29 - PDFsam - Revista Agronomia em Debate 29 A 35
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| ARTIGO
No experimento de campo, o azevém foi dessecado, des alelopáticas, sendo encontrados compostos fenólicos
com glifosato, em 4 períodos diferentes: 30 dias antes da com propriedade reconhecidamente alelopática.
semeadura do milho e deixado em pousio, 20 dias antes da
semeadura, 10 dias e 1 dia. Os resultados do experimento em A conservação de solo exige que se deixe a palhada
campo demonstraram que a palhada residual de azevém, da cultura para o bloqueio da incidência de radiação solar
embora não afetasse a altura das plantas de milho, teve no solo, preservando-se assim a água, auxiliando no controle
efeito sobre o rendimento de grãos (kg ha-1). das plantas daninhas, e ela deve ser feita em um intervalo
de tempo que permita a degradação, no ambiente, dos
Esse efeito foi visualizado independentemente de compostos de efeito alelopático, e permita a expressão do
quantos dias a dessecação precedeu o plantio do milho, máximo potencial de produção da cultura seguinte, nesse
todavia, a redução de produtividade foi maior quanto menor caso, o milho.
o intervalo entre a dessecação do azevém e o plantio do
milho, realizado em setembro. Dessa maneira, de acordo com os resultados ob-
servados, recomenda-se que o plantio do milho seja feito,
Quando a dessecação foi realizada com mais de 30 no mínimo, 30 dias após a dessecação do azévem, a fim
dias de antecedência, a produtividade média em grãos foi de evitar interferências negativas no rendimento do milho
de 12 toneladas, quando a dessecação foi realizada com 20 e uma potencial perda de produtividade de grãos de até 4
dias de antecedência, a produtividade média de grãos de toneladas.
milho reduziu em 17%, e, finalmente, uma redução de 33%
quando a dessecação foi realizada um dia antes do plantio de
SOBRE OS AUTORES
milho. Isso indica um potencial de perda de até 4 toneladas
de grãos devido a uma dessecação tardia.
Plantas Medicinais e
Potencial de Mercado
O Brasil é o país com a maior biodiversidade do mundo. além da participação popular e do controle social sobre todas as
São mais de 116.000 espécies animais e mais de 46.000 espécies ações decorrentes dessa iniciativa.
vegetais conhecidas no País, espalhadas pelos seis biomas terres-
tres e três grandes ecossistemas marinhos. Essa abundante varie- Já o Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitote-
dade de vida abriga mais de 20% do total de espécies do mundo, rápicos propõe: inserir plantas medicinais, fitoterápicos e serviços
encontradas em terra e água. De acordo com estimativas feitas pelo relacionados à Fitoterapia no SUS, com segurança, eficácia e
Ministério do Meio Ambiente, a rica biodiversidade brasileira é fonte qualidade, em consonância com as diretrizes da Política Nacional
de recursos para o país, não apenas pelos serviços ecossistêmicos de Práticas Integrativas e Complementares do SUS, promovendo
providos, mas também pelas oportunidades que representam sua o uso sustentável da biodiversidade.
conservação, uso sustentável e patrimônio genético. O Brasil tem Nos últimos anos houve um aumento da procura por
de 15 a 20% de toda a biodiversidade mundial, com mais de 46 produtos naturais para tratar a ansiedade, como lavanda, folha de
mil espécies da flora brasileira reconhecidas, diz a Fiocruz Brasília. maracujá, capim-limão e erva-cidreira. Em consonância com esse
Poucas delas, porém, têm sido investigadas cientificamente, o que desenvolvimento, o Paraná, segundo dados do Departamento de
revela um potencial imenso de pesquisa sobre novos agentes Economia Rural da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abas-
terapêuticos para controle e prevenção de doenças. tecimento do Estado do Paraná. (DERAL), já apresenta uma área de
Em 2006, foram criadas a Política Nacional de Práticas 6 mil hectares ocupada com espécies medicinais, condimentares
Integrativas e Complementares e a Política Nacional de Plantas e aromáticas. O cultivo rende uma produção anual média de 18,6
Medicinais e Fitoterápicos, para o Sistema Único de Saúde, resul- mil toneladas e uma receita de R$ 88,5 milhões, segundo dados
tado de um longo processo de demanda e construção de uma divulgados pela Coordenação Estadual de Produção Vegetal do
política para o setor. Alguns princípios nortearam a Política Nacional IDR-Paraná. Dentre as espécies classificadas como medicinais, 133
de Práticas Integrativas e Complementares, regida pelo decreto municípios paranaenses
nº 5.813, de 22 de junho de 2002: melhoria da atenção à saúde, produzem as espécies alfa-
uso sustentável da biodiversidade brasileira e fortalecimento da vaca, marcela, erva-cidreira,
agricultura familiar, geração de emprego e renda, desenvolvimento carqueja, capim limão, hor-
industrial e tecnológico, e perspectiva de inclusão social e regional, telã, folha de eucalip-
to, melissa, folha de maracujá, ginseng, urucum, datura, gengibre qualificada, o que acaba gerando mais empregos. Assim, para
e camomila, e 137 municípios produzem erva-mate e derivados. que as plantas tenham apelo junto às empresas farmacêuticas, a
capacitação dos agricultores é fundamental.
