabalho para chegar
ao valor do salrio; a segunda a dimenso capitalista de mercadoria para chegar ao
preo da mercadoria. Essa distino fundamental para voc entender a importncia
da equiparao salarial.
98
U2
Quantidade de trabalho empenhado numa determinada mercadoria no
corresponde quantidade de salrio devido. Por qu? Porque o trabalho possui uma
dimenso social. Se voc vincular quantidade de trabalho produo de mercadoria,
estar proporcionando uma distino desigual entre os trabalhadores, especialmente
entre trabalhadores homens e mulheres. O salrio deve atender a uma condio
social, que a mesma entre homem e mulher. Mas no era assim.
Amauri Mascaro (2011, p. 819) descreve o cenrio industrial da virada do sculo XX:
o trabalho feminino foi remunerado em taxas bastante inferiores
quelas atribudas aos homens, em mdia 50% menos, na Inglaterra, na
Frana, nos Estados Unidos etc. Do aproveitamento mais vantajoso das
mulheres, porque menores eram os custos da mo de obra, resultou
um problema social, agravando-se uma crise de desemprego. Por tal
razo, difundiu-se a ideia da necessidade de coibir os abusos e proibir
a desigualdade salarial, principalmente entre homens e mulheres, mas
tambm entre os homens que prestassem servios de natureza igual.
Pesquise mais
Sobre o assunto, veja as Convenes n 100 e 111 e Recomendao n
90, todas da OIT, o Pacto Internacional sobre direitos sociais, econmicos
e culturais da Assembleia Geral das Naes Unidas (1966), a Conveno
sobre eliminao de discriminao da mulher, das Naes Unidas (1979)
e os incisos constitucionais XXX e XXXI, do art. 7, da Constituio Federal
brasileira de 1988.
No direito ptrio, encontramos a proteo do instituto da equiparao tanto na
Constituio Federal de 1988 quanto na CLT, vejamos.
Assimile
CF/88, art. 7, XXX - proibio de diferena de salrios, de exerccio de
funes e de critrio de admisso por motivo de sexo, idade, cor ou
estado civil.
99
U2
CLT, art. 5. - A todo trabalho de igual valor corresponder salrio igual,
sem distino de sexo.
Com relao questo de gnero, a CLT possui um captulo especial proteo do
trabalho da mulher: o Captulo III, do Ttulo III, que trata das normas especiais de tutela
do trabalho. Merece destaque nesse captulo a proibio imposta ao empregador ao
considerar o sexo, a idade, a cor ou situao familiar como varivel determinante para
fins de remunerao, formao profissional e oportunidades de ascenso profissional
(inc. III, do art. 373A), alm de autorizar a eventual adoo de medidas temporrias
que visem ao estabelecimento das polticas de igualdade entre homens e mulheres,
em particular as que se destinam a corrigir as distores que afetam a formao
profissional, o acesso ao emprego e as condies gerais de trabalho da mulher.
Mas a equiparao somente vlida em relao questo de gnero?
Absolutamente no. essencial na equiparao da quantidade de trabalho entre si,
de modo a identificar o trabalho de igual valor, ou seja, todo trabalho de igual valor,
de idntica funo, prestado ao mesmo empregador, na mesma localidade, dever
corresponder a igual salrio, sem distino de sexo, nacionalidade ou idade (art. 461,
CLT).
E por trabalho de igual valor, a lei entende ser aquele realizado com igual
produtividade e com a mesma perfeio tcnica entre pessoas que entre si no
tenham mais de dois anos de diferena de tempo de servio.
E no caso da empresa possuir quadro de carreira organizado, h que se observar
os critrios de antiguidade e merecimento para efeitos de promoo, que devero ser
aplicados alternativamente, para cada categoria profissional. Mas em se tratando de
trabalhador readaptado em nova funo por motivo de deficincia fsica ou mental
atestada pelo rgo competente da Previdncia Social, neste caso, o empregador
estar dispensado de aplicar a equiparao.
E por fim, quanto a esse assunto, devemos destacar a situao do trabalhador
portador de deficincia. Ele recebe proteo especial da Constituio Federal de 1988.
Assimile
CF/88, art. 7, XXXI - proibio de qualquer discriminao no tocante a
salrio e critrios de admisso do trabalhador portador de deficincia.
Pois bem, alm das funes idnticas, com igualdade de produtividade e mesma
perfeio tcnica, a CLT pe a salvo tambm os direitos de equiparao entre aqueles
que possuem funes semelhantes. o que dispe o seu art. 358, ao disciplinar a
equiparao por funo anloga.
100
U2
Trata de forma especial de tutela do trabalho (Ttulo III). a chamada nacionalizao
do trabalho, que nada mais do que regular a proporcionalidade e equiparao entre
trabalhadores brasileiros e trabalhadores estrangeiros. Essa regra vale para as empresas
individuais ou coletivas que exploram servios pblicos dados em concesso ou que
exeram atividades industriais ou comerciais. Caso esta empresa tenha mais do que
trs empregados, dever manter uma proporo de 2/3 de empregados brasileiros.
Entretanto, caso haja necessidades especiais de atividade desempenhada, poder-se-
fixar proporo menor do que essa estipulada pelo art. 354, da CLT.
Quadro 2.1 | Empresas obrigadas nacionalizao do trabalho
estabelecimentos industriais em geral
servios de comunicaes, de transportes terrestres, martimos, fluviais,
lacustres e areos
nas garagens, oficinas de reparos e postos de abastecimento de automveis
e nas cocheiras
indstria da pesca
estabelecimentos comerciais em geral
escritrios comerciais em geral
So
empresas
de atividades
industriais e
comerciais
Vocabulrio
Equiparam-se aos brasileiros, para os fins deste captulo, ressalvado o
exerccio de profisses reservadas aos brasileiros natos ou aos brasileiros
em geral, os estrangeiros que, residindo no pas h mais de dez anos,
tenham cnjuge ou filho brasileiro, e os portugueses.
101
U2
Como vimos, a regra da equiparao no se aplica apenas regra da
proporcionalidade como tambm ao valor do salrio, de modo que nenhuma empresa,
ainda que no sujeita proporcionalidade, poder pagar a brasileiro que exera funo
anloga que exercida por estrangeiro a seu servio, salrio inferior ao deste.
Reflita
A proporcionalidade obrigatria no s em relao totalidade do quadro
de empregados como tambm em relao correspondente folha de
salrios. So excees quando, nos estabelecimentos que no tenham
quadros de empregados organizados em carreira, o brasileiro contar com
menos de dois anos de servio e o estrangeiro com mais de dois anos;
quando houver quadro organizado em carreira em que seja garantido o
acesso por antiguidade; quando o brasileiro for aprendiz, ajudante ou
servente, e no o for o estrangeiro e quando a remunerao resultar de
maior produo, para os que trabalham em comisso ou por tarefa.
Porm, nos casos de falta ou cessao de servio, a dispensa do
empregado estrangeiro deve preceder de brasileiro que exera funo
anloga.
102
U2
funes, que valer para os demais empregados que vierem a desempenhar as
mesmas funes ou que de alguma forma possam ser equiparados.
Exemplificando
A empresa de relgios Cassius Mountain contrata de forma descontnua,
porm simultnea, atendentes de balco, conforme sazonalidade
turstica da cidade onde est instalada. No entanto, para cada contrato,
aplica um salrio diferente, conforme sua disponibilidade financeira.
Como as pretendentes ao cargo j conhecem esta rotina da empresa,
na ltima contratao exigiram do empregador equiparao salarial
por simultaneidade, porque j trabalharam juntas em ocasio anterior
e desejam receber o mesmo salrio que pago Francisca, a mais
experiente do grupo. Essa pretenso legtima, eis que presentes os
indcios de equiparao salarial pelas atribuies do cargo e por se tratar
de contratos simultneos. A contratao por salrio menor implicar em
reduo salarial. Exige-se a equiparao salarial por simultaneidade.
103
U2
Sem medo de errar
Aps o estudo sobre a equiparao salarial e salrio utilidade, vamos resolver a
situao problema desta seo apresentada no dilogo aberto sobre o caso do Santos?
Para resolver a SP, voc precisa entender que tanto o salrio, quanto o salrioutilidade e todas as demais parcelas que compem a remunerao do trabalhador
devero ser equiparadas, para todos os efeitos legais.
Ateno!
Tanto o salrio, quanto o salrio-utilidade e todas as demais parcelas que
compem a remunerao do trabalhador devero ser equiparadas, para
todos os efeitos legais.
Lembre-se
A disposio constitucional e da CLT probem a diferenciao de salrios, de
exerccio de funes e de critrio de admisso por motivo de sexo, idade,
cor ou estado civil, de modo que a todo trabalho de igual valor, dever
corresponder salrio igual.
Ateno!
Funes anlogas na empresa ensejam salrios equiparados, motivo pelo
qual a descrio de funo essencial na contratao.
Lembre-se
a regra do art. 460, da CLT, que em no havendo estipulao do salrio
ou prova sobre o valor ajustado, o empregado ter direito a receber salrio
igual ao daquela que, na mesma empresa, fizer servio equivalente, ou do
que for habitualmente pago para servio semelhante ou anlogo.
Ateno!
O empregado que vier a substituir outro ter, alm do salrio, direito s
comisses ou gratificaes que o substitudo receber, pelo perodo que
permanecer em substituio.
104
U2
Lembre-se
Esse direito decorre do art. 450, da CLT, j incorporado Orientao
Jurisprudencial n 112 da SBDI-1, Resoluo n 129/2005, que dispe
o seguinte: enquanto perdurar a substituio que no tenha carter
meramente eventual, inclusive nas frias, o empregado substituto far jus
ao salrio contratual do substitudo.
Avanando na prtica
Pratique mais
Instruo
Desafiamos voc a praticar o que aprendeu transferindo seus conhecimentos para novas situaes
que pode encontrar no ambiente de trabalho. Realize as atividades e depois as compare com a de
seus colegas.
Equiparao salarial e demais benefcios
1. Competncia de fundamentos
de rea
2. Objetivos de aprendizagem
3. Contedos relacionados
4. Descrio da SP
5. Resoluo da SP
105
U2
recebe salrio equiparado aos demais executivos de seu nvel.
Se se equipara o salrio, deveria equiparar tambm as demais
parcelas do salrio utilidade e utilidades. preciso verificar
se os demais executivos realizam viagens da forma como
Santos faz. Se fizerem, a equiparao ser devida, pois essas
utilidades no podem significar para um encargo e para outro
gratificao que se acresce financeiramente ao empregado.
Lembre-se
A equiparao tambm garantida nos casos de analogia de funo ou
atividade, simultaneidade na prestao do servio e em substituio. Se
ocorre a esses casos, ocorre igualmente terceirizao.
106
U2
2. A Constituio Federal de 1988, em seu art. 7, XXXI, apresenta a
seguinte redao: proibio de qualquer discriminao no tocante a
salrio e critrios de admisso do trabalhador portador de deficincia. Um
trabalhador que tenha sido readaptado em razo de leso no ambiente
de trabalho que o impossibilitou para o exerccio da antiga funo, ao
assumir esta nova funo, estar sujeito tambm equiparao salarial?
107
U2
4. A equiparao salarial uma das maiores conquistas dos trabalhadores,
afirmada mundialmente pela Conveno de Versailles. No Direito
brasileiro, podemos afirmar corretamente que so suas caractersticas,
completando-se as lacunas.
essencial na equiparao da _______________ de trabalho entre si,
de modo a identificar o trabalho de igual valor, de _________________,
prestado ao _____________________, na _________________,
dever corresponder a igual salrio, sem distino de sexo, nacionalidade
ou idade.
Agora, assinale a alternativa correta.
a) quantidade idntica funo empregador diferente localidade
diferente.
b) quantidade idntica funo mesmo empregador mesma
localidade.
c) quantidade anloga funo mesmo empregador localidade
diferente.
d) qualidade anloga funo empregador diferente localidade
diferente.
e) qualidade idntica funo mesmo empregador mesma
localidade.
108
U2
a) Proporcionalidade, equiparao por analogia e equiparao por
substituio.
b) Proporcionalidade, equiparao por equivalncia e equiparao por
substituio.
c) Proporcionalidade, equiparao por semelhana e equiparao por
promoo.
d) Trabalhador brasileiro, equiparao por proporcionalidade e
equiparao por analogia.
e) Trabalhador brasileiro, equiparao por substituio e equiparao
por equivalncia.
109
U2
7. A simultaneidade no est expressamente prevista em lei, no entanto,
reconhecida tanto pela doutrina, quanto pela jurisprudncia e consiste,
basicamente, em:
a) Tratar-se da exigncia imposta ao empregador que tiver empregados
que lhe prestem servios no ao mesmo tempo, mas simultaneamente,
durante algum perodo, onde pelo menos um deles possa servir de
modelo ou referncia para os demais.
b) Tratar-se da exigncia imposta ao empregado que prestar diversos
servios ao mesmo tempo, simultaneamente, ao menos em alguma
poca ou em algum perodo, onde pelo menos um deles possa servir de
modelo ou referncia para os demais.
c) Tratar-se da exigncia imposta ao empregado que prestar diversos
servios, no necessariamente ao mesmo tempo, mas ao menos em
alguma poca ou em algum perodo, onde o maior salrio servir de
referncia para os demais.
d) Tratar-se da exigncia imposta ao empregado que prestar diversos
servios, no necessariamente ao mesmo tempo, mas, sucessivamente,
ao menos em alguma poca ou em algum perodo, onde o maior salrio
servir de referncia para os demais.
e) Tratar-se da exigncia imposta ao empregador que tiver empregados
que lhe prestem servios ao mesmo tempo, simultaneamente, ao menos
em alguma poca ou em algum perodo, onde pelo menos um deles
possa servir de modelo ou referncia para os demais.
110
U2
Seo 2.4
Da suspenso e interrupo de contrato de
trabalho
Dilogo aberto
Caro aluno, estudamos na aula anterior o conceito de equiparao salarial que
est diretamente relacionada quantidade de trabalho de modo a identificar que
todo trabalho de igual valor, de idntica funo, prestado ao mesmo empregador,
na mesma localidade, dever corresponder a igual salrio, sem distino de sexo,
nacionalidade ou idade. E por trabalho de igual valor, a lei entende ser aquele realizado
com igual produtividade e com a mesma perfeio tcnica entre pessoas que entre si
no tenham mais de dois anos de diferena de tempo de servio.
A equiparao salarial abrange aqueles trabalhadores que possuem funes
semelhantes ou anlogas, por equivalncia e em substituio. Visa garantir
proporcionalidade entre trabalhadores brasileiros e estrangeiros, e aqueles
trabalhadores que desempenham atividades simultneas, que nada mais do que a
exigncia imposta ao empregador que tiver empregados que lhe prestem servios ao
mesmo tempo, simultaneamente, ao menos em alguma poca ou em algum perodo,
onde pelo menos um deles possa servir de modelo ou referncia para os demais.
Essa referncia em relao ao salrio por ele percebido em virtude de realizao
de determinadas funes, que valer para os demais empregados que vierem a
desempenhar as mesmas funes ou que de alguma forma possam ser equiparados.
Veremos agora aquelas situaes que justificam e provocam a suspenso ou
interrupo do contrato de trabalho, bem como aquelas relacionadas sade do
trabalhador e que envolvem as comunicaes de acidentes de trabalho (CAT). So
situaes em que o direito visa proteger a relao de trabalho e o trabalhador.
Imaginemos que, por exemplo, em nosso caso hipottico, o executivo Santos viesse
a sofrer algum acidente de trabalho. Como ficaria seu contrato? Seria suspenso ou
interrompido? Como ele receberia seu salrio nesse perodo? a mesma regra que se
aplica a todos os demais trabalhadores regidos pela CLT? Precisamos saber para agir.
Vamos l, ento.
111
U2
No pode faltar
H algumas situaes que provocam a descontinuidade do contrato de trabalho, a
sua interrupo ou a sua suspenso. A distino entre uma e outra situao diz respeito
vigncia de clusulas contratuais. Por exemplo, durante a interrupo do contrato
de trabalho, pode-se continuar pagando parcialmente ou integralmente o salrio ao
trabalhador, pois todas as clusulas vigem, embora o empregado esteja dispensado
de prestar o servio, ao passo que, na suspenso, as clusulas contratuais so todas
suspensas e ambas as partes se desobrigam do contrato.
No dizer de Cassar (2014, p. 943):
Assimile
Na suspenso, o tempo de servio no computado, nem devida
qualquer contraprestao, enquanto na interrupo, ao contrrio, o
tempo de servio computado para todos os efeitos e as parcelas salariais
so devidas integral ou parcialmente.
A matria est regulada pela CLT nos artigos 471 a 476. As causas de suspenso
do contrato de trabalho so previstas em lei. O que se interrompe a execuo do
contrato de trabalho, e no o contrato no o seu fim. Essa proteo legal visa
impedir que o empregador, sem justificativa, promova a suspenso do contrato de
trabalho para no dar ao empregado o trabalho. Essa situao faculta ao empregado
a resciso contratual por justa causa ao empregador (aplicao do art. 483, d, da
CLT). Durante a suspenso, o empregado s poder ser demitido por justa causa e
seu retorno ao trabalho, aps a extino da suspenso, dever ocorrer no prazo de
30 dias. Caso no retorne, ser-lhe- aplicado o abandono de emprego e poder ser
demitido por justa causa.
As hipteses de suspenso do contrato so as seguintes:
112
U2
Greve (Lei n 7.783/89)
Durante a greve, no h prestao de servio, nem pagamento de salrios. A adeso greve,
declarada legal, causa de suspenso do contrato de trabalho.
Mandato Sindical
Est previsto no 2, do art. 543, da CLT. Ser causa de suspenso desde que haja incompatibilidade
de horrio entre a jornada de trabalho e as atividades sindicais. responsabilidade do empregado
informar ao seu empregador. Admite-se a suspenso parcial do contrato e a atividade sindical deve
ser de direo.
Suspenso Disciplinar
Previsto no art. 474, da CLT, poder o empregado estar suspenso do trabalho por ocorrncia de
indisciplina. A suspenso no poder ser superior a 30 dias.
Licena-Maternidade
Matria j vista anteriormente, vale lembrar que o salrio-maternidade, benefcio previsto no inciso
XVIII, do art.7, da Constituio Federal de 1988, o pagamento devido durante a licena gestante.
As regras para sua concesso esto disciplinadas no art. 294, da IN 45/10, do INSS, que, em suma,
estabelece a concesso deste benefcio s seguradas durante 120 dias, com incio at 28 dias antes
do parto e trmino 91 dias depois dele. Considera-se o dia do parto. Em casos excepcionais, os
perodos de repouso anterior e posterior ao parto podem ser aumentados de mais duas semanas,
mediante atestado mdico especfico.
113
U2
Faltas Injustificadas
So aquelas faltas no permitidas por lei, ou que por ela permitida determine o no pagamento de
salrio.
Acidente de Trabalho
Fato que impede o empregado de fornecer regular prestao do servio. Ele afastado e, a partir
do 16 dia de afastamento, o contrato suspenso, devendo, entretanto, o empregador, continuar a
efetuar o depsito do FGTS. Sua base legal a Lei n 8.213/91, art. 59 c/c art. 60, 4 c/c art. 476,
da CLT.
Auxlio-Doena
Semelhante ao acidente de trabalho, o empregado tambm acometido de evento que o impossibilita
a continuar a prestar o servio regularmente. Seu afastamento obrigatrio e a partir do 16 dia, o
contrato suspenso, momento em que o empregador fica desobrigado do pagamento dos salrios,
que passam a ser responsabilidade da Previdncia Social (INSS). As regras para concesso desse
benefcio previdencirio esto contidas na Lei n 8.21391, em seu art. 61 c/c arts. 25, I e 26, II. O
auxlio-doena corresponde a 91% do salrio de benefcio e est condicionado ao um perodo de
carncia de 12 meses de contribuio do empregado Previdncia.
