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Comunicado 102

Técnico ISSN 1517-8862


Outubro/2007
Seropédica/RJ

Avaliação de Cultivares de Feijão-de-


vagem de Crescimento Determinado sob
Manejo Orgânico, nas Condições da
Baixada Fluminense – Seropédica/RJ*

Rejane Escrivani Guedes1


José Guilherme Marinho Guerra2
Raul de Lucena Duarte Ribeiro3
Ronaldo Gomes Coelho4
Patrícia Diniz de Paula5
Viviane Fernandes Moreira5

Introdução prevalecentes. Nesse contexto, a geração de


conhecimentos científicos e o desenvolvimento de
O feijão-de-vagem (Phaseolus vulgaris L.) é tecnologias para sistemas orgânicos de produção
cultivado na grande maioria dos estados desta hortaliça representam forte demanda,
brasileiros. O cultivo de feijão-de-vagem no estado incluindo avaliações sobre cultivares que melhor
do Rio de Janeiro é tradicional, onde a grande se adaptem às condições edafoclimáticas locais.
maioria dos produtores ainda utiliza cultivares de Objetivou-se, com o presente estudo, avaliar o
hábito de crescimento indeterminado, que desempenho de cultivares de feijão-de-vagem de
precisam ser tutoradas. Seu ciclo chega em média crescimento determinado, no que diz respeito à
a durar 120 dias, ocupando a área por um período produção de vagens verdes, submetidas ao
razoável de tempo (FILGUEIRA, 2003). Muitas sistema orgânico de produção na Baixada
vezes, seu cultivo é realizado após o a cultura do Fluminense, Estado do Rio de Janeiro.
tomateiro, sistema característico da Região Médio
Serrana, para aproveitar a adubação residual e a
estrutura de tutoramento. As cultivares rasteiras
foram introduzidas mais recentemente de outros Material e Métodos
países ou obtidas no Brasil através de programas
de melhoramento genético, e seu cultivo vem Foi conduzido um ensaio no Sistema Integrado de
crescendo no Estado nos últimos anos, com a Produção Agroecológica – Fazendinha
finalidade de reduzir os custos com a implantação Agroecológica Km 47 (SIPA) situado na Baixada
da lavoura. Fluminense, município de Seropédica/RJ. O solo
da área experimental é classificado como
Atualmente dispõe-se de um considerável número Planossolo, série Ecologia, anteriormente
de cultivares de feijão-de-vagem de crescimento cultivado com Crotalaria juncea, que foi
determinado. Essas cultivares têm contribuído incorporada mediante aração e gradagem uma
para a expansão da cultura do feijão-de-vagem a semana antes da semeadura. O resultado da
um custo operacional mais baixo, por ser de ciclo análise química do solo foi o seguinte: pH em
curto, colheita concentrada (15 dias), com água = 6,0; Al+3 = 0,0 cmol dm-3, Ca+2 = 3,9 cmol
produtividade atingindo cerca de 10 a 12 t ha-1, e dm-3; Mg+2 = 1,5 cmol dm-3; K = 180 mg dm-3 e P =
dispensam o tutoramento (PINTO et al., 2001b). 135 mg dm-3. Face a análise do solo optou-se por
Os agricultores vêm utilizando cultivares adubar apenas com esterco bovino (10 t ha-1).
disponíveis no comércio, sem garantia de Efetuou-se também uma adubação de cobertura
adaptação às condições edafoclimáticas com esterco de “cama” de aviário (100g/m linear),

* Trabalho realizado com auxílio financeiro da FAPERJ e da Embrapa


1 Doutoranda, Curso de Pós-Graduação em Fitotecnia; UFRuralRJ, BR 465, km 07, Seropédica – RJ, CEP: 23.890-000
2 Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Agrobiologia, BR 465, km 07, Seropédica – RJ, CEP: 23.890-000. E-mail:

