Mofo Branco

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Controle do mofo-branco com palhada

e Trichoderma harzianum 1306 em soja


Claudia Adriana Görgen(1), Américo Nunes da Silveira Neto(1), Luciana Celeste Carneiro(1),
Vilmar Ragagnin(1) e Murillo Lobo Junior(2)
(1)
Universidade Federal de Goiás, Centro de Ciências Agrárias e Biológicas, Caixa Postal 03, CEP 75800-000 Jataí, GO.
E-mail: [email protected], [email protected], [email protected], [email protected].
(2)
Embrapa Arroz e Feijão, Caixa Postal 179, CEP 75375-000 Santo Antônio de Goiás, GO. E-mail: [email protected]

Resumo – O objetivo deste trabalho foi avaliar os efeitos da cobertura vegetal com palhada de Brachiaria ruziziensis,
da aplicação de Trichoderma harzianum 1306 e da interação entre esses métodos na redução da densidade de
inóculo de Sclerotinia sclerotiorum, na incidência de mofo-branco e na produtividade da soja. As avaliações foram
realizadas entre 2006 e 2008 em Jataí, GO, em lavoura comercial, com média de 136,08 escleródios do patógeno m-2.
Em março e outubro de 2006, foram aplicados 0, 0,5, 1 e 1,5 L ha-1 do inóculo de T. harzianum 1306 (2x109 esporos
viáveis mL-1) em parcelas cultivadas com e sem B. ruziziensis. Após dessecação da braquiária com glifosato
(2,5 L ha-1) e plantio da soja 'M-Soy 6101' sobre 10,1 Mg ha-1 de palhada, verificou-se redução de 98% de apotécios.
Nos tratamentos com palhada e 0,5 e 1 L ha-1 de T. harzianum, verificou-se 72,1 e 84,1% de escleródios parasitados a
mais, respectivamente. Em 2006/2007, o rendimento da soja 'M-Soy 6101' foi inversamente proporcional à população
de apotécios por metro quadrado, porém 7,6% menor nos tratamentos com palha. Na safra 2007/2008, a incidência
da doença em soja 'M-Soy 7908' foi menor nas parcelas com palhada e 0,5 e 1 L ha-1 de T. harzianum 1306, aplicados
apenas no ano anterior. O biocontrole com T. harzianum 1306 em campo e uso da palhada de B. ruziziensis é eficiente
e viável para o controle do mofo-branco da soja em áreas de Cerrado.
Termos para indexação: Glycine max, Sclerotinia sclerotiorum, Brachiaria ruziziensis, controle biológico,
controle cultural.

White mold control with mulch


and Trichoderma harzianum 1306 on soybean
Abstract – The objective of this work was to evaluate the effects of crop cover, using Brachiaria ruziziensis mulch,
Trichoderma harzianum 1306 spray treatment and of the interaction between these methods in reducing the density
of Sclerotinia sclerotiorum inocula, in white mold incidence and in soybean yield. The evaluations were done from
2006 to 2008 in Jataí (Goiás State, Brazil), in a commercial crop with an average of 136.08 sclerotia m-2. In March
and October 2006, 0, 0.5, 1 and 1.5 L ha-1 of T. harzianum 1306 (2x109 viable spores mL-1) were sprayed on plots
cropped with B. ruziziensis or not. After controlling brachiaria with glyphosate (2,5 L ha-1) and sowing soybean
'M-Soy 6101' onto 10.1 Mg ha-1 of its straw, 98% less apothecia were found in these treatments. The treatments
with straw and 0.5 and 1 L ha-1 of T. harzianum presented 72.1 and 84.1% more parasited sclerotia respectively.
'M-Soy 6101' soybean yield in 2006/2007 was inversely proportional to the apothecia population per square meter,
but 7.6% lower in the treatments with straw. In the 2007/2008 season, the disease incidence in 'M-Soy 7908' was
lower in plots with straw and 0.5 and 1 L ha-1 of T. harzianum 1306, applied only in the previous year. Biocontrol
with T. harzianum 1306 and the use of B. ruziziensis mulch are efficient and viable for white mold control in
soybean in Brazilian Cerrado areas.
Index terms: Glycine max, Sclerotinia sclerotiorum, Brachiaria ruziziensis, biological control, cultural control.

