Universidade Federal Do Rio Grande Do Sul Faculdade de Direito Curso de Pós-Graduação em Direito Curso de Especialização em Direito Internacional

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL


FACULDADE DE DIREITO
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO INTERNACIONAL

COMPRA E VENDA INTERNACIONAL DE MERCADORIAS


Princípios e Aplicações da CISG no Ordenamento Brasileiro

LISMAR NUNES LUCAS

PORTO ALEGRE

2015
!2

LISMAR NUNES LUCAS

COMPRA E VENDA INTERNACIONAL DE MERCADORIAS


Princípios e Aplicações da CISG no Ordenamento Brasileiro

Monografia apresentada no Curso de Pós-


Graduação em Direito da Faculdade de
Direito da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul como requisito parcial para
obtenção do Grau de Especialista em Direito
Internacional.

ORIENTADOR: PROF. Dr. CARLOS EDUARDO DIEDER REVERBEL

PORTO ALEGRE

2015
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DEDICATÓRIA

Dedico à monografia, requisito final para obtenção do certificado de


Especialista em Direito Internacional na UFRGS, à meu pai José Luiz Lucas, pelo
incentivo e apoio incondicionais ao longo de todos os anos.

...
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AGRADECIMENTOS

Agradeço à todos da família, em especial à meu irmão Marcos, companheiro


incansável de trabalho, amigo de todas as horas.
À minha mãe Esmeralda, sempre fiel conselheira, à minha irmã Márcia pelas
orações depositadas e à minha cunhada Juliana, colega de jornada.
À professora de Direito da Universidade Federal do Rio Grande, a Dr.a.
Raquel Fabiana Lopes Sparemberger, sempre auxiliando na produção científica de
seus alunos.
Ao professor de Direito da casa o Dr. Carlos Eduardo Dieder Reverbel, pela
propositura do tema, tornando este trabalho instigante e prazeroso.
Por fim, gostaria de agradecer à professora Dr.a. Cláudia Lima Marques, pelas
lições encontradas no trabalho de diversos autores ao longo desta pesquisa e ao
professor Dr. Augusto Jaeger Júnior, e na pessoa dele os demais tutores que se
empenharam na organização deste curso.
À Ades, e demais funcionários desta Universidade
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!7

Assim, o mercador ou
comerciante, movido pelo seu próprio interesse
egoísta, é levado por uma mão invisível a
promover algo que nunca fez parte do
interesse dele: o bem estar da sociedade

Adam Smith
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RESUMO

O presente trabalho versa sobre a Compra e Venda Internacional de Mercadorias regida


pela Convenção das Nações Unidas de Viena de 1980 (CISG), analisando seu impacto no
ordenamento jurídico brasileiro através de uma perspectiva comparada. Contempla os
principais aspectos contratuais relacionados ao objeto contratual da compra e venda.
Diante da principiologia UNIDROIT revisa os aspectos inerentes à formação contratual
destacados os princípios da boa-fé e da liberdade contratual, em uma análise inerente à
oferta do produto. A seguir revista as particularidades da entrega da mercadoria
disciplinada pela Convenção, trazendo à normativa regulamentada denominada
INCOTERMS e os principais códigos utilizados na tratativa comercial. Depois seleciona
características da entrega do bem estando em desconformidade da terminologia
esperada. Em última análise contempla as sanções ligadas ao descumprimento contratual
abarcando as diretrizes para qualificar o contrato na qualidade de violação fundamental,
também a especificidade da Convenção quando trata da concessão do prazo suplementar
denominado NACHFRIST, filho de escola alemã que inova no cenário internacional ao
deslocar o interesse valorativo da parte ao negócio. Nesse contexto salienta também as
soluções adotadas pela Convenção por perdas e danos quando do descumprimento
contratual e por paralelo o instituto da mora, elucidado o ordenamento brasileiro frente à
Convenção e a concessão de prazo suplementar conflitando com o inadimplemento da
parte em mora em matéria contratual objetiva das relações jurídicas internacionais.

Palavras-chave: CISG. Compra e Venda Internacional. Direito Internacional. Convenção


de Viena. UNIDROIT. INCOTERMS. Nachfrist. Contratos Internacionais. Direito
Contratual. Venda de Mercadorias.
!9

ABSTRACT

This paper deals with the Purchase and Sale of Goods International governed
by the United Nations Vienna Convention 1980 (CISG), analyzing their impact
on Brazilian legal system through a comparative perspective. Includes the main
contractual aspects related to the contractual object of buying and selling.
Before the UNIDROIT principles reviews the aspects inherent to contractual
training highlighted the principles of good faith and of freedom of contract in an
inherent analysis to product supply. The following reviews the characteristics of
the delivery of goods disciplined by the Convention, bringing the normative
regulated called INCOTERMS and key codes used in commercial dealings.
Then select delivery characteristics of the product being in disagreement as
expected terminology. Ultimately includes penalties related to noncompliance
with agreements covering the guidelines to qualify the contract as a
fundamental breach also the specificity of the Convention when it comes to the
granting of additional time called NACHFRIST, German school son who breaks
new ground in the international arena to move the interest evaluative part of the
business. In this context also stresses the solutions adopted by the Convention
for damages upon breach of contract and the parallel lives of the institute,
elucidated the Brazilian land opposite the Convention and the granting of
additional time conflict with the default of the party in default on objective
contractual matters of international legal relations.

Keywords: CISG. Buy and Sell International. International Right. Vienna


Convention. UNIDROIT. INCOTERMS. Nachfrist. International Contracts.
Contract Law. Sale of Goods.
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SUMÁRIO

RESUMO .............................................................................................................8
ABSTRACT ..........................................................................................................9
INTRODUÇÃO ...................................................................................................11
1. OS CONTRATOS INTERNACIONAIS E A CISG NO BRASIL ..................15
1.1 ASPECTOS GERAIS DE INTERPRETAÇÃO DA CISG ...........................16
1.2 O PRINCÍPIO DA LIBERDADE CONTRATUAL E DA BOA-FÉ ...............18
1.3 A FORMAÇÃO DE CONTRATOS E A OFERTA........................................21
2. DO CUMPRIMENTO CONTRATUAL ........................................................27
2.1 A ENTREGA DA MERCADORIA ...............................................................28
2.2 INCOTERMS .............................................................................................31
2.3 A DESCONFORMIDADE DA MERCADORIA ..........................................33
3. DO DESCUMPRIMENTO CONTRATUAL ................................................36
3.1 RESOLUÇÃO POR VIOLAÇÃO FUNDAMENTAL ...................................38
3.2 CONCESSÃO DO PRAZO SUPLEMENTAR (NACHFRIST) ....................40
3.3 DAS PERDAS E DANOS E DA MORA .....................................................42
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................46
REFERÊNCIAS .................................................................................................48
!11

INTRODUÇÃO

Uma comunidade internacional, é conceituada como uma coletividade


humana, composta por entidades jurídicas e políticas. Antigamente, essas
entidades mesmo confundidas com a figura de seus Reis e Príncipes já
realizavam negócios de compra e venda de mercadorias, transportando bens e
valores de um lugar a outro, valendo-se de Tratados que asseguravam a
validade das relações. Quando se estuda a respeito da aplicabilidade da
Convenção das Nações Unidas sobre a Compra e Venda Internacional de
Mercadorias (CISG) no Brasil, podemos questionar sobre o motivo de sua
ratificação em abril de 2014, sendo que a Convenção foi finalizada em Viena
em 1980.
O motivo para tamanho lapso temporal está na dificuldade de cada
instituição nacional em incorporar um Tratado de normas novas. Legislação
essa que lhe é estranha, legislação que resulta em uma série de padrões
novos, padrões que necessitam de muita humildade e estudo de seus agentes
aplicadores, para que a Convenção possa atingir o seu objetivo que é conduzir
o duplo fluxo de bens entre fronteiras.
Um grande desafio enfrentarão os juristas para provar que a
uniformização das leis na demanda do comércio internacional é importante, na
medida em que possibilita uma maior segurança entre as partes envolvidas
pois sabem os mecanismos jurídicos que influenciarão em cada negociação.
As diretrizes hermenêuticas da Convenção devem prevalecer à
normativa interna quando da interpretação na esfera internacional para que o
Brasil após sua adesão garanta a credibilidade dentro do panorama
internacional, o que algumas vezes pode ocasionar no desapego de alguns
princípios absolutos regidos pela Constituição Federal.
Através da liberdade contratual, a Convenção se veste de soberania
dentro do mercado internacional ocasionando celeridade nas negociações,
eficiência e redução de custos.
O processo de internacionalização do Direito passa pelo entendimento
de um sistema de normas multilaterais, que devem ser incorporadas pela
!12

prática administrativa e judicial dos Estados, ampliando o ramo de atuação da


ciência jurídica.
A antiga visão de um Direito Internacional estritamente interestatal,
através da ratificação pelo Brasil da Convenção de Viena se torna obsoleta,
pondo fim ao dualismo jurídico na maneira de entender o direito, interligando as
esferas nacional e internacional.
O Decreto Legislativo que ratificou a Convenção, simboliza um
comprometimento assumido pelo Brasil perante a comunidade internacional no
que trata da compra e venda de mercadorias. Comprometimento em cumprir a
normativa vigente da CISG atento à seus princípios, lembrando que de seu
descumprimento resultam sanções econômicas diretas e indiretas. A
uniformização das sanções relacionadas à compra e venda internacional
enseja que os usos e costumes admitidos pela CISG devem prevalecer mesmo
sobre as leis dos Estados membros, privilegiando a autonomia da vontade.
Portanto, a primeira dificuldade ao atribuir uma sanção dentro de um
território de nacionais distintos é o de assegurar-se de que a interpretação
atribuída ao critério se aproxima da eficácia esperada nos países signatários,
as lacunas da Convenção devem ser procuradas dentro e fora dela, muitas
vezes deverá entrar em cena o direito costumeiro ou a hermenêutica
consolidada de organismos internacionais, sendo o direito interno de cada país
membro a última instância percorrida.
Nesse contexto, é complicado encontrar parâmetros idênticos, capazes
de nortear as relações comerciais internacionais. De disciplinar os contratos
costumeiros concretizados entre consumidores e fornecedores de diferentes
nacionalidades repetidamente.
No presente trabalho, trataremos da tentativa de uniformidade da
interpretação da Convenção, apoiada nos princípios UNIDROIT, que foram
elaborados através do Instituto de Unificação Internacional para o Direito
Privado, com o viés de disciplinar a difícil missão de equalizar os costumes no
cenário internacional, a título de Lex Mercatória, transpondo barreiras e
auxiliando na segurança jurídica quando da fluidez de bens e capital em um
mundo globalizado.
!13

No mundo dos contratos internacionais, um dos principais princípios


UNIDROIT utilizados é o princípio da liberdade contratual seguido pelo
princípio da boa fé, que serão utilizados como alicerce dentro da relação
jurídica internacional. Esses preceitos serão estudados dentro do primeiro
capítulo como tentativa de suprimir as lacunas da convenção, através de
métodos interpretativos em diálogo entre a o UNIDROIT a CISG e os usos
internacionais, elucidando a jurisprudência brasileira e estrangeira quando da
interpretação dos casos jurídicos.
Através de um comparativo, buscamos aproximar a civil law e a common
law, na matéria de formação contratual, ilustrando algumas considerações
frente à formação dos contratos no panorama brasileiro, tanto para o Direito
Civil quanto para o Direito do Consumidor.
Da formação do contrato, estudamos as características da oferta,
apoiada na jurisprudência internacional, resguardada a liberdade contratual e
os caminhos que envolvem o assunto dentro do direito doméstico como em
matéria consumerista.
Na segunda parte, relacionamos o cumprimento contratual, que
contempla semelhanças e divergências entre a ordem jurídica nacional e
internacional, debruçado sobre as características relacionadas à entrega da
mercadoria em um contrato de compra e venda. Da entrega de mercadorias,
em razão da CISG ter o papel de orientar relações internacionais, encontramos
a especificidade de regras relativas à entrega das mercadorias. Conhecidos
dentro do campo das negociações, os INCOTERMS assumem um papel
importante quanto à transferencia do risco sobre a mercadoria em virtude da
entrega a serem disciplinados pelas partes. Ainda nesse capítulo, veremos os
aspectos inerentes à entrega da mercadoria, quando esta for feita em
desconformidade, a jurisprudência ligada à Convenção como base para
solucionar os litígios utilizando-se dos princípios UNIDROIT e sua aceitação no
sistema brasileiro de solução de controvérsias. Visto o desafio em função do
desdobramento das normas da CISG com finalidade educativa, nesse contexto
levando reparação de danos pela expectativa da parte em receber o que havia
contratado.
Fechando o estudo da CISG, no terceiro capítulo estudamos as medidas
adotadas para sanar o fato do descumprimento contratual, categorizamos as
!14

características adotadas pela Convenção para configurar uma violação


fundamental do contrato, elucidando também a visão brasileira interpretativa. A
seguir, transitamos sobre as configurações adotadas sobre o prazo da entrega.
Dentro desse assunto, mencionamos o instituto alemão que permite dilatar o
prazo do cumprimento da obrigação denominado Nachfrist que assume
roupagem nova na legislação brasileira. Por conclusão, vemos que essa
qualidade de solução do instituto representa um avanço dentro da
normatividade internacional pois de maneira objetiva, visa o objeto do negócio,
acima da vontade de uma ou outra parte.
Em consequência do descumprimento, a Convenção prevê uma serie de
tutelas à disposição da parte inocente, em particular visitamos as soluções
encontradas em matéria de perdas e danos, além do já elucidado atraso na
obrigação da entrega e a importância essencial tempestiva no ramo dos
contratos.
O Brasil foi o 79º país a aderir à CISG, que conta com países como
Alemanha, China, Estados Unidos, França e Itália, representando hoje cerca
de 90% do panorama internacional da compra e venda de mercadorias.1

