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PRODUTIVIDADE, QUALIDADE FISIOLÓGICA E RESÍDUO EM SEMENTES DE TRIGO EM FUNÇÃO DA


DESSECAÇÃO COM HERBICIDAS

Lizandro Ciciliano Tavares1, Sandro de Oliveira1, Bruno Moncks Silva1, Elisa Souza Lemes1, Francisco Amaral
Villela1, Leandro Vargas2, Dirceu Agostinetto1
1
Universidade Federal de Pelotas - UFPel, Capão do Leão, RS. 2Embrapa Trigo, Passo Fundo, RS. E-mail:
[email protected]

RESUMO
Na cultura do trigo a dessecação em pré-colheita com herbicidas pode influenciar a produtividade e a
qualidade fisiológica das sementes. Diante disso, objetivou-se quantificar a produtividade, a qualidade
fisiológica e o resíduo em sementes de trigo após dessecação em pré-colheita com diferentes herbicidas. O
delineamento experimental adotado foi em blocos ao acaso, arranjados em esquema fatorial 2 x 2 x 6,
sendo o fator A constituído pelas cultivares (BRS 177 e BRS Umbu), o fator B das épocas de aplicação
[anterior a maturidade fisiológica (AMF) e posterior a maturidade fisiológica (PMF)] e, o fator C dos
herbicidas [2,4-D, paraquat, glifosato, glufosinato de amônio, metsulfuron metílico e, testemunha (sem
aplicação)] com quatro repetições. As variáveis analisadas foram o peso de mil sementes, peso hectolitro,
número de antécios por espiga, produtividade, qualidade fisiológica das sementes, através dos testes de
vigor e germinação e, resíduos nas sementes, após a aplicação dos herbicidas em pré-colheita. A
dessecação em pré-colheita com herbicida realizada em estádio posterior a maturidade fisiológica, em
geral, não altera a qualidade fisiológica e a produtividade de trigo das cultivares BRS 177 e BRS Umbu. A
aplicação de metsulfuron metílico e paraquat não apresentam efeitos residuais nos grãos, independente da
época de aplicação, enquanto a aplicação de glufosinato de amônio, glifosato e 2,4-D, quando aplicados
anterior à maturidade fisiológica, geram níveis de resíduo nos grãos de trigo.
Palavras-chave: dessecação; germinação; resíduo; Triticum aestivum L.; vigor.

YIELD, PHYSIOLOGICAL QUALITY, AND HERBICIDE RESIDUE IN WHEAT SEEDS AS A FUNCTION OF


HERBICIDE DESICCATION

ABSTRACT
In the wheat crop, pre-harvest desiccation with herbicides can influence the productivity and physiological
seed quality. The study aimed to quantify the yield, physiological seed quality, and residue in wheat seeds.
The experimental design was a randomized block design in a 2x2x6 factorial, being the factor A constituting
of wheat cultivars (BRS 177 e BRS Umbu), the factor B application stages (before and after physiological
maturation) and, factor C desiccation with different herbicides (2,4-D, paraquat, glyphosate, ammonium
glufosinate, metsulfuron-methyl, and control) with four replications. The variables analyzed were the
thousand seeds weight, hectoliter weight, number of anthecium per spike, seed yield, physiological seed
quality by the vigor tests and standard germination, and residue in wheat seeds after the application of
herbicides in pre-harvest. The desiccation in pre-harvest herbicide held at a later stage after physiological
maturity, in general, does not affect the physiological quality and seed yield of BRS Umbu and BRS 177
cultivars. The application of methyl-metsulfuron and paraquat does not show residual effects on the seed
independent of the application stage, while the application of ammonium glufosinate, glyphosate, and 2,4-
D, when applied before the physiological maturity result residue levels in wheat seed.
Keywords: desiccation; germination; residue; Triticum aestivum L.; vigour.

Colloquium Agrariae, v. 14, n.3, Jul-Set. 2018, p. 132-143. DOI: 10.5747/ca.2018.v14.n3.a235


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INTRODUÇÃO residual no solo o que propicia o controle das