Introdução chamadas de escleródios e pode atacar mais de 400


espécies hospedeiras, entre elas plantas de importância
Entre as doenças que incidem sobre a soja, o
mofo-branco (Sclerotinia sclerotiorum (Lib) de Bary), econômica como soja, feijão, algodão e girassol
também conhecido como podridão-de-esclerotínia, tem (Bolton et al., 2006).
se destacado como uma das mais graves. O patógeno Na cultura da soja, a fase mais vulnerável à infecção
sobrevive no solo por meio de estruturas de resistência vai da floração plena (R2) ao início da formação dos

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grãos (R5) (Danielson et al., 2004). Em condições de que levou a uma perda superior a 30% na produção da
alta umidade, o fungo pode colonizar os tecidos sadios safra de 2005/2006. O ensaio foi instalado em março
entre 16 e 24 horas após a infecção do tecido floral de 2006, após a colheita da soja, e realizado nas duas
senescente. Em tempo seco, o progresso da doença safras subsequentes, 2006/2007 e 2007/2008.
pode ser retardado ou paralisado, mas é retomado O delineamento utilizado foi o inteiramente
quando as condições de alta umidade retornam. casualizado, conduzido em faixas com parcelas de
O micélio pode permanecer viável em flores infectadas 630 m2 (21 m de largura e 30 m de comprimento).
por até 144 horas em condições desfavoráveis e retoma Os tratamentos compreenderam parcelas com e sem
o desenvolvimento quando as condições favoráveis palhada de Brachiaria ruziziensis e com diferentes
retornam (Harikrishnan & Del Río, 2006). Não existem doses (0, 0,5, 1,0, 1,5 L ha-1) de suspensão de esporos
cultivares de soja resistentes a S. sclerotiorum, e o de Trichoderma harzianum 1306 com 2x109 conídios
controle químico do mofo-branco pode ser inviável em viáveis mL-1 (Trichodermil SC, Itaforte Bioprodutos,
razão dos custos e das dificuldades de se obter uma Itapetininga, SP), em duas épocas de aplicação (março
cobertura total da planta durante a pulverização. e outubro).
Entre as recomendações para manejo do mofo-branco, A semeadura da B. ruziziensis foi realizada em
podem ser destacadas práticas como o controle cultural 17 de março de 2006, com semeadora adubadora para
com formação da palhada para o sistema de plantio plantio direto Super Tatu PS3 (Marchesan, Matão, SP)
direto (SPD) e o controle biológico com antagonistas. com discos de sorgo. O espaçamento entre linhas foi de
O controle cultural pela cobertura do solo com palhada 45 cm, e a profundidade média foi de 1,5 cm. A semente
pode inibir a formação de apotécios, conforme utilizada apresentava 76 pontos de valor cultural (pvc).
demonstrado em condições experimentais (Ferraz et al., Desse modo, foram utilizados 3,47 kg ha-1 de sementes
1999; Ferguson et al., 2001). Já o controle biológico para ajustar a semeadura com 300 pvc ha-1, o que
com aplicação de Trichoderma harzianum pode reduzir estabeleceu cinco plantas por metro quadrado.
em 62,5% o número de escleródios viáveis (Menendez As sementes de B. ruziziensis ficaram distribuídas
& Godeas, 1998). Apesar do sucesso relativo dessas na superfície do solo ou até 2 cm de profundidade.
práticas, em nenhum trabalho se verificou a interação Três dias após a semeadura (DAS), 50% das sementes
entre elas. Da mesma forma, não se sabe se o controle haviam germinado e, aos 90 DAS, a cobertura do solo
cultural e biológico pode proporcionar benefícios para pelas folhas da braquiária foi superior a 90%. Ainda
as safras subsequentes sem repetição dessas estratégias aos 90 DAS, amostras aleatórias de diferentes parcelas
na mesma gleba. demonstraram crescimento das raízes superior a 20 cm
de profundidade. 7m AP
O objetivo deste trabalho foi verificar os efeitos
isolados e a interação entre cobertura vegetal e palhada A palhada de B. ruziziensis foi obtida após sua
de Brachiaria ruziziensis e do controle biológico com dessecação com 2,5 L ha-1 de glifosato, em 16 de
T. harzianum na redução da densidade de inóculo, na outubro de 2006. No dia anterior à dessecação,
incidência de mofo-branco e no rendimento da soja. foram coletadas amostras da parte aérea de 1 m2 de
braquiária por parcela, para determinar a massa seca
Material e Métodos por hectare. As amostras foram colocadas em sacos de
plástico e imediatamente remetidas à Embrapa Arroz
O experimento foi realizado na Fazenda Boa Vista, e Feijão (Santo Antônio de Goiás, GO) para secagem
em Jataí, GO, (17°57'53"S, 52°04'06"W, com altitude a 60°C por 72 horas. A coleta do solo para avaliação
de 854 m acima do nível do mar), em Latossolo da população inicial de escleródios foi realizada em
Vermelho distroférrico (43% de argila). A área foi 20 de março de 2006 com uma moldura de madeira
cultivada por 26 anos com monocultura de soja no verão (gabarito) de 0,5x0,5 m, lançada aleatoriamente
e por 16 anos em sucessão com milho safrinha, em dentro de cada parcela, com três repetições. O solo
sistema de semeadura direta. Nessa área, naturalmente delimitado pelo gabarito foi coletado na camada de
infestada com S. sclerotiorum, o primeiro foco do 0–5 cm de profundidade e, em seguida, encaminhado
mofo-branco foi observado na safra de 2001/2002, com à Embrapa Arroz e Feijão, para a obtenção e contagem
disseminação por toda a gleba nas safras seguintes, o dos escleródios. Os escleródios foram recuperados