“Estima-se que mais de dois terços de todas as transações


internacionais de mercadorias sejam reguladas pela Convenção de
Viena de 1980, incluindo aquelas dos parceiros comerciais mais
importantes do Brasil, como a China, países do Mercosul, Estados
Unidos, Canadá e várias nações europeias. A importância do Brasil
no mercado global de venda de bens faz sua adesão a um sistema
internacional de regras unificadas ainda mais importante.”2

A Convenção é ratificada em nosso país em um momento globalizado,


onde cada vez mais é necessário valer-se de regramentos jurídicos
internacionais como forma de manter as relações entre as nacionalidades,
sobretudo no campo da compra e venda de mercadorias.

cascasc1

1 ictsd.org Disponível em:< http://www.ictsd.org/bridges-news/pontes/news/a-adesão-do-brasil-à-cisg-


uniformização-de-contratos-e-facilitação-do> Acesso em 02 de jul. 2015.
2 naçõesunidas.org Disponível em: <http://nacoesunidas.org/brasil-adere-a-convencao-da-onu-sobre-

contratos-internacionais-de-compra-e-venda-de-mercadorias/> Acesso em 02 de jul. 2015.


!15

1. OS CONTRATOS INTERNACIONAIS E A CISG NO BRASIL

A Convenção de Viena de 1980 sobre a compra e venda internacional de


mercadorias (CISG) foi ratificada pelo Brasil em 04.03.2013. Tal convenção é
composta de 101 artigos que passaram a vigorar no ordenamento jurídico
brasileiro em 01.04.2014. Tal regramento atinge repercussão não somente no
aspecto da compra e venda internacional de mercadorias, como também no
Direito Internacional Privado como um todo.1
Evidente a preocupação em âmbito internacional que tratados tenham
interpretação uniforme. Esforços datados do início do Século XX com a criação
do Unidroit (Instituto Internacional para a unificação do Direito Privado)
preconizado por Ernst Rabel, que vieram para ratificar as leis uniforme da
Convenção de Haia de 1964 (ULIS). A legislação ganharia forma através da
criação da Uncitral (Comissão das Nações Unidas para o Comércio
Internacional), culminando com a elaboração da CISG no ano de 1980.2
Destarte, consolidadas todas essas situações, é imaginável o impacto
da CISG ao longo de mais de 30 anos atuando de forma a regulamentar o
comércio internacional. Vemos que o impacto causado pela convenção até os
dias atuais se revela altamente positivo, tanto pela alta qualidade técnica de
suas disposições, assim como pelo grande número de nações que atualmente
aderiram ao seu ordenamento, ocasionando uma maior previsibilidade às
operações de comércio internacional, por conseguinte auxiliando as
relações fronteiriças.3
Nesse capítulo, veremos a difícil missão de unificar a interpretação da
Convenção, transitando pelos princípios fundamentais da liberdade contratual e
da boa-fé. Estudaremos ainda os fundamentos relevantes para a formação
contratual, em cenário comparativo ao direito domestico brasileiro e as
características fundamentais para a formação da oferta nos distintos regimes
jurídicos.
2

1 PESSÔA, Fernando J. Breda. O Impacto da Interpretação Uniforme da CISG no Direito Brasileiro. In:
NALIN, Paulo et alia. (Org.). Compra e Venda Internacional de Mercadorias. Curitiba: Juruá, 2014, p.33.
2 Ibidem, p. 34.
3 Ibidem, p. 42-43.
!16

1.1 ASPECTOS GERAIS DE INTERPRETAÇÃO DA CISG

Analisando o Decreto Legislativo 538 de 18.10.20124 podemos nos


sentir tentados ao analisar friamente seu Parágrafo único, a deixar levar pela
interpretação da Convenção tão somente à luz da Constituição Federal. Vemos
porém, que através de seu artigo 75, a convenção dispõe seus critérios
regulamentativos distintos pois a mesma dispõe de princípios gerais que a
inspiram e, na falta destes, toma-se como norte o Direito Internacional Privado,
observando-se o princípio da boa-fé em comércio internacional. Desta feita
verifica-se que o regramento jurídico da CISG tem por base a exclusão do
ordenamento jurídico nacional como critério hermenêutico, visando impedir o
chamado “homeward trend” que consiste no favorecimento da parte pela
aplicação das leis de um determinado país. A discussão sobre a uniformidade
de interpretação mediante esta avaliação recai sobre os precedentes. para o
Brasil, cujo ordenamento se debruça sobre a Civil Law torna-se preponderante
o uso da teoria dos precedentes persuasivos como base para julgamento,
levando-se em conta dois critérios: O caráter normativo internacional e a
necessidade de promover uniformidade, também chamada de “modelo sintético
de direito.”6este3, tutela a vida saudável. Segundo: sua

4 "Art. 1º Fica aprovado o texto da Convenção das Nações Unidas sobre Contratos de Compra e Venda
Internacional de Mercadorias, estabelecida em Viena, em 11 de abril de 1980, no âmbito da Comissão das
Nações Unidas para o Direito Mercantil Internacional.

Parágrafo único. Ficam sujeitos à aprovação do Congresso Nacional quaisquer atos que possam
resultar em revisão da referida Convenção, bem como quaisquer ajustes complementares que, nos termos
do inciso I do art. 49 da Constituição Federal, acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio
nacional.

Art. 2º Este Decreto Legislativo entra em vigor na data de sua publicação.” BRASIL. Decreto
Legislativo nº 538, de 18 de outubro de 2012. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/
decleg/2012/decretolegislativo-538-18-outubro-2012-774414-convencao-137911-pl.html> Acesso em 20 de
mai. 2015
5 “Artigo 7(1) Na interpretação desta Convenção ter-se-ão e, conta seu caráter internacional e a
necessidade de promover a uniformidade de sua aplicação, bem como assegurar o respeito à boa fé no
comércio internacional.
(2) As questões referentes às matérias reguladas por esta Convenção que não forem por ela
expressamente resolvidas serão dirimidas segundo os princípios gerais que a inspiram ou, à falta destes, de
acordo com a lei aplicável segundo as regras de direito internacional privado.” MARQUES Cláudia Lima,
LIXINSKI Lucas (coord.). Legislação de direito dos negócios internacionais. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais: 2014. p. 385.
6 PUGLIESE, William S. A Interpretação da CISG: Em busca da uniformidade. In: NALIN, Paulo et alia.
(Org.). Compra e Venda Internacional de Mercadorias. Curitiba: Juruá, 2014, p.50-51.
!17

Politicamente, a tendência dos julgamentos em cortes nacionais acabam


por favorecer seus cidadãos ao apreciar casos relativos à compra e venda
internacional de mercadorias, atento ao fato que a hermenêutica do texto pode
ser manipulada por cada idioma, atingindo a isonomia e a neutralidade das
decisões nos tribunais. Sendo a Convenção um Tratado Internacional não há
como realizar o controle absoluto dessas decisões, muito menos há um tribunal
internacional com a função de regulamentar a interpretação. Portanto, se o
texto for claro, o tribunal não deve se distanciar doas disposições oriundas da
CISG. Visando suprir a deficiência interpretativa ocasionada pela disposição
ampla do texto, alguns tribunais tem adotado a postura moderada, aplicando o
regramento e inserindo alguns comentários ou precedentes.7
Celso de Albuquerque Mello, frente a busca de interpretação
internacional uniforme da Convenção, chegou a levantar a hipótese de
enfraquecimento da soberania, juntamente com a ausência de poder politico do
Estado.8
De forma mais branda, Daniel Sarmento aponta a necessidade de o
jurista encontrar um ponto de equilíbrio, através da reformulação dos conceitos
de Direito Constitucional para uma maior aproximação da realidade
contemporânea. Contudo, sem esquecer da boa-fé, valores éticos e bons
costumes no aspecto humanitário das relações contratuais e das partes ora
envolvidas no processo de negociação. Entende o autor que a soberania
clássica deve valer-se de nova roupagem, em um novo contexto no mundo,
adaptada na sociedade global.9 Sem dúvida, a sociedade jurídica em tempos
de “modernidade líquida”10, deve suplantar as barreiras existentes nas relações
internacionais sem deixar de contemplar as conquistas relativas aos direitos
sociais individuais do século XX, onde o Estado deve ao mesmo tempo regular
as relações internacionais e garantir os direitos coletivos relativos de seus
nacionais. Joaquim4, o meio ambiente de trabalho, para melhor conhecê-lo e

7 PUGLIESE, William S. A Interpretação da CISG: Em busca da uniformidade. In: NALIN, Paulo et alia.
(Org.). Compra e Venda Internacional de Mercadorias. Curitiba: Juruá, 2014, p.53 et seq.
8 MELLO, Celso de Albuquerque, apud MEDAGLIA, Ivo de Paula. A proposta de uniformização do direito do
comércio internacional e a integração da CISG na ordenamento jurídico brasileiro. In: NALIN, Paulo et alia.
(Org.). Compra e Venda Internacional de Mercadorias. Curitiba: Juruá, 2014, p.90.
9 SARMENTO, Daniel apud MEDAGLIA, Ivo de Paula. op. cit., loc. cit.
10 BAUMAN, Zygmunt (1925). Modernidade Líquida; tradução Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
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1.2 O PRINCÍPIO DA LIBERDADE CONTRATUAL E DA BOA-FÉ

O principio da liberdade contratual é uma das características de maior


importância dentro do cenário jurídico do comercio internacional. Os
operadores econômicos tem o direito de decidir livremente como interagem
entre si ofertando seus produtos e serviços como convier, resultando em um
mercado competitivo e livre do controle estatal direto. Naturalmente, existem
possíveis ressalvas ao principio sublinhado, face aos interesses públicos
dispostos anteriormente. Há setores da economia em que cada nação, para
garantir os interesses de seus individuais, aponta os fornecedores de
determinado bem ou serviço. Para preservar o produtor nacional, por exemplo,
em vistas de fomentar a economia em seu território, excetuando-se o principio
nesse caso. Existem normas imperativas, tanto em matéria pública como em
matéria de ordem privada, utilizadas pelo Estado como mecanismos de
controle, onde podemos encontrar as leis de controle de preço de produtos,
controle de mercado de câmbio, assim como a legislação antitruste, que visa
combater a concorrência desleal.11
Na verdade, a idéia da principiologia nos contratos internacionais é
excluir os chamados “contratos de consumo”, que são submetidos à normas
especiais na maioria dos países ratificadores da Convenção, onde o objetivo é
do de proteger a parte mais fraca da relação.12
As partes de um contrato internacional ao realizarem o acordo expresso
entre si podem, mediante este ato, escolher tanto a principiologia como o
ordenamento do país vigente para validar os termos dentro do acordo
comercial internacional. Por consequência, a principiologia vinculante será
aquela que a lei vigente aplicável não afetar, ao eleger o ordenamento jurídico
distinto, as partes se submetem também à principiologia enraizada dentro
daquele sistema.13 j
urídicas5.