114
U2
retornando atividade no dcimo sexto dia, e se dela voltar a se afastar dentro de sessenta dias
desse retorno, em decorrncia da mesma doena, far jus ao auxlio doena a partir da data do novo
afastamento.
5Na hiptese do 4, se o retorno atividade tiver ocorrido antes de quinze dias do afastamento,
o segurado far jus ao auxlio-doena a partir do dia seguinte ao que completar aquele perodo.
115
U2
acidente de trabalho e a doena de trabalho, referentes aos primeiros 15 dias (art.
60, da Lei n 8.213/91);
comparecimento sesso do tribunal do jri, na condio de jurado e por ele
convocado;
trabalho nas eleies (art. 98, da Lei n 9.504/97), que d direito ao descanso em
dobro dos dias trabalhados para a Justia Eleitoral;
lockout (art. 722, CLT), quando h impedimento do empregador de que seus
empregados tenham acesso ao ambiente de trabalho.
Enfim, so tambm causas de interrupo do contrato de trabalho o repouso
semanal remunerado (RSR), as frias, os intervalos interjornadas, o tempo destinado
amamentao, o caso de interdio do estabelecimento por fora da justia ou da
administrao pblica, enfim, eventos que provocam a interrupo da execuo do
contrato de trabalho, sem prejuzo ao percebimento dos salrios pelos empregados.
E por falar em Intervalos Interjornadas, precisamos estudar os tipos de intervalos.
Reflita
importante voc saber que a concesso de intervalos possui natureza
de poltica da medicina e da segurana do trabalhador, pois sua finalidade
proporcionar sade e bem estar ao trabalhador.
Pois bem, os intervalos so direitos adquiridos pelos trabalhadores. O intervalo o
tempo durante a jornada de trabalho, ou entre elas, destinado ao trabalhador para que
ele possa repousar e alimentar-se, descansar, revigorar suas energias e suas foras,
estar com sua famlia e gozar de seu tempo livre como melhor lhe convier.
Quadro 2.2 | Tipos de jornada
11 horas
regra geral
Art. 66, CLT
10 horas
jornalistas
art. 308, da
CLT
12 horas
operadores
cinematogrficos
art. 235, 2,
CLT
14 horas
cabineiros
art. 245, CLT
17 horas
telefonistas
art. 229, CLT
12/16/24
horas
aeronautas
art. 34 37, Lei
n 7.183/84
116
U2
Quadro 2.3 | Tipos de intervalos
10 minutos
15 minutos
a cada 3
hs (minas de
subsolo)
para trabalho
entre 4 e 6 horas
(regra geral)
a cada 90
minutos de
trabalho
mecanografia
e mdicos
20 minutos
a cada 3 hs
(telefonista)
a cada 1h40
para frigorfico
30 minutos
2 vezes ao dia
(amamentao)
a cada 4 horas
(motoristas
profissionais)
5 horas ou
mais
trabalhador
rural em atividade
intermitente
60 minutos
entre turno
(op. cinematogrficos)
para trabalho
maior que 6
horas (regra
geral)
Lembre-se
Por exemplo, durante a interrupo do contrato de trabalho, pode-se
continuar pagando parcialmente ou integralmente o salrio ao trabalhador,
pois todas as clusulas vigem, embora o empregado esteja dispensado de
prestar o servio, ao passo que na suspeno, as clusulas contratuais so
todas suspensas e ambas as partes se desobrigam do contrato.
Ateno!
O que se interrompe a execuo do contrato de trabalho, e no o
contrato no o seu fim.
Lembre-se
Essa proteo legal visa impedir que o empregador, inamotivadamente,
promova a suspenso do contrato de trabalho para no dar ao empregado
117
U2
o trabalho, o que faculta ao empregado a resciso contratual por justa
causa contra o empregador.
Ateno!
Os intervalos possuem natureza jurdica de direitos.
Lembre-se
O intervalo o tempo durante a jornada de trabalho ou entre elas,
destinado ao trabalhador para que ele possa repousar e alimentar-se,
descansar, revigorar suas energias e suas foras, estar com sua famlia e
gozar de seu tempo livre como melhor lhe convier.
Avanando na prtica
Pratique mais
Instruo
Desafiamos voc a praticar o que aprendeu transferindo seus conhecimentos para novas situaes
que pode encontrar no ambiente de trabalho. Realize as atividades e depois as compare com a de
seus colegas.
Equiparao salarial e demais benefcios
118
1. Competncia de fundamentos
de rea
2. Objetivos de aprendizagem
3. Contedos relacionados
4. Descrio da SP
U2
5. Resoluo da SP
Lembre-se
A concesso de intervalos medida de concesso de natureza de poltica da
medicina e da segurana do trabalhador, pois sua finalidade proporcionar
sade e bem estar ao trabalhador. O intervalo pode ser o tempo entre
jornadas de trabalho destinado ao trabalhador para que ele possa repousar
e alimentar-se, descansar, revigorar suas energias e suas foras, estar com
sua famlia e gozar de seu tempo livre como melhor lhe convier.
119
U2
Faa valer a pena!
1. O auxlio-doena devido ao empregado acometido de evento
que o impossibilita a continuar a prestar o servio regularmente. Seu
afastamento obrigatrio e a partir do 16 dia o contrato suspenso,
momento em que o empregador dica desobrigado do pagamento dos
salrios, que passam a ser responsabilidade da Previdncia Social (INSS).
Quais so as obrigaes da empresa neste caso?
2. Os intervalos entre jornadas e interjornadas so direitos adquiridos
pelos trabalhadores. Por que dizemos que a concesso de intervalos
possui natureza de poltica da medicina e da segurana do trabalhador?
3. As causas de suspenso do contrato de trabalho so previstas em lei.
Essa proteo legal visa impedir que o empregador, inamotivadamente,
promova a suspenso do contrato de trabalho para no dar ao
empregado o trabalho. Nesse sentido, podemos afirmar como hipteses
de suspenso do contrato de trabalho:
a) O servio militar obrigatrio, a greve e o encargo civil pblico.
b) O mandato sindical, a suspenso para responder ao penal e a
suspenso disciplinar.
c) A aposentadoria por invalidez, a licena-maternidade e o aviso prvio.
d) O acidente de trabalho, o auxlio-doena e a suspenso para curso
superior a 2 anos.
e) O afastamento da mulher fisicamente violentada, a suspenso
disciplinar e eleio de gerente.
4. O art. 473, da CLT, fixa as situaes em que o empregado poder
deixar de comparecer ao servio sem prejuzo do salrio. So hipteses
de interrupo do trabalho:
I at 2 (dois) dias consecutivos, em caso de falecimento prprio, do
cnjuge, ascendente, descendente, irmo ou pessoa que, declarada em
sua carteira de trabalho e previdncia social, viva sob sua dependncia
econmica;
II at 3 (trs) dias consecutivos, em virtude de casamento de
descendente;
III por um dia, em cada 12 (doze) meses de trabalho, em caso de
doao voluntria de sangue devidamente comprovada;
120
U2
IV at 2 (dois) dias consecutivos ou no, para o fim de alistamento
militar, nos termos da lei respectiva.
Esto corretos os enunciados:
a) I, II e IV.
b) III, III e IV.
c) Apenas I.
d) Apenas II.
e) Apenas III.
121
U2
( 4 ) 30 minutos
( 5 ) 60 minutos
( ) regra geral para trabalhos com jornada superior a 6 horas
( ) duas vezes ao dia para amamentao
( ) regra geral para trabalhos com jornada entre 4 e 6 horas
( ) a cada 90 minutos de trabalho
( ) a cada 3 horas de trabalho (no caso de telefonista)
a) 1 2 3 4 5
b) 2 4 5 3 1
c) 3 1 2 5 4
d) 5 4 2 1 3
e) 4 3 1 2 5
7. A licena-maternidade possui previso constitucional no inciso XVIII,
do art.7, da Constituio Federal de 1988, e o pagamento devido
durante a licena gestante. Sobre o salrio-maternidade, complete as
lacunas abaixo e assinale a alternativa correta a seguir.
As regras para concesso esto disciplinadas no art. 294, da IN 45/10,
do ______, que, em suma, estabelece a concesso deste benefcio s
seguradas durante _________, com incio at ____________ antes do
parto e trmino _________ depois dele. Considera-se o ___________.
Em casos excepcionais, os perodos de repouso anterior e posterior ao
parto podem ser aumentados de mais duas semanas, mediante atestado
mdico especfico.
a) INSS 120 dias 28 dias 91 dias dia do parto.
b) INSS 4 meses 30 dias 90 dias dia do parto.
c) CLT 120 dias 2 dias 120 dias dia do parto.
d) CLT 4 meses 28 dias 91 dias dia do parto.
e) CF/88 120 dias 30 dias 90 dias dia da internao.
122
U2
Referncias
CASSAR. Vlia Bomfim. Direito do trabalho. 9. ed. rev. e atual. So Paulo: Mtodo,
2014. (Obra completa e didtica, com jurisprudncia e caso prticos, sobre o Direito do
Trabalho e os tpicos estudados nesta unidade).
MARTINS, Srgio Pinto. Direito do trabalho. 25. ed. So Paulo: Atlas, 2009. (Obra clssica
sobre o Direito do Trabalho e fundamental em seu estudo).
NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho. 26. ed. So Paulo: Saraiva,
2011. (Obra clssica sobre o Direito do Trabalho e fundamental em seu estudo).
MARX, Karl. Manuscritos econmico-filosficos e outros textos escolhidos. So Paulo:
Abril Cultural, 1978. (Os Pensadores) (Obra de fundamental importncia e de cultura
geral para conhecer a luta dos trabalhadores e sua relevncia econmica).
LEGISLAO
123
Unidade 3
SUSPENSO E INTERRUPO
DE CONTRATO DE TRABALHO,
JORNADA DE TRABALHO
E DESCANSO SEMANAL
REMUNERADO
Convite ao estudo
Caro aluno, vimos na unidade anterior o regime jurdico sobre o salrio,
suas garantias e protees legais, e a imposio de limites ao empregador,
como forma, local e tempo de pagamento. Vimos que o conceito de
remunerao mais amplo do que o de salrio e que h vrias utilidades
que se somam natureza salarial, na forma de pagamentos in natura, alm
daqueles pagamentos em utilidades sem natureza salarial. A importncia
deste direito, protegido constitucionalmente, impe-se pela exigncia da
equiparao salarial que se aplica.
No final da seo 2.4, vimos algumas causas que garantem o pagamento
deste direito o salrio mesmo diante de situaes adversas execuo
do contrato, ao que chamamos de suspenso e interrupo do contrato de
trabalho. E esse o tema geral que abordaremos nesta unidade de ensino.
Competncia de fundamentos de rea: Conhecer os fundamentos
jurdicos relacionados s relaes trabalhistas e previdencirias.
Objetivos especficos de aprendizagem
Identificar os fundamentos jurdicos do contrato de trabalho perante as
causas de suspenso e de interrupo.
U3
126
U3
127
U3
128
U3
Seo 3.1
Suspenso e interrupo de contrato de trabalho:
auxlio-doena e aposentadoria por invalidez
Dilogo aberto
Caro aluno, vamos lembrar o quanto voc j sabe? Na Unidade 1, voc aprendeu
que h uma relao muito prxima entre a produo de riqueza do pas, a economia
e o trabalho. Vimos que o salrio foi uma conquista dos trabalhadores e representa a
contraprestao pelo trabalho desenvolvido. Na Unidade 2, aprendemos com Karl Marx
que os produtos e mercadorias produzidas possuem uma quantidade maior ou menor
de esforo laboral, e que o valor ou preo independe do valor de salrios envolvidos
em sua produo. A quantidade de trabalho no justifica o dimensionamento da
quantidade da contraprestao, que medida a partir da concepo social do
trabalho, em respeito ao princpio da dignidade humana. Por isso, podemos dizer que
a contraprestao deve ser equiparada entre os trabalhadores, porque as necessidades
sociais (e humanas) so comuns a todas as pessoas.
Agora, nesta Unidade, veremos algumas caractersticas dos contratos de trabalho
que dizem respeito a alguns direitos dos trabalhadores. Estudaremos a fundo as
causas interruptivas e suspensivas do contrato de trabalho, as caractersticas jurdicas
da jornada de trabalho, o registro de ponto e vrios direitos, como o repouso semanal
remunerado. Descobriremos que estes direitos, estas interrupes e suspenses
visam, em regra geral, dar garantias ao trabalhador quanto sua sade.
Lembre-se do caso hipottico desta Unidade, ou seja, da empresa KLB
Recapeamento Asfltico LTDA. e seu contrato comercial com a Prefeitura do
Municpio de Foge de Mim MG. Imagine que Jorge Matias trabalhador h mais
de 10 anos nesta empresa e sua funo coordenar um grupo de seis empregados,
que manipulam a massa asfltica, enchem as valas com o asfalto novo, o nivelam e,
depois, do a ordem final para o rolo compressor compactar a pavimentao. H uma
especialidade nesta tarefa que somente Jorge Matias consegue executar.
Porm, Jorge adquiriu doena do trabalho por inalao constante do agente
qumico Hidrocarboneto Aromtico Policclico (HAP), o que lhe causou suspeita
129
U3
de ter adquirido cncer de pulmo. No obstante, seu superior solicitou que ele
permanecesse na obra, em razo da sua especificidade, apesar de ter cincia de que
Jorge Matias deve se afastar do trabalho. Diante da solicitao do chefe, qual deve ser
a postura da empresa? Como voc resolveria esta situao?
Vamos ajud-lo a reunir os elementos jurdicos necessrios para voc tomar a
deciso certa.
No pode faltar
Ns vimos na unidade anterior que algumas situaes podem provocar a
descontinuidade do contrato de trabalho, gerando sua interrupo ou sua suspenso.
Aprendemos tambm que na suspenso o tempo de servio no computado nem
devida qualquer contraprestao, enquanto na interrupo, ao contrrio, o tempo de
servio computado para todos os efeitos e as parcelas salariais so devidas integral
ou parcialmente. A distino entre uma e outra situao diz respeito exclusivamente
vigncia de suas clusulas contratuais. Por isso que durante a interrupo do contrato
de trabalho pode-se continuar pagando parcialmente ou integralmente o salrio ao
trabalhador, pois todas as clusulas vigem, embora o empregado esteja dispensado
de prestar o servio, ao passo que na suspenso as clusulas contratuais so todas
suspensas e ambas as partes se desobrigam do contrato.
Assimile
So causas de suspenso do contrato de trabalho:
servio militar obrigatrio;
encargo civil pblico;
greve;
mandato sindical;
suspenso para responder a inqurito judicial;
licena-maternidade;
suspenso disciplinar ou para realizao de curso;
afastamento da mulher vtima de violncia;
faltas justificadas;
acidente de trabalho e auxlio-doena (aps o 15 dia);
aposentadoria por invalidez;
auxlio-doena.
130
U3
De todas estas hipteses de interrupo do contrato de trabalho, veremos aquelas
que dizem respeito exclusivamente sade do trabalhador, qual seja: o auxlio-doena
e a aposentadoria por invalidez.
Como visto na unidade anterior, acometido o empregado de uma doena e
ficando incapacitado para o trabalho, o seu afastamento dar-se- nos termos da lei.
Nos primeiros 15 dias do afastamento dever a empresa pagar o seu salrio e, aps o
16 dia, a responsabilidade passa a ser do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
Assim disciplina o art. 75, do Decreto n 3.048/99:
Durante os primeiros quinze dias consecutivos de afastamento da atividade por motivo de
doena, incumbe empresa pagar ao segurado empregado o seu salrio.
1Cabe empresa que dispuser de servio mdico prprio ou em convnio o exame mdico e o
abono das faltas correspondentes aos primeiros quinze dias de afastamento.
2Quando a incapacidade ultrapassar quinze dias consecutivos, o segurado ser encaminhado
percia mdica do Instituto Nacional do Seguro Social.
3Se concedido novo benefcio decorrente da mesma doena dentro de sessenta dias contados
da cessao do benefcio anterior, a empresa fica desobrigada do pagamento relativo aos quinze primeiros dias de afastamento, prorrogando-se o benefcio anterior e descontando-se os dias
trabalhados, se for o caso.
4Se o segurado empregado, por motivo de doena, afastar-se do trabalho durante quinze dias,
retornando atividade no dcimo sexto dia, e se dela voltar a se afastar dentro de sessenta dias
desse retorno, em decorrncia da mesma doena, far jus ao auxlio-doena a partir da data do
novo afastamento.
5Na hiptese do 4, se o retorno atividade tiver ocorrido antes de quinze dias do afastamento, o segurado far jus ao auxlio-doena a partir do dia seguinte ao que completar aquele perodo
(ARTIGO 75,DECRETO N 3.048/99).
Vocabulrio
Insalubridade aquela condio que, por si s, expe o trabalhador a
agentes nocivos sua sade, acima dos limites tolerados, em decorrncia
da sua natureza, intensidade ou do tempo de exposio.
131
U3
Desta forma, a NR 15 reconhece como atividade insalubre as mencionadas nos
seus anexos n 6, 13 e 14; estabelece os limites de tolerncia para os casos previstos
nos anexos n 1, 2, 3, 5, 11 e 12; e submete comprovao, atravs de laudo de
inspeo do local de trabalho, aquelas constantes nos anexos n 7, 8, 9 e 10.
Pesquise mais
A NR 15 prev que o exerccio de trabalho em condies de insalubridade,
de acordo com os subitens acima destacados, assegura ao trabalhador
a percepo de adicional, incidente sobre o salrio mnimo da regio,
equivalente a:
40% (quarenta por cento), para insalubridade de grau mximo;
20% (vinte por cento), para insalubridade de grau mdio;
10% (dez por cento), para insalubridade de grau mnimo.
E que, no caso de incidncia de mais de um fator de insalubridade, ser
apenas considerado o de grau mais elevado, para efeito de acrscimo
salarial, sendo vedada a percepo cumulativa. Sua eliminao ou
neutralizao determinar a cessao do pagamento do adicional
respectivo. Veja na prpria norma os seus anexos e os casos de
enquadramento.
(Confira
no
site:
<http://portal.mte.gov.br/legislacao/normaregulamentadora-n-15-1.htm>. Acesso em: 17 jul. 2015).
132
U3
Reflita
O 2, do mesmo artigo da CLT procura estabelecer equilbrio entre as
partes ao admitir que, caso o empregador tenha contratado empregado
substituto para o aposentado, poder rescindir o respectivo contrato de
trabalho sem indenizao, desde que tenha havido cincia inequvoca da
interinidade ao ser celebrado o contrato. A lei objetiva proteger os direitos
de empregado e empregador mediante situao de fora maior que o
afastamento objeto da aposentadoria por invalidez.
Uma ltima nota sobre esse ponto diz respeito ao valor do benefcio a que o
empregado far jus, no caso de auxlio-doena e no caso de aposentadoria por invalidez,
uma vez que ambos os benefcios sero pagos pela Previdncia Social o INSS.
Segundo disciplina o Regime Geral de Previdncia Social, cujas bases legais so o
Decreto n 3.048/99 e as Leis n 8.212/91 e 8.213/91, os benefcios so devidos aos
empregados que tiverem, no mnimo, doze contribuies mensais, para os casos de
auxlio-doena e aposentadoria por invalidez.
Assimile
Segundo dispe o inc. I, do art. 29, do Decreto n 3.048/99, o prazo de
carncia de 12 meses de contribuio. Mas atente que, caso o segurado
seja acometido de alguma das doenas ou afeces especificadas em lista
elaborada pelos Ministrios da Sade e da Previdncia e Assistncia Social
a cada trs anos, de acordo com os critrios de estigma, deformao,
mutilao, deficincia ou outro fator que lhe confira especificidade e
gravidade que meream tratamento particularizado, no haver carncia
(art. 30, inciso III).