1a coleta de solo
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6m AP

das frações de solo obtidas em peneiras de seis e dez da doença) foi estimada no estádio R5, tendo sido
malhas por polegada com o auxílio de pinças. realizadas cinco amostragens aleatórias em 2 m2 dentro
A segunda coleta de solo para quantificação de de cada parcela.
escleródios foi realizada no dia 26 de setembro de 2006, A colheita da soja foi realizada em 12 de fevereiro
com o mesmo procedimento da primeira amostragem, de 2007. Seis amostras de 2 m2 foram colhidas
sem repetir o local da coleta anterior. Os escleródios aleatoriamente, para avaliar o rendimento (kg ha-1) e
obtidos foram plaqueados em meio de cultura a massa de 100 grãos. Essas amostras foram obtidas
BDA, na Embrapa Arroz e Feijão, para avaliação da a uma distância mínima de 1 m das extremidades das
viabilidade e do parasitismo por Trichoderma ou outros parcelas. O número total de vagens por planta foi
microrganismos. estimado a partir de dez plantas retiradas aleatoriamente
A viabilidade dos escleródios foi determinada das seis amostras descritas acima. O teor de água dos
pela produção de micélio branco característico grãos foi ajustado para 13%. A massa de 100 grãos
de S. sclerotiorum, identificado com auxílio de foi obtida pela média de cinco subamostras em cada
microscópio. O parasitismo por Trichoderma parcela. As avaliações foram realizadas na Embrapa
foi determinado pela colonização de escleródios Arroz e Feijão.
germinados ou não e identificação de acordo com Após a colheita das parcelas do ensaio de 2006/2007,
características morfológicas. Foram considerados foi cultivado milho na safrinha. Na safra de soja de
como escleródios inviabilizados aqueles que não 2007/2008, os tratamentos aplicados na safra anterior
apresentaram germinação miceliogênica oito dias após não foram repetidos com o objetivo de avaliar o
o plaqueamento. seu efeito residual sobre o número de apotécios e a
A primeira aplicação de T. harzianum 1306 foi no incidência do mofo-branco nas mesmas parcelas e da
dia 23 de março de 2006. O volume utilizado foi de mesma forma descrita para o ano anterior. A cultivar
100 L ha-1 de calda, e a aplicação foi realizada após as empregada no segundo ano foi a M-Soy 7908, de
16 horas, em condições de umidade relativa superior a ciclo médio, semeada na segunda quinzena de outubro
80%, com pulverizador Uniport (Jacto, Pompéia, SP). de 2007. Novamente, foram usadas as recomendações
A segunda aplicação ocorreu em 30 de outubro de técnicas para cultivo da soja no Cerrado.
2006, nas mesmas condições ambientais da primeira A contagem do número de apotécios foi realizada
aplicação. no 12 de dezembro de 2007, durante o estádio R2
Na safra de 2006/2007, a cultura da soja M-Soy 6101 da soja, com o gabarito para coleta de solo, com
foi implantada com semeadura direta, em parcelas com cinco repetições por parcela. Na safra de 2007/2008,
e sem palhada, em 28 de outubro de 2006, 12 dias após a foram realizadas duas avaliações da incidência do
dessecação da braquiária. Foram aplicados 377 kg ha-1 mofo-branco. A primeira foi realizada em 9 de janeiro
da formulação 04–23–18 de NPK, de acordo com a de 2008, quando as plantas estavam em R5 (grãos com
análise química do solo. O tratamento de sementes foi início de formação, perceptíveis ao tato), e a segunda,
realizado com os fungicidas fludioxonil e thiram, mais em 23 de fevereiro de 2008, no estádio R7 (início do
o inseticida cloronicotinil. A densidade de plantio foi amarelecimento de folhas e vagens). A metodologia
de 26 sementes por metro. Para o manejo da cultura utilizada para estimativa da incidência, colheita,
da soja, foram usadas as recomendações técnicas para avaliações do rendimento, número de vagens por
cultivo da soja no Cerrado (Embrapa, 2006). planta e massa de 100 grãos foi a mesma empregada
Na cultura da soja, o número de apotécios foi em 2006/2007.
avaliado quando as plantas atingiram o estádio de Todos os dados foram submetidos à análise estatística,
desenvolvimento R2. A contagem foi feita em todas realizada com o programa SAS (SAS Institute,
as parcelas com uso do mesmo gabarito de 0,5x0,5 m 2002). As diferenças estatísticas entre as médias dos
descrito para a coleta de solo, com cinco repetições tratamentos na análise de variância foram comparadas
por parcela. Nas parcelas com palhada de braquiária, pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. No caso
foram contados apenas os apotécios que ultrapassaram de comparações que consideraram componentes do
a palhada. A incidência do mofo-branco (percentagem rendimento com doses de T. harzianum, foi realizada
de plantas com sinais do patógeno e/ou sintomas também análise de regressão linear.

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Resultados e Discussão A maior eficiência de doses intermediárias de