11 "Artigo 1.1: As partes são livres para celebrar um contrato e determinar-lhe o conteúdo." (VILLELA,
João Baptista et.al. Princípios Unidroit Relativos aos Contratos Comerciais Internacionais/2004 [versão em
língua portuguesa]. São Paulo: Quartier Latin: 2009. p.8-9.)
12 Ibidem, p. 2.
13 Ibidem, p. 3.
!19

Com efeito, deve-se levar em consideração o fato de que a CISG foi


confeccionada vinculando diversos países de civil law e também de common
law, tendo seu ordenamento disposto de maneira especial para regular
relações econômicas de ordem comercial, influenciada por ambos
ordenamentos jurídicos. Em razão disso, podem ser encontradas normas
distintas ao Direito Brasileiro, visto sua natureza de operação estritamente
internacional.14
Entretanto, mesmo diante dessas peculiaridades, as partes devem
encontrar meios que não impliquem em desrespeito da ordem política e que ao
mesmo tempo não se tornem obstáculo dentro da realidade social dos países
celebrantes.15 Em casos onde as partes elegem dentro do contrato um tribunal
específico de arbitragem para solução de disputas, os árbitros não sao
vinculados à nenhuma legislação particular “eles estão autorizados a agir pelas
partes como amiable compositeurs ou ex aequo et bono.”16
Presente linha formativa, é necessário revisitar os institutos jurídicos
vigentes no Brasil e compará-los aos da CISG, de maneira especial aqueles
que se apresentam não de maneira original, mas aproximadamente similar ao
ordenamento vigente brasileiro. Questionamento pertinente, não esquecendo
que a CISG possui o mesmo status operandi de Lei Ordinária, assim como
temos o Código Civil. Indagação pertinente se faz quando não há conclusão
direta em razão da roupagem jurídica linguistica de um principio jurídico que
deve acomodar sistemas jurídicos de culturas diferentes. O que denominamos
boa-fé para a ordem brasileira alcança a mesma forma valorativa para a CISG?
Quais seriam as linhas delimitadoras deste preceito? Tratamos pois de um
ambiente inovador para os juristas brasileiros.17que labutam nesse meio6.

14 MEDAGLIA, Ivo de Paula. A proposta de uniformização do direito do comércio internacional e a integração


da CISG na ordenamento jurídico brasileiro. In: NALIN, Paulo et alia. (Org.). Compra e Venda
Internacional de Mercadorias. Curitiba: Juruá, 2014. p.93.
15BRANDELLI, Leonardo. Segurança jurídica e racionalidade. In: BRANDELLI, Leonardo (Org.). Estudos
de direito civil, internacional privado e comparado: Coletânea em homenagem à professora Véra
Jacob de Fradera. São Paulo: Liv. e Ed. Universitária de Direito, 2014. p.258.
16VILLELA, João Baptista et.al. Princípios Unidroit Relativos aos Contratos Comerciais Internacionais/
2004 [versão em língua portuguesa]. São Paulo: Quartier Latin: 2009. p.4.
17 NALIN, Paulo. A boa fé entre dois mundos: Civil Law e Common Law (Aproximação comparativa do
princípio da boa fé “brasileira” em vista da aplicação uniforme do Art. 7 da CISG). In: NALIN, Paulo et alia.
(Org.). Compra e Venda Internacional de Mercadorias. Curitiba: Juruá, 2014. p.122.
!20

Tipicamente contrário ao princípio da boa-fé em alguns sistemas


jurídicos é o que se conhece por “abuso de direito”. Caracteriza-se por um
comportamento malicioso pela parte que possui como único objetivo causar
danos à outra parte, assim como tendo por escopo objetivo diverso ao qual foi
compactuado. Na esfera do comércio internacional, ao adotar como norte o
caráter principiológico convém então adotar critérios amplos ao julgar levando
em conta não só o ordenamento mas também o caráter socioeconômico, assim
como o setor de atuação da empresa, ramo de atividade e sua capacidade
técnica.18
A CISG em diversos aspectos deixa claro sua alusão princípio da boa-fé,
como disposto, por exemplo, no artigo 19(2)19 e 21(2)20 onde fica explicito que
uma parte espera da outra um comportamento claro e transparente para evitar
o erro negociar em função de conduta maliciosa do ofertante.21
Por atual relato, cabe cumprir que embora o Código Civil brasileiro não
consiga por si só estancar a moldura do principio da boa-fé em contratos
internacionais, tem-se por razoável os atributos da pessoa honesta que deverá
estar presente quando da interpretação, que hora parte do princípio da boa
conduta e dos bons costumes nas relações humanas. Assim como há de se
esperar por ordem contratual, de igual valor humano. A priori, assim exposto:
“The resonable person is seen as always acting in good faith.”22 27. 22

18VILLELA, João Baptista et.al. Princípios Unidroit Relativos aos Contratos Comerciais Internacionais/
2004 [versão em língua portuguesa]. São Paulo: Quartier Latin: 2009. p.20-21.
19 “Artigo 19(2): Se, todavia, a resposta que pretender constituir aceitação contiver elementos
complementares ou diferentes mas que não alterem substancialmente as condições da proposta, “al
resposta constituirá aceitação, salvo se o proponente, sem demora injustificada, objetar verbalmente às
diferenças ou envie uma comunicação a respeito delas. Não o fazendo, as condições do contrato serão as
constantes da proposta, com as modificações contidas na aceitação”. MARQUES Cláudia Lima, LIXINSKI
Lucas (coord.). Legislação de direito dos negócios internacionais. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais: 2014. p. 386.
20"Artigo 21(2): Se a carta ou outra comunicação escrita contendo aceitação tardia revelar ter sido
expedida em condições tais que chegaria a tempo ao proponente caso a transmissão fosse regular, a
manifestação tardia produzira efeito de aceitação, salvo se o proponente, sem demora, informar ao
destinatário que considera expirada sua proposta, ou enviar comunicação para este efeito”. ibidem, p.387.
21 NALIN, Paulo. A boa fé entre dois mundos: Civil Law e Common Law (Aproximação comparativa do
princípio da boa fé “brasileira” em vista da aplicação uniforme do Art. 7 da CISG). In: NALIN, Paulo et alia.
(Org.). Compra e Venda Internacional de Mercadorias. Curitiba: Juruá, 2014. p.135.
22 ibidem, p.138.
!21

1.3 A FORMAÇÃO DE CONTRATOS E A OFERTA

Quando mencionamos contrato, o primeiro termo e principal


característica é o “acordo de vontades”. Para Sílvio Rodrigues, tal acordo é
precedido pela “própria formação do querer” em instância subjetiva e por
conseguinte de forma objetiva pela externalização dessa vontade. O processo
poderá ocorrer de forma escrita ou expressa, ou por ordem tácita,
caracterizada pelo próprio silêncio, também denominado “silêncio
circunstanciado ou qualificado”. Termos, a ausência de expressa recusa
caracteriza aceitação. Por outro lado, justas e acertadas, as partes acordadas
não esperam tão somente o cumprimento da obrigação, mas também clareza e
exatidão dos envolvidos.23

“A racionalidade econômica das interações destinadas ao


atendimento de necessidades e querências pressupõe o cumprimento
dos compromissos na exata forma como foram assumidos. Tolera o
descumprimento apenas quando for a alternativa mais eficiente para
uma das partes e desde que a outra seja inteiramente compensada.
Afinal, se não se pode contar com o contratado - ou com uma
compensação satisfatória -, não há sentido em contratar. Essa
racionalidade ostenta, por outro lado a marca da individualidade: pelo
contrato, cada um realiza seus interesses egoístas, dos quais é o
único senhor. Tanto melhor se a mão invisível do mercado
providenciar que o generalizado atendimento aos interesses egoístas
resulte satisfatório para todos”.24

Mesmo caracterizado o rompimento imotivado, resultante das tratativas


preliminares, onde há a presença de conversas prévias, debates e sugestões
que resguardam os interesses de cada um, o prejudicado não poderá por si só
exigir o cumprimento da futura convenção, mas somente de exigir a devida
reparação do prejuízo experimentado. Nesse caso, ainda não há vinculação,
apenas caracteriza a responsabilidade civil pré-contratual.25 a produção e

desenvolvimento8.

23RODRIGUES, Sílvio (2003) apud XAVIER, Luciana Pedroso. A formação dos contratos no código civil de
2002, no código de defesa do consumidor e na CISG. In: NALIN, Paulo et alia. (Org.). Compra e Venda
Internacional de Mercadorias. Curitiba: Juruá, 2014. p.142.
24
TREBILCOCK (1993) apud COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil, 3: contratos / Fábio Ulhoa
Coelho. 4a ed. São Paulo: Saraiva: 2010. p. 31.
25 RODRIGUES, Sílvio (2003) apud XAVIER, Luciana Pedroso. op.cit., p.143.
!22

Os princípios UNIDROIT ilustram em seu artigo 1.3 a validade contratual


como vínculo entre as partes, vemos aí elucidado o princípio básico do direito
contratual: O pacta stunt servanda.
Portanto, há a obrigatoriedade quando o acordo efetivado entre as
partes, não esteja viciado por nenhuma cláusula de invalidade. Corolário do
pacta stunt servanda nos traz sobre a extinção ou modificação do contrato
sempre quando as partes o queiram. De maneira que a extinção ou
modificação não consensual é regra de exceção.26 O comportamento
contraditório, disposto no artigo 1.8 da principiologia UNIDROIT nos ilustra
essa exceção. Face aos contratos internacionais, caracterizado o contraditório,
poderá ocorrer a perda, modificação, ou suspensão de direitos. As expectativas
das partes podem ser, por si mesmas contrarias ao que foi estabelecido no
contrato.27
Já para o direito brasileiro, de acordo com os de acordo com o artigo
42728 do Código Civil brasileiro, a vinculação se estabelece no momento em
que a proposta é aceita pelo destinatário.
“Nos contratos reais, o momento da conclusão é o da entrega da
coisa e nos contratos solenes o da declaração da vontade no
instrumento exigido para sua validade. Bem é de ver, no entanto, que
o acordo das partes é nas duas hipóteses, essencial. […] O contrato
só se torna perfeito e acabado quando o acordo entre as partes se
verifica quando todas as cláusulas, principais ou acessórias”.29

Importante ressaltar que, os polos das partes serão invertidos entre o


proponente e o destinatário, nos termos do artigo 431 do mesmo código,
quando resultar modificações na proposta.30 Segundo Marchesan9 o meio

26 "Artigo 1.3: Um contrato validamente celebrado é vinculatório entre as partes. Ele somente pode
ser modificado ou extinto em conformidade com o disposto em suas próprias cláusulas, ou pelo
comum acordo das partes, ou ainda segundo previsão diversa contida nos seguintes princípios.”
VILLELA, João Baptista et.al. Princípios Unidroit Relativos aos Contratos Comerciais Internacionais/
2004 [versão em língua portuguesa]. São Paulo: Quartier Latin: 2009. p. 11.
27“Artigo 1.8: Uma parte não pode agir contrariamente às expectativas suscitadas na outra, quando
esta confiou razoavelmente naquelas expectativas e agiu em prejuízo de si própria.” Ibidem, p. 23.
28“Art. 427CC.: A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da
natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso”. MATIELLO, Fabrício Zamprogna. Código civil
comentado: Lei n. 10.406 de 10.01.2002 / Fabrício Zamprogna Matiello. 3a ed. São Paulo: LTr, 2007. p.
284.
29GOMES, Orlando (2002) apud XAVIER, Luciana Pedroso. A formação dos contratos no código civil de
2002, no código de defesa do consumidor e na CISG. In: NALIN, Paulo et alia. (Org.). Compra e Venda
Internacional de Mercadorias. Curitiba: Juruá, 2014. p. 144.
30"Art. 431CC.: A aceitação fora do prazo, com adições, restrições, ou modificações, importará nova
proposta.” MATIELLO, Fabrício Zamprogna. op. cit., p. 288.
!23

ambiente Na CISG, vemos que a principal característica para a formação do


contrato, através do artigo 14, é a “existência de uma proposta” que resultará
de uma oferta destinada à sujeitos determinados. O ofertante estabelece
vínculo com a proposta caso ela seja aceita pelo destinatário.31 Segundo
Schroeter32, para que uma proposta seja definida, ela deve apresentar em seu
conteúdo os mínimos critérios como identidade das partes, detalhes do objeto
do contrato (preço, forma e quantidade) e ainda outros critérios como o local
estabelecido para a entrega, meio de transporte e embalagem do produto. Ou
seja, uma oferta para ser aceita deve ser precisa. Quanto aos destinatários,
caso não estejam devidamente qualificados no instrumento da oferta, sendo
eles indeterminados, essa oferta não admitirá uma proposta, será tão apenas
um convite para que sejam apresentadas as propostas a seguir.33
Para GREBLER34, a CISG admite que ofertas sem pretensão de
proposta possam ser assumidas como tal. Evidente, segundo o autor, que em
casos de comércio internacional, mediante as inúmeras diferenças de caráter
cultural e de idioma, tal critério não é claro “… não sendo razoável inferir que
uma oferta de mercadoria deva ser interpretada como uma proposta
contratual”.35
A proposta, referida expressamente no artigo 1535 da Convenção,
somente se revestirá de eficácia enquanto satisfeitos os critérios referidos no
artigo 2436 da mesma, devendo estar presente a qualidade intencional.37
De acordo com Marchesan10, os processos produtivos para oolvimento
sustentável devem levar em consideração a proteção