133
U3
O valor do salrio de
benefcio no ser
inferior ao salrio mnimo
nem superior ao limite
mximo do salrio de
contribuio.
Devero ser
contabilizados para
clculo do salrio de
benefcio os ganhos
habituais, a qualquer
ttulo, exceto o dcimo
terceiro salrio.
O auxlio-doena no
poder exceder a mdia
aritmtica simples dos
ltimos doze salrios de
contribuio.
O auxlio-doena,
inclusive o decorrente
de acidente do trabalho,
consistir numa renda
mensal correspondente
a 91% do salrio de
benefcio.
134
U3
Exemplificando
Herivelton dever receber auxlio-doena. Ele possui 5 anos de contribuio
ao INSS e a mdia dos seus doze ltimos salrios de contribuio foi de
R$ 2.200,00. No entanto, a mdia aritmtica dos 80% dos salrios de
contribuio resultou em um valor de R$ 2.000,00 ou seja, menor que a
mdia dos ltimos 12. Assim sendo, no haver limitao da MP n 664/14.
Multiplicando o salrio benefcio pela alquota de 0,91 = R$ 1.820,00
A Renda Mensal Inicial (RMI) ser de R$ 1.820,00
Agora, suponha que Joselinda deva receber auxlio-doena e possua
igualmente 5 anos de contribuio ao INSS. Suponha tambm que e a
mdia dos seus doze ltimos salrios de contribuio seja de R$ 745,00.
O seu Salrio de Benefcio (j com a alquota de 91%) foi calculado em R$
765,00 ou seja, maior que a mdia dos ltimos 12 meses. Neste caso,
haveria de ter limitao da MP n 664/14. No entanto, ser aplicada a
equiparao ao valor do salrio mnimo vigente. Portanto, sua RMI ser
de R$ 788,00.
135
U3
de interrupo do contrato de trabalho. Aps o 16 dia, converter-se- em
suspenso do contrato de trabalho.
Assim:
Ateno!
Cabe empresa que dispuser de servio mdico prprio ou em convnio
o exame mdico e o abono das faltas correspondentes aos primeiros
quinze dias de afastamento. Quando a incapacidade ultrapassar quinze
dias consecutivos, o segurado ser encaminhado percia mdica do
Instituto Nacional do Seguro Social.
Lembre-se
O nus da prova da incapacidade para o trabalho, bem como o nexo
causal entre a doena e a atividade profissional do empregado segurado,
pelo princpio da razoabilidade.
Avanando na prtica
Pratique mais
Instruo
Desafiamos voc a praticar o que aprendeu transferindo seus conhecimentos para novas situaes
que pode encontrar no ambiente de trabalho. Realize as atividades e depois compare-as com as de
seus colegas.
A suspenso do contrato de trabalho
136
1. Competncia de fundamentos
de rea
2. Objetivos de aprendizagem
3. Contedos relacionados
4. Descrio da SP
U3
5. Resoluo da SP
Lembre-se
Quando a incapacidade ultrapassar quinze dias consecutivos, o segurado
ser encaminhado percia mdica do Instituto Nacional do Seguro Social.
137
U3
por aquisio de doena ocupacional. O valor final de seu benefcio
era de R$ 1.500,00, j acrescido com o percentual em virtude dele ter
necessidade de acompanhamento de enfermeira. Alice quer saber qual
ser o valor que ela ir receber.
3. Acometido o empregado de uma doena ocupacional e ficando
incapacitado para o trabalho por 15 dias, tem-se o caso de:
a) suspenso do contrato de trabalho, nos termos do art. 75, do Decreto
n 3.048/99;
b) suspenso do contrato de trabalho, porque aps o 16 dia o empregado
passar a receber auxlio-doena do INSS;
c) interrupo do contrato de trabalho, assim como so os casos de
afastamento da mulher vtima de violncia, as faltas justificadas e a
aposentadoria por invalidez;
d) interrupo do contrato de trabalho, porque os pagamentos devidos
durante este perodo so de responsabilidade do empregador;
e) interrupo do contrato de trabalho, porque ele poder ser substitudo
neste perodo.
138
U3
5. O art. 475, da CLT, prev que o empregado que for aposentado por
invalidez ter ______________ o seu contrato de trabalho durante
o prazo fixado pelas leis de previdncia social para a efetivao do
____________. No entanto, recuperando ele a capacidade de trabalho e
sendo a aposentadoria ______________, ser-lhe- assegurado o direito
de retorno funo que ocupava ao tempo da aposentadoria. Facultase, porm, ao empregador, o direito de indeniz-lo por _____________
do contrato de trabalho, nos termos dos artigos 477 e 478, exceto na
hiptese de ser ele portador de alguma estabilidade, ocasio em que a
________________ dever ser paga na forma do art. 497.
Considerando o texto extrado do Livro Didtico, complete corretamente
as lacunas:
a) suspenso benefcio cancelada resciso indenizao.
b) suspenso salrio cancelada reviso aposentadoria.
c) suspenso benefcio suspensa reviso aposentadoria.
d) interrompido salrio cancelada resciso indenizao.
e) interrompido benefcio suspensa reviso indenizao.
6. O valor do benefcio auxlio-doena ser calculado na forma prevista
pelos artigos 29 e 61, da Lei n 8.213/91 e pela Medida Provisria n
664/2014. Sobre este benefcio correto afirmar que:
I O valor do salrio de benefcio no ser inferior ao salrio mnimo
nem superior ao limite mximo do salrio de contribuio.
II Devero ser contabilizados para clculo do salrio de benefcio os
ganhos habituais, a qualquer ttulo, exceto o dcimo terceiro salrio.
III O auxlio-doena no poder exceder a mdia aritmtica simples
dos ltimos doze salrios de contribuio.
IV O auxlio-doena, inclusive o decorrente de acidente do trabalho,
consistir numa renda mensal correspondente a 91% do salrio de benefcio.
Est incorreto o que se afirma em:
a) I e II.
b) III IV.
c) II e IV.
d) Todas esto erradas.
e) Todas esto corretas.
139
U3
7. A Smula n 160 do TST, diz que, uma vez cancelada a aposentadoria
por invalidez, mesmo aps cinco anos, o trabalhador ter direito de
retornar ao emprego, facultado, porm, ao empregador, indeniz-lo na
forma da lei. Esta indenizao, entre outras, pressupe:
I O pagamento indenizatrio com base na remunerao mdia dos
ltimos 12 meses que tenha percebido na mesma empresa.
II Recibo de quitao de resciso do contrato de trabalho feito com a
assistncia do respectivo Sindicato no caso de empregado com mais de
2 anos de efetivo exerccio.
III Especificao da natureza de cada parcela paga ao empregado
e discriminao do seu valor no recibo de quitao de resciso do
contrato de trabalho.
IV Pagamento efetuado no ato da homologao da resciso do
contrato de trabalho, somente se analfabeto o segurado.
Est correto o que se afirma em:
a) I e III.
b) II e IV.
c) Apenas em II.
d) Apenas em III.
e) Todas esto erradas.
140
U3
Seo 3.2
Aviso prvio, prontido, sobreaviso e DSR
Dilogo aberto
Caro aluno, vimos na seo anterior algumas particularidades a respeito da
interrupo e da suspenso do contrato de trabalho, e que a marca distintiva entre
ambas diz respeito vigncia de suas clusulas contratuais. Na sequncia, vimos
que a exposio do trabalhador ao de agentes nocivos que agridem sua sade
provoca situao de trabalho insalubre, o que motiva o afastamento do trabalhador,
em atendimento s polticas de medicina e segurana do trabalho.
Dependendo da intensidade desta exposio, o afastamento do trabalhador
poder, inclusive, promover intervenes de natureza mais grave na relao de
trabalho, como o pagamento de auxlio-doena e de aposentadoria por invalidez o
que uma interveno da Previdncia Social.
Nesta seo, veremos uma causa de interrupo do contrato de trabalho, que
o descanso semanal remunerado e suas variveis, como o significado de estar de
prontido e de sobreaviso. Veremos tambm uma situao de extino do contrato
de trabalho atravs do aviso prvio, que enseja o desligamento do trabalhador, sua
natureza jurdica e qual deve ser a postura, neste perodo, tanto do trabalhador quanto
da empresa.
No caso hipottico desta Unidade, da empresa KLB Recapeamento Asfltico
LTDA. e seu contrato comercial com a Prefeitura do Municpio de Foge de Mim/MG,
imagine que um dos operadores do rolo compressor seja o funcionrio Eliseu Padilha.
Ele operador desta mquina h mais de 5 anos nesta mesma empresa e sua funo
de apenas operar o rolo compressor. Porm, como ele vinha h algum tempo
solicitando aumento de salrio e nunca obteve da empresa qualquer indcio de que
isto poderia vir a ocorrer, pediu demisso e no momento cumpre aviso prvio. Em seu
entendimento, ele permaneceu na sua casa nos primeiros trs dias do aviso prvio, e
no quarto dia fora repreendido por seu encarregado para voltar ao trabalho.
Como ele dever cumprir seu aviso prvio? Ele deve continuar trabalhando durante
este perodo? O que voc recomendaria aos envolvidos no caso?
141
U3
Vamos estudar este caso e entender melhor como funciona o instituto do aviso
prvio no direito brasileiro.
No pode faltar
Ns vimos na unidade anterior algumas situaes graves que acometem a sade
do trabalhador, e que podem provocar a interveno da Previdncia Social, como o
caso da prestao do auxlio-doena e da aposentadoria por invalidez.
Nesta seo de autoestudo, veremos um caso de interrupo do contrato de
trabalho, que o descanso semanal remunerado, e uma causa extintiva unilateral do
contrato de trabalho, que o aviso prvio.
Sobre o instituto do aviso prvio, importante notar que a doutrina emprega-lhe
uma natureza de comunicao, seja do empregado ao seu empregador, seja do
empregador ao seu empregado. De qualquer forma, o perodo que antecede a
extino do contrato de trabalho. Esta natureza de comunicao (ou notificao)
decorrente da interpretao legal do artigo 487, da CLT, que diz:
No havendo prazo estipulado, a parte que, sem justo motivo, quiser rescindir o
contrato dever avisar a outra da sua resoluo com a antecedncia mnima de: [...]
II - trinta dias aos que perceberem por quinzena ou ms, ou que tenham mais de
12 (doze) meses de servio na empresa.
Pesquise mais
Parece haver um entendimento de que o inciso XXI, do art. 7, da
Constituio Federal de 1988, teria revogado tacitamente o inciso I do art.
487, acima citado, restando assim o prazo nico mnimo de 30 dias para
o aviso prvio.
H duas modalidades de aviso prvio: o trabalhado e o indenizado.
No aviso prvio trabalhado, o empregado ter direito a receber do empregador
o salrio correspondente a todo o perodo trabalhado. No entanto, para que o
pagamento acontea, preciso que o empregado notifique o empregador..
J o aviso prvio indenizado d direito ao trabalhador de receber o seu respectivo
salrio quando notificado pelo empregador da sua despedida imotivada e for impedido
de trabalhar. a redao do pargrafo 1, do citado artigo. a chamada converso em
pecnia do aviso prvio.
142
U3
Assimile
A falta do aviso prvio por parte do empregador d ao empregado o
direito aos salrios correspondentes ao prazo do aviso, garantida sempre
a integrao desse perodo no seu tempo de servio.
Observe que a lei fala em salrio, o que significa dizer que o legislador quis garantir
ao empregado o recebimento desse direito social durante o perodo. correto
entender que o empregado far jus a todas as parcelas de natureza salarial devidas
durante este perodo, tal o entendimento dos pargrafos 5 e 6, a saber:
O valor das horas extraordinrias habituais integra o aviso prvio indenizado.
O reajustamento salarial coletivo, determinado no curso do aviso prvio, beneficia o
empregado pr-avisado da despedida, mesmo que tenha recebido antecipadamente os salrios
correspondentes ao perodo do aviso, que integra seu tempo de servio para todos os efeitos legais.
Reflita
Smula n 305 do TST. FUNDO DE GARANTIA DO TEMPO DE SERVIO.
INCIDNCIA SOBRE O AVISO PRVIO - Res. n 121/2003, DJ 19, 20 e
21.11.2003.
O pagamento relativo ao perodo de aviso prvio, trabalhado ou no, est
sujeito contribuio para o FGTS.
Fonte: <http://www.tst.jus.br/sumulas>. Acesso em:22 jul. 2015.
Assimile
A falta de aviso prvio por parte do empregado d ao empregador o
direito de descontar os salrios correspondentes ao prazo respectivo.
143
U3
Da mesma forma que na situao anterior, na qual o legislador se refere ao salrio,
o empregador poder compensar o desconto sobre qualquer parcela remuneratria
na resciso.
Sobre o horrio de trabalho do empregado, preciso verificar se a resciso fora
motivada pelo empregador, pois neste caso ele ser reduzido de 2 (duas) horas dirias,
sem prejuzo do salrio integral. Mas facultado ao empregado trabalhar sem esta
reduo de 2 (duas) horas, permitindo-lhe a possibilidade de faltar ao servio, sem
prejuzo do salrio integral, por 7 (sete) dias corridos.
A finalidade da lei de possibilitar ao empregado condies para que busque
uma recolocao no mercado de trabalho, motivo pelo qual entende tambm ser de
escolha dele quando gozar deste direito.
Esta reduo se aplica ao contrato de trabalho de oito horas dirias.
No mesmo sentido de se evitar prejuzos abruptos pela resciso contratual, a lei
faculta s partes a reconsiderao sobre o aviso prvio. Ou seja, dado o aviso prvio,
a resciso torna-se efetiva apenas depois de expirado o respectivo prazo de 30 dias.
Porm, se a parte notificante reconsiderar o ato, antes de seu termo, outra parte
facultado aceitar ou no a reconsiderao.
Assimile
Caso seja aceita a reconsiderao ou continuando a prestao depois de
expirado o prazo, o contrato continuar a vigorar, como se o aviso prvio
no tivesse sido dado.
E por fim, sobre o aviso prvio, importante ressaltar que, caso o empregador,
durante o prazo do aviso prvio dado ao empregado, pratique ato que justifique
a resciso imediata do contrato, sujeitar-se- ao pagamento da remunerao
correspondente ao prazo do referido aviso, sem prejuzo da indenizao que for
devida. Da mesma forma, caso o empregado, durante o prazo do aviso prvio, venha a
cometer qualquer das faltas consideradas pela lei como justas para a resciso, perder
o direito ao restante do respectivo prazo.
Vejamos o instituto do descanso semanal remunerado (DSR), numa progresso
religiosa e histrico-jurdica:
Reflita
E assim foram concludos o cu e a terra com todo seu aparato. No stimo
dia Deus considerou acabada toda a obra que havia feito e no stimo dia
144
U3
descansou de toda a obra que fizera. Deus abenoou o stimo dia e o
santificou, porque neste dia Deus descansou de toda a obra da criao
(GEN, 2,1-2).
Passado o sbado, j ao amanhecer o primeiro dia da semana, vieram
Maria Madalena e a outra Maria ver o sepulcro. O anjo, dirigindo-se s
mulheres, disse: no tenhais medo, sei que procurais Jesus, o crucificado.
No est aqui, ressuscitou conforme tinha dito (Mt, 28, 1;5-6a).
Toda a pessoa tem direito ao repouso e aos lazeres e, especialmente,
a uma limitao razovel da durao do trabalho e a frias peridicas
pagas (Declarao Universal dos Direitos do Homem, de 1948, art. XXIV).
So direitos dos trabalhadores: repouso semanal remunerado,
preferencialmente aos domingos (Constituio Federal do Brasil, 1988,
art. 7, inc. XV).
De certa forma, o descanso semanal sempre foi algo sacralizado por geraes
em nossa sociedade at converter-se em lei. No Brasil, sua fixao no domingo
de ordem meramente religiosa. Nossa colonizao catlica, por isso marcou-se o
domingo como o dia para o descanso, pois corresponde ao dia da ressurreio de
Jesus, contrapondo-se ao sbado da tradio hebraico-judaica, por exemplo, que o
dia em que Deus descansou de sua obra. parte desta dimenso socioantropolgica e
religiosa do descanso, para ns, juristas, sabemos tratar-se de um direito constitucional
(como forma de interrupo do contrato de trabalho).
O fato que o descanso remunerado de 24 horas um direito irrenuncivel do
trabalhador, por constituir
norma de ordem pblica,
destinada proteo da sua
proporcionar
ao empregado
sade fsica, mental e social
Fator
uma folga
Fisiolgico
(CASSAR, 2014, p. 694).
para repor as
energias
Requisitos para sua
concesso: frequncia e
pontualidade na semana
que antecede ao repouso.
Caso o trabalhador no
conquiste estes requisitos,
no perder o repouso,
mas sim a remunerao
sobre ele.
Fator Social
permitir a
convivncia
do trabalhador
com sua famlia
e sociedade
o descanso
porporcionar
ao empregado
o aumento de
seu rendimento
no trabalho
Fator
Econmico
145
U3
Exemplificando
O que ocorre com um empregado que atrasa 10 minutos para chegar
ao trabalho? Conforme dispe o 1, do art. 58 da CLT, no sero
descontadas nem computadas como jornada extraordinria as variaes
de horrio no registro de ponto do empregado no excedentes de cinco
minutos, observado o limite mximo de dez minutos dirios. Assim, como
a variao excedeu a cinco minutos, o empregado ser considerado
impontual e perder o direito remunerao de seu descanso semanal.
Agora, verifique esta situao:
146
U3
a jurisprudncia expandiu este instituto, de forma anloga, aos eletricitrios (Smula n
229, do TST) e, posteriormente, aos demais trabalhadores.
Pesquise mais
Smula n 428 do TST. SOBREAVISO. APLICAO ANALGICA DO ART.
244, 2 DA CLT.
I - O uso de instrumentos telemticos ou informatizados fornecidos pela
empresa ao empregado, por si s, no caracteriza o regime de sobreaviso.
II - Considera-se em sobreaviso o empregado que, distncia e submetido
a controle patronal por instrumentos telemticos ou informatizados,
permanecer em regime de planto ou equivalente, aguardando a qualquer
momento o chamado para o servio durante o perodo de descanso.
Uma ltima nota importante sobre o descanso remunerado diz respeito ao perodo
de descanso de 11 horas ininterruptas entre uma jornada de trabalho e outra, de um
dia para outro (art. 66 da CLT).
Reflita
Smula n 444 do TST. JORNADA DE TRABALHO. NORMA COLETIVA.
LEI. ESCALA DE 12 POR 36. VALIDADE. valida, em carter excepcional, a
jornada de doze horas de trabalho por trinta e seis de descanso, prevista
em lei ou ajustada exclusivamente mediante acordo coletivo de trabalho
ou conveno coletiva de trabalho, assegurada a remunerao em dobro
dos feriados trabalhados. O empregado no tem direito ao pagamento
de adicional referente ao labor prestado na dcima primeira e dcima
segunda horas.
Ateno!
H duas modalidades de aviso prvio: o trabalhado e o indenizado.
147
U3
Lembre-se
O aviso prvio possui natureza jurdica de comunicao do empregado
ao seu empregador ou do empregador ao seu empregado. o perodo
que antecede a extino do contrato de trabalho. Esta natureza de
comunicao (ou notificao) decorrente da interpretao do artigo
487, da CLT.
O empregado em aviso prvio ter reduo de 2 (duas) horas de trabalho dirias,
sem prejuzo do salrio integral. Mas facultado ao empregado trabalhar sem esta
reduo de 2 (duas) horas, permitindo-lhe a possibilidade de faltar ao servio, sem
prejuzo do salrio integral, por 7 (sete) dias corridos.