T. harzianum no controle de patógenos do solo também
Não houve diferença entre a densidade de inóculo inicial foi relatada por Lobo Junior (2005), com perda da
(136,08 escleródios m-2) nos diferentes tratamentos, o que eficiência em doses mais altas. Isso possivelmente
garantiu as condições adequadas para o experimento.
decorre da inibição da atividade de T. harzianum,
Dessa forma, foi demonstrada a alta densidade do
causada por superpopulação. O número médio de
patógeno no solo, pois, segundo Adams & Ayers (1979),
apotécios formados na presença de braquiária foi de
um único escleródio viável em 5 m2 é suficiente para
0,40 m-2, o que equivale a uma redução de 98% em
causar uma epidemia severa de mofo-branco.
relação ao obtido na ausência de braquiária (20,52 m-2)
A maior proporção de escleródios parasitados por
na safra de 2006/2007 (Figura 2). Essa redução
Trichoderma foi encontrada em tratamentos com aplicação
demonstrou que a cobertura de braquiária reduziu
do antagonista e braquiária com matéria seca estimada em
10,1 Mg ha-1. Houve interação entre os efeitos da palhada drasticamente o potencial infectante do patógeno.
de braquiária e das doses de T. harzianum 1306 no A maior proporção de escleródios parasitados em
número de escleródios parasitados por Trichoderma spp., tratamentos com braquiária pode também ter sido
e a relação entre essas variáveis foi ajustada por modelos facilitada pela germinação carpogênica de escleródios
quadráticos (Figura 1). Dessa forma, pode-se afirmar que durante o cultivo das gramíneas e ser responsável
a formação de cobertura pode se tornar primordial para a pelo esgotamento dos escleródios que dificilmente
utilização de controle biológico em grandes culturas, já germinam novamente (Adams & Ayers, 1979). Além
que a atividade biocontroladora foi maior no ambiente de bloquear a produção de apotécios, que necessitam
formado pela palhada. As curvas de resposta obtidas de luz para completar o desenvolvimento, a palhada
demonstraram maior número de escleródios parasitados de B. ruziziensis também contribuiu para o aumento
em tratamentos com 0,5 e 1 L ha-1 de T. harzianum 1306 do parasitismo de escleródios (Figura 1). Os efeitos
em parcelas com braquiária que nos tratamentos da palhada na germinação de apotécios também foram
sem cobertura. A cobertura do solo não influenciou o demonstrados por Ferraz et al. (1999) e Ferguson et al.
parasitismo de escleródios para a dose de 1,5 L ha-1 do (2001) em condições controladas. Além da barreira
antagonista em comparação à testemunha. física, a redução da luminosidade sobre o solo pode

Figura 1. Relação entre número de escleródios parasitados


por Trichoderma e doses de T. harzianum 1306 com Figura 2. Relação entre o número de apotécios em ausência
2x109 esporos viáveis mL-1, aplicadas em ausência e presença de ou presença da palhada de Brachiaria ruziziensis e doses
palhada de Brachiaria ruziziensis em Jataí, GO, em 2006/2007. de T. harzianum 1306 com 2x109 esporos viáveis mL-1 em
Médias relacionadas a cada dosagem de T. harzianum 1306 Jataí, GO, em 2006/2007. Médias seguidas pelas mesmas
seguidas pelas mesmas letras não diferem entre si pelo teste letras minúsculas não diferem significativamente pelo teste
de Tukey, a 5% de probabilidade. *Significativo a 5% de de Tukey, a 5% de probabilidade. *Significativo a 5% de
probabilidade; nsNão significativo. probabilidade. nsNão significativo.