31“Artigo 14(1). Para que se possa constituir uma proposta, a oferta de contrato feita a pessoa ou pessoas
determinadas deve ser suficientemente precisa e indicar a intenção do proponente de obrigar-se em caso
de aceitação. A oferta é considerada suficientemente precisa quando designa as mercadorias e, expressa
ou implicitamente, fixa a quantidade e o preço, ou prevê meio para determiná-los”. MARQUES Cláudia
Lima, LIXINSKI Lucas (coord.). op. cit., p. 385.
32 SCHROETER, Ülrich G. (2010) apud XAVIER, Luciana Pedroso. op. cit., p. 154.
33 ibidem, p. 155.
34 GREBLER, Eduardo. (2005-2006) apud XAVIER, Luciana Pedroso. op. cit., loc cit.
35 “Artigo 15(1). A proposta se torna eficaz quando chega ao destinatário”. XAVIER, Luciana Pedroso. op.
cit., p. 156.
36 “Artigo 24. Para os fins desta parte da Convenção, se considerará que a proposta, a manifestação de

aceitação ou qualquer outra manifestação de intenção “chega” ao destinatário quando for efetuada
verbalmente, ou for entregue pessoalmente por qualquer outro meio, no seu estabelecimento comercial,
endereço postal, ou, na falta destes, na sua residência habitual”. MARQUES Cláudia Lima, LIXINSKI Lucas
(coord.). op. cit., p. 387.
37 XAVIER, Luciana Pedroso. op. cit., loc. cit.
!24

Quando a proposta contiver caráter de irrevogabilidade, ela poderá ser


retirada “desde que a retratação chegue ao destinatário antes da própria
proposta, ou simultaneamente a ela.”38 No caso de revogação da oferta
constituída por ato declaratório, deverá ainda assim seguir o mesmo critério,
sendo que os vícios de representação e consentimento, assim como os casos
de capacidade, devem ser conduzidos pelo Direito Nacional.39
Entretanto, sobre as características da oferta no ordenamento brasileiro,
há de se levar em conta o dizer da professora Cláudia Lima Marques (2002),
que fragmentará a qualidade da oferta, como oferta civil e de consumo: “A
oferta civil apóia-se na teoria da vontade, enquanto a oferta de consumo tem
seu fundamento na teoria da declaração”.40 De tal feita que, em se tratando de
oferta de consumo, pode ser concebida pelo princípio da vinculação da oferta,
reduzido a disposição do ofertante de revogar ou livre cumprir a oferta. No caso
de Direito de Consumo, vinculará a oferta ao fornecedor uma vez que traga
informações suficientes ao consumidor.

“Não se exigirá mais da oferta de consumo que seja estabelecida


com todos os elementos essenciais para a celebração do contrato.
Ora, desde que seja fornecida informação suficientemente precisa
aos consumidores, esta tem o condão de vincular o fornecedor.”41

Com efeito, vincula-se o fornecedor à luz de contratar nos termos da


oferta, visando o legislador, através do artigo 30 do Código de Defesa do
Consumidor42 , evitar a dissociação entre a oferta e o contrato, resguardando o
princípio da boa fé também nos contratos de consumo, frente a vulnerabilidade
do consumidor na relação contratual.43 is dos ecossistemas11.

38 “Segundo a Convenção, Artigo 15(2): Ainda que seja irrevogável, a proposta pode ser retirada, desde
que a retratação chegue ao destinatário antes da própria proposta ou simultaneamente a ela”. MARQUES
Cláudia Lima, LIXINSKI Lucas (coord.). op. cit., p. 386.
39 XAVIER, Luciana Pedroso. op. cit., loc. cit.
40MARQUES, Cláudia Lima (2002) apud MIRAGEM, Bruno. Curso de direito do consumidor / Bruno
Miragem. 5a ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2014. p. 244
41 MIRAGEM, Bruno. op. cit., loc. cit.,
42 “ Art. 30. Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio
de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a
fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado”. BRASIL. Lei nº 8.078 de 11
de setembro de 1990. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/leis/L8078.htm> Acesso em
01 de jul. 2015.

43 MIRAGEM, Bruno. op. cit., p. 245.


!25

Na mesma linha do já elucidado artigo 15, no ambiente da CISG a oferta


poderá ser revogada, o artigo 1644 , visa regular o tema pelo preceito já
mencionado de vincular ordenamentos de diferentes países. Interessante
salientar que a convenção difere os termos revogação “revocation” e retirada
“withdrawal” em termos de oferta. A retirada encontramos no artigo 15(2)38 e
conduz à retratação que chega ao destinatário antes ou simultaneamente,
enquanto a revogação chegará ao destinatário posteriormente recebimento da
oferta. A revogação pressupõe uma oferta qualitativamente válida, revestida de
eficácia e vigente. Para Malik (1985), o supracitado artigo 16 foi um dos mais
debatidos durante a uniformização por tentar equilibrar os diversos sistemas
legais vigentes quanto à revogabilidade e irrevogabilidade da oferta.45
Quando tratamos de civil law, um contrato se conclui mediante a
aceitação do destinatário, quando esta retorna ao proponente, sendo que
durante sua análise a oferta é irrevogável, exceto por disposição expressa. Já
para a common law, a conclusão do contrato se dá no momento da expedição
da aceitação pelo destinatário. Temos então por distinto, o espaço de tempo
entre a expedição da oferta pelo proponente e sua chagada ao destinatário
analisando ambos sistemas jurídicos.46
A oferta, por regra na Convenção se caracteriza revogável, não
acarretará punições ao seu descumprimento no contrato. Destaca Schroeter 47:

“O difícil compromisso atingido pelo art. 16 seria prejudicado se, por


meio de ameaçadores pedidos de perdas e danos com base nas leis
domésticas, fosse possível pressionar o proponente a manter vigente
uma oferta revogável nos termos da CISG”. 48
e seu mandato [...]” 12.

44 “Artigo 16(1). A proposta poderá ser revogada até o momento da conclusão do contrato, se a revogação
chegar ao destinatário antes de este expedir a aceitação.
(2). A proposta não poderá, porém ser revogada:
(a) se fixar prazo para aceitação, ou por outro modo indicar que ela seja irrevogável.
(b) se for razoável que o destinatário a considerasse irrevogável e tiver a ele agido em confiança na
proposta recebida” . MARQUES Cláudia Lima, LIXINSKI Lucas (coord.). op. cit., p. 386.
45MALIK, Shahdeen (1985) apud VOSGERAU, Isabella Moreira de Andrade. Revogação da Oferta e
Aplicação do Art. 16 da CISG. In: NALIN, Paulo et alia. (Org.). Compra e Venda Internacional de
Mercadorias. Curitiba: Juruá, 2014. p. 165-166.
46 VINCZE, Andrea apud VOSGERAU Isabella Moreira de Andrade. op. cit., p. 167.
47 VOSGERAU, Isabella Moreira de Andrade. op. cit., p. 175.
48 SCHROETER, Ülrich G. (2010) apud VOSGERAU, Isabella Moreira de Andrade. op. cit., loc cit.
!26

Nesse aspecto, a CISG e o Direito brasileiro se aproximam, quando


configuram caráter de vontade recíproco e receptivo. Caracterizando, Pontes
de Miranda completa: “o elemento recepção não é essencial à manifestação
mesma, só o é a sua eficácia”49.
Parece portanto, bem razoável a afirmação de que a oferta somente
será revogável quando o proponente assim o expressar, por ora valendo a
regra da revogabilidade disposta no artigo 16(1)44 da Convenção, onde se faz
necessária e relevante a investigação da intenção do proponente, elencada no
artigo 8(3).50 seguido da regra de interpretação contra proferentem. Essa
perspectiva irá concluir que o proponente é o mestre da oferta, podendo decidir
quanto da sua disponibilidade.51
Considerando o exposto neste capítulo, observamos que é bastante
complicado estabelecer um regramento normativo que contemple as lacunas
do ordenamento jurídico de cada nação. Os contratos internacionais, que
devem por via de regra serem regidos pelo princípio da liberdade contratual,
devem assumir a roupagem do princípio da boa fé e irão atuar inseridos no
aspecto cultural e em razão do idioma de cada país signatário da CISG.
Transitamos pelas características da oferta, contemplando quais os
elementos necessários para que a oferta seja considerada uma proposta, em
matéria da Convenção de Viena. Assim como elucidando diferenças e
semelhanças nos campos da civil law, onde destacamos o ordenamento
brasileiro dentro da tipologia do Direito Civil e do Direito do Consumidor,
também na esfera da common law. Por conseguinte, estudamos quando da
validade da oferta, os critérios e princípios levados em consideração para
revogá-la, elencada a intenção do proponente. Para a CISG a existência de
uma proposta caracteriza validade, enquanto para o direito brasileiro a validade
condiz aceitação. também na vida do trabalhador do campo.Segundo Silva13 as

49 PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti (2012) apud VOSGERAU, Isabella Moreira de Andrade. op.
cit., p. 169.
50 “Artigo8(3): Para determinar a intenção de uma parte, ou o sentido que teria dado uma pessoa razoável,
devem ser consideradas todas as circunstâncias pertinentes ao caso, especialmente negociações, práticas
adotadas pelas partes entre si, usos e costumes e qualquer conduta subsequente das partes”. MARQUES
Cláudia Lima, LIXINSKI Lucas (coord.). op. cit., p. 385.
51 VOSGERAU, Isabella Moreira de Andrade. op. cit., p. 171.
!27

2. DO CUMPRIMENTO CONTRATUAL

Quando se tem idéia de cumprimento contratual a primeira característica


é a “entrega da coisa”. Por hora entende-se aqui como a entrega das
mercadorias, preceito principal do adimplemento das obrigações contratuais do
vendedor. Também está ligado aí a transferencia do risco sobre eventual perda
ou ainda a respeito da deteriorização do objeto do contrato. Abre-se aqui o
primeiro parêntese, para o direito brasileiro há de se sublinhar o instituto da
tradição como base das relações que configuram a entrega de bens móveis
como um todo.1 Para Fábio Ulhoa Coelho: “As partes se vinculam ao que
contrataram. Obrigam-se a cumprir a declaração externada nos seus exatos
termos […]”.2 Nesse aspecto, por maiores que sejam as minúcias do contrato,
o elemento principal é o “ato de empenho da palavra” de cada contratante.3
Já para a CISG, encontramos informações mais detalhadas, como por
exemplo a respeito da entrega. Detalhes sobre o vendedor de entrega,
armazenamento do objeto, prazos, seguro da mercadoria, local de entrega,
transferência do risco, dentre outros. Vemos que, distintamente do direito
brasileiro, a concepção de entrega para a convenção se faz relevante. Claro,
também o regramento doméstico brasileiro leva em conta tal característica,
porém em menor grau de importância.4
Estudaremos nesse capítulo as particularidades desse instituto, tal que o
adimplemento contratual da compra e venda de mercadorias se situa na
entrega do bem. Por conseguinte, veremos as implicações da entrega em
desconformidade frente aos vícios da mercadoria e suas peculiaridades,
mediante comparativo da normativa vigente.lidade14.