A finalidade da lei de possibilitar ao empregado condies para que ele busque
uma recolocao no mercado de trabalho, motivo pelo qual entende tambm ser de
escolha dele quando gozar deste direito.
Avanando na prtica
Pratique mais
Instruo
Desafiamos voc a praticar o que aprendeu transferindo seus conhecimentos para novas situaes
que pode encontrar no ambiente de trabalho. Realize as atividades e depois compare-as com as de
seus colegas.
Resolvendo o Aviso Prvio
148
1. Competncia de fundamentos
de rea
2. Objetivos de aprendizagem
3. Contedos relacionados
4. Descrio da SP
5. Resoluo da SP
U3
Lembre-se
Caso a notificao seja motivada pelo empregador, poder o empregado
reduzir em 2 duas horas dirias sua jornada de trabalho, sem prejuzo do
salrio integral. Mas facultado ao empregado trabalhar sem esta reduo
e poder faltar ao servio, tambm sem prejuzo do salrio integral, por 7
(sete) dias corridos.
A finalidade da lei de possibilitar ao empregado condies para que
ele busque uma recolocao no mercado de trabalho, motivo pelo qual
entende tambm ser de escolha dele quando gozar deste direito.
149
U3
a qualquer momento o chamado para o servio, e de prontido o
empregado que ficar nas dependncias da estrada, aguardando ordens.
Neste sentido, correlacione as caractersticas de cada instituto, sendo:
(1) Sobreaviso
(2) Prontido
150
U3
5. O art. 489 da CLT dispe sobre a reconsiderao do pedido de aviso
prvio, que possibilita s partes evitarem-se eventuais prejuzos pela
resciso contratual abrupta. Isso possibilita afirmar que:
a) Havendo a reconsiderao sobre o aviso prvio e a continuidade da
prestao do servio depois de expirado o prazo, o contrato de trabalho
dever ser refeito, pois que se trata de nova relao.
b) Uma vez dado o aviso prvio, a resciso torna-se efetiva, aplicandose a reconsiderao apenas sobre a forma de cumprimento do aviso
prvio.
c) Apenas depois de expirado o respectivo prazo de 30 dias que
podero as partes falar de reconsiderao.
d) No caso da parte notificante solicitar a reconsiderao do ato, antes
de seu termo, outra parte cabe apenas aceitar.
e) facultativa a aceitao do pedido de reconsiderao somente se o
empregado tiver mais de 12 meses de efetivo trabalho.
151
U3
7. No havendo prazo estipulado, a parte que, sem justo motivo, quiser
rescindir o contrato, dever avisar a outra da sua resoluo com a
antecedncia mnima de trinta dias. A afirmao acima est:
a) Correta, pois a disposio do inciso XXI do art. 7 da CF/88.
b) Correta, pois a disposio do inciso II do art. 487 da CLT.
c) Incorreta, pois o art. 487 da CLT prescreve outro prazo de 8 dias, ainda
vigente.
d) Incorreta, pois o inciso XXI do art. 7 da CF/88, revogou tacitamente o
inciso I do art. 487 da CLT que prescrevia outro prazo.
e) Incorreta, pois o prazo mnimo.
152
U3
Seo 3.3
Jornada de trabalho
Dilogo aberto
Caro aluno, vimos na seo anterior algumas particularidades a respeito do aviso
prvio em suas duas modalidades: trabalhado e indenizado. Vimos que no primeiro caso
o empregado ter direito a receber do empregador o salrio correspondente a todo o
perodo trabalhado. Portanto, preciso que o empregado tenha realizado a notificao
ao empregador.. J no segundo caso dado ao trabalhador o direito de receber o seu
respectivo salrio quando notificado pelo empregador da sua despedida imotivada e for
impedido de trabalhar. a conhecida converso em pecnia do aviso prvio.
Outro elemento jurdico interruptivo do contrato de trabalho visto foi o descanso
remunerado. Vimos a importncia do descanso semanal de 24 horas e o descanso de
11 horas entre uma jornada e outra. Agora, chegada a hora de estudarmos a Jornada
de Trabalho, pois viemos citando-a sem, contudo, verificar a fundo seus fundamentos
jurdicos essenciais, suas caractersticas e o prprio registro em ponto de trabalho. A
par deste conceito estudaremos os diferentes regimes de trabalho: o regime integral,
parcial e em escala de revezamento, apesar de j termos discorrido sobre este ltimo
na seo anterior. Vimos sua pertinncia quanto ao descanso, mas h ainda muito
mais a ser visto!
Por exemplo, no caso hipottico desta Unidade, da empresa KLB Recapeamento
Asfltico LTDA. e seu contrato comercial com a Prefeitura do Municpio de Foge de
Mim/MG, imagine a situao do empregado Floriano Flores. Ele integra uma equipe
de cinco vigilantes noturnos que trabalham das 22 horas s 5 horas do dia seguinte.
Seu trabalho consiste em vigiar o maquinrio deixado na rua durante a noite e a
madrugada. Dado o ritmo de trabalho para a concluso da obra, os operrios encerram
as atividades mais tarde que o habitual e iniciam a jornada, s 7 horas da manh, e por
causa disso, Floriano tem que trabalhar at s 7 horas. Porm, ao final de um ms de
trabalho, ele est com dvidas sobre o salrio recebido e questiona suas horas extras,
compreendidas entre as 5 e 7 horas da manh. Floriano acha que est sendo passado
para trs, pois acredita que a empresa no pagou o devido acrscimo. Ele quer saber
como agir. O que voc recomendaria a ele?
Vamos avanar em nosso estudo!
153
U3
No pode faltar
Jornada de trabalho a quantidade de labor dirio do empregado. Esse conceito
de Srgio Pinto Martins (2009, p. 487) nos introduz num vasto campo de estudo que
merece ser aprofundado, pois regula o direito fundamental do descanso, visto na
seo anterior quando tratamos do DSR.
A jornada de trabalho deve ser estudada sob trs critrios fundamentais: o do
tempo de trabalho, o do tempo disposio do empregador e o do tempo in itinere.
Todos estes critrios devem ser dimensionados de forma a no comprometer a sade
do trabalhador, que precisa descansar para poder trabalhar.
Reflita
Em meados de 1800, a jornada de trabalho era de 12 a 16 horas,
principalmente entre mulheres e menores. Nos Estados Unidos, no
mesmo perodo, a jornada era de 11 a 13 horas.
As reivindicaes dos trabalhadores eram pela reduo da jornada para 8
horas, seguindo o seguinte princpio:
Eight hours to work;
eight hours do play;
eight hours to sleep;
eight shillings* a day.
Na Inglaterra, em 1847, e na Frana, em 1848, a jornada passou a ser de 10
horas, e nos Estados Unidos, em 1868, de 8 horas, para o servio pblico
federal. Mas foi somente aps a edio da Encclica Rerum Novarum
(Coisa Nova), do papa Leo XIII, que a jornada foi reduzida a 8 horas.
Assim dizia a Encclica: o nmero de horas de trabalho dirio no deve
exceder a fora dos trabalhadores, e a quantidade do repouso deve ser
proporcional qualidade do trabalho, s circunstncias do tempo e do
lugar, compleio e sade dos operrios. Esta jornada foi incorporada
ao Tratado de Versalhes e posteriormente fixada pela Conveno n 1 da
OIT (Organizao Internacional do Trabalho), em 1919.
*shillings moeda, unidade monetria.
Texto extrado de Martins (2009, p. 485).
154
U3
O critrio do tempo de trabalho corresponde ao perodo efetivamente trabalhado.
Seu conceito restritivo e, a rigor, passvel de crticas, porque no ambiente de trabalho
quando o trabalhador deixasse de produzir, por qualquer motivo, como ir ao banheiro,
por exemplo, este tempo estaria fora da jornada de trabalho.
Com relao ao critrio do tempo em que o empregado est disposio do
empregador, deve ser interpretado a partir da natureza do contrato de trabalho,
especialmente em relao subordinao o empregado remunerado por estar
sob a dependncia do empregador (art. 3 da CLT, que conceitua empregado).
E no sentido mais amplo, in itinere diz respeito a aquele perodo em que o
empregado se encontra em deslocamento, de sua residncia at o local de trabalho,
e vice-versa. Neste caso, a CLT adota o critrio da dependncia.
Assimile
Art. 4 Considera-se como de servio efetivo o perodo em que o
empregado esteja disposio do empregador, aguardando ou
executando ordens, salvo disposio especial expressamente consignada.
H que ressaltar a natureza jurdica deste conceito, que de ordem pblica e privada.
pblica porque a lei fixa os limites que se impem ao empregador. Mas tambm
de ordem privada porque, a depender da natureza do contrato e da subordinao, as
horas fixadas para a jornada podem ser inferiores. Tal a redao do art. 58, da CLT:
Assimile
A durao normal do trabalho, para os empregados, em qualquer atividade
privada, no exceder de 8 (oito) horas dirias, desde que no seja fixado
expressamente outro limite (grifo nosso).
155
U3
156
U3
perodo
profisso
durao
regime
Jornada
de trabalho
Reflita
Art. 444 (CLT): As relaes contratuais de trabalho podem ser objeto de
livre estipulao das partes interessadas em tudo quanto no contravenha
s disposies de proteo ao trabalho, aos contratos coletivos que lhes
sejam aplicveis e s decises das autoridades competentes.
Ainda sobre a liberdade de contratar, mister observar o disposto no art. 59, da CLT,
que diz que a durao normal do trabalho poder ser acrescida de horas suplementares,
em nmero no excedente de 2 (duas), desde que haja acordo
157
U3
escrito entre empregador e empregado, ou mediante contrato coletivo de trabalho.
Deste acordo ou contrato coletivo de trabalho dever constar, obrigatoriamente, a
importncia da remunerao da hora suplementar, que ser, pelo menos, 20% (vinte
por cento) superior da hora normal. No entanto, poder ser dispensado o acrscimo
de salrio se, por fora de acordo ou conveno coletiva de trabalho, o excesso de
horas em um dia for compensado pela correspondente diminuio em outro dia,
de maneira que no exceda, no perodo mximo de um ano, soma das jornadas
semanais de trabalho previstas, nem seja ultrapassado o limite mximo de dez horas
dirias.
E na hiptese de resciso do contrato de trabalho sem que tenha havido a
compensao integral da jornada extraordinria, na forma do pargrafo anterior, far
o trabalhador jus ao pagamento das horas extras no compensadas, calculadas sobre
o valor da remunerao na data da resciso. Por fim, cabe lembrar que o empregado
sob o regime de tempo parcial no poder prestar horas extras.
Assimile
imprescindvel que haja acordo escrito entre empregador e empregado
ou previso em contrato coletivo de trabalho para realizao de horas
extras. Elas no podero exceder a 2 (duas) horas dirias, sendo permitida
a compensao com a correspondente diminuio em outro dia. O
banco de horas no poder, no perodo mximo de um ano, ultrapassar a
soma da jornada semanal de trabalho nem o limite mximo de dez horas
dirias. Ser nulo o contrato de trabalho que dispuser de forma diferente.
A nica exceo o caso do art. 61, da CLT, que trata das horas excedentes
obrigatrias.
Ou seja, apenas em caso de fora maior e para atender realizao ou concluso
de servios inadiveis, cuja inexecuo possa acarretar prejuzo manifesto, poder o
empregado exceder o limite legal de 10 horas dirias.
Pesquise mais
Veja no artigo 61, da CLT, os motivos permissivos de exceo a esta regra e
quais as responsabilidades do empregador nestes casos.
Por fim, falta-nos estudar o registro de ponto. A matria disciplinada pelo art.
74, da CLT. O horrio do trabalho deve constar em quadro organizado conforme
modelo expedido pelo Ministrio do Trabalho e afixado em lugar visvel. Esse
quadro ser discriminativo, caso a empresa no tenha horrio nico para todos os
158
U3
empregados de uma mesma seo ou turma. O horrio de trabalho ser anotado
em registro de empregados com a indicao de acordos ou contratos coletivos
porventura celebrados. obrigatria a anotao do horrio de entrada e de sada,
em registro manual, mecnico ou eletrnico, s empresas que possurem mais de
dez trabalhadores, inclusive a pr-assinalao do perodo de repouso. Caso tenha
empregado que execute trabalho fora do estabelecimento, seu horrio dever estar
igualmente registrado.
Veja um exemplo:
Exemplificando
O escritrio R&R Advogados Associados estipulou que seus funcionrios
trabalharo sempre com um banco de 44 horas extras. Mas, por um
descuido, Aline virou o ms com 50 horas extras em seu banco. O que a
empresa dever fazer? Ela tem dois caminhos: ao fechar a folha do ms,
pagar as horas extras de Aline ou o proporcional para que ela retorne
s 44 horas; ou conceder funcionria uma compensao das 6 horas
(para retomar o padro de 44 horas em banco), ou 8 horas (equivalente
a 1 dia de trabalho), ou ainda de quantas horas forem necessrias at o
limite das 50 horas acumuladas. A empresa tem o prazo de 1 ano, de cada
hora extra, para realizar as compensaes, ou at o ms de dezembro,
para compensar todas as horas extras. Isso depende do acordado entre
empregado e empregador.
Ser que voc consegue utilizar as regras legais para a execuo e controle das
horas extras?
159
U3
Sem medo de errar
Agora, convido voc para, juntos, buscarmos a resposta para a situao-problema
apresentada no incio da Seo. Vamos faz-lo considerando os conhecimentos que
foram construdos.
Ateno!
servio efetivo o perodo em que o empregado encontra-se disposio
do empregador, aguardando ou executando ordens, salvo disposio
especial expressamente consignada. Este conceito sobre jornada diria
de trabalho possui natureza pblica porque seu limite dado pela lei.
Lembre-se
A durao normal do trabalho, para os empregados em qualquer atividade
privada, no exceder de 8 (oito) horas dirias, desde que no seja fixado
expressamente outro limite.
O art. 59, da CLT, diz que a durao normal do trabalho poder ser acrescida de
horas suplementares, em nmero no excedente de 2 (duas), desde que haja acordo
escrito entre empregador e empregado, ou mediante contrato coletivo de trabalho.
Deste acordo ou contrato coletivo de trabalho dever constar, obrigatoriamente, a
importncia da remunerao da hora suplementar, que ser, pelo menos, 20% (vinte
por cento) superior da hora normal.
Avanando na prtica
Pratique mais
Instruo
Desafiamos voc a praticar o que aprendeu transferindo seus conhecimentos para novas situaes
que pode encontrar no ambiente de trabalho. Realize as atividades e depois compare-as com as de
seus colegas.
A jornada em escala revezamento
160
1. Competncia de fundamentos
de rea
2. Objetivos de aprendizagem
3. Contedos relacionados
U3
4. Descrio da SP
5. Resoluo da SP
Lembre-se
O artigo 444 da CLT estabelece que as relaes contratuais de trabalho
podem ser objeto de livre estipulao das partes interessadas em tudo
quanto no contravenha s disposies de proteo ao trabalho, aos
contratos coletivos que lhes sejam aplicveis e s decises das autoridades
competentes.
161
U3
3. O tempo despendido pelo empregado at o local de trabalho e para
o seu retorno, por qualquer meio de transporte, no ser computado
na jornada de trabalho, salvo quando, tratando-se de local de difcil
acesso ou no servido por transporte pblico, o empregador fornecer a
conduo ( 2 do art. 58 da CLT). Neste sentido, correto afirmar que:
a) A conduo fornecida pelo empregador constitui-se requisito
caracterizador para qualificao desse tempo como incorporado
jornada de trabalho.
b) A conduo fornecida pelo empregador no se constitui requisito
caracterizador para qualificao desse tempo como incorporado
jornada de trabalho.
c) Se houver transporte pblico regular em parte do trajeto, as horas in
itinere remuneradas limitar-se-o ao trecho do transporte pblico.
d) Se no houver transporte pblico regular no trajeto, as horas in itinere
no sero remuneradas.
e) Nenhuma das alternativas est correta.
a) 1 2 3 4.
b) 2 1 4 3.
162
U3
c) 3 4 2 1.
d) 4 3 1 2.
e) 4 3 2 1.
163
U3
c) Apenas a IV est correta.
d) Apenas a I est correta.
e) Apenas a II est correta.
164
U3
Seo 3.4
Repouso semanal remunerado
Dilogo aberto
Caro aluno, vimos na seo anterior o conceito e os fundamentos caracterizadores
da jornada de trabalho, como o tempo de trabalho, o tempo disposio do empregador
e o tempo in itinere. Vimos que o art. 4 da CLT adota como servio efetivo de trabalho
o perodo em que o empregado esteja disposio do empregador, aguardando ou
executando ordens, salvo disposio especial expressamente consignada. Assim,
chegamos ao modelo geral de jornada de trabalho, que fixa o limite de 8 (oito) horas
dirias, desde que no seja fixado expressamente outro limite.
Pois bem, a jornada de trabalho comum, em regra geral, a que possui durao de
8 horas dirias e 44 semanais. As horas que excederem esse limite sero extraordinrias
ou suplementares (horas extras). Mas vimos tambm que possvel haver escalas de
revezamento, que podem ser de 12x12, 12x24 e 12x36. Neste sentido, h uma regra
de ouro nas relaes de trabalho, que diz respeito ao descanso semanal de 24 horas.
Diz a Constituio Federal de 1988, no inciso XV do art. 7, que o descanso semanal
um direito de todos os trabalhadores e seu gozo dever ser preferencialmente aos
domingos. A CLT refora esse direito e o estende aos feriados nacionais e feriados
religiosos.
Diante disso, voltemos ao caso hipottico desta Unidade, da empresa KLB
Recapeamento Asfltico LTDA. e seu contrato comercial com a Prefeitura do Municpio
de Foge de Mim/MG. Imagine a situao do empregado Galvo Peixoto. Ele integra um
grupo de 20 pessoas encarregadas de preparar a massa asfltica, cobrir o pavimento
e nivel-lo. Todos trabalham em escala de revezamento. So 4 equipes de 5 pessoas
e cada equipe exerce uma escala de trabalho diferente: 12x12, 12x24 e 12x36, o que
acaba sempre criando muita confuso na escala de servios e descansos. Com isso,
o to sonhado descanso aos finais de semana praticamente no existe, e, base de
muita negociao, os trabalhadores conseguem, s vezes, o descanso aos domingos
e feriados. Por causa disso, Peixoto est com dvidas e se pergunta se seu patro est
agindo corretamente. Ele acha que est sendo passado para trs, pois acredita que a
empresa no respeita o descanso semanal remunerado, inclusive porque h pessoas
na equipe que no receberam a remunerao do domingo de folga e sequer sabem
165
U3
a razo disso. Peixoto quer saber como agir, e se pergunta o que ele e seus colegas
devem fazer. Devem processar o patro?
A situao de Peixoto e de seus colegas repete-se na prtica mais do que voc
imagina. Por isso, vamos conhecer melhor este direito? Vamos em frente!
No pode faltar
Repouso semanal remunerado ou descanso semanal remunerado so sinnimos
do mesmo direito constitucional. Sua importncia vital sade do trabalhador.
Fazemos coro ao comentrio de Cassar (2014):
Reflita
Todo perodo de descanso, seja ele entre um dia e outro de trabalho,
dentro da jornada, semanal ou anual, tem a finalidade de proporcionar ao
empregado uma folga para repor as energias gastas pela execuo dos
servios (fator fisiolgico), a de permitir a convivncia do trabalhador com
sua famlia e com a sociedade (fator social) e a de aumentar o rendimento,
pois empregado descansado produz mais (fator econmico).
Considerando-se a natureza deste descanso semanal e sua obrigatoriedade
imposta pela Constituio Federal de 1988, tem-se que este direito imprescritvel e
indisponvel, ou seja, irrenuncivel. Todo trabalhador dever ter um descanso semanal.
um direito de ordem pblica, portanto no disponvel para a livre negociao entre
empregador e empregado.