No Brasil, a cultura do trigo, na última plantas daninhas infestantes na cultura
safra, ocupou aproximadamente 1,9 milhão de subsequente. Porém, cabe ressaltar, que a
hectares, com produtividade média de 2.225 kg prática de dessecação de pré-colheita pode
ha-1, sendo a região do Sul a maior produtora, deixar resíduo nos grãos e possivelmente nos
onde foram cultivados 1,7 milhão de hectares, alimentos produzidos a partir destes.
com produtividade média de 2.122 kg ha-1 Frente a isso, hipotetiza-se que a
(CONAB, 2018). Cabe destacar que, a aplicação de herbicidas seletivos ou não seletivos
produtividade média das lavouras passam por em dessecação na cultura do trigo, pode ser
muitas variações entre safras, em função das alternativa para redução da interferência de
condições ambientais que interferem muito na plantas daninhas e manutenção de qualidade,
produtividade da cultura do trigo. devido à antecipação da colheita, sem prejudicar
Um dos fatores fundamentais que pode a produtividade, a qualidade fisiológica ou deixar
favorecer o estabelecimento da cultura e que resíduos as sementes produzidas. Dessa forma,
contribui para o aumento da produtividade é o objetivou-se avaliar a produtividade, a qualidade
uso de sementes de alta qualidade. A maturidade fisiológica e o resíduo em sementes de trigo após
fisiológica identifica o momento em que cessa a a dessecação com herbicidas seletivos e não
transferência de nutrientes da planta para as seletivos.
sementes que nessa ocasião, apresentam
potencial fisiológico elevado, senão máximo MATERIAL E MÉTODOS
(MARCOS FILHO, 2015), todavia, o atraso da O experimento foi conduzido em campo,
colheita após a maturidade fisiológica, poderá no Centro Agropecuário da Palma (CAP) e no
reduzir a qualidade fisiológica das sementes Laboratório Didático de Análise de Sementes
produzidas. Dessa forma, a antecipação da LDAS, pertencentes à Universidade Federal de
colheita reduz os riscos de deterioração no Pelotas (UFPel). As unidades experimentais foram
campo e permite a obtenção de sementes de constituídas de parcelas com 1,53 x 5 m,
melhor qualidade fisiológica e sanitária, por totalizando 7,65 m2.
evitar danos que possam ocorrer no campo A semeadura foi realizada, com
devido às condições climáticas adversas, como densidade de 105 kg ha-1 de sementes de trigo,
chuvas na pré-colheita, ataques de pragas e utilizando-se semeadora regulada com
micro-organismos (VEIGA et al., 2007). espaçamento entre linhas de 0,17 m e
Neste contexto, uma forma de auxiliar a distribuição de 60 sementes por metro. O solo da
colheita de diversas culturas reduzindo a área experimental classificado como Argissolo
interferência de plantas daninhas no momento Vermelho-amarelo, de textura franco-arenosa,
da colheita e podendo melhorar a qualidade do pertencente à unidade de mapeamento Pelotas
produto colhido tem sido a aplicação de (EMBRAPA, 2013), apresentava a seguinte
herbicidas não seletivos (ALCANTARA; WEISY, composição química: pH = 6,2; CTCpH 7,0 = 8,3
1988; JEFFERY et al., 1998). A utilização dessa cmolc dm-3; M.O. = 1,9%; teor de argila = 16%;
prática acelera o processo de perda de água pelas fósforo (P) = 7,2 mg dm-3; potássio (K) = 87 mg
plantas e, consequentemente das sementes, dm-3. As sementes foram tratadas com Vitavax-
antecipando a colheita e diminuindo o período de Thiram 200 SC® na dose de 2,5 mL kg-1 de
exposição prolongada à condições adversas que semente e Cruiser® na dose de 0,5 mL kg-1 de
ocasionam deterioração após a maturidade semente, sendo o volume de calda utilizado de
fisiológica (GRIFFIN et al., 2010). Os herbicidas 13 mL kg-1 de semente. O controle de plantas
glufosinato de amônio, paraquat, diquate e daninhas, doenças e insetos e as demais práticas
glifosato, vêm sendo cogitados como produtos de manejo foram realizadas conforme as
possíveis de serem utilizados para a dessecação recomendações para a cultura (INFORMAÇÕES...,
em pré-colheita de trigo, uma vez que não 2011). Para adubação de base foi utilizado 288 kg
existem produtos registrados para esta ha-1 (04-11-09), conforme a análise química do
finalidade. Além desses, herbicidas como 2,4-D e solo, enquanto a adubação nitrogenada em
metsulfuron têm sido preconizados para cobertura foi realizada no afilhamento e anterior
utilização na pré-colheita, visando o controle de a diferenciação.
plantas daninhas de difícil controle ou resistentes Os tratamentos foram distribuídos em
a herbicidas e, em alguns casos, gerando efeito delineamento de blocos ao acaso, arranjados em

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esquema fatorial 2 x 2 x 6, sendo os cultivares (“germitest”), previamente umedecido com água


(BRS 177 e BRS Umbu), épocas de aplicação destilada, utilizando-se a proporção 2,5 vezes a
(anterior a maturidade fisiológica (AMF) e massa do papel seco, e mantido à temperatura
posterior a maturidade fisiológica (PMF)) e de 20 °C em 12/12 horas de fotoperíodo. As
herbicidas (2,4-D (2,4-D Nortox 200®), na dose de avaliações foram efetuadas conforme as Regras
1,5 L ha-1; paraquat (Gramoxone®), na dose de 2,0 para Análise de Sementes (BRASIL, 2009) aos oito
L ha-1; glifosato potássico (Zapp QI 620®), na dose dias após a semeadura.
de 4,2 L ha-1; glufosinato de amônio (Finale®), na Primeira contagem da germinação (PCG)
dose de 2,0 L ha-1; metsulfuron metílico (Ally®), na - constou da determinação da percentagem de
dose de 6,6 g ha-1; e, testemunha (sem plântulas normais aos quatro dias, após a
aplicação)) com quatro repetições. Para a semeadura, por ocasião da realização do teste de
aplicação dos herbicidas utilizou-se pulverizador germinação.
costal pressurizado com CO2, equipado com Envelhecimento acelerado (EA) - foi
quatro pontas 110 015 do tipo leque, calibrado utilizado caixa gerbox com tela metálica
para aplicar o volume de calda de 150 L ha-1. horizontal fixada na posição mediana. Foram
A colheita foi realizada quando as adicionados 40 mL de água destilada ao fundo de
cultivares apresentavam em média teor de cada caixa gerbox, e sobre a tela distribuídas as
umidade de aproximadamente 16%, realizado sementes a fim de cobrir a superfície da tela,
através da coleta de uma amostra na parcela e constituindo uma única camada. Em seguida, as
submetidos ao método de estufa 105 ± 3 °C por caixas contendo as sementes foram tampadas e
24 horas (BRASIL, 2009). Os componentes da mantidas em incubadora do tipo BOD, a 41 °C,
produtividade, número de sementes por espiga por 72 horas. Após este período, as sementes
(NSE) e número de antécios por espiga (NAE) foram submetidas ao teste de germinação,
foram analisados em 10 espigas coletadas conforme descrito anteriormente. A avaliação
aleatoriamente em cada parcela. ocorreu após quatro dias, sendo os resultados
As parcelas foram colhidas em área útil expressos em percentagem de plântulas normais
de 3,57 m-2 (7 linhas X 3 m) e trilhadas para (MARCOS FILHO, 1999).
avaliação das variáveis: Produtividade (PR): Teste de frio (TF) - foram utilizadas quatro
obtido pela pesagem das sementes de cada repetições de 50 sementes por tratamento,
parcela, transformado para kg ha-1 e corrigido distribuídas em substrato de papel de
para 13% de umidade; peso hectolitro (PH): germinação “germitest”, previamente umedecido
realizada com quatro repetições por unidade com água destilada utilizando-se 2,5 vezes a
experimental em balança analítica, com massa do papel seco. Os rolos foram colocados
capacidade de 1 litro de sementes, sendo o no interior de sacos plásticos e mantidos em
resultado expresso em kg hL-1; e, peso de mil refrigerador a 10 °C, durante sete dias. Após este
sementes (PMS): determinada em oito repetições período, procedeu-se o teste de germinação
de 100 sementes por unidade experimental. conforme descrito anteriormente. A avaliação
Para análise de resíduos nas sementes ocorreu após quatro dias, sendo os resultados
(RS), as amostras foram armazenadas em expressos em percentagem de plântulas normais
congelador, imediatamente após a colheita e, (CÍCERO; VIEIRA, 1994).
posteriormente, acondicionadas em caixas de Comprimento de parte aérea (CPA) e raiz
isopor com gelo seco e encaminhadas para (CR) - realizado no quarto dia após a montagem
análise de resíduos de agrotóxicos no Laboratório do teste de germinação, sendo dez plântulas
Bioensaios Análises e Consultoria Ambiental escolhidas aleatoriamente, obtidas a partir da
Ltda., Viamão-RS. As análises quantitativas foram semeadura de quatro repetições de 20 sementes,
realizadas em cromatógrafo líquido de alta no terço superior da folha de papel do tipo
eficiência (CLAE), acoplado a espectrômetro germitest umedecidas 2,5 vezes o seu peso. Os
massa/massa (LC/MS/MS), modelo API 4000 da rolos foram postos em germinador regulado a
AB SCIEX. 20°C. Determinou-se o comprimento total e da
A qualidade fisiológica das sementes foi parte aérea das plântulas, com auxílio de régua
avaliada pelos testes de: milimétrica, sendo o comprimento da raiz
Germinação (G) - realizada com quatro determinado pela diferença entre o comprimento
repetições de 50 sementes para cada tratamento, total e o comprimento da parte aérea
em substrato de papel de germinação (NAKAGAWA, 1999).