[email protected]
3 Prof. Associado, Depto. de Fitotecnia, Instituto de Agronomia, UFRuralRJ, BR 465, km 07, Seropédica – RJ, CEP: 23.890-000.
4 Pesagro – RIO, Estação Experimental de Seropédica; BR 465-km 07, CEP: :23851-970.
5 Doutoranda, Curso de Pós-Graduação em Agronomia – Ciência do Solo; UFRuralRJ, BR 465, km 07, Seropédica – RJ, CEP: 23.890-000.
2 Avaliação de Cultivares de Feijão-de-vagem de Crescimento Determinado sob Manejo Orgânico, nas Condições da Baixada Fluminense – Seropédica/ RJ

quando a cultura estava na fase inicial de Resultados e Discussão


florescimento.
Iniciou-se a colheita na segunda quinzena de julho
O delineamento experimental adotado foi de de 2001 tendo seu término em início de agosto
blocos ao acaso com 11 tratamentos (cultivares) e (cinco colheitas a intervalos de quatro dias). Na
três repetições. Cada parcela constou de quatro análise da variância, o teste “F” indicou que todas
linhas de dois metros de comprimento espaçadas as características avaliadas apresentaram
de 50 cm entre si. A densidade de semeadura foi diferenças significativas, com exceção da
padronizada, desbastando-se para o estande de 8 produção de vagens verdes.
plantas por metro linear. A área útil da parcela foi
composta pelas duas linhas centrais, totalizando Verifica-se que para as cultivares Novirex e
2m2 (2,0 x 1,0 m). As cultivares avaliadas foram: Florence, 75% da sua produção ocorreu
Alessa, Andra, Cota, Derby, Florence, Macarrão respectivamente aos 43 e 47 dias após
274, Paulista, Slenderette, Novirex, UEL 1 e UEL semeadura (DAE) (Figura 1). As cultivares Alessa,
2. As três primeiras cultivares foram desenvolvidas Andra, Cota, UEL1 e UEL2 alcançaram a maior
pela Pesagro-Rio (LEAL, 1987; LEAL, 1990ab), parcela de produção na primeira colheita,
enquanto as duas últimas são oriundas da realizada aos 47 DAE, enquanto a cultivar Paulista
Universidade Estadual de Londrina (PINTO et al., teve sua máxima produção por colheita aos 57
2001a). As demais são importadas, porém já DAE, caracterizando seu ciclo mais longo. Este
disponíveis no mercado nacional. fato é interessante quando se faz a opção de
realizar uma única colheita.
Pulverizações quinzenais com calda sulfocálcica
(1%) e Bacillus thuringiensis (formulação A cultivar Macarrão 274, apesar de não diferir das
comercial) foram empregadas para controle de demais em termos de produtividade, foi a única
fitoparasitas. que ultrapassou 10 Mg ha-1. As cultivares que
mais se aproximaram desta produtividade foram
Após colheita e pesagem das vagens das plantas Novirex, Florense e UEL 2, sendo que as duas
da área útil de cada parcela, fez-se uma seleção, primeiras proporcionaram quatro colheitas, como a
retirando-se aquelas consideradas impróprias para cultivar Macarrão 274.
comercialização. Foram descartadas as vagens
curvas, mal formadas (incidência de cavidade Ao se analisar o rendimento de vagens
interlocular), com sintomas de doenças e comercializáveis, foram detectadas diferenças
perfurações provocadas por insetos. A partir daí, significativas entre cultivares. O maior rendimento
foi determinada a produção total por data de foi alcançado com a cultivar Slenderette (88,5%),
colheita; rendimento de vagens: relação entre diferindo estatisticamente das cultivares Novirex e
produção total e produção de vagens Alessa, que produziram, respectivamente, 71,4%
comercializáveis; peso de vagens comercializáveis e 71,6% de vagens comercializáveis. No entanto,
na área útil; resistência à “ferrugem” (Uromyces apesar do rendimento elevado (88,5%), a cultivar
appendiculatus): estimada através da freqüência Slenderette apresentou uma baixa produtividade
de infecção, representada pelo número de total de vagens ( 8,6 Mg.ha-1). Apesar de produzir
pústulas em uma área foliar de 7,8 cm2, quase 80% de vagens comercializáveis, a cultivar
amostrando-se 20 folhas coletadas ao acaso, de Andra é mais indicada para processamento, por
dentro da área útil, na fase de frutificação; apresentar características morfológicas fora do
resistência à cigarrinha verde (Empoasca sp.): padrão in natura, com vagens grossas e muito
percentual de plantas atacadas, através da sinuosas. Mesmo com esse aspecto de vagem
presença de folhas com sintomas provocados pelo “passada”, ou seja, colhida após o tempo ideal,
inseto (amostragem de 20 folhas coletadas ao apresenta-se bastante tenra e pode ser
acaso, de dentro da área útil, na fase de recomendada para o mercado de hortaliças
frutificação). processadas, que vem crescendo dentro do
segmento orgânico.
Os dados foram submetidos à análise de variância
e as médias comparadas pelo teste de Tukey ao
nível de 5% de probabilidade, através do
programa SISVAR Versão 4.3 (FERREIRA, 1999).
Avaliação de Cultivares de Feijão-de-vagem de Crescimento Determinado sob Manejo Orgânico, nas Condições da Baixada Fluminense – Seropédica/RJ 3