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atrasar em várias semanas a produção de apotécios e de apotécios foi drasticamente inferior ao avaliado na
reduzir seu tamanho (Sun & Yang, 2000). safra anterior (Tabela 1) no segundo ano de avaliação,
Houve redução do inóculo inicial de S. sclerotiorum o que não impediu a manifestação da doença em toda a
no campo. A palhada de braquiária proporciona área experimental e corrobora resultados de Adams &
cobertura eficiente e duradoura para o solo em regiões Ayers (1979). Nessa safra, a incidência do mofo-branco
de clima tropical. Conforme Balbino et al. (2002) foi estimada em 63,7% em áreas sem palhada no ano
e Marchão et al. (2009), as braquiárias podem ser anterior, contra 41,8% quando foi estabelecida a
manejadas em sistemas de integração lavoura-pecuária palhada de B. ruziziensis em 2006/2007.
ou como cultura para cobertura do solo, o que Houve efeito da cobertura vegetal de braquiária e das
permite a produção de palha com maior volume e doses de T. harzianum 1306 aplicadas em 2006/2007
maior durabilidade em comparação a milho, sorgo ou na incidência de mofo-branco na safra de 2007/2008.
milheto. Segundo Buzzel et al. (1993) e Boland & Hall (1988), a
Em todos os tratamentos com T. harzianum 1306 redução da incidência da doença na cultura hospedeira
em 2006/2007, houve maior número de apotécios posterior está diretamente relacionada com o declínio
formados em solo sem cobertura. Esta formação de no número de escleródios na área de cultivo em questão,
apotécios após a aplicação de tratamentos é considerada apesar da possibilidade de origem externa do inóculo
uma estimativa da sobrevivência de escleródios após a (Hammond et al., 2008).
ação de antagonistas (Gerlagh et al., 1999). Não houve As doses de 0,5, 1 e 1,5 L ha-1 de T. harzianum 1306
efeito de doses de T. harzianum 1306 em relação ao aplicadas em parcelas sem braquiária em 2006/2007
número de apotécios por metro quadrado quando propiciaram uma redução linear na incidência de
considerados isoladamente os tratamentos com e sem mofo-branco na safra de 2007/2008. Nas parcelas com
palha, o que indica que o efeito do controle biológico palhada no ano anterior, observou-se menor incidência
foi obtido antes da germinação dos escleródios sob a da doença em relação à testemunha, sem diferença
soja (Figura 2). aparente entre as doses do antagonista. Além disso,
Não foi observada incidência de mofo-branco na safra independentemente das doses de T. harzianum 1306
de 2006/2007, apesar da presença de grande quantidade aplicadas na safra anterior, a incidência do mofo-branco
de apotécios durante o florescimento pleno (estádio R2) foi sempre superior nos tratamentos sem histórico de
da cultura da soja. Uma possível explicação para isso pode palhada de braquiária, o que demonstra a desinfestação
ser o fechamento das plantas entre as fileiras, posterior à
floração plena da cultivar, o que leva à incidência tardia
da doença. Todavia, o rendimento nos tratamentos sem
palhada foi inversamente proporcional à população de
apotécios, ajustada pelo modelo y = -0,3406x + 54,496
(R2 = 0,59), significativo a 5%.
Na safra de 2007/2008, o solo permaneceu
parcialmente coberto com a palhada de milho produzido
na safrinha de 2007, que não foi eficiente como
barreira à produção de apotécios. Contudo, o número

Tabela 1. Número de apotécios por metro quadrado e


incidência do mofo-branco na cultivar de soja M-Soy 7908,
em parcelas com e sem palhada de Brachiaria ruziziensis em
Jataí, GO, na safra de 2007/2008.
Figura 3. Relação entre a incidência do mofo-branco
na cultivar de soja M-Soy 7908 na safra 2007/2008, em
tratamentos com histórico em 2006/2007 com ou sem palhada
de Brachiaria ruziziensis, e doses de T. harzianum 1306 com
ns
Não significativo. (1)
Médias diferem entre si pelo teste F, a 5% de 2x109 esporos viáveis mL-1, em Jataí, GO, em 2007/2008. * e
probabilidade. **Significativo a 5 e 1% de probabilidade, respectivamente.