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Os dados foram analisados quanto à verificou-se interação entre herbicidas e


normalidade (Teste de Shapiro-Wilk) e cultivares (F=8,16; p=3,82E-6) (Tabela 3). Para as
homocedasticidade (Teste de Hartley), e variáveis número de sementes por espiga (NSE)
posteriormente submetidos à análise de variância (F=4,47; p=0,04) e peso de mil sementes (PMS)
(teste F), sendo significativa, realizou-se teste “t” (F=19,53; p=3,43E-5) evidenciou-se apenas efeito
para os dados de cultivar e épocas; e, teste de principal de cultivar (Tabela 4). As variáveis
Duncan para os dados de herbicidas todos a 5% germinação (G) (F=3,00 ; p=0,016), teste de frio
de probabilidade. (TF) (F=16,27; p= 1,03E-10) e envelhecimento
acelerado (EA) (F=3,28; p=0,010) apresentaram
RESULTADOS E DISCUSSÃO interação significativa entre cultivar, épocas de
As variáveis número de antécios por aplicação e herbicidas (Tabelas 5 e 6).
espiga (NAE) e produtividade (PR) de trigo não A não diferença observada para as
apresentaram interação ou efeito principal variáveis NAE e PR pode ser decorrente da
(dados não apresentados). Observou-se interação aplicação dos herbicidas ter sido realizada
entre cultivares e épocas de aplicação dos próximo ao final do ciclo das plantas, ou seja,
herbicidas para as variáveis primeira contagem nesta fase os caracteres agronômicos de
da germinação (PCG) (F=29,63; p=6,88E-7), produtividade e número de antécios já estavam
comprimento da parte aérea (CPA) (F=8,19; definidos.
p=0,006), comprimento de raiz (CR) (F=8,57; Ao analisar-se a época de aplicação dos
p=0,005) e peso hectolitro (PH) (F=17,71; herbicidas, constatou-se que para as variáveis
p=7,31E-5) (Tabela 1). Houve interação entre PCG, CPA, CR e PH, em ambas cultivares, foram
épocas de aplicação e herbicidas para as variáveis observados resultados inferiores na primeira
primeira contagem de germinação (PCG) (F= época de aplicação, comparativamente a segunda
19,73; p=0), comprimento da parte aérea (CPA) (Tabela 1). Isso pode ter ocorrido, pelo fato de,
(F=8,52; p=2,24E-6), comprimento de raiz (CR) na segunda época de aplicação, as sementes
(F=46,44; p=0), peso de mil sementes (PMS) estarem em estádio mais avançado, interferindo
(F=7,69; p=7,68E-6) e peso hectolitro (PH) de forma menos acentuada nas variáveis.
(F=23,96; p=0) (Tabela 2). Para a variável PCG

Tabela 1. Primeira contagem de germinação (PCG), comprimento de parte aérea (CPA), comprimento de
raiz (CR) e peso hectolitro (PH) de sementes de cultivares de trigo, obtidas de plantas sob ação de
herbicidas aplicados anterior (AMF) e posterior (PMF) à maturidade fisiológica das sementes.
PCG (%) CPA (cm) CR (cm) PH (kg ha-1)
Cultivar Época de aplicação dos herbicidas
AMF PMF AMF PMF AMF PMF AMF PMF
BRS 177 41 1Ba 58 A a 7,2 B b 9,0 Aa 11 Ba 15 Aa 73,91 Bb 76,01 Ab
BRS Umbu 43 Ba 47A b 8,1 B a 8,8 Aa 11 Ba 13 Ab 75,82 Ba 76,57 Aa
C.V. (%) 12,5 11,4 10,2 1,0
1
Médias na linha, em cada cultivar, seguidas por mesma letra maiúscula, não diferem entre si pelo teste t (p≤0,05).
Médias na coluna, em cada época de aplicação dos herbicidas, seguidas por mesma letra minúscula, não diferem
entre si pelo teste t (p≤0,05).