100%
O descarte de vagens não comercializáveis foi
bastante rigoroso, incluindo as curvas, mal
80%
formadas (apresentando cavidade interlocular),
60% apodrecidas e danificadas por insetos, geralmente
40%
perfurações provocadas pela lagarta Thecla jebus
(GALLO et al., 1988). È importante assinalar que o
20% descarte de vagens em função de se
0%
apresentarem mal formadas ou curvas, não
impede sua comercialização quando pré-
Novirex

UEL 1

UEL 2
Alessa

Paulista
Andra

Cota

Derby

Macarrão 274

Slenderette
Florence

processadas.

1ª Colheita (43 DAE*) 2ª Colheita (47 DAE) 3ª Colheita (50 DAE)


A ferrugem, causada por Uromyces
4ª Colheita (54 DAE) 5ª Colheita (57 DAE) appendiculatus, ocorreu tardiamente e de forma
(*) Dias Após Emergência. pouco severa no campo experimental, sendo que
a cultivar Macarrão 274 foi a mais suscetível e,
Figura 1. Percentual da produção, por data de colheita (SIPA – não obstante, a que atingiu uma excelente
Seropédica/RJ, 2001).
produção. De acordo com BIANCHINI et al.
(1997), a “ferrugem” do feijoeiro pode causar
danos tanto mais severos quanto mais cedo
ocorrer no ciclo da cultura.
Tabela 1. Desempenho de cultivares de feijão-de-
vagem de crescimento determinado, sob manejo No que se refere ao ataque pela cigarrinha verde,
orgânico, na Baixada Fluminense (SIPA, ocorreram diferenças significativas entre as
Seropédica/RJ, 2001). cultivares. A cultivar que apresentou sintomas
mais severos foi a UEL-1, seguida das cultivares
Cultivar Produtividade Rendimento Ferrugem2 Cigarrinha Novirex e Florence. Os danos causados às folhas
(Mg ha -1) (%) verde3 são devidos à ação toxicogênica associada à
alimentação do inseto. A ocorrência de
Novirex 9,5 a1 71,4 b 0,25 b 14,0 a b populações elevadas da praga em feijoais leva ao
encarquilhamento das plantas, que passam a
Florence 9,8 a 85,2 ab 0,18 b 13,7 a b c apresentar folíolos enrolados para baixo ou
arqueados (GALLO et al., 1988).
Alessa 6,4 a 71,6 b 1,27 b 3,7 d e

Andra 8,2 a 78,8 ab 4,07 b 2,3 d e


Fica evidenciado que não se dispõe da cultivar
perfeita ou ideal. Algumas delas são vantajosas
Cota 8,2 a 76,2 ab 2,03 b 7,3 b c d e pela precocidade, outras pelo melhor rendimento
em vagens comercializáveis, outras pela
Derby 8,6 a 78,9 ab 1,10 b 6,7 c d e produtividade e outras, ainda, pelas características
da vagem em termos de aceitação comercial. No
Paulista 9,2 a 81,5 ab 11,62 a 1,0 e entanto, a cultivar Novirex se mostrou interessante
por ser de ciclo precoce, e atingir boa
Slenderette 7,6 a 88,5 a 16,36 a 1,7 d e produtividade, além de possuir vagens com bom
padrão comercial.
Macarrão 274 10,1 a 82,0 ab 13,28 a 3,7 d e