Assimile
Lei n 605/49, art. 1. Todo empregado tem direito ao repouso semanal
remunerado de vinte e quatro horas consecutivas, preferentemente
aos domingos e, nos limites das exigncias tcnicas das empresas, nos
feriados civis e religiosos, de acordo com a tradio local.
Atente que a lei fala sempre de repouso semanal de 24 horas. Ou seja, o direito
garante ao empregado o descanso hebdomadrio, ou seja, na semana de 7 dias (reveja
a aula da seo 2 desta unidade e a concepo histrico-religiosa deste descanso). Por
isso, ele dever ser preferencialmente aos domingos. Isso para atender imperiosa
necessidade quando a atividade do empregador for autorizada a funcionar aos
domingos. Nesse sistema, o empregado gozar seu descanso no domingo em sua 7
166
U3
semana de trabalho. Ou seja, na prtica, a cada 7 semanas de trabalho um descanso
ser obrigatoriamente no domingo.
Mas, e se o empregado gozar este repouso apenas aps o 7 dia de trabalho? Neste
caso, estar o empregador em situao de irregularidade contratual e administrativa. Na
mesma situao enquadra-se o empregador que concede repousos variados. Vejamos:
Exemplificando
Joselina, a cada semana de trabalho, folga num dia consecutivo ao outro.
Na primeira semana folgou na segunda, na outra na tera, depois na
quarta, e assim sucessivamente. Com isso, o dia de repouso nem sempre
ser o 7 dia, mas sim dias diferentes da sua semana de trabalho (no 1 dia
da semana, no 2 dia, e assim por diante). Neste caso, possvel que isso
ocorra, ou seja, poder o empregador agir desta forma. No entanto, ser
preciso verificar quantos repousos efetivamente ela gozou no ms e se
correspondem ao nmero exato que ela teria direito. Alm disso, preciso
verificar se, num perodo de 7 semanas, houve algum domingo de folga.
Isso essencial.
Agora, suponha que o empregado venha trabalhando normalmente e gozando
seu repouso de 24 horas normalmente. Mas, por circunstncias de calendrio, no
tenha coincidido nenhum domingo em sua folga.
167
U3
trabalhos a serem realizados nos feriados. Coincide com esta formalidade legal a
previso da conveno coletiva de trabalho da categoria profissional. Caso domingos
e feriados no estejam previstos como dias normais de trabalho, eventual trabalho
nestes dias ensejar em infrao do empregador. As infraes sero punidas com
multa de R$ 40,25 (quarenta reais e vinte e cinco centavos) a R$ 4.025,33 (quatro
mil e vinte e cinco reais e trinta e trs centavos), segundo a natureza da infrao, sua
extenso e a inteno de quem a praticou, aplicada em dobro no caso de reincidncia
e oposio fiscalizao ou desacato autoridade (art. 12 da Lei n 605/49).
Pesquise mais
Sobre esta particularidade, veja a Lei n 10.101/00 e o Decreto n 27.048/49, e
as Portarias do MTE n 417/66, 509/67 e 388/07.
Nos termos da Portaria do MTE n 509/67, o repouso coincidente com o domingo
obrigatrio a cada 7 semanas. H apenas 4 excees a esta regra:
CLT, art. 67
c/c Decreto n
27.048/49, art. 6
(sem escala de
revezamento)
Lei n 10.101/00,
art. 6 (domingo
a cada 3
semanas)
Elencos
teatrais
Comrcio
Mulheres
Aerovirios
Decreto n
1.232/62
(domingo
mensal)
Assimile
So feriados civis os declarados em lei federal, a data magna do Estado,
fixada em lei estadual, e os dias do incio e do trmino do ano do centenrio
de fundao do Municpio, fixados em lei municipal. So feriados religiosos
168
U3
os dias de guarda, declarados em lei municipal, de acordo com a tradio
local e em nmero no superior a quatro, nestesincluda a Sexta-Feira da
Paixo.
Observe que feriados no se confundem com dias festivos. So dias festivos, por
exemplo, dia da bandeira, dia da abolio da escravatura, dia do descobrimento do
Brasil e os dias de carnaval, que seguem uma tradio nacional.
Pesquise mais
Veja o Acrdo abaixo sobre o feriado de carnaval:
HORAS EXTRAS. TERA-FEIRA DE CARNAVAL. Tera-feira de carnaval no
feriado ou dia destinado a descanso. Pode ser exigido trabalho nesse dia. TRT/
SP Processo: 02734.2003.015.02.00.2 Rel. Designado: Juiz Sergio Pinto
Martins. DJ/SP 18/10/2005.
1 janeiro
(Lei n 662/49)
2 de novembro
(Lei n 10.607/02)
15 de novembro
(Lei n 662/49)
21 de abril
(Lei n 1.266/50)
12 de outubro
(Lei n 6.802/80)
25 de dezembro
(Lei n 662/49)
1 de maio
(Lei n 662/49)
7 de setembro
(Lei n 662/49)
Quanto aos feriados religiosos, uma observao: esto limitados a quatro (art.
2 da lei n 9.093/95). Assim, alm do Natal, Sexta-Feira da Paixo e Finados, que j
so fixados por lei federal, temos ainda o Corpus Christi (lei municipal ou estadual)
e o padroeiro da cidade (lei municipal). Algumas cidades, como Rio de Janeiro e
Salvador, estabeleceram outros feriados religiosos, como o de So Jorge e Iemanj,
respectivamente. Neste caso, o empregador estar dispensado de observar o repouso
do empregado em feriado religioso que extrapole os quatro assegurados por lei
federal. Para a escolha de qual feriado religioso conceder, recomenda-se seguir a
ordem cronolgica ou a data de maior impacto social e religioso.
Ainda sobre o regime de feriados, importante conhecer a Smula n 444 do TST.
169
U3
Assimile
Smula n 444 do TST. JORNADA DE TRABALHO. NORMA COLETIVA. LEI.
ESCALA DE 12 POR 36. VALIDADE. vlida, em carter excepcional, a jornada de
doze horas de trabalho por trinta e seis de descanso, prevista em lei ou ajustada
exclusivamente mediante acordo coletivo de trabalho ou conveno coletiva
de trabalho, assegurada a remunerao em dobro dos feriados trabalhados.
O empregado no tem direito ao pagamento de adicional referente ao labor
prestado na dcima primeira e dcima segunda hora.
Nesse regime de escala: 12x12; 12x24 e 12x36, os feriados no fazem parte da
escala, mas os domingos sim. Por isso, caso o dia de trabalho recaia sobre feriado,
poder o empregador ou pagar em dobro ou conceder folga com compensao,
desde que atendidos os requisitos da Smula 444 do TST. Atente que a jornada mensal
da escala de 192 horas e a jurisprudncia entende que o RSR est embutido nas
horas de descanso.
E por falar em requisitos, assim como h obrigaes impostas ao empregador na
observncia, h tambm obrigaes impostas ao empregado para que ele faa jus ao
recebimento da remunerao correspondente ao seu repouso semanal, quais sejam:
assiduidade e pontualidade (retomar seo 2 desta unidade).
E nesta lgica de correlao entre as partes, caso o empregado receba alguma
utilidade de natureza salarial, hora extra habitual ou adicional de insalubridade, por
exemplo, na semana que anteceder o gozo do repouso semanal remunerado, estes
valores (adicionais ao salrio) devero ser computados, para todos os efeitos, para a
remunerao do repouso semanal.
Exemplificando
Como se calcula o RSR? muito simples. O clculo feito considerando o
ms como de 30 dias (mesmo o ms de 31 dias, no clculo, considerado
de 30 dias). So 26 dias teis (efetivamente trabalhados) e 4 dias de domingo.
Exemplo: salrio de R$ 2.400,00 por ms, com jornada de 220 horas
mensais (ou 44 horas semanais).
1) 2.400 / 220 horas = 10,91 p/hora
2) So 4 domingos de 8h = 10,91*4*8 = 349,12 (j embutidos no salrio)
3) Se houve HE: 10 horas extras no ms = 10,91x10 = 109,10/26*4 = 16,78
4) O reflexo de HE sobre o RSR de R$ 16,78.
170
U3
Sem medo de errar
Agora, convido voc para, juntos, buscarmos a resposta para a situao-problema
apresentada no incio da Seo. Vamos faz-lo considerando os conhecimentos que
foram construdos.
Ateno!
O repouso semanal remunerado vital sade do trabalhador. Ele visa
trazer benefcios ao trabalhador de ordem fisiolgica, social e econmica.
Lembre-se
A natureza jurdica do descanso semanal remunerado impe por sua
obrigatoriedade constitucional (art. 7, inciso XV), motivo pelo qual este
direito imprescritvel, indisponvel e irrenuncivel. um direito de ordem
pblica, portanto no disponvel para a livre negociao entre empregador
e empregado.
O RSR deve ser de 24 horas e uma vez por semana, de preferncia aos domingos.
Caso o empregado trabalhe em regime de escala, ele dever ter seu domingo de
repouso dentro de 7 semanas de trabalho.
Caso o empregado goze seu descanso aps o 7 dia de trabalho, incorrer o
empregador em infrao contratual e administrativa. Caso o descanso do empregado,
no perodo de 7 semanas, no recaia sobre domingo, ele dever gozar o domingo
de sua 7 semana, independente de gozar tambm a folga normal prevista na escala.
No regime de escalas 12x12, 12x24 e 12x36, os feriados no fazem parte da escala,
ou seja, no so dias normais de trabalho, como os domingos. Por isso, caso o dia de
trabalho recaia sobre feriado, poder o empregador ou pagar em dobro ou conceder
folga com compensao, desde que atendidos os requisitos da Smula n 444 do TST.
Avanando na prtica
Pratique mais
Instruo
Desafiamos voc a praticar o que aprendeu transferindo seus conhecimentos para novas situaes
que pode encontrar no ambiente de trabalho. Realize as atividades e depois compare-as com as de
seus colegas.
171
U3
A jornada em escala revezamento
1. Competncia de fundamentos
de rea
2. Objetivos de aprendizagem
3. Contedos relacionados
4. Descrio da SP
5. Resoluo da SP
Lembre-se
A Smula n 444, do TST, disciplina a jornada de trabalho em regime de
escala 12x36. Declara vlida, em carter excepcional, este tipo de jornada,
desde que prevista em lei ou ajustada exclusivamente mediante acordo
coletivo de trabalho ou conveno coletiva de trabalho, assegurada a
remunerao em dobro dos feriados trabalhados.
172
U3
2. Um determinado empregador preparou a seguinte escala 12x24 para
a enfermeira Cristiane Cardozo:
D
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31
173
U3
centavos) a R$ 4.025,33 (quatro mil e vinte e cinco reais e trinta e trs
centavos), segundo a natureza da infrao, sua extenso e a inteno de
quem a praticou, aplicada em dobro no caso de reincidncia e oposio
fiscalizao ou desacato autoridade (art. 12 da Lei n 605/49). Neste
sentido, considere as preposies a seguir e indique a alternativa correta:
I O repouso semanal deve ser preferencialmente aos domingos,
porm, num perodo de 7 semanas, ele deve obrigatoriamente recair
num domingo.
II Para o comrcio, o descanso em domingo dever ocorrer a cada 3
semanas.
III No caso das mulheres, elas tero direito a repousar todo domingo.
IV Os aerovirios devero repousar quinzenalmente aos domingos.
a) Todas esto corretas.
b) Todas esto erradas.
c) Apenas I e II esto corretas.
d) Apenas III e IV esto corretas.
e) Apenas IV est correta.
( ) dia de So Jorge
( ) dia 25 de dezembro
( ) dia 15 de novembro
( ) dia 1 de janeiro
a) 1 2 3 4 5.
b) 5 2 3 1 4.
c) 3 1 4 2 5.
d) 2 4 1 5 3.
e) 3 2 5 1 4.
174
U3
6. A Smula n 444, do TST, disciplina a jornada de trabalho em regime
de escala 12x36. Segundo ela, ________, em carter ____________,
a jornada de doze horas de trabalho por trinta e seis de descanso,
prevista em lei ou ajustada exclusivamente mediante acordo coletivo de
trabalho ou conveno coletiva de trabalho, assegurada a remunerao
em _________ dos __________ trabalhados. O empregado no tem
direito ao pagamento de adicional referente ao labor prestado na dcima
primeira e dcima segunda hora.
Assinale a alternativa correta que completa as lacunas acima:
a) Vlida excepcional dobro feriados.
b) Essencial sigiloso dobro domingos.
c) Vlida extraordinrio triplo feriados.
d) Invlida excepcional triplo domingos.
e) Invlida privado dobro domingos.
175
U3
176
U3
Referncias
CASSAR, Vlia Bomfim. Direito do trabalho. 9. ed. So Paulo: Mtodo; 2014. (Obra
completa e didtica, com jurisprudncia e caso prticos, sobre o Direito do Trabalho e
os tpicos estudados nesta unidade)
MARTINS, Srgio Pinto. Direito do trabalho. 25. ed. So Paulo: Atlas, 2009. (Obra clssica
sobre o Direito do Trabalho e fundamental em seu estudo)
NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho. 26. ed. So Paulo: Saraiva,
2011. (Obra clssica sobre o Direito do Trabalho e fundamental em seu estudo)
LEGISLAO
CONSTITUIO FEDERAL DA REPBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988
CONSOLIDAO DAS LEIS DO TRABALHO, Decreto-Lei n 5.452/43
177
Unidade 4
FRIAS, TRABALHO DA
MULHER E DIREITO COLETIVO
DO TRABALHO
Convite ao estudo
Caro aluno, cara aluna, estamos iniciando a ltima etapa de nosso curso.
Ns viemos, desde a Unidade 2, passando pela Unidade 3, estudando
aspectos pontuais dos direitos do trabalho, relacionados ao contrato de
trabalho e relao trabalhista entre empregado e empregador.
de fundamental importncia voc lembrar dos conceitos de suspenso
e interrupo do contrato de trabalho, os fundamentos jurdicos de cada
instituto e as situaes em que eles ocorrem. O conhecimento no Direito
deve ser acumulativo, porque constantemente voc ser instado a utiliz-los.
Por isso, se voc sentir necessidade de uma reviso, o momento agora.
Aps tantos conhecimentos aprendidos e acumulados, vamos ver agora
o instituto das frias, outro direito fundamental do trabalhador. Voc se
lembra do Repouso Semanal Remunerado? Pois bem, as frias so o repouso
anual remunerado. Aqui tambm descobriremos que h requisitos bsicos
para acesso a esse direito, bem como limites impostos ao empregador que
disciplinam a sua concesso e gozo.
Voc se lembra que estudamos a equiparao salarial? E com toda certeza
deve se lembrar tambm, ao longo deste curso, de alguns tratamentos
diferenciados mulher trabalhadora. Pois bem, agora dedicaremos uma
seo inteira para sistematizarmos esses direitos para que voc no deixe
passar nada no domnio desses direitos e seus conceitos. Quando tratarmos
dos direitos da mulher, estaremos referendando o equilbrio e a equiparao
no tratamento: de tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais.
Somente assim, o direito do trabalho conseguir alcanar o seu escopo final,
que a proteo ao trabalhador.
U4
180
U4
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U4
Seo 4.1
Frias: perodos aquisitivos
Dilogo aberto
Caro(a) aluno(a), vamos lembrar o quanto voc j sabe? Na Unidade 1, voc aprendeu
que h uma relao muito prxima entre a produo de riqueza do pas, a economia
e o trabalho. Vimos que o salrio foi uma conquista dos trabalhadores e representa a
contraprestao pelo trabalho desenvolvido. Na Unidade 2, aprendemos com Karl Marx
que os produtos e mercadorias produzidas possuem uma quantidade maior ou menor
de esforo laboral e o valor ou preo independe do valor de salrios envolvidos em sua
produo. A quantidade de trabalho no justifica o dimensionamento da quantidade
da contraprestao que dimensionada a partir da concepo social do trabalho, da
dignidade humana. Por isso, podemos dizer que a contraprestao deva ser equiparada
entre os trabalhadores, porque as necessidades sociais (e humanas) so comuns a todas
as pessoas. Na Unidade 3, vimos as causas suspensivas e interruptivas do contrato de
trabalho, que nada mais so do que exerccios de direitos dos trabalhadores, como
auxlio-doena, jornada de trabalho justa, aviso prvio indenizado, repouso semanal
remunerado, enfim, vrios direitos garantidos constitucionalmente ao trabalhador.
Agora, ao iniciarmos esta Unidade 4, veremos outra modalidade de repouso
remunerado, s que anual. Estamos falando das frias. Daquele momento to
esperado para viajar, receber um dinheiro extra e poder acertar vrias coisas que
ficaram para trs... no mesmo?
Voc j deve saber que este dinheiro extra, o conhecido 1/3 de frias, um direito
do trabalhador. Mas voc sabia que existem regras para usufru-lo? Voc sabia que
existem regras para voc adquirir direitos s frias e momento e forma certa para
goz-la?
Voltemos situao prxima da realidade que abriu esta Unidade. Veja a situao
de Vera Vellasco sobre suas frias. H uma situao problemtica que voc precisa
resolver. Vera, que est grvida, solicitou frias e o pedido foi negado. O prprio
sindicato lhe disse que, neste caso, o empregador possui razo. Ser que temos
condies de descobrir o que aconteceu? Pode o empregador negar pedido de frias
de um empregado? No um direito constitucional? Ento, o que houve?
183
U4
Vamos ajud-lo a reunir os elementos jurdicos necessrios para voc descobrir o
que aconteceu e assim poder tomar sua deciso diante de casos como este.
No pode faltar
Voc sabia que o Brasil foi o terceiro pas do mundo a conceder frias anuais
remuneradas de 15 dias consecutivos a empregados? o que nos diz Cassar (2014,
p. 731). Embora alguns setores tenham conquistado esse direito na histria do Brasil,
o fato que somente com o advento da CLT, em 1943, que os trabalhadores tiveram
acesso a este benefcio. Hoje est institudo e protegido no inciso XVII, do art. 7, da
Constituio Federal de 1988: o gozo de frias anuais remuneradas com, pelo menos,
um tero a mais do que o salrio normal.
Assimile
O primeiro direito a frias que se tem registro no Brasil o do Aviso
Ministerial da Agricultura, de 18 de dezembro de 1889, e voltava-se apenas
aos seus trabalhadores. Antes desta data, a Dinamarca havia concedido
uma semana de frias aos domsticos no ms de novembro de 1821
e a Inglaterra, por meio de uma lei de 1872, havia outorgado frias aos
operrios da indstria.
O conceito jurdico das frias mudou ao longo do tempo no direito ptrio. Hoje, as
frias no se configuram mais como uma indenizao ou gratificao ou prmio ao
trabalhador. Trata-se de norma de direito cogente, o que significa dizer que se impe
a todos os trabalhadores, indistintamente. um direito que impe uma obrigao de
fazer ao empregador que deve conceder frias ao seu empregado e um direitodever do empregado, que dever goz-la no perodo determinado pela lei.
O empregado, mesmo que queira, no poder renunciar a este direito. um direito
indisponvel. Caso ao final do contrato de trabalho hajam frias no gozadas, dever o
empregador indenizar o empregado pagando a este as frias no gozadas. Como se v,
as frias, incorporam-se na relao de trabalho de tal forma que tanto empregado quanto
empregador nada podero fazer a respeito, a no ser, cumprir o que determina a lei.
Assimile
As frias possuem natureza jurdica de direito pblico.
184
U4
Seu regime jurdico est disciplinado nos artigos 129 a 133 da CLT.
Segundo a CLT, todo empregado ter direito anualmente ao gozo de
um perodo de frias, sem prejuzo da remunerao.