1 ZANELATTO, Natália Villas Bôas. A obrigação de entrega na CISG e na prática contratual internacional:
Breve comparação com o regime jurídico brasileiro. In: NALIN, Paulo et alia. (Org.). Compra e Venda
Internacional de Mercadorias. Curitiba: Juruá, 2014. p. 211.
2COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil, 3: contratos / Fábio Ulhoa Coelho. 4a ed. São Paulo:
Saraiva: 2010. p. 40.
3 ZANELATTO, Natália Villas Bôas. op.cit., loc. cit.,
4 ibidem, p. 212.
!28

2.1 A ENTREGA DA MERCADORIA

No Direito interno brasileiro, temos conceituada a compra e venda de


mercadorias nas normas do Código Civil de 2002. Elucida Orlando Gomes, que
o contrato de compra e venda traz consigo duas obrigações distintas para o
vendedor: Primeiramente transferir a propriedade da coisa, e a seguir garantir a
eficácia do direito sobre a coisa ou bem. Como ferramenta da transferência,
usamos a tradição. Para ele, a tradição se efetua com “a entrega da coisa ao
comprador com o ânimo de lhe transmitir o domínio”.5
Desta feita, completa Pontes de Miranda que: “o vendedor tem o dever
de não apenas transmitir a propriedade, mas também a posse sobre o bem.”6 A
tradição deverá ocorrer no mesmo lugar onde se encontrava quando ao tempo
da sua venda, salvo resolução diversa das partes. Ficará a critério do
comprador, os riscos e custos de transporte que porventura venham a ocorrer
em razão deste desejar receber o bem em local diverso de onde ocorreu a
tradição. Nesse caso, a entrega se dará dado instante da disposição do bem
pelo vendedor ao transportador. Em fato, conclui o autor:7

“nas compras e vendas com a cláusula de levar ao porto de


embarque, é nele que a tradição se opera. Já naquelas com cláusula
de pôr a bordo, a tradição é no momento de pôr a bordo”.8

Em um mundo globalizado, as empresas procuram representações em


países de economia atraente, resultando cada dia mais em custos e
características diversas de transporte. Pormenorizar as características de
transporte, é sem dúvida cada vez mais necessário, assim conduzindo à
previsibilidade na entrega da mercadoria.9 inclusive, algumas destas, ligadas à
área urbana15.

5 GOMES, Orlando (2009) apud ZANELATTO, Natália Villas Bôas. op.cit., p. 212.
6 PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti (2012) apud Natália Villas Bôas. op.cit., loc cit.
7 PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti (2012) apud Natália Villas Bôas. op.cit., p. 213.
8 idem.
9 COELHO, Fábio Ulhoa. op. cit., p. 27.
!29

Conforme foi visto, mediante a tradição transferimos os riscos inerentes


ao bem do vendedor ao comprador. Os riscos mencionados podem acarretar
perdas e danos ou prejuízos de maneira geral, mesmo em situações de caso
fortuito ou força maior. Com os riscos, aumentam os custos da transação, entre
eles podemos elencar o seguro e o frete. Mesmo em casos de mora do
comprador no recebimento, toma-se por efetuada a entrega, delineados os
riscos ao comprador.10
A regra também vale para transações dentro do ambiente virtual, em
muitos casos, a comunicação entre o vendedor e comprador ocorre somente
através da transmissão eletrônica de dados onde ficam apenas os endereços
IP (Internet Protocol) como prova de interação entre eles. Isso porque a
atividade de compra e venda como um todo na relação negocial entre pessoas
e empresas deve ser desenvolvida sobre uma base fática. O site, como
instrumento de comunicação entre as partes, deverá obedecer a normativa
vigente.11
Atualmente no ordenamento brasileiro, não encontramos pormenores
dentro da questão obrigacional de entrega O Código Civil de 1916 não
disponibiliza legislação contendo a forma de entrega, prazos e referente ao
recebedor. Dentro das relações domésticas de compra e venda não deu o
legislador a devida atenção ao tema, visto que as partes se encontram em
mesmo território, e não há maiores problemas no transporte transfronteiriço.12
A solução mais contundente no direito positivo é a de modo a imputar as
despesas até a tradição ao comprador, pois ele não exerce a posse do lugar
estabelecido. Dessa maneira ocorria no Código Comercial de 1850, o
comprador era responsável pelas despesas com a entrega, que ocorria no
estabelecimento de vendedor, e a partir dela, o comprador assumia os riscos
da mercadoria.13 PNAD 200816, que apontam essa
Segundo Silva17, há certo consenso sobre a definição de rural. Algumas
características que ajudam a defini-lo:O rural é multissetorial (abarca diversos

10 GOMES, Orlando (2009) apud ZANELATTO, Natália Villas Bôas. op.cit., p. 214.
11
KLEE, Antônia Espíndola Longoni. Comércio Eletrônico / Antônia Espíndola Longoni Klee. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais 2014. p. 226.
12 ZANELATTO, Natália Villas Bôas. op.cit., loc. cit.
13 COELHO, Fábio Ulhoa. op. cit., p. 177.
!30

No ambiente da CISG, as obrigações da parte do vendedor encontram-


se elencadas no artigo 3014 onde o vendedor deverá remeter as mercadorias e
documentos, se for o caso. Específica a Convenção ao tratar que os bens
devem ser entregues conforme o contrato regulamentado. Dessa forma, ora a
Convenção regulamenta, ou entenda-se define os termos gerais, ora ela se
exime, ou introduz o já referido princípio da liberdade contratual para que as
partes livremente especifiquem as normativas de entrega.15
Sobre a transferência de propriedade do bem, Ferrari & Torsello (2014)
completam:
“Na maioria dos casos, tal ação coincide com o cumprimento da outra
obrigação originária do vendedor, que consiste na entrega das
mercadorias. Sob circunstâncias especiais, no entanto, a ação é
necessária por parte do vendedor pode ser diferente, ou não limitada
a esta, a entrega das mercadorias. Em particular, esta disposição
abrange as situações em que a transferência da propriedade, nos
termos da lei nacional aplicável exige uma declaração específica da
intenção de transferir a propriedade. Neste caso, o vendedor é
obrigado, nos termos do artigo 30, da necessidade da declaração” 16

Há circunstancias em regime especial, em que o comprador manifesta a


sua intenção de forma explicita ou mesmo implícita, de utilizar as mercadorias
para fim especial. Nesse caso, o vendedor deverá, conforme regulamenta a
Convenção, entregar os bens de maneira a satisfazer aquele propósito.
Situação semelhante ocorre na metida em que o comprador pretende revender
o referido bem em local específico. Isto ocorre apenas quando o vendedor
sabia da condição no momento da celebração do contrato. De outra forma, não
conseguiria ele avaliar devida intenção do comprador.17 As normas que
regulam obrigação de entrega e transferência do risco, denominam-se
INCOTERMS, trataremos a seguir.18 necessáriaBrasil, subiu de165.870
unidades vendidas, em 1970, para 788.053 unidades vendidas, em 200618. E

14 “Artigo30: O vendedor estará obrigado, nas condições previstas no contrato e na presente Convenção, a
entregar as mercadorias, a transmitir a propriedade sobre elas e, sendo o caso, a remeter os respectivos
documentos”. MARQUES Cláudia Lima, LIXINSKI Lucas (coord.). op. cit., p. 388.
15 ZANELATTO, Natália Villas Bôas. op.cit., p. 215.
16FERRARI, Franco; TORSELLO, Marco. International Sales Law - CISG. St. Paul MN: West Academic
Publishing USA, 2014. p. 191. (tradução nossa).
17 KLAMAS, Caroline Cavassin. Considerações sobre a desconformidade dos bens e os deveres dela
decorrentes na CISG e no Código Civil Brasileiro. In: NALIN, Paulo et alia. (Org.). Compra e Venda
Internacional de Mercadorias. Curitiba: Juruá, 2014.
p.264.
18 ZANELATTO, Natália Villas Bôas. op.cit., loc. cit.
!31

2.2 INCOTERMS

As regras editadas pela Câmara de Comércio Internacional (CCI).


Denominam-se International Commercial Terms ou simplesmente
INCOTERMS. A função destes, é disciplinar as obrigações do comprador e
vendedor, especificando as características da entrega, assim como do seguro e
os riscos durante o transporte de determinada mercadoria. Importante destacar
que conforme lembram Peter Schlechtriem e Ingeborg Schwenzer, estes
termos não possuem força de lei, caracterizam-se por um conjunto particular de
regras privadas, que por sua vez são utilizadas para atender um determinado
fim específico.19
“No entanto, a relevância dos INCOTERMS no que diz respeito à
regulamentação da transferência do risco, não se limita aos casos em
que as partes tenham expressamente incorporado por referência um
dos termos comerciais da CCI sobre o acordo. Na verdade, o amplo
conhecimento e observância regular dos INCOTERMS como fonte de
normas sobre transferência do risco nos contratos internacionais de
venda de bens levou vários tribunais a aplicá-los em usos comerciais,
em razão do artigo 920 da CISG, independentemente de sua
incorporação expressa no contrato”.21

Configuram os INCOTERMS um manual amplamente adotado pela


comunidade internacional que detalham 11 (onze) padrões distintos de divisão
obrigacional das partes. Os termos vão desde o INCOTERM EXW (EX Works),
que configura a entrega dos bens ao comprador na sede do vendedor. Onde o
comprador é responsável pela coleta e transporte da mercadoria, assim como o
risco inerente à mercadoria desde sua disponibilização na data acordada, até o
INCOTERM DDP (Delivery Duty Paid), onde o vendedor assume todo o risco
de transporte da mercadoria até o comprador.22 em todo o país, no 7.03619.

19SCHLECHTRIEM, Peter; SCHWENZER, Ingeborg (2010) apud ZANELATTO, Natália Villas Bôas. op.cit.,
p.216.
20 “Artigo 9(1). As partes se vincularão pelos usos e costumes em que tiverem consentido e pelas práticas
que tiverem estabelecido entre si.
(2). Salvo acordo em contrário, presume-se que as partes consideram tacitamente aplicáveis ao contrato, ou
à sua formação, todo e qualquer uso ou costume geralmente reconhecido e regularmente observado no
comércio internacional, em contratos de mesmo tipo no mesmo ramo de comércio, de que tinham ou
devessem ter conhecimento”. MARQUES Cláudia Lima, LIXINSKI Lucas (coord.). op. cit., p. 385.
21FERRARI, Franco; TORSELLO, Marco. International Sales Law - CISG. St. Paul MN: West Academic
Publishing USA, 2014. p. 191. (tradução nossa).
22 ZANELATTO, Natália Villas Bôas. op.cit., loc. cit.
!32

Para Harry Flechtner, mediante a elaboração dos contratos


internacionais à luz da Convenção, em casos onde há a previsão de transporte
de bens, é fundamental que os negociantes saibam com clareza o caráter
obrigacional de cada um no referente ao transporte da mercadoria, para que
saibam quando da mercadoria em mãos do transportador, de quem será a
responsabilidade.23

“Em outros casos, no entanto, os tribunais têm considerado termos


comerciais, como CIF ou FOB incluídos no contrato como um acordo
entre as partes em conformidade com (em vez de derrogar) as regras
da CISG relevantes sobre a transferência de riscos, em especial as
estabelecidas artigo 6724 da CISG.” 25

Em termos explicativos, resumidamente: Cost, Insurance and Freight


(Custo, Seguro e Frete) - CIF: O risco sobre a mercadoria passa ao comprador
quando da transposição da amurada do navio no porto de embarque, sendo o
vendedor responsável pelo pagamento necessários para levar a mercadoria
até o porto de destino.26 Free On Board (Livre a Bordo) - FOB: O vendedor
encerra suas obrigações quando a mercadoria transpõe a "amurada do
navio"(ship’s rail), nesse instante o comprador assume o frete e os riscos da
carga.27 A seguir estudaremos as relações entre os INCOTERMS e a CISG,
caracterizando as obrigações entre as partes. os quase 27,61% da população
daquela região, ainda vivem na área rural, e esta região é a que contempla o
maior índice nacional20.