Comparando-se as cultivares BRS 177 e de aplicação não foi observada diferença entre as
BRS Umbu, em cada época de aplicação dos cultivares.
herbicidas, observou-se que para o vigor, obtido Para a variável CR das plântulas, ambas as
pela PCG, não ocorreu diferença quando os grãos cultivares não diferiram para a aplicação dos
estavam em estádio anterior a maturidade herbicidas ocorrida na primeira época de
fisiológica; enquanto, quando os grãos aplicação, no entanto a cultivar BRS 177
avançaram para o estádio posterior a maturidade apresentou maior CR para a aplicação dos
fisiológica, a cultivar BRS 177 apresentou herbicidas realizada na segunda época (Tabela 1).
resultado superior a cultivar BRS Umbu (Tabela Infere-se que esses resultados possam ter
1). Para o CPA das plântulas, a cultivar BRS Umbu ocorrido em virtude da cultivar BRS 177 ser de
mostrou-se superior a cultivar BRS 177, na ciclo médio, enquanto a cultivar BRS Umbu ser de
primeira época, ao passo que na segunda época ciclo tardio, ou seja, na segunda época de

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aplicação dos herbicidas as plantas da cultivar anterior ao da maturidade fisiológica com os


BRS Umbu poderiam ainda estar translocando herbicidas paraquate ou glifosato, foram as mais
assimilados para sementes, sofrendo prejudiciais ao vigor das sementes, entretanto,
interferência da aplicação dos herbicidas. no estádio posterior ao da maturidade fisiológica,
O PH das sementes de trigo da cultivar o glifosato continuou afetando negativamente a
BRS Umbu foi superior ao da cultivar BRS 177, nas qualidade das sementes.
duas épocas de aplicação dos herbicidas (Tabela O CPA observado em plantas submetidas
1). Em trabalho que avaliaram sementes de trigo à aplicação dos herbicidas glifosato e paraquat,
provenientes da aplicação de paraquate ou na primeira época de aplicação, apresentaram
glufosinato de amônio em pré-colheita, na fase resultados inferiores aos demais tratamentos,
de grão leitoso, foram observados valores sendo que esse resultado também foi observado
reduzidos no PH, o que prejudicou a qualidade para CR (Tabela 2). A aplicação dos herbicidas
das sementes (SANTOS; VICENTE, 2009). Esses metsulfuron metílico, glufosinato de amônio ou
resultados corroboram os da presente pesquisa, 2,4-D, não influenciaram o CPA, não diferindo do
pois a aplicação dos herbicidas na primeira época tratamento testemunha. Na segunda época de
(anterior a maturidade fisiológica) de aplicação aplicação, não se verificou influência da aplicação
reduziu o PH e a qualidade das sementes dos herbicidas no CPA. Todavia, o CR das
comparativamente à segunda época de aplicação. plântulas foi afetado negativamente pela
Ao comparar o vigor das sementes de aplicação do herbicida paraquat tanto na
trigo obtido pelo teste de PCG, nas duas épocas primeira como na segunda época de aplicação.
de aplicação dos herbicidas, observou-se maior Constatou-se ainda, que a aplicação dos
porcentagem de plântulas normais na segunda herbicidas glufosinato de amônio, 2,4-D,
época de aplicação, quando utilizado os metsulfuron metílico ou glifosato não diferiram
herbicidas metsulfuron metílico ou paraquat do tratamento testemunha, não influenciando o
(Tabela 2). A aplicação realizada no estádio CR das plântulas.

Tabela 2. Primeira contagem de germinação (PCG), comprimento de parte aérea (CPA) e comprimento de
raiz (CR) das plântulas, peso de mil sementes (PMS) e peso hectolítrico (PH) de sementes de cultivares de
trigo, obtidas de plantas submetidas a diferentes herbicidas aplicados anterior (AMF) e posterior (PMF) à
maturidade fisiológica das sementes.
Época de Aplicação dos Herbicidas
Herbicida3 PCG (%) CPA (cm) CR (cm) PMS (g) PH (kg hl-1)
AMF PMF AMF PMF AMF PMF AMF PMF AMF PMF
1
2,4-D 54 Aa 49 Abc 8,8 Aa 8,6 Aa 15,9 Aa 14,2 Bab 29,40 Aa 29,98 Aa 76,00 Aa 76,35 Aa
Metsulfuron
49 Bab 59 Aa 8,0 Aa 8,7 Aa 13,1 Ab 14,3 Aab 30,51 Aa 30,54 Aa 76,74 Aa 76,35 Aa
Metílico
Glufosinato
50 Aab 50 Abc 8,3 Aa 8,8 Aa 13,7 Ab 14,6 Aa 26,34 Bb 29,88 Aa 72,34 Bc 76,30 Aa
de Amônio
Glifosato 25 Bc 44 Ac 6,4 Bb 9,0 Aa 4,1 Bd 13,8 Aab 27,42 Bb 29,58 Aa 73,81 Bb 76,25 Aa
Paraquat 27 Bc 58 Aa 5,8 Bb 9,1 Aa 6,1 Bc 13,0 Ab 26,62 Bb 30,68 Aa 73,57 Bb 76,47 Aa
Sem
45 Bb 54 Aab 8,7 Aa 9,2 Aa 13,2 Ab 14,1 Aab 30,01 Aa 30,60 Aa 76,71Aa 76,01 Aa
Aplicação
C.V. (%) 12,5 11,4 10,2 4,2 1,0
1
Médias na linha, em cada herbicida, seguidas pela mesma letra maiúscula, não diferem entre si pelo teste t (p≤0,05).
Médias na coluna, em cada época, seguidas pela mesma letra minúscula não diferem entre si pelo teste de Duncan
(p≤0,05).