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parcial do solo nas áreas com palhada em 2006/2007 Esse comportamento pode estar parcialmente
(Figura 3). associado à possível imobilização de nutrientes pela
Na safra de 2006/2007, a menor população final de comunidade microbiana do solo no primeiro ano de
plantas foi observada nos tratamentos cultivados sobre plantio sobre palhada e às eventuais dificuldades da
palhada de B. ruziziensis, com população final de semeadura da soja sobre palhada espessa de braquiária
plantas 13% menor que a dos tratamentos sem palhada. (10,1 Mg ha-1). Gracia-Garza et al. (2002), por sua vez,
O menor estande contribuiu para menor rendimento de também obtiveram menor população de plantas de soja
grãos nessas parcelas em comparação a tratamentos nas parcelas com plantio direto na presença de palhada
sem cobertura vegetal, ainda que o número de vagens em comparação ao plantio convencional. É necessário,
por planta tenha sido maior sobre palhada (Tabela 2). nesse caso, ajustar a densidade de sementes no plantio,
para conciliar o controle do patógeno com rendimentos
maiores da soja e aguardar os ajustes da microbiota do
Tabela 2. Componentes do rendimento de grãos da cultivar solo ao novo sistema de plantio. A redução da massa
de soja M-Soy 6101 cultivada em tratamentos com ou seca da cobertura do solo para garantir um melhor
sem palhada de Brachiaria ruziziensis, em Jataí, GO, em estande de plantas não é aconselhável, pois pode não
2006/2007. ter o efeito necessário para o controle do mofo-branco
(Paula Júnior et al., 2009).
As respostas de rendimento, estande, número de
vagens por planta e massa de 100 grãos às doses do
antagonista são apresentadas na Figura 4. Apesar do
ns
Não significativo. (1)Médias diferem entre si pelo teste F, a 5% de probabilidade. aumento do rendimento da cultivar de soja M-Soy 6101

Figura 4. Relação entre: A, rendimento da cultivar de soja M-Soy 7908; B, número de plantas por metro; C, número
de vagens por planta; D, massa de 100 grãos e doses de T. harzianum 1306 com 2x109 esporos viáveis mL-1 em Jataí, GO,
em 2007/2008. * e **Significativos a 5 e 1% de probabilidade, respectivamente.

