FERRAZ JR., Tércio Sampaio. Mercado Relevante

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COORDENAÇÃO GERAL

Celso Fernandes Campilongo


Alvaro de Azevedo Gonzaga
André Luiz Freire

ENCICLOPÉDIA JURÍDICA DA PUCSP

TOMO 4

DIREITO COMERCIAL

COORDENAÇÃO DO TOMO 4
Fábio Ulhoa Coelho
Marcus Elidius Michelli de Almeida

São Paulo
2018
ENCICLOPÉDIA JURÍDICA DA PUCSP
DIREITO COMERCIAL

DIRETOR
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA
Pedro Paulo Teixeira Manus
DE SÃO PAULO
DIRETOR ADJUNTO
FACULDADE DE DIREITO Vidal Serrano Nunes Júnior

ENCICLOPÉDIA JURÍDICA DA PUCSP | ISBN 978-85-60453-35-1


<https://enciclopediajuridica.pucsp.br>

CONSELHO EDITORIAL

Celso Antônio Bandeira de Mello Nelson Nery Júnior


Elizabeth Nazar Carrazza Oswaldo Duek Marques
Fábio Ulhoa Coelho Paulo de Barros Carvalho
Fernando Menezes de Almeida Raffaele De Giorgi
Guilherme Nucci Ronaldo Porto Macedo Júnior
José Manoel de Arruda Alvim Roque Antonio Carrazza
Luiz Alberto David Araújo Rosa Maria de Andrade Nery
Luiz Edson Fachin Rui da Cunha Martins
Marco Antonio Marques da Silva Tercio Sampaio Ferraz Junior
Maria Helena Diniz Teresa Celina de Arruda Alvim
Wagner Balera

TOMO DE DIREITO COMERCIAL | ISBN 978-85-60453-44-3


A Enciclopédia Jurídica é editada pela PUCSP

Enciclopédia Jurídica da PUCSP, tomo IV (recurso eletrônico)


: direito comercial / coords. Fábio Ulhoa Coelho, Marcus Elidius Michelli de Almeida -
São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2018
Recurso eletrônico World Wide Web
Bibliografia.
O Projeto Enciclopédia Jurídica da PUCSP propõe a elaboração de dez tomos.

1.Direito - Enciclopédia. I. Campilongo, Celso Fernandes. II. Gonzaga, Alvaro. III. Freire,
André Luiz. IV. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

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ENCICLOPÉDIA JURÍDICA DA PUCSP
DIREITO COMERCIAL

MERCADO RELEVANTE
Tercio Sampaio Ferraz Junior

INTRODUÇÃO

Este verbete aborda o tema “mercado relevante”. Ele se inicia com a sua
conceituação doutrinária e, depois, a jurisprudência do CADE é avaliada.

SUMÁRIO

Introdução ......................................................................................................................... 2

1. Conceituação doutrinária ........................................................................................ 3

2. Mercado relevante na jurisprudência do CADE ................................................... 10

2.1. Mercado relevante internacional ............................................................... 10

2.1.1. AC 08700.001863/2015-11 ........................................................... 10

2.1.2. AC 08700.009173/2015-01 ........................................................... 11

2.2. Mercado relevante nacional ...................................................................... 13

2.2.1. AC 08700.009334/2014-77 ........................................................... 13

2.2.2. AC 08700.001346/2017-04 ........................................................... 16

2.3. Mercado relevante por raio ....................................................................... 17

2.3.1. AC 08700.001161/2017-91 ........................................................... 18

2.3.2. AC 08700.007555/2016-72 ........................................................... 18

2.4. Mercado relevante municipal .................................................................... 20

2.4.1. AC 08700.012652/2015-04 ........................................................... 20

2.4.2. AC 08700.008511/2016-60 ........................................................... 22

2.5. Definição simultânea de mercado relevante nacional e municipal ........... 23

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2.5.1. AC 08700.010947/2015-38 ........................................................... 23

2.5.2. AC 08012.010473/2009-34 ........................................................... 25

Referências ..................................................................................................................... 27

1. CONCEITUAÇÃO DOUTRINÁRIA

Já na antiga jurisprudência do CADE1 podia-se ler que “o mercado relevante ou


‘os mercados nacionais’ de que trata o inciso I, caput, da Lei 4.137, de 1962, deve ser
limitado em termos geográficos e de produto. Em termos geográficos não se refere a todo
o território nacional, mas sim à zona de influência decisiva do indiciado, em termos de
produto, o fato de existirem produtos que podem ser tecnicamente substituídos por outros,
não deve ser significativo se geralmente não são substituídos pelo público em geral”.
O texto legal mencionado referia-se às infrações concorrenciais. A legislação de
1962 não falava, propriamente, de mercado relevante, mas de mercados nacionais. A
inferência, na jurisprudência, vinha por conta da influência norte-americana.
Na Lei 8.884/1994, o termo era mencionado (art. 14, 20, 54), particularmente no
caput do art. 54, com referência a atos de concentração (“Os atos, sob qualquer forma
manifestados, que possam limitar ou de qualquer forma prejudicar a livre concorrência,
ou resultar na dominação de mercados relevantes de bens ou serviços...” – grifei).
Na lei vigente (Lei 12.529/2011), ressalte-se a menção no art. 36, II (“Art.
36. Constituem infração da ordem econômica, independentemente de culpa, os atos sob
qualquer forma manifestados, que tenham por objeto ou possam produzir os seguintes
efeitos, ainda que não sejam alcançados: ... II - dominar mercado relevante de bens ou
serviços”). E o art. 88, § 5º (“§ 5º Serão proibidos os atos de concentração que impliquem
eliminação da concorrência em parte substancial de mercado relevante, que possam criar
ou reforçar uma posição dominante ou que possam resultar na dominação de mercado
relevante de bens ou serviços, ressalvado o disposto no § 6º deste artigo”).

1
FRANCESCHINI, José Inácio Gonzaga. Poder econômico: exercício e abuso. Direito antitruste
brasileiro, p. 39.

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Nenhuma das leis fornecia e fornece uma definição de mercado relevante. A


expressão é uma tradução do inglês relevant markt, originada e desenvolvida no direito
norte-americano. A palavra relevante conota, propriamente, a ideia de pertinência, com
referência a produtos e serviços produzidos, comercializados e consumidos em
determinado mercado.2
Nesse sentido, na discussão referente a mercado relevante, a doutrina sempre
esteve preocupada com uma delimitação dos mercados, em vista da ocorrência de fatores
correlacionados de ordem real (coisas), espacial (espaço) e temporal (tempo), fatores
estes capazes de situar agentes econômicos (uma empresa, um grupo de empresas,
fornecedores e consumidores), em sua posição de exercício de poder econômico, em
condições de afetar subjetivamente a competitividade.
Da perspectiva da posição de poder econômico, delimitada em um espaço
(mercado relevante geográfico), pelo produto (mercado relevante pelo produto), levando
em conta um período de tempo determinado, é que se permitiria, pois, criar condições
para mensurar não só a participação dos agentes econômicos no mercado em geral, mas
igualmente qualificar sua força relativa (poder de mercado), ou seja, sua possibilidade de
acesso aos mercados fornecedores e de escoamento, suas ligações e a qualidade das
ligações com outras empresas, bem como as barreiras de fato e de direito que existem ou
possam existir à penetração de outras empresas num mercado dado.
Em outras palavras, a noção de mercado relevante estaria em direta dependência
da atividade das partes que atuam no mercado. Nesse sentido, sua análise exigiria o que
Vogel3 chamara de “bilateralização” das relações: as posições, embora principiem a
partir de índices que demonstrem a potencialidade das ações positivas ou negativas de
uma empresa (participação no mercado), terminam por ser inferidas do comportamento
de consumidores e fornecedores.
Nesses termos, a análise do mercado relevante não se limita à observação da
competitividade entre as empresas concorrentes, mas do seu reflexo para a estrutura das
relações econômicas em geral em termos de eventuais alterações futuras.