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O uso dos herbicidas paraquat, diquat ou graminicida fluazifop-p-butil (0, 15, 30, 45 e 60 g
diuron não afetaram a qualidade fisiológica das ha-1) aplicadas aos 23 dias após a emergência da
sementes de soja, independentemente do soja, e dessecadas com paraquat (400 g ha-1 +
estádio de aplicação, no entanto, a aplicação de 0,55 L de espalhante adesivo Aterbane) nos
glifosato prejudicou a qualidade das sementes, estádios R7 e R8 da soja, não provocou alteração
provocando ainda, fitotoxicidade no sistema na massa de 100 sementes (SILVA et al., 2006).
radicular das plântulas (DALTRO et al., 2010). Ao comparar as cultivares no teste de
Analisando a primeira época de aplicação PCG, observou-se que os herbicidas 2,4-D ou
dos herbicidas, observou-se que os herbicidas glifosato, na cultivar BRS Umbu, apresentaram
glufosinato de amônio, glifosato ou paraquate maior porcentagem de plântulas normais que a
reduziram o PMS, sendo que a aplicação de 2,4-D cultivar BRS 177 (Tabela 3). Por outro lado, a
ou metsulfuron metílico não influenciaram a cultivar BRS 177 apresentou desempenho
variável, não diferindo da testemunha (Tabela 2). superior ao se utilizar os herbicidas metsulfuron
Na segunda época de aplicação dos herbicidas, metílico, paraquate ou no tratamento
não se verificou influência da aplicação dos testemunha. Analisando-se a aplicação dos
herbicidas no PMS de trigo. herbicidas em cada cultivar, verificou-se que o
A aplicação do herbicida glufosinato de tratamento com metsulfuron metílico na cultivar
amônio reduziu o PH das sementes de trigo, BRS 177 proporcionou maior porcentagem de
assim como a aplicação de glifosato ou paraquat plântulas normais, comparativamente aos demais
(Tabela 2). Na segunda época de aplicação dos herbicidas, porém não diferindo do tratamento
herbicidas, não se detectou efeito negativo, testemunha, enquanto que na cultivar BRS
assim como constatado para PMS e no CPA. Umbu, apenas o tratamento com 2,4-D foi
Contrariamente a este resultado, o PMS não superior aos demais. A aplicação dos herbicidas
diferiu entre as épocas de aplicação dos glifosato, paraquat + diuron ou glufosinato de
herbicidas paraquat ou glufosinato de amônio, amônio, em diferentes doses em pré-colheita,
após o florescimento das plantas de trigo afetou a primeira contagem de germinação,
(SANTOS; VICENTE, 2009). Da mesma forma, a assim como a germinação de sementes de
avaliação da dessecação em pré-colheita de soja azevém remanescentes, quando comparadas
consorciada com Brachiaria brizanta cv. com a testemunha (CAMPOS et al., 2012).
Marandu, onde foram aplicadas cinco doses do

Tabela 3. Primeira contagem de germinação (PCG) de sementes de duas cultivares de trigo, obtidas de
plantas sob a ação de diferentes herbicidas, em duas épocas de aplicação.
PCG (%)
Herbicida Cultivar
BRS 177 BRS Umbu
1
2,4-D 49 Bc 55 Aa
Metsulfuron Metílico 60 Aa 48 Bb
Glufosinato de Amônio 52 Abc 48 Bb
Glifosato 31 Bd 38 Ac
Paraquat 46 Ac 38 Bc
Sem Aplicação 55 Aab 44 Bbc
C.V. (%) 12,5
1
Médias na linha, em cada herbicida, seguidas por mesma letra maiúscula não diferem entre si pelo teste t (p≤0,05).
Médias na coluna, em cada cultivar, seguidas por mesma letra não diferem entre si pelo teste de Duncan (p≤0,05).

Ao analisar-se o NSE e o PMS, constata-se que que estas variáveis são influenciadas
em ambas as variáveis, a cultivar BRS Umbu foi principalmente por características genéticas das
superior a cultivar BRS 177 (Tabela 4). Infere-se cultivares, não sofrendo desta forma efeito

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acentuado da aplicação dos herbicidas, sendo já estavam definidas.


realizado no estádio em que estas características

Tabela 4. Número de sementes por espiga (NSE) e peso de mil sementes (PMS) de cultivares de trigo,
obtidas de plantas submetidas à aplicação de diferentes herbicidas, em duas épocas de aplicação.
Cultivar NSE PMS (g)
BRS 177 30 b1 28,7 b
BRS Umbu 32 a 29,8 a
C.V. (%) 13,0 4,2
1
Médias na coluna, seguidas por mesma letra minúscula não diferem entre si pelo teste t (p≤0,05).

Ao analisar o fator época de aplicação para a Analisando-se a cultivar BRS Umbu, constatou-
variável G, observou-se que na cultivar BRS 177 se que a aplicação dos herbicidas 2,4-D ou
os tratamentos com os herbicidas 2,4-D, metsulfuron metílico na primeira época
metsulfuron metílico, glufosinato de amônio, proporcionaram maior porcentagem de plântulas
glifosato ou paraquat apresentaram resultados normais na G, enquanto que os herbicidas
inferiores na aplicação anterior à maturidade glifosato ou paraquat geraram sementes com
fisiológica (Tabela 5). Esse fato pode ter ocorrido menor G (Tabela 5). Infere-se que tanto o
em virtude das sementes não terem atingido a herbicida glifosato como o paraquat tenham
maturidade fisiológica, uma vez que antes desse obtido desempenho superior na segunda época
ponto as sementes ainda estão em formação e a de aplicação, em virtude de na primeira época, as
planta-mãe pode ainda estar translocando sementes não terem atingido a maturidade
fotoassimilados para a semente e, com a fisiológica, conforme discutido anteriormente. O
dessecação, ocorre a paralisação desse uso de doses dos herbicidas dessecantes
fornecimento e consequentemente reduzindo a paraquat ou glifosato, aplicados entre os estádios
qualidade das sementes (PELÚZZIO et al., 2008). 11.2 e 11.3, não prejudicaram a germinação de
A dessecação prematura afeta a síntese de cevada e não aceleraram o processo de redução
proteínas, bem como a de enzimas essenciais ao da germinação ao longo do período de
desenvolvimento da semente e da germinação, armazenagem (CAIERÃO; ACOSTA, 2007).
podendo resultar em perda completa da
viabilidade das sementes (MARCOS FILHO, 2015).