UEL1 8,1 a 82,0 ab 0,00 b 16,3 a

UEL2 9,4 a 85,5 ab 0,00 b 8,3 b c d e Conclusão


CV (%) 20,77 6,01 25,29 33,59 Os resultados dos experimentos conduzidos
indicam potencial para a cultura do feijão-de-
1 Os valores representam médias de três repetições; médias seguidas da mesma
letra, nas colunas, não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de
vagem em sistema orgânico de produção no
probabilidade. Estado do Rio de Janeiro, utilizando cultivares de
2 Número° de pústulas de ferrugem (Uromyces appendiculatus )/7,8 cm2 de área
crescimento determinado.
foliar;
3 Número de plantas com sintoma de ataque de cigarrinha (Empoasca sp.) em um

total de 20 plantas avaliadas na área útil de cada parcela.


4 Avaliação de Cultivares de Feijão-de-vagem de Crescimento Determinado sob Manejo Orgânico, nas Condições da Baixada Fluminense – Seropédica/ RJ

Referências Bibliográficas LEAL, N. R. Andra – nova cultivar de feijão-


vagem. Horticultura Brasileira, Brasília, DF, v. 8,
BIANCHINI, A.; MARINGONI, A. C.; CARNEIRO, n. 1, p. 30, 1990a.
S. M. T. P. G. Doenças do feijoeiro (Phaseolus
vulgaris L.). In: KIMATI, AMORIM, A.; BERGAMIN LEAL, N. R. Alessa – nova cultivar de feijão-
FILHO, A.; CAMARGO, L. E. A.; REZENDE, J. A. vagem. Horticultura Brasileira, Brasília, DF, v. 8,
M. (Ed.). Manual de fitopatologia. 3. ed. São n. 1, p. 29-30, 1990b.
Paulo : Agronômica Ceres, 1997. v. 2. 774 p.
PINTO, C. M. F.; VIEIRA, R. F.; VIEIRA, C.;
FERREIRA, D. F. SisVar - Versão 4.3: Suporte CALDAS, M. T. Comportamento de cultivares de
econômico - CAPES, CNPq, Universidade Federal feijão-vagem anão em diferentes épocas de
de Lavras, Lavras, MG, 1999. plantio na Zona da Mata de Minas Gerais. In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE
FILGUEIRA, F. A. R. Novo manual de OLERICULTURA, 41., ENCONTRO SOBRE
olericultura: agrotecnologia moderna na PLANTAS MEDICINAIS, AROMÁTICAS E
produção e comercialização de hortaliças. 2. ed. CONDIMENTARES, 1., 2001, Brasília, DF.
rev. ampl. Viçosa: UFV, 2003. 412 p. Horticultura Brasileira, Brasília, DF, v. 19,
2001a. Suplemento. Resumo.
GALLO, D.; NAKANO, O.; SILVEIRA NETO, S.;
CARVALHO, R. P. L.; BATISTA, G. C. de; BERT PINTO, C.M.F.; VIEIRA, R.F. ; VIEIRA, C.;
FILHO, E.; PARRA, J. R. P.; ZUCCHI, R. A.; CALDAS, M. T. Idade de colheita do feijão-vagem
ALVES, S. B. Manual de entomologia agrícola. anão cultivar Novirex. Horticultura Brasileira,
2. ed. São Paulo: Agronômica Ceres, 1988. 649 p. Brasília, v. 19, n. 2, p. 163-167, julho. 2001b.
(Ceres, 3).

LEAL, N. R. Cota – nova cultivar de feijão-vagem.


Horticultura Brasileira, Brasília, DF, v. 5, n. 1, p.
62, 1987.

Comunicado Exemplares desta publicação podem Comitê de Eduardo F. C. Campello (Presidente)


José Guilherme Marinho Guerra
Técnico, 102 ser adquiridos na: publicações Maria Cristina Prata Neves
Embrapa Agrobiologia Veronica Massena Reis
BR465 – km 7 Robert Michael Boddey
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e-mail: [email protected] Normalização Bibliográfica: Dorimar dos
Santos Félix.
1ª impressão (2007): 50 exemplares Editoração eletrônica: Marta Maria
Gonçalves Bahia.

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