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proporcionado por T. harzianum 1306 a 0,5 e 1 L ha-1, 2. A aplicação de T. harzianum 1306 com
observou-se uma inflexão na curva de resposta às doses 2x109 esporos viáveis mL-1 em tratamentos com
do antagonista e redução para praticamente o mesmo B. ruziziensis aumenta o número de escleródios de
patamar observado na testemunha do rendimento após S. sclerotiorum parasitados por Trichoderma.
a aplicação de 1,5 L ha-1 do antagonista. Tanto o número 3. A aplicação de Trichoderma harzianum 1306
de vagens por planta quanto a massa de 100 grãos foram com 2x109 esporos viáveis mL-1 nas doses de 0,5 e
maiores na dose de 0,5 L ha-1de T. harzianum 1306 que na 1 L ha-1 aumenta o rendimento da soja e o parasitismo
testemunha sem controle biológico (Figura 4 A, C e D). Tais de escleródios, com redução da incidência do
resultados contribuíram para que houvesse incremento de mofo-branco.
rendimento de 313 kg ha-1 de soja, observado na dose de
0,5 L ha-1 de T. harzianum 1306. Esse resultado corrobora Agradecimento
os encontrados por Lobo Junior (2005), que obteve À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
incrementos no rendimento de 282 a 309 kg ha-1de grãos Nível Superior, pela bolsa de estudos.
de feijoeiro-comum tratado com doses de 0,6 e 0,8 L ha-1
de T. harzianum 1306. Referências
À medida que aumentaram as doses de
T. harzianum 1306, o número de plantas por metro ADAMS, P.B.; AYERS, W.A. Ecology of Sclerotinia species.
quadrado também foi maior (Figura 4 B). Esse fato pode Phytopathology, v.69, p.896-899, 1979.
estar associado ao controle, por T. harzianum 1306, BALBINO, L.C.; BRUAND, A.; BROSSARD, M.; GRIMALDI,
M.; HAJNOS, M.; GUIMARÃES, M.F. Changes in porosity and
de patógenos do solo como Rhizoctonia solani e
microaggregation in clayey Ferralsols of the Brazilian Cerrado
Fusarium spp., que causam a morte de plântulas on clearing for pasture. European Journal of Soil Science, v.53,
durante o seu estabelecimento e ocasionam diminuição p.219-230, 2002.
da população final de plantas (Lobo Júnior, 2005). BOLAND, G.J.; HALL, R. Relationships between the spatial
Espécies de Brachiaria têm sido utilizadas com pattern and number of apothecia of Sclerotinia sclerotiorum and
sucesso no Cerrado brasileiro para a formação stem rot of soybean. Plant Pathology, v.37, p.329-336, 1988.
de palhada e também em sistemas de integração BOLTON, M.D.; THOMMA, B.P.H.J.; NELSON, B.D.
Sclerotinia sclerotiorum (Lib.) de Bary: biology and molecular
lavoura-pecuária, o que tem proporcionado aumentos
traits of a cosmopolitan pathogen. Molecular Plant Pathology,