Adquire o direito ao gozo de frias todo empregado que, aps cada perodo de 12
(doze) meses de vigncia do contrato de trabalho, atingir ou completar os requisitos
legais. O tempo de durao de suas frias, por sua vez, dever obedecer ao regime
imposto pelo art. 130 da CLT.
Por exemplo, as frias sero dimensionadas na seguinte proporo: 30 (trinta) dias
corridos, quando no houver faltado ao servio mais de 5 (cinco) vezes; 24 (vinte e
quatro) dias corridos, quando houver tido de 6 (seis) a 14 (quatorze) faltas; 18 (dezoito)
dias corridos, quando houver tido de 15 (quinze) a 23 (vinte e trs) faltas e de 12 (doze)
dias corridos, quando houver tido de 24 (vinte e quatro) a 32 (trinta e duas) faltas
injustificadas.
Como se observa, as frias se relacionam diretamente s faltas do trabalhador, o
que no significa dizer que h autorizao legal para se descontar as faltas nos dias de
frias a serem gozadas.
24 dias
18 dias
30 dias
12 dias
Frias
Assimile
vedado descontar, do perodo de frias, as faltas do empregado ao
servio e o perodo das frias ser computado, para todos os efeitos,
como tempo de servio.
185
U4
14 dias
12 dias
16 dias
18 dias
10 dias
Frias
8 dias
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U4
perodo de aquisio de 12 meses regula-se pela data da admisso e no pelo anocalendrio.
Outra medida protetiva s frias diz respeito ao perodo de concesso e gozo.
Segundo o art. 134, da CLT, as frias sero concedidas por ato do empregador, em um
s perodo, nos 12 meses subsequentes data em que o empregado tiver adquirido
o direito. Esse prazo dado ao empregador impe-lhe uma penalizao caso no seja
atendido, pois uma vez vencido o perodo concessivo, sem que o empregado tenha
gozado por completo suas frias, carreia-se ao empregador uma multa. As frias
concedidas aps vencido este prazo devero ser pagas em dobro (art. 137, da CLT).
Reflita
Art. 137 - Sempre que as frias forem concedidas aps o prazo de que trata
o art. 134, o empregador pagar em dobro a respectiva remunerao.
1 - Vencido o mencionado prazo sem que o empregador tenha
concedido as frias, o empregado poder ajuizar reclamao pedindo a
fixao, por sentena, da poca de gozo das mesmas.
2 - A sentena dominar pena diria de 5% (cinco por cento) do salrio
mnimo da regio, devida ao empregado at que seja cumprida.
3 - Cpia da deciso judicial transitada em julgado ser remetida ao
rgo local do Ministrio do Trabalho, para fins de aplicao da multa de
carter administrativo.
No entanto, faculta a lei que o perodo de concesso de frias possa ser ajustado
entre empregado e empregador, mas ser marcada para o melhor perodo para o
empregador (art. 136, da CLT). E de forma a atender excepcional interesse, o perodo
de gozo de 30 dias corridos poder ser fracionado em 2 perodos, desde que no
inferior a 10 dias corridos. Porm, aos menores de 18 (dezoito) anos e aos maiores
de 50 (cinquenta) anos de idade, as frias sero sempre concedidas de uma s vez.
Caso o menor de 18 anos seja estudante, suas frias devero coincidir com as frias
escolares. Outro particular diz respeito aos membros de uma famlia que trabalhem
no mesmo estabelecimento ou empresa. Eles tero direito a gozar frias no mesmo
perodo, se assim o desejarem e se disto no resultar prejuzo para o servio.
Como voc pode observar, os requisitos, limites e obrigaes impostas pela lei
nada mais fazem do que garantir a concesso desse direito de forma harmoniosa e de
no obstaculizar a atividade empresarial.
Por fim, importante destacar que durante as frias o empregado no poder
prestar servios a outro empregador, salvo se estiver obrigado a faz-lo em virtude
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U4
de contrato de trabalho regularmente mantido com aquele. Ou seja, no poder
o empregado sair de frias para realizao de um bico ou empregar-se em outra
empresa.
Assim, podemos resumir o que aprendemos at aqui da seguinte forma:
Exemplificando
Imagine que Pedro Prado tenha trabalhado por 2 anos e 4 meses numa
empresa e sua demisso tenha-se dado sem que ele tivesse gozado suas
devidas frias. Como deve ser calculada a indenizao das frias no
gozadas em sua resciso contratual?
Ora, bem simples. Como ele completou o primeiro perodo aquisitivo de
12 meses, ele teria direito concesso de 30 dias corridos de frias. Como
estas no foram gozadas no perodo certo, elas devero ser pagas em
dobro, na forma do art. 137, da CLT. Quanto ao prximo perodo aquisitivo,
o empregador as pagar normalmente, pois Pedro ainda estava no perodo
de concesso das mesmas. E por fim, h um resqucio de 4 meses que
ensejaro o pagamento de frias proporcionais na razo de 4/12.
188
U4
Faa voc mesmo
Patrcia Parras vendedora e recebe seu salrio integralmente por
comisso de venda. Depois de 1 ano e 8 meses de trabalho gozar
suas primeiras frias. Como ela trabalha em cidade distante 400 km
de sua residncia de origem, ela recebe auxlio-moradia, ou seja, um
apartamento da empresa para morar. Como devem ser calculadas suas
frias?
Primeiramente, temos que avaliar a aquisio. Como ela possui 12 meses
de trabalho, est com o direito adquirido e receber apenas referente a
este perodo aquisitivo, pois o fracionamento de 8 meses pertence ao
prximo perodo aquisitivo. E quanto ao valor? Segundo dispe a CLT
(art. 142), este dever ser calculado tendo por base a mdia dos ltimos
12 meses anteriores concesso, e no a mdia do perodo aquisitivo.
Quanto ao apartamento, o valor do auxlio-moradia dever incorporar a
frias, ou seja, ele dever estar disponibilizado a ela durante o gozo das
frias, no podendo ser retomado pela empresa neste perodo.
Assimile
O pagamento da remunerao das frias e, se for o caso, o do abono
referido no art. 143 sero efetuados at 2 (dois) dias antes do incio do
respectivo perodo.
189
U4
Sem medo de errar
Agora convido voc para juntos buscarmos a resposta para a situao-problema
apresentada no incio da Seo. Vamos faz-lo, considerando os conhecimentos que
foram construdos, especialmente quanto ao seu conceito (natureza jurdica), perodo
de aquisio, gozo e fruio.
O conceito jurdico das frias mudou ao longo do tempo no direito ptrio. Hoje,
as frias no se configura mais como uma indenizao ou gratificao ou prmio ao
trabalhador. Trata-se de norma de direito cogente, o que significa dizer que se impe
a todos os trabalhadores, indistintamente. um direito que impe uma obrigao de
fazer ao empregador que deve conceder frias ao seu empregado e um direitodever do empregado, que dever goz-la no perodo determinado pela lei.
As faltas do empregado no podem ser compensadas com os dias de frias e
os adicionais por trabalho extraordinrio, noturno, insalubre ou perigoso sero
computados no salrio que servir de base ao clculo da remunerao das frias.
Sobre o pagamento da remunerao das frias e, se for o caso, o do abono referido
no art. 143 sero efetuados at 2 (dois) dias antes do incio do respectivo perodo.
Lembre-se
As frias possuem natureza jurdica de direito pblico. So um direito
indisponvel.
Ateno!
As frias devem ser gozadas em 30 dias corridos, includo neste perodo
os feriados.
Avanando na prtica
Pratique mais
Instruo
Desafiamos voc a praticar o que aprendeu transferindo seus conhecimentos para novas situaes
que pode encontrar no ambiente de trabalho. Realize as atividades e depois as compare com a de
seus colegas.
190
U4
Frias: perodo aquisitivo
1. Competncia de fundamentos
de rea
2. Objetivos de aprendizagem
3. Contedos relacionados
4. Descrio da SP
5. Resoluo da SP
Lembre-se
As frias sero concedidas por ato do empregador, em um s perodo, nos
12 (doze) meses subsequentes data em que o empregado tiver adquirido
o direito.
A concesso das frias ser participada, por escrito, ao empregado,
com antecedncia de, no mnimo, 30 (trinta) dias. Dessa participao, o
interessado dar recibo.
A poca da concesso das frias ser a que melhor consulte os interesses
do empregador.
Sempre que as frias forem concedidas aps o prazo o empregador
pagar em dobro a respectiva remunerao.
Durante as frias, o empregado no poder prestar servios a outro
empregador, salvo se estiver obrigado a faz-lo em virtude de contrato de
trabalho regularmente mantido com aquele.
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U4
Faa voc mesmo
Christilene Cruz pretende tirar frias no prximo ms. Ao entregar
sua solicitao no RH foi informada que ter direito a apenas 4 dias.
Inconformada, alega que possui dois perodos aquisitivos de frias e por
isso pretende sair 60 dias. Mas o RH da empresa a informou que ela
possui direito de apenas 4 dias referentes ao 1 perodo aquisitivo porque
ela teve faltas injustificadas e quanto ao 2 perodo aquisitivo, este ainda
no se completou devido ao perodo em que ela se afastou em auxliodoena. Ela, mantendo seu inconformismo, recorre a voc e solicita
orientao.
192
U4
II Trata-se de norma de direito cogente, o que significa dizer que se
impe a todos os trabalhadores, indistintamente.
III um direito que impe uma obrigao de fazer ao empregador
que deve conceder frias ao seu empregado e um direito-dever do
empregado, que dever goz-la no perodo determinado pela lei.
IV O empregado poder renunciar a este direito e vend-lo ao
empregador, por ser um direito indisponvel.
a) Todas esto corretas.
b) Todas esto erradas.
c) I, II e III esto corretas.
d) II, III e IV esto corretas.
e) Nenhuma das anteriores est correta.
( ) 15 a 23 faltas
(2) 24 dias
( ) 6 a 14 faltas
(3) 18 dias
( ) 24 a 32 faltas
(4) 12 dias
( ) Sem faltas
a) 1 3 2 4
b) 3 2 4 1
c) 2 1 3 4
d) 4 2 1 3
e) 3 4 2 1
193
U4
Sobre o perodo de aquisio das frias, correto afirmar que:
a) Caso o contrato de trabalho seja interrompido antes de completar 12
meses o empregado ter direito s frias proporcionais.
b) O perodo de aquisio de 12 meses regula-se pela data determinada
pelo empregador para efeito de administrao das concesses de frias.
c) O funcionrio poder gozar frias no ltimo ms do perodo aquisitivo.
d) O perodo que o funcionrio tiver de afastamento por auxlio-doena
computar-se- para contagem do perodo aquisitivo.
e) A contagem do tempo para o perodo aquisitivo considera apenas os
dias efetivamente trabalhados.
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U4
c) O funcionrio que recebe salrio por hora ter suas frias calculada
sobre a mdia do perodo aquisitivo, caso opte por esta modalidade.
d) O funcionrio que recebe salrio por percentagem ou comisso ter
suas frias calculadas pela mdia percebida nos 12 meses do perodo
aquisitivo.
e) Os adicionais por trabalho extraordinrio, noturno, insalubre ou
perigoso no sero computados no salrio que servir de base ao
clculo da remunerao das frias.
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U4
196
U4
Seo 4.2
Frias: comunicao, remunerao, cessao e
prescrio
Dilogo aberto
Caro(a) aluno(a), na seo anterior voc estudou o instituto das frias. Vimos
sua natureza jurdica e seu conceito, a distino entre perodo aquisitivo e perodo
concessivo, as formas de gozo das mesmas, em relao ao nmero de dias permitido,
seu fracionamento e indenizao devida no caso de perda do prazo para concesso.
Agora, nesta seo 2 da Unidade 4, veremos outras questes que envolvem esse
mesmo direito. A validade das frias depende da correta Comunicao. Como ela
efetivamente deve ser realizada? E a anotao da CTPS? Veremos com mais detalhes as
frias coletivas e as hipteses de cessao e prescrio. Veja a relevncia desse estudo:
Imagine em nossa situao hipottica, que a confeco onde trabalha Vera
Vellasco tenha concedido frias coletivas s suas funcionrias, de 20 dias. No entanto,
agora ela pretende chamar algumas funcionrias para retornarem ao trabalho e neste
exato momento est fazendo negociaes individuais porque, apesar de conceder
frias coletivas a todas as funcionrias, h um pequeno grupo de funcionrias com
mais de 50 anos de idade.
Quais devem ser os cuidados que a empresa dever ter para que possa exigir o
retorno ao trabalho de suas funcionrias e deste pequeno grupo? Pode ela alegar
canceladas as frias de suas funcionrias que esto em pleno gozo?
Esta situao pode ocorrer na forma como acima colocado ou na esfera individual.
Ou pior, voc j deve ter presenciado situao em que o funcionrio dispensa suas
frias, ele tira as frias no papel e continua trabalhando.
H muitas negociaes envolvendo as frias e precisamos conhecer mais
detalhadamente suas caractersticas para que possamos garantir sempre a preservao
dos direitos, tanto do empregador quanto do empregado.
Vamos ajud-lo a reunir os elementos jurdicos necessrios para voc aprender
mais sobre este instituto, suas hipteses de cessao e prescrio.
197
U4
No pode faltar
Vimos na seo anterior o quanto as frias avanaram no Brasil, alargando direitos
e deveres para os empregadores.
Segundo Cassar (2014, p. 732) as frias tm o condo de eliminar as toxinas
originadas pela fadiga e que no foram liberadas com os repousos semanais e descansos
entre e intrajornadas. O trabalho contnuo, dia aps dia, gera grande desgaste fsico e
intelectual, acumulando preocupaes, obrigaes e outros fenmenos psicolgicos
e biolgicos, adquiridos em virtude dos problemas funcionais do cotidiano. Por isso,
as frias assumem no mundo jurdico esse papel fundamental de direito pblico e
indisponvel.
E para que ela seja adequadamente implementada e executada, cumprida em sua
funo social, mister que ela atenda a vrios requisitos legais. Nesta seo, veremos os
requisitos quanto sua comunicao, cesso e prescrio. Tambm verificaremos os
aspectos das frias coletivas.
As frias devem ser comunicadas com antecedncia mnima de 30 dias. o que
dispe o art. 135, da CLT: a concesso das frias ser participada, por escrito, ao
empregado, com antecedncia de, no mnimo, 30 (trinta) dias. Dessa participao o
interessado dar recibo.
Reflita
Essa comunicao importante para que o empregador no seja tomado
de surpresa com a ausncia de seu funcionrio por um perodo de 30 dias.
Por outro lado, serve tambm para que o empregado possa se programar
para gozar seus 30 dias de descanso ininterruptos.
O recibo o instrumento de proteo das partes. Com a comunicao, alguns
efeitos jurdicos se operam. o reconhecimento de aquisio decorrente do perodo
aquisitivo e fixao do perodo correto de fruio das frias com consequente data
para pagamento e valor. Caso no haja anotao da CTPS do empregado, vale o
recibo de comunicao de frias. O ato faltoso do empregador (ausncia de anotao
na CTPS) se torna infrao administrativa.
Assimile
responsabilidade legal do empregador providenciar a anotao das
frias na CTPS do empregado.
198
U4
Caso a comunicao ocorra em menos de 30 dias, incorrer o empregador em
mera infrao administrativa.
A remunerao das frias, ainda quando devida aps a cessao do contrato
de trabalho, ter natureza salarial. E no caso de cessao do contrato de trabalho,
qualquer que seja a sua causa, ser devida ao empregado a remunerao simples ou
em dobro, conforme o caso, correspondente ao perodo de frias cujo direito tenha
adquirido, aps decorridos os 12 meses ou de forma proporcional, em fraes acima
de 14 dias no ms.
Assim, so devidos os pagamentos de frias em caso de:
Figura 4.1 | Situaes de cessao do contrato e incidncia de frias
despedida imotivada ou indireta
E nos termos da Smula n 328 do TST, os valores devidos so: frias (no caso de
aquisio), frias proporcionais (fraes acima de 14 dias) e 1/3 constitucional sobre o
valor devido de frias. Lembrando que as frias devem ser pagas no prazo de 48 horas
antes do trabalhador entrar em gozo e as frias vencidas sero pagas em dobro.
Sobre a natureza das frias, importante destacar que a CLT lhe emprega natureza
salarial, assim, incorporam os direitos oriundos da existncia do contrato de trabalho
que subsistem em caso de falncia, concordata ou dissoluo da empresa (art. 449, da
CLT), e com relao s frias indenizadas, o abono e o valor de dobra, estas possuem
natureza indenizatria. A outra relevncia desta distino da natureza jurdica diz
respeito, alm da incidncia do art. 449, a no incidncia destes valores indenizatrios
sobre o FGTS e Previdncia Social. Nisto o empregador deve estar atento.
Veja o exemplo a seguir:
199
U4
Exemplificando
Carlos Chagas, professor universitrio visitante, teve seu contrato de
trabalho encerrado aps transcorridos 2 anos de vigncia. Contratado sob
o regime celetista, trabalhou regularmente os 4 semestres letivos, gozando
adequadamente das frias no ms de janeiro e dos recessos escolares, no
ms de julho e 15 dias no ms de dezembro (do dia 16 ao dia 31). Ao final
do seu contrato, que valores de frias lhe sero devidos em sua resciso
de contrato de trabalho?
Muito simples. Como colocado no problema, Chagas gozou frias
regularmente e, portanto, recebeu o 1/3 constitucional. Poder-se-ia arguir
em relao ao perodo de gozo. Como se trata da categoria de professor,
preciso que voc saiba que, segundo conveno coletiva de trabalho,
mesmo que o professor ingresse no segundo semestre letivo, no ms de
janeiro ele teria, em tese, apenas 6 meses de contrato, perodo aquisitivo
inferior aos 12 meses requeridos pela lei. No entanto, gozar ele de
frias normais e proporcionais aos 6 meses. Assim, no momento de sua
resciso, no final do ms de junho, ele receberia na resciso do contrato
o proporcional a estes meses no gozados.
As frias indenizadas no final do contrato de trabalho no possuem natureza salarial
nem computam como tempo de servio para o empregado.
Assimile
As frias so causas de interrupo do contrato de trabalho porque
computam no tempo de servio do empregado.
Agora, imagine a seguinte situao:
200
U4
nesta condio, foi demitido. Em suas verbas rescisrias suas frias foram
pagas normalmente, ou seja, o valor normal simples, acrescidas de 1/3
constitucional. Pergunta-se: est correta esta interpretao?
Evidentemente que no. Ele deve possuir 3 perodos de frias vencidos,
e no pagos ou gozados. O pagamento nas verbas rescisrias deveria
ser em dobro, para estas frias vencidas e para a ltima, se no vencida,
ou seja, ainda dentro do perodo concessivo, deveriam ser pagas
normalmente. Como ele possui mais de 1 ano de trabalho, sua resciso
dever ser realizada perante a presena do sindicato. Com certeza, este
lapso no seu pagamento no ocorrer.
Sobre a prescrio, importante anotar a lio do art. 149, da CLT, de que a
prescrio do direito de reclamar a concesso das frias ou o pagamento da respectiva
remunerao contada do trmino do prazo mencionado no art. 134, ou seja, do
perodo concessivo ou da cessao do contrato de trabalho.
E como frisado anteriormente, as infraes sobre as frias sero punidas com
multas de valor igual a 160 BTN por empregado em situao irregular (art. 153, da CLT)
e no caso de reincidncia, embarao ou resistncia fiscalizao, emprego de artifcio
ou simulao com o objetivo de fraudar a lei, a multa ser aplicada em dobro.
Vocabulrio
O Bnus do Tesouro Nacional (BTN) foi criado pela Lei n 7.777/1989 e
extinta pela Lei n 8.177/1991. A taxa utilizada a Taxa Referencial (TR),
criada por esta ltima lei.
Este o regramento legal sobre as frias. Falta ainda discorrer sobre as frias
coletivas.