Tabela 5. Germinação (G) de sementes de trigo de duas cultivares, obtidas de plantas submetidas à
aplicação de herbicidas anterior (AMF) e posterior (PMF) à maturidade fisiológica das sementes.
G (%)
Herbicida BRS 177 BRS Umbu
AMF PMF AMF PMF
2,4-D 89 Baα 94 Aaα 84 Aaα 65 Baβ
Metsulfuron
81 Baα 95 Aaα 83 Aabα 75 Aaβ
Metílico
Glufosinato
81 Baα 91 Aaα 73 Abα 73 Aaβ
de Amônio
Glifosato 30 Bbβ 86 Aaα 52 Bcα 73 Aaβ
Paraquat 34 Bbα 96 Aaα 31 Bdα 66 Aaβ
Sem Aplicação 88 Aaα 87 Aaα 73 Abβ 72 Aaβ
C.V.% 9,4
1
Médias seguidas por mesma letra maiúscula, na linha, em cada herbicida e cultivar não diferem entre si pelo teste t
(p≤0,05). Médias seguidas por mesma letra minúscula, na coluna, em cada época de aplicação dos herbicidas não

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diferem entre si pelo teste de Duncan (p≤0,05). Médias seguidas por mesmas letras gregas, comparando cultivares
dentro de cada herbicida e época de aplicação, não diferem entre si pelo teste t (p≤0,05).
Os tratamentos 2,4-D, metsulfuron metílico, acentuada no vigor das sementes na primeira
glufosinato de amônio ou o tratamento época de aplicação pode ter ocorrido em virtude
testemunha, para a cultivar BRS 177, na primeira das sementes não terem atingido a maturidade
época de aplicação, apresentaram maior G, fisiológica (grau de umidade das sementes
sendo que a aplicação dos herbicidas glifosato ou próximo a 35%). Na segunda época de aplicação
paraquat reduziram drasticamente a G (Tabela 5). (posterior à maturidade fisiológica), as sementes
Na cultivar BRS Umbu, entretanto, a aplicação do não apresentavam mais translocação de
herbicida 2,4-D apresentou maior porcentagem fotoassimilados com a planta mãe, não afetando
de germinação. Na segunda época de aplicação o vigor das mesmas.
dos herbicidas não se verificou diferença entre os Ao comparar as cultivares, na primeira época
tratamentos em ambas as cultivares, de aplicação (AMF), para a variável teste de frio,
confirmando que a aplicação de herbicidas deve a cultivar BRS 177 mostrou superioridade ao
ocorrer após a maturidade fisiológica das utilizar o herbicida 2,4-D, ao passo que, ao se
sementes, estádio em que as sementes empregar glifosato, a cultivar BRS Umbu
encontram-se com aproximadamente 35% de apresentou maior porcentagem de plântulas
umidade. normais no teste de frio (Tabela 6). Na segunda
Em estudo realizado com soja, a maior época de aplicação, a cultivar BRS 177
porcentagem de germinação foi observada nas apresentou maior vigor das sementes nos
sementes colhidas nos estádios R7 e R8, em tratamentos com 2,4-D e testemunha.
comparação ao estádio R6, sendo que ao Ao comparar herbicidas, para a variável teste
comparar no decorrer das épocas de de frio, observou-se que os herbicidas 2,4-D,
amostragens após a aplicação dos dessecantes metsulfuron metílico, glufosinato de amônio e a
(glifosato ou paraquat) houve redução da testemunha apresentaram resultados superiores
qualidade fisiológica das sementes no estádio R8, para a cultivar BRS 177, na primeira época de
sendo esse fato atribuído ao maior tempo de aplicação (Tabela 6). Na segunda época, os
permanência no campo (MARCANDALLI et al., tratamentos que promoveram maior vigor no TF
2011). No entanto, foram observadas reduções foram os com 2,4-D e metsulfuron metílico, os
na qualidade das sementes de cevada, ao longo quais, no entanto, não diferiram dos tratamentos
do tempo, com o uso de dessecantes em pré- com glufosinato de amônio, glifosato e a
colheita (MOORE; JETTNER, 2002). testemunha. Na cultivar BRS Umbu, na primeira
Para o vigor das sementes, avaliado pelo TF, época de aplicação, o tratamento com
ao comparar as épocas de aplicação dos glufosinato de amônio foi o que apresentou
herbicidas em ambas as cultivares, verificou-se maior vigor, quando avaliado pelo teste de frio,
que a aplicação de glifosato ou paraquat não diferindo dos tratamentos com metsulfuron
causaram drástica redução do vigor, na aplicação metílico ou testemunha. Já, na segunda época de
anterior à maturidade fisiológica (Tabela 6). aplicação, para a cultivar BRS Umbu, não houve
Entretanto, para a aplicação dos herbicidas, de diferença entre os tratamentos, o que pode
maneira geral, observou-se, na segunda época, decorrer das sementes já terem passado da
que as sementes proporcionaram maior maturidade fisiológica, ou seja, não estavam
percentual de plântulas normais. A redução recebendo nutrientes das plantas.