Pelo volume que representa a erva-mate, apresenta-se
dados separados das demais espécies mencionadas. A erva-mate Os mercados de fitoterápicos e de óleos essenciais exigem
possui uma área de 60.450,95 ha plantados, em 137 municípios, mais cuidado e, por isso, a importância da assistência técnica. O
com maior área em São Mateus do Sul e Cruz Machado, ambos IDR-Paraná em seu corpo técnico possui profissionais habilitados
da Região de União da Vitória. A produção obtida pela cultura e tecnologia para toda a cadeia produtiva, que vai desde o plantio,
é de 638.870,90 kg. A produção de erva-mate gerou, conforme tratos culturais, colheita até o beneficiamento. Para que as plantas
dados do Deral 2020, valor bruto de produção (VBP) total de R$ medicinais não percam os princípios ativos que são de interesse
753 milhões. das empresas compradoras, o beneficiamento é fundamental, uma
das etapas mais minuciosas da cadeia produtiva.
Dos 3.941,04 ha de área plantada de plantas medicinais
no Paraná, (Deral 2020), o grande destaque em área é da espécie Para a Agência Estadual de Notícias, em 2021, apenas 3%
Camomila, representando 54,64 %, cuja maior área está localizada dos medicamentos receitados no Brasil são fitoterápicos. Em países
no município de Mandirituba, Região de Curitiba. Na sequência, como a Alemanha, berço da fitoterapia mundial, este índice ultra-
as espécies de Urucum com 24,84% e as espécies de Datura e passa os 30%. Então ainda temos muito o que crescer e pesquisar.
Ginseng.
Como exemplo do setor em termos de produção, plantas
O volume total produzido em 2020, segundo dados do de processamento e beneficiamento já instalados no Paraná,
Deral, é de 3.816 toneladas. Na produção em destaque estão podemos destacar várias instituições que agrupam produtores
as espécies gengibre, camomila, urucum e datura, ficando em e técnicos, que têm por objetivo criar soluções para a promoção
primeiro lugar o gengibre com 27,45% do total, produzidos em 17 do desenvolvimento sustentável na cadeia produtiva de plantas
municípios. A Camomila em segundo lugar, produz 25,43% do total medicinais, possuindo o mais alto padrão de qualidade e grau
em 16 municípios. Em terceiro lugar o Urucum representa 18,67% científico para o desenvolvimento dos produtos, resultando em
do total, produzido em 33 municípios e em quarto lugar a Datura medicamentos eficazes e seguros, com composição padronizada
com 11,13% do total, totalmente produzida pelo município de e um rigoroso controle de qualidade desde a seleção da matéria-
Arapongas. Como uma alternativa econômica, é de fundamental -prima até o produto final.
importância analisar o valor bruto de produção (VBP). O VBP gera-
do pela cadeia produtiva representa um total de R$ 45,7 milhões, Percebe-se o mercado que usa os benefícios das plantas
conforme Deral (2020) e a espécie Camomila é a grande campeã, medicinais, em expansão, com tendência a crescer nos próximos
em segundo lugar a Datura seguida do Gengibre e o Urucum. anos. Então, é necessário investir na qualificação de produtores
e profissionais da cadeia produtiva de plantas medicinais para
São números significativos, porém há muito que avançar atender a esta demanda. Pelo que vimos, é um excelente campo
nesta cadeia produtiva. E para o desenvolvimento do setor, é ne- de trabalho para os profissionais da agronomia paranaense..
cessário um mapeamento das melhores regiões produtoras, para
que grandes empresas farmacêuticas possam se conectar com SOBRE A AUTORA
os produtores. Este mapeamento é importante pois deve apontar
para as empresas onde instalar suas plantas para produção de ROSANE DALPIVA BRAGATO
fitoterápicos e de óleos essenciais, e ainda servir como parâmetro
para os produtores em qual espécie investir.
PINHÃO:
Fonte de Renda e
de Conservação da
Biodiversidade
O pinheiro araucária, árvore soberana nos resquícios de são gimnospérmicas, ou seja, a semente não se encerra em um
mata da região sul, atualmente notabiliza-se pela produção do fruto. Ao amadurecer nos meses de abril a junho, a pinha se abre
pinhão. Esse pinhão garante a alimentação de muitas espécies e libera o pinhão ao solo.
animais, como os roedores e pássaros, e está no cardápio de
milhares de famílias na região Sul do Brasil. O interesse humano O pinhão apresenta forma de cunha, cuja casca recobre a
pelo pinhão pode se tornar a principal vantagem para a defesa e semente propriamente dita, constituída de uma massa altamente
perpetuação das matas de araucária que estava sob ameaça de proteica, que pode ser consumida por todos os animais, inclusive
extinção. Com a proibição de corte, a recomendação do manejo pelo homem. O pinhão é levado a grandes distâncias pelos animais
sustentável das araucárias pode levar ao salvamento da espécie, disseminadores, como a gralha azul, que enterra as sementes para
garantir a biodiversidade da flora e fauna associada e auferir alimentarem-se posteriormente e que acabam esquecidas, mas
renda anual às propriedades rurais por meio da comercialização que servem como origem de novas árvores na floresta.