2
Cf. BRUNA, Sérgio Varella. O poder econômico e a conceituação do abuso em seu exercício, p. 77 ss.
3
VOGEL, Louis. Droit de concurrence et concentration économique, p. 123.

4
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Ou seja, na definição de mercado relevante, parte-se do modo como se


comportariam os agentes em relação aos produtos (bens e serviços), das suas relações
reais de oferta e demanda em um espaço dado, para preocupar-se preponderantemente
com suas possibilidades de desempenho no decorrer de um período de tempo. Tem, por
isso, o sentido mais próximo da elaboração de uma hipótese que permita avaliar que tipo
de poder de mercado poderia ser exercido para certos agentes em correlação, tendo em
vista a eventual qualificação desse exercício como um possível abuso de poder
econômico.
No Brasil, a definição encontrada nos Merger Guidelines do Departamento de
Justiça dos E.U.A., vem sendo incorporada largamente. Ela exprime a noção de forma
tecnicamente adequada aos objetivos operacionais da análise econômica, supedâneo para
uma decisão jurídica:
“Um mercado é definido como um produto ou um grupo de produtos e uma
área geográfica na qual ele é produzido ou vendido tal que uma hipotética
firma maximizadora de lucros, não sujeita a regulação de preços, que seja o
único produtor ou vendedor, presente ou futuro, daqueles produtos naquela
área, poderia provavelmente impor pelo menos um ‘pequeno mas significativo
e não transitório’ aumento no preço, supondo que as condições de venda de
todos os outros produtos se mantêm constantes. Um mercado relevante é um
grupo de produtos e uma área geográfica que não excedem o necessário para
satisfazer tal teste”.4
No Guia para Análise Econômica de Atos de Concentração Horizontal (Portaria
Conjunta SEAE/SDE 50, de 1º de agosto de 2001, lê-se: “[m]ercado relevante é definido
como o menor grupo de produtos e a menor área geográfica necessários para que um
suposto monopolista esteja em condições de impor um ‘pequeno porém significativo e
não transitório’ aumento de preços” (Guia-H, § 29).
Nas palavras do Guia:
“O mercado relevante se determinará em termos dos produtos e/ou serviços
(de agora em diante simplesmente produtos) que o compõem (dimensão do
produto) e da área geográfica para qual a venda destes produtos é
economicamente viável (dimensão geográfica). Segundo o teste do

4
Citado e traduzido por Mario Luiz Possas (Os conceitos de mercado relevante e de poder de mercado no
âmbito da defesa da concorrência).

5
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‘monopolista hipotético’, o mercado relevante é definido como o menor grupo


de produtos e a menor área geográfica necessários para que um suposto
monopolista esteja em condições de impor um ‘pequeno porém significativo
e não transitório’ aumento de preços”. (§ 30).
O teste do “monopolista hipotético” consiste em se considerar, para um conjunto
de produtos e áreas específicos, qual seria o resultado final de um “pequeno, porém,
significativo e não transitório” aumento de preços para um suposto monopolista desses
bens naquela área, levando em conta a reação dos consumidores. Se, como resultado, se
conclui que o monopolista não consideraria o aumento de preços rentável, então se
entraria num exercício sucessivo de busca de substituibilidades para os bens e áreas, até
chegar a um conjunto em que o aumento viesse a ser considerado rentável pelo
monopolista. Com isso o mercado relevante estaria constituído.
A noção de mercado relevante tem uma conotação e uma denotação
eminentemente econômica. Dessa perspectiva, indica mais um método do que um
conceito. O que se define são antes meios para a identificação concreta de produtos e
serviços em um âmbito espacial e temporal. Como, no entanto, a lei vincula
consequências normativas concretas em função de um mercado relevante determinado, é
juridicamente importante a sua configuração jurídica.
Com o objetivo dessa configuração jurídica, é preciso reconhecer que a noção
não chega propriamente a constituir uma espécie de tipo aberto, muito menos de um tipo
cerrado, não se tratando, talvez, nem mesmo de um conceito
(determinado/indeterminado), cujas funções prescritivas requereriam uma relação
semântica minimamente adequada e suficiente, isto é, sua delimitação denotativa
(extensão dos fatos apontados pela noção) e conotativa (intensão dos termos utilizados na
definição).
Na verdade, trata-se, antes, de uma construção operacional capaz de fornecer
um prognóstico para efeitos normativos (processo administrativo para imposição de
sanções por infrações contra a ordem econômica, processo administrativo para o controle
de atos de concentração econômica).
Nesse sentido, mercado relevante operacionaliza os objetivos legais, ao
delimitar um produto como pertinente a um mercado (produto relevante), por força de

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seu caráter específico, eventualmente único, mas também substituível, permitindo


determinar o grau de dependência em que, frente a ele, se ponha o consumidor.
Para esse efeito, produto é, assim, uma designação aberta que permite apontar
não só para o resultado de uma produção específica, mas também de grupos de produtos
que possam substituir o produto específico em certas condições de consumo ou de técnica
de produção.
Nessa análise o fator tempo é decisivo. Este fator confere ao conceito de mercado
relevante sua dinamicidade, devendo o intérprete tê-lo em conta ao observar as
expectativas de produtores ou fornecedores de serviços e consumidores. Para o
estabelecimento de padrões jurídicos, o fator tempo fornece a necessária flexibilização
para o correto entendimento do produto relevante, posto que um produto, hoje
parcialmente substituível por outro, poderá ser, no futuro, insubstituível por este último,
por exemplo por especialização de hábitos ou por desenvolvimento tecnológico
específico, caracterizando-se, destarte, produtos pertencentes a mercados relevantes
distintos (e vice-versa).
Na delimitação do mercado pelo produto, a regra é considerar como pertencentes
a um mercado apenas os produtos (ou serviços) que, do ponto de vista do consumidor,
sejam vistos como substituíveis conforme suas qualidades, suas finalidades de uso e seu
preço. A isso se acrescem as características específicas de produção, as quais conferem
ao produto uma propriedade peculiar tendo em vista suas finalidades.
A necessidade/demanda relativa a um produto e sua eventual substituibilidade
costumam ser identificadas concreta e abstratamente. A identificação concreta significa
um esclarecimento fático dos comportamentos. A abstrata tem a ver com o prognóstico
normativo. Na avaliação ambos se correlacionam. Na correlação, porém, o prognóstico é
decisivo e depende de uma série de critérios com base nos quais serão fixadas caracteres
comuns e diferenças dos produtos.
O critério diretor para avaliação de pertinência, ainda que não o único, é a
finalidade utilitária do produto.5 Ou seja, a produção dos mesmos efeitos ou, ao menos,
de efeitos equivalentes no uso do produto é significativa para a análise. Ainda que as
propriedades técnicas do produto sejam diferentes, se, não obstante, os efeitos obtidos

5
cf. AREEDA, Phillip; KAPLOW, Louis. Antitrust analysis, p. 575 ss.