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Tabela 6. Teste de frio (TF) e envelhecimento acelerado (EA) de sementes de trigo de duas cultivares,
obtidas de plantas submetidas a diferentes herbicidas aplicados anterior (AMF) e posterior (PMF) à
maturidade fisiológica das sementes.
TF (%) EA (%)
Herbicida BRS 177 BRS Umbu BRS 177 BRS Umbu
AMF PMF AMF PMF AMF PMF AMF PMF
1
2,4-D 92 Aaα 92 Aaα 84 Abβ 85 Aaβ 45 Aaα 49 Aaα 31 Aabβ 28 Aaβ
Metsulfuron
92 Aaα 92 Aaα 88 Aabα 87 Aaα 40 Aabα 37 Abα 37 Aaα 30 Aaβ
Metílico
Glufosinato
93 Aaα 91 Aaα 91 Aaα 88 Aaα 35 Bbα 52 Aaα 27 Abβ 26 Aaβ
de Amônio
Glifosato 40 Bcβ 90 Aaα 72 Bcα 87 Aaα 14 Bcα 45 Aabα 18 Bcα 32 Aaβ
Paraquat 59 Bbα 85 Abα 61 Bdα 84 Aaα 7 Bcα 40 Abα 6 Bdα 30 Aaβ
Sem Aplicação 91 Aaα 90 Aaα 88 Aabα 84 Aaβ 47 Aaα 45 Aabα 28 Abβ 29 Aaβ
C.V.% 4,1 16,6
1
Médias seguidas por mesma letra maiúscula, na linha, em cada herbicida e cultivar não diferem entre si pelo teste t
(p≤0,05). Médias seguidas por mesma letra minúscula, na coluna, em cada época de aplicação dos herbicidas não
diferem entre si pelo teste de Duncan (p≤0,05). Médias seguidas por letras gregas (α ou β), comparam cultivares
dentro de cada herbicida e época de aplicação, pelo teste t (p≤0,05).

No teste de EA, comparando-se as épocas de apresentou desempenho superior nos


aplicação dos herbicidas, observou-se que os tratamentos com 2,4-D ou glufosinato de
tratamentos com glufosinato de amônio, amônio, não sendo diferentes do tratamento
glifosato ou paraquat promoveram maior com glifosato ou testemunha, sendo que na
porcentagem de plântulas normais, na aplicação cultivar BRS Umbu não se verificou diferença
na segunda época, para a cultivar BRS 177 entre os tratamentos utilizados.
(Tabela 6). Para a cultivar BRS Umbu, quando A prática de dessecação pré-colheita na
aplicado os herbicidas glifosato ou paraquat, na cultura do trigo, além de antecipar e uniformizar
segunda época, observou-se resultados a colheita pode propiciar controle de plantas
superiores comparativamente com a primeira daninhas de difícil controle em cultura
época. Para a comparação de cultivares, na subsequente. Essa prática requer vários cuidados,
primeira época de aplicação, a cultivar BRS 177 visto que a antecipação ou atraso da dessecação
apresentou sementes mais vigorosas, quando com herbicidas pode acarretar em efeitos
avaliadas pelo teste de envelhecimento prejudiciais na produtividade, na qualidade de
acelerado, nos tratamentos 2,4-D, glufosinato de grãos e sementes, além de causar resíduos nos
amônio ou testemunha, não tendo diferença grãos. Assim, a aplicação deve ser realizada após
entre os demais tratamentos. Na segunda época a maturação fisiológica, quando cessa a produção
de aplicação, a cultivar BRS 177 apresentou maior de fotoassimilados para os grãos/sementes e
porcentagem de plântulas normais no teste de esses apenas perdem água, não havendo riscos
envelhecimento acelerado em todos os de perdas de produção. A recomendação mais
tratamentos. Ao comparar-se os herbicidas, segura é a aplicação com os grãos com umidade
constatou-se que na primeira época de aplicação, entre 30 e 35% de água (MUNDSTOCK, 1999).
para a cultivar BRS 177, os tratamentos com 2,4- O Ministério da Agricultura, Pecuária e
D ou testemunha foram os que promoveram Abastecimento, na instrução normativa número
sementes mais vigorosas, quando avalaidas no 26 de 8 de outubro de 2010, estabelece os limites
teste de envelhecimento acelerado, não máximos de resíduos de alguns herbicidas em
diferindo, porém do tratamento com metsulfuron grãos de trigo para consumo, sendo que para 2,4-
metílico. Para a cultivar BRS Umbu, o tratamento D, glifosato e metsulfuron metílico os valores são
com metsulfuron metílico ou 2,4-D foram os que de 0,20; 0,05 e 0 mg kg-1 de grãos,
apresentaram sementes mais vigorosas. Na respectivamente (BRASIL, 2010). Vale ressaltar
segunda época de aplicação, a cultivar BRS 177 que os herbicidas 2,4-D, metsulfuron metílico ou