do pinhão. Nas rodovias da região centro e sudoeste do Paraná
O pinheiro araucária (Araucaria angustifolia Bertol Kunt- e região serrana de Santa Catarina, centenas de barraquinhas
ze) é nativo do Brasil e possui uma ampla área de distribuição, vendem o pinhão - cru ou cozido - a granel, em sacolas plásticas
ocorrendo desde o Estado de Minas Gerais até o Rio Grande ou mesmo na pinha inteira, entre os meses de fevereiro a julho.
do Sul, em altitudes maiores do que Famílias inteiras dedicam-se à atividade, seja de extração na
500 metros. A exploração da madeira mata ou comercialização nas beiras das rodovias, localizadas
e a conversão da floresta em áreas principalmente nas imediações dos trevos de acesso das cidades.
de agropecuária e reflorestamento, O pinhão é catado no solo, quando caem naturalmente
tornaram-na uma espécie ameaçada com a maturação das pinhas, ou através da derrubada, subindo
de extinção. O pinhão é a semente nas árvores utilizando-se de cordas, esporas ou até sem equi-
do pinheiro, assim consideradas as pamentos, sendo a pinha derrubada com uma vara de bambu.
várias espécies de araucariáceas, que
Geralmente é feita a debulha da pinha no local da extração, ou mente à derrubada de pinheiros e a alternância da produção.
reunidas as pinhas em montes que passam a ser debulhadas Talvez por este motivo e com a concorrência aumentando a
somente no final do dia pelos catadores e suas famílias, facilitando cada ano, pois mais pessoas têm entrado na atividade devido
assim o transporte e a retirada da mata. à falta de empregos formais, o pinhão tem sido extraído cada
vez mais cedo das árvores, colhido nos momentos iniciais, ainda
Os comerciantes são esclarecidos dos prazos legais imaturo, de péssimo gosto ao ser consumido e predispondo
para a extração do pinhão. De acordo com os órgãos de meio os indivíduos envolvidos aos rigores da lei, ou seja, das apreen-
ambiente do Paraná, o prazo até 15 de abril é para que a pinha sões e multas dos órgãos de meio ambiente. Verificou-se que
possa alcançar maior grau de maturação, e favorecer a queda famílias inteiras têm entrado na atividade de coletar o pinhão
do pinhão ao solo e a alimentação da fauna silvestre. no mato, ou procuram prestar serviços, como a debulha das
Observa-se que esta atividade tem gerado trabalho e pinhas, extração da mata ou o frete.
renda para muitas famílias, decorrentes da venda de pinhão, A criação de estruturas pós-colheita para o armazena-
seja para os mercados da região, viajantes, etc. mento em câmaras frias e
Para que a atividade de exploração do pinhão se consequente escalonamento da oferta, auxiliaria a
torne sustentável, mui- organização dos produto-
tas mudanças devem res e facilitaria o acesso
ocorrer, mas não se ao mercado consumidor.
pode ser ingênuo de Assim agindo, fiscalizariam
imaginar que todos a si próprios e aos demais,
querem mudar. Alguns no respeito aos prazos esti-
irão reagir para manter pulados em lei para o início
as coisas como estão, da retirada de pinhão, que
ou por insegurança atualmente é de quinze de
quanto a um futuro abril em diante.
que desconhecem, ou para manter privilégios e lucros.
A extração do pi-
Apesar de sua reconhecida importância nhão pode converter-se
regional como atividade que movimenta em uma atividade susten-
uma massa enorme de desempregados tável com a preservação
e subempregados e importante das florestas de araucárias
componente da renda familiar da e um rendimento justo
população mais pobre, o pinhão para os envolvidos direta
não tem recebido estudos de ou indiretamente no processo,
impacto econômico ou social, e tendo reconhecimento da sua im-
a maior parte de sua comercia- portância, confrontando os aspectos legais
lização ainda é clandestina. da manutenção da biodiversidade regional e da
Antes relevada a um plano menor e considerada como atividade extrativa.
atividade extrativa de alto risco e pouco retorno econômico, Importante também valorizar o pinhão como
atualmente muitas famílias tiram o seu sustento da extração alimento na culinária regional e produto extrativista das
e comércio do pinhão e até os proprietários têm demonstrado regiões produtoras do Paraná, e a busca de políticas
interesse cada vez maior neste ramo de atividade, ampliando públicas e incentivos organizacionais aos envolvidos na
o mercado consumidor do pinhão, com muitas variações atividade de extração do pinhão e melhorias na seguran-
gastronômicas. ça da atividade e renda dos trabalhadores.
Fato conhecido é que a produção de pinhão tem sofrido Eng. Agr. Edson Roberto Silveira (Crea/SC 3122/D),
uma redução a cada ano, o que pode ser atribuído principal- Presidente da AEAPB - [email protected]