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levam e consumidor a desprezá-las ao adquirir um ou outro produto, pode-se afirmar a


sua substituibilidade. É o caso, por exemplo, de medicamentos, com substâncias ou com
fórmulas distintas, mas que tenham o mesmo efeito terapêutico, ainda que com nuances
desprezíveis (por exemplo, uma aspirina mais forte e outra mais fraca que leve o paciente
a tomar quatro ou oito ao dia como dose máxima recomendada).
Entretanto, se as propriedades influenciam significativamente o uso dos
produtos, pode entender-se mais adequado considerá-los como pertencentes a mercados
distintos (por exemplo, café para coador e café solúvel, talheres de prata e talheres de aço
inoxidável). Contudo, quando sejam as mesmas as propriedades dos produtos, diferenças
no processo produtivo ou a necessidade de investimentos acessórios por parte do
consumidor acabam por entrar em consideração. Por exemplo, o caso em que os
investimentos se reportam a uma opção inicial que limita as substituições futuras, como
é na passagem do uso de aquecimento d’água por meio de “boiler” para aquecimento a
gás. O custo da instalação na opção entre os dois sistemas, concorrentes entre si no
momento inicial, permite que, posteriormente (fator temporal), o fornecimento dos
produtos energia elétrica e gás seja reconhecido como serviços distintos.
Com isso se chega ao importante critério do preço. Em princípio, a diferença nos
preços dos produtos com a mesma utilidade não costuma conduzir a diferentes produtos
relevantes. Isto porque a diferença de preços é até um indício de concorrência. Contudo
se os produtos são funcionalmente substituíveis, mas não têm as mesmas propriedades e,
por um razoavelmente longo período de tempo, são vendidos por preços diferentes, isto
pode ser um indício de que não pertencem ao mesmo mercado. E se, ademais, esta
diferença é significativa - o dobro ou mais - isto será seguramente um indício de que se
trata de produtos relevantes distintos.
A diferença de preço pode estar fundada em qualidades objetivas dos produtos
ou na percepção subjetiva do consumidor que entende, sendo um mais caro que o outro,
suas utilidades devam ser também diferentes: ele usa um para certas necessidades e outro,
para outras. Por exemplo, a distinção entre talheres de aço inoxidável e de prata. O critério
torna-se ainda mais forte quando a percepção subjetiva se funda em características
objetivas dos produtos, levando a hábitos de consumo diferentes.
Por um lado, se os grupos consumeristas são distintos, mesmo para produtos
funcionalmente semelhantes, conduzindo a usos distintos, os produtos podem ser

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considerados como diferentes. Não vem ao caso o tamanho do grupo nem quantos estejam
dispostos ou não a considerá-los substituíveis, embora uma maioria expressiva possa ter
significado neste último caso. Sendo insignificante quantitativamente o grupo, não haverá
substituibilidade. Por outro lado, é importante a diferença qualitativa entre os grupos
quanto a produtos considerados populares em oposição a produtos exclusivos ou que
denotam classes sociais distintas ou utentes distintos por idade ou sexo. Nestes casos o
indício de que se trata de produtos relevantes diferentes é forte.
Aqui é preciso levar em conta também a estratégia de mercado dos produtores.
Havendo diferenças entre grupos é necessário considerar se as estratégias de venda
apontam ou não para uma concorrência entre os produtos. A propaganda dirigida é, nesse
sentido, um reforço importante para considerar como distintos os produtos.
Atente-se, por fim, à vinculação da reação dos consumidores, do que o conceito
econômico de elasticidade cruzada traz um importante subsídio. Se o consumidor, dada
uma alteração no preço de um produto, potencialmente, escolheria um outro mais barato
e se o produtor, na fixação do preço, isso leva à possibilidade de se considerar que será
alto o grau de substituibilidade entre ambos. Nessa avaliação é importante a relação
preço/desempenho dos produtos. Assim, se produtos mais caros comportam melhores
desempenhos funcionais ou permitem economias sensíveis na utilização, de modo que a
diferença de preço, ao longo do tempo, possa ser minimizada, e o consumidor leva estes
fatores em consideração, então será alto o grau de elasticidade cruzada e a consequente
substituibilidade. Em caso contrário, o indício será de que os produtos pertencem a
mercados distintos.
Na linha da operacionalidade conjectural da noção entra em consideração a
delimitação do espaço ou área. Fala-se de mercado relevante geográfico enquanto uma
determinada área na qual empresas atuam na oferta e demanda dos produtos ou serviços,
em condições de concorrência suficientemente homogêneas e claramente distinguíveis
em suas diferenças das áreas vizinhas.
O uso da expressão mercado geográfico costuma apropriar-se dos conceitos de
limite nacional, regional, municipal e, em vista da participação externa, internacional. A
noção tem a ver com a capacidade de oferta de produto e serviços dentro de um espaço e
seu alcance pelo consumidor.

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No controle de atos de concentração, a delimitação geográfica desempenha um


expressivo fator para a operacionalidade da noção de mercado relevante. A ideia de
território para definir um espaço é importante, mas a noção de alcance é, muitas vezes,
mais adequada. Daí a utilização de raio de ação, para estabelecer pontos a que chegam
as ofertas e a capacidade de concorrer. Por exemplo, para definir a que distância se
colocam em condições concorrenciais ofertantes de produtos ou serviços, estabelecer um
raio em torno de um estabelecimento pode ser mais útil do que delimitar pela localidade
(nacional, regional, municipal).

2. MERCADO RELEVANTE NA JURISPRUDÊNCIA DO CADE

Decorre da exposição doutrinária a importância que deve ser dada, em sede de


Direito Concorrencial, à construção jurisprudencial dos conceitos.
O relato que segue reporta-se a uma pesquisa realizada até 30 de maio de 2017.
Esclareça-se que a pesquisa buscou apenas as palavras-chave “mercado relevante” e
algum produto cujo mercado relevante é tipicamente definido nos parâmetros de cada
item. A partir dos resultados colhidos, foi dada preferência para notas técnicas e
despachos, expandindo a busca para os processos utilizados como referência pelo CADE.
Para maior segurança de que não houve mudança no posicionamento do CADE
até o momento, foi feita nova pesquisa, mais ampla, por todos os Atos de Concentração,
envolvendo os mercados relevantes dos processos infra mencionados nos quais houve
parecer da SG posterior às suas respectivas datas.

2.1. Mercado relevante internacional

2.1.1. AC 08700.001863/2015-11

Operação de aquisição de negócio de borracha de cloropreno da Dupont por


parte de DKK e Mitsui, através da Denka Performance Elastomer LL, cujo controle é
detido pelas duas anteriores.
No âmbito da Nota Técnica 18/2015/CGAA3/SGA1/SG/CADE, foi delimitada
a dimensão produto do mercado relevante quanto ao mercado de borracha de cloropreno.