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glifosato apesar de apresentarem limites observou residual, quando aplicado posterior à


máximos de resíduos estabelecidos na legislação, maturidade fisiológica nas duas cultivares, porém
não são registrados para prática de dessecação quando aplicado em estádio anterior à
em pré-colheita na cultura do trigo, assim como maturidade fisiológica gerou ação residual nos
os herbicidas glufosinato de amônio ou paraquat. grãos, nas cultivares BRS 177 e BRS Umbu. Apesar
A aplicação dos herbicidas metsulfuron do glufosinato de amônio ter sido cogitado como
metílico (seletivo e sistêmico) ou paraquat (não produto possível de ser utilizado para a
seletivo e contato) quando aplicados anterior a dessecação pré-colheita de trigo e cevada
maturidade fisiológica ou posterior a maturidade (INFORMAÇÕES..., 2011), verificou-se que o
fisiológica, nas cultivares BRS 177 ou BRS Umbu, herbicida se aplicado em estádio anterior à
não apresentaram efeito residual nos grãos maturidade fisiológica pode apresentar residual
(Tabela 7). Para o herbicida glufosinato de nos grãos prejudiciais a saúde.
amônio (não seletivo e contato) também não se
Tabela 7. Análise residual de grãos de trigo, anterior (AMF) e posterior (PMF) a maturidade fisiológica, após
a dessecação com herbicidas.
Estádio Fenológico de Resultado (mg kg-1 de LOQ 1 (mg kg-1 de
Cultivar Herbicida
Aplicação grãos) grãos)
2
Metsulfuron AMF ND 0,01
Metílico PMF ND 0,01
Glufosinato de AMF 0,48 0,01
Amônio PMF ND 0,01
BRS 177 AMF ND 1
Paraquat
PMF ND 1
AMF 33,08 0,1
Glifosato
PMF 0,51 0,1
AMF 0,01 0,01
2,4-D
PMF ND 0,01
Metsulfuron AMF ND 0,01
Metílico PMF ND 0,01
Glufosinato de AMF 0,27 0,01
Amônio PMF ND 0,01
BRS AMF ND 1
Paraquat
Umbu PMF ND 1
AMF 22,17 0,1
Glifosato
PMF ND 0,1
AMF ND 0,01
2,4-D
PMF ND 0,01
1 2
LOQ: Limite de quantificação; ND: < que o limite de detecção.

Quando aplicado glifosato (não seletivo e quantificação, quando a aplicação foi realizada
sistêmico) observou-se residual na cultivar BRS anterior a maturidade fisiológica.
177 nos dois estádios de aplicação, porém, para a Os limites máximos de resíduos de herbicidas
cultivar BRS Umbu verificou-se efeito residual estabelecidos pela legislação em grãos de trigo
somente na aplicação realizada anterior a partem do pressuposto de que sejam respeitadas
maturidade fisiológica (Tabela 7). as modalidades de aplicação, dosagens e prazos
Para o herbicida 2,4-D (seletivo e sistêmico) de carência. O limite máximo de resíduo de
não foram observados efeito residual nos grãos glifosato é de 0,05 mg kg-1 de grãos, sendo que
da cultivar BRS Umbu, nos dois estádios detectou-se 33,08 e 22,17 mg kg-1 de grãos nas
fenológicos de aplicação, enquanto para a cultivares BRS 177 e BRS Umbu, respectivamente,
cultivar BRS 177 verificou-se residual, no limite de quando a aplicação foi realizada anterior a

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maturidade fisiológica, já quando aplicou-se Technology, v.2, p.410-413, 1988.


posterior a maturidade fisiológica os resíduos https://doi.org/10.1017/S0890037X00032176
foram de 0,51 mg kg-1 de grãos na cultivar BRS
177 e não conseguiu-se determinar resíduos na ANVISA. Agência Nacional de Vigilância
cultivar BRS Umbu. Sanitária. http://portal. anvisa.gov.br/registros-e-
O limite máximo de resíduo permitido pela autorizacoes/agrotoxicos/produtos/ monografia-
legislação vigente para o herbicida 2,4-D é de de-agrotoxicos/autorizadas. Acesso em: 17 de
0,20 mg kg-1 de grãos (BRASIL, 2010), sendo que março de 2018.
detectou-se a presença do resíduo apenas
quando a aplicação foi realizada anterior a BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e
maturidade fisiológica na cultivar BRS 177. Para Abastecimento. Secretaria de Defesa
metsulfuron metílico a legislação não permite a Agropecuária. Instrução normativa nº 26, de 8 de
presença de resíduos desse herbicida em grãos outubro de 2010. Diário Oficial da República
de trigo (BRASIL, 2010), sendo que não foi Federativa do Brasil, Brasília, 2010.
detectado a presença do mesmo quando aplicado
em pré-colheita, porém vale salientar que o BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e
limite de quantificação da análise foi de 0,01 mg Abastecimento. Regras para análise de
kg-1 de grãos. sementes. Brasília, DF: Mapa/ACS, 2009. p. 395.
Para o herbicida glufosinato de amônio
verificou-se residual de 0,48 mg kg-1 de grãos CAIERÃO, E.; ACOSTA, A.S. Uso industrial de grãos
quando aplicado na cultivar BRS 177 anterior à de cevada de lavouras dessecadas em pré-
maturidade fisiológica, e de 0,27 mg kg-1 de grãos colheita. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.42,
na cultivar BRS Umbu na mesma época de n.9, p.1277-1282, 2007.
dessecação. A aplicação do herbicida resultou em https://doi.org/10.1590/S0100-
residual abaixo do limite máximo de resíduo 204X2007000900009
permitido para glufosinato de amônio que é de
0,5 mg kg-1 de grãos (ANVISA, 2018) em ambas as CAMPOS, C.F.; MARTINS, D.; COSTA, A.C.P.R.;
cultivares. PEREIRA, M.R.R.; CARDOSO, L.A.; MARTINS, C.C.
Ressalta-se, de maneira geral, que os Efeito de herbicidas na dessecação e germinação
herbicidas quando aplicados em estádios de sementes remanescentes de Lolium
fenológicos mais avançados apresentam menores multiflorum Lam. Semina, v.33, n.6, p.2067-2074,
residuais nos grãos, bem como a cultivar BRS 177 2012. https://doi.org/10.5433/1679-
(ciclo médio) apresentou maiores residuais 0359.2012v33n6p2067
comparativamente a cultivar BRS Umbu (ciclo
tardio). CÍCERO, S.M.; VIEIRA, R.D. Teste de frio. In:
VIEIRA, R.D.; CARVALHO, N.M. Testes de vigor
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realizada no estádio posterior a maturidade
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