23 ZANELATTO, Natália Villas Bôas. op.cit., p. 216.


24 “Artigo 67(1). Se o contrato de compra e venda implica também o transporte das mercadorias e o
vendedor não estiver obrigado a entregá-las em lugar determinado, correrão por conta do comprador os
riscos a partir da entrega das mercadorias ao primeiro transportador, para serem trasladas ao comprador
nos termos do contrato. Se o vendedor estiver obrigado a entregar as mercadorias ao transportador em
lugar determinado, os riscos só se transferirão ao comprador quando as mercadorias forem entregues ao
transportador naquele lugar. O fato de estar o vendedor autorizado a reter os documentos representativos
das mercadorias não prejudicará a transferência do risco.
(2). Entretanto, o risco não se transferirá ao comprador até que as mercadorias estejam claramente
identificadas para os efeitos do contrato, mediante a marcação das mercadorias, pelos documentos de
expedição, por comunicação enviada ao comprador ou por qualquer outro modo”. MARQUES Cláudia Lima,
LIXINSKI Lucas (coord.). op. cit., p. 394.
25 FERRARI, Franco; TORSELLO, Marco. op.cit., p. 258. (tradução nossa).
26Inspirado em LUNARDI, Angelo Luiz. Condições Internacionais de Compra e Venda - Incoterms 2000,
Edições Aduaneiras, São Paulo, 2000. Disponível em: <http://www.mdic.gov.br/sistemas_web/aprendex/
default/index/popup/id/103> Acesso em 03 de jul. 2015.
27idem. Disponível em: <http://www.mdic.gov.br/sistemas_web/aprendex/default/index/popup/id/101>
Acesso em: 03 de jul. ttp2015.
!33

2.3 A DESCONFORMIDADE DA MERCADORIA

A Convenção não oferece um conceito formal sobre a tipologia da


entrega, por conseguinte ela pode ser deduzida ao estudarmos as disposições
de obrigação do vendedor. Em termos de transferencia de propriedade regida
pela Convenção, destacam Peter Schlechtriem e Ingeborg Schwenzer:

“ao indicar que é a lei doméstica que determina se a propriedade se


transfere com a conclusão do contrato, quais documentos são
necessários para que ela opere e assim por diante”.28

Segundo eles, a transferência de propriedade elucidada pelo artigo


3014 da CISG implica apenas em uma reserva de domínio. A transferência de
fato da propriedade somente se concretizará mediante o pagamento do preço
dos bens que foram vendidos. Para tal hermenêutica valeram-se do artigo
58(1)29 da Convenção que vincula a entrega ao pagamento dos bens e
portanto, analogamente vinculará o pagamento dos bens também à
transferência da propriedade sobre eles.30
Em relação às características da mercadoria, pelo disposto na
Convenção, o vendedor se obriga a entregar o bem em concordância com as
disposições estabelecidas no contrato, excetuando-se os casos em que as
partes acordaram de outra forma. Vemos aqui a preocupação do legislador da
CISG em permitir a flexibilidade das características. Talvez por entender que
este preceito está diretamente ligado à cultura e a forma de expressão de cada
nação. Encontramos aqui o princípio da liberdade contratual e da autonomia da
vontade das partes.31 da populaçãoder sido fortemente adotado21.

28SCHLECHTRIEM, Peter; SCHWENZER, Ingeborg (2010) apud ZANELATTO, Natália Villas Bôas. op.cit.,
221.
29 “Artigo 58(1). Se o comprador não estiver obrigado a pagar o preço em momento determinado, deve
pagá-lo quando o vendedor colocar à sua disposição as mercadorias ou os documentos que as
representarem, de acordo com o contrato ou com a presente Convenção. O vendedor poderá considerar o
pagamento como condição para a entrega das mercadorias ou dos documentos”. MARQUES Cláudia Lima,
LIXINSKI Lucas (coord.). op. cit., p. 392.
30 ZANELATTO, Natália Villas Bôas. op.cit., p. 222.
31 KLAMAS, Caroline Cavassin. op. cit., p. 261.
!34

Para o comprador, este somente terá acesso aos remédios em relação


às mercadorias nos casos em que o bem foi entregue em desconformidade
com o contrato. O comprador deverá comunicar o vendedor a partir do
momento em que verificar qualquer vício no bem ora entregue sob pena de
perda de direito. O artigo 3932 da CISG, aponta estas situações., permitindo
que o vendedor, mediante a inspeção feita pela outra parte, possa mitigar ou
remediar os danos.33

“Por outro lado, um comprador alegando remédios pela falta do


vendedor de entregar as mercadorias perdidas, ou pela não
conformidade da entrega de bens danificados, deve provar que a
perda acidental ocorreu antes do tempo quando o risco foi passado
para ele.
Algumas decisões judiciais parecem sugerir que, sob certas
circunstâncias, uma inversão do ónus da prova pode ocorrer. Em
particular, foi decidido que, se o comprador devidamente dá aviso de
não-conformidade ao vendedor de acordo com o artigo 39 da CISG, o
vendedor, em seguida, carrega o fardo de provar a conformidade dos
produtos no momento da transferência do risco, ao passo que o ônus
volta para o comprador se ele aceita sem reclamar”.34

Salutar ao comprador no ordenamento brasileiro, a desconformidade


dos bens recebidos na entrega (vícios redibitórios) lhe outorga o direito de ao
receber o produto com defeito, resolver ou contrato. Outrossim, ele poderá
estimar os danos causados na mercadoria e solicitar ao vendedor um
abatimento das parcelas do preço. Fábio Ulhoa Coelho, entende que as partes
dentro de um contrato bilateral sabem que podem enjeitar a coisa viciada ou de
outra forma pagar menos por ela.35 No campo consumerista brasileiro, a
responsabilidade pelos vícios em razão da qualidade ou quantidade dos bens é
do fornecedor.36 ransgenia.22

32 “Artigo 39(1). O comprador perderá o direito de alegar a desconformidade se não comunicá-la ao


vendedor, precisando sua natureza, em prazo razoável a partir do momento em que a constatar, ou em que
deveria tê-la constatado.
(2). Em qualquer caso, o comprador perderá o direito de alegar a desconformidade se não comunicá-la ao
vendedor no prazo máximo de dois anos a partir da data em que as mercadorias efetivamente passarem à
sua posse, salvo se tal prazo for incompatível com a duração da garantia contratual”. MARQUES Cláudia
Lima, LIXINSKI Lucas (coord.). op. cit., p. 389.
33 KLAMAS, Caroline Cavassin. op. cit., p. 265.
34 FERRARI, Franco; TORSELLO, Marco. op.cit., p. 247. (tradução nossa).
35 COELHO, Fábio Ulhoa. op. cit., p.149.
36BITTAR, Carlos Alberto (1939-1997). Direitos do Consumidor: Código de defesa do consumidor /
Carlos Alberto Bittar. 7. ed. rev., atual. e ampl. por Eduardo C. B. Bittar. Rio de Janeiro: Forense, 2011. p.
35
!35

Bruno Miragem completa, mesmo da responsabilidade do fornecedor,


em caso de vícios decorrentes da quantidade, qualidade ou informação relativa
à mercadoria é interessante constatar a natureza do dever violado, se somente
de adequação ou integridade do consumidor, tanto no campo pessoal como
patrimonial, em função da diferença valorativa de cada instituto.37
Face à desconformidade em razão do não cumprimento, o direito
brasileiro disciplina que a quando aos obrigações contratuais forem cumpridas
fora do prazo estipulado, resultará (em mora) a parte inadimplente, baseado no
já mencionado princípio da boa-fé e em desrespeito as obrigações de boa
conduta. Nos casos de vícios ocultos há diferenças entre a interpretação do
direito doméstico e a CISG.38 “Enquanto a Convenção limita este ônus aos
vícios existentes no momento da transferência do risco, o Código Civil
brasileiro baseia-se no momento da entrega do bem”.39 Tal disposição da
Convenção ficará a critério dos INCOTERMS, que vimos anteriormente.
Para Joseph Lookofsky, a Convenção não atribui o dever a nenhuma
das partes de conhecer os critérios inerentes à qualidade da mercadoria que
poderão resultar em desconformidade. Para ele cada caso irá determinar, em
particular, os critérios de desconformidade.40
Nesse capítulo estudamos as alegações inerentes ao cumprimento
contratual em virtude da compra e venda de mercadorias. Em um estudo
comparado entre o ordenamento doméstico brasileiro e a CISG, verificamos
algumas particularidades do cumprimento contratual inerentes à mercadoria.
Enquanto a Convenção é mais criteriosa na entrega, é mais amena quanto às
características do produto, tal que as normas brasileiras invertem essa ordem.
aspectos são aperfeiçoamentos das tecnologias já existentes23.

37 MIRAGEM, Bruno. op. cit., p. 615.


38 KLAMAS, Caroline Cavassin. op. cit., p. 255-256.
39 idem.
40 LOOKOFSKY, Joseph (2012) apud KLAMAS, Caroline Cavassin. op. cit., p. 262.
!36

3. DO DESCUMPRIMENTO CONTRATUAL
Segundo, outra novidade, da modernização da agricultura que chega ao
campo são as ferramentas da agricultura de precisão. Esta nova forma de gerir
O princípio fundamental dentro da normativa da Convenção consiste no
teor da preservação dos contratos (favour contractus), através do qual a
resolução do pacto (avoidance) deverá ocorrer somente em casos extremos,
quando o descumprimento frustrar significativamente a expectativa da parte em
relação ao objeto do contrato (fundamental breach).1

“A lógica de ordem econômica subjacente ao postulado da


preservação do contrato pode ser compreendida pela necessidade de
se evitar os riscos e custos da restituição das mercadorias num
contexto de transações internacionais”.2

As onerosas despesas exigidas em razão do envio e reenvio das


mercadorias de um país a outro em virtude da resolução contratual deverão ser
evitadas ao máximo. Mesmo que o contrato tenha sido resolvido por disposição
do comprador, as consequências advindas podem ser prejudiciais, visto que a
mercadoria já tinha sido revendida a terceiros, por exemplo.3 Essas
circunstâncias resultam na resolução da CISG de afastar ao máximo a
resolução contratual. De outra forma ela contempla outros possíveis remédios
à disposição das partes para outras causas de descumprimento contratual, em
menor gravidade, visando postular o cumprimento da obrigação específica.4
Deste entendimento, Joseph Lookofsky noz diz que podemos dividir os
mecanismos previsto para sanar o descumprimento contratual em três
categorias distintas. A primeira delas visa forçar a parte inadimplente a cumprir
a obrigação tal como foi especificado. A segunda categoria trata da resolução
contratual pela liberação das partes. Por fim, a terceira converte em perdas e
danos para a parte prejudicada.5 solução24.

1 BRIDGE, Michael (2010) apud ZARONI, Bruno Marzullo. Descumprimento contratual na CISG:
Mecanismos à disposição das partes. In: NALIN, Paulo et alia. (Org.). Compra e Venda Internacional de
Mercadorias. Curitiba: Juruá, 2014. p. 273.
2 HUBER, Peter ; MULLIS, Alastair (2007) apud ZARONI, Bruno Marzullo. op. cit., p. 274.
3 Ülrich, Magnus (2005) apud ZARONI, Bruno Marzullo. op. cit., p. 275.
4 TORSELLO, Marco (2005) apud ZARONI Bruno Marzullo. op. cit., loc cit.
5 LOOKOFSKY, Joseph (2008) apud ZARONI Bruno Marzullo. op. cit., p. 275-276.
!37

Os fundamentos do descumprimento se encontram nos vagos termos do


artigo 256 da Convenção. A professora gaúcha Véra Fradera, mediante a forma
da redação enumerou diversas propostas de alteração, considerada a
dificuldade de sua aplicabilidade.7
No intuito de minimizar as dificuldades hermenêuticas decorridas da
redação, da mesma maneira visando a segurança jurídica a professora elucida
três critérios relevantes para a análise: a existência fundamental do prejuízo,
sua análise ponderada e sua previsibilidade.8

“Esses remédios alternativos, incluindo a evasão contrato, estarão


disponíveis principalmente para o credor, na medida em que a falha
do devedor para executar (embora não levando a obrigação de
indenização) constitui uma violação fundamental do contrato nos
termos do artigo 25 CISG.” 9

Completa Joseph Lookofsky:

“pela Convenção, o direito à resolução do contrato é geralmente


condicionado à demonstração de uma violação fundamental. Em
casos de atraso e não entrega, no entanto, a CISG também permite a
resolução pela parte lesada à partir da falha da outra parte em prestar
após a concessão de prazo suplementar (Nachfrist), conferido em
prazo razoável para a prestação”. 10

Nesse capítulo, veremos as soluções adotadas pela Convenção como


base pelo descumprimento contratual. Peres25, a agricultura familiar é a que
remonta à lógica campesina de produção, conta com mão de obra quase que
exclusiva dos membros da família, o modelo de produção é diversificado
(policultura) e tem base em pequenas e médias propriedades rurais.