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Quanto à dimensão geográfica, as Requerentes apontaram que o mercado


relevante é mundial, tendo em vista que não há fábricas locais do produto no Brasil.
Normalmente a borracha de cloropreno utilizada no país é importada de fabricantes
estrangeiros, que por vezes se encarregam diretamente da exportação, e por outras
mantêm distribuidores locais.
Ainda, foi destacada a alíquota de importação do produto, estipulada em 2%.
Esse percentual não seria elevado, o que não consiste em obstáculo para a
comercialização da borracha de cloropreno no Brasil:
“No âmbito do Ato de Concentração nº 08012.000787/2005-03, a Secretaria
de Acompanhamento Econômico (“Seae”) destacou que o mercado brasileiro
de elastômeros é atendido praticamente apenas por importações e que os
produtos são homogêneos e comercializados mundialmente por empresas de
grande porte (multinacionais). Pontuou ainda que os custos de transporte e as
alíquotas de importação (2% para o neoprene) não são expressivos, o que
facilita a entrada e participação em diferentes mercados. Afirmou, por fim,
que o mercado geográfico poderia ser considerado mundial, mas optou por
adotar uma posição mais conservadora, analisando os cenários mundial e
nacional. No voto que aprovou a operação sem restrições, o conselheiro relator
do caso definiu o mercado geográfico como mundial pelo fato de o mercado
ser abastecido em grande proporção por importações
Por todo o exposto, define-se o mercado relevante em sua dimensão
geográfica como mundial, sem prejuízo de uma rediscussão dessa definição
em operações futuras”.6
O AC foi aprovado sem restrições pela SG, que acolheu os termos da Nota
Técnica referida. Não foi encontrada decisão posterior que indique mudança de
posicionamento pelo CADE.

2.1.2. AC 08700.009173/2015-01

6
AC 08700.001863/2015-11 (DKK, Mitsui e DuPont), Nota Técnica 18/2015/CGAA3/SGA1/SG/CADE
(n SEI 0060390), apreciado em 15.05.2015.

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A operação em análise envolve a aquisição, pela Amadeus, de todas as ações da


Navitaire e ativos relacionados ao Negócio, detidos pela Accenture, com cláusula de não
solicitação e de não concorrência entre Amadeus e Accenture.
Todas as empresas envolvidas atuam no mercado de soluções de TI,
especialmente destinado ao segmento de turismo e viagens. Mais especificamente, no
Parecer 17/2015/CGAA2/SGA1/SG, o Cade analisou os mercados referentes aos serviços
de Passenger Services System – PSS e Global Distribution System – GDS.
O PPS é um sistema destinado a companhias aéreas para fins de reservas de vôo
e controle de embarque. Já o GDS é um sistema único e global, utilizado por agentes de
viagens, que permite a realização de reservas de vôos e serviços de viagens relacionados,
bem como comparação de preços de passagens aéreas e hotéis.
Considerando trata-se de sistemas de tecnologia, as empresas atuantes no
mercado conseguem suprir a demanda, independentemente de sua localização geográfica.
Tal fato foi confirmado pelas empresas oficiada (companhias aéreas e agências de turismo
online):
“Os mercados relevantes envolvidos no caso devem ser analisados sob uma
perspectiva global, simplesmente porque são requisitados simultaneamente
em diversos lugares do mundo sem considerar a região geográfica onde a
empresa fornecedora se localiza, tampouco onde surge a demanda.
Nesse sentido, pode-se citar o exemplo do mercado de PSS, cuja a
comercialização é realizada por meio de requisições privadas, nas quais as
companhias aéreas solicitam propostas de comercialização do PSS, optando
por aquela que melhor atenda às suas necessidades. Por este método,
qualquer empresa que comercializa o produto vindicado poderá participar da
concorrência.
Inclusive, tal fato foi constatado pelas respostas aos ofícios encaminhados às
companhias aéreas, nas quais foram listadas como empresas consideradas
para prestação do PSS: Sabre, Amadeus, Navitaire, Travelport, Shares
B, [Acesso Restrito ao Cade], o que comprova que várias daquelas
empresas listadas pela tabela 1 foram efetivamente consultadas e de fato
possuem capacidade para oferecer seu serviço no Brasil e em demais
localidades do mundo.

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DIREITO COMERCIAL

Por outro lado, no que tange às soluções de GDS, vê-se que as opções de
empresas que ofertam a solução são mais restritas, mas ainda assim as
empresas listadas atendem igualmente demanda proveniente de várias
nacionalidades diferentes a despeito de estarem localizadas, em sua maior
parte, nos Estados Unidos e na Espanha. Um exemplo claro é o do site
brasileiro zupper.com atendido pela empresa norte americana Sabre Travel
Network (Documento SEI nº 0114656).
Portanto, nota-se que em ambos os mercado de PSS e GDS a maior parte
dos players estão situados em certos países como Estados Unidos, porém,
prestam serviço a agências de turismo e companhias aéreas provenientes dos
mais diversos países do mundo, sem que possa haver uma delimitação mais
restrita.
Assim, os mercados relevantes definidos por Passenger Service System -
PSS e Global Distribution System – GDS devem ser analisados em âmbito
geográfico global”.7

2.2. Mercado relevante nacional

2.2.1. AC 08700.009334/2014-77

O AC teve por objeto contrato associativo firmado entre Companhia de Gás de


São Paulo - COMGÁS e Companhia Distribuidora de Gás do Rio de Janeiro – CEG, que
consistiu em compromisso de atuação conjunta na negociação de contratos gerais com
fornecedores. Ambas as Requerentes atuam no mercado de distribuição de gás natural.
Em sua análise, que consta na Nota Técnica 29/2015/CGAA3/SGA1/SG/CADE,
a SG identificou 4 mercados relevantes do ponto de vista do produto, e em seguida
analisou a dimensão geográfica de cada um deles. A operação envolveu, portanto, os
seguintes mercados: mercado de distribuição de gás para os segmentos residencial,
industrial e comercial; mercado de tubos de aço; mercado de tubos de Polietileno de Alta
Densidade – PEAD; e mercado de medidores de gás tipo diafragma.

7
AC 08700.009173/2015-01 (Amadeus, Navitaire e Accenture), Parecer 17/2015/CGAA2/SGA1/SG (n
SEI 0127205), apreciado em 29.10.2015.