de matéria orgânica e umidade do solo e melhorias na v.11, p.1-16, 2006.
sua estrutura física, entre outros benefícios (Balbino BUZZELL, R.I.; WELACKY, T.W.; ANDERSON, T.R. Soybean
et al., 2002; Marchão et al., 2009). O presente cultivar reaction and row width effect on Sclerotinia stem rot.
trabalho demonstrou a redução do inóculo inicial de Canadian Journal of Plant Science, v.73, p.1169-1175, 1993.
S. sclerotiorum com a interação entre cobertura do DANIELSON, G.A.; NELSON, B.D.; HELMS, T.C. Effect of
solo com B. ruziziensis e a aplicação de T. harzianum, Sclerotinia stem rot on yield of soybean inoculated at different
growth stages. Plant Disease, v.88, p.297-300, 2004.
com benefícios para safras subsequentes. Além disso,
foi demonstrado que T. harzianum pode ser utilizado FERGUSON, L.M.; SHEW, B.B. Wheat straw mulch and its
impacts on three soilborne pathogens of peanut in microplots.
como componente do controle do mofo-branco em Plant Disease, v.85, p.661-667, 2001.
áreas de Cerrado. FERRAZ, L.C.L.; CAFÉ FILHO, A.C.; NASSER, L.C.B.;
O manejo de áreas infestadas com S. sclerotiorum AZEVEDO, J.A. Effects of soil moisture, organic matter and grass
por meio de formação de palhada pode ser considerado mulching on the carpogenic germination of sclerotia and infection
como premissa básica para a utilização do controle of bean by Sclerotinia sclerotiorum. Plant Pathology, v.48,
p.77-82, 1999.
biológico em grandes culturas, já que a eficiência do
biocontrole tem relação direta com o ambiente onde GERLAGH, M.; GOOSSEN-VAN DE GEIJN, H.M.; FOKKEMA,
N.J.; VEREIJKEN, P.F.G. Long-term biosanitation by application
antagonistas são aplicados. of Coniothyrium minitans on Sclerotinia sclerotiorum-infected
crops. Phytopathology, v.89, p.141-147, 1999.
Conclusões GRACIA-GARZA, J.A.; NEUMANN, S.; VYN, T.J.; BOLAND,
G.J. Influence of crop rotation and tillage on production of
1. A cobertura do solo com palhada de B. ruziziensis é apothecia by Sclerotinia sclerotiorum. Canadian Journal of Plant
eficiente no controle de apotécios de S. sclerotiorum. Pathology, v.24, p.137-143, 2002.

Pesq. agropec. bras., Brasília, v.44, n.12, p.1583-1590, dez. 2009


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agent in the Columbia Basin. American Journal of Potato 742). Mycopathologia, v.142, p.153-160, 1998.
Research, v.85, p.353-360, 2008. PAULA JÚNIOR, T.J. de; VIEIRA, R.F.; ROCHA, P.R.R.;
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Recebido em 7 de julho de 2009 e aprovado em 27 de novembro de 2009

Pesq. agropec. bras., Brasília, v.44, n.12, p.1583-1590, dez. 2009

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