Como sabemos, por fora do art. 139, podero ser concedidas frias coletivas a
todos os empregados de uma empresa ou de determinados estabelecimentos ou
setores da empresa. Estas frias podero ser gozadas em 2 (dois) perodos anuais
desde que nenhum deles seja inferior a 10 (dez) dias corridos, devendo neste caso, o
empregador, comunicar ao rgo local do Ministrio do Trabalho, com a antecedncia
mnima de 15 (quinze) dias, as datas de incio e fim das frias, precisando quais os
estabelecimentos ou setores abrangidos pela medida.
Ou seja, admite-se o fracionamento dos dias de frias e a setorizao na empresa,
podendo ela conceder a todos os funcionrios, indistintamente, ou apenas alguns setores.
201
U4
Mas como ficaria o caso daquele funcionrio admitido na empresa e ao tempo das
frias coletivas tivesse menos de 12 meses, ou seja, no teria ainda cumprido o perodo
aquisitivo?
Como as frias coletivas so de ordem superior e aplicadas coletivamente, elas
possuem o condo de sobreporem ao regulamento particular, sem contudo infringi-lo.
Explico: esse funcionrio dever entrar em frias coletivas com os demais funcionrios,
na mesma data pois a empresa ou parte dela estar fechada (esse o objetivo das
frias coletivas: conteno de despesas com o fechamento da atividade empresarial)
pois bem, no entanto, a contagem dos dias efetivos de frias depender da regra da
proporcionalidade. Se ele tiver trabalhado apenas 3 meses, ter direito a 3/12 avos de
frias, acrescidos de 3/12 do 1/3 constitucional sobre as frias. Os demais dias sero
pagos como salrio, no dia normal de pagamento dos salrios, pois o funcionrio
estar em sua casa, disposio do empregador.
Aplica-se nesse caso a regra do art. 140 e do art. 4, j visto por ns, ambos da CLT.
Assimile
Art. 140 - Os empregados contratados h menos de 12 (doze) meses
gozaro, na oportunidade, frias proporcionais, iniciando-se, ento, novo
perodo aquisitivo.
Art. 4 - Considera-se como de servio efetivo o perodo em que
o empregado esteja disposio do empregador, aguardando ou
executando ordens, salvo disposio especial expressamente consignada.
Com esse estudo, damos por encerrado o tema das frias e, considerando os
assuntos tratados nas unidades anteriores at esta seo, passamos em revista o que
h de mais importante na Legislao Social Trabalhista, com duas excees: o direito
exclusivo da mulher trabalhadora e o Direito Coletivo de Trabalho, que veremos nas
duas prximas sees antes de encerrarmos o nosso curso.
202
U4
Segundo Cassar (2014, p. 732) as frias tm o condo de:
Ateno!
A CLT emprega natureza salarial s frias. Assim, incorporam os direitos
oriundos da existncia do contrato de trabalho que subsistem em caso de
falncia, concordata ou dissoluo da empresa (art. 449, da CLT).
Lembre-se
Com relao s frias indenizadas, o abono e o valor de dobra, possuem
natureza indenizatria, ou seja, no incidem sobre o FGTS e Previdncia
Social.
Avanando na prtica
Pratique mais
Instruo
Desafiamos voc a praticar o que aprendeu transferindo seus conhecimentos para novas situaes
que pode encontrar no ambiente de trabalho. Realize as atividades e depois as compare com a de
seus colegas.
203
U4
Frias: comunicao, remunerao, cessao e prescrio
204
1. Competncia de fundamentos
de rea
2. Objetivos de aprendizagem
3. Contedos relacionados
4. Descrio da SP
5. Resoluo da SP
U4
a nica hiptese aplicvel ao caso concreto. Como no direito,
trabalhamos sempre no estabelecimento de equilbrio entre
as partes interessadas, se por um lado houve a comunicao
anterior do empregador ao rgo do Ministrio do Trabalho,
neste caso, dever igualmente comunic-lo, apresentando
neste momento as razes da situao imperiosa e de fora
maior que justifique o retorno ao trabalho. Somente ento, ela
poder convocar suas funcionrias para retorno ao trabalho.
Lembre-se
CLT, art. 149 - A prescrio do direito de reclamar a concesso das frias
ou o pagamento da respectiva remunerao contada do trmino do
prazo mencionado no art. 134 ou, se for o caso, da cessao do contrato
de trabalho.
CLT, art. 134 - As frias sero concedidas por ato do empregador, em
um s perodo, nos 12 (doze) meses subsequentes data em que o
empregado tiver adquirido o direito.
205
U4
2. Marcela Martins proprietria de um posto de gasolina. Com o
agravamento de uma crise no abastecimento regular, provocado pela
greve dos caminhoneiros, era decidiu conceder alguns dias de frias
coletivas aos seus funcionrios. Ela recorreu a voc para que a oriente
como proceder. Formule uma resposta para orient-la.
3. Sobre a comunicao de frias, veja o que dispe o art. 135, da CLT:
A concesso das frias ser participada, por escrito, ao empregado,
com antecedncia de, no mnimo, 30 (trinta) dias. Dessa participao
o interessado dar recibo. Diante deste mandamento legal, sobre a
comunicao de frias, incorreto afirmar que:
a) Essa comunicao importante para que o empregador no seja
tomado de surpresa com a ausncia de seu funcionrio por um perodo
de 30 dias.
b) Essa comunicao importante para que o empregado possa se
programar para gozar seus 30 dias de descanso ininterruptos.
c) O recibo um instrumento de proteo das partes e ativao dos
efeitos jurdicos das frias.
d) O recibo serve para reconhecer a aquisio decorrente do perodo
aquisitivo e a fixao do perodo correto de fruio das frias com
consequente data para pagamento e valor.
e) As frias somente tero validade se anotadas na CTPS do empregado.
206
U4
a) I apenas.
b) III apenas.
c) II e IV apenas.
d) Todas esto corretas.
e) Nenhuma est correta.
5. Jorge Jazjabe rescindiu seu contrato de trabalho porque seu patro
no lhe concederia as desejadas frias. Ele est no perodo concessivo
de suas segundas frias e as primeiras sequer foram gozadas. Como
dever ser o recebimento desses valores na resciso?
a) Deve receber as segundas frias integrais, com o 1/3 integral e as
primeiras frias integrais e em dobro, com o 1/3 tambm integral e em
dobro.
b) Deve receber as segundas frias integrais, com o 1/3 integral e as
primeiras frias integrais, com o 1/3 tambm integral.
c) Deve receber as segundas frias proporcionais, com o 1/3 proporcional
e as primeiras frias integrais e em dobro, com o 1/3 tambm integral e
em dobro.
d) Deve receber as segundas frias proporcionais, com o 1/3 proporcional
e as primeiras frias integrais, com o 1/3 tambm integral.
e) Nenhuma das alternativas.
6. A matria da prescrio est delineada no art. 149, da CLT, com a
seguinte redao: a prescrio do direito de reclamar a concesso das
frias ou o pagamento da respectiva remunerao contada do trmino
do prazo mencionado no art. 134 ou, se for o caso, da cessao do
contrato de trabalho. A contagem do prazo prescricional a que alude o
artigo em comento deve ser feita:
a) A partir do trmino do perodo aquisitivo.
b) A partir do incio do perodo concessivo.
c) A partir da cessao do contrato de trabalho.
d) A partir do incio do perodo aquisitivo.
e) O prazo fictcio.
207
U4
Por fora do art. 139, podero ser concedidas frias coletivas a ________
(d)os empregados de uma empresa ou de alguns setores da empresa.
Estas frias podero ser gozadas em _____ perodos anuais desde que
nenhum deles seja inferior a ______ dias corridos, devendo neste caso,
o empregador, comunicar ao rgo local do Ministrio do Trabalho,
com a antecedncia mnima de _____ dias, as datas de incio e fim das
frias, precisando quais os _______ sero abrangidos pela medida.
Assinale a alternativa correta.
a) todos dois dez quinze setores.
b) todos trs dez trinta setores.
c) todos um trinta quinze funcionrios.
d) alguns dois dez dez funcionrios.
e) alguns trs dez quinze setores.
208
U4
Seo 4.3
Trabalho da mulher
Dilogo aberto
Caro(a) aluno(a), na seo anterior vimos mais alguns aspectos relacionados s frias,
tais como comunicao de frias, seus requisitos e efeitos jurdicos, a remunerao de
frias integrais e proporcionais, formas de clculo, hipteses de cesso do contrato de
trabalho e incidncia das frias, ocasio na qual voc verificou a distino entre verbas
de natureza salarial e de natureza no salarial. E vimos os aspectos relevantes sobre a
prescrio, tanto para concesso das frias quanto para seu pagamento indenizatrio.
Por fim, acrescentamos ao seu estudo as frias coletivas, dada sua relevncia em
nossos dias, ocasio em que resolvemos nossa situao-problema.
Agora, nesta seo dedicaremos nosso estudo especialmente para o trabalho da
mulher.
J vimos em unidades anteriores algumas protees legais ao trabalho da mulher
e as restries impostas ao empregador. Agora, veremos de forma mais concentrada
os direitos da mulher nas relaes de trabalho, especialmente a proteo gestante
e maternidade. Retomaremos tambm algumas questes referentes ao trabalho
noturno e seus perodos de descanso.
E para que possamos ilustrar e fortalecer nosso estudo, voltemos nossa situao
da realidade.
Imagine em nossa situao hipottica o caso de Samantha Silva. Ela, por duas vezes
na semana passou mal e quase desmaiou. Seu empregador, desconfiado, a dispensou
na semana seguinte. Transcorrida mais uma semana, ela descobriu que estava grvida
de 3 meses. Voltou ao trabalho para comunicar ao seu patro de tal ocorrido, pedindo
a ele o retorno ao trabalho, alegando em sua defesa estabilidade. O empregador, por
sua vez, disse-lhe que como ela no havia comunicado com antecedncia ou antes
da demisso sem justa causa, ele no poderia fazer nada.
Diante de uma situao como esta, como devem agir empregador e empregada?
Quem est correto em sua interpretao da lei? Ou seja, perante a lei, permitida a
dispensa da funcionria grvida, quando empregador e empregada desconhecem o
209
U4
fato? Quais so os limites e as condicionantes impostos neste caso?
Vamos ajud-lo a reunir os elementos jurdicos necessrios para voc resolver esta
situao. E mais do que isso, voc descobrir um pouco mais sobre o trabalho da
mulher e as medidas protetivas arduamente conquistadas ao longo do tempo.
Vamos ao nosso estudo, ento.
No pode faltar
Em nosso curso, na Unidade 1, vimos um pouco da histria da afirmao dos
direitos dos trabalhadores. O que destacamos agora para voc o papel da mulher
nessas lutas. Voc sabia que foi no dia 1 de maio de 1940 que o Presidente Getlio
Vargas instituiu o salrio mnimo? E no mesmo dia do ano seguinte criou a Justia do
Trabalho? Mas a histria do trabalho da mulher comea antes disso.
Reflita
Operrias de uma fbrica de tecidos, situada na cidade norte-americana
de Nova York, fizeram uma grande greve. Ocuparam a fbrica e
comearam a reivindicar melhores condies de trabalho, tais como,
reduo na carga diria de trabalho para 10 horas (as fbricas exigiam
16 horas de trabalho dirio), equiparao de salrios com os homens (as
mulheres chegavam a receber at um tero do salrio de um homem,
para executar o mesmo tipo de trabalho) e tratamento digno dentro do
ambiente de trabalho. A manifestao foi reprimida com total violncia. As
mulheres foram trancadas dentro da fbrica, que foi incendiada. A histria
disse que aproximadamente 130 tecels morreram carbonizadas, num ato
totalmente desumano.
Fonte:
http://www.ihu.unisinos.br/vitimas-de-genocidios-emassacres/507289-8-de-marco-incendio-em-fabrica-de-nova-york.
Acesso em: 14 jul. 2015.
210
U4
Assimile
XVIII - licena gestante, sem prejuzo do emprego e do salrio, com a
durao de cento e vinte dias;
XX - proteo do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos
especficos, nos termos da lei;
XXV - assistncia gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento
at 5 (cinco) anos de idade em creches e pr-escolas;
XXX - proibio de diferena de salrios, de exerccio de funes e de
critrio de admisso por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil.
OIT 100
OIT 103
OIT 111
OIT 171
211
U4
Como voc pde observar a legislao de proteo mulher extensa, isso
porque ela realmente merece ter um cuidado especial e por uma razo muito simples:
ela nica a receber proteo quando gestante e na maternidade, compreendido o
perodo de amamentao.
Figura 4.3 | Direitos iguais entre homem e mulher
Contratao (Lei n 7.855/1989, CLT, art. 373-A)
esta condio natural que lhe garante discriminao legal, garantindo-lhe direitos
que no esto afetos ao homem. Contudo, no restante, seus direitos equiparam-se
aos do homem, exceto, por exemplo, quanto ao seu descanso semanal remunerado
aos domingos. Enquanto que para o homem ele obrigatrio a cada 7 semanas, em
caso extremo, a mulher, por sua vez, dever repousar no domingo, no mnimo, a cada
15 dias. Outro diferencial o intervalo assegurado pela CLT para a amamentao de
seu filho.
No mais, os direitos so equiparados entre homem e mulher.
Pesquise mais
Veja a Lei n 7.855/1989 que revogou o art. 387, da CLT, sobre trabalhos
mais penosos.
Passemos ao estudo da proteo dos pontos principais de proteo mulher, que
a proteo gestante e maternidade.
212
U4
Em relao gestante, o primeiro ponto a ser levantado sua condio de
estabilidade, ordenada no Ato das Disposies Constitucionais Transitrias (ADCT), da
Constituio Federal de 1988.
Assimile
Art. 10. At que seja promulgada a lei complementar a que se refere o art.
7, I, da Constituio:
II - fica vedada a dispensa arbitrria ou sem justa causa:
b) da empregada gestante, desde a confirmao da gravidez at cinco
meses aps o parto.
Exemplificando
GRAVIDEZ DURANTE AVISO PRVIO GERA O DIREITO ESTABILIDADE
A concepo ocorrida durante o curso do aviso prvio, ainda que
indenizado, garante trabalhadora a estabilidade provisria no emprego.
Assim, se a resciso do contrato de trabalho ocorrer por desconhecimento
do estado gravdico por parte do empregador ou at mesmo da prpria
trabalhadora, o direito ao pagamento da indenizao no usufruda est
garantido.
Em processo analisado no Tribunal Superior do Trabalho, uma trabalhadora
que ficou grvida durante o perodo do aviso prvio conseguiu o direito
de receber o pagamento dos salrios e demais direitos correspondentes
ao perodo da garantia provisria de emprego assegurada gestante. A
Terceira Turma deu provimento ao seu recurso e reformou as decises
das instncias anteriores.
A sentena da Vara do Trabalho e o Tribunal regional entenderam que,
no momento da resciso do contrato, a trabalhadora no estava grvida,
e no faria jus proteo invocada. Ao apelar ao TST, a trabalhadora
sustentou que o aviso prvio no configura o fim da relao empregatcia,
mas apenas a manifestao formal de uma vontade que se pretende
concretizar adiante, razo por que o contrato de trabalho continua a
emanar seus efeitos legais".
O relator do processo na Terceira Turma, ministro Maurcio Godinho
213
U4
Delgado, destacou que o prprio Tribunal Regional admitiu que a gravidez
ocorreu no perodo de aviso prvio indenizado, ao adotar a Orientao
Jurisprudencial do TST, que dispe que a data de sada a ser anotada na
CTPS deve corresponder do trmino do prazo do aviso prvio, ainda que
indenizado, entendeu que a estabilidade estava configurada.
Assim, com base na Smula 396 do TST, decidiu que a trabalhadora
tem direito ao pagamento dos salrios do perodo compreendido entre
a data da despedida e o final do perodo de estabilidade, no lhe sendo
assegurada a reintegrao. O voto foi acompanhado por unanimidade.
(Processo: RR-490-77.2010.5.02.0038).
Fonte:
http://www.guiatrabalhista.com.br/tematicas/gravidez_inicio_
estab.htm. Acesso em: 14 jul. 2015.
Veja as Smulas do TST que fundamentam este julgamento e regulam a matria
da estabilidade da gestante. Observe que o conhecimento prvio da gravidez no
condicionante aplicao da norma protetora, pois a responsabilidade com a gestante
por parte do empregador objetiva. Ademais, nos termos da CLT, a confirmao do
estado de gravidez advindo no curso do contrato de trabalho, ainda que durante o
prazo do aviso prvio trabalhado ou indenizado, garante empregada gestante a
estabilidade provisria prevista na alnea b do inciso II do art. 10 do Ato das Disposies
Constitucionais Transitrias (art. 391-A).
Vocabulrio
Smula n 244 do TST - GESTANTE. ESTABILIDADE PROVISRIA
I - O desconhecimento do estado gravdico pelo empregador no afasta
o direito ao pagamento da indenizao decorrente da estabilidade (art. 10,
II, "b" do ADCT).
II - A garantia de emprego gestante s autoriza a reintegrao se esta se
der durante o perodo de estabilidade. Do contrrio, a garantia restringe-se
aos salrios e demais direitos correspondentes ao perodo de estabilidade.
III - A empregada gestante tem direito estabilidade provisria prevista
no art. 10, inciso II, alnea b, do Ato das Disposies Constitucionais
Transitrias, mesmo na hiptese de admisso mediante contrato por
tempo determinado.
Smula n 396 do TST - ESTABILIDADE PROVISRIA. PEDIDO DE
REINTEGRAO. CONCESSO DO SALRIO RELATIVO AO PERODO DE
214
U4
ESTABILIDADE J EXAURIDO. INEXISTNCIA DE JULGAMENTO "EXTRA
PETITA"
I - Exaurido o perodo de estabilidade, so devidos ao empregado apenas
os salrios do perodo compreendido entre a data da despedida e o final
do perodo de estabilidade, no lhe sendo assegurada a reintegrao no
emprego.
II - No h nulidade por julgamento extra petita da deciso que deferir
salrio quando o pedido for de reintegrao, dados os termos do art. 496
da CLT.
Assimile
Art. 396 - Para amamentar o prprio filho, at que este complete 6 (seis)
meses de idade, a mulher ter direito, durante a jornada de trabalho, a 2
(dois) descansos especiais, de meia hora cada um.
Pargrafo nico - Quando o exigir a sade do filho, o perodo de 6 (seis)
meses poder ser dilatado, a critrio da autoridade competente.
O empregador poder manter locais destinados guarda dos filhos das funcionrias
durante o perodo da amamentao, desde que tenham, no mnimo, um berrio,
uma saleta de amamentao, uma cozinha diettica e uma instalao sanitria.
215
U4
Ateno!
Os incisos XVIII, XX, XXV e XXX do art. 7 da Constituio Federal de 1988
conferem proteo especial mulher e devem ser interpretados em
conjunto com as Convenes Internacionais do Trabalho.
Lembre-se
No mbito do direito internacional, o Brasil ratificou as principais
Convenes da Organizao Mundial do Trabalho (OIT) que conferem
direitos especiais e de proteo ao trabalho da mulher: 100, 103, 111 e 171.
Dada condio natural da mulher, so duas as principais medidas protetivas: a
proteo gestante e maternidade.
E conforme dispe o art. 10, da ADCT, da CF/1988, at que seja promulgada a
lei complementar a que se refere o art. 7, I, da Constituio, est vedada a dispensa
arbitrria ou sem justa causa da empregada gestante, desde a confirmao da gravidez
at cinco meses aps o parto.
Assim, a proteo maternidade garante genitora a licena de 120 dias, a partir
do momento da confirmao da gravidez at cinco meses aps o parto, sem prejuzo
de seu salrio ou emprego e para amamentar o prprio filho, at que este complete
6 (seis) meses de idade, a mulher ter direito, durante a jornada de trabalho, a 2 (dois)
descansos especiais, de meia hora cada um.