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DIREITO COMERCIAL

Quanto à delimitação do mercado relevante geográfico, a exposição do


posicionamento da SG seguirá os mesmos critérios utilizados pelo órgão.
 Mercado de distribuição de gás para os segmentos residencial, industrial e
comercial – quanto aos segmentos residencial e comercial, o Cade
entendeu haver um monopólio natural, de modo que os agentes não
enfrentam concorrência. Em contrapartida, no mercado industrial existe a
possibilidade de realocação de indústrias, caso considerem mais
vantajosos os custos em uma determinada área de concessão. Neste último
segmento, portanto, existe concorrência indireta entre as concessionárias.
Por fim, a delimitação do mercado relevante se deu com base na
possibilidade de aquisição de gás pelas Requerentes:
“O CADE, no Ato de Concentração nº 08700.006668/2014-99, optou por
analisar três cenários geográficos, tendo em vista que os elementos
apresentados nos autos não foram suficientes para se definir, de forma precisa,
o espaço geográfico onde ocorre essa concorrência (se localmente em alguns
casos, de forma regional ou, no limite, nacionalmente).
Destaque-se que, como este caso trata de possível poder de compra das
Requerentes, a análise deve abranger todo o território nacional, já que os
fornecedores podem desviar sua oferta para qualquer empresa que atua no
território nacional, conforme será visto com mais detalhes abaixo”.8
 Mercado de tubos de aço – quanto a esse mercado, o Cade apontou
jurisprudências divergentes no tocante à expressividade dos níveis de
importação. Assim, o posicionamento da SG foi pautado nos relatos das
empresas oficiadas, tanto fornecedoras de tubos de aço, quanto
concorrentes da Requerentes:
“Vale destacar que a Confab Industrial S.A. (“Confab”) informou que a
abrangência territorial do mercado poderia ser maior que nacional, tendo em
vista a possibilidade de importação de outros países. A informação prestada
parece indicar que o mercado relevante teria escopo mundial. Contudo, essa
manifestação foi isolada. Os concorrentes da Confab nada afirmaram a esse
respeito. Além disso, os concorrentes da COMGÁS e da CEG no mercado de

8
AC 08700.009334/2014-77 (Comgas e CEG), Nota Técnica 29/2015/CGAA3/SGA1/SG/CADE (n SEI
0101206), apreciado em 31.08.2015.

14
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distribuição de gás para os segmentos residencial, industrial e comercial


indicaram como fornecedores de tubos de aço empresas nacionais.
Também não se deve falar em segmentação do mercado nacional. Isso porque
as produtoras de tubos de aço informaram que comercializam seus produtos,
pelo menos, no território nacional. Nesse sentido, a Tuper indicou que
comercializa seus produtos [Acesso Restrito ao Cade]e a Confab informou
que [Acesso Restrito ao Cade].
Diante disso, para os efeitos desta análise, entende-se que o escopo geográfico
do mercado de tubos de aço é nacional”.9
 Mercado de tubos de Polietileno de Alta Densidade (PEAD) – a SG
delimitou o mercado relevante em dimensão nacional com base no mesmo
critério do item anterior:
“Tal como ocorreu no mercado de tubos de aço, os concorrentes da COMGÁS
e da CEG no mercado de distribuição de gás para os segmentos residencial,
industrial e comercial indicaram como fornecedores de tubos de PEAD
empresas nacionais.
No que tange aos concorrentes no mercado de PEAD, a [Acesso Restrito às
Requerentes]. [Acesso Restrito ao Cade].
Por esses motivos, entende-se, para os efeitos desta análise, que o mercado
relevante geográfico pode ser definido como o território nacional.”10
 Mercado de medidores de gás tipo diafragma – em geral, as empresas
concorrentes das Requerentes afirmaram o mesmo dos últimos dois
tópicos. Foram considerados, no entanto, relatos de empresas oficiadas que
demonstraram possibilidade significativa de importação do produto.
Diante disso, a SG delimitou o mercado em âmbito nacional, sem excluir
de sua apreciação as possibilidades de importação, conforme expressa na
Nota Técnica:
“Os concorrentes das Requerentes também indicaram empresas brasileiras
como seus fornecedores de medidores de gás tipo diafragma, o que indicaria
que o mercado relevante deve ter abrangência nacional. Contudo, dois dos

9
AC 08700.009334/2014-77 (Comgas e CEG), Nota Técnica 29/2015/CGAA3/SGA1/SG/CADE (n SEI
0101206), apreciado em 31.08.2015.
10
AC 08700.009334/2014-77 (Comgas e CEG), Nota Técnica 29/2015/CGAA3/SGA1/SG/CADE (n SEI
0101206), apreciado em 31.08.2015.

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principais concorrentes deste mercado atuam com produtos importados. É


necessário estabelecer uma banca de aferição dos medidores de gás no
território nacional, mas o custo para estabelecer tal banca de aferição não é
alto, de acordo com as empresas que atuam nesse mercado.
No que tange aos concorrentes que atuam no mercado de medidores de gás, a
Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo (“LAO”) indicou que atua em todo o
território nacional; a Itron Soluções para Energia e Água Ltda. (“Itron”)
afirmou que atua em todo o território nacional, não efetuando exportações
(salvo raras exportações); [Acesso Restrito ao Cade].
Para os efeitos desta operação, o escopo geográfico do mercado de medidores
de gás tipo diafragma é definido de forma conservadora como o território
nacional, para verificar a oferta por parte das empresas que já atuam no
território brasileiro. Contudo, como será visto, não se pode desprezar a
possibilidade de importação desses produtos”.11
Ressalta-se que em manifestação posterior, ao definir o mercado relevante
geográfico do mercado de gás natural, o CADE optou por analisar mais de um cenário,
não definindo o mercado relevante apenas no escopo nacional, conforme se verifica no
AC 08700.010947/2015-38, apresentado no item “definição simultânea de mercado
nacional e municipal” abaixo.

2.2.2. AC 08700.001346/2017-04

Trata-se de aquisição da totalidade das cotas do Instituto Biochimico Indústria


Farmacêutica Ltda., que atua na comercialização de medicamentos para o canal
hospitalar, pela Brest International LP.
O mercado relevante geográfico foi definido pela Superintendência-Geral no
Parecer 12/2017/CGAA2/SGA1/SG. A SG não se aprofundou em sua definição,
baseando-se em jurisprudência do Cade para definir o mercado relevante como nacional:
“Quanto à dimensão geográfica, de acordo com a jurisprudência do Cade, e
considerando que o setor farmacêutico está submetido ao marco jurídico-
regulatório da Anvisa, dado que é necessária a obtenção de registro sanitário

11
AC 08700.009334/2014-77 (Comgas e CEG), Nota Técnica 29/2015/CGAA3/SGA1/SG/CADE (n SEI
0101206), apreciado em 31.08.2015.

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para fins de comercialização no país, considera-se que o mercado geográfico


relevante para análise da Operação é de âmbito nacional.”12

Foi consultada a jurisprudência indicada em nota de rodapé, e verificou-se que a


SG vem utilizando o mesmo fundamento relacionado à regulamentação pela Anvisa e
necessidade de registro sanitário.
Destaca-se, dentre a jurisprudência indicada pela SG, o AC 08700.009834/2014-
09, que trata da aquisição da totalidade das quotas da Anovis, detidas atualmente pela
Novartis e Sandoz do Brasil Indústria Farmacêutica Ltda., pela União Química.
A fundamentação para definição do mercado relevante é a mesma utilizada no
AC aqui em análise, porém exposta de modo mais detalhado, no Parecer
6/2015/CGAA1/SGA1/SG:
“Do ponto de vista geográfico, a definição de mercado deve considerar que,
no setor farmacêutico, são exigidos registros para a apresentação dos
medicamentos estrangeiros, inclusive de países do Mercosul (onde também
são comercializados os produtos produzidos pela Anovis). Ou seja, todos os
medicamentos comercializados no país (importados ou não) devem ser
registrados junto à ANVISA. Em razão da obrigatoriedade de obtenção do
registro do medicamento junto a essa agência, a importação de produtos por
parte dos consumidores finais é um procedimento complexo, o que impede a
contestação, via importação independente, dos preços praticados no mercado
interno.
Esta regulamentação gera uma barreira à entrada considerável aos
medicamentos importados. Portanto, diante do exposto e de acordo com a
jurisprudência deste Conselho, justifica-se a delimitação do território nacional
como dimensão geográfica do mercado de medicamentos para saúde
humana”.13

2.3. Mercado relevante por raio

12
AC 08700.001346/2017-04 (Biochimico e Brest), Parecer 12/2017/CGAA2/SGA1/SG (n SEI 0335385),
apreciado em 12.05.2017.
13
AC 08700.009834/2014-09 (União Química e Novartis), Parecer 6/2015/CGAA1/SGA1/SG (n SEI
0008021), apreciado em 16.01.2015.

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2.3.1. AC 08700.001161/2017-91

A operação consiste em aquisição de 100% do capital da Brasil Kirin Holding


S.A. pela Bavaria S.A. e, consequentemente, pelo Grupo Heineken.
O mercado relevante foi definifo pela SG no Parecer
11/2017/CGAA3/SGA1/SG/CADE. Foi levada em consideração, principalmente,
jurisprudência já estabelecida pelo Cade, no sentido de ser necessário analisar a dimensão
nacional e regional (em raio de 500 km) do mercado em apreço.
Esse precedente vem sendo seguido desde o AC 08012.005846/1999-12
(Ambev). A partir de então, houve algumas decisões divergentes, que definiram o
mercado de cervejas em âmbito nacional. No entanto, foram operações internacionais,
que envolveram empresas que até então não exerciam atividades no Brasil.
Diante disso, a SG apresentou os precedentes que embasaram a delimitação do
mercado:
“Por fim, no Ato de Concentração n.º 08700.009652/2012-76, esta
Superintendência considerou que com relação à dimensão geográfica, o Cade
‘tem firmado entendimento no sentido de que o transporte de bebidas,
notadamente cervejas e refrigerantes, seria economicamente viável apenas na
área compreendida em um raio de 500 quilômetros das plantas produtivas e
tem definido o âmbito geográfico como regional’”.14
E concluiu de forma breve:
“No que diz respeito à dimensão geográfica, de acordo com precedentes do
CADE, a análise da presente operação deve considerar os efeitos em duas
dimensões geográficas diferentes, o mercado nacional e o regional, sendo este
último definido por um raio de 500 km das plantas produtoras de cerveja”.15

2.3.2. AC 08700.007555/2016-72

14
AC 08700.001161/2017-91 (Bavaria e Brasil Kirin Holding), Parecer
11/2017/CGAA3/SGA1/SG/CADE (n SEI 0331584), apreciado em 05.05.2017.
15
AC 08700.001161/2017-91 (Bavaria e Brasil Kirin Holding), Parecer
11/2017/CGAA3/SGA1/SG/CADE (n SEI 0331584), apreciado em 05.05.2017.

18
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Trata-se de aquisição, pela Rede D’Or, por meio da Onco D’Or Oncologia S.A.,
de 50,01% do capital social da Gem Assistência Médica Especializada Ltda., a qual é
detentora da Clínica Amo – Assistência Multidisciplinar em Oncologia (“Amo”) e,
indiretamente, do Ihoba – Instituto de Hematologia e Oncologia da Bahia (“Ihoba”).
A definição do mercado relevante foi exposta no Parecer
4/2017/CGAA2/SGA1/SG, e levou em consideração as peculiaridades da demanda do
mercado de oncologia ambulatorial – quimioterapia.
Assim, tendo em vista que o tratamento de quimioterapia implica certa
regularidade de sessões, e que se busca preservar a qualidade de vida do paciente, este,
segundo o entendimento do Cade, não tem disposição para percorrer grandes distâncias
em busca do atendimento, como pode ser observado em jurisprudência citada pela SG:
“A razão de ser do serviço de oncologia ambulatorial é a preservação da
qualidade de vida do paciente pela manutenção de sua rotina normal, como se
pôde adiantar acima. Do ponto de vista da demanda (e ainda que se trate de
um serviço médico especializado), os clientes (pacientes) não apresentam, via
de regra, grande disposição psíquica ou física de deslocamento nos grandes
centros urbanos, em linhas gerais. Além disso, um tratamento ambulatorial de
câncer implica múltiplas sessões, com certo grau de regularidade, reforçando
o desconforto com longos deslocamentos. (...)
Por essas razões, adotarei no presente caso a definição geográfica
predominantemente adotada por este Conselho para o mercado de Serviço
Médico-Hospitalar: um raio de 10 km de distância (ou equivalente a 20
minutos de tempo de deslocamento) das clínicas adquiridas”.16
Diante da análise de jurisprudência do CADE, concluiu a SG por definir a
dimensão geográfica do mercado em um raio em torno de cada estabelecimento:
“Tal definição é conservadora e deve ser aplicada, sobretudo, em operações
que envolvam sobreposições horizontais no referido segmento, o que é, de
fato, vislumbrado no caso em tela, tendo em vista que ambas as Requerentes
desenvolvem atividades de oncologia ambulatorial - quimioterapia.

16
AC 08012.011421/2011-08 (Oncotech, Centro Radioterápico da Gávea, São Peregrino, CORAL, LFC,
Scanmed, São Pellegrino), Relator Conselheiro Alessandro Octaviani Luis, voto do Conselheiro Relator
(fls. 546 e 547), julgado em 05.06.2013.

19
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Sendo assim, na linha da jurisprudência deste Cade, o presente Parecer define,


conservadoramente, o mercado relevante de oncologia ambulatorial –
quimioterapia, sob a ótica geográfica, como a área composta pela distância de
10 km ou 20 (vinte) minutos (“20 min.”) de deslocamento das clínicas da
Gem, adquiridas pela Rede D’Or, nos municípios de Santo Antonio de
Jesus/BA, Ilhéus/BA e Salvador/BA”.17

2.4. Mercado relevante municipal

2.4.1. AC 08700.012652/2015-04

Trata-se de operação que envolve a aquisição da integralidade da carteira de


beneficiários de planos privativos de assistência à saúde da Fundação Waldemar Barnsley
Pessoa pela São Francisco Sistemas de Saúde Sociedade Empresária Ltda.
A SG delimitou o mercado relevante no Parecer
14/2016/CGAA2/SGA1/SG. Na dimensão produto, foram analisados os mercados de
planos de assistência à saúde e de hospitais-gerais.
No mercado de planos de saúde, a jurisprudência do CADE até então não era
pacífica. O Conselho por vezes definiu a dimensão geográfica em âmbito municipal e por
vezes delimitou o mercado em torno de certos agrupamentos de Municípios, tendo em
vista a possibilidade de deslocamento dos beneficiários:
“O Documento de Trabalho SEAE/MF nº 46, que guiou o entendimento
dessa autarquia em variados casos, identificou que, em média, um
beneficiário estaria disposto a se deslocar de 30 a 40 minutos, ou 20 a 30 km,
para ser atendido, de forma que essa área deveria ser considerada o mercado
relevante. A delimitação, porém, deveria considerar o município como a
menor unidade de análise, pois esse é o menor nível de desagregação da área
geográfica de cobertura permitida pela ANS para as operadoras.
Em 2011, no entanto, no julgamento do Ato de Concentração nº
08012.008551/2007-79 (Amil Assistência Médica Internacional Ltda.,
Planos de Saúde Integrais S.A., Assistência Média São Paulo S.A. e Orion

17
AC 08700.007555/2016-72 (Rede D’Or e Gem), Parecer 4/2017/CGAA2/SGA1/SG (n SEI 0312906),
apreciado em 14.03.2017.

20
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Participações e Administração S.A.), o Conselheiro Relator Olavo Chinaglia


sustentou que seria difícil encontrar uma definição do que seria “uma rede
prestadora suficiente para gerar uma força de polarização em relação a
beneficiários de outros municípios e de qual seria a propensão de
deslocamento dos beneficiários para usufruir serviços médicos em outras
localidades”, de forma a possibilitar a delimitação precisa dos mercados
geográficos pelo critério da SEAE, que tenta desconsiderar as fronteiras
geopolíticas.
Nesse cenário, o Conselheiro adotou a metodologia proposta pela ANS, com
base no estudo da CEDEPLAR/UFMG, que agrupa os municípios brasileiros
em 89 mercados relevantes, com base no poder de influência, demanda de
serviços e distância entre as cidades”.18
Tendo em vista a baixa complexidade do caso em análise, o CADE optou por
uma definição simplificada do mercado relevante:
“No entanto, o caso concreto avaliado nesta operação dispensa a mencionada
expansão do mercado relevante, em razão da ausência de nexo de
causalidade entre a operação e eventual exercício de poder de mercado, como
será melhor explanado no item V.1.
Portanto, a presente análise será realizada considerando a dimensão
geográfica do mercado relevante, tanto de planos de saúde
individuais/familiares quanto coletivos, como municipal, de maneira
simplificada, sem prejuízo das conclusões obtidas”.19
Com relação ao mercado de hospitais-gerais, a SG não se aprofundou na análise
do mercado relevante, delimitando-o em sentido contrário à jurisprudência majoritária do
Cade, considerando principalmente o relato das Requerentes:
“A jurisprudência do Cade é pacífica ao considerar a dimensão geográfica do
mercado relevante de hospitais-gerais em um raio de 10 km, ou 20 minutos,
dos hospitais-gerais que são objeto da operação. Esse raio, no entanto, pode
ser expandido em observância a alguns fatoras, como o tempo de
deslocamento decorrente do trânsito na localidade, a complexidade do
hospital ou a baixa oferta de serviços médico-hospitalares na região.

18
AC 08700.012652/2015-04 (São Francisco e Fundação Waldemar), Parecer 14/2016/CGAA2/SGA1/SG
(n SEI 0188590), apreciado em 14.04.2016.
19
AC 08700.012652/2015-04 (São Francisco e Fundação Waldemar), Parecer 14/2016/CGAA2/SGA1/SG
(n SEI 0188590), apreciado em 14.04.2016.

21
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Apesar dessas considerações, as Requerentes apresentaram informações de


suas atividades no segmento em análise com base em um mercado municipal.
Considerando que, em relação aos hospitais da São Francisco localizados em
Ribeirão Preto e Sertãozinho, o cenário municipal mostra-se mais
conservador, esta SG prosseguirá esta análise de acordo com a definição dada
pela São Francisco e pela Fundação Waldemar”.20
Ressalta-se que, em pesquisas por jurisprudência posterior, o CADE decidiu
consistentemente delimitando o mercado de planos de saúde como sendo de escopo
municipal. A fundamentação é a mesma apontada no presente caso. Como exemplo,
aponta-se o AC 08700.008061/2016-13 (considerando que a análise deste AC foi
segmentada em seis mercados relevantes quanto ao produto, entendeu-se que sua
utilização como exemplo seria demasiadamente complexa, prejudicando a didática).
Com relação ao hospitais-gerais, bem como seguimentos específicos da área
médica, o CADE em geral delimita o mercado relevante por um raio em torno da unidade
hospitalar. A fundamentação é similar àquela apresentada no AC 08700.007555/2016-72,
analisado no tópico “Mercado relevante por raio”, ou seja, baseia-se na incapacidade
física ou psíquica do paciente de se locomover até unidades hospitalares mais distantes.

2.4.2. AC 08700.008511/2016-60

Trata-se de aquisição, pela Eletromidia, das ações ordinárias de emissão da TV


Minuto de propriedade da Band Rio, bem como na realização de um investimento na TV
Minuto, por meio da subscrição e integralização de novas ações ordinárias.
O mercado aqui analisado é o de mídia externa, definido pelo CADE como
“exploração com fins publicitários de espaços físicos públicos ou de trânsito público
(visíveis pelo público em trânsito), para veiculação de propaganda”.
Por se tratar de Ato de Concentração Ordinário, a SG não se aprofundou na
delimitação do mercado relevante, limitando-se apenas a indicar a jurisprudência já
estabelecida nesse sentido: AC 08700.005686/2015-34, AC 08012.000045/2011-18 e PA
08012.005117/2000- 61.

20
AC 08700.012652/2015-04 (São Francisco e Fundação Waldemar), Parecer 14/2016/CGAA2/SGA1/SG
(n SEI 0188590), apreciado em 14.04.2016.

22
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Nesse sentido:
“Inclui-se nesse mercado a exploração publicitária destinada a atingir (i)
transeuntes de vias públicas (por meio de anúncios veiculados em outdoors,
mobiliário urbano, panfletagem ou similares), (ii) usuários de transportes
públicos (por meio de anúncios veiculados em ônibus, metrô, trem ou taxi),
(iii) pessoas em deslocamento no interior de locais privados (como edifícios
comerciais, universidades, etc.), (iv) participantes de eventos públicos (como
eventos esportivos e shows) ou (v) durante o próprio processo de compra em
shopping centers, super e hipermercados, bares e restaurantes, entre outras
situações semelhantes. Do ponto de vista geográfico, o CADE define o
mercado com abrangência municipal”.21
Destaca-se nesse tópico a dificuldade de pesquisa por casos nos quais o Cade
definiu o mercado relevante unicamente em âmbito municipal. Em geral, nos mercados
com delimitação geográfica mais restrita, o CADE utiliza como parâmetro um raio de
distância a partir do estabelecimento, para uma definição mais precisa, ou entende que os
limites municipais não podem ser analisados de modo estanque, e adota como mercado
relevante cluster de Municípios.

2.5. Definição simultânea de mercado relevante nacional e municipal

2.5.1. AC 08700.010947/2015-38

O AC trata da aquisição, por parte da Mitsui Gás e Energia do Brasil Ltda., de


participação minoritária no capital social da Petrobras Gás S.A. – Gaspetro. Até então, a
Petróleo Brasileiro S.A. era detentora da totalidade do capital social da Gaspetro. Tanto
a Mitsui quanto a Gaspetro são empresas atuantes no mercado de gás natural canalizado.
No Parecer 15/2015/CGAA4/SGA1/SG a SG aponta que as Requerente
indicaram que o mercado relevante seria local, por haver um monopólio natural,
decorrente de disposição legal que determina que as companhias de distribuidoras locais
(CDLs) não podem exceder seus respectivos territórios de atuação.

21
AC 08700.008511/2016-60 (Eletromídia, Band Rio e TV Minuto), Parecer 8/2017/CGAA5/SGA1/SG (n
SEI 0288380), apreciado em 06.01.2017.

23
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A SG, no entanto, apontou a existência de indícios robustos de competição entre


as CDLs e ponderou que a definição do mercado relevante em âmbito local não considera
as particularidades dos mercados regulados. Por fim, optou por analisar a operação em
diversos cenários:
“Apesar das afirmações das Requerentes, esta SG vem investigando a fundo
o mercado em análise e já coletou indícios robustos da existência de
dimensões competitivas relevantes entre CDLs. Tais dimensões podem ser
resumidas em (i) competição pelo mercado, (ii) atração de consumidores
industriais e (iii) seleção de melhores práticas por meio da regulação. Somadas
a elas, esta SG investiga atualmente práticas anticompetitivas que só fazem
sentido na presença de competição entre as CDLs, para as quais também já se
encontraram indícios preliminares relevantes. As Requerentes não
enfrentaram as interfaces competitivas descritas nem os indícios colhidos em
instruções passadas.
Ainda, quanto ao argumento de que não há indícios de substitutibilidade entre
CDLs – o que, no entender das Requerentes, seria necessário segundo o Guia
de Análise de Condutas Anticompetitivas (Resolução nº 20/1999/CADE) –, é
preciso ter em mente que os mercados regulados operam de maneira muito
específica e muitas vezes fogem significativamente da dinâmica de mercados
não regulados. Com isso, as principais dimensões de competição nesse
mercado podem não ser captadas pela análise tradicional de equilíbrio parcial
baseada em preços e elasticidade. É o que acontece no presente caso, em que
se tem um serviço público altamente regulado, inclusive no preço (tarifa), e
dimensões competitivas diferenciadas tais como a competição pelo mercado
e a competição pela atração de grandes clientes industriais.
Portanto, ao contrário do que colocam as Requerentes, esta SG entende que a
definição mais conservadora de análise não é a dimensão geográfica local (isto
é, sem competição entre CDLs), uma vez que essa dimensão rejeita a já
conhecida possibilidade de competição relevante entre tais empresas. No
entender da SG, a definição mais conservadora é manter os cenários
geográficos definidos na jurisprudência mais recente, quais sejam: (i) local;

24
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(ii) estadual (SP e RJ); (iii) regional; e (iv) nacional. Sob esse prisma, a
operação acarreta sobreposição horizontal.”22

2.5.2. AC 08012.010473/2009-34

O AC analisou a aquisição, pela Companhia Brasileira de Distribuição, empresa


integrante do Grupo Pão de Açúcar, de 70,24% das ações de emissão da Giobex
Utilidades S/A, que O atua sob a marca Ponto Frio, seguida de uma oferta pública
obrigatória para aquisição das ações detidas pelos seus acionistas minoritários.
A operação foi analisada sob a ótica de dois mercados: o de varejo de bens
duráveis por lojas físicas, e o de varejo por meio de lojas virtuais. Dadas as
particularidades de cada um, o CADE definiu dimensões geográficas diferentes para cada
mercado.
Em relação ao varejo por meio de lojas físicas, foi considerado principalmente o
comportamento dos consumidores, levando-se em consideração a influência exercida
pelos meios eletrônicos de comércio:
“A SEAE definiu o mercado relevante de varejo de lojas fisicas como
municipal. Segundo a Secretaria, isso se dá em função, principalmente, da
grande capilaridade das Requerentes, que atuam em grande parte do país com
inúmeras lojas. ‘Esta abrangência das Requerentes, por si só, já
demonstrariam a relevância do atendimento presencial, mais próximo do
cliente’ (fl. 233)”.23
“A maioria das respostas, entretanto, apontou que fatores como falta de
segurança das transações eletrônicas, desconfiança em relação à qualidade do
produto e dificuldade de acesso à internet para uma parcela da população ainda
inibem o comércio eletrônico. Portanto, esse elemento não colabora para
afastar a dimensão local do varejo fisico de duráveis, ainda mais quando os
oficios relativos à formação de preços apontaram claramente uma dinâmica
local nesse aspecto, muitas vezes influenciada pela concorrência rua a rua.

22
AC 08700.010947/2015-38 (Mitsui e Petrobras), Parecer 15/2015/CGAA4/SGA1/SG (n SEI 0138365),
apreciado em 01.12.2015.
23
AC 08012.010473/2009-34 (Companhia Brasileira de Distribuição e Casas Bahia), Relator Conselheiro
Marcos Paulo Veríssimo, voto do Conselheiro Relator (fls. 2428), julgado em 17.04.2013.

25
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Defino, portanto, o mercado de, varejo por lojas fisicas como municipal, na
linha dos precedentes deste Conselho e do parecer da SEAE”.24
Com relação ao varejo por meio de lojas virtuais, o principal critério que
embasou a decisão do CADE foi também a ótica da demanda. Apesar de serem apontados
elementos que influenciam a oferta em relação a diferentes localidades, por exemplo o
valor do frete, constatou-se que para o consumidor esse fator não é decisivo no momento
da compra. Para atingir tal constatação, foi utilizado o teste do monopolista hipotético,
conforme descrito a seguir:
“As lojas virtuais de bens duráveis ofertam os seus produtos em todo o país e,
por isso, a jurisprudência do CADE tem definido o mercado de comércio
eletrônico como nacional.
A diferença entre o valor do frete nos diferentes Estados poderia indicar uma
definição estadual do mercado relevante. No entanto, como demonstrou a
SEAE, ‘conforme o teste do monopolista hipotético, uma elevação' dos preços
de uma empresa virtual para um consumidor domiciliado, por exemplo, em
Brasília, ocasionaria um desvio de demanda para outra loja virtual que
também atenda a Brasília. Dessa forma, este hipotético consumidor de
Brasília, independentemente da empresa escolhida, estaria sujeito ao custo do
frete de ambas as empresas. Isso significa que, pelo lado da oferta, é possível
haver diferenças de fretes mas, pelo lado da demanda, essa diferença seria
inexistente ou, então, fruto das políticas de vendas das diversas empresas
online’.
Acompanho, portanto, o entendimento da SEAE, bem como outros
precedentes deste Conselho (AC n. 08012.007893/2005-l8,AC n.
08012.011238/2006-37, AC n. 08012- 004168/2010-47), e defino o mercado
geográfico do varejo de bens duráveis por comércio eletrônico como
nacional”.25

24
AC 08012.010473/2009-34 (Companhia Brasileira de Distribuição e Casas Bahia), Relator Conselheiro
Marcos Paulo Veríssimo, voto do Conselheiro Relator (fls. 2429), julgado em 17.04.2013.
25
AC 08012.010473/2009-34 (Companhia Brasileira de Distribuição e Casas Bahia), Relator Conselheiro
Marcos Paulo Veríssimo, voto do Conselheiro Relator (fls. 2429), julgado em 17.04.2013.

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ENCICLOPÉDIA JURÍDICA DA PUCSP
DIREITO COMERCIAL

REFERÊNCIAS

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BRUNA, Sérgio Varella. O poder econômico e a conceituação do abuso em seu
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POSSAS, Mario Luiz. Os conceitos de mercado relevante e de poder de
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VOGEL, Louis. Droit de concurrence et concentration économique. Paris:
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