6 “Artigo 25. A violação ao contrato por uma das partes é considerada como essencial se causar à outra
parte prejuízo de tal monta que substancialmente a prive do resultado que poderia esperar do contrato,
salvo se a parte infratora não tiver previsto e uma pessoa razoável da mesma condição e nas mesmas
circunstâncias não pudesse prever tal resultado”. MARQUES Cláudia Lima, LIXINSKI Lucas (coord.). op.
cit., p. 387.
7 FRADERA, Vera Jacob de (2013) apud NALIN, Paulo; STEINER, Renata C. Atraso na Obrigação de
entrega e essencialidade do tempo do cumprimento na CISG. In: NALIN, Paulo et alia. (Org.). Compra e
Venda Internacional de Mercadorias. Curitiba: Juruá, 2014. p. 328.
8 ibidem, p. 329.
9 FERRARI, Franco; TORSELLO, Marco. op.cit., p. 329. (tradução nossa).
10 LOOKOFSKY, Joseph (2008) apud NALIN, Paulo; STEINER, Renata C. op.cit., p. 327.
!38

3.1 RESOLUÇÃO POR VIOLAÇÃO FUNDAMENTAL

Para entendermos este critério, devemos analisar de maneira a aferir a


violação fundamental: a previsibilidade (foreseeability) e a privação substancial
(substantial deprivation). Para Peter Huber e Alastair Mullis, consoante com a já
mencionada, a professora Véra Fradera, a definição inerente a estes conceitos
deverá ser feita de de maneira indeterminada frente as diversas situações que
o conceito deve abranger. Não interessa a amplitude com que o vendedor
descumpriu as obrigações contraídas para caracterizar a violação mas sim
depende da utilidade e importância para o comprador do adimplemento.11 Para
FERRARI & TORSELLO “o pré-requisito mais importante para uma violação
fundamental é a violação de uma obrigação estabelecida entre as partes, os
usos que se refere o artigo 9(2)12 da CISG, onde não há tal violação ocorreu, o
artigo 25 não pode ser aplicado.”13 Em relação à previsibilidade, deve ser
esclarecido que: “a privação causada pelo descumprimento deve ter sido
previsível. Se a parte inadimplente não previu, e uma pessoa razoável nas
mesmas circunstancias não teria previsto tal resultado, não há violação
fundamental”.14
Os autores Peter Huber e Alastair Mullis, visando delimitar o tema,
classificam a violação fundamental mediante quatro critérios para definir a
violação fundamental15:
a) especificação contratual: é aquela em que as partes podem estipular
quais as obrigações devem ser consideradas como fundamentais,
autorizando a resolução por seu descumprimento;
1. EMiguel26 destaca em seus estudos, q direção ao Norte brasileiro
é a corrente sulista, como ficara conhecida.

11 HUBER, Peter; MULLIS, Alastair (2007) apud ZARONI, Bruno Marzullo. op. cit., p. 287.
12 “Artigo 9(2). Salvo acordo em contrário, presume-se que as partes consideram tacitamente aplicáveis ao
contrato, ou á sua formação, todo e qualquer uso ou costume geralmente reconhecido e regularmente
observado no comércio internacional, em contratos do mesmo tipo no mesmo ramo de comércio, de que
tinham ou devessem ter conhecimento”. MARQUES Cláudia Lima, LIXINSKI Lucas (coord.). op. cit., p. 385.
13 FERRARI, Franco; TORSELLO, Marco. op.cit., p. 337. (tradução nossa).
14 HUBER, Peter; MULLIS, Alastair (2007) apud ZARONI, Bruno Marzullo. op. cit., p. 288-289.
15 idem
!39

2. b) gravidade da violação: será avaliada pela perspectiva do comprador


e pela interpretação objetiva do contrato, quantificando a gravidade de
conduta do vendedor;
3. c) direito do vendedor de corrigir ou reparar eventual falha em sua
prestação (right to cure): O vendedor tem a possibilidade de corrigir
algo que possa ser tido como descumprimento contratual (curability), a
menos que de sua parte queira o comprador de imediato resolver o
contrato;
4. d) teste da possibilidade de uso razoável: é fundamental verificar se o
comprador pode valer-se do uso dessas mercadorias de maneira
razoável.
5. .
Portanto, é direito do vendedor, conforme o artigo 48(1)16 da Convenção,
sanar o defeito da obrigação, pois não deve causar um atraso ou incerteza em
relação às despesas contraídas pelo comprador.17
Isso não impede que o credor, por sua vez opte pela resolução
contratual alegando o descumprimento fundamental ou opte pela concessão do
prazo. Entretanto, este deverá provar a qualidade do regime mais gravoso,
correndo os riscos do não reconhecimento judicial. portanto esta não é uma
opção livre da parte do comprador, visto a sua obrigação de provar que a
melhor solução é adotar tal medida. Deverá este atender determinados
pressupostos, evidenciado o caráter de exceção da resolução.18
Quando optar pela concessão do prazo, o contrato também poderá ser
resolvido após o prazo suplementar, veremos o chamado Nachfrist.19 s novos
espaços ocupados, e a cultura local da vida camponesa27.

16“Artigo 48(1). Sem prejuízo do disposto no artigo 49, o vendedor poderá, mesmo após a data da entrega,
sanar por conta própria qualquer descumprimento de suas obrigações , desde que isto não implique demora
não razoável nem cause ao comprador inconveniente ou incerteza não razoável quanto ao reembolso, pelo
vendedor, das despesas feitas pelo comprador. Contudo, o comprador manterá o direito de exigir
indenização das perdas e danos decorrentes do atraso no cumprimento do contrato”. MARQUES Cláudia
Lima, LIXINSKI Lucas (coord.). op. cit., p. 391.
17 ZARONI, Bruno Marzullo. op. cit., p. 290.
18NALIN, Paulo; STEINER, Renata C. Atraso na Obrigação de entrega e essencialidade do tempo do
cumprimento na CISG. In: NALIN, Paulo et alia. (Org.). Compra e Venda Internacional de Mercadorias.
Curitiba: Juruá, 2014. p. 339.
19 ibidem, p. 339.
!40

3.2 CONCESSÃO DO PRAZO SUPLEMENTAR (NACHFRIST)

Na maioria dos casos, é questionável o simples atraso do comprador no


cumprimento da prestação como causa de resolução contratual. Vemos que o
artigo 63(1)20 da CISG outorga o direito ao vendedor de estabelecer uma
extensão razoável de prazo para que o comprador possa adimplir sua
prestação.21 As razões para não considerarmos um descumprimento
fundamental nesse caso ocorrem pelo fato de que o demora não afeta o
interesse do vendedor em manter o vinculo do negócio e receber o preço e
também, porque a própria Convenção é tolerante na prorrogação do prazo.
Esse modelo de negócio que visa a concessão de prazo suplementar para o
cumprimento da obrigação teve origem na Alemanha, sendo denominado
Nachfrist22. Em casos específicos, a prorrogação do prazo pode ser
fundamental para o mantenimento do negócio, sendo que seu descumprimento
acarretará em uma violação fundamental, como em casos de variação na
cotação do preço.23
Certo que a fixação de prazo suplementar independe de autorização
jurídica pelo uso da autonomia privada. Entretanto há de se elencar que o
instituto do Nachfrist possui peculiaridades distintas e de outra forma não se
confunde com o simples prolongamento do prazo a critério de qualquer uma
das partes. Evidente que sua principal característica resulta em terminado o
prazo suplementar, declarar-se a resolução do contrato, independente de ser
configurado ou não como descumprimento essencial, o mesmo se admite
também no caso de o devedor declarar que deixará de adimplir no decorrer do
prazo.24
28. Verifica-s

20“Artigo 63(1). O vendedor poderá conceder prazo suplementar razoável para cumprimento das
obrigações que incumbirem ao comprador”. MARQUES Cláudia Lima, LIXINSKI Lucas (coord.). op. cit., p.
393.
21 ZARONI, Bruno Marzullo. op. cit., p. 304.
22 HUBER, Peter; MULLIS, Alastair (2007) apud ZARONI, Bruno Marzullo. op. cit., p. 304.
23 SCHWENZER, Ingeborg; SCHLECHTRIEM, Peter (2010) apud ZARONI, Bruno Marzullo. op. cit., loc. cit.
24 NALIN, Paulo; STEINER, Renata C. Atraso na Obrigação de entrega e essencialidade do tempo do
cumprimento na CISG. In: NALIN, Paulo et alia. (Org.). Compra e Venda Internacional de Mercadorias.
Curitiba: Juruá, 2014. p. 339.
!41

A respeito das limitações do instituto do Nachfrist, lecionam FERRARI &


TORSELLO:

“Efetivamente, o artigo 49(1)(b)24 da CISG expressamente limita a


disponibilidade para o comprador do mecanismo Nachfrist para o
caso de não-entrega. Da mesma forma, o artigo 64(1)(b)25 limita a
disponibilidade ao vendedor o mesmo mecanismo para caso de falha
do comprador em realizar sua obrigação de pagar o preço ou receber
a entrega das mercadorias”. 26

O artigo 49(1)(b) é aplicado nos casos de não-entrega, casos em que o


comprador não recebeu a mercadoria, bem assim como nos casos de falta de
pagamento. Quando a mercadoria for entregue em desconformidade, mesmo
que as partes acordem um prazo suplementar, este não contempla o instituto
do Nachfrist No Brasil, o fenômeno da modernização da agricultura foi
implementado e acelerado pelo regime militar após a década de 1960. Pautado
na lógica da “Revolução Verde”, o modelo de desenvolvimento adotado
naquela época, coincide com os grandes projetos nacionais e a industrialização
crescente em setores diversos da economia29.
Em termos contratuais, tal instituto atua em benefício do vendedor,
afirma Markus Müller-Chen “que poderá confiar no prazo suplementar que
houver fixado” Portanto, quando caracterizamos Nachfrist, basta o vencimento
do prazo e não entrega de mercadorias. De tal sorte que os prejuízos podem
ser cobrados a quem lhe deu causa, sendo que a opção de dilatação do prazo
não afasta ao credor lesado seus direitos indenizatórios. A partir do golpe
militar de 1964, aumenta a intervenção do Estado brasileiro na agricultura,
quando este direciona o seu planejamento para o setor rural e determina os

24 “Artigo 49(1)(b). no caso de falta de energia, se o vendedor não entregar as mercadorias dentro do
prazo suplementar concedido pelo comprador, conforme o parágrafo(1) do artigo 47, ou se declarar não que
não efetuará a entrega dentro do prazo assim concedido”. MARQUES Cláudia Lima, LIXINSKI Lucas
(coord.). op. cit., p. 391.
25“Artigo 64(1)(b). o comprador não cumprir a obrigação de pagar o preço, ou não receber as mercadorias
no prazo suplementar fixado pelo vendedor, de acordo com o parágrafo(1) do artigo 6, ou ainda, declarar
que não o fará no prazo assim fixado.” MARQUES Cláudia Lima, LIXINSKI Lucas (coord.). op. cit., p. 393.
26 FERRARI, Franco; TORSELLO, Marco. op.cit., p. 356. (tradução nossa).
27 MÜLLER-CHEN, Markus apud NALIN, Paulo; STEINER, Renata C. op. cit., p. 339.
28 idem, p. 340.
!42

3.3 DAS PERDAS E DANOS E DA MORA

A CISG é revestida pelo princípio de que todos os danos devem ser


reparados, salvo casos específicos de sua aplicação. Mediante o artigo 7429 da
Convenção podemos identificar o princípio geral para solucionar todo tipo de
dano, mesmo o dano pré contratual. Assim, pretende-se preservar a segurança
jurídica no ramo de aplicação do Direito Internacional Privado, infundada em
uma economia global de um comércio promissor. O sistema de perdas e danos
da CISG dessa maneira garante que possa haver o ressarcimento das partes
sempre que houver violação da normativa disposta em determinado contrato.
Essa característica pretende equalizar as partes, compensando os prejuízos.
Ainda se verificam algumas premissas extraídas do artigo 74 da Convenção,
nota-se portanto que a parte inadimplente deverá ressarcir a parte lesada na
integridade dos danos sofridos, inclusive na perda do lucro. Também assim se
encontra que o pedido de indenização está acima de todos os recursos
disponíveis. O infrator é responsável apenas pelos danos previstos ou
previsíveis no momento da celebração do contrato.30
Encontramos para o Direito positivo brasileiro, no artigo 47531 do Código
Civil, que fica a critério da parte lesada pedir o ressarcimento ou exigir o
cumprimento do contrato. Destaca-se aqui que por perdas e danos cumpre-se
os danos efetivos experimentados mais o que deixou de lucrar.32
expansão. São as forças propulsoras agindo para as transformações e
mudanças no modelo de produção agrícola30.