Avanando na prtica
Pratique mais
Instruo
Desafiamos voc a praticar o que aprendeu transferindo seus conhecimentos para novas situaes
que se podem encontrar no ambiente de trabalho. Realize as atividades e depois as compare com a
de seus colegas.
Trabalho da mulher
216
1. Competncia de fundamentos
de rea
2. Objetivos de aprendizagem
U4
3. Contedos relacionados
4. Descrio da SP
5. Resoluo da SP
Lembre-se
Segundo a Smula n 396 do TST, exaurido o perodo de estabilidade,
so devidos ao empregado os salrios do perodo compreendido entre
a data da despedida e o final do perodo de estabilidade, no lhe sendo
assegurada a reintegrao no emprego.
217
U4
Faa valer a pena
1. Vrias fontes histricas apontam um cenrio de discriminao contra
a mulher no trabalho, desde a Revoluo Industrial at nossos dias.
Submetidas a um regime de trabalho de 16 horas dirias, elas foram
galgando conquistas ao longo do tempo at chegarem ao patamar de 8
horas dirias, como os homens. A equiparao entre homem e mulher
est disciplinada na CLT. Porm, no obstante a esta equiparao,
dizemos que as mulheres possuem proteo especial na lei. A que isto
se refere? Quais so as protees especiais que as mulheres gozam na
relao de trabalho?
218
U4
4. A doutrina e Jurisprudncia muito tem discutido sobre a incidncia
do art. 10, do ADCT, da CF/1988. Hoje em dia, j h um posicionamento
consolidado sobre a matria, que fixou o entendimento do incio da
contagem do prazo, ao que a lei aduz dizendo desde a confirmao da
gravidez. Sobre este ponto, correto afirmar que:
a) Considera-se a confirmao da gravidez desde a comunicao da
empregada ao empregador.
b) Considera-se a confirmao da gravidez desde a comunicao do
mdico paciente.
c) Considera-se a confirmao da gravidez desde a comunicao do
mdico paciente, retroagindo data da concepo.
d) Independentemente da comunicao da empregada ao empregador,
considera-se a contagem do prazo desde a data da concepo.
e) Independentemente da comunicao da empregada ao empregador,
considera-se a contagem do prazo desde a data que a empregada tem
conhecimento do fato.
5. A despeito da Smula n 244 do TST, que disciplina entendimento dos
direitos afetos gestante como a estabilidade, correto afirmar que:
I O desconhecimento do estado gravdico pelo empregador no afasta
o direito ao pagamento da indenizao decorrente da estabilidade.
II O desconhecimento do estado gravdico pelo empregador afasta o
direito ao pagamento da indenizao decorrente da estabilidade.
III A garantia de emprego gestante s autoriza a reintegrao se
esta se der durante o perodo de estabilidade. Do contrrio, a garantia
restringe-se aos salrios e demais direitos correspondentes ao perodo
de estabilidade.
IV A empregada gestante tem direito estabilidade provisria prevista
no art. 10, inciso II, alnea b, do Ato das Disposies Constitucionais
Transitrias, na hiptese de admisso mediante contrato por tempo
indeterminado.
Assinale a alternativa correta.
a) I e III.
b) II e IV.
c) I e II.
d) III e IV.
e) Todas esto corretas.
219
U4
6. A estabilidade provisria cumulada com o pedido de reintegrao
possui entendimento fixado na Smula n 396 do TST. Quanto a este
entendimento, correto afirmar que:
a) Exaurido o perodo de estabilidade, so devidos ao empregado apenas
os salrios do perodo compreendido entre a data da despedida e o final
do perodo de estabilidade, lhe sendo assegurada a reintegrao no
emprego.
b) Exaurido o perodo de estabilidade, no so devidos ao empregado
os salrios do perodo compreendido entre a data da despedida e o final
do perodo de estabilidade, mas lhe sendo assegurada a reintegrao no
emprego.
c) Exaurido o perodo de estabilidade, no so devidos ao empregado
apenas os salrios do perodo compreendido entre a data da despedida
e o final do perodo de estabilidade no lhe sendo assegurada a
reintegrao no emprego.
d) Exaurido o perodo de estabilidade, so devidos ao empregado apenas
os salrios do perodo compreendido entre a data da despedida e o final
do perodo de estabilidade, no lhe sendo assegurada a reintegrao no
emprego.
e) Exaurido o perodo de estabilidade, so devidos ao empregado todos
os salrios do perodo compreendido desde a data da admisso.
220
U4
Seo 4.4
Direito Coletivo do Trabalho
Dilogo aberto
Caro(a) aluno(a), chegamos ao final da nossa disciplina e com esta seo
fecharemos um ciclo nesta etapa da sua formao acadmica.
Retomemos esta trajetria de forma bastante simples: voc iniciou este curso
estudando as origens do Direito do Trabalho, seus aspectos sociolgicos, morais,
econmicos e jurdicos. Passamos boa parte da disciplina estudando as leis, as regras do
contrato de trabalho, os direitos do trabalhador e os limites impostos ao empregador.
Ento vimos alguns direitos em especial, institutos importantes como frias, descanso
semanal remunerado, benefcios previdencirios e, por fim, os direitos afetos mulher.
Agora nesta seo, voltamos primeira aula do nosso curso. Voc precisar retomar
alguns conceitos da relao tripartite para poder entender o conceito e o papel dos
sindicatos na relao trabalhista. Isso fundamental para uma crtica consistente,
coerente e prpria de quem opera o direito.
Juntamente com este estudo, veremos outro direito igualmente importante que
a greve, j citada em outras ocasies do nosso curso. Mas o mais importante nesse
momento voc compreender a fora da coletividade nas relaes de trabalho.
Perceba que at o momento viemos tratando o direito do trabalho na relao
individual entre empregado e empregador. Agora, veremos sob o vis de um coletivo
de trabalho, de trabalhadores. Esta dimenso do direito muito importante.
Imagine que numa determinada montadora de veculos, para poder superar uma
crise econmica que ningum sabe dizer quanto tempo durar, o que poder provocar
enormes prejuzos econmicos e financeiros aos acionistas que negam baixar sua
lucratividade nesses momentos, preferindo desempregar centenas de trabalhadores
assalariados, determinem que: ou haver reduo de jornada de trabalho (permitido
em lei atravs de edio de Medida Provisria) com a respectiva reduo salarial ou
dever haver centenas de demisses. Assim, a Diretoria Executiva, ao mesmo tempo
em que estuda a melhor sada para essa crise e a melhor forma de atender aos
interesses dos seus acionistas, surpreendida por uma greve de seus funcionrios que
paralisam a fbrica e interrompem a produo. Sob o aspecto da legalidade (sem julgar
o mrito de qualquer lado), como isso se opera? legal? Quais seriam os requisitos
221
U4
para esse exerccio do direito de greve?
Veja que a dimenso do problema afeta uma coletividade de trabalhadores, sobre
a mesma questo. Diante deste quadro, independentemente de que lado voc esteja
advogando ou defendendo, voc precisa conhecer as regras de direito envolvidas
nesta situao.
Vamos a elas.
No pode faltar
O Direito Coletivo de Trabalho desenvolveu-se tanto que os doutrinadores quase o
consideram como um ramo distintivo do Direito. No entanto, a tese majoritria ainda
entende ser ele, ainda, um ramo do Direito do Trabalho.
Reflita
A histria de afirmao dos direitos nas relaes de trabalho remonta
ao perodo da Revoluo Industrial, ocasio em que as relaes entre
empregado e empregador se acentuam. Mas voc j se perguntou por
qu?
O trabalho sempre esteve afeto rotina do homem, ao seu dia a dia. At
onde sabemos, na Pr-Histria o trabalho era condio sine qua non de
sobrevivncia. Na Histria Antiga era associado arte, o que originou os
artesos na Idade Mdia, cujo contrato de seus servios se dava em funo
da sua habilidade pessoal, da chamarmos o trabalho de ofcio, algo dotado
de especificidade, quase que vocacional. At ento no havia conflitos
trabalhistas. Os artesos eram prestadores de servio que o realizavam a
partir das suas oficinas particulares. Foi ento com a Revoluo Industrial
que tudo mudou. Os artesos se transformaram em trabalhadores. O
ofcio deixou de ser arte e se tornou processo, procedimento mecanizado,
padro, de modo que qualquer pessoa pudesse realizar o mesmo servio.
Para tanto, passaram a usufruir do mesmo ambiente de trabalho (saram
de suas oficinas para ocuparem as fbricas). devido a isso surgem os
problemas nesta relao empregado-empregador. O ambiente, as
ferramentas e as regras de produo so impostas pelo empregado. Os
conflitos e as dificuldades deixam de ser particulares e se tornam coletivos
o problema de um operrio o mesmo do seu colega ou anlogo
quele outro. O patro agora patro de muitos empregados...
222
U4
Cassar (2014, p. 1213) define Direito Coletivo como a parte do Direito do Trabalho
que trata coletivamente dos conflitos do trabalho e das formas de soluo desses
mesmos conflitos. Trata da organizao sindical e da forma de representao coletiva
dos interesses da classe profissional e econmica.
Assimile
Sobre a organizao sindical, a Constituio Federal em seu artigo 8
estabelece ser livre a associao profissional ou sindical.
Assimile
obrigatria a participao dos sindicatos nas negociaes coletivas de
trabalho.
223
U4
Figura 4.4 | Garantias dos sindicalizados
O aposentado
filiado temdireito
a votar e ser
votado nas
organizaes
sindicais.
vedada a
dispensa do
empregado
sindicalizado a
partir do registro
da candidatura a
cargo de direo
ou representao
sindical.
Se eleito, ainda
que suplente, at
um ano aps o
final do mandato,
salvo se cometer
falta grave nos
termos da lei.
Impe-se tambm aos sindicatos que a assembleia geral dever fixar a contribuio
que ser descontada em folha, para custeio do sistema confederativo da representao
sindical respectiva. Isso nos remete a outro conceito importante, sobre a organizao
sindical no pas, conforme mostra a Figura 4.5, qual seja, a regra do art. 534, da CLT:
facultado aos Sindicatos, quando em nmero no inferior a 5 (cinco), desde que
representem a maioria absoluta de um grupo de atividades ou profisses idnticas,
similares ou conexas, organizarem-se em Federao.
Pesquise mais
Veja na CLT, o Ttulo V, da Organizao Sindical, no captulo I, da Instituio
Sindical, a Seo IV, sobre a organizao sindical no pas, especialmente
sobre as federaes estaduais e as confederaes nacionais, com sede na
Capital da Repblica.
224
U4
Figura 4.5 | Estruturao sindical no pas
Confederaes
(nacionais)
Federaes (estaduais)
Sindicatos (categorias)
Exemplificando
Uma empresa de manuteno de ar-condicionado est sob a ameaa de
greve porque apresentou proposta de reajuste salarial igual ao ndice da
inflao. O proprietrio da empresa prev que poder ter uma recuperao
econmica caso adote medidas mais severas por um perodo de 12 a 18
meses. No entanto, seus funcionrios no querem entender esta situao
e ameaam paralisar as atividades caso o patro no atenda reivindicao
deles que conceder o aumento salarial de, pelo menos, o dobro do
225
U4
ndice da inflao. O patro, no entanto, est com dvida de como deve
agir. Como resolver esta situao?
Segundo disposio do art. 616, da CLT, h um rito que ambos devero
obedecer, qual seja, o de que os sindicatos representativos de categorias
econmicas ou profissionais e as empresas, inclusive as que no tenham
representao sindical, quando provocados, no podem recusar-se
negociao coletiva. Assim, verificando-se a recusa negociao coletiva,
cabe aos Sindicatos ou empresas interessadas dar cincia do fato aos
rgos regionais do Ministrio do Trabalho. No caso de persistir a recusa
negociao coletiva pelo desatendimento s convocaes feitas pelos
rgos regionais do Ministrio de Trabalho ou se malograr a negociao
entabulada, facultada aos Sindicatos ou empresas interessadas a
instaurao de dissdio coletivo. Havendo conveno, acordo ou sentena
normativa em vigor, o dissdio coletivo dever ser instaurado dentro dos
60 (sessenta) dias anteriores ao respectivo termo final, para que o novo
instrumento possa ter vigncia no dia imediato a esse termo. E nenhum
processo de dissdio coletivo de natureza econmica ser admitido sem
antes se esgotarem as medidas relativas formalizao da Conveno ou
Acordo correspondente.
Desta forma, nenhuma empresa poder se furtar do exerccio do Direito
Coletivo de Trabalho.
O Acordo Coletivo de Trabalho um negcio jurdico extrajudicial. Como voc
deve se lembrar, na aula sobre as fontes formais do Direito do Trabalho, os acordos
coletivos de trabalho com as convenes coletivas de trabalho fazem lei entre as
partes por serem normas ou comandos abstratos, gerais e impessoais, mas que geram
vnculo entre as partes.
Por fim, a greve. Podemos definir greve como o legtimo exerccio do direito de
greve a suspenso coletiva, temporria e pacfica, total ou parcial, de prestao pessoal
de servios a empregador.
Assimile
CF/1988, art. 9: assegurado o direito de greve, competindo aos
trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exerc-lo e sobre os
interesses que devam por meio dele defender.
Lei n 7.783/1989, art. 1: assegurado o direito de greve, competindo
aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exerc-lo e sobre os
interesses que devam por meio dele defender.
226
U4
O direito de greve regido por esta lei ordinria federal. A greve somente
reconhecida mediante exerccio de direito coletivo. Em relao sua oportunidade
e convenincia, diz-se tambm que ela potestativa, ou seja, submete-se ao poder
da coletividade. O fato que ela usada hoje como ferramenta de presso e de
demonstrao de fora para impor uma barganha.
Segundo disposio do art. 7, da citada lei federal, a participao em greve
suspende o contrato de trabalho, devendo as relaes obrigacionais, durante o
perodo, serem regidas pelo acordo, conveno, laudo arbitral ou deciso da Justia
do Trabalho. Da decorre a razo de que os dias parados so tambm negociados
com o empregador para no se ter prejuzos salariais. Por outro lado, no poder o
empregador, durante a suspenso do contrato de trabalho despedir, sem justa causa,
o empregado participante de greve.
Ateno!
A participao dos sindicatos nas negociaes coletivas obrigatria.
227
U4
Lembre-se
Segundo Amauri Mascaro Nascimento (apud CASSAR, 2014, p. 1232), as
formas de soluo dos conflitos so a autodefesa, a autocomposio e a
heterocomposio.
Portanto, em se tratando de Direito Coletivo de Trabalho, no se pode olvidar
as possibilidades de celebrao de Acordos ou Convenes Coletivas de Trabalho,
sempre com a participao dos Sindicatos. Essas composies fazem lei entre as
partes, constituindo-se como uma fonte formal do direito do trabalho.
Avanando na prtica
Pratique mais
Instruo
Desafiamos voc a praticar o que aprendeu transferindo seus conhecimentos para novas situaes
que se podem encontrar no ambiente de trabalho. Realize as atividades e depois as compare com a
de seus colegas.
Direito Coletivo do Trabalho
228
1. Competncia de fundamentos
de rea
2. Objetivos de aprendizagem
3. Contedos relacionados
4. Descrio da SP
U4
5. Descrio da SP
Lembre-se
vedada a resciso de contrato de trabalho durante a greve, bem como a
contratao de trabalhadores substitutos, exceto para manter em atividade
equipes de empregados com o propsito de assegurar os servios cuja
paralisao resultem em prejuzo irreparvel, pela deteriorao irreversvel
de bens, mquinas e equipamentos, bem como a manuteno daqueles
essenciais retomada das atividades da empresa quando da cessao do
movimento e no caso de caracterizao de abuso de greve.
229
U4
2. A Doutrina classifica o Direito Coletivo do Trabalho como parte
integrante do Direito do Trabalho. Assim sendo, qual seria o objeto de
estudo do Direito Coletivo do Trabalho?
3. Sobre a organizao sindical, a Constituio Federal em seu artigo 8
estabelece ser livre a associao profissional ou sindical. Nestes termos,
correto afirmarmos que:
I A lei no poder exigir autorizao do Estado para a fundao de
sindicato.
II vedada a criao de mais de uma organizao sindical na mesma
base territorial.
III Ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou
individuais da categoria.
IV Ningum ser obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a sindicato.
Est correto o que se afirma em:
a) I apenas.
b) III apenas.
c) I e IV.
d) II e III.
e) Todas.
4. Segundo o artigo 8 da Constituio Federal de 1988, vedada a
dispensa do empregado sindicalizado a partir do registro da candidatura
a cargo de direo ou representao sindical e, se eleito, ainda que
suplente, at um ano aps o final do mandato, salvo se cometer falta
grave nos termos da lei.
Neste sentido, na relao do empregado com o sindicato, podemos
afirmar como correto que:
a) A criao de uma organizao sindical, em qualquer grau,
representativa de categoria profissional ou econmica, ser definida
pelos trabalhadores ou empregadores interessados e depender de
aprovao pelo Estado.
b) O empregado ser defendido pelo sindicato em questes apenas
administrativas.
c) A assembleia geral fixar a contribuio que ser descontada em
folha e servir para custeio do sistema confederativo da representao
230
U4
sindical respectiva.
d) Nas negociaes coletivas de trabalho o empregado ser assistido
pelo sindicato se este julgar conveniente.
e) O aposentado filiado no tem direito a votar e ser votado nas
organizaes sindicais.
5. Segundo o professor Amauri Mascaro Nascimento (apud CASSAR,
2014, p. 1232), para termos o correto entendimento das formas de
soluo dos conflitos, associe as colunas abaixo:
(1) Autodefesa
(2) Autocomposio
(3) Heterocomposio
A sequncia correta :
a) 1 2 3.
b) 3 2 1.
c) 3 1 2.
d) 2 1 3.
e) 2 3 1.
231
U4
c) Ela um direito constitucional, pois est garantida no art. 7, da
CF/1988.
d) Ela um direito legal, pois est prevista na CLT.
e) Nenhuma das anteriores est correta.
7. Segundo a Lei 7.783/1989, em seu art. 1, assegurado o direito de
greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de
exerc-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender.
Sobre o instituto da greve, correto afirmar que:
a) A greve somente reconhecida mediante exerccio de direito coletivo.
b) Em relao sua oportunidade e convenincia, diz-se que esta se
submete apreciao do empregador.
c) Caso ela seja usada como ferramenta de presso e de demonstrao
de fora ser considerada abusiva.
d) Segundo disposio do art. 7, da citada lei federal, a participao em
greve interrompe o contrato de trabalho.
e) Os dias parados somente sero pagos se a justia julgar a greve como
no abusiva.
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U4
Referncias
CASSAR, Vlia Bomfim. Direito do trabalho. 9. ed. Rio de Janeiro: Mtodo, 2014. (Obra
completa e didtica, com jurisprudncia e caso prticos, sobre o Direito do Trabalho e
os tpicos estudados nesta unidade)
MARTINS, Srgio Pinto. Direito do trabalho. 25. ed. So Paulo: Atlas, 2009. (Obra clssica
sobre o Direito do Trabalho e fundamental em seu estudo)
NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho. 26. ed. So Paulo: Saraiva,
2011. (Obra clssica sobre o Direito do Trabalho e fundamental em seu estudo)
LEGISLAO
BRASIL. Constituio Federal da Repblica Federativa do Brasil de 1988. Disponvel em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 26
ago. 2015.
BRASIL. Art. 206 Consolidao das Leis do Trabalho: Decreto-Lei n 5.452/1943.
Disponvel em: <http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10741520/artigo-206-do-decretolei-n-5452-de-01-de-maio-de-1943>. Acesso em: 26 ago. 2015.
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