29 “Artigo 74. As perdas e danos decorrentes de violação do contrato por uma das partes consistirão no
valor equivalente ao prejuízo sofrido, inclusive lucros cessantes, sofrido pela outra parte em consequência
do descumprimento. Esta indenização não pode exceder à perda que a parte inadimplente tinha ou devesse
ter previsto no momento da conclusão do contrato, levando em conta os fatos dos quais tinha ou devesse
ter tido conhecimento naquele momento, como consequência do descumprimento do contrato”. MARQUES
Cláudia Lima, LIXINSKI Lucas (coord.). op. cit., p. 395.
30CORDEIRO, Adriano C. A Convenção de Viena de 1980 sobre Contratos Internacionais e seu sistema de
perdas e danos. In: NALIN, Paulo et alia. (Org.). Compra e Venda Internacional de Mercadorias. Curitiba:
Juruá, 2014. p. 310.
31 “Artigo 475CC.: A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não preferir
exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e danos”. MATIELLO,
Fabrício Zamprogna. Código civil comentado: Lei n. 10.406 de 10.01.2002 / Fabrício Zamprogna
Matiello. 3a ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 313.
32COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil, 3: contratos / Fábio Ulhoa Coelho. 4a ed. São Paulo:
Saraiva: 2010.p. 133.
!43

Já no âmbito da Convenção, a parte infratora não fica responsável pelos


danos que não eram previsíveis no momento da celebração do contrato,
mesmo nos casos de violação fundamental ou intencional, restringindo a
interpretação da previsibilidade. Por outro lado, a parte lesada tem o direito a
compensação integral dos danos sofridos. Todavia, em caso de duvidas quanto
à amplitude, a regra é a compensação integral. Em muitos cassou calcula a
diferença de valor entre o que a parte recebeu e o que deveria ter recebido.
Ressalva-se que o direito envolvido aqui é em razão do montante líquido,
subtraindo-se do montante bruto as despesas.33
Pelo fato da Convenção disciplinar as relações entre diferentes
nacionais, enfrentamos os riscos inerentes às variações de moeda no mercado
cambial, consoante ao artigo 7429 não raras, são as indenizações pela
variação, em função das taxas cambiais no mercado financeiro, evidente que
sempre há riscos quando da contratação, mas muitas vezes não configuram
perdas e danos. Na maioria das situações, visando minimizar as perdas, os
contratantes utilizam moeda distinta da corrente em seu país quando celebram
seus contratos. Na mesma integra, destaca-se ainda que não são indenizáveis
perdas não patrimoniais, como a reputação inerente à pessoa, por exemplo, ou
de determinada empresa, desestruturando a imagem comercial, levando à
perda da clientela e de lucros em seguida. Isso foi a decisão do tribunal de
Landgericht Darmstadt de 09.05.2000:34

“Nesse caso o comprador acusou o vendedor de entregar bens


defeituosos e recusando-se a pagar o preço do contrato. Na
reconvenção o comprador alegou danos resultantes de uma perda de
volume de negócios e uma perda de reputação. O tribunal nesse caso
explicou que não havia base para a reivindicação do comprador por
danos e perdas de boa vontade. O tribunal disse ainda que o
comprador não pode reivindicar uma perda de volume da negócios
por um lado, o que pode ser reembolsado na forma de lucros
cessantes, e então por outro viés, tentar obter compensação adicional
por uma perda de reputação”. 35

em condições desiguais.31
Outra curiosidade da CISG é o fato de que não há regulamentação em
relação à moeda, ou mesmo parâmetro para cálculo de danos.36

33 CORDEIRO, Adriano C. op. cit. p. 311 et seq.


34 idem
35 idem

36 idem
!44

Em virtude do inadimplemento pela essencialidade do tempo,


contemplamos o instituto da mora, como de costume iremos contemplar as
diferenças e semelhanças entre esse instituto e o ordenamento jurídico
brasileiro. Este será elencado aqui não somente dentro de sua normativa,
como também frente à doutrinária que ultrapassam as barreiras das esferas
jurídicas legais. A priori, convém salientar que o ordenamento brasileiro
reconhece o instituto já estudado Nachfrist. Por conseguinte, como vimos, não
há previsão legal na medida de concessão de postergar o prazo para satisfazer
a obrigação o que não impede que o credor venha fazê-lo, no mesmo critério o
Nachfrist poderá ser posto a termo pelas partes.37
Diferente da objetividade imposta pela CISG, o Código Civil brasileiro
rege o instituto da mora através do artigo 39538, transformando a mora em
inadimplemento absoluto. Quando analisamos o direito estrangeiro, devemos
determinar a essencialidade do tempo no cumprimento, que deve resultar em
satisfazer as expectativas contratuais legitimas da parte, não em uma simples
análise discricionária do credor. No direito brasileiro é mais simples a
qualificação da essencialidade do tempo, enquanto o credor pode pedir a
resolução do contrato conforme o já exposto artigo 47531 do ordenamento civil,
o que pode justificar o interesse do credor no caso de manter o vínculo
contratual ou de outra forma desfazê-lo. Essa conclusão afasta o princípio da
preservação contratual da CISG, não se valendo de tal critério resolutivo como
remédio específico.39 ação e na mecanização, o que acabou gerando um
avanço da t

écnica nos processos produtivos do setor agrícola brasileiro32.

37NALIN, Paulo; STEINER, Renata C. Atraso na Obrigação de entrega e essencialidade do tempo do


cumprimento na CISG. In: NALIN, Paulo et alia. (Org.). Compra e Venda Internacional de Mercadorias.
Curitiba: Juruá, 2014. p. 340.
38“Artigo 395CC.: Responde o devedor pelos prejuízos a que sua mora der causa, mais juros, atualização
dos valores monetários segundo índices oficiais regularmente estabelecidos e honorários de advogado.
Parágrafo único. Se a prestação, devido à mora, se tornar inútil ao credor, este poderá enjeitá-la e exigir a
satisfação das perdas e danos”. MATIELLO, Fabrício Zamprogna. Código civil comentado: Lei n. 10.406
de 10.01.2002 / Fabrício Zamprogna Matiello. 3a ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 268.
39 NALIN, Paulo; STEINER, Renata C. op. cit., p. 342-343.
!45

Nessa passagem, encontramos importante distinção da CISG em função


do Nachtfirst, pois quando da utilização do instituto é afastada qualquer tipo de
interpretação de caráter subjetivo como remédio resolutório, buscando o
cumprimento da obrigação.
Quando existe a discussão de cunho subjetivo, ela abarca somente
aspectos fundamentais que, conforme estudado, não possui relevância quando
houver a concessão do prazo suplementar.40
Dessa maneira, a Convenção ao possibilitar a concessão do prazo
dilatado, afasta a essencialidade do cumprimento do prazo acordado,
relativizando a mora e considerando vantagens objetivas em suas
consequências.41 Para FERRARI & TORSELLO: “Isto sugere que a lógica por
trás do mecanismo é principalmente evitar disputas sobre a natureza
fundamental do atraso da obrigação do devedor”.42
No Brasil, frente as tentativas de objetivação das relações, a
imprevisibilidade ou subjetivação da mora tende a levar a uma concepção
subjetiva tomando-se por base a parte lesada, possibilitando a resolução do
contrato.Ao depender da vontade do lesado, muitas vezes não estamos na
contemplando a melhor solução aplicável, tanto do ponto de vista contratual
como do ponto de vista jurídico e social, dentro de um cenário globalizado.43
Nesse último capítulo estudamos as consequências resultantes do
inadimplemento contratual dos contratos internacionais regidos pela
Convenção. Salientamos os critérios da violação fundamental e em seguida
vimos os remédios utilizados quando do inadimplemento em função do tempo e
vimos também quando da resolução contratual em perdas e danos sob uma
visão comparativa entre a CISG e o ordenamento jurídico brasileiro. e,
desconsiderando o passivo ambiental deixado como herança, também
propiciou uma melhor eficiência da produção, uma vez que inverteu para baixo
a curva gráfica dos custos de produção33. pela34.

40 NALIN, Paulo; STEINER, Renata C. op. cit., p. 344.


41 idem

42 FERRARI, Franco; TORSELLO, Marco. op.cit., p. 357. (tradução nossa).


43 NALIN, Paulo; STEINER, Renata C. op. cit., p. 345.
!46

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A normativa da CISG no panorama internacional, representa um avanço


para o Brasil na matéria de relações exteriores dentro do comércio
internacional. Ao ratificar a Convenção, assume o compromisso de vigorar seus
termos no que se perfaz uma ação cooperativa dentro do ambiente jurídico
bilateral de negócios, o que não retira a soberania da legislação domiciliar,
apenas nos traz uma nova perspectiva futura.
Sendo o Brasil uma nação nova nos termos da Convenção, gera
expectativa no mercado internacional acerca do comportamento cooperativo
inerente aos seus dispositivos que muitas vezes irão transpor a legislação
domiciliar para casos específicos, pelo fato de reunir culturas e idiomas de
diferentes países. Relações comerciais entre organismos políticos distintos
tendem a resultar em interpretações diversificadas da terminologia da CISG,
mesmo que seus artigos sejam bastante claros e específicos.
Para o sistema econômico, a equalização advinda da regência das
relações contratuais de compra e venda internacional trará uma maior
segurança para o país e por consequência maior giro externo. Contratantes e
negociadores se sentem mais seguros quando sabem dentro de qual esfera
estão operando, resultando em celeridade, menor número de imprevistos e
maior estabilidade.
Mesmo que por vezes se encontre algumas lacunas na Convenção, ela
pode ser utilizada com a doutrina e os princípios UNIDROIT, que auxiliam como
uma manifestação dos princípios gerais do direito, visando regulamentar a lex
mercatoria.
A Convenção pode ainda ser vista como apoio para legisladores
nacionais na elaboração de leis de Direito Contratual para tipologia geral ou
especifica em situações de lacunas na lei interna daquele país, especialmente
no que se refere a leis econômicas estrangeiras, baseadas nos padrões
internacionais atuais.
A principiologia jurídica, vinda com a Convenção requer uma série de
estudos pelos juristas brasileiros por congregar em princípios como o da boa-fé
!47

e da liberdade contratual, referidos neste trabalho aspectos jurídicos da


common law e civil law.
Levará algum tempo para perceber-se na prática os resultados para o
Brasil a partir da vigência da Convenção. Particularidades características da
transferência do risco na entrega trazidas pelos INCOTERMS, que conferem
grande detalhadamento da obrigação de entrega do vendedor, assim como as
responsabilidades referentes ao ônus das partes vinculadas. Dentro de um
contrato de compra e venda internacional há sempre um risco maior de
deteriorização da mercadoria, em função das longas distâncias a que são
submetidas. De outra parte o instituto alemão do Nachfirst, que concede a
dilatação do prazo para que a parte inadimplente cumpra sua obrigação sem
caracterizar-se em mora é algo novo para a lei brasileira e merece ser
estudado.
Sumariamente, a CISG possui aspectos divergentes em pontos-chave
para com o ordenamento doméstico brasileiro, na disciplina de organização
dos bens em contratos de compra e venda. A Convenção enfatiza mais as
particularidades das transações, dentro da necessidade de cada nicho de
mercado, enquanto o ordenamento brasileiro elucida mais as partes
envolvidas.
Recentemente, o judiciário em matéria internacional, têm se dedicado
cada vez mais a abandonar a hermenêutica litigante proveniente de regimes
doutrinários diferentes, utilizando-se de mecanismos próprios como a CISG e o
UNIDROIT, bem como a doutrina particular em cada caso, que gozem de
autonomia, livre de influências internas dos países, de maneira a completar a
lei nacional em especial das disputas entre as partes nos contratos
internacionais.
Ainda que a CISG incorpore os mais variados ordenamentos jurídicos,
ela participa deles apenas formalmente, sendo que do ponto de vista material
se reveste de caráter original, assumindo um corpo de direito especial,
desenvolvido de forma autônoma, resultado dos esforços de juízes e árbitros
no cerne de atingir aplicabilidade uniforme no mundo todo